Espaço Construído - O museu e suas exposições - Elisa Guimarães Ennes

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO Centro de Cincias Humanas e Sociais CCH

Museu de Astronomia e Cincias Afins MAST/MCT

Programa de Ps Graduao em Museologia e Patrimnio PPG-PMUS Mestrado em Museologia e Patrimnio

Espao Construdo:

O Museu e suas exposies.Elisa Guimares Ennes

UNIRIO / MAST - RJ, Junho de 2008

Anexo 1 CAPA/LOMBADA

Elisa G Ennes

Espao Construdo:O Museu e suas exposies

UNIRIO-MAST

2008

Espao Construdo:O Museu e suas exposies

por Elisa Guimares Ennes, Aluna do Curso de Mestrado em Museologia e Patrimnio Linha 01 Museu e Museologia

Dissertao de Mestrado apresentada Coordenao do Programa de Ps-Graduao em Museologia e Patrimnio.

Orientador: Professor Doutor Jos Dias

UNIRIO/MAST - RJ, Junho de 2008

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FOLHA DE APROVAO

Espao Construdo:O Museu e suas exposiesDissertao de Mestrado submetida ao corpo docente do Programa de PsGraduao em Museologia e Patrimnio, do Centro de Cincias Humanas e Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO e Museu de Astronomia e Cincias Afins MAST/MCT, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Museologia e Patrimnio.

Aprovada por

Prof. Dr. ______________________________________________Jos Dias

Prof. Dr.______________________________________________Priscila de Siqueira Kuperman

Prof. Dr. ______________________________________________Rosane Maria Rocha de Carvalho

Rio de Janeiro, Julho 2008

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En61 Ennes, Elisa Guimares Espao construdo: o museu e suas exposies/ Elisa Guimares Ennes. - 2008. x., 195 p. : il. Orientador: Jos Dias. Dissertao (Mestrado em Museologia e Patrimnio)Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO / Museu de Astronomia e Cincias Afins MAST. Programa de Ps-graduao em Museologia e Patrimnio, Rio de Janeiro, 2008. Referncias: p. 104 - 107

1. Museologia. 2. Patrimnio. 3. Museus comunicao. 4. Exposies - planejamento. 5. Linguagens da exposio. I. Dias, Jos. II. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Programa de PsGraduao em Museologia e Patrimnio. III. Ttulo. CDU 069.01

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Aos meus queridos Fran e Zizi com muito amor

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minha me amiga e incentivadora, sempre com muito carinho, em todas as empreitadas.

minha vigilante irm que, carinhosamente, acompanhou passo a passo este trabalho.

Teinha, querida tia que me apoiou de todas as maneiras, em todos os momentos.

Tereza Scheiner que um dia, na magia dos museus, me mostrou que era possvel trazer meu conhecimento e sensibilidade para este universo.

.

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Ao meu orientador Jos Dias, pelo respeito s minhas propostas e ao meu trabalho.

Aos queridos professores que me apoiaram e acompanharam neste caminho.

Aos queridos coleguinhas que tornaram esta jornada to alegre e interessante. Aos amigos do corao que, de alguma maneira, contriburam para a realizao deste trabalho.

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Resumo

ENNES, Elisa Guimares. Espao Construdo: o Museu e suas exposies. Orientador: Professor Doutor Jos Dias. UNIRIO/MAST. 2008. Dissertao.

A Dissertao observa a museografia de exposies atravs de seus recursos e sua funo comunicacional. Elabora reflexes sobre o significado dos Museus e seu papel diante das novas tcnicas de informao e meios de comunicao. Atravs de estudos de caso faz uma anlise das aplicaes dos elementos visuais e do design geral das exposies e sua interao com o contedo proposto.

Palavras chave: Museu, Comunicao, Exposio, Linguagens da exposio

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Abstract

ENNES, Elisa Guimares. Created Space: museums and their exhibitions. 2008. Graduate Program in Museology and Heritage, UNIRIO/MAST, Rio de Janeiro, 2008. 195 p. Supervisor: Jos da Silva Dias. Dissertation (Master).

Analysis of the museographical development of exhibitions, through their resources and communicational function. Considers the meaning and significance of museums and their importance, under new information technologies and communication media. Based on case analysis, an approach is made of the applications of visual elements, issues related to the exhibitions general design and their interaction with the contents considered.

Key Words: Museum. Exhibition. Language of exhibitions. Communication.

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Siglas e abreviaturas utilizadas (4)ICOM - International Council of Museums (Conselho Internacional de Museus) - rgo filiado UNESCO ICOFOM - International Committee for Museology, ICOM (Comit Internacional de Museologia do Conselho Internacional de Museus) ICOFOM LAM - Organizao Regional do Comit Internacional de Museologia (ICOFOM) para a Amrica Latina e o Caribe UNESCO - United Nations Organization for Education, Science and Culture (Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e Cultura0 IPHAN Instituto de Patrimnio Artstico e Histrico Nacional

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Lista de ilustraes (18)1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Representao do tom. p. 60. Imagem da exposio Vistas do Brasil, Pinacoteca do Estado de So Paulo. p. 61. Imagem da exposio Cincias da Terra Cincias da Vida, Museu de Arte Brasileira. p. 61. Imagem da exposio Cincias da Terra Cincias da Vida, Museu de Arte Brasileira. p. 61. Nasher Sculpture Center. p.61. Pinacoteca do Estado de So Paulo. p. 61. Mancha de cores, Forslind, Ann, cores, jogos e experincias, So Paulo, Callis Editora, 1996. p.62 8. Comparativo de figuras e cores, Forslind, Ann, cores, jogos e experincias, So Paulo, Callis Editora, 1996. p. 62. 9. Representao das cores. p. 62.

10. Cores dos materiais. p. 62. 11. Texturas. . 62. 12. Conveno de leitura. Dondis, Dondis A. Sintaxe da linguagem visual, So Paulo, Martins Fontes, 1997. p. 63. 13. Mtodos pessoais de viso. Dondis, Dondis A. Sintaxe da linguagem visual, So Paulo, Martins Fontes, 1997. p. 63. 14. Escala de Corbusier. Gropius, Walter. Bauhaus e a nova arquitetura, So Paulo, Editora Perspectiva, 1977. p. 64. 15. Neutralidade. Kliczowski, H. lvaro Siza. Barcelona, Loft Publications, 2001. p. 64. 16. Excesso, exposio Brasil + 500. p. 65. 17. Direo. Dondis, Dondis A. Sintaxe da linguagem visual, So Paulo, Martins Fontes, 1997. p.66. 18. Diversas formas de expor. Giraudy, Daniele; Bouilhet, Henri. O museu e a vida. Belo Horizonte, Editora UFMG,1977. p. 67.

x Sumrio

SUMRIOPg.

Introduo Cap. 1 Museus e ExposiesMuseus e Exposies Museologia Museografia Exposio/ Comunicao

12 19 20 26 27 32 40 43 53 54 55 57 59 60 71

Cap. 2

A construo do espao de exposioEstratgias O espao Cenografia Forma Linguagens da exposio Percepo Contexto

Cap. 3

Visitando a exposioPg.

Consideraes Referncias Anexos

99 104 109

INTRODUO

12 Introduo

IntroduoNo universo dos museus a exposio desempenha um importante papel na representao e comunicao de suas pesquisas e acervo. um espao construdo no apenas fisicamente, mas tambm simbolicamente, e pode ser entendido como espao do imaginrio, uma vez que intermedia as imagens dos espaos do imaginrio aos espaos reais1. O Museu, enquanto fenmeno cultural se apresenta de maneiras diferentes no tempo e no espao2. Sua arquitetura3, enquanto espao de representao, encontra-se em permanente mutao4. Sob o ponto de vista da fisicalidade, os edifcios que hoje abrigam museus possuem uma referncia histrica ou de representao de uma memria urbana e ..o alcance dos espaos construdos vai ento bem alm de suas estruturas visveis e funcionais5. Estes edifcios so, segundo Canclini, mquinas de sentido, de sensao, (...) da subjetividade individual e coletiva. 6. Os museus devem ser observados como espaos delimitadores e

contextualizadores, que atuam na construo de memrias: os edifcios e construes de todos os tipos so mquinas enunciadoras. Elas produzem uma subjetivao parcial que se aglomera com outros agenciamentos de subjetivao subjetividade coletiva 8. Certamente os edifcios de museus fazem parte do patrimnio cultural das cidades, no entanto, muitas vezes existe uma maior preocupao com a forma da edificao em si, segundo um critrio de obra de valor arquitetnico excepcional, buscando mais o efeito de monumento do que a funo de abrigar e ambientar o Museu.7

atuando, assim, no

conjunto, como uma transferncia de singularidade do artista criador de espao para a

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Entendido aqui que a construo simblica dos museus passa pelo imaginrio atravs do vis afetivo do patrimnio, da noo de identidade cultural e pertencimento. A multiplicidade de referencias culturais, conjunto identitrio de memria, permite que o Museu seja entendido e sentido de maneiras diferentes no tempo e no espao. Os edifcios de museus, re-significados, passam a ser percebidos como lugar simblico, de ordenamento das experincias individuais e coletivas. No mais entendido apenas como monumento ou espao sagrado, o museu tem nas suas exposies um espao privilegiado de representao do patrimnio cultural. Para tanto, necessrio que esteja em constante busca de uma adequao para atender s novas realidades, usos e relaes. CANCLINI, Nestor G. O patrimnio cultural e a construo imaginria do nacional, Rev Patrimnio n 23, 1993. p. 158. Ibid., p. 158. GUATARRI, Felix, Caosmose um novo paradigma esttico, Rio de Janeiro 1992. p.178. Ibid., p.178.

13 Introduo

Com a diversificao dos meios de divulgao, o Museu continua passando por modificaes estruturais para se adequar ao momento. Segundo Huyssen, preocupao com a no recorrncia eterna ao mesmo e que os ritmos frenticos da inveno tecnolgica e a realidade virtual no mundo domstico esto causando mudanas na estrutura da percepo 9. O Museu deve, portanto, continuar a trabalhar sistematicamente suas estratgias de representao, para poder oferecer seu espao como um lugar de contestao e negociao cultural. Refora-se aqui a idia que Scheiner nos traz de um local que tenha o carter de mediador institucional da circulao social de cultura, portanto, responsvel por um conjunto especfico de informaes e mensagens para as geraes futuras, mantendo a idia de continuidade e, com isso, personificaria a conscincia de identidade de um povo, regio ou pas10

. As

mensagens trabalhadas em seus espaos se apiam em conjunto de objetos-signos que expostos formam um texto. Os objetos que dividem com a narrativa o esclarecimento e auxiliam a compreenso tornam possvel a elaborao de um discurso fundamentado que, somando ao trabalho do especialista, pode acrescentar a percepo das multiplicidades sociais, possibilitando uma infinidade de leituras:Esse objeto deve ser o mesmo para todos. Mas, ao mesmo tempo, diferente para cada um, no sentido em que cada um se encontra, em relao a ele, numa posio diferente (...) Encontra-se, simultaneamente ou alternadamente, nas mos de todos. Por esse motivo, cada um pode inscrever nele sua ao, sua contribuio, seu impulso ou energia. O objeto permite no apenas levar o todo at o indivduo mas tambm implicar o indivduo no todo 11.

Observando algumas abordagens buscando entender os diversos papis do objeto e sua origem, percebe-se a existncia de um todo que se relaciona unindo a concepo da exposio, o projeto arquitetnico do museu e do espao e as obras e objetos que nele se expem. Lembro que fazemos parte de uma cultura de objetos, onde cada objeto, elemento do mundo exterior, fabricado pelo Homem e que este deve assumir e manipular, invoca a idia de coleo, de arranjo, de srie, de exibio12

.

Cada objeto seria, portanto, um atributo, e sua prpria presena no museu justificaria o tratamento diferenciado dos demais: os objetos pois um Signo pode ter vrios deles

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HUYSSEN, Andras. Escapando da amnsia. Museu como cultura de massa. Rev patrimnio n23, 1994. p. 47. SCHEINER, Tereza. Apolo e Dionsio no templo das musas: museu gnese, idia e representaes na cultura ocidental Dissertao. Orientadores Paulo Vaz, Lena Vnia Ribeiro. RJ ECO/UFRJ, 1998. p. 118. LVY, Pierre. O que o virtual? Ed 34, So Paulo,1999. p. 130. MOLES, Abraham. Teoria dos Objetos. Ed Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1981. p. 19.

14 Introduo

podem ser, cada um deles, uma coisa singular (...) um conjunto ou uma totalidade de partes 13. Eco analisa a relao do Homem com o objeto arquitetnico, comentando que frumos a Arquitetura como fato de comunicao, mesmo sem dela excluirmos a funcionalidade; neste sentido, torna-se difcil analisar semiologicamente a Arquitetura, uma vez que os objetos arquitetnicos aparentemente no comunicam (ou, pelo menos, no so concebidos para comunicarem) mas funcionam. Aqui, a arquitetura entendida como processo no qual cristalizam-se no apenas afetos, conceitos, intuies sugeridas em acidentalidade, porm, sobretudo, determinaes de ser e de estar14

. O espao de

exposio passa a ser percebido como espao de seduo, onde o signo desviado de seu sentido, porque seduzido 15, e tambm como espao do imaginrio. Para tanto, necessrio que se observe a exposio como espao de representao e como espao de seduo16, porque sua forma mais abrangente pois se estende alm da forma fsica, assim como observar o espao de exposio dos museus como espao de produo de narrativas, a partir da utilizao de diversas estratgias e linguagens e analisar o espao fsico expositivo como processo arquitetnico. Este opera na interseo entre o novo e a ancestralidade, em um vis comunicacional. Junto necessrio tambm refletir sobre a natureza simblica dos espaos construdos em museus, sua arquitetura como suporte para informao e representao. Lembro que mantm-se aqui como foco as diversas formas de representao do patrimnio cultural17, observando o processo de construo simblica do espao. Conseqentemente, sua elaborao um processo amplo que envolve uma srie especfica de conhecimentos.

A concepo e montagem de uma exposio so resultantes de um processo que envolve atividades tcnicas e cientficas e que resultam numa pauta museogrfica, a qual, quando apresentada de modo sensvel, permite diversas experincias estticas que

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PIERCE, Charle. Semitica, Ed Perspectiva, So Paulo, 1995. p. 46. COUTINHO, Evaldo. O espao da arquitetura, Ed Perspectiva, So Paulo, 1977. p. 170. BAUDRILLARD, Jean. Da seduo, Papirus Editora, So Paulo, 1991. p. 84. SCHEINER, em aulas PPG-PMUS UNIRIO-MAST, 2006/2. A constituio de um patrimnio cultural das sociedades tem se feito, historicamente, mediante atos arbitrados pela vontade de grupos hegemnicos. A historiografia nos mostra quanto a identificao e qualificao de referncias como patrimoniais tem sido permeada por movimentos de seleo de memrias e pelas conseqentes prticas de controle sobre essas referncias: documentao, inventrios, inspees, conservao. A inteno sempre congelar aspectos da cultura no tempo, conservando elementos do passado e do presente para as futuras geraes. SCHEINER, Tereza. Imagens do No-lugar: comunicao e os novos patrimnios. Tese. Orientador: Priscila Kuperman. RJ: ECO/UFRJ, 2004. p.15.

15 Introduo

levam o pblico a um prazer mais que esttico. Foucault nos auxilia no entendimento ao nos dizer que:...entre o olhar j codificado e o conhecimento reflexivo, h uma regio mediana que libera a ordem no seu ser mesmo: a que ela aparece, segundo as culturas e segundo as pocas, contnua e graduada ou fracionada e descontnua, ligada ao espao ou constituda a cada instante pelo impulso do tempo, semelhante a um quadro de variveis ou definida por sistemas separados de coerncia... 18

E o tratamento predominante dado ao espao de exposies o da mensagem visual, porm, no acontece isoladamente porque participa de todo o contexto comunicacional e ocorre articulada a outras fontes perceptivas na composio dos complexos discursos multi-sensoriais do ambiente em que se insere19. A comunicao, neste caso, se apia muito no olhar que revela sempre inmeras possibilidades. Recorremos a Ostrower para acrescentar que:cada vez que se olha para uma forma, o prprio olhar encerra um momento de avaliao, de referncia a si prprio, de referncia a ritmos e tenses de espaos vividos reencontrados na imagem, e tudo isso se passa no nvel da intuio 20.

O que nos leva a entender que a exposio nos permite trabalhar com vrios recursos com o fim de sensibilizar o pblico. Podemos, portanto, entender que a Exposio Museolgica pressupe um projeto museogrfico que carrega no seu bojo outros projetos como arquitetnico e luminotcnico, grfico e design dos suportes e outros elementos, que, junto com as pesquisas, formam um conjunto de informaes e definies que a geram. O exagero na aplicao de recursos tecnolgicos, grficos, de iluminao, assim como o uso indiscriminado de elementos cenogrficos, cria um excesso de rudo que impede a fruio dos objetos e das informaes que a compem. necessrio que haja um projeto eficiente do espao da exposio museolgica para controlar o efeito da comunicao dos materiais, para que o visitante no seja captado pelo design dos elementos e suportes apenas. Conseqentemente, entendo que se faz necessria uma anlise da Exposio Museolgica e seus espaos, do ponto de vista dos sistemas de representao. E neste trabalho busquei analisar a exposio como espao de arquitetura simblica21, enfocando18 19 20 21

FOUCAULT, Michel de. As palavras e as coisas, Martins Fontes, So Paulo, 1981. p xvii. NOJIMA, Vera, Comunicao e leitura no verbal, in Formas do Design, Ed 2AB, Rio de Janeiro, 1999. p.16. OSTOWER, Fayga . A construo do olhar in O Olhar, Cia das Letras, So Paulo, 1988. p. 177. Esta observao parte da idia de que existe um fluxo cognitivo e necessria a observao das apropriaes e percepes, pelas pessoas dentro destes espaos especiais, porque todos os elementos que l esto passam por uma transformao semitica das suas representaes. FERRARA, Lucrecia DAlessio. Design em espaos. Coleo TextosDesign, Edies Rosari, So Paulo, 2002. p. 134-142.

16 Introduo

o papel comunicacional das exposies museolgicas, assim como a sua utilizao como espao de representao e produo de narrativas. Ao longo do trabalho foram enfocadas diversas questes em torno da exposio, tais como sua forma, tipologias, a questo de conservao dos objetos em exposio, assim como os excessos que podem interferir na qualidade da comunicao. Todas estas questes indicam que existe a necessidade de se criar um discurso bem estruturado para a elaborao da exposio, para que ela seja um suporte eficiente para este discurso. Nos pontos abordados, entre outros, est a busca pelo entendimento da exposio como uma possibilidade de materializao das propostas tericas, ou seja, um sistema estruturado, que se utiliza de diversos elementos e recursos para desempenhar sua funo, ficando clara a necessidade de um planejamento eficaz e o entendimento da abrangncia deste meio para a divulgao das pesquisas e propostas dos museus. Ao longo da presente pesquisa encontrei as mais diferentes referncias ao termo exposio, o que leva a observar que pode ser interpretada e entendida de diversas maneiras. Desde uma forma emprestada dos mercados e feiras medievais como a forma de apresentar os resultados da indstria, arte e outros at como espao onde interagem pessoas, objetos e informao (forma e contedo), buscando o conhecimento atravs de uma vivncia. De qualquer maneira, fica claro que com as novas mdias e meios ampliouse o horizonte das exposies, o que dificulta sua definio. As colees e mesmo os objetos conceituais e imateriais, junto com a informao, so o foco das exposies, porm elementos tais como painis, vitrines e outros componentes dividem os espaos e necessitam estar em equilbrio e harmonia. O mesmo para a aplicao de outros meios tais como vdeos, computadores e outras tecnologias da informao; eles compem a exposio mesmo sendo suportes para as informaes. As propostas, de um modo geral, so elaboradas com objetivo de fazer com que a visita exposio seja uma experincia emocional, mas elas tm como finalidade maior o conhecimento apresentado e que pode vir a ser adicionado aos conjuntos de conhecimentos pessoais dos visitantes. E, podemos perceber, deve acontecer nas exposies um equilbrio entre a dimenso da arte, sua forma, funcionalidade e comunicao; esta se pode dizer at que deve ser preponderante sobre as demais. Observando tantos elementos que interagem no espao de exposio e seus determinantes, esta pesquisa foi desenvolvida da seguinte maneira nas diversas sees:

17 Introduo

Na primeira seo, em uma alegoria do O armrio, as gavetas, a caixa..., apresento os conceitos relativos a Museus e exposies e s teorias que os envolvem. Apresento uma seqncia destes conceitos que, assim como em um convite, situa o leitor na pesquisa e permite entender como hoje se constrem as exposies nos espaos dos museus. Na segunda seo, dando seqncia alegoria de estar ...abrindo o armrio..., passo pela observao do que se entende por exposies como espaos construdos e as estratgias de abordagens utilizadas na elaborao das mesmas, os elementos que atuam na percepo e que combinados permitem a leitura do discurso do museu, preparando a experincia para o visitante. Na terceira seo, abertura da Caixa de surpresas..., a observao focada no encontro de todos os elementos levantados nas sees anteriores. E a partir de estudos de caso, assim como em uma festa dos sentidos, fao observaes das exposies visitadas e um comparativo das diferentes vivncias. Ao final, esto colocados os levantamentos das exposies observadas e o roteiro que foi utilizado neste levantamento. Originalmente, foi utilizado um questionrio elaborado pela autora para este trabalho, porm, o mesmo foi reformulado baseado no questionrio apresentado pelo prof. Martin Scharer22.

A criao de uma exposio pressupe conhecimento, inspirao e interpretao. E mais, sensibilidade, vivncia artstica e harmonia do gosto para expressar e promover, atravs da vivncia no espao, emoo, harmonia e diversidade. Portanto, importante se pensar a relao do espao com o objeto.

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Martin Scharer, vice-Presidente co Conselho Internacional de Museus ICOM e Diretor do Museu Alimentarium, Nestl em Vevey, Suia. Em aulas da disciplina Teoria da Exposio PPG-PMUS UNIRIO, maro de 2008.

CAPTULO 1O armrio, as gavetas, a caixa... Um convite Museus e Exposies

19 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

O armrio, as gavetas, a caixa... um convite

1.

Museus e ExposioAs pessoas vo aos museus para ver exposies que podem ser compostas por

suas colees ou por colees visitantes. Elas so um meio original de comunicao e podem ser permanentes1, temporrias2 ou itinerantes3. So compostas por suas colees, e so espetculos para os sentidos, porm elas tm no seu bojo alguns objetivos definidos por Peter Van Mensh: pesquisa4, conservao5 e coleta6; mas todo este processo se inicia em outro contexto.

O ato de colecionar teria sido uma prtica natural do homem onde, atravs dos objetos, guardaria suas referncias. O homem da pr-histria j guardava objetos e os reunia segundo seus prprios critrios. Tradicionalmente, portanto, a gnese do museu seria entendida a partir da coleo7. Porm, segundo Scheiner, o nascimento do conceito estaria alm da figura do Templo das Musas - a idia de Museu teria estado, desde a Grcia grafa, relacionada idia de um espao perceptual, de um espao/ tempo (...) de revelao, de criao de celebrao do Homem sobre si mesmo e sobre o Universo8. E acrescenta que, se ele espao de presentificao das idias, de recriao do mundo por meio da memria, ele pode existir em todos os lugares e em todos os tempos: ele existir onde o Homem estiver e na medida em

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As exposies permanentes normalmente so elaboradas com as colees dos museus (mesmo dos museus cientficos). As colees, de um modo geral, podem ser divididas como: coleo em exposio (momentaneamente no utilizada em estudos), coleo em estudo (o que impede que se inviabilize o manuseio), coleo na reserva (o restante que no est em estudo nem em exposio). As exposies temporrias so uma nova apresentao das colees do museu, podendo ser temticas (uma nova viso para as suas colees) e podem conter itens de colees de outros museus para compor o tema. As exposies itinerantes so elaboradas pelos museus para circular por outras instituies, aumentando o acesso s suas colees. Pesquisa: as colees so fontes de pesquisa constante nos museus e as exposies so o resultado do conhecimento observado. Os museus so comprometidos com a conservao de suas colees, considerada fundamental para a longevidade das colees. Os museus de colees fechadas j no mais necessitam deste item, porm no caso de museus de cincias as colees tendem a crescer. Seria a partir da coleo que surgiria o museu tradicional, espao para guarda, conservao e difuso das informaes relativas ao seu acervo. SCHEINER, Tereza. Apolo e Dionsio no templo das musas: museu gnese, idia e representaes na cultura ocidental Dissertao. Orientadores Paulo Vaz, Lena Vnia Ribeiro. RJ ECO/UFRJ 1998. p. 4.

20 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

que assim for nominado espao intelectual de manifestao da memria do Homem, da sua capacidade de criao. A palavra Museu est sempre associada a colees, objetos nicos, aura, educao, comunicao, e, atravs do objeto original, sacralizando o espao. Porm, o Museu no apenas uma instituio responsvel pela coleta, pesquisa e guarda dos objetos exibidos em suas exposies, ele ocupa um papel importante na arquitetura do mundo contemporneo. Para que possa ser entendido, segundo Scheiner9, deve ser a partir do entendimento de como ohomem se projeta do fundo de seu inconsciente para alm de si mesmo, elaborando, no plano individual e em sociedade, os processos que levam constituio de determinados sistemas sociais, de determinadas maneiras de gerar e distribuir riquezas, de determinadas formas de produzir e consumir cultura.

E, assim como o homem cria espaos para outros usos, como escolas casas e templos, cria tambm espaos especficos para visitar e guardar seu patrimnio cultural.

Museu

Existe um grande nmero de abordagens conceituais sobre os museus e isso nos mostra a dificuldade de uma definio abranger todos os processos que o envolvem. O ICOM, Conselho Internacional de Museus da UNESCO o define comoUm estabelecimento permanente, sem fins lucrativos, a servio da sociedade e seu desenvolvimento, aberto ao pblico, que coleciona, conserva, pesquisa, comunica e exibe, para o estudo, a educao e o entretenimento, as evidncias materiais do homem e seu meio ambiente10

suas funes so mltiplas, e, portanto o Museu pode ser observado pelo enfoque educacional ou pelo comunicacional. Carvalho nos aponta que para Kerriou11, o Museu meio de educao e comunicao, enquanto para Lumbreras meio de comunicao de massa, que articula a mensagem de forma organizada12

, sendo essa uma de suas

trs funes bsicas: preservao, pesquisa e comunicao. Carvalho esclarece que, ao

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SCHEINER, Tereza. Museologia, globalismo e diversidade cultural. Conferncia proferida na cidade do Mxico. VII Encontro Regional do ICOFOM LAN, in apostila de Museologia 3, prof Tereza Scheiner, Rio de Janeiro, 2000. "A museum is a non-profit making, permanent institution in the service of society and of its development, and open to the public, which acquires, conserves, researches, communicates and exhibits, for purposes of study, education and enjoyment, material evidence of people and their environment. (...)" - Definio aprovada na 21 Assemblia geral em Seul, Coria, 2004. disponvel em http://icom.museum/definition.html acesso em jun 2007. KERRIOU, Miriam Arroyo de. Patrimnio e Cultura: reflexes sobre a experincia mexicana. in CARVALHO, Rosane M. Rocha de. Exposio em museus e pblico: o processo de comunicao e transferncia da informao. Diss Orientador: Lena Vnia Ribeiro Pinheiro. RJ. ECO/UFRJ - IBICT/CNPq, 1998. LUMBRERAS SALCEDO, Luiz Guillermo. Museu, Cultura e Ideologia. iApud CARVALHO, op.cit.

21 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

falar na 1 reunio anual do ICOFON/LAM, sobre os modelos conceituais de museus e sua relao com patrimnio natural e cultural, Mensch explicita da seguinte maneira:... a preservao inclui coleta, conservao, restaurao, armazenamento e documentao; a investigao refere-se interpretao cientfica do valor informativo do patrimnio cultural e natural; a comunicao compreende todos os mtodos possveis para transferir a informao a uma audincia: publicaes, exposies e atividades educativas adicionais."

, portanto um sistema de comunicao e informao e pode ser observado segundo Carvalho com um enfoque museolgico onde despontam autores voltados ao museu como um sistema de comunicao, o que pode se estender at a Museologia. (Saracevic) 13; porm existe uma dificuldade em definir um conceito. Loureiro nos diz que existem inmeros conceitos decorrentes das vrias vises e abordagens filosficas e cientficas dentre as inmeras e ricas vertentes do espao museal14, e o variado nmero de definies de Museu nos ajuda a concluir que no possvel universalizar um nico conceito. Mas seria possvel entender o processo de evoluo pelo qual o Museu passou ao longo do tempo e os modelos resultantes deste processo. Quais sejam: primeiramente o Museu Tradicional15 baseado nos objetos (cabendo nesta classificao o museu ortodoxo16 [acadmico], interativo17 [exploratrio] ou com colees vivas18 [jardins botnicos, zoolgicos, aqurios]), seguido pelo Museu de Territrio (compreendendo os museus comunitrios e ecomuseus19, parques nacionais e stios naturais20, cidades-monumento, stios arqueolgicos e paleontolgicos21) avanando at o Museu Virtual22. Cada museu representa um pensamento e um saber e utiliza para sua comunicao atravs das exposies, de um modo geral, o mtodo visual como linguagem bsica, mas tambm aplica outras como a ttil, auditiva e olfativa. Lembremos que o Museu pode existir em qualquer tempo e espao, o que significa que no

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CARVALHO, Rosane M. Rocha de. Exposio em museus e pblico: o processo de comunicao e transferncia da informao. Diss Orientador: Lena Vnia Ribeiro Pinheiro. RJ. ECO/UFRJ - IBICT/CNPq, 1998. LOUREIRO, Jos Mauro M. Labirinto de paradoxos: Informao, Museu, Alienao, Diss ECO/UFRJ - IBICT/CNPq, Rio de Janeiro, 1996. ...cuja unidade conceitual o Objeto (...) Sem objeto, no h coleo, e portento no h museu (...) usa o objeto como instrumento primordial de trabalho e sobre ele constri sua teoria. SCHEINER, Tereza. Apolo e Dionsio no templo das musas: museu gnese, idia e representaes na cultura ocidental Dissertao. Orientadores Paulo Vaz, Lena Vnia Ribeiro. RJ ECO/UFRJ 1998. p. 3. o modelo de museu onde de um modo geral os objetos so retirados do mundo e inseridos em um espao com elementos contextualizadores, fictcios, criado para este fim. Ibid., p. 4. Modelo onde entre os objetos so includos os experimentos e os fenmenos. Compreendendo os jardins botnicos, zoolgicos, aqurios e outros locais com espcimes vivos. Observa os processos culturais e sociais. Observa os processos naturais. Trabalham na vertente de conjunto, tomando os processos culturais/ sociais e os processos naturais patrimnio como foco o museu Integral. Apenas sendo possvel atravs de processos tecnolgicos, ou das percepes dos processos entre homem, memria e patrimnio (museu interior, museu global).

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possvel determinar um Museu utpico que seja possvel em todas as realidades; ele se desenvolve e toma a forma adequada para cada caso e necessidade especfica de cada sociedade23. De uma forma semelhante em todas as sociedades, o termo Museu est freqentemente associado a colees, objetos nicos, aura, educao, comunicao, de maneira particular, sacralizando o espao onde se encontra. Observado como um fenmeno cultural e, ao longo de sua existncia como espao de memria24, o Museu procura parar o tempo, a busca da eternizao do homem, a luta contra a finitude. Tambm pode ser entendida como a parada no tempo que acontece no apenas nas exposies atravs dos seus objetos originais nicos, mas tambm atravs da grande preocupao com a conservao. Esta minimiza a ao do tempo para que os objetos possam ser visitados e lidos, e, atravs de novas propostas possam ser re-lidos por um tempo maior do que seria o perodo normal de vida destes objetos enquanto em uso. O tempo25 constitutivo dos museus, porm nele, a flecha do tempo26 se dissocia do ritmo biolgico e passa ao tempo social. De uma forma sensvel, temos o domnio do tempo cronolgico (linear, irreversvel, mensurvel e previsvel) sobre o espao e as relaes sociais. No entanto, atualmente, percebemos o tempo de modo fragmentado e comprimido em funo das novas tecnologias, o que nos levaria a uma nova forma de observar os contratos sociais. Fica, portanto, ao Museu a funo de guardar o tempo atuando como mecanismo de acesso a um passado coletivo27, e este acesso se d atravs da memria. A memria28 est ligada, de um modo geral, aos objetos que descontextualizados perdem seu significado29 e necessitam de apoio para que esta conexo seja feita. Porm, se observados pelo vis do patrimnio cultural [de forma integral], esta memria se23 24

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29

Scheiner, em notas de aulas PPG-PMUS UNIRIO-MAST, 2006/2. ... entendida enquanto processo, enquanto jogo de articulaes da emoo e da mente humanas: o Museu, espelho e representao do Homem e das realidades por ele percebidas, opera simultaneamente nos diversos planos de memria, constituindo-se imagem e semelhana dos valores, desejos e expresses de distintas sociedades, que continuamente o recriam no tempo e no espao seja para dar-lhe uma nova forma, seja para reatualizar formas j institudas e consagradas. SCHEINER, Tereza. Apolo e Dionsio no templo das musas: museu gnese, idia e representaes na cultura ocidental Dissertao. Orientadores Paulo Vaz, Lena Vnia Ribeiro. RJ ECO/UFRJ, 1998. p. 31. Energia colocada em uma ao que no se recupera. Tempo real, porque o tempo virtual intemporal no temporal ou transitrio, eterno, perene. Segundo Scheiner, a memria coletiva estaria apoiada sobre alguns notveis como mediadores que seriam os guardies dos cadastros de memria coletiva com a funo de estimular os sentimentos de nostalgia e de afetividade, que nos permitem sair da sociedade atual e perceber o passado como um lugar de fruio. SCHEINER, loc. cit., p. 35. A memria do patrimnio um estmulo que vem dos objetos que nos rodeiam... o fenmeno da memria coletiva produz-se quando isso ocorre em alguns grupos da sociedade, ou simultaneamente a uma quantidade de pessoas, sendo este um fenmeno social muito respeitvel. MAROEVIC, Ivo. O papel da musealidade na preservao da memria. Texto apresentado no Congresso Anual do ICOFOM Museologia e Memria, 1977, trad. Tereza Scheiner. A memria est tambm ligada a um contexto. Os objetos musealizados perdem geralmente seu contexto histrico primrio ou original. Seu contexto vivente preserva-se apenas na documentao e na abordagem conceitual daqueles que so capazes de imaginar este conceito. Seu contexto museal completamente artificial. SCHEINER, loc. cit., p. 35.

23 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

atualiza de maneira dinmica buscando, alm da identidade do objeto, as referncias de tempo e espao30. A visita ao museu , portanto, uma experincia que permite transformar, atravs de descobertas, alguns nveis de significados dos objetos e conceitos expostos; e esta descoberta estimulada e sustentada pela confiana na autenticidade dos objetos. Este um elemento fundamental que sacraliza o espao e todo o conjunto dando credibilidade ao que dito atravs das exposies. A possibilidade de observar objetos originais31 representativos de momentos histricos ou de figuras importantes, dentro de uma narrativa, transformaria uma visita ao museu em um deslocamento temporal no imaginrio32 do visitante. Segundo Scheiner, este carter fenomnico do Museu e de sua pluralidade remete possibilidade de perceb-lo atravs da experincia de mundo de cada indivduo33

. Estaria ligado 34

memria coletiva em uma combinao de dados cientficos e culturais

elaborados a

partir das experincias individuais. O Museu representaria uma parte da realidade deslocando a funo dos objetos e dando nova conotao, passando a ser no mais o objeto em si, mas o resumo histrico35

. Para tanto, so fundamentais as aes de

preservao, conservao e organizao com fim de representar o patrimnio cultural. O museu opera, de um modo geral, diretamente com os objetos e a ele cabe tambm, a partir de seus critrios, a seleo do que apresentar e de que maneira faz-lo, uma vez que se insere no conjunto de instituies com autoridade pedaggica36 que pode romper continuamente o crculo da necessidade cultural (...) ao constituir a ao propriamente pedaggica nos termos de uma ao capaz de produzir a necessidade de

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A memria se funda sobre o tempo social de cada indivduo ou grupo social: a sua permanncia se apia sobre um espao social onde ela coloca sua marca. E portanto, toda memria no seno uma reconstruo do que j foi construdo, a partir da viso de mundo atual do indivduo ou grupo. SCHEINER, Tereza. Apolo e Dionsio no templo das musas: museu gnese, idia e representaes na cultura ocidental Dissertao. Orientadores Paulo Vaz, Lena Vnia Ribeiro. RJ ECO/UFRJ, 1998. p. 35. Segundo Benjamin a autenticidade de uma coisa a quintessncia de tudo o que foi transmitido pela tradio, a partir de sua origem, desde sua durao material at o seu testemunho histrico. BENJAMIN, Walter. Magia e tcnica, arte e poltica em Obras Escolhidas, Editora Brasiliense, So Paulo, 1994. p. 168. o imaginrio recobre, ou melhor, permeia toda relao do sujeito com objetos e imagens, na medida em que atravs deste registro que se constitui a prpria possibilidade de tal relao. PORTINARI, Denise B. A noo de imaginrio e o campo do Design, in Formas do Design, por uma metodologia interdisciplinar org Rita Maria Couto e Alfredo Jefferson de Oliveira. Ed 2AB, Srie Design, Rio de Janeiro, 1999. p. 38. SCHEINER, Tereza. Comunicao, Educao, Exposio: novos saberes, novos sentidos. Representao. Revista Semiosfera, ECo/UFRJ, ano 3 n 4/5. Disponvel em http://www.eco.ufrj.br/semiosfera/anteriores/semiosfera45/index.html. Acesso em dez de 2006. MAROEVIC, Ivo. O papel da musealidade na preservao da memria. Texto apresentado no Congresso Anual do ICOFOM Museologia e Memria, 1977, trad. Tereza Scheiner SCHEINER, Tereza. Comunicao, Educao, Exposio: novos saberes, novos sentidos. Representao. Revista Semiosfera, ECo/UFRJ, ano 3 n 4/5. Disponvel em http://www.eco.ufrj.br/semiosfera/anteriores/semiosfera45/index.html. Acesso em dez de 2006. O Museu alm da guarda, conservao e exposio do acervo tem em sua base tambm a funo didtica de transmisso de informao e com isto ele pode ser entendido como pertencente ao conjunto de instituies informais de ensino e pesquisa. A partir de seu acervo das prticas desenvolvidas em seu espao possvel desenvolver trabalhos de pesquisa e pedaggicos junto ao pblico escolar de todos os nveis, complementando os contedos apresentados em aula dentro do processo de ensino formal.

24 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

seu prprio produto

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. Faz parte da arquitetura histrico-cultural da civilizao

contempornea e como vivemos um processo de acelerao do tempo, junto com a fcil substituio da maioria dos objetos, tendo uma linguagem quase que totalmente visual afeta o modo de percepo desta contemporaneidade. Suas exposies so espaos transformados, criados para atender a funo de apresentar o acervo a partir de um afastamento do uso cotidiano dos objetos. As propostas consagram certos objetos e em funo delas o Museu se enquadra nas instncias investidas de poder assim como, segundo Bourdieu, a famlia e a escola, impondo um arbtrio cultural. Isto , est em condies de impor uma aprendizagem ao final da qual tais obras e objetos apresentados so naturalmente dignas de serem admiradas ou degustadas 38. Os museus convivem com novas tecnologias e novos meios de comunicao, acrescentados aos objetos e cones materiais, como tambm a linguagem escrita, passam a lidar com imagens e se multiplicam e conquistam um pblico crescente. Perderam seu papel de templos do saber e transformaram-se no lugar do espetculo da mis-en-scne, onde novas expectativas visuais so parcialmente agraciadas com movimento e flexibilidade 39 com discurso sobre arte e cultura. Os museus, efetivos instrumentos de pesquisa e comunicao cultural e social utilizam teorias e prticas que dizem respeito aos seus objetivos, ao seu funcionamento, aos seus mtodos e ao seu papel junto sociedade e necessitam sistematicamente de uma constante reviso das suas estratgias museogrficas. Seu importante meio de comunicao so as exposies das colees pelas quais permanentemente responsvel, e atravs delas mantm o contato direto entre o acervo e o visitante. Cada vez mais os museus se envolvem com os mais diferentes recursos para propiciar a melhor fruio de suas exposies. Este Museu to diversificado vem ao longo tempo sendo revisto, re estudado e cada vez mais ele se abre a novas propostas e novos perfis. Os conceitos de patrimnio se ampliam e junto seguem os novos conceitos e propostas para os museus.

Das resolues do ICOM na Mesa Redonda de Santiago (1972) se destaca o anncio de um novo tipo de Museu, diferente dos Museus Tradicionais40, o Museu Integral com atividades de carter social incluindo a ativa participao da sociedade

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BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simblicas, Editora Perspectiva, So Paulo, 1998, p. 272. BOURDIEU, op.cit., p. 272. SPIELBAUER, Judith K. A linguagem da exposio: interpretao e diviso de mundo. Texto apostila de Fundamentos da teoria da exposio. Aula prof Tereza Scheiner At ento o entendimento do que museu se restringia ao conceito de museu tradicional: espao, objetos e exposio.

25 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

como justificativa da sua prpria essncia e razo de ser

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. O edifcio com seus

espaos e o acervo deixam de ser o objetivo principal, e, o homem passa a ocupar este papel em todo o processo. No seria, portanto razovel limitar o museu idia com a qual foi concebido institucionalmente, apenas como continente-edifcio/ contedo-coleo e pblico42. Ao contrrio, os museus, segundo Castells, seriam, em princpio, instituies culturais, utilizando o termo cultura no sentido clssico de um sistema de valores e crenas43

,

sistemas de guarda e conservao, processando e transmitindo a potencialidade das mensagens culturais interativas, em um determinado contexto social. Teria sim, como uma de suas funes sociais a preservao e divulgao do patrimnio cultural, e, aos museus tem sido atribuda a guarda de construes arbitrrias sobre a nao podendo apresentar e refletir diversos projetos de nao 44. Seria atribuda ao Museu a qualidade de instituio cultural vinculada s formas polticas e culturais de cada sociedade45

e cada sociedade criaria museus porque

precisa de espelhos, porque o museu seria um espelho da sociedade e do indivduo na sua relao consigo mesmo, com a natureza e o mundo, com as diferentes realidades que desenham e configuram seu campo perceptual necessria atividade museolgica47 46

. Ele, como instituio, a base

que lhe d suporte e desenvolvimento.

As atividades desenvolvidas dentro do espao do museu so pautadas pela Museologia que promove a intermediao e, atravs dela, se define o que dever ser preservado; seu objeto o homem - o pblico, o pensamento focado no sujeito-objeto e suas inter-relaes. O ICOM48 define Museologia como uma cincia aplicada, a cincia do Museu que estuda a conservao educao e organizao. Tambm considera as relaes com o meio fsico e a tipologia. Ou seja, a Museologia abrangeria desde a teoria at o funcionamento do museu.41

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MOUTINHO, Mrio. Sobre o conceito de museologia social. Cadernos de Museologia n 1 SMAG/ULHT Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa,1993. p. 5. O que usualmente acontece em funo da prtica de aproveitamento de edifcios histricos ou construes tombadas para instalao de museus, independentemente de sua natural adequao para a nova funo. O correto uso da edificao implica em projetos, muitas vezes, de difcil e cara execuo, o que obriga a utilizao da edificao sem a necessria alterao. experincia profissional da autora CASTELLS, Manuel Museums in the information era, cultural connectors of time and space. Conferncia de abertura na 19 Conferncia Geral do ICOM em Barcelona, 2001. ICOM News, Newsletter the International Council of Museums/ UNESCO, vol 54, n3, 2001, ICOM ISSN 0020-6418. p. 4/8. SANTOS, Myrian Seplveda dos - Os museus, a memria e os novos meio de comunicao. Rio de Janeiro: IBICT, 1998. p. 11. SCHEINER, Tereza. Apolo e Dionsio no templo das musas: museu gnese, idia e representaes na cultura ocidental Dissertao. Orientadores Paulo Vaz, Lena Vnia Ribeiro. RJ ECO/UFRJ 1998. p. 1. Ibid., p. 1. GUARNIERI, Waldisa Russio. Museologia e Museu. Texto apresentado no simpsio o processo de comunicao dos museus de arqueologia e etnologia", universidade de So Paulo, 1993. p. 9. ICOM Conselho Internacional de Museus rgo filiado UNESCO, voltado para pesquisa e trocas de propostas, experincias e balizamento das diversas atividades e saberes que atuam dentro do espao museal atravs dos comits especficos de cada rea.

26 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

Museologia

Inserida nas Cincias Humanas e Sociais, uma cincia apoiada em teorias da rea de Museologia (como por exemplo a Cincia da Informao e a comunicao, dentre outras), uma cincia aplicada que tem como sub-reas trs grandes funes, j mencionadas anteriormente: a preservao (compreende a coleo, identificao, conservao, restaurao e documentao), a pesquisa (investigao do acervo) e a comunicao (exposio, divulgao do acervo e das pesquisas e educao)49. Pode ser considerada uma disciplina contempornea por ter se institudo principalmente a partir da segunda metade do sc. XX. No entanto, a Museologia era entendida at os anos 1970 como um ramo do conhecimento voltado para os objetivos e organizao dos museus, quando recebeu do ICOM a definio deestudo da histria e trajetria dos museus, seu papel na sociedade, seus mtodos especficos de pesquisa, conservao, educao e organizao, seu relacionamento com o ambiente fsico e a classificao dos diferentes tipos de museus 50.

A partir dos anos 1980, contriburam para a sua definio os estudos tericos realizados e publicados no no MuWoP 151. Respondendo provocao de Sofka52 quando diz queMuseologia o estudo dos museus e suas atividades... e que museologia o assunto geral dos museus e uma disciplina cientfica independente com seus objetivos, objetos de estudo, esfera de trabalho, mtodo e sistema. As diversas tarefas e vrias reas de coleo traam um carter largamente interdisciplinar da Museologia. Ainda que Museologia tenha que cooperar necessariamente com outros braos da cincia focando seu objeto comum de estudo: o museu e suas atividades.

Foram ento elaboradas algumas reflexes que contriburam para esta discusso. Segundo Desvalles53, seria uma escolha dos trabalhadores dos museus e estes decidiriam se seria um termo a se aplicar somente para se comunicar com o pblico ou com todo o campo de pesquisa o qual permite praticar sua profisso. J Gregorov54 considera Museologia uma nova disciplina cientifica ainda sendo constituda e define como sendo o estudo da relao especifica do homem com a realidade em todos os49

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53 54

Consideraes feitas a partir das informaes sobre as reas do conhecimento, disponvel no site da Capes. WWW.capes.gov.br MENSH, Peter Van. O objeto de estudo da museologia. Traduo Vania Estevan de Oliveira. Pretextos museolgicos 1 UNIRIO 1994 MuWoP1 Museological Working Papers. ICOFOM 1980 Sofka era ento o presidente do ICOFOM. SOFKA, Vinos. Museological provocations. In MuWoP1 Museological Working Papers. ICOFOM 1980. p. 12. DESVALLSS, Andr. Diretor dos museus da Frana. In MuWoP1. ICOFOM 1980. GREGOROV, Anna, Pesquisadora no stredn sprva mze a galeri, Czechoslovakia. In MuWoP1. ICOFOM 1980.

27 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

contextos em que ele foi e ainda concretamente manifestado. Para Lemieux55 Museologia no uma cincia, no entanto ele entende que muito mais do que um trabalho prtico e sim uma combinao entre conhecimento, entendimento, habilidade e percia. Lewis56 destaca a necessidade de colocar uma estrutura terica para o desenvolvimento do Museu como um todo. Segundo Pisculin57 uma uma cincia aplicada ao mundo contemporneo e deve garantir diretrizes para todos os aspectos do trabalho do Museu na sociedade moderna. E Reynolds58 acrescenta que embora estivesse ainda com parmetros pouco definidos seria sim uma cincia em embrio. Para Scala59 o leque de conhecimento e atribuies se amplia definindo que Museologia um estudo completo de todas as funes; esttica, administrativa, prtica, orientada para o relacionamento com o pblico e acadmicos lembra que esta uma funo necessria para entender o Museu no mundo complexo de hoje e refora a idia dizendo ser algo alm de uma cincia ou uma experincia prtica. Para Schreiner60 a disciplina se desenvolveu de forma social e cientfica, negociando com leis, princpios, estruturas e mtodos do complexo processo de aquisio e lembra o trabalho de preservar, decodificar, pesquisar e exibir objetos mveis originais, selecionados da natureza e da sociedade como fontes primrias de conhecimento. Lembra que estes criam a base terica para o trabalho e para o mtodo do museu com a ajuda de ampla experincia sistmica. Stransky61 entende que o termo Museologia ou teoria de museus cobre uma rea especfica de um campo de estudo focado no fenmeno museu teria sido desenvolvida anteriormente e, no presente, esta idia se direciona para o mbito de uma disciplina cientfica especfica. Tsuruta62 acredita que uma cincia de museus e acrescenta que deveriam ser feitos esforos para uma coordenao e cooperao internacional entre museus e cientistas de museus para desenvolver mais tarde o estudo da Museologia. E finalmente Zouhdi63 compreende como sendo a cincia dos museus. A museologia viria se desenvolvendo como Cincia dos Museus64, tendo como seu objeto de estudos a relao da sociedade com o Museu, incluindo os estudos sobre55 56 57

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LEMIEUX, Louis, Diretor do National Museum of Natural Sciences, Canad. In MuWoP1. ICOFOM 1980. LEWIS, Geoffrey, Diretor do Museum Studies at the University of Leicester, Gran Bretanha. In MuWoP1. ICOFOM 1980. PISCULIN, Juij P. Vice-diretor e chefe dos laboratrios de museologia do Gosudartsvenny muzei revolucci, Ussr. In MuWoP1. ICOFOM 1980. REYNOLDS, Barrie G. Professor de Cultura Material e diretor do Material Culture na James Cook University of North Queensland, Austrlia. In MuWoP1. ICOFOM 1980. SCALA, Joseph A. Chairman do Graduate Museology Program no College of visual performing Arts, USA. In MuWoP1. ICOFOM 1980. SCHREINER, Klaus. Diretor do Agrarhitoriches Museum, Republica Democrtica Alem. In MuWoP1. ICOFOM 1980. STRNSK, Zbynk. Diretor do departamento de museologia do Moravsk Muzeum, Czechoslovakia. In MuWoP1. ICOFOM 1980. TSURUTA, Scoichiro. Professor de museologia no Departamento de Educao da Faculty of letters of the Hosei University, Japo. In MuWoP1. ICOFOM 1980. ZOUDI, Bachir. Curator do Museum of Greco-roman Antiques and Bizantines Art, Sria. In MuWoP1. ICOFOM 1980. Lembramos que museu entendido aqui como fenmeno.

28 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

os museus. Pauta as atividades desenvolvidas dentro do espao do museu promovendo a intermediao, e atravs dela se define o que dever ser preservado. Seu objeto o homem - o pblico, o pensamento focado no sujeito-objeto e suas inter-relaes. O ICOM a define hoje como uma cincia aplicada, a cincia do Museu que estuda a conservao educao e organizao65. Tambm considera as relaes com o meio fsico e a tipologia. Ou seja, abrange desde a teoria at o funcionamento do Museu.

Encontrei tambm, ao longo das leituras, o entendimento de que Museologia uma disciplina que se volta desde a teoria at as prticas no Museu, e, Museografia seria usualmente aplicada para designar a arte (ou tcnicas) de exposio do museu. Scheiner nos lembra que a Museologia hoje tem a funo de investigar as novas relaes entre o global e o local distanciando as questes de consumo das questes culturais. E tambm de analisar a importncia do sentido de pertencimento e identidade a reelaborao do prprio em uma sociedade aonde a economia e a cultura encontram-se globalizadas, e onde as identidades ultrapassam territrios geogrficos e fronteiras lingsticas 66. Para entender a distino entre os conceitos de Museologia e Museografia recorro a Desvalles que esclarece que o termo Museografia67, teria vindo desde o sc. XVIII, seria definida como Museologia prtica e aplicada e subordinada Museologia e aplica suas concluses tericas. A Museografia compreende ento as tcnicas necessrias para realizar as funes museais e particularmente o que concerne o planejamento do Museu, a conservao, a restaurao, a segurana e a exposio68

. Seria possvel

alinhavar a idia de que a Museologia e a Museografia se complementam mutuamente. Os museus, no como fim, mas meio, seriam locais para as atividades de pesquisas e prticas, podendo ter um espao especfico criado para exposies de cunho e concepo museolgica. Estas so um tipo especial de representao comprometidas com as tcnicas e tratamentos especficos dos contedos, tendo sempre o homem65

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No caso da Muselogia existe o Thesaurus de acervos museolgicos desenvolvido por Helena Ferrez, mestre em Cincia da Informao e Maria Helena Bianchini, museloga. Ver referncias bibliogrficas no livro interdisciplinaridade p. 11 nota n12. SCHEINER, Tereza. Museologia, globalismo e diversidade cultural. Conferencia proferida no Mxico no VII Encontro Regional do ICOFOM/ LAM, 1998. apostila de Museologia. Prof Tereza Scheiner Musographie - La musographie, dont le terme a fait son apparition ds le XVIIIe sicle, se dfinit comme la musologie pratique et applique. Elle est subordonne la musologie et applique les conclusions thoriques auxquelles la musologie est parvenue.En anglais l'expression museum pactice este souvent prfre au terme museography. la muographie comprend les techniques requises pour remplir les fonctions musales et particulirement ce qui concerne l'amenagement du muse, la conservation, la restauration, la scurit et l'exposition. Mais l'usage du mot museographie a tendance, en franais, ne designer que l'art (ou les techniques) de l'exposition. C'est pourquoi, depuis quelques annes, le terme d'expographie a et propos pour dsigner ce qui ne concerne que les expositions, qu'elles se situent dans un muse ou dans un espace non musal . DESVALLES, Andr. Cent quarent termes musologiques ou petit glossaire de lexposition, in Manuel de Musographie. Petit guide lusage ds responsables de muse. Org Marie-Odile de Bary e Jean-Michel Tobelem. Ed Sguier, Option Culture, Biarritz, 1998. p. 205. DESVALLES, Andr. Cent quarent termes musologiques ou petit glossaire de lexposition, in Manuel de Musographie, Petit guide lusage ds responsables de muse. Org Marie-Odile de Bary e Jean-Michel Tobelem. Ed Sguier, Option Culture, Biarritz, 1998. p. 205.

29 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

observado como criador ou usurio de exposies

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. Convivem hoje com novas

tecnologias e novos meios de comunicao, junto com os objetos e cones materiais, como tambm a linguagem escrita, passam a lidar com imagens e a virtualidade70. Ao mesmo tempo perderam seu papel de templos do saber e transformaram-se no lugar do espetculo, da mis-en-scne, onde novas expectativas visuais so parcialmente agraciadas com movimento, e flexibilidade71

com discursos sobre arte e cultura. Como

instrumento de pesquisa e comunicao, o museu utiliza teorias e prticas que, ligadas aos seus objetivos, seu funcionamento, seus mtodos e seu papel junto sociedade, necessita sistematicamente de reviso das suas estratgias expositivas.

Museografia

Como j observamos antes, a Museografia de exposies vem sofrendo vrias transformaes; a cada momento observado um novo enfoque de acordo com os contextos scio-culturais, histricos e cientficos; contudo, constante a busca pelo aprimoramento do processo comunicacional. Estas mantm uma relao nica com o pblico, e trabalhar o Museu no enfoque da comunicao entender e planejar estratgias para dinamizar esta relao com seu acervo. O termo abrange vrias atividades dentro do Museu, ou seja, responsvel pela comunicao e divulgao do acervo, atravs das exposies utilizando para tanto diversos projetos complementares, de catalogao, conservao, acondicionamento e instalaes de apoio necessrias para as diferentes funes dentro do museu. a atividade que se ocupa, dentre outras coisas, dos aspectos tcnicos e prticos tais como o edifcio, sua organizao, climatizao, instalaes gerais ligadas intimamente arquitetura e conservao72. Entendida tambm como tcnica de apresentao do material expositivo, auxilia e permite a comunicao de contedos dos elementos musealizados, adequando o espao que o envolve observando a preservao e conservao deste material. Contudo, a

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MAURE, Marc. The exhibition as a theatre. On the staging of Museum objetcts. Nordisk Museologi, Lommedalen, 1995/2: 155-168 As relaes entre cultura, memria e patrimnio estariam assim condicionadas, mais que tcnica, a movimentos de afetos, num fluxo inesgotvel de intensidades e territorialidades, onde coexistem todas as matrizes culturais e identitrias. SCHEINER, Tereza. Imagens do No-lugar: comunicao e os novos patrimnios. Tese. Orientador: Priscila Kuperman. RJ: ECO/UFRJ, 2004. p 11. SANTOS, Myrian Seplveda dos. Os museus, a memria e os novos meio de comunicao. Rio de Janeiro: IBICT, 1998. p. 19. DESVALLES, Andr. Cent quarent termes musologiques ou petit glossaire de lexposition, in Manuel de Musographie. Petit guide lusage ds responsables de muse. Org Marie-Odile de Bary e Jean-Michel Tobelem. Ed Sguier, Option Culture, Biarritz, 1998. p. 210.

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Museografia deve ser uma reelaborao constante, uma proposta criativa diferente para cada caso, no devendo ser restrita ao espao de exposio, e sim abrangendo todos os espaos do museu. Torna-se variada, uma vez que existem tantas realidades museogrficas quantos so os museus existentes73

. Sua prtica requer conhecimento

em torno dos mais diversos tipos de acervo, desde as colees de arte, objetos etnolgicos e etnogrficos, documentos, colees cientficas, reservas tcnicas, reservas biolgicas e at parques nacionais, , portanto, uma atividade dinmica que envolve saberes de diversas reas e necessita constantemente de atualizao, incorporando novos conceitos tcnicos, tericos e sociais atravs do patrimnio cultural e ambiental. Sempre esteve presente junto prtica do colecionismo, muito embora sem ser definida como tcnica e sem fundamentao terica, que tem seu embrio a partir da organizao das colees particulares. Nieckel74 no Tratado de Museographia(1727) aplica o termo Museografia, sugerindo instrues para utilizao e organizao dos espaos. Seu significado se confunde com as prticas museolgicas, mas se diferencia trabalhando em compasso com as teorias na criao, na idia, na construo do tema e da exposio, na adaptao da coleo, na construo do espao, na adequao do edifcio. Sua prtica um trabalho onde se agrega a inspirao da criao interpretativa com a educao da sensibilidade e o agenciamento de novas vivncias e emoes atravs dos mtodos expositivos aplicados. A sua aplicao seria ento a infra-estrutura do ato comunicativo expositivo dos museus onde se constrem representaes, no apenas nos espaos de exposio, mas em todo o seu conjunto. Est vinculada ao conceito de Museologia, pois se apresenta como uma ao organizada na estrutura interna do museu; a ligao do museu com seu pblico mostrando sua tendncia ideolgica; uma prtica que lana mo, atravs do design75 de suas exposies, de variados recursos para obter um resultado possvel junto ao tema e acervo propostos. importante acrescentar que todos os produtos naturais e culturais so musealizveis. Para uma constante atualizao necessita que o museu saia em direo da cidade buscando e renovando sua linguagem, buscando cenrios significativos, porque necessrio que a partir de perguntas e de seus acervos ele faa o dilogo com o visitante mantendo constante o compromisso com a informao. Como instrumento de comunicao, o museu, atravs da sua museografia, deve estar73

LON, Aurora. El Museo, teoria, prxis y utopia. Madrid, Ediciones Ctedra,1986. p. 92.

7475

In HERNANDEZ, Francesca. Manual de Museologia. Madrid: Editorial Sintesis, 1994. p. 121.Segundo Bomfim o design seria, antes de tudo, instrumento para a materializao e perpetuao de ideologias, de valores predominantes em uma sociedade. BOMFIM, Gustavo A. Fundamentos de uma teoria transdisciplinar do Design: morfologia dos objetos de uso e sistemas de comunicao in Estudos em Design, AEnD-BR,V.Vn2 Rio de Janeiro,1997. ISSN 0104-4249. p. 32.

31 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

constantemente atento para as mudanas na sua forma de atuar; diminuindo os rudos e permitindo que o visitante no saia sem saber o que o museu mostrou. Para tanto fundamental a elaborao de um projeto museogrfico com uma programao completa e dinmica voltada para o visitante e as diversas maneiras como ele apreende o que observa. Portanto temos o Museu76 que uma construo contnua, devido aos seus diversos modelos desenvolvidos ao longo do tempo, em funo das mudanas temporais e scio culturais. A Museologia entendida como uma cincia que estuda o Museu e suas relaes com a sociedade. E a exposio que uma das vozes que o museu utiliza para o seu discurso. Deste modo, torna-se necessrio um estudo observando a forma como o Museu faz esse discurso. Para fazer uma observao do processo de exposio, o foco deste trabalho est voltado para o museu tradicional77 por trabalhar diretamente com os objetos e conceitos ligados a eles. Caberia aos museus tradicionais, segundo Moles fazer uma seleo no mundo dos objetos78

uma vez que nem todos os objetos cabem como representao,

pois nem tudo museu79. Os museus tradicionais segundo Scheiner so: Espao, edifcio ou conjunto arquitetnico/ espacial arbitrariamente selecionado, delimitado e preparado para receber colees de testemunhos materiais recolhidas do mundo. No espao do museu tradicional, tais colees so pesquisadas, documentadas, conservadas, interpretadas e exibidas por especialistas tendo como pblico-alvo a sociedade. A base conceitual do museu tradicional o objeto, aqui visto como documento. 80 Este museu, em geral, se baseia em colees que muitas vezes foram elaboradas por uma iniciativa pessoal, por motivos no definidos, no claros, ficando ento a necessidade de uma abordagem independente da qual foi originada. Os objetos das colees podem se dissociar da sua proposta inicial ao se alterar sua posio e seu contexto na exposio, logo, possvel mudar o seu significado a partir de uma proposta museogrfica. Buscando o equilbrio entre o design das exposies e o acervo, a museografia segue um processo de interpretao criativa voltada para a viabilizao esttica e tcnica da exposio museolgica. possvel, portanto, entender que a

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78 79

80

Que da ordem da percepo, das representaes culturais e relaes das sociedades. So museus tradicionais os museus de arte, histria, cincias, tecnologia, os museus biogrficos e temticos; e tambm os museus exploratrios, os centros de cincias, as casas histricas, os jardins zoolgicos, aqurios, vivrios e biodomus. SCHEINER, Tereza. Apolo e Dionsio no templo das musas: museu gnese, idia e representaes na cultura ocidental Dissertao. Orientadores Paulo Vaz, Lena Vnia Ribeiro. RJ ECO/UFRJ 1998. anexos MOLES, Abraham. Teoria dos Objetos. ed Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1981. p. 75/77. Segundo Moles, se assim o fosse, seria levado a admitir que o mundo o museu de si prprio (...) seria negar a sua prpria existncia. MOLES, Abraham. Teoria dos Objetos. ed Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1981. p. 77. SCHEINER, lo.cit.

32 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

museografia trabalha para a concretizao tcnica das teorias da museologia, em um horizonte prtico. Os museus trabalham a classificao do acervo segundo critrios estticos, histricos, cientficos e pedaggicos. Independentemente dos critrios adotados, o denominador comum seria o fato de que o Museu ordenado e pensado; e tem como elemento que traz prazer esttico, entre outros, o fato dos objetos serem nicos, autnticos com sua aura81 de objetos originais, como j dissemos. Porm, no se restringe apenas a catalogar e exibir, mas buscar a melhor maneira de trabalhar as colees buscando os eixos temticos82 dos quais elas fazem parte e lig-los como patrimnio cultural com o coletivo e com o territrio no qual est inserido83. interessante lembrar que em momentos pontuais da histria dos museus aconteceu o movimento de cruzar os portais e lev-los para a rua atravs de exposies abertas84, buscando interagir com outros visitantes que no os freqentadores usuais.

Exposio | Comunicao

A exposio uma das principais atividades do museu tradicional, importante meio de divulgao do acervo de sua permanente responsabilidade85. A concepo e montagem de uma exposio so resultantes de um processo que envolve atividades tcnicas e cientficas e que resultam numa pauta museogrfica. Um sistema com elementos. Esta, quando apresentada de modo sensvel, permite diversas experincias estticas que levam o pblico a um prazer mais que esttico. Trata-se de um processo comunicacional e o meio atravs do qual o museu faz sua narrativa; trabalha com mecanismos de transmisso de informao variados, utilizando diversas linguagens, lanando mo de tecnologias, recursos cenogrficos, cor, luz, espao, solues grficas e recursos multimeios.81

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Os objetos e obras originais possuem uma aura que segundo Benjamin uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a apario nica de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. BENJAMIN, Walter. Magia e tcnica, arte e poltica em Obras Escolhidas, ed Brasiliense, So Paulo, 1994. p170. Nos museus o visitante opera no tempo virtual, porque no necessariamente respeita uma cronologia. Quando montamos exposies temos nossos pontos (marcaes cronolgicas) definidos, porm, o visitante fica livre para a visita constri e interpreta. O Museu tradicional era concebido como edifcio/ coleo/ pblico. A nova viso museolgica considera no mais apenas o edifcio, mas sim o territrio, no mais apenas a coleo e sim um patrimnio coletivo, e no mais um pblico puro e simples, mas uma comunidade, o que na nova museologia aparece como a conjuno: territrio/ patrimnio/ comunidade. Em cidades, como Madrid (exposio de esculturas que saem do museu e vo para praa pblica), Londres, Rio de Janeiro desde os anos 1970 e So Paulo por exemplo, a experincia do Museu de Rua, 1997, mostra de fotografias antigas dos locais expostas junto aos espaos modificados em suportes de madeira - acontecem exposies nas ruas, onde muitas vezes os artistas interagem com o pblico, ou mesmo solicitada do pblico a manifestao de opinio a respeito da mostra. As exposies so uma forma prpria e peculiar dos museus de se comunicarem com o pblico. Entende-se aqui, portanto, que um sistema comunicacional..

33 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

Scheiner observa que exposio seria uma composio cujos elementos encontram-se dispostos em um espao pr-determinado, harmonicamente conjugados para transmitir a um grupo de pessoas uma determinada mensagem, com fins culturais. Ou seja, um espao especialmente elaborado para conter os objetos em uma forma especial, mpar, de narrativa86. Todo este conjunto de elementos e processos tem como objetivo o visitante que seria, em primeira instncia, a sociedade humana87

.

Portanto, para o sucesso desta experincia necessrio que se foque no elemento principal desta ao: o visitante88. Envolve, deste modo, os conceitos de informao e se torna importante a observao do processo de absoro da informao pelos visitantes. Carvalho89 nos lembra que segundo Cameron, os museus funcionam como um sistema de comunicao, no qual o acervo seria a fonte, as exposies seriam o meio e o pblico o receptor. Porm, neste sistema a comunicao flui em uma nica direo, e a informao dada a partir da forma como o conhecimento est organizado na exposio. A organizao do conhecimento na exposio determinada pelo discurso expositivo, desde a sua concepo e planejamento; e deve ser entendido como uma escolha, dentre muitas, baseada em critrios definidos. Varine lembra que o Museu deve ser um agente ativo do desenvolvimento geral, utilizando-se do fato de ser um smbolo e um repositrio da identidade cultural sem centrar unicamente na cultura no sentido usual, e observar a conservao da identidade natural e cultural, sem descartar a viso e o contedo cientfico. Deve tambm explorar ao mximo sua capacidade miditica, pois um "meio original de comunicao, usando (j que o nico capaz disso) a linguagem dos objetos reais para contribuir, entre outras coisas, para o desenvolvimento global da sociedade qual pertence90 utilizando suas exposies como forma de divulgao de seu discurso.

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H quase sempre, como pano de fundo a essa estrutura material, uma abordagem conceitual... SCHEINER, Tereza. Apolo e Dionsio no templo das musas: museu gnese, idia e representaes na cultura ocidental Dissertao. Orientadores Paulo Vaz, Lena Vnia Ribeiro. RJ ECO/UFRJ 1998. anexos ... segmentos mais ou menos definidos de cada grupo social, segundo a escolha e as possibilidades dos museus... em nome do seu pblico que os museus desenham e desenvolvem exposies. SCHEINER, loc.cit. As aes comunicativas, que tm como instrumento a linguagem, podem se realizar mediante a relao (a)entre falante e ouvinte; (b) entre imagem e aquele que assiste (c) entre texto e leitor. A Cincia da Informao volta-se, principalmente, para a ao comunicativa entre texto e leitor, tendo como objetivo principal criar condies para a sua realizao. Ela intervm na ao comunicativa textual para garantir que ela efetivamente ocorra, isto , que a informao torne-se acessvel quele que dela precisa. CARVALHO, Rosane M. Rocha de. Exposio em museus e pblico: o processo de comunicao e transferncia da informao. Diss Orientador: Lena Vnia Ribeiro Pinheiro. RJ. ECO/UFRJ - IBICT/CNPq. 1998. p. 35. CAMERON, Duncan. The museum as a communication system and implication of museum education. Curator, New York, American Museum of Natural History in CARVALHO, Rosane M. Rocha de. Exposio em museus e pblico: o processo de comunicao e transferncia da informao. Diss Orientador: Lena Vnia Ribeiro Pinheiro. RJ. ECO/UFRJ - IBICT/CNPq. 1998. p. 35. VARINE, Hughes de. Extrado de palestra proferida durante o encontro ICOM -UNESCO sobre museus e comunidades. Jokkmokk, Sucia, junho 1986.

34 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

Observando todos os determinantes, para que seja possvel a elaborao de um projeto de exposio preciso delimitar um espao e um contedo adequando-os, tornando possvel construir uma narrativa com signos, significante, significado e sentido. A museografia de exposies no neutra, e a linguagem utilizada por ela viabilizada por meio de elementos que acrescentamos ao objeto, o que pode fixar e reforar seu conceito ou dar abertura a novas leituras. Para tanto, na elaborao das exposies, so levantadas questes relativas organizao e aos eixos temticos para o desenvolvimento do projeto, tais como: quais as referncias e referenciais a serem utilizados, o que se pretende mostrar e de que maneira isto deve acontecer e buscar uma definio dos discursos a serem adotados. Os discursos podem ser o narrativo91, metafrico92 ou intelectual93. A partir de definies como estas possvel elaborar a fase espacial com fixaes e especificaes dos espaos, salas, revestimentos, suportes e vitrines. Em funo de algumas experincias tentam-se consolidar algumas regras e tcnicas de apresentao, juntamente com outros itens como luz e cor, buscando efeitos, que podem ser dramticos, como convite ateno do visitante para o objeto e discurso da exposio. Para o desenvolvimento das teorias e das prticas da museografia de exposies, foram agregados conhecimentos de outras reas tais como arquitetura e design, utilizando a programao visual e as aplicaes grficas, unidos aos critrios estticos e aos conhecimentos de conservao e preservao. A partir destas prticas, criou-se uma nova discusso e uma nova questo que colocava os objetivos das exposies em posies antagnicas: dar prioridade conservao das peas, ou sua exposio. O que aps diversas ponderaes se observou ser possvel a partir do desenvolvimento de tcnicas de conservao nas exposies, mantendo os objetos expostos e trazendo o mnimo de dano ao acervo. Para isso, o trabalho em parceria com as teorias de arquitetura, design, comunicao, conservao e teorias muselogicas so fundamentais criando um conjunto de tcnicas de exposio que somadas ao histrico dos museus e das colees gera um eficiente projeto museogrfico de exposies. Enquanto meio de comunicao, a exposio no neutra, mas uma linguagem alternativa que utilizamos por meio de elementos que agregamos aos objetos, como suportes, iluminao etc. Atravs destes recursos, pode-se fixar e reforar a informao que se deseja adicionar ao objeto. Da mesma maneira, ao se elaborar uma outra91 92 93

Uma narrativa trabalhada atravs de concepo espacial, dos textos e etiquetas. Uma imerso no espao criando e trabalhando com as emoes. Com informaes que ordenam o conhecimento.

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montagem, tomando outro partido, com outro enfoque, porm utilizando o mesmo objeto, se observa que possvel a abertura a novas leituras e tambm a criao de novas possibilidades de releituras de discursos anteriores94. O partido adotado para se utilizar em uma exposio varia, em muitos casos, de acordo com a tipologia do museu. Elas so muitas, existem museus de inmeras propostas: museus de histria, arte95, histria natural, palcios das descobertas, cincias, jardins zoolgicos, com colees de indumentrias, maquinrios, fsseis, moedas, plantas, insetos, avies, tecidos, faiana e tambm museus ao ar livre, de territrio, residncias urbanas ou rurais e muitos outros. Mas em todos os casos sua linguagem predominantemente visual. Essas composies seguem o modelo comunicacional: Museu | Emissor = Exposio | Meio e Mensagem = Visitante | Receptor E no contexto dos museus, a informao sobre as colees a as suas pesquisas utilizam as exposies como meio de comunicar seus contedos aos visitantes, as exposies so criadas a fim de significar.

Os museus vm recebendo um pblico crescente a cada nova exposio e, como sistema de comunicao, deve ter um olhar atento para seu pblico, conhecendo o comportamento dos seus visitantes. Ao visitar uma exposio, de uma forma ideal, se recebe as informaes e experincias que o museu preparou. O que pode ser extremamente interessante e satisfatrio quando as mensagens e experincias despertam a curiosidade e trazem idias relevantes ou importantes. Ou podem ser bastante complicadas e sem sucesso. De um modo geral os museus no sabem se o visitante entendeu ou experimentou a as propostas ali colocadas. Esse pblico deve ser conhecido pelas equipes responsveis pela transferncia de informao no planejamento das exposies e atividades culturais. Para isso desenvolvem-se, com equipes especializadas, pesquisas de pblico que permitem observar os visitantes. A partir o estudo sistemtico das respostas, o museu pode conhecer seu pblico. Nestes estudos so aplicados ou so observados os diferentes comportamentos do pblico na instituio; esta ao deve acontecer ao longo do tempo de exposio, porm preferencialmente nos meses que se seguem abertura.

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95

Esta reformulao da forma de leitura de seus acervos determina que os museus articulem a comunicao e cultura, Castells nos mostra que isto requer marcadores essenciais os quais so capazes de sintetizar arte, experincias humanas e tecnologia, criando novas formas tecnolgicas de registros de comunicao (...) museus podem ser capazes de vir a ser no somente depositrios de patrimnios, mas tambm espaos de inovao cultural e centro de experimentao. CASTELLS, Manuel. Museums in the information era, cultural connectors of time and space. conferncia de abertura na 19 Conferncia Geral do ICOM em Barcelona, 2001. ICOM News, Newsletter the International Council of Museums/ UNESCO, vol 54, 2001, n 3, ICOM ISSN 0020-6418. traduo da autora. P. 7. Com uma gama de variaes: Belas Artes, Arte Contempornea, Arte Moderna, Arte Popular, e outros.

36 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

Quando ento possvel observar se certos significados so entendidos de forma diferente da inteno original da proposta.

A linguagem de que se ocupa a comunicao produzida para um visitante padro e este tem que ser conhecido96

, portanto importante entender como este

pblico recebe e interpreta as informaes. Estender o olhar sobre o receptor amplia tambm o olhar sobre a forma e contedo do que emitido buscando aprimorar a qualidade da comunicao. Os enunciados so elaborados segundo critrios que simplificam a informao, e neste ato comunicacional os comportamentos so diferentes na medida em que ex-por propor um discurso, e visitar uma exposio com-por se apropriar97

, o visitante

dando significado mensagem, interpretando. Enquanto vetor de informao, as exposies muitas vezes possuem uma estrutura narrativa de difcil entendimento e usam critrios que levam o visitante a utilizar cdigos para interpretaes que muitas vezes no so adequados situao. Para Horta98, analisar uma exposio no fazer uma interpretao procurando o segredo do texto, mas procurar a produtividade de sentidos que ela oferece, mas tambm sugere que se procure os sentidos intencionados pelos autores e os sentidos recebidos e os dispersos no percurso. Acrescenta que a finalidade de uma exposio tem seu papel no contexto social que origina sua correlao com os cdigos e paradigmas vigentes e sua funo operativa, isto , sua capacidade de mudar esses paradigmas de propor novos cdigos. A linguagem do museu especfica, e o processo de construo dessas mensagens implica o uso de diferentes cdigos e sistemas semiticos que vo atuar simultaneamente sobre os receptores. Concretamente, o visitante tem o controle da leitura que vai fazer, uma vez que mesmo em exposies direcionadas ele pode escolher a leitura que vai fazer, os caminhos que seguir dentro do espao e o tempo que levar em cada ncleo, e at se vai concluir a visita ou parar no meio. O que contribui para a permanncia e o despertar da curiosidade o grau de decodificao da informao do visitante. Ele necessita de alguns cdigos bsicos para entender a proposta99. Carvalho100 esclarece que o conceito de receptor hoje um conceito geral que designa qualquer indivduo que participa de96

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100

CARVALHO, Rosane Maria R. de. Exposies em Museus e Pblicos: o processo de comunicao e transferncia da informao, Rio de Janeiro, EPECODIM 2001. p. 147-155. VRON, Eliso & LEVASSEUR, Martine. in CARVALHO, Ibid., p. 147-155. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Semitica e museu. in CARVALHO, Ibid., p. 147-155. Muito comum nas exposies cientficas, o que leva a necessidade de incluso de um nmero maior de textos e muitas vezes vdeos explicativos que forneam uma base para o entendimento do cdigo. CARVALHO, op.cit. p. 147-155.

37 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

qualquer processo comunicativo. E acrescenta que o entendimento deste conceito se estende a todos os processos de produo de sentido e consumo, uma vez que a informao produzida em um contexto e recebida em outro, a recepo est ligada ao contexto social, a partir de critrios de avaliao e produo de sentido. Uma pesquisa mais detalhada pode responder questes em torno do processo de recepo do contedo informacional nas exposies, e o quanto modifica o visitante e seu conhecimento sobre o assunto. Porm, o processo de recepo continua mesmo depois que o visitante sai da exposio, passando a fazer parte do seu acervo de conhecimento. agregado ao seu conjunto cultural com base nas experincias pessoais incluindo as relaes com as outras pessoas, e este resultado que passar a interpretar e compreender mensagens em um processo contnuo. Em muitos casos existe a necessidade de informaes complementares. Embora com um simples olhar seja possvel perceber o objeto ou imagem apresentados, isso no acontece com os detalhes e critrios que levaram seleo daqueles objetos especficos, sendo interessante que se observe a importncia das informaes bibliogrficas nas exposies etiquetas, catlogos, crticas e seu papel complementar na transferncia da informao 101. No entanto, diante das mensagens na exposio serem textos abertos ou estticos permitem uma liberdade de leituras e interpretaes; Horta102 acrescenta que apenas possvel buscar controlar a sua expresso museogrfica sendo impossvel controlar o seu contedo ou sua recepo. A questo que se apresenta como o pblico percebe o discurso produzido pelo museu e seu sentido, o quanto apreende de informao e como sai depois desta experincia. A recepo, no caso das exposies, de difcil preciso sem uma pesquisa, por se tratar de uma percepo de sentido no outro. Somente atravs das pesquisas se pode observar o quanto os contedos contriburam para reforar ou acrescentar conhecimento. O museu, ao conhecer seu pblico, se mantm atual; com seu discurso em linguagem de amplo entendimento buscando uma reflexo sobre questes atuais do mundo contemporneo, e novas formas de interagir com o visitante. Se a linguagem for extremamente bvia, e sem renovao no formato, com certeza os espaos ficaro vazios ou os visitantes passaro rapidamente por eles. Da mesma maneira, se o conjunto for fora dos cdigos minimamente conhecidos, podem no ser entendidos.

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102

CARVALHO, Rosane Maria R. de. Exposies em Museus e Pblicos: o processo de comunicao e transferncia da informao, Rio de Janeiro, EPECODIM, 2001. p. 147-155. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Semitica e museu. in CARVALHO. Ibid., p. 147-155.

38 Captulo I | O armrio, as gavetas, a caixa... um convite Museus e Exposio

Mais que representao, o museu criador de sentidos na relao entre o material e o virtual, entre o individual e o coletivo, entre o local e o individual, entre o tangvel e o intangvel, entre a criao e a informao103, principalmente entre os sentidos, atos e experincias. E desses sentidos que o museu constri seu discurso, veiculado atravs da exposio.

103

SANTOS, Myrian Seplveda dos. Os museus, a memria e os novos meio de comunicao. Rio de Janeiro: IBICT, 1998. p. 11.

CAPTULO 2Abrindo o armrio... Preparando A construo do espao de exposio

40 Captulo II | Abrindo o armrio... preparando A construo do espao de exposio

Abrindo o armrio... Preparando

2.

A construo do espao de exposioEscolhemos como pano de fundo desta seo observar a interferncia do espao

criado atravs do design para uma exposio museolgica, na fruio da informao e dos objetos expostos, buscando notar o tnue limite entre a proposta e as possveis interferncias neste processo.

A histria das exposies se confunde com a histria dos objetos dos Museus e a evoluo deste meio de comunicao permite a sua interao com vrios elementos: grficos, sonoros, luminotcnicos. A evoluo de seu formato acontece junto ao desenvolvimento de novos elementos e equipamentos, alm de pesquisas e estudos nas diversas reas do conhecimento e da tcnica, que interagem diretamente com este meio de comunicao. Algumas propostas, usando recursos tecnolgicos, tratam alguns temas na dimenso da virtualidade, com as exposies sem objetos. Porm, indiferentemente da forma de suas exposies, os museus possuem aspectos comuns e alguns outros que os identificam com a poca em que se inserem e tm sua linguagem predominantemente visual. Os processos de acelerao do tempo, to presentes nas diversas reas, e a fcil substituio da maioria dos objetos fazem com que o museu interfira no modo de percepo da contemporaneidade. A partir da observao das exposies, que o meio de comunicao to prprio dos museus, podemos entender sua forma de comunicar com seu pblico. Exposio, palavra derivada da raiz latina expositio, significava inicialmente explicao, com o sentido geral de apresentao, porm, seu significado hoje est ligado a apresentaes de formas variadas com explicao ao pblico. Desvalls1, acrescenta

1

Mais le terme d'exposition se distingue aussi de la prsentation dans la mesure o le premier terme correspond sinon un discours, plastique ou didactique, du moins une plus grande complexit de mise en espace, tandis que le second se limite un talage que l'on pourrait qualifier de passif. C'est en grande partie la conclusion des sens propre et figur du terme exposition qui a gnr cette diffrence. Toutefois, en franais comme en anglais avec "display" il persiste une tendance confondre les deux termes . BARRY, Marie-Odile de TOBELEM ; Jean-Michel. Manuel de Musographie, Petit guide lusage des responsables de muse. Sguier, Biarritz, 1998. p. .233

41 Captulo II | Abrindo o armrio... preparando A construo do espao de exposio

ainda que existe certa confuso que se reflete nas tradues - com os termos exibio e apresentao.tambm se distingue do termo apresentao da mesma maneira corresponde no apenas a um discurso, plstico ou didtico, de menor para uma maior complexidade e respeitando seu espao, enquanto que o segundo se limita a uma exibio que se poderia qualificar de passivo. em grande parte a juno de sentidos prprio e figurativo do termo exibio que gerou esta diferena. porm, em francs como em ingls "display" persiste uma tendncia para confundir os dois termos.

Entendida como uma das mais importantes atividades do Museu, a exposio dos objetos e informaes pelos quais a instituio permanentemente responsvel tem o objetivo de manter um contato direto entre o acervo e o visitante. Os museus cada vez mais se envolvem com os mais diferentes recursos para propiciar a melhor fruio de suas exposies, e Scheiner lembra que sua principal caracterstica a comunicao entre os museus e a sociedade.principal veculo de comunicao dos museus com a sociedade, a atividade que caracteriza e legitima o museu como tal. Sem as exposies, os museus poderiam ser colees de estudo, centros de documentao, arquivos; poderiam ser tambm eficientes reservas tcnicas, centros de pesquisa ou laboratrios de conservao; poderiam ser, ainda, centros educativos cheios de recursos mas no museus 2.

As exposies refletem a personalidade do museu na apresentao de suas exposies, que podem variar sua dinmica tanto para estudos, para vivncia ou diverso, entre outras propostas. E, por ser uma interessante ligao dos museus com o pblico, muitas vezes fica a impresso de que museu apenas exposio.3 As exposies na maioria dos museus so baseadas nas colees e no conhecimento pesquisado e documentado pelo prprio museu. Os objetos, fsicos ou conceituais, utilizados nas suas exposies refletem sua tipologia e mostram sua funo bsica de pesquisa, enfatizando todas as atividades desenvolvidas pelos museus alm das exposies. A elaborao das exposies um processo que pode ser comparado a escrever um conto; trabalhando com a subjetividade dos temas e utilizando objetos, combinado-os de maneira a contar a histria, mantendo o equilbrio entre a subjetividade que aproxima, e objetividade que distancia permitindo avaliaes. Para percebermos o que a exposio, RUFFINS4 recomenda que se deva pensar nela como um cenrio dramtico para objetos e informaes. E acrescenta que

2 3 4

SCHEINER, Tereza. Museus e Exposies, Apontamentos para uma teoria do sentir. Artigo, Rio de Janeiro, 1991. LORD, Barry, LORD, Gail Dexter. The manual of Museum Exhibitions. Oxford, Altamira Press. 2001. p. 12. RUFFINS, Fath Davis. The exhibition as form, an elegant metaphor, in Museum News, Outubro 1985, p. 54-59. Traduo Tereza Scheiner.

42 Captulo II | Abrindo o armrio... preparando A construo do espao de exposio

As cores, os nveis de luz, os estmulos visuais, o som, o drama da montagem e do design, a beleza e a originalidade dos objetos especficos tudo isto tem um papel no desenvolvimento da metfora, da traduo, da narrativa construda, da fico que a exposio. Nas exposies, muitos sentidos se entre