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Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

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Editora: Poetiguares (ICAP) | Autora: Civone Medeiros | ([email protected]) | Ano: 2009 | Edição: 2ª | Número de páginas: 66 | Formato: A5 | A obra está sob Licença CREATIVE COMMONS 2.5 Brasil (www.creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br)

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E S CR I T U RA S SAN GRA DA S

Livro #1

Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Civone Medeiros

Page 3: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Inst i tuto Cultura l e Audiovisual Pot iguar

Realização Colaborativa

Civone Medeiros [c.m] 2009

Esta obra está sob Licença CREATIVE COMMONS 2.5 Brasil (www.creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br) Você pode: copiar, distribuir, exibir e executar a obra; criar obras derivadas. Sob as seguintes condições: Atribuição – Você deve dar crédito ao autor original, da forma especificada pelo autor ou licenciante. Uso Não-Comercial – Você não pode utilizar esta obra com finalidades comerciais. Compartilhamento pela mesma Licença – Se você alterar, transformar, ou criar outra obra com base nesta, você somente poderá distribuir a obra resultante sob uma licença idêntica a esta. Para cada novo uso ou distribuição, você deve deixar claro para outros os termos da licença desta obra. Qualquer uma destas condições podem ser renunciadas e/ou negociadas, desde que Você obtenha permissão da autora. Fale com Ela

[email protected]

Rosa Maciel

Fotos da Capa

A. Martins

Montagem/Fotos

Camila Loureiro

Revisão

FICHA CATALOGRÁFICA

www.naredecomcivone.blogspot.com

Medeiros, Civone, 2009 Escrituras Sangradas – Livro #1 – Toscas Fatias de Escrevinhaduras / Civone Medeiros. – 2ª Ed. – - Natal/RN: Coleção POETIGUARES, 2009/10

66 p.

1. Poesia. 2. Literatura Brasileira. 3. Poesia Potiguar.

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Em homenagem à Fernando [tantas] Pessoas

Clarice Lispector

Bosco Lopes

Helena Kolody

Allen Ginsberg

e

Edgar Borges [Blackout]

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Dedico à Meus pais, Maria Ivone e Cícero Lourenço

Bianca Medeiros, minha filha

Alexander Tönig

GAHP - Grupo Habeas-Corpus Potiguar

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UMA POÉTICA CORPORAL Falar sobre a poesia de Civone Medeiros é se colocar diante do poema moderno e,

de imediato, indagar o que seria uma composição poética, pelo menos, tendo em

vista a apreensão ou a elaboração da poesia no poema. Inspiração ou transpiração.

Eis o dilema da poesia contemporânea. É impossível estabelecer um tipo de

composição ou um juízo de valor absoluto na poética hodierna, já até então

problematizada por Rimbaud e Mallarmé, em suas diferenças estéticas. Não há

uma determinante composicional hoje no fazer poético. O ato poético é um ato

íntimo e solitário, sem testemunha. Cada poeta tem sua verve. Seu timbre, sua

opção e rumo, seja de que maneira for. Poesia do risco. Poesia do som. Poesia do

grito. As diferenças composicionais são permanentes travessias, sem nenhuma

fórmula fixa. Olhar com olhos livres. Desse ponto de vista, a problematização

recorrente no fazer poético de Civone seria a nível de metalinguagem: o que é

poesia? Como se apreende ou elabora-se a poesia? Nos fatos, nos acontecimentos,

na experiência ou na lapidação vocabular pura? Somente na leitura das “toscas

fatias de escrevinhaduras” do livro “Escrituras Sangradas” estas indagações poderiam

ser respondidas. A composição poética de Civone Medeiros se estabelece nas

relações sujeito/objeto, ou seja, corpo/mundo, onde se perpassa uma poética

truncada e pontilhada sob um eu - poético fragmentado e sussurrante. Poética de

cunho pagão, sugada e sangrada nas sagrações profanas do habitante humano,

apreendida e elaborada nas experiências vivenciais, tendo o corpo como foco

molecular. Poética mundana. Ritmo solto e trovejante. Derramagem coisificada.

Arte/natureza. Corpo/consciência como travessia poética: “Golfar poesia como

quem goza e esporra/Como quem orgasma em gozo/Como quem sua e assume” a sua

condição de fazer poesia. Longe do academicismo. Inspiração. Transpiração.

Respiração. Pulsação: “Ara e sangra o coração cético emotivo/que pulsa em corpo”.

Metalinguagem gravita na linguagem dessa camaleoa potiguar: na busca

vocabular simples, na tortuagem sintática e no roteiro salpicado. Poesia e prosa:

proesia. Poética oxidada pela ferrugem da ventania e do mar. Artéria da alma do

mundo urbanóide. Civone Fênix. Ser devorativa e criativa: MamiferAntropofágica

oswaldiana: “Não arengo mais nem com a rima nem com arames farpados”. Dicção

toante e consoante: sopro corporal como forma poemática. Consciência de um

fazer poético: “pretensão de poetar ocasos acasos aos casos”. O corpo fala uma lírica

aliterante e reticente, vestida na estética do precário: entre o comum e a

complexidade, o banal se torna original. Poética da confissão da carne/alma se

fazer poesia na lida cotidiana. “Vai-se saturno, ficam-se os anéis”, sem abrir mão das

“toscas improvisações sangradas”. Fluxo corporal assoante. Ritmos. Diálogos.

Roteiros. Enfim, Civone é uma poeta que se doma com o pé sobre a garganta de

sua própria canção.

Bianor Paulino da Costa

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Um roteiro guisado, de sugesta:

Inventário d'uma morta > Pré vidência > Solidão de Cacto num Jardim

Urbano > Transparências > Revoada > Sempre outra > Imprópria >

Gravita > Mamiferantropo > Rama Bianca > Leitura reticente >

Ruminações > As pessoas podem ser anjos > [a] Culpa não cabe > Arribar

> Enovic > Afins > Todas as Eras > Ás > Escarcéus > Labaredas >

Florestas d’arranha-céus > Cheiro de pedra > Saudade nada > Vinda Vida > Silêncio sem rumo > Chama > Historieta d'uma Mulher de Ribanceira de

Porto > Jorros > Desvarios > Mulher > Roxo, Roxo, Roxo > Rimance > O

Beijo! > Olho > Passeio a ponte Potengi > Rude Poesia > Esculhambo meu

opúsculo > Ab-sinto > Tragos > Bardos > E’screvoletras > Sangra feito

regra > Sangra da sinistra > Etopéia a gosto > Bilhete da Ribeira > Elo >

Natal da gema > Espuma aos pés > Viver > Flocos de neve > Phoenix > Face > Sinas e Sensos > Destino iça velas > Ofertório >

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VOCÊ, LEITOR “Você, leitor, que pulsa

de vida e orgulho e amor,

assim como eu:

Para você, por isso,

os cantos que aqui seguem!”

—Walt Whitmam

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Em 01 de junho de 1996 faleceu Civone Maria de Medeiros, aos 24 anos, amargamente assassinada por P. Jr. – seu amante com quem convivia, em Natal/RN. Tudo que deixou foi por meio d'um inventário, a seguir:

INVENTÁRIO D'UMA MORTA

1. Deixo minhas explosões para estourarem nas mãos dos covardes...

2. Dou minhas vestes ao forno do lixo.

3. Minhas estórias e histórias malescritas para serem cremadas como se

fossem minha alma e minhas carnes....

4. Minha contentice triste levo comigo.

5. Minha alma tantas vezes roubada em fotos, deixo-as aos cegos do

mundo.

6. O brilho do meu olhar deixo para que a lua o guarde...

7. Meu jeito non-sense e non-grata quero manter em seu comum lugar: o

esquecimento.

8. Todas as minhas ressacas deixo ao vasto mar.

9. Meus mênstruos, que se espalhem e penetrem na pele dos falsos....

10. Minha doçura, que se afogue em terras de canaviais.

11. Minhas inconveniências, que fiquem com os canalhas...

12. O amor que havia em mim, cedo aos vazios e céticos; e o meu sexo

ardente entrego aos frívolos...

13. Meus trêmulos nervos de angústia, gozo e repulsa dou aos vermes.

14. O que não há de belo em mim deixo aos conhecidos e estranhos...

15. As minhas lágrimas passadas sejam sempre um presente de alívio aos

descrentes.

16. Aos meus sonhos decreto alforria...

17. Minha companheira, a solidão, peço que me acompanhe.

18. E a minha fragrância natural, que exale sedutora entre as narinas dos

que me esquecerem...

Que eu não me lembre que quando dei por mim... Mataram-me. E só depois

descobri.

Que esse "inventário" não passe d'uma amarga invenção semi-over-dramática e

quase desnecessária....

P.S.: Que bom que ela é Fênix!!!! Então aos 27 anos, renascida por seu

amor próprio; sabe que a estas mortes sempre sobreviverá seu coração

amoroso. E segue na lida – ainda – na sina, de estar viva.

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Pré vidência

Toscos improvisos de mim

Apreender momentos idos indo e por vir

Aprender com isso deleitado

Deleitando-me a cabo de dissipar leituras cruas elementares

Segmentadas e subjetivas

Obra em construção inacabada desconstrução

De signos, ismos, imagens e egos

Por assim ab-usar do suporte de escrita como expressão

Isto não se trata nem assada, nem tão poética assim

Mas, d'um gritante querer de continuação

Que'u nem suporte, poeta sem porte

Anseios em coalizão

Não quero o aclamar nem os podres tomates de outrens

Senão, o alívio urgente e são

De um parto... Isto independe aceitação

Sina de índole difusa, diversa, infantil, perversa.

Ambição poética de ser-se poeta

{mesmo que não seja} luxo ou lucro sê-la (¿)

A não ser alvo fácil "no front"

A mercê de pretensos árbitros pseudo-infalíveis

E crível, propensos a detonar essas pequenas ambições.

Como exemplo: eu ser poeta

Além dessa desejável liberação, ciente do risco de tornar-me vulnerável,

sem dúvida, também

sem medo algum de me revelar.

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Solidão De Cacto Num Jardim Urbano

Úmido coração a rolar sem rumo

Sobre rachado barro

Chão d'um açude passado

Quisera ser gotas de orvalho ou chuva

O encarnado líquido que brota do coração

Que acaricia-se por entre cactos e raios de sol e seco ar

E, chora suave

E lentamente como quem sua...

Sangra.

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transparências

Meu silêncio é minha mais autêntica loucura e mais bruta sanidade. Desse

néctar posso doar meus sufocantes abraços, meus olhos quentes, minha

pele salinizada, alma selvagem, meus beijos assexuados, calor violento,

meu riso assustador e útil, meu prazer desconcertante, silêncio urgente!

Todas as respostas ao que possuo são inquietos silêncios vácuos; mesmo

que outrens tantos pareçam se aproximar e se atrair ao deslumbre cáustico da minha crua realidade...

É rara a possibilidade de penetrar nessa essência que brota. Não sou

minhas aparências. Nem remotos atrativos externos.

A transparência que sou é meu silêncio de anima. Há alguém que

entenda?

Que aceite, entre, silencie e se deleite... Que eu jamais me contenha! E que ao menos eu mesma seja "esse" alguém; sem enfeites.

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Revoada

Uma folha assim Seca

Cerca as palavras A cerca dos sentidos

Folhas secas em revoada outonal Sobre - tons do que sou Cor terra – telha – areia

Carne seca Sangue seco

Secas lágrimas

Um reencontro aprazível com meu espelho imaginário Essa verve escritural e a necessidade de labutar toda possível creação

Fortaleza na certeza De saber

Secretamente A que vim

Volto aos cantos Pelos mundos

Com atos e fatos A expor

Cantos a passar e a cantar Folhas presas à soltar e frutos vários à germinar

Assim... Sem fim

Voou

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SOU SEMPRE OUTRA

que não a própria que encarnei

RÉSTIA POUCA no ancoradouro

DO PRESENTE SER outr'hora

T R A N S B O R D A N D O E M V A Z I O

a secura nos olhos DE ALMA QUE NÃO LACRIMA

ardor disperso por todo o corpo

AO TEMPO MESMO EM QUE É DORMENTE

a semente poética DO NÃO-SER

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Imprópria

O QUE SERIA FILOSOFIA

LEMBRANÇAS DO CÁRCERE CARNAL

CARÊNCIA FOME

H U M A N A V I D A

A ESPERA D'UM RETORNO SEM IDA

UM AMARGO TRAGO DO PRÓPRIO FEL

UM ENGASGO NA PARTIDA

UM FURO NO CÉREBRO E NO CÉU

[De Meus Dias]

UM ESCAPE SIMULADO

VEIAS MINADAS DA DESCENDÊNCIA

SANGUES ESTANCADOS

OU

TRANSCENDIDOS

SANGUE JORRADO POR VULVA

OU

NARINA

ORIFÍCIOS EXATOS

DE

VITAL ENGENHARIA

FUROR DE MISSÃO AINDA INCUMPRIDA

E

A IMPRÓPRIA CERTEZA

DA

ILUMINAÇÃO DEVIDA

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Gravita

Não apelo mais até que'u suporte. Qualquer morte me traz e me empurra ao espelho...

Aaaaaaaaaaaahhh! Sou eu no reflexo! Vela amarela ligada acesa na mesa onde só, bebo branco vinho.

Sem nada comemorar, pois não decifrei os anseios íntimos de meu eu. Nem sei que motivos há. Uma força bizarra e fugaz me leva a expressar que sobre tudo: DESEJO.

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MAMIFERANTROPO Lux a mor vita O futuro vindo

cresce em meu ventre Mexe, sente, enche meus seios

mais tesudos desde então

Tão belo e bizarro Tão dentro assim, de mim

Outra vida pulsante

Excitada e crescente Semente pró-criada

por nós amantes

Tão cedo sua chegada Feliz!

Melhor que antes Me torno fortaleza

Instintos animais afloram

sua essência em mim Mamiferantropo

Realeza

Real’amor Realização femina humana

de concepção vital

Amo ainda mais a vida Vital Bianca

Amada filha

<1994>

Page 18: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Rama Bianca

Imenso amor Deleite à alma

Alegria à tez Afável aos ouvidos É muito mais que’u possa descrever, pensar, sentir...

Mais além do que possível escrever sobre amar Extremo prazer d'animal humano

Coração incha e arde, amacia-se e ama intensamente e sem porquês ou comos... Imensa amante maternal sou

Desta rama cria, alma linda, mulher, amiga, inda menina, pessoa deslumbrante, amada Bia

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Leitura Reticente No varal estendida a alma...

...uma terceira idade na prisão de laços atados num pretérito pretenso

futuro insosso...

Um escorpião assassinado antes do possível suicídio... ...besouros e mosquitos de espécies várias...

Um bambuzal em ascensão... ...um cristo na cruz ateado... Cadeados abertos sob o céu estrelado...

Não arengo mais nem com a rima nem com arames farpados...

Declaro meu amor às reticências e minhas quedas nas redundâncias...

...eucaliptos pomposos dão o tom dos tempos e a plástica de seus troncos se faz abstratas e

surreais... Um ninho de gatos num canto acuado...

...ninhos abandonados de pássaros passados...

Cigarras granjeiam com seus cantos exaltados e as palhas dos coqueiros

pelejam sem remanso

em seu bailado... Temo e tenho que admitir enfim que a rima em minhas sangradas

escrituras para sempre irão persistir...

Miséria estética ou retórica? Rima pobre ou rica rima?

...por ser semi-alfabetizada, conhecimentos não tenho para definir;

certamente só sei do que

vem de mim assim: por vir. Rimo e fim/ns (?).

.................................. Um retiro frugal, fugaz e apraz...

...Um sono maneiro e uma aura lilás, azul, ensolarada, areada, regada,

enevoada e clara.

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Ruminações --------------------------------------abismo que ata e separa.

Anseios que espumam como água tocando em carbureto.

Como ventos que atiçam chamas óxidas. ...penduricalhos de emoções.

Discreta perturbação de maré baixa. ... Forno de barro o corpo humano se fez só. O além, findado por limites da razão.

Comportas da alma, cerradas e umas outras arrombadas por----------------------Vastos outros eus / mesma.

Inquebrável véu que cada ser transporta... Chaves confusas no molho dos segredos do espírito.

Todo ser se faz revelação / pois toda alma é plástica, ossos, aura, carne, emoções, plasma, excrementos e possessão.

Par'além de enigmático / sexo de lábios rubros e rósea cor. A profunda visão dos confins dos desejos.

Prisma em chamas a crepitar. É da raça a mais rica revelação.

O alicerce. A própria essência sublime e absoluta da humana existência. Dela é a mais pura, ofuscante e crua linhagem de iluminação.

Ser devoração e criação \ união e partilha... Uma fêmea deseja e vai buscar.

É da beleza a mais bruta expressão.

Page 21: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

As Pessoas Podem Ser Anjos

ou puro desencanto

PÚRPURO ENCONTRO

um caminho de pedras PARELHAS NA VISTA IMAGÉTICA

nus pés em passos UMA MENTE CACTO

caatinga

CREPUSCULAR OS OLHOS garganta da razão

PODER SER ANJO diferente

E NÃO!

Page 22: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

[a] CULPA NÃO CABE na bagagem

[a] CULPA PESA E É FALSA

o caminho é linear-não-linear

MESMO AOS SOBRESSALTOS

do devir

AOS TRONCOS TORTOS DAS SELVAS

e aos pedregulhos dos desertos

...

BURACOS SÃO PORTAS

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ARRIBAR

À Bendita Alcatéia Maldita! Pros/Sigo estourada em ânsias

Tais rimas sem cadência estética Nem mansas

Pro/Curo ao menos arrimar com Arrojo e arroubo meu arrimo Arguta

A própria de alcatéia escrevinha Canhota o que vinha

Feito praga

De imã que rima-rima

L e n g a l e n g a Romanceiro a beira da aresta eira Idílio

Caótico despenhadeiro Do nada

A dizer...¿

Page 24: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

ENOVIC – O alto falante da raça *

A-TIRADA Sou suicida e ensandecida

Como um meteoro

Atiro-me ao escuro, ao muro, no esmeril, as noites

As bocas, ao mar, na rua, aos copos, a música,

as garoas e proas, aos raios de sol que me ofusca,

aos palcos e botecos, aos mundis...

Micros/macros-fones

E auto-falante/s Arrisco-me a ser eu:

Disforme.

* Definição de Ciro Pedroza

Page 25: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

A f i n s

Toda parte é porto

É inteiro porto do todo

Meio alvo que somos se Se ignora a parte

Junta!

O que não se revela Não se mostra ainda

Ainda não é poesia Chego mais perto peito

Se mostra fragmento Nuance sem face

Somos sem fim Sede infinda

Paralém das fantasias Parabém Assim!

Page 26: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Todas As Eras-------------------É

ERA PRIMITIVA A Emoção

ERA CRISTÃ Madalena

E Eu Não ERA HISTÓRICA A Civilização

ERA BÁRBARA

A Aldeia

ERA HERA

A Mãe De Todos

E ERA HERA

A Planta Do Muro ERA GLOBAL

A Fase No Mundo

ERA ESPACIAL

A Mente

ERA GLACIAL

O Coração ERA AQUÁRIO

Os Olhos

E ERA PEIXE O Alimento

do Dia.

Page 27: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Ás

Minha tez

Como esse suporte

Esse óxido

Esse ácido.

Minha mente ácida

Como esse aço

Como espirais

Como ópio.

Meu âmago absorto

Como esse azo

Como essa liga.

Minha alma urge

Em lusco-fusco

A mercê da ferrugem.

Minha poética oxidada

Com o luxo desta chapa

Com esse lixo.

E sigo na lida

De a cada era

Me fazer polida.

Que agora é o artifício teia

Que me inspira

E suporta o enferrujado poema

Que me deu a ventania e o mar

A maresia.

Page 28: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

ESCARCÉUS

Cada sombra uma vida

Todo vulto por um triz

Um postal de Saint Tropéz

Ou será de Acarí?

Nos escombros uma estrela

Na palma da mão minhas trilhas

Guardar sóis para amanhã

Uma cortina de veludo encarnado a se abrir

Desfocos loucos da Persona

A luz da lua a me lamber

Banho-me em espumas de champanha

Ou serão ondas praianas a me engolir?

Oceânico espelho de meus céus

Uma poética em escarcéus

Uma bula a se infringir

Um bulevar a se passar

Umas brumas a me embrenhar

Um brilho a alcançar

Uma rima a ruir...

Page 29: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

LABAREDAS

Golfar poesia

Como quem goza e esporra

Como quem orgasma em gozo

Como quem sua e assume

Como quem grita e baba

Lapidar experimental

Como quem andarilha

Por destinos

Incertos

E arredios

Adeus à calma

Da lamparina o pavio

Da chama da vela a luz

Encontro certo

Com o que mascara e revela

Labaredas de fogueira interior

A se rebelar com o meio-dito

Meias palavras

E verdades

Meias...

Page 30: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Florestas d’arranha-céus Galhos secos, poeira no ar...

Arfam os pulmões, na selva ou na sala em Sampa...

Rufam tambores

Durante a madrugada...

Sussurros, desejos e segredos desmascarados

Do mais aparentemente áspero

Íntimo

Page 31: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Cheiro de Pedro pedra em meu coração impostor

Quentura de renascer aos

Poucos por mim

Tenho agora um coração

Livre

Ora frio, cego, inda

Bruto

Pulsar ávido por horiz

Ontes outrora

Lapidado a sangue lágr

Imas

Absorta e imune pela

Perdição que me faz essa

Liberdade

Estou alheia a ser fêmea

...E as carências de assim se ser

Me atenho tão somente

A especulação psíquica

De todas essas possíveis

Emoções

E não sei se vivo d'outro

Modo

Para além deste espectro

Mundo fantasia que dou

Cria

E luz

Page 32: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

SAUDADE DE NADA

Completude e vácuo Portância ânsia diletante

Desimportante Missão sangrada

De invisível sangue a escorrer D'alma [corpórea?] Alegria contida pela cegueira

do dia-a-dia Vibrante em meu ser livre

Odor de relva ao amanhecer Suavizo-me sentindo a vida assim...

Divina Como suo, como sou Digna

E confiante de meu caminho Percorrido e o a se trilhar

...Minha coragem não espanta nem a mim, nem aos meus não-eus/não-meus Seres

...Se estou a favor de mim, quem deveria conspirar contra? Que saia da minha boca esse gosto de azinhavre! Que o cheiro bom da vida de mim exale!!!

Page 33: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Epigrama #1

------------------SILÊNCIO SEM RUMO.

Meus Sentimentos Encurralados

Num Beco Da Lama

Sem Saída

Qualquer De Você.

Page 34: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Epigrama #2

VINDA VIDA

INDA IDA VINDA MORTE

INDA MOR (R) IDA

Page 35: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

tu me CHAMA Ardo

Queimo E o que resta é cinza

Um amor, um desejo... Um prazer que se vai...

...e s vai...se Que fica dentro Em minha essência

Em mente, espírito, corpo, sexo, coração

Em mim toda Presente passado

Quiçá futuro [?] É bom ser labaredas De vez em quando, meu bem!!

Page 36: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

...historieta d'uma mulher de ribanceira de porto, um tanto diferente - Ribeira quente!

Para Nalda Medeiros e todas elas em nós!

---umas querências outras...

um certo desejo pelo atrevimento errado d'alguém que possa vir a me

abordar, aportar em mim,

quem sabe eu mesma me aporte aparte apenas no que sou soul:

expectadora dos anseios mundanos, e

não nem nada menos participante também da divina decadência comédia

humana; ascendência

arteira culturística romanesca.

ah! uma ribeirice emocional, boêmia, sensual! rediviva beira de rio,

margem a margem das

carências desta cidade berço, ardente Natal.

um porto bar, umas bandeiras, uma ex-lata, um blackout, uma

cigarreira, todos a ancorar

e bebemorar... pretensão de poetar, textar pensamentos, passamentos

crepusculares, ocasos

acasos aos casos, nasceres, gerares... nem aos escombros, amores... não

jazem minhas beiras

jamais.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ navegar em paqueras

que não existem ou não acontecem...

que bom! estou na beira, à beira de me encontrar, esbarrar por

mim, me encantar e me

inventar assim, tão anjo e cão: Ribeira então!

sou.

Page 37: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Jorros

Neste dia, longa é a noite

Curtos só meus pêlos e apelos

[não borbulho como champanha]

...Aquele orgasmo encardiu a bandeira de paz de anil que estendi

estuquiada no varal

Íris arco!

Há uma falta de silêncio em meu sexo côncavo

...Só hiatos de solidão há!

E’ncontros furtivos convexos

Há um estridente grito em meu corpo parco

...Não o ouço

O que não vem do porto

Não me é parte

Nem pertence só aos Deuses...

...Foi-se o tempo noite

Amolo foices e adagas ao amanhecer

e antes que venha a noitice

Fico a lambê-las com uma tesão tanta

Como se teu corpo fosse

Homem Felino Maroto

Menino Deus Pagão

Quero-te sempre entre madrugada-noite

...Armo e amo em moitas e crateras

Em cena e camarins

Poços e mirantes

Em asfaltos, mangues e ribanceiras

Basta que um vivente corpo encontre...

Então, apeteço, devoro

...Entrego o ouro e os diamantes

Sugo, apaziguo e como fonte de amor,

Jorro!

Page 38: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Epigrama #3

DESVARIOS

Beijar muitas bocas

Tomar umas

Tragar uns

Pelo Campus

Com alguns

Page 39: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

M U L H E R Grita e Rouca-se

Ri e Leve-se

Pensa e Texta-se

Chora e Seca-se

Lambe e Molha

Morde e Marca

Fuma e Baga

Sua e Lava-se

CICLO E SANGUE

Page 40: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Roxo, roxo, roxo! MEU ROXO ROSTO

FOSCO FROUXO

FELINO E FERINO

ESTÁ CADA VEZ MAIS ROXO

E MEUS SEIOS E PESCOÇO

TÃO ROXOS

PELOS ROXOS ÓSCULOS

DOS MEUS DEUSES

OUTROS...

Page 41: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

RIMANCE Sexy

Coma a minha boca e xeque-

Mate minha fome louca

cavalo, rei, bispo, pião.

Rasgo teus olhos "en passant" Num beijo escaldante No belvedere da torre de meu eu

Além do maior roque, tua língua... Em uma teta régia... Minhas mãos atacantes não sei

Onde (?) captura a ardência no sentido de todos os movimentos reais. Entretece

-se nus corpos nossos ...sós

Alívios d'amor incontido

E o xeque-mate é desculpa boa para deitar com o rei inimigo e fazer dele amante!

Page 42: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

O beijo! Encarnados

Grandes Lábios Osculam

Molhados Êxtases

Sublimes Safados A

Glande Pulsante

Amada

Page 43: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Epigrama #4

.OLHO descalço do lado DE FORA

DE FORA espreito tudo com CISMAS

CISMAS na pia suja do bar ACIMA

ACIMA o espelho VELHO

VELHO cisco no OLHO.

Page 44: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Epigrama #5

PASSEIO A PONTE POTENGI

Um sonho de por do sol

Raiar reverencial litoral

Paiol de bombas e anseios a se detonar...

Page 45: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

RUDE POESIA como gata mia

NO ASFALTO FUMACENTO

que respinga gotas cruas

CHUVISCOS DE VERÃO PASSAR

o limbo a limpo palavras

SEM CRIAS

grunhia

A VIA NEM HAVIA

meu contexto paráfrase

MIA.

Page 46: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Epigrama #6 ...ESCULHAMBO MEU OPÚSCULO

Nunca me concluo... Terei outras vidas

Serei cadáveres outros Comerei muitas poeiras...

Terei muitas estrelas Devoro minha nobreza, as misérias, a poética, as entranhas e exponho à

livre feira dos mortos vivos...

...Nunca me concluo

Page 47: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Ab-sinto... Cair em cachos.

À eira, à guisa d'uma cachoeira. Tequila...

Sal, limão, etílica comunhão. Vinho...

Vem um sono bom. Antes, a efusão. Vem-me Bacante, uma d'elas que sou. Baco? São.

Ver-mute... Mutantencarnado, róseo.

Na passagem: "mezzo" rascante. Na chegada: suave.

Que lida! Uma sede na partida. Cerveja... Refrescante para a sede urgente.

Veja! Há tantos goles pr'um porre. E para lavar? Mansamente.

Cachaça... Na calçada ou num boteco.

Um caju no "tira". - Mais uma lapada!?! ...Do Beco o eco. No Nasi uma meladinha...

A pinga, o mel, o limão, gira e mexe. D'um só gole desce.

- Que poesia sóbria é a minha?

Page 48: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

<TRAGOS>

Trago beijos

a tragos teus

Trago teus beijos Pêlos

Tez

Cheiros

Trago tudo teu

Qualquer trago me traz aos desejos teus

Page 49: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Bardos

A multidão que fui

Nunca mais soou

A multidão que sou

Desejo

Desejo a calma d'alma avessa aos anseios

Bélico belo ao toque e ao tocar

Teus acordes

Acordes...

Despertam a urgência da artista em mim

Ela deve bailar...

Despertam-me sonhos bardos

O corpo palpita ardência

Na onipresença de teu semblante

Sonho...

Recordo...

O cheiro maroto de mar

A carne trêmula

O tempo a passar

- Quem foi que disse que agora os dias passam lentos?

- Foi você bardo?

- E o tempo célere, a passar?

Os sonhos, os quereres, os desejos fluem

Fluem do rio dos riscos

Quero mutar minha ausência em presença

Intensa

Os olhos expulsam os ciscos

que o destino me atira

E arteira, me precipito ao abismo Daí me lembro que sei volitar

Page 50: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

E SCREVOLETRAS

graal almáticas E ÉTICAS EM PÓ

essência arteira ESQUINA MUNDANATAL amar elo carne

NERVURAS TISN'ENCARDIDAS sulco encarnado

JORRAMESPICHAM do bico da teta

DA MENINA DOS OLHOS da jugular arteira DO BURACO DO UMBIGO

desentupido

DO ESCRITO.

Page 51: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Sangra feito regra Artéria arteira visceral

Entranhas d'alma Arte ara e rega

Vibra mutante / incendiária e enxurrada d'água Cio desregra certeiro o destino de quem arde...

Emoção ...Sensitividade Ara e sangra o coração cético emotivo

Que pulsa em corpo Escrituras psicografadas, aradas, ardis, silentes, febris, gritantes, serenas...

Sangradas emanações que de minhas visões e vivências brotam.

Sou toda artéria, aorta a arte. Artéria da alma do mundo, águia... Vibro!

Page 52: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Sangra da sinistra Amostras

Espicha artéria

Desmanche em sangue

Multicor olor dor odor ardor amor

Sangra sagrações / rezas pagãs

Recorrente / sonora destoante

Ríspida sonoridade / idade vã Arde ao atear-se arte

Infla amável véu ao léu translúdico

Hermética / híbrid'alma

Luz de templo

Grinalda amálgama

...Intimidades d'altar

Page 53: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

ETOPÉIA A GOSTO Atemporal extemporâneo sentido que sigo

Saúda idades tidas, idas vindas

Além brandos ósculos viscerais

Matéreo etéreo Somos no espaço de ser uno

Desejo imo amoroso de ser nó; emancipados nós

Álacres gotas selvagensuaves do humor segregado pelos olhos...

Teço texto entorpecente

Mente Só

Brio exteriorizar venturoso querer

Ex-te rio

Risar bizarro que fruo

Minaz e apraz inteiro ser Ter a se dar sentir

Belo e bélico arfar que se faz afeto

Page 54: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Bilhete da Ribeira

Quero comer teu riso

Não tema!

É instinto!

Insisto!

Se antena!

Na madruga...

Quero te comer no Beco da Quarentena

Page 55: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

ELO

Tenho um frio ardente escaldante E quero sempre teu calor gélido

Para fluir meu sangue e fruir teu sexo Para brincar de amantes \ de estranhos no primeiro encontro de corpos ao

cio Para romper minha veia Solitária

E fazer teu solitário brilhar feito estrela ...Vai-se saturno – ficam-se os anéis

Vens de víeis \ lunático E fico noturna \ não só

Como teu mel Como teu sol Como teu céu

Page 56: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

NATAL DA GEMA Gema Poética/Gêiser Natal/Gêiser Poética/Gema Natal

Badaladeira

Atiro Pedras

No seu Quintal

Da Baladeira

Faço a Zoada

Ladeira do Sol

Coqueiral a Guisa d'uma Embolada

Fonte do Coco a Aguar Toadas

Balanço Zueira / Gazua Ganzá / Praieira Usina/ Gazel Maracá / Badalo

À Beira lá do Manguezal

Da Baladeira

Atiro Estrelas

Lá na Ribeira

Puxo a Toada

Canto Natal

Coqueiros a Guisa D'um Coqueiral

Fonte de Zambê

O Coco-do-Natal

Gêiser Poética/Gema Natal/Gema Poética/ Gêiser Natal

Page 57: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

espuma aos pés

-------------------pegadas marcadas na areia da praia d’alma. Pipa solta sobre meus céus, sou

mais solitária alma que abandonada beleza. contemplativo e desértico olhar.

a todos os verdes do mar ------------------------ imensidão de amor e solidão. possibilidades além-mar (...)

horizontes às sombras de toda possível-------- ---------------impossibilidade de me encontrar

sem falta!

Page 58: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

V I V E R

Vibrante e atrevida, bela, alegre sou a imaginação farta de vida, a vivo, vivo a vida de minha farta imaginação e sou alegre meio contente, bela,

atrevida, vibrante... Não sou só ela, como também todos os eus do mundo ...Essa imagem é minha!

Esse rio seco, baixa-mar atlântica, Potengi, sol a se pôr, nuvens passar, mangue chorado a pôr as patas pra fora, a um passo a pátria, a um

contorno noturno, a lua... Algo memorável meus sóis e dons

Amanheceres entardecentes, noiturnas madrugas, um rio a correr sem pressa alguma, pois o destino é certo e não carece de precipitá-lo, livre

arbitre-se e ele acontece Escurece e brilho mais, a alguns olhos, ameaçadora, a outros inexpressiva,

a muitos sedutora e a tantos nem tanto... Brilhante prata azula o rio, buganvílias balançam

...manhosamente suas verdes e encarnadas, róseas, laranjadas e amarelas cores balançam, me precipito somente a ser a mim... Fruto de minhas

paixões, imaginação, ousadia, invenção, calmaria, vida, tufão!

Page 59: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Flocos de neve Vienense inverno

Temporada de amor Invernal e celeste.

O calor que me aquece nesse frio de grau...

...zero

Não são roupas Nem "os" sobre-tudo

Todo que seja...

Mas, o coração que arde em chamas e...

Brasa-me

O amor que toco...

Amado...

Vienense...

Universal... ...natalense, quiçá?

...sou eu?

Amor Mundi...

Artéria pulsante... ...em canto qualquer do mundo

Estéticas étnicas que sejam linguagens estas...

...Ich spreche kein Deutsch! Aber, Ich spreche mehr oder weniger! Frases e flocos que os ventos trazem...

...e minha poética parda não é nada!

Page 60: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Phoenix

Minha história se faz aos remendos Em retalhos pobres e nobres

Costuro-me a pulsos Bordo em tantas cores o meu sangue

As linhas que unem minhas trilhas Muitas vezes se fez desencanto e noutras encontro

Às vezes meus desejos alfinetam minha alma com uns encantos, outras, minha alma anseia em sutil contraponto

A súbita razão que me estica e estreita os restos do que tanto fui, as

quantas que fui e flui de meu destino árduo, lépido, febril, vasto Me esboço, me desenho, me alinhavo, me costuro, me arremato e peça

nova me faço, e peça nova me faço entre meus retalhos, feito a ave que das cinzas renasce

Arre! Ave!

Page 61: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

face

É Uma calma estranha

E bem-aventurada em meu coração Turbulento e romanesco...

¿Causa estranhes? O amor que apazigua As ansiedades e incendeia acelerando a pulsação... Lapidada certeza bruta das emoções

Que emanam amor... ...E a essência anima d'uma fênix novamente

Incorpora e abranda meu ser irrequieto... Bate asas o coração alado...

Magnetismos unem ambas caras E das metades fazem uma face Ante a face de precipícios abismais

Não titubeio nem me estilhaço Sempre presente em frente futuro...

...Tenho amor E sei voar!

Page 62: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Sinas e Sensos

...Babel querida,

Onde estás?

Nas alturas, atrevida?

Tresloucada gangrena de fragrâncias natimortas de tuas línguas

E divindades...

Que saudades do Olimpo, Oh! Lindo!

Haja Néctar, haja Ambrósia...

Recordo de Ys e Hy Brasil...

As brumas, as luas...

O topo me aguarda, não tenho pressa

Ambiciono viver de morte vivida

E morrer de vida morrida

...Gerações de estrelas poentes e expoentes

Incessantes sensações de múltiplas vidas

Sina bárbara e instigante

Nessa terra se sentir artista

Page 63: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

DESTINO iça velas Desatracada âncora

Correntezas, correntes de ar, atlântico

Corta entre - mares / afluentes

nem o Danúbio nem o Potengi são azuis:

as Veias = os Rios

Rios Grandes

espaçosos na memória

guardo a imagem de crepúsculo sobre o Potengi

... as valsas de Tonheca Dantas

céu de âmbar flamejante

cinza verde lodo Donau é Danúbio

Dúbio prazer em re ver ora Outonal

...céu d'azul luzente

valsas vienenses

Próximo porto, taça de "Sekt", beijo espumante

Sina, emoções fluentes, cheias de sangue veias, ventos nas andejas costas...

estratégias de xadrez, pulsação d'amor...

respiração, inspiração, transpiração

e a discreta Primavera do lado hemisférico de cá

Page 64: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

OFERTÓRIO

TE OFEREÇO MEU CAFÉ AMARGO Para que você possa distinguir o agridoce de meus beijos cálidos

TE OFEREÇO MINHA EBRIEDADE Para que você possa gozar de minha lúdica lucidez

TE OFEREÇO MEU ORGASMO SILENTE Para que ouça os gemidos e gritos estridentes de minh'alma

TE OFEREÇO MINHAS LÁGRIMAS DE GOZO

Para nosso sexo ser humano Prazeroso

TE OFEREÇO DO MEU VINHO UM TRAGO Trago do cigarro

TE OFEREÇO UM POUCO Trago um desejo louco De sorver-te...

Não posso me dar toda TE OFEREÇO DE MIM UM POUCO

TE OFEREÇO UM TRAGO DO MEU CORPO Um trago

TE OFEREÇO MEU OLHAR VENENOSO Para que descubra a cura no meu riso solto

TE OFEREÇO MINHA DISPLICÊNCIA

Para te lembrar que nem sempre as boas coisas da vida guardamos

ENTÃO, TE OFEREÇO UMA CHANCE: Receba o que te ofereço

E de quebra, NÃO ME ESQUEÇA!

Page 65: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Epílogo »

Escrituras Sangradas... Livro I e II

A obra de Civone Medeiros inquieta por se lê numa livre desordem e

rizomática transgressão. Pois, há um único mandamento das Escrituras

Sangradas: todas as formas de leituras possíveis. A fluidez de seu itinerário poético - sem o engessamento de sumários, com começo e fim -

permite uma viagem singular de cada ser único. De súbito, o leitor vê-se

um camaleão, criador de suas próprias zonas de intimidade e de desejo.

Navegar “entre a poesia” de Civone provoca uma espécie de experimentação estética de êxtase e redenção, designações peculiares ao

novo e antigo testamento. A Sangria dos versos é um fluxo, um orgasmo, um grito, um rapto, um espasmo do seu “devir mulher”, sempre no movimento da contra-corrente, do contra-sentido, e da contra-cultura

maçante e massificadora. Libertina ou libertária? Con-sagrada ou profana? Tanto faz... Civone liberta para o acesso à subjetividade e à transcendência

de uma poética de embriaguez e lucidez. E assim faz-se o belo e a dimensão artística da vida, conforme os dizeres nietzscheanos: “os

contrastes mais perfeitos produzem uma existência mais fecunda”. Da amiga, Camila Loureiro Marinho Barbosa.

Page 66: Escrituras Sangradas ~ Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Agradecimentos à: Nalva Melo, Ceiça Lima, Jackson Garrido, Marcelo Veni, Otávio Augusto, Lênio Santos, Alex Tigre, Sidney Cavalcanti, Bianor Paulino, Flávio Rezende, J. Pinheiro, Magali, Ilo Tonel, Wescley, Civonaldo Medeiros, Guaraci Gabriel, Jorge Negão, Jailton e Jácio Torres, Múcia Teixeira, Nalda Medeiros, Pedrinho Abech, Tiquinha Rodrigues, Nino de Sousa, Airton, Ricardinho, Cleudo Freire, Fátima Bezerra, Marisrela Marsicano, Fábio Henrique, Titina Medeiros, Dedé/GHAP, Celino/Metáfora, Geraldo Carvalho, Sônia Godeiro, Sânzia e Simonsem Pinheiro, Edmundo Negão, Nice Fernandes, Dona Odete, Nasi Canaan, Meri Medeiros, Cida Lodo, Edinho, Luciano Almeida, Carlos Alexandre, Cazuza, Chico Science, Fred 04, Siba e Mestre Ambrósio, Lenine, Chico Antônio e Paulírio, Severina Embaixatriz, Roberto Monte e Maíse, Afrânio Melo, Ramos, Lisboa, Madê & Paolo Weiner, Pagú, Erinaldo, Madame Satã, Glauber Rocha, Edu Gomes, Fábio Ada, Manú, Herval, Os Andrades: Drummond, Oswald e Mário, Iracema Macedo, Paulo Procópio, Fernanda Montenegro, Ângela Rôrô, Bessie Smith, Ana Silva, Renata Silveira & Tchello, Paulo Augusto, Selma Diel, Paulo Ubarana, Ana Cristina César, Ana Cristina Tinôco, Elisa Lucinda, Alice Ruiz, Palmira Wanderley, Jesiel Figueiredo, Gumercindo Saraiva, Marcelo Randermark, Liege, Tarsila do Amaral, Argemiro Lima, Benedita da Silva, Sandoval Wanderley, Gustavo Luz, Pedro Grilo, Aires Marques, Andréa Gurgel, Jô Soares, Raul Seixas, Marisa Monte, Tim Maia, Varela Barca, Nelson Motta, Gerald Thomas, Débora Colker, Helena Kolody, Cássia Eller, Goethe, Denise Stoklos, Tom Waits, Ney Lisboa, Pedro Almodóvar, Krïsna, Baco, Lao Tsé, Caetano, Gil, João Gilberto, Chico César, Jorge Costa, Lilith, Path Smith, Osho, Gonzagão, Rita Lee, General Junkie, Costa Filho, Stanley Kulbrik, Andy Warhol, Camile Paglia, Zila Mamede, Jota Medeiros, Gilson Nogueira, Zumbi, Raul & Alcatéia, Tonheca Dantas, Felinto Lúcio, Iansã, Oxalá, Iemanjá, Allan Kardek, Jaime Lúcio Figueiredo, Falves Silva, Marcelo Amorim, Madonna, Planet Hemp, O Rappa, Janis Joplin, Fellinni, Paulo Leminski, Peter Greenway, Vênus, Afrodite, Lesbos, Apolo, Hera, Djavan, Dali, Miró, Picasso, Matisse, Lina Bo Bardi, Nísia Floresta, Sergio Medeiros, Eli Celso, Rejane Cardoso, Carlinhos Brown, Djalma Maranhão, Nietzsche, Hesse, Dadá e Lampião, Jorge Fernandes, Auta de Souza, Câmara Cascudo, Maínha e Banda, Yoko Ono, Van Ghog, Regina Casé, Jan Saudek, Milan Kundera, Lennon, Brigite, Nara Leão, Tiradentes, Joana d’Arc, Emanuel Bezerra, Che Guevara, Cora Coralina, Mishima, Witman, Bob Dylan, Martins, Lorca, Wally Salomão, Karl Marx, Einstein, Buda, Elizabeth Venturini, Bill Boy, Chaplin, Clara Camarão, Marquinhos, Silvana Sitonio, Hemenson Amaral, Lucas, Quilombo/RN, Ambrósio Santana, Shirley My House, Jesus, Allan Poe, PC do B/RN, George Câmara, Maiakovski, Pablo Neruda, Mick Jagger, Hemingway, J.S. Basquiat, Borges, Zore, Sylvia Plath, Jim Morrison, Vinícius de Moraes, Antonin Artaud, James Dean, Jimmy Hendrix, Lobato, Freud, Elis Regina, Oscar Wilde, Jean Paul Gautier, Silvio Santiago, Tiago Vicente, João Pinheiro, Jacira Gabriel, Sabine Schebrack, Irene Strobl, Carlão de Souza, Almir Lopes, Vicente Januário, Rodrigo Hammer, Cícero Cunha, Sandro Lobão, Raquel Lúcio, Ana Potiguar, Beethoven, Mozart, Bach, Schubert, Zeca Baleiro, Núbia Albuquerque, Subhadro, Tuchir, Zé Ramalho, Bob Marley, B.B. King, Santana, John Mayall, Joe Cooker, Rosa Maciel, Dunga, Rimbaud, Mallarmé, Kerouac, Kafka, Rainer Maria Rilke, Henri Miller, Anais Niin, Hainer Miller, T.S. Eliot, Michele & Cia, Garagem, Centro de Direitos Humanos/RN, Haroldo Sopa D’osso, Lula Belmont, Marcellus Bob, Fernando Mineiro, Jânia Sousa, Bob & Amélia, Mídiã, Tia Maria, Heudis Régis, Gilson Nascimento, Plínio Sanderson, Ivanaldo Bezerra, Joaquim Patrício, Paulo Oliveira, Lenilton Lima, Clenor Jr., Dr. Alexandre, Renato Russo, Janaína Spinelli, Marcelo Fernandes, Chico Miséria, Sérgio Dieb, Milton Siqueira, Palmeira Guimarães, Juan d’ela Calle, Mabel Velolso, Violeta Porra, Aristóteles, Sófocles, Emídio Luisi, Green Peace, Eduardo Felipe, Ivanísio Ramos, Osório Almeida, Molliére, Vlademir, Cinara, Mano de Carvalho, Fábio d’Ojuara, Hernesto Amazonas, Rondon...

P.S.: ...Aos nomes que não me veio à memória, peço perdão!

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AMAI-AME-AMEM

AMEMO-NOS UMAS AOS OUTROS

OUTROS AOS OUTROS UMAS AS UMAS

OUTROS AS UMAS UMAS À S OUTRA S

AMEMO-NOS UNS ÀS OUTRAS

OUTRA S AS OUTRAS UNS AOS UNS

OUTRAS AOS UNS UNS AOS OUTROS

AMEM!

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