1
depois de a ter criado, e como êle pro- gride e se enriquece sem cessar, deve tam- bém incessantemente aperfeiçoar a lingua- gem para a adaptar às suas necessidades. As transformações da linguagem, tradu- zindo o progresso e o regresso do pensa- mento, permitem seguir estes, analisá-los e conhecê-los; as leis segundo as quasi estas transformações se produzem, permi- tem seguir em todos os seus atalhos o curso natural do pensamento, e desembru- lhar, através da multiplicidade das asso- ciações de ideias, a lógica popular, mais confusa, mas mais rica e mais sólida que a lógica racional e sábia, e cujo processo essen- cial éa analogia (1). A semântica é assim um retorno à psicologia, à qual fornece, por outro lado, úteis documentos. Ela mesmo se enriquece, estende o seu domínio pelas conquistas que faz à psicologia; assim, ela não se contenta em estudar a linguagem como instrumento do pensamento; consi- dera-a ainda como a expressão dos senti- mentos e da acção (2). A linguística e a psicologia vão assim em auxílio uma da outra e progridem uma pela outra: esperanto (em resposta a um leitor) Escreve-nos um operário do Algarve, leitor da Síntese, comentando no artigo «A Linguagem das Ciências», a passagem que diz: «Falham todas as tentativas duma língua universal, preconizada por Leibnitz, tais como o ido, o esperanto, o volapiik, se quizermos que essa língua saia do domí- nio restrito do Polo S.»; e esta outra: «Fora da escrita simbólica da linguagem das ciências, não solução real para o problema duma língua universal. Fora deste domínio, os pensamentos que per- tencem às diferentes línguas, não podem encontrar um terreno comum; etc. (Sín- tese n.° 3, ano I). O leitor em questão discorda, e afirma que «o esperanto não falhou, mesmo no campo L, e apoia a afirmativa no facto de se corresponder com japoneses, holandeses, suecos, franceses e sul-americanos, e nunca ter deixado de os compreender. E isto encarar o problema muito super- ficialmente. O facto de o Esperanto existir e desempenhar a sua função de língua inter- nacional, não infirma a passagem citada, de Pius Servien, nem confirma o que o nosso leitor diz: «o Esperanto não falhou, mesmo no campo L». Ou nós não fomos bem claros na exposição que fizemos da Linguística de Servien, ou o artigo não foi lido com cuidado. Quando Charles Iiichet, que o leitor cita na sua carta, faz esta pre- gunta: «quem não reconhece a utilidade da língua internacional para o comércio, a indústria e as ciências?» não estende a uti- lidade do esperanto ao Polo L. Quando Abel Salazar, também citado na carta, afirma que «introduzir o esperanto na ciência, convertê-lo em língua desta, seria um facto de consequências extraordinárias», limita a acção do esperanto no campo S. Quando A. Meillet... etc. Nenhum esperan- tista bem consciente do que é o Esperanto pode afirmar que êle seja eficaz no campo L de Servien, em virtude das razões que o pró- prio Servien nos aponta. Que o leitor volte a ler Servien, que o leia no original, se a nossa exposição não lhe parece clara, e será forçado a dar-lhe razão. (1) Michel Bréal, Essai de sémantique; Meillet, Linguistique historique gènèrale. Comment les mots changent de sens. 1921. (2) Vendryès, le Langage; Bally, le Langage et la Vie — Mécanisme de 1'expressivité linguistique.

esperanto - dspace.uevora.ptntese AII, N4... · esperanto (em resposta a um leitor) Escreve-nos um operário do Algarve, leitor da Síntese, comentando no artigo «A Linguagem das

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: esperanto - dspace.uevora.ptntese AII, N4... · esperanto (em resposta a um leitor) Escreve-nos um operário do Algarve, leitor da Síntese, comentando no artigo «A Linguagem das

depois de a t e r cr iado, e como êle p ro ­gr ide e se enr iquece sem cessar , deve t am­b é m inces san temen te aperfeiçoar a l ingua­g e m p a r a a adap t a r às suas necess idades . As t ransformações da l inguagem, t r a d u ­z indo o p rogresso e o regresso do pensa­men to , pe rmi t em segui r es tes , analisá-los e conhecê- los ; as leis s egundo as quas i e s tas t ransformações se p r o d u z e m , permi ­t e m seguir em t o d o s os seus a ta lhos o curso n a t u r a l do p e n s a m e n t o , e desembru­lhar , a t r avés da mul t ip l i c idade das asso­ciações de ide ias , a lógica popu la r , mais

confusa, mas mais r ica e mais sólida que a lógica rac ional e sábia, e cujo processo essen­cial éa ana logia (1). A semânt ica é assim u m re to rno à psicologia , à qua l fornece, p o r ou t ro lado , ú te i s documen tos . E l a mesmo se enr iquece , e s t ende o seu domínio pelas conqu i s t a s que faz à ps i co log ia ; assim, ela não se con t en t a em e s t u d a r a l i nguagem como in s t rumen to do p e n s a m e n t o ; consi-dera-a a inda como a expressão dos sent i ­m e n t o s e da acção (2). A l inguís t ica e a ps icologia vão ass im em auxíl io u m a da ou t r a e p rogr idem u m a pela ou t ra :

esperanto (em resposta a um leitor)

Escreve-nos u m operár io do Alga rve , le i tor da Síntese, comen tando no a r t igo «A L i n g u a g e m das Ciências», a p a s s a g e m que d i z : « F a l h a m todas as t e n t a t i v a s d u m a l íngua universa l , p recon izada p o r L e i b n i t z , t a i s como o ido, o e spe ran to , o volapiik, se quizermos que essa l íngua saia do domí­n io res t r i to do Polo S . » ; e e s t a o u t r a : « F o r a da escr i ta s imbólica da l i nguagem das ciências, não h á solução real pa ra o p r o b l e m a d u m a l íngua un ive rsa l . F o r a des t e domínio , os p e n s a m e n t o s que per­t e n c e m às diferentes l ínguas , não p o d e m encon t r a r u m t e r r eno c o m u m ; etc . (Sín­tese n.° 3 , ano I ) .

O le i tor em ques tão d iscorda , e af i rma que «o e spe ran to não falhou, mesmo n o campo L , e apoia a af i rmat iva n o facto de se cor responder com j aponese s , ho landeses , suecos , f ranceses e su l -amer icanos , e n u n c a t e r de ixado de os compreender .

E i s to encara r o p rob l ema mui to super­f icialmente. O facto de o E s p e r a n t o exis t i r e desempenhar a sua função de l íngua inter­nac ional , não infirma a p a s s a g e m ci tada, de P ius Servien, nem confirma o que o nosso le i tor d i z : «o E s p e r a n t o não falhou, mesmo no campo L » . Ou nós não fomos

b e m claros na exposição que fizemos da L ingu í s t i ca de Serv ien , ou o ar t igo não foi l ido com cu idado . Q u a n d o Char les I i ichet , que o le i tor ci ta n a sua ca r t a , faz es ta pre-g u n t a : « q u e m não reconhece a u t i l idade da l íngua in te rnac iona l p a r a o comércio, a i ndús t r i a e as ciências?» não es t ende a ut i ­l idade do e spe ran to ao Polo L . Q u a n d o Abe l Sa lazar , t a m b é m c i tado n a car ta , afirma que « i n t r o d u z i r o e spe ran to n a ciência, convertê- lo em l íngua des ta , ser ia u m facto de consequências ex t r ao rd iná r i a s» , l imita a acção do e spe ran to no campo S. Quando A. Me i l l e t . . . e tc . N e n h u m esperan­t i s t a b e m consciente do que é o E s p e r a n t o pode afirmar que êle seja eficaz no campo L de Servien , em v i r t ude das r azões que o pró­prio Serv ien nos apon ta .

Que o lei tor vol te a ler Servien, que o leia no original, se a nossa exposição não lhe parece clara, e será forçado a dar- lhe r a z ã o .

(1) Michel Bréal, Essai de sémantique; Meillet, Linguistique historique gènèrale. Comment les mots changent de sens. 1921.

(2) Vendryès, le Langage; Bally, le Langage et la Vie — Mécanisme de 1'expressivité linguistique.