3
novembro 2015 | GLOBO RURAL 31 Trinta anos depois, José Hamilton Ribeiro reencontra João K, que agora apresenta um sistema inovador capaz de recuperar 100 milhões de hectares de pastos degradados e permitir quatro safras por ano De volta para o futuro Texto José Hamilton Ribeiro* * Fotos iago Capelle, de Ipameri (GO) João K de volta à trincheira. Agora com a integração lavoura-pecuária- floresta C ontrolando o suor da testa que já co- meça a marejar no peito, João K ex- põe seu entusiasmo: “Quatro safras por ano! Uma de soja, uma de milho, uma de boi e a última de palhada de braquiária para o plantio direto. A in- tegração lavoura-pecuária permite isso. Sem contar que, havendo floresta, tem ainda a acrescentar uma parcial da safra do eucalipto”. Simples assim: planta a soja no tempo certo, colhe a soja; põe milho com semente de capim, tira o milho, fica o capim já formado; espera um tempo para o ca- pim crescer e aí, naquele pastão (com a palhada do milho), põe gado para engorda. Após tirar o boi, dei- xa a área em descanso uns dias para o capim voltar com bastante massa a fim de ser dessecado (com herbicida) e se transformar na cama (“palha”) pa- ra o novo plantio da soja, reiniciando o ciclo. Os pro- dutos podem variar – sorgo, feijão, girassol, algodão, etc. –, a mecânica permanece: unindo lavoura e pe- cuária (melhor ainda também com floresta) e prati- cando rodízio e rotação de culturas com os manejos corretos (análise do solo, adubação e plantio direto), a fazenda se torna uma unidade de produção intensi- va, gerando dinheiro para o produtor e criando pos- tos qualificados de trabalho. “Com esse sistema, o Brasil pode, em poucos anos (vem outra vez o João K), assombrar o mun- do com sua produção agropecuária. E ganhando pontos quando se falar em sustentabilidade e de- fesa da natureza.” “Passaram a me tratar de João K porque tenho um sobrenome meio complicado, Kluthcouski.Vem de minha origem ucraniana. Simplificaram usando a inicial, mas, para não ficar JK – que é nome de pre- sidente –, deixaram o João e o K. Pra mim tá bom.” Seja numa reunião técnica na Embrapa, seja numa roda de produtores, seja num papo de peão em volta de uma cerveja, João gosta mesmo de ser chamado assim – João K –, embora seu currículo de pesquisador ocupe 45 páginas de um caderno em espiral com a relação de artigos técnicos, livros, cur- sos. É uma referência mundial em agricultura nos J oão K figurou na edição número 1 de Globo Rural, em 1985. “Seu assun- to então era uma forma nova de preparar o solo para plantio, mexendo com práti- cas de aração e gradagem. Ninguém falava em integração la- voura-pecuária, mesmo o plantio direto estava começando. Mas João já suava a testa (e a camisa) para tratar de formas de proteger o solo e de fazer com que as raízes das plantas, mais profundas, tivessem mais área para ir atrás de água e nutrientes, que é do que elas precisam para ser fortes”, conta José Hamilton Ribeiro. Agora, o pesquisador quer assombrar o mundo com um sistema que permite quatro safras ao ano. Raízes fortes ESPECIAL Matéria publicada na edição n o 1 da revista, em outubro de 1985

ESPECIAL UCESSÃOeditora.globo.com/premios/2015/assets/de-volta-para-o-futuro.pdf · ESPECIAL Matéria publicada na edição no 1 da revista, em outubro de 1985. 32 GLOBO RURAL |

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ESPECIAL UCESSÃOeditora.globo.com/premios/2015/assets/de-volta-para-o-futuro.pdf · ESPECIAL Matéria publicada na edição no 1 da revista, em outubro de 1985. 32 GLOBO RURAL |

30 GLOBO RURAL | novembro 2015 novembro 2015 | GLOBO RURAL 31

SUCESSÃO

Trinta anos depois, José Hamilton Ribeiro reencontra João K, que agora apresenta um sistema inovador capaz de recuperar 100 milhões de hectares de pastos degradados e permitir quatro safras por ano

De volta para o futuro

Texto José Hamilton Ribeiro* * Fotos Thiago Capelle, de Ipameri (GO)

João K de volta à trincheira. Agora com a integração lavoura-pecuária-floresta

Controlando o suor da testa que já co-meça a marejar no peito, João K ex-põe seu entusiasmo: “Quatro safras por ano! Uma de soja, uma de milho, uma de boi e a última de palhada de braquiária para o plantio direto. A in-

tegração lavoura-pecuária permite isso. Sem contar que, havendo floresta, tem ainda a acrescentar uma parcial da safra do eucalipto”.

Simples assim: planta a soja no tempo certo, colhe a soja; põe milho com semente de capim, tira o milho, fica o capim já formado; espera um tempo para o ca-pim crescer e aí, naquele pastão (com a palhada do milho), põe gado para engorda. Após tirar o boi, dei-xa a área em descanso uns dias para o capim voltar com bastante massa a fim de ser dessecado (com herbicida) e se transformar na cama (“palha”) pa-ra o novo plantio da soja, reiniciando o ciclo. Os pro-dutos podem variar – sorgo, feijão, girassol, algodão, etc. –, a mecânica permanece: unindo lavoura e pe-cuária (melhor ainda também com floresta) e prati-cando rodízio e rotação de culturas com os manejos corretos (análise do solo, adubação e plantio direto), a fazenda se torna uma unidade de produção intensi-va, gerando dinheiro para o produtor e criando pos-tos qualificados de trabalho.

“Com esse sistema, o Brasil pode, em poucos anos (vem outra vez o João K), assombrar o mun-do com sua produção agropecuária. E ganhando pontos quando se falar em sustentabilidade e de-fesa da natureza.”

“Passaram a me tratar de João K porque tenho um sobrenome meio complicado, Kluthcouski.Vem de minha origem ucraniana. Simplificaram usando a inicial, mas, para não ficar JK – que é nome de pre-sidente –, deixaram o João e o K. Pra mim tá bom.”

Seja numa reunião técnica na Embrapa, seja numa roda de produtores, seja num papo de peão em volta de uma cerveja, João gosta mesmo de ser chamado assim – João K –, embora seu currículo de pesquisador ocupe 45 páginas de um caderno em espiral com a relação de artigos técnicos, livros, cur-sos. É uma referência mundial em agricultura nos

João K figurou na edição número 1 de Globo Rural, em 1985. “Seu assun-

to então era uma forma nova de preparar o solo para plantio, mexendo com práti-cas de aração e gradagem. Ninguém falava em integração la-voura-pecuária, mesmo o plantio direto estava começando. Mas João já suava a testa (e a camisa) para tratar de formas de proteger o solo e de fazer com que as raízes das plantas, mais profundas, tivessem mais área para ir atrás de água e nutrientes, que é do que elas precisam para ser fortes”, conta José Hamilton Ribeiro. Agora, o pesquisador quer assombrar o mundo com um sistema que permite quatro safras ao ano.

Raízes fortes

ESPECIAL

Matéria publicada na edição no 1 da revista, em outubro de 1985

Page 2: ESPECIAL UCESSÃOeditora.globo.com/premios/2015/assets/de-volta-para-o-futuro.pdf · ESPECIAL Matéria publicada na edição no 1 da revista, em outubro de 1985. 32 GLOBO RURAL |

novembro 2015 | GLOBO RURAL 33 32 GLOBO RURAL | setembro 2015

O CERRADO PODE DOBRAR PRODUÇÃO APENAS RECUPERANDO AS PASTAGENS DEGRADADAS

do, o mais que se vê é cupim, lobeira e assa-peixe. Estamos numa fazenda de pecuária, no método mais tradicional, a menos de 50 quilômetros de Goiânia.

“Estou arrancando a braquiária para demons-trar como ela está frágil, sem fixação no solo. O boi pastando aqui faz, com a boca, o mesmo que estou fazendo com a mão. Junto com o capim que ele quer pastar, vem a moita inteira, arruinando ainda mais a condição do terreno. Solução é só uma: refazer a pastagem, numa operação demorada e onerosa, se for feita fora da integração lavoura-pecuária.”

Helvio dos Santos Abbadia está mostrando, por cima, o cenário de uma pastagem degradada – a con-dição de 30 milhões de hectares só no Cerrado (no Brasil todo, esse número chegaria a 100 milhões). Agora, caminha na direção de um buraco (trinchei-ra) ali perto para mostrar a degradação por baixo.

“O solo foi-se compactando, formando uma pi-çarra dura onde a raiz não consegue ultrapassar. Então veja, o raizame da braquiária fica nessa li-nha do solo, 30 centímetros em média de fundu-ra. A planta tem pouca área para explorar atrás de água e nutrientes... Com isso, fica assim, raquítica, vamos dizer.”

Joao K chama atenção para a brizanta ainda com talo e folhas verdes que uma garrotada vai pastando ali na frente, apesar da gente estar no auge da seca. Como fez Abbadia no pasto degradado, João K, aqui, na trincheira aberta nesse pasto do sistema de in-tegração, entra no buraco para mostrar o que acon-teceu com as raízes.

“Veja, eu tenho 1,80 metro de altura, a trincheira quase 2 metros. Dá para ver as raízes descendo, al-gumas chegando até o fundo. Encontrando condi-ções favoráveis devido ao preparo correto do solo, que ficou friável e poroso, as raízes formaram uma teia, abrindo sulcos na terra e atingindo assim 2 me-tros de profundidade. Se o buraco fosse mais fundo, a gente veria raiz a 3 metros, talvez mais. Eu fico até emocionado ao ver o serviço ambiental que esse ca-pim presta. E houve tempo em que falavam mal da braquiária.” As raízes compridas da braquiária não só permitem que a planta consiga umidade e nutrientes lá do fundo, como fazem um trabalho de arejamen-to do solo ao se tornarem matéria orgânica quando morrem. Não é que ela morre: é matada (dessecada), com herbicida, quando é preciso que se transforme em palha para o plantio direto. ”Você já pensou se a gente precisasse de matéria orgânica a 2 metros de profundidade no solo e não tivesse a braquiária? Ia

trópicos. A importância e o potencial de seu trabalho são explicados pelo chefe da Embrapa Cerrados, de Brasília, o também agrônomo José Roberto Peres.

“O sistema de integração lavoura-pecuária, que tem sido o trabalho pioneiro de João K desde a dé-cada de 1980, traz três ganhos enormes. O primei-ro é que podemos pensar em desmatamento zero para dobrar a produção agropecuária, trabalhan-do apenas em cima de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas que existem apenas na re-gião do Cerrado.”

Para ter ideia do que sejam 30 milhões de hecta-res, basta ver que é essa a área, no Cerrado, dedica-da à produção de grãos atualmente. Quer dizer, re-cuperar esses 30 milhões de hectares significa fazer

um novo Brasil agrícola no Cerrado para somar ao já existente. “O se-gundo ganho é decorrência do pri-meiro”, retoma José Roberto Peres. “O Brasil aumenta em 100% sua produção agrícola, sem abrir ne-nhuma nova fronteira, sem derru-bar uma só árvore. Terceiro ganho é do planeta, com a prestação de serviço ambiental característica da integração lavoura-pecuária.”

O serviço ambiental fica mais visível quando o sistema abran-

José Roberto Peres, chefe da Embrapa Cerrados, de Brasília (DF)

João K junto a trincheira aberta para mostrar o enraizamento do campim e o perfil do solo

ge também a parte florestal. O eucalipto (usado em 80% dos projetos de integração lavoura-pecu-ária-floresta) é “sequestrador de carbono” – como toda árvore. Ele captura o dióxido de carbono (um dos gases do efeito estufa) que está no ar e libera oxigênio. O sistema também possibilita diminuir a emissão de metano pelo gado.

Ao ruminar e arrotar, e também nos movimen-tos intestinais, o boi emite metano, que é um gás ainda mais danoso que o de carbono. “Ao diminuir pela metade a idade para o abate do gado, porque no sistema, mesmo na seca, ele só pasta em pas-to novo, e com palhada (agora é João K falando), só aí já ocorre uma redução de 50% da liberação de metano no ar.”

Olha a braquiária

O técnico agrícola Helvio dos Santos Abbadia, da Embrapa Arroz e Feijão, sediada em Goiânia, cami-nha no pasto arrancando com a mão, sem nenhum esforço, moitinhas de braquiária. O capim está rapa-

ESPECIAL

Planta a soja no tempo certo, colhe a soja

Põe milho com semente de capim, tira o milho, fica

o capim já formado; espera um tempo para o capim crescer

Naquele pastão (com a palhada do milho), põe

gado para engorda

Após a saída do boi, deixa o capim voltar com bastante

massa para depois ser dessecado e se transformar na cama (palhada)

Simples assim

1 2 3 4“Dá para ver as raízes descendo, algumas chegando até o fundo, encontrando condições favoráveis devido ao preparo correto do solo, que ficou friável e poroso”, descreve João K

PARA JOÃO K, A INTEGRAÇÃO É: agronomicamente eficiente economicamente viável socialmente justa (cria bons empregos ) ambientalmente correta

Page 3: ESPECIAL UCESSÃOeditora.globo.com/premios/2015/assets/de-volta-para-o-futuro.pdf · ESPECIAL Matéria publicada na edição no 1 da revista, em outubro de 1985. 32 GLOBO RURAL |

34 GLOBO RURAL | novembro 2015 novembro 2015 | GLOBO RURAL 35

plantar o quê? A braquiária faz isso de graça, depois de servir de alimento ao boi.”

“Em 2006, quando a fazenda só lidava com ga-do, havia dois tratores, uma carreta e três vaquei-ros. As pastagens degradadas: reformar como, se a gente estava no vermelho?”

Hoje, o galpão da Fazenda Santa Brígida, no mu-nicípio de Ipameri, em Goiás, mal comporta as mais de uma dezena de máquinas enormes: plantadeiras, colhedoras, pulverizadores – alguns equipamentos custando quase R$ 1 milhão. Os empregados, mais de dez. Marize Porto Costa teve de assumir a fazenda

em função de problema familiar e foi atrás de um esquema que pudesse reformar os pastos ar-ranjando alguém que pagasse as despesas. (Globo Rural es-teve na Fazenda Santa Brígída em 2011. A reportagem, de Vi-viane Taguchi, foi publicada na edição de outubro daquele ano.)

“Pensei que seria impossível isso, mas aí soube do esquema da integração lavoura-pecuá-ria. Comecei com milho.” Além

do apoio da equipe de João K, contratou assessoria agronômica, fez um planejamento para vários anos. Dividiu a fazenda em quatro partes, começou com a primeira. Fez um financiamento para plantar milho, plantou o milho, mas jogou junto a semente de capim. Quando colheu o milho, a braquiária já tinha apon-tado. Deu prazo para o capim crescer, pôs a boiada no pasto novo, com palhada (do milho), e viu que a reforma tinha dado certo.

“O milho colhido deu para cobrir o financiamen-to, o pasto reformado saiu por custo zero. Daí vie-mos aplicando os outros pontos do planejamento para alcançar a fazenda toda.”

Mudança de hábitoHoje, a Santa Brígida incorporou outras cultu-

ras – soja, sorgo, girassol, algodão, eucalipto – e es-tá até arrendando áreas de vizinhos para fazer in-tegração. Uma curiosidade: de onde veio a ideia de semear junto a roça e o capim? A resposta vem de João K. “O pessoal que abria fazenda tinha costume de pôr fogo no mato e aí fazer uma roça de toco, se-meando juntos o arroz e o capim. Se o arroz desse bem, ótimo, colhia-se. Se não desse, o pasto esta-va plantado... O que fizemos foi aperfeiçoar, de mo-do que o arroz produzisse igual a qualquer lavoura de sequeiro. Deu certo com o arroz, depois com mi-lho, com outras culturas. Hoje é a base do nosso sis-tema.” O Banco do Brasil tem financiamento próprio para o sistema de integração, por meio da linha de crédito para a Agricultura de Baixo Carbono (ABC).

A cavalo no meio do eucalipto da Santa Brígida, o gerente Anábio Aparecido primeiro tira uma dúvida: já encontrou alguém com esse nome, Anábio?! Não encontrou... O assunto agora é: que ganhos o euca-lipto pode dar ao sistema de integração lavoura-pe-cuária-floresta? “Primeiro, a madeira, claro. Segun-do, o conforto animal. O gado que frequenta o pasto entre as linhas de eucalipto tem uma diferença de ganho de peso de quase 20%, segundo uma experi-ência da Embrapa Gado de Leite. O terceiro benefício é ambiental, e tem a ver com sequestro de carbono, eliminação de gases do efeito estufa, essas coisas...”

Ponto importante: no sistema de integração la-vora-pecuária-floresta, o eucalipto é feito em fai-xas e tem um adensamento menor que nos plan-

tios solteiros. A integração lavoura-pecuária não é uma técnica agrícola; é uma forma de pensar a fa-zenda – para transformá-la numa unidade de pro-dução intensiva o ano inteiro. Depende de maquiná-rio (caro), de mão de obra qualificada e, sobretudo, depende de gestão. Como diz o agrônomo Rober-to Freitas, que presta consultoria para fazendas de Goiás: “Pode-se dizer que há um problema novo por dia, uma decisão a tomar. E a fazenda funciona 360 dias por ano, com planejamento mês a mês, às vezes semana a semana. Depende de uma equipe atenta e preparada”.

Para o lavourista, normalmente mais atento aos cuidados da terra, aos custos e aos resultados da ro-ça, é mais fácil aderir ao sistema. Para o criador, pou-co afeito à intensificação da atividade, é mais enjoa-do porque depende de uma mudança de hábitos, de mentalidade. Embora com ênfase no Cerrado, o sis-tema de integração lavoura-pecuária-floresta tem dado certo em todas as regiões do Brasil e ultima-mente abriu um novo filão: a recuperação de fazen-das com terras muito arenosas. O sistema tem sua base na rotação de culturas, na produção (e aprovei-tamento) da matéria orgânica, no plantio direto e na terra sempre coberta. É a “fazenda do futuro”, como dizem seus entusiastas.

Para João K, a agricultura brasileira teve cinco gran-des conquistas: a correção de so-lo do Cerrado (que permitiu sua exploração), a criação de espé-cies adaptadas ao clima tropical, o plantio direto, a segunda safra (safrinha) e agora a integração la-voura-pecuária-floresta.

* José Hamilton Ribeiro é repórter do Programa Globo Rural, da TV Globo

INTEGRAÇÃO TRANSFORMA A FAZENDA NUMA UNIDADE DE PRODUÇÃO INTENSIVA O ANO TODO

ESPECIAL

Gado pasta em meio à floresta de eucalipto

A produtora Marize Porto Costa, da Fazenda Santa Brígida, situada no município de Ipameri (GO)

Melhoria do solo devido ao aumento da matéria orgânica

Redução de perdas em vera-nicos (pela porosidade do solo e aprofundamento das raízes)

A diversificação de culturas induz à menor incidência de pra-gas, doenças e ervas daninhas e, com isso, há menos uso de de-fensivos

Redução dos riscos de erosão e melhoria na recarga de água da chuva

Mitigação do efeito estufa, re-sultante da maior capacidade do “sequestro de carbono”

Corte na emissão de metano pelo gado

Maior geração de empregos na fazenda

Aumento na produçãoEstímulo à qualificação pro-

fissional das pessoasA fazenda gerando mais di-

nheiro, o produtor,sabendo ad-ministrar, vai também ganhar mais

Vantagens para o produtor e para a natureza

A nova revolução do agro

Mauricio Lopes, engenheiro agrônomo, é presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

1

2

3

4

5

6

7

89

10

© E

RNES

TO D

E SO

UZA

/ED

. GLO

BO

O Brasil está produzindo a próxima revolução agropecuária no cinturão tropical do globo. E a razão é simples:

aprendemos que a agropecuária terá de crescer mais na vertical que na horizontal, ou mais em efi-ciência que em expansão de área, porque o novo Código Florestal limita a expansão da área agrí-cola sobre as florestas. E a demanda por mais ali-mentos, fibras, bioenergia e componentes reno-váveis para as bioindústrias do futuro exigirá da agropecuária brasileira um enorme crescimento em eficiência, produtividade, qualidade e respeito ao meio ambiente. Assim, sistemas mais integra-dos e ‘poupa-recursos’ ten-derão a se tornar a norma no futuro. O Brasil tem milhões de hectares de pastos de-gradados que poderão ser recuperados com sistemas de integração lavoura-pecu-ária e lavoura-pecuária-flo-resta. Assim poderemos au-mentar a eficiência da nossa agropecuária, com ganhos contínuos de produtividade, de forma sustentá-vel. Tais sistemas serão importantes não só para o Brasil, mas para todo o cinturão tropical do glo-bo, que terá de elevar significativamente sua pro-dução agrícola para conseguirmos ‘fechar a con-ta’, atendendo às necessidades de uma população que seguirá crescendo até 2050. Por isso, chama a atenção do mundo o potencial de intensificação sustentável da agricultura brasileira. E, diferente-mente de qualquer grande produtor de alimentos no mundo, o Brasil mantém 62% do seu território com cobertura vegetal natural. Esse protagonis-mo e as oportunidades de geração e dissemina-ção de tecnologias capazes de promover a expan-são sustentável da produção agropecuária é que precisam orientar a agenda estraté-gica do agronegócio brasileiro.