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ESPACIALIZAÇÃO DAS FORMAS DO RELEVO DA PORÇÃO LESTE DO PANTANAL DA NHECOLÂNDIA/MS Paola Vicentini Boni Bolsista PIBIC de Geografia UFMS/CPTL [email protected] Amanda Moreira Braz Bolsista PIBIC de GeografiaUFMS/CPTL [email protected] Frederico dos Santos Gradella Prof. Dr. do Curso de Geografia UFMS/CPTL [email protected] Hermiliano Felipe Decco Técnico em Cartografia UFMS/CPTL [email protected] INTRODUÇÃO O Pantanal é uma bacia sedimentar localizada dentro da Bacia do Alto Paraguai (BAP). A área da planície no Brasil é de aproximadamente 138.183km², 38,21% da BAP, ocupando a porção SW de Mato Grosso (48.865km²) e NW de Mato Grosso do Sul (89.318km²), segundo (SILVA E ABDON, 1998). A Bacia do Alto Paraguai (BAP) está localizada no Brasil, Bolívia e Paraguai possuindo área total de 600.000 km². No território brasileiro possui pouco mais da metade da área total, computando aproximadamente 361.666 km². O rio Paraguai é o principal da BAP possuindo 2.612 km de extensão total e aproximadamente 1.683 km inseridos no território brasileiro. Entende-se que o compartimento Planícies e Pantanais tratam-se uma extensa superfície de topografia bastante plana com áreas que

ESPACIALIZAÇÃO DAS FORMAS DO RELEVO DA PORÇÃO … · BRAUN, E. W. G. Cone aluvial do Taquari, unidade geomórfica marcante na planície quaternária do Pantanal. Revista Brasileira

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ESPACIALIZAÇÃO DAS FORMAS DO RELEVO DA PORÇÃO LESTE DO

PANTANAL DA NHECOLÂNDIA/MS

Paola Vicentini Boni

Bolsista PIBIC de Geografia – UFMS/CPTL

[email protected]

Amanda Moreira Braz

Bolsista PIBIC de Geografia– UFMS/CPTL

[email protected]

Frederico dos Santos Gradella

Prof. Dr. do Curso de Geografia – UFMS/CPTL

[email protected]

Hermiliano Felipe Decco

Técnico em Cartografia – UFMS/CPTL

[email protected]

INTRODUÇÃO

O Pantanal é uma bacia sedimentar localizada dentro da Bacia do Alto Paraguai

(BAP). A área da planície no Brasil é de aproximadamente 138.183km², 38,21% da

BAP, ocupando a porção SW de Mato Grosso (48.865km²) e NW de Mato Grosso do

Sul (89.318km²), segundo (SILVA E ABDON, 1998).

A Bacia do Alto Paraguai (BAP) está localizada no Brasil, Bolívia e Paraguai

possuindo área total de 600.000 km². No território brasileiro possui pouco mais da

metade da área total, computando aproximadamente 361.666 km². O rio Paraguai é o

principal da BAP possuindo 2.612 km de extensão total e aproximadamente 1.683 km

inseridos no território brasileiro. Entende-se que o compartimento Planícies e Pantanais

tratam-se uma extensa superfície de topografia bastante plana com áreas que

frequentemente estão sujeitas a inundações, cuja rede de drenagem é comandada pelo

rio Paraguai (FRANCO & PINHEIRO, 1982).

De acordo com (USSAMI et al., 1999 apud ASSINE & SOARES, 2004) a

origem da bacia do Pantanal foi a reativação tectônica Andina a aproximadamente 2.5

Ma. Onde atualmente está localizada a bacia do Pantanal, havia uma paleosuperfície

com profundidade aproximada entre 500 e 1000 m acima do nível atual do mar.

Acredita-se que em partes da bacia os sedimentos podem chegar a 500 m de

profundidade, com início da sedimentação no Plioceno.

A área pantaneira possui compartilhamentos geomorfológicos que são

classificados através de aspectos morfológicos e estruturais, sendo considerados

elementos básicos. Franco e Pinheiro (1982) subdividiu o Pantanal em: Corixo Grande-

Jauru-Paraguai, Cuiabá-Bento Gomes-Paraguaizinho, Itiquira-São Lourenço-Cuiabá,

Taquari, Negro, Miranda-Aquidauana, Nabileque, Jacadigo e do Paiaguás.

O Pantanal do Taquari é geomorfologicamente formado por um leque aluvial

com área total de 50.000 km² e comprimento de 250 km, sendo que o rio Taquari divide

o leque em duas áreas, ao sul o Pantanal da Nhecolândia e ao norte o Paiaguás

(BRAUN, 1977).

Dentre as várias teorias sobre a formação do relevo da Nhecolândia, que tem

como rio principal o Taquari, é caracterizada pela grande quantidade de lagoas

existentes. Apresentam-se na região da Nhecolândia alguns elementos descritos na

literatura, que são: “baías”, área deprimidas com água e em alguns casos essa água é

salobra, tem forma circular ou irregular; “cordilheiras”, são pequenas elevações,

situadas entre duas baías, com 2 m acima do espelho d’água, dificilmente são alagadas;

as “vazantes” são depressões situadas entre a as cordilheiras (Franco e Pinheiro 1982).

Existem também as “salinas”, que são pequenas depressões, mais rebaixadas que

as “baías”, com formas circulares, ovaladas, raramente secam, com pH alcalino (9), não

são atingidas pelas cheias e que na maioria das vezes são circundadas pelas

“cordilheiras”. As “salinas” não apresentam vegetação em seu entorno, são circundadas

por uma faixa de areia (ALLEM & VALLS, 1987). As “salinas” estão sempre em nível

topográfico inferior ao seu entorno (“cordilheiras”, “baías”, “vazantes”) (SAKAMOTO

et al., 1996).

De acordo com (GRADELLA, 2012) essas características muitas vezes não são

nítidas por possuir uma variação altimétrica muito sutil possuindo ainda a cobertura

vegetal densa em diversas áreas.

Em destaque tem-se a porção leste (Figura 1), a área de estudada, a qual

apresenta mudança brusca na paisagem e nos elementos geomórficos, por não

apresentar as características de lagoas e elevações como explanado nas literaturas.

Figura 1 – Área de estudo.

De forma sistemática por corroboração no desenvolvimento de trabalhos em

grupo de pesquisa, estão sendo realizados estudos de cunho geomorfológico, de

dinâmicas de inundação, variações microclimáticas, fitogeografia e paleogeografia.

Esses trabalhos têm avançado no entendimento do Pantanal, e em particular na

Nhecolândia.

OBJETIVO

Compreender a espacialização e organização do relevo e das geoformas presente

na porção leste do Pantanal da Nhecolândia.

METODOLOGIA

Iniciou-se pelo levantamento bibliográfico de autores que abordaram o

respectivo tema. Assim, foi possível identificar as descrições e análises já realizadas

sobre as elevações, planícies e depressões do relevo na região da Nhecôlandia.

As análises em gabinete ocorreram com a utilização de imagens do satélite

Landsat 5 da órbita/ponto 226/73 na composição R3G4B5, o que permitiu observar os

elementos de superfície, com base nas técnicas de fotointerpretação da forma, cor e

textura.

Foram também construídos modelos digitais de elevação (MDE) com os dados

levantados pelo radar da Agência espacial Americana (NASA), o Shuttle Radar

Topography Mission (SRTM). Por meio dos dados obtidos por essa missão, foi gerado

MDE (modelo digital de elevação) (SMITH & PAIN, 2009). O MDE-SRTM foi gerado

com auxílio do software Global Mapper 9.0, com paletas de cores personalizadas para

reduzir o intervalo das classes altimétricas a fim de melhor ressaltar as feições do

relevo.

Por fim, foi realizado trabalho de campo in loco para confirmação e/ou refutação

das análises em gabinete, se mostrando de grande valia para acurácia dos resultados

aqui apresentados.

RESULTADOS PRELIMINARES

Na área de estudo encontram-se duas características, sendo elas: a diferença de

altitude e a organização do relevo percebe-se que as altitudes vão diminuindo no

sentindo norte-sul, variando de 150 m a 110 m. Para um melhor detalhamento, foi

necessário dividir em três áreas (Figura 2), devido às características serem divergentes.

Sendo a porção norte, a porção central e as bordas da área oeste e sul.

Figura 2 – As 3 áreas divididas.

A porção norte (1) é formada por área plana com presença de vegetação rasteira

(tipo gramíneas) e alguns agrupamentos de vegetação arbustiva com forma irregular.

Também apresenta vegetação arbórea com forma estreita e alongada, transmitindo

indícios da existência de elevações, porém bastante sútil. Nota-se que essa organização

segue o fluxo de direção nordeste/sudoeste. A altitude encontrada no local varia de 145

a 150 m.

A porção central (2) é a maior área, como característica também evidenciada

como uma grande área plana com vegetação rasteira, porém, apresenta poucos indícios

de áreas elevadas, devido à vegetação arbórea serem pouco presente.

A área da borda oeste-sul (3) localiza-se na área de mais baixa altitude da área

em estudo, variando de 125 m a 110 m. Tem como característica poucas áreas planas,

existindo assim a peculiaridade de que em sua totalidade são compostas por feições

elevadas, conhecido na literatura como cordilheiras, evidenciadas pela vegetação

arbórea, intercalada por depressões (lagoas), pois o nível d’água das lagoas encontra-se

em altitudes inferiores ao da vegetação. É importante observar que a organização do

relevo das feições elevadas também apresenta tendência de direção nordeste-sudoeste.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A altitude tem se mostrado importante para análise do relevo quando comparada

com a vegetação, pois as descrições existentes na literatura aponta a presença de

vegetação arbórea sobre áreas elevadas. Quando analisado as feições elevadas às

porções norte e central não possui demarcação acentuada, o que não coincide com as

bibliografias, pois quando se trata das áreas com presença de lagoas, fica clara essa

dinâmica de feições elevadas ao entorno das depressões (lagoas).

Se realizar somente a análise por sensoriamento remoto pode-se equivocar ao

diferenciar as verdadeiras elevações com vegetação densa, ocorrendo camuflagem das

feições reais, surgindo dificuldade para afirmar o que realmente existe no local,

exigindo assim o levantamento de campo.

Em campo, foi possível notar que na região norte e central as feições planas

quando apresentam vegetação arbórea possuem a mesma altitude, ou seja, não há

elevações nítidas como as existentes na porção oeste-sul quando há a presença de lagoas

intercaladas a elevações com até mais de 3 m de altura do espelho d’água, onde é nítida

a presença de elevações.

Como a área é uma planície, há mais dificuldades nos estudos realizados por

existir poucas diferenças nas altitudes, dificultando assim realizar estudos aprofundados.

Através de imagens de satélite é possível concluir que o norte é mais elevado quando se

comparado ao sul, onde a altitude de toda área de estudo varia de 110 m a 150 m.

Com o levantamento bibliográfico de autores que abordaram a organização do

relevo, percebe-se uma divergência de informações contraditórias, pois, em campo a

área norte e central não possuem elevações apenas agrupamentos de vegetação densa.

É perceptível, portanto, que nas porções norte e central apresentam as feições

planas, modificando apenas quanto à organização e quantidade. Já a porção oeste-sul é a

que mais se diferencia, pela presença de depressão (lagoas) e a elevações.

Quanto à organização do relevo percebe-se que há um fluxo de direção

nordeste/sudoeste, ou seja, de maior altitude para menor altitude. Nota- se que a direção

é seguida por toda a área em estudo, está ligado ao direcionamento do leque fluvial e do

escoamento da água que faz a modelagem do relevo.

Assim, percebe-se a importância da confirmação dos dados obtidos através de

imagens de satélite em levantamentos de campo, para assim identificar falsas

informações vistas em imagens.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino,

Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul-FUNDECT pelo financiamento

da pesquisa e à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação-PROPP/UFMS pela

concessão de bolsa de iniciação científica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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planície quaternária do Pantanal. Revista Brasileira de Geografia 39, 164-180, 1977.

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Taquari, Pantanal da Nhecolândia, Brasil. Universidade Estadual Paulista Júlio

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SAKAMOTO, A. Y. Geomorphology and deposition events in Nhecolandia

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