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1 Casa do Todos, escuta e afeto. Mirella D’Angelo Viviani 1.Introdução A Casa do Todos é um espaço de ação social que se revela como uma rede de Serviços dirigida à Todos, às pessoas, à comunidade. O propósito do trabalho é Servir e multiplicar, no espaço da humanidade, a atitude do encontro que possibilita a expressão e impressão da relação da pessoa com ela mesma e com o outro. Por quê Casa do Todos? O Todos são pessoas. O Todos é cada um, cada pessoa, cada personalidade que constitui a humanidade. Cuidar desse lugar de pertencimento de cada um e da expressão deste lugar é o principal foco de atenção da Casa do Todos. O Todos, com suas delicadezas e peculiaridades pessoais, vive em nós. É uma imagem consciente ou inconsciente que nos acorda para perceber a humanidade toda em nossa alma. É por isso que é comum pessoas que chegam na Casa, exteriorizarem sua sensação por meio de uma imagem muito simples e terna: “...- Me sinto em casa!...”. Sim, um retorno à casa original. A Casa como uma referência de afeto, um lugar suficientemente bom para voltar, para estar e para encontrar pessoas, fazer e comer

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Casa do Todos, escuta e afeto.

Mirella D’Angelo Viviani

1.Introdução

A Casa do Todos é um espaço de ação social que se revela

como uma rede de Serviços dirigida à Todos, às pessoas, à

comunidade. O propósito do trabalho é Servir e multiplicar, no espaço

da humanidade, a atitude do encontro que possibilita a expressão e

impressão da relação da pessoa com ela mesma e com o outro.

Por quê Casa do Todos?

O Todos são pessoas. O Todos é cada um, cada pessoa, cada

personalidade que constitui a humanidade.

Cuidar desse lugar de pertencimento de cada um e da

expressão deste lugar é o principal foco de atenção da Casa do

Todos.

O Todos, com suas delicadezas e peculiaridades pessoais, vive

em nós. É uma imagem consciente ou inconsciente que nos acorda

para perceber a humanidade toda em nossa alma. É por isso que é

comum pessoas que chegam na Casa, exteriorizarem sua sensação

por meio de uma imagem muito simples e terna: “...- Me sinto em

casa!...”.

Sim, um retorno à casa original.

A Casa como uma referência de afeto, um lugar suficientemente

bom para voltar, para estar e para encontrar pessoas, fazer e comer

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bolinho de chuva... conversar... falar sobre a vida... e no meio e

entre isto, consertar a cadeira quebrados, colher manjericão para

perfumar travesseiros, recortar figurinhas para colar no papel, ouvir

música, caminhar, tomar um café, descansar.

O Todos traz a força de individualidades para um grupo. Isto

quer dizer que Casa do Todos é constituída por um grupo de pessoas

que assumem a responsabilidade de receber a si mesmas e a cada

um que chega com sua forma de ser, de existir.

Assim conta um grande amigo que, por causa da distância que

percorria para estar na Casa, não conseguia mais vir:

“... Vocês já perceberam que eu não consigo mais ir... Porém

ninguém sai do Todos. O Todos é eterno, é todo. Mesmo estando

aqui, no Uruguai ou na China! Todos estamos no Todos.” Vinicius

2. Casa do Todos: A História

A Casa do Todos é a expressão de um movimento de vontade

que crê no ser humano e no seu potencial de afeto, de criação. Nasce

da confiança de que as relações de afeto se desenvolvem e se

fortalecem por meio do encontro de pessoas e de suas histórias.

Ela se abre e começa a acontecer quando em minha casa eu

recebia muitas e diferentes pessoas para compartilhar um tempo

juntos. As ideias apareciam e fazíamos coisas que nos aproximavam:

conversávamos, líamos, inventávamos palavras divertidas,

chorávamos com a poesia de Cecília Meireles, olhávamos álbuns de

fotos, brincávamos de conversar em mímica e soltar pum, ouvíamos

uns aos outros sobre gostos e desgostos, aprendíamos a engraxar

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sapatos, a cozinhar, pintar, costurar... tomávamos Tubaína... até...

algum outro dia, quando teria mais encontro...

O tempo passou e fui me dando conta que as pessoas que

apareciam em Casa traziam sempre uma necessidade especial de

convivência, de expressão de quem são e foi assim que o ambiente

da Casa foi e é por si só fundamentado na livre expressão de cada

pessoa acolhendo com afeto a vida que pulsa na vontade que a visita.

É assim que a Casa se traduz como um espaço terapêutico de

convivência.

3. A Casa de Portas Abertas: Quem chega na Casa do Todos.

Figura 1 - O Portal de Luz

Cláudio Ferraz - Tinta Acrílica sobre tela

Este trabalho pintado com o dedo traduz uma fase do artista quando encontrou em sonho com um

portal.

São várias situações de vida que a Casa do Todos se abre para

acolher. Essencialmente, o despertar da expressão livre do talento de

cada pessoa, valorização da pessoa com o melhor que possa ser e a

entrega deste tesouro a um grupo, a uma Família humana, não

sanguínea, fraterna. O sentimento é de que devemos e podemos

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resgatar o lugar de pertencimento de cada um por meio da

convivência e da livre expressão da vontade da pessoa.

A sensação do não pertencimento é a principal origem dos

desajustes sociais pois traz em si a separação entre a pessoa e o

outro, a pessoa e seu contexto, imergindo cada um na solidão. A

solidão é um dos venenos mais potentes para a alma humana. Uma

alma isolada sente medo, revolta e raiva.

Quando pessoas de diferentes estilos, valores, credos, crenças

culturais começam a vir em Casa para passar um tempo e resgatar

seu sonho de pertencimento por meio da expressão, nasce um novo e

maravilhoso campo de interação com o humano: a convivência.

A convivência sem exigência diagnóstica, sem pré-conceito de

estados humanos, sem metas materiais de realização. A convivência

que cuida do estar juntos, cultiva a escuta, possibilita a livre

expressão, a palavra, o silêncio, o fazer sem necessariamente

resultar num produto, o sensível que recolhe a saúde da mente, da

alma, do espírito.

Assim, a Casa pulsa! Recebe todas as pessoas:

• Pessoas com deficiência e super eficiência.

• Pessoas muito jovens e pessoas idosas.

• Pessoas no destino e outras procurando onde ele está.

• Pessoas carentes de um lugar para fazer algo útil e

pessoas carentes de um lugar para fazer nada.

• Pessoas querendo serem ouvidas e pessoas querendo

ouvir.

• Pessoas precisando falar e pessoas precisando calar.

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• Pessoas doentes, pessoas precisando de remédio, de

roupas, de café com leite.

• Pessoas com excesso de afeto e pessoas carentes de

afeto.

• Pessoas precisando mover e pessoas precisando ficar

quietinhas.

• Pessoas com falta de fome e pessoas com muita fome.

• Pessoas que moram na casa da rua e pessoas que moram

na rua como casa.

• Pessoas precisando criar e expressar.

• Pessoas querendo acolher e pessoas querendo ser

acolhidas.

• Pessoas sonhadas por tantos e pessoas que sonham.

4. Princípios da Casa do Todos, um espaço para o Sensível

O convite é ver a Casa do Todos por dentro no encontro de todo

dia.

Ver a Casa por dentro é entrar em contato com o que é próprio

do homem em sua existência de comportamentos mentais,

emocionais e espirituais. Este contato é regado pelo olhar humano

de terapeutas: artistas, jardineiros, professores, marceneiros,

cozinheiras, médicos e tantas outras pessoas, que cuidam do

atendimento terapêutico da pessoa que chega. A Casa é de lida

simples, escuta a vida que cada pessoa traz, a casa que cada um

representa na vida consciente e inconsciente de sua alma. É por isso

que o perfil dos atendimentos é baseado na escuta atenta do corpo,

da linguagem, do gesto, na imagem que cada pessoa traz no espaço

de convivência.

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A Casa do Todos pulsa na poesia da existência e adota a

imagem que propõe Mia Couto quando ensina ao pequeno garotinho

Muidinga: “O homem é como a casa: deve ser visto por dentro”. Sim

o homem é uma bela casa! Uma casa de mundo infinito e vasto de

imagens e referências. Esta bela casa humana é o interesse único da

existência da Casa do Todos. É por isso que a sustentação do campo

da Casa do Todos em seu dia a dia, espontâneo, cotidiano e simples é

vibrar nos encontros das pessoas com elas mesmas e com os outros

e motivá-las a expressar sua vontade, criar vida!

5. Acontece vida na Casa do Todos

Figura 2 – Árvore de Flores - Bernadete Bianco

Pintura com lápis de cor em papel sulfite

...O dia nasce e a Casa do Todos acorda. Acorda quando os

Sabiás cantam, as Maritacas anunciam os raios de sol na amoreira,

os relâmpagos assombram no céu. A campainha toca...

Logo cedo a Casa acorda. A vida que dormia entre o lapso e o

susto do sonho vem com a luz do dia se espreguiçar no espaço para

acordar. A Casa se constitui espaço para Acordar! Acordar o corpo e,

no sensível inspirar da sensação do presente, sentir o aqui e agora: o

que está acontecendo, quem sou eu.

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Assim a Casa acorda junto a Todos a memória de que somos

pessoas e nossa Casa é corpo físico, é alma e também espírito. A

Casa nos recorda de que somos humanos.

Todos os dias pessoas vêm até a Casa para viver a

oportunidade de mergulhar neste espaço íntimo, próprio, particular

que é a existência em cada um.

A Casa se sustenta viva neste espaço do sensível contato da

pessoa com ela mesma, com o outro e com a realidade. Assim

contam os depoimentos de pessoas que experimentam a convivência

na Casa:

“...Pela manhã cuidar do quintal, musicar o espaço, ler as

orientações do dia, preparar comida. Começo da tarde lavar a louça,

descansar na roda da fogueira, dançar, sentar em roda. Ao

entardecer molhar o jardim, recolher a rede, tomar um bom banho,

dormir, descansar.

Tudo é simples e comum e se revela na lida que cuida das

relações nutrindo-as do afeto, assim:

O almoço está servido. Péricles sente-se tonto, senta na cadeira

e pede a farofa predileta. João senta junto e começa a falar... fala do

suor que toma seu corpo, da ansiedade que transborda, respira com

som alto e fala, fala... Sabrina permanece estática, com os olhos a

espera do convite para sentar-se. Marcão aguarda o aviso para retirar

do forno o macarrão. Jairo conta de suas férias, do encontro com seu

descanso da rotina. O telefone toca... alguém pede um conselho

sobre estado de dor. Todos sentados para almoçar e a campainha

avisa que a mandioca está esperando no portão no carrinho de

Marcelo: É o Marcelo da mandioca... vamos comprar pra fazer

amanhã!

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A chuva fina cai, o gato sentado no muro, olha todos na mesa

do almoço. Está posta a comida. O macarrão, que é sempre o prato

do dia para os visitantes surpresa é regado pelo tempero principal:

manjericão e azeite.

Tudo é movimento sem combinados! Uma surpreendente

relação com a vida que está no dia a dia pedindo escuta.

A Casa se move e é movida por um ritmo de encontros em

fazeres de grupo: dança, conversa, arte marcial, bordado, invenções,

pintura, dobraduras, música, histórias. Encontros de pessoas e seus

mundos. A ordem do espaço e a vida das atividades oferecidas é

permeada por intervalos que marcam pitadas de desorganizações

alegres não formais que possibilitam que a vida aconteça!

A base do campo da Casa do Todos é a relação entre as

pessoas, entre os fatos da vida. Este é o presente comum. Um

espaço aberto para ser... um Lar que pulsa e procura conhecer as

vontades internas e externas que pulsam em cada pessoa.

Este pulso de movimento acolhe, sem restrições, no Todos,

cada pessoa que chega para estar um pouco em lugar de descanso,

aprofundamento pessoal, descoberta de talento, fazendo parte de um

espaço comum.

Assim as pessoas chegam e ficam um tempo e alimentam-se de

afeto, presença, disponibilidade vazia de expectativas, criam contato

consigo mesmas e com os outros... “

6. A convivência é um espaço terapêutico

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A Casa acontece no fluxo de existência dos relacionamentos, no

transitar dos imprevistos da convivência, a emergência de mundos

objetivos e subjetivos que sustentam a pessoa e suas relações. No

relacionar-se de pessoa com pessoas, a vida acontece inteira: os

mundos subjetivos de cada um se bastam, se cuidam e se

expressam, se curam. O lugar de saúde aparece quando a vontade

pode ser expressa.

A Casa oferece um campo de possibilidades de relacionamentos

para as pessoas degustarem o encontro com o outro e com elas

mesmas. Nesse campo de relacionamentos entre as pessoas e seus

fazeres, existem terapeutas que transitam entre os espaços,

interagindo com o grupo de encontro, e cuidando das necessidades

de escuta individuais ou grupais.

O lugar do terapeuta é acompanhar, observar o movimento da

natureza dos mundos subjetivos e objetivos que emergem nas

relações e no espaço de criação. Esta é a forma que nutre a

terapêutica da Casa: crer que a pessoa é quem faz o trabalho, as

transformações, as criações necessárias para sustentar sua vida

psíquica.

7. Ação da Casa do Todos é com a pessoa no grupo  

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Figura 3 – Castiçal - Bernadete Bianco

Lápis de cor em papel sulfite

“... existe para cada um de nós uma casa onírica, uma casa de

lembrança-sonho, perdida na sombra de um além do passado

verdadeiro [...] Habitar onírica mente a casa natal é mais que habitá-

la pela lembrança; é viver na casa desaparecida tal como ali

sonhamos um dia...“ Barchelard na Poética do Espaço

A experiência Casa do Todos é um convite para visitar e

revisitar e hospedar nossa Casa: o corpo, a alma, o espírito.

Retornar à Casa e visitá-la significa tomar posse da vontade

que nos sopra vivos. A vontade que nos move e nos acorda para

nossos sonhos mais humanos, puros e suaves, maledicentes e duros.

Assim sentimo-nos em casa com uma bela vista na varanda voltada

para quem somos.

A Casa do Todos é um espaço que cuida do lugar de

pertencimento de toda a pessoa que a visite como hospede.

Sim, a Casa do Todos recebe pessoas como hospedes

interessados em visitarem-se, ocuparem-se, criarem-se,

testemunharem-se!

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A imagem que podemos emprestar é a de uma tenda alva,

ampla, onde pessoas podem se proteger do calor e da chuva

intensos, lugar sob o qual existem muitas pessoas compartilhando da

mesma necessidade. Todos hóspedes do mesmo espaço aberto, do

mesmo sonho. Neste sonho flui a Casa do Todos no tempo da alma,

viva, real, recebendo o movimento do que existe na vida de cada

pessoa que a visita ancorando talentos.

8. O Convite é para cada pessoa visitar seu próprio idioma

Casa do Todos é visível para cada pessoa, é um campo aberto,

que ancora sonhos, talentos de pessoas esquecidas de sua verdadeira

natureza. Este é o convite permanente de cuidados na Casa do Todos

para que a pessoa perceba sua vontade, se perceba na vontade de

“seu idioma interno próprio“, como diz Alicia Fernández, e possa

expressá-lo.

Para os terapeutas que sustentam o campo, o convite é a

convivência com pessoas, de, tal forma que rótulos, diagnósticos,

definições de padrões sejam de importância para mostrar o idioma da

situação ou da pessoa, mas não para fixar condutas ou classificações.

O desafio é pensar na pessoa como passo e caminho na realidade e

não como paciente de uma doença. A Casa representa um intervalo,

intermediário e aberto, entre a saúde e a doença, de tal forma

expandida que aceita a criação e recriação dos inevitáveis e múltiplos

problemas da pessoa humana.

“... A experiência -Casa das Palmeiras- demonstra que a volta à

realidade depende, em primeiro lugar, de relacionamento confiante

com alguém, relacionamento que se estenderá, aos poucos, a

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contatos com outras pessoas e ambientes. O ambiente que reina na

Casa é por si próprio, assim pensamos, um agente terapêutico...” Nise

da Silveira

O convite é desafiador para quem recebe e para quem oferece

o espaço de escuta e atenção ao cotidiano da vida de pessoas. O

espaço da Casa do Todos é um intervalo vazio que passa por entre as

pessoas que cuidam de pessoas e possibilita a escuta do drama de

suas vidas. É nesse intervalo que é possível sustentar o encontro da

pessoa consigo mesma e habitar a presença de quem

ela é.

Não temos a pretensão de que as pessoas

resolvam seus estados de conflito mas oferecemos

espaço para que este encontro pessoal, este mergulho

para dentro, aconteça de forma particular em estado de solidão,

porém sustentado em grupo, por muitos outros que mergulham e

testemunham o mergulho do outro.

O convite que a Casa do Todos traz é para que a pessoa se

reconheça como unidade em um território livre, terapêutico, fraterno,

criativo e que possa expressar sua própria natureza. É a pessoa

envolvida consigo mesma, no grupo, que traz a oportunidade para a

Casa do Todos existir.

9. Visão ética da Casa do Todos

Testemunhar-se e testemunhar ao outro é Amor.

Existe um dito Africano de autor desconhecido que sugere uma

reflexão profunda no que significa ser testemunha da humanidade

nas relações cotidianas:  

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...Eu Sou o que vejo de mim em tua face... Figura 5 – Sem título - Bernadete Bianco

Lápis de cor sobre papel sulfite

Este é o lugar verdadeiro onde a ética se mostra no dia dia da

Casa. Este lugar onde a pessoa se testemunha no outro é o espaço

que provoca nas pessoas o conhecimento pessoal 7e as motiva a

frequentar a Casa do Todos. A vivência da ética nas relações

acontece quando sou capaz de me colocar no lugar do outro e cuidar

com afeto e dedicação dos sentimentos e sensações que são

evocados em mim.

Esta inspiração ...Eu Sou o que vejo de mim em tua face...

mostra um modo de ver a pessoa que está junto a nós no dia a dia.

A ética está em se dar conta de que o Outro que está a minha frente

toca a minha pessoa... é alguém íntimo de minha história em sua

história e em seu modo de ser.

O exercício sugerido nesta ética vivenciada na Casa é que a

dissemelhança que o outro me oferece no seu modo de ser, o

desencontro que ele ativa nas sensações pessoais, é o material de

interesse para o auto desenvolvimento de cada um.

Nise da Silveira ao escrever sobre a Vida e Obra de Jung conta

sobre este aspecto do relacionar-se no humano: “...Quando Sartre diz

que a existência do outro o atinge em pleno coração, que sua

presença lhe traz uma sensação de mal estar, que por causa do

outros sente-se perpetuamente em perigo, define uma atitude de

introversão. Já na pintura de Matisse acontece o contrário. O objeto é

glorificado. Ele o retira da atmosfera que o envolve para dar-lhe

marcas, contornos e coloridos intensos...”

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Assim, a pessoa é convidada por meio do ambiente da Casa a

olhar-se em espelho e ver-se. O afeto cuida deste ato de coragem

sustentando o passo da pessoa em direção a ela mesma. Este

movimento ético que acontece é Amor. Como diz Nise: “... uma feliz

e confiante relação estabelece-se entre o homem e seu mundo

quando ele está junto ao Outro...”

10. Metodologia

Figura 6 – Letras e texto - Percival Dente

Caneta hidrográfica preta sobre papel sulfite

A Casa do Todos proporciona um espaço livre de combinados

formais. É um lugar que facilita o mergulho na história pessoal ao

mesmo tempo que anima a relação entre as pessoas. Neste ambiente

as forças curativas se manifestam. As pessoas transitam no espaço e

assumem lugares com diferentes responsabilidades, conforme a

situação se coloca: se escutam, se olham, se inventam, se cuidam.

Terapeutas acompanham o movimento das pessoas

sustentando a Escuta atenta, o diálogo, a livre expressão, a autoria.

A. Escuta Atenta

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Casa do Todos ancora em suas raízes o princípio da escuta

atenta, sensível para com toda pessoa que venha com o pedido

de caminhar ao encontro de sua própria ignorância a respeito

de si mesma.

O modo de existir da Casa do Todos é fundamentada por uma

prática da escuta entre as pessoas. Ser terapeuta na Casa do Todos é

praticar a escuta aberta, livre de conceitos e formas. Entendemos que

o lugar do terapeuta é estar disponível para partir na estrada do

autoconhecimento do ponto onde o outro está e juntos experimentar

um caminho, um passo na direção da consciência do que está

acontecendo. Assim conta um amigo da Casa: “...O espaço que

constrói um modo de fazer na Casa do Todos, tem a abertura na boa

vontade, na compreensão, na disposição de ouvir. Ancora uma escuta

que personaliza, demonstra intimidade e dá uma face a tudo que é

comunicado e que é existência no mundo do outro. Atender o outro é

dar, prestar atenção, refletir, tomar em consideração a pessoa que

entrega a você as palavras, as imagens que a visitam...”

B. Diálogo

O diálogo oferece a oportunidade de, ao ouvir o outro, nos

ouvir. Assim podemos experimentar o afeto que visita a relação entre

duas ou mais pessoas e à partir dele propor alternativas de

aprofundamento ou de negociação de algum ponto ardiloso.

A inspiração vem descrita por Rogers em seu livro “Tornar-se

Pessoa”, quando registra diálogos e o sentido do relacionar-se com o

Outro e consigo mesmo:

“...Este livro trata dos dois, do cliente e de mim, quando

vemos, maravilhados, as forças poderosas e organizadas que se

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manifestam em toda esta experiência, forças que parecem ir buscar

as raízes em todo o universo...”

É no diálogo que as imagens surgem lindas e consistentes como

material de sustentação para essa relação pois mostram o interesse

que toma a mente e os sentimentos da pessoa. Também é com o

diálogo que surge a indagação, a pergunta e junto com ela tantos

argumentos. A pergunta é uma maravilha que organiza um sentido:

Pergunta gentil é como o dedo que aponta para um

determinado lugar e move o destino. Pergunta gentil é aquela que

autoriza a pessoa a se mover segundo sua própria necessidade ou

possibilidade, podendo olhar ou não para onde o dedo aponta.

O sentido do diálogo então é a comunicação, o gesto, é a busca

do sentir nas relações simples do dia-a-dia, do acordar o corpo para o

lugar de quem pode receber a escritura sagrada da vivência de uma

pessoa.

C. Expressão

A Arte expressa o que vemos dentro de nós...

...é um ” espaço para aprender por dentro”.

“...Não sou pintor sou o painel...” Afonso, 27 anos

O painel “... reúne a situação do mundo interno dos indivíduos

que se afastaram do mundo real e vivem num outro mundo. As obras

produzidas pelos clientes do hospital representam caminhos para o

entendimento da origem de seu sofrimento, uma maneira de

conhecer algo desse outro mundo. São como documentos vivos.

Através das imagens pode-se saber coisas que jamais seriam

percebidas em conversa...” Nise da Silveira

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A Casa do Todos vive esta experiência diária de estar ocupando

o lugar de buscar e identificar, junto a cada pessoa, o pincel que cada

uma usa. A verdade é que, quem pinta é a vontade, o querer interno,

inconsciente ou consciente da pessoa. A pessoa que pinta é a obra

nas palavras de Afonso: o painel.

Assim conta Moacir Amaral artista e medico na Casa do Todos:

“- A ação revela o homem. A arte revela o homem em seus aspectos

conscientes e inconscientes: é aquilo tudo que nós pensamos ao

fazer arte e mais o tanto que escapa à nossa consciência e que conta

de nós e de muito mais, revelando universos e um querer que nos

ultrapassa e ainda assim nos pertence.”

O Espaço das diferentes formas de expressão se constitui um

lugar de foco importante na metodologia da Casa do Todos. As

diversas formas de expressão artística podem oferecer a todos um

meio para expressar simbolicamente o mundo interno presente na

alma e na mente do artista, do autor.

A expressão do autor pode acontecer em diferentes núcleos:

teatro, movimento, dança, artes marciais, musica, pintura, escultura,

bordado, desenho, jardinagem e tantos outros.

A Casa do Todos está organizada de forma a ser um grande

atelier onde muitas e diferentes imagens estão oferecidas para

acordar aquele que olha para elas.

Todas estas formas estão disponíveis e a pessoa está livre para

se aproximar daquela(s) com a(s) qual(ais) pode expressar melhor o

que sente. Este movimento interno de aproximação ou afastamento e

a responsabilidade pela construção ou não construção artística, tem

um lugar terapêutico para o artista.

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O lugar terapêutico é a posição que a vontade, que o querer

mostra e a responsabilidade sobre esta posição.

A arte de aprender por dentro, como disse um amigo da Casa,

expressa esta pesquisa interna da pessoa com ela mesma e de como

este mundo maravilhoso pode ser visto: como ele pode se mostrar

como “painel “no mundo e para o mundo. Assim, na medida que a

obra comunica a estrutura, as emoções, a vida interna do artista ao

mesmo tempo ela toca o mundo interno daquele que a observa. Esta

dinâmica é comunicação plena, simbólica, metafórica que move

mundos invisíveis, liderados pelo inconsciente e assim cuida de

escutar às pessoas envolvidas.

Na Casa do Todos a saúde é considerada um campo

multidimensional que vê a pessoa de forma integral em seu potencial.

A forma, o painel, o mundo interno que a pessoa expressa é presente

no corpo e como diz Barchelard pode mostrar-se saudável: a saúde

de nosso espírito está em nossas mãos.

A pessoa considerada o painel, a obra de arte, expressa nesta

dinâmica o mundo dentro do qual está de forma inteira, saudável,

inviolável. Só assim, a pessoa, o autor, a obra, a arte pode se

apresenta ao outro que o testemunha de forma integral. Isto é saúde

como lembra Afonso “não sou pintor, sou painel”. Não sou a parte,

sou o todo.

D. Convivência: A Casa se nutre da presença das pessoas e

suas imagens

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Figura 4 – Sem título – Miriam Silva

Caneta hidrográfica sobre papel rascunho

“...Convivendo com o cliente durante várias horas por dia,

vendo-o exprimir-se verbalmente ou não em ocasiões diferentes, seja

no exercício de atividades individuais ou de grupo, a equipe logo

chegará a um conhecimento bastante profundo de seu cliente...” Nise

da Silveira

A convivência pulsa na pessoa no ato de perceber-se junto,

dialogar, sentir a vida acontecer em um espaço comum

simultaneamente, a conexão com a orientação de espaços íntimos

internos.

A vida pulsa nas relações dentro da Casa que se abre

oferecendo por, entre, através de seu meio muitas imagens, diálogos,

espaços facilitadores para esta vivência pessoal em grupo. Este

trabalho de integração da pessoa com ela mesma e com o outro,

acontece por meio da aceitação de que cada um mostra e comunica o

que é verdadeiro para aquele momento utilizando o recurso afetivo,

emocional, corporal que tem disponível.

É no espaço da convivência onde pulsa o mundo inconsciente

de cada um no meio de todos que as raízes da Casa do Todos se

nutrem de vida. O inconsciente e suas imagens!

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O alimento vem na expressão deste mundo que habita a toda

pessoa que chega e se mostra nos diálogos livres ancorados em

vagas ou detalhadas aparições de imagens. Assim as pessoas em

estado de convivência, apossadas da própria vontade, criam, recriam,

imaginam quem são e se encontram reais em seus aspectos mais

leves, belos, sombrios, raivosos, ternos e tantos mais.

O grupo cuida de testemunhar esta realidade na imagem

oferecida e este é o mais ético movimento de amor que a Casa

vivência.

E. O Afeto como vivência consciente

O encontro acontece e o afeto aparece marcando a existência.

Sim o afeto da forma mais genuína, afetar-se com a presença do

outro. Ebiliane, contadora de histórias na Casa do Todos, expressa

que afetada pelo encontro fez uma descoberta: “...Na Casa do Todos

descobri que eu sou o que o outro é e o outro é o que eu sou...”.

A Casa é um ambiente que vibra a vivência do afeto permeada

pela desordem alegre do acaso... é sensível ao estado de sofrimento

que as pessoas vivem com elas mesmas e lida com as perguntas que

cada pessoa traz sobre a vida como fonte de amadurecimento.

O afeto tem um lugar reconhecido e as pessoas são desafiadas

a conscientizarem-se dele no dia-a-dia. Ele acontece de muitas

formas mas no encontro pode mover conteúdos dentro e fora das

pessoas envolvidas.

O afeto no encontro promove um movimento das pessoas para

dentro e fora de si. As pessoas vivenciam esta experiência e são

chamadas a senti-la, ficando livres de exigências externas de

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condutas esperadas. Assim, elas são estimuladas a perceberem o

quanto se sentem afetadas pelo encontro por um movimento do

sensível, invisível, inominável, que as visita, desafiando o mundo da

mente a silenciar e escutar a alma.

Os encontros acontecem e a pessoa é convidada a visitar-se, a

olhar-se afetada por si mesma. Este caminho junto à pessoa é

acompanhado pelo terapeuta que, envolvido por esta vasta conversa

sobre a vida e o viver, se disponibiliza a estar junto.

Assim a jornada terapêutica sugerida na Casa do Todos é uma

investigação amorosa sobre si mesmo e seu lugar de pertencimento a

um grupo... à luz da sugestão de Jung:

“...Não existe nenhuma dificuldade em minha vida que não seja eu

mesmo...”

O afeto na Casa é um lugar terno que recolhe com humor os

traumas humanos e facilita o encontro da pessoa com a própria vida,

um encontro para o desvelar do seu segredo existencial. A oferta é a

experiência com sentido particular pessoal, porém vibrando em grupo

na convivência.

Na convivência o relacionamento, o afetar-se é um fato que

pode mover a vontade da pessoa para o passo de aceitar a

provocação de amadurecer. Sim, amadurecer o fruto, saborear a

noção de quem é e desenvolver a atenção em si mesmo como pessoa

comum que faz parte da comunidade.

F. A Vontade e o querer

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A dinâmica interna que sustenta a respiração da Casa do Todos

é a identificação da vontade que cada pessoa expressa consciente ou

inconscientemente. Este querer que pulsa é que realiza a ação no

espaço comunitário.

A experiência de cada pessoa com a identificação e o pulso da

própria vontade a mobiliza para estar disponível para olhar e

aprofundar e expressar as imagens que a visitam nas relações do dia-

a-dia.

Esta experiência com a vontade é descrita por William James:

“...Uma vontade desenvolvida permite que a consciência atenda

às ideias, percepções e sensações que não são imediatamente

agradáveis ou convidativas e que de fato podem ser difíceis ou até

desagradáveis. O resultado desta expressão da vontade é que os

atos das pessoas aparecem mais claramente no corpo e simpáticos

ou antipáticos estão visíveis e podem ser cuidados e ou

representados...”

“...O pássaro não canta porque está feliz, mas sim está feliz

porque canta...” William James

Assim a pessoa que é recebida na Casa descobre que sua

vontade é o seu canto.

Reconhece o seu querer o seu canto e canta, se contenta e

sente-se inteira, completa e talentosa. Sim, o canto aparece e o

talento aparece, a pessoa aparece! Esta é a expressão mais pura que

a Casa se propõe a sustentar: a expressão verbal ou não verbal das

emoções onde a pessoa assume o ato de identificar, criar e recriar

seu canto, seu querer.

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A forma desta expressão é a linguagem implicada com a

verdade consciente ou inconsciente daquele, do querer da pessoa e é

aceita por quem testemunha.

11. Programas da Casa do Todos

Andar pelo caminho criando passos novos.

Respirar e passear na descoberta de formas, redescobrindo possibilidades.

Cada dia um Encontro.

Embora a Casa do Todos proporcione um conjunto de

atividades previamente planejadas para o seu ritmo diário as pessoas

não precisam obrigatoriamente realizá-las.

As atividades fluem e as pessoas são convidadas a experienciar.

Esse convite, nem sempre verbal, entra em sintonia por ressonância,

com a vontade da pessoa e então ela desperta.

Este convite se dá através do Programa Aprendente de Si

Mesmo, composto por oficinas de arte, conhecimento, meditação e

exercícios de respiração e percepção.

A Casa possui um plano de atividades artísticas e terapêuticas

que são desenvolvidas com um ritmo diário ao longo da semana.

Estas atividades estão sempre disponíveis no mesmo horário e

espaço. Os espaços tem um terapeuta que está disponível para

receber a todos que sintam inspiração, vontade de estar no espaço.

A. Programas terapêuticos de ação direta

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Acolhimento, escuta amorosa – Rogers ensina que é o

encontro inicial marcado por incondicional uma atitude é

responsável por acolher “o   indivíduo   é   estimado   como   pessoa   e  

independentemente   dos   critérios   que   se   poderia   aplicar   aos   diversos  

elementos  de  seu  comportamento”,  (Rogers,  1977,  p.  175)

Este é um trabalho aberto que recebe e acolhe pessoas que, às

vezes, precisam apenas de um coração e um ouvido para escutar a

história de sua vida e tomar um café ou um chá quente e logo

retornam para o seu abrigo, que pode ser sua casa ou mesmo a rua.

A escuta inicial de quem chega é um espaço importante na

Casa do Todos já que é nele que vai aparecer e afinar o pedido da

pessoa e também a forma de contrato.

Muitas vezes esta escuta aberta, associada ao encontro com

desenvolvimento não diretivo, já é suficiente para acolher e

direcionar o melhor caminho para o pedido feito. Assim, a pessoa

pode vir frequentar ou não a Casa, o importante é que ela recebeu o

que veio buscar: Um lugar onde sua história, seu sofrimento, é

importante e recebeu um abraço, pode ser reconhecido.

Com trato com afeto - A contribuição que a pessoa vai

oferecer representa parte da vivencia do processo terapêutico pois

aponta a responsabilidade dela junto ao grupo e a sustentação

material do espaço Casa do Todos.

O acordo que é definido no encontro, o com trato com afeto,

como costumo dizer, é expresso no cuidado, no trato, com o qual as

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partes envolvidas vão se responsabilizar pela existência do espaço

terapêutico que cuida da convivência.

Muitas vezes esta escuta aberta, associada ao encontro com

desenvolvimento não diretivo, já é suficiente para acolher e

direcionar o melhor caminho para o pedido feito. Assim, a pessoa

pode vir frequentar ou não a Casa, o importante é que ela recebeu o

que veio buscar: Um lugar onde sua história, seu sofrimento, é

importante e recebeu um abraço, pode ser reconhecido.

Acompanhamento Terapêutico - Consiste na presença de

profissional que se responsabiliza pela plena atenção à uma ou mais

pessoas interessadas, sempre respeitando as necessidades

específicas de cada um. Esse acompanhamento nem sempre envolve

um fazer específico, pode se dar como uma escuta individual, como

um diálogo, como um cuidado físico, ou ainda, pela atenção à pessoa

quando esta participa de alguma atividade estrutural.

Roda Terapêutica Tatatum - Consiste numa atividade de

grupo, abrindo um espaço de compartilhar sentimentos que são

expressos verbalmente ou por outras linguagens, inclusive o silêncio.

Nesta Roda são utilizados cartões com imagens e frases que apoiam

o despertar do que cada um sente naquele momento. Nesta Roda

todos tem presença e liberdade para expressar o que emerge da

forma que lhe for mais confortável.

Oficina de Mandalas - Esta atividade é desenvolvida para

pequenos grupos de pessoas que brincam e se descobrem centradas,

coloridas... Vivas!  Por meio do movimento das formas do desenho as

pessoas podem entram em contato com seu ritmo interno e

trabalham o equilíbrio, o centramento, a respiração.

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Oficina de Arte e Movimento de Criação - É um espaço que

convida à experimentação, criação e expressão com diferentes

materiais no ateliê... e a entrar em contato com o criador interno.

Cada um pode contribuir, reconhecer e ser reconhecido pela sua

habilidade. Às vezes trabalhamos o desejo e outras vezes o não-

desejo. A princípio, a resposta pode ser “Não quero” ou “Não sei

fazer” mas o convite continua aberto e cada um participa a seu

modo. Uns mergulhados de corpo inteiro e alguns só com os ouvidos

à distância ou somente com os olhos. Um empresta para o outro o

desejo quando necessário.

Oficina de movimento - Trata-se de uma atividade grupal em

que as pessoas são convidadas a vivenciar o movimento corporal:

Dança, Arte Marcial, improvisações, brincadeiras inventadas,

ginástica como forma de expressão da essência de sua alma e a

descoberta da sua relação com o outro.

Oficina de Construção - Esta atividade busca estimular o ato

da vontade e a persistência para objetivar inquietudes, fantasias e

sonhos que cada um traz escondido. O contato com a madeira, lã,

sementes e outros materiais facilitadores oferece uma ponte entre o

imaginário e o fazer que se materializa num objeto como expressão

de uma parte do seu mundo interno.

Oficina de Línguas - Este espaço autoriza a pessoa a entrar

em contato com outra forma de expressar uma língua e uma

linguagem. Atualmente a língua italiana, espanhola e inglesa são o

foco de estudo e aprendizagem dos grupos.

Oficina de Estudos e Conhecimento - Esta oficina surgiu a

partir do desejo do grupo de estudar assuntos de maneira mais

formal e científica. Os encontros podem acontecer em grupo ou

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individualmente, de acordo com a demanda de cada um. Entrar em

contato formal com o conhecimento externo, que nos rodeia, propicia

uma experiência de organização e elaboração do conhecimento

interno, auxiliando na construção da autoria do sujeito envolvido. A

autoria, nos conta Alicia Fernandez, é o “... processo e ato de

produção de sentidos e de reconhecimento de si mesmo como

protagonista ou participante de tal produção...” Assim, nos reunimos

nesse tempo para pesquisar, ler, registrar e experimentar assuntos

decididos pelo grupo ou pelo indivíduo a cada ciclo de trabalho.

Oficina de Discussão - Clamo - O Clamo é um espaço em

que o grupo se reúne para reclamar, sugerir, perguntar e agradecer a

respeito de situações que acontecem na Casa do Todos e fora dela.

Para isso, cada participante pode escrever em um papel aquilo que

deseja compartilhar e colocar em nosso quadro que é dividido em

quatro diferentes espaços (Eu pergunto, Eu sugiro, Eu reclamo, Eu

agradeço). O exercício do diálogo, da postura em colocar-se da

escuta aos posicionamentos do outro, constrói um lindo espaço de

cumplicidade e confiança que nos ampara no amadurecimento de nós

mesmos e do grupo.

Todos Talentos - Trata-se de um evento anual onde o Todos

mostram de forma cuidadosa e dedicada seu talento... Para este

evento o Todos se prepara para demonstrar suas habilidades. É um

grande coroamento da dedicação de cada um em prol do auto-

reconhecimento e também do reconhecimento social. Este evento

ocorre nas instalações físicas cedidas pela própria comunidade.

O Todos Talentos reúne os colaboradores, amigos, vizinhos,

cuidadores e tantos Todos interessados em admirar a presença do Eu

em cada pessoa que se apresenta.

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B. Programas terapêuticos de ação indireta

Acolhimento, escuta amorosa – Este é um trabalho aberto

que recebe e acolhe pessoas que, às vezes, precisam apenas de um

coração e um ouvido para escutar a história de sua vida e tomar um

café ou um chá quente e logo retornam para o seu abrigo, que pode

ser sua casa ou mesmo a rua.

A escuta inicial de quem chega é um espaço fundamental na

Casa do Todos já que é nele que vai aparecer e afinar o pedido da

pessoa também a forma de contrato.

Muitas vezes esta escuta aberta, associada ao encontro com

desenvolvimento não diretivo, já é suficiente para acolher e

direcionar o melhor caminho para o pedido feito. Assim, a pessoa

pode vir frequentar ou não a Casa, o importante é que ela recebeu o

que veio buscar: Um lugar onde sua história, seu sofrimento, é

reconhecido pelo terapeuta que escutou e assumiu  “a  capacidade  de  se  

colocar  verdadeiramente  no  lugar  do  outro,  de  ver  o  mundo  como  ele  o  vê”  .

Rogers descreve este lugar, como um lugar onde “o   indivíduo  é  

estimado   como   pessoa   e   independentemente   dos   critérios   que   se   poderia  

aplicar   aos   diversos   elementos   de   seu   comportamento”,   (Rogers,   1977,   p.  

175)

Com trato com afeto - A contribuição que a pessoa vai

oferecer representa parte da vivencia do processo terapêutico pois

aponta a responsabilidade dela junto ao grupo e a sustentação

material do espaço Casa do Todos.

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O acordo que é definido no encontro, o com trato com afeto,

como costumo dizer, é expresso no cuidado, no trato, com o qual as

partes envolvidas vão se responsabilizar pela existência do espaço

terapêutico que cuida da convivência.

Lanche Coletivo - O lanche é um momento de encontros de

conversas, risadas e de cuidados carinhosos com aqueles que

precisam de ajuda para se alimentar.

Festas anuais - São comemorações que marcam passagens de

épocas que o homem vivencia durante o ano.

Oficina de cuidados alimentares – Culinária, este espaço é

servir saúde no alimento: dietas balanceadas para perder ou ganhar

peso com saúde.

Acolhimento e cuidados higiênicos - Este é um trabalho de

cuidados básicos. Às vezes é apenas um banho, ou limpeza nos

dentes... às vezes é um alimento, às vezes é um calçado ou uma

roupa para se trocar... uma barba para fazer... . Assim cuidamos do

corpo físico, que espelha o corpo interno.

Distribuição de alimentos - São recolhidos, por doação, e

distribuídos alimentos semanalmente para pessoas em situação de

rua ou grupos anônimos que prestam cuidados sociais.

C. Programas de aprofundamento para

acompanhantes terapêuticos e Instituições

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Cuidado com o Cuidador - Programa Aprendente de Si

Mesmo, composto por oficinas de arte, conhecimento, meditação e

exercícios de respiração e percepção corporal.

Brincando com sua criança interior - Este é um trabalho

oferecido para Gente Grande! É fato que no coração de Gente Grande

mora uma criança com suas memórias. O resgate da infância e seus

movimentos: brincadeiras, canções, brinquedos, lembranças é o foco

principal deste trabalho. A vivência acontece facilitada pela alegria,

espontaneidade e invenções que brotam dentro do coração do

menino e da menina que habita no corpo do adulto.

Histórias que Curam - Trata-se de uma dinâmica baseada na

“contação” e teatralização de histórias. O processo caminha com a

utilização de vários recursos lúdicos que intencionam trazer à tona

para cada um que interage com a dinâmica, seu lado mais brincante.

Nesta atividade buscamos abrir espaços internos para a possibilidade

de entrar em contato com a dor e a sombra a partir da alegria

olhando o sofrimento com consideração e assim podendo transformá-

lo em aprendizado.

Encontro de Educadores Terapêuticos - Reunião de

educadores da Casa do Todos e de fora dela, que tem por objetivo

discutir as práticas e as teorias que sustentam o saber e suas

possíveis variações.

Grupo de Estudos - Aberto para profissionais de diferentes

áreas humanas para apresentação e discussão de temas de estudo

teóricos buscando a interface com a prática educativa.

D. Programas de sensibilização humana para

Instituições

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Cuidando das Instituições Clínicas - Espaços terapêuticos

de escuta (dança-terapia, arte-terapia, teatro, aprofundamento em

psicopedagogia) oferecidos à comunidade institucional como

hospitais, asilos, creches, associações, escolas.

Palestra - O Agir Ético e o Cuidado Humano - Este encontro

em forma de palestra tem como objetivo abrir um espaço de reflexão

sobre o lugar integral que o ser humano pode ocupar junto ao seu

próprio desenvolvimento. Na palestra lembramos e aprofundamos a

importância do cuidado com a existência de forma digna, além do

propósito maior da vida que é encontrar o Outro.

Assim a Casa do Todos organiza, pulsa, realiza sua ação no

mundo.

No mundo que pulsa nela e além.

Um mundo de córregos, de gente, nos suspiros, por alentos,

vibrando nos talentos.

Aí está a Casa do Todos!

Iluminando o silêncio das coisas anônimas como diz Manuel de

Barros

Além do conforto do conhecimento, na pergunta.

Além do visível, no inominável!

Além da reconhecível sombra, na luz.

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Curriculum

Mãe-Escritora-Educadora PUC-SP, Psicopedagogia clínica pela Escuela de

Buenos Aires, Alicia Fernandez- Dança e Arte terapeuta-Terapeuta

Transpessoal pela Escola Dinâmica Enérgetica do Psiquismo- Membro do

Colégio Internacional dos Terapeutas- Pedagoga Curativa Antroposófica-

Vivência internacional em comunidades terapêuticas de Convivência:

Camphill House- Scotland, Findhorn Foundation, Suiça – Camphill de

Pedagogia Curativa, França – Camphill, Ashrans na India - Fundadora da

Comunidade Terapêutica de Convivência Casa do Todos.

Referências:

AMARAL, Moacir. Arte e Terapia. Reflexões. Aurora (Associação Brasileira dos

Terapeutas Antroposóficos) bol, Abril de 1999.

BARROS, Manoel de. Livro Sobre Nada. Rio de Janeiro: Record, 1996.

COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

FERNÁNDEZ, Alicia. O Idioma do Aprendente, Porto Alegre: Artmed

GASTON, Barchelard. A Poética do Espaço. Abril Cultural, 1978.

JAMES, William. A Vontade de Crer. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

JAMES, William. http://kdfrases.com/frase/118804, visualizado em 15, janeiro de

2014.

ROGERS, Carl R. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1981.

SILVEIRA, Nise da. Jung Vida e Obra. Rio de Janeiro, G.B.: José Álvaro, Editor S.A,

1968.

SILVEIRA, Nise da. Imagem do Inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.

TERRA, Mariana e VEREZA, Carlos. Nise da Silveira, Senhora das Imagens, DVD,

2013.

WINNICOTT, D. W., A Criança e o seu Mundo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.