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ESCOLA x FAMÍLIA: UMA DISCUSSÃO EM PAUTA GUERRA, Simone Maia. Pós-Graduada em Gestão Educacional - Faculdade de Belford Roxo E-mail: [email protected] ALMEIDA, Cíntia Borges de. Doutoranda em Educação/ UERJ – Professora e Orientadora da Faculdade de Belford Roxo E-mail: [email protected] RESUMO O trabalho apresentado constitui-se em uma parte do estudo sobre o relacionamento da família no processo de ensino e aprendizagem dos alunos, objetivando levantar uma discussão sobre a importância da família na formação da criança, o papel da escola e dos professores diante dos conflitos infantis e escolares que, algumas vezes, podem ser gerados pela falta de acompanhamento familiar, pela postura dos gestores e suas atitudes para o acolhimento ou afastamento familiar, assim como suas expectativas mediante o processo educacional. Para a operação metodológica acontecer, foram pesquisadas 345 famílias a partir de um questionário e em atendimento individuais. Esses se tornaram nossos principais instrumentos para analisar o tema através da perspectiva de famílias responsáveis pelos alunos matriculados no Colégio Guerra, uma instituição particular com um ano de existência, que visa em sua proposta focar na participação ativa dos pais e da comunidade nas ações escolares. Palavras-chave: Família; Escola; Educação. ABSTRACT The paper presented is a study about the relationship of the family in the process of teaching and learning of students, aiming to raise a discussion about the importance of the family in the formation of the child, the role of the school and the teachers in the face of children's and school conflicts that, can sometimes be generated by the lack of family support, by the attitude of the managers and their attitudes towards the reception or family leave, as well as their expectations through the educational process. For the methodological operation to occur, 345 families were surveyed from a questionnaire and in individual care. The questionnaires and the individual consultations became our main instruments to analyze the subject from the perspective of families responsible for the students enrolled in the Colégio Guerra, a private institution with a year of existence that aims to focus on the active participation of parents and the community in school actions. Keywords: Family; School; Education. 1.INTRODUÇÃO Com um olhar mais atento para as demandas da educação, percebe-se que vários problemas educacionais vêm aparecendo em nossas escolas. Dentre eles, notam-se questões conflituosas em torno da desordem, da falta de respeito às regras institucionais e sociais, a falta de limites dos alunos. Cada dia que passa, observam-se as escolas sofrendo e enfrentando problemas na relação pré-estabelecida com os responsáveis dos discentes. São famílias que lançam suas responsabilidades nas mãos dos professores, ou ainda, pais que delegam e esperam que as escolas eduquem seus filhos, sem se atentar que a tarefa envolve ambas as partes. Do nosso ponto de vista, acreditamos ser necessário encontrar uma saída

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ESCOLA x FAMÍLIA: UMA DISCUSSÃO EM PAUTA

GUERRA, Simone Maia. Pós-Graduada em Gestão Educacional - Faculdade de Belford Roxo

E-mail: [email protected]

ALMEIDA, Cíntia Borges de. Doutoranda em Educação/ UERJ – Professora e Orientadora da Faculdade de Belford Roxo

E-mail: [email protected]

RESUMO O trabalho apresentado constitui-se em uma parte do estudo sobre o relacionamento da família no processo de ensino e aprendizagem dos alunos, objetivando levantar uma discussão sobre a importância da família na formação da criança, o papel da escola e dos professores diante dos conflitos infantis e escolares que, algumas vezes, podem ser gerados pela falta de acompanhamento familiar, pela postura dos gestores e suas atitudes para o acolhimento ou afastamento familiar, assim como suas expectativas mediante o processo educacional. Para a operação metodológica acontecer, foram pesquisadas 345 famílias a partir de um questionário e em atendimento individuais. Esses se tornaram nossos principais instrumentos para analisar o tema através da perspectiva de famílias responsáveis pelos alunos matriculados no Colégio Guerra, uma instituição particular com um ano de existência, que visa em sua proposta focar na participação ativa dos pais e da comunidade nas ações escolares. Palavras-chave: Família; Escola; Educação. ABSTRACT The paper presented is a study about the relationship of the family in the process of teaching and learning of students, aiming to raise a discussion about the importance of the family in the formation of the child, the role of the school and the teachers in the face of children's and school conflicts that, can sometimes be generated by the lack of family support, by the attitude of the managers and their attitudes towards the reception or family leave, as well as their expectations through the educational process. For the methodological operation to occur, 345 families were surveyed from a questionnaire and in individual care. The questionnaires and the individual consultations became our main instruments to analyze the subject from the perspective of families responsible for the students enrolled in the Colégio Guerra, a private institution with a year of existence that aims to focus on the active participation of parents and the community in school actions. Keywords: Family; School; Education. 1.INTRODUÇÃO

Com um olhar mais atento para as demandas da educação, percebe-se que vários

problemas educacionais vêm aparecendo em nossas escolas. Dentre eles, notam-se questões

conflituosas em torno da desordem, da falta de respeito às regras institucionais e sociais, a

falta de limites dos alunos. Cada dia que passa, observam-se as escolas sofrendo e

enfrentando problemas na relação pré-estabelecida com os responsáveis dos discentes. São

famílias que lançam suas responsabilidades nas mãos dos professores, ou ainda, pais que

delegam e esperam que as escolas eduquem seus filhos, sem se atentar que a tarefa envolve

ambas as partes. Do nosso ponto de vista, acreditamos ser necessário encontrar uma saída

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para superar esse confronto em que a sociedade moderna nos impõe e, com isso, a geração de

uma situação que sufoca, estrangula as ações dos gestores e educadores.

Com esse compromisso, enfatiza-se que o presente texto tem como objetivo refletir

sobre o relacionamento da família no processo de ensino e aprendizagem dos alunos do

Colégio Guerra, instituição de ensino particular localizada em São João de Meriti, levantando

uma discussão sobre o acompanhamento familiar na formação educacional da criança, o papel

da escola e dos professores.

Deve ser frisada a relevância dessa pesquisa para o campo da educação, pois se

observa, frequentemente, conflitos infantis e escolares que, em alguns momentos, são

ocasionados pela falta de acompanhamento da família, pelos descasos de gestores, pela falta

de acolhimento e pelas expectativas, por vezes, frustradas dos professores; questões que

merecem nosso debruçamento e um olhar mais atento.

2.UM OLHAR A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO COLÉGIO GUERRA

Ainda no final do século XIX, estudos no campo da História da Educação mostram a

existência de discursos, fossem estatais ou da própria sociedade civil, que pregavam a ideia e

a necessidade de garantir o progresso e o desenvolvimento da nação, a partir de paradigmas

de ideais liberalistas e iluministas, que propunham o estabelecimento da ordem e a civilidade,

através da educação do povo, criticando por fim, a educação no âmbito apenas familiar.

A proposta consistia em uma instrução coletiva, anunciado e seguida pelos moldes

estatais. Assim, com esse propósito, já no início do século XX, com a preocupação de renovar

a educação, houve uma descentralização da educação familiar, passando para a escola a

função disciplinar e mantedora da ordem e do conhecimento formal. A abrangência escolar

visualizada pelos projetos de reforma do ensino pretendia abarcar o maior número de crianças

em idade escolar na escola conforme salienta Cíntia Almeida (2012).

Em diálogo com a autora supracitada, o objetivo da escola focava muito mais os

interesses da sociedade do que do indivíduo. “A sociedade estava em transformação e

necessitava ser modificada” (ALMEIDA, 2012, p.43). Contudo, segundo Alexandra Campos

“a família que havia perdido a sua função de educar, a parir da década de 30, com as ideias de

uma escola e uma pedagogia renovada, a família reapareceu com o intuito de colaborar com a

educação dos filhos” (CAMPOS, 2011, p.03).

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A questão da relação família e escola é um tema bastante discutido por gestores e

pesquisadores, já que, alguns professores enfrentam, em seu dia a dia, confrontos no que se

refere à família e ao aluno. De acordo com Geraldo Romanelli, “tal arejamento dos estudos

sobre família certamente contribuiu para fornecer subsídios empíricos e teóricos para a análise

das relações entre a instância doméstica e a escolar” (ROMANELLI, 2003, p. 32).

Foi o que pudemos notar a partir da análise das pesquisas debatidas por estudiosos do

campo da história da educação que, em seus trabalhos recentes (FARIAS FILHO, 2000),

(MAGALDI, 2003), (CAMPOS, 2011) (ALMEIDA; COSTA 2015), propõem uma revisão às

afirmações categóricas de que essa relação trata-se de uma preocupação recente e pouco

debatida pelos educadores. No entanto, uma indagação ainda paira sobre nós: como buscar a

efetiva participação da família no desenvolvimento escolar?

Buscando responder a indagação em torno da participação familiar na escola,

propusemos levantar dados e verificar os possíveis caminhos apontados. Assim, realizamos

uma pesquisa de campo em uma escola particular em São João de Meriti, com o envolvimento

das 345 famílias que compõem o núcleo de matrículas do Colégio Guerra. Para tanto, a coleta

de dados ocorreu nos meses de março e abril de 2017. A fim realizar essa pesquisa utilizamos

como instrumento de pesquisa um questionário, entregue aos pais através das agendas

escolares dos alunos e entrevistas informais de ensino acontecidas no interior da instituição.

Entre os 345 questionários enviados, foram entregues respondidos 227 deles por

pessoas da família do aluno (pai, mãe, avó, tio, entre outros). A pesquisa de campo foi

realizada com o propósito de identificar como se dá a participação das famílias no processo

escolar das crianças, levando em consideração vários aspectos familiares, como o

envolvimento nas tarefas e as relações com os professores e gestores. Ainda, tínhamos a

intenção de observar com esses responsáveis vêem e compreendem a instituição escolhida

para educar os alunos em questão.

O questionário lançado buscava, inicialmente, compreender as características e a

composição das famílias envolvidas. Veja o exemplo abaixo:

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FIGURA 1- Caracterização e composição das famílias do Colégio Guerra

Neste primeiro momento, observou-se que há diferentes composições familiares,

porém, ainda há um número maior de famílias nucleadas por pai, mãe e filhos. De acordo com

Maria Auxiliadora Dessen e Ana Polonia (2007) não existe uma configuração familiar ideal,

porque são inúmeras as combinações e formas de interação entre os indivíduos que

constituem os diferentes tipos de famílias contemporâneas: nuclear tradicional, recasadas,

monoparentais, homossexuais, dentre outras combinações.

Partindo para a segunda questão trazida, buscamos mostrar a opinião das famílias

referentes à participação das mesmas na escola.

FIGURA 2- Avaliação da participação da família na escola

O que foi possível observar com os dados obtidos na questão2? Primeiramente, que as

mesmas famílias analisadas compreendem a importância da participação familiar, embora,

15% dos responsáveis questionados optaram por destacar a necessidade da participação, ainda

que, não a tenham visto como imprescindível, o que pode abrir margem para indagarmos se

ser avaliada “necessária”, por si só, garanta a participação dos mesmos na instituição ou

apenas reforça o envolvimento eventual dos pais? De acordo coma pesquisa realizada por Ana

Polonia e Maria Auxiliadora Dessen (2005), o acompanhamento da vida escolar dos filhos por

seus pais é um fator importante para a aprendizagem e para o sucesso acadêmico de crianças e

jovens. Observamos que a participação é desejável, mas, julgamos necessitar de mais

elementos para compreender a efetiva participação familiar.

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A questão a seguir mostra o acompanhamento familiar no desenvolvimento escolar da

criança e como as famílias fazem para acompanhar o trabalho pedagógico.

FIGURA 3- O acompanhamento pedagógico

A pergunta lançada não demonstrou muito conforto por parte dos pais em respondê-la,

ou ainda, não foi muito bem elaborada, podendo ter causado dificuldades de interpretação, já

que pouco mais de 50 % dos responsáveis se dedicaram a sua resposta. Dentre os 122

questionários que continham a resposta 3, 28% declararam acompanhar o desenvolvimento de

casa, o que nos demonstra baixa participação efetiva. Ainda, 38% das respostas se basearam

na participação das reuniões oficiais para justificar o acompanhamento pedagógico. Contudo,

34% dos responsáveis que se submeteram à réplica, alegam reconhecer a necessidade de um

acompanhamento mais frequente e a busca pelo professor para atender suas dúvidas e

informar sobre o processo escolar do filho.

Como compreender a questão? Os resultados levantados mostram que as famílias, em

sua maioria, sempre vão à escola, embora uma parte participe mais frequentemente enquanto

a outra participe esporadicamente, quando há convocação oficial das reuniões escolares. Das

respostas obtidas, apenas uma das 122 famílias que responderam a questão afirmou que a

responsabilidade pelo desenvolvimento do filho é da escola e que não pode ajudá-lo.

E a pergunta seguinte, o que buscou saber? Nossa intenção com ela foi mostrar a

presença física das famílias na escola, independente do assunto solicitado. Para tanto,

observem abaixo:

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FIGURA 4- A presença física na escola

Segundo a resposta da maioria dos pais, cerca de 68% dos entrevistados, indicaram

que sempre estão presentes na escola. Mas, como se dá essa presença? O alarmante no

resultado é que se somarmos as demais respostas dos pais que, vão à escola somente quando

são chamados, com os dados que envolvem a falta de tempo; teremos 77 núcleos familiares,

35%, que não estão envolvidos no processo escolar dos filhos ancorados na questão temporal,

o que, consequentemente, permite supormos seu entendimento de que a escola deva suprir sua

falta e ausência no processo educacional. A questão acima nos remete a um ponto nevrálgico,

pois, como cita Váleria Chechia e Antônio Andrade, (2005), “o apoio e a participação dos

pais na vida escolar dos filhos colaboram com escolas no sentido de se obter um trabalho de

classe mais equilibrado” (CHECHIA; ANDRADE, 2005, p. 431).

A próxima imagem apresenta uma das respostas das famílias quanto ao

acompanhamento no desenvolvimento da criança através de cadernos e agenda. Se a presença

não se dá fisicamente, como ela acontece no contexto domiciliar?

FIGURA 5- Participação domiciliar

A principal ferramenta de comunicação entre a escola e a família, a agenda, possibilita

uma maior interação com a escola. Através dela, colaboramos com o desenvolvimento da vida

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escolar da criança, principalmente, em um contexto no qual, declaradamente, os pais

enfatizam não ter tempo para uma participação efetiva e física na instituição do aluno. A

colaboração da agenda pode ser notada pela resposta bastante significativa dada à questão 5,

na qual, 85% das famílias envolvidas na pesquisa declaram estar atentos ao seu conteúdo,

bem como, aos cadernos escolares. Nessa direção, a relação Escola x Família começa a ser

um pouco mais notada. As lições de casa, por exemplo, são importantes instrumentos para a

composição dessa relação supracitada. Fazer as atividades de casa com as crianças beneficia a

relação pais e filhos e, assim, proporciona na criança um interesse maior nas questões

escolares. Maria Auxiliadora Dessen e Ana Polonia (2007) observam: O envolvimento dos pais em atividades, em casa, que afetam a aprendizagem e o aproveitamento escolar. Este envolvimento ocorre sob diferentes formas de acompanhamento das tarefas (monitorar a sua realização) ou ainda, em orientações sistemáticas do comportamento social e engajamento dos filhos nas atividades da escola realizadas por iniciativa própria ou por sugestão da escola (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 27).

Destaca-se na questão anterior que apenas 33 famílias dentre 227 pesquisadas, 15% do

núcleo analisado, alegam verificar agendas e cadernos com pouca peridiocidade. Para

complementar a análise em torno da relação Escola x Família, a pergunta lançada mostrará,

em seguida, o grau de envolvimento das famílias com o processo escolar dos seus filhos,

fazendo com os pais se auto-avaliassem em torno da sua inclusão no processo escolar.

FIGURA 6- Auto-avaliação de envolvimento no processo escolar

Como declarar suas próprias falhas? O resultado acima é um exemplo do quão difícil é

se avaliar um sujeito pouco comprometido com seu papel de educador. Se recorrermos aos

resultados dos questionários anteriores, lembraremos que 60% dos pais não declararam achar

a sua participação na escola como algo imprescindível; 35% não estão envolvidos no processo

escolar dos filhos ancorados no discurso da falta de tempo, 15% alegam observar as agendas e

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cadernos com baixa peridiocidade; mas, ainda assim, apenas 1% dos entrevistados assumiu

que o seu envolvimento com o processo escolar de seus filhos é ruim e apresenta falha.

Em contrapartida, 77% dos responsáveis submetidos ao estudo e que prestaram

respostas ao mesmo, avaliam o seu envolvimento como “ótimo”, aquele adequado e esperado

em um processo educacional. Os resultados verificados acima demonstram que as famílias

pesquisadas, em uma escala de ótimo à ruim consideram, em sua maioria, terem o grau

máximo de envolvimento com o processo escolar de seus filhos. Sobre essa participação,

Maria Auxiliadora Dessen e Ana Polonia (2007) ressaltam a importância que a família e a

escola têm e constroem conjuntamente, por serem agências de desenvolvimento e

aprendizagem humana que podem funcionar como propulsores ou inibidores das trocas de

saber e dos conhecimentos educacionais formais e informais.

Partindo para a próxima questão, ela se refere à medição do aprendizado da criança, se

ele pode melhorar e ser ampliado com a participação das famílias. Vejamos a opinião de um

dos entrevistados:

FIGURA 7- Medição do aprendizado da criança com a participação da família

De acordo com Valéria Chechia e Antônio Andrade (2005) crianças tendem a mostrar

melhores habilidades acadêmicas se os pais tiverem maior envolvimento e maior grau de

escolaridade. Segundo as respostas observadas, os pais também acreditam na relevância do

seu envolvimento. Isso está subentendido nas 203 respostas afirmativas, cerca de 89% dos

entrevistados que participam da pesquisa. A maioria dos pais entende que a parceria Escola x

Família dá certo e auxilia, positivamente, no desenvolvimento acadêmico das crianças. Mas,

não podemos deixar de questionar se a sua participação efetiva e tão expressiva como o

entendimento acerca da necessidade de participar. Seguimos para a pergunta 8, a fim de

ampliar esse entendimento.

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Ela refere-se, mais uma vez, embora questionado de forma diferente, ao

acompanhamento das famílias no desenvolvimento escolar das crianças. Agora, visamos fazê-

los olhar a relação de fora, a sociedade como um todo, não mais sua participação exclusiva.

FIGURA 8- O acompanhamento familiar pela sociedade

Observamos que não há uma opinião consensual entre os pais, sendo interessante

destacarmos que apenas 36% declararam “sempre” e “frequentemente”, um número bastante

reduzido comparados com os 89% dos entrevistados que declararam que acreditam que a

participação familiar sempre contribui no processo escolar. Isso permite inferirmos que,

apesar de compreenderem a importância da contribuição familiar, os mesmos ao julgarem as

demais famílias, se sentem mais a vontade para declararem a pouca participação das famílias

no espaço escolar.

Essa resposta, ainda, confirma a impressão tida a partir das respostas da tabela 2, na

qual os pais acreditam ser importante a presença e o acompanhamento das crianças, porém,

avaliam que o acompanhamento é pequeno e que o tempo que tem para dedicar-se a

participação dos filhos na escola é menor do que deveria ser. Vale ressaltar que 2 famílias não

souberam opinar sobre esse fato.

A questão 9 refere-se à medição da disponibilidade dos professores, acessibilidade e o

contato com os pais, permitindo que o foco se volte para a instituição e seus funcionários.

FIGURA 9- Contatos com os professores

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A pesquisa indica que a maior parte dos responsáveis acredita haver acessibilidade no

contato com os professores, sendo que 80% declararam boa e frequente aproximação. Mas,

não devemos menosprezar a respostas dos outros 52 entrevistados, 23% dos envolvidos, que

não demonstraram um alto grau de satisfação na acessibilidade oferecida.

Isso nos sugere pensar se os mesmos buscam esse contato e não tem o retorno, o que

configura uma falha no atendimento oferecido pela escola. As informações ilustradas ainda

permitem questionar se os responsáveis se preocupam em criar esse canal de comunicação e

contato tão necessário e importante para a constituição da relação Escola x Família. Conforme

anunciam Valéria Chechia e Antônio Andrade (2005) há uma preocupação latente nos pais de

que o desempenho acadêmico do filho depende do professor, levando, geralmente, que os pais

culpabilizem os professores pelos insucessos dos filhos e a escola pela desestruturação da

relação debatida. Para finalizar, propusemos que os mesmos anunciassem a sua satisfação

com a recepção da escola.

FIGURA 10- Recepção da escola.

O questionário mostra que, na perspectiva dos responsáveis, a escola proporciona o

acolhimento às famílias, já que 186 entrevistados, um núcleo de 85%, demonstraram um alto

grau de satisfação com a recepção que a escola oferta aos familiares. De acordo com Nice

Rodrigues “a escola deve estar pronta para prestar informação e atender solicitamente, quando

for procurada” (RODRIGUES, 1971, p. 18), o que permite inferirmos que a instituição, a

gestão e o corpo docente estão em consonância com as expectativas dos responsáveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acolhimento as famílias deve ser feito de forma agradável e confiável, a boa relação

deve acontecer sempre na construção da confiança para um melhor relacionamento. O que foi

possível perceber com o estudo de caso desenvolvido a partir das respostas adquiridas pelo

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questionário proposto? Primeiramente, que o instrumento atenderia um fim específico e

desejado. Ele, enquanto uma estratégia de pesquisa, foi utilizado para buscar respostas e,

como todo documento, trata-se de uma seleção, um dispositivo que recortou e conduziu o

debate proposto.

Ainda assim, a operação metodológica funcionou para coletar dados necessários para

costurarmos o enredo em pauta: a relação Escola x Família. Várias outras perguntas poderiam

ter sido feitas. Com elas, possivelmente, o resultado teria se modificado. Contudo, a partir do

recorte que propusemos observamos que, em geral, os pais e a escola estão preocupados em

colaborar juntos para o melhor desenvolvimento das crianças, pois, já reconhecem a

relevância da parceria como forma principal no processo educacional, que é formal e

informal, constituído pelo espaço escolar, mas também, enriquecido por outras instituições

educacionais que compõem os saberes e os conhecimentos dos sujeitos.

Dessa forma, escola e família devem estabelecer relações de colaboração, em que a família possa agir como potencializadora do trabalho realizado pela escola, de forma a incentivar, acompanhar e auxiliar a criança em seu desenvolvimento, ao mesmo tempo em que a escola realize uma pratica pedagógica que contribua na formação do ser crítico-reflexivo, e que valorize a participação ativa dos pais no processo educativo, contribuindo assim, para a construção de uma sociedade transformadora. (SANTOS; TONIOSSO, 2014, p. 133).

É necessário estabelecer estratégias para a troca entre família e a escola, propiciando

o envolvimento nas tarefas da escola, não somente nas reuniões de pais, mas, transformando a

escola num espaço da família, para a família e com a família.

A família é o primeiro lugar de socialização da criança, mas, será na escola que a

criança reproduzirá os valores e desenvolvidos por esse espaço domiciliar. Torna-se

fundamental o estreitamento da relação entre família e a escola. Diante disso, a escola deve

buscar meios e ações para que esse relacionamento seja favorável e satisfatório tanto para a

família como para o alunos.

Percebe-se desta forma que a interação família/escola é necessária, para que ambas conheçam suas realidades e suas limitações, e busquem caminhos que permitam e facilitem o entrosamento entre si, para o sucesso educacional do filho/aluno. Nesse sentido, faze-se necessário retomar algumas questões no que se refere à escola e à família tais como: suas estruturas e suas formas de relacionamento, visto que, a relação

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entre ambas tem sido destacada como de extrema importância no processo educativo das crianças. (SOUZA, 2009, p. 07).

Sendo assim, escola e família são alicerces para o desenvolvimento pleno do

indivíduo. Contudo, não há uma formula mágica para o desenvolvimento desse

relacionamento. Cada escola vive uma realidade e, igualmente, acontece nas famílias.

Portanto, é necessário se conhecer a realidade e se estruturar projetos próprios para a criação

desses vinculo família/escola.

A pesquisa de campo foi realizada para que pudéssemos sondar uma realidade posta e

comum a tantas outras espalhadas pelas instituições brasileiras. A partir dela, observamos

diferentes pontos de vista, refletimos sobre o envolvimento dos familiares, escutamos suas

angústias e buscamos apontamentos que buscam compreender os problemas existentes.

O resultado da pesquisa, a nosso ver, pode ser considerado positivo, ainda que

inconcluso. Positivo, pois, a maioria das famílias pesquisadas mostra preocupação com seus

filhos e seu desenvolvimento escolar, como também, tentam participar, presencialmente ou de

forma domiciliar, da vida escolar de seus filhos. Inconcluso, pois, sabemos que o temos não

apresenta uma única resposta ou não possui uma fórmula a ser seguida para solucioná-lo e

extirpar os ruídos ainda existentes na relação entre Escola e Família.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Cíntia Borges de. Entre a “tyramnya cruel” e a “pedra fundamental”: a obrigatoriedade do ensino primário como uma técnica de governo em Minas Gerais. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação)–Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. _____. Notícias de viagens: o olhar de Estevam de Oliveira sobre a organização do ensino de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (1900-1903). VI Congresso Brasileiro de História da Educação: Vitória, 2011. ALMEIDA, Cíntia Borges de; COSTA, Aline Santos. Para a petizada innocente: encanto, diversão e lições de conduta na Revista O Tico-Tico (1905-1910). Revista Teias, Rio de janeiro, v.16, n.41, p.54-71, abr./jun. 2015. CAMPOS, Alexandra Resende. Família e escola: um olhar histórico sobre as origens dessa relação no contexto educacional. 2011, < http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/vertentes/v.%2019%20n.%202/Alexandra_Campos.pdf> acessado em 05 de junho. CHECHIA, Valéria aparecida; ANDRADE, Antônio dos Santos. O desempenho escolar dos filhos na percepção de pais de alunos com sucesso e insucesso escolar. Estudos de Psicologia, 2005, v10,n3, p.431-440. DESSEN, Maria Auxiliadora; POLONIA, Ana da Costa. A família e as Escolas como contextos de desenvolvimento humano. Paidéia, 2007, v17, n36, p.21 -32 DESSEN, Maria Auxiliadora; POLONIA, Ana da Costa. O desempenho escolar dos filhos na percepção de pais de alunos com sucesso e insucesso escolar. Estudos de Psicologia, 2005, V10, n3, p. 431-440.

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______. Em busca de uma compreensão das relações entre família e escola. Psicologia Escola e Educacional. v. 9, n.2, 2005, p. 303-312. FARIA FILHO, Luciano Mendes. Para entender a relação escola – família uma contribuição da história da educação. In.: São Paulo em Perspectiva, 2000, V14, n2, p.44-50. MAGALDI, Ana Maria Bandeira de Mello. A quem cabe educar? Notas sobre as relações entre a esfera pública e a privada nos debates educacionais dos anos de 1920 – 1930. Revista Brasileira de História da Educação, n.5, jan/jun. 2003. RODRIGUEZ, Nice. Comunicação entre pais e mestres. José Olimpo: Civilização Brasileira, 1973. ROMANELLI, Geraldo. Levantamento crítico sobre as relações entre família e escola. In Família e Escola: novas perspectivas de análise. Org Geraldo Romanelli, Maria Alice Nogueira, Nadir Zago. Petropólis, RJ: Vozes, 2013.