Espelho Revelador - Walter Scott

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  • 8/16/2019 Espelho Revelador - Walter Scott

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    Título: O Espelho Revelador.Autor: Walter Scott.Dados da Edição: Livraria Romano Torres Lis!oa "#$$.%olecção &O!ras Escolhidas De Autores Escolhidos& n' $(.)*nero: +ovela.Di,itali-ação: Dores %unha.%orrecção: Ana edeiros.Estado da O!ra: %orri,ida.+umeração de /0,ina: rodap*.

    Esta o!ra 1oi di,itali-ada sem 1ins comerciais e destina2se unicamente 3leitura de pessoas portadoras de de1ici4ncia visual. /or 1orça da lei dedireitos de autor este 1icheiro não pode ser distri!uído para outros1ins no todo ou em parte ainda 5ue ,ratuitamente.

    6ltimos 7olumes /u!licados:Am*liaDe 8enr9 ieldin,+a %orte Da Rainha ;sa!elDe Walter Scott

    Dois DestinosDe WiledeDe )eor,e EliotA Lenda Da Dama >rancaDe Walter ScottO )rande E,oístaDe )eor,e eredithO /a?em De aria StuartDe Walter ScottDom!e9 @ ilhoDe %harles Dicul=er L9ttonOs ist*rios Do %astelo De Bdol1oDe A+ne Radcli11eDuas %idades Bm AmorDe %harles Dicront*A /e5uena DorritDe %harles Dic

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    De ane Austen

    O Bltimo Dos >arCesFA )uerra Das Duas RosasG de >ul=er L9ttonO Anti5u0rioDe Walter Scott/ro1essor

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    A tia ar,arida pertencia a essa classe de irmãs so!re 5uem recaem todosos cuidados todas as preocupaçCes ocasionadas pelas crianças eHceptoa5uelas 5ue estão li,adas 3 sua che,ada a este mundo. A nossa 1amíliaera numerosa e composta de crianças de diversos caracteres e dedi1erentes temperamentos. Os 5ue eram tristes e de mau humor mandavam2nos 3 tia ar,arida para 5ue ela os divertisse os impetuosos !ruscos etur!ulentos mandavam2nos 3 tia ar,arida para 5ue os acalmasse ou

    antes para se livrarem deles e do !arulho 5ue 1a-iam. andavam2lhe os5ue estavam doentes para ela os tratar os teimosos para os su!meter coma sua doçura e !randas reprimendas. Em resumo desempenhava todos osdeveres de uma mãe sem ter as honras e di,nidades con1eridas pelocar0cter maternal.as o termo dos seus tra!alhos che,ou de todas as crianças 1racas ouro!ustas mei,as ou tra5uinas tristesou ale,res 5ue enchiam a sua pe5uena sala de manhã 3 tarde nenhumaeHiste ?0 eHcepto eu 5ue atormentado por en1ermidades precoces mesmoassim lhes so!revivi. ainda e ser0 h0!ito meu en5uanto puder 1a-er uso das pernas irvisitar a minha respeit0vel parente pelo menos tr4s ve-es por semana. A

    sua casa 1ica a meia milha nos arredores da cidade onde vivo Temacesso não pela estrada principal da 5ual 1ica perto mas ainda por umcaminho tapetado de relva serpeando por prados verde?antes. Tenho tãopoucas preocupaçCes na vida 5ue um dos meus maiores des,ostos * sa!er5ue muitos destes campos estão destinados a construçCes. +o 5ue 1icamais perto da cidade vi durante muitas semanas tão ,rande 5uantidade decarrinhos de mão 5ue che,o a acreditar 5ue toda a sua super1ície numapro1undidade de de-oito pole,adas pelo menos 1oi levantada nestescarros de uma s roda e transportada para outro local. ;mensas pilhastrian,ulares de pranchas amontoaram2se em diversos pontos deste pradocondenado e o pe5ueno ,rupo de 0rvores 5ue ornamenta o lado oriental ese er,ue num ca!eço pouco elevado aca!a de rece!er a sua sentença demorte anunciada por uma caiadela !ranca no tronco as po!res 0rvoresdevem ser su!stituídas por um ,rupo de chamin*s.Talve- outros se a1li,issem com a minha posição ao pensarem 5ue essesprados pertenciam outrora a meu pai cu?a 1amília ,o-ava de certaconsideração e 5ue 1oram vendidos aos !ocados para remediar asdi1iculdades em 5ue se de!atia tentando dessa 1orma reparara sua a!alada 1ortuna. En5uanto os pro?ectos dos construtores sedesenvolviam com vi,or os ami,os velando cuidadosamente para 5uenenhum dos nossos in1ortnios nos passasse desperce!ido di-iam2memuitas ve-es:2 %ampos assim situados tão perto da cidade renderiam em na!os e!atatas vinte li!ras esterlinas por cada ,eira. E 1oram vendidos paraconstruçãoU Representavam uma mina de oiro e o anti,o propriet0riovendeu2os por uma !a,atela&.Os meus consoladores por*m não conse,uiam provocar lamentos a este

    respeito. E se me 1osse permi2& tido lançar um olhar ao passadoa!andonaria de !oa vontade a minha 1ortuna presente e as minhasesperanças 1uturas aos 5ue compraram o 5ue meu pai vendeu. Lamento todasestas alteraçCes apenas por5ue destroem as minhas recordaçCes e pre1eria2 parece2me2 ver o %errado do %onde 2 em mãos estranhas se elas lhe conservassem oseu aspecto campestre a conservar a sua posse se 1ossem revolvidos paraa,ricultura ou para construçCes. As minhas sensaçCes são as do po!reLo,an:

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    Relva da minha in1Vncia ami,o consolador Teatro das minhas!rincadeiras verde prado Desapareceste so! a relha do arado destruidorO machado arrancou o espinheiro 1lorido Onde o ale,re estudanteprocurava com ardor %ontra o calor do dia um a!ri,o protector

    +o entanto espero 5ue a terrível devastação não se?a consumada durante

    a minha vida. Em!ora o espírito aventureiro da *poca tenha conce!ido opro?ecto#desta empresa tenho !ases para acreditar 5ue as desilusCes so1ridasarre1eceram um pouco o entusiasmo dos especuladores e 5ue o campoar!ori-ado e o atalho 5ue condu- a casa da tia ar,arida se?am poupadosdurante os seus dias e os meus. Estou nisso interessado por5ue cadapasso do caminho depois de ter atravessado o prado encerra recordaçCesda minha in1Vncia. Eis a escada se !em me lem!ro 5ue uma ,arotaatrevida me auHiliou a su!ir censurando a minha 1ra5ue-a para transpora !arreira escarpada 5ue meus irmãos trepavam a correr. Recordo comamar,ura esse instante e convicto da minha in1erioridade e dosentimento pro1undo de inve?a com 5ue via os movimentos 0,eis e os

    mem!ros el0sticos de meus irmãos mais !em constituídos. ;n1eli-menteessas !arcas slidas soço!raram todas no imenso oceano da vida e a 5ueparecia tão pouco di,na de ser lançada ao mar desa1iou as tempestades ealcançou o porto.Eis o la,o onde mano!rando a pe5uena 1lotilha 1eita de ?uncos meuirmão mais velho caiu e 1oi salvo a custo para ir morrer mais tardede!aiHo das ordens de +elson. Eis a moita de aveleiras onde meu irmão8enri5ue 1oi colher avelãs não podendo adivinhar 5ue iria morrer naselva indiana tentando ,anhar rupias.Os arredores deste pe5ueno atalho encerram tanta recordação 5ue 5uandoparo encostado 3 !en,ala 5ue me serve de muleta e olho em volta de mim5uando penso no 5ue 1ui e no 5ue sou ho?e che,o a duvidar da minhaprpria identidade at* ao momento em 5ue me encontro diante da porta1lorida de"Pmadressilva da casa da tia ar,arida casa de 1achada irre,ular cu?as?anelas de rtulas e em estilo ,tico me 1a-em crer 5ue os oper0riosde propsito as construíram di1erentes umas das outras na 1orma notamanho na pedra 5ue as rodeia de um ,osto deliciosamente anti5uado eno lam!el 5ue as ornamenta. Esta casa em tempos o solar do %errado do%onde ainda nos pertence por5ue por certas com!inaçCes de 1amília atia ar,arida conserva a sua posse en5uanto 1or viva. Essa pe5uenapropriedade da 1amília de >oth=ell do %errado do %onde * tudo 5uantoresta da herança paterna. Muando por morte da minha velha parente acasa passar para mãos estranhas o nico representante da 1amília ser0um velho en1ermo vendo sem pesar a morte aproHimar2se a morte 5uedevorou todos os o!?ectos da sua a1eição.

    Muando dei livre curso a estes pensamentos durante al,uns minutosentrei no solar 5ue di,amos de passa,em se compunha apenas de umpavilhão resto da primitiva construção e vi a pessoa so!re 5uem o tempoparecera não in1luir. +o entanto havia tão ,rande di1erença entre a tiaar,arida de ho?e e a tia ar,arida da minha in1Vncia como entre acriança de seis anos e o homem de cin5enta anos 5ue sou O tra?o davelha senhora por*m muito contri!uía para nos 1a-er acreditar 5ue otempo es5uecera a tia ar,arida.

    O vestido castanho ou cor de chocolate com punhos do mesmo tecido por

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    cima dos 5uais caíam outros em renda de alines as luvas ou mitenes deseda preta os ca!elos !rancos puHados para tr0s e a touca de cam!raia!ranca 5ue rodeava a ca!eça veneranda""eram coisas 5ue se não constituíam o tra?o usado em "(P muito menos ode "($ era o tra?o espacial da tia ar,arida eis tudo. Sentar2se ondeh0 trinta anos se sentava com a roca ou o tra!alho de malha ?unto da

    lareira durante o ;nverno ou perto da ?anela no 7erão. +as noites mais5uentes atreve2se a ir at* ao ?ardim não muito lon,e da porta. Aspernas como peças slidas de 5ual5uer mecanismo ainda desempenham amissão para 5ue 1oram construídas com uma actividade 5ue diminui,radualmente mas 5ue não indica ainda a possi!ilidade de pararem porcompleto.A solicitude e o a1ecto 5ue 1i-eram a tia ar,arida escrava volunt0riade uma 5uantidade de crianças t4m a,ora por o!?ecto a sade e o !em2estar de um homem velho e en1ermo o nico parente 5ue lhe resta e anica pessoa 5ue pode achar interesse nas tradiçCes 5ue ela ,uardou comoo avaro 5ue oculta o seu ouro para 5ue nin,u*m possa ,o-02lo depois dasua morte.A minha conversa com a tia ar,arida raramente se re1ere ao presente ou

    ao 1uturo por5ue o passado encerra tudo 5uanto lamentamos e nada maisdese?amos. Muanto ao 5ue deve se,uir2se não temos desse lado esperançasreceios ou preocupaçCes. Apenas a perspectiva do tmulo. Emconse54ncia voltamo2nos para o passado e es5uecemos o estado prec0rioda nossa 1ortuna presente a decad4ncia da nossa 1amília recordando ostempos da sua ri5ue-a e prosperidade.Depois desta li,eira introdução o leitor 1ica conhecendo a tiaar,arida e o so!rinho o !astante para compreender a narrativa 5ue vaise,uir2se."+a semana passada numa tarde de 7erão 5uase no 1im visitei a velhasenhora com 5uem o leitor ?0 travou conhecimento e 1ui rece!ido por elacom o a1ecto e !ondade do costume mas ao mesmo tempo achei2a pensativapropensa ao sil4ncio. Muis sa!er a ra-ão.2 Limparam a velha capela 2 respondeu2me 2 ohn %lei,hud,eons se,undoparece desco!riu 5ue o seu contedo 2 suponho 5ue os restos dos nossosavs 2 . convinha muito !em para adu!ar os campos.Ao ouvir estas palavras estremeci com mais vivacidade do 5ue o 1a-iahavia muitos anos. Sentei2me en5uanto minha tia acrescentava poisandoa mão so!re o meu !raço:2 A capela h0 muitos anos 5ue * considerada como uma depend4ncia meucaro e tili-avam2na como curral. %omo podemos censurar um homem 5ueempre,a o 5ue lhe pertence em seu proveitoN Al*m disso 1alei2lhe e eleprometeu2me muito am3velmente 5ue se encontrassem ossos ou tmulos osrespeitariam e os deiHaria no seu lu,ar. Mue mais poderia dese?arN +aprimeira pedra sepulcral 5ue encontraram estava ,ravado o nome dear,arida >oth=ell "( ordenei 5ue a pusessem de lado pois considero

    o achado como um press0,io de morte. A pedra 5ue durante du-entos anosserviu 35uela de 5uem uso o nome 1oi encontrada a tempo de me prestarde novo o mesmo serviço. 80 muito 5ue tenho tudo em ordem no 5ue sere1er2 "Ja assuntos deste mundo mas 5uem pode a1irmar ter a pa- e o %*uasse,uradosN

    2 /elo 5ue aca!a de di-er tia 2 repli5uei 2 talve- 1osse melhor eupe,ar no chap*u e retirar2me. /or certo o 1aria se não adivinhasse 5uena sua devoção eHiste tam!*m um pouco de con1usão. /ensar na morte se?a

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    5uando 1or * um dever mas supX2la prHima s por ter encontrado umapedra sepulcral com o seu nome * uma superstição. E a tia cu?oespírito e raciocínio 1oram por muito tempo ,uias de uma 1amília caídaem decad4ncia * a ltima pessoa a 5uem eu suporia su?eita a semelhante1ra5ue-a.2 +ão mereceria as tuas suspeitas so!rinho se 1al0ssemos de 5ual5ueroutro acidente da vida humana 5ue se relacionasse com o presente ou com

    o 1uturo. as no 5ue se re1ere ao passado acuso2me de alimentar umasuperstição da 5ual não dese?o li!ertar2me. um sentimento 5ue me isoladeste s*culo e me li,a 35ueles a 5uem em !reve me vou reunir. E mesmoho?e 5uando estas id*ias me apontam o tmulo entrea!erto e me convidama contempl02lo não ,ostaria de as varrer do espírito. as essas id*iass t4m imp*rio na minha ima,inação e não in1luem na ra-ão nem naconduta.2 +a verdade minha !oa tia se 5ual5uer outra pessoa me 1i-essedeclaração semelhante acus02la2ia de ser tão caprichosa como o ministro5ue sem procurar de1ender o seu teHto errado pre1eriu apenas porh0!ito o velho mumpsimus ao moderno sumpsimus.2 7ou eHplicar2te a minha inconse5u4ncia neste ponto comparando2a comoutra 2 respondeu a minha

    "Ktia 2 /ertenço como sa!es 35uela classe de pessoas de outro tempo a5uem chamavam ?aco!itas. as sou ?aco!ita apenas por sentimento etradição por5ue nunca s!dita mais leal ?untou as suas preces 3s 5uetodos os dias se er,uem ao c*u pela sade de or,e ;7. Mue Deus lheconceda lon,a vidaU as tenho a certe-a de 5ue o nosso !om so!erano nãose sentir0 o1endido por5ue uma velha dama enterrada na sua poltronanum dia escuro como o de ho?e pensa nos homens cora?osos 5ueconsideraram ser seu dever pe,ar em armas contra o avX numa causa 5uesupunham ser a do seu príncipe le,ítimo e da p0tria: &%om!ateram at* 5ue2 as mãos lhes 1icaram coladas aos punhos das espadas e em!ora &a sortelhes 1osse adversa não perderam a cora,em&.&+este momento em 5ue tenho a ca!eça cheia de plaids de ,aitas de1oles de espadas não peças 3 minha ra-ão para admitir a5uilo 5uereceio2o muito ela não poder0 ne,ar 5uer di-er 5ue o !em p!licoeHi,e a a!olição de tudo 5uanto povoa os meus sonhos. +ão posso *verdade deiHar de reconhecer a ?ustiça dos teus raciocínios masconvencida contra minha vontade pouco ,anhaste com as tuasdemonstraçCes. Seria como se lesses a um homem apaiHonado o cat0lo,o dasimper1eiçCes da sua amada. Depois de o teres o!ri,ado a escutar aenumeração o!terias como nica resposta 5ue apesar de tudo a ama cadave- mais.Estava satis1eito por ter desviado o curso melanclico dos pensamentosda tia ar,arida e respondi2lhe no mesmo tom:2 +ão posso deiHar de pensar 5ue o nosso !om"rei est0 certo da leal a1eição de rs. >oth=ell pois al*m do direito

    5ue resulta do &Acto da Sucessão& tem ainda a seu 1avor o direito denascimento dos Stuarts.

    2 /ode ser 5ue a minha dedicação se !aseie na reunião dos direitos a 5uete re1eres e se?a mais 1orte por isso mesmo. as por minha honra seriatão sincera se os direitos do rei se 1undassem apenas no voto do povocomo declarou na revolução. +ão sou dessas pessoas de ?ure divino.2 E contudo * ?aco!ita.2 Sim sou ?aco!ita ou antes dou2te licença para me considerares dessepartido chamado o partido dos 1ant0sticos no tempo da rainha Ana

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    por5ue se deiHavam ,uiar tanto pelas suas impressCes como pelos seusprincípios. +o 1im de contas * estranho 5ue não 5ueiras conceder a umavelha o direito de ser tão pouco conse5ente nos seus sentimentospolíticos como os homens o são em ,eral nos diversos incidentes davida. +ão poder0s citar2me um cu?as paiHCes e preconceitos não oa1astem constantemente do caminho indicado pela ra-ão.2 Tudo isso * verdade mas a tia * uma dessas pessoas 5ue se desviam por

    pra-er e a 5uem devemos o!ri,ar a retomar o !om caminho.2 /oupa2me por 1avor. Recordas2me a canção ,a*lica 5ue vou repetir2teem!ora a minha pronncia se?a de1eituosa: 8alil mohalil na do=s

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    muitas pessoas sensatas não ,osto de ter um espelho ,rande no 5uarto5uando este tem pouca lu- ou a claridade pro?ectada por uma vela pareceperder2se nas pro1undidades do espelho em ve- de se espalhar peloaposento. O espaço ocupado pelas trevas constitui vasto campo para aima,inação criar 5uimeras chama outras 1eiçCes e não as nossas ouentão como nas apariçCes da velha no dia de Todos os Santos nos mostraum rosto desconhecido espreitando por cima do nosso om!ro. En1im

    5uando estou mal disposta peço 3 minha"(criada de 5uarto para puHar o cortinado verde para cima do espelho domeu toucador antes de entrar no 5uarto para 5ue se houver al,umaaparição se?a ela a rece!er o cho5ue. as para te di-er a verdadeessa antipatia de olhar para o espelho em determinadas alturas e emcertos lu,ares resulta suponho de uma histria 5ue conheço portradição de minha av 5ue desempenhou papel importante na cena 5ue voucontar2te."#

    O ES/EL8O DA T;A AR)AR;DA2 A,radam2te so!rinho descriçCes da sociedade de outrora. )ostaria de

    te descrever sir ilipe orester o mais completo li!ertino 5ue vivia naEsccia nos 1ins do s*culo passado. +ão o conheci mas as histrias deminha mãe estavam cheias do seu espírito da sua ,alantaria e da suadevassidão. Este !rilhante cavaleiro viveu con1orme ?0 te disse nos1ins do s*culo de-assete e começo do s*culo de-oito. Era como o sir%harles Eas9 e o Lovelace do seu tempo e da sua terra c*le!re pela5uantidade de duelos 5ue tivera e pelo nmero das intri,as amorosas asua superioridade ad5uirida numa sociedade onde a moda imperava eraa!soluta e 5uando re1lectimos numa ou duas das suas aventuras as 5uaisse as leis 1ossem 1eitas para todas as classes o levariam 3 1orca aindul,4ncia de 5ue ,o-ava isso serve para provar 5ue h0 mais dec4nciaou mesmo mais virtude nos tempos presentes do 5ue outrora e 5ue as !oasmaneiras eram a esse tempo mais di1íceis de con5uistar do 5uepresentemente e 5ue em conse54ncia a5uele 5ue as possuía o!tinhaindul,4ncias plen0rias e previl*,ios para o seu procedimento. +enhum,alanteador da5uela *poca o!tinha em proporção tão plenas indul,4nciase previl*,ios para a sua conduta. +in,u*m na5uela *poca 1oi o heri deaventura mais terrível do 5ue a da ?ovem /e,,9 )rindstone a 1ilha domoleiro em Sille2ills.P

    /oderia ter dado 5ue 1a-er ao lorde2advo,ado mas não pre?udicou mais areputação de ilipe do 5ue o ,rani-o pre?udica a pedra da lareira.%ontinuou a ser !em rece!ido na sociedade e ?antou em casa do du5uedYAr,9le no dia em 5ue a po!re rapari,a morreu. +ada disto por*m serelaciona com a minha histria.&A,ora * preciso 5ue te di,a al,umas palavras so!re os nossos parentes e

    aliados. /rometi não ser proliHa mas * imprescindível para suaautenticidade sa!eres 5ue sir ilipe com a sua !ele-a a sua distinçãoe modos ele,antes casou com a mais nova das iss alconer de Zin,Ys%opland. A irmã mais velha casara muito antes com meu avX sir )eo11re9tra-endo para a nossa 1amília consider0vel 1ortuna. iss emima ou missemmie alconer como ha!itualmente lhe chamavam possuía cerca de de-mil li!ras esterlinas dote muito para considerar.&As duas irmãs em solteiras não se pareciam nada em!ora am!astivessem os seus admiradores. Lad9 >oth=ell tinha nas veias o san,ue dovelho Zin,Ys %opland. Destemida sem che,ar a ser audaciosa am!iciosa

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    dese?ando acima de tudo a elevação da sua casa e da 1amília. Se,undoopinião ,eral representava como um a,uilhão para meu avX pessoaindolente 5ue 2 salvo se 1or uma calnia 2 por conselho da mulher semeteu em intri,as políticas 5ue seria mais sensato evitar. +o entantoera senhora de slidos princípios raciocínio se,uro como o provam ascartas 5ue ainda ho?e conservo encerradas na minha secret0ria."

    &emmie alconer era a antítese da irmã o seu espírito não ultrapassavaos limites vul,ares se che,ava a atin,i2los. A sua !ele-a en5uantoeHistiu consistia apenas na delicade-a da cutis e na re,ularidade das1eiçCes sem 5ual5uer eHpressão. esmo estes encantos se desvaneceramcom os des,ostos provocados por um casamento in1eli-. AmavaapaiHonadamente o marido e este tratava2a com indi1erença cort4s 5uepara uma mulher de coração terno e mente 1raca era mais doloroso eo1ensivo do 5ue se lhe in1li,isse maus tratos. Sir ilipe era umvoluptuoso 5uer di-er um aut4ntico e,oísta cu?o car0cter einclinaçCes se assemelhavam 3 espada 5ue usava 1ina !em polida!rilhante mas in1leHível e sem piedade. %omo cumpria cuidadosamentepara com sua mulher todas as re,ras da delicade-a conse,uia priv02laat* da compaiHão da sociedade. E con5uanto ela se?a intil para as

    pessoas 5ue conse,uem alcanç02la para um espírito como o de lad9orester era duro não poder o!t42la.&As intri,uinhas da sociedade colocavam o marido culpado muito acima daesposa ultra?ada. Al,umas pessoas classi1icavam lad9 orester como umapo!re criatura sem car0cter e a1irmavam 5ue se ela possuísse a ener,iada irmã teria ?0 metido na ordem todos os sir orester deste mundo1ossem eles piores do 5ue o temível alcon!rid,e. as a maior parte dosami,os dos dois esposos 1a-ia alarde da sua sinceridade e reconhecia asculpas dos dois con5uanto na verdade eHistisse apenas um opressor euma oprimida. Estes ami,os sinceros 1alavam desta maneira:2 com certe-a nin,u*m pensa em ?usti1icar sir ilipe

    orester mas emmie alconer ?0 o conhecia !em e podia calcular o 5ue aesperava. Muem a mandou meter2se 3 cara de sir ilipeN Ele nunca teriapensado em casar se ela não tivesse dado os primeiros passos eHi!indoas suas po!res de- mil li!ras esterlinas. Salvo se ele tivesse precisãode dinheiro comprometeu a 1elicidade de toda a sua vida. %onheço muitasmulheres 5ue melhor teriam convido a sir ilipe mas em resumo se 5uispor 1orça casar com ele não seria melhor tentar tornar a casa a,rad0velao marido reunir mais ve-es os ami,os não o atordoar com os ,ritos dascrianças dar um aspecto ele,ante e de !om2,osto a tudo 5uanto o rodeiaNEstou convencido de 5ue sir ilipe seria melhor marido se sua mulhertivesse sa!ido cativ02lo&.&Os 5ue construíam este !rilhante edi1ício da 1elicidade dom*sticaes5ueciam 5ue lhe 1altava a pedra an,ular. Mue para rece!er os ami,os eapresentar !oa mesa as despesas do !an5uete deveriam ser 1eitas por sir

    ilipe cu?a 1ortuna muito a!alada não podia suportar semelhantes,astos tanto mais 5ue a despendia com os seus pra-eres particulares./ortanto a despeito de tudo 5uanto di-iam os caridosos ami,os sirilipe era ?ovial e a10vel 1ora de casa e deiHava a esposa desolada e olar solit0rio.&/or 1im com a 1ortuna muito a!alada 1ati,ado com os curtos instantes5ue passava na sua triste casa sir ilipe resolveu dar uma volta pelo%ontinente na 5ualidade de volunt0rio. +essa *poca era vul,ar entreos homens de nascimento adoptar esta resolução e talve- o cavaleiropensasse 5ue o car0cter militar

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    Jsem o tornar pedante re1orçaria os seus meios e lhe conservaria aelevada situação 5ue o!tivera na sociedade. A resolução de sir ilipecausou a sua mulher todas as an,stias do terror o ele,ante !aronete5uase se comoveu. %ontra seu h0!ito deu2se ao incXmodo de acalmar estesreceios e provocou em sua mulher l0,rimas 5ue não eram s de dor. Lad9>oth=ell pediu como um 1avor o consentimento de sir ilipe para

    hospedar em sua casa a esposa e os 1ilhos en5uanto durasse a aus4nciado che1e da 1amília. Radiante sir ilipe aceitou a proposta 5ue lhepoupava despesas impunha sil4ncio 35ueles 5ue o acusavam de a!andonarsua mulher e os 1ilhos e ao mesmo tempo satis1a-ia lad9 >oth=ell por5uem sentia involunt0rio respeito pois ela sempre lhe 1alara com1ran5ue-a al,umas ve-es com severidade sem se intimidar com as suas-om!arias ou com o prestí,io da sua reputação.&Bm ou dois dias antes da partida de sir ilipe lad9 >oth=ell tomou ali!erdade de lhe 1a-er em presença da mulher uma per,unta positiva 5ueesta dese?ara muitas ve-es diri,ir2lhe sem ter cora,em para isso.2 /ode ter a !ondade de nos di-er sir ilipe para onde vai 5uandoche,ar ao %ontinenteN2 7ou por mar de Leith a 8elvoet.

    2 Est0 muito !em 2 replicou secamente lad9 >oth=ell 2 as presumo 5uenão tem intenção de permanecer muito tempo em 8elvoet e dese?o sa!erpara onde vai 5uando a!andonar essa cidade.2 Lad9 >oth=ell 1a-2me uma per,unta 5ue ainda não 1ormulei a mimprprio. A minha resposta dependeK

    dos acasos da ,uerra. %omo * natural diri,ir2me2ei ao 5uartel ,eneraleste?a onde estiver para apresentar as minhas cartas de recomendação.Aprenderei ali tudo 5uanto um po!re amador como eu deve sa!er da no!repro1issão das armas e s então poderei tomar parte nessa esp*cie decom!ates 5ue os ?ornais relatam.2 Espero sir ilipe 5ue não se es5ueça de 5ue * marido e pai e em!oratenha achado conveniente satis1a-er esse capricho militar não a1ronteperi,os desnecess0rios para 5uem não * soldado de pro1issão.2 Lad9 >oth=ell honra2me mani1estando interesse pela minha se,urança.as para acalmar essa lison?eira in5uietação pedirei para se recordarde 5ue não posso eHpor a vida do vener0vel pai de 1amília 5ue recomenda3 minha protecção sem arriscar a de um eHcelente rapa- chamado ilipeorester com 5uem estou li,ado h0 mais de trinta anos sem o menordese?o de me separar dele.2 Sir ilipe * o melhor ?ui- do 5ue lhe di- respeito. +ão tenho odireito de lhe dar conselhos. O senhor não * meu marido.2 Deus me livreU... 2 eHclamou sir ilipe com precipitação. +o mesmoinstante por*m apressou2se a acrescentar 2 Deus me livre de privar omeu ami,o sir )oe11re9 de um tesouro tão valioso.2 as o senhor * marido de minha irmã 2 replicou lad9 >oth=ell 2 e

    suponho 5ue não i,nora a triste-a 5ue a esma,a.2 Se o ouvir 1alar nela desde manhã at* 3 noite 1osse o su1iciente parame convencer com e1eito não devo i,nor02la.2 +ão pretendo travar um duelo de ditos de espírito consi,o sir ilipemas deve sa!er 5ue essa triste-a * causada pelo temor dos peri,os 5uevai a1rontar.2 +esse caso surpreende2me 5ue lad9 >oth=ell se preocupe tanto com umassunto tão insi,ni1icante.2 O interesse 5ue dedico a minha irmã ?usti1ica o meu dese?o de conhecer

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    os intuitos de sir ilipe orester cu?o destino sem isso me seriaindi1erente. ;n1eli-mente preocupo2me tam!*m por causa da se,urança demeu irmão.2 Re1ere2se ao ma?or alconer seu irmão pelo lado de sua mãeN Mue temele a ver com a nossa a,rad0vel conversaN2 alou com ele sir ilipeN2 +aturalmente. Somos aliados e como tal encontramo2nos muitas ve-es.

    2 Est0 a so1ismar a minha per,unta. /or 1alar 5uero eu di-er 5ue5uestionaram por causa do seu comportamento com sua mulher.2 Se ?ul,a o ma?or alconer tão tolo 5ue me d4 conselhos so!re a minhavida dom*stica lad9 >oth=ell pode nesse caso admitir 5ue lhemani1estei o meu descontentamento e lhe pedi para ,uardar os seusconselhos at* 5ue eu me di,nasse pedir2lhos.2 E * nessa disposição 5ue pensa reunir2se ao eH*rcito onde meu irmãopresta serviçoN2 +in,u*m conhece melhor os caminhos da honra do 5ue o ma?or alconer eum po!re candidato 3 ,lria como eu não pode escolher melhor ,uia.2 Essa ironia 1ria e insensível * a nica consolação$

    5ue encontra para os receios por ns conce!idos so!re uma 5uestão 5uepode tra-er terríveis conse54nciasU Santo DeusU De 5ue mat*ria * 1eitoo coração dos homens para poderem assim re,o-i?ar2se com os nossosso1rimentosU&Sir ilipe orester 1icou impressionado e renunciou ao tom de -om!aria5ue at* então empre,ara.2 Muerida lad9 >oth=ell 2 disse pe,ando na mão 5ue a cunhada lhea!andonou com repu,nVncia am!os tivemos culpas. A senhora * demasiados*ria e eu não o sou !astante. A -an,a 5ue tive com o ma?or alconer nãomerece importVncia se entre ns eHistisse 5ual5uer coisa 5ue devesseterminar em vias de 1acto como di-em em rança nenhum de ns era homempara adiar o encontro. /ermita2me 5ue lhe di,a 5ue se a senhora ou lad9alconer mani1estassem in5uietaçCes a esse respeito seria o meio maiscerto de provocar uma cat0stro1e 5ue provavelmente nunca se dar0.%onheço o seu !om2senso lad9 >oth=ell e por certo compreende se lhedisser 5ue os meus ne,cios eHi,em uma aus4ncia de al,uns meses. emimapor*m não conse,uiu compreender e esma,ava2me com uma s*rie deper,untas. E 5uando che,asse ao 1im sem o!ter resultado voltava aoprincípio. A,ora lad9 >oth=ell tenha a !ondade de di-er 5ue eu tenhora-ão. Sua irmã tem de concordar * uma da5uelas pessoas 5ue o!edecemmais 3 autoridade do 5ue aos ar,umentos. %onceda2me um pouco decon1iança e ver0 5ue serei di,no dela.&Lad9 >oth=ell a!anou a ca!eça como pessoa pouco convencida.2 di1ícil 2 replicou 2 conceder a nossa con1iança a al,u*m 5ue tantasve-es nos desiludiuU En1im 1arei o possível por tran5ili-ar emima.Muanto 3s suas promessas torno2o respons0vel por elas perante Deus e

    perante os homens.2 +ão suponha 5ue dese?o en,an02la. A 1orma mais simples de secorresponderem comi,o ser0 diri,irem as cartas para a posta restante de8elvoetslu9s onde eu darei ordem para mas enviarem para o local onde meencontrar. Muanto a alconer o nosso primeiro encontro ter0 lu,ardiante de uma ,arra1a de >or,onha. /ortanto pode estar descansada a seurespeito.&Lad9 >oth=ell não 1icou muito tran5ila. /or*m no íntimo estava certade 5ue a irmã estra,ara a prpria vida tomando as coisas muito a s*rioe demonstrando diante de estranhos pelos modos e at* por palavras

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    5uanto a via,em do marido lhe desa,radava 1acto 5ue che,ava sempre aosouvidos de sir ilipe e eHcitava o seu ressentimento. +o entanto paraestas dissençCes dom*sticas não havia rem*dio e elas duraram at* ao diada separação.&A!orrece2me não poder di-er com precisão o ano em 5ue sir ilipe partiupara rança mas 1oi numa altura em 5ue a ,uerra se acendia com mais1uror. Entre os 1ranceses e os aliados travaram2se al,umas escaramuças

    pouco decisivas mas san,rentas. De todos os pro,ressos modernos um dosmaiores * a rapide- e a eHactidão com 5ue as notícias dos acontecimentosdesenrolados num país che,am 35uele 5ue se interessa por essesacontecimentos. Durante as campanhas de(

    arl!orou,h os so1rimentos dos 5ue tinham parentes ou ami,os noeH*rcito eram aumentados pela incerte-a em 5ue estavam mer,ulhadosdurante muitas semanas depois de ter conhecimento de 5ue san,rentas!atalhas se haviam travado e nas 5uais tinham com!atido a5ueles cu?onome lhes 1a-iam palpitar o coração. Entre as pessoas a 5uem maiscruelmente esta incerte-a atormentava contava2se... ia 5uase a di-er amulher a!andonada de sir ilipe orester. emima rece!era uma nica

    carta comunicando a che,ada do marido ao %ontinente. Depois mais nada.Bma notícia nos ?ornais 1e- re1er4ncia ao volunt0rio sir ilipeorester di-endo 5ue 1ora enviado para um reconhecimento peri,osomissão 5ue cumprira não s com cora,em mas com ha!ilidade einteli,4ncia. /or isso rece!era 2 acrescentava a notícia 2 osa,radecimentos do comandante. A satis1ação causada pela distinção 5ue omarido alcançara levou 3s 1aces p0lidas de lad9 orester um pouco decor palide- 5ue voltou a co!ri2las 5uando pensou nos peri,os 5ue haviacorrido. Depois disso as duas irmãs nada mais sou!eram nem de sirilipe nem do irmão o ma?or alconer.&A posição de lad9 orester era id4ntica 3 de centenas de mulheres masum espírito 1raco torna2se naturalmente irrit0vel e esta incerte-a 5ueumas suportavam com indi1erença outras com 1ilos1ica resi,nação eoutras ainda com a disposição de ver tudo pelo melhor era intoler0velpara lad9 orester pessoa sensível honesta pronta a perder a cora,eme desprovida de toda a 1orça de espírito.#;;&+ão rece!endo notícias de sir ilipe nem directamente nem por 1ormaindirecta a in1eli- emima aca!ou por encontrar consolação nane,li,4ncia 5ue tanto a 1i-era so1rer.2 ilipe * tão despreocupado tão levianoU 2 di-ia 3 irmã mais de cemve-es ao dia 2 +unca escreve 5uando não tem 5ual5uer coisa de novo acontar. h0!ito seu. Se al,o de eHtraordin0rio tivesse acontecidoin1ormar2nos2ia.&Lad9 >oth=ell escutava2a e não tentava consol02la. Talve- pensasse 5ueas piores notícias vindas da landres teriam o seu lado !om e 5ue a

    viva orester se o destino 5uisesse 5ue ela usasse esse triste títulopoderia destinar uma 1elicidade desconhecida 3 esposa do mais !rilhantee distinto cavaleiro da Esccia.&Esta convicção tornou2se mais 1orte 5uando por in1ormaçCes colhidas no5uartel ,eneral se sou!e 5ue sir ilipe ?0 não se encontrava noeH*rcito 1osse por ter sido 1eito prisioneiro ou morto em 5ual5uer dasescaramuças das 5ue a todo o instante se travavam e nas 5uais ele,ostava de se tornar notado ou por5ue por 5ual5uer ra-ão desconhecidaou por capricho deiHasse voluntariamente o serviço sem 5ue 5ual5uerdos seus compatriotas ou ami,os no acampamento pudesse 1ormular

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    con?ecturas. Entretanto na Esccia os credores de sir ilipe tomavam2se insistentes apossaram2se dos seus !ens e ameaçaram2no de o mandarJPprender se voltasse 3 p0tria. Estas novas des,raças a,ravaram oressentimento de lad9 >oth=ell contra o marido da irmã ao passo 5ueesta em tudo a5uilo não via mais do 5ue um motivo para deplorar aaus4ncia da5uele 5ue na sua ima,inação continuava a ver como o vira na

    altura do casamento isto * ele,ante am0vel e ,alanteador.

    &+essa *poca che,ou a Edim!ur,o um homem cu?o aspecto era tão estranhocomo as suas pretensCes. %hamavam2lhe o doutor de /0dua por terestudado na 1amosa universidade da5uela cidade. Di-iam2no sa!edor deeHtraordin0rias receitas com as 5uais a1irmavam 1i-era curasespantosas. as em!ora os m*dicos de Edim!ur,o lhe chamassemcurandeiro muitas pessoas entre as 5uais se encontravam al,umaspertencentes 3 ;,re?a não admitiamY a realidade das curas e a e1ic0ciados rem*dios ale,avam 5ue o doutor Damiotti empre,ava a 1eitiçaria emeios ile,ais para con1irmar o 4Hito das suas receitas. /roi!iram mesmodo alto dos plpitos 5ue recorressem a ele 5ue procurassem a sade pormeio de ídolos e con1iassem num socorro 5ue vinha do E,ipto. /or*m a

    protecção 5ue o doutor de /0dua rece!eu de al,uns ami,os poderosospermitiu2lhe desa1iar estes ata5ues e alcançar na prpria cidade deEdim!ur,o c*le!re pelo seu horror aos ma,os e 1eiticeiros a peri,osareputação de adivinho do 1uturo. Di-ia2se 5ue mediante certa 5uantia5ue como seria de calcular devia ser consider0vel o doutor >aptistaDamiotti conse,uia sa!er o destino dos ausentes e at* mostrar 3s pessoas5ue o consultavam a 1orma corporal dos ami,os e o 5ue estavam 1a-endo.J"nesse momento. Esta notícia che,ou aos ouvidos de lad9 orester 5ueatin,ira os ltimos limites da in5uietação e che,ara ao ponto em 5ue umin1eli- lança mão de todos os eHpedientes para o!ter uma certe-a.&>randa e tímida em 5ual5uer circunstVncia da vida no estado deespírito em 5ue se encontrava lad9 orester tornou2se ousada eo!stinada. oi com alarmada surpresa 5ue lad9 >oth=ell ouviu emimadeclarar 5ue estava disposta a 1a-er uma visita ao doutor de /0dua parao consultar so!re o destino do marido.&Em vão lad9 >oth=ell tentou demonstrar2lhe 5ue as pretensCes doestran,eiro s podiam ter por !ase a impostura.2 +ão me interessa 2 replicou a esposa a!andonada2o ridículo a 5ue meeHponho. Se houver uma pro!a!ilidade so!re cem de sa!er o 5ue 1oi 1eitode meu marido não a trocaria por tudo 5uanto de melhor pudessemo1erecer2me.&Lad9 >oth=ell lem!rou2lhe a ile,alidade de recorrer a um conhecimentoad5uirido por meio de uma arte proi!ida.2 inha 5uerida irmã 2 replicou emima 2 nin,u*m conse,ue impedir 5ue ose5uioso mate a sede numa nascente envenenada. Muem vive numa incerte-acomo a minha tem de sa!er mesmo 5ue o poder 5ue lhe o1erece a lu- se?a

    proi!ido ou dia!lico. ;rei so-inha e ho?e mesmo 5uero conhecer a minhasorte. Muando o Sol nascer amanhã encontrar2me20 se não mais 1eli-pelo menos resi,nada.2 Se est0s decidida a dar semelhante passo 2 replicouJlad9 >oth=ell 2 não ir0s so-inha irmã. Se esse homem * um impostor atua emoção pode dominar2te a tal ponto 5ue não te deiHe desco!rir: comote en,ana pelo contr0rio se eHistir na sua arte um 1undo de verdade o5ue eu não acredito não estar0s s para rece!er comunicaçCes denature-a tão estranha. +o entanto peço2te para re1lectires ainda al,um

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    tempo nesse pro?ecto e renunciares a o!ter uma certe-a 5ue nãoconse,uir0s o!ter sem te tornares culpada e talve- com peri,o.&Lad9 orester lançou2se nos !raços da irmã e apertando2a contra ocoração a,radeceu2lhe calorosamente por lhe ter proposto a suacompanhia en5uanto ela recusava o!stinadamente se,uir o conselho1raternal 5ue acompanhara o o1erecimento.

    &Muando a noite caiu hora a 5ue o doutor de /0dua costumava rece!er osseus clientes as duas senhoras a!andonaram a sua casa de %anon,ate deEdim!ur,o tra?ando como pessoas de classe in1erior com o plaiddissimulando o rosto con1orme o usavam as mulheres. +a5uele tempoaristocr0tico a cate,oria de uma pessoa de seHo 1eminino era indicadapela 1orma como estava disposto o seu plaid e tam!*m pela 1inura dotecido. ora lad9 >oth=ell 5uem su,erira esta esp*cie de dis1arce emparte para evitar serem conhecidas 5uando se diri,issem a casa doadivinho e tam!*m para eHperimentar a penetração desse homem aparecendodiante dele so! uma 1alsa apar4ncia.&O criado de lad9 orester homem de uma 1idelidade a toda a provalevara ao doutor da parte da ama importante donativo para con5uistar assuas !oas

    JJ,raças. ;n1ormara2o de 5ue a mulher de um soldado dese?ava conhecer asorte do marido assunto so!re o 5ual se,undo todas as pro!a!ilidadeso s0!io doutor era muitas ve-es consultado.&At* ao ltimo momento isto * 5uando o rel,io !ateu oito horas lad9>oth=ell o!servou a irmã esperando 5ue renunciasse ao temer0riopro?ecto mas como a timide- e at* a 1ra5ue-a são susceptíveis emcertos momentos de desí,nios 1irmes e resolutos viu lad9 oresterina!al0vel na sua determinação 5uando che,ou a hora da partida./ro1undamente descontente mas decidida a não a a!andonar em semelhantecircunstVncia lad9 >oth=ell acompanhou Lad9 orester pelas ruasescuras. O criado caminhava adiante e servia2lhes de ,uia. /or 1imparou num p0tio estreito e !ateu numa porta em 1orma de arco 5ue pareciapertencer a um pal0cio anti,o esta a!riu2se sem 5ue se visse oporteiro e o criado a1astando2se para o lado pediu 3s duas senhoraspara entrarem. al o 1i-eram a porta 1echou2se atr0s delas e separou2asdo seu ,uia. As duas irmãs encontraram2se em pe5ueno vestí!uloiluminado por uma lVmpada 5ue derramava uma claridade l,u!re nãotendo lo,o 5ue a porta se 1echou comunicação com o ar ou com aclaridade eHterior. +o ponto mais a1astado do vestí!ulo a!ria2se a porta5ue dava para um aposento.2 A,ora não podemos hesitar emima 2 o!servou lad9 >oth=ell.&E diri,indo2se para essa porta entraram e viram o doutor sentadodiante de uma mesa rodeado deJKlivros de mapas ,eo,r01icos de instrumentos de 1ísica e de outrasm05uinas de 1orma e apar4ncia estranhas.

    &A pessoa do ;taliano nada tinha de particular. Era moreno de 1eiçCesacentuadas como todos os homens da sua nacionalidade e devia ter pertode cin5enta anos. Tra?ava de preto como todos os m*dicos nessa *poca.O tra?o era rico mas simples. )randes velas ardendo em candela!ros deprata iluminavam o aposento ra-oavelmente mo!ilado. Levantou2se 5uandoas senhoras entraram e a despeito do tra?o 5ue indicava !aiHonascimento rece!eu2as com todas as marcas de respeito eHi,ida pela suaposição e 5ue são sempre prestadas pelos estranhos 3s pessoas a 5uem sãodevidas&Lad9 >oth=ell tentou conservar o inc,nito 5ue adoptara e como o m*dico

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    as condu-isse para o lu,ar de honra tentou recusar semelhantedelicade-a.2 Somos umas po!res mulheres 2 declarou 2 e s a in1elicidade de minhairmã pXde decidir2nos a vir consult02lo.

    &O doutor sorriu e interrompendo Lad9 >oth=ell disse2lhe:2 inha senhora conheço a in1elicidade de sua irmã. Sei tam!*m 5ue sou

    honrado com a visita de duas damas de alta cate,oria lad9 >oth=ell elad9 orester. Se não pudesse reconhec42las a despeito do tra?o indicar5ue pertencem a classe in1erior não haveria muitas pro!a!ilidades de5ue 1osse capa- de lhes dar as in1ormaçCes 5ue v4m procurar.2 Admito 5ue... 2 ia a di-er lad9 >oth=ell.2 /erdoe2me a ousadia de a interromper 2 atalhouJo ;taliano 2 7ossa Senhoria ia a1irmar 5ue admitia tivesse eu sa!ido oseu nome por interm*dio do criado. in?usta para a 1idelidade de umvelho servidor e para o talento deste vosso humilde servo >aptistaDamiotti.2 +ão era minha intenção ser in?usta para um ou para outro 2 declaroulad9 >oth=ell com toda a calma em!ora tivesse 1icado admirada 2 as a

    posição em 5ue me encontro * a!solutamente nova para mim. Se sa!e 5uemsomos deve sa!er tam!*m o 5ue nos tra- a5ui.2 O dese?o de conhecer a sorte de um dos mais distintos cavaleiros daEsccia 5ue se encontra ou ?0 se encontrou no %ontinente 2 respondeu oadivinho 2 %hama2se ilipe orester cavaleiro 5ue tem a honra de sermarido desta senhora e 2 perdoe2me 7ossa Senhoria25ue tem a in1elicidadede não sa!er apreciar no seu ?usto valor tão preciosa vanta,em.&Lad9 orester suspirou pro1undamente en5uanto lad9 >oth=ellprosse,uia:2 Se conhece as nossas intençCes s me resta 1a-er uma per,unta. Tem opoder de acalmar a in5uietação de minha irmãN2 Tenho sim 2 madame. /or*m antes de mais nada devo 1a-er2lhes umaper,unta indespens0veL Terão a cora,em de contemplar com os vossosprprios olhos o 5ue 1a- neste momento o cavaleiro ilipe oresterN Oucontentam2se com as minhas in1ormaçCesN2 S minha irmã pode responder a essa per,unta2 declarou lad9 >oth=ell.2 Muero ver com meus prprios olhos a5uilo 5ueJ$puder mostrar2me 2 a1irmou Lad9 orester com a mesma temeridade 5ueestimulara todos os seus actos desde 5ue tomara a resolução de irconsultar o adivinho.2 /ode haver peri,o.2 Se o ouro pode compensar... 2 começou lad9 orester pe,ando na !olsa.2 +ão 1aço estas coisas por amor ao dinheiro2 respondeu o ;taliano 2 +ão me atrevo a di-er a minha arte nestascircunstVncias. Se aceito o ouro dos ricos * para o dar aos po!res. +ão

    eHi?o mais do 5ue a soma rece!ida das mãos do vosso criado. )uarde asua !olsa madame um adepto desta doutrina não precisa de ouro.&Lad9 >oth=ell pensou 5ue a recusa não era mais do 5ue uma ha!ilidadeimpírica para lhe o1erecerem uma 5uantia maior e dese?ando 5ue tudoaca!asse o mais depressa possível 1e- a sua o1erta tam!*m a1irmando5ue o 1a-ia para alimentar o Vm!ito das suas o!ras de caridade.

    2 Lad9 >oth=ell pode alar,ar o seu 2 respondeu o doutor de /0dua2não sdando esmolas pois sei 5ue d0 !astantes mas não 1a-endo maus ?uí-os docar0cter dos outros. E 5ue 1aça a honra a >aptista Damiotti de o

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    considerar honesto at* desco!rir ser ele um impostor. +ão 1i5uesurpreendida madame se respondo ao seu pensamento mais do 5ue 3s suaspalavras e di,a2me mais uma ve- se est0 preparada para contemplar o5uadro 5ue vou mostrar2lhes.2 %on1esso2lhe 5ue as suas palavras me inspiramJcerto receio 2 respondeu Lad9 >oth=ell 2 as tudo 5uanto minha irmã vir

    v42lo2ei eu tam!*m.2 S eHiste peri,o se a cora,em lhes 1altar. O 5uadro não dura mais do5ue sete minutos se interromperem a visão pro1erindo uma s palavranão s o encantamento ser0 destruído mas os espectadores poderão correrperi,o. as se conse,uirem manter2se no mais pro1undo sil4ncio durantesete minutos a curiosidade de am!as ser0 satis1eita sem 5ue daí resulteo menor risco. Dou2lhes a minha palavra de honra.&Lad9 >oth=ell pensou intimamente 5ue a ,arantia não era das melhoresmas lo,o a1astou esse pensamento como se receasse 5ue o adivinho cu?osl0!ios se contraíam num sorriso irXnico pudesse desco!rir o 5ue lhepassava pelo c*re!ro. Se,uiu2se um momento de sil4ncio at* 5ue Lad9orester ad5uiriu cora,em para ,arantir ao m*dico 2 era este o título5ue ele dava a si mesmo 2 5ue contemplaria em sil4ncio e com 1irme-a o

    5uadro 5ue lhe apresentasse.&Então o ;taliano 1e-2lhes pro1unda rever4ncia di-endo 5ue ia preparartudo para satis1a-er2lhe os dese?os e a!andonou a sala.&As duas irmãs de mãos dadas como se esperassem con?urar assim operi,o 5ue pudesse ameaç02las sentaram2se numa cadeira muito ?untasuma da outra. emima procurava apoio na cora,em 1irme de Lad9 >oth=ell eesta talve- mais impressionada do 5ue supusera estar tentava rea,irpara amparar a irmã na resolução desesperada 5ue tomara. Bma di-ia 5uelod9 >oth=ell nunca tivera medo outra pensava 5ueJ(se uma mulher 1raca como emima não estava assustada uma mulher 1ortecomo Lad9 >oth=ell tam!*m não podia demonstr02lo.&Decorridos al,uns momentos as re1leHCes das duas irmãs 1oraminterrompidas por uma msica tão suave e solene 5ue dirse2ia ter sidocriada para a1astar todos os sentimentos alheios 3 sua harmonia eaumentar a emoção 5ue a entrevista antecedente provocara. A msica eraprodu-ida por um ;nstrumento 5ue as duas irmãs desconheciam mas 5uemais tarde por diversas circunstVncias minha av calculou ser umaharmXnica instrumento ?0 escutado havia muito tempo.

    &Muando os sons 2 5ue pareciam cair do alto 2 se desvaneceram a!riu2seuma porta e as duas senhoras viram Damiotti de p* num estrado 1ormadopor dois ou tr4s de,raus e lhes 1a-ia sinal para se aproHimarem. Otra?o era di1erente da5uele 5ue usava pouco antes a tal ponto 5ue elasmal o reconheceram a palide- mortal a contracção de todos os msculosindicavam 5ue 5ual5uer coisa de estranho e ousado ia se,uir2se. AeHpressão do rosto tam!*m era totalmente outra e modi1icara o olhar

    satírico com 5ue pouco antes as o!servara principalmente a lad9>oth=ell Tinha os p*s nus dentro das sand0lias 3 moda anti,a. Aspernas estavam desco!ertas at* aos ?oelhos. 7estia calção e um colete deseda carmesim e por cima uma vestimenta lar,a semelhante a umaso!repeli- 1eita de linho !ranco como a neve o pescoço estavadesco!erto e os ca!elos ne,ros e curtos penteados com cuidado caíam2lhe nos om!ros.J#&As duas irmãs aproHimaram2se tal como ele lhes ordenava. DeiHara delhes testemunhar a polide- cerimoniosa e pelo contr0rio assumira um ar

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    de autoridade. Muando de !raço dado com passo incerto che,aram ?untodo estrado 1ran-iu a testa e pXs o dedo nos l0!ios como a recomendar2lhes de novo sil4ncio a!soluto. Em se,uida caminhando 3 1rentediri,iu2se para o aposento contí,uo.&Este era uma sala vasta com as paredes 1orradas de ne,ro como para um1uneral. +o topo do 5uarto via2se uma mesa ou antes uma esp*cie dealtar co!erto com um pano do mesmo tom l,u!re e so!re o 5ual estavam

    colocados muitos instrumentos usados em 1eitiçaria. Estes o!?ectos nãose viam 5uando as duas senhoras entraram no 5uarto por5ue este estavailuminado por duas lVmpadas de lu- mortiça. O estre para me servir daclassi1icação usada pelos italianos para as pessoas deste ,*neroavançou para a eHtremidade do aposento e ao passar diante do altar 1e-uma ,enu1leHão e persi,nou2se.&As duas irmãs se,uiram2no em sil4ncio sempre de !raço dado. Dois outr4s de,raus a!aiHo condu-iam a uma plata1orma colocada em 1rente doaltar. O estre su!iu2os colocou2as de um lado e outro recomendando2lhes por sinais com ar misterioso 5ue ,uardassem sil4ncio.&Li!ertou então o !raço nu de!aiHo da vestimenta de linho e estendeu odedo sucessivamente para os cinco tocheiros 5ue imediatamente seacenderam 5uando aproHimava o dedo e espalharam pelo aposento !rilhante

    claridade.K&As duas senhoras puderam então ver 5ue em cima do altar estavam duasespadas desem!ainhadas e cru-adas e ainda ,rosso volume 5ue supuseramser uma cpia das Sa,radas Escrituras escrita num idioma desconhecido.unto do misterioso livro via2se um crVnio humano. as o 5ue maisimpressionou as duas irmãs 1oi um espelho alto e lar,o disposto atr0sdo altar e 5ue !atido pela lu- das velas re1lectia as espadas e osoutros o!?ectos.&O estre colocou2se entre as duas senhoras e desi,nando2lhes oespelho pe,ou2lhes na mão. Todos estes ,estos 1oram 1eitos sem pro1erirpalavra. Diri,iram a sua atenção para a super1ície polida e escura.;mediatamente essa super1ície tomou novo e estranho aspecto deiHou dere1lectir os o!?ectos colocados na sua 1rente e como se encerrassedentro de si cenas prprias deiHou entrever ima,ens 5ue de princípiose mostraram por 1orma va,a indistinta e con1usa mas 5ue lo,o seacentuaram e sairam do caos ad5uirindo linhas per1eitas. oi assim 5uedepois de al,umas alternativas de lu- e de som!ra na super1ície domaravilhoso espelho se 1ormou a ima,em de arcos e colunas colocados deam!os os lados. /or 1im depois de muitas oscilaçCes a apariçãoesta!ili-ou2se representando o interior de uma i,re?a estran,eira. Ospilares eram de ,rande !ele-a ornados com escudos !rasonados asarcadas eram altas e ma,ní1icas o chão co!erto de inscriçCes 1ne!res.+ão se viam por*m relí5uias ou ima,ens na i,re?a nem c0lice oucruci1iHos nos altares. Era uma i,re?a protestante do %ontinente. Bmpadre revestido com paramentos

    K"de )enova de ca!eção estava de p* ?unto da mesa de comunhão e tinhauma >í!lia diante de si. unto dele o sacristão tra?ando de pretopreparava&2se para desempenhar 5ual5uer cerimXnia da i,re?a a 5uepertencia.&/or 1im pela nave su!iu numeroso corte?o. Era um corte?o de npciaspor5ue 3 1rente vinham um homem novo e uma rapari,a de mãos dadas.Se,uiam2nos muitas pessoas de am!os os seHos ricamente tra?adas.&A noiva cu?o rosto se via per1eitamente era linda e não teria mais dede-asseis anos. O noivo estava voltado de 1orma 5ue não podia ver2se2lhe

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    a cara mas a ele,Vncia do porte e o andar despertaram nas duas irmãs amesma suspeita. O rapa- voltou a ca!eça e essas suspeitas 1oramcon1irmadas. +o noivo ele,ante 5ue estava na sua 1rente reconheceram sirilipe orester. emima soltou d*!il ,emido ao mesmo tempo a apariçãoo!scureceu e o encantamento pareceu prestes a 5ue!rar2se.2 +ão posso comparar o espect0culo 2 di-ia mais tarde lad9 >oth=ell5uando contava esta maravilhosa aventura 2 senão 3 super1ície de um la,o

    calmo e pro1undo 5uando se lhe atira com 1orça uma pedra e 5ue a ima,emluminosa se dispersa e desaparece.&O estre apertou com 1orça a mão das duas senhoras como a recordar2lhes a promessa e o peri,o a 5ue se eHpunham. O ,rito deteve2se nosl0!ios de lad9 orester e limitou2se a um som muito 1raco. Aps uma1lutuação de poucos minutos a aparição retomou o primitivo aspecto decena real ou de umaKpintura !em nítida cu?as persona,ens em ve- de permanecerem imveistivessem vida.&Sir ilipe orester cu?a estatura e 1eiçCes eram a,ora !em visíveiscondu-iu at* ao altar a sua linda noiva 5ue avançava com um misto detimide- e de inocente or,ulho. +o instante em 5ue o sacerdote depois do

    acompanhamento o ter rodeado se dispunha a começar a cerimXnia outro,rupo de pessoas entre as 5uais muitos o1iciais entrou na i,re?a.Avançaram como impelidas pela curiosidade a 1im da assistirem 3cerimXnia nupcial. De repente um dos o1iciais destacou2se do ,rupo ecorreu para o altar. +ão se lhe via o rosto. Todo o acompanhamento sevoltou para ele devido 3 eHclamação 5ue soltou. ;mediatamente esseo1icial desem!ainhou a espada sir orester imitou2o e avançou para odesconhecido. uitos dos homens 5ue pertenciam aos convidados e outrosdo ,rupo 5ue entrara depois desem!ainharam tam!*m a espada. Distoresultou temível luta en5uanto o sacerdote e al,uns homens mais velhostentavam resta!elecer a calma.&;n1eli-mente o pra-o de tempo 5ue o ma,o a1irmara poder concedereHpirou. As ima,ens con1undiram2se de novo e pouco a poucodesapareceram do espelho os arcos e as colunas oscilaram e a super1íciepolida passou a re1lectír unicamente os l,u!res o!?ectos colocadosso!re o altar e os candela!ros acesos.&O estre condu-iu as duas irmãs 5ue !em necessitavam dos seussocorros para a sala onde primeiro haviam estado. 7inhos licores eoutros estimulantesKJ

    prprios para lhes restituírem as 1orças ali tinham sido postos na suaaus4ncia. Levou2as at* 3s cadeiras onde elas se deiHaram cair emsil4ncio. Lad9 orester a mais impressionada das duas uniu as mãos eer,ueu os olhos ao c*u mas não conse,uiu pro1erir palavra como se oencantamento ainda não se tivesse desvanecido.2 O 5ue vimos passou2se de 1acto neste instanteN

    2 per,untou lad9 >oth=ell 5ue pouco a pouco recuperava o domínioprprio.2 +ão posso dar2lhes uma certe-a 2 respondeu o doutor >aptista Damiotti2 as se não se passou neste instante passou2se h0 pouco tempo. oi oltimo acontecimento not0vel da vida de sir ilipe orester.&Lad9 >oth=ell mani1estou então a sua in5uietação pelo estado da irmãcu?a palide- mortal e aparente insensi!ilidade tornavam impossível umasaída imediata.2 %alculei isso 2 respondeu o ;taliano 2 e mandei ordem ao vosso criadopara tra-er a carrua,em para ?unto da porta se a lar,ura da rua o

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    permitir. +ão este?a a1lita com o estado de sua irmã mas 5uando che,ara casa d42lhe estas ,otas 5ue preparei para ela. Amanhã de manhã estar0!oa. /oucas pessoas 2 continuou com ar triste 2 a!andonam esta casa detão per1eita sade como entraram. a conse54ncia de tentarem sa!ercoisas por meios misteriosos. /odem calcular o estado da5ueles a 5uemsatis1aço uma curiosidade ile,al. Adeus. +ão se es5ueça do rem*dio2 +ão darei a minha irmã coisa al,uma 5ue venha da sua mão 2 a1irmou

    lad9 >oth=ell 2 . >astou2me estaKKamostra das suas artes. Talve- 5ueira envenenar2nos para ocultar os seussortil*,ios. as somos pessoas a 5uem não 1altam meios para apontar osa,ravos de 5ue se tornou culpado para connosco nem !raços para nosvin,ar.2 +ão cometi a,ravos para com as senhoras madame 2 respondeu Damiotti 2/rocurou 5uem não am!icionava tão ,rande honra. +ão convidei nin,u*mapenas respondi a 5uem veio at* mim. +o 1undo sou!eram um pouco maiscedo o mal 5ue h02de 1eri2las. Oiço os passos do criado. +ão 5ueroprender por mais tempo 7ossa Senhoria nem lad9 orester. A primeiracorrespond4ncia 5ue rece!erem do %ontinente narrar2lhes20 oacontecimento a 5ue em parte assistiram. Se me permite ainda um

    conselho tome precauçCes antes 5ue as cartas che,uem 3s mãos de suairmã.&Muando aca!ou de pro1erir estas palavras deu as !oas2noites a lad9>oth=ell acompanhou2a at* ao vestí!ulo onde deitou enorme capa ne,raso!re os om!ros para ocultar o estranho vestu0rio. Em se,uida a!riu aporta e con1iou as duas senhoras aos cuidados do criado. Lad9 >oth=ellcom ,rande di1iculdade condu-iu a irmã at* 3 carrua,em 5ue seencontrava a vinte passos. Muando che,aram a casa viu2se o!ri,ada amandar chamar o m*dico da 1amília. Lo,o 5ue che,ou este apressou2se aeHaminar lad9 orester. Tomou2lhe o pulso e a!anou a ca!eça.2 Os nervos de lad9 orester 2 declarou 2 so1reram ,rande a!alo umcho5ue violento. ;mpCe2se conhecer o motivo 5ue o causou.K.&Lad9 >oth=ell con1essou 5ue haviam ido a casa do 1eiticeiro e 5ue lad9orester rece!era m0s notícias do marido sir ilipe.

    2 A5uele maroto se continua em Edim!ur,o 1a- a minha 1ortuna 2 a1irmouo m*dico 2 este o s*timo a!alo de nervos causado pelo terror 5uetenho de curar.&Em se,uida eHaminou as ,otas 5ue lad9 >oth=ell trouHera sem lhes li,arimportVncia. /rovou2as e a1irmou 5ue convinham per1eitamente ao estadode lad9 orester e 5ue assim poupava uma corrida 3 1arm0cia. %alou2se uminstante e olhando Lad9 >oth=ell com ar eHpressivo disse:2 Suponho 5ue não devo per,untar a opinião de 7ossa Senhoria so!re aconduta do 1eiticeiro.2 com e1eito considero o 5ue se passou uma con1idencia e em!oraa5uele homem se?a um parlapatão visto termos sido su1icientemente tolas

    para ir consult02lo devemos ser honestas e ,uardar se,redo.2 Em!ora se?a um parlapatão 2 repetiu o m*dico2 Estou encantado por ouvir 7ossa Senhoria admitir essa hiptese so!real,u*m 5ue vem de ;t0lia.2 O 5ue vem de ;t0lia pode ser tão !om como o 5ue vem de 8anoverdoutor. Se?amos ami,os e não 1alemos de Whi,s ou de Tor9s.2 Tem ra-ão 2 concordou o m*dico rece!endo os seus honor0rios e pe,andono chap*u 2 Tanto me 1a- um c0rolus F"G como um ,uilherme FG. as,ostava deF"G 2 oeda do tempo de %arlos 7;;;.

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    FG 2 oeda holandesa.K$sa!er por 5ue ra-ão a velha Lad9 Saint2Rin,an e muitas outras senhorasda sociedade não se cansam de elo,iar esse charlatão estran,eiroN2 Santo DeusU elhor seria chamar2lhe tam!*m hipcritaU&Despediram2se 1riamente e a po!re doente cu?os nervos haviam so1ridoviolento a!alo acalmou pouco a pouco e tentou com!ater o terror

    supersticioso 5ue dela se apoderara. ;n1eli-mente a verdade vinda da8olanda con1irmou os seus 1atais receios.&Essas notícias 1oram mandadas pelo c*le!re conde de Stair. Di-iam 5uese travara entre sir ilipe orester e o irmão de sua mulher o capitãoalconer do eH*rcito scoto2holand4s um duelo no 5ual este ltimoperdera a vida. A causa do duelo tornava esta morte ainda maislament0vel&Supunha2se 5ue sir ilipe a!andonara su!itamente o eH*rcito emconse54ncia de consider0vel dívida contraída ao ?o,o 5ue não podiapa,ar. udara de nome e re1u,iara2se em Roterdão onde conse,uiracon5uistar as !oas ,raças do velho e rico !ur,omestre. /ela suaele,Vncia e modos distintos cativara a a1eição da sua 1ilha nicamenina muito nova de ,rande !ele-a e herdeira de ,rande 1ortuna.

    Encantado com os dotes da5uele 5ue se propunha para seu ,enro o rico!ur,omestre 5ue 1ormara alto conceito do car0cter in,l4s não tomou5ual5uer in1ormação e deu o seu consentimento para o casamento. Acerimnia ia reali-ar2se na principal i,re?a da cidade 5uando 1oiinterrompida por sin,ular circunstVncia.&O capitão alconer 1ora enviado a Roterdão paraK

    reunir uma parte da !ri,ada dos auHiliares escoceses 5ue estavama5uartelados nessa cidade um su?eito de posição propXs2lhe para sedistrair irem assistir na principal i,re?a da cidade ao casamento de umseu compatriota com a 1ilha de um rico !ur,omestre O capitão alconerconcordou e 1oram am!os para a i,re?a com al,uns ami,os e muitoso1iciais da !ri,ada escocesa. /ode calcular2se o seu espanto 5uandoreconheceu o cunhado no homem 5ue condu-ia ao altar a linda e inocentenoiva a 5uem en,anava vilm*nte. Ali mesmo desmascarou sir ilipe. Emconse54ncia a cerimXnia 1oi interrompida. as contra a espectativadas pessoas 5ue di-iam dever sir ilipe ser eHpulso da sociedade ocapitão alconer aceitou o desa1io do cunhado e no duelo 5ue se se,uiu1oi atin,ido por ,olpe mortal. São assim os desí,nios misteriosos da/rovid4nciaU Lad9 orester nunca pXde resta!elecer2se do a!alo so1ridocom estas notícias.2 E essa cena tr0,ica 2 per,untei 3 tia ar,arida2 desenrolou2se precisamente na altura em 5ue apareceu no espelhoN2 desa,rad0vel ser eu prpria o!ri,ada a desacreditar a minha histria2 respondeu minha tia 2 as para di-er a verdade ocorreu dias antes daaparição.

    2 +esse caso pode supor2se 5ue por via i,norada e misteriosa Damiotti?0 estava ao 1acto do acontecimentoN2 essa a opinião de muitos incr*dulos.2 Mue 1oi 1eito do charlatãoN2 /ouco tempo depois teve ordem de prisão por crime de alta traiçãocomo a,ente do cavaleiro deK(Saint2)eor,e e Lad9 >oth=ell recordou2se das insinuaçCes 1eitas pelom*dico da 1amília ami,o -eloso da Li,a /rotestante e tam!*m de 5ue o;taliano era muito enaltecido pelas matronas 5ue partilhavam as suas

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    opiniCes políticas. Se,undo todas as pro!a!ilidades tinha inteli,4nciasno %ontinente 5ue lhe transmitiam as notícias por 5ual5uer a,entepoderoso e activo dando2lhe assim o meio de preparar cenas1antasma,ricas como a 5ue Lad9 >oth=ell presenciara. +o entanto torna2se di1ícil dar uma eHplicação natural aos 1actos so!re os 5uais at* aodia da sua morte lad9 >oth=ell conservou dvidas estando muitas ve-estentada a cortar o n ,rdio admitindo a possi!ilidade de um poder

    so!renatural.2 E 5ue 1oi 1eito desse homem ha!ilidoso minha 5uerida tiaN2 Era muito !om adivinho para não prever 5ue seu prprio destino seriatr0,ico se a,uardasse a che,ada do homem com a alavanca de prata !ordadana man,a. u,iu e nunca mais se sou!e dele. alou2se muito duranteal,um tempo dos documentos e cartas encontradas em sua casa. as poucoa pouco tam!*m isso es5ueceu e depois lem!ravam2se tanto do doutor>aptista Damiotti como de )alileu ou de 8ipcrates.2 E de sir orester tam!*m nada mais se sou!eN2 +ão. alou2se mais uma ve- nele numa altura not0vel. Di-2se 5ue nsos Escoceses en5uanto eHistir uma nação com esse nome temos entre asnossas numerosas virtudes al,uns pe5uenos vícios. Especialmenteacusam2nos de nunca es5uecermos e perdoarmos uma in?uria 5ue 1a-emos um

    deus do nosso ressentimentoK#

    como a po!re lad9 %onstança 1e- um deus do seu des,osto e se,uiu >urns5ue temos o h0!ito de alimentar a clera a 1im de lhe conservar o calor.Lad9 >oth=ell per1ilhava estes sentimentos e coisa al,uma neste mundoeHcepto a restauração dos Stuarts seria para ela tão deliciosa como terocasião de se vin,ar de sir ilipe orester 5ue lhe rou!ara ao mesmotempo um irmão e uma irmã. as os anos passavam e nunca mais se ouviu1alar a seu respeito. /or 1im numa 1esta de %arnaval onde estavareunida a melhor sociedade de Edim!ur,o e da 5ual lad9 >oth=ell era umadas patronas 1oram avis02la em vo- !aiHa de 5ue um cavalheiro dese?ava1alar2lhe em particular.2 Em particular numa ocasião destasU 2 protestou2Deve estar doidoUDi,a2lhe para passar por minha casa amanhã de manhã.2 0 lhe disse milad9 2 respondeu o mensa,eiro e pediu2me para lheentre,ar este papel.&Lad9 >oth=ell a!riu o !ilhete 5ue estava do!rado e lacrado por 1ormaespecial. %ontinha apenas estas palavras: &/iora um assunto de vida oude morte& traçadas por mão desconhecida. Lad9 >oth=ell de s!itopensou 5ue poderia tratar2se da se,urança pessoal de al,um dos seusami,os. Decidiu2se portanto a se,uir o mensa,eiro para a pe5uena salaonde preparavam os re1rescos e na 5ual raramente os convidados entravam.Encontrou ali um velho 5ue se levantou e saudou pro1undamente 5uando aviu entrar. O seu aspecto revelava d*!il sade e o 1ato em!ora deacordo com a eti5ueta do !aile estava usado e des!otadoP

    e muito lar,o para um corpo muito ma,ro Lad9 >oth=ell apressou2se aprocurar a !olsa contando livrar2se do importuno com avultada esmolaao mesmo tempo o receio de estar en,anada so!re as suas intençCesdeteve2lhe o ,esto e deu ao homem tempo a eHplicar2se.2 Tenho a honra de 1alar a lad9 >oth=ellN 2 per,untou o desconhecido.2 com e1eito sou lad9 >oth=ell senhor. +o entanto permita2me 5ue lhedi,a não * esta a altura nem o lu,ar conveniente para conversarmos. Muedese?a de mimN2 7ossa Senhoria tinha uma irmãN2 A 5uem muito amava sim.

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    2 E um irmãoN2 O mais valente o melhor e o mais a1ectuoso dos irmãos.2 /erdeu esses irmãos por culpa de um homem desventuradoN2 Devido ao crime de um homem vil pela mão de um assassino.2 Respondeu ao 5ue eu pretendia sa!er 2 . disse o homem levantando2separa sair.2 Espere ordeno2lheU 2 !radou lad9 >oth=ell Muem * o senhor para vir

    numa ocasião destas acordar tão tristes recordaçCesN Muem *N Muerosa!42lo.2 Sou um homem 5ue não lhe 5uer mal lad9 >oth=ell e pelo contr0riovenho o1erecer2lhe o meio de reali-ar um acto de caridade cristã 5uecausar0 admiração do mundo e o %*u recompensar0. as"não a encontro preparada para o sacri1ício 5ue tencionava pedir2lhe.2 ale claramente senhor. Mue pretende de mimN2 O miser0vel 5ue tão pro1undamente a o1endeu est0 prestes a morrer. Osseus dias 1oram dias de mis*ria as suas noites noites sem repouso. +ão5uer morrer sem o seu perdão. A sua vida tem sido de contínuapenit4ncia no entanto não dese?a depor o 1ardo das suas triste-asen5uanto a maldição de lad9 >oth=ell pesar so!re a sua alma.

    2 Di,a2lhe 2 respondeu Lad9 >oth=ell com ar som!rio 2 para implorar operdão a Deus a 5uem tanto o1endeu e não a um triste mortal como eu +ãoprecisa do meu perdão.2 En,ana2se. Seria uma ,arantia para a5uele 5ue tenciona implorar o doseu %riador e da sua mulher 5ue est0 no %*u. Lem!re2se lad9 >oth=ell5ue um dia tam!*m morrer0 5ue a sua alma como a dos outros mortaistam!*m ir0 perante o trono donde dimanam os ?ul,amentos de Deus tr4mulade receio. Mue 1ar0 5uando lhe acudir este pensamento: &+ão concediperdão tam!*m não devo esper02lo&N2 8omem se?as tu 5uem 1ores não me 1ales tão cruelmente. Seria uma!las14mia uma hipocrisia se o!ri,asse os meus l0!ios a pronunciar umperdão 5ue todas as 1i!ras do meu coração desmentem. Esse perdão 1ariaentrea!rir os tmulos donde sairia o p0lido espectro de minha irmã e o1antasma ensan,entado de meu irmão. /erdoarU +unca nuncaU2 Santo DeusU 2 eHclamou o velho unindo as mãos 2 assim 5ue os vermes5ue Tu tiraste do pcumprem os Teus mandamentosN ulher or,ulhosa e vin,ativa podesvan,loriar2te de ter acrescentado" aos tormentos de um homem 5ue morrede mis*ria e de des,osto as an,stias do desespero reli,ioso mas nuncainsultes o %*u pedindo para ti um perdão 5ue recusaste aos outros.&E dispunha2se a sair.2 EspereU 2 pediu Lad9 >oth=ell 2 vou tentar perdoar2lhe sim.2 )raciosa dama 2 respondeu o velho 2 aliviar0 uma alma 5ue receiaa!andonar o corpo mortal antes de 1a-er a pa- consi,o. Talve- o perdãoreserve para a penit4ncia os dias de uma vida miser0vel.

    2 s tu esse miser0velU 2 eHclamou lud9 >oth=ell 1erida por s!itasuspeita e a,arrando a ,ola do casaco de sir orester pois de 1actoera ele ,ritou AssassinoU AssassinoU /rendam o assassinoU&Ao ouvirem estes ,ritos tão pouco prprios do lu,ar os convidadosprecipitaram2se na sala. Sir orester por*m ?0 l0 não estava.Empre,ara os seus maiores es1orços para se li!ertar das mãos de lad9>oth=ell e 1u,ira pela porta 5ue a!ria para o patamar da escadaria. Eradi1ícil evadir2se por ali pois os convidados su!iam e desciamconstantemente. as o in1eli- estava desesperado. Saltou por cima docorrimão e caiu no vestí!ulo são e salvo apesar de se ter atirado de

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    uma altura de 5uin-e p*s aproHimadamente. Em se,uida precipitou2separa a rua e desapareceu nas trevas.&Al,uns mem!ros da 1amília >oth=ell correram em sua perse,uição e se oapanhassem teria sido mortoJpor5ue na5uela *poca corria san,ue es5uentado nas veias de todos oshomens e a polícia não interviria no assunto pois o crime de sir

    orester ocorrera havia muito tempo e num país estran,eiro.&Sempre se pensou 5ue a5uela cena eHtraordin0ria não passara de umaeHperi4ncia hipcrita com a 5ual sir ilipe dese?ava asse,urar2se sepodia voltar 3 p0tria sem temer o ressentimento de uma 1amília 5ue tãopro1undamente o1endera. %omo o resultado da eHperi4ncia 1osse contr0rioaos seus dese?os calcularam 5ue voltasse para o %ontinente e morresseno eHílio.Assim termina a histria do espelho revelador.

    O O)O SA)RADOOs !arCes de Arnheim em!ora se ocupassem de pais para 1ilhos emestudos de ci4ncias ocultas eram como todos os no!res alemães

    !elicosos e apaiHonados pela caça. Era este o car0cter de 8erman deArnheim avX materno de Ana de )eiersten 5ue se or,ulhava de possuirso!er!a coudelaria e o mais no!re corcel ?amais visto na Alemanha.Renuncio a 1a-er a discrição deste animal. Limitar2me2ei a di-er 5ue erapreto como a-eviche sem um p4lo !ranco da ca!eça aos p*s. /or estara-ão e pelo seu car0cter 1o,oso o dono deu2Lhe o nome de Apolion o5ue se,undo di-iam muito em se,redo con1irmava os desa,rad0veis !oatos5ue corriam so!re a casa de Arnheim visto o !arão dar ao seu cavalo onome de um demXnio.Aconteceu 5ue num dia de +ovem!ro o !arão 1oi caçar na 1loresta e sre,ressou a casa noite 1echada. +o castelo não havia estranhos por5uecomo ?0 disse os !arCes não rece!iam senão 5uem pudessedar2lhes novos conhecimentos. O !arão estava so-inho sentado na suasala iluminada por tocheiros e velas. +uma das mãos se,urava um livrocu?os di-eres seriam indeci1r0veis para 5ual5uer outro. A outra mãoapoiava2se numa mesa de m0rmore em cima da 5ual estava uma ,arra1a devinho de To

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    viesse a5ui e entrasse nesta sala não ve?o motivo para assustar umhomem valente.2 O dia!o est0 ao lado de ApolionU 2 conse,uiu por 1im di-er o che1e dascavalariças.2 DoidoU 2 ,ritou o !arão pe,ando numa tocha Muem te deu volta 3ca!eçaN /essoas como tu nascidas para servir deviam ter mais 1orçapara se dominar por consideração por ns e por respeito a si mesmo.

    Ao mesmo tempo ia atravessando o p0tio do castelo e diri,iu2se 3scavalariças 5ue ocupavam uma das eHtremidades e onde em cada um doslados estavam a!ri,ados cin5enta !elos corc*is. unto de cada um viam2se penduradas as armas o1ensivas e de1ensivas de um homem de armas tão!rilhantes e em tão !om estado 5uanto era possível. 7ia2se tam!*m a cotade pele de !1alo 5ue constituía o vestu0rio interior de um soldado.O !arão entrou ali se,uido por dois criados 5ue admirados com estealarme haviam acorrido. Em ,randes passadas avançou por entre as duas1ilas de cavalos e aproHimou2se do seu corcel 1avorito 5ue se encontravado lado direito numa das eHtremidades da cavalariça. O animal nãorelinchou não sacudiu a ca!eça nem !ateu com a pata não teve 5ual5uerdas mani1estaçCes com 5ue costumava acolher a che,ada do dono.

    Demonstrou reconhec42lo limitando2se a soltar uma esp*cie de ,emidocomo se lhe implorasse auHílio.8erman levantou a tocha e viu um homem muitoalto com a mão apoiada na anca do cavalo.2 Muem *s tuN Mue 1a-es a5uiN 2 per,untou o !arão.2 /rocuro re1,io e hospitalidade 2 respondeu o estran,eiro 2 e peço2tapela anca do teu cavalo e pelo ,ume da tua espada 5ue nunca te 1altem5uando deles precisares.2 Sendo assim *s um irmão do o,o Sa,radoN2 per,untou o !arão 2 Se,undo o ritual dos a,os persas não possorecusar2te o 5ue me pedes. %ontra 5uem e por 5uanto tempo me pedesprotecçãoN2 %ontra a5ueles 5ue virão procurar2me 5uando o ,alo cantar 2 respondeuo desconhecido 2 e por um ano e mais um dia a contar deste momento.2 Os meus ?uramentos e a minha honra não me permitem recusar o 5uepedes. /rote,er2te2ei durante um ano e mais um dia. A tua ca!eça ter0por a!ri,o o meu tecto sentar2te20s 3 minha mesa e !e!er0s do meuvinho. as tu tam!*m ter0s de o!edecer aos preceitos de [aroastro. Damesma 1orma 5ue disse: &O mais 1orte prote,er0 o mais 1raco& tam!*mordenou 5ue o mais s0!io instruísse o 5ue possuía menos conhecimentos.Eu sou o mais 1orte e estar0s se,uro de!aiHo da minha protecção mas *stu o mais s0!io e deves instruir2me nos mais ocultos mist*rios.2 [om!ais do vosso humilde servo mas se Dannischemend sa!e al,uma coisa5ue possa ser til a 8erman as suas liçCes serão para ele como as de umpai para um 1ilho.2 A!andona portanto o teu re1u,io. uro2te pelo o,o Sa,rado 5ue vive

    sem alimento terrestre pela 1raternidade 5ue eHiste entre ns pelaanca do meu (cavalo e pelo ,ume da minha espada 5ue ,arantirei a tua se,urançadurante um ano e um dia. en5uanto o meu poder o conse,uir.O desconhecido saiu da cavalariça e a5ueles 5ue puderam ver a suaapar4ncia não se admiraram por )aspar ter 1icado assustado ao encontr02lo ?unto do animal sem sa!er como entrara.

    Muando penetraram na sala onde o !arão o condu-iu como o teria 1eito aum hspede de cate,oria rece!ido com pra-er a lu- das tochas iluminou

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    o visitante um homem alto de porte ma?estoso. Bsava um tra?o orientalisto * um ca1etão ou comprida tnica preta semelhante 3s usadas pelosarm4nios e um ,rande !on* 5uadrado em pele de astracã tam!*m preto.Este total ne,rume do 1ato 1a-ia so!ressair a comprida !ar!a !ranca 5uelhe caía no peito. A tnica cin,ia2se na cintura com um cinto de sedapreta no 5ual em ve- de punhal e cimitarra estavam entalados umesto?o de prata e um rolo de per,aminho. %omo nico ornamento tra-ia um

    ru!i de ,rande-a pouco comum e cu?o !rilho era tal 5ue 5uando a lu- lhe!atia mais parecia darde?02lo de 5ue re1lecti2lo. O !arão o1ereceu2lhecomida mas o desconhecido respondeu2 +ão posso comer ou 1a-er passar uma ,ota de 0,ua pelos meus l0!ios sem5ue o vin,ador che,ue diante da tua porta.O !arão deu ordens para renovarem o a-eite nas lVmpadas acenderem novastochas depois disse para irem descansar e 1icou so-inho com odesconhecido.\ meia2noite as portas do castelo 1oram a!aladas#como por um vendaval e a vo- de um arauto soou pedindo a entre,a doprisioneiro Dannischmend 1ilho de Ali. O ,uarda da porta ouviu entãoa!rir uma ?anela e reconheceu a vo- do amo 5ue 1alava com a pessoa 5ue

    1i-era a intimação. /or*m a noite estava tão escura 5ue não conse,uiuver 5ual5uer dos interlocutores. alavam uma lin,ua desconhecida oupelo menos a conversa era intercalada com tantas palavras estran,eiras5ue não conse,uiu perce!er uma síla!a. Decorreram cinco minutos apenas ea pessoa 5ue 1alava de 1ora elevou de novo a vo- e declarou em alemão:2 Adio os meus direitos para da5ui a um ano e um dia. as 5uando essepra-o terminar ser0 para eHi,ir o 5ue me * devido e o 5ue me * devidonão me ser0 recusado.Desde então o persa Dannischmend passou a viver no castelo de Arnheim enunca 1osse por 5ue motivo 1osse passou a ponte levadiça. As suasdistracçCes e tra!alhos estavam concentradas na !i!lioteca e nola!oratrio onde o !arão tra!alhava muitas ve-es com ele at* altashoras da noite.Os ha!itantes do castelo não encontravam 5ual5uer coisa a censurar aoa,o persa salvo eHcluir dos seus actos todas as mani1estaçCesreli,iosas pois nunca assistia 3 missa não se con1essava em resumonão comparecia 3 mais simples cerimXnia reli,iosa. O capelão noentanto a1irmava estar satis1eito com o estado de consci4ncia doestran,eiro mas suspeitava2se havia muito tempo 5ue o di,noeclesi0stico o!tivera a5uele lu,ar sosse,ado com a condição !astantera-o0vel de$Paprovar os princípios de todos a5ueles a 5uem o !arão 5uisesse concederhospitalidade e os declarasse ortodoHos.%ontudo notaram 5ue o /ersa era muito eHacto no cumprimento das suasdevoçCes particulares. al o Sol nascia nunca deiHava de se prostrar nochão e 1a!ricara uma lVmpada de prata das mais !elas proporçCes lVmpada

    5ue colocou num pedestal de m0rmore com a 1orma de coluna truncada na!ase do 5ual ,ravou diversos hiero,li1os. +in,u*m eHcepto talve- o!arão sa!ia como ele alimentava a chama dessa lVmpada a mais pura amais constante e mais !rilhante de todas as lu-es ?amais vistas comeHcepção da do Sol. Acreditava2se 5ue 2 na aus4ncia do astro2rei era alVmpada o o!?ecto do culto de Dannischmend.+otavam2se tam!*m nele costumes severos uma austeridade eHtrema umamaneira de viver ditada pela temperança e por 1re5entes ?e?uns. Salvocaso muito especial s 1alava com o !arão mas como não lhe 1altavadinheiro e era muito li!eral os criados olhavam2no com respeito mas

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    sem temor ou retraimento.

    A /rimavera sucedeu ao ;nverno o 7erão trouHe consi,o as 1lores oOutono os 1rutos e 5uando começaram a cair de maduros um pa?em 5ueal,umas ve-es os acompanhava no la!oratrio ouviu o /ersa di-er ao!arão de Arnheim:2 /resta muita atenção 3s minhas palavras meu 1ilho pois as minhas

    liçCes estão a aca!ar. +ão eHiste$"poder na Terra 5ue possa evitar por mais tempo o meu destino.2 estre 2 eHclamou o !arão 2 Ser0 preciso 5ue eu perca as tuas liçCes5uando a tua mão h0!il poderia colocar2me nos pin0culos do Templo daSa!edoriaN2 +ão desanimas mau 1ilho 2 respondeu o s0!io DeiHarei a minha 1ilha oencar,o de te aper1eiçoar. Ela vir0 para a5ui nessa id*ia. as lem!ra2te!em do 5ue te di,o. Se 5ueres perpetuar o teu nome deves v42lasimplesmente como auHiliar dos teus estudos. Se a sua !ele-a te 1i-erolvidar 5ue est0 a5ui s para te ensinar ser0s enterrado com a tuaespada e o teu escudo como sendo o ltimo descendente masculino da tuacasa. Al*m disso acredita2me outros males resultarão daí por5ue

    semelhantes alianças nunca deram !om resultado. Toma a minha pessoa comoeHemplo.2 Sil4ncioU Estão a ouvir2nos.Daí em diante todos os 5ue compunham a casa do !arão encontraram muitoassunto para re1leHão e o!servavam atentamente o 5ue se passava 3 suavolta.Muando se aproHimou a *poca do /ersa ter de a!andonar o a!ri,oencontrado no castelo uns despediram2se a 5ual5uer preteHto e os outrosa,uardavam tremendo 5ue se desencadeasse terrível cat0stro1e. +adaaconteceu por5ue 5uando o dia 1atal che,ou muito tempo antes da meia2noite tão temida Dan2 nischmend pXs termo 3 sua estadia no castelo deArnheim saindo a cavalo como 5ual5uer via?ante. O !arão despediu2se doestre com mani1estaçCes da$pesar e de des,osto. O s0!io /ersa consolou2o 1alando2lhe muito tempoem vo- !aiHa mas al,uns ouviram as ltimas palavras:2 Ela estar0 a5ui 5uando o Sol nascer. Trata2a com a1ecto mas não v0sdemasiado lon,e.Ditas estas palavras a1astou2se e nunca mais 1oi visto nos arredores docastelo de Arnheim.Durante todo o dia 5ue se se,uiu 3 partida do a,o a 1isionomia do!arão re1lectiu pro1unda melancolia. %ontra o seu costume deiHou2se1icar no salão e não 1oi para a !i!lioteca nem para o la!oratrio ondeo estre ?0 não se encontrava para o acompanhar.+o dia se,uinte de manhã ao romper do dia chamou o pa?em. E em!ora decostume 1osse pouco cuidadoso com a sua pessoa na5uele dia vestiu2secom maior re5uinte. %omo se encontrava ainda na primavera da vida a e o

    seu porte era no!re e distinto teve ra-Ces para 1icar satis1eito com oseu aspecto eHterior.Muando aca!ou de se vestir a,uardou 5ue o Sol despontasse no hori-onte.Então 1oi !uscar a chave do la!oratrio a uma mesa onde calculou opa?em ela devia ter estado toda a noite e se,uido pelo rapa- para l0se diri,iu.

    /arou 3 porta e pareceu re1lectir al,uns instantes antes de mandarem!ora o criado. Em se,uida meteu a chave na 1echadura e hesitou comose ao a!rir contasse ver 5ual5uer coisa de estranho. /or 1im armando2se

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    de toda a sua resolução deu a volta 3 chave empurrou a porta e entrou.O pa?em se,uiu atr0s dele e 1icou tolhido de surpresa$J5ue atin,ia as raias do terror vendo uma coisa 5ue em!oraeHtraordin0ria era !astante a,rad0vel e encantador para a vista.A lVmpada de prata não estava no pedestal e em seu lu,ar via2se umarapari,a muito nova e !onita enver,ando o tra?o persa no 5ual

    predominava a cor carmesim. +ão usava tur!ante ou 5ual5uer toucado osca!elos castanhos doirados estavam atados com uma 1ita a-ul presaso!re a testa com um al1inete de oiro no 5ual estava en,astadama,ní1ica opala 5ue por entre os cam!iantes prprios desta pedrapreciosa despedia um raio vermelho como uma centelha de 1o,o.A ,entil rapari,a era de estatura m*dia per1eitamente proporcionada. Otra?o oriental com as calças tu1adas presas no torno-elo deiHava vero mais lindo p* 5ue se poderia sonhar e so! as pre,as da tnica viam2seos !raços e as mãos de uma simetria per1eita. O rosto era eHpressivo eanimado re1lectindo inteli,4ncia e espírito. Os olhos vivos ne,roscom so!rancelhas !em ar5ueadas dir2se2iam su!linhar as o!servaçCesmaliciosas 5ue os l0!ios vermelhos e sorridentes pareciam prestes apro1erir.

    O pedestal so!re o 5ual estava de p* como 5ue empoleirada dava aimpressão de ser um apoio pouco se,uro para uma pessoa de consider0velpeso mas 1osse 5ual 1osse a maneira como ali che,ara repousava neleli,eiramente se,ura como um pintarroHo 5ue no vXo poisa no tronco1leHível de uma roseira. O primeiro raio do Sol nascente penetrandopela ?anela 5ue se encontrava mesmo &m 1ace do pedestal$Kaumentava a !ele-a da5uela est0tua viva 5ue se mantinha imvel como se1osse de m0rmore. +ão demonstrou ter dado pelo !arão senão pelarespiração mais r0pida 5ue lhe elevava o seio acompanhada de vivo ru!ore um sorriso./or muito preparado 5ue estivesse o !arão para ver 5ual5uer coisa do,*nero da5uela 5ue lhe encantava os olhos a !ele-a da rapari,aultrapassava de tal modo a sua espectativa 5ue 1icou suspenso malpodendo respirar.De s!ito recordou2se ser seu dever 1a-er um acolhimento hospitaleiro 3linda estran,eira 5ue che,ara ao castelo por modo tão estranho e tir02lada posição incXmoda em 5ue se encontrava. Deu al,uns passos para elaprestes a pro1erir as palavras de !oas2vindas e com os !raços estendidospara a a?udar a descer do pedestal 5ue tinha mais de cinco p*s dealtura. /or*m a viva e 0,il estran,eira recusou o auHílio 5ue o !arãolhe o1erecia e saltou para o chão com 1acilidade e sem se ma,oar comose tivesse asas. S pela pressão momentVnea da mão-inha 5ue o !arão deArnheim apertou este pXde certi1icar2se 5ue ela era um ser de carne eosso.2 Estou a5ui se,undo a ordem 5ue rece!i 2 declarou ela relanceando emvolta um olhar r0pido Encontrar0 em mim uma pro1essora dedicada e conto

    5ue me 1aça honra sendo um discípulo atento e tra2& !alhador.com a che,ada deste ente encantador diversas mudanças ocorreram nocastelo de Arnheim. Bma dama de alta cate,oria e sem 1ortuna vivarespeit0vel de

    $um conde do ;mp*rio parente do !arão aceitou o convite 5ue 2 este lhe1e- para tomar conta do ,overno ida casa do seu parente e a1astar com asua presença 5ual5uer suspeita ín?uriosa 5ue a presença de 8ermione 2assim se chamava a linda /ersa 2 no castelo podia suscitar.

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    A condessa de Walds1cetten levou a sua condescend4ncia ao ponto de estar5uase sempre presente 5uando o !arão de Arnheim dava liçCes com a ,entilpro1essora 5ue por 1orma tão estranha su!stituira o velho a,odecorressem elas na !i!lioteca ou no la!oratrio. Se pode dar2se cr*dito3s palavras desta dama os tra!alhos eram de nature-a muito estranha eprodu-iam muitas ve-es e1eitos 5ue in1undiam tanto receio como surpresa.+o entanto a1irmava cate,oricamente 5ue nunca se preocupavam com

    ci4ncias ilícitas e se limitavam aos conhecimentos permitidos ao ,*nerohumano.Bm ?ui- mais competente na mat*ria o arce!ispo de >am!er, visitou ocastelo de Arnheim para poder avaliar a ci4ncia de uma mulher cu?a 1amase espalhara por todas as terras !anhadas pelo Reno. %onversou com8ermione e veri1icou ter ela pro1unda noção de todas as verdades dareli,ião. %onhecia tão !em os do,mas 5ue a classi1icou como um doutorem teolo,ia usando os tra?os de uma !ailarina do Oriente. Muando lheper,untaram o 5ue pensava dos seus conhecimentos nas lín,uasestran,eiras e nas ci4ncias respondeu 5ue 1ora a Arnheim para veri1icara verdade de tudo 5uanto ouvira di-er e 5ue lhe parecera um$$pouco eHa,erado. as como teimassem con1essou não lhe terem dito metade

    da verdade.Depois deste testemunho irre1ut0vel aca!aram os !oatos sinistros aos5uais a estranha aparição da !ela estran,eira dera lu,ar tanto mais 5ueos seus modos insinuantes o!ri,avam todos os 5ue lidavam de perto comela a estim02la.Entretanto as relaçCes entre a am0vel pro1essora e o seu aluno tomavamaspecto di1erente. antinham2se dentro da mais estrita reserva e nuncapelo 5ue sa!iam a condessa Waldstetten ou 5ual5uer outra pessoa derespeito deiHava de estar presente 3s liçCes. Estas entrevistas por*m?0 não se davam eHclusivamente na !i!lioteca ou no la!oratrioprocuravam distrair2se nos ?ardins ou no par5ue 1a-iam caçadas oupescarias e passavam os serCes a dançar. E tudo isto provava 5ue oestudo das ci4ncias cedera o lu,ar 3 atracção do pra-er.+ão 1oi di1ícil adivinhar a si,ni1icação da mudança 5uando ela e o !arãode Arnheim 1alaram uma lín,ua 5ue nin,u*m compreendia e puderam terconversas particulares no meio do tumulto de pra-eres 5ue os rodeava.+in,u*m 1icou surpreendido 5uando decorridas al,umas semanas 1oio1icialmente anunciado 5ue a linda /ersa ia tornar2se !aronesa deArnheim.Os modos desta linda criatura eram tão sedutorese am0veis a sua conversa tão animada o seu espírito tão !rilhante e aomesmo tempo era tão mei,a e modesta 5ue em!ora a sua ori,em 1ossedesconhecida$a sua !oa 1ortuna não suscitou inve?as como seria de esperar na5uelacircunstVncia.

    /or ltimo a sua ,*nerosidade causava espanto e con5uistou os coraçCesde todos 5uantos lidavam de perto com ela. A sua ri5ue-a parecia imensa.Distri!uía tantas ?ias pelas ami,as 5ue poderia supor2se não restaremnenhumas para se en1eitar. As suas !oas 5ualidades principalmente a suali!eralidade a simplicidade do seu car0cter 1a-endo contraste com aeHtensão dos conhecimentos 5ue sa!iam ela possuir a aus4ncia completade ostentação 1a-iam com 5ue as outras 2 damas lhe perdoassem asuperioridade. +otava2se no entanto al,umas sin,ularidades talve-eHa,eradas pela inve?a 5ue traçavam como 5ue a linha de separação entrea !ela 8ermione e as simples mortais com 5uem convivia.

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    A dançar não tinha rivais pela leve-a e a,ilidade e poder2se2ia tomarpor um ser alado. /odia entre,ar2se ao pra-er da dança horas se,uidassem demonstrar a mais pe5uena 1adi,a a ponto de cansar o mais intr*pidodançarino.O ?ovem du5ue de 8ochsprin,en 5ue em toda a Alemanha era consideradoin1ati,0vel tendo dançado meia hora com ela viu2se o!ri,ado ainterromper a dança e atirou2se para cima de um so10 completamente

    es,otado a1irmando ter dançado não com uma mulher mas com um 1o,o210tuo.Di-ia2se !aiHinho 5ue 5uando !rincava no la!irinto ou nos !os5ues do?ardim com as ami,as !rincadeiras 5ue eHi,iam a,ilidade demonstrava aleve-a so!renatural 5ue a inspirava 5uando dançava. Muando$(saía do lado das pessoas ami,as desaparecia e pouco depois transpunha asse!es os caniçados as !arreiras com tanta rapide- 5ue o olhar maiso!servador não conse,uia desco!rir como se encontrava do outro lado5uando a viam lon,e por tr0s de 5ual5uer !arreira os 5ue a se,uiam comos olhos viam2na no mesmo instante a seu lado sem poderem desco!rircomo isso acontecera.+esses momentos 5uando os olhos lhe !rilhavam e as 1aces se tornavam

    mais vermelhas 5uando mais se animavam di-ia2se 5ue a opala encastoadana 1ita a-ul 5ue lhe prendia os ca!elos en1eite 5ue nunca a!andonava!rilhava com maior 1ul,or e tornava2se mais viva a centelha ou lín,ua de1o,o 5ue dela emanava. Da mesma 1orma 3 noite na sala se a conversade 8ermione era mais animada do 5ue o costume a pedra tornava2se mais!rilhante e dela !rotava um raio de lu- sem 5ue 5ual5uer outro corpoluminoso pudesse re1lecti2lo como era natural.As criadas a1irmavam 5ue se a ama se deiHava arre!atar por um movimentode clera uma centelha vermelho2vivo !rotava da misteriosa ?ia comose ela partilhasse as emoçCes da pessoa 5ue a usava. As mulheresencarre,adas do seu serviço asse,uravam 5ue 8ermione nunca se separavadessa ?ia salvo durante !reves instantes em 5ue ,uardava sil4ncio eassumia um ar mais pensativo do 5ue de costume e 5ue: nessa alturademonstrava ,rande receio de 5ue aproHimassem dela 5ual5uer Lí5uido.+otou2se tam!*m 5ue 5uando molhava os dedos na !acia da 0,ua !enta 3porta da i,re?a nunca levava$#a mão 3 testa para 1a-er o sinal da cru- com medo supunham 5ue uma,ota de 0,ua atin,isse a ?ia 5ue tanto apreciava.

    Estes !oatos não impediram a reali-ação do casamento do !arão deArnheim. oi cele!rado con1orme os ritos reli,iosos em uso e o novocasal iniciou uma vida de 1elicidade tal como raramente se encontra naterra.Decorridos do-e meses a !aronesa deu 3 lu- uma menina a 5uem deram onome de Si!ila o da mãe do !arão de Arnheim. %omo a sade da criançaera eHcelente demoraram o !apti-ado at* 5ue a mãe se encontrasse em

    estado de poder assistir. i-eram convites 3s principais pessoas dosarredores e na altura da cerimXnia reuniu2se no castelo uma sociedade!astante selecta.Entre os convidados encontrava2se uma velha dama 5ue parecia destinadaa desempenhar o papel 5ue nos contos de 1adas se atri!ui 3 1ada m0.Era a !aronesa de Stein1eldt c*le!re pela sua curiosidade insaci0vel epelo insolente or,ulho. ;nstalara2se havia poucos dias no castelo e ?0com o auHílio de uma criada para encontrar alimento para a suacuriosidade sa!ia tudo 5uanto se di-ia e suspeitava a respeito de8ermione. +a manhã do dia 1iHado para o !apti-ado 5uando todos os

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    convidados estavam reunidos no salão e s a,uardavam a che,ada da donada casa para se diri,irem 3 i,re?a levantou2se entre a !aronesa e acondessa de Walsdtetten violenta 5uestão so!re o direito de proced4ncia.O !arão de Arnheim escolhido para 0r!itro pronunciouse a 1avorPda condessa. adame de Stein1eldt ordenou imediatamente 5ue trouHessem oseu corcel e toda a sua comitiva montou a cavalo.

    2 A!and