Upload
others
View
6
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
ANA MARIA MACHADO
Esta força estranhaTrajetória de uma autora
Esta
forç
a es
tran
haA
NA
MA
RIA
MAC
HA
DO
“Ser leitora e escritora é uma escolha ligada ao intenso prazer intelectual que essas atividades me dão. Escrevo porque gosto da língua portuguesa, gosto de histórias e conversas, gosto de gente com opiniões e experiências diferentes, gosto de outras vidas, outras ideias, outras emoções, gosto de pensar e de imaginar. Em todo esse processo, a leitura foi fundamental. E, seguramente, eu teria lido muito menos, se não estivesse sempre cercada de pessoas que falavam com entusiasmo de livros e autores.”
“Lendo Ana, contadora de histórias de primeiríssima qualidade, uma das coisas que logo atraem é a presença constante de uma formidável visão crítica da nossa sociedade e do mundo – uma visão tão contagiante que, quando o leitor é jovem, bem depressa dispensa tutelas.”
Lygia Bojunga Nunes, escritora
“Ana se apaixona pelas pessoas e por tudo o que faz. É uma permanente adolescente em termos de emoções e abertura para a vida. É consciente, batalha por sua condição, faz luta política, mas não perde aquela aparente fragilidade feminina. Ao mesmo tempo, é muito forte, capaz de sair de qualquer buraco, zerar tudo e surpreender. Vai ao fundo do poço e, de repente, emerge criança e recomeça.”
Zuenir Ventura, jornalista e escritor
“A obra de Ana é um marco de renovação da linguagem na literatura infantil brasileira. [...] Realiza uma literatura sem adjetivos – palavras que ela mesma gosta de enfatizar –, em que as crianças se reconhecem como interlocutoras.”
Eliana Yunes, professora de literatura e ensaísta
“Nossa obra tem em comum uma cumplicidade sem limites com a criança, e uma admiração sem fim pela criança criativa, irreverente, perguntadeira. Tem ainda em comum nosso horror ao autoritarismo, à mesmice, ao conformismo.”
Ruth Rocha, escritora
“O que eu sei de Ana, fora a grande escritora que todos conhecemos, é que ela é uma pessoa extremamente atenta, generosa e musical. Faço uma música e penso: será que a Ana Maria vai gostar dessa?”
Chico Buarque, músico e compositor
Depoimentos extraídos do livro Ana & Ruth.Rio de Janeiro, Salamandra, 1995.
Os fãs da obra de Ana Maria Machado se deliciarão com as histórias de sua vida.
Detalhes de sua infância e da trajetória que a tornou uma das maiores escritoras do
Brasil estão presentes neste livro- -depoimento, em que a autora estabelece
um contato pessoal e cúmplice com o leitor.
Lançado em 1a edição em 1996, Esta força estranha recebeu o Prêmio Jabuti
1997 de Melhor Livro Juvenil. Nos anos seguintes ao lançamento desta obra, vários
acontecimentos de grande importância pontuaram a já então consagrada
carreira de Ana Maria Machado.
Entre os de maior destaque, Ana ganhou, em 2000, o Prêmio Hans
Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil mundial.
Antes dela, apenas outra autora brasileira, Lygia Bojunga Nunes, havia
sido agraciada com esse prêmio.
Em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe concedeu o maior prêmio
literário nacional, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra. Em 2003, foi
eleita para ocupar a cadeira número 1 da instituição. Pela primeira vez na
história, uma autora de grande destaque na literatura infantojuvenil brasileira
era escolhida para a Academia. Em 2005, Ana Maria Machado recebeu o
prêmio Mulher da Paz, da Associação Mil Mulheres para o Nobel da Paz, na Suíça, e, no ano seguinte, o prêmio Mulher do
Ano, do Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, por sua trajetória de vida.
Esta força estranha_Capa_Lomb7,55mm.indd 1Esta força estranha_Capa_Lomb7,55mm.indd 1 20/09/2021 16:00:4220/09/2021 16:00:42
Esta força estranha_Capa_Lomb7,55mm.indd 2Esta força estranha_Capa_Lomb7,55mm.indd 2 20/09/2021 16:00:4820/09/2021 16:00:48
Esta força estranha© Ana Maria Machado, 1996
Presidência Mário Ghio JúniorDireção de Operações Alvaro Claudino dos Santos JuniorDireção Editorial Daniela Lima Villela SeguraGerência Editorial e de Negócios Carolina TresolavyCoordenação Editorial Laura VecchioliRevisão Hires Héglan e Luisa MarcelinoProjeto gráfico e diagramação Nathalia LaiaIconografia Claudia Bertolazzi (coord.) e Fernanda Crevin (tratamento de imagens)
Fotos Arquivo pessoal da autoraIlustrações Shutterstock
CL: 525634CAE: 760503
20217ª edição1ª tiragemImpressão e acabamento:
Direitos desta edição cedidos à Somos Sistemas de Ensino S.A.Av. Paulista, 901, Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01310-200 | Tel.: (0xx11) 4003-3061Conheça o nosso portal de literatura Coletivo Leitor: www.coletivoleitor.com.br
Machado, Ana Maria, 1941- Esta força estranha : trajetória de uma autora / Ana Maria Machado.
– 7. ed. – São Paulo : Atual Editora, 2021. 80 p.
Prêmio Jabuti – Melhor livro juvenilISBN 978-65-5739-003-0
1. Escritoras brasileiras – Biografia 2. Machado, Ana Maria, 1941-- Biografia I. TítuloIII. Título. IV. Série
21-3406 CDD-928.6981
Angélica Ilacqua - Bibliotecária - CRB-8/7057
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 4Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 4 20/09/2021 15:45:5320/09/2021 15:45:53
PrefácioDe vez em quando, o esperado acontece: o escritor escreve um livro, o editor publica, os alunos leem.
O inesperado, às vezes, também costuma acontecer: o professor convida o autor para ir à escola conversar com os alunos.
A partir de 1977, quando publiquei meu primeiro livro, tenho vivido alguns momentos esperados (escrevo pou-co, culpa da lentidão e preguiça) e inúmeros inesperados.Nestes, sempre tem me emocionado o interesse do leitor pelos caminhos do autor. Pelos segredos daquele livro, ali, ao alcance da mão, pronto para ser autografado, e de todos os outros, anteriores e futuros. Sobretudo os futuros.
Nos livros da coleção Passando a Limpo, cada autor vai tentar conversar com o leitor como se estivesse na sala de aula, num daqueles encontros inesperados, ou na sala da casa de um deles, mais inesperado ainda.
Cada autor vai tentar se lembrar dos sonhos passados, dos planos, dos trabalhos. E imaginar os futuros.
Vai tentar não só responder às possíveis perguntas do leitor, mas também – e principalmente – perguntar.
Pois os livros são perguntas, mais que respostas. In-dagações, questionamentos.
Em Esta força estranha – trajetória de uma autora, Ana Maria Machado, escritora, jornalista e tradutora, per-gunta mais que responde. Indaga, questiona. Capítulo após capítulo, parágrafo após parágrafo.
Tenho certeza de que o leitor, no burburinho da sala de aula, ou no aconchego de sua casa, haverá de comemorar a
Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 5Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 5 20/09/2021 15:45:5320/09/2021 15:45:53
inesperada descoberta dos segredos e mistérios da autora--personagem. Alguns deles, apenas, pois os outros, ciosa, ela guarda para os livros futuros. A sete chaves.
P.S.: Quando sugeri a Henrique Félix, então editor da Atual, esta série de depoimentos, ficamos com uma pergunta: qual seria o seu nome?
A resposta veio de um dos momentos inspirados de Fanny Abramovich, autora de tantos livros.
Saímos ganhando: além do título bonito e opor-tuno, tornamos a aprender que pensar junto vale a pena, sempre.
Vivina de Assis Viana
Coordenadora da coleção
Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 6Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 6 20/09/2021 15:45:5320/09/2021 15:45:53
Ora, direis, ouvir histórias 11
Primeiras histórias 23
Felicidade clandestina 35
A palavra escrita 47
A palavra chama 59
Como uma onda no mar 71
Outras obras da autora 87
Sumário
Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 7Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 7 20/09/2021 15:45:5320/09/2021 15:45:53
Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 8Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 8 20/09/2021 15:45:5320/09/2021 15:45:53
Por isso uma forçame leva a cantar.
Por isso essa força estranha...Por isso é que eu canto,
não posso parar,por isso esta voz,
esta voz tamanha...
(Força estranha, Caetano Veloso.)
Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 9Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 9 20/09/2021 15:45:5320/09/2021 15:45:53
Com vovó Neném e meus irmãos, em 1950.
Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 10Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 10 20/09/2021 15:45:5320/09/2021 15:45:53
11
Ora, direis, ouvir histórias...
Quando era criança Vivi, sem saber, Só para hoje ter
Aquela lembrança.
É hoje que sinto Aquilo que fui.
Minha vida flui,
Feita do que minto. Mas nesta prisão,
Livro único, leio O sorriso alheio
De quem fui então.
(Fernando Pessoa.)
Música pra mim era parte do mundo natural – soprava e passava. Como a brisa ou o barulho das ondas que me em-balavam na casa de praia. Pura natureza, som de grilo na noite, manhã de passarada, voz de minha mãe ou de meu pai pelos cantos da casa. Hoje eu sei que tenho que me ligar a uma tecnologia para ouvir Mozart, Tom Jobim ou Miles Davis ou tenho que sair de casa para ir a um show do Chico ou a um concerto da Sinfônica. Sou consciente dos sécu-los de herança cultural implícita até mesmo na música que acompanha meu quotidiano enquanto ouço o violão do Lourenço, ou quando ele e os amigos se reúnem em nos-sa casa em Manguinhos para ensaiar e preparar um novo disco ou show. Vivo imersa em música, como no ar. Mas sei que, se o ar é feito diretamente por Deus (ou seja lá que nome se dê ao princípio cósmico da criação), para a música
Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 11Esta forca estranha_Miolo_001a080_135x205mm.indd 11 20/09/2021 15:45:5320/09/2021 15:45:53