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____ Escola E. E. F. M. Félix Araújo – Geografia – Prof° Tibério Mendonça – 3º Ano 22 O MUNDO ISLÂMICO E O TERRORISMO Arábia é uma grande península localizada no Oriente Médio. A maior parte do seu território é constituída de de sertos. Inúmeros oásis, porém, tornavam possível a vida dos beduínos, como eram chamadas as populações árabes que vivem no deserto. Ao sul, na região fértil do Iêmen atual, e ao longo da costa ocidental da pe nínsula, acompanhando o mar Vermelho, ficavam as rotas percorridas pelas caravanas de comércio. Como conseqüência da atividade dessas rotas surgiram na península alguns centros urbanos, dentre os quais os mais importantes eram Meca e Yatreb (Medina). Situada num estreito vale em meio a uma região árida, Meca tornou-se importante centro de peregrinação religiosa dos beduínos. Em Meca fica a Caaba, um santuário, além da Pedra Preta - provavelmente um fragmento de meteorito, protegido por uma tenda de seda preta, em forma de cubo - considerada sagrada. O nascimento de uma religião O Oriente Médio é o berço das principais religiões do planeta: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, a religião que mais se expande no mundo. O islamismo é a religião predominante no Oriente Médio. Mohamed (Maomé - 570-632), foi o fundador do islamismo. "Só há um Deus, que é Alá, e Maomé é o seu profeta." A voz do anjo Gabriel transmitiu essa mensagem a Maomé, numa noite do ano 610 d.C. A partir da Noite do Destino, como ficaria conhecida, o Profeta recebeu várias outras revelações e passou a pregar a nova fé monoteísta na cidade de Meca. Os preceitos do islamismo encontram-se em dois livros: o Alcorão ou Corão, que é o conjunto de revelações que o profeta Maomé recebeu diretamente de Deus; e o Suna, texto sagrado que reúne tradições, isto é, atitudes adotadas em vida por Maomé. No Islã, o adepto deve submeter-se às seguintes práticas: orar cinco vezes por dia, voltado para Meca; praticar a caridade: quem tem muito deve dar a quem nada tem; jejuar no mês do Ramadã (o nono mês do ano islâmico) todos os dias até o começo da noite; peregrinar a Meca pelo menos uma vez na vida e orar na Caaba. As privações da mulher muçulmana O mundo islâmico tem imposto, em vários países, um estado brutal de "apartheid" de gênero, no qual mulheres e meninas são destituídas de todos os seus direitos humanos básicos, sendo submetidas a tratamentos piores que dados a animais ou algo que o valha. As mulheres são proibidas de trabalhar fora de casa; falar com homens sem a presença do marido ou um parente próximo; estudar ao lado de outros homens; praticar esportes, usar maquiagem; obrigada a usar a burca, vestimenta que cobre dos pés a cabeça, entre outras. A Hégira Iniciando a pregação da nova doutrina, foi perseguido pelos comerciantes da cidade que receavam que o monoteísmo pregado por Maomé afastasse os peregrinos e prejudicasse o comércio, fugindo-se, então para Yatreb, a atual Medina (a "cidade do profeta"), em 622, para não ser assassinado. A data dessa fuga, a que se dá o nome de Hégira, é considerada pelos muçulmanos como o início da sua religião e o ponto de partida para o seu calendário. Em Yatreb, Maomé fundou um Est ado teocrático, ou seja, que possui forma de governo em que a autoridade, emanada de Deus, é exercida por seus representantes na Terra; construiu a primeira mesquita, determinou que os fiéis se voltassem para A

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____ Escola E. E. F. M. Félix Araújo – Geografia – Prof° Tibério Mendonça – 3º Ano

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O MUNDO ISLÂMICO E O TERRORISMO

Arábia é uma grande península localizada no Oriente Médio. A maior parte do seu território é constituída de desertos.

Inúmeros oásis, porém, tornavam possível a vida dos beduínos, como eram chamadas as populações árabes que vivem no deserto.

Ao sul, na região fértil do Iêmen atual, e ao longo da costa ocidental da península, acompanhando o mar Vermelho, ficavam as rotas percorridas pelas caravanas de comércio. Como conseqüência da atividade dessas rotas surgiram na península alguns centros urbanos, dentre os quais os mais importantes eram Meca e Yatreb (Medina).

Situada num estreito vale em meio a uma região árida, Meca tornou-se importante centro de peregrinação religiosa dos beduínos. Em Meca fica a Caaba, um santuário, além da Pedra Preta - provavelmente um fragmento de meteorito, protegido por uma tenda de seda preta, em forma de cubo - considerada sagrada.

O nascimento de uma religião

O Oriente Médio é o berço das principais religiões do planeta: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, a religião que mais se expande no mundo.

O islamismo é a religião predominante no Oriente Médio. Mohamed (Maomé - 570-632), foi o fundador do islamismo.

"Só há um Deus, que é Alá, e Maomé é o seu profeta." A voz do anjo Gabriel transmitiu essa mensagem a Maomé, numa noite do ano 610 d.C. A partir da Noite do Destino, como ficaria conhecida, o Profeta recebeu várias outras revelações e passou a pregar a nova fé monoteísta na cidade de Meca.

Os preceitos do islamismo encontram-se em dois livros: o Alcorão ou Corão, que é o conjunto de revelações que o profeta Maomé recebeu diretamente de Deus; e o Suna, texto sagrado que reúne tradições, isto é, atitudes adotadas em vida por Maomé.

No Islã, o adepto deve submeter-se às seguintes práticas: orar cinco vezes por dia, voltado para Meca; praticar a caridade: quem tem muito deve dar a quem nada tem; jejuar no mês do Ramadã (o nono mês do ano islâmico) todos os dias até o começo da noite; peregrinar a Meca pelo menos uma vez na vida e orar na Caaba. As privações da mulher muçulmana

O mundo islâmico tem imposto, em vários países, um estado brutal de "apartheid" de gênero, no qual mulheres e meninas são destituídas de todos os seus direitos humanos básicos, sendo submetidas a tratamentos piores que dados a animais ou algo que o valha. As mulheres são proibidas de trabalhar fora de casa; falar com homens sem a presença do marido ou um parente próximo; estudar ao lado de outros homens; praticar esportes, usar maquiagem; obrigada a usar a burca, vestimenta que cobre dos pés a cabeça, entre outras. A Hégira

Iniciando a pregação da nova doutrina, foi perseguido pelos comerciantes da cidade que receavam que o monoteísmo pregado por Maomé afastasse os peregrinos e prejudicasse o comércio, fugindo-se, então para Yatreb, a atual Medina (a "cidade do profeta"), em 622, para não ser assassinado. A data dessa fuga, a que se dá o nome de Hégira, é considerada pelos muçulmanos como o início da sua religião e o ponto de partida para o seu calendário.

Em Yatreb, Maomé fundou um Estado teocrático, ou seja, que possui forma de governo em que a autoridade, emanada de Deus, é exercida por seus representantes na Terra; construiu a primeira mesquita, determinou que os fiéis se voltassem para

A

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Meca e não para Jerusalém, a quando das suas orações; e instituiu o mês de jejum, o Ramadã. A Jihad

Em Medina, Maomé continuou pregando a nova religião, transformando-se em líder religioso e político. Conseguiu reunir muitos aliados entre os comerciantes e os beduínos convertidos. Em pouco tempo, o islamismo conquistou muitos seguidores.

"Fazei a guerra, com sangue e extermínio, a todos que não crêem em Deus [...] Quando encontrardes como os infiéis, matai-os..."

Essa frase do profeta Maomé levou ao conceito de "guerra santa" (jihad), que serve tanto para designar a manutenção do equilíbrio constante no interior do homem, para que ele possa se livrar das forças malignas (jihad interior), como para expressar a luta pela expansão e pela preservação da religião islâmica no mundo (jihad exterior). Para Maomé, a batalha com o seu interior é a luta mais importante. "Os que lutam na 'guerra santa', triunfem ou sucumbam, irão todos para o paraíso", disse o profeta.

Atualmente, inspirado pelo jihad, o fundamentalismo islâmico assusta pela violência e pelo radicalismo de algumas de suas ações. A difusão da nova crença e as conquistas territoriais acabaram levando à divisão do islamismo em várias seitas, destacando-se duas correntes principais: os xiitas, que são mais extremados da qual se deveria a facção fundamentalista que luta para manter os propósitos fundamentais do islamismo repudiando qualquer tipo de influência externa e os valores do mundo ocidental moderno; e os sunitas, ao contrário, são mais moderados em suas manifestações religiosas e políticas. O fundamentalismo islâmico e a Revolução Iraniana

O fundamentalismo islâmico caracteriza a

mais rigorosa aplicação dos preceitos do Corão, que constitui o fundamento da fé islâmica. Segundo esses preceitos, somente a interpretação literal do livro sagrado permitiria a sobrevivência do islamismo e sua expansão por todo o globo.

Uma das principais características do fundamentalismo islâmico é a criação de partidos políticos. Liderados por religiosos, esses partidos agregam os preceitos religiosos do Islã e os

interesses do Estado. Essa fusão foi promovida pela primeira vez no Irã, quando a Revolução Islâmica, em 1979, levou ao poder o Aiatola Khomeini.

Nessa época, o mundo estava em plena Guerra Fria, e o Irã, por causa de suas reservas petrolíferas, sempre fora alvo dos interesses da antiga União Soviética e dos Estados Unidos que, com o Reino Unido, haviam levado ao poder Reza Pahlevi, o que implantou no país uma ditadura capitalista e pró-ocidente, propondo medidas liberalizantes, entre as quais a reforma agrária e a concessão do direito de voto às mulheres. Com isso, desagradou as principais facções do país, sobretudo as muçulmanas tradicionais. Nesse contexto a República Islâmica implantada pelo Aiatolá Khomeini foi vista como a solução para a manutenção da identidade cultural e resistência às potências ocidentais.

Khomeini recuperou as instituições e costumes da tradição islâmica e modificou a vida cotidiana dos iranianos em seus mínimos detalhes objetivando minimizar a influência ocidental em seu país. Na ótica de Khomeini: "A modernidade imposta pelo Ocidente afasta o homem dos seus valores religiosos e, em conseqüência, do seu Criador". O terrorismo

Uma das formas usadas por alguns grupos

separatistas para lutar por sua causa e chamar a atenção para ela é o terrorismo. Terrorismo é um método que consiste no uso de violência, física ou psicológica, por indivíduos, ou grupos políticos, contra a ordem supostamente estabelecida através de um ataque a um governo ou à população que supostamente o legitimou, de modo que os estragos psicológicos ultrapassem largamente o círculo das vítimas para incluir o resto do território.

A guerra de guerrilhas é freqüentemente associada ao terrorismo uma vez que dispõe de um pequeno contingente para atingir grandes fins fazendo uso cirúrgico da violência para combater forças maiores. Seu alvo, no entanto, são forças igualmente armadas procurando sempre minimizar os danos a civis para conseguir o apoio destes. Assim sendo, é tanto mais uma tática militar quanto menos uma forma de terrorismo. Nesses casos, os ataques terroristas têm motivação essencialmente política.

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Outra forma comum de manifestação do terror é aquela que possui motivação religiosa. Entre elas, a mais atuante é o terrorismo islâmico, embora outras religiões usem esses meios para defender suas causas. Muitas vezes, o terrorismo praticado por grupos religiosos pretende também alcançar a liberdade política em suas regiões. Isso acontece na Irlanda do Norte (IRA); na Espanha (ETA); na Colômbia (Farc) e em outras partes do mundo.

O avanço desse movimento é encarado pelas potências ocidentais como uma ameaça à nova ordem mundial. Em setembro de 1996, no Afeganistão, o Taleban, ascendeu ao poder e direcionou suas ações para a implantação de um Estado islâmico. Seu projeto foi interrompido em 2001, quando essa facção política foi deposta do poder pelas forças militares conjuntas dos EUA e do Reino Unido, como resposta aos ataques terroristas aos EUA no dia 11 de setembro de 2001 sobre o símbolo do capitalismo norte-americano: as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, além do Pentágono.

Na manhã deste dia, quatro aviões comerciais foram desviados, sendo que dois deles colidiram contra as torres do World Trade Center em Manhattan, Nova York. Um terceiro avião, American Airlines Flight 77, foi reportado pelas autoridades norte-americanas como tendo sido intencionalmente derrubado contra o Pentágono pelos seqüestradores, na Virgínia. Os destroços do quarto avião, United Airlines Flight 93, foram vistos espalhados num campo na Pensilvânia. Os atentados causaram a morte de 2973 pessoas e o desaparecimento de 24 pessoas. A Doutrina Bush

Após os atentados de 11 de setembro, o

presidente norte-americano, George W. Bush anuncia uma série de medidas para não só combater o terrorismo, mas consolidar perpetuamente a hegemonia militar de seu país no mundo. Tais medidas ficaram conhecidas como doutrina Bush, um conjunto de princípios segundo os quais os Estados Unidos, na condição de única potência do planeta, têm a obrigação de "proteger", a qualquer custo, o "mundo civilizado" doa ataques terroristas. Entre esses princípios podemos citar:

» Os EUA têm o direito de caçar terroristas que ameacem sua hegemonia, além de atacar quaisquer país que os protejam;

» A introdução de ataques preventivos, para

evitar que futuros e prováveis inimigos venham a ameaçar os EUA;

Apoiado nessas premissas, o governo Bush

declarou o Irã, o Iraque e a Coréia do Norte líderes de um eixo, o "eixo do mal", e inimigos da humanidade. Isso porque esses países foram "responsabilizados por desenvolverem armas de destruição em massa e dar apoio ao terrorismo". Em conseqüência, os Estados Unidos implantaram operações militares de grande porte, como as que resultaram, em 2003, na ocupação do Iraque. Antes disso, porém, o Afeganistão já tinha sido ocupado pelos Estados Unidos. O islã da paz

É preciso diferenciar o terrorismo islâmico da religião fundada por Maomé no século VII e deixar claro que extremistas existem em várias religiões.

Ao rotularmos todos os islâmicos como extremistas, corremos o risco de cair na mesma intolerância religiosa que caracteriza os grupos fundamentalistas.

O islamismo é a religião que mais cresce no mundo. Prevê-se que, a partir dos próximos anos, deverá ultrapassar o cristianismo, a religião dominante. Há mais de 1,3 bilhão de muçulmanos no mundo. Sua maior concentração está na Ásia e na África, embora tenha se expandido muito na Europa, nos EUA e nas ex-repúblicas soviéticas. Em 1970, eram 650 milhões de seguidores que representavam 17,97% do total mundial. Em 1998, já eram 1,37 bilhão de fiéis (23,12%).

Também é preciso fazer outra distinção. Como a religião islâmica nasceu na Arábia, é comum que se confunda mulçumano com árabe. A palavra árabe diz respeito à etnia e mulçumano à religião. Portanto, nem todo mulçumano é árabe, principalmente após a grande expansão dessa religião. O maior país islâmico do mundo, é a Indonésia, não é árabe. O Líbano, país árabe, tem um expressivo número de cristãos (católicos, ortodoxos e maronitas) em sua população.