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7/16/2019 ESCOLAS PICTORICAS http://slidepdf.com/reader/full/escolas-pictoricas 1/76 Renascimento Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. (Redirecionado de Arte Renascentista) Ir para: navegaçãopesquisa Nota:  Esta página é sobre o Renascimento cultural do início da Idade Moderna. Se procura outros significados da mesma expressão, consulte Renascimento (desambiguação) . O homem vitruviano de Leonardo da Vinci sintetiza o ideário renascentista: humanista e clássico Renascimento ou Renascença são os termos usados para identificar o período da História da Europa aproximadamente entre fins do século XIII e meados do século XVII, mas os estudiosos não chegaram a um consenso sobre essa cronologia, havendo variações consideráveis nas datas conforme o autor consultado.[1] Seja como for, o período foi marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, que assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. Apesar destas transformações serem bem evidentes na culturasociedade , economia política e religião, caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as estruturas medievais, o termo é mais comumente empregado para descrever seus efeitos nas artes, na filosofia e nas ciências.[2] Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antigüidade clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e naturalista. O termo foi registrado pela primeira vez por Giorgio Vasari já no século XVI, mas a noção de Renascimento como hoje o entendemos surgiu a partir da publicação do livro de Jacob Burckhardt  A cultura do Renascimento na Itália (1867), onde ele definia o período como uma época de "descoberta do mundo e do homem". [3] O Renascimento cultural manifestou-se primeiro na região italiana da Toscana, tendo como  principais centros as cidades de Florença e Siena, de onde se difundiu para o resto da península Itálica e depois para praticamente todos os países da Europa Ocidental. A Itália permaneceu sempre como o local onde o movimento apresentou maior expressão, porém manifestações renascentistas

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Renascimento

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

(Redirecionado de Arte Renascentista)Ir para: navegação,  pesquisa

Nota:  Esta página é sobre o Renascimento cultural do início da Idade Moderna. Se procuraoutros significados da mesma expressão, consulte Renascimento (desambiguação). 

O homem vitruviano de Leonardo da Vinci sintetiza o ideário renascentista: humanista e clássico

Renascimento ou Renascença são os termos usados para identificar o período da História daEuropa aproximadamente entre fins do século XIII e meados do século XVII, mas os estudiosos nãochegaram a um consenso sobre essa cronologia, havendo variações consideráveis nas datasconforme o autor consultado.[1] Seja como for, o período foi marcado por transformações emmuitas áreas da vida humana, que assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna.Apesar destas transformações serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia,  política e

religião, caracterizando a transição do feudalismo  para o capitalismo e significando uma rupturacom as estruturas medievais, o termo é mais comumente empregado para descrever seus efeitos nasartes, na filosofia e nas ciências.[2]

Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais daantigüidade clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista enaturalista. O termo foi registrado pela primeira vez por Giorgio Vasari já no século XVI, mas anoção de Renascimento como hoje o entendemos surgiu a partir da publicação do livro de JacobBurckhardt  A cultura do Renascimento na Itália (1867), onde ele definia o período como uma épocade "descoberta do mundo e do homem".[3]

O Renascimento cultural manifestou-se primeiro na região italiana da Toscana, tendo como principais centros as cidades de Florença e Siena, de onde se difundiu para o resto da  penínsulaItálica e depois para praticamente todos os países da Europa Ocidental. A Itália permaneceu semprecomo o local onde o movimento apresentou maior expressão, porém manifestações renascentistas

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de grande importância também ocorreram na Inglaterra, Alemanha, Países Baixos e, menosintensamente, em Portugal e Espanha, e em suas colônias americanas. Alguns críticos, porém,consideram, por várias razões, que o termo "Renascimento" deve ficar circunscrito à cultura italianadesse período, e que a difusão européia dos ideais clássicos italianos pertence com mais propriedadeà esfera do Maneirismo. Além disso, estudos realizados nas últimas décadas têm revisado umaquantidade de opiniões historicamente consagradas a respeito deste período, considerando-as

insubstanciais ou estereotipadas, e vendo o Renascimento como uma fase muito mais complexa,contraditória e imprevisível do que se supôs ao longo de gerações.[4]

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Índice[esconder ]

• 1Idei

ascentrais 

• 2FasesdoRenascimento

eseucontexto 

2

2

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2

• 3Asartes no

Renascimento 

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3

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[editar] Ideias centraisVer artigo principal: Filosofia do Renascimento

O Humanismo pode ser apontado como o principal valor cultivado no Renascimento. Baseia-se emdiversos conceitos associados: Neoplatonismo, Antropocentrismo, Hedonismo, Racionalismo,

Otimismo e Individualismo. O Humanismo, antes que um corpo filosófico, é um método deaprendizado que faz uso da razão individual e da evidência empírica para chegar às suas conclusões,

 paralelamente à consulta aos textos originais, ao contrário da escolástica medieval, que se limitavaao debate das diferenças entre os autores e comentaristas. O Humanismo afirma a dignidade dohomem e o torna o investigador por excelência da natureza. Na perspectiva do Renascimento, issoenvolveu a r evalorização da cultura clássica antiga e sua filosofia, com uma compreensãofortemente antropocentrista e racionalista do mundo, tendo o homem e seu raciocínio lógico e suaciência como árbitros da vida manifesta.[5] Seu precursor foi Petrarca, e o conceito se consolidouno século XV principalmente através dos escritos de Marsilio Ficino, Erasmo de Roterdão, Picodella Mirandola e Thomas More.

Pico della MirandolaO brilhante florescimento cultural e científico renascentista deu origem a sentimentos de otimismo,abrindo positivamente o homem para o novo e incentivando seu espírito de pesquisa. Odesenvolvimento de uma nova atitude perante a vida deixava para trás a espiritualidade excessivado gótico e via o mundo material com suas belezas naturais e culturais como um local a ser desfrutado, com ênfase na experiência individual e nas possibilidades latentes do homem. Alémdisso, os ex perimentos democráticos italianos, o crescente prestígio do artista como um erudito enão como um simples artesão, e um novo conceito de educação que valorizava os talentosindividuais de cada um e buscava desenvolver o homem num ser completo e integrado, com a plenaexpressão de suas faculdades espirituais, morais e físicas, nutriam sentimentos novos de liberdade

social e individual.[6]Reunindo esse corpus eclético de idéias, os homens do Renascimento cunharam ou adaptaram à suamoda alguns outros conceitos, dos quais se destacam as teorias da perfectibilidade e do  progresso, que na prática impulsionaram positivamente a ciência de modo a tornar o período em foco como omarco inicial da ciência moderna. Mas como que para contrapô-los surgiu uma percepção de que ahistória é cíclica e tem fases de declínio inevitável, e de que o homem natural é um ser sujeito aforças além de seu poder e não tem domínio completo sobre seus pensamentos, capacidades e

 paixões, nem sobre a duração de sua própria vida. O resultado foi um grande e rico debate teóricoentre os eruditos, recheado por fatos novos que apareciam a cada momento, que só teve umaresolução prática no século XVII, com a afirmação irresistível e definitiva da importância da

ciência. Por um lado, alguns daqueles homens se viam como herdeiros de uma tradição que haviadesaparecido por mil anos, crendo reviver de fato uma grande cultura antiga, e sentindo-se até um pouco como contemporâneos dos romanos. Mas havia outros que viam sua própria época comodistinta tanto da Idade Média como da Antiguidade, com um estilo de vida até então inédito sobre a

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face da Terra, sentimento que era baseado exatamente no óbvio progresso da ciência. A históriaconfirma que nesse período foram inventados diversos instrumentos científicos, e foram descobertasdiversas leis naturais e objetos físicos antes desconhecidos; a própria face do planeta se modificounos mapas depois dos descobrimentos das grandes navegações, levando consigo a física, amatemática, a medicina, a astronomia, a filosofia, a engenharia, a filologia e vários outros ramos dosaber a um nível de complexidade, eficiência e exatidão sem precedentes, cada qual contribuindo

 para um crescimento exponencial do conhecimento total, o que levou a se conceber a história dahumanidade como uma expansão contínua e sempre para melhor .[7] Talvez seja esse espírito deconfiança na vida e no homem o que mais liga o Renascimento à antiguidade clássica e o quemelhor define sua essência e seu legado. O seguinte trecho de Pantagruel (1532), de FrançoisRabelais, costuma ser citado para ilustrar o espírito do Renascimento:

Todas as disciplinas são agora ressuscitadas, as línguas estabelecidas: Grego, sem oconhecimento do qual é uma vergonha alguém chamar-se erudito, Hebraico , Caldeu ,  Latim (…) O mundo inteiro está cheio de acadêmicos, pedagogos altamente cultivados, bibliotecasmuito ricas, de tal modo que me parece que nem nos tempos de Platão , de Cícero ou

 Papiniano , o estudo era tão confortável como o que se vê a nossa volta. (…) Eu vejo que os

ladrões de rua, os carrascos, os empregados do estábulo hoje em dia são mais eruditos doque os doutores e pregadores do meu tempo.

 Retrato de Erasmo, 1523, por Hans Holbein, o Jovem (Frick Collection)

O preparo que os humanistas preconizavam para a formação do homem ideal são de corpo eespírito, ao mesmo tempo um filósofo, um cientista e um artista, se desenvolveu a partir da estruturade ensino medieval do Trivium e do Quadrivium, que compunham a sistematização doconhecimento da época. A novidade renascentista não foi tanto a ressurreição da sabedoria antiga,mas sua ampliação e aprofundamento com a criação de novas ciências e disciplinas, de uma novavisão de mundo e do homem e de um novo conceito de ensino e educação.[7] O resultado foi umgrande e frutífero programa disciplinador e desenvolvedor do intelecto e das habilidades gerais do

homem, que tinha origem na cultura greco-romana e que de fato em parte se perdera para o ocidentedurante a Idade Média. Mas é preciso lembrar que apesar da idéia que os renascentistas pudessemter de si mesmos, o movimento jamais poderia ser uma imitação literal da cultura antiga, por acontecer todo sob o manto do Catolicismo, cujos valores e cosmogonia eram bem diversos. Assim,a Renascença foi uma tentativa original e eclética de harmonização do Neoplatonismo  pagão com areligião cristã, do eros com a charitas, junto com influências orientais, judaicas e árabes, e onde oestudo da magia, da astrologia e do oculto não estavam ausentes.[8]

O pensamento medieval tendia a ver o homem como uma criatura vil, uma "massa de podridão, póe cinza" , como se lê em De laude flagellorum de Pedro Damião, no século XI. Mas quando se elevaa voz de Pico della Mirandola no século XV o homem já representava o centro do universo, um ser mutante, essencialmente imortal, autônomo, livre, criativo e poderoso, o que ecoava as vozes maisantigas de Hermes Trismegisto ("Grande milagre é o homem" ) e do árabe Abdala ("Não há nadamais maravilhoso do que o homem" ). Esse otimismo se perderia novamente no século XVI, com areaparição do ceticismo, do pessimismo, da ironia e do pragmatismo em Erasmo, Maquiavel, 

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Rabelais e Montaigne, que veneravam a beleza dos ideais do classicismo mas tristementeconstatavam a impossibilidade de sua aplicação prática universal e testemunhavam o deplorável

 jogo político, a pobreza e opressão das populações e outros problemas sociais e morais do homemreal de seu tempo. Cabe notar que muitos pesquisadores consideram esta fase final não apenas comouma etapa no grande ciclo do Renascimento, e a estabeleceram como um movimento distinto eautônomo, dando-lhe o nome de Maneirismo.[8]

[editar] Fases do Renascimento e seu contextoVer artigos principais: Política do Renascimento ,  Economia do Renascimento.

Costuma-se dividir o Renascimento em três grandes fases, Trecento, Quattrocento e Cinquecento,correspondentes aos séculos XIV, XV e XVI, com um breve interlúdio entre as duas últimaschamado de Alta Renascença.

[editar] Trecento

O Trecento representa a preparação para o Renascimento e é um fenômeno basicamente italiano,mais especificamente da cidade de Florença, pólo político, econômico e cultural da região, emboraoutros centros também tenham participado do processo, como Pisa e Siena, tornando-os avanguarda da Europa em termos de economia, cultura e organização social, conduzindo atransfomação do modelo medieval para o moderno.

Ambrogio Lorenzetti: Alegoria do Bom Governo, c. 1328. Palazzo Pubblico, Siena

Simone Martini: Guidoriccio da Fogliano no assédio de Montemassi, 1328. Palazzo Pubblico, Siena

A economia era dinamizada pela fundação de grandes casas bancárias, pelo surgimento da noção delivre concorrência e pela forte ênfase no comércio, e cada vez mais se estruturava em moldescapitalistas e bastante materialistas, onde a tradição era sacrificada diante do racionalismo, daespeculação financeira e do utilitarismo. O sistema de produção desenvolvia novos métodos, comuma nova divisão de trabalho organizada pelas guildas e uma progressiva mecanização, maslevando a uma despersonalização da atividade artesanal. A Itália nesta época era um mosaico de

 pequenos países e cidades independentes. O regime republicano com base no racionalismo foraadotado por vários daqueles Estados, e a sociedade via crescer uma classe média emancipadaintelectual e financeiramente que se tornaria um dos principais pilares do poder e um dossustentáculos de um novo mercado de arte e cultura.[9]

O início do século viveu intensas lutas de classes, com prejuízo para os trabalhadores nãovinculados às guildas, e como conseqüência instalou-se grave crise econômica, que teve um pontoculminante na bancarrota das famílias Bardi e Peruzzi em torno de 1328-38, gerando uma fase deestagnação que não obstante levaria a pequena burguesia pela primeira vez ao poder. Esta situação

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foi comentada depreciativamente pelos poetas célebres da época - Boccaccio e Villani - masconstituiu a primeira experiência democrática em Florença, durando um intervalo de cerca dequarenta anos. Tumultos políticos e militares, além de duas devastadoras epidemias de  peste

 bubônica, provocaram períodos de fome e desalento, com revoltas populares que tentarammodificar o equilíbrio político e social, mas só conseguiram assegurar a permanência dos burguesesà testa do governo. Os Médici, banqueiros plebeus, assumiram a liderança da classe mas logo se

revestiram da dignidade da nobreza, e um sistema oligárquico voltou a dominar a cena política,muitas vezes se valendo da corrupção para atingir seus fins, mas também iniciando um costume demecenato das artes que seria fundamental para a evolução do classicismo no século seguinte.[10][11]

 Na religião a mudança foi assinalada pela busca, amparada pela ciência, de explicações racionais para os fenômenos da natureza; por uma nova forma de ver as relações entre Deus e o homem, e pela idéia de que o mundo não deveria ser renegado, mas vivenciado plenamente, e que a salvação poderia ser conquistada também através do serviço público e do embelezamento das cidades eigrejas com obras de arte, além da prática de outras ações virtuosas. Deve-se frisar que mesmo coma crescente influência clássica, que era toda  pagã na origem, o Cristianismo jamais foi posto em

xeque e permaneceu como um pano de fundo ao longo de todo o período, criando-se a sínteseoriginal que conhecemos hoje.[12]

[editar] Quattrocento

Luca Pacioli

Jorge de Trebizonda: página do seu Comentário sobre o Almagesto

O chamado Quattrocento (século XV) viu o Renascimento atingir sua era dourada. O Humanismoamadurecia e se espalhava pela Europa através de Ficino, Rodolphus Agricola, Erasmo, Mirandola eThomas More. Leonardo Bruni inaugurava a historiografia moderna e a ciência e a filosofia

 progrediam com Luca Pacioli, János Vitéz, Nicolas Chuquet, Regiomontanus,  Nicolau de Cusa eGeorg von Peuerbach, entre muitos outros.

Ao mesmo tempo, um novo interesse pela história antiga levou humanistas como Niccolò de' Niccoli e Poggio Bracciolini a vasculharem as bibliotecas da Europa em busca de livros perdidos deautores como Platão, Cícero, Plínio, o Velho, e Vitrúvio. O mesmo interesse fez com que se

fundasses grandes bibliotecas na Itália, e se procurasse restaurar o latim, que havia se transformadoem um dialeto multiforme, para sua pureza clássica, tornando-o a nova língua franca da Europa. Arestauração do latim derivou da necessidade prática de se gerir intelectualmente essa nova

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 biblioteca renascentista. Paralelamente, teve o efeito de revolucionar a pedagogia, além de fornecer um substancial corpus de estruturas sintáticas e vocabulário para uso dos humanistas e dos homensde letras, que assim revestiam seus próprios escritos com a autoridade dos antigos.[13] Também foiimportante a febre de colecionismo de arte antiga que se verificou entre os poderosos, queacompanhavam de perto escavações a fim de enriquecer seus acervos privados com obras deescultura e outras relíquias que vinham à luz, impulsionando o desenvolvimento da ciência da

arqueologia.[14] A reconquista da Península Ibérica aos mouros também disponibilizou para oseruditos europeus um grande acervo de textos de Aristóteles, Euclides, Ptolomeu e Plotino,  preservados em traduções árabes e desconhecidos na Europa, e de obras muçulmanas de Avicena, Geber e Averróis, contribuindo de modo marcante para um novo florescimento na filosofia,matemática, medicina e outras especialidades científicas. Para acrescentar, o aperfeiçoamento daimprensa por Johannes Gutenberg em meados do século facilitou e barateou imenso a divulgação doconhecimento.

Um novo vigor nesse processo foi injetado pelo erudito grego Manuel Chrysoloras, que entre 1397 e 1415 introduziu na Itália o estudo da língua grega, e com o fim do Império Bizantino em 1453muitos outros intelectuais, como Demetrius Chalcondyles, Jorge de Trebizonda, Johannes

Argyropoulos, Theodorus Gaza e Barlaam de Seminara, emigraram para a península Itálica e outras partes da Europa divulgando muitos textos clássicos de filosofia e instruindo os humanistas na arteda exegese. Grande proporção do que hoje se conhece de literatura e legislação greco-romanas nosfoi preservado por Bizâncio, e esse novo conhecimento dos textos clássicos originais, bem como desuas traduções, foi, no entender de Luiz Marques, "uma das maiores operações de apropriação deuma cultura por outra, comparável em certa medida à da Grécia pela Roma dos Cipiões no século

 II a.C. Ela reflete, além disso, a passagem, crucial para a história do Quatrocentos, da hegemoniaintelectual de Aristóteles para a de Platão e de Plotino. Nesse grande influxo de idéias foireintroduzida na Itália toda a estrutura da antiga Paideia, um corpo de princípios éticos, sociais,culturais e pedagógicos concebido pelos gregos e destinado a formar um cidadão modelar .[13][15][16] As novas informações e conhecimentos e o concomitante progresso em todas as áreas da

cultura levaram os intelectuais a perceberem que se achavam em meio a uma fase de renovaçãocomparável às fases brilhantes das civilizações antigas, em oposição à Idade Média anterior, que passou a ser considerada uma era de obscuridade e ignorância.[6][17]

Ao longo do Quattrocento Florença se manteve como o maior centro cultural do Renascimento,atravessando um momento de grande prosperidade econômica e conquistando também a primazia

 política em toda a região, apesar de Milão e Nápoles serem rivais perigosos e constantes. Aopulência da sua oligarquia  burguesa, que então monopolizava todo o sistema bancário europeu eadquiria um brilho aristocrático e grande cultura, e se entregava à "bela vida", gerou na classemédia uma resistência retrógrada que buscou no gótico idealista um ponto de apoio contra o que viacomo indolência da classe dominante. Estas duas tendências opostas deram o tom para a primeira

metade deste século, até que a pequena burguesia enfim abandonou o idealismo antigo e passou aentrar na corrente geral racionalista. Foi o século dos Medici, destacando-se principalmenteLorenzo de' Medici, grande mecenas, e o interesse pela arte se difundia para círculos cada vezmaiores.[11][18]

[editar] Alta Renascença

A Alta Renascença cronologicamente engloba os anos finais do Quattrocento e as primeiras décadasdo Cinquecento, sendo delimitada aproximadamente pelas obras de maturidade de Leonardo daVinci (a partir de c. 1480) e o Saque de Roma em 1527. Foi a fase de culminação do Renascimento,que se dissipou mal foi atingida, mas seu reconhecimento é importante porque ali se cristalizaram

ideais que caracterizam todo o movimento renascentista: o Humanismo, a noção de autonomia daarte, a emancipação do artista de sua condição de artesão e equiparação ao cientista e ao erudito, a busca pela fidelidade à natureza, e o conceito de gênio, tão perfeitamente encarnado em Da Vinci,Rafael e Michelangelo. Se a passagem da Idade Média para a Idade Moderna não estava ainda

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completa, pelo menos estava assegurada sem retorno possível.[14][19] Eventos como a descobertada América e a Reforma Protestante, e técnicas como a imprensa de tipos móveis, transformaram acultura e a visão de mundo dos europeus, ao mesmo tempo em que a atenção de toda a Europa sevoltava para a Itália e seus progressos, com as grandes potências da França, Espanha e Alemanha desejando sua partilha e fazendo dela um campo de batalhas e pilhagens. Com as invasões a arteitaliana espalhou sua influência por uma vasta região do continente [20][21]

Michelangelo: David ,1504. Galleria

dell’Accademia

Rafael: MadonnaCowper , 1504/1505.

 National Gallery of Art,Washington

Leonardo da Vinci: AVirgem das Rochas,versão de Londres, 1503-

1506. National Gallery

Bramante: O Tempietto na igreja de San Pietro in

Montorio, 1502. Roma

Foi na Alta Renascença que a arte atingiu a perfeição e o equilíbrio classicistas perseguidos durantetodo o processo anterior, especialmente no que diz respeito à pintura e à escultura. Pela primeira veza Antiguidade era compreendida como um todo unificado e não como uma sequência de eventosisolados, levando a arte a descartar a simples imitação decorativa do antigo e troca de umaemulação mais completa, mais essencial e também muito mais erudita.[14] Porém esse classicismo,embora maduro e rico, conseguindo plasmar obras de grande pujança, comparáveis à arte antiga,tinha forte carga formalista, espelhando o código de ética artificial, cosmopolita e abstrato que seimpunha entre os círculos ilustrados e que prescrevia a moderação, autocontrole, dignidade e

 polidez em tudo, e que teve na pintura de Rafael e na música de Palestrina seus mais perfeitosrepresentantes artísticos, e no livro O Cortesão de Baldassare Castiglione sua súmula teórica. Oidealismo que foi intensamente cultivado na antigüidade clássica encontrava uma atualização e,segundo Hauser ,

Giovanni Bellini: Sacra conversazione, 1505-1510. Museu Thyssen-Bornemisza, Madrid

"De acordo com os pressupostos desta arte, pareceria inconcebível, por exemplo, queos apóstolos fossem representados como camponeses vulgares e artesãos comuns, comoo eram tão freqüentemente e com tanto sabor, no século XV . Para esta arte nova, os

 profetas, apóstolos, mártires e santos são personalidades ideais, livres, grandes, poderosas e dignificadas, graves e solenes, uma raça heróica, no pleno florescimentode uma beleza madura e enternecedora. Na obra de Leonardo encontramos ainda tiposda vida comum, ao lado destas nobres figuras, mas gradualmente nada que não seja

 grande e sublime parece digno de representação artística" .[22] 

Apesar desse código de ética, era uma sociedade agitada por mudanças políticas, sociais e religiosasimportantes em que a liberdade anterior desapareceu, e o autoritarismo e a dissimulação se

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ocultavam por trás das normas de boa educação e da disciplina, como se lê em O Príncipe, deMaquiavel, um manual de governo que dizia que "não existem boas leis sem boas armas" , nãodistinguindo poder de autoridade e legitimando o uso da força para controle do cidadão, livro quefoi uma referência fundamental do pensamento político renascentista e uma inspiração decisiva paraa construção do Estado moderno. Assim, a grande diferença de mentalidade entre o Quattrocento eo Cinquecento é que enquanto naquele a forma é um fim, neste é um começo; enquanto naquele a

natureza fornecia os padrões que a arte imitava, neste a sociedade precisará da arte para provar queexistem tais padrões. Rafael resumiu os opostos em seu famoso afresco A Escola de Atenas, umadas mais importantes pinturas da Alta Renascença, realizada na primeira década do Cinquecento,que ressuscitou o diálogo filosófico entre Platão e Aristóteles, ou seja, entre o idealismo e oempirismo. [23] Nesse período se observou o paulatino deslocamento do maior centro culturalrenascentista de Florença para Roma, com a proteção do papado e o crescente afluxo de artistas deoutras partes.[14]

[editar] O Cinquecento e o Maneirismo italiano

Ver artigo principal: Maneirismo

Pontormo: A deposição da cruz, 1525-1528. Santa Felicita, Florença

O Cinquecento (século XVI) é a derradeira fase da Renascença, quando o movimento se transforma,se expande para outras partes da Europa e Roma sobrepuja definitivamente Florença como centro

cultural, especialmente a partir do pontificado de Júlio II. Roma até então não havia produzidograndes artistas renascentistas, e o classicismo havia sido plantado através da presença temporáriade artistas de outras partes. Mas com a fixação na cidade de mestres do porte de Rafael, Michelangelo e Bramante formou-se uma escola local, tornando-a o mais rico repositório da arte daAlta Renascença e da sua continuação cinquecentesca, onde a política cultural do papado deu umafeição característica a toda esta fase. Boa parte dessa nova influência romana derivou do desejo dereconstituir a grandeza e a virtude cívica da Roma Antiga, o que se refletiu na intensificação domecenato e na recriação de práticas sociais e simbólicas que imitavam as da Antiguidade, como osgrandes cortejos de triunfo, as festas públicas suntuosas, as representações plásticas e teatraisgrandiloquentes, cheias de figuras históricas, mitológicas e alegóricas.[14]

 Na seqüência do saque de Roma de 1527 e da contestação da autoridade papal pelos Protestantes oequilíbrio político do continente se alterou e sua estrutura sócio-cultural foi abalada, comconseqüências negativas principalmente para a Itália, que além de tudo deixava de ser o centrocomercial da Europa enquanto novas rotas de comércio eram abertas pelas grandes navegações.

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T d d d fi d li d i fl ê i óli d d id d

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Todo o panorama mudava de figura, declinando a influência católica, perdendo-se a unidadecultural e artística recém conquistada na Alta Renascença e surgindo sentimentos de pessimismo,insegurança e alheamento que caracterizam a atmosfera do Maneirismo. Apareceram escolasregionais nitidamente diferenciadas em Roma, Florença, Ferrara,  Nápoles, Milão, Veneza, e oRenascimento se espalhou então definitivamente por toda a Europa, dando frutos em especial naFrança, Espanha e Alemanha, tingidos pelos históricos locais específicos. A arte de longevos como

Michelangelo e Ticiano registrou em grande estilo a transição de uma era de certezas e clareza paraoutra de dúvidas e drama que viu aparecer a Contra-Reforma e se dirigia para o Barroco do séculoXVII.[24]

Lutero aos 46 anos (Lucas Cranach, o Velho, 1529)

Um dos impactos mais importantes da Reforma Protestante sobre a arte renascentista foi acondenação das imagens sagradas, o que despovoou os templos do norte de representações

 pictóricas e escultóricas de santos e personagens divinos, e muitas obras de arte foram destruídasem ondas de fúria iconoclasta. Com isso as artes representativas sob influência reformista sevoltaram para os personagens profanos e a natureza. O papado, porém, logo percebeu que a arte

 podia ser uma arma eficiente contra os protestantes, auxiliando em uma evangelização mais ampla emais sedutora para as grandes massas do povo, e durante a Contra-Reforma foram sistematizadosuma nova série de preceitos baseados na teologia contra-reformista, que determinavam em detalhecomo o artista deveria criar sua obra de tema religioso. Mas assim, se por um lado a Contra-Reforma deu origem a mais encomendas de arte sacra  pela Igreja Católica, a antiga liberdade deexpressão artística que se verificara em fases anteriores desapareceu, uma liberdade que permitira aMichelangelo decorar seu enorme painel do Juízo Final , pintado no coração do Vaticano, com umamultidão de corpos nus de grande sensualidade, ainda que o campo profano permanecesse poucoafetado pelas novas regras, que eram bastante dogmáticas e moralistas [25][26] Apesar disso, asaquisições intelectuais e artísticas da Alta Renascença que ainda estavam frescas e resplandeciamdiante dos olhos não poderiam ser esquecidas de pronto, mesmo que seu substrato filosófico já não

 pudesse permanecer válido diante dos novos fatos políticos, religiosos e sociais. A nova arte que sefez, ainda que inspirada na fonte do classicismo, o traduziu em formas inquietas, ansiosas,distorcidas, agitadas, ambivalentes, apegadas a preciosismos intelectualistas, características querefletiam os dilemas do século.[24]

O Maneirismo, que cobre os dois terços finais do século XVI e depois se confunde com o Barroco,foi um movimento que tem gerado historicamente muito debate entre os historiadores da arte.Depois do século XVII ele passou a ser encarado com desprezo, como uma degeneração mórbida eafetada dos ideais clássicos autênticos. Nos dias de hoje, porém, essa visão já não permanece, tendosido revisada através de duas vertentes da crítica. Para uns ele se manifestou em uma áreageográfica tão vasta e de maneira tão polimorfa e tão distinta do Quattrocento e da Alta

Renascença, que se tornou um dilema inconciliável descrevê-lo como parte do fenômeno original, basicamente classicista e italiano, pois parece-lhes que em muitos sentidos ele constitui umacompleta antítese dos princípios clássicos de proporção equilibrada, unidade formal, clareza, lógicae naturalismo, tão prezados pelas fases anteriores e que definiriam o "verdadeiro" Renascimento. A

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consequência foi estabelecer o Maneirismo como um movimento independente reconhecendo uma

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consequência foi estabelecer o Maneirismo como um movimento independente, reconhecendo umanova e vigorosa forma de expressão no que se chegou a ver como decadência e distorção, tendo suaimportância realçada por esses traços fazerem dele a primeira escola moderna de arte. A outravertente crítica, contudo, o analisa como um aprofundamento e um enriquecimento dos

 pressupostos clássicos e como uma legítima conclusão do ciclo do Renascimento; não tanto umanegação ou desvirtuamento daqueles princípios, mas uma reflexão sobre sua aplicabilidade prática

naquele momento histórico e uma adaptação - às vezes dolorosa mas em geral criativa e bemsucedida - às circunstâncias da época.[27][28]

[editar] As artes no Renascimento Nas artes o Renascimento se caracterizou, em linhas muito gerais, pela inspiração nos antigosgregos e romanos, e pela concepção de arte como uma imitação da natureza, tendo o homem nesse

 panorama um lugar privilegiado. Mas mais do que uma imitação, a natureza devia, a fim de ser bemrepresentada, passar por uma tradução que a organizava sob uma óptica racional e matemática, num

 período marcado por uma matematização de todos os fenômenos naturais. Na pintura a maior conquista da busca por esse "naturalismo organizado" foi a recuperação da perspectiva,representando a paisagem, as arquiteturas e o ser humano através de relações essencialmentegeométricas e criando uma eficiente impressão de espaço tridimensional; na música foi aconsolidação do sistema tonal, possibilitando uma ilustração mais convincente das emoções e domovimento; na arquitetura foi a redução das construções para uma dimensão mais humana,abandonando-se as alturas transcendentais das catedrais góticas; na literatura, a introdução de um

 personagem que estruturava em torno de si a narrativa e mimetizava até onde possível a noção desujeito.[29]

[editar] Pintura

Ver artigos principais: Pintura do renascimento , Pintura da Renascença Italiana.

Giotto: Deposição de Cristo, ciclo de afrescos na Capela Scrovegni (1304-1306), Pádua

Masaccio: Cristo e o tributo, 1425-1428. Capela Scrovegni

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Rafael: A Escola de Atenas, 1509. Vaticano

Sucintamente, a contribuição maior da pintura do Renascimento foi sua nova maneira de representar a natureza, através de domínio tal sobre a técnica pictórica e a perspectiva, que foi capaz de criar uma eficiente ilusão de espaço tridimensional em uma superfície plana. Tal conquista significou umafastamento radical em relação ao sistema medieval de representação, com sua estaticidade, seuespaço sem profundidade e seu sistema de proporções simbólico - onde os personagens maiorestinham maior importância numa escala que ia do homem até Deus - estabelecendo um novo

 parâmetro, cujo fundamento era matemático, na hierarquia teológica medieval. A linguagem visual

formulada pelos pintores renascentistas foi tão bem sucedida que permanece válida até hoje.[13][30]

O cânone greco-romano de proporções voltava a determinar a construção da figura humana;também voltava o cultivo do Belo tipicamente clássico, e a perspectiva baseada no ponto de vistacentral e único definia a construção dos cenários, no que se pode ver um reflexo da popularizaçãodos princípios filosóficos do racionalismo, antropocentrismo e do humanismo. A pinturarenascentista é em essência linear; o desenho era agora considerado o alicerce de todas as artesvisuais e seu domínio, um pré-requisito para todo artista. Para tanto, foi de grande utilidade o estudodas esculturas e relevos da Antiguidade, que deram a base para o desenvolvimento de um granderepertório de temas e de gestos e posturas do corpo. Na construção da pintura, a linha

convencionalmente constituía o elemento demonstrativo e lógico, e a cor indicava os estadosafetivos ou qualidades específicas. Outro diferencial em relação à arte da Idade Média foi aintrodução de maior dinamismo nas cenas e gestos, e a descoberta do sombreado, ou claro-escuro,como recurso plástico e mimético.[14][30]

Giotto, atuando entre os séculos XIII e XIV, foi o maior pintor da primeira Renascença italiana e o pioneiro dos naturalistas em pintura. Sua obra revolucionária, em contraste com a produção demestres do gótico tardio como Cimabue e Duccio, causou forte impressão em seus contemporâneose dominaria toda a pintura italiana do Trecento, por sua lógica, simplicidade, precisão e fidelidade ànatureza.[31] Ambrogio Lorenzetti e Taddeo Gaddi continuaram a linha de Giotto sem inovar,embora em outros características progressistas se mesclassem com elementos do gótico ainda forte,como se vê na obra de Simone Martini e Orcagna. O estilo naturalista e expressivo de Giotto,contudo, representava a vanguarda na visualidade desta fase, e se difundiu para Siena, que por umtempo passou à frente de Florença nos avanços artísticos. Dali se estendeu para o norte da Itália.

 No Quattrocento as representações da figura humana adquiriram solidez, majestade e poder,refletindo o sentimento de autoconfiança de uma sociedade que se tornava muito rica e complexa,com vários níveis sociais, de variada educação e referenciais, que dela participavam ativamente,formando um painel multifacetado de tendências e influências. Mas ao longo de quase todo o séculoa arte revelaria o embate entre os derradeiros ecos do gótico espiritual e abstrato, exemplificado por Fra Angelico, Paolo Uccello, Benozzo Gozzoli e Lorenzo Monaco, e as novas forças organizadoras,naturalistas e racionais do classicismo, representadas por  Botticelli, Pollaiuolo, Piero dellaFrancesca e Ghirlandaio. Nesse sentido, depois de Giotto o próximo marco evolutivo foi Masaccio, 

em cujas obras o homem tem um aspecto nitidamente enobrecido e cuja presença visual édecididamente concreta, com eficiente uso dos efeitos de volume e espaço tridimensional. Dele sedisse que foi "o primeiro que soube pintar homens que realmente tocavam seus pés na terra" .[30] 

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um grupo de artistas ilustres, como Jacopo Bellini, Giovanni Bellini, Vittore Carpaccio, MauroCodussi e Antonello da Messina. Siena, que já fizera parte da vanguarda em anos anteriores, agorahesitava entre o apelo espiritual do gótico e o fascínio profano do classicismo, e perdia ímpeto.Enquanto isso também outras regiões do norte da Itália começavam a conhecer o classicismo,através de Perugino em Perugia; Francesco Laurana em Urbino; Pinturicchio, Masaccio, Melozzo

da Forli, e Giuliano da Sangallo em Roma, e Mantegna em Pádua e Mântua.[32] Também deve-selembrar a influência renovadora sobre os pintores italianos da técnica da pintura a óleo, que noQuattrocento estava sendo desenvolvida nos Países Baixos e atingira elevado nível de refinamento,

 possibilitando a criação de imagens muito mais precisas e nítidas e com um sombreado muito maissutil do que o que era conseguido com o afresco, a encáustica e a têmpera. As telas flamengas erammuitissimo apreciadas na Itália exatamente por essas qualidades, e uma grande quantidade delas foiimportada, copiada ou emulada pelos italianos [13]

Mais adiante, na Alta Renascença, com Leonardo da Vinci, a técnica do óleo se refinou e penetrouno terreno do sugestivo, ao mesmo tempo em que aliava fortemente arte e ciência. Com Rafael osistema classicista de representação visual chegou a um apogeu, e se revelou a doçura, a grandeza

solene e a perfeita harmonia. Mas essa fase, de grande equilíbrio formal, não durou muito, logoseria transformada profundamente, dando lugar ao Maneirismo. Aqui Michelangelo, coroando o processo de exaltação do homem, levou-o a uma nova dimensão, a do sobre-humano, abrindo-lhetambém as portas do trágico e do patético. Com os maneiristas toda a noção de espaço foi entãoalterada, a perspectiva se fragmentou em múltiplos pontos de vista, e as proporções da figurahumana foram distorcias com finalidades expressivas ou meramente estéticas, formulando-se umalinguagem visual mais dinâmica, vibrátil, subjetiva, dramática e sofisticada. Pontormo, Veronese,Romano, Tintoretto, Bronzino, e Michelangelo em sua fase madura foram exemplos típicos doManeirismo plenamente manifesto. Giorgio Vasari, um pintor e arquiteto maneirista de méritosecundário, também deve ser lembrado por sua importância como biógrafo e historiador da arte, umdos primeiros a reconhecer todo o ciclo renascentista como uma fase de renovação cultural e o

 primeiro a usar o termo "Renascimento" na bibliografia, em sua enciclopédica Le Vite de' più Eccellenti Pittori, Scultori e Architettori, uma das fontes primárias para o estudo da vida e obra demuitos artistas do período.

Fra Angelico: Anunciação, c. 1440.Museu Nacional de SãoMarcos, Florença

Piero della Francesca:  Flagelação de Cristo,1460. Galleria Nazionaledelle Marche, Urbino

Pietro Perugino: O

batismo de Cristo, ca.1481-83. Capela Sistina

Botticelli: O

nascimento de Vênus,1485. Uffizi

Parmigianino: Madonnado pescoço longo, 1534-40. Uffizi

Michelangelo: O Juízo Final , 1534-41. CapelaSistina

Bronzino: Alegoria dotriunfo de Vênus, 1540-1545. National Gallery

Federico Barocci: A Madonna do povo,

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[editar] Escultura

Ver artigos principais: Escultura do Renascimento , Escultura do Renascimento italiano.

 Na escultura os sinais de uma revalorização de uma estética classicista são mais antigos, datando doséculo XIII. Nicola Pisano em torno de 1260  produziu um púlpito  para o Batistério de Pisa que éconsiderado a manifestação precursora da Renascença em escultura. Na passagem do século XIII 

 para o século XIV seu filho Giovanni Pisano levaria seu estilo mais longe e dominaria a cena emFlorença no primeiro terço do século, e seria um dos introdutores de um gênero novo, o doscruxifixi dolorosi, de grande dramaticidade e larga influência, até então incomum na Toscana. Seutalento versátil daria origem a outras obras de suma elegância e austeridade, de linhas limpas e

 puras, como o retrato de Enrico Scrovegni. Suas Madonnas, relevos e o púlpito da Catedral de Pisa são, por outro lado, muito mais movimentados e graciosos, com elementos góticos mesclados a umnovo senso de proporção e espaço que infere seu estudo dos clássicos.[33][34] Contemporâneos

como Tino di Camaino seguem aproximadamente a mesma linha de trabalho, num cruzamento decorrentes que seria típico de todo o Trecento.[35] Em meados do século Andrea Pisano se tornariaum dos escultores mais importantes da Itália, autor dos relevos da porta sul do Batistério deFlorença e sendo nomeado arquiteto da Catedral de Orvieto.[36] Foi mestre de Orcagna, cujotabernáculo em Orsanmichele é uma das obras-primas do período, e de Giovanni di Balducci, autor de um requintado e complexo monumento funerário na Capela Portinari de Milão.[37][38]

Apesar dos avanços dos mestres citados acima, sua obra ainda reflete o embate entre as tendênciasantigas e modernas, e elementos góticos ainda são nitidamente visíveis em todos eles. Para o fim doTrecento surge em Florença a figura de Lorenzo Ghiberti, autor de relevos no Batistério de SãoJoão, onde os modelos clássicos são recuperados por completo. Logo em seguida Donatello conduz

os avanços em várias frentes. Nas suas obras principais figuram as estátuas de profetas do  AntigoTestamento. Deles talvez o Habacuc seja a mais impressionante, uma imagem cujo porte lembrafortemente um romano com sua toga, quase extraído diretamente da retratística da Romarepublicana. Ousou ao modelar a primeira figura de nu de grandes dimensões em volume completodesde a antiguidade, o David de 1430. Também inovou na estatuária equestre, criando o monumentoa Gattamelata, a mais importante obra em seu gênero desde o Marco Aurélio romano do Capitólio.Por fim, sua descarnada Madalena penitente, em madeira, de 1453, é uma imagem de dor,austeridade e transfiguração que não teve paralelos em sua época, reintroduzindo um pungentesenso de drama e realidade na estatuária que só se viu no Helenismo.[39]

 Na geração seguinte, Verrocchio se destaca pela teatralidade e dinamismo das composições. SeuCristo e São Tomé tem grande realismo e poesia. Compôs um Jovem com um golfinho para a fonte

de Netuno em Florença que é o protótipo da figura serpentinata, que seria o modelo formal mais prestigiado pelo Maneirismo e Barroco. Sua obra maior, o monumento equestre a BartolommeoColleoni é uma expresão de poder e força mais impressionante que o Gattamelata. Desiderio daSettignano e Antonio Rosselino também merecem lembrança. Florença continuou o centro daevolução até o aparecimento de Michelangelo, que trabalhou em Roma para os papas - e tambémem Florença para os Medici - e foi o maior nome da escultura desde a Alta Renascença até meadosdo Cinquecento. Sua obra passou do classicismo puro do David , do Baco, e chegou ao Maneirismo,expresso em obras veementes como os Escravos, o Moisés, e os nus da Capela Medici em Florença.Artistas como Baccio Bandinelli, Agostino di Duccio e Tullio Lombardo também deixaram obrasde grande maestria, como o Adão [12] deste último. Encerram o ciclo renascentista Giambologna,

Francesco da Sangallo, Jacopo Sansovino e Benvenuto Cellini, com um estilo de grande dinamismoe expressividade, tipificado no Rapto das Sabinas, de Giambologna. Artistas importantes em outros países da Europa já iniciam a trabalhar em linhas claramente italianas, como Adriaen de Vries nonorte e Germain Pilon na França, espalhando o gosto italiano por uma grande área geográfica e

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 Nicola Pisano: Adão, púlpito doBatistério de Pisa

Giovanni Pisano: Retrato de Enrico Scrovegni, CapelaScrovegni, Pádua (Cópia doMuseu Pushkin)

Agostino di Duccio: Madonna, século XV.Museo dell'Opera diSanta Maria del Fiore

Ghiberti: A história de José, painel da Porta do Paraíso, Batistério de SãoJoão

Donatello: Habacuc. Museodell'Opera delDuomo

Verrocchio: São Tomé eCristo, 1466-83,Orsanmichele, Florença

Michelangelo: Baco,Museu del Bargello

Giambologna: O rapto da sabina, 1581-82. Loggiadei Lanzi, Florença

[editar] MúsicaVer artigo principal: Música do Renascimento

Em linhas gerais, a música do Renascimento não oferece um panorama de quebras abruptas decontinuidade, e todo o longo período pode ser considerado o terreno da lenta transformação douniverso modal para o tonal, e da polifonia horizontal para a harmonia vertical. O Renascimento foitambém um período de grande renovação no tratamento da voz e na orquestração, no instrumental ena consolidação dos gêneros e formas puramente instrumentais com as suítes de danças para bailes,havendo grande demanda por animação musical em todo festejo ou cerimônia, público ou privado.[41]

 

Iluminura do Codex Squarcialupi mostrando Francesco Landini tocando um organetto

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Luca della Robbia: Relevo para um coro, 1431-38. Museo dell'Opera del Duomo, Florença

 Na técnica compositiva a polifonia melismática dos organa, derivada diretamente do cantogregoriano, é abandonada em favor de uma escrita mais enxuta, com vozes tratadas de maneira cadavez mais equilibrada. No início do período o movimento paralelo é usado com moderação,acidentes são raros mas as dissonâncias duras são comuns. Mais adiante a escrita a três vozescomeça a apresentar tríades, dando uma impressão de tonalidade. Tenta-se pela primeira vez

escrever música descritiva ou programática, os rígidos modos rítmicos cedem lugar à isorritmia e aformas mais livres e dinâmicas como a balada, a chanson e o madrigal. Na música sacra a forma damissa se torna a mais prestigiada. A notação evolui para adoção de notas de menor valor, e mais

 para o final do período passa a ser aceito o intervalo de terça como consonância, quando antesapenas a quinta, a oitava e o uníssono o eram.[42][43]

Os precursores desta transformação não foram italianos, mas franceses como Guillaume deMachaut, autor da maior realização musical do Trecento em toda Europa, a  Missa de Notre Dame, ePhilippe de Vitry, muito elogiado por Petrarca. Da música italiana dessa fase inicial muito poucochegou a nós, embora se saiba que a atividade era intensa e quase toda no terreno profano, sendo as

 principais fontes de partituras o Codex Rossi, o Codex Squarcialupi e o Codex Panciatichi. Entre

seus representantes estão Matteo da Perugia, Donato da Cascia, Johannes Ciconia e sobretudoFrancesco Landini. Somente no Cinquecento a música italiana começou a desenvolver características próprias e originais, sendo até então muito dependente da escola franco-flamenga.[43]

O predomínio de influências do norte não significa que o interesse italiano pela música fosse pequeno. Na ausência de exemplos musicais da Antiguidade para serem emulados, filósofositalianos como Ficino se voltaram para textos clássicos de Platão e Aristóteles em busca dereferências para que se pudesse criar uma música digna dos antigos. Nesse processo umsignificativo papel foi desempenhado por Lorenzo de' Medici em Florença, que fundou umaacademia musical e atraiu diversos músicos europeus,[11] e por  Isabella d'Este, cuja pequena mas

 brilhante corte em Mântua atraiu poetas que escreviam em italiano poemas simples para seremmusicados, e lá a récita de poesia, assim como em outros centros italianos, era geralmenteacompanhada de música. O gênero preferido era a frottola, que já mostrava uma estruturaharmônica tonal bem definida e contribuiria para renovar o madrigal, com sua típica fidelidade aotexto e aos afetos. Outros gêneros polifônicos como a missa e o moteto fazem a esta altura plenouso da imitação entre as vozes e todas são tratadas de um modo semelhante. Compositoresflamengos importantes trabalham na Itália, como Adriaen Willaert e Jacob Arcadelt, mas as figurasmais célebres do século são Giovanni da Palestrina, italiano, e Orlande de Lassus, flamengo, queestabelecem um padrão de para a música coral que seria seguido em todo o continente, com umaescrita melodiosa e rica, de grande equilíbrio formal e nobre expressividade, preservando ainteligibilidade do texto, aspecto que no período anterior muitas vezes era secundário e se perdia na

intrincada complexidade do contraponto. A impressão de sua música se equipara à grandezaidealista da Alta Renascença, florescendo em uma fase em que o Maneirismo já se manifestava comforça em outras artes como a pintura e escultura. No final do século aparecem três grandes figuras,

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Carlo Gesualdo, Giovanni Gabrieli e Claudio Monteverdi, que introduziriam avanços na harmonia eum senso de cor e timbre que enriqueceriam a música dando-lhe uma expressividade e dramatismomaneiristas e a preparariam para o Barroco. Monteverdi em especial é importante por ser o primeiro

d i d hi ó i ó L'O f (1607) L'A i (1608 did ó

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grande operista da história, e suas óperas L'Orfeo (1607) e  L'Arianna (1608, perdida, só resta umafamosa ária, o Lamento) representam o nobre ocaso da música renascentista e os primeiros grandesmarcos do barroco musical [43]

Exemplos musicais

• Anônimo italiano: Ypocrite - Velut stelle - Et gaudebit   (ajuda·info) • Anônimo, Codex Rossi: Cum altre ucele  (ajuda·info) • Hugo de Lantins: Jo sum tuo servo  (ajuda·info) • Giulio Caccini: Amor che attendi  (ajuda·info) • Giovanni Croce: Cantate Domino  (ajuda·info) • Jacob Arcadelt: Io dico che fra noi  (ajuda·info) • Monteverdi: Lamento de L'Arianna (versão coral do autor, 1614) (ajuda·info) 

[editar] Arquitetura

Ver artigo principal: Arquitetura do Renascimento

A permanência de muitos vestígios da Roma antiga em solo italiano jamais deixou de influir na plástica edificatória local, seja na utilização de elementos estruturais ou materiais usados pelosromanos, seja mantendo viva a memória das formas clássicas.[44] Mesmo assim, no Trecento ogótico continua a linha dominante e o classicismo só viria a emergir com força no século seguinte,em meio a um novo interesse pelas grandes realizações do passado. Esse interesse foi estimulado

 pela redescoberta de bibliografia clássica dada como perdida, como o De Architectura de Vitrúvio,

encontrado na biblioteca do mosteiro de Monte Cassino em 1414 ou 1415. Nele o autor exaltava ocírculo como forma perfeita, e elaborava sobre proporções ideais da edificação e da figura humana,e sobre simetria e relações da arquitetura com o homem. Suas idéias seriam então desenvolvidas por outros arquitetos, como o primeiro grande expoente do classicismo arquitetônico, FilippoBrunelleschi, que tirou sua inspiração também das ruínas que estudara em Roma. Foi o primeiro ausar modernamente as ordens arquitetônicas de maneira coerente, instaurando um novo sistema de

 proporções baseado na escala humana.[45][46] Também se deve a ele o uso precursor da perspectiva para representação ilusionística do espaço tridimensional em um plano bidimensional,uma técnica que seria aprofundada enormemente nos séculos vindouros e definiria todo o estilo daarte futura, inaugurando uma fertilíssima associação entre a arte e a ciência. Leon Battista Alberti éoutro arquiteto de grande importância, considerado um perfeito exemplo do "homem universal"

renascentista, versátil em várias especialidades. Foi o autor do tratado  De re aedificatoria, que setornaria canônico. Outros arquitetos, artistas e filósofos acrescentaram à discussão, como LucaPacioli em seu De Divina Proportione, Leonardo com seus desenhos de igrejas centradas eFrancesco di Giorgio com o Trattato di architettura, ingegneria e arte militare.

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A planta centrada de Bramante para a Basílica de São Pedro

Dentre as características mais notáveis da arquitetura renascentista está a retomada do modelocentralizado de templo, desenhado sobre uma cruz grega e coroado por uma cúpula, espelhando a

 popularização de conceitos da cosmologia neoplatônica e com a inspiração concomitante deedifícios-relíquias como o Panteão de Roma. O primeiro desse gênero a ser edificado naRenascença foi talvez San Sebastiano, em Mântua, obra de Alberti de 1460, mas deixadoinconcluso. Este modelo tinha como base uma escala mais humana, abandonando o intensoverticalismo das igrejas góticas e tendo na cúpula o coroamento de uma composição que primava

 pela inteligibilidade. Especialmente no que toca à estrutura e técnicas construtivas da cúpula,grandes conquistas foram feitas no Renascimento. Das mais importantes são a cúpula octogonal daCatedral de Florença, de Brunelleschi, que não usou andaimes apoiados no solo ou concreto naconstrução, e a da Basílica de São Pedro, em Roma, de Michelangelo, já do século XVI.[47]

 No lado profano aristocratas como os Medici, os Strozzi, os Pazzi, asseguram seu status ordenando

a construção de palácios de grande imponência e originalidade, como o Palácio Pitti (Brunelleschi),o Palazzo Medici Riccardi (Michelozzo), o Palazzo Rucellai (Alberti) e o Palazzo Strozzi (Maiano),todos transformando o mesmo modelo dos palácios medievais italianos, de corpo mais ou menoscúbico, pavimentos de alto pé-direito, estruturado em torno de um pátio interno, de fachada rústica ecoroado por grande cornija, o que lhes confere um aspecto de solidez e invencibilidade. Formasmais puramente clássicas são exemplificadas na Vila Medici, de Giuliano da Sangallo. Variaçõesinteressantes deste modelo são encontradas em Veneza, dadas as características alagadas do terreno.[48]

Depois da figura principal de Donato Bramante na Alta Renascença, trazendo o centro do interessearquitetônico de Florença para Roma, e sendo o autor de um dos edifícios sacros mais modelares desua geração, o Tempietto, encontramos o próprio Michelangelo, tido como o inventor da ordemcolossal e por algum tempo arquiteto das obras da Basílica de São Pedro. Michelangelo, na visãodos seus próprios contemporâneos, foi o primeiro a desafiar as regras até então consagradas daarquitetura classicista, desenvolvendo um estilo pessoal, pois fora segundo Vasari o primeiro aabrir-se para a verdadeira liberdade criativa. Ele representa, então, o fim do "classicismo coletivo",

 bastante homogêneo em suas soluções, e o início de uma fase de individualização e multiplicaçãodas linguagens arquitetônicas. Ele abriu caminho, pelo imenso prestígio que desfrutava entre osseus, para que a nova geração de criadores realizasse um sem-número de experimentações a partir do cânone clássico de arquitetura, tornando esta arte independente dos antigos - ainda quelargamente devedora deles. Alguns dos mais notáveis nomes desta época foram Della Porta,Sansovino, Palladio, Fontana, Peruzzi e Vignola. Entre as modificações que esse grupo introduziu

estavam a flexibilização da estrutura do frontispício e a anulação das hierarquias das ordens antigas,com grande liberdade para o emprego de soluções não ortodoxas e o desenvolvimento do gosto por um jogo puramente plástico com as formas, dando muito mais dinamismo aos espaços internos e àsfachadas.[49] De todos os derradeiros renascentistas Palladio foi o mais influente, e ainda hoje é o

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Brunelleschi: Ospedaledegli Innocenti

Alberti: Fachada deSanta Maria Novella

Michelozzo Michelozzi: Palazzo Medici-Riccardi

Giuliano da Sangallo:Vila Medici

Michelangelo: A cúpulade São Pedro

Palladio: Villa Capra Della Porta: Villa Aldobrandini

Vignola: Palazzo Farnese

[editar] A italianização da EuropaCom o crescente movimento de artistas, humanistas e professores entre as cidades ao norte dosAlpes e a península Itálica, e com a grande circulação de textos impressos e obras de arte através dereproduções em gravura, o classicismo iniciou em meados do século XV uma etapa de difusão por todo o continente. Mas foram Francisco I da França e Carlos V, Sacro Imperador Romano, que logoreconheceram o potencial da Renascença italiana para promover suas imagens régias através deformas clássicas, os agentes decisivos para a divulgação intensiva da arte italiana além dos Alpes.Mas isso aconteceu apenas por volta do início do século XVI, quando o ciclo renascentista já tinha

 pelo menos duzentos anos de amadurecimento na Itália, já chegara a uma culminação e já estava emsua fase maneirista. Destarte, cabe advertir que não houve nada como um Quattrocento ou uma AltaRenascença no restante da Europa, pois nela não houve um lento e orgânico processo declassicização como o italiano, foi em muito um resultado de eventos políticos que ocorreram em umcurto espaço de tempo, mas que tiveram repercussão continental. Como resultado, como se seabrissem de repente as comportas de uma represa, o vasto derrame de cultura italiana para o norte e

o oeste depois das invasões na Itália gerou em cada região ou país uma original mescla de raízeslocais góticas com o classicismo italiano tardio.

[editar] França

A influência renascentista via Flandres e a Borgonha já existia desde o século XV, como se nota na produção de Jean Fouquet, mas a Guerra dos Cem Anos e as epidemias de peste atrasaram seuflorescimento, que ocorre somente a partir da invasão francesa da Itália por Carlos VIII em 1494. O

 período se estende até cerca de 1610, mas seu final é tumultuado com as guerras de religião entrecatólicos e huguenotes, que devastaram e enfraqueceram o país. Durante sua vigência a Françainicia o desenvolvimento do absolutismo e se expande pelo mar explorando a América. O centro

focal se estabelece em Fontainebleau, sede da corte, e ali se forma a Escola de Fontainebleau,integrada por franceses e italianos como Rosso, Primaticcio, Dell'Abbate e Toussaint Dubreuil,sendo uma referência para outros como François Clouet, Jean Clouet, Jean Goujon, Germain Pilon e

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Pierre Lescot. Leonardo também esteve presente ali.

 Na música houve um enorme florescimento através da Escola da Borgonha, que dominou a cenamusical européia durante o século XV e daria origem à Escola franco-flamenga, que produziriamestres como Josquin des Prez, Clément Janequin e Claude Le Jeune. A chanson francesa do século

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XVI teria um papel na formação da canzona italiana, e sua Musique mesurée estabeleceria um padrão de escrita vocal declamatória na tentativa de recriação da música do teatro grego, efavoreceria a evolução para a plena tonalidade. Também apareceu um gênero de música sacra distinto de seus modelos italianos, conhecido como chanson spirituelle. Na arquitetura foramdeixados monumentos ímpares como o Castelo de Chambord e o Château d'Amboise.[52][53] Naliteratura se destacam Rabelais, um precursor do gênero fantástico, Montaigne, popularizador dogênero ensaio onde é até hoje um dos maiores nomes, e o grupo integrante da Plêiade, com Pierrede Ronsard, Joachim du Bellay e Jean-Antoine de Baïf , que buscavam um atualização vernácula daliteratura greco-romana, a emulação de formas específicas e a criação de neologismos baseados nolatim e no grego.[54]

Exemplo musical

• Josquin Des Prez: Magnus est tu, Domine - Tu, pauperum refugium  (ajuda·info) 

Jean Clouet: Retrato

de Francisco I , 1525.Louvre

O Castelo de Chambord

François Clouet: Obanho de Diana, c. 1559.Museu de Arte de São

Paulo

Dürer : Altar Landauer ,

1511. KunsthistorischesMuseum

Gregor Erhart: Madalena, século XV. Louvre

Hans Burgkmair : Altar 

de São João, 1518. AltePinakothek 

Cornelis Floris de

Vriendt: Prefeitura deAntuérpia

Quentin Massys: Retratode um notário, início doséculo XVI. NationalGallery of Scotland

[editar] Países Baixos e Alemanha

Os flamengos estavam em contato com a Itália desde o século XV, mas somente no século XVI ocontexto se transforma e se caracteriza como renascentista, tendo uma vida relativamente curta.

 Nesta fase a região enriquece, a Reforma Protestante se torna uma força decisiva, oposta àdominação católica de Carlos V, levando a conflitos sérios que dividiriam a área. As cidadescomerciais de Bruxelas, Ghent e Bruges estreitam os contatos com o norte da Itália e encomendamobras ou atraem artistas italianos, como os arquitetos Tommaso Vincidor e Alessandro Pasqualini,que passaram a maior parte de suas vida ali. O amor pela gravura trouxe para a região inúmeras

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 Na música os Países Baixos, junto com o noroeste da França, se tornam o centro principal para todaa Europa através da Escola franco-flamenga. A pintura desenvolve uma escola original, que

 popularizou a pintura a óleo e dava enorme atenção ao detalhe e à linha, mantendo-se muito fiel àtemática sacra e incorporando sua tradição gótica às inovações maneiristas italianas. Teve em Janvan Eyck , Rogier van der Weyden e Hieronymus Bosch seus precursores no século XV, e logo aregião daria sua contribuição própria à arte européia consolidando o paisagismo através de JoachimPatinir e a pintura de gênero com Pieter Brueghel o velho e Pieter Aertsen. Outros nomes notáveissão Mabuse, Maarten van Heemskerck , Quentin Matsys, Lucas van Leyden, Frans Floris, AdriaenIsenbrandt e Joos van Cleve.[55][56]

A Alemanha impulsionou seu Renascimento fundindo seu rico passado gótico com os elementositalianos e flamengos. Um de seus primeiros mestres foi Konrad Witz, seguindo-se AlbrechtAltdorfer e Dürer, que esteve em Veneza duas vezes e foi lá profundamente influenciado,

lamentando ter de voltar para o norte. Junto com o erudito Johann Reuchlin, Dürer foi uma dasmaiores influências para disseminação do Renascimento no centro da Europa e também nos PaísesBaixos, onde suas célebres gravuras foram altamente elogiadas por Erasmo, que o chamou de "oApeles das linhas negras". A escola romana foi um elemento importante para a formação do estilode Hans Burgkmair e Hans Holbein, ambos de Augsburgo, visitada por Ticiano.[57][58] Na música

 basta a menção a Orlande de Lassus, um integrante da Escola franco-flamenga radicado emMunique que se tornaria o compositor mais célebre da Europa em sua geração, a ponto de ser nobilitado pelo imperador Maximiliano II e tornado cavaleiro pelo papa Gregório XIII, algoextremamente raro para um músico.

[editar] Portugal e EspanhaPortugal, no século XVI tornado uma das maiores potências navais, auferiu lucros imensos com asnavegações para o oriente, com sua colônia americana e o com tráfico de escravos, fazendo crescer a burguesia comercial e enriquecedo a nobreza, que podiam agora se entregar a grandes luxos ecultivar o espírito. O contato comercial com a França, Espanha, Países Baixos, Itália e Inglaterra éassíduo, e o intercâmbio cultural se intensificou. O gótico local se mescla a estas influênciasestrangeiras e dá origem ao estilo manuelino, que produziria monumentos altamente originais comoo Mosteiro dos Jerônimos, a Igreja Matriz da Golegã, o Mosteiro de Santa Cruz e a Torre de Belém,e a jóia exótica da janela do Capítulo do Convento de Cristo, em Tomar . Destacam-se

 personalidades como a do humanista Francisco de Holanda e dos artistas Grão Vasco, DiogoBoitaca,  Nuno Gonçalves, Francisco de Arruda e, Luís Vaz de Camões, um dos mais célebres poetasde todos os tempos.

 Na Espanha, as circunstâncias foram em vários pontos semelhantes. A reconquista do territórioespanhol aos árabes e o fantástico afluxo de riquezas das colônias americanas, com o intensointercâmbio comercial e cultural associado, sustentaram uma fase de expansão e enriquecimentosem precedentes da arte local. Artistas como Alonso Berruguete, Diego de Siloé, Tomás Luis deVitoria, El Greco, Pedro Machuca, Juan Bautista de Toledo, Cristóbal de Morales, Garcilaso de laVega, Juan de Herrera, Miguel de Cervantes e muitos mais deixaram obra notável em estilo clássicoou maneirista, mais dramático do que seus modelos italianos, já que o espírito da Contra-Reforma ali tinha um baluarte e, em escritores sacros como Teresa de Ávila, Inácio de Loyola e João daCruz, grandes representantes. Particularmente na arquitetura a ornamentação luxuriante se torna

típica do estilo que se conhece como  plateresco, uma síntese única de influências góticas, mouriscase renascentistas. A Universidade de Salamanca, cujo ensino tinha moldes humanistas, mais afixação de italianos como Pellegrino Tibaldi, Leone Leoni e Pompeo Leoni injetaram uma força

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Exemplo musical

• Tomás Luís de Victoria: Caligaverunt oculi mei  (ajuda·info) 

Grão Vasco: Detalhe doSão Pedro pontífice,Museu Grão Vasco

Francisco de Arruda:Torre de Belém,Lisboa

Altar plateresco daIgreja de Santa Maria, Valtierra

Pedro Machuca: Palácio deCarlos V, c. 1527. Granada

El Greco: Cristoespoliado, 1577-1579.Catedral de Toledo

Frontispício daCatedral de Lima,Peru

Robert Smythson:Wollaton Hall

 Nicholas Hilliard: Retratode um jovem com uma rosa,c. 1588. Victoria and AlbertMuseum

[editar] Inglaterra

 Na Inglaterra, o Renascimento coincide com a chamada Era Elisabetana, de grande expansãomarítima e de relativa estabilidade interna depois da devastação da longa Guerra das Rosas, quando

se tornou possível pensar em cultura e arte. Como na maior parte dos outros países da Europa, aherança gótica ainda viva mesclou-se com referências da Renascença tardia, mas suascaracterísticas distintivas são o predomínio da literatura e da música sobre as outras artes, e suavigência até cerca de 1620. Poetas como John Donne e Milton pesquisam novas formas decompreender a fé cristã, e dramaturgos como Shakespeare e Marlowe se movem com desenvolturaentre temas centrais da vida humana - a traição, a transcendência, a honra, o amor, a morte - emtragédias célebres como Romeu e Julieta,  Macbeth, Otelo (Shakespeare), e Doutor Fausto (Marlowe), bem como sobre seus aspectos mais prosaicos e ligeiros em fábulas encantadoras comoSonho de uma noite de verão (Shakespeare). Filósofos como Francis Bacon descortinam novoslimites para o pensamento abstrato e refletem sobre uma sociedade ideal, e na música a escolamadrigalesca italiana é assimilada por Thomas Morley, Thomas Weelkes, Orlando Gibbons emuitos outros, adquire um sabor inconfundivelmente local e cria uma tradição que permanece vivaaté hoje, ao lado de grandes polifonistas sacros como John Taverner , William Byrd e Thomas Tallis,este deixando o famoso moteto Spem in alium, para quarenta vozes divididas em oito coros, uma

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composição sem paralelos em sua época pela maestria no manejo de enormes massas vocais.[60]  Na arquitetura se destacaram Robert Smythson e os palladianistas Richard Boyle, Edward LovettPearce e Inigo Jones, cuja obra repercutiu até na América do Norte, fazendo discípulos em GeorgeBerkeley, James Hoban, Peter Harrison e Thomas Jefferson.[61] Na pintura o Renascimento foirecebido principalmente através da Alemanha e dos Países Baixos, com a figura maior de HansHolbein, florescendo depois com William Segar , William Scrots,  Nicholas Hilliard e vários outros

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, p g , ,

mestres da Escola Tudor .[62]Exemplos musicais

• Orlando Gibbons: The silver swan  (ajuda·info) • Thomas Tallis: Lamentatione Jeremiae Prophetae I (The Tudor Consort) (ajuda·info) 

[editar] CríticasBoa parte do debate moderno em torno do Renascimento tem procurado determinar se elerepresentou de fato uma melhoria em relação à Idade Média. Seus primeiros comentadores, como

Michelet e Burckhardt não hesitaram em se posicionar favoravelmente e em considerá-lo uma fasedecisiva em direção à modernidade, comparando-o à remoção de um véu dos olhos da humanidade,

 permitindo-lhe ver claramente [63]

 Execução de Savonarola na Piazza della Signoria, em Florença, 1498. Museu Nacional de SãoMarcos

Por outro lado, um grupo de historiadores modernos ressaltou que muitos dos fatores sociaisnegativos comumente associados à Idade Média - pobreza, perseguições religiosas e políticas -

 parecem ter piorado nesta era que viu nascerem Maquiavel, as guerras de religião, a corrupção do papado e a intensificação da caça às bruxas no século XVI. Muitas pessoas que viveram naRenascença não a tinham como a "Idade Dourada" que os intelectuais do século XIX imaginaram,mas estavam cientes dos graves problemas sociais e morais, como Savonarola, que desencadeou um

dramático revivalismo religioso no fim do século XV que causou a destruição de inúmeras obras dearte e enfim o levou à morte na fogueira, e Filipe II da Espanha, que censurou obras de arteflorentinas.[4][64] Mesmo assim, os intelectuais, artistas e patronos da época que estavamenvolvidos na movimentação cultural realmente acreditavam que estavam testemunhando uma novaera que constituía uma ruptura nítida com a idade anterior .[65]

Alguns historiadores marxistas preferiram descrever o Renascimento em termos materialistas,sustentando que as mudanças em arte, literatura e filosofia eram apenas uma parte da tendênciageral de distanciamento da sociedade feudalista em direção ao capitalismo, que resultou noaparecimento de uma classe burguesa que dispunha de tempo para se devotar às artes.[66] Tambémse aventou que o recurso aos referenciais clássicos foi naquela época muitas vezes um pretexto para

a legitimação dos propósitos da elite, e a inspiração na Roma republicana e principalmente na Romaimperial teria dado margem à formação de um espírito de competitividade e mercenarismo que osarrivistas usaram para sua escalada social tantas vezes inescrupulosa.[67] Johan Huizinga reconheceu a existência da Renascença mas questionou se ela representou uma mudança positiva.

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Em seu livro The Waning of the Middle Ages ele argumentou que o Renascimento foi um período dedeclínio em relação à Idade Média, destruindo muitas coisas que eram importantes.[68] Por exemplo, o latim havia conseguido evoluir e manter-se bastante vivo até lá, mas a obsessão pela

 pureza clássica interrompeu este processo natural e o fez reverter à sua forma clássica. RobertLopez declarou que a fase foi de grande recessão econômica,[69] enquanto que George Sarton eLynn Thorndike especulam que talvez o progresso científico realizado tenha sido na verdade bem

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menos original do que se supõe.[70] Desta forma, muitos historiadores começaram a pensar que otermo Renascimento vinha sendo por demais sobrecarregado com uma apreciação positiva,automaticamente desvalorizando a Idade Média, e propuseram o uso do termo substituto "PrimeiraModernidade", de caráter mais neutro e que o estabelecia como uma passagem da Idade Média paraIdade Moderna.[71] Mas esses próprios estudos foram objeto de controvérsia, levando a que sechamasse o Renascimento de "a criança mais intratável da historiografia" . Depois do que hoje

 parece ter ido apenas uma fase de saudáveis questionamentos de conceitos consagrados mas poucoaprofundados, o Renascimento vem sendo reafirmado como um período de enorme importância nahistória da arte e da cultura ocidental. A quantidade de estudos sobre o tema, que vem aumentando acada dia, seja a que conclusões tenha chegado, somente pelo seu volume evidencia que oRenascimento é uma polêmica ainda muito viva, e que é rico o bastante para continuar atraindo a

atenção da crítica e do público ininterruptamente desde sua fundação [4][72]

[editar] Legado

Michelangelo: A criação de Adão, Capela Sistina

Mesmo com opiniões divergentes sobre aspectos particulares, hoje parece ser um consenso que oRenascimento foi um período em que muitas crenças arraigadas e tomadas como verdadeiras foram

 postas em discussão e testadas através de métodos científicos de investigação, inaugurando umafase em que o predomínio da religião e seus dogmas deixou de ser absoluto e abriu caminho para odesenvolvimento da ciência e da tecnologia como hoje as conhecemos. Os filósofos renascentistasforam buscar na antigüidade precedentes para defender o regime republicano e a liberdade humana,

atualizando idéias que tiveram um impacto na jurisprudência e teoria constitucional atuais, e o pensamento político da época pode ter sido uma inspiração importante para a formação de Estadosmodernos como a Inglaterra e o Estados Unidos.[73]

 No campo das artes visuais foram desenvolvidos recursos que possibilitaram um salto imenso emrelação à Idade Média em termos de capacidade de representação do espaço, da natureza e do corpohumano, ressuscitando técnicas que haviam sido perdidas desde a antigüidade e criando outrasinéditas a partir dali. A linguagem arquitetônica dos palácios, igrejas e grandes monumentos que foiestabelecida a partir da herança clássica ainda hoje permenece válida e é empregada quando sedeseja emprestar dignidade e importância à edificação moderna. Na literatura as línguas vernáculasse tornaram dignas de veicular cultura e conhecimento, e o estudo dos textos dos filósofos greco-romanos disseminou máximas ainda hoje presentes na voz popular e que incentivam valoreselevados como o heroísmo, o espírito público e o altruísmo, que são peças fundamentais para aconstrução de uma sociedade mais justa e livre para todos. A reverência pelo passado clássico e

 pelos seus melhores valores criou uma nova visão sobre a história e fundou a historiografia 

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moderna, e proveu as bases para a formação de um sistema de ensino que na época se estendeu paraalém das elites e ainda hoje estrutura o currículo escolar de grande parte do ocidente e sustenta suaordem social e seus sistemas de governo. Por fim, a fantástica produção artística renascentista quesobrevive em tantos países da Europa continua a atrair multidões de todas as partes do mundo econstitui parte significativa da própria definição de cultura ocidental.[67]

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Maneirismo

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Giambologna: O rapto da Sabina, 1582. Florença

Maneirismo foi um estilo e um movimento artístico que se desenvolveu na Europa aproximadamente entre 1515 e 1600 [1] como uma revisão dos valores clássicos e naturalistas 

 prestigiados pelo Humanismo renascentista e cristalizados na Alta Renascença. O Maneirismo émais estudado em suas manifestações na  pintura, escultura e arquitetura da Itália, onde se originou,mas teve impacto também sobre as outras artes e influenciou a cultura de praticamente todas asnações européias, deixando traços até nas suas colônias da América e no Oriente. Tem um perfil de

difícil definição, mas em linhas gerais caracterizou-se pela deliberada sofisticação intelectualista, pela valorização da originalidade e das interpretações individuais, pelo dinamismo e complexidadede suas formas, e pelo artificialismo no tratamento dos seus temas, a fim de se conseguir maior 

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emoção, elegância, poder ou tensão. É marcado pela contradição e o conflito e assumiu na vastaárea em que se manifestou variadas feições.[2]

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a • 2

Contexto 

• 3Def inição ecaracter ísticasger ais 

3

3

• 4 Aexpressãomaneir istanasarte

s •

4

4

4

4

4

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[editar] EtimologiaA palavra deriva do termo italiano maniera, "maneira", indicando o estilo pessoal de determinadoautor, e em sua origem no século XVI foi usada por  Giorgio Vasari com conotações positivas,significando graça, leveza e sofisticação. Raffaello Borghini emprega o termo um pouco mais tarde

 para definir se um artista possui ou não um talento superior e original. Em seguida, escritores como

Giovanni Bellori e Luigi Lanzi modificam o conceito e ele passa a significar artificialidade evirtuosismo excessivo, o que iria repercutir negativamente em todos os estudos posteriores até oséculo XX quando o estilo começou a ser revisto e revalorizado especialmente depois da

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século XX, quando o estilo começou a ser revisto e revalorizado, especialmente depois dacontribuição de Arnold Hauser nos anos 1960.[3][4]

Historicamente, o Maneirismo vinha sendo considerado como a fase final e decadente do grandeciclo renascentista, mas hoje é reconhecido como um estilo autônomo e com valor próprio, e que jáaponta para a arte moderna.[5] O crescente prestígio da interpretação do Maneirismo como umestilo por seu próprio direito é reforçado pela tendência da crítica mais atual de rever a aplicação doconceito de Renascimento para a arte européia do século XVI, na constatação de quecomparativamente pouco havia sido feito em linhas classicistas fora da Itália até a década de 1510-

1520, quando o saque de Roma de 1527 assinala o fim do Renascimento como um movimentounificado e o início "oficial" do Maneirismo italiano. Embora a esta altura elementos classicistas jáestivessem sendo cultivados em vários pontos da Europa, tanto através da influência italianaanterior como de foma independente, é então que eles se expandem de forma decisiva e consistente

 para além dos Alpes, mas vão encontrar arraigadas tradições góticas ainda em pleno vigor. Da fusãodessas correntes resulta uma diversidade de sínteses ecléticas, a que se atribuiu o nome genérico deManeirismo internacional. Por outro lado, diversos autores preferem evitar o termo Maneirismo

 para descrever o fenômeno da difusão européia do Classicismo e do Humanismo ao longo do séculoXVI e vê-lo ainda como uma expressão legítima do Renascimento, ou tendem a usá-lo apenas paraclassificar seletivamente grupos de artistas ou regiões específicas, postulando a coexistência deambos os estilos nesse período. Outros ainda empregam a expressão "italianização da Europa" em

vez de defini-lo através de conceitos estilísticos ainda imprecisos. O debate está longe de chegar aum consenso.[6][7][8][9]

[editar] Contexto

Maarten van Heemskerck : O saque de Roma de 1527 

O ambiente que deu origem ao Maneirismo foi marcado por profundas mudanças na economia, na política, na cultura e na religião. Na política a invasão da Itália pela França, Alemanha e Espanha entre o fim do século XV e o início do século XVI levou a uma radical alteração no equilíbrio deforças do continente, culminando no Saque de Roma de 1527, que foi um imenso choque, causandouma devastação que causou espanto mesmo para os padrões da época e levando a uma fuga deartistas e intelectuais para outras paragens. Neste período Maquiavel sintetiza em seu O Príncipe, 

 publicado em 1532, as práticas políticas correntes, legitimando o uso da força para controle dossúditos e pregando uma moral dupla e um pragmatismo frio e inescrupuloso na administração pública, obra que teve enorme repercussão em sua época e cujo realismo político influiu até mesmo

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na condução do Concílio de Trento. A agitação da Reforma Protestante pôs um fim à primazia doCatolicismo e do Papado, mas logo em seguida nasceu a Contra-Reforma, numa tentativa de refrear a evasão de fiéis para o lado Protestante e a perda de influência política da Igreja, ao mesmo tempotentando moralizar os hábitos corruptos e materialistas do clero, estabelecendo uma novaabordagem do conceito de Deus e alterando a atmosfera de relativa liberdade de pensamento da faseanterior para uma de dúvida, ceticismo, austeridade e medo, com o aparecimento de várias seitas de

revivalismo religioso e filosofias contestadoras, e a eclosão de guerras religiosas.[10][11][12][13] Na economia, a abertura de novas rotas comerciais em vista das grandes navegações deixou a Itáliafora do centro do comércio internacional deslocando o eixo econômico para as nações do oeste

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fora do centro do comércio internacional, deslocando o eixo econômico para as nações do oesteeuropeu. Portugal e Espanha erguiam-se como as novas potências navais, acompanhados pelaFrança, Inglaterra e Países Baixos. O ouro e outras riquezas das colônias americanas, africanas easiáticas afluíam para eles em uma quantidade inaudita, e sustentavam a sua ascensão política. Nosmeios de produção surge a industrialização em larga escala, e as oficinas e manufaturas se fundemem companhias cada vez mais poderosas que auferem lucros fantásticos e são dirigidas por capitalistas que separam o comércio e a produção das operações financeiras puramenteespeculativas, para onde se desloca o peso maior da economia. As atividades primárias declinam em

 prestígio, as classes mais baixas perdem toda a segurança e, como esse contexto é instável, ocorrem bancarrotas nacionais na França (1557) e Espanha (1557 e 1575), com conseqüências sérias paragrandes massas da população.[14]

Michelangelo: O Juízo Final , 1534-41. Capela Sistina

Em face a tantas e tão drásticas mudanças, a cultura italiana não obstante conseguiu manter seu prestígio internacional, e o espoliamento de bens que a Itália sofreu pelas grandes potências no

fundo serviu também para disseminar sua influência para os mais afastados recantos do continente.Mas a atmosfera cultural reinante já era completamente outra. A convocação do Concilio de Trento(1545 a 1563) levou ao fim a liberdade nas relações entre Igreja e arte, a teologia assume o controlee impõe restrições às excentricidades maneiristas em busca de uma recuperação do decoro, de umamaior compreensibilidade da arte pelo povo e de uma homogeneização do estilo, e desde então tudodevia ser submetido de antemão ao crivo dos censores, desde o tema, a forma de tratamento e atémesmo a escolha das cores e dos gestos dos personagens. Veronese é chamado pela Inquisição para

 justificar a presença de atores e bufões em sua Ceia em casa de Levi, os nus do Juízo Final deMichelangelo têm suas partes pudendas repintadas e cobertas de panos, e Vasari já se sente insegurode trabalhar sem a presença de um dominicano ao seu lado. Apesar disso, a arte em si não foi postaem questão, e as novas regras se dirigiam mormente ao campo sacro, deixando o profano

relativamente livre. De fato, antes do que suprimir a arte, a Igreja Católica a usou maciçamente para propagar a fé em sua nova formulação e estimular a piedade nos devotos, e ainda mais como umsinal distintivo em relação aos Protestantes, já que Lutero não via qualquer arte com bons olhos e

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condenava as representações sagradas como idolatria. Variantes do Luteranismo como o Calvinismo foram ainda mais rigorosas em sua aversão à arte sacra, dando origem a episódios de iconoclastia.[15][16]

O resultado disso tudo foi um grande conflito espiritual e estético, tão bem expresso pela arteambivalente, polimorfa e agitada do período: se por um lado a tradição clássica, secular e pagã, não

 podia ser ignorada e continuava viva, por outro a nova idéia de religião e suas conseqüências para asociedade como um todo destruiu a autoconfiança e o prestígio dos artistas como criadoresindependentes e autoconscientes, que foram conquistados a duras penas havia tão pouco tempo, etambém revolucionou toda a estrutura antiga de relações entre o artista e os seus patronos e o seu

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g ç p público, sem haver ainda um substituto consolidado, tranqüilo e consensual. A saída para uns foi seencaminhar para o puro esteticismo, para outros foi a fuga e o abandono da arte, para outros foi aaceitação simples do conflito como não resolvido, deixando-o visível em sua produção, e é nesseconflito entre a consciência individual do artista e as forças externas que demandam atitudes pré-estabelecidas que o Maneirismo aparece como o primeiro estilo de arte moderna e o primeiro alevantar a questão epistemológica na arte. A pressão deve ter sido imensa, pois, como diznovamente Hauser,

Rafael: As núpcias da Virgem Maria, 1504. Uma obra típica da Alta Renascença. Pinacoteca deBrera

Rosso Fiorentino: Moisés defendendo as filhas de Jetro, 1523-24. Uffizi.

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Jacopo da Pontormo: A Deposição da Cruz, 1526-1528. Florença

"Despedaçados por um lado pela força e por outro pela liberdade, (os artistas) ficaram sem defesa contra o caos que ameaçava destruir toda ordem do mundo intelectual. Neles encontramos, pela primeira vez, o artista moderno, com o seu interior, o seu

 gosto pela vida e pela fuga, o seu tradicionalismo e a sua rebelião, o seu subjetivismoexibicionista e a reserva com que tenta readquirir o último segredo de sua

 personalidade. De então em diante, o número de maníacos, excêntricos e psicopatas,entre os artistas, aumenta de dia para dia" .[17] 

Murray Edelman complementa a idéia dizendo que

"Os pintores e escritores maneiristas do século XVI eram menos "realistas" do que seus predecessores da Alta Renascença, mas eles reconheceram e ensinaram muito sobrecomo a vida pode se tornar motivo de perplexidade: através da sensualidade, dohorror, do reconhecimento da vulnerabilidade, da melancolia, do lúdico, da ironia, da

ambiguidade e da atenção a diversas situações sociais e naturais. Suas concepçõestanto reforçaram como refletiram a preocupação com a qualidade da vida cotidiana,com o desejo de experimentar e inovar, e com outros impulsos de índole política. (…) É 

 possível que toda arte apresente esta postura, mas o Maneirismo a tornouespecialmente visível" ..[18] 

[editar] Definição e características geraisA definição de Maneirismo e sua delimitação cronológica e geográfica ainda são objeto de vivodebate entre os historiadores da arte, e pouco há de consenso em qualquer aspecto.[19] Nas

 primeiras análises sistemáticas do estilo, conduzidas no século XIX por críticos como HeinrichWölfflin e Jacob Burckhardt, esta fase, herdando preconceitos mais antigos, foi carregada com um juízo depreciativo, e maneirista e amaneirada foram qualificativos usados para designar uma arteque era vista como decadente, repulsiva e afetada, que se afastava dos cânones de equilíbrio,harmonia, racionalidade, moderação e clareza consumados na Alta Renascença pela obra de artistascomo Rafael Sanzio e na primeira fase de Michelangelo.[20][21]

A partir do início do século XX críticos como Alois Riegl, Max Dvořák , Walter Friedländer , Nikolaus Pevsner e Erwin Panofsky começaram a compreender o Maneirismo a partir de suasrazões internas e características únicas, dentro de uma apreciação mais abrangente, interpretando-ocomo manifestações positivas, embora não-clássicas, que tinham objetivos expressivos específicos.

[22] Com a contribuição de Arnold Hauser nos anos 1960 o estilo foi reconhecido definitivamente,numa abordagem que contextualizou suas causas e significados em termos econômicos, políticos esociais e explorou suas associações psicológicas.[23] Em sua visão os alegados excessosmaneiristas e suas distorções dos padrões clássicos eram um esforço para romper-se a regularidade

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e harmonia excessivas e no fundo artificiais do Renascimento, introduzindo uma prática que eramais verdadeira em relação ao tumultuado contexto social e cultural daquele tempo e que espelhavamelhor suas angústias e incertezas, substituindo aquele idealismo impessoal que tendia a pairar acima do humano por visões mais pessoais, subjetivas e sugestivas.[24]  Nesse sentido, oManeirismo foi uma arte de protesto e de oposição à autoridade clássica e às estruturas sociaiscoletivas de atribuição de valor.[25]

Por outro lado, o período não foi de negação completa dos referenciais clássicos, já que muito dassuas feições ansiosas e dinâmicas refletem justamente uma aguda consciência da perda e ausênciadaquela harmonia, mesmo que ideal e fictícia. Boa parte dos recursos técnicos e formais e dastemáticas abordadas ainda olham para o classicismo em busca de inspiração, e considerando que os

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temáticas abordadas ainda olham para o classicismo em busca de inspiração, e considerando que os problemas culturais do século e as contradições entre a tradição e a inovação deveriam ser resolvidos dentro de uma esfera racional, assim como pregavam os renascentistas, ainda que hoje se

 perceba que esse seu racionalismo estava cheio de subjetividade e psicologismo. Como diz G.Fasola, "estavam suspensos entre dois mundos" .[25] Segundo Arnold Hauser ,

"É impossível compreender o Maneirismo se não se compreende o fato de que a suaimitação dos modelos clássicos é uma fuga do caos ameaçador, e que o grande esforço

 subjetivo das suas formas é a expressão do medo de que a forma venha a cair na lutacom a vida, e de que a arte venha a se desvanecer numa beleza sem conteúdo" .[26] 

Contudo, é necessário lembrar que uma delimitação meramente cronológica do Maneirismo, quecomumente se considera estender a partir das segunda década do século XVI até o início doseguinte, e a classificação de todos os artistas deste período como maneiristas, são inadequadas.Elementos que mais tarde seriam chamados maneiristas já são visíveis na obra por exemplo deDonatello, Andrea del Sarto e Mantegna, no século XV.[27] Ao longo de todo o século XVI artistastipicamente maneiristas iriam conviver com outros ainda bastante fiéis ao programa clássico, comoo arquiteto Andrea Palladio, o músico Giovanni da Palestrina e alguns representantes da escolaveneziana de pintura. Por fim, sua fase derradeira já se confunde tanto com o Barroco,[28] que fazsua definição ser considerada por alguns como uma batalha perdida.[29]

Em linhas gerais o Maneirismo foi uma escola marcada pela heterogeneidade, tanto mais que oestilo não se limitou à Itália onde apareceu primeiro, e se espalhou por quase toda a Europaabsorvendo diferentes históricos artísticos e estilos regionais. São encontrados numa mesma regiãoartistas que trabalham em estilos mais clássicos e naturalistas, e outros que extrapolam todo onaturalismo e chegam a construir atmosferas de intenso misticismo, como é o caso típico de ElGreco, ou de pesadelo, como em Brueghel. O formalismo anda a passo com o informalismo, oconcreto com o abstrato, o lógico com o emotivo e o irracional, numa mescla sintomática dafragmentação da unidade clássica conquistada no Alto Renascimento e logo perdida. De certa formao Maneirismo foi uma tentativa de conciliar a espiritualidade da Idade Média com o realismo da

Renascença.[30] O estilo é fortemente palaciano, pelo menos em sua origem, seus principaisexpoentes participavam dos círculos ilustrados das cortes e eram eles mesmos muitas vezes

 perfeitos intelectuais.[31]

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Jacopo del Conte: A pregação de João Batista, 1538.

[editar] Teoria e ensino da arte

Ver artigo principal: Academismo

O artista da Renascença tinha a natureza como fonte de inspiração, era ela quem fornecia os padrõesque o artista deveria buscar imitar, e seu sucesso se media na proporção em que essa imitação erafiel e sua representação verossímil. O Maneirismo, em contraste, rejeita a cópia servil da natureza ea ela equipara a arte como a fonte da criação e dos padrões. Teóricos como Giovanni Lomazzo e

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q p f ç pFederico Zuccari acreditavam que a arte tinha um nascimento espontâneo no espírito do artista.Lomazzo considerava que o artista criava sua arte assim como o gênio divino criava a natureza, eZuccari via a elaboração artística interna, mental, o disegno interno, como uma manifestação dodivino na alma do artista. Contudo, ao mesmo tempo se patenteava o problema de onde essa arteautônoma buscava sua verdade, e se essa "verdade" era crível e aceitável. A solução encontrada foia reafirmação do conceito das idéias inatas, encontrado já em Platão, e assim a verdade do artista é

verdadeira e deriva de sua participação no espírito divino. Os maneiristas, porém, davam uma maior ênfase à liberdade e à espontaneidade do gênio criador. Giordano Bruno afirmava que "as regrasnão são a única fonte da poesia, mas a poesia é que é a fonte das regras, e há tantas regrasquantos são os poetas verdadeiros" . Pontormo, em carta a Vasari, dizia que a arte mudava anatureza. Nascia uma noção individualista e subjetiva de que arte não se ensina e não se aprende, ede que o artista em essência nasce pronto e não se faz.[32][33]

Parmigianino: Madonna do pescoço longo, 1534-40. Uffizi

Agnolo Bronzino: Alegoria do triunfo de Vênus, 1540-1545. National Gallery of London

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Federico Barocci: A Madonna do povo, 1579. Uffizi

Michelangelo Caravaggio: Jovem mordido por um lagarto, 1593

Em termos de ensino artístico, durante o século XVI ainda vigorava o sistema das antigas guildas ou corporações de ofícios, que preparavam o artista para que dominasse cabalmente o seu métier e ocapacitavam para que transmitisse seu conhecimento a outros discípulos. Eram organizações maisou menos informais de transmissão de conhecimento, nascidas organicamente da necessidade, ainda

que as relações entre mestre e discípulo fossem bem definidas e a autoridade do mestreincontestável. Mas o artista era socialmente apenas um artesão qualificado. Com o evoluir daRenascença o artista iniciou um caminho de independência, adquiriu uma cultura mais vasta ecompleta, buscando uma emancipação liberal do sistema antiprogressista das guildas para elevá-loacima do mero artesão. Essa independência começou a ser abalada com as novas determinações doConcílio de Trento e com o nascimento da idéia de normatização do ensino artístico. Paralelamentea esses movimentos reguladores de fundo teológico e técnico-pedagógico, emergiu umarequalificação dos critérios valorativos e uma recategorização das artes e dos sistemas deconhecimento, e nesse contexto à procura de uma ordem nova e geral se estruturou a primeiraacademia de arte, a Accademia del Disegno, estabelecida em Florença por Cosimo I de' Medici em1561, sob incentivo de Giorgio Vasari, pintor, teórico e biógrafo dos artistas do Renascimento. Estaacademia, porém, não tinha fins somente educativos, possuía antes um caráter de distinção pública,somente artistas já consagrados e de grande cultura podiam ser admitidos. Paralelamente, elesdeveriam ensinar um grupo de alunos selecionados. Foi apenas no fim do século que Zuccariconseguiu estabelecer a idéia de academia como uma aula pública estável, de caráter 

 profissionalizante e com currículo definido, onde o debate teórico tinha um papel proeminente,embora esse modelo, origem do Academismo, só viesse a florescer de fato entre o século XVII e oséculo XIX, pois a tradição artesanal corporativa ainda estava por demais arraigada.[34][35][36]

[editar] Fases do Maneirismo

O período é comumente dividido em duas (ou três, conforme o autor) grandes etapas principais. A primeira vai de c. 1515 a c. 1530 (ou segundo outros até c. 1550), aparece primeiro em Florença, elogo em Roma, e é chamada de fase anticlássica do Maneirismo. Seus principais representanteshaviam amadurecido sob a influência da Alta Renascença, e a obra que desenvolveram forma por 

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isso um contraste muito nítido em relação ao classicismo anterior .[27][37]

Esta primeira fase também é marcada pelo êxodo de artistas de Roma após o saque de 1527,fortalecendo por toda a Europa a influência do Renascimento italiano, a qual já se notava em vários

 pontos desde o século XV. Fundaram novos centros regionais e estimularam o trabalho de maior número de artistas. Em grande parte desses países o elemento italiano vai encontrar forte tradiçãotardo-gótica ainda viva, dando origem a singulares estilos híbridos, que definem o Maneirismonesses locais.[38]

 No período seguinte, às vezes chamado de Alto Maneirismo, o estilo já era dominante em toda aEuropa - embora não fosse o único. Se acentua o intelectualismo e a virtuosidade como elementosessenciais à boa arte, e a originalidade e maniera pessoais encontram dentro da arte profana umterreno livre para pesquisas ainda mais extravagantes O período coincide porém com as reformas

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terreno livre para pesquisas ainda mais extravagantes. O período coincide, porém, com as reformasdoutrinais do Concílio de Trento, como já foi mencionado antes, introduzindo alterações drásticasno modo de representação sacra.[37]

O declínio do Maneirismo na Itália começa por volta de 1580 ou 1590, com uma recuperação dosvalores do classicismo naturalista Rafaelesco, como se nota na obra de Annibale Carracci e na faseinicial de Caravaggio, enquanto que o estilo progride em outros países até bem dentro do séculoXVII, com centros da Renascença tardia se desenvolvendo em especial na França, Países Baixos ena Alemanha, até que se funde gradualmente no Barroco e se extingue em todas as partes.[39]

[editar] A expressão maneirista nas artes

[editar] Pintura

Talvez a mudança mais dramática introduzida pelo Maneirismo na pintura seja a transformação danoção de espaço. O Renascimento conseguiu construir a representação visual do espaço de modonotavelmente homogêneo, coerente e lógico, baseando-se na perspectiva clássica, colocando os

 personagens contra um cenário uniforme e contínuo e de acordo com uma hierarquia de proporçõesque simulava com grande sucesso o recuo gradual do primeiro plano para o horizonte ao fundo. OManeirismo rompe essa unidade com diferentes pontos de vista coexistindo em um mesmo quadro ecom a ausência de uma hierarquia lógica nas proporções relativas das figuras entre si, onde muitasvezes a cena principal é posta à distância e elementos secundários são privilegiados no primeiro

 plano. Assim as relações naturalistas são abolidas e o resultado é uma atmosfera de sonho eirrealidade, onde os relacionamentos formais e temáticos são arbitrários.[40][41]

O estilo se manifesta com figuras com proporções alongadas e em posições dinâmicas, contorcidasou em escorço, em grupos cheios de movimento e tensão, muitas vezes de paralelo impossível coma realidade, e daí seu caráter ser considerado artificialista e intelectualista, em oposição à gravitas 

[42] tão prezada no Alto Renascimento. Nota-se forte tendência ao horror vacui, uma aversão aovazio, cercando a cena principal com uma profusão de elementos decorativos que adquirem grandeimportância por si mesmos. Também há um senso de experimentalismo no tratamento de temastradicionais, com a intensificação do drama, e fazendo uso de muitas referências literárias e citaçõesvisuais de outros autores, o que tornava as obras de difícil compreensão pelo espectador inculto.[27]

Longe de dar uma lista completa, citamos aqui alguns pintores de maior importância na Itália:Jacopo da Pontormo, Rosso Fiorentino, Michelangelo em sua fase madura, Parmigianino, FrancescoSalviati, Giulio Romano, Beccafumi, Agnolo Bronzino, Alessandro Allori, Jacopo del Conte,Federico Barocci, Jacopo Tintoretto, Ticiano, Giuseppe Arcimboldo e Veronese. Na França FrançoisClouet e Jean Clouet e os integrantes da Escola de Fontainebleau. Ao norte Bartholomäus Spranger ,

Marten de Vos, Cornelis van Haarlem e Joachim Wtewael. William Segar , William Scrots e Nicholas Hilliard na Inglaterra; El Greco e Luis de Morales na Espanha; Diogo de Contreiras, oMestre de Abrantes, Gaspar Dias, António Nogueira e o Grão Vasco em Portugal.

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SienaSaint Louis Art Museum

Castelo Skokloster 

William Scrots(atribuição): Henry

 Howard, Conde deSurrey, aos 29 anos,1546.

Marten de Vos: Juízo Final , 1570

Cornelis van Haarlem: Aqueda dos Titãs, 1588.Museu Nacional de Arteda Dinamarca

El Greco: O batismo deCristo, 1597-1600.Museu do Prado

[editar] Gravura e desenho

Pouco pode ser acrescentado no terreno da forma e significado ao que já se disse sobre a pintura.Mas na técnica e usos algumas palavras adicionais são ilustrativas. Nestes gêneros a cor via de regraestá ausente, ou tem sua participação minimizada, e o centro do interesse plástico se concentra nalinha e nos valores plásticos que dela se pode obter. O desenho tem uma origem imemorial, desde a

 pré-história há registros gráficos artísticos, mas ao longo de toda história da arte ele ocupou umafunção subsidiária dos grandes gêneros da pintura, arquitetura e escultura, tendo importânciaamplamente reconhecida como base e esboço da obra final, mas carecendo de um valor própriocomo o resultado acabado do esforço do artista. Essa situação começou a mudar no Renascimento, e

chegando ao Maneirismo já era considerado categoria autônoma no universo das artes. Suavalorização no mercado de arte, contudo, teria de esperar pelo século seguinte. Pontormo,Parmigianino e Tintoretto deixaram obras significativas nessa técnica.[43]

A gravura tem uma história igualmente antiga, e uma evolução semelhante. No século XV já haviaflorescentes escolas de gravadores por vários países da Europa, especialmente na Alemanha, PaísesBaixos e norte da Itália, onde tinha um uso preferencial na ilustração de livros e divulgação de

 pinturas célebres, mas com diversos praticantes da arte como um gênero autônomo. A partir dasegunda década do século XVI, porém, adentrando o Maneirismo, já não vivem gênios como Dürer  e Mantegna, e a cena é dominada por figuras menores que se dedicam antes à cópia de pinturas edesenhos do que à criação. Mesmo assim, diversos copistas possuíram uma técnica impecável, emais do que isso, enorme sensibilidade para transpor as sérias dificuldades inerentes ao gênero dacópia e produzir resultados de elevado valor. Por outro lado, este foi um período de extraordináriaatividade gravadora, somente comparável à contemporaneidade. Diversas empresas são fundadas

 para a reprodução de gravuras em larga escala e se desenvolvem novas técnicas. Merecem

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