ESPAÇOS DE INCLUSÃO

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ESPAOS DE INCLUSOApresentao Marta Gil* "A deficincia uma dentre todas as possibilidades do ser humano e da dever ser considerada, mesmo se as suas causas e conseqncias se modificam, como um fato natural que ns mostramos e de que falamos, do mesmo modo que o fazemos em relao a todas as outras potencialidades humanas" (UNESCO, 1977). "Ns no devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos impossibilitem de reconhecer as suas habilidades. As caractersticas mais importantes das crianas e jovens com deficincia so as suas habilidades" (Hallahan e Kauffman, 1994). "Uma criana deficiente no respeitada se for abandonada sua deficincia, do mesmo modo que no respeitada se se negar a realidade da sua deficincia. respeitada se a sua identidade, a sua originalidade, da qual a deficincia tambm faz parte, for favorecida e quase provocada, isto , se ela for levada a desenvolver-se. Tal a atitude realista ativa, em situao e em relao. Se for ao contrrio, temos o realismo inerte" (Canevaro, 1984). Vivemos um momento histrico caracterizado por mudanas, turbulncias e crises, mas tambm pelo surgimento de oportunidades. Esta situao pode ser constatada na rea da Deficincia, entre outras. Basta olhar nossa volta: h mais pessoas com deficincia nas ruas e locais pblicos; elas aparecem com mais freqncia no noticirio, inclusive no esportivo: nas ltimas Paraolimpadas, conquistaram muito mais medalhas (inclusive de ouro e prata) que os nossos atletas brasileiros ditos "normais"... Elas se destacam na msica (podemos citar o reggae d' "A Tribo de Jah", por exemplo), ganham as passarelas, como modelos fotogrficos, como Mara Gabrilli e Ranulfo, e tambm escrevem livros, como Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva. O Pirata, que ganhou este apelido por ter uma prtese na perna, continua surfando e ensinando portadores de deficincia a surfar; a Equiperneta, composta por jovens com diferentes tipos de deficincia fsica, foi praticar esportes radicais no Nepal, h uns dois anos, faanha que foi mostrada na televiso. Estes exemplos (e muitos outros mais) indicam que h um processo social em curso, denominado "incluso" pelos estudiosos: de um lado, a sociedade comea a perceber a existncia de pessoas portadoras de deficincia e a se organizar, para acolh-las e, de

outro, as prprias pessoas com deficincia comeam a se mostrar, a reivindicar seus espaos, a exercer seu papel de cidads. Como todo processo social, este tambm complexo e acontece de forma gradual. Afinal, para que a incluso acontea preciso modificar sculos de histria, de preconceitos muito arraigados, de ambos os lados - e isso no acontece de um dia para o outro. A incluso ocorre nas escolas, nas lanchonetes, nos shopping centers, no trabalho, nas igrejas - enfim, em todos os espaos de interao humana. Nesta srie do Salto para o Futuro/TV Escola, vamos focalizar principalmente o que est acontecendo nas escolas, com a Educao Especial, que passa a se chamar Educao Inclusiva. nosso propsito apresentar material para reflexo dos que esto envolvidos com o processo pedaggico. Como pensar em incluir e, mais ainda, como exercer a incluso, se no conhecemos estas pessoas, se no temos informaes sobre elas - enfim, se elas ainda no existem para ns? Estes e outros temas sero debatidos nos cinco programas da srie Espaos de incluso, que ser apresentada no programa Salto para o Futuro, da TV Escola, de 22 a 26 de abril de 2002. Temas que sero abordados na srie Espaos de Incluso PGM 1: O QUE INCLUSO SOCIAL? Este termo "incluso social" tem sido bastante veiculado e discutido, em substituio ao conceito utilizado anteriormente, de "integrao social", em muitos pases, no apenas no Brasil. Porm, h vrias acepes deste termo, que introduz um novo paradigma em nossa sociedade e assinala outra etapa no processo de conquista dos direitos por parte das PPD - Pessoas Portadoras de Deficincia e de simpatizantes desta causa. Neste programa, abordaremos este conceito, atravs de perguntas "provocadoras" e mantendo, sempre que possvel, o foco sobre a situao nas escolas: O que significa incluso? Quem so, realmente, as pessoas portadoras de deficincia? Por que elas estavam "invisveis", at h pouco tempo? PGM 2: DEFICINCIA MENTAL E INCLUSO SOCIAL Este programa focaliza a realidade das pessoas com deficincia mental, que representam de 40 a 50% do segmento das PPD. Dada a grande nfase que nossa cultura coloca sobre o desempenho e as habilidades cognitivas, percebidas at mesmo em ditados populares como "O homem que l vale mais", as pessoas com este tipo de deficincia recebem a carga mais expressiva de atitudes e sentimentos discriminatrios e so consideradas "eternas crianas". Este programa focalizar sua atuao em diversos ambientes sociais: na escola, no trabalho, em atividades de lazer e tendo

direito expresso de sua sexualidade. PGM 3: DEFICINCIA VISUAL E INCLUSO SOCIAL A incidncia de deficincia visual corresponde a aproximadamente 20 a 30% dos casos de deficincia. Infelizmente, estes nmeros tm apresentado tendncia a aumentar, em decorrncia do aumento da violncia, nas cidades de mdio e grande porte. Este programa mostrar portadores de deficincia visual parcial ou total desempenhando tarefas profissionais, aprendendo o alfabeto Braille e tendo acesso a museus. PGM 4: DEFICINCIA FSICA E INCLUSO SOCIAL Embora as pessoas utilizem o termo "deficincia fsica" de forma genrica, para designar todos os tipos de deficincia, para os que atuam na rea ele indica pessoas com comprometimentos motores e/ou de locomoo, em braos e/ou pernas. Este tipo de deficincia tambm tem aumentado, em grande parte como conseqncia da violncia urbana e da prtica de esportes radicais. Este programa mostrar alternativas de adaptaes arquitetnicas que proporcionam autonomia, situaes de incluso em salas de aula e no trabalho. PGM 5: DEFICINCIA AUDITIVA E INCLUSO SOCIAL A situao das pessoas com deficincia auditiva , freqentemente, minimizada tanto por familiares quanto por medidas do Poder Pblico, que traduzem esta percepo na frase: "Ora, mas ele/a apenas surdo/a", sem se dar conta do que esta deficincia afeta a capacidade de compreenso e de comunicao destas pessoas. Assim, os estudos e as iniciativas voltadas para a compreenso e o atendimento deste segmento das PPD so em menor nmero. Este programa vai mostrar a pessoa surda em diversos ambientes de aprendizagem e exercendo o lazer. PGM 1: O que incluso social? Marta Gil* Comeando a conversa: quem so as PPD - Pessoas Portadoras de Deficincia? H muitas maneiras de conceituar quem pode ser classificado como portador de deficincia; estes conceitos mudaram, ao longo da Histria, assim como as palavras utilizadas para exprimi-los. Termos como: retardado, doentinho, aleijado, surdo-mudo, surdinho, mudinho, excepcional, mongolide, dbil mental e outros no so mais aceitos, atualmente, pois carregam muitos preconceitos. E todos ns sabemos o quanto as palavras so poderosas... Atualmente, os termos adequados so: Pessoa Portadora de Deficincia, Pessoa com Deficincia ou Pessoa com Necessidades

Especiais. Estes termos sinalizam que, em primeiro lugar, referimonos a uma PESSOA que, dentre outros atributos e caractersticas, tem uma deficincia, mas ela no esta deficincia. O que importa, em primeiro lugar, a pessoa. Estes termos tambm despertam controvrsias; cada um deles tem defensores, com argumentos prprios. Acreditamos que o fundamental referir-se a estas pessoas ou conversar com elas de forma natural e respeitosa. Em termos gerais, podemos definir que "Pessoa Portadora de Deficincia" a que apresenta, em comparao com a maioria das pessoas, significativas diferenas fsicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos e/ou adquiridos, de carter permanente e que acarretam dificuldades em sua interao com o meio fsico e social. No Brasil, o Decreto n. 3.298 de 20 de dezembro de 1999 considera pessoa portadora de deficincia a que se enquadra em uma das seguintes categorias: Deficincia Fsica: "Alterao completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da funo fsica, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputao ou ausncia de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congnita ou adquirida, exceto as deformidades estticas e as que no produzam dificuldades para o desempenho de funes"; Deficincia Auditiva: "Perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando em graus e nveis" que vo de 25 decibis (surdez leve) anacusia (surdez profunda); Deficincia Visual: "Acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, aps a melhor correo, ou campo visual inferior a 20 (tabela de Snellen), ou ocorrncia simultnea de ambas as situaes"; Deficincia Mental: "Funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da mdia, oriundo do perodo de desenvolvimento, concomitante com limitaes associadas a duas ou mais reas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivduo em responder adequadamente s demandas da sociedade"; Deficincia Mltipla: " a associao, no mesmo indivduo, de duas ou mais deficincias primrias (mental/visual/auditiva/fsica), com comprometimentos que acarretam conseqncias no seu desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa". Uma das possibilidades de ocorrncia de deficincia mltipla a surdocegueira, na qual a pessoa tem uma perda substancial de

viso e audio, de tal forma que a combinao das duas causa muita dificuldade no dia-a-dia, demandando o emprego de metodologias prprias para comunicao e aprendizagem. No outro extremo da escala das habilidades intelectuais esto as pessoas que so consideradas superdotadas ou com altas habilidades, que se caracterizam por um notvel desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: o Alta capacidade intelectual geral; o Aptido acadmica especfica; o Pensamento criativo ou produtivo; o Capacidade de liderana; o Talento especial para artes; o Capacidade psicomotora. Alm destes quatro tipos de deficincia anteriormente citados, h um outro grupo de comportamentos e atitudes que se diferencia do padro considerado normal e que recebe o nome de condutas tpicas. Estas podem ser definidas como manifestaes de comportamento tpicas de portadores de sndromes e quadros psicolgicos, neurolgicos ou psiquitricos, que ocasionam atrasos no desenvolvimento e prejuzos no relacionamento social, em grau que requeira atendimento educacional especializado. Vale a pena mencionar, ainda que brevemente, o autismo, que uma sndrome definida por alteraes presentes, em geral, por volta do 3 ano de vida e que se caracteriza pela presena de desvios nas relaes interpessoais, linguagem/comunicao, jogos e comportamentos. Dentre os sinais mais caractersticos do autismo, podemos citar: o Tendncia ao isolamento; o Movimentos repetitivos, aparentemente sem funo e sem objetivo (esteriotipia); o Dificuldade no relacionamento com outras pessoas (no mantm dilogo, mantm o olhar distante, rejeita contatos fsicos); o Faz uso de seu nome quando se refere a si prprio; o Repete palavras ou frases constantemente (ecolalia); o Ausncia de noo de perigo; o Permanncia em situao de fantasia desvinculada da realidade; o Hiperatividade intensa e permanente; o Necessidade de manter rotinas obsessivas de comportamento, apresentando reao de pnico quando h alguma interferncia. A srie Espaos de Incluso trata da problemtica referente aos portadores de deficincias fsica, mental, auditiva e visual. Gradaes

fcil perceber que, qualquer que seja o tipo de deficincia, ele apresenta gradaes: h pessoas com comprometimentos maiores, que exigem equipamentos como cadeira de rodas, e h outras cujas limitaes so menores; algumas conseguem aprender a ler e escrever, mas outras no. A Organizao Mundial da Sade define estes graus usando as seguintes classificaes: Desvantagem (handicap): "No domnio da sade, a desvantagem representa um impedimento sofrido por um dado indivduo, resultante de uma deficincia ou de uma incapacidade, que lhe limita ou lhe impede o desempenho de uma atividade considerada normal para ele, levando em conta a idade, o sexo e os fatores scio-culturais" (OMS, 1980, p. 37). A situao de desvantagem s se determina em relao a outros, sendo por isso um fenmeno social. Caracteriza-se por uma discordncia entre o nvel de desempenho do indivduo e as expectativas que o seu grupo social tem em relao a ele. A situao de desvantagem expressa, pois, o conjunto de atitudes e respostas dos que no sofrem de desvantagens. Deficincia: "No domnio da sade, deficincia representa qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou funo psicolgica, fisiolgica ou anatmica". Dizer que um indivduo "tem uma deficincia" no implica, portanto, que ele tenha uma doena nem que tenha de ser encarado como "doente". Incapacidade: No campo da sade, indica uma desvantagem individual, resultante da desvantagem ou da deficincia, que limita ou impede o cumprimento ou desempenho de um papel social, dependendo da idade, sexo e fatores sociais e culturais. A incapacidade, estabelecendo a conexo entre a deficincia e a desvantagem, representa um desvio da norma relativamente ao comportamento ou atividade habitualmente esperados do indivduo. A incapacidade no um desvio do rgo ou do mecanismo, mas sim um "desvio" em termos de atuao global do indivduo e pode ser temporria ou permanente, reversvel ou irreversvel, progressiva ou regressiva. Estes conceitos da OMS so seguidos por praticamente todas as organizaes internacionais que abordam a problemtica da Deficincia: UNESCO, International Rehabilitation, OIT, ONU e outras. Trazendo estes conceitos para o contexto da incluso dos alunos com deficincias, podemos perceber que os aspectos que adquirem maior relevncia neste cenrio so as desvantagens funcionais que eles apresentam. Nem sempre a comunidade escolar est preparada para lidar com elas e no sabe o que fazer. Isso cria um

desconforto na interao social, fazendo com que muitos evitem as crianas com deficincia ou faam piadinhas de mau gosto. Estas atitudes mostram a existncia de preconceitos e de estigma. Deficincia: verdades e mitos Verdades o Deficincia no doena; o Algumas crianas portadoras de deficincias podem necessitar de escolas especiais; o As adaptaes so recursos necessrios para facilitar a integrao dos educandos com necessidades especiais nas escolas; o Sndromes de origem gentica no so contagiosas; o Deficiente mental no louco. Mitos o Todo surdo mudo; o Todo cego tem tendncia msica; o Deficincia sempre fruto de herana familiar; o Existem remdios milagrosos que curam as deficincias; o As pessoas com necessidades especiais so eternas crianas; o Todo deficiente mental dependente. O que fazer, se suspeitar da ocorrncia de deficincia? o Entre em contato com a famlia, para verificar se estes comportamentos esto presentes tambm em casa e se j foi tomada alguma providncia; o Recomende que a criana seja encaminhada a servios especializados, para fins de avaliao. Por que temos preconceitos? normal ter preconceito. O preconceito faz parte da natureza humana, desde o incio dos tempos. O homem desconfia e tem medo de tudo o que diferente dele mesmo. O "outro" inspira receio, temor, insegurana; da para adotar atitudes defensivas e de ataque um passo. Esses sentimentos eram importantes no tempo das cavernas, quando os homens eram poucos e lutavam bravamente para sobreviver em um ambiente hostil. Infelizmente, persistem at hoje, nas lutas entre catlicos e protestantes, rabes e judeus, muulmanos e cristos, brancos e negros... A lista dos pontos de divergncia grande mas, no fundo, o ponto essencial reside na diferena entre Eu e o Outro. A rotina das relaes sociais nos leva, mais ou menos conscientemente, a "classificar" as pessoas de acordo com uma escala de valores a priori, como resultante da nossa educao e das nossas referncias culturais (do lugar que ocupamos na "escala

social"). Os critrios dessa "classificao" so variados: a qualidade da expresso, o modo de olhar, a maneira de comer, a forma de andar, a forma de vestir, o senso de humor etc. Muitas vezes, a segregao comea a partir da colocao de "rtulos" ou de "etiquetas" nas pessoas com deficincia, do tipo "no vai aprender a ler", "no pode fazer tal movimento" e outros. Estas "etiquetas" tm conseqncias sobre a forma como estas pessoas so aceitas pela sociedade e no permitem que a prpria pessoa se exprima e mostre do que capaz. A nfase recai sobre a INcapacidade, sobre a Deficincia e no sobre a Eficincia, a Capacidade, a Possibilidade. "O normal e o estigmatizado no so pessoas concretas e sim, perspectivas que so geradas em situaes sociais. Assim, nenhuma diferena em si mesma vantajosa ou desvantajosa, pois a mesma caracterstica pode mudar sua significao, dependendo dos olhares que se lanam sobre elas" (Proposta Curricular de Santa Catarina - 1998). Felizmente, esta postura comea a ser alterada e os profissionais, principalmente na rea da Educao, esto voltando o diagnstico e a atuao para as possibilidades e os recursos que a pessoa portadora de deficincia tem. E, deste ponto de vista, a heterogeneidade, caracterstica presente em qualquer grupo humano, passa a ser vista como fator imprescindvel para as interaes na sala de aula. A partir do reconhecimento e da aceitao de nossos preconceitos e desconfianas, estamos aptos a mudar nosso comportamento e a aceitar que o objeto destes sentimentos uma pessoa como ns, ou seja, comearemos a identificar os pontos comuns entre ns e no mais a acentuar as diferenas. Poderemos, ento, identificar o que nos une e constatar que nossa essncia a mesma: somos seres humanos, cuja diversidade indica riqueza de situaes e possibilidade de intercmbio de vivncias e de aprendizagem. Os diferentes ritmos, comportamentos, experincias, trajetrias pessoais, contextos familiares, valores e nveis de conhecimento de cada criana (e do professor) imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca de repertrios, de viso de mundo, bem como os confrontos e a ajuda mtua, e a conseqente ampliao das capacidades individuais. Por que as pessoas portadoras de deficincia so "invisveis"? s vezes, at parece que as pessoas com deficincia no existem, so fantasmas... Elas no so muito vistas nas ruas, ou na televiso, ou na poltica... Como se explica isso? Na verdade, desde que o mundo mundo sempre houve pessoas

com deficincia. Mas, nem sempre estas pessoas foram consideradas da mesma maneira. No passado, a sociedade freqentemente colocou obstculos integrao das pessoas deficientes. Receios, medos, supersties, frustraes, excluses, separaes esto, lamentavelmente, presentes desde os tempos da antiga Grcia, em Esparta, onde essas pessoas eram jogadas do alto de montanhas, ou em Atenas, onde elas eram abandonadas nas florestas. Adotando esta atitude de "longe dos olhos, longe do pensamento", Plato chegou mesmo a ponto de afirmar, quando dizia como deveria ser a sociedade ideal: "As mulheres dos nossos militares so pertena da comunidade, assim como os seus filhos, e nenhum pai conhecer o seu filho e nenhuma criana os seus pais. Funcionrios preparados tomaro conta dos filhos dos bons pais, colocando-os em certas enfermarias de educao, mas os filhos dos inferiores, ou dos melhores, quando surjam deficientes ou deformados, sero postos fora, num lugar misterioso e desconhecido, onde devero permanecer." Na Idade Mdia, eram freqentes os apedrejamentos ou a morte nas fogueiras da Inquisio das pessoas com deficincia, pois eram consideradas como possudas pelo demnio. No sc. XIX e princpios do sc. XX a esterilizao foi usada como mtodo para evitar a reproduo desses "seres imperfeitos". O nazismo promoveu a aniquilao pura e simples das pessoas com deficincia, porque no correspondiam "pureza" da raa ariana. Paralelamente a estas atitudes extremas de aniquilamento, outras atitudes eram adotadas, como o isolamento destas pessoas em grandes asilos (como na Inglaterra), alm de comportamentos marcados por rejeio, vergonha e medo. Foi apenas a partir da Revoluo Francesa e das suas bandeiras de liberdade, igualdade e fraternidade que estas pessoas passaram a ser objeto de assistncia (mas ainda no de educao) e entregues aos cuidados de organizaes caritativas e religiosas. Aps a 2a Guerra Mundial, os direitos humanos comearam a ser valorizados; surgem os conceitos de igualdade de oportunidades, direito diferena, justia social e solidariedade nas novas concepes jurdico-polticas, filosficas e sociais de organizaes como a ONU - Organizao das Naes Unidas, a UNESCO, a OMS - Organizao Mundial de Sade, a OIT - Organizao Internacional do Trabalho e outras. As pessoas com deficincia passaram a ser consideradas como possuidoras dos mesmos direitos e deveres dos outros cidados e, entre eles, o direito participao na vida social e sua conseqente integrao escolar

e profissional. Segundo a UNESCO (1977, p. 5-6), pode-se dividir a histria da humanidade em cinco fases, de acordo com o modo como os deficientes foram tratados e considerados: 1. Fase filantrpica - em que as pessoas com deficincia so consideradas doentes e portadoras de incapacidades permanentes inerentes sua natureza. Portanto, precisavam ficar isoladas para tratamento e cuidados de sade; 2. Fase da "assistncia pblica" - em que o mesmo estatuto de "doentes" e "invlidos" implica a institucionalizao da ajuda e da assistncia social; 3. Fase dos direitos fundamentais, iguais para todas as pessoas, quaisquer que sejam as suas limitaes ou incapacidades. a poca dos direitos e liberdades individuais e universais de que ningum pode ser privado, como o caso do direito educao; 4. Fase da igualdade de oportunidades - poca em que o desenvolvimento econmico e cultural acarreta a massificao da escola e, ao mesmo tempo, faz surgir o grande contingente de crianas e jovens que, no tendo um rendimento escolar adequado aos objetivos da instituio escolar, passam a engrossar o grupo das crianas e jovens deficientes mentais ou com dificuldades de aprendizagem; 5. Fase do direito integrao - se na fase anterior se "promovia" o aumento das "deficincias", uma vez que a ignorncia das diferenas, o no respeito pelas diferenas individuais mascarado como defesa dos direitos de "igualdade" agravava essas diferenas, agora o conceito de "norma" ou de "normalidade" que passa a ser posto em questo. Mas, como diz ainda a UNESCO, estas fases s aparentemente se sucedem de forma cronolgica. Na verdade, o que acontece que estas diferentes atitudes e concepes face s pessoas com deficincia se sobrepem, mesmo nos nossos dias. Atitudes que contribuem para a integrao da pessoa com necessidades especiais o Acesso ao conhecimento e informao; o Convivncia, que estimula o relacionamento; o rompimento de padres de comportamentos estabelecidos. Estratgias para facilitar mudana de atitudes o Filmes mostrando como pessoas com necessidades especiais podem viver integradas em sua comunidade; o Palestras com pessoas com necessidades especiais relatando suas experincias; o Palestras com profissionais acerca da problemtica das

deficincias; o Livros e folhetos informativos sobre a deficincia. Quando voc encontrar uma pessoa com deficincia Segundo o CEDIPOD - Centro de Documentao e Informao do Portador de Deficincia e a CORDE- Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia, aqui vo algumas dicas de comportamento. Muitas pessoas no deficientes ficam confusas quando encontram uma pessoa com deficincia. Isso natural. Todos ns podemos nos sentir desconfortveis diante do "diferente". Esse desconforto diminui e at desaparece quando h convivncia entre pessoas deficientes e no deficientes. No faa de conta que a deficincia no existe. Se voc se relacionar com uma pessoa deficiente como se ela no tivesse uma deficincia, voc vai estar ignorando uma caracterstica muito importante dela. Dessa forma, voc no estar se relacionando com ela, mas com outra pessoa, uma que voc inventou, que no real. Aceite a deficincia. Ela existe e voc precisa lev-la na sua devida considerao. No subestime as possibilidades, nem superestime as dificuldades e vice-versa. As pessoas com deficincia tm o direito, podem e querem tomar suas prprias decises e assumir a responsabilidade por suas escolhas. Ter uma deficincia no faz com que uma pessoa seja melhor ou pior do que uma pessoa no deficiente. Provavelmente, por causa da deficincia, essa pessoa pode ter dificuldade para realizar algumas atividades e, por outro lado, poder ter extrema habilidade para fazer outras coisas. Exatamente como todo mundo. A maioria das pessoas com deficincia no se importa de responder perguntas, principalmente aquelas feitas por crianas, a respeito da sua deficincia e como ela transforma a realizao de algumas tarefas. Mas, se voc no tem muita intimidade com a pessoa, evite fazer perguntas ntimas. Quando quiser alguma informao de uma pessoa deficiente, dirijase diretamente a ela e no a seus acompanhantes ou intrpretes. Sempre que quiser ajudar, oferea ajuda. Espere sua oferta ser aceita, antes de ajudar. Pergunte a forma mais adequada para fazlo. Mas no se ofenda se seu oferecimento for recusado, pois nem sempre as pessoas com deficincia precisam de auxlio. s vezes, uma determinada atividade pode ser mais bem desenvolvida sem

assistncia. Se voc no se sentir confortvel ou seguro para fazer alguma coisa solicitada por uma pessoa deficiente, sinta-se livre para recusar. Neste caso, seria conveniente procurar outra pessoa que possa ajudar. As pessoas com deficincia so pessoas como voc. Tm os mesmos direitos, os mesmos sentimentos, os mesmos receios, os mesmos sonhos. Voc no deve ter receio de fazer ou dizer alguma coisa errada. Aja com naturalidade e tudo vai dar certo. Se ocorrer alguma situao embaraosa, uma boa dose de delicadeza, sinceridade e bom-humor nunca falha. Como a PPD tem sido vista pela Educao Em termos educativos, o conceito de Deficincia tem evoludo ao longo dos tempos, acompanhando as concepes de desenvolvimento e de aprendizagem. Durante a primeira metade do sc. XX, os conceitos de "deficincia" / "diminuio" / handicap /inadaptao incluam as caractersticas de inatismo e de determinismo, implicando a concepo de que "uma vez deficiente, deficiente para sempre". Esta compreenso impulsionou muitos estudos, que tinham por objetivo organizar em diferentes categorias todos os possveis distrbios que pudessem ser detectados. Esta fase de categorizao e etiquetagem, que via a "deficincia" ou o "distrbio" como uma caracterstica inerente criana, trouxe consigo duas conseqncias fundamentais: o A necessidade de uma "deteco precisa" da deficincia, com o conseqente desenvolvimento dos Testes de Inteligncia e outras tcnicas de diagnstico quantitativo; o A generalizao da idia de que, sendo as "deficincias" irrecuperveis, as crianas por elas afetadas deveriam ser "colocadas" num sistema educacional parte (escolas especiais). De acordo com esta compreenso da Deficincia, os efeitos das deficincias fsicas e sensoriais eram deterministicamente atribudos ao prprio indivduo e as dificuldades sentidas por este tipo de alunos na escola eram concebidas em termos de deficincia mental; crianas ou jovens com marcadas dificuldades fsicas, sensoriais, mentais, comportamentais ou de comunicao eram considerados como qualitativamente diferentes dos outros alunos, com caractersticas consideradas inalterveis e permanentes e, como tal, fazia sentido a existncia de um sistema educacional separado do ensino regular. Nos anos 40 e 50 surgem profundas e importantes alteraes com

o fortalecimento das correntes "ambientalistas" e "comportamentalistas". Questionando amplamente a "constitucionalidade" e a "incurabilidade" dos distrbios, os partidrios destas teorias afirmavam que a "deficincia" podia ser "provocada" pela "ausncia de estimulao adequada ou por processos de aprendizagem incorretos". Ao assim pensar, os adeptos destas correntes no s acabaram por incluir os conceitos de "adaptao social" e de aprendizagem na definio de "atraso mental", por exemplo, como permitiram considerveis avanos na compreenso de que "todas as crianas so educveis" e deram um profundo golpe nas concepes da "incurabilidade" das deficincias. Entretanto, a partir dos anos 60 e principalmente da dcada de 70, em decorrncia da contribuio de muitas disciplinas e ramos da cincia, uma grande "revoluo" se deu no conceito de "deficincia" aplicado s crianas e jovens em idade escolar. Tal alterao tem por base uma mudana de perspectiva, colocando no centro do problema no a deficincia do indivduo, mas as suas necessidades particulares, para procurar o meio ambiente no qual se poder desenvolver melhor. Assim, durante a dcada de 70, por todo o mundo ocidental, um amplo movimento de alargamento da escolaridade obrigatria a todas as crianas faz com que os diferentes pases prestassem uma ateno particular organizao dos seus servios de educao especial, chamando a si a responsabilidade de garantirem tambm s crianas com deficincias um processo educativo adaptado s suas necessidades individuais. Marco relevante nesta nova abordagem da deficincia, tendente a modificar no s o sistema das classificaes, mas tambm, e sobretudo, a prtica da "integrao" foi o "Warnock Report", um relatrio britnico publicado em 1978 e realizado por uma comisso dirigida por Mary Warnock, encarregada de elaborar propostas para a melhoria da educao de jovens com deficincias. o "Warnock Report" que introduz, pela primeira vez, o conceito de "aluno com necessidades educativas especiais". Este conceito bastante amplo e enfatiza aspectos instrumentais e funcionais, ou seja: o que fazer para receber e tratar este aluno no ambiente escolar comum, da melhor forma possvel? De acordo com este conceito e efeitos da sua educao, as crianas e jovens com dificuldades especiais, ou com necessidades educativas especiais (NEE), so aquelas que requerem educao especial e servios especficos de apoio para a realizao total do seu potencial humano. Eles podem ser muito diferentes dos outros

por terem atraso mental, dificuldades de aprendizagem, desordens emocionais ou comportamentais, incapacidades fsicas, problemas de comunicao, autismo, leses cerebrais, deficincia auditiva, deficincia visual, ou mesmo dotes e talentos especiais, no caso dos superdotados. So exatamente estas diferenas que devem ser levadas em conta, para que eles possam freqentar a escola comum. Segundo alguns estudiosos, entre os quais Hallahn e Kauffman, esta definio de crianas e jovens com necessidades especiais mostra algo muito importante, que merece destaque: Estas pessoas apresentam uma extraordinria diversidade de caractersticas, o que impede a generalizao de medidas para trat-los como se fossem um grupo homogneo. A partir de meados da dcada de 70 e claramente assumida nos anos 80, surge uma filosofia de "integrao" educativa como opo principal da grande maioria dos pases, defendendo-se que o ensino das crianas e jovens com dificuldades especiais deve ser feito, pelo menos tanto quanto possvel, no mbito da escola regular. Por que incluir crianas com deficincia na escola regular? Em muitos pases do mundo ocidental, os professores vm fazendo esta pergunta, s vezes em voz alta, s vezes consigo mesmos, em diversas ocasies. Para muitos, a integrao escolar de alunos com deficincia uma provocao ao profissionalismo do professor. A lgica da incluso (veja-se a Declarao de Salamanca) constitui a essncia do ideal democrtico. Os benefcios da incluso de alunos com necessidades educativas especiais na escola regular so evidentes (apesar das dificuldades) e TODOS os autores desta integrao "lucram" com ela. Vrios estudos comparativos realizados principalmente nos EUA e nos pases escandinavos, onde este movimento existe h mais tempo, revelam a seguinte situao: Benefcios para os alunos com deficincias o Eles encontram modelos positivos nos colegas; o Contam com assistncia por parte dos colegas; o A criana cresce e aprende a viver em ambientes integrados; Benefcios para os alunos que no so deficientes o A melhor forma de aprenderem a lidar com as diferenas individuais; o Oportunidade para praticar e partilhar as aprendizagens; o Diminuio da ansiedade face aos fracassos ou insucessos. Benefcios para todos os alunos

o Compreenso e aceitao dos outros; o Reconhecimento das necessidades e competncias dos colegas; o Respeito por todas as pessoas; o Construo de uma sociedade solidria; o Desenvolvimento de apoio e assistncia mtua; o Desenvolvimento de projetos de amizade; o Preparao para uma comunidade de suporte e apoio. A caminho da incluso Segundo Steinemann: "Integrao significa o (re)-estabelecer de formas comuns de vida, de aprendizagem e de trabalho entre pessoas deficientes e no-deficientes. Integrao significa ser participante, ser considerado, "fazer parte de", ser levado a srio e ser encorajado. A integrao requer a promoo das qualidades prprias de um indivduo, sem estigmatizao e sem segregao. Realizar pedagogicamente a integrao significa, seja no jardim de infncia, na escola ou no trabalho, que todas as crianas e adultos (deficientes ou no) brinquem/aprendam/trabalhem de acordo com o seu nvel prprio de desenvolvimento em cooperao com os outros" (Steinemann, 1994). As palavras "integrado" e "integrao" derivam do latim "integrare" que vem do adjetivo "integer", que originalmente significa intacto, no tocado, sem mcula, so, virgem, inteiro, completo. Portanto, a palavra "integrao", neste sentido, deve ser interpretada como alguma coisa de original e natural, sendo a "segregao" (o estado de no-integrao) algo anormal, construdo, artificial. Mas o mais interessante da histria da palavra integrao que o termo latino "integer" (intacto) parece ter derivado em duas direes nas lnguas modernas. Enquanto que em uma delas est muito prximo do seu sentido original (aparecendo em termos como "integridade", "ntegro", "integral"), a outra direo vai mais no sentido de "compor", "fazer um conjunto", "juntar as partes separadas no sentido de reconstruir uma totalidade". Quando se aborda o tema da educao de crianas e jovens com dificuldades especiais, nomeadamente devidas s suas deficincias fsicas, mentais ou sensoriais, parece ser mais no segundo sentido acima indicado que se utiliza o termo "integrao", querendo significar a colocao de pessoas com deficincia juntamente com pessoas no-deficientes no mesmo lugar. Neste contexto, a integrao escolar pode ser vista como um "fim" em si, como uma forma de "associao" entre o grupo de alunos "especiais" e a escola regular ou ento como um "processo" de "estruturao organizacional", de modificao da prpria escola

regular no sentido de atender a todas as diferenas. Segundo Romeu K. Sassaki: "(...) a integrao social, afinal de contas, tem consistido no esforo de inserir na sociedade pessoas com deficincia que alcanaram um nvel de competncia compatvel com os padres sociais vigentes. A integrao tinha e tem o mrito de inserir o portador de deficincia na sociedade, sim, mas desde que ele esteja de alguma forma capacitado a superar as barreiras fsicas, programticas e atitudinais nela existentes. Sob a tica dos dias de hoje, a integrao constitui um esforo unilateral to somente da pessoa com deficincia e seus aliados (a famlia, a instituio especializada e algumas pessoas da comunidade que abracem a causa da insero social), sendo que estes tentam torn-la mais aceitvel no seio da sociedade."1 Continuando, Sassaki mostra que a prtica da integrao social vem ocorrendo, desde a dcada de 80, de 3 formas: 1. Pela insero pura e simples daquelas pessoas com deficincia que conseguiram ou conseguem, por mritos pessoais e profissionais prprios, utilizar os espaos fsicos e sociais, bem como seus programas e servios, sem nenhuma modificao por parte da sociedade, ou seja, da escola comum, da empresa comum, do clube comum, etc.; 2. Pela insero daqueles portadores de deficincia que necessitavam ou necessitam de alguma adaptao especfica no espao fsico comum ou no procedimento da atividade comum, a fim de poderem, s ento, estudar, trabalhar, ter lazer, enfim, conviver com pessoas no-deficientes; 3. Pela insero de pessoas com deficincia em ambientes separados dentro dos sistemas gerais. Por exemplo: escola especial junto comunidade; classe especial numa escola comum; setor separado dentro de uma empresa comum; horrio exclusivo para pessoas deficientes num clube comum, etc. Esta forma de integrao, mesmo com todos os mritos, no deixa de ser segregativa. Embora estas formas representem um avano em relao s atitudes do passado, de segregao, ainda no respondem plenamente aos anseios e direitos das PPD, pois elas pouco exigem da sociedade em termos de modificao de comportamentos, leis, adaptaes arquitetnicas e outras. O esforo da integrao fica quase que exclusivamente sobre os ombros das PPD. O ano de 1981 foi designado, pela ONU - Organizao das Naes Unidas, de Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficincia e assinalou um marco fundamental na luta pelos direitos

das PPD no mundo todo. Na esteira do conceito de integrao vieram outros, como os de autonomia, independncia, empowerment e equiparao de oportunidades, que podem ser considerados passos em direo ao conceito atualmente vigente, de incluso social. Vamos recorrer novamente autoridade de Romeu Sassaki 2 para definir, brevemente, estas palavras. Autonomia a condio de domnio no ambiente fsico e social, preservando ao mximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce. Ter maior ou menor autonomia significa que a pessoa com deficincia tem maior ou menor controle nos ambientes que ela freqenta; rampas facilitam a autonomia no espao fsico, por exemplo. Independncia a faculdade de decidir sem depender de outras pessoas, como familiares ou profissionais especializados. Uma pessoa com deficincia pode ser mais ou menos independente em decorrncia da quantidade e da qualidade de informaes a que tiver acesso, mas tambm de sua autodeterminao e/ou prontido para tomar decises em uma determinada situao. Empowerment significa o processo pelo qual uma pessoa ou um grupo de pessoas usa o seu poder pessoal, inerente sua condio, para fazer escolhas e tomar decises, assumindo assim o controle de sua(s) vida(s). Neste sentido, independncia e empowerment so conceitos interdependentes. No se outorga este poder s pessoas; o poder pessoal est em cada ser humano desde o seu nascimento. O termo equiparao de oportunidades definido pela Disabled Peoples' International (1981) como "o processo mediante o qual os sistemas gerais da sociedade, tais como o meio fsico, a habitao e o transporte, os servios sociais e de sade, as oportunidades de educao e trabalho, e a vida cultural e social, includas as instalaes esportivas e de recreao, so feitos acessveis para todos. Isto inclui a remoo das barreiras que impedem a plena participao das pessoas deficientes em todas estas reas, permitindo-lhes assim alcanar uma qualidade de vida igual de outras pessoas". Nesta definio est implcito o princpio da igualdade de direitos: "O princpio de direitos iguais implica que as necessidades de cada um e de todos so de igual importncia e que essas necessidades devem ser utilizadas como base para o planejamento das comunidades e que todos os recursos precisam ser empregados de tal modo que garantam que cada pessoa tenha oportunidade igual de participao."

A igualdade de oportunidades em educao na verdade essencial dada a importncia da educao na transmisso de atitudes, conhecimentos e competncias que a sociedade como um todo encara como importantes para todas as crianas e jovens. Como bem enfatiza Sassaki: " fundamental equipararmos as oportunidades para que todas as pessoas, incluindo portadoras de deficincia, possam ter acesso a todos os servios, bens, ambientes construdos e ambientes naturais, em busca da realizao de seus sonhos e objetivos." Na seqncia destes movimentos e conquistas elaborado o conceito de incluso social, processo que funciona em mo dupla: a sociedade e os segmentos at ento excludos (inclusive o das PPD) buscam equacionar solues e alternativas, para garantir a equiparao de oportunidades e de direitos. Os valores que norteiam este processo so: o A aceitao e a valorizao da diversidade; o O exerccio da cooperao entre diferentes; o A aprendizagem da multiplicidade. De acordo com estudiosos deste processo social, o momento atual caracteriza-se pela transio da fase da integrao para a da incluso, que pressupe um novo paradigma, um novo modelo de sociedade. Momentos de transio, como este, despertam debates e dvidas; surgem vrias opes e alternativas, cada uma com seus defensores. difcil adotar novos conceitos e modificar padres de comportamento j consolidados. Alm disso, estamos tratando de seres humanos, que merecem ser tratados com respeito e delicadeza. No campo da Educao, vemos surgir diversas posies: a mais radical, que defende que todos os alunos devem ser educados apenas na escola regular (Escola para Todos) at a idia de que a diversidade de caractersticas, verificada no grupo de alunos com necessidades educativas especiais, implica a existncia e manuteno de um contnuo de servios e uma diversidade de opes. Essas opes podem ir da incluso na classe regular at a colocao em instituies residenciais especializadas, passando pelas salas de apoio e classes especiais na escola regular ou pelo recurso a escolas especiais. Se se trata de uma questo de direitos cvicos, um dos principais direitos de qualquer minoria o seu direito de escolha e, conforme prev a legislao, os pais ou tutores destes alunos tm liberdade de escolher o que acham melhor para os seus educandos. Nesse sentido, importante que haja diferentes alternativas, para que

possam escolher a que melhor se ajusta ao seu caso. Desta forma, os educadores e profissionais da educao devem preservar a oferta de diferentes tipos de servios de forma que, sempre que possvel, seja garantida a possibilidade de escolha. Alguns autores propem um contnuo de servios organizados em cascata e numa ordem progressiva de pequenos "saltos" no sentido da maior proximidade entre os alunos com dificuldades especiais na escola e os seus colegas no deficientes. No se trata simplesmente de transferir os alunos da escola especial para a escola regular, mas sim de remodelar e modificar a escola regular para que esta possa atender a uma mais ampla variedade de alunos. No podemos nos esquecer de que as interaes sociais no acontecem automaticamente; num grupo social, as pessoas tendem a escolher os parceiros com interesses e valores semelhantes, evitando as diferenas. O fato de estarem na mesma sala no faz com que as crianas imediatamente comecem a interagir com colegas que tm alguma diferena. Alm das mudanas arquitetnicas, que so necessrias em quase todos os edifcios escolares para acolher a criana com deficincia, a escola regular tem normalmente uma estrutura curricular, a organizao dos horrios, os padres de socializao e todo um conjunto de normas e regulamentos verdadeiramente segregadores dos alunos com deficincias, estando mais voltada para o acumular de conhecimentos e para a criao de elites qualificadas. Portanto, entre as alternativas possveis e os nveis de integrao desejados interpe-se a necessidade de desenvolver um conjunto de mtodos e estratgias educativas (em nvel curricular) de importncia fundamental para o sucesso da integrao dos alunos com deficincias na escola. Alguns tipos de alunos (com deficincias sensoriais ou graves problemas de comunicao, por exemplo) requerem o uso de equipamentos ou materiais especficos e no utilizados pela generalidade dos alunos da escola. Assim sendo, a escola deve se adaptar e modificar, no sentido de atender s necessidades de uma grande variedade e diversidade de alunos. Para que uma criana "especial" possa ser "includa" numa situao em que todos a sintam "mais normal" e em que a sua auto-estima seja aumentada, em que se desenvolvam relaes interpessoais e interaes com seus colegas (com ou sem dificuldades especiais) necessrio desenvolver estratgias adequadas e devidamente planejadas, como a pesquisa desenvolvida por McNamara e Moreton, em 1993 evidencia. Os seguintes aspectos devem ser

levados em conta: o A planificao e o desenvolvimento de arranjos no ambiente fsico e no ambiente social; o A escolha dos materiais e equipamentos da sala de aula; o A disposio e a adequao do espao disponvel para os alunos ("densidade social" e "densidade espacial"); o A reviso do papel do professor como iniciador das interaes sociais ou como mero gestor dessas interaes; o A maior ou menor estruturao das atividades propostas na sala de aula. Concluindo... Resumindo o caminho percorrido at aqui, podemos dizer que uma das principais lies que podemos tirar que no h um formato padronizado para a integrao de alunos diferentes/deficientes na escola regular. Cada um dos aspectos da integrao - definio, motivos, objetivos, nveis, dificuldades, vantagens e desvantagens etc. - apresenta uma enorme diversidade e, como diz o documento publicado pela Comisso Europia, em 1996: "Deve reconhecer-se que a integrao dos alunos com necessidades educativas especiais implica muito mais do que colocar simplesmente o aluno numa escola regular. Trata-se de um processo em que o aluno tem oportunidades para se desenvolver e progredir em termos educativos para uma autonomia econmica e social. A integrao igualmente um processo em que as prprias escolas necessitam de mudar e de se desenvolver com o objetivo de proporcionar um ensino de elevado nvel a todos os alunos e o mximo de acesso aos que tm necessidades educativas especiais" Segundo a Declarao de Salamanca: "As escolas devem ajustar-se a todas as crianas, independentemente das suas condies fsicas, sociais, lingsticas ou outras. Neste conceito devem incluir-se crianas com deficincia ou superdotadas, crianas da rua ou crianas que trabalham, crianas de populaes imigradas ou nmades, crianas de minorias lingsticas, tnicas ou culturais e crianas de reas ou grupos desfavorecidos ou marginais." Declarao de Salamanca: UNESCO, 1994. Assim, principalmente na rea pedaggica, no parece correto terse como ponto de referncia as deficincias ou incapacidades (atitude infelizmente ainda freqente nas nossas escolas) mas sim compreender que o que importante o ser humano. Tal como a ergonomia j faz no domnio do trabalho - com a adaptao do posto de trabalho pessoa, s suas habilidades e caractersticas individuais - no campo da pedagogia teremos de evitar que a

deficincia se coloque entre o professor e o aluno, impedindo-nos de ver a pessoa que est por detrs dessa deficincia. Talvez seja este o momento de se passar da idia de que "todos devem ter as mesmas oportunidades" para a noo de que "todos deveriam ter oportunidades diferentes" para desenvolver as suas potencialidades e satisfazer as suas necessidades, dadas as nossas diferenas individuais. Fica a o pensamento para reflexo... Ao iniciarmos um novo sculo e um novo milnio, est na hora de abandonarmos etiquetas e rtulos e de olharmos alm deles. Os professores e o processo de incluso Estudos indicam que a atitude do professor um dos fatores que mais contribui para o sucesso de qualquer medida de integrao da criana com deficincia. De fato, como o comprovam as prticas do dia-a-dia nas nossas escolas, no basta determinar legalmente a integrao para que ela acontea. A integrao , em ltima instncia, um processo de fornecer aos alunos com deficincia uma educao com o mximo de qualidade e de eficcia, no sentido da satisfao das suas necessidades individuais. Ora, este objetivo depende fundamentalmente do papel do professor, nomeadamente de variveis como a sua vontade em levar a cabo as tarefas de ensino destes alunos e a sua formao ou preparao pedaggica para o fazer. Estratgias para a integrao/incluso Gostaramos de sugerir estratgias que esto sendo utilizadas para a integrao de crianas e jovens com deficincia na escola regular, em outros pases. Algumas ainda esto em fase de experimentao. Esperamos que possam trazer idias aplicveis em suas escolas. Equipe de pr-classificao Trata-se de equipes compostas por uma variedade de profissionais, especialmente professores de ensino regular e professores de ensino especial, que trabalham em conjunto com o professor da classe no sentido de elaborar, recomendar e desenvolver estratgias para ensinar as crianas ou jovens com deficincia dessa classe. O principal objetivo destas equipes o de influenciar o professor da classe regular, para que ele assuma a responsabilidade pela educao de todos os seus alunos, tentando todas as estratgias de ensino necessrias e possveis, antes de enviar qualquer aluno para um programa de ensino especial. Apoio consultivo Trata-se de um professor especializado ou com experincia no ensino especial que colabora com o professor da classe regular, no

sentido de descobrir e implementar estratgias de ensino eficazes para os casos de alunos com deficincia. Neste modelo, as relaes entre o professor do ensino especial e o professor da classe regular baseiam-se nos princpios da mutualidade - ou seja, da partilha de responsabilidades entre os dois profissionais pela escolha e implementao das estratgias adotadas - e da reciprocidade - o que significa que qualquer um dos dois profissionais tem idntica autoridade, igualdade no acesso informao e as mesmas oportunidades para participarem na identificao, discusso, tomada de deciso e implementao das medidas adotadas. Ensino cooperativo Trata-se de uma estratgia em que o professor da classe regular e o professor do ensino especial trabalham em conjunto, dentro da sala de aula regular composta por alunos com deficincia e por alunos ditos normais. Neste modelo existem, pelo menos, trs formas diferentes de organizao: 1. Atividades complementares - enquanto o professor do ensino regular assume, por exemplo, as atividades da rea acadmica (contedos acadmicos), o professor do ensino especial ensina alguns alunos a identificar as idias principais de um texto, a fazer resumos - enfim, a dominar tcnicas de estudo; 2. Atividades de apoio aprendizagem - os dois professores ensinam os contedos acadmicos, mas enquanto o professor do ensino regular responsvel pelo ncleo central do contedo, pela matria essencial, o professor do ensino especial encarrega-se de dar apoio suplementar a qualquer aluno que dele necessite, individualmente ou em pequenos grupos; 3. Ensino em equipe - o professor da classe regular e o professor do ensino especial planificam e ensinam em conjunto todos os contedos a todos os alunos, responsabilizando-se cada um deles por uma determinada parte do currculo ou por diferentes aspectos das matrias de ensino. O sucesso do "ensino cooperativo" depende de dois fatores fundamentais: o Necessidade de bastante tempo nos horrios dos professores para fazerem o planejamento em conjunto; o Compatibilidade entre os estilos de trabalho e personalidades dos dois professores. Aprendizagem Cooperativa Trata-se de uma estratgia em que o professor da classe regular coloca os alunos em grupos de trabalho, organizando-os na base da heterogeneidade das suas habilidades (por exemplo, juntando

alunos com dificuldades especiais numa determinada rea com alunos mais habilidosos no assunto em estudo). De acordo com os dados de investigao conhecidos, as estratgias de aprendizagem cooperativa levam a uma melhoria significativa das atitudes por parte dos alunos no-deficientes face aos seus colegas com dificuldades especiais ou mesmo com deficincias graves, ao mesmo tempo em que permite a estes um aumento significativo da sua auto-estima e das suas atitudes em face de si mesmos. Ensino por colegas Trata-se de um mtodo baseado na noo de que os alunos podem efetivamente ensinar os seus colegas. Neste mtodo, o papel de aluno ou de professor pode ser atribudo a qualquer aluno, com deficincia ou no, e alternadamente, conforme as matrias em estudo ou as atividades a desenvolver. No entanto, quando um aluno com deficincia assume o papel de mestre (professor), o aprendiz (aluno) geralmente um aluno mais novo e menos desenvolvido, ainda que sem dificuldades especiais em relao ao seu nvel de desenvolvimento. Participao parcial Trata-se de uma estratgia em que os alunos com dificuldades especiais, quando freqentam uma sala de aula regular, se envolvem em algumas atividades com os seus colegas sem deficincia, embora numa reduzida dimenso. Neste tipo de estratgia, o professor faz algumas adaptaes nas atividades a desenvolver, no sentido de facilitar o mais possvel a participao dos alunos com mais dificuldades, alterando as regras do "jogo", modificando a forma de apresentao ou de organizao da tarefa a fazer ou, mesmo, dando alguma ajuda individual aos alunos com dificuldades nas partes mais difceis da atividade em causa. Materiais curriculares especficos para a mudana de atitudes Trata-se de uma estratgia em que o professor organiza alguns materiais (como, por exemplo, marionetes) ou desenvolve atividades de simulao em que os alunos ditos normais representam o papel de alunos com deficincia, para levar os alunos sem deficincia a modificar as suas atitudes face aos seus colegas com dificuldades especiais. NOTAS: * Sociloga. Gerente da Rede SACI - Solidariedade, Apoio, Comunicao e Informao (www.saci.org.br). Consultora desta srie. 1. Sassaki, Romeu. K. Incluso - construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997, p. 34.

2. Sassaki, op. cit.. pg. 36 a 41.. PGM 2: Deficincia mental e incluso social Marta Gil* "Uma criana com necessidades educacionais especiais, antes de ser algum impedido por uma deficincia, algum capaz de aprender." (Prof. Dr. Hugo Otto Beyer Universidade Federal doRio Grande do Sul) Apresentando a deficincia mental Segundo as estimativas da Organizao Mundial de Sade, vlidas para pases do Terceiro Mundo, em tempos de paz, as pessoas com deficincia mental correspondem a, aproximadamente, 50% do total das PPD - Pessoas Portadoras de Deficincia. A definio de deficincia mental que mais aceita, atualmente, a da American Association of Mental Retardation, datada de 1992: Deficincia mental um funcionamento intelectual significativamente abaixo da mdia, coexistindo com limitaes relativas a duas ou mais das seguintes reas de habilidades adaptativas: comunicao, autocuidado, habilidades sociais, participao familiar e comunitria, autonomia, sade e segurana, funcionalidade acadmica, de lazer e de trabalho. Manifesta-se antes dos 18 anos de idade. Lendo com ateno esta definio, podemos concluir que deficincia mental uma condio diferente da doena mental, embora esta confuso seja feita freqentemente pelas pessoas. A doena mental caracteriza-se por distrbios de ordem emocional, psicoses e outros. Ao longo dos sculos, a pessoa com deficincia mental era, muitas vezes, discriminada e segregada, pois era considerada como "detentora de poderes sobrenaturais", "fruto de tragdia familiar", "sangue ruim", "depositria do mal" e outros rtulos, todos muito negativos. At o sculo XVIII, a prpria cincia confundia deficincia mental com doena e, portanto, procurava tratamentos que trouxessem uma "cura" para esta condio. A partir do sculo XIX surgiu a abordagem educacional, que leva em conta as possibilidades e potencialidades da pessoa portadora de deficincia mental. Curiosamente, esta abordagem foi uma iniciativa de mdicos... Aos poucos, educadores, psiclogos e pedagogos se envolveram com esta questo e a compreenso sobre este tipo de deficincia vem aumentando. Infelizmente, vrios "mitos" 1 e conceitos errados ainda persistem, como: o Toda pessoa com deficincia mental doente;

o Pessoas com deficincia mental morrem cedo, devido a "graves" e "incontornveis" problemas de sade; o Pessoas com deficincia mental precisam usar remdios controlados; o Pessoas com deficincia mental so agressivas e perigosas, ou dceis e cordatas; o Pessoas com deficincia mental so, em geral, incompetentes; o Existe um "culpado" pela condio de deficincia; o O meio ambiente pouco pode fazer pelas pessoas com deficincia; o Pessoas com deficincia mental s esto "bem" com seus "iguais"; o Para o aluno com deficincia mental, a escola apenas um lugar para exercer alguma ocupao fora de casa. Como identificar a deficincia mental? A deficincia mental pode ser identificada precocemente (s vezes, ainda durante a gestao); porm, bastante comum que a suspeita surja na escola, quando se espera mais da criana e de sua capacidade de aprendizagem. Nestes casos, de fundamental importncia confirmar este diagnstico, antes de enviar a criana para a sala especial e de comear a trat-la de forma pejorativa ou discriminatria. O diagnstico de deficincia mental deve ser feito por uma equipe de profissionais especializados (mdico e psiclogo) e confirmado por um pedagogo. Alm dos testes especficos, estes profissionais devem levar em conta o momento de vida que a criana atravessa e verificar o ambiente sociocultural em que ela vive. Se for confirmada a condio de deficincia mental, aps todos estes procedimentos, a criana tem direito a receber apoio especializado e sua famlia deve ser orientada, a fim de favorecer sua aprendizagem e seu desenvolvimento. Que sinais podem ser observados? importante tornar a enfatizar que o diagnstico de deficincia mental s pode ser feito por especialistas, aps a realizao de exames. H casos, que assumem aspectos trgicos, de pessoas que passam pela vida carregando este "rtulo", sem que sejam realmente portadoras de deficincia mental. Porm, ao observar que a criana apresenta um comportamento diferente do de outras crianas - como dificuldades em estabelecer relaes de aprendizagem no seu cotidiano (na sala de aula e em outros espaos, como no ptio, na aula de Educao Fsica, nos passeios) - tal fato deve ser relatado ao especialista e o professor e a famlia devem buscar orientao junto aos servios

especializados de sua comunidade. Estas dificuldades so um sinal de alerta, que nos informa que algo talvez no v bem. Alertamos, ainda, que h uma variedade e uma complexidade de situaes abrangidas pelo conceito "deficincia mental". Assim, os sinais acima mencionados no esgotam o assunto. A escala da deficincia mental O grau de comprometimento intelectual das pessoas com deficincia mental pode ser distribudo em uma escala. Em uma ponta esto as crianas que: o Desenvolvem habilidades sociais e de comunicao de forma eficiente e funcional; o Tm um prejuzo mnimo nas reas sensrio-motoras; o Podem ter comportamentos similares aos das crianas de sua idade, no deficientes; o Representam, aproximadamente, 85% dos portadores de deficincia mental. o No centro da escala esto as crianas que: o Tm nvel de comprometimento intelectual mais acentuado; o Podem adquirir habilidades sociais e de comunicao; o Precisam de apoio e de acompanhamento mais constantes; o Representam, aproximadamente, 10% dos portadores de deficincia mental. o Na outra ponta da escala esto as crianas o Com rebaixamento intelectual significativo; o Este rebaixamento est, freqentemente, associado a outros comprometimentos; o Nos primeiros anos de vida adquirem pouca (ou nenhuma) fala comunicativa; o Seu desenvolvimento sensrio-motor tambm bastante comprometido o Precisam de estimulao multissensorial; o Precisam de um ambiente estruturado, com apoio e acompanhamento constantes. Concluindo: a maioria das crianas com deficincia mental apresenta baixo comprometimento cognitivo e, portanto, pode se beneficiar muito do processo de aprendizagem. Assim, se a criana com deficincia mental for corretamente estimulada, desde cedo e se o ambiente educacional for receptivo e lanar mo de recursos educacionais adequados, ela poder absorver conhecimentos. Segundo a Profa. Lgia A. Amaral2: "Se a deficincia for leve, a criana capaz de atingir uma estrutura

cognitiva que lhe possibilite realizar operaes lgicas de nvel concreto, com apoio em objetos. Portanto, consegue operar mentalmente e abstrair, tal como a criana que no deficiente. Piaget se refere estrutura cognitiva da criana como uma 'construo mental inacabada'. No caso da deficincia leve, a estrutura cognitiva no chega ao estgio das operaes formais, ou seja, no chega construo final - quarto e ltimo estgio das estruturas do conhecimento. Da a expresso 'construo mental inacabada'. Se a criana com deficincia mental leve capaz de operar mentalmente, embora numa idade posterior das crianas no deficientes, ela tambm capaz de ser alfabetizada e de ter acesso a outros conhecimentos das sucessivas seriaes escolares. Progressivamente, prticas inovadoras e integradas tm confirmado que, devidamente 'trabalhadas', as crianas com deficincia mental leve podem surpreender." A experincia de professores tem demonstrado que, ao buscar recursos educacionais que concretizem os conceitos expostos, toda a classe se beneficia, no apenas o aluno portador de deficincia. Retomando a idia de que a "educao no uma frmula de escola, mas sim uma obra de vida", como dizia Freinet, lembramos que Educao um processo abrangente e complexo, que ultrapassa a escolarizao e que tem, por objetivo final, preparar a pessoa para a vida na famlia, na escola, no trabalho, no mundo.... importante que o professor e toda a comunidade escolar (diretor, funcionrios, alunos) se lembrem de que todo aluno pode, a seu modo e respeitando seu tempo, beneficiar-se de programas educacionais, desde que tenha oportunidades adequadas para desenvolver sua potencialidade. Como tratar pessoas com deficincia mental 3 o Aja naturalmente ao dirigir-se a uma pessoa com deficincia mental; o Trate-a com respeito e considerao, de acordo com sua idade; o No a ignore. Cumprimente e despea-se dela normalmente, como faria com qualquer pessoa; o D ateno a ela, converse e vai ver como pode ser agradvel; o No superproteja. Deixe que ela faa ou tente fazer sozinha tudo o que puder. Ajude apenas quando for realmente necessrio; o No subestime sua inteligncia. As pessoas com deficincia mental levam mais tempo para aprender, mas podem adquirir muitas habilidades intelectuais e sociais. possvel prevenir a deficincia mental? Aps a Cincia ter superado a noo de que a deficincia mental

uma doena, estudos tm sido realizados para conhecer os fatores de risco que podem vir a determinar esta condio. Esta mentalidade de preveno est se instalando gradualmente em todas as reas da Deficincia, alm da mental. Isso muito importante, porque a Organizao Mundial de Sade estima que aproximadamente 30% dos casos de deficincia poderiam ser evitados, se medidas adequadas de preveno fossem adotadas. A origem da condio de deficincia mental complexa, pois envolve mltiplos fatores. Assim sendo, conhec-los e identific-los fundamental, para que programas de preveno possam ser estabelecidos. Porm, importante lembrar que: o Muitas pessoas expostas a condies de risco no apresentam deficincia mental; o Muitas vezes, ainda no possvel identificar qual foi o fator causal da deficincia, infelizmente. o Recorrendo mais uma vez autoridade da Organizao Mundial de Sade, aprendemos que a preveno pode acontecer em trs nveis: o Preveno primria: medidas que podem ser tomadas antes de o fato acontecer; o Preveno secundria: medidas que reduzem a durao dos problemas j existentes ou revertem seus efeitos; o Preveno terciria: medidas voltadas para possibilitar o desenvolvimento da potencialidade da pessoa com deficincia mental, diminuindo defasagens causadas por esta condio. A seguir, vamos enumerar algumas medidas recomendadas pela Organizao Mundial de Sade4, em relao a estes nveis de preveno: Preveno primria A s medidas de preveno primria visam diminuir a incidncia de doenas e causas provveis de deficincia; seu pblico-alvo a populao em geral. Elas so de responsabilidade do Poder Pblico, nas esferas municipal, estadual e federal. Compete aos governantes implantar programas preventivos, que esto garantidos no ECA - Estatuto da Criana e do Adolescente e outros dispositivos legais, fazer campanhas, distribuir material de divulgao e tomar outras medidas semelhantes. Medidas pr-natais o Condies adequadas de saneamento bsico; o Cuidados especiais em regies de risco radiativo; o Planejamento familiar; o Aconselhamento gentico pr-natal;

o Acompanhamento da gestao (sade e nutrio materna); o Diagnstico pr-natal. Medidas perinatais 5 o Atendimento mdico - hospitalar de qualidade na situao de parto; o Atendimento de qualidade ao recm-nascido; o PKU (teste do pezinho). Medidas ps-natais o Condies de saneamento bsico; o Servios de puericultura adequados (incluindo campanhas de vacinao); o Preveno de acidentes domsticos. Preveno secundria Este nvel de preveno se refere s medidas que visam reduzir a durao dos problemas existentes ou os seus efeitos. Dirigem-se s pessoas que j apresentam uma deficincia ou manifestam problemas que, se no forem tratados adequadamente, podem resultar em deficincia. Neste nvel de preveno so oferecidos programas voltados para conter a evoluo de doenas que podem causar deficincia mental ou programas de estimulao que visam minimizar as conseqncias de uma situao de deficincia. Podemos citar, como exemplo: diagnstico precoce, estimulao essencial, orientao de dietas para crianas com fenilcetonria, leis que determinem a obrigatoriedade de rtulos nos alimentos, alertando para a presena de glten e seus derivados e outros. Preveno terciria Este nvel de preveno est voltado para as pessoas que j possuem a deficincia mental e visa garantir o pleno desenvolvimento de suas potencialidades, como indivduos. So exemplos destas medidas: atendimento clnico, atendimento pedaggico (pr-escolar, escolar, preparao para o trabalho etc.). Apesar de todos os esforos de profissionais e familiares, infelizmente ainda pouco o que se oferece maior parte das pessoas com deficincia mental. Segundo alguns estudos, mais da metade dos portadores de deficincia mental no recebem atendimento algum, o que um ndice muito preocupante. Educao Especial "A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada, com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho." (Constituio Federal, 19, Captulo III, art. 205.)

Podemos concluir que, se a Constituio assegura que a educao um direito de todos, a pessoa portadora de deficincia mental est a includa. Esta concluso reforada pelo artigo 208, inciso III, que enfatiza: "(...) o atendimento educacional especializado aos portadores de deficincia, preferencialmente na rede regular de ensino". Segundo a Profa. Lgia Assumpo Amaral 6 "Compreende-se que, no contexto da Educao Especial, o termo 'educacional' se refere a todo espao institucional voltado para o desenvolvimento e a aprendizagem do indivduo. Esse espao comprometido com os mltiplos e interdependentes aspectos do desenvolvimento cognitivo, afetivo, socioemocional - tendo como referncia as diferenas individuais e as possibilidades socioeducacionais de seus sujeitos. Acredita-se que toda criana deve ter o direito de estar inserida em um programa educacional, independente de suas possibilidades de aprendizagem acadmica, at porque o sentido aqui atribudo ao processo educacional ultrapassa, e muito, os limites impostos a um programa restrito educao formal, acadmica. Todo espao educacional pressupe a convivncia entre os pares. A possibilidade de conviver, trocar e vivenciar situaes do cotidiano um objetivo implcito no processo de aprendizagem, bem como no desenvolvimento humano." Direitos iguais/oportunidades diferenciadas Como assegurar o direito educao para pessoas que so diferentes? O Prof. Marcos Mazzota, estudioso desta rea, nos ensina que assegurar oportunidades iguais no significa garantir tratamento igual para todos; preciso oferecer meios adequados s caractersticas e necessidades de cada pessoa, para que ela possa desenvolver sua potencialidade. Assim, a escola deve oferecer oportunidades educacionais diversificadas, para assegurar a igualdade de oportunidades de acesso educao. Temos presenciado, nos ltimos anos, um debate sobre a questo da incluso das pessoas com deficincia, com nfase em sua incluso no ambiente escolar. Os professores, em especial, tm-se deparado com esta questo, que fica mais aguda no caso de alunos com deficincia mental. Esta questo realmente complexa e merece ser tratada com cuidado. Os professores, em geral, fazem perguntas e observaes como estas: o Como posso receber um aluno com deficincia mental na minha

sala, onde h 30 (ou mais) alunos? o No tenho habilitao em deficincia mental. o Como os outros colegas vo receb-lo? No pretendemos dar "receitas prontas" ou "solues mgicas" para estas perguntas, pois no existem. Elas merecem nossa reflexo, pois refletem uma situao que vem mudando ao longo da Histria. Como o professor faz parte da sociedade e da poca em que vive, ele tambm partilha as opinies vigentes. Vale a pena, pois, tentar descobrir o que est na raiz destas perguntas. Preconceito e discriminao As pessoas com deficincia, especialmente mental, foram perseguidas, maltratadas, segregadas e discriminadas, durante sculos. A partir do sculo XIX, esta situao comea a mudar; mdicos e educadores interessam-se por estas pessoas e percebem que elas tm capacidade de aprendizagem. Passam, ento, a desenvolver mtodos educacionais. As atitudes preconceituosas comeam a ser revistas. Para a Cooperativa de Vida Independente de Estocolmo (Sucia), entidade formada por pessoas portadoras de deficincia: " (...) uma das razes pelas quais as pessoas deficientes esto expostas discriminao que os diferentes so freqentemente declarados doentes. Este modelo mdico da deficincia nos designa o papel desamparado e passivo de pacientes, no qual somos considerados dependentes do cuidado de outras pessoas, incapazes de trabalhar, isentos dos deveres normais, levando vidas inteis, como est evidenciado na palavra ainda comum ' invlido' [sem valor, em latim]."7 Integrao social Gradualmente, este conceito tem sido modificado; posteriormente, surgiu o conceito de "integrao social", para derrubar a prtica de excluso social a que as pessoas portadoras de deficincia estavam submetidas, em relao a qualquer atividade. O movimento pela integrao social surgiu por volta do final da dcada de 60 e procurava inserir as pessoas com deficincia no trabalho, na escola, no lazer. A dcada de 80 impulsionou este movimento; a ONU - Organizao das Naes Unidas - decretou 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes; a luta pelos direitos ganhou fora. Em conseqncia das conquistas e da experincia acumuladas neste processo, estudiosos e organizaes compostas por pessoas com deficincia comearam a perceber que a prtica da integrao social era insuficiente para acabar com a discriminao e para

garantir a verdadeira participao, com oportunidades iguais. Isto porque a integrao social representa o esforo de inserir o portador de deficincia na sociedade, SE ele estiver capacitado a superar as barreiras existentes. Assim, o esforo era feito apenas por parte do deficiente, sua famlia e profissionais especializados - a sociedade permanece do mesmo jeito, alterando pouco (ou nada) suas atitudes, espaos fsicos e prticas sociais. a partir destas constataes que surgem outros conceitos e movimentos, que falam de autonomia, independncia, empowerment e equiparao de oportunidades, que foram objeto de normas e resolues internacionais, como as Normas sobre o Programa Mundial de Ao Relativo s Pessoas com Deficincia (ONU, 1982), a Equiparao de Oportunidades para Pessoas com Deficincia (ONU, 1993), entre outros. De forma geral, podemos dizer que estes conceitos, que apontam para a incluso social, consideram que a sociedade deve ser modificada para atender s necessidades de todos os seus membros. O desenvolvimento das pessoas com deficincia deve ocorrer no processo de incluso e no como um pr-requisito para que estas pessoas possam fazer parte da sociedade, como se elas precisassem "pagar ingresso para integrar a comunidade", como diz o Dr. Antonio S. Clemente Filho. Educao e incluso no Brasil Voltando para a questo da Educao no Brasil, podemos constatar que a incluso de pessoas com deficincia na educao geral est sendo implementada no Brasil h pouco tempo, mas j h discusses e uma significativa produo intelectual sobre este tema, que bastante desafiador para os educadores. consenso que temos um longo caminho a percorrer, por parte da sociedade e da prpria pessoa com deficincia, e, principalmente, da portadora de deficincia mental, para que ela possa ser considerada socialmente includa, ou seja, possa assumir-se como indivduo, que conhece e aceita suas potencialidades e limites. Para trilhar este caminho, o ideal comear o mais cedo possvel, no momento em que as relaes iniciais so estabelecidas entre a criana e a famlia e, posteriormente, na escola e na vizinhana. Ora, para construir relaes e vivncias de carter inclusivo, preciso que a diversidade seja aceita, como parte integrante da natureza humana. At gmeos so diferentes... A Profa. Maria Teresa Mantoan 8 nos adverte que: "A incluso causa uma mudana de perspectiva educacional, pois no se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apia a todos: professores, alunos,

pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral." Assim, importante que a diversidade seja aceita com naturalidade e tranqilidade, desde o momento em que a deficincia detectada; se a famlia agir desta forma, a tendncia que "contaminar" as pessoas ao redor. Como a escola pode se preparar para incluir o aluno portador de deficincia o Sensibilizando e capacitando toda a comunidade escolar; o Reorganizando seus recursos materiais e fsicos; o Sensibilizando os pais de alunos deficientes e no deficientes, sobre a questo da incluso; o Envolvendo entidades e rgos da comunidade no processo da incluso. Vale a pena enfatizar a importncia da comunicao entre a escola e a famlia da criana portadora de deficincia. Para isso, reproduzimos as palavras de Maria Salom Soares Dallan, me de uma criana surda e aluna do curso de Pedagogia da PUC/Pontifcia Universidade Catlica de Campinas, SP: "Hoje, na tentativa de assegurar a permanncia de algumas crianas com necessidades especiais no ensino regular, percebo mais fortemente a importncia de um trabalho junto s mes da populao de baixa renda, uma vez que pobreza, infelizmente, est associada falta de escolaridade e de acesso a determinadas informaes, visando ao esclarecimento acerca da deficincia de seus filhos. Em meu dia-a-dia, tenho encontrado desde mes que acham que o problema de seu filho no tem soluo, quelas que acham que seu filho no tem problema algum, o que muito mais grave. Os pais que no aceitam a deficincia de seu filho e nem acreditam em sua capacidade para superar as limitaes, impedem que este tenha acesso estimulao e ao atendimento educacional especializado."9 Benefcios da educao inclusiva para todos os estudantes 10 Estudantes com deficincia: o Desenvolvem a apreciao pela diversidade individual; o Adquirem experincia direta com a variao natural das capacidades humanas; o Demonstram crescente responsabilidade e melhorada aprendizagem atravs do ensino entre os alunos; o Esto mais bem preparados para a vida adulta em uma sociedade diversificada, atravs da educao em salas de aula diversificadas; o Freqentemente experenciam apoio acadmico adicional da parte do pessoal de Educao Especial;

o Podem participar como aprendizes sob condies instrucionais diversificadas (aprendizado cooperativo, uso de tecnologia baseada em centros de aprendizagem etc.). Estudantes sem deficincia: o Tm acesso a uma gama mais ampla de modelos de papel social, atividades de aprendizagem e redes sociais; o Desenvolvem, em escala crescente, o conforto, a confiana e a compreenso da diversidade individual deles e de outras pessoas; o Demonstram crescente responsabilidade e crescente aprendizagem, atravs do ensino entre os alunos; o Esto mais bem preparados para a vida adulta em uma sociedade diversificada, atravs da educao em salas de aula diversificadas; o Recebem apoio instrucional adicional, por parte dos profissionais da Educao Especial; o Beneficiam-se da aprendizagem sob condies instrucionais diversificadas. Analisando os benefcios que a Educao Inclusiva pode trazer para todos os envolvidos, portadores ou no de deficincia, podemos concluir que eles apontam para as seguintes prticas, que so benficas para todos: o Aprendizado cooperativo; o Instruo baseada em projeto/atividade; o A Educao deve reconhecer e ensinar pessoas de vrias culturas, com inteligncias mltiplas e envolvendo diferentes estilos de aprendizagem; o A Educao deve contribuir para a construo do "senso de comunidade" nas salas de aula e nas escolas como um todo. Sugestes para adaptar salas comuns para receber alunos com deficincia o Todos os estudantes, no importa se tiverem deficincia ou no, iro beneficiar-se de aulas que se basearem menos em livros e mais em experincias e vivncias, que forem mais cooperativas e mais multissensoriais. o Se for necessrio adaptar o espao fsico da sala para receber alunos com deficincia, estas adaptaes devem ser feitas com o mximo de boa vontade e hospitalidade. Na maioria das vezes, estas adaptaes tambm iro beneficiar os alunos no deficientes. A deficincia no deve ser apontada de uma forma constrangedora, no deve ser enfatizada nem ignorada. Para estudantes com deficincia mental, medidas como estas podem ser proveitosas: o Adotar o sistema de "companheiro", ou seja, envolver os colegas com o processo de aprendizagem do aluno portador de deficincia

mental; o Formar grupos cooperativos de aprendizagem; o Contar histrias e utilizar materiais para ensinar conceitos abstratos; o Preparar verses simplificadas do material didtico; o O professor deve evitar o "discurso do no", que enfatiza o que o aluno no pode, no sabe, no faz. importante fazer um investimento pedaggico nas possibilidades de aprendizagem do aluno. A deficincia mental e as novas tecnologias Ao ingressarem na escola, seja regular ou especial, as crianas com deficincia mental freqentemente vivem situaes que reforam uma postura de passividade diante do ambiente. Assim, ao invs de serem educadas para exercitar a independncia e a autonomia, na medida de suas possibilidades, desenvolvem atitudes de dependncia e submisso. exatamente pelas dificuldades e atrasos que estes alunos apresentam em seu desenvolvimento global que necessrio oferecer-lhes um ambiente de aprendizagem onde sua criatividade e iniciativa possam ser estimuladas e valorizadas, permitindo maior interao com as pessoas que os rodeiam e seu meio ambiente. Dentre os recursos educacionais disposio, gostaramos de destacar o computador, que est se tornando, cada vez mais, um instrumento presente no nosso quotidiano. Segundo o Prof. Fausto Jos Villanova, que leciona Msica e Informtica para alunos deficientes auditivos, visuais, mentais e fsicos no Instituto N. S. de Lourdes, na cidade do Rio de Janeiro11, "A Informtica, hoje to presente em, nossas vidas, extremamente necessria aos portadores de necessidades educacionais especiais. (...) necessrio que a comunidade escolar, o corpo docente, a famlia e os prprios alunos tenham conscincia da importncia de sua participao efetiva nesta nova rea, que engloba a educao, a tecnologia e o mercado de trabalho". O Prof. Fausto divide a utilizao da Informtica nas seguintes modalidades: 1. Informtica educativa Ela visa desenvolver o raciocnio lgico, a percepo, a coordenao motora, a noo de lateralidade, o reconhecimento de espao, noes de conhecimentos gerais, estmulos visuais e auditivos, estmulos competitivos e cooperativos, aquisio de conhecimentos e outras habilidades. O ideal que o aluno tenha acesso Informtica desde a prescola, atravs de jogos educativos. O computador tambm pode

atuar no reforo escolar. 2. Informtica musical Utilizando um software para visualizar as freqncias sonoras, o aluno consegue distinguir sons graves, mdios e agudos, facilitando a aprendizagem de um instrumento musical. 3. Informtica de parceria Nesta modalidade, a famlia tem acesso s aulas de seus filhos, havendo uma troca entre os softwares educativos usados em sala de aula e os utilizados em casa, permitindo que a famlia reveja os contedos ministrados em sala de aula. 4. Informtica participativa Visa estimular a navegao na Internet, estimulando o aluno a participar de fruns e debates. 5. Informtica integradora social Permite aos alunos atuar de forma produtiva, criativa e eficiente na realizao de trabalhos, utilizando o computador. Assim, a pessoa com deficincia pode provar sua capacidade de realizao, muitas vezes posta em dvida, devido a preconceitos. 6. Informtica de comunicao Vrios softwares so desenvolvidos, no Brasil e em outros pases, visando facilitar a aprendizagem e a comunicao de pessoas com paralisia cerebral, deficincia visual ou outras necessidades especiais. 7. Informtica teraputica Esta modalidade beneficia especialmente alunos com deficincia fsica e auditiva, que utilizam o computador como uma "prtese" de comunicao. Esse processo acontece em funo da interao terapeuta/paciente/computador. 8. Informtica profissionalizante escolar Tendo o professor como orientador, o aluno pode atuar como monitor no laboratrio de informtica ou como auxiliar de outros professores no preparo de aulas e testes. Importa ressaltar que j h experincias sobre a utilizao da Informtica com alunos portadores de deficincia mental, com resultados positivos, como os obtidos pela equipe do NIED - Ncleo de Informtica aplicada Educao, da UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas.12 A transio da escola para o trabalho "Toda sociedade que exclui pessoas do trabalho por qualquer motivo - sua deficincia ou sua cor ou seu gnero - est destruindo a esperana e ignorando talentos. Se fizermos isso, colocaremos em risco o futuro." Robert White, 1994.

Constatamos que, gradualmente, o mercado de trabalho est mais receptivo s pessoas com deficincia. Porm, ainda h muito a ser conquistado, especialmente quando tratamos com pessoas portadoras de deficincia mental. Em geral, a carga de preconceitos e discriminao que recebem maior que a recebida por portadores de deficincia fsica, auditiva ou visual. Alm disso, a famlia tambm contribui para esta situao, pois tem uma forte tendncia a proteger o filho dos preconceitos sociais, tratando-o como uma "eterna criana", tentando prolongar a infncia e adiando a passagem para a vida adulta. s vezes, os profissionais das escolas e das oficinas tambm adotam este comportamento. Ao assim fazerem, eles esto prejudicando o portador de deficincia mental e no o ajudando, pois ele no conquistar a autonomia possvel desta forma; ao contrrio, ser sempre dependente dos que o rodeiam. Ao atingir a adolescncia, fundamental que a escola e a instituio busquem alternativas de propostas pedaggicas de atividades adequadas a sua idade cronolgica e que possibilitem conquistar a maior autonomia possvel e independncia em relao ao seu meio ambiente. H diversas modalidades de trabalho para a pessoa com deficincia mental: em empresas, desempenhando trabalhos de cunho repetitivo, na equipe de jardinagem, limpeza, como office boy interno; em oficinas ocupacionais, na rea rural ou em iniciativas familiares. O fundamental que a dignidade da pessoa seja preservada, ou seja, o trabalho que ela executa deve ser remunerado, o ambiente deve ter condies adequadas de salubridade e o tratamento deve ser respeitoso. Na rea do trabalho o "discurso do no" tambm deve ser evitado: podemos testar possibilidades de trabalho, testar recursos atuais, como a informtica, antes de decidir se determinado trabalho pode ou no ser desempenhado por portadores de deficincia mental. Como exemplo, podemos citar o Zoolgico do Rio de Janeiro, que contratou jovens com deficincia mental leve para trabalhar na cozinha, preparando alimentos para os animais. Cada espcie animal precisa que o alimento seja cortado sempre do mesmo jeito. Muitos profissionais no deixariam que portadores de deficincia mental usassem facas, mas a experincia tem demonstrado que eles so cuidadosos e no sofreram acidentes. Assim, a escola deve estar atenta modernizao e diversidade, adotando uma atitude positiva, com o compromisso de valorizar a

potencialidade individual e preparando seus alunos para a vida adulta. NOTAS: * Sociloga. Gerente da Rede SACI - Solidariedade, Apoio, Comunicao e Informao (www.saci.org.br). Consultora desta srie. 1. Fonte: Cadernos da TV Escola - Educao Especial. Deficincia mental. Braslia, SEF/MEC, 1998, p. 9. 2. Op. Cit., p. 37. 3. Folheto "Quando voc encontrar uma pessoa deficiente...", publicado pelo CEDIPOD- Centro de Documentao e Informao do Portador de Deficincia. 4. In Cadernos da TV Escola, op. cit., p. 11 e 12. 5. Estas medidas correspondem ao momento do parto. 6. Cadernos da TV Escola. Deficincia mental e deficincia fsica. Braslia, MEC/Secretaria de Educao a distncia, 1998, p. 13. 7. STIL. Independent living: a Swedish definition. In: RATZKA, Adolf. Tools for power. Estocolmo: Independent Living Committee of Disabled Peoples' International, 1990, p. 30. 8. MANTOAN, Maria Teresa Egler. A integrao de pessoas com deficincia: contribuies para uma reflexo sobre o tema. So Paulo, Memnon/SENAC, 1997, p. 145. 9. Dallan, Maria Salom Soares. Fazendo do problema um desafio. In: Revista Integrao, v. 13, p. 51, 2001. 10. Fonte: Programa da ONU em Deficincias Severas, 1994. 11. "As diversas utilidades da informtica, sua importncia e influncia no desenvolvimento, na educao, terapia, comunicao, integrao e socializao dos portadores de necessidades especiais", Revista Integrao, v. 13, n. 23/2001, p. 20-23. 12. VALENTE, Jos Armando. (org.). Liberando a mente: computadores na educao especial. Campinas: UNICAMP, 1991. E tambm: Computadores e conhecimento: repensando a educao. Campinas: UNICAMP, 1993. PGM 3: Deficincia visual e incluso social Marta Gil* Braille Markiano Charam Filho1 Da Frana para o mundo Palavras tocadas Seis pontos amigos Parece um bordado Bordado da vida Nem todos entendem

Mas ele est a. Deficincia visual: alguns conceitos Se quisermos utilizar poucas palavras, podemos definir deficincia visual como a perda total ou parcial da capacidade de enxergar. Explicando melhor: os graus de viso abrangem uma ampla escala de situaes, que vo desde a cegueira total at a viso perfeita, tambm total. A expresso "deficincia visual" se refere escala que vai da cegueira (ausncia total de viso) at a viso subnormal. Chama-se viso subnormal (ou baixa viso, como preferem alguns especialistas) alterao da capacidade funcional decorrente de fatores como rebaixamento significativo da acuidade visual, reduo importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitao de outras capacidades visuais. "Traduzindo" a definio acima, podemos dizer que a viso subnormal a incapacidade de enxergar com clareza suficiente para contar os dedos da mo a uma distncia de 3 metros, luz do dia; em outras palavras, a pessoa conserva resduos de viso, no sendo totalmente cega. Usando auxlios pticos2 como culos, lupas etc., a pessoa com baixa viso distingue vultos, a claridade ou objetos a pouca distncia. A viso se apresenta embaada, diminuda, restrita em seu campo visual ou prejudicada de algum modo. At recentemente, no se levava em conta a existncia destes resduos visuais; a pessoa era tratada como se fosse cega, aprendendo a ler e escrever em Braille3, a movimentar-se com o auxlio de bengala etc. Hoje em dia oftalmologistas, terapeutas e educadores trabalham no sentido de aproveitar este resduo visual nas atividades educacionais, na vida cotidiana e no lazer. Esto sendo desenvolvidas tcnicas para trabalhar o resduo visual, assim que a deficincia constatada. Isso melhora significativamente a qualidade de vida da pessoa, embora no elimine a deficincia. Em termos quantitativos, sabemos que a maioria das pessoas com deficincia visual possui algum grau residual de viso: poucas so totalmente cegas. Infelizmente, muitas das que tm algum grau de viso so consideradas cegas e tratadas como tal; dessa forma, perdem os benefcios que o uso da viso residual poderia trazer a seu processo de desenvolvimento e sua qualidade de vida. Entre os dois extremos da capacidade visual esto situadas patologias como miopia, estrabismo, astigmatismo, ambliopia, hipermetropia, que no constituem necessariamente deficincia visual, mas que devem ser identificadas e tratadas o mais rapidamente possvel, pois podem interferir negativamente no

processo de desenvolvimento e na aprendizagem da criana. Que sinais podem ser observados? o Irritao constante nos olhos; o Aproximao do papel junto ao rosto, quando escreve e l; o Dificuldade para copiar bem da lousa a distncia; o Olhos franzidos para ler o que est escrito na lousa; o Cabea inclinada para ler ou escrever, como se procurasse um ngulo melhor para enxergar; o Tropeos freqentes por no enxergar pequenos obstculos no cho; o Nistagmo (olho trmulo); o Estrabismo (vesgo); o Dificuldade de enxergar em ambientes muito claros. O que o professor pode fazer? - Orientar os pais para que os mesmos procurem um mdico especialista em viso (oftalmologista); - Aplicar o Teste de Acuidade Visual no incio do ano letivo, preferencialmente nas primeiras sries do Ensino Fundamental; - No usar colrio ou outros medicamentos sem recomendao mdica. A importncia da viso A viso o meio mais importante de relacionamento com o mundo exterior. Ela capta registros prximos ou distantes e permite organizar, no nvel cerebral, as informaes trazidas pelos outros rgos dos sentidos. Calcula-se que 80% dos nossos conhecimentos chegam at ns pelos olhos, que podem ser considerados a nossa "janela para o mundo". Estudos recentes revelam que enxergar no uma habilidade inata, ou seja, ao nascer ainda no sabemos enxergar; precisamos aprender a ver. No um processo consciente. E