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ESPELHO DE CLIO: DAS ILUSÕES DA PERFEIÇÃO À CONSCIÊNCIA “ESTÉTICA”. ROBERVAL AMARAL NETO 1 RESUMO: Clio: na mitologia grega, é filha de Zeus com Mnemósine e musa da história. Neste trabalho, propomos uma investigação sobre a real imagem de Clio refletida no espelho. Comumente ela é considerada esteticamente perfeita/linda; a mais perfeita entre as musas. Porém, ao longo do percurso histórico, existem fortes indícios de que a imagem refletida de Clio, no espelho, apresenta algum(s) problema(s) físico/estético(s). É exatamente essa investigação que propomos neste trabalho: analisar se Clio apresenta uma imagem perfeita e/ou deformada no espelho do tempo. Clio, nesta perspectiva, marcaria a ligação entre os homens e sua experiência no tempo. Para tanto, alicerçamos esta pesquisa em torno de debates, discussões e autores contemporâneos sobre as possibilidades, características, perspectivas e limites do conhecimento histórico do tempo presente. E a partir deste recorte temático (a tessitura da história do presente), propõem-se o debate sobre grandes temas historiográficos da atualidade: modernidade, pós-modernidade, história, literatura, linguagens, testemunho oral e a reescrita constante da história. E para consubstanciar a discussão faremos o diálogo com diferentes pensadores como, por exemplo: François Hartog, Durval Muniz, Clifford Geertz e François Lyotard na tentativa de buscarmos respostas às indagações apontadas em forma de hipóteses, como: (01) Clio, apresenta, sim, problemas físico/estéticos verificados ao longo do tempo. (02) os homens, fascinados pela beleza de Clio, não perceberão as deformações da musa da história. (03) verificamos, a partir da década de 1980, uma curva ascendente da testemunha comparada à época do início da Era Cristã. PALAVRAS-CHAVE: História; teoria; epistemologia; história oral; testemunho. 1 INTRODUÇÃO Na definição usual/coloquial espelho é: s.m. Qualquer superfície de vidro, metal polido, que reflete imagens”. (BUENO, 2013, p. 319) 2 . Clio: na mitologia grega, é filha de Zeus com Mnemósine e musa da história. Neste trabalho, propomos uma investigação sobre a 1 Professor/EBTT do IFMA; mestrando em História pela PUC/GO; bolsista da FAPEG. E-mail: [email protected] 2 BUENO, Silveira. Dicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2013.

ESPELHO DE CLIO: DAS ILUSÕES DA PERFEIÇÃO À ... (242).pdfde significados, como propõe Gertez (2000)5, para que possamos navegar na barca da história, não excluindo os pólos

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ESPELHO DE CLIO: DAS ILUSÕES DA PERFEIÇÃO À CONSCIÊNCIA

“ESTÉTICA”.

ROBERVAL AMARAL NETO1

RESUMO:

Clio: na mitologia grega, é filha de Zeus com Mnemósine e musa da história. Neste trabalho,

propomos uma investigação sobre a real imagem de Clio refletida no espelho. Comumente ela

é considerada esteticamente perfeita/linda; a mais perfeita entre as musas. Porém, ao longo do

percurso histórico, existem fortes indícios de que a imagem refletida de Clio, no espelho,

apresenta algum(s) problema(s) físico/estético(s). É exatamente essa investigação que

propomos neste trabalho: analisar se Clio apresenta uma imagem perfeita e/ou deformada no

espelho do tempo. Clio, nesta perspectiva, marcaria a ligação entre os homens e sua

experiência no tempo. Para tanto, alicerçamos esta pesquisa em torno de debates, discussões e

autores contemporâneos sobre as possibilidades, características, perspectivas e limites do

conhecimento histórico do tempo presente. E a partir deste recorte temático (a tessitura da

história do presente), propõem-se o debate sobre grandes temas historiográficos da atualidade:

modernidade, pós-modernidade, história, literatura, linguagens, testemunho oral e a reescrita

constante da história. E para consubstanciar a discussão faremos o diálogo com diferentes

pensadores como, por exemplo: François Hartog, Durval Muniz, Clifford Geertz e François

Lyotard na tentativa de buscarmos respostas às indagações apontadas em forma de hipóteses,

como: (01) Clio, apresenta, sim, problemas físico/estéticos verificados ao longo do tempo.

(02) os homens, fascinados pela beleza de Clio, não perceberão as deformações da musa da

história. (03) verificamos, a partir da década de 1980, uma curva ascendente da testemunha

comparada à época do início da Era Cristã.

PALAVRAS-CHAVE: História; teoria; epistemologia; história oral; testemunho.

1 INTRODUÇÃO

Na definição usual/coloquial espelho é: “s.m. Qualquer superfície de vidro, metal

polido, que reflete imagens”. (BUENO, 2013, p. 319) 2. Clio: na mitologia grega, é filha de

Zeus com Mnemósine e musa da história. Neste trabalho, propomos uma investigação sobre a

1Professor/EBTT do IFMA; mestrando em História pela PUC/GO; bolsista da FAPEG. E-mail:

[email protected] 2 BUENO, Silveira. Dicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2013.

real imagem de Clio refletida no espelho. Comumente, ela é considerada esteticamente

perfeita/linda; a mais perfeita entre as musas. Porém, ao longo do percurso histórico, existem

fortes indícios de que a imagem refletida de Clio, no espelho, apresenta algum(s) problema(s)

físico/estético(s). É exatamente essa investigação que propomos neste trabalho: analisar se

Clio apresenta uma imagem perfeita e/ou deformada no espelho do tempo. Para iniciar essa

aventura, das mais difíceis no campo das análises epistemológicas, podemos observar que o

título deste ensaio não é original. O excelente trabalho de Francois Hartog, o Espelho de

Heródoto (1999)3, vem antes desta investigação e de forma magistral trabalha a idéia de

alteridade e representação do outro na historiografia ocidental, buscando os limites e nuances

da narrativa histórica. Nas pegadas de Hartog, buscamos as características, possibilidades e

limites da deusa-musa da história: Clio4- filha majestosa dos deuses, criada para lembrar os

homens do papel da história: decifre-me ou lanço-te no mar do esquecimento, atirando-o ao

limbo. Clio, nesta perspectiva, marcaria a ligação entre os homens e sua experiência no

tempo. Ao promover a relação entre deuses e homens, os deuses não queriam ser esquecidos

pelos humanos, mas lembrados ao longo dos tempos. Porém, ao figurar a importância dos

deuses, nas suas concepções/respostas míticas, os homens, não representaram apenas suas

qualidades/defeitos, mas também aquilo que mais se assemelhavam aos homens: seus

conflitos, perguntas e respostas para o mundo e também, todos os conflitos existenciais.

Ao promover a simetria mítica, entre homens e deuses, os imortais não só abriram

caminho para o esquecimento das divindades antigas, como abriram uma brecha para a

superação histórico/existencial dos deuses mitológicos. Isso ocorreu por meio da força de

mudança dos mortais: incrível capacidade de adaptação e mudança comportamental e natural,

instrumentalizada pela técnica, ciência e razão. Em fim, do espírito crítico/inventivo dos

humanos. Sobre essa relação mítica a professora Pesavento esclarece que,

No Monte Parnaso, morada das Musas, uma delas se destaca. Fisionomia serena,

olhar franco, beleza incomparável. Nas mãos, o clarinete da escrita, a trombeta da

fama. Seu nome é Clio, a musa da História. Neste tempo sem tempo que é o tempo

do mito, as musas, esses seres divinos, filhos de Zeus e de Mnemósine, a Memória,

têm o dom de dar existência àquilo que cantam. E, no Monte Parnaso, cremos que

Clio era uma filha dileta entre as Musas, pois partilhava com sua mãe o mesmo

3 HARTOG, François. O espelho de Heródoto. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. 4“Clio era uma musa filha de Mynemosine (memória). Ela patrocinava a literatura exemplificada pelos hinos e

panegíricos. Com sua trombeta, proclama aos ares os nomes dos heróis, como suas façanhas. No Império

Romano, Clio tornou-se musa inspiradora da história”. (QUADROS, 2007, p. 15). “Musa da história e da

criatividade, conhecida como a proclamadora, cujo nome representa celebrações e perpetuidade. Personificada

em uma jovem com uma coroa de louros, trazendo em sua mão direita uma trombeta e na esquerda um livro de

Tucídides ou um pergaminho. Ademais, têm como símbolos o clarim e a clepsidra e descansa serenamente sobre

o globo terrestre ao lado do tempo”. (SOARES, 2012, p. 01)

campo do passado e a mesma tarefa de fazer lembrar. Talvez, até, Clio superasse

Mnemósine, uma vez que, com o estilete da escrita, fixava em narrativa aquilo que

cantava e a trombeta da fama conferia notoriedade ao que celebrava.

No tempo dos homens, e não mais dos deuses, Clio foi eleita rainha das ciências,

confirmando seus atributos de registrar o passado e deter a autoridade da fala sobre

fatos, homens e datas de um outro tempo, assinalando o que deve ser lembrado e

celebrado.

Quais seriam hoje, neste novo milênio, os atributos e o perfil de Clio, a favorita das

musas? Cremos que, hoje, sua faceta mais recente e difundida seja aquela da chama

História Cultural. (PESAVENTO, p. 07, 2004).

Quais seriam, então, os novos desafios para Clio, nossa musa perfeita? Seria

passar da história social para a história cultural? Ou a tarefa seria mais desafiadora ainda? Ou

seja, a interligação das diversas dimensões do real, buscando a conjugação da cultura, em rede

de significados, como propõe Gertez (2000)5, para que possamos navegar na barca da história,

não excluindo os pólos da natureza e cultura, mas interligando-os, oscilando nas interseções,

no entre lugar, da história; na terceira margem6 do rio caudaloso e infinito da história?

Cremos que esse seja um dos caminhos, a ser trilhado e defendido, pela nossa deusa-musa

neste começo de século.

1.1 A AVENTURA EPISTEMOLÓGICA: CLIO EM BUSCA DE UMA IDENTIDADE

Ao longo do percurso temporal da humanidade, os homens tiveram êxito com as

lições históricas de Clio: instrumentalizaram a memória, em narrativas pessoais e épicas, na

tentativa de estabelecer um sentido para a existência humana: conectar experiência/passado

com sentido/presente. E para isso estabeleceu diversas formas de organização no espaço-

tempo. Uma dessas organizações, que chegaram aos nossos dias e se tornou a forma

dominante de organizarmos as idéias no ocidente, foi à organização do saber grego e, por

conseguinte, a lógica platônica das essências, a organização e instrumentalização do Estado-

nas suas diversas roupagens-, o surgimento do cristianismo- alterando toda a forma de

concebermos a idéia do sagrado e da salvação humana. Essas idéias, da construção do

pensamento ocidental, chegaram até a nossa época: a modernidade7- esta nova era histórica

5GERTEEZ, Clifford. Interpretação das Culturas. Buscamos analisar a cultura articulada nas redes de

significados. A partir das concepções de Gerteez percebemos que sem a cultura não acordamos, não falamos, não

estabelecemos signos de comunicação. A cultura não existe, ela faz parte da nossa invenção, da invenção do

próprio homem. 6 Nesse sentido, concorda-se com as idéias de Durval Muniz (2007) sobre a terceira margem do rio. Na metáfora

estabelecida entre o rio e a história percebe-se uma sintonia fina entre as águas, o leito do rio, os processos

históricos e as ações humanas na construção da história. 7A idéia de modernidade, aqui ancorada, é a concepção construída a partir de Kant. Onde se alojou um abismo

entre o sujeito do conhecimento e o próprio “real”; onde a realidade (construída pelo pensamento e linguagem)

não corresponde ao simples reflexo do real estudado. A Modernidade trouxe um ‘grande problema

trouxe, consigo, toda a força do pensamento ocidental formado, séculos antes, no mundo

clássico. Essas idéias, da antiguidade clássica, entraram em simbiose8com o mundo novo que

estava se formando. È resgatado, nesse momento, idéias gregas de objetividade,

racionalização e um poderoso pensamento platônico das essências das coisas. Incluí-se,

também, a construção da história como ciência do passado- com todos os rigores e estatutos

de uma ciência exata, onde sua idéia mais cientificista encontra-se na Escola Metódica Alemã.

No atual momento histórico, com a crise das grandes metanarrativas- onde a história se

encontra em uma de suas maiores encruzilhadas epistemológicas: a reconstrução e/ou

invenção do conhecimento histórico não corresponde mais à cópia fiel do real (como

acreditavam os racionalistas do século XVII e XVIII), sendo, portanto, uma imagem

desfigurada/estranha da realidade. Porém, contrário a essa visão- que trabalha a distorção

plena do real, com o conhecimento que se constrói a respeito desse real- chamada de pós-

moderna; destacamos a fragilidade epistemológica de afirmarmos o surgimento, e alojamento

permanente, dessa nova condição histórica.

Seguindo o viés epistemológico, contrário àqueles que defendem a pós-

modernidade, expomos as contradições máximas de nossa época- a modernidade: a distorção

plena entre o real estudado e o conhecimento produzido sobre o real. Sobre essa assimetria

entre passado e presente Durval nos afirma que,

Nasce uma nova cosmovisão, uma nova teoria do conhecimento, em que este não é a

imagem do mundo, mas chave para possíveis mundos. Eles enunciam o fim do

realismo metafísico que, durante muito tempo, afirmou a capacidade do homem de

conhecer o mundo tal como ele é, que pensou a verdade como uma operação de

correspondência entre a representação, o enunciado e a realidade independente do

sujeito, uma realidade como dado objetivo. (DURVAL, 2007, p. 59).9

epistemológico’ para a construção/criação do saber. A concepção desta pesquisa, aqui exposta, transita na

contramão daquelas que vislumbram que a crise do conhecimento histórico começou a partir da década de

1950/60, com o desenvolvimento das armas de destruição em massa, da corrida espacial durante a guerra fria,

protótipos de computadores, robótica, a química fina, comunicação de longa distância, a era do microchip, a

crise do padrão fordista e a conseqüente “acumulação flexível” e os movimentos sócio-culturais e a crise do

marxismo real. O problema da construção do conhecimento detectado por Kant e Hegel (século XIX) ainda não

foi superado, portanto, não devemos deslocar a idéia de modernidade para a suposta idéia/condição histórica da

pós-modernidade, que inclusive, não tem consenso acadêmico. 8Termo da biologia: “associação de dois seres vivos (especialmente vegetais) na qual há benefícios recíprocos;

vida em comum”. (BUENO, 2013, p. 715). Procura-se evidenciar a construção da modernidade a partir da

conjunção de diversos elementos que formam o tecido do nosso tempo. 9ALBUQUERQUE JR., Durval. História: a arte de inventar o passado. Bauru. São Paulo: EDUSC, 2007. Neste

texto (cap.02), Durval Muniz analisa a constituição contemporânea de invenção do saber histórico. Porém, dar o

melhor de sua analítica para fundamentar distância máxima entre o real e a realidade analisada/ criada pelo

historiador para afirmar que tais distorções na apreensão do real é algo novo, recente, isto e, provém do início da

Segunda Guerra Mundial. Ao referenciar o filme de Akira Kurosawa, Rapsódias de Agosto, ele coloca a

Segunda Grande Guerra como divisor de águas entre a modernidade e uma nova condição histórica. Todo o

abalo simbólico provocado pelos cogumelos atômicos, durante a Segunda Grande Guerra, levou a falência do

projeto humanista/modernidade e a conseqüente gestação de uma nova era histórica: a pós-modernidade. Porém,

Ora, a crise do sujeito do conhecimento não começou na década de 1950/60 como

esboçado, anteriormente, por Durval Muniz. Afirmamos sim, que ela começou bem antes, no

século XIX. Ankersmit (2012) nos expõem sua visão consciente, que percorre o sentido

contrario àqueles que defendem a existência a pós-modernidade, pela constatação da

existência de um vazio entre o sujeito do conhecimento e o real:

Pense no próprio Hegel. Graças a sua convicção idealista de que a história foi

formada pelo mesmo instrumento que o indivíduo em sua disposição para entender a

realidade sócio-histórica- a Razão – Hegel foi bem sucedido em construir uma ponte

no vazio que ele demonstrou existir entre a realidade e o indivíduo. Contudo, em

certo sentido, a suposição está correta. Paradoxalmente, foi precisamente esta

transição das certezas do Iluminismo para a atormentada luta do Romantismo com a

natureza da realidade sócio-histórica que deu à luz a historiografia moderna. O

passado se tornou estranho, irrevogavelmente fechado em si mesmo e, por

conseguinte, interessante. A descoberta da distância entre indivíduo e a realidade

sócio-histórica fez o homem ocidental consciente de seu passado com uma

intensidade até então desconhecida. O passado tornou-se um enigma, e a

historiografia moderna foi criada para ir de encontro ao desafio. (ANKERSMIT,

2012, p. 36- 37)10.

Uma vez colocada a visão da historiografia moderna, e não pós-moderna do

conhecimento histórico ocidental, podemos caminhar para outra estação de nossa

argumentação, na tentativa de saber/compreender se a musa-deusa da história, Clio, tem de

fato um problema físico/estético que comprometa sua observação/fruição do saber histórico: a

constante reescrita do conhecimento historiográfico. Fazemos e reelaboramos a escrita

histórica por duas razões, que são ao mesmo tempo peculiares e característicos ao metier

historiográfico. Em primeiro lugar, porque os homens e as sociedades humanas mudam ao

longo do tempo, isto é, há questões na história que só se faz compreender ao longo da

sucessão temporal. Portanto, “[...] Os homens e as sociedades humanas, por serem temporais,

não permitem um conhecimento imediato, total, absoluto e definitivo. A história só se torna

visível e apreensível com a sucessão temporal. [...]”. (REIS, 2002, p. 07), trazendo a

necessidade de se reescrever a história a partir do momento histórico específico (tempo

presente) e do lugar social (instituição) em que se produz a pesquisa. Em segundo, porque o

não observamos argumentos filosóficos fortes nem referências a grandes pensadores para firmar e fundamentar

sua tese de pós-modernidade. 10 ANKERSMIT. Flankflin Rudolf. A escrita da história: a natureza da representação histórica. Londrina: Eduel,

2012. Texto riquíssimo na construção da teoria e metodologia da história por tematizar questões de grande

relevância para o estatuto da historiografia moderna. Questões como história, tempo, uso da linguagem na escrita

da história, romantismo, paradigma iluminista e construtivismo. Expõem de forma muito clara argumentos que

afirmam a solidez da nossa condição moderna

.

conhecimento muda, isto é, novos documentos, teorias, metodologias e “novos pontos de vista

levam à reavaliação do passado e das suas interpretações são estabelecidas. Há uma

transposição para essa nova linguagem do patrimônio do passado. O passado é, então,

repensado e ressignificado de forma renovada e fecunda. [...]”. (Id. p. 09- 10). Toda essa

avalanche, de novas expectativas em torno da reelaboração da história, é incorporada ao

“novo estatuto” da historiografia e, conseqüentemente, à reescrita da história, fazendo surgir

novos questionamentos, problemas, perguntas e, por sua vez, tentativas de respostas.

Seguindo esse raciocínio, a primeira grande tentativa na Era Moderna, de responder aos

grandes desafios propostos pela história foi tentada pela Escola Metódica, no século XIX11.

Essa escola historiográfica mesmo tratando o conhecimento histórico como científico

imutável e fixo, nos legou pontos de ancoragem e referências metodológicas, ainda hoje

usadas por muitos pesquisadores, foram construídas nos embates efervescentes do ambiente

europeu da época moderna como expressão da racionalidade moderna de controlar e explicar

questões seculares.

Outras correntes historiográficas como: Marxismo, Estruturalismo, Escola de

Frankfurt e Escola dos Annales foram, também, desenvolvidas e/ou criadas na transição do

século XIX para o século XX. E, conseqüentemente, construíram respostas/soluções na

tentativa de responder as angústias contemporâneas, como por exemplo: as imagens criadas

em torno do real que se mostrava cada vez mais desfocado, embaçado e longe de ser

apreendido na sua lógica interna. A crise provocada pelas guerras mundiais e pelo

desdobramento dos conflitos entre socialistas e capitalistas, incluindo as reformas sociais

capitalistas conhecidas como Welfare State12 e as variadas formas de violências contra os

homens (crimes contra a humanidade: prisões ilegais, torturas e massacres de inimigos do

Estado) cometidas tanto por capitalistas quanto por comunistas que chegaram ao poder

11 O texto, aqui analisado, MARTINS, Estevão de Rezende. (org.). A História pensada: teoria e método na

historiografia européia do Século XIX. São Paulo: Contexto, 2010. , parte da premissa de que Leopold Von

Ranke foi fundamental na construção da história como campo de conhecimento estabelecendo seus pressupostos

metodológicos, teóricos, temáticos e seu lugar no panteão das ciências modernas, buscando construir algo novo

tentando ir além do racionalismo cartesiano e do idealismo hegeliano na tentativa de criar uma ciência imparcial,

objetiva e no contexto do éculo XIX não se “contaminasse” com as paixões revolucionárias atrapalhando, assim,

o resultado da pesquisa. Porém, a conseqüência que adveio dos seguidores de Ranke foi catastrófica:

cristalizaram a história como uma ciência exata e perderam a nossa processual e dinâmico do conhecimento

histórico. 12Na obra: Problemas Estruturais do Capitalismo (2002), o pensador contemporâneo alemão Clauss Offe trabalha

a incompatibilidade da democracia com o capitalismo. O curto período histórico em que isso foi possível foi nas

décadas de 1950/60 em que o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos da América, impôs o padrão de

consumo/democracia para os países do Primeiro Mundo e criou “way of life”. Porém, essa compatibilidade foi

em decorrência do perigo vermelho que o bloco comunista impôs aos dirigentes capitalistas, com a idéia de

revolução mundial. Quando esse perigo passou, e veio à Nova Ordem Mundial, à compatibilidade se

transformou em extrema incompatibilidade.

corroboraram com a presença, cada vez mais angustiantes, da falta de referências concretas e

seguras para firmar às certezas homem contemporâneo. Uma das alternativas, ao modelo de

sociedade vigente e forma de construção de novos paradigmas, se deu logo após a Segunda

Guerra. A grande revolução comportamental do século XX, maio de 1968, trouxe os

movimentos de juventude13, na Europa e Estados Unidos, que buscavam atender às novas

demandas sociais, principalmente, das minorias e dos excluídos, saindo do binômio

capitalismo x socialismo. Esses movimentos buscaram soluções pragmáticas para problemas

emergenciais, tais como: a descolonização/incorporação do terceiro mundo, luta dos negros

americanos pelos direitos civis, movimento ecológico e feminista. Esses movimentos, na sua

lógica interna, contribuíram para a construção de um novo tipo de historiografia: os estudos

históricos que valorizam a cultura como dimensão que entrelaçava todos os níveis do real,

buscando alternativas ao sectarismo acadêmico. Porém, persistem, ainda, na acadêmica nos

dias atuais, tendências e posturas historiográficas ligadas às grandes metanarrativas14 que

nada avançam no debate nem na superação dos grandes problemas epistemológicos das

ciências humanas.

1.2 O FIM DAS CERTEZAS ABSOLUTAS: CLIO EM BUSCA DE UM ELO

O momento em que os grandes paradigmas entraram em crise15, na segunda

metade do século XX, as correntes epistemológicas do conhecimento se voltaram para o

passado (século XIX) na tentativa de entender/compreender o estatuto das ciências humanas-

as matrizes epistemológicas, do conhecimento da realidade. Seguindo esse viés interpretativo,

busca-se compor, no presente, o quadro teórico-metodológico que melhor compreenda, na

nossa visão, os grandes problemas histórico/filosófico do nosso tempo, a saber: o

deslocamento/desfiguração total entre o real e o conhecimento produzido sobre essas

13HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.p. 293. Coloca os limites

dos movimentos de maio de 1968 e a não deflagração da revolução, na Europa, foi pelo fato dos estudantes, por

mais numerosos que fossem não podiam fazê-la sozinhos. O grande mérito, desses movimentos, seria em servir

de fonte detonadora para iniciar movimentos maiores em escala continental. Porém, a dinâmica interna desses

movimentos e a cooptação, da força de transformação dos estudantes, pelos governos capitalistas europeus, ao

longo dessa década,tornou a idéia de revolução social uma idéia pálida e desbotada,levando potencialmente essas

forças sociais a se adequarem ao status quo vigente. 14“[...] A metanarrativa se faz a partir de um sujeito de discurso que, a pretexto de falar do lugar da ciência,

sobrevoaria a História e poderia falar de fora dela, ter uma visão global, de conjunto e não comprometida com os

embates do momento. Ilusões que Bouvard e Pécuchet podiam ainda ter no século no século passado, mas os

historiadores hoje já admitem que o se alojar no passado não é nenhuma garantia de imparcialidade,

simplesmente porque ela é impossível.”(Id., 2007, p. 62) 1515 Refere-se, aqui, às grandes correntes teóricas e epistemológicas, do pensamento ocidental, que dominaram as

formas de construção das narrativas historiográficas dos últimos séculos, isto é, a Escola Metódica e Marxismo.

instâncias da realidade. Daí que “[...] A história se torna visível e apreensível com a sucessão

temporal. [...]”. (Id. p. 07). , onde nós, historiadores, de tempo em tempos somos assaltados

por uma nova leva de problemas, perguntas e questionamentos sobre “[...] os homens e as

sociedades humanas no tempo. [...]”. (id. p. 07). Na tentativa de oferecer a melhor história,

alguns historiadores enfatizam a dimensão temporal de formas diferenciadas, uns enfatizam o

passado, outros o futuro e alguns o tempo presente- posição teórica e metodológica em que

este trabalho se sustenta. Sobre a importância do tempo presente, o eminente professor

Quadros comenta:

O tempo presente é o mais importante, segundo Paul Ricoeur, porque reúne as

temporalidades do passado e do futuro. Retomando os conceitos de Reinhart

Koselleck (1979), ele demonstra como é fundamental alargar nosso “espaço de

experiência” para aproximá-lo de nosso “horizonte de expectativa”. (QUADROS,

2007, p. 15).

Seguindo essa premissa, visões do tempo histórico são reelaboradas enfocando

temporalidades próprias de cada tendência historiográfica, que pode, em geral, ser regressivas,

conservadoras ou progressivas. “[...] A renovação teórico- metodológica não abole o

condicionamento da produção histórica em um presente e lugar social. [...]. (REIS, 2002, p.

10). Os contemporâneos são impulsionados a se localizarem e tomarem partido, mesmo que

seja inconsciente essa escolha, aglutinando, assim, os pesquisadores em diversas escolas

teóricas de pensamento, levando à avalanche de novas obras que, marcam uma determinada

época histórica, com sua tendência específica e peculiar de produzir uma determinada forma

de escrita historiográfica, caracterizando um determinado período da historiografia. A história

“[...] Não cria um efeito de neutralidade, imparcialidade, que abolia a condição temporal do

objeto e da pesquisa com o seu sujeito. [...]. (Id., 2002, p. 10). Isso entra em harmonia com os

pressupostos levantados anteriormente: “[...] o objeto temporal e a renovação teórico-

metodológico e de quadros humanos [...]” (Id.,2002, p. 11) leva a mudança contínua da

pesquisa histórica, possibilitando ,em épocas históricas específicas, a revisão de temas

importantes como: objetividade, subjetividade, imparcialidade, parcialidade16, maior ou

menor independência do sujeito do conhecimento,onde essas categorias são articuladas de

forma diferenciada levando os contemporâneos a um olhar diferenciado e específico do

passado e presente e de sua articulação com o futuro.

16 Com relação às idéias de objetividade, imparcialidade e cientificidade na metanarrativa histórica, Durval

Muniz nos oferece sua visão lúcida: “[...] A metanarrativa se faz a partir de um sujeito de discurso que, [...]

sobrevoaria a História e poderia falar de fora dela, [...] não comprometida com os embates do momento. [...] o se

alojar no passado não é nenhuma garantia de imparcialidade, simplesmente porque ela é impossível”. (Id., 2007,

p. 62).

Neste contexto, discutir os próximos dois temas abaixo é fundamental na tessitura

dos argumentos epistemológicos desta pesquisa, para neste percurso buscarmos a resposta

para pergunta que direciona/norteia este trabalho: a musa-deusa majestosa da história tem

algum problema físico/estético? Dentro desse impasse, há questões que merecem análises

profundas. O primeiro tema é a emergência dos estudos do tempo presente na atualidade; e o

segundo tema, não menos importante, é a investigação da relação entre objeto de estudo e

pesquisador (metodologia e teoria) na construção do tecido cultural, mais especificamente a

relação entre a testemunha e o historiador e, por conseguinte, na fértil relação entre fontes

escritas e fontes orais.

Retomando o tema anterior brevemente tocando- o tempo presente. Pode-se,

agora, apresentar algumas idéias importantes acerca desse fértil tema na historiografia

contemporânea. Sobre a profundidade e inteligibilidade da temática do tempo presente, o

prestigioso historiador francês Jean- Pierre Rioux nos oferece uma visão lúcida sobre o

presente:

Um vibrato do inacabado que anima repentinamente todo o passado, um presente

pouco a pouco aliviado de seu autismo, uma inteligibilidade perseguida fora de

alamedas percorridas: é um pouco isto, a história do presente. (RIOUX, 1992, p. 50).

Assim Rioux termina seu artigo intitulado: “Pode-se Fazer Uma História Do

Presente?”. (RIOUX, 1992, p. 39). O estudo do presente é uma das temáticas mais ricas e

debatidas na historiografia contemporânea. As limitações, obstáculos e desafios do estudo do

tempo presente não se limita à famosa assertiva de Roger Chartier (1996)17 sobre o presente: o

estudo do tempo presente desperta um mau sentimento- a inveja. Alicerçar o debate e a

construção epistemológica, em torno desse tema, em posições dessa natureza é incorrer em

anacronismo elementar e traz pouca ou nenhuma contribuição a este tema; que é um dos mais

debatidos e profundos das últimas décadas. Porém, com relação ao sentido da frase de

Chartier, entendo a provocação e ao mesmo tempo a fina ironia desse que é, uma das mais

importantes vozes e luz de entendimento, um dos maiores nomes da historiografia ocidental

da atualidade.

A maior contestação e crítica, invocada pelos conservadores da historiografia, ao

estudo do tempo presente é a proximidade entre o sujeito do conhecimento (pesquisador) com

seu objeto de estudo. Essa armadilha de fato é um dos principais e mais forte argumentos

17 CHARTIER. Roger. A visão do historiador modernista. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO,

Janaína. [coords.]. Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1996.

contra os historiadores dos estudos do presente. As impressões, a imersão, a “poluição” de

informações e o sentido de “imparcialidade e objetividade” são alterados em oposição ao

historiador. Aliás, essa posição, segundo alguns críticos da historia do tempo presente,

compara os historiadores aos jornalistas. Para esses críticos, tudo isso comprometeria o juízo

e a análise da história. Porém, Durval Muniz (2007), nos alerta que, o conhecimento é

perspectivista. “[...] mas os historiadores hoje já admitem que o se alojar no passado não é

nenhuma garantia de imparcialidade, simplesmente porque ela é impossível [...]”

(ALBUQUERQUE JR., 2007, p.62). Nessa mesma linha epistemológica como nos alerta

Foucault18, toda narrativa é pessoal, parcial e temporal, e conseqüentemente a visão aqui

exposta é interessada, nasceu de lutas políticas, de embates de poder, portanto é uma prática

totalmente ideológica, mesmo que o pesquisador se “proteja” com os métodos e teorias

acadêmicas. Por essas razões, estamos do lado daqueles que acreditam na teoria do

perspectivismo, onde o conhecimento é parcial, subjetivo e histórico.

Mas o grande desafio desse tipo de análise é conjugar comprometimento,

responsabilidade teórico-metodológico, manejo documental com distanciamento

metodológico-temporal na construção narrativa dos temas do tempo presente. Dessa maneira

podemos “[...] esclarecer o presente pelo passado e o passado pelo presente [...]”. (LE GOFF,

2002, p. 93) e se possa, dessa maneira, articular essas dimensões temporais, recusando o

efêmero apesar das armadilhas lançadas pelo sangue quente do momento, contribuindo para

desenvolver/aprimorar essa rica experiência, ainda embrionária, de estudar o próprio tempo

do historiador. E que a ambição de uma história científica do século XIX, que ainda tem raios

poderosos na iluminação da historiografia moderna, não sirva de obstáculo ao

desenvolvimento dessa temática rica em temporalidades, personagens e enredos que renova e

amplia a noção de espaço-tempo na época atual.

“Tudo que é importante é repetido, dizia Ernest Labrousse [...]”. (RIOUX, 2002,

p. 47), e durante muito tempo e diferentes escolas teóricas não admitiram a atualidade dessa

assertiva, secundarizando os eventos e fatos do tempo próximo. E contrariamente, no seu

lugar, a historiografia tradicional ergueu a idéia de longa duração, por temer a proximidade do

pesquisador com seu objeto e conseqüentemente a formação de uma idéia de passado

cristalizado e de captura da sua essência. Foi precisamente, por isso, que Ginzburg nos alerta

para o principio de realidade. “[...] Ao empreender sua resposta ao desafio ‘cético’, dito ‘pós-

18FOUCAULT, Michel. A Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 1999. Refiro-me à concepção de Foucault

que trabalha a idéia de poder, não como coisa, mas como relação; onde o poder não está contido em algo

específico, mas está presente em todas as relações sociais.

moderno’, Carlo Ginzburg alerta para a necessidade de maior precisão do método e das

pesquisas documentais [...]”. (ROIZ, 2009, p.10), como forma qualitativa de evitar

anacronismos na pesquisa e manter, ao mesmo tempo, seu compromisso social e acadêmico

com a sociedade e com a história.

Dentro da arquitetura do tempo proposto por Fernand Brundel (longa, duração,

conjuntura e acontecimento), é necessário um entendimento básico: essas temporalidades são

dinâmicas, processuais e dialéticas. Isto é, uma existe dentro da outra, determinando e sendo

determinada uma pela outra. O tempo do acontecimento, da história imediata, precisa estar

articulada com o tempo da história macro, de forma não mecânica como numa relação causa-

efeito, para que a abordagem do historiador não se perca em devaneios, muito menos em um

idealismo cego que procure essências, sentidos teleológicos e totalidades sistêmicas do

passado. Com isso, podemos abordar o último aspecto da anatomia da nossa musa exuberante,

na tentativa de saber se há ou não problema físico/estético com Clio: a relação entre o

pesquisador e a testemunha na metodologia da história oral19.

2 O RETORNO DA TESTEMUNHA: (IN) CERTEZAS IDENTITÁRIAS DE CLIO

Como nos alerta François Hartog20- usando para isso, o paradigma indiciário; o

problema da relação entre a testemunha e o historiador já foi resolvido há muito tempo. “[...]

do ponto de vista prático e epistemológico. A testemunha não é um historiador, e o

historiador- se ele pode ser, em função de necessidade, uma testemunha- não deve assumir tal

função [...]”. (HARTOG, 2011, p. 203). Ora, podemos observar que o historiador na condição

de testemunha compromete em muito a análise do fato, seja pela falta de distanciamento

metodológico, didaticamente necessário, quanto pelo poder de autoridade/certificação, que é

impossível não ser arrolado no processo testemunhal, que socialmente é atribuído ao

pesquisador.

[...] Assim, ser testemunha nunca foi uma condição suficiente, nem sequer uma

condição necessária, para ser historiador. Mas tal constatação já nos tinha sido

ensinada por Tucídides. A própria autópsia (o fato de ver por si mesmo) deveria ser,

previamente, pelo filtro da crítica. Se, agora, nos deslocarmos do historiador para

19A história oral, no século XX, desenvolve-se, pioneiramente, na universidade dos Estados Unidos associada à

“pré-história” da micro-história, como objetivo de compilar os testemunhos dos combatentes da Segunda Guerra. 20Para tal construção teórica, da relação entre historiador e testemunha, usa-se como referência o texto de:

HARTOG, François. Evidências da história: o que os historiadores vêem. Belo Horizonte: Autêntica Editora,

2011.

sua narrativa, a questão torna-se a seguinte: de que modo narrar como se eu tivesse

visto (para fazer ver ao leitor) o que não vi, nem podia ter visto? Velhas questões

que não deixam de acompanhar a história e sua evidência. (Id., 2011, p. 203).

Como podemos observar a relação historiador x testemunha acompanham a

historiografia desde os tempos antigos. A relação nem sempre simétrica entre autópsia

(Tucídides) e testemunha (Heródoto) marcam diferenças profundas no processo de tessitura

da narrativa histórica, que remontam a Grécia Antiga, e marcou profundamente a nossa

maneira de construir os diversos gêneros historiográficos.

Ao analisar a curva ascendente da testemunha21, na historiografia ocidental,

Hartog faz um recuou temporal para nos mostrar, de forma didática, as diferenças e

possibilidades do conhecimento histórico a partir da testemunha. Para isso, ele faz as

assimetrias da construção da centralidade da testemunha, da Grécia Antiga aos dias atuais,

para o conhecimento da história das sociedades. Ao evidenciar as mudanças no sentido do

testemunhar: da testemunha que escuta a testemunha que vê; Hartog nos mostrar a operação

histórico-epistemológica22 dessa mudança de sentido.

O grego antigo criou um vínculo entre ver e saber, estabelecendo como uma

evidência que, para saber, é necessário ver, de preferência a ouvir. Os ouvidos- diz

um personagem de Heródoto- são menos confiáveis que os olhos (HERÓDOTO, I.

Clio, 8). Idein, ver, e oida, eu sei, remetem, de fato, a uma raiz comum: wid. Já

evocamos esse assunto. Ora, a epopéia homérica conhece um personagem designado

como histor, em que se encontra, portanto, a mesma raiz. Assim, de acordo com

Émile Beneviste, este último seria “uma testemunha pelo fato da saber, mas, acima

de tudo, pelo fato de ter visto” ( BENEVISTE, 1969, p. 173). No entanto, o histor-

que intervém em duas situações de disputa- nada tinha efetivamente visto, nem

escutado. Ajax e Idomeneu, por ocasião das cerimônias fúnebres de Pátroclo,

disputam em relação a quem, após ter contornado a baliza, havia tomado a dianteira

na corrida de carros puxados por cavalos. Ajax desafia Idomeneu e propõem

Agamenon como histor (HOMERO, Iliade, 23, 482- 487; HARTOG, 2004, p. 554-

555). Qualquer que seja o papel exato de Agamenon, é certo que ele nada tinha visto

da cena em questão. No extraordinário escudo forjado por Hefesto para Aquiles, está

representado uma cena em que dois homens, ás voltas com um grave

desentendimento (em relação ao autor de um assassinato), decidem recorrer a um

histor (HOMERO, id., 18, 497- 08); este último não é, obviamente uma testemunha

desse ato. (Id., 2011, p. 212- 213).

21O entendimento desta pesquisa com relação à testemunha, na historiografia contemporânea, é aquela que tem

conhecimento de algum fato- como participante (testemunha ocular) ou apenas conhecedor “distanciado” de tal

fato. E por intermédio do pesquisador desnuda o seu conhecimento, empírico e teórico, sobre determinado tema

e deixa sua mente se explorada pelo pesquisador. Contudo, a testemunha- fonte viva, não é portadora da verdade.

Cabe ao pesquisador/historiador fazer o manejo dessas informações e transformá-las em narrativas históricas. 22Entende-se que, neste começo de século, o maior desafio da história é a construção epistemológica de seu

estatuto do conhecimento. As disputas de paradigmas e os caminhos e descaminhos da história passa pelo filtro

da construção epistemológica da história.

Portanto, ao intervir nas duas situações descritas acima, o histor não é aquele que

vai por fim ao litígio, caso este venha a acontecer. É sim, aquele que é o depositário,

principalmente no futuro, do que foi acordado pelas partes em disputa. Isto é, antes de ter

olhos, o histor, tem principalmente ouvidos. Porém, na trilha da análise de Hartog, percebe-se

que, a testemunha tem um papel de suma importância entre os gregos. Então qual o papel da

testemunha entre os gregos? A testemunha em grego é chamada de martus; [...] A etimologia

nos leva ao radical de um verbo que significa lembrar-se; em sâncrito, smarati; em grego

merimna; w, em latim, memor(ia) (KITTEL, 199, v. 4)[...]”. (Id., 2011, p. 213).Isso permite

entendermos a seguinte operação histórica: da testemunha que escuta para a testemunha que

vê, “[...] Quando, no momento de prestar juramento, sempre na epopéia, os deuses são

invocados como testamento, theoi marturoi, eles são convidados, não a ver, mas a ouvir os

termos do pacto.[...]”. (Id., 2011, p. 213). Nessa operação historiográfica a testemunha é

levada a ouvir e guardar, na memória, aquilo que ouve e é depositário. Observamos que o

martus tem principalmente ouvidos.

É necessário, porém, estabelecermos a diferença entre histor e martus na tradição

grega na tentativa de identificarmos a curva ascendente da valoração da testemunha, uma vez

que ambos têm acima de tudo ouvidos. Pontuando essa diferença, observamos que o histor, na

sua condição de fiel depositário do acordo das partes em litígio, ouve os dois lados, isto é,

torna-se conhecedor das duas versões da contenda23. Já o martus, é conhecedor e se preocupa

com um lado, porque ele (martus) surgiu e existe para saber e preocupar-se com apenas um

dos lados da disputa. A intervenção do martus é no presente e para o futuro; enquanto o histor

preocupa-se, além das duas dimensões anteriores, com a dimensão do passado. “[...] já que

sua intervenção no presente repercute no futuro em relação a uma disputa no tempo passado

(até mesmo recente) [...]”. (Id., 2011, p. 213). Heródoto, na Antiguidade, nos fala da

transformação do martus em testemunha como autoridade. Para evidenciar essa transformação

Hartog nos fornece exemplo basilar.

Tucídides há de fornecer-nos um último exemplo quando ele opõe essas

testemunhas que são narrativas sobre acontecimentos antigos ao que tinha visto

pelos ouvintes do discurso que está em via de lhes ser dirigido: “De que serve falar a

vocês de acontecimentos muito antigos quando eles são confirmados, de preferência,

por narrativas (martures logon) que chegaram a nossos ouvidos, e não pelo viram

nossos ouvintes (opsis ton akousomenon)” (TUCÍDIDES, 1, 73). As “testemunhas”

23Entende-se que o historiador contemporâneo tem o compromisso ético e social de mostrar todasas versões do

fato estudado. O historiador, socialmente responsável, não pode apontar apenas uma versão ou ponto de vista

unilateral daquilo de estuda. “[...] enquanto a história dos vencedores limita-se a olhar um só lado, o próprio, a

história dos vencidos deve levar em consideração, para compreender o que se passou, os dois lados [...]”. (Id.,

2011, p. 228).

estão, assim, do lado das falas e do passado: do lado do que não se viu ou não se

pôde ver. (Id., 2011, p. 214).

Como nos alerta Hartog, na impossibilidade de reconstruir todos os passos do

primeiro histor, é necessário colocá-lo ao lado do mnemon, o homem-memória. Para ele é

necessário coadunarmos os testemunhos (orais e escritos) com a prática da autópsia. “[...] Ao

empenhar-se em resolver a controversa questão da nascente do Nilo, ele indica com precisão:

“Fui e vi com meus olhos (autopes) até a cidade de Elefantina; [...]”. (Id., 2011, p. 214).

Como se vê, o trabalho do histor precisa está associado à prática da autópsia (ver por dentro,

com os próprios olhos) como alternativa e possibilidades ampliarmos o horizonte da

pesquisa. Precisamos abandonar ou redimensionar a posição da testemunha na tradição de

Heródoto: o historiador precisa ver os dois lados. È preciso, isto sim, ver os dois lados e ,

também, ver por si mesmo, com o olhar de pesquisador, ver por dentro, tomar posição crítica

com relação à testemunha e fazer, como nos ensina Tucídides, a autópsia24.

Para finalizar o entrelaçamento epistemológico, entre o historiador e testemunha,

gostaríamos de mostrar as conexões entre os dois momentos de ascendência da testemunha,

dentro do pensamento historiográfico ocidental. No inicio da Era Cristã a testemunha torna-se

crucial na validação de fatos sociais e históricos, construindo, assim, uma cadeia de tradição

baseada em pressupostos cristãos e bíblicos. Isso levou a penetração do espaço das Religiões

Reveladas25 e do Livro permitindo uma apartação radical entre testemunho e autopsia. O

testemunho se torna algo imprescindível na validação das verdades religiosas. Flávio Josefo

opera uma conjunção entre a testemunha e a verdade, estabelecendo o poder de autenticação

na testemunha - ver com os próprios olhos. Ele promove o regime de autópsia, mas estabelece

uma distinção com relação à Tucídides; adotando a testemunha ocular- aquele que ver com os

próprios olhos, com o poder de autenticidade. Isto é, a melhor testemunha é aquela que vê

(testemunha ocular) e tem maior autoridade (política, social, militar e etc.) no seu tempo.

Sobre essa a testemunha ocular, com poder de autenticidade, Josefo no mostra que,

[...] Ao assistir ao cerco de Jerusalém, Tito é declarado, de fato, por Josefo

“autoptes kai martus”:o general romano viu com os próprios olhos (ele poderia ser

o historiador) e é testemunha (ele tem o poder de autenticação). Com efeito, martus

24“Autópsia, s. f. Exame médico de um cadáver”. (Id., 2013, p. 103). O sentido de autópsia é utilizado de

maneira mais profunda do que do exposto no filólogo. Autopsiar um fato é ver os detalhes, os microvasos, os

microporos e toda a composição interna e externa do fato estudado. Nesse sentido que Tucídides utiliza o

conceito em questão, no qual concordamos plenamente. 25As religiões reveladas: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo; são aquelas que esperaram a revelação do messias

e o dia da volta do Deus criador para redimir a humanidade dos seus pecados e erigir um novo mundo. Nessa

tradição, as testemunhas (na Torá, na Bíblia e no Corão) são colocadas como pedra angular e central na

validação dos dogmas religiosos.

não ésimplesmente redundante, mas acrescenta uma dimensão de autoridade. Flavio

Josefo sublinha imediatamente que Tito é o “administrador soberano das punições e

das recompensas” (Ibid., 6, 34). Excelente exemplo de expressão com ressonâncias

tanto gregas quanto judaicas. (Id., 2011, p. 218).

Como observado, anteriormente, Josefo faz a perfeita simbiose entre testemunha,

autópsia e autenticidade. Isso marcará profundamente a historiografia ocidental durante

séculos. No inicio da Era Cristã, portanto, a testemunha é colocada como pedra central da

história cristã26 e, por conseguinte, na história teológica do período medieval. Dentro desse

pensamento, a(s) testemunha(s) é/são colocadas como eixo central no processo de

autenticidade- da prova, não sendo condição sine qua non a autópsia- a análise clínica, o olhar

do historiador. E essa poderosa força do pensamento cristão perpassou todo o período

medieval, chegando mesmo a se alojar, pelo menos em parte, no início do pensamento

moderno. Entretanto, grande diferença (e algo positivo) do pensamento moderno, com relação

ao período medieval, é que a(s) testemunha (a) não terá o poder máximo de autenticidade:

comprovar por si só um determinado fenômeno27.

Na arquitetura do pensamento moderno, a testemunha vai tomando posição

secundária e, até mesmo silenciada, lentamente dispensada em detrimento do olhar do

pesquisador/historiador. A testemunha, de acordo com os pressupostos da Lei Deuteronômica,

torna-se obsoleta na construção da história moderna. A autópsia, na perspectiva de Tucídides,

das fontes escritas oficiais torna-se o ponto de partida e a referência do historiador.

Observamos, aí, uma assimetria da história moderna com a grega: para Heródoto a referência

era a testemunha- o histor; para Tucídides, o ponto de partida era a autópsia- ver por dentro.

Nessa mesma linha, Flavio Josefo opera a conjunção entre testemunha e autópsia,

estabelecendo dessa maneira, a fala total das testemunhas retiradas por Tucídides. Nessa

perspectiva, a de Josefo, o historiador aparece como compilador de vozes e testemunhos,

ficando, dessa maneira, silenciado pela testemunha. No início da modernidade, a postura de

compilador, não de vozes e testemunhos orais, mas de fontes escritas oficiais torna-se a práxis

e a direção do trabalho do historiador. A autenticidade do acontecimento desloca-se do

testemunho para o documento escrito de base oficial. O profissional que trabalha e faz o

manejo dessas fontes e, portanto, estabelece o sentido das transformações temporais não é

mais o compilador de relatos e testemunhos orais. Isto é, o profissional que se incube, da

26 Refiro-me ao livro específico da Bíblia- Deuteronômio (19:15 SS)que estabelece a Lei Deuteronômica das

Testemunhas, onde para um fato ser provado é necessário, no mínimo, duas ou três testemunhas. 27A historiografia moderna nasceu sob o signo da prova documental de base oficial. Nesses termos, o documento

escrito é colocado nos altar da deusa história e relegou à testemunha os esconderijos dos hereges.

tarefa da história, de forma científica, racional, imparcial e objetiva é o historiador- formado

na academia, com métodos e teorias científicas. Nesse momento, século XIX, a era da

testemunha chega ao fim. Ela, a testemunha, é alijada da história e fica presa aos relatos da

literatura e do mundo da imaginação dos memorialistas, não mais da história científica28.

Mas, mesmo afastada dos grandes paradigmas de construção da realidade, do

século XIX e XX, adeptos da testemunha e do testemunho vão buscar, mais uma vez, a

introdução da testemunha, pelo menos de forma secundária, caso não fosse possível a

construção de um sistema de significados29 alicerçado no testemunho oral. Sobre essas vozes

dissonantes Hartog comentar que,

[...] de uma forma ou de outra, procuraram reintroduzir a testemunha e o

testemunho. Não, evidentemente, como sistema de autoridades, regulamentando o

que é admissível, nem como elemento constitutivo de um indício, mas como

presença: como voz e como memória. Na primeira fila, seria possível Michelet,

evocado precisamente como antecessor da história das mentalidades. ”Nas galerias

do prédio dos Arquivos (ver supra, p. 151) pelas quais perambulei durante vinte

anos, alguns murmúrios, apesar do profundo silêncio, chegavam a meus ouvidos. Os

sofrimentos longínquos de tantas almas sufocadas dessas antigas eras se queixavam

em voz baixa” (MICHELET, Préface de 1869, 1974, p. 24, e supra, p. 152-154). Os

documentos são vozes exigentes e portadoras de uma dívida a pagar. Mas, para

ouvir esses testemunhos, o historiador deve dirigir-se aos arquivos, ou seja,

mergulhar nas profundezas de uma época. Ele deve “atravessar e voltar a atravessar

o rio dos mortos”, transgredir deliberadamente a fronteira entre o passado e o

presente. Resta-lhe, na seqüência, fazer ouvir essas vozes, o que não significa, de

modo algum desaparecer à frente delas. É, pelo contrario, essa operação de acordo

com Michelet, revela o verdadeiro historiador. (Id., 2011, p. 224).

Embora, com toda a distância que a Escola Metódica, do século XIX, manteve

com relação à testemunha, as vozes dissonantes de muitos historiadores conseguiram abrir

uma brecha para o testemunho, mesmo de forma marginal, nos esquemas explicativos da

realidade. Porém, a partir da década de 1970/80 com terceira geração da Escola dos Annales e

a crise das metanarrativas, abriram-se uma avalanche de estudos sobre as mentalidades e o

imaginário. A partir desse período, a testemunha volta com muita força nos estudos

28Entende-se por história científica aquela criada pelo alemão Leopold Von Ranke, estabelecendo as bases para

uma história objetiva, imparcial, documental e presa aos eventos políticos do Estado Nacional. 29Tomamos de empréstimo, aqui, a compreensão do sistema de significado de Geertz; onde no processo de

construção do saber são valorizados as diversas linguagens semióticas (linguagens verbais e não verbais) e os

processos de significação (semiose) entre objeto e sujeito.

sociológicos e históricos, ao ponto de Hartog chamar este momento de a Era da Testemunha

nos estudos acadêmicos. “Mais perto de nós, a partir de meados da década de 1970, o brusco

interesse pela história oral, à qual Philippe Joutard dedicou um livro- sob o título Ces voix qui

nous viennent du passe[...]”. (Id., 2011, p. 225).Engrossando, com isso, as fileiras daqueles

que percebem a importância e a curva ascendente da testemunha na historiografia

contemporânea no mundo ocidental. Porem, mais uma vez, Hartog nos chama atenção para o

cuidado com o trato com o testemunho oral. A testemunha não é a história, mas a fonte pela

qual a história desliza e percorre no rio caudaloso para construir sua visão, sempre incompleta

e parcial, do passado buscando, sempre, não esquecer os métodos e teorias- sempre articulada

com a prática, para que façamos uma história que além de buscar a autópsia de Tucídides (ver

por dentro) veja também os dois lados, do histor, na tradição de Homero.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bem, depois de percorremos uma longa estrada, um tempo longo e

experimentarmos diferentes visões da testemunha, chegou a hora de retomar a idéia primeira

apontada neste raciocínio epistemológico: Clio, nossa musa inspiradora, tem algum problema

físico/estético que comprometa a visão e entendimento da história? Clio, confirmada pela

tradição, era a musa mais exuberante do Olimpo; com seu clarim, imortalizava e glorificava

com sua música, todos àqueles que eram dignos da glória dos deuses. Porém, toda beleza,

majestade e poder foram tomados como perfeição pelos antigos e, ao longo da nossa

existência temporal, não percebemos que Clio- a musa da história não é assim tão linda e

maravilhosa, como pensávamos até agora. A limitação temporal dos homens, os métodos,

teorias, temáticas e a consciência do processo histórico, oferecida aos homens por Clio,

refletem no espelho mítico do tempo/memória a limitação e imperfeição física e/ou estética da

nossa musa. Entretanto, não sabemos em qual parte, do seu corpo mítico-histórico, há essa

imperfeição, nem o grau dessa deformação, nem por quanto tempo perdurará essa

imperfeição/limitação. Mas hoje sabemos que àquela que surgiu para nos oferecer a

compreensão das mudanças no tempo (História) não é perfeita. Cabe aos homens deste tempo,

principalmente os historiadores, amparar, cuidar e oferecer ajuda- mesmo que seja através de

uma “muleta” (teórico-metodológica) das outras ciências humanas e sociais-, à nossa musa,

Clio, para que ela consiga realizar a sua gloriosa e “divina” missão: possibilitar a

compreensão/transformação das ações humanas no tempo30.

30Nessa concepção, tempo é considerado a matéria-prima fundamental dos fenômenos da sociedade, da história e

dos homens. E os profissionais que trabalham com as idéias, os homens, a sociedade e com o mundo em

movimento não podem prescindir de observarem as transformações da sociedade na tessitura do tempo.

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