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Escolhas para uma Sociedade para Todas as Idades Um Livro Branco com recomendações para os decisores

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Escolhas para uma Sociedade para Todas asIdades ”

Um Livro Branco com recomendações paraos decisores

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Principal autor do Livro Branco:

Dirk Jarré, Presidente da Federação Europeia das Pessoas Idosas (EURAG)

Com contribuições dos parceiros de investigação e do projeto de cooperação “Inovação social no âmbito do envelhecimento saudável e ativo para uma economia sustentável e em crescimento” (SIforAGE)

Autora do capítulo 5 “Sobre o Projeto SIforAGE”:

Elena Urdaneta, Coordenadora Científica do projeto SIforAGE

© União Europeia, [2016]

O conteúdo deste Livro Branco não reflete a opinião oficial da União Europeia. A responsabilidade da informação e dos pontos de vista expressados neste documento pertence exclusivamente ao autor.

A reprodução é autorizada desde que a fonte seja reconhecida.

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TABELA DE CONTEÚDOS

Prefácio 01

Introdução e Sumário Executivo 03

1 Características e finalidades do Livro Branco 08 1.1 Objetivos do documento 1.2 O grupo-alvo 1.3 A natureza das declarações e recomendações 1.4 Quem são os beneficiários deste Livro Branco?

2 Definições e aspectos relacionados 18 2.1 O envelhecimento enquanto processo 2.2 As pessoas idosas na sociedade europeia 2.3 Envelhecimento ativo 2.4 Envelhecimento saudável 2.5 Participação 2.6 Inovação social e sua importância

3 Questões relacionadas com o envelhecimento e recomendações 32 3.1 Dignidade humana e direitos fundamentais do Homem 3.2 O direito a envelhecer e o seu valor 3.3 A imagem do envelhecimento – preconceitos e discriminação etária 3.4 O interesse da sociedade em abordar as questões do

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envelhecimento 3.5 Qualidade de vida e bem-estar 3.6 Problemas e obstáculos das pessoas idosas 3.7 Mobilidade das pessoas idosas 3.8 Coesão social e integração social 3.9 Independência e autodeterminação 3.10 O envelhecimento sob uma perspetiva de curso de vida 3.11 Capacidades e contribuições das pessoas idosas 3.12 Necessidades e escolhas das pessoas idosas 3.13 Serviços de apoio a pessoas em envelhecimento 3.14 Investigação e desenvolvimento 3.15 Tecnologias e serviços de apoio inovadores 3.16 Investimentos nas populações em envelhecimento 3.17 Recrutamento e formação de profissionais 3.18 Questões estruturais e organizacionais 3.19 Informação, comunicação e meios de comunicação social 3.20 Aspectos económicos e financeiros 3.21 Nichos e novas oportunidades de mercado 3.22 Sociedade em envelhecimento e crescimento económico sustentável 3.23 Orientações estratégicas e políticas necessárias

4 Perspetivas e observações finais 114

5 Sobre o Projeto SIforAGE 120 5.1 Descrição e tarefas do projeto 5.2 Parceiros envolvidos no projeto 5.3 Metodologia de trabalho do projeto 5.4 Resultados esperados do projeto

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Em 2015, no seu Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde, a Organi-zação Mundial de Saúde advertiu que o envelhecimento da população não só exige uma mudança fundamental na forma como envelhecemos, mas também na forma como pensamos sobre o envelhecimento¹. Hoje, as pes-soas por todo o mundo vivem mais, considerando-se que começam a enve-lhecer a partir dos 60 anos. Essa tendência deverá continuar nos próximos anos. Em 2030, espera-se que as pessoas idosas compreendam mais de um quarto da população na Europa e na América do Norte².

O envelhecimento da população está prestes a tornar-se uma das mudanças mais transformadoras deste século, afetando a forma como trabalhamos, vi-vemos e nos envolvemos nas nossas comunidades. Como sociedade, deve-mos mudar radicalmente a forma como abordamos o envelhecimento, pois sabemos que envelhecer bem não é apenas viver mais tempo – é sim viver melhor.

Com isso em mente, a “Inovação social no âmbito do envelhecimento sau-dável e ativo para uma economia sustentável e em crescimento”, ou Projeto SIforAGE, surgiu num momento importante. A sua abordagem – promover o envelhecimento saudável e ativo através da articulação entre investigadores e utilizadores finais – demonstra a necessidade de trabalhar em cooperação a fim de criar soluções específicas e práticas, centradas nas pessoas idosas e orientadas para a construção de uma sociedade amiga das pessoas idosas.

PREFÁCIO

1. Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde (Organização Mundial de Saúde):http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/186463/1/9789240694811_eng.pdf?ua=1

2. Envelhecimento da população em 2015 (Nações Unidas): http://www.un.org/en/development/desa/population/publications/pdf/ageing/WPA2015_Report.pdf

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02

Este projeto representa a mobilização de mais de 2.000 agentes-chave na Europa, Turquia e Brasil, coordenados pelo Dr. Antoni Font, da Universidade de Barcelona, e pela Dra. Elena Urdaneta, do Basque Culinary Centre.

O SIforAGE é mais do que um projeto de inves-tigação; é o começo de um movimento. Com as recomendações descritas neste Livro Branco, políticos e outros decisores têm agora um con-junto de ferramentas baseadas em evidências a ter em consideração quando concebem políti-cas, programas, intervenções e estratégias para lidar com o envelhecimento da população, para melhorar as respostas às pessoas idosas e para avançar para uma sociedade que abraça o en-velhecimento saudável e ativo.

Parminder Raina, PhDProfessor, Departmento de Epidemiologia Clínica e Bioestatística, Universidade McMaster Diretor Científico, Instituto McMaster de Investigação do Envelhecimento & Centro Labarge de Mobili-dade no Envelhecimento Membro, Conselho Consultivo Científico, SIforAGETier 1 Canada Research Chair in GeroScienceLabarge Chair in Optimal Aging

Uma vez que entre países existe um desfasa-mento na abordagem dos impactos inerentes ao envelhecimento da população, a Comissão Europeia já estabeleceu um precedente impor-tante ao demonstrar visão e ação no apoio a iniciativas como o SIforAGE. Mas o trabalho não fica por aqui. Ao ter em conta as recomenda-ções para a ação futura neste Livro Branco, a UE tem oportunidade não só de criar, para todos, uma sociedade verdadeiramente amiga das pessoas idosas, mas também de ser um exem-plo brilhante para o mundo.

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O presente documento intitulado de “Escolhas para uma Sociedade para To-das as Idades: um Livro Branco com recomendações para os decisores”, ad-vém do projeto de investigação e cooperação “Inovação social no âmbito do envelhecimento saudável e ativo para uma economia sustentável e em cres-cimento” (SIforAGE), financiado por uma subvenção da União Europeia ao abrigo do programa “Science-in-Society 2012” (Ciência na Sociedade 2012).

As atividades do projeto foram realizadas ao longo de quatro anos, desde o final de 2012. Estas foram conduzidas por um consórcio de 17 parceiros de vários Estados-membros da União Europeia, bem como do Brasil e da Tur-quia. Os parceiros envolvidos nesta cooperação são oriundos de instituições académicas de investigação, autoridades públicas locais e regionais, socie-dades civis organizadas, criadores de produtos e serviços relevantes, mas também da arena política e da sociedade em geral.

Consequentemente o projeto SIforAGE agrupou uma ampla gama de compe-tências, experiências, abordagens e pontos de vista. Ao longo dos trabalhos de investigação realizados foram analisadas as atuais questões da socieda-de em envelhecimento – em particular na União Europeia, mas também com uma perspetiva que vai para além da Europa – de forma multiconceptual e multidisciplinar, com o objetivo de chegar a informações baseadas em evi-dências para melhor compreender as principais preocupações em relação ao envelhecimento da população europeia e para identificar elementos que potencialmente possam contribuir para abordar problemas de uma socie-dade em envelhecimento, mediante políticas e estratégias inovadoras.

INTRODUÇÃO E SUMÁRIO EXECUTIVO

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O primeiro capítulo esclarece a natureza e fina-lidade do presente Livro Branco. Descreve com algum detalhe para quem foi concebido e como pode e deve ser usado. Em particular, destaca a intenção de fornecer aos decisores a vários níveis, e numa variedade de áreas ligadas ao envelhecimento da população, uma espécie de manual que os ajude nos esforços para melhor compreender os fenómenos complexos rela-cionados com o envelhecimento e agir o mais racionalmente possível na contribuição para a concretização de “uma sociedade para todas as idades”.

O segundo capítulo oferece definições opera-cionais e aspectos importantes de assuntos abordados na última parte do Livro Branco, que permitirão uma compreensão mais precisa do envelhecimento como um processo multidi-mensional, do que se entende por envelheci-mento saudável e ativo, da situação e das possi-bilidades de participação das pessoas idosas na sociedade europeia e, finalmente, da natureza e da relevância da inovação social.

A parte principal do documento é o capítulo três, com 23 subcapítulos dedicados a uma grande variedade de assuntos significativos ligados ao envelhecimento na Europa. Cada subcapítulo começa com a apresentação de conclusões e observações seleccionadas em torno do res-pectivo tema, com a intenção de familiarizar os decisores com diferentes facetas do assunto em discussão. Esta parte introdutória e informati-

va é seguida de algumas recomendações para a formulação de políticas, desenvolvimento de estratégias e ações concretas.

Os assuntos abordados nos subcapítulos lidam com aspectos dos valores e direitos fundamen-tais na sociedade europeia, a situação atual e os problemas das pessoas idosas, as suas necessi-dades e escolhas possíveis, a melhor forma de as apoiar, as suas capacidades e o seu poten-cial dos quais a sociedade pode beneficiar em várias áreas, mas também considerações sobre porquê e como a sociedade deve investir em políticas para pessoas idosas, as bases lógicas económicas e financeiras de políticas e estraté-gias e, por último, uma breve constatação das oportunidades de mercado que a sociedade eu-ropeia em envelhecimento oferece aos agentes de mercado.

Alguns dos resultados particulares, conclusões e recomendações, podem ser conhecidos. No entanto, no presente Livro Branco são coloca-dos num contexto mais amplo e holístico, o que em conjunto pode mudar o seu significado e va-lor comparativamente a quando são vistos de uma só perspetiva.

No capítulo 5, intitulado de “Sobre o Projeto SIforAGE”, o leitor interessado pode encontrar links para vários documentos do projeto SIforAGE em que são relatados os resultados detalhados do trabalho científico.

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Estamos antecipadamente gratos pela sua cooperação!

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É evidente que um documento curto como este Livro Branco não pode ser abrangente ao ponto de cobrir todas as questões relacionadas com o envelhecimento, e também não pode entrar em todos os detalhes dos tópicos selecionados. Entende-se ainda que a situação pode ser mui-to diferente nos vários países europeus e que as fases de desenvolvimento de políticas e estra-tégias sobre o envelhecimento podem ter um amplo espectro de objetivos específicos, abor-dagens e métodos.No entanto, os componentes deste documento têm, em primeiro lugar, a intenção de oferecer aos decisores uma visão ampla sobre o com-plexo processo de envelhecimento na Europa, a partir de perspetivas diferentes. As descrições e recomendações são destinadas a fornecer apenas “pistas” e “alimento para o pensamen-to”, um ponto de partida para maior reflexão e discussão entre decisores – e também para os visados pelas decisões ou falta delas. A aten-ção deve concentrar-se nas várias questões le-vantadas, estimular a avaliação do fenómeno concreto, incentivar a reflexão sobre possíveis soluções para problemas prevalecentes e com-preender novas oportunidades – e, assim, aju-dar a moldar o futuro da Europa no sentido de “uma sociedade para todas as idades”.

No quarto capítulo são extraídas conclusões ge-rais do trabalho do projeto SIforAGE e das con-siderações apresentadas neste Livro Branco, as quais conduzem a algumas recomendações principais sobre novas ações necessárias a nível europeu.

O capítulo (final) cinco fornece aos leitores in-teressados informações detalhadas sobre o projeto “Inovação social no âmbito do envelhe-cimento saudável e ativo para uma economia sustentável e em crescimento”, SIforAGE. Este capítulo descreve a finalidade e a abordagem do projeto, os parceiros envolvidos, as princi-pais abordagens metodológicas e oferece um breve resumo dos resultados obtidos.

Avisos importantes:

O leitor não precisa necessariamente de lertodo o documento, pode apenas escolherum tema ou um aspecto de particular interessepara si. A Tabela de Conteúdos, no início, e o Ín-dice Alfabético, no final, deverão facilitar a pro-cura de itens específicos.

Este Livro Branco é considerado “um projeto em curso” que deverá ser mais desenvolvido e refinado através das contribuições dos utiliza-dores. Assim, seria ótimo se puder enviar-nos comentários, observações, exemplos de boas práticas e recomendações para:

Dirk Jarré, EURAG, enquanto autor principal deste Livro Brancoemail para: [email protected] e para

Elena Urdaneta, Coordenadora Científica do SIforAGEemail para: [email protected]

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Características e finalidades do Livro Branco

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conclusões são, em primeiro lugar, de con-siderável importância política e estratégica. Assim, devem ser particularmente disponi-bilizadas às pessoas e instituições que estão envolvidas nos processos de planeamento e ação destinados a lidar com os desafios atuais da sociedade europeia em envelhe-cimento – mas também, e não menos im-portante, àqueles que são responsáveis por pensar e preparar o futuro desta sociedade. Além disso, devem ser levadas ao conheci-mento das pessoas direta ou indiretamente envolvidas – como as próprias pessoas ido-sas e o público em geral – a fim de estimular e apoiar o discurso geral sobre o envelheci-mento da sociedade europeia, os seus fenó-menos, os seus problemas, possíveis solu-ções e perspetivas futuras.

O projeto “Inovação social no âmbito do envelhecimento saudável e ativo para uma economia sustentável e em crescimento”, com a sigla SIforAGE – financiado pelo Sé-timo Programa-Quadro da União Europeia – pode ser considerado, em primeira instân-cia, um programa de investigação científica aplicada. No entanto, os resultados deste importante trabalho de investigação não só devem ser refletidos nos relatórios do con-sórcio do projeto dirigidos à Comissão Euro-peia, como também serem ativamente pro-movidos e, eventualmente, servirem como um contributo útil para a mudança social futura de envelhecimento das sociedades.

Consideramos as descobertas e as conclu-sões efetuadas pelo projeto SIforAGE como tendo uma relevância muito substancial e um elevado valor. Estas merecem certamen-te ser levadas ao conhecimento dos profis-sionais e do público interessado e visado. Para além dos aspectos mais técnicos estas

Objetivos do documento

1.1

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É claro que o documento não pode nem cobrir todos os aspectos relacionados com o enve-lhecimento da sociedade europeia, nem todas as preocupações relativas às pessoas idosas em geral – e, portanto, não deve ser considerado como totalmente abrangente. Pelo contrá-rio, deve ser visto e utilizado como um ponto de partida para reflexões mais detalhadas e para o diálogo entre decisores e interessados nos processos de tomada de decisão ligados ao envelhecimento.

Entende-se também que dado que os vários Estados-membros europeus alcançaram está-gios bastante diferentes ao nível das medidas políticas para o envelhecimento e de promo-ção do envelhecimento saudável e ativo – sendo que alguns estão mais avançados do que outros – nem todos os assuntos apresentados, nem todas as recomendações, têm o mesmo significado para todos.

Tendo em conta estas considerações, o consórcio do projeto SIforAGE decidiu conceber e publicar este “Livro Branco”, para além e independentemente dos relatórios periódicos do projeto. A intenção é oferecer um documento que vai direto ao assunto, fácil de compreen-der, interessante para uma variedade de pessoas e instituições que lidam ou são afetadas pelo envelhecimento, e que seja, portanto, útil para uma melhor governação.

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As reflexões e recomendações apresentadas no capítulo 4, sob o título “Problemas relaciona-dos com o envelhecimento e recomendações”, abordam vinte e duas preocupações especí-ficas que deverão ajudar os políticos e outros decisores-chave a vários níveis na conceção de políticas, estratégias, projetos e ações que têm o potencial de ampliar as opções e melhorar as condições para um envelhecimento saudável e ativo na sociedade. No processo serão sugeri-das novas possibilidades para as pessoas idosas participarem na sociedade e no seu desenvol-vimento, contribuírem com a sua experiência e sabedoria e, ao fazê-lo, ajudarem ativamente a promover uma sociedade sustentável, em be-nefício de todos os que nela vivem.

Estas preocupações também destacam uma grande variedade de oportunidades que o en-velhecimento das sociedades oferece à ciência, à investigação e ao desenvolvimento a nível es-tratégico e económico.

O grupo alvo

1.2

Os comentários e recomendações apresentados devem ser igualmente do interesse dos simples cidadãos do quotidiano.

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O avanço da ciência, da tecnologia e a subse-quente possibilidade de desenvolvimento e produção de bens e serviços inovadores relacio-nados com as necessidades e escolhas de uma população cada vez mais envelhecida, promo-vem enormes oportunidades económicas nos mercados nacionais, europeus e mundiais. Es-tas oportunidades devem ser compreendidas e utilizadas pelos agentes envolvidos – mas tam-bém, e muito importante, por aqueles que são responsáveis pela criação das estruturas e con-dições que iniciam, incentivam e apoiam medi-das e ações inovadoras viradas para o futuro.

Entenda-se que o termo “decisores” se aplica a diversas categorias de pessoas-chave que desempenham um papel decisivo para e no desenvolvimento da sociedade. Estes podem ser ativos em órgãos parlamentares, nas estru-turas governamentais, nos partidos políticos, nas administrações públicas, nas empresas ou sindicatos, nas organizações da sociedade ci-vil, bem como em universidades e instituições de investigação – só para citar alguns dos mais significativos. De acordo com o âmbito da área de ação e responsabilidades, estes decisores podem agir a nível local, regional ou nacional, mas potencialmente também a nível europeu, no âmbito de instituições da União Europeia, em federações profissionais europeias, em re-des e estruturas similares da sociedade civil eu-ropeia.

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Além desses agentes em contexto institucional, os comentários e recomendações apresentados devem ser igualmente do interesse dos simples cidadãos do quotidiano que são, por fim, sujei-tos e objetos de todas as decisões relacionadas com o desenvolvimento social e económico. As observações e recomendações podem certa-mente ajudá-los a aprender e entender melhor o que está politicamente em jogo, quais são os problemas e como podem ser resolvidos. Tal pode auxiliá-los a tornarem-se mais bem infor-mados, estimulá-los a desenvolver as suas pró-prias opiniões, incentivá-los a envolverem-se (mais intensamente) em matérias da socieda-de e, assim, capacitá-los na tomada de decisão acerca dos grupos ou pessoas que gostariam de nomear para os representar ou decidir em seu nome.

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Foi feito um esforço consciente para assegurar que as declarações e recomendações ofereci-das no capítulo 4 deste documento estão firme-mente baseadas em resultados de investigação reais e concretos e, portanto, são formuladas com base em evidências. Partimos especial-mente de experiências práticas “no terreno”, da recolha de casos de boas práticas e, em parti-cular, da análise de inovações sociais identifica-das.

A natureza das declarações e recomendações

1.3

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Sempre que se verificou ser possível e apropriado, os subitens do capítulo 4 começam por observações gerais sobre as questões tratadas para depois apresentarem descobertas importantes do projeto SIforAGE; estas são se-guidas de considerações sobre a relevância dos assuntos, por um lado, para o indivíduo, e por outro, para a sociedade. Nesta base, as recomendações são facultadas para os decisores a vários níveis. Em sede própria, estas tam-bém podem indicar ideias estimulantes sobre oportunidades para os agen-tes económicos.

O documento também deve ajudar a iniciar e promover a troca entre os vá-rios grupos de decisores a diferentes níveis. Ao fornecer pontos de partida ao nível dos conteúdos e processos para a reflexão comum, pode servir como um promotor para a recolha de experiências revelantes conduzidas ante-riormente e, em particular, de ideias inovadoras a serem testadas, como foi o caso do projeto SIforAGE (o que será explicado mais detalhadamente no Capítulo 4).

Finalmente, esperamos que este Livro Branco ajude a resolver a questão ab-solutamente crucial do reforço do envolvimento das pessoas afetadas pelo envelhecimento – os próprios, as suas famílias e todos aqueles que prestam apoio e cuidados às pessoas idosas. Estes possivelmente poderiam gostar de comentar de forma mais ativa a validade e utilidade das declarações e recomendações oferecidas, partilhar as suas preocupações, necessidades, preferências e escolhas, como poderia vir a suceder num ainda por identi-ficar “Ponto Focal Europeu do Envelhecimento”. Neste sentido, este Livro Branco pode ainda vir a desempenhar este papel de “Vade mecum” para a boa governação e prática em estratégias de envelhecimento.

Um “Vademecum” para a boa governação e prática em estratégias de envelhecimento.

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O nome do projeto “Inovação social no âmbito do envelhecimento saudável e ativo para uma economia sustentável e em crescimento” suge-re, em primeiro luga um objectivo económico – referente, nomeadamente, te, ao modo como as inovações sociais no domínio do envelheci-mento saudável e ativo podem contribuir para a promoção contínua do crescimento económico na União Europeia. Contudo, o trabalho de in-vestigação conduzido pelo consórcio SIforAGE foi muito para além dos aspectos económicos relacionados com o envelhecimento europeu.

Os parceiros envolvidos no projeto foram pro-gressivamente constatando, durante a sua in-vestigação e no processo de disseminação ativa, quão surpreendentemente baixo é o conheci-mento sobre o envelhecimento na sociedade europeia em geral e como a pouca compreen-são das suas várias facetas e consequências na

Quem é que vai beneficiar do projeto?

1.4

realidade influencia processos de tomada de decisão relevantes. No entanto, os aspectos económicos e possíveis oportunidades de mer-cado – por muito que sejam importantes por si só – não podem ser objeto de uma abordagem unilateral, pois são, na verdade, meras conse-quências de uma mudança profunda na socie-dade europeia. Vários fatores contribuem para esta mudança social profunda, como é o caso de muitos outros processos de mudança social, tais como o aumento admirável da esperança média de vida, a crescente reivindicação do res-peito pleno dos direitos humanos fundamen-tais, a tendência ainda em curso para a indivi-dualização, os avanços na ciência e tecnologia, o papel importante da participação popular e da sociedade civil na construção do presente e do futuro da Europa, e a globalização avançada da economia.

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Embora todas as pessoas tenham o potencial de desfrutar de longevidade em condições físicas, mentais, sociais e materiais satisfatórias, as medidas preparatórias para o envelhecimento saudável e ativo devem iniciar-se des-de cedo. Estas medidas não são apenas uma questão de responsabilidade individual, como é aliás frequentemente defendido, mas resultam sim de inúmeros fatores de ordem social. Por exemplo, a compreensão do proces-so de envelhecimento durante a vida, com as mudanças inerentes ao nível das capacidades humanas, suas possibilidades, limitações e necessidades, deve ser um tema a introduzir no sistema de ensino em geral. Os serviços de saúde preventivos e curativos, bem como de assistência social, têm de ser temas predominantes nas políticas nacionais. O mesmo se aplica a regimes de proteção social em geral, incluindo a manutenção dos meios de subsis-tência para pessoas que deixaram de estar aptas para trabalhar e subsistir por meios próprios. As condições estruturais que determinam a qualidade das instituições onde as pessoas podem envelhecer bem ou onde as pessoas idosas recebem cuidados adequados, são também questões principais a se-rem tratadas pelas políticas públicas – com ênfase especial na responsabili-dade das autoridades locais.

Uma boa governação e a elaboração de políticas relativas ao envelhecimen-to, que respeitem as aspirações, necessidades e escolhas das pessoas “à medida que envelhecem”, não são apenas para benefício da pessoa a título individual, mas, sim, do interesse de toda a sociedade. A boa governação ajuda a garantir o respeito ético, indispensável na dignidade humana, e a implementação dos direitos fundamentais contribui significativamente para o reforço da coesão social e promove uma participação elevada das pessoas de todas as idades na vida política, social, económica, cultural e comunitá-ria. Na verdade, o indivíduo, bem como a comunidade em geral, serão me-lhor servidos por políticas concebidas de forma inteligente, resultantes de uma boa reflexão e que incluam todas as gerações.

Os parceiros do consórcio SIforAGE esperam que este Livro Branco seja tido em consideração pelos decisores que lidam com aspectos do envelhecimen-to da população na Europa em diferentes níveis e em diferentes contextos, como um contributo interessante e inspirador ao ponto de contribuir para uma visão de futuro, revisitando as políticas sociais correntes que abordam as atuais mudanças demográficas e sociais. Por último, deverá auxiliar no desenvolvimento de opções e soluções alternativas para benefício da popu-lação em envelhecimento e estimular a participação na formação da socie-dade europeia.

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Definições e aspectos relacionados

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com um elevado sentido de solidariedade interna, para uma abordagem predominan-temente individualizada, em que as pessoas têm de fazer preparativos para si e para o seu futuro no âmbito dos sistemas públicos de proteção social. Num número crescente de países europeus, os serviços sociais pes-soais não são fornecidos por autoridades públicas ou por organizações voluntárias pertencentes a regimes de solidariedade, têm sim de ser adquiridos individualmente no mercado, ainda que muitas vezes cofi-nanciados por orçamentos públicos.

Contudo, existe o crescente reconhecimen-to de que os seres humanos nascem com uma dignidade humana não negociável que deve ser respeitada e protegida ao longo das suas vidas e que, por conseguinte, têm direito a envelhecer com dignidade. Isto também favorece uma perspetiva do enve-lhecimento enquanto “percurso de vida”, como um processo que começa logo após o nascimento – ou mesmo durante a fase pré--natal – e termina com a morte, passando por diferentes fases de crescimento e des-vanecimento.

Na cultura europeia as palavras “velho” e “ficar velho” têm conotações de degenera-ção, enfraquecimento, inutilidade, repouso, perda de mobilidade, doenças, dependên-cia, solidão e morte. Para o indivíduo o en-velhecimento também está conectado com tristezas e medos sobre o que vem mais tar-de, no final ou depois.

A natureza, a maturidade e a qualidade de uma sociedade são, em boa parte, determi-nadas pela atitude que assume de vis-à-vis com os seus membros mais idosos. Assim, é de grande importância se esta julga as pessoas idosas como sendo um dos seus te-souros, que acumularam imensa experiên-cia de vida, conhecimento e sabedoria, ou se os perspetiva sobretudo como um grupo de inativos, consumidores não produtivos de bens e serviços, ou até mesmo como um pesado encargo para a sociedade, fazendo uso dos seus recursos e causando prejuízo aos outros.

O desenvolvimento social e ético da socie-dade europeia passou de uma responsabi-lidade coletiva da família e da comunidade no cuidado aos seus membros mais velhos,

Envelhecimento enquanto processo

2.1

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Os avanços na medicina, higiene, nutrição, habitação, segurança no trabalho e outros domínios, têm contribuído fortemente para o aumento da longevidade na sociedade eu-ropeia – o que significa que no último século um número considerável de anos foi adicio-nado à esperança média de vida dos euro-peus. No entanto, a partir de certa altura, o simples acréscimo de alguns números à ida-de do indivíduo perdeu progressivamente a sua importância e foi substituído por um ponto de vista sobre a sua qualidade, levan-do ao atual lema orientador “acrescentar vida aos anos”, com múltiplas perspetivas diferenciadas sobre o significado desta qua-lidade de vida.

O incentivo ao envelhecimento saudável e ativo e o apoio a uma expectativa de vida saudável tornaram-se uma responsabilida-de conjunta do indivíduo desde tenra ida-de – por autocuidado, evitando estilos de vida pouco saudáveis e comportamentos que coloquem em risco a sua saúde – bem como das estruturas públicas – através da remoção de perigos para a saúde, das bar-reiras para as pessoas em qualquer idade, e promovendo a educação para a saúde, se-gurança alimentar e outros aspectos impor-tantes.

A “abordagem do percurso de vida” está in-timamente ligada à ideologia moderna de “uma sociedade para todas as idades”, que influencia a formulação de políticas nacio-nais e globais ao abordar vários desafios demográficos em sociedades progressiva-mente mais envelhecidas. Esta abordagem reconhece cada vez mais que a divisão – so-bretudo determinada artificialmente – em

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categorias de idade faz cada vez menos sentido, comparativamente ao foco em di-ferentes fases de vida e situações. O objeti-vo a atingir parece ser principalmente o de reorganizar a solidariedade social através de novas formas de relações e responsabi-lidades inter e intra-geracionais.

Preocupações com a autodeterminação, autonomia e participação continuada da pessoa idosa na sociedade, são cada vez mais do interesse dos indivíduos, comuni-dades e até do Estado – estes aspectos cor-respondem ao moderno conceito europeu de vida e são, portanto, altamente valoriza-dos. Isto tem consequências notáveis para a educação, inclusivamente a partir de tenra idade, para o planeamento físico da habita-ção, dos investimentos em infraestruturas, dos sistemas de proteção social, dos orça-mentos públicos, das campanhas eleitorais e até mesmo da legislação e processos ad-ministrativos.

Progressivamente o mercado está a com-preender que não são apenas os jovens o grupo de consumidores mais importante e ditador de tendências, mas que também o crescimento rápido do número de pessoas idosas merece ser alvo de grande interesse, uma vez que constituem um grupo com alto poder de compra e variadas necessidades e preferências. Além dos produtos e servi-ços altamente personalizados, a indústria também explora oportunidades de criar e oferecer produtos que “podem ser úteis e consumidos em qualquer idade”, com vista a maximizar a sua competitividade e bene-fícios.

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Atualmente as condições de vida das pessoas idosas já não são con-dicionadas primariamente pelo ambiente familiar e pelo apoio de pessoas com quem existe uma relação próxima – embora estes pare-çam continuar a deter um papel crítico – mas predominantemente por ofertas públicas, processos administrativos, resultados da ciência e da investigação, produtos e serviços oferecidos pelo mercado, novas tecnologias, sistemas de comunicação avançados, prestadores de ser-viços públicos e privados – e assim por diante. Esses agentes parecem ter uma forte tendência para conceber as suas atividades, produtos e serviços, com base nas suas próprias ideias do que são as verdadeiras necessidades, valores, interesses, capacidades, preferências, opiniões e aspirações do importante, e em impressionante crescimento, seg-mento de pessoas idosas na sociedade europeia. Por várias razões, as pessoas idosas são muitas vezes percebidas como um grupo que cria um problema na sociedade ou na comunidade e que precisa de ser re-solvido. Essas atitudes podem gerar fortes respostas discriminatórias, paternalistas e sem grande valor.

As pessoas idosas na sociedade europeia

2.2

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No entanto, a longevidade e o consequente envelhecimento da sociedade são uma das maiores conquistas da humanidade. Tal con-quista oferece uma gama de novas e impor-tantes oportunidades para reorganização da sociedade numa infinidade de aspectos, criando também oportunidades atrativas para as empresas em termos de produção e comercialização de bens e serviços. Estes devem, por certo, corresponder às necessi-dades e realidades das pessoas em todas as idades, a fim de tornar as condições de vida mais humanas, apoiadas e confortáveis para todos. Contudo, existem muitos casos em que bens, serviços e processos, parecem ser concebidos por especialistas que, ainda que sejam excelentes nas suas profissões e dominem com mestria um conjunto de téc-nicas de alto nível, têm pouco conhecimen-to sobre as pessoas idosas. Isto pode levar a que a sua visão seja a de que as pessoas mais velhas podem, eventualmente, adap-tar-se às suas soluções e não o contrário.

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Quando se trata das pessoas idosas na so-ciedade, deve ser dada especial atenção às duas questões que enumeramos de se-guida. Em primeiro lugar, é absolutamente fundamental transmitir a mensagem ao pú-blico em geral, aos meios de comunicação social, aos políticos e aos administradores, que o grupo chamado de “pessoas mais ve-lhas” não é de todo um grupo homogéneo mas, muito pelo contrário, tão diversificado como, por exemplo, “os jovens”, com uma enorme variedade de identidades indivi-duais, experiências, preferências, capacida-des, etc. – mas também com as suas limita-ções e problemas individuais. Em segundo lugar, deve ser oferecida e promovida uma imagem diferente e diferenciada, que des-taque o que as pessoas mais idosas realiza-ram durante a sua vida e o que naturalmen-te ainda podem alcançar.

Uma vez que os estereótipos negativos e preconceitos sobre o envelhecimento pare-cem prevalecer principalmente da cultura ocidental moderna, um certo foco deve ser procurado noutros tipos de culturas – como as sociedades orientais e meridionais (Ja-pão, China, África, etc.), em que as pessoas mais velhas são particularmente respeita-das pela sociedade, honradas como um te-souro de sabedoria e como agentes de bom senso com base na sua longa experiência.

A longevidade e o consequente envelhecimento da sociedade são uma das maiores conquistas da humanidade.

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A definição de “envelhecimento ativo” da Organização Mundial de Saúde (OMS) afir-ma que este “é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, a fim de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem. Aplica-se tanto aos indivíduos como a gru-pos da população. O envelhecimento ativo permite que as pessoas tenham consciência do seu potencial bem-estar físico, social e mental ao longo da vida e que participem na sociedade, enquanto esta lhes oferece proteção adequada, segurança e cuidados quando necessário”.

A palavra “ativo” refere-se à participação continuada nos assuntos sociais, económi-cos, culturais, espirituais e civis, e não ape-nas à capacidade de ser fisicamente ativo ou de participar no mercado de trabalho. As pessoas mais velhas que se aposentam do trabalho, que estão doentes ou possuem al-gum tipo de limitação física ou mental, po-dem permanecer como contribuintes ativos para as suas famílias, colegas, comunidades e nações. O envelhecimento ativo tem como objetivo aumentar a expectativa de vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas à medida que envelhecem.

Envelhecimento ativo

2.3

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A palavra “saúde” refere-se ao bem-estar físico, mental e social, como expresso na definição de saúde da OMS. Para as pessoas idosas, manter a autonomia e independên-cia é um objetivo-chave no quadro da políti-ca do envelhecimento ativo.

É claro que o envelhecimento é um proces-so que se desenrola no contexto das redes de relações sociais e adjacentes, como a família, a comunidade, amigos e vizinhos, mas também em hospitais, em lares de pes-soas idosas, nas dependências de cuidados de saúde e assistência social ou noutros serviços. Por conseguinte, a natureza e a qualidade das respetivas relações sociais são de enorme importância e são fortes de-terminantes das possibilidades de envelhe-cimento ativo. O mesmo aplica-se particu-larmente, embora em moldes diferentes, ao ambiente físico onde as pessoas envelhe-cem.

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A palavra “ativo” refere-se à participação continuada nos assuntos sociais, económicos, culturais, espirituais e civis.

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Apesar de a definição de “envelhecimento ativo” da OMS já constituir uma abordagem bastante abrangente de saúde, outras definições adi-cionam detalhes úteis. O Instituto Sueco de Saúde Pública sugere, por exemplo, que “o envelhecimento saudável corresponde à otimização de oportunidades para uma boa saúde, para que as pessoas mais ve-lhas possam ter um papel ativo na sociedade e desfrutar de uma qua-lidade de vida independente e elevada”.

Um relatório do grupo EuroHealthNet, intitulado “Envelhecimento saudável e ativo”, encomendado pelo Centro Federal de Educação em Saúde (Bundeszentrale für Gesundheitliche Aufklärung, BZgA), ofere-ce a seguinte definição: “O envelhecimento saudável envolve permitir que as pessoas mais idosas possam desfrutar de uma boa qualidade de vida. Estratégias de envelhecimento saudável devem criar condi-ções e oportunidades para as pessoas mais velhas terem actividade física regular, alimentação saudável, relações sociais, participação em atividades significativas e segurança financeira. Trata-se de uma abor-dagem holística que aborda a saúde mental e física, bem como uma abordagem intersectorial para melhorar os determinantes sociais da saúde, tais como ambientes de vida seguros, um sistema de pensões flexível e políticas de reforma relacionadas. O envelhecimento sau-dável pode, portanto, não ser alcançado através de uma única inicia-tiva, requerendo uma série de ações e abordagens a nível individual e social que trabalhem em conjunto para alcançar este resultado. O envelhecimento saudável também exige uma mudança estrutural de paradigma, uma vez que as pessoas idosas devem desejar e manter a capacidade de desempenhar um papel ativo na sociedade, enquanto a sociedade deve, por sua vez, incentivá-lo e acomodá-lo”.

Envelhecimento Saudável2.4

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(http://www.healthyageing.eu/sites/www.healthyageing.eu/files/featured/Heal-thy%20and%20Active%20Ageing.pdf).

O envelhecimento não deve ser sobretudo entendido como penoso e uma etapa em que as pessoas já não são valiosas, nem um trunfo para a sociedade. As pessoas idosas podem e contribuem consideravelmente para a sociedade a vários níveis e setores: nas relações pessoais, na prestação de ser-viços aos membros da família, nas orga-nizações voluntárias de todos os tipos, no aconselhamento de colegas mais jovens (aumentando assim a transmissão de co-nhecimento) e em muitos outros domínios. Podem fazê-lo principalmente por prazer pessoal ou por sentido de dever cumprido numa sociedade vis-à-vis, na luta pela sen-sação de ainda serem úteis e obterem aten-ção e reconhecimento. Estas atividades, que podem ser adequadamente avaliadas por uma “abordagem baseada nos ativos”, são, definitivamente, parte da felicidade e qualidade de vida das pessoas que as de-sempenham.

Parece haver uma mudança interessante na abordagem tradicional de entendimento do envelhecimento como uma perda progres-siva de capacidades e de saúde, com todas as diversas e complexas consequências ne-gativas daí decorrentes, para uma perspeti-va que foca as capacidades que as pessoas idosas ainda têm, o que ainda conseguem realizar ou o que podem vir a desenvolver – se as condições adequadas estiverem defi-nidas.

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Por um lado, o próprio indivíduo é visto como responsável pelos comportamentos saudáveis, por compreender o processo de envelhecimento e pelas atitudes pes-soais positivas em relação a esse assunto. Essas responsabilidades incluem a prática de exercício físico regular, a escolha de ali-mentos saudáveis, a promoção de boas re-lações sociais, e uma procura de manter-se intelectualmente envolvido, aprendendo coisas novas, realizando novas atividades e, em geral, adaptando-se às limitações que os anos vindouros trarão. Por outro lado, fatores externos também são de grande im-portância – como a adequada abrangência da segurança social na velhice, uma aborda-gem médica do envelhecimento diferencia-da e personalizada com ênfase nas medidas preventivas, a melhoria do ambiente onde as pessoas vivem de modo a corresponder às suas necessidades, e uma abordagem de apoio e estímulo à prestação de cuidados - para mencionar apenas algumas das áreas mais importantes nesta matéria.

O envelhecimento saudável envolve a garantia de que as pessoas mais idosas desfrutam de uma boa qualidade de vida.

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A participação é o processo através do qual os agentes públicos e não-públicos – se-jam eles órgãos governamentais, políticos, forças de mercado ou outros agentes que influenciam as condições de vida das pes-soas – envolvem indivíduos interessados ou afetados, grupos de indivíduos ou organiza-ções, em vários estágios da tomada de de-cisão. A participação é sempre um processo bilateral com informação mútua e comu-nicação, com diálogo e, na melhor das hi-póteses, elaboração conjunta de políticas, estratégias e ações que evitem ou resolvam problemas e permitam decisões melhores e mais aceitáveis.

Participação

2.5

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A participação é baseada no princípio de “nada sobre eles sem eles”, que reconhece que aqueles que são afetados pelas deci-sões têm o direito de ter uma palavra a dizer antes destas serem tomadas e implementa-das. Se bem concebidas, também incluem a afirmação de que a opinião dos envolvidos é reconhecida, levada a sério e pode real-mente influenciar o processo de tomada de decisão.

O objetivo da participação nos processos de tomada de decisão é o de melhor reconhe-cer, avaliar e cobrir as necessidades e pre-ferências de todos os agentes-chave num campo geral ou específico de preocupação, incluindo os próprios decisores, os financia-dores de ações a serem decididas, e outros agentes importantes. A participação através do envolvimento não só deve ser em princí-pio possível, como também facilitada – em especial para os indivíduos e grupos menos poderosos, mais vulneráveis e marginaliza-dos.

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Um aspecto importante da participação é que os atuais e potenciais participantes podem determinar por si as características e processos de participação com base em informação sólida, abrangente e contínua. A participação também pode e deve incluir processos adequados de monitorização, avaliação, correção dos resultados e imple-mentação das decisões tomadas.

A participação é sempre um processo bilateral com informação mútua e comunicação, com diálogo.

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O termo “inovação social” está muito em voga nos dias que correm, mas continua a ser en-tendido com formas e significados distintos, assim como no que concerne aos seus objeti-vos, promessas e efeitos reais. Um aspecto que ainda parece ser claro é o de que as “inova-ções sociais” têm algum impacto positivo, benéfico para a sociedade e, assim, melhoram a condição humana através da adição de elementos de “valor social”. Ainda que muitas vezes seja difícil distinguir entre “iniciativas”, “intervenções” e “inovações”, o termo “inovação social” é usado neste documento para ideias, conceitos, estratégias, po-líticas, métodos, ações ou produtos, que abarquem desafios ligados ao envelhecimento da sociedade e aos problemas das pessoas idosas na sociedade europeia. Estes podem ter um carácter preventivo, curativo, de preocupação, apoio ou motivação.

Inovação social e sua importância

2.6Um dos valores mais importantes das inovações sociais éo de poderem servir como exemplo de boas práticas.

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É útil compreender que “as inovações so-ciais são práticas novas ou mais eficazes que provam ser capazes de resolver problemas sociais e são adotadas e utilizadas com su-cesso por indivíduos, grupos e organizações interessadas”. Isto também significa que as inovações sociais não estão circunscritas a uma área específica; podem ser executadas na produção e comercialização de produ-tos, na conceção e prestação de serviços ou na invenção de novos processos sociais, como por exemplo em matéria de educa-ção, comunicação e afins.

A experiência mostra, e isto é importante, que a aplicação da inovação social não pode ser generalizada. Pode ser operacional e be-néfica para um grupo, numa determinada área de preocupação, num local específico, em condições particulares, e num dado mo-mento – mas sob diferentes parâmetros não ser tanto, não sê-lo de todo, ou até mesmo produzir efeitos negativos. Normalmente, uma inovação social aborda um problema específico, quer seja pela primeira vez, quer de uma maneira totalmente nova, quer uti-lizando meios alternativos até agora inex-plorados, ou até pela melhoria considerável dos métodos e abordagens existentes.

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A maioria das inovações sociais tem de su-perar uma resistência considerável antes de ser aceite e tornar eficaz a sua aplica-ção. Por uma variedade de razões, a socie-dade em geral e os grupos que a compõem mostram um elevado grau de resistência à mudança, reagindo como um pesado na-vio de grande carga, com a energia cinéti-ca inerente, quando o capitão ordena que mude de trajetória: vai requerer um grande esforço, que se conduza ao lado do motor, e precisará de tempo para levar a cabo a alte-ração da recalibração da direção.

Um dos valores mais importantes das ino-vações sociais é o de poderem servir como exemplo de boas práticas a serem usadas sob a fórmula de “imitação criativa” para desafios semelhantes. Isto significa que os elementos que constituem a inovação e as condições em que foi implementada ou utilizada devem ser cuidadosamente ana-lisados e, em seguida, adaptados de uma maneira “criativa” – o que por si só pode ser um processo inovador – para o novo am-biente e suas exigências.

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Questões relacionadas com o envelhecimento e recomendações

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A “Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia”, que entrou em vigor em Dezembro de 2009 pelo Tratado de Lisboa, estipula que “a dignidade humana é inviolá-vel” e que “deve ser respeitada e protegida”. Acrescenta que “qualquer discriminação por razões como … deficiência ou idade... deve ser proibida”.

Mais precisamente, a Carta especifica que “a União reconhece e respeita o direito das pessoas idosas a uma existência condigna e independente e à sua participação na vida social e cultural”, ao que acrescenta “a União reconhece e respeita o direito das pessoas com algum tipo de deficiência física ou mo-tora a beneficiarem de medidas destinadas a assegurar a sua autonomia, integração so-cial e profissional e a participarem na vida da comunidade”.

Dignidade Humana e Direitos fundamentais do Homem

3.1

Discursos semelhantes podem ser encon-trados em todas as constituições ou legis-lações fundamentais dos Estados-membros da União Europeia e na “Convenção Euro-peia dos Direitos Humanos” do Conselho da Europa. A dignidade humana e os direitos fundamentais do indivíduo são parte inte-grante e inegociável da ética, da cultura e da auto-compreensão da sociedade europeia. Sob nenhuma circunstância devem ser ig-norados, desrespeitados ou respeitados de forma insuficiente, ou implementados de forma descuidada.

Quando as pessoas envelhecem ou adqui-rem uma deficiência motora ou física grave tendem a tornar-se particularmente vulne-ráveis e dependentes do apoio dos outros. Consequentemente, o respeito pela digni-dade humana e a salvaguarda dos direitos fundamentais devem ser uma prioridade absoluta.

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Recomendações

Os governos devem ser cuidadosamente monitorizados quanto à sua responsabili-dade fundamental de legislar de maneira a que a dignidade humana e os direitos fun-damentais de todas as pessoas, incluindo as pessoas mais idosas, estejam totalmente protegidos. Tal deve incluir a avaliação da abrangência da legislação correspondente e da sua implementação consistente em to-das as circunstâncias possíveis.

Todas as instituições e serviços que propor-cionam apoio e cuidados às pessoas idosas devem comprometer-se a respeitar integral-mente a legislação em todos os acordos que criem para as servir e em todas as ações de-talhadas que ofereçam ou conduzam.

Entidades que sejam política ou legalmente responsáveis por instituições e serviços que proporcionam apoio e cuidados às pessoas idosas devem certificar-se de que os presta-dores de cuidados informam os utentes ou clientes dos seus direitos, através de medi-das adequadas. Estes devem criar mecanis-mos eficazes para garantir a possibilidade de participação e acompanhamento das normas correspondentes por parte das pes-soas idosas – incluindo procedimentos de reclamação adequados.

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Os governos devem assegurar que a legis-lação posta em prática prevê formas avan-çadas de consentimento informado e pos-sibilita à pessoa ter um papel ativo, apesar das suas limitações, permitindo uma parti-cipação continuada na tomada de decisão sobre si própria. Tal deve, a longo prazo, desenvolver uma “cultura de sistemática obtenção de consentimento com base em informações completas e transparentes”, apoiando assim a autodeterminação e es-colha, reforçando a participação ativa e fa-vorecendo a inclusão na sociedade. Para o efeito, o projeto SIforAGE desenvolveu, com base na comparação de boas práticas, um “Guia para recolher o consentimento das pessoas idosas”.

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O direito a envelhecer e o seu valor

3.2

O valor da vida e o direito fundamental de viver incorporam o direito de envelhecer com dig-nidade e de acordo com os valores e possibilidades da sociedade. Este direito de envelhecer começa, em princípio, com o nascimento e termina com a morte natural da pessoa. Assim, tem de ser visto como uma característica permanente ao longo da vida. Para criar as con-dições e provisões necessárias ao envelhecimento nas melhores condições possíveis para todos, contam-se com as responsabilidades mais nobres não só do Estado, mas também de toda a sociedade. A maneira como este direito é garantido e implementado corresponde à expressão mais significativa da qualidade de cada sociedade.

O direito a envelhecer está diretamente ligado ao direito fundamental de viver, ao “direito ao respeito pela integridade física e mental”, como expresso na “Carta dos Direitos Funda-mentais da União Europeia”, e ao “direito de não discriminação”, garantido pela Conven-ção Europeia dos direitos humanos (artigo 14). Para o próprio indivíduo, o envelhecimento é um processo contínuo – e por vezes perturbador – de existir num ambiente natural e social, passando por vários estádios de experiências agradáveis e muitas vezes também dolorosas, aprendendo, compreendendo, lutando, acumulando e alcançando. A vida e o seu curso na-tural são, certamente, para a maioria das pessoas o valor mais alto em que podem pensar.

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Recomendações

Todas as autoridades morais, políticas e educacionais da sociedade devem promo-ver uma melhor compreensão do direito e valor do envelhecimento, bem como a não discriminação relativamente ao que o pro-cesso de envelhecimento significa para o in-divíduo. Devem iniciar e apoiar um discurso público sobre os requisitos para envelhecer bem e as responsabilidades da sociedade em criar as condições necessárias.

Também devem ser tomadas medidas para que a sociedade em geral se sinta orgulho-sa do sucesso de assegurar a longevidade, para que o envelhecimento da população não seja considerado um fardo ameaçador, mas antes uma expressão da qualidade des-sa mesma sociedade.

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Devem ser desenvolvidos “princípios éticos de vulnerabilidade e dependência” e a “pro-moção de uma cultura de apoio”. Tão cedo quanto possível, as crianças devem apren-der a entender o envelhecimento não só como uma questão de processo biológico, como também um fenómeno cultural e so-cial a que irão – um dia – ser expostas. As-sim, respeito, compreensão e uma atitude solidária para com as pessoas mais velhas, seriam alcançados.

As pessoas idosas devem ser assegura-das de que continuarão a ser consideradas membros de pleno direito na sociedade, que merecem reconhecimento, que têm di-reitos como todos os outros membros, em particular o direito à assistência e cuidados de acordo com as suas necessidades – não têm de evitar exigir tal apoio, nem ter vergo-nha de o fazer.

O direito a envelhecer está diretamente ligado ao direito fundamental de viver.

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A imagem do envelhecimento - preconceitos e discriminação etária

3.3

A imagem predominante do envelhecimen-to na sociedade europeia é negativa – e permanece em contraste com o respeito pela dignidade humana. Pessoas em idade avançada são sobretudo percebidas como “velhas, frágeis, incapazes e esquecidas” e, portanto, sofrem muitas vezes de um pre-conceito pesado “per se”, que não corres-ponde necessariamente à sua real condição física e mental.

A sociedade em envelhecimento e a relação entre os mais jovens e as gerações mais ido-sas é julgada principalmente como proble-mática a nível financeiro, económico, social, cultural e até mesmo político. As pessoas idosas, especialmente aquelas que ultra-passam a idade da reforma, são vistas como um fardo pesado sobre os ombros dos mais jovens.

Considerando que as estruturas familiares e respetivas responsabilidades foram sub-metidas, por várias razões, a mudanças profundas, deixou de ser regra a família e a comunidade cuidarem dos membros ido-sos que necessitam de apoio e cuidado, tal como acontecia no passado. As pessoas ido-sas são muitas vezes colocadas em lares de idosos, em instituições de prestação de cui-dados, e muitas vezes de forma isolada, nas suas próprias casas.

Com a convivência inter-geracional a tornar--se um aspecto raro, a geração mais jovem não experiencia intimamente o envelheci-mento e a morte como um fenómeno natu-ral. Os meios de comunicação social contri-buem em boa parte para os preconceitos e discriminação contra as pessoas idosas. As atitudes e valores públicos quase “forçam” as pessoas idosas a comportarem-se como jovens – tal constitui uma violação indireta das suas personalidades e auto-perceção.

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Recomendações

Todas as pessoas, instituições ou organi-zações, em particular os meios de comuni-cação social, devem esforçar-se para criar um entendimento e imagem positivos do envelhecimento e das pessoas idosas – re-conhecendo que a geração mais velha tem contribuído muito para o desenvolvimento da riqueza e qualidade da sociedade atual.

Neste contexto da formação da opinião pú-blica, deve ser claro que as pessoas idosas não constituem um grupo homogéneo, exis-tindo tanta diversidade de personalidades, capacidades, necessidades e preferências como em qualquer outro grupo etário.

As autoridades públicas, em conjunto com as organizações da sociedade civil, têm de se certificar de que são tomadas medidas adequadas, com base na legislação, para combater qualquer discriminação baseada na idade e, em paralelo, para limitar a pro-liferação de informações relativas à “tirania do bom envelhecimento” ou “youngism” que impede as pessoas idosas de viverem melhor na sua idade.

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O tema do envelhecimento deve ser incluído nos programas escolares formais, como é o caso de outras questões importantes, como o racismo, o sexismo e o meio ambiente. Já nos primeiros anos escolares as crianças devem ser familiarizadas com aspectos do envelhecimento coletivo e individual – in-tegrando pessoas jovens e mais idosas em projetos de cooperação e interações de to-dos os tipos. Os serviços públicos – como instalações mé-dicas, sociais, culturais e educacionais – de-vem ser concebidos, tanto quanto possível, de forma a poderem ser usados por todas as gerações e a aumentarem o contacto entre estas.

Os Estados-membros podem propor, em conformidade com o princípio da não-dis--criminação garantido pela União Europeia, sanções de qualquer tipo de comportamen-tos assentes na perda de autonomia das pessoas idosas.

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O interesse da sociedade em abordar as questões do envelhecimento

3.4

A integração social, a coesão social, a igual-dade e a solidariedade, são o que une uma sociedade humana funcional, a partir da qual todos podem beneficiar. Isto não só é verdade no que diz respeito à situação eco-nómica e social, mas também, e em parti-cular, à coexistência de todas as gerações presentes. Sem esses componentes, a so-ciedade tende a desintegrar-se, podendo mesmo acabar numa forte competição de interesses e até numa luta devastadora en-tre os diferentes grupos etários. Por conse-guinte, o objetivo de “uma sociedade para todas as idades” é uma meta fundamental que deve ser procurada por organizações estatais e não-estatais.

O objetivo de “uma sociedade para todas as idades” é uma meta fundamental que deve ser procurada por organizações estatais e não-estatais.

É de extrema importância que as políticas, estratégias e ações relacionadas com qual-quer aspecto do envelhecimento, assumam uma perspetiva de percurso de vida e, as-sim, sensibilizem a população para pensar em questões e medidas sociais, baseando--se numa abordagem “à medida que enve-lhecemos”.

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A sociedade tem a responsabilidade de re-conhecer as pessoas idosas como um cons-tituinte essencial e de valorizar e honrar as suas conquistas de vida e contribuições para o desenvolvimento. Ao fazê-lo, entre outros, através de programas escolares, a sociedade também estabelece incentivos às gerações mais jovens para terem um bom desempenho e darem a sua quota-parte de atenção e esforço à qualidade presente e fu-tura dessa mesma sociedade.

Recomendações

Os políticos e outros decisores ou agentes importantes que moldam a opinião pública, devem claramente enfatizar o quão impor-tante o bem-estar de todas as gerações que coexistem é para a qualidade e futuro da so-ciedade. Simultaneamente, devem salien-tar que a contribuição ativa para o objetivo de “uma sociedade para todas as idades” é uma responsabilidade conjunta.

Em administrações políticas nacionais, re-gionais e locais, deve ser criado um gabinete específico ou outro ponto focal direcionado para os assuntos do envelhecimento e as in-formações sobre este facto amplamente co-municadas. Da mesma forma, os orçamen-tos públicos a todos os níveis devem conter uma parte específica relativa ao apoio a pes-soas idosas – como normalmente acontece com outros grupos, como crianças, pessoas com deficiência motora ou física, etc.

40

As autoridades públicas e os meios de co-municação social devem fazer tudo ao seu alcance para evitar situações de conflito en-tre gerações, fazendo jus à sua responsabi-lidade de mediar os interesses divergentes.

As escolas devem destacar sistematica-mente a abordagem do percurso de vida, transmitir uma imagem correta das pessoas idosas quando lidam com a estrutura das comunidades e da sociedade em geral, a fim de as crianças compreenderem comple-tamente a importância da integração social, da coesão, da igualdade e da solidariedade, na qualidade e sustentabilidade da socieda-de.

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Qualidade de vida e bem-estar

3.5A procura de qualidade de vida em geral e de bem-estar individual está intimamente ligada ao direito fundamental de viver e de envelhecer. Garantir a qualidade de vida e o bem-estar tem de ser considerada uma responsabilidade conjunta da sociedade e do indivíduo, com um papel preponderante do Estado. As autoridades públicas preci-sam de criar pré-requisitos estruturais, pro-cessuais e materiais, para que as pessoas envelheçam sob as melhores condições possíveis. Tal abrange não só aspectos da necessária manutenção das pensões, quali-dade das habitações, recursos de mobilida-de, instalações de mobilidade suficientes, e semelhantes, como também os equipamen-tos essenciais de saúde e de assistência so-cial, culturais e serviços educacionais, e as oportunidades muito importantes de parti-cipação pessoal na sociedade.

O bem-estar, enquanto perceção pessoal, resulta da combinação de complexos fato-res internos e externos. Compreende, entre outros, um elevado grau de autoestima e autodeterminação, a satisfação com as con-dições de vida, o reconhecimento pessoal e social da sua personalidade e capacidades, a resposta às necessidades individuais e va-riáveis similares. Apenas alguns destes as-pectos podem ser cobertos pela sociedade e pelo círculo mais próximo.

Assim, a educação e a informação têm de transmitir uma mensagem forte e de en-tendimento de que os indivíduos também são responsáveis por si, pelo seu desenvol-vimento pessoal, pela sua felicidade, pelas suas próprias ações facilitadoras do enve-lhecimento saudável e ativo, bem como pe-las previsões adequadas – tanto materiais como não-materiais – para as necessidades que podem ou são suscetíveis de ocorrer em idades mais avançadas.

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Recomendações

As políticas públicas devem certificar-se de que é disponibilizada uma gama de diferen-tes oportunidades para envelhecer que as-seguram um elevado grau de qualidade de vida – sejam elas fornecidas pela comuni-dade, pelo mercado ou pelo envelhecimen-to na própria casa. Tanto quanto possível, as pessoas idosas devem ter o direito e os meios de escolha entre as diferentes opções disponíveis.

Independentemente da escolha da pessoa idosa sobre qual o ambiente em que preten-de envelhecer, a qualidade da casa ou ins-tituição escolhida deve respeitar padrões elevados em termos de segurança e confor-to – corresponder às necessidades físicas, mentais e sociais, assim como a preferên-cias razoáveis do indivíduo.

No caso de uma terceira parte ter de tomar a decisão sobre onde colocar e como cuidar da pessoa idosa, as necessidades e prefe-rências da última devem obrigatoriamente ser avaliadas de forma objetiva; a escolha nunca deve impor restrições desnecessárias à pessoa.

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As instituições para pessoas idosas e cuida-dores têm de compreender que as pessoas idosas são muito diferenciadas nas suas opi-niões, necessidades e escolhas, e que uma abordagem de “um tamanho serve a todos” não é válida, uma vez que não reconhece e respeita a individualidade da pessoa. O direito de “escolha e voz ativa” tem de ser garantido. Mecanismos de reclamação ade-quados devem ser oferecidos, bem como o direito de revogação por parte da pessoa idosa ou do seu representante legal para abandonar o estabelecimento de cuidados (por rescisão de contrato antecipada).

As empresas privadas, em especial no se-tor da “habitação, cuidado e apoio”, devem orgulhar-se da qualidade das suas instala-ções, equipamentos, serviços e pessoal. De-vem seguir o princípio de “fazer o bem e fa-lar sobre isso”, a fim de impulsionar os seus negócios. A garantia da qualidade, embora possa ser mais dispendiosa, a longo prazo é sempre o melhor argumento de venda e as-segura a sustentabilidade do negócio.

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Problemas e obstáculos das pessoas idosas

3.6

As dificuldades das pessoas idosas são multifacetadas, vão desde problemas muito indivi-duais até às barreiras estruturais mais gerais no ambiente físico e na sociedade. Tal deve-se à crescente fragilidade pessoal e necessidades especiais, ao desrespeito dos direitos, às pos-síveis restrições financeiras, à falta de oportunidades, às políticas defeituosas e aos progra-mas de apoio inadequados – apenas para mencionar alguns deles.

Em particular, os problemas da seguinte natureza precisam de ser geridos e resolvidos: ma-nutenção de rendimentos suficientes; assistência adequada médica e social; segurança em casa e em espaços públicos; questões de mobilidade; oportunidades de participação na comunidade; isolamento e solidão; necessidade de reconhecimento pessoal e de respeito; apenas para citar alguns dos mais importantes.

Uma das principais preocupações é a combinação e acumulação das dificuldades e obstácu-los que as pessoas idosas têm de enfrentar – o peso destes problemas tende a aumentar com a idade e suas respetivas consequências.

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Muitos agentes do lado público e do lado privado encontram-se preocupados, pelo que devem estar envolvidos na eliminação, ou pelo menos redução, da complexidade e gravidade de tais problemas. Isto exige polí-ticas e estratégias claras para a colaboração e coordenação daqueles que estão encarre-gues de responsabilidades e obrigações no que diz respeito às pessoas idosas. As pró-prias pessoas idosas, bem como as organi-zações que as representam ou defendem, devem ser intimamente envolvidas nos pro-cessos de procura de soluções adequadas.

Ver a lista de verificação sobre “Oportuni-dades, barreiras, obstáculos e um ambien-te favorável à participação e integração das pessoas idosas na sociedade”.(Documento a ser anexado?)

Recomendações

Todos os agentes que lidam com o envelhe-cimento devem compreender e aceitar que as pessoas idosas não devem ser conside-radas “objetos” de políticas, estratégias e ações, mas antes como sujeitos-chave que têm um papel central. Os agentes têm de re-conhecer que a reivindicação de “nada so-bre nós sem nós” não é apenas uma exigên-cia justificada, mas sim uma regra de ouro que deverá pautar todas as ações.

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Novos perfis profissionais no campo da coordenação do “processo de gestão de ca-sos” precisam de ser desenvolvidos – como “gestores de caso” – para que as pessoas idosas possam realmente beneficiar de uma “plataforma de apoio territorial”, em que os esforços de todos os profissionais de cui-dados são combinados de forma orientada para os resultados.

Ao preparar legislação e regulamentos para benefício das pessoas idosas, as instituições e os serviços de planeamento responsáveis têm primeiramente de realizar uma avalia-ção cuidadosa das possíveis e expectáveis dificuldades e barreiras que as pessoas ido-sas são suscetíveis de encontrar. Tal deve ser considerado e refletido em listas abrangen-tes “para observar” e “para fazer”, de modo a que as pessoas idosas sintam que foram tidas em conta. A monitorização regular da legislação, regulamentos e medidas, rela-cionadas com a idade devem fazer parte do processo de implementação.

Estas listas devem ser estabelecidas e ava-liadas com o envolvimento próximo das próprias pessoas idosas e das organizações da sociedade civil que as representam. De-vem, finalmente, ser resultado de um inten-so diálogo entre os autores, os visados e os profissionais envolvidos no planeamento e posterior implementação.

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Mobilidade das pessoas idosas

3.7

A questão da mobilidade é crucial para as pessoas idosas, uma vez que é um fator de-terminante no seu grau de independência, autodeterminação, participação na socie-dade e bem-estar. Mesmo quando as capa-cidades físicas e mentais estão algo redu-zidas devido à idade, o direito de circular livremente em espaços públicos deve ser assegurado, tanto quanto possível.

No entanto, o grau de mobilidade pode ser seriamente limitado ou tornar-se quase im-possível para as pessoas idosas devido à complexidade dos atuais sistemas de trans-porte, com avançadas características técni-cas e organizacionais. Máquinas automáti-cas de venda de bilhetes com mecanismos de comando complicados ou a necessidade de efetuar pagamentos através de dispositi-vos eletrónicos podem desencorajar as pes-soas idosas a usar o transporte público.

Transportes públicos sobrelotados, condi-ções de difícil acesso físico, horas de ponta congestionadas, portas que se fecham de-masiado rápido, condução turbulenta dos autocarros, falta de assentos disponíveis e complicações do género, podem constituir outros problemas graves para as pessoas idosas. A compreensão difícil ou insuficien-te das informações audiovisuais – causa-da, por exemplo, por mapas complicados, anúncios demasiado rápidos, interferência de ruídos ou letras demasiado pequenas – podem tornar a orientação muito difícil para pessoas com capacidades de visão e audição reduzidas.

Para as pessoas idosas que ainda são capa-zes de conduzir um carro ou andar de bici-cleta, as mudanças frequentes de infraes-truturas urbanas são confusas e podem ser muito difíceis de lidar. O mesmo se aplica ao caso dos pedestres mais idosos em zonas de trabalho em estrada, quando as rotas que habitualmente utilizam desaparecem repentinamente ou os semáforos mudam de cor demasiado rápido nos cruzamentos; só para mencionar algumas complicações frequentes.

Por último, a excessiva densidade do tráfe-go, as zonas pedonais sobrelotadas, a falta de educação ou mesmo comportamentos cruéis, os escassos bancos para descansar, e os sanitários públicos insuficientes ou impróprios, podem restringir fortemente a mobilidade das pessoas idosas ou tornar as saídas impossíveis de se realizar.

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Recomendações

Os planeadores urbanos e os serviços de or-ganização do tráfego devem estar cientes do facto de as atividades físicas – inclusive em espaços públicos – serem um fator crucial na promoção do envelhecimento saudá-vel e ativo – independentemente de serem realizadas no âmbito das atividades diárias normais, por lazer ou para fins de participa-ção comunitária. Têm, portanto, de integrar este aspecto de forma próxima e adequa-da em todos os seus processos de planea-mento, facilitando, assim, a mobilidade das pessoas idosas e incentivando-as, de todas as maneiras possíveis, a movimentarem-se – seja a pé, de bicicleta, de transportes pú-blicos ou em carro particular.

As autoridades municipais devem ser cria-tivas na busca de soluções inovadoras para garantir a mobilidade e transporte de pes-soas idosas de acordo com as suas necessi-dades e capacidades – por exemplo, ofere-cendo transporte por pedido, facilitando os serviços de transporte compartilhado, etc. A este respeito, é muito importante que o transporte público seja fácil de usar, confiá-vel e acessível aos menos favorecidos.

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Os planeadores urbanos devem ter em mente que as necessidades de espaço público de jovens mães, crianças e pessoas idosas, são muito semelhantes.

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As autoridades municipais e os fornecedores de transporte de pessoas em geral, devem dar grande atenção à questão da adequa-ção da informação acerca dos serviços na cidade e nas regiões para a população mais idosa – sobre as modalidades de acesso, re-duções de preços, combinações com even-tos culturais ou programas educacionais, e funcionalidades do género que possam ser atrativas para as pessoas mais velhas. Es-sas informações devem ser disponibilizadas – de forma pró-ativa – pela via tradicional, bem como pela Internet.

As autoridades municipais e os fornece-dores de transporte de pessoas em geral devem oferecer às pessoas idosas cursos específicos para as familiarizar com os pro-blemas de tráfego moderno e permitir-lhes utilizar sem problemas e de forma confiante as tecnologias avançadas dos sistemas de transporte atuais. Os planeadores urbanos devem ter em men-te que as necessidades de espaço público de jovens mães, crianças e pessoas idosas, são muito semelhantes e frequentemen-te idênticas: zonas de passeio tranquilas e agradáveis; ruas com cruzamentos seguros; lugares de encontro e de descanso; sanitá-rios públicos agradáveis; entre outros. As respostas a estas necessidades têm de ser implementadas como prioritárias no desen-volvimento do espaço, a fim de tornar as comunidades verdadeiramente amigas de todas as faixas etárias.

Nos transportes públicos deve haver anún-cios regulares e agradáveis dirigidos aos passageiros, em particular aos mais jovens, no sentido de prestarem atenção de forma respeitosa às pessoas idosas – bem como a outros grupos que possam precisar de apoio. Os jovens devem ser encorajados a oferecer os seus lugares àqueles que pos-sam precisar de descansar ou de um lugar seguro durante a viagem.

As autoridades responsáveis pelos planos de desenvolvimento regional devem consi-derar cuidadosamente todas as possibilida-des de interligação entre aldeias e pequenas cidades através de infraestruturas adequa-das de transporte público e da criação de oportunidades de acesso fácil aos centros urbanos, bem como a instalações de lazer, de educação, de desporto e culturais, de modo a que possam ser utilizadas pelos ci-dadãos de todas as idades.

Um conjunto de aulas bem concebidas, fo-cadas nas necessidades das pessoas idosas no âmbito da sua (muitas vezes limitada) mobilidade, deve ser lançado nas escolas, com vista a aumentar a consciencialização das crianças e adolescentes no que toca ao envelhecimento, à relevância da mobilida-de, e para enfatizar a importância de exer-citar a reflexão, assistência, cuidados e sa-voir-vivre relativamente às pessoas idosas.

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Coesão social e integração social

3.8Um pré-requisito numa sociedade democrática funcional é a garantia da possibilidade de todos os seus membros serem plena e continua-mente integrados, se assim o desejarem. Essa integração deve abran-ger a dimensão política, social, económica e cultural. A marginalização sistemática ou até mesmo exclusão de categorias ou grupos específi-cos de pessoas coloca severamente em perigo a coesão de uma socie-dade. A integração deve ter lugar a vários níveis, sendo a comunidade local a mais importante e significativa. O local onde as pessoas vivem e se relacionam com as outras é a base mais forte da sua identidade e o ambiente onde mais facilmente desenvolvem atitudes de confiança e solidariedade para com os outros.

Mas até as dimensões mais abstratas da identidade e da solidarieda-de social podem ser fortemente criadas com o sentido de “pertencer a uma nação”, pelo facto de o Estado garantir direitos, justiça, segu-rança, oportunidades e outras características decisivas na vida em co-mum – por exemplo, através da educação, segurança social, liberda-des de escolha específicas, etc.

As visões negativas das pessoas idosas são partilhadaspelas próprias

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No entanto, pode-se observar que as pes-soas idosas – especialmente depois de te-rem atingido a idade de reforma – deixam de ser socialmente reconhecidas como membros de pleno direito. O seu valor é muitas vezes reduzido ao papel de eleitores nas eleições políticas, de consumidores ou, na pior das hipóteses, de fardo para os sis-temas de proteção social, uma carga exces-siva para as suas famílias e para as gerações mais jovens.

Esta tendência de categorização negativa das pessoas idosas constitui um perigo mui-to sério para a coesão social na sociedade e carrega pesados riscos de marginalização deste grupo específico, com o possível efei-to de formas de exclusão semelhantes po-derem ser aplicadas a outros grupos e, por-tanto, poderem corroer a base ética, política e social da sociedade.

Frequentemente a verdade é que as visões negativas das pessoas idosas são partilha-das pelas próprias. Isto deve-se a diferen-tes fatores. Muitas vezes, ainda em jovens, as pessoas tendem a partilhar e defender as visões negativas sobre o envelhecimen-to. O “compromisso cognitivo prematuro” com esta forma de pensar não é fácil de mudar quando se atinge a fase de enve-lhecimento. Enquanto pessoa idosa, esses estereótipos negativos tendem a tornar-se profecias auto-confirmatórias, orientando pensamentos, emoções e comportamentos, de forma muito automática. Assim, se uma pessoa idosa acha que as pessoas idosas são “doentes, dependentes e esquecidas”, acabará realmente por agir e sentir-se des-sa forma, confirmando, desse modo, essa visão negativa.

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Recomendações

Os decisores políticos locais, administrações locais e a comunidade em geral, têm a respon-sabilidade primordial de criar condições que permitam a todos os habitantes ser plenamen-te integrados na sociedade local; o seu papel principal é facultar os meios necessários para manter a coesão social. Estes têm de se certificar que os vários grupos de pessoas – sem qualquer tipo de discriminação – se sentem bem-vindos e totalmente respeitados. Deste modo, o princípio de “uma sociedade para todos” deve constituir a principal diretriz.

Uma forma importante de o fazer é oferecer aos cidadãos infraestruturas adequadas e servi-ços não discriminatórios que respondam às suas necessidades, sejam projetados de acordo com as suas preferências e permitam escolhas individuais.

Outro aspecto muito importante é a expectativa da sociedade local oferecer uma variedade de opções para participação na vida social, cultural, política e noutros aspectos significati-vos da convivência. As ofertas de tais oportunidades de participação devem ser complemen-tadas por medidas estimulantes, úteis e que reforcem a motivação.

A sociedade civil organizada tem um papel fundamental na criação de tais oportunidades através de atividades específicas que correspondam aos interesses e às capacidades das pessoas. Esta deve certificar-se de que está sistematicamente aberta e acessível às, não me-nos importantes, pessoas idosas, a fim de criar contactos, diálogo e cooperação inter-gera-cionais. A combinação de iniciativas públicas e da sociedade civil, visando a integração ou reintegra-ção da população em envelhecimento na sociedade local, é uma fórmula particularmente promissora e deve ser explorada por ambas as partes. É igualmente importante que os po-líticos e administradores locais proporcionem apoio suficiente à sociedade civil organizada para assumir em pleno o seu papel decisivo na promoção da integração e coesão sociais.

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Independência e autodeterminação

3.9

A sensação de independência e autodeter-minação, juntamente com a oportunidade de participar na sociedade, são a base indis-pensável para uma vida significativamente digna. As pessoas idosas podem sentir e so-frer bastante com as restrições nestas áreas – quer sejam causadas pela sua condição pessoal, quer por circunstâncias externas. Estas são particularmente sensíveis quando as regras das instituições em que vivem ou os acordos de serviços feitos para si impõem soluções impraticáveis, colocam limitações e barreiras desnecessárias ou até mesmo desrespeitosas. A administração de sedati-vos e a aplicação de práticas coercivas são particularmente questionáveis.

Em qualquer idade, independentemente da condição pessoal, as pessoas querem, e consideram-no um direito básico, poder de-terminar o que gostam e o que acham ser bom para si. Este é um elemento constitu-cional da existência humana, a procura de autonomia e o poder de decidir por si pró-prio o que fazer, quando fazer e como fazer. Sempre que essa possibilidade é indevida-mente restringida, o bem-estar da pessoa está prejudicado de forma perigosa.

Instituições e serviços que não respeitem este desejo das pessoas idosas de indepen-dência, autodeterminação e participação, como uma necessidade fundamental e le-gítima, são percebidos pelas pessoas em questão como hostis, não-solidários, des-respeitosos e, assim, desumanos.

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Recomendações

Todas as medidas para acomodar, servir e apoiar as pessoas idosas – independen-temente da natureza da estrutura que as decreta – devem na sua abordagem e em todos os processos de execução respeitar totalmente o desejo da pessoa em manter o maior grau possível de independência e autonomia, em conjunto com o reconheci-mento explícito da possibilidade existente de autodeterminação.

As medidas de restrição da liberdade pes-soal, bem como a prescrição de medica-mentos psicotrópicos, devem ser evitadas tanto quanto possível e não constituir um meio para aliviar a carga das tarefas dos prestadores de cuidados – mesmo em casos de comprometimento cognitivo da pessoa idosa.

Em condições de reduzida autonomia pes-soal e limitada autodeterminação, as ins-tituições e os serviços têm de avaliar pri-meiramente e de forma cuidadosa quais as capacidades que ainda estão disponíveis e que são aproveitáveis, determinando simul-taneamente se precisam e como podem ser apoiadas pela assistência externa.

A abordagem principal deve ser sempre não focada nas deficiências e limitações da pes-soa idosa, mas sim no pressuposto de que ainda podem existir capacidades por utili-zar – na dimensão física, mental, bem como social – que não são imediatamente eviden-tes, que deixaram de ser reconhecidas pelo ambiente humano e talvez não percebidas pela própria pessoa.

Nem o tratamento, nem o apoio, devem começar por afirmar que “você já não vai poder fazer isto ou aquilo”, mas sempre por “vamos ver o que você pode fazer e como podemos ajudá-lo”. Isto é extremamente importante para a auto-perceção, autoes-tima e orgulho das pessoas idosas, melho-rando consideravelmente o seu bem-estar e alegria de viver.

O trabalho deve ser feito para desconstruir imagens negativas sobre as pessoas idosas, especialmente entre as próprias. Auto-es-tereótipos e processos de confirmação de visões negativas acerca do envelhecimento devem ser evitados.

É um elemento constitucional da existência humana, aprocura de autonomia e o poder de decidir por si próprio o que fazer.

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Envelhecimento sob uma perspetiva de percurso de vida

3.10

Dado que o envelhecimento é um processo normal da condição hu-mana, deverá ser visto e respeitado como tal, e não considerado uma perda permanente e inevitável de capacidades e aptidões do indiví-duo. Enquanto a tensão física e a força irão certamente diminuir, a experiência e o bom senso podem melhorar consideravelmente com a idade. Grande parte das descobertas científicas, invenções e desen-volvimentos técnicos, têm sido feitos por pessoas idosas; uma série de artistas, políticos e outras personalidades conhecidas atingiram a sua melhor fase em idades avançadas.

De facto, toda a vida é um processo, um continuum de aprendizagem, experimentação, compreensão, julgamento e ação – com perspetivas bastante diferentes nas suas diversas fases e de acordo com as mu-danças na situação de vida. Para manter a vitalidade, a sociedade é convenientemente aconselhada a beneficiar da riqueza dessas varia-ções, da concorrência, bem como da cooperação, entre o dinamismo aventureiro da juventude e as considerações cautelosas das pessoas idosas.

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Quando a sabedoria popular afirma que “há um tempo para tudo”, esta convicção tam-bém se refere ao fenómeno do envelheci-mento. É um equívoco basilar da sociedade definir um limite geral obrigatório de idade para um emprego remunerado e forçar pes-soas que tenham completado essa idade a “reformarem-se”. Mesmo que muitas pes-soas possam olhar em frente, para o mo-mento em que não terão mais de trabalhar para ganhar a vida e em que podem tor-nar-se pensionistas – frequentemente por questões de saúde ou outros motivos váli-dos – muitas outras iriam preferir continuar a trabalhar após a idade de reforma oficial, se as condições fossem adequadas a si.

Não faz sentido criar tais cronogramas arti-ficiais e categorias que não correspondem às capacidades e escolhas individuais das pessoas. Estes irão contribuir principalmen-te para a segregação e discriminação na so-ciedade. Ainda pode haver boas razões para falar sobre diferentes gerações na socieda-de, mas o envelhecimento, em geral, deve ser visto como um processo que todos os membros da sociedade irão experimentar por um período mais ou menos longo.

Não faz sentido criar tais cronogramas artificiais e categorias que não correspondem às capacidades e escolhas individuais das pessoas.

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Recomendações

Em geral, os órgãos decisores devem sem-pre refletir na sua composição a estrutura etária da comunidade ou da sociedade em geral de forma adequada, a fim de benefi-ciarem ao máximo da diversidade do eleito-rado e, assim, serem capazes de servir a to-dos numa abordagem de percurso de vida.

As políticas, estratégias e ações dos organis-mos públicos, devem sempre seguir o prin-cípio que Aristóteles tão sabiamente formu-lou numa dupla frase sobre a questão da justiça, mais especificamente: “é uma vio-lação da justiça quando pessoas iguais são tratadas de forma desigual – mas é igual-mente uma violação do princípio de justiça quando os desiguais são tratados da mes-ma forma”. A fim de atribuir igualdade de status, autonomia e bem-estar às pessoas idosas, as políticas públicas devem assegu-rar que os direitos e necessidades específi-cas do grupo são devidamente abordados.

As organizações da sociedade civil, em to-dos os campos de interesse social, devem certificar-se que atraem sistematicamente pela sua missão, pelos objetivos concretos e pelas ações dos membros, apoiantes de todas as idades. Isto aumenta o reconheci-mento do valor e das contribuições de todas as pessoas para o “bem comum”, e certa-mente garante a utilidade e viabilidade da organização ao longo do tempo. Os serviços pessoais e as instalações ofere-cidas ou reguladas pelas autoridades pú-blicas – incluindo os serviços de saúde e os serviços sociais – devem ser concebidos, tanto quanto possível, de forma a poderem ser usados por pessoas de todas as idades. Isto não só aumentaria o seu caráter “de in-teresse público”, mas também poderia me-lhorar a sua eficiência e solidez económica. Ao mesmo tempo, tal abordagem contribui-ria significativamente para a coesão da co-munidade.

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Capacidades e contribuições das pessoas idosas

3.11

Na sociedade europeia as pessoas idosas na fase de vida pós-profissional são predomi-nantemente vistas como consumidores de bens e serviços, e não como pessoas que produzem algo. Também são considera-das as principais beneficiárias do sistema de proteção social, com base no regime de pensões e na utilização desproporcional das instalações e serviços de saúde e assis-tência social. É frequentemente esquecido que foi a atual população idosa que cons-truiu os ativos financeiros dos sistemas de proteção social e que o sistema pode ser edificado numa espécie de “contrato solidá-rio entre gerações”, em que a geração mais jovem, direta ou indiretamente, apoia finan-ceiramente as pessoas reformadas.

As pessoas idosas têm acumulado ao lon-go da vida uma enorme quantidade de co-nhecimento formal, bem como informal, e grande variedade de experiências e bom senso – seja no domínio profissional ou no domínio privado. Tal pode estender-se, de-pendendo do indivíduo, a aspectos técni-cos, processuais, políticos, económicos, cul-turais ou sociais – se contabilizássemos as competências da generalidade das pessoas idosas poderíamos constatar que abrangem praticamente todos os aspectos conhecidos da natureza, sociedade, vida humana, ciên-cia e tecnologia. Estas podem, de facto, ser consideradas uma parte constituinte da he-rança intelectual e da “biblioteca” da socie-dade.

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Em contraste com as sociedades que são mais orientadas para as tradições – em Áfri-ca, na Ásia e na América do Sul, onde a maio-ria das pessoas idosas é muito respeitada e altamente apreciada pela sua experiência de vida e sabedoria – a sociedade europeia tende a ignorar, de bom grado, esta riqueza e recurso de conhecimento, de compreen-são e de bom aconselhamento, que pode resultar do que viveram e aprenderam ao longo do tempo. Na Europa, as pessoas ido-sas são, frequentemente e de forma nada simpática, categorizadas como “velhas, en-ferrujadas” e, subsequentemente, sem qua-se utilidade nenhuma.

Ainda assim, envolvê-los mais intimamente – com todas as capacidades adquiridas – na governação da sociedade em geral, e em muitos assuntos especiais, seria bastante benéfico para todas as comunidades – se-jam elas científicas, políticas, económicas, educacionais, culturais ou de outras nature-zas.

Curiosamente, a maioria das pessoas idosas questiona-se sobre o seu valor e possível contribuição para a sociedade a vários ní-veis. Para muitas a “reforma forçada” repre-senta uma espécie de insulto à sua perso-nalidade e auto-compreensão. Estas iriam preferir continuar a trabalhar e oferecer o seu conhecimento e experiência à socieda-de, ainda que em condições adaptadas à idade. Além disso, está comprovado que o trabalho autodeterminado mantém ou até melhora a saúde e proporciona às pessoas idosas um significado de vida considerável.

As pessoas idosas desejam continuar liga-das às realidades da vida e ao fluxo da socie-dade, e querem contribuir enquanto física e mentalmente forem capazes. Muitas delas envolvem-se em organizações voluntárias que consideram vantajosas para a comu-nidade ou procuram outras oportunidades em que possam oferecer os conhecimentos adquiridos, a sua experiência ou os seus ta-lentos para benefício dos outros. Tais com-promissos mantêm-nas ativas, facilitam a manutenção de atitudes saudáveis e pro-porcionam-lhes a sensação de ainda serem úteis e reconhecidas.As pessoas idosas desejam

continuar ligadas às realidades da vida e ao fluxo da sociedade, e querem contribuir enquanto forem física e mentalmente capazes.

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Recomendações

A idade obrigatória de reforma deve ser completamente abandonada. Como o Tri-bunal de Justiça Europeu decidiu: não é a idade, mas a condição e as capacidades da pessoa que são determinantes na decisão de poder continuar com um trabalho espe-cífico ou não. A discriminação com base na idade, também no mercado de trabalho, é uma violação dos direitos fundamentais. No entanto, se as pessoas já não são capazes de trabalhar – por qualquer motivo que seja –devem desfrutar de uma “vida depois do trabalho” com a garantia de um rendimento suficiente.

Os empregadores, sejam entidades públi-cas ou empresas privadas, devem conside-rar formas e meios para continuar a bene-ficiar da experiência dos seus funcionários o maior tempo possível, talvez até mesmo para além da idade normal de reforma. Ao fazê-lo, não estão apenas a servir o seu pró-prio negócio, mas também a responder aos interesses da maioria dos trabalhadores mais idosos, e talvez até mais antigos, as-sim como da sociedade em geral, incluindo os orçamentos públicos.

Todos os órgãos públicos, em qualquer ní-vel da sociedade e em todas as áreas de decisão política, planeamento e implemen-tação, devem examinar sistematicamente todas as possibilidades de envolver pessoas idosas competentes nas suas atividades e, assim, usar e tirar proveito das suas capaci-dades e boa vontade. As contribuições de-vem, por norma, ser homenageadas através de remuneração financeira adequada.

Todas as indústrias com atividades relacio-nadas com a “Silver Economy” – se estive-rem a produzir bens ou serviços – devem estar plenamente conscientes do facto de as informações provenientes diretamente das pessoas idosas, enquanto consumido-res ou potenciais clientes, serem de elevado valor para o negócio. O conhecimento sobre as necessidades concretas, preferências e escolhas possíveis – mas também sobre as reações negativas – são um fator importan-te para o sucesso económico. Assim, estas indústrias devem estabelecer mecanismos para envolver estreitamente as pessoas idosas e as suas organizações em todas as fases de produção de tais produtos e servi-ços – desde a fase conceptual por meio de planeamento e design, passando pela fina-lização do produto/prestação do serviço, a terminar na avaliação e eventual fase de melhoria.

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Os departamentos públicos responsáveis pela saúde e emprego a vários níveis devem trabalhar em conjunto – em cooperação com os serviços de saúde, com o setor dos seguros, bem como com a ciência e inves-tigação – a fim de elaborar melhorias ade-quadas no local de trabalho que possam permitir às pessoas idosas ir trabalhar em segurança, se assim o desejarem, e de pro-por essas soluções aos empregadores. Po-dem até subsidiar a implementação de tais medidas, uma vez que eventualmente não são apenas vantajosas para o empregador e para o trabalhador idoso, como também, indiretamente, do interesse do Estado e da sociedade em geral.

As organizações voluntárias, assim como as instituições e serviços públicos, devem explorar todas as possibilidades de criar oportunidades para as pessoas idosas ofe-recerem os seus talentos, conhecimentos e tempo para contribuir para a qualidade da comunidade, reforçar a troca e comunica-ção inter-geracional ou fortalecer a solida-riedade intra-geracional.

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Necessidades e escolhas das pessoas idosas

3.12 Com o avanço da idade, características físicas e mentais específicas tendem a mudar e algumas das capacidades podem diminuir consi-deravelmente. Muitas vezes, as doenças crónicas podem (co)ocorrer e consequentemente o corpo ser menos bem-sucedido a evitar ou combater infeções. Também as funções cognitivas podem ver-se en-fraquecidas ou até mesmo falhar progressivamente. Outras pertur-bações de natureza física e mental também se podem desenvolver, assim como problemas sociopsicológicos.

No entanto, as consequências de tais mudanças, por muito descon-fortáveis e restritivas que possam ser para a pessoa em causa e para o ambiente circundante, não conduzem inevitavelmente a graves restrições na qualidade de vida – a assistência adequada e apoio fornecidos podem ser tornados disponíveis, acessíveis e podem ser utilizados.

A assistência e apoio podem ser entendidos em termos de vários ti-pos de bens e instrumentos “amigos” das pessoas idosas, da melho-ria e adaptação das condições de vida física, da variedade de servi-ços pessoais e domésticos, dos cuidados de saúde e de assistência social, na forma de informação e de comunicação, ou por meio de recursos de aprendizagem e apoio à adaptação comportamental – isto para mencionar apenas alguns dos diferentes aspectos.

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Sem dúvida, o destino, as limitações e o sofrimento dos membros mais fracos e vul-neráveis devem ser uma preocupação prio-ritária da sociedade; ajuda tem de ser ofe-recida, em particular, pela família ou pela comunidade – ou por uma combinação de ambas.

A pessoa necessitada nunca deve ser consi-derada um “objeto” de assistência e apoio totalmente incapaz, mas sempre um sujei-to consciente, com preferências e rejeições específicas. Com o desejo de desfrutar o máximo possível de autonomia e autode-terminação, apesar de todos os possíveis problemas e limitações. Assim, a dignidade humana não é negociável e os direitos fun-damentais de todas as pessoas, indepen-dentemente do seu estatuto e condição, devem ser sempre completamente respei-tados.

A pessoa necessitada nunca deve ser considerada um “objeto” de assistência e apoio totalmente incapaz, mas sempre um sujeito consciente, com preferências e rejeições específicas.

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Recomendações

Ao oferecer e prestar assistência e apoio, é de extrema importância que as dificuldades e necessidades reais e concretas do indiví-duo sejam identificadas e documentadas de forma cuidadosa e precisa, que as ca-pacidades ainda existentes sejam tidas em total consideração e que, mais importante ainda, os valores, opiniões e preferências sejam anotados e seriamente respeitados, tanto quanto possível.

Considerando que a necessidade de ajuda externa muitas vezes pode ser conectada a problemas de vergonha e a uma diminuição da autoestima da pessoa em questão, a as-sistência e apoio devem ser sempre ofereci-dos de forma muito sensível e compreensi-va, juntamente com explicações inteligíveis e todos os detalhes necessários, permitindo e até incentivando a pessoa a expressar a sua própria opinião, a apresentar preferên-cias e, por fim, fazer escolhas informadas.

Os serviços pessoais e domésticos têm de ser concebidos e organizados de forma mais personalizada possível e precisam de respeitar o contexto de vida, a estruturação de tempo individual, o conforto, o “não-fa-zer”, tal como a privacidade da pessoa ser-vida. Quando as características específicas destes aspectos não podem ser totalmente tidas em conta, isso precisa de ser explica-do à pessoa de forma que entenda a lógica e possa concordar com tais justificações de limites excecionais.

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Serviços de apoio a pessoas emenvelhecimento

3.13 Com a desintegração das estruturas fami-liares, menos pessoas idosas vivem com os membros da família e são cuidadas por es-tes. Um número crescente de pessoas idosas ou vivem em casas/residências para idosos, instaladas em lares de idosos, ou optaram por permanecer nas suas próprias casas e envelhecer nesse local. Devido à falta de ex-periência pessoal, em idades mais jovens, com a realidade de diferentes faixas etárias, a compreensão geral da complexidade do processo de envelhecimento e do que pode significar para os indivíduos em diferentes situações, tende a ser bastante reduzida.

No entanto, quando as famílias têm possi-bilidade e vontade de cuidar dos seus mem-bros idosos, que necessitam de assistência e cuidados, o apoio externo não é apenas jus-tificado mas, na maioria dos casos, de ne-cessidade urgente. Frequentemente, as fa-mílias não estão realmente preparadas para desempenhar o tipo de cuidados profissio-nais exigidos pela condição de uma pessoa idosa. Com a longevidade alcançada na Eu-ropa, muitas vezes filhas idosas cuidam dos seus pais ainda mais idosos, podendo estar totalmente sobrecarregadas.

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Em tais casos, serviços de apoio domiciliá-rio, fornecidos de preferência pelo municí-pio, são indispensáveis – em especial para as famílias que não podem pagar pelos serviços privados existentes no mercado. Além disso, ou em paralelo, as medidas de ambiente de vida assistida – AAL – podem ser bastante úteis para a própria pessoa, assim como para a família prestadora de cuidados. O apoio externo deve ser sempre combinado com medidas de informação e de formação, oferecidas à pessoa idosa com uma possível deficiência mental ou física, bem como para benefício da família.

Em geral, as pessoas idosas preferem “enve-lhecer no local” – na sua própria casa e, as-sim, serem integradas na comunidade local e em estreito contacto com as pessoas que conhecem e em quem podem eventualmen-te confiar. Isto significa que a colocação em lares de idosos, em instituições de cuidados e assistência médica, devem ser apenas a última opção. Em qualquer caso, a vontade da pessoa idosa deve ser tida em total con-sideração – mesmo que isso possa ser um desafio.

Em caso de colocação institucional e de prestação de cuidados, a qualidade da ins-tituição e dos seus serviços devem ser vistos como de extrema importância. A qualidade também abrange o pleno respeito pela dig-nidade, direitos e desejo de autodetermi-nação da pessoa idosa. A monitorização da qualidade e os mecanismos de reclamação adequados devem ser assegurados.

Em geral, as pessoas idosas preferem “envelhecer no local” – na sua própria casa e, assim, serem integradas na comunidade local.

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Recomendações

Os municípios devem desenvolver estraté-gias e programas abrangentes para servir a população idosa. Devem oferecer uma variedade de opções de apoio eficaz e de qualidade, que criem condições que permi-tam a livre escolha, quer para envelhecer e receber serviços adequados em ambiente familiar, quer na própria casa ou, se neces-sário, nas instituições. As provisões públicas têm de ser acessíveis a todos, sem qualquer discriminação.

Sempre que possível e apropriado, de acor-do com a tradição, cultura e realidade eco-nómica, devem ser criadas condições para o desenvolvimento do mercado de serviços para pessoas idosas. A sociedade, represen-tada por autoridades a vários níveis, preci-sa de encontrar quadros de referência, so-luções equilibradas e modelos de negócios que permitam parcerias público-privadas que assegurem a sustentabilidade e a eficá-cia do setor dos serviços. O planeamento e a monitorização das insta-lações institucionais e dos serviços pessoais que prestam cuidados às pessoas idosas devem ser sempre realizados com o envolvi-mento próximo das próprias, das organiza-ções da sociedade civil que as representam e das suas famílias, a fim de garantir que as necessidades reais das pessoas idosas são devidamente respondidas.

A melhoria do material e a adaptação das condições de vida às pessoas idosas com algum tipo de deficiência ou perturbação física ou mental têm de ser uma priorida-de de ajuda, a fim de assegurar segurança e conforto. Proprietários de apartamentos e casas, donos de estabelecimentos para alu-gar e de associações de habitação devem certificar-se de que a sua habitação está adequadamente concebida e equipada de acordo com as necessidades de todas as ge-rações – desde crianças pequenas a pessoas idosas e mais frágeis.

Municípios com responsabilidades relati-vas às políticas de habitação podem querer promover a abrangência das melhorias e adaptações habitacionais mediante a con-cessão de apoio financeiro. Tal constitui um investimento razoável, uma vez que pode contribuir para evitar ou pelo menos adiar a necessidade de serviços externos.

Possibilidades avançadas de telemedicina e de teleassistência à pessoa, de autómatos e robôs que facilitem a manutenção do lar e a preparação de refeições, ferramentas sofis-ticadas de informação e comunicação, bem como “brinquedos com inteligência artifi-cial” que entretêm, aconselham e criam um sentimento de não estar só – e assim com-batem a solidão – devem ser tidos em séria consideração.

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Os regulamentos e práticas dos sistemas de cuidados domésticos devem permitir en-contrar e implementar em cada caso parti-cular um ideal económico e a combinação de serviços humanos e de base tecnológica, aceites pelas pessoas idosas. As pessoas idosas e os seus cuidadores formais e infor-mais devem ter uma maior influência na de-finição deste equilíbrio.

É absolutamente indispensável que as ins-talações técnicas, dispositivos e aparelhos – isto é, detetores de queda, sistemas de teleassistência e afins – sejam totalmente compreendidos e aceites pela pessoa idosa de modo a que não haja o sentimento de “o big brother está-me a controlar”. É também necessário garantir que a pessoa cuidada tem a possibilidade de parar consciente-mente o funcionamento de tal assistência técnica.

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Investigação e desenvolvimento

3.14

Um dos principais problemas da investigação sobre o processo de envelhecimento e sobre as pessoas idosas é o de ser principalmente médica e raramente cobrir aspectos sociológi-cos, psicológicos, jurídicos e até éticos. Ainda mais problemático é o facto de esse tipo de investigação considerar as pessoas idosas “objetos” para analisar/interpretar e não sujeitos, ignorando assim o justificado lema de “nada sobre nós sem nós!”.

Isto conduz à realidade de os resultados da investigação em matéria de envelhecimento, realizados por cientistas jovens ou de meia-idade, serem frequentemente processados de acordo com as suas preferências e métodos particulares, não tendo em consideração, ou pelo menos não de forma completa, o fator humano de ser idoso, o que pode levar a resulta-dos inadequados, insatisfatórios, que não fazem plena justiça às condições particulares das pessoas idosas.

Também tem de ser visto como problemático os cientistas mais idosos,muitas vezes pela pressão da geração seguinte, serem submetidos a limites de idade e forçados a reformar-se – ou perder o apoio institucional e financeiro – quando podem ter acumulado um elevado grau de conhecimento e compreensão no seu domínio específico. Isto constitui frequente-mente um erro duplo: pode tornar extremamente difícil alcançar resultados ainda mais sig-nificativos; e pode impedir ou prejudicar a colaboração científica frutífera entre gerações.

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Quanto ao desenvolvimento de tecnologias para apoiar o envelhecimento, prevalece também o facto de serem realizadas por especialistas que não têm necessariamen-te contacto próximo com pessoas idosas. A maioria das ferramentas, sistemas ou processos sofisticados na área médica, em tecnologias de ambiente de vida assistida (AAL) ou outros setores que pretendem aju-dar as pessoas a envelhecer protegidas, em segurança e cuidadas, são desenvolvidos sem o envolvimento dos visados, dos utili-zadores finais. Assim, podem não ser total ou suficientemente adequados, entendidos e aceites.

No que concerne ao apoio público à inves-tigação e ao desenvolvimento no domínio do envelhecimento saudável e ativo, o re-cente aparecimento de múltiplos e diversos mecanismos e esquemas de financiamento que muitas vezes se duplicam, resulta na fragmentação e alocação ineficiente de re-cursos, impedindo por vezes uma aborda-gem focalizada e a mobilização de esforços em prioridades de investigação socialmen-te importantes. É necessário um mecanis-mo de coordenação eficaz e socialmente responsável.

É necessário um mecanismo de coordenação eficaz e socialmente responsável.

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Recomendações

As instituições científicas ativas na investi-gação de temas ligados ao envelhecimento humano, instrução ou formação em tais ma-térias, devem certificar-se que as pessoas idosas não são somente “objetos” dessa in-vestigação ou instrução, mas antes sujeitos indispensáveis e apreciados, que represen-tam um componente importante na quali-dade dessas disciplinas. As pessoas idosas devem ser envolvidas na fase conceptual da investigação e instrução, nas decisões sobre as prioridades, na implementação e moni-torização, assim como na interpretação dos resultados.

Uma cultura de colaboração em equipa in-ter-geracional deve ser desenvolvida em matéria de investigação ligada ao envelhe-cimento – assegurando sempre um papel significativo aos investigadores idosos e às pessoas idosas em geral, enquanto propor-ciona extensas oportunidades aos mais jo-vens. O lema deve ser: “vamos fazer investi-gação juntos”.

As pessoas idosas e os seus representantes devem participar ativamente no processo de definição das prioridades de investigação. Usando vários mecanismos da sociedade civil, consultadoria pública, observatórios públicos, grupos de reflexão, etc., necessi-dades reais, preferências e pontos de vis-ta das pessoas idosas devem ser um fator importante, influenciando a alocação de recursos públicos para a investigação e de-senvolvimento nesse domínio.

As instituições científicas e os laboratórios de desenvolvimento de tecnologia devem procurar e organizar uma estreita coope-ração com as organizações da sociedade civil que representam as pessoas idosas, e até com pessoas idosas competentes, com o objetivo de identificar as áreas e questões do envelhecimento em que as contribuições da ciência e das invenções técnicas são ne-cessárias e podem ser oferecidas.

Devem ser promovidos vários métodos e abordagens para envolver as pessoas idosas em atividades de investigação e desenvolvi-mento no domínio tecnológico (como, por exemplo, os Technology Experience Cafés - TEC, desenvolvidos no âmbito do projeto SIforAGE. As metodologias de investigação centradas no humano devem ser ampla-mente promovidas e, quando apropriado, impostas pelos financiadores da investiga-ção dentro do conceito de Investigação e Inovação Responsável (RRI).

Congressos e workshops científicos e tec-nológicos que tenham qualquer ligação com as matérias do envelhecimento devem ser sempre concebidos e organizados com a participação e contribuição das pessoas idosas e com os representantes das respeti-vas organizações. Devem estimular sistema-ticamente a expressão das necessidades, preocupações e preferências das pessoas idosas, das suas famílias e dos seus cuida-dores.

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Tecnologias e serviços de apoio inovadores

3.15

A sensibilização dos decisores políticos, dos agentes de mercado e da sociedade civil para o facto de o envelhecimento da popu-lação ser um dos pilares mais importantes e influentes, determinando a situação atual da sociedade europeia, bem como o seu fu-turo próximo, é de extrema importância. A maioria dos agentes destas três áreas tem de dar grande atenção a este fenómeno se quiser ser bem-sucedido na prossecução dos seus objetivos e viver de acordo com as suas responsabilidades.

Certamente é verdade que a presente evo-lução demográfica produz muitos desafios que precisam de ser cuidadosamente abor-dados. Existem, obviamente, muitas difi-culdades por resolver – como a sustentabi-lidade dos sistemas de pensões, questões do mercado de trabalho e a necessidade de cobertura médica abrangente. Ao mes-mo tempo, as enormes mudanças causadas pelo rápido envelhecimento na sociedade europeia motivam a necessidade de rever os atuais mecanismos sociais e, portan-to, abre oportunidades consideráveis para abordagens inovadoras.

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A necessidade de inovação é particularmente sentida nas áreas das tecnologias e serviços de apoio a pessoas e instituições nos seus es-forços para cuidar e assistir as pessoas idosas de acordo com as suas necessidades e preferências. Mas as inovações também são necessá-rias para garantir que ninguém é discriminado ou deixado para trás, que o atendimento é personalizado, que a sua qualidade é a mais ele-vada possível e, muito importante, que os custos dos cuidados para as pessoas idosas não se tornam exorbitantes e permanecem comportá-veis para o indivíduo e para a sociedade. A necessidade de inovação não se restringe às áreas das tecnologias e dos serviços, está igualmente presente no campo das respostas filo-sóficas e éticas para a mudança, nas relações sociais e processos, no financiamento dos cuidados e fórmulas relevantes de solidariedade; mencionando apenas alguns exemplos significativos.

Uma vez que o fenómeno do envelhecimento afeta a sociedade em ge-ral, também deve haver uma responsabilidade social comum quanto às respostas a serem procuradas e finalmente implementadas. Todas as estratégias e medidas precisam de ser cuidadosamente considera-das em todos os possíveis efeitos. A compreensão de que quase toda a ação e reação podem ter consequências graves para outras áreas da sociedade deve sempre prevalecer.

Os processos de inovação podem ser predominantemente iniciados ou apoiados pela investigação, pelos agentes de mercado ou pela so-ciedade civil, mas também individualmente pelas próprias pessoas idosas. Mesmo que o propósito e a eficácia se baseiem em interesses, o inventor ou autor – seja uma instituição, organização ou indivíduo – deve ser elogiado publicamente. Isto pode ajudar a motivar os outros a seguirem o bom exemplo.

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Quando se trata de inovação na área de pro-dutos e serviços para pessoas idosas, o fe-nómeno vulgarmente designado por “Vale da Morte” tem características particulares. É principalmente causado pelas peculiari-dades da situação do mercado tornar mais complicada a correta avaliação do risco de investimento, reduzindo assim as oportuni-dades de comercialização de estratégias de saída atrativas para os investidores priva-dos. Tal conduz a uma situação em que as empresas inovadoras no campo das tecno-logias para o envelhecimento saudável não podem competir com sucesso pelos investi-mentos, uma vez que têm rivais comercial-mente mais apelativos. Portanto, o apoio público à inovação neste setor é extrema-mente importante, a fim de possibilitar parcerias público-privadas que facilitem e promovam a transformação dos resultados da investigação em produtos e serviços de apoio inovadores.

Recomendações

Municípios, instituições de proteção social, empresas e organizações da sociedade civil devem criar programas que motivem o pen-samento inovador, que apoiem iniciativas neste campo, que honrem e até recompen-sem financeiramente os esforços úteis e os resultados.

Os contratos públicos devem objetivar es-pecificamente o incentivo e adaptação de soluções inovadoras, ao invés de nos con-cursos públicos enfatizarem a abordagem de “jogar pelo seguro”. Isto iria apoiar os processos de inovação e facilitar o financia-mento da implementação de ideias inova-doras.

A segurança, acessibilidade e disponibili-dade das soluções inovadoras, têm de ser cuidadosamente examinadas por um órgão público independente. Da mesma forma, os vários aspectos da utilização dos produtos e da eficácia e confiabilidade dos serviços e processos devem ser avaliados pelos futu-ros utilizadores.

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Devem ser criadas estruturas para recolher e documentar o sucesso das abordagens e soluções inovadoras e torná-las disponíveis a todos aqueles que estão à procura de no-vos conceitos e respostas. Estas estruturas devem ser criadas a nível local, nacional e europeu. Em caso de serem de interesse ge-ral, o acesso aos dados recolhidos deve ser gratuito.

As inovações podem ser grandes, mudan-do sistemas e processos por inteiro, ou po-dem ser pequenas, não sendo ainda consi-deradas muito importantes pelo facto de, por exemplo, aumentarem a segurança ou acrescentarem conforto. As inovações po-dem consistir apenas na surpreendente imitação e adaptação criativa de formas e meios existentes.

A sociedade deve continuar a providenciar possibilidades de apoio ao desenvolvi-mento de produtos tecnológicos e serviços inovadores de suporte ao envelhecimen-to, motivando, assim, negócios inovadores que combatam o “Vale da Morte”. Tal pode ser feito através da criação de instrumen-tos financeiros direcionados, como fundos de capital de arranque e de risco específi-co, financiamento público de programas de apoio à inovação competitiva ou incentivos financeiros diretos (por exemplo, isenções fiscais, etc.). Os investimentos públicos em infraestruturas especificamente concebidas para apoiar a inovação na área de produtos e serviços para pessoas idosas (por exem-plo, incubadoras de empresas especializa-das e centros de transferência de tecnolo-gia, serviços de apoio à inovação, iniciativas de intercâmbio de boas práticas e de trabalho em rede) deverão ser alargados.

O apoio público à inovação neste setor é extremamente importante, a fim de possibilitar parcerias público-privadas que facilitem e promovam a transformação dosresultados da investigação em produtos e serviços de apoio inovadores.

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Investimentos nas populações em envelhecimento

3.16A sociedade europeia não deve hesitar em investir substancialmente nas condições de vida da população idosa, já que deverá existir um forte sentimento de orgulho da longevidade alcançada pela sua população. Uma das razões é certamente poder honrar as realizações de vida das pessoas idosas e as contribuições para o desenvolvimento da riqueza e qualidade da sociedade atual.

Outra boa razão é a responsabilidade de assegurar que as pessoas idosas não são discriminadas, que não são menos respei-tadas e bem tratadas do que os membros da geração mais jovem, que os seus direitos fundamentais são implementados. Igual-mente importante é a consideração de que o investimento que a geração mais idosa fez nos seus filhos e netos cria a obrigação de exercer solidariedade e de “pagar de volta”.

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Uma outra lógica válida é a perspetiva de que todas as gerações estão progressivamente a envelhecer e que a geração presentemente res-ponsável pela tomada de decisão irá um dia beneficiar das infraestru-turas, serviços e outras comodidades que atualmente providencia à população idosa. Para os mais jovens será também uma prova de con-fiança na sociedade o facto de o seu futuro estar, de forma indireta, no centro das preocupações atuais.

Mas o investimento nas pessoas idosas muitas vezes é também bené-fico para as empresas e para o seu sucesso empresarial. Por um lado, a construção de serviços de apoio a pessoas idosas na sua vida quo-tidiana e em situações de vida difíceis é bem remunerada e espera-se que continue a sê-lo. Por outro lado, as pessoas idosas, enquanto con-sumidores de bens e utilizadores de serviços, podem ter um importan-te impacto sobre as gerações mais jovens nas suas atitudes e prefe-rências de consumo. A publicidade, que é uma forma de investimento, usa muitas vezes este argumento, sugerindo que “Vais-te sentir bem e feliz - mesmo quando idoso - se tomares ou escolheres isto ou aquilo!”. Parece que funciona!

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Recomendações

O conceito de “uma sociedade para todas as idades” significa, entre outros, que a socie-dade tem a responsabilidade de criar para todos os membros as melhores condições de vida possíveis e não controlar excessiva-mente ou negligenciar qualquer faixa etária. Tal quer dizer que os investimentos têm de ser feitos tanto para a população em geral, para servir todos, como para grupos especí-ficos com necessidades particulares – como é o caso das pessoas idosas ou com algum tipo de deficiência física ou mental. Tal não deve ser entendido pelos decisores como “um fardo financeiro extra” que precisa de ser particularmente justificado, mas sim como estando no centro das obrigações re-gulares da sociedade – e dos seus próprios interesses fundamentais.

Os decisores têm de estar conscientes de que, em todos os casos, investimentos em prol da população não dizem apenas respeito à implementação de estruturas físicas, como sistemas de transporte ade-quados, habitação adequada, e afins, mas também têm de ser realizados na adapta-ção de “software” relacionado, como co-municação, informação, assistência, etc., a fim de os tornar facilmente e totalmente compreensíveis, assim como utilizáveis por diferentes grupos-alvo.

A compreensão das necessidades e preferências da população em envelhecimento, a criação de produtos eserviços em consonância, e assim por diante, é certamente uma das decisões mais racionais, e portanto mais benéficas, que os empresários podem fazer.

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Quando as autoridades públicas, particularmente a nível municipal, investem em infraestruturas e serviços de interesse geral, devem sem-pre considerar as necessidades de todas as gerações – e numa perspe-tiva de percurso de vida. No processo de planeamento de infraestrutu-ras e serviços de interesse geral devem usar-se conselhos consultivos multigeracionais compostos de forma adequada, com o intuito de garantir que as preocupações dos diferentes grupos etários na comu-nidade são tidas em consideração e que são mantidos um justificado sentido de participação e de pertença.

Os investimentos para benefício da população idosa na comunidade também podem ser necessários para tornar a orientação e mobilida-de mais fácil, garantir a segurança, oferecer oportunidades específi-cas de educação, criar lugares para cuidados durante o dia, etc. Os municípios devem prestar especial atenção a todas as possibilidades ainda não imaginadas e a vários tipos de medidas que possam melho-rar o conforto e o bem-estar da população idosa.

Os investimentos públicos também devem procurar facilitar e promo-ver a participação das pessoas idosas na vida da comunidade em geral, através da instalação de centros comunitários e de outras instituições. Igualmente importantes são os investimentos que visam a criação de condições favoráveis ao encontro e trocas entre as gerações.

As empresas privadas de todos os tipos devem considerar seriamen-te todas as oportunidades que o envelhecimento da população pode oferecer aos seus negócios. Devido ao crescente número de pessoas idosas, a necessidade de novos produtos e serviços irá expandir-se consideravelmente nas próximas décadas. Consequentemente, inves-tir na avaliação dos possíveis futuros desenvolvimentos demográficos, na comunicação e cooperação com organizações de pessoas idosas, na compreensão das necessidades e preferências da população em envelhecimento, na criação de produtos e serviços em consonância, e assim por diante, é certamente uma das decisões mais racionais, e portanto mais benéficas, que os empresários podem fazer.

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Recrutamento e formação de profissionais

3.17

Dado que os serviços de cuidados pessoais prestados às pessoas idosas podem ser exigentes e a sua qualidade depende em grande medida da competência das pessoas que os prestam, a composição e o profissionalismo dos profissionais nestas áreas é de extrema im-portância. Todos os agentes devem ter um grande interesse neste assunto: políticos e administrações responsáveis por estes serviços; empresas privadas e organizações voluntárias que prestam serviços pessoais; aqueles que financiam, direta ou indiretamente, sistemas de serviços; e, certamente, os beneficiários dos serviços pessoais e as suas famílias.

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O profissionalismo na área dos serviços pessoais a pessoas idosas não significa apenas conhecimento técnico adequado e experiência, mas também competências jurídicas, psicológicas e sociais. Os pro-fissionais têm de saber exatamente de que tratam os regulamentos relativos ao serviço particular, devem estar perfeitamente conscien-tes da necessidade de respeitar a dignidade humana do cliente e os direitos fundamentais e específicos, devem ser capazes de escutar a pessoa e compreender as respetivas necessidades e preferências, e devem comunicar de forma eficaz, mesmo em casos e situações mais complexos.

Estas exigências multifacetadas relativamente às profissões de ser-viço de apoio pessoal tornam-nas altamente complexas, com uma grande variedade de responsabilidades e obrigações importantes. Ainda assim, é notável constatar o quão baixo é o apreço ou o prestí-gio destas profissões na sociedade e como, comparativamente com outras profissões, as remunerações são inadequadas. Isto conduz ao fraco interesse por este trabalho e à escassez muito clara de mão-- de-obra competente. Com muitos trabalhadores empregados sem treino ou insuficientemente aptos, e um rácio insatisfatório entre o número de funcionários e o número de pacientes ou utilizadores, a qualidade do apoio e das instalações e serviços de prestação de cuidados são muitas vezes motivo de preocupação.

É igualmente importante prestar grande atenção aos cuidadores in-formais – sejam eles membros da família, outros parentes, amigos ou voluntários – e aos enormes contributos que estes constituem para a assistência e apoio a pessoas idosas. Não só os seus esforços merecem ser adequadamente reconhecidos, como também se tor-na necessário assumir claramente que estes precisam muitas vezes de apoio, aconselhamento profissional e até de oportunidades para a sua formação contínua.

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Recomendações

O Estado tem de assumir a responsabilidade de definir e impor re-gras claras para os serviços de prestação de cuidados e seus pro-fissionais, que correspondam à dignidade humana, aos direitos humanos em geral, à igualdade de tratamento dos utilizadores ou beneficiários, e definir padrões de qualidade e sistemas eficazes de monitorização – incluindo procedimentos de reclamação apropria-dos e fáceis de lidar.

Os mercados público e privado ou os prestadores de serviços da sociedade civil – sejam eles na área dos cuidados de saúde, da as-sistência social ou do apoio às famílias – têm de se certificar que os profissionais em serviço são competentes em todas as tarefas a serem executadas, e têm tempo e o equipamento necessário para as realizar. O controlo regular e a avaliação da qualidade devem ser re-gra, integrando também a avaliação da satisfação dos utilizadores. O trabalho clandestino deverá ser totalmente banido e sancionado.

As condições de trabalho concretas e a remuneração dos profissio-nais de cuidados têm de ser proporcionais às tarefas, às respon-sabilidades e às competências requeridas. Isto inclui o rácio entre funcionários e clientes, os acordos de horas de trabalho, o direito a descansar suficientemente e a férias, a cobertura da segurança social e outros aspectos importantes que, tal como sucede noutros campos profissionais, devem ser considerados direitos profissionais normais.

Os empregadores devem ser obrigados a proporcionar oportunida-des de formação intensiva regular e ações de informação e supervi-são de apoio aos profissionais de cuidados em áreas cruciais espe-cíficas.

Os políticos e os empregadores devem conduzir iniciativas para tor-nar as profissões de serviços de cuidados melhor reconhecidas, de modo a que os profissionais recebam maior atenção e apreço. Ao mesmo tempo, neste setor o emprego clandestino ou mesmo ilegal – e muitas vezes inseguro –tem de ser energicamente combatido.

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Os cuidadores informais precisam urgente-mente de ser apoiados nos seus esforços e a sua imagem precisa de ser melhorada. As campanhas públicas devem tratar adequa-damente esta questão do reconhecimento. Devem ser oferecidos a todos os prestado-res de cuidados informais informações e cursos de formação gratuitos.

Os empregadores devem conceder “tempo livre para vida pessoal” aos profissionais seus empregados. O “tempo de vida pes-soal” deve ser reconhecido no cálculo dos direitos à pensão.

Com muitos trabalhadores empregados sem treino ou insuficientemente aptos, e um rácio insatisfatório entre o número de funcionários e o número de pacientes ou utilizadores, a qualidade do apoio e das instalações eserviços de prestação de cuidados são muitas vezes motivo de preocupação.

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Questões estruturais e organizacionais

Dado o carácter das infraestruturas e dos serviços pessoais para a população idosa, estes devem ser prestados principalmente a nível municipal, embora o Estado tenha a responsabilidade de os regula-mentar a fim de assegurar a igualdade de tratamento e o estabele-cimento de padrões de abrangência, disponibilidade, acessibilidade e qualidade. Na área dos serviços de cuidados pessoais uma abordagem assen-te na subsidiariedade parece ser a mais adequada, o que significa que tais serviços devem ser prestados por agentes e instituições tão próximos quanto possível do utilizador ou cliente. Tal começa, em geral, com a família e outras pessoas próximas e só se torna uma responsabilidade dos níveis mais elevados da comunidade em que a pessoa vive se os níveis mais baixos falharem ou não estiverem disponíveis.

Quando as famílias têm ao cuidado os seus membros mais idosos, muitas vezes precisam de apoio externo em termos de aconselha-mento profissional, assistência técnica, ajuda financeira e possibi-lidades de tempo de descanso. No entanto, o cuidado familiar não constitui necessariamente a solução mais adequada, uma vez que as tensões familiares internas ou a sobrecarga do cuidador podem levar a grandes problemas. Em qualquer caso, a escolha da pessoa idosa sobre onde e de quem receber cuidados deve ser o fator deci-sivo para qualquer deliberação nesta área vital.

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3.1888

De acordo com o Estado e a abordagem ideológica da sociedade, as autoridades públicas ou as organizações da sociedade civil na forma de associações voluntárias orientadas para as necessidades humanas, devem ter prioridade se quiserem e forem capazes de fornecer tais serviços. O finan-ciamento principal, no entanto, deve ser providenciado pelos sistemas de proteção social.

Da mesma forma, os negócios orientados para o lucro privado podem ser uma fonte razoável de adequada cobertura da neces-sidade de serviços por parte das pessoas idosas – sejam básicos ou de natureza mais “luxuosa”. Também aqui os sistemas de se-gurança social devem cobrir os custos ra-zoáveis dos serviços de cuidados pessoais necessários e legalmente reconhecidos.

O cuidado familiar não constitui necessariamente a solução mais adequada, uma vez que as tensões familiares internas ou a sobrecarga do cuidador podem levar a grandes problemas.

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Recomendações

Os municípios, enquanto estruturas responsáveis principais pelas provisões para a população idosa, devem elaborar estratégias de organização abrangentes e planos precisos de prestação de serviços pessoais às pessoas idosas que vivem na comunidade – quer seja na forma de regras comunitárias, cuidados institucionais ou serviços de apoio domiciliário. Os aspectos do acesso e facilidade de mobili-dade devem ser sempre alvo de grande atenção.

Tais estratégias e planos têm de se certificar que é a escolha da pes-soa idosa que predominantemente determina a solução a ser imple-mentada no âmbito das possibilidades do município. Esta escolha tem sempre de ser informada, pelo que o município tem também o dever de providenciar às pessoas em causa dados suficientes e úteis, para que possam optar livremente e a seu gosto por qualquer uma das possibilidades oferecidas.

Os municípios têm de oferecer, diretamente ou através de outros agentes que podem ser subsidiados, apoio às famílias que cuidam dos seus membros – de acordo com as suas necessidades e desejos. Centros de dia, grupos de autoajuda, solidariedade organizada no bairro e condições de habitação inter-geracional, devem também ser consideradas opções importantes.

Todos os municípios deverão criar os vulgarmente conhecidos es-critórios dos “cidadãos seniores”, onde as pessoas idosas e respeti-vas famílias podem encontrar informação e aconselhamento. Estes escritórios também devem agir como pontos focais para atividades que as pessoas idosas possam querer oferecer às outras, de acordo com as suas respetivas competências. Tais ofertas devem ser docu-mentadas, coordenadas e comunicadas.

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Informação, comunicação e meios de comunicação social

3.19

O grau de independência e de autodeterminação de que as pessoas idosas usufruem depende, em grande parte, da informação a que facilmente têm acesso e que é específica à sua situação e condição particulares.

Um dos problemas mais graves e dolorosamente sentidos pelas pessoas idosas, especialmente após a reforma de um emprego de longa duração, é o de não permanecerem ligadas a um conjunto de pessoas que possam apreciar e valorizar, tendo assim muito menos acesso a informações e conselhos personalizados de todo o tipo. Contudo, a necessidade de tais informações e aconselhamento es-pecífico não diminui necessariamente com a crescente dependên-cia em idades avançadas.

A internet também representa, seguramente, uma grandepossibilidade para as pessoas idosas olharem para umaenorme quantidade de dados, opiniões e conselhos.

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A internet também representa, segura-mente, uma grande possibilidade para as pessoas idosas olharem para uma enorme quantidade de dados, opiniões e conselhos. No entanto, há o problema da fiabilidade da informação e de como o sistema e outros fatores influenciam a posição, a prioridade e a sequência dos itens que são colocados on-line. Estas são incertezas e riscos com os quais as pessoas idosas têm dificuldade em lidar. Além disso, as pessoas idosas podem ter cada vez menor capacidade e disposição para dominar de forma constante a rápida evolução das tecnologias de informação em geral, bem como a evolução da lingua-gem técnica ou moderna usada pelos mais jovens. Assim, podem perder a aptidão de procurar informação detalhada até os resul-tados se encaixarem exatamente no proble-ma pessoal ou interesse.

Ainda assim, os modernos sistemas de co-municação pessoal, como notebooks, ta-blets e smartphones, são um ótimo meio para manter a conexão com a família, ami-gos e o mundo exterior em geral. Sistemas de comunicação sofisticados que fornecem a base técnica para a vigilância tele-médica e para o tele-atendimento também têm os seus enormes méritos para as pessoas ido-sas, tornando a situação de vida mais segu-ra e confortável.

Os meios de comunicação social, em parti-cular os filmes e o ramo do entretenimen-to, desempenham um papel importante na vida das pessoas mais velhas, ao entrega-rem imediatamente os produtos à pessoa e não requererem que “saia”, isto nos casos em que a mobilidade pessoal se torna mais complicada ou até mesmo impossível.

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Recomendações

As possibilidades dos sistemas de comuni-cação modernos devem ser intensamente utilizadas pela comunidade – sejam admi-nistrações municipais ou organizações da sociedade civil – para manter as pessoas idosas conectadas, fornecer informações pertinentes e responder às necessidades e interesses específicos. Também devem de-sempenhar um papel importante na facilita-ção da participação das pessoas idosas na sociedade. Em casos de mobilidade severa-mente reduzida podem ser a única possibi-lidade de algum tipo de participação e inte-gração social das pessoas idosas.

Da mesma maneira que existem canais es-pecíficos para determinados grupos da po-pulação, tais como programas adaptados que abrangem preocupações e interesses concretos, também deveria existir um me-canismo semelhante para pessoas idosas. O conteúdo deveria ser planeado em estreita cooperação com as organizações da socie-dade civil para e das pessoas idosas, a fim de assegurar que os programas correspon-deriam corretamente às necessidades, inte-resses e preferências. As questões da aces-sibilidade, fundamentais na aceitação das fontes de informação por parte das pessoas idosas, devem ser sempre tidas em conside-ração.

As novas tecnologias de comunicação so-cial têm um enorme potencial para apoiar e facilitar o envelhecimento saudável e ativo. A fim de concretizar esse potencial, novas plataformas de comunicação social espe-cializadas, direcionadas para os interesses, necessidades e preferências das pessoas idosas, devem ser apoiadas. Os agentes--chave públicos deveriam utilizar ativamen-te os meios de comunicação social como uma forma eficaz de conexão com as pes-soas mais idosas.

Os meios de comunicação social direciona-dos para a população mais idosa devem ter várias funções explícitas: mantê-la conecta-da com o mundo exterior e seus desenvolvi-mentos, e informá-la sobre questões impor-tantes para si – como serviços disponíveis, nutrição, grupos de interesses comuns, mas também questões de segurança. Devem oferecer programas educativos e culturais, motivar e apoiar as pessoas idosas a serem tão ativas quanto possível e, por último, en-tretê-las e ajudá-las a prevenir a sensação e os perigos da solidão.

Deve sempre haver uma grande variedade de opções para as pessoas idosas escolhe-rem entre alternativas de ferramentas e sis-temas de comunicação e informação. Todos os sistemas em oferta devem facultar recur-sos interativos que proporcionem ao utiliza-dor a possibilidade de expressar reações e assim participar ativamente no planeamen-to e execução dos mesmos – de acordo com o lema “escolha e voz ativa”.

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Um aspecto muito importante dos meios de comunicação social é a sua responsabi-lidade de transmitir ao grande público uma imagem positiva do envelhecimento e das pessoas idosas. Uma vez que as crianças têm uma perceção muito diferente do enve-lhecimento comparativamente aos adultos, podem estar, o que geralmente acontece, muito interessadas nas pessoas idosas, par-tindo de uma opinião positiva sobre estas. Tal deve ser apoiado e desenvolvido pelos meios de comunicação social como parte do seu papel na sociedade, considerando que muitos jovens têm pouco ou nenhum contacto com os mais idosos.

Os meios de comunicação social e outros processos de comunicação devem, em par-ticular, evitar estereotipar e categorizar as pessoas idosas, como se fossem apenas um grupo homogéneo com mais ou menos as mesmas dificuldades e limitações. Também deve ser entendido como forma de discrimi-nação apresentar as pessoas idosas como não-produtivas, cujo único valor é o de se-rem um grupo interessante de consumido-res.

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Aspectos económicos e financeiros

3.20O aumento da longevidade na sociedade eu-ropeia, em conjunto com outras tendências demográficas, tem enormes consequências numa infinidade de áreas. Alguns países, organismos e instituições políticas e econó-micas preferiram ignorar estas importantes mudanças e agir como se nada estivesse a acontecer, ao passo que noutros países o desafio tem sido reconhecido – no entanto, poucas soluções adequadas têm sido im-plementadas, já que as soluções financeiras e sociais aceitáveis são muito difíceis de en-contrar. Frequentemente, o argumento foi ou é o de que as reformas necessárias são muito dispendiosas e de que existem outras prioridades ou que ainda há tempo para agir. Os políticos em todas as democracias estão a enfrentar a difícil escolha entre a alocação de recursos para resolver as atuais “plataformas em chamas”, ou providenciar recursos ou introduzir outras medidas polí-ticas a fim de resolver problemas futuros.

Reconhece-se que alguns dos resultados e soluçõespropostos não terão igual relevância em todos os países.

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O papel do presente Livro Branco é o de apresentar uma análise de soluções econo-micamente eficientes e de medidas políti-cas que podem ser agora introduzidas e que de forma economicamente eficiente podem resolver futuras “plataformas em chamas”. Reconhece-se que alguns dos resultados e soluções propostos não terão igual relevân-cia em todos os países.

Em alguns países, as tentativas de garantir a sustentabilidade dos sistemas de pen-sões estão na agenda política; noutros paí-ses, encontra-se uma resistência política substancial devido ao desconhecimento do problema futuro; noutros ainda, o proble-ma é ignorado porque outras “plataformas em chamas”, como as elevadas taxas de desemprego ou a questão dos refugiados, dominam a agenda política. As soluções propostas que seriam financiadas por con-tribuições dos futuros beneficiários e dos empregadores também não são bem-vin-das dado que o custo de vida atual é o pro-blema dominante.

Mas fingir e tranquilizar as pessoas de que o direito à pensão completa está seguro – enquanto os orçamentos disponíveis estão, evidentemente, a encolher rapidamente ou a requerer poupanças para neutralizar o au-mento da esperança média de vida – não é uma resposta responsável a um problema importante. Se, ainda para mais, e em si-multâneo, os governos aumentam a idade de reforma por razões predominantemente políticas e devido à pressão de grupos espe-cíficos, a situação tende a tornar-se mesmo contraproducente acabando por contribuir para o aumento de um sentimento de des-confiança em relação ao governo.

Na Europa, as soluções políticas direciona-das para os desafios democráticos diferem bastante entre diferentes Estados-mem-bros. Em alguns países, como os países es-candinavos, a idade de reforma aumentou para compensar a maior esperança média de vida e garantir uma força de trabalho em expansão. Noutros países, temos exemplos de políticas enviesadas de remuneração la-boral e de reforma – como quando a força de trabalho jovem mal consegue imaginar--se a constituir família, a comprar ou cons-truir casa própria ou a ter direito a férias, ao passo que os trabalhadores mais velhos recebem sistematicamente aumentos sala-riais com o avançar da idade. Se, em segui-da, o Estado encorajar a reforma antecipa-da – o que acontece com um aperto de mão dourado – “para dar lugar aos mais jovens”, esta situação pode potencialmente criar um conflito político pouco saudável entre os di-ferentes grupos etários.

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Recomendações

É necessário estabelecer corretamente prio-ridades e estratégias inteligentemente con-cebidas e dirigidas aos problemas premen-tes, de acordo com as definições de cada Estado-membro. Em alguns países, gastos elevados na abordagem das mudanças pro-vocadas pelo envelhecimento da popula-ção podem ser política e economicamente sólidos e rentáveis; noutros países, este tipo de estratégia política representa uma “zona interdita”, pois foi concedida prioridade a outras “plataformas em chamas”.

No que diz respeito ao envelhecimento, to-dos os organismos e instituições políticos de vários níveis da sociedade devem com-preender as suas responsabilidades não em termos de despesas e restrições orçamen-tárias, mas sim nas oportunidades de, ao mesmo tempo, consolidar a coesão social e promover a sustentabilidade económica avançada ao abordar a situação e as neces-sidades da população idosa. É fundamental perceber que investir em serviços, tecnolo-gia e iniciativas de apoio a uma população em envelhecimento ativo não é apenas po-liticamente correto, mas também economi-camente acertado e compensador.

Em geral, o investimento na habitação, transporte e outras infraestruturas, bem como em todos os tipos de serviços necessários para “uma sociedade para todas as idades”, é necessário e justificado, podendo também impulsionar aeconomia e promover um mercado de trabalho robusto.

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Em geral, o investimento na habitação, transporte e outras infraestruturas, bem como em todos os tipos de serviços ineren-tes a “uma sociedade para todas as idades”, é necessário e justificado, podendo também impulsionar a economia e promover um mercado de trabalho robusto com as res-petivas consequências positivas em termos de oportunidades empresariais e para os or-çamentos públicos. As soluções detalhadas irão variar de país para país, mas é impor-tante garantir que enfrentar os desafios de criar “uma sociedade para todas as idades” se torna um dos focos da agenda política.

Os sistemas de pensões públicos e priva-dos, bem como os regimes de reforma com base empresarial, devem ser concebidos de forma a proporcionar às pessoas idosas incentivos para permanecerem no trabalho enquanto desejarem e poderem – e os em-pregadores devem ser encorajados a ofere-cer vantagens e condições de trabalho favo-ráveis e adaptadas aos trabalhadores que o façam. Isto seria economicamente benéfi-co para as empresas públicas ou privadas, dado que as competências adquiridas pela força de trabalho estariam disponíveis por mais tempo e, ao mesmo tempo, iria direta e indiretamente aliviar a pressão financeira sobre os sistemas de proteção social.

As empresas são aconselhadas a seguir a lógica de “investir no futuro se quiser ser bem-sucedido a longo prazo”, e a considerar o desenvolvimento e investimento na pro-dução de bens e serviços para as pessoas idosas a fim de serem capazes de atender a crescente exigência deste grupo de consu-midores em rápida expansão. Corretamen-te abordada, a população idosa representa enormes oportunidades de negócio numa grande variedade de áreas, prometendo lu-cros bastante proveitosos.

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Nichos e novas oportunidades de mercado

3.21Depois da reforma as pessoas idosas nor-malmente têm muito mais tempo disponível do que antes; podem escolher livremente atividades, de acordo com os seus interes-ses e capacidades, e podem decidir sobre o uso do seu orçamento pessoal median-te preferências. Tal torna-os um segmento particularmente interessante de consumi-dores de produtos e um grupo importante de utilizadores de serviços de todos os tipos – especialmente quando o número de pes-soas idosas continua e continuará a crescer.

As pessoas idosas têm múltiplas necessi-dades e interesses, pelo que existem diver-sas possibilidades de resposta. Enquanto no passado bens e serviços relativamente uniformes foram produzidos – em termos de funcionalidade, design, cor, etc. – a ten-dência comum de exigência e as ofertas cor-respondentes de bens e serviços tornam-se cada vez mais diversificadas, “personaliza-das”, coloridas e até mesmo modernas.

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As novas oportunidades empresariais que emanam desta tendência de individualiza-ção e personalização no mercado das pes-soas idosas são importantes. O desafio para os empresários em muitas áreas de produ-ção consiste em identificar quais os princí-pios do consumo nas pessoas idosas, quem são os ícones que influenciam a escolha, o que pode fazê-las mudar de preferências, qual a melhor forma de comunicar com elas, o que fazer para criar estreita ligação com os produtos e serviços – e perguntas se-melhantes que podem no passado não ter sido contempladas como relevantes.

Uma vez que não é muito fácil explorar as atitudes e preferências individuais das pes-soas idosas através de pesquisas de opi-nião, canais alternativos de comunicação precisam de ser pensados e estabelecidos. Provavelmente o melhor caminho para ex-plorar as necessidades e opções gerais é o de cooperar de perto com as organizações da sociedade civil que as representam.

Para compreender e identificar os interes-ses e preferências pessoais, as possibilida-des avançadas das TIC modernas são cada vez mais utilizadas – com o risco de infringir a privacidade da pessoa ao violar o direito à proteção de dados pessoais.

Nichos específicos de atividades empresa-riais bem-sucedidas podem ser encontrados nas seguintes áreas: conforto residencial al-tamente personalizado; métodos e sistemas de apoio adaptados aos interesses das pes-soas idosas; lazer em casa; programas de desporto e de entretenimento; dispositivos individualizados de assistência à mobilida-de – apenas para mencionar alguns. Investir fortemente na inovação de bens e serviços nestas áreas será um pré-requisito crucial do sucesso comercial.

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A The Internet of Things e as tecnologias Smart Home para envelhecer bem em casa estão atualmente a formar um novo seg-mento de mercado, que não tem apenas importância social, mas também enorme potencial comercial. Os esforços destina-dos a tornar os produtos e serviços assentes nestas tecnologias mais amplamente acei-tes e distribuídos devem ter continuidade e ser expandidos. O foco principal das in-tervenções públicas deve ser colocado nas atividades de estandardização, permitindo a redução radical dos custos associados à tecnologia. O estímulo à exigência do mer-cado é outra actividade importante para ser publicamente apoiada; isto pode ser alcan-çado através do desenvolvimento de locais de demonstração especializada, campa-nhas promocionais ativas nos meios de co-municação social, atividades de educação e informação a nível municipal, etc.

Recomendações

Modelar novos nichos de mercado na sua convergência gradual àquela que é chama-da de “Silver Economy” é impossível sem se desenvolverem e possibilitarem novos mo-delos de negócio baseados no paradigma da parceria público-privada. Os esforços desti-nados a encontrar novas formas de combi-nar forças de mercado com intervenções pú-blicas em direções prioritárias socialmente importantes devem ter continuidade e ser ampliados. Para isso, vários mecanismos da sociedade civil devem ser aplicados, as me-lhores práticas conduzidas na Europa e no mundo devem ser recolhidas e disponibili-zadas ao público, e a voz das pessoas idosas deve ser representada de modo a desempe-nhar um papel de orientação fundamental.

A definição de segmentos e nichos de mer-cado tradicionais e emergentes, com im-pacto significativo na facilitação da visão do envelhecimento saudável e ativo e que têm por objetivo proporcionar apoio público e incentivos, deve ser feita através da estrei-ta cooperação entre as pessoas idosas e os seus representantes, a comunidade empre-sarial e os governos. Medidas específicas nesta área devem ser apoiadas (por exem-plo, estudos de mercado, iniciativas de coordenação e de trabalho em rede, etc.).

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O futuro das tecnologias para o envelheci-mento saudável e ativo que, por sua vez, irá criar vários nichos e oportunidades de mer-cado, está ligado à convergência de várias tecnologias, atualmente separadas, para moldar um contexto de vida inteligente para envelhecer bem. Este ambiente será ca-paz de controlar todos os aspectos da vida quotidiana de uma pessoa idosa (compor-tamento, emoções, estado de saúde físico e cognitivo), em casa e fora dela, detetar ne-cessidades e problemas, prestar todo o tipo de apoio onde e quando necessário, integrar e conectar todos os agentes-chave internos e externos, etc. O apoio público à investiga-ção e ao desenvolvimento deve estar focado em permitir a integração de soluções holís-ticas nas ciências sociais e comportamen-tais, nas TIC e robótica, nas tecnologias de sensores, na investigação médica, etc. Dado que esta visão do futuro ambiente de vida inteligente para envelhecer bem levanta preocupações éticas significativas, devem ser reunidos esforços acrescidos em maté-rias de privacidade, segurança e confiança.

As tecnologias que permitem a monitoriza-ção do estado de saúde, deteção precoce e prevenção das principais doenças relacio-nadas com a idade, apoiando estilos de vida saudáveis e ativos, têm o grande potencial de melhorar a qualidade de vida das pes-soas idosas e reduzir significativamente os custos públicos associados à saúde e cuida-dos; sendo que este potencial continua por explorar. Por um lado, os esforços devem ser orientados para a criação de melhores con-dições de mercado para a proliferação des-tas tecnologias, através da otimização dos quadros regulamentares (por exemplo, al-terando a regulamentação das seguradoras de saúde de modo a incluir soluções preven-tivas do espectro daquelas que são abrangi-das pelos seguros de saúde e de cuidados). Por outro lado, medidas de promoção, edu-cação e consultoria devem ser apoiadas para dar forma a uma exigência básica de produtos e serviços. Em geral, precisamos de formar uma nova cultura, uma nova ati-tude nas atuais e futuras pessoas idosas em relação à sua saúde, contemplando-a como um bem supremo a ser protegido e cuidado.

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Sociedade em envelhecimento e crescimento económico sustentável

3.22

A “Silver Economy”, nos seus distintos do-mínios, oferece oportunidades económicas interessantes que vão desde os cuidados de saúde aos serviços sociais, da educação ao lazer, da comunicação à informação, do transporte e mobilidade aos dispositivos de ambientes de vida assistida (AAL), de ali-mentos básicos a bens de luxo e muitos ou-tros produtos, até aos serviços e processos que as pessoas idosas precisam ou tendem a escolher.

É importante compreender que as contri-buições das pessoas idosas para o sucesso industrial e para o crescimento económico sustentável são consideráveis e continuam a aumentar. Na verdade, desempenham papéis fundamentais como produtores e consumidores – e devem, no futuro, ser le-vadas mais a sério e envolver-se muito mais estreitamente na ciência e investigação, bem como em toda a cadeia de produção de bens e serviços relacionados consigo.

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Considerando o atual crescimento da lon-gevidade, as previsões das tendências de-mográficas e as possibilidades de novas tecnologias, os mercados que servem a po-pulação idosa europeia provavelmente irão continuar em expansão. Estes irão substituir outros segmentos industriais outrora muito importantes à escala mundial. Consequen-temente, a competição internacional tam-bém irá crescer nesta área e certamente tor-nar-se-á muito exigente.

Até ao momento, as indústrias europeias neste domínio são (ainda) bastante inventi-vas, flexíveis e competitivas a nível mundial. No entanto, com exceção das poucas corpo-rações internacionais de grande dimensão, a maioria são pequenas e médias empresas (PME) com um foco de negócio local. Parti-cularmente, as PME desempenham um pa-pel muito importante no setor dos serviços, dos equipamentos e dos bens de consumo para pessoas idosas, não obstante o seu po-tencial no mercado internacional ser ainda pouco explorado.

As PME desempenham um papel muito importante no setor dos serviços, dos equipamentos e dos bens de consumo para pessoas idosas.

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Recomendações

Recomenda-se que a cooperação e o con-tacto mais estreitos entre as organizações que representam a geração mais idosa e a indústria sejam estabelecidos, a fim de mu-dar a visão comum e política das necessi-dades deste segmento populacional de um “fardo” para uma “oportunidade de negó-cio”.

Devem ser conduzidas pela UE iniciativas para auxiliar o segmento de negócio das PME, mais especificamente daquelas cuja atuação é local, a desenvolver tecnologias e serviços inovadores para atender às neces-sidades locais. As PME também devem ser apoiadas na ação de encontrar parceiros nacionais e estrangeiros para uma interna-cionalização dos seus negócios.

Programas de aprendizagem, ao longo da vida, no campo socioeconómico devem ser concebidos a todos os níveis, com e para todas as gerações, acolhendo pessoas de todas as idades, visando promover a trans-missão e a permeabilidade de ideias, expe-riências e conhecimentos entre os diferen-tes grupos etários, assim como reforçar a mútua compreensão e cooperação em toda a pirâmide etária.

Deve ser dada uma importância particular ao apoio das estruturas e instituições envol-vidas na identificação de problemas e opor-tunidades ainda inexplorados sobre o enve-lhecimento da sociedade e na pesquisa de soluções inovadoras e eficazes para resol-ver tais problemas e beneficiar de todas as oportunidades possíveis.

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Tem de ser apreciado e valorizado que as pessoas idosas, com toda a sua experiência de vida e conhecimento acumulado, podem desempenhar um papel importante na pro-dução e nas atividades da sociedade cientí-fica, educativa, cultural e artística. Estas são “indústrias” que supostamente continuarão a desenvolver-se fortemente na Europa e que contribuirão ainda mais significativa-mente para a criatividade e riqueza da re-gião.

Uma vez desenvolvidas invenções e solu-ções de problemas promissoras, as auto-ridades públicas, a todos os níveis, devem incentivar e facilitar a implementação atra-vés do apoio financeiro, simplificação dos processos administrativos e, quando do in-teresse geral, do reconhecimento público e promoção dessas soluções. Esta assistência tem de ser considerada parte importante do investimento no futuro, incentivando o es-pírito empresarial e a capacidade de assu-mir riscos.

Todos os projetos socioeconómicos impor-tantes para a sociedade devem ser cuida-dosamente analisados quanto ao equilíbrio entre investimento económico e social, à sustentabilidade e potencial para atingir eficazmente o objetivo, e no que diz respei-to aos benefícios que irão proporcionar não só às gerações presentes, como também às gerações ainda por nascer.

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Orientações estratégicas e políticas necessárias

3.23A política hesitou durante longo tempo em aceitar os dados demográ-ficos apresentados pela investigação e em reagir de maneira constru-tiva às consequências previsíveis. Isto foi principalmente causado pelo facto de a sociedade europeia ter mantido uma atitude pautada pelo pouco respeito e honra para com as pessoas idosas, colocando-as na sombra das preocupações políticas logo que param de trabalhar para beneficiar dos seus direitos de pensão.

Apesar de o “Plano Internacional de Madrid sobre Ação no Envelheci-mento” das Nações Unidas, em 2002, ter uma abordagem estratégica muito abrangente, contendo cerca de 130 questões, conceitos e pon-tos de ação, dirigidos às mudanças e às necessidades das sociedades em envelhecimento e das pessoas idosas, assim como a “Estratégia de Implementação Regional”, na qual os 56 Estados-membros da Comis-são Económica das Nações Unidas para a Europa se comprometeram a implementar o “Plano de Ação Internacional” da ONU, muitos países europeus ainda lutam contra o desenvolvimento de estratégias e polí-ticas sólidas que visem a concretização de uma verdadeira “sociedade para todas as idades”.

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Existe uma certa hierarquia nas responsabi-lidades do Estado para com o ser humano, o que também é válido no que diz respeito às pessoas idosas da sociedade. A primeira e mais geral responsabilidade dos órgãos políticos e da administração pública é o de protegerem a inviolabilidade da dignidade humana e garantirem os direitos fundamen-tais da pessoa. Direitos, liberdades e a pro-messa de segurança, não só têm de estar consagrados nos textos legais, como tam-bém ser adequadamente implementados – o que se traduz num processo permanen-te de monitorização, na necessidade de efi-cácia dos mecanismos de reclamação e no reajustamento.

Uma segunda área particularmente impor-tante para as pessoas idosas é a responsabi-lidade do Estado de oferecer oportunidades de educação adequadas, cuidados de saú-de e proteção social aos membros da socie-dade. O Estado não tem necessariamente de providenciar estas medidas diretamente, mas pode, e deve, delegá-las a outros agen-tes, definindo para esse efeito regras em ter-mos de acessibilidade, segurança, viabilida-de e qualidade. É certamente socialmente vantajoso que as pessoas tenham hipótese de escolha entre diferentes prestadores – sejam eles públicos, do mercado privado ou organizações da sociedade civil.

Outro elemento-chave das instituições e administração política do Estado é o de pla-nearem para o futuro da sociedade, para o bem-estar contínuo das populações e para o crescimento económico e sustentabilida-de. Tal pode ser considerado a tarefa mais difícil, uma vez que não envolve apenas re-solver as dificuldades presentes e combina-ções materiais favoráveis, como também a vontade e a capacidade de olhar décadas à frente, de adotar uma abordagem filosófi-ca de imaginar o futuro, de decidir sobre os investimentos a longo prazo nos seres-hu-manos e nas infraestruturas – e até criar um “plano B” para a eventualidade de as coisas se desenvolverem de forma totalmente di-ferente do previsto e esperado.

Para o fazer com um sucesso razoável, o estreito envolvimento de toda a popula-ção num grande discurso sobre o futuro da sociedade europeia é de suprema impor-tância. Este deverá abranger as condições sociais presentes, analisar as deficiências atuais, avaliar as carências vigentes e futu-ras, e ter em conta as necessidades, esperan-ças, medos e aspirações das pessoas. Deve ser dada uma atenção particular à possível divergência de preocupações e interesses entre as diferentes gerações – incluindo as que ainda não nasceram – e à criação de um equilíbrio para encontrar um compromisso satisfatório.

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Visto que a participação do segmento de pessoas idosas nestes esfor-ços importantes e dinâmicos da sociedade atualmente é, no pior dos casos, inexistente ou, na melhor das hipóteses, subdesenvolvida, a organização da sociedade civil que representa as pessoas idosas de-tém a grande responsabilidade – e também a tremenda oportunida-de – de ajudar a superar esta deficiência através da partilha de co-nhecimento sobre as verdadeiras necessidades, valores, interesses, capacidades, preferências, opiniões e aspirações das pessoas idosas, assim como para oferecer tais informações aos agentes que estão en-volvidos nos processos de tomada de decisão sobre políticas, estra-tégias, procedimentos, bem como de serviços particulares dos quais as pessoas idosas são utilizadoras.

Existe uma certa hierarquia nas responsabilidades do Estado para com o ser humano, o que também é válido no que diz respeito às pessoas idosas da sociedade.

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Considerando que em 2025 mais de 20% dos europeus terão no mínimo 65 anos, a União Europeia deveria ser pioneira no aproveitamento e utilização sistemática da experiência e bom senso das pessoas ido-sas no trabalho para o futuro da sociedade europeia. Em particular, a Comissão Euro-peia deve estabelecer um “Conselho das Pessoas Idosas” democrático, enquanto quadro consultivo para todos os processos de planeamento e tomada de decisão que potencialmente afetem os cidadãos euro-peus numa perspetiva de percurso de vida. Nas composições de tais conselhos deve ser dada especial atenção à representatividade dos seus membros – especialmente em ter-mos sociais, o que pode variar consoante o país.

O diálogo civil estruturado, dentro dos pro-gramas de envolvimento público, com as organizações das pessoas idosas ou que representem os seus interesses, devem tor-nar-se um padrão, um mecanismo integran-te das negociações políticas relevantes, do desenvolvimento de estratégias, da imple-mentação de programas e dos processos de monitorização/avaliação a nível nacional, regional e local.

Recomendações

Uma vez que o envelhecimento da popu-lação permanecerá uma característica da sociedade europeia e determinará quase todos os aspectos do futuro, os decisores em todos os domínios e níveis de alguma forma influenciados por este facto estão devidamente aconselhados a integrar sis-tematicamente o envelhecimento no seu trabalho conceptual, político, estratégico e programático, a introduzir os temas do en-velhecimento enquanto tópicos transver-sais – como aconteceu com as preocupações ambientais – e a não pensar que ainda há tempo suficiente para lidar com as questões pendentes e com o planeamento do futuro.

Os processos de tomada de decisão relacio-nados com as questões do envelhecimento devem, em primeira instância, ser guiados pelas capacidades, necessidades e direitos– numa perspetiva de percurso de vida – con-templando desde a situação do indivíduo, passando pelas preocupações dos vários grupos etários, até ao interesse da socie-dade em geral. Paralelamente, os valores éticos, como a ética do cuidado, a vulnera-bilidade das pessoas idosas e a necessida-de de “compreensão e bondade”, precisam veemente de ser tidas em consideração.

Dado que serão necessários compromissos entre os diferentes interesses em competi-ção, todos os agentes-chave têm de estar envolvidos no necessário levantamento de factos, na interpretação dos resultados, na busca de soluções, nos processos de toma-da de decisão, bem como na monitorização e avaliação.

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Os programas de construção de informação e capacitação devem ser oferecidos a todos os decisores com potenciais responsabilida-des nas políticas de envelhecimento, com o intuito de aumentar a informação objetiva e a capacidade de avaliar problemas, de fornecer ferramentas para uma melhor to-mada de decisão em conjunto com as par-tes interessadas ou afetadas, mas também para uma cooperação mais estreita, troca e reflexão comum de todos os agentes-chave.

Uma vez que a participação e envolvimento de todos os grupos da população são ele-mentos fundamentais na sociedade demo-crática e que asseguram a coesão social, os políticos, tal como os líderes da sociedade civil, devem tomar todas as medidas possí-veis para apoiar e reforçar os mecanismos de participação e envolvimento de todos os grupos etários no funcionamento e desen-volvimento dos processos da sociedade. A este respeito, deve ser dada especial aten-ção à cooperação eficaz entre as gerações e à imaginação e teste de processos inova-dores quando os conceitos tradicionais per-dem a sua atratividade ou se tornam inefi-cazes.

As questões de uma melhor compreensão do envelhecimento da sociedade, das ca-pacidades e necessidades das pessoas ido-sas, da imagem transmitida sobre estas, bem como das relações entre as gerações, devem tornar-se temas gerais da educação formal. Em centros de excelência estes te-mas devem ser tratados pela ciência e pela investigação – sempre com um forte envol-vimento dos interessados.

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A fim de serem credíveis e de as suas deci-sões serem aceites pela generalidade dos indivíduos, os políticos devem sempre es-forçar-se para procurar um equilíbrio jus-to entre as políticas do envelhecimento e outras preocupações sociais importantes, tendo em mente que orientações e decisões tomadas vão determinar a natureza e quali-dade da sociedade no futuro, e que a juven-tude de hoje continuará a subir a “escada das gerações”.

As questões de uma melhor compreensão do envelhecimento da sociedade, das capacidades e necessidades das pessoas idosas, da imagem transmitida sobre estas, bem como das relações entre as gerações, devem tornar-se temas gerais da educação formal.

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Perspetivas e observações finais

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Os resultados do projeto de investigação e coo-peração “Inovação social no âmbito do envelhe-cimento saudável e ativo para uma economia sustentável e em crescimento” (SIforAGE) re-velaram claramente que ainda existem muitos aspectos importantes no envelhecimento da sociedade europeia – com elevado significado coletivo e individual – que até agora não foram suficientemente explorados. Também mostra-ram que uma série de problemas bem-conhe-cidos, e até mesmo urgentes, ainda não foram satisfatoriamente abordados e que existe uma necessidade de mais programas e estratégias favoráveis, inovadores e eficazes, com o pro-pósito de garantir que a Europa se torna “uma sociedade verdadeiramente amiga de todas as idades”.

Os resultados do projeto SIforAGE sugerem igualmente que existem por todo o lado abor-dagens inovadoras impressionantes e muito bem-sucedidas, desenvolvidas e implementa-das por grupos de ação muitas vezes modestos, PME, organizações da sociedade civil, investiga-dores interessados e comprometidos, ou mes-mo por grupos de autoajuda. Mas é bastante raro que tais valiosos esforços e experiências úteis sejam conhecidos para além de um pe-queno círculo de agentes-chave envolvidos ou mesmo partilhados a nível nacional ou transna-cional. Isso significa que imensa boa vontade, imaginação criativa e prática bem-sucedida a nível local e em áreas específicas, permane-cem confinados “no escuro” para outras partes eventualmente interessadas e não podem ser aproveitados pela sociedade em geral.

Perspetivas e observações finais

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Por conseguinte, as seguintes propostas são feitas à Comissão da União Eu-ropeia:

No âmbito do “Horizonte 2020”, deve ser reservado financiamento específi-co para a investigação sobre as consequências a longo prazo das alterações demográficas nos regimes fiscais e nos sistemas de pensões, nas estruturas de habitação e de transporte, na saúde e nas infraestruturas sociais, e as-suntos semelhantes – com especial ênfase nas abordagens e soluções ino-vadoras, bem como na participação das pessoas idosas nessa investigação. Os resultados devem ser sistematicamente considerados em todos os parâ-metros de prioridade, orçamento e investimentos que tenham impacto no desenvolvimento futuro das comunidades e da sociedade em geral.

Visando uma abordagem coordenada e orientada na investigação do enve-lhecimento, em todos os Programas Temáticos do Horizonte 2020 devem ser estabelecidos mecanismos de cruzamento de informação e uma coor-denação especial. O principal objetivo da coordenação é assegurar que o conjunto de prioridades estratégicas relacionadas com o envelhecimento e o bem-estar é constantemente procurado através de todos os canais de fi-nanciamento. Este mecanismo deve colocar um foco específico nos desafios sociais (Societal Challenges- SC), sobretudo nos SC1 “Mudança demográfica na saúde e bem-estar” e nos SC6 “A Europa num mundo em mudança – so-ciedades inclusivas, inovadoras e reflexivas”, bem como na “Ciência com e para a Sociedade” e outros programas dentro dos grupos “Ciência Excelen-te” e “Liderança Industrial”. Além disso, deve espalhar a sua influência so-bre outros programas financiados pelo orçamento do Horizonte 2020 (por exemplo, Programas de Ambiente de Vida Assistida, Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia).

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Este órgão de divulgação e documentação a nível europeu também deve ter um mandato para procurar ativamente ideias inovadoras, soluções e práticas no domínio das políticas, estratégias, programas e ações sobre o envelhecimento.

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A coordenação pode ser implementada através da criação de uma força de trabalho especial (por exemplo, Grupo Consultivo, Comité Inter--Direção), envolvendo funcionários relevantes da Comissão Europeia e peritos externos que seriam responsáveis pela produção regular de documentos de trabalho internos e outros ma-teriais utilizados para definir prioridades no apoio à investigação. Acordos organizacionais, administrativos e financeiros correspondentes devem permitir o funcionamento eficaz e a in-fluência desta força de trabalho.

A Comissão Europeia deve estabelecer – pos-sivelmente numa estrutura independente e apropriada já existente – um órgão e mecanis-mo através do qual ideias inovadoras, soluções e práticas no campo das políticas, estratégias, programas e todo o tipo de ações que abor-dam questões cruciais do envelhecimento da população e da situação das pessoas idosas na sociedade europeia, possam ser arquivadas, sistematicamente documentadas e disponibi-lizadas a todos os agentes interessados na Eu-ropa, independentemente da respetiva origem. Os contribuintes do sistema e os utilizadores da documentação podem ser órgãos políticos ou de definição de políticas, administrações públi-cas, instituições de ciência e investigação, mer-cados prestadores de bens e serviços, institui-ções de cuidado, organizações voluntárias de e para grupos específicos, qualquer outra entida-de cujo objetivo assenta no interesse geral, ou mesmo indivíduos.

Este órgão de divulgação e documentação a nível europeu também deve ter um mandato para procurar ativamente ideias inovadoras, soluções e práticas no domínio das políticas, estratégias, programas e ações sobre o enve-lhecimento. Deve também difundir, para poten-ciais interessados, informações amplamente estruturadas sobre o conteúdo do seu banco de dados e criar mecanismos fáceis de lidar para aceder à documentação reunida.

Importa incentivar as contribuições voluntárias dos agentes-chave através da organização de um “Prémio de soluções inovadoras” em dife-rentes setores do envelhecimento.

A investigação deve ser iniciada e adequada-mente financiada para analisar os elementos e características salientes de abordagens inova-doras bem-sucedidas e extrair as consequên-cias práticas a partir destas. A equipa de in-vestigação deve ser composta por uma grande variedade de diferentes especialistas compe-tentes – semelhante ao consórcio SIforAGE – e incluir os direta ou indiretamente envolvidos.

Informação e formação sobre como usar efeti-vamente as experiências comprovadas, mesmo sob condições diferentes, através de métodos de “imitação criativa”, devem ser proporciona-das. Ao mesmo tempo, os canais de informação trans-sectorial e transnacional e as estruturas de cooperação devem ser reforçados.

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Sobre o Projeto SIforAGE

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Elaborado por Elena Urdaneta - Reestruturado por D. Jarré

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Descrição e tarefas do projeto

5.1“A inovação social no âmbito do envelheci-mento saudável e ativo para uma economia sustentável e em crescimento” (SIforAGE) é um projeto europeu do Programa-Quadro VII, “Science-in-Society 2012-2016”, que visa promover o envelhecimento saudável e ati-vo na sociedade, reforçando, para o efeito, a cooperação entre investigadores, decisores políticos, criadores de produtos e serviços, organizações da sociedade civil e a socieda-de em geral.

Os dois desafios principais do projeto SIfo-rAGE são:

disseminar o conhecimento científico na sociedade através de atividades de sensibi-lização;

promover a participação das organizações da sociedade civil na investigação, a fim de permitir que os utilizadores finais moldem os projetos de investigação futuros destina-dos a melhorar o envelhecimento saudável e ativo.

Disseminar o conhecimento científico na sociedade através de atividades de sensibilização.

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Os principais objetivos são:

1.Construir um movimento que permita a promoção do envelhecimento saudável e ativo na sociedade

Construir uma definição de envelhecimento saudável e ativo baseada em evidências.

Construir um site virtual – uma incubadora social <www.siforage.eu/> – onde os agen-tes-chave do envelhecimento saudável e ativo irão trocar, debater e cooperar com o objetivo de o promover. A plataforma de aprendizagem social já se encontra acessí-vel em <http://siforage.sociallearningsys-tem.com/site>, bem como um serviço de informações on-line <www.siforage.eu/con-tact.php> com respostas baseadas em evi-dências.

Valorizar a cadeia do envelhecimento sau-dável e ativo que abrange todas as áreas envolvidas no processo de envelhecimento saudável, incluindo a saúde física, cognitiva e mental, o compromisso social, a vida ati-va, a capacidade funcional e a independên-cia funcional.

Refletir sobre cinco documentos dinâmicos – escritos no âmbito das Unidades de Ges-tão do Conhecimento (Knowledge Manage-ment Units- KMUs) – que relacionam as cinco questões-chave do envelhecimento saudá-vel e ativo:

como prolongar os anos de vida saudável (KMU1);

como reforçar a autonomia e a tomada de decisão das pessoas idosas, particularmente daquelas que sofrem da doença de Alzheimer (KMU2);

como permitir que as pessoas idosas sejam ativas na sociedade (KMU3);

como as comunidades e o setor privado podem promover um ambiente “amigo do envelhecimento” (KMU4);

como os novos serviços e tecnologias podem ajudar a melhorar a experiência de envelhecimento em casa (KMU5).

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2.Envolver a sociedade na investigação

Propor uma metodologia adequada para integrar os utilizadores finais no desenvolvi-mento de tecnologia e serviços, através da ativação de locais de interação denomina-dos Technology Experience Cafés (TECs).

Avaliar as necessidades das pessoas idosas em termos de investigação relacionada com a idade. <http://www.siforage.eu/publica-tions.php>

Promover o envolvimento das pessoas ido-sas na investigação através de programas de intervenção locais. <http://www.sifora-ge.eu/science_corner.php#.V8alVJiLS00>

Construir um guia de recomendações para aumentar o envolvimento das pessoas ido-sas na investigação. <http://www.siforage.eu/publications.php>

Prevenir atitudes de discriminação etária através de programas de intervenção com crianças e jovens. (Images e-book <www.le-yaonline.com/pt/livros/ciencias-sociais-e--humanas/antropologia-e-sociologia/ima-ges-ebook/>)

3.Incentivar os investigadores a considera-rem as necessidades sociais de investiga-ção

Avaliar os processos de tomada de decisão para que a investigação futura se molde ao envelhecimento saudável e ativo.

Promover a responsabilidade ética e social na investigação do envelhecimento, no-meadamente através do lançamento de um prémio de condecoração de um projeto de investigação no âmbito do envelhecimento saudável e ativo que considere a participa-ção ativa da sociedade e que tenha elevado impacto social. <Http://www.siforage.eu/prize.php>

4.Promover a inclusão do conhecimento científico na formulação de políticas

Analisar como os decisores políticos imple-mentam programas de promoção do enve-lhecimento saudável e ativo e de prevenção da discriminação etária em toda a Europa.

Analisar os processos de tomada de decisão na formulação de políticas.No projeto foi concluída a tarefa de analisar o modelo de tomada de decisão a nível po-lítico em países europeus, nomeadamente no Parlamento Europeu, e em organismos internacionais, como nas Nações Unidas. <Http: //www.siforage. Eu / publications.php>

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6.Promover a introdução de serviços e pro-dutos inovadores para o envelhecimento saudável e ativo

Analisar como os empresários criam novas empresas, serviços, produtos e tecnologias para o envelhecimento saudável e ativo.

Propor um guia prático de formação de agentes-chave no setor privado, nas auto-ridades públicas e nas organizações da so-ciedade civil, capacitando-os para inovar no campo do envelhecimento saudável e ativo.

7.Divulgar informação e conhecimento en-tre os agentes-chave

Divulgar descobertas e resultados entre membros da comunidade científica, socie-dade em geral, organizações da sociedade civil e decisores políticos.

Elaborar recomendações para promover a formulação de políticas baseadas em evi-dências. <Http://www.siforage.eu/publica-tions.php>

5.Promover a participação dos decisores políticos na investigação

Organizar quatro sessões de aprendizagem mútua para melhorar a participação dos de-cisores políticos no processo de investiga-ção. Os contactos foram selecionados e in-quéritos e sessões de aprendizagem mútua para os decisores políticos estão a ser pro-jetados, alguns já começaram. A plataforma e o programa educacional criados para este propósito estão a funcionar, estamos a ten-tar conectar os decisores políticos a nível lo-cal e nacional. A plataforma está disponível em <www.mutualearning.net/cms/>

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Parceiros envolvidos no projeto

5.2

O consórcio SIforAGE, composto por 17 par-ceiros da Europa, da Turquia e do Brasil, in-tegrou uma ampla gama de agentes-chave ao longo da cadeia de valor da inovação, tais como fundações privadas, centros de cuidados, organizações da sociedade civil representantes das pessoas idosas, univer-sidades, decisores de políticas públicas, grupos de reflexão, PME e peritos a nível eu-ropeu e internacional, a fim de colmatar a fragmentação existente entre si.

Todos os parceiros estiveram muito empe-nhados no trabalho e espírito do SIforAGE. Um nível ainda mais elevado de compreen-são das necessidades, atitudes e desafios das pessoas idosas foi alcançado.

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O projeto é coordenado pela Universidade de Barcelona, com o Dr. Antoni Font a de-sempenhar as tarefas principalmente de-dicadas à gestão de atividades e a assumir a responsabilidade total pela articulação entre os parceiros e a Comissão. A gestão é apoiada pelo escritório administrativo, responsável por todos os aspectos adminis-trativos, gestão financeira e calendários de relatórios e entregas.

A coordenação científica do projeto foi confiada ao Basque Culinary Centre, repre-sentado pela Dra. Elena Urdaneta, a coor-denadora científica responsável pela coor-denação das atividades de apoio e difusão entre os parceiros. Além disso, coordena as tarefas relacionadas com a articulação en-tre os agentes-chave, a sociedade e as ativi-dades científicas. Ambos os coordenadores trabalham em estreita cooperação.

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The SIforAGE consortium, consisting of 17 partners.

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Metodologia de trabalho do projeto

5.3A metodologia do projeto baseou-se no mé-todo científico baseado em evidências, com uma forte abordagem participativa focada na aprendizagem mútua. O projeto está estruturado em 10 áreas dis-tribuídas por pacotes de trabalho (work packages - WPs) que se inter-relacionam em determinados pontos para obter melhor de-sempenho entre parceiros, agentes-chave e pessoas idosas. As atividades pertencen-tes aos WPs são apoiadas horizontalmente por Unidades de Gestão do Conhecimento (Knowledge Management Units - KMUs), com reuniões semestrais para discutir os aspectos relevantes decorrentes das ativi-dades de apoio organizadas no WP2 a WP8. Cinco Unidades de Gestão do Conheci-mento (KMUs) foram organizadas em áreas temáticas fundamentais na investigação do envelhecimento. Essas KMUs serviram como estrutura para estabelecer um es-paço de participação para cerca de 30 a 40 agentes-chave que trabalham no campo do envelhecimento saudável e ativo, abarcan-do desde investigadores, organizações da sociedade civil, empresas, até aos profissio-nais e grupos de reflexão.

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Resultados esperados do projeto

5.4

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Os principais resultados do projeto são:

Mais de 2.000 agentes-chave envolvidos no envelhecimento saudável e ativo re-presentados e mobilizados: os parceiros representam e envolvem diferentes agen-tes-chave na investigação do envelheci-mento e na cadeia de valor da inovação, cobrindo a Europa, a Turquia e o Brasil, en-tre redes e federações europeias que atin-gem um grande número de agentes-chave. Para além dos parceiros, as atividades or-ganizadas no âmbito do projeto mobilizam e atraem um número importante de agen-tes-chave por toda a Europa, o que confe-rirá aos resultados alcançados um impac-to e uma relevância mais vastos. O projeto também teve contacto com especialistas do Comité Consultivo, que correspondem a representantes de relevância internacional que asseguraram a pertinência das reco-mendações políticas alcançadas no projeto e o impacto social das atividades realizadas

Abordagem da inovação social no en-velhecimento a partir da perspetiva da ciência e da sociedade: o projeto cobriu diferentes aspectos da cadeia de valor da investigação em matéria de envelhecimen-to, indo desde investigadores e cientistas de base, decisores de políticas públicas, criadores de tecnologias e empresas, até aos utilizadores finais e à sociedade civil. Por conseguinte, as questões abordadas no projeto refletem as preocupações dos dife-rentes agentes-chave, contribuindo para as-segurar um impacto real no envelhecimento saudável e ativo ao nível da UE.

Criação de mecanismos de apoio à coo-peração dos agentes-chave: o projeto de-senvolveu diferentes mecanismos de apoio para alcançar resultados sustentáveis e re-levantes, contribuindo para a incorporação da ciência na sociedade em matéria de in-vestigação do envelhecimento e no aper-feiçoamento da cooperação transnacional com os países representados no consórcio (Brasil, Turquia) e no Comité Consultivo, que, por sua vez, também implementaram políticas inovadoras de envelhecimento saudável e ativo.

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