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UNICAMI"' Rute Estanislava Tolocka Estabilidade motora de Pessoas Portadoras de Síndrome de Down, em tarefas de desenhar Tese apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de doutor em Educação Física Orientador: Prof. Dr. Ademir de Marco Co-orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Gardel Kurka Campinas, 2000 UN SEÇÃO

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UNICAMI"' Rute Estanislava Tolocka

Estabilidade motora de Pessoas Portadoras de

Síndrome de Down, em tarefas de desenhar

Tese apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de doutor em Educação Física

Orientador: Prof. Dr. Ademir de Marco Co-orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Gardel Kurka

Campinas, 2000 UN

SEÇÃO

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BffiLIOTECA-FEF UNICAMP

T585e Tolocka, Rute Estanislava

Estabilidade motora de pessoas portadoras de Síndrome de Down, em tarefas de desenhar I Rute Estanislava Tolocka. -­Campínas, SP: [s.n.], 2000.

Orientadores: Ademir de Marco, Paulo Roberto Gardel Kurka

I. Down, Síndrome de. 2. Estabilidade. 3. Comportamento humano. 4. Deficiência mental. 5. Educação Física I. Marco, Ademir de. li. Kurka, Paulo Roberto Gardel. ill. Título.

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Este exemplar corresponde à redação final da tese de doutoramento

defendida por Rute Estanislava Tolocka e aprovada pela comissão

julgadora em 11 de Fevereiro de 2000.

Campinas, 26 de Maio de 2000.

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I

orientador'·,

c;(~~ co-orientador

UNICAMP

SEÇÃ l.

iii

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Investigação conduzida através do Departamento de Educação Motora da

Faculdade de Educação Física, UNICAMP

e

Departamento de Projeto Mecânico da Faculdade de Engenharia Mecânica, UNICAMP

Suporte Financeiro: CNPq

UNICAMP

iv

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DEDICATÓRIA

Não fosse o Eterno, que esteve ao meu lado (todos os que vivenciaram comigo esta trajetória que o digam!) Não fosse o Senhor dos Exércitos, que esteve ao meu lado quando todas as dificuldades começaram a se avolumar E elas me teriam engolido viva ... Bendito seja o Deus de Israel, que não me deu por presa às aflições Salvou a minha alma, como um pássaro do laço do passarinheiro E me fez encontrar descanso ... Como agradecer-te, oh Altísimo, por tanto amor e cuidado? Render-te-ei graças, de todo o meu coração E na presença dos poderosos te cantarei louvores.

A ti seja todo o louvor!

(Salmo 124 e 138- parafraseado)

v

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Ademir de Marco e ao Prof. Dr. Paulo Roberto Gardel Kurka, orientadores deste estudo

Ao Prof. Dr. Luiz Eduardo Barreto Martins, Prof. Dr. Ricardo Machado Leite de Barros, Prof. Dr. Edison de Jesus Manoel, Profa. Dra. Eliane Mauerberg de Castro, Prof. José Luiz Rodrigues, e a Profa. Dra. Marli Nabeiro, que analisaram este trabalho

Aos pesquisadores do Departamento de Projeto Mecânico da FEM­Heraldo, Salustiano e Emerson e do Laboratório de Instrumentação Biomecânica da FEF- Roberto, Paulo e Milton

À minha família, suporte espiritual, emocional, computacional, artesanal, financeiro e ortográfico, aos amigos e aos irmãos com diferentes contribuições e aos que se deixaram observar, desenhando

À Prefeitura Municipal de Paulínia, à Universidade Federal de Juiz de Fora, pelas licenças concedidas e ao CNPq pelo suporte financeiro

D f_

SEÇÃO

vi

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01

01 02 03 a 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

1 2 3 4

Lista de quadros

Análise da estabilidade do movimento

Lista de figuras

Figura reproduzida pelos participantes do estudo Numeração dos Segmentos da figura proposta Box and whisker display Evolução em torno da elipse- Tarefu OI Box and whisker dísplay- Status dinâmico- Tarefa O 1 Box and whisker dísplay Tempo Total-Tarcfu 01 Box and whisker display- Distância Total- Tarefa O 1 Box andwhisker display- ·rempo de fuse aérea- ·rarefu 01 Box and whisker display- Distância fase aérea- Tarefu O l Box andwhisker disp!ay- Escala ut.ilizada- Tarefa 01 Box and whisker display- Erro de escala - Tarefu 01 Box and whisker display- Status Dinâmico- Tarefu 02 Box and whisker display- Status Dinâmico- Tarefu 01 e 02 Box and whisker display- Tempo total- Tarefa 02 Box and whisker dísplay- Tempo Fase aérea- Tarefa 02 Box and whisker display- Distância Total - Tarcfu 02 Box and whisker dísplay- Distância fu.<>e aérea- Tarefa 02 Box and whisker display- Perímetro da figura- Tarefu 02 Box and whisker display- Escala da figura- tarefu 02 Box and whisker display- Erro de escala - tarefu 02 Box and whisker display- Status dinâmico - tarcfu 01 c 03 Box and whisker display- Tempo Total- tarefa 03 Box and whisker display -Distância Total- tarefu 03 Box and whisker display- Escala- Tarefu 03 Box and whisker display- Erro de escala - tarefu 03

Lista de gráficos

Exemplo de deslocamento realizado e a elipse de inércia Exemplo de curva de evolução da distância em relação à elipse de inércia Exemplo de Padrão de movimento de cada execução Exemplo da Estabilidade do sistema (status dinâmico)

67

73 75 83 94 96 97 97 98 98

108 112 112 113 113 114 114 114 114 117 120 121 121 122 124

vii

57 57 58 58

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5 6 7e8 9 a20 21 a44 45 46 a 57 58 59 a 70 71

01

01 02 03

Exemplo de deslocamentos realizados Exemplo de deslocamento realizado X deslocamento proposto Exemplo de Deslocamento realizado e as fases aéreas Status dinâmico do sistema- tarefa OI Erros na Figura- tarefa OI Freqüência relativa dos erros na figura- tarefa OI Status dinâmico- tarefa 01 x tarefa 02 Freqüência relativa dos erros -tarefa 02 Padrão de Movimento -tarefa OI e 03 Erros na figura- tarefa 03

Lista de tabelas

Número de figuras traçadas na tarefa 02

Lista de apêndices

Glossário Folha de respostas para a tarefa O I Folha de observação

viii

61 66 76 95

100 107 llO l15 l19 123

l16

166 174 176

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Sumário

Lista de quadros Lista de figuras Lista de gráficos Lista de tabelas Lista de Apêndices

vii vii vii

viii viii

Introdução ................................................................................................................................... 1

1 A Pessoa Portadora de Síndrome de Down ..................................................................... 6

1 .1 Características gerais da pessoa portadora da Síndrome de Down .. .......... .. ... . ................... .... 9 1.2 Contribuições de estudos sobre comportamento motor para a caracterização da Pessoa Portadora de Sí ndrome de Down .. ... .. . ... . . . . .. . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . . .. ... . . . . . . ... . . . . . . ... . . . . . . . . . .. .. . . . .. . . . .. .. . . . .. 12 1 .3 Resumo do capítulo............................................................................................................... 24

2 Estudos sobre o comportamento motor humano ........................................................... 25

2.1 Abordagem cognitivista ... ....................... .................................................... ......................... .. 28 2.2 Abordagem Sistêmica .............................. ..... .............................. ...................... ................... .. 32 2.3 Imprecisões teóricas............................................................................................................. 36 2.4 Tentativas de aproximação das abordagens cognitivistas e sistêmicas para o estudo do comportamento motor humano .................................................................................................... 40 2.5 Resumo do capítulo ................................................................................................................ 42

3 Proposta para o estudo da estabilidade do comportamento motor .............................. 45

3.1 Comportamento motor e a estabilidade do sistema............................................................. 47 3.2 Proposta para o estudo da estabilidade do sistema ............................................................ 51

3.2.1 Estabilidade do Sistema .................................................................................................................. 52 3.2.2 Estratégias de Movimento do Sistema ............................................................................................. 59 3.2.3 Qualidade de execução do movimento ............................................................................................ 61

3.3 Resumo do capítulo ............................................................................................................. 66

ix

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4 Met<Kiologia ........................................................................................................................................ 68

4.1 Classificação da pesquisa ...................................................................................................... 69 4.2 População.............................................................................................................................. 69 4.3 Material e Métodos. ............................................................................................................... 70

4.3.1 Sistema de registro •...........................................•............................................................................. 71 4.3.2 Questões de Estudo ..•..............................................•............•...........•.............................................. 72 4.3.3 Tarefas 1rtilizadas ............................................................................................................................ 72 4.3.4 Modelo de análise utilizado ............................................................................................................ 75 4.3.5 Tratamento dos dados adquiridos pela mesa digitalizadora ............................................................... 76 43.6 Anãiíse estatística. ••••....••.••.••.......•••.....•..•.•......•.•...••.•.•...•..•....•...•..••.•......•.•..•.•......•.•....••.....•........... 78

4.4 Resumo do capítulo............................................................................................................. 79

5- Resultados ........... _ ........................................................................................... - .... _ ........................... 80

5.1 -Tarefa 01 ............................................................................................................................. 81 5.2 -Tarefa 02 ............................................................................................................................. 109 5.3-Tarefa03 ............................................................................................................................. 118

6- Discussão ........................ u."'············ .. ···············--·············· .. ···················--··--·······"'··· .. ·· .. ········ 125

6.1 Estabilidade do comportamento motor ................................................................................. 126 6.2 Efeitos da prática .. . ..... . . . .. . . . .. . . . ... . . . .. .. . . . . .. . . . .. . . . . . .. . . .. . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... ... . . . 133 6.3 Modelodeestudo ................................................................................................................ 137 6.4 ResumodocapítuiO .............................................................................................................. 139

7- Conelusões ...................................................................................................................................... 141

Bibliografia ...................................................................................................................... 145

X

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RESUMO

TOLOCKA, Rute Estanislava. Estabilidade motora de Pessoas Portadoras de

Síndrome de Down, em tarefàs de desenhar. Campinas. Faculdade de Educação Física,

Universidade Estadual de Campinas, 2000. Tese de Doutorado.

Este estudo propõe uma técnica para analisar o comportamento motor de Pessoas

Portadoras de Sindrome de Down (PPSD). O movimento é considerado corno um sistema

hierárquico com restrições fisicas, que podem ser observadas através de elementos

cinemáticos c geométricos, tais como tempo de movimento, distância, escala c

desenvolvimento em tomo da elipse central de giração. Tal observação permite a

comparação entre o status dinâmico e as estratégias de movimento, possibilitando a

descrição matemática da estabilidade e a inferência a processos mentais que atuam na

coordenação da ação. Esta técnica foi utilizado para analisar a estabilidade motora de

PPSD em tarefàs de desenhar. Os resultados foram comparados aos de Pessoas Portadoras

de Deficiência Mental (PPDM) e Pessoas sem Deficiência Mental conhecida (Ps/DM),

visando a identificação de características que pudessem estar ligadas a esta síndrome. As

PPSD apresentaram inconsistência no padrão de movimento, sensibilidade e dificuldades

de adequação a modificações nas exigências da tarefà, estratégias diferenciadas de

movimento e déficits no desenvolvimento motor. Entret..anto, estas caracterísücas não

puderam ser atribuídas a esta síndrome, dado que a diferença entre o grupo de PPSD e

PPDM não foram sempre estatisticamente significativas, embora o fossem entre estes dois

xi

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grupos e as Ps/DM. A prática da tarefà não foi suficiente para provocar mudanças no

status dinâmico do sistema, mas levou à padronização espacial, o que pode ser indicativo

da fonnação de uma macroestrutura para coordenar o movimento. O estudo indicou

também que pessoas portadoras de deficiência mental de ambos os grupos têm

comportamento motor instável e desenvoivirnento motor diferenciado. Os resultados

mostram ainda que o modelo de estudo utilizado é adequado para a observação do

comportamento motor de PPSD e pode contribuir pa..<t a descrição de características

motoras ligadas a esta síndrome.

Xll

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Abstract

TOLOCKA, Rute Estanislava Motor stability of people with Down Syndrome

during drawing tasks. Campinas. Faculdade de Educação Física, Universidade Estúdual de

Campinas, 2000. PhD Thesis

The work pro poses a technique for analysis of the motor behavior of People with

Down Syndrome (DS). The movement is considered as coming from a hierarchical system

with physical constraints that may be observed through k:inematics and geometric elements

like movement time, distance, scale and displacement about central ellipse of gyration.

Such observation permits a comparison between the dynamical status and strategies ofthe

movement, allowing the rnathematical description ofthe stability and inferences to mental

process that would work in the coordination of the action. The technique was used to

analyse the motor stability of DS during drawing tasks. The results were compared with

people with Mental Retardation (MR) and people without disabilities (ND) in order to

identify characteristics of such syndrome. DS showed inconsistent movement pattems,

sensibility and difficulties to adequate themselves to the modifications in the task,

different strategies of movement and motor development deficits. However those

characteristics could not be attributed to such syndrome because the difference between

DS and MR were not statistically significam, although it was significant among them and

ND. Thc amount ofmovcmcnt training pcrformcd in thc study was not sufficicnt to bring

about the dynamic status of the system but brought a spatial standardization, that may

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indicate the formation of a macro-structure to control the action. The study indicated that

mcntally rctardcd pcoplc from both groups havc unstablc motor bchavior and diffcrcnccs

in the motor development. The results also show the model o f study present here is suitable

to observe the motor behavior of DS and might contribute to descriptions of motor

characteristics linked to such syndrome.

XIV

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Introdução

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A Síndrome de Down vem sendo estudada desde 1866, quando foi descrita pela

primeira vez, porém, pouco se sabe sobre suas conseqüências sobre o comportamento

motor. O desconhecimento de tais características dificulta a intervenção a ser oferecida

para a aprendizagem ou recuperação motora, limitando o desenvolvimento das pessoas

portadoras desta síndrome.

Esta escassez de informação está ligada à dificuldade existente para a avaliação

destes casos, tanto no nível clínico ou pedagógico, quanto em procedimentos científicos.

FIGUEIREDO (1997), observou que, mesmo em instituições especializadas, a avaliação é

ineficiente. SEAMAN (1988a e b), apontou vários problemas relacionados a avaliação das

caracteristicas desta população, a qual tem sido objeto de diferentes classificações, com

diferentes níveis de habilidade funcional e com condições que limitam a eficácia de algum

procedimento de medida.

BAUMGARTNER (1988), acrescentou que é problemático estabelecer normas

para critérios de referência, pois a população disponível para observação é muito pequena e

de dificil acesso. Além disto não há testes de base para a validação dos testes recém criados

e os existentes nem sempre foram normatizados para esta população. Sendo assim a

validade e confiabilidade ficam comprometidas, pois as necessidades fisicas e os níveis de

aptidão são diferentes tanto entre os indivíduos portadores de deficiências, quanto entre eles

e os indivíduos que estão dentro da curva normal de desempenho.

YSSELDYKE, SHINN(1981), citaram como problemas encontrados na avaliação o

uso de testes tecnicamente inadequados, aspectos tendenciosos da avaliação (relacionados

com experiências anteriores e características raciais e sócio culturais tanto do observador

quanto do grupo observado) e a falta de clareza nos objetivos da avaliação. A avaliação

feita nos procedimentos utilizados em reabilitação, de acordo com PERRY (1990), são

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baseadas em normas descritivas que envolvem a experiência clínica e são, na maioria,

subjetivos, carecendo de base científica.

BLOCK ( 1991 ), analisando as dificuldades e problemas com a utilização de testes

para avaliação de Pessoas Portadoras de Síndrome de Down (PPSD), apontou a necessidade

de criação de novos instrumentos que possibilitassem mais informações descritivas sobre

movimentos por elas realizados.

Este estudo teve como um de seus objetivos principais a elaboração de um modelo

de avaliação que se adequasse ao estudo do comportamento motor de Pessoas Portadoras de

Síndrome de Down, enfrentando o desafio sobre a avaliação existente nesta área e

possibilitando a comparação com outros grupos de pessoas visando a identificação de

características que pudessem estar ligadas a esta anomalia.

Buscou-se um modelo que permitisse a aproximação entre pesqmsa básica e

aplicada, uma vez que várias abordagens e técnicas utilizadas na clínica e na pedagogia

estão sendo consideradas inadequadas, tanto prática quanto teoricamente, e que a aplicação

de conhecimentos científicos pode diminuir os danos causados pela deficiência.

Porém, como observou NATIV (1993), as exigências da prática I são um grande

impedimento para que isto aconteça, pois enquanto a especificidade deve ser apropriada

para o campo de domínio, a aplicabilidade sugere a conformidade da ciência com

procedimentos do campo de domínio. As exigências da aplicabilidade são quase

diametralmente opostas à filosofia das ciências básicas, que procuram por generalização.

Além disto, qualquer área de investigação está adentrando em um estado de instabilidade

por definição, o que pode confundir muitos terapeutas.

LATASH ( 1993 ), assinalou que as observações clínicas apresentam sérios

desafios para qualquer modelo de comportamento motor porque a linguagem dos relatos

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clínicos difere substancialmente da linguagem teórica ou experimental dos estudos em

comportamento motor, fazendo-se necessária uma espécie de tradução. Além disto, a

patologia do movimento é definida, geralmente, em termos de sinais e sintomas ao invés

de mecanismos.

Apesar destas dificuldades, o autor incentiva a aproximação entre a pesquisa básica

e a aplicada. Para ele, aplicar o conhecimento disponivel sobre o sistema de controle motor

intacto para entender uma patologia e testar a eficácia de novos métodos de tratamento,

pode aumentar o conhecimento sobre os mecanismos das desordens motoras. Por outro

lado, o estudo da patologia aumenta o conhecimento sobre o sistema de controle motor

intacto.

O número especial da Revista Brasileira de Fisioterapia, que publicou os estudos

apresentados no III Congresso Internacional de Reabilitação Motora, em out/98, revelou

que vários estudiosos em comportamento motor têm estudado populações especiais, tais

como ANSON et ai.. (1998), GABLE (1998), LATASH (1998), LEVIN (1998), MANOEL

(1998a), POPOVIC (1998), ou ULRICH (1998) enquanto que profissionais da área clínica

têm buscado suporte nas teorias sobre comportamento motor.

Assim, a busca de conhecimento sobre a Pessoa Portadora de Síndrome de Down

(PPSD), reconhecendo a distância existente entre pesquisa básica e aplicada, culminou na

opção feita aqui pela elaboração de um modelo de estudo que permitisse observar tarefas

vivenciadas na vida cotidiana das instituições. Objetivou-se com este modelo, analisar a

estabilidade do comportamento motor das PPSD, verificando se as características

observadas poderiam ou não ser atribuídas a esta Síndrome.

A revisão bibliográfica sobre as características destas pessoas é apresentada no

capítulo um e no dois analisa-se modelos de estudo do comportamento motor, buscando

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conceitos que possam nortear a busca de informações para a caracterização do

comportamento.

A proposta de estudo é explicitada no capítulo três, inserindo-se dentro das

tentativas de aproximação da abordagem cognitivista com a sistêmica, pressupondo que o

movimento possui características de um sistema dinâmico hierárquico, com

particularídades fisicas que podem ser observadas com formulações matemáticas e

restrições cerebrais que podem ser inferidas a partir da análise de variáveis cinemáticas.

Para que a coleta de dados pudesse ser feita dentro da instituição, fez-se a opção

por uma forma de registro de dados que pudesse ser de fácil transporte, sendo ao mesmo

tempo economicamente viável. O sistema de registro e análise de dados, bem como as

tarefas utilizadas neste experimento, são descritos no capítulo quatro.

O capítulo cinco mostra os resultados obtidos e o seis os discute, discorrendo

também sobre a adequação da metodologia utilizada para responder as questões deste

estudo.

Concluindo, o capítulo sete, aponta para as diferenças encontradas entre os grupos,

caracterizando o comportamento motor das PPSD, o qual nem sempre se diferenciou das

Pessoas Portadoras de Deficiência Mental, sendo possível que algumas das alterações

encontradas estejam ligadas à deficiência mental e não especificamente a esta síndrome.

Sugere-se novos estudos, tanto para aumentar a consistência dos achados aqui reportados,

tendo em vista o reduzido tamanho da amostra analisada, quanto para elucidar outros

aspectos do comportamento motor aos quais este modelo de estudo pareça ser adequado

para análise.

5

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1 A Pessoa Portadora de Síndrome de Down

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A Pessoa Portadora de Síndrome de Down (PPSD) possui uma anormalidade

autossômica que foi descrita mais compreensivamente por John Langdon Down, em 1866,

sob a denominação de 'mongolian idiocy' (idiotia mongolóide) e está associada à

deficiência mental.

A classificação indicada pela Organização Mundial de Saúde (1978), para estes

casos é de 'Anomalia cromossômica' (758), tipo 'Síndrome de Down' (758.0); outros

preferem a denominação de Trissomia do 21.

GROUCHY, TURLEAU (1990), apontaram que esta anormalidade acomete um em

cada 700 bebês, e aparece em diferentes etnias e grupos sócio-culturais. Dentre as causas

apontadas para esta aberração cromossômica, encontra-se a idade materna e alterações

genéticas nos pais. No caso da idade materna, a base biológica para esta alteração ainda é

desconhecida e entre as sugestões estão a demora na fertilização e a idade do óvulo, mas

foi encontrada forte correlação entre o nascimento de bebês com esta síndrome e mães com

idade acima de 36 anos.

ALLEN et a!. (1971), relataram correlação de 1/2300 em mães com idade entre 20-

25 anos e 1/45 em mães com 45 anos de idade e MlLUNSKY (1973) apontou o risco de

1.5% para mães entre 35 -39 anos de idade gerarem bebês com anormalidades genéticas,

aumentando o risco para 1.6% para a faixa etária de 40 a 44 anos. Dados mais recentes

apresentados por GROUCHY, TURLEAU (1990), apontam o índice de 0.9 para cada

1000 nascimentos no caso de idade inferior a 33 anos, subindo para 2.8/1000 entre 35-38

anos e 38/1000 aos 44 anos de idade.

KREBS (1995), demonstrou que 25% dos casos de nascimento destes bebês foram

correlacionados à má-formação genética dos pais. Outras causas estariam relacionadas à

7

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exposição ao nuo X, administração de certas drogas, problemas hormonais ou

imunológicos, esperm.'!Wcidas e infecções virais específicas.

A gestação destes bebês é um pouco mais curta do que a dos outros (270 dias ao

invés de 282), o peso é menor (em média 2900 g) bem como o perímetro encefálico (é

menor do que 30 em em 40% dos casos). Geralmente estes bebês possuem pobre atividade

reflexa e dormem a maioria do tempo. Eles apresentam dismorfismo facial: as fontanelas

são largas, as suturas largamente separadas, as faces são redondas, com superfície plana; a

fissura palpebral é inclinada para o alto e para fora, a boca é pequena e se abre com uma

grande protuberância da língua; as orelhas são pequenas e redondas, o nariz é pequeno e

tem uma ponte chata e há abundância de pele no pescoço. A confirmação do diagnóstico

se dá por análise de caríótipo.

Foram detectados três tipos de caríótipos nestes casos: tríssomia livre, trissomia por

translocação e mosaicismo.

A trissomia do 21, segundo GROUCHY, TURLEAU (1990), é responsável por

92.5-95% dos casos e resulta na disfunção durante a meiose em um dos pais. Nela ocorre

a presença de um cromossomo extra no par 21 em todas as células.

A translocação ocorre entre o cromossomo 21 e um cromossomo do grupo D,

geralmente o 14 [t(14q2la)] ou entre um 21 e um 22 [t(2lq22q)] ou entre o próprio

cromossomo 21 [t(2lq21q)] e perfaz um total de 4.8% dos casos. Os casos de translocação

não estão correlacionados à idade materna.

O mosaicismo é observado em cerca de 2. 7% dos casos e refere-se à trissomia livre.

São observados dois tipos de tecido: um com trissomia do 21 e outro normal. É

considerado um evento pós-zigótico, que ocorre após a fertilização e acarreta grande

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variabilidade da expressão fenotípica em seus portadores, podendo ser semelhante a

desenvolvida nos casos da trissomia do 21 ou ser muito pouco alterada.

Ainda de acordo com estes autores, as características fenotípicas deste grupo são:

baixa estatura, com evolução masculina em média 154 em, e feminina, 144 em. O

dismorfismo facial muda com a idade, tomando-se menos pronunciado, e as faces tendem a

ruborizar-se e mostrar envelhecimento precoce; a voz é gutural e a articulação é

geralmente deficiente.

A puberdade ocorre normalmente, ou um pouco atrasada, em ambos os sexos; a

libido e os caracteres sexuais secundários são pouco manifestados. Quando se reproduzem,

a previsão é de igual número para descendentes com ou sem a tríssomia, embora mesmo

com um cariótipo normal os descendentes podem apresentar deficiência mental. Não há

referências à fertilidade masculina, e mesmo no sexo feminino, de acordo com VOGEL

(1990), a reprodução é rara.

1.1 Características gerais da pessoa portadora da Síndrome de Down

BLOCK (1991), fez uma revisão na literatura sobre características destas pessoas.

Dentre as principais alterações encontradas, ele citou: anormalidades do esqueleto, má­

formações cardíacas múltiplas, hiperflexibilidade e hipotonía.

A anormalidade do esqueleto mais importante, para ANTONY (1986), é a

instabilidade atlanto-axial pelo tipo de lesão medular grave que pode causar, sendo fator

limitante para a prática de atividade motora. Estudos no Brasil apontam para uma

incidência de 13% dos casos - BOY et al. (1995), CHUEIRE et a/. (1990), números

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semelhantes aos encontrados no exterior. - COOKE (1984), PUESCHEL et al. (1987),

MSALL et al. (1990).

PUESCHEL et al (1992), fizeram um estudo longitudinal para verificar se

ocorreriam mudanças na estrutura cervical destas pessoas. Eles observaram 141 casos,

através de exames radiológicos na posição lateral da coluna cervical, em flexão, extensão,

e em posição neutra, encontrando mudanças entre 1 e 1.5 mm em 92% dos casos, e 8% dos

casos com mudanças de 2 a 4mm.

Estes autores recomendaram a realização de exames radiográficos periódicos em

crianças portadoras de Síndrome de Down (SD), como medida preventiva, especialmente

para a prática de atividades motoras.

Em 1995, o Comitê de Medicina de Esporte e Fitness da Academia Americana de

Pediatria (AAP) retirou a obrigatoriedade de exames deste tipo, feita em 1984, alegando,

dentre outros motivos, que tais exames não estavam sendo realizados de acordo com a

técnica sugerida, e tinham altos custos financeiros. Além disto, não havia sido

substancialmente demonstrado que a instabilidade atlanto-axial é precursora da

compressão medular sintomática- AMERICAN ACADEMY OF PEDRIATRICS (1995).

PUESCHEL (1998), contestou tal medida, argumentado que embora tais exames

não fossem testes perfeitos e não preenchessem os critérios propostos, não havia outro

método disponível para identificar indivíduos sob este risco. Quanto aos custos

econômicos, ele alegou que a maioria das pessoas portadoras desta síndrome possuíam

seguro saúde. O autor observou que as medidas sugeridas pela AAP não tinham suporte na

literatura como sendo preventivas para os casos de instabilidade atlanto-axial sintomática.

Ele sugeriu ainda que o não engajamento de pessoas com instabilidade atlanto-axial

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assintomática em atividades físicas pode ter evitado que elas se tornassem sintomáticas,

diminuindo a possibilidade de correlação entre esta condição e a condição sintomática.

COHEN (1998) analisou os argumentos de Pueschel e os da AAP e conclui que

existe uma grande necessidade de encontros de profissionais da área para ponderar sobre

ambos os posicionamentos e sugerir medidas mais eficazes. O autor apresentou ainda uma

nova técnica de avaliação desta instabilidade, desenvolvida por White e seus colegas,

observando que a aplicação da mesma parece promissora para detectar indivíduos que estão

sob o risco de uma compressão medular.

Outras má-formações relativas à coluna cervical encontradas são: costela cervical,

hipoplasia de C 1, artrose, espinha bífida, dentre outras, de acordo com PUESCHEL et al.

(1990), CHUEIREetal. (1990),RAJANGAM, S etal. (1997).

V ARELA, SARDINHA (I 995), numa revisão bibliográfica sobre estudos com

PPSD e condições cardiovasculares, concluíram que as mesmas têm baixo desempenho

cardiovascular, baixa força e resistência muscular, sendo ainda diferentes de outras Pessoas

Portadoras de Deficiência Mental sem esta síndrome, na capacidade cardiovascular, na

resposta cardiovascular ao exercício na musculatura esquelética e na endurance.

A má-formação cardíaca é a maior causa de mortalidade entre os bebês com esta

síndrome, sendo o defeito mais comum o do septo ventricular, e muitos do casos recebem

indicação cirúrgica de acordo com RAJANGAM et al. (1997), Hilli et al. (1997) e

RELLER, MORRIS (1998)

Estudos de PITETTI et al. ( 1992), compararam a capacidade cardiovascular de

PPSD com Pessoas Portadoras de Deficiência Mental sem a síndrome (PPDM),

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encontrando aumento significativo nos índices de pico de V02, VE, HR para o segundo

grupo. Estudos de FERNHAL et al. (1996), confirmaram estes resultados.

O treinamento de capacidades cardiovasculares em PPSD não causou melhoras nas

mesmas, no estudo realizado por MILLAR et al. (1993), no entanto o treinamento

realizado por EBERHARD et al. (1997), demonstrou ser efetivo para a melhora de

diferentes componentes sangüíneos envolvidos na resposta metabólica, sugerindo que o

treinamento da resistência pode ter resultados de longo alcance.

Além das alterações citadas acima, outras são descritas na literatura, entre as quais:

anormalidades na visão - RAJANGAM, S et al. (1997), má- formação anoretal -

TORRES et ai. ( 1998), alterações cerebrais, como grande ventrículo lateral, alta freqüência

de cisto na fossa aracnoide posterior, volume total e volume de substância cinzenta

reduzido, assim como volume do hipocampo esquerdo e amígdala, volume do ventriculos

maiores, volume cerebelar menor- PEARLSON et al. (1998), AYLW ARD et ai. (1997).

1.2 Contribuições de estudos sobre comportamento motor para a

caracterização da Pessoa Portadora de Síndrome de Down

Embora a contribuição de estudos sobre o comportamento motor para a

caracterização da PPSD ainda seja bastante modesta, ela tem auxiliado no esclarecimento

sobre as mesmas.

Um exemplo pode ser dado com estudos sobre o controle motor destas pessoas e a

característica de hipotonia, geralmente associada a esta sindrome. Como observou

ALMEIDA (1993), não existe uma definição clara sobre o termo, o qual na maioria das

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vezes refere-se a diminuição na resistência a movimentos passivos. Esta característica foi

observada no estudo de COWIE (1970), ULRICH et a!. (1995), SAYER et a/.(1996),

mas questionada nos estudos de DA VIS, KELSO (1982) e ALMEIDA (1993).

Davis e Kelso realizaram experimentos envolvendo o movimentos de flexão e

extensão do dedo indicador sobre a articulação metacarpofalangeana, com e sem

tensionamento voluntário dos músculos, procurando descrever as propriedades mecânicas

estáticas do sistema músculo-articular.

Eles encontraram curvas paralelas e não interceptadas, proximamente idênticas

entre os dois grupos, evidenciando que a organização grossa que permeia o controle do

movimento em casos de Síndrome de Down é qualitativamente similar aos sujeitos

"normais", com uma característica invariante: curvas de torque dos ângulos das

articulações. Houve grande similaridade nos resultados de ambos os grupos, com diferenças

apenas no efeito de torque.

A função para ambos os grupos foi linear. Uma análise qualitativa revelou

diferenças, sendo que PPSD apresentaram movimentos mais descontínuos e menos

estáveis, demorando mais para atingir o ângulo alvo, sendo menos capazes de manter a

posição de equilíbrio, mas sendo capazes de aumentar os parâmetros de mudança

voluntariamente quando requeridos a tensionar sua musculatura contra a mudança.

Evidências indiretas sugeriram que estas pessoas têm reduzida capacidade de ativação

muscular, que pode estar associada com a habilidade de regular mudanças musculares.

DA VIS, SINNING (1987), estudaram a influência do treino na mudança de

comprimento de um músculo sobre uma mudança de força, comparando três grupos: PPSD,

PPDM e pessoas não portadoras de deficiência. Eles não obtiveram aumento significativo

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de força para nenhum dos grupos, atribuindo isto ao pouco tempo de treino. Os resultados,

corroboraram o lançamento da dúvida sobre a questão da hipotonia em PPSD, lançada por

DA VIS, KELSO (1982).

WEBER, FRENCH (1988), demonstraram aumento de força em adolescentes com

esta síndrome, através de um programa de treinamento de peso.

PITETTI et ai. (1992), compararam a força isocinética de extensão de braço e

perna de PPSD, PPDM e adultos sedentários sem deficiência mental. Os sedentários

mostraram índices significativamente mais altos em parâmetros isocinéticos, e as PPSD

índices mais baixos, indicando que tanto PPSD quanto PPDM possuem força muscular de

braço e perna inferiores às de pessoas sedentàrias "normais".

ALMEIDA (1993), demonstrou que tais indivíduos podem ativar apropriadamente

sua musculatura e produzir parâmetros cinemáticos e eletromiográficos similares a

indivíduos com aspectos neurológicos normais. Com o treino eles podem aumentar a

intensidade com a qual ativam os pools de motoneurônios, gerando força e movendo-se

rapidamente. O aumento no nível de ativação no pool de motoneuronios foi seguido por

uma ativação precoce da musculatura antagonista, como predito pela estratégia de

velocidade sensitiva.

Além da hipotonia, estudos sobre desenvolvimento motor têm alertado para

diferenças importantes entre as PPSD e as pessoas sem esta caracteristica.

Em uma revisão sobre a literatura relativa ao desenvolvimento motor desta

população, HENDERSON (1986), concluiu que a mesma mostrava que, em qualquer idade,

a criança com Síndrome de Down tendia a ser motoramente menos competente do que a

criança dita "normal", tendo padrão de progressão de movimento similar ao de pessoas

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sem esta síndrome, mas com estágios mais longos e declínio da performance com a idade.

Porém, ele observou que os achados sobre este tema envolviam medidas psicométricas e

empregos de testes cujas escalas tinham itens com pouca coesão e considerou o termo

"atraso no desenvolvimento" inadequado, dado as diferenças que podem ser notadas no

desenvolvimento, sugerindo que o mesmo seja substituído pelo termo "desvio de

desenvolvimento".

Estudos realizados após a revisão feita por este autor, utilizaram-se de outros tipos

de análise e também apontaram para diferenças no desenvolvimento motor. ULRICH,

ULRICH (1993), estudaram o desenvolvimento do andar em bebês com SD. Os estudos

longitudinais mostraram mudanças interessantes de comportamento: bebês bem jovens

produziram poucos padrões de comportamento e quase nenhum padrão de passos; houve

então um período com um pequeno número de passos e a organização de múltiplos

padrões inter-membros. Tanto os bebês com Síndrome de Down quanto os que não

tinham esta característica, foram capazes de produzir passos altamente coordenados e

consistentes, muitos meses antes de serem capaz de andar por si próprios.

Para os autores, o atraso na aprendizagem para andar demonstrado pelos bebês com

a síndrome, deveu-se à necessidade do organismo destes em esperar o desenvolvimento de

fatores adicionais que acompanham a força dos extensores da perna por causa das

diferenças evidentes nos sistemas biomecânicos e neuromusculares.

ULRICH et ai. (1995), compararam a emergência de passos sobre uma esteira em

bebês portadores desta síndrome e bebês não portadores. Eles acharam que os primeiros

também adquiriam respostas estáveis, mas levavam mais tempo para isto (em média 14

meses ),entretanto a habilidade para responder à esteira não estava relacionada à postura

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da perna, como para os bebês sem esta síndrome, e sim com o desenvolvimento da força e

controle do quadril. Os bebês com a síndrome tinham articulações de quadril e joelhos mais

instáveis, embora com maior movimento, menor tônus muscular e controle postura! mais

pobre.

SA YERS et al. (1996), descreveram o desenvolvimento de movimentos de passadas

em cinco bebês com esta síndrome, que participaram de um programa pediátrico de

intervenção, de acordo com um modelo interativo de facilitação progressiva, demonstrando

um aumento no nível de desenvolvimento motor destes. Eles observaram que a aquisição da

locomoção nestes bebês é muito individualizada e influenciada pela existência de déficts

congênitos e complicações clínicas prévias e que eles se desenvolvem numa seqüência

similar, porém mais lenta que a de bebês não portadores desta síndrome, sendo a presença

de hipotonia fator limitante para este desenvolvimento, necessitando de treinamento de

força para a musculatura dos membros inferiores.

ULRICH, et al. (1997), analisaram o processo de adaptação da dinâmica intrínseca

de movimentos de bebês com Síndrome de Down, comparando-o com bebês sem esta

característica. Para isto eles introduziram uma perturbação no movimento, colocando

diferentes pesos na perna direita do bebê. Ambos os grupos de bebês responderam à

perturbação com o aumento da freqüência de movimento na perna que não tinha o peso.

O limiar de sensibilidade à perturbação variou bastante entre os indivíduos e

mostrou que cada bebê possui uma dinâmica intrínseca única, sendo que bebês com a

síndrome podem ser capazes de perceber e responder a informações sobre o estado

dinâmico de seus membros tanto quanto os bebês sem ela, entretanto em grande proporção

bebês com ela foram menos sensitivos a estas informações, tendo tendência a manter o

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estado dinâmico original, na maioria das vezes tendo alto limiar de sensibilidade ou uma

capacidade diminuída para adaptar -se a informações sensoriais. Como esta sensibilidade é

importante para tarefas bilaterais, isto poderia explicar a demora para andar apresentada

pelos mesmos.

Estudos sobre os processos de aprendizagem motora têm procurado observar

diferenças entre PPSD e pessoas que não possuem esta síndrome. EDW ARDS et a/. (1986),

compararam a aprendizagem em adolescentes com e sem a síndrome, através da aquisição

na presença de Conhecimento de Resultados (CR) e na transferência de treino na ausência

de CR em tarefas semelhantes de antecipação de timing coincidente. Eles não encontraram

diferenças significativas entre os grupos ou tipos de treino, com relação à fase de aquisição

ou precisão do movimento na fase de transferência.

MOSS, HOGG ( 1987), estudaram mudanças ocorridas durante a aquisição de

habilidades para movimentos rápidos em dois grupos de oito crianças, um com a síndrome

e outro sem ela, com idade motora semelhante. Eles observaram como unidades

programadas são integradas em longas seqüências de ações, e se haveria relação entre a

habilidade de adquirir programas motores e a habilidade de produzir longas seqüências.

Utilizaram um experimento onde as crianças deveriam executar duas tarefas: na primeira

deveriam colocar num coelho um nariz, de forma triangular; na segunda, a posição do

coelho era revertida. Analisaram como a estrutura do movimento modificou-se com a

prática e como o desenvolvimento da integração dos componentes tornou-se parcialmente

sobreposta.

Eles hipotetizaram que aumento na proficiência da performance estaria associado

com o desenvolvimento de padrões estáveis integrados, nos quais os componentes seriam

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sobrepostos e que crianças com a síndrome deveriam mostrar reduções no processo, tanto

em termos de habilidade para integrar, quanto em fazer associações positivas com

competência. Os autores não conseguiram observar, porém, se havia diferenças entre os

dois grupos na maneira como transfeririam o movimento para outra direção porque eles

diferiram marcadamente em suas performances nas duas direções. A sobreposição ocorreu

tanto para a baixa proficiência quanto para o programa motor bom, sem diferença

significativa entre os grupos. As crianças mais proficientes em ambos os grupos

demonstraram altos níveis de integração, embora o grupo com a síndrome tenha obtido um

nível significativamente mais baixo de integração do que o outro.

LEFINRE (1989b), ao avaliar a capacidade visiomotora de PPSD, também

encontrou alta incidência de erros nas figuras tais como inversões, distorções nas formas e

imprecisões nos detalhes. Ela analisou a influência de experiências prévias, formando dois

subgrupos de PPSD, um com histórias de solicitação desde o primeiro ano de vida e o

outro com pessoas que não haviam recebido estimulação sistematizada e não encontrou

diferenças entre os grupos, o que a fez considerar ambos incapazes de copiar figuras

topológicas.

Para ela, a dificuldade apresentada pelas PPSD estaria ligada a possíveis diferenças

na organização cerebral, com deficiências nas conexões viso-espacial e occipitoparietal e

conseqüentes falhas na programação do movimento. Mas ela não fez referências a quais

experiências as pessoas com "história de solicitação" tinham vivenciado.

PEDRINELLI, T ANI (1994), observaram se PPSD desenvolveriam um esquema

motor através da variabilidade da pratica de tarefas de arremessar e da transferência de

performance para outra tarefa. Foram analisados grupos com PPSD e deficiência mental

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média e moderada, em dois tipos de prática: constante e variada. Eles não encontraram

diferenças significativas entre os grupos.

NABEIRO et a/. (1994), avaliaram 27 cnanças de 8-12 anos, portadoras da

síndrome, durante a realização de tarefas de arremesso em diferentes condições (em torno

da meta e contexto), onde foi solicitado que as mesmas fizessem três tipos de arremesso:

com força, em alvo estacionário e em alvo móvel. Os níveis de desenvolvimento foram

consistentes com as variações na tarefa, embora mudanças na meta da tarefa tenham

causado mudanças no status de desenvolvimento da criança. Os autores concluíram que

estas crianças podem ter reduzida capacidade de ajustar seu comportamento, embora as

mudanças apresentadas tenham sido similares aos estudos com pessoas não portadoras de

deficiências

DA VIS, SPARROW (1991) e HENDERSON et al. (1991), observaram que PPSD

têm tempo de reação mais lento. THOMBS, SUGDEN (1991), analisaram tarefas de pegar

e manipular objetos, encontrando alta variabilidade intra-grupo, e consistência da estratégia

variando de fonna não linear e apontaram para a dificuldade que PPSD têm em produzir

movimentos rápidos e adequar seu tempo com o tempo de algum padrão externo.

HODGES et a/. (1995), observaram que PPSD gastam mais tempo para a execução

do movimento. O grupo sem deficiências foi mais consistente, e todos os grupos foram

menos variáveis na ocorrência de feedback visual. Os dois grupos portadores de

deficiência não diferiram quando havia tal feedback mas quando este era eliminado as

PPSD eram mais consistentes.

Eles analisaram também o p1co de velocidade: as pessoas não portadoras de

deficiência tiveram os maiores valores de pico de velocidade e as PPSD obtiveram os

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menores, sendo que aqueles atingiram o pico de velocidade antes do que os outros, e na

ausência defeedback todos os grupos demoraram mais para atingir tal pico. PPDM e PPSD

exibiram falta de consistência nos picos de velocidade e aceleração, com grande correção

no perfil de aceleração.

Na ausência de feedback visual, ocorreu maior deterioração da performance de

pessoas portadoras de deficiência do que das não portadoras, PPSD exibiram maior

consistência de movimento do que PPDM, quando a visão era eliminada e gastaram mais

tempo para completar o movimento.

Os autores concluíram que isto poderia significar que as PPSD desejaram realizar o

movimento mais lentamente para conseguir atingir mais precisão, sendo assim uma

diferença devida à estratégia adotada para o controle motor e não necessariamente uma

diferença biológica, observação também feita por LATASH (1993), para quem a lentidão

na performance de PPSD é considerada como uma reação adaptativa, onde tais sujeitos

preferem executar movimentos em níveis sub-màximos de velocidade a sofrer o risco de

falhas em lugares inesperados, as quais provocariam ajustes e correções rápidas no

movimento, o que seria dificil por causa das condições deficientes de mecanismos

decisórios.

CHARLTON et ai. (1996), examinaram as características cinemáticas na ação de

pegar em 07 crianças portadoras da síndrome (8-10 anos), e 07 crianças sem com idade

cronológica equivalente, e 07 com idade de desenvolvimento equivalente, em tarefa que

utilizavam objetos de dois tamanhos e três funções diferentes. Todos os sujeitos tiveram

uma velocidade do pulso com duas fases claramente distintas: aceleração e desaceleração.

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Comparado aos outros dois grupos, as PPSD apresentaram performance mais lenta,

demonstrada tanto por tempo de movimento mais longo quanto por menor velocidade pico.

A demora dos movimentos de PPSD foi explicada pela longa duração da fase de

desaceleração durante a qual suas trajetórias exibiram um grande número de unidades de

movimento. É possível que PPSD sejam inconsistentes na geração de impulsos iniciais para

o aproximar-se e que a parte pré-programada de seus movimentos seja espacialmente

imprecisa. Assim, movimentos de correção seriam necessários na fase de desaceleração,

levando ao grande uso de informações dejeedbackvisual.

Para os autores as irregularidades de trajetória durante a fase de desaceleração e a

alta variabilidade de aceleração e desaceleração sugerem que a criança com Síndrome de

Down pode adotar um modo diferente de controlar o movimento para ações de aproximar­

se. Uma outra possibilidade é que irregularidades observadas na fase de desaceleração

podem ser devidas às dificuldades com a parte da ação de pegar, refletindo tateamento do

ponto de contato com o objeto. As diferenças encontradas sugerem diferenças qualitativas

no planejamento motor. Todavia, as diferenças não foram sempre estatisticamente

significantes, o que exige cuidados com as interpretações.

Há estudos que mostram que as PPSD podem completar o movimento com rapidez

e precisão similares às de pessoas sem esta síndrome, como o realizado por ELLIOTT,

WEEKS (1991), porém a análise da execução do movimento revela estratégias diferentes.

Os estudos de ALMEIDA (1993), também sugeriram que tais sujeitos são capazes

de realizar o movimento rapidamente, porém utilizando-se de diferentes estratégias. Ele

estudou os efeitos da prática e transferência na performance de movimentos rápidos de

única articulação em indivíduos com PPSD, relacionando medidas cinemáticas com sinais

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eletromiográficos, comparando os resultados de cada indivíduo no pré- e pós-testes, bem

como examinando as dez sessões de treino oferecidas aos 08 indivíduos com PPSD, entre

15 e 35 anos de idade. O experimento mostrou que com treino apropriado e em condições

bem padronizadas, estes indivíduos são capazes de aumentar significativamente sua

performance motora e transferir o que eles aprenderam em uma distância para outras

distâncias e posições iniciais diferentes.

Ele observou aumento no pico de velocidade, tanto para o pico de aceleração

quanto para o pico de desaceleração; como resultado os sujeitos gastaram menos tempo

para completar a tarefa, diminuindo o tempo de movimento proporcionalmente à

diminuição da fase de aceleração e desaceleração. Estes resultados são diferentes dos

reportados com pessoas neurologicamente normais, por exemplo no estudo de CORCOS et

a/. (1993), onde há grande redução na fase de desaceleração, ao invés da fase de

aceleração, e grande aumento no pico de desaceleração é observado, ao invés de aumento

do pico de aceleração.

ELLIOTT; WEEKS, (1993), utilizaram técnicas não invasivas para examinar as

similaridades e diferenças na organização cerebral e perceptiva-motora entre PPSD e

sujeitos normais. Com estas técnicas eles observaram que PPSD tiveram reduzida vantagem

na mão direita para digitação e grande consistência quando digitando com sua mão direita

comparada àmão esquerda, interpretando esta assimetria como superioridade do hemisfério

esquerdo para a parametrização e timing de forças musculares, concluindo que PPSD têm

hemisfério esquerdo especializado para a organização e controle da seqüência do

movimento.

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Esta especialização foi observada também em experimentos de transferência de

aprendizagem, onde ocorreu maior transferência do treino da mão esquerda para a direita,

e em estudos com interferência de fala na hora da digitalização, onde a produção de fala

prejudicou mais a performance da mão direita do que a da esquerda.

ANSON et al. (1998) e MARCONI et a/. (1998), comparando o controle de

movimento de PPSD e seus pares tidos como "normais", observaram diferenças entre eles.

No primeiro grupo estudou movimentos de braços, rápidos e discretos e reportou a falha

de dissociação entre a ativação da musculatura agonista e a antagonista. No outro grupo,

analisou o efeito do deslocamento angular e linear e a orientação espacial na co-variância

linear entre torques de cotovelo e ombro, encontrando diferenças no uso de torque (as

PPDS usaram mais o torque muscular do cotovelo do que o do ombro).

SOUZA (1998) estudou o uso de dicas específicas como estratégia de atenção

seletiva em PPSD. Para isto ela utilizou tarefas realizadas num jogo, produzido por um

software especialmente produzido para estudos de atenção seletiva. Ela não encontrou

diferenças significativas entre o grupo que se utilizou de dicas e o grupo que não o fez,

apontando para uma diferença em estudos realizados com a mesma metodologia em

pessoas em nível de escolaridade semelhante mas não portadores de PPSD.

Entre as possíveis variáveis para este desempenho ela indicou: dificuldade na

situação de resoluções de problemas, complexidade da tarefa, fatores de distração e a

novidade da tarefa.

Os estudos apresentados acima permitem a observação de que o desenvolvimento

motor de tais pessoas pode ser diferente do resto da população, possivelmente por déficits

congênitos associados a complicações clínicas que não necessariamente geram atrasos no

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desenvolvimento, mas um desenvolvimento diferenciado, com diferenças na performance

que podem ser vistas como reações adaptativas e diferenças qualitativas no planejamento

motor ou na dinâmica íntrinseca.

1.3 Resumo do capítulo

A Síndrome de Down é uma anomalia autossômica responsável por alterações

anatômicas e mentais. Dentre as principais características, pode-se citar anormalidades do

esqueleto, má-formações cardíacas múltiplas, híperflexibilidade e dismorfismo facial. O

desenvolvimento motor é diferenciado, com perímetro encefálico e peso corporal

menores, além de baixa estatura. A competência motora é diferente, encontrando-se

estágios mais longos de progressão e declínio da performance com a idade. Discute-se a

lentidão motora bem como a presença de hipotonia. Há evidências de diferenças nos

sistemas biomecânicos e neuromusculares. Em relação à estabilidade há indícios de que

estas pessoas têm a capacidade de adaptar -se à informações sensoriais diminuída, tendendo

a manter o estado original ao mesmo tempo que teriam movimentos mais inconsistentes.

Argumenta-se que o desenvolvimento motor não seria necessariamente atrasado, mas sim

diferenciado, sendo necessário mais dados para caracterização do comportamento motor

destas pessoas.

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2 Estudos sobre o comportamento motor humano

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Os estudos sobre o comportamento motor de uma Pessoa Portadora de Síndrome de

Down têm sido realizados num contexto de indefinição paradigmática, em que muitas

questões teóricas ainda estão por ser resolvidas, não apenas nesta área específica de

conbecilnento, mas em toda a Academia, em que a própria ciência tem sido objeto de

questionamentos, como os de CAPRA (1982), KUNH (1990) e MORlN (s/d).

Considerando tais estudos no âmbito da Educação Física, a indefinição é ainda mais

evidente, pois esta é uma área de conhecimento, ainda em definição, que está discutindo seu

objeto de estudo, procurando subsídios para seu status de ciência e propondo mudanças

em sua nomenclatura, como mostrou RENSON (1990). Debates sobre o significado do ato

motor e a dicotomia corpo e mente, são propostos por diferentes estudiosos, dentre os

quais, MANUEL SERGIO (1992), ASSMANN (1994), GONÇALVEZ (1994), LE

BOULCH (1987), SANTIN (1987) e RÉGIS DE MORAES (1992) e influenciam as

pesquisas realizadas na área.

Assim, antes de relatar o método de estudo utilizada neste estudo, toma-se

necessário apresentar algumas correntes teóricas existentes para observação do

comportamento motor, apresentando as análises elaboradas, pois toma-se necessário

entender as leis, teorias, aplicações e instrumentações que dão origem aos modelos dos

quais brotam as tradições coerentes e específicas da pesquisa científica, lembrando, como

observou KUNH(1990), que eles serão substituídos por outros modelos, ocasionando,

assim, as chamadas revoluções científicas que permitem o avanço do sabeL

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Os estudos sobre o comportamento motor humano iniciaram-se no século XVIII e

podem ser situados em quatros períodos distintos, de acordo com CLARK, WHITALL

(1989):

1- Precursor, do século XVIII às décadas de 30 e 40 no século XX;

2- Maturacionista, de 1927 a 1946, que teve em Gesell e Me Graw seus principais

representantes;

3- Normativo-descritivo que orientou os estudos no período de 1946-1970, tendo

como característica principal a descrição de mudanças no comportamento;

4- Processo-orientado, a partir de 1970, enfocando o processo pelo qual o

desenvolvimento motor ocorre.

Na Educação Física, tais estudos compreendem anàlises de controle, de

aprendizagem e de desenvolvimento motor, conforme a proposta de TANI (1996) e, embora

estes possam ser diferenciados, para MANOEL ( 1998b ), a distinção toma-se relativa, já

que os termos se referem à aquisição de habilidades motoras, ficando a diferenciação entre

eles baseada no grau de especificidade do comportamento motor em observação e na escala

temporal utilizada para identificação das mudanças.

Atualmente estes estudos recebem dois enfoques distintos: o prrmerro concentra­

se em mecanismos internos de percepção e no controle de movimento e é conhecido como

abordagem cognitivista. O segundo refere-à interação entre o executante e o meio ambiente

e permeia a abordagem sistêmíca. Ambos os enfoques apresentam imprecisões teóricas,

havendo a necessidade de aproximação das duas abordagens.

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2.1 Abordagem cognitivista

A abordagem cognitivista também é conhecida como abordagem do processo de

informação1 Nela o ser humano é visto como um transmissor de informação e enfatiza-se a

existência de processos mentais no comportamento motor, pelos quais a informação seria

codificada, transformada, decodificada e armazenada, procurando-se identificar processos e

delimitar capacidades no comportamento motor humano.

Tal abordagem, de acordo com PELLEGRINI (1998), procura descobrir

mecanismos de controle motor e mudanças nas estruturas cerebrais com o objetivo de

entender a natureza das mudanças internas e prever o comportamento motor humano.

Alguns modelos foram sugeridos para exemplificar como ocorreria o processamento

de informação e a geração do movimento. Entre eles está o modelo apresentado por

MARTENIUK (1976), o qual retomou o modelo de performance humana formulado por

Welford em 1968, que continha três mecanismos principais relacionando a informação no

ambiente e o movimento: primeiro, o mecanismo perceptivo, que receberia a informação

ambiental pelos sentidos e proveria a descrição do ambiente pela identificação e classificação

da informação; o mecanismo decisório que decidiria um plano de ação em relação aos

objetivos do movimento e enviaria uma seqüência de comandos; e terceiro, o mecanismo

efetor que receberia essa seqüência de comandos e seria o responsável pela organização da

resposta enviando o comando motor apropriado ao sistema muscular.

1 A definição dos termos apresentados neste capítulo encontra-se no glossário,

dentro do anexo 02.

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Esse modelo analisa também o papel do jeedback externo e do intrínseco, que

forneceriam informações ao organismo executante, permitindo, caso haja tempo hábil,

correções no movimento executado.

Para MAGILL (1984), o mecanismo perceptivo inclue os órgãos sensonrus

(receptores visuais, auditivos, táteis e proprioceptivos) envolvendo a detecção, comparação

e reconhecimento das informações obtidas. SAGE (1977) definiu percepção como o

processo pelo qual informações sensoriais são organizadas e formuladas com base em

experiências significativas, constituindo-se em processos mediadores que integram

informações presentes e passadas.

Para o autor, os mecanismo de percepção e decisão estão ligados a conceitos sobre

memória, atenção, e conhecimento de resultados, que explicam como se forma o plano de

ação que seria transmitido ao mecanismo efetor, para a realização do movimento.

Assim, vários modelos de controle motor foram sugeridos, tais como o de closed­

loop (circuito fechado), proposto por ADAMS (1971), segundo o qual o sistema tem

mecanismos de jeedback e mecanismos para detectar e corrigir erros. Esses processos

podem modificar e atualizar o programa, implicando que a aprendizagem de um ato motor

envolve ajuste e refinrunento de uma rede central de trabalho, com representação do

movimento. Assume-se que instruções são armazenadas a partir de comandos de

movimentos individuais com especificação completa dos músculos envolvidos na ação

planejada, da força relativa e do tempo de contração da musculatura.

MAGILL (1984) apontou também para a teoria do circuito aberto, segundo a qual as

especificações necessárias para que uma ação motora seja realizada são dadas por

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parâmetros espaciais e temporais que estão armazenados centralmente em programas

motores que ativam movimentos funcionais. Esta teoria é tida como mais aplicável a

movimentos rápidos, do tipo balístico.

SCHMIDT (1976) relatou seu descontentamento com a teoria de circuito fechado

de Adams que se aplica basicamente a movimentos mais lentos e também com a

capacidade de armazenamento de informação exigida para que programas motores

específicos para cada movimento possam existir. Isto o levou a propor, em 1975, uma

teoria segundo a qual cada classe de movimento é governada por um programa motor

generalizado, envolvendo a aquisição de esquemas ou regras que definem a relação entre a

produção e a avaliação da resposta motora. Essa teoria não especifica como o programa

motor é selecionado, mas propõe a formação de regras para que um movimento seja

executado.

SHAPIRO, SCHMIDT (1982) apontaram para três componentes principais para esta

teoria: programa motor generalizado, esquema para recordar e esquema para reconhecer.

O programa motor generalizado éa uma estrutura abstrata de memória, que quando ativada

faz o movimento acontecer; é um programa que governa uma classe de movimentos

requerida como um padrão motor.

O esquema para recordar esta envolvido na produção da resposta motora,

selecionando os parâmetros exigidos para executar apropriadamente o programa motor

generalizado. Tal esquema é o responsável pela geração dos impulsos à musculatura para

produzir o movimento. Para sua formação, três tipos de informações são importantes: '

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condições iniciais, informação do movimento realizado (baseado em conhecimento de

resultados) e o parâmetro usado quando o programa é executado.

O esquema para reconhecer é um estado de memória independente, responsável

pela avaliação da resposta, ou seja, a relação entre a conseqüência sensorial e o produto

atual, composto pelas condições iniciais, produtos passados e atuais do movimento e as

conseqüências sensoriais passadas. Considerando que esses dois esquemas são construídos

por meiO de movimentos experimentados anteriormente, tais regras podem ser

generalizadas para situações novas, possibilitando a execução de movimentos ainda não

vivenciados.

SCHMIDT (1985) sugeriu que fossem feitos estudos com enfoque na busca por

invariãncias, isto é, variáveis que não mudem em função da manipulação nas variáveis

independentes. Ele argumentou que a presença dessas invariãncias, pode sugerir a

representação central do movimento.

Entre as características candidatas a tal invariãncia, ele observou o timing relativo

(proporção entre quaisquer dois intervalos em um movimento com proporção igual em

outro movimento correspondente) e a força relativa (o tamanho relativo da força de duas

contrações musculares tende a ser constante com mudanças no tempo total de movimento e

no tamanho do movimento). O que é aprendido é o código temporal, ou a estrutura da ação

e não movimentos específicos. A representação abstrata de um padrão de movimento

aprendido é codificada de forma a definir o timing relativo e a amplitude relativa do pulso

da força muscular que é produzida.

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W ALLACE, WEEKS (1988) observaram que um programa motor generalizado

conteria características variáveis e invariáveis. As variáveis são aqueles parâmetros que são

mudados para produzir movimentos de diferentes características no mesmo programa. As

características invariáveis são as que permaneceriam constantes por causa de mudanças nos

parâmetros do programa.

Essa teoria criou subsídios para inúmeros estudos na área de comportamento motor,

tanto sobre variabilidade do movimento, observando-se indiretamente a possibilidade de

utilização de esquemas para recordar e reconhecer, quanto para inferir a existência ou não

de programas motores generalizados que estariam gerando a resposta motora observada

(para uma revisão sobre este tópico ver SHAPIRO, SCHMIDT, 1982).

2.2 Abordagem sistêmica

A abordagem sistêmica, rompendo com a idéia de formação de esquemas ou

programas motores, apresenta propostas que derivam de uma síntese de várias teorias da

biologia fisica, relacionadas com a formação de padrões dinâmicos em sistemas complexos

abertos, partindo das idéias de Bernstein2 Para ele, o movimento é controlado por

entradas não específicas do Sistema Nervoso Central (SNC), as quais resultam em uma

2 Níkolai A Bernstein, fisiologista russo que publicou artigos dos anos 30 aos anos 60, cuja obra foi reunida e traduzida para o inglês numa edição especial em 1967, pela Pergamou Press, em Oxford, com o titulo: 'The ctHlrdination and regulation of movements'. Os artigos constantes desta obra foram reeditados em 1984, com outros artigos que se reportavam aos da publicação de Oxford, com o título: 'Bemstein Reassessed', pela editora Elsevier, em Amsterdã, obra esta consultada para este estado.

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coordenação posterior de grupos musculares funcionalmente específicos. Essa abordagem

analisa princípios de continuidade e descontinuidade no desenvolvimento do comportamento

motor, utilizando-se de princípios não-lineares e termodinâmicos, como os introduzidos

por TURVEY,KUGLER (1984), KELSOetal. (1990)eZANONEetal. (1993).

Como observaram THELEN, ULRICH (1991), a utilização da teoria de sistemas

dinâmicos permite a investigação transdomínio, essencial para o entendimento da ontogenia

humana, e necessita , como afirmou TANI (1996), de uma concepção mais integrada das

ciências, em que diferentes disciplinas acadêmicas trabalhem com aspectos variados da

globalidade e especificidade de sistemas complexos, permitindo a modelagem desde sistemas

fisicos até sociológicos.

BERNSTEIN (1984a) considerou que a atividade motora do organismo tem um

enorme significado biológico, sendo praticamente o único meio no qual o organismo não

apenas interage com o ambiente mas também opera ativamente com ele, alterando-o para

obter um resultado particular. Foram suas ponderações sobre os graus de liberdade de um

problema que mais contribuíram para a elaboração da abordagem sistêmica. Ele evidenciou

o número de possibilidades de movimento gerados pelo grau de liberdade para a solução de

um problema motor, tendendo ao infinito, devido a participação de neurônios, músculos,

unidades motoras, ossos, articulações e ação da gravidade sobre os músculos, apontando

que o mesmo comando neural apresenta diferentes resultados, dependendo do momento da

orientação, velocidade e contexto do movimento.

Para ele, os graus de liberdade de um sistema são restringidos por coalizões

funcionais de músculos e suas várias articulações, determinando sinergias, ou estruturas

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coordenativas. Em tais sínergías, forças geradas internamente no músculo seriam colocadas

com forças gravitacionaís, inerciais e de reação e um grupo de músculos seria restringido

para agir como urna única unidade funcional. Apesar de haver muitas ligações de

articulações para produzir movimentos, poucas aparecem e dependem de contextos

biomecânícos.

De acordo com esta teoria o controle do movimento é realizado em diferentes níveis

do SNC, sem a representação de propriedades como velocidade, trajetória e objetivos,

sendo que estas emergiram da relação dínãmica entre as propriedades fisicas do sistema

músculo-esquelético (massa, inércia e rigidez) e o meio, para urna determinada tarefa. Leis

de relação, como a de mass-sprinl e a lei de Fitt', foram utilizadas por ele para explicar

como seriam colocadas as restrições sobre a atividade, simplificando o controle.

BERNSTEIN (1984b) apontou também a necessidade de aplicação de descobertas

da bioquímica, biofisica e da matemática para uma explicação materialista do fenômeno da

vida, observando o princípio de unidade da natureza e suas leis, indicando diferenças entre

sistemas vivos e artificiais.

Alguns estudiosos têm relacionado conceitos da fisica referentes ao estudo de

sistemas dínãmicos com o comportamento motor humano. KELSO et a!. (1981) propuseram

que sistemas vivos obedecem a leis fisicas, embora não sejam a elas reduzidos. Eles

apontaram ainda conceitos fisicos que poderiam ser aplicados a sistemas vivos.

3 Mass-spring é um dispositivo mecânico simples, no qual uma espiral é atada a um suporte fixo de um lado e urna massa é suspensa no outro, o qual demonstra que não importa qual o alongamento ou compressão da mola. ela sempre retoma ao mesmo comprimento. 4 Lei de Fitt é uma lei de computação matemática sobre tamanho e distãncia do alvo a ser atingido que prevê que objetos grandes que estão perto sejam alcançados mais rapidamente do que objetos pequenos e distantes.

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Entre esses conceitos estão o fluxo de energia (que por si só é o fator de

organização de mudanças em sistemas vivos) e a noção de oscilador ciclo limite (o sistema

é capaz de retomar a um modo estável a despeito das perturbações que podem acelerá-lo

ou retardá-lo; trata-se de um fenômeno não-linear).

KELSO et a!. (1981) e KELSO et a!. (1990), propuseram a utilização dos conceitos

de fluxo de energia como fator comandante da organização de sistemas vivos (que leva a

pelo menos um ciclo no sistema) de acordo com os quais a persistência da ciclicidade em

sistemas biológicos devem ser vistas como um fenômeno não-linear.

ZANONE et a!. (1993), sugeriram que padrões de comportamento reproduzíveis e

observáveis podem ser caracterizados como estados coletivos alcançados pelo sistema,

determinado nível de descrição, advindo do inter-relacionamento de numerosos subsistemas

e componentes em níveis mais baixos.

Eles propuseram a identificação dos graus de liberdade correspondentes a padrões

de comportamento e o delineamento da fase de transição, mapeando o padrão estável

observado em atratores teóricos da variável coletiva dinâmica e observando as flutuações

ao redor do estado médio da variável coletiva e a subseqüente mudança de estado.

ZANONE; KELSO (1992) aplicaram tais conceitos à aprendizagem motora,

definíndo aprendizagem como mudança relativamente permanente no comportamento em

direção a um padrão a ser aprendido, especificado pelo meio ambiente. A chave para

entender a aprendizagem, para eles, é o conceito de dinâmica intrínseca e o de informação

comportamental, propostos por Schõner e próprio Kelso em 1988, oferecendo uma

possibilidade de estudo que operacionaliza a observação de que o organismo adquire

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novas formas de comportamento habilidoso por meiO de capacidades pré-existentes. Para

isto, a dinâmica intrínseca da variável coletiva dinâmica é observada através de diagramas

de fases, que podem ser traçados antes, durante e depois da aprendizagem, para a

observação da evolução da dinâmica apresentada.

Outra estudiosa que se destaca na área de comportamento motor e tem utilizado a

abordagem de sistemas dinâmicos é Ester Thelen que apresentou uma perspectiva de

sistemas para o desenvolvimento motor numa abordagem que enfatiza a importância da

maturação de todos os subsistemas e não apenas o do sistema nervoso, que era o foco tanto

dos maturacionistas como dos teóricos sobre o processamento de informação - THELEN

(1983) e THELEN (1986). Utilizando-se da lei de massa-mola (mass-spring), THELEN et

al. ( 1993) sugeriram que o SNC trabalha no controle dinâmico das características mais do

que nos caminhos do movimento ou padrões musculares.

2.3 Imprecisões teóricas

Embora a abordagem cognitivista e a sistêmica venham sendo bastante úteis, é

importante notar aqui que cada uma delas está sujeita a críticas a serem superadas.

Em relação á abordagem cognitivista, focos de descontentamento podem ser

observados principalmente com referência ao programa motor e a validação ecológica

(aplicabilidade dos achados).

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As ponderações de Bemstein sobre graus de liberdade, apresentadas anteriormente,

originaram um dos maiores questionamentos sobre as teorias de processamento de

informação, conhecido, de acordo com THELEN, SMITH (1993), como 'problema dos

graus de liberdade', abrangendo a questão da infinidade de caminhos pelos quais os

componentes podem se combinar, o que requer um processo de armazenamento e

comparação de informações em nível central, inconcebível. Assim, essas teorias foram

conclamadas a explicar como se daria o armazenamento de informações para serem

utilizadas com especificações exatas para todos os movimentos (em razão da infinita

possibilidade de ações a serem executadas) e como seriam construídas ações que nunca

foram vivenciadas antes.

Para MANOEL (1998b ), a concepção de programa motor passou a ser desafiada

pela idéia de que o sistema efetor é muito complexo para que somente o programa seja

capaz de especificar o que cada grupo muscular deve fazer em termos espaciais e temporais.

LATASH (1993) observou a não-existência de consenso sobre o que seja um

programa motor, como e onde ele é criado, como seria implementado pelas chamadas

baixas estruturas e se elas de fato existiriam.

HOPKINS et ai. (1993) observaram que a estrutura de controle apresentada nessa

abordagem é abstrata e arbitrária, por não se basear em princípios fisico-biológicos que

permeiam o desenvolvimento motor. Indicam o que deve ser feito sem especificar, em

termos de parâmetros intrinsecos, como deve ser feito. Também não se define quem ou o

que controla o controlador nem quem decide qual a informação.

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CRUTCHFIELD, BARNES (1995) explicitaram que as teorias cognitivistas têm

dificuldades científicas para estabelecer ligações entre níveis neurais e níveis de

comportamento. Grande parte dos níveis de controle foram estabelecidos com base em

uma correspondência biunívoca entre estrutura e função, com mapas anatõmicos construídos

em estudos com animais e observações feitas em humanos com lesões no SNC e, como

observaram ROSE, ROSE (1971); FINGER, STEIN (1985); BACH-Y-RITA (1990) e

FERREIRA (1990), questões apresentadas na recuperação funcional de tais indivíduos,

levaram ao debate sobre os mapas anatômicos e à busca de modelos segundo os quais a

organização neuronal ocorre entre os componentes.

A falta de validação ecológica foi criticada por CLARK, WHITALL (1989), porque

os experimentos feitos de acordo com a abordagem cognitivista baseiam-se em ações

artificialmente elaboradas para serem realizadas em laboratórios, tais como pressionar

botões e canetas, limitando a aplicabilidade dos achados. SANTOS (1992), observa que

homem e mundo são tratados como unidades distintas, o que dificulta o entendimento das

influências ambientais nos comportamentos humanos.

Em relação ao desenvolvimento motor, segundo THELEN, ULRICH (1991), a

abordagem cognitivista não explica a origem das mudanças ontogênicas nem especifica

como ocorre o desenvolvimento, nem a natureza dos estágios de desenvolvimento e suas

transições.

Por sua vez, as proposições da abordagem sistêmica também apresentam

imprecisões, especialmente relativas ao SNC. HOFSTEN (1989) advoga que as estruturas

cerebrais não estão envolvidas apenas na execução imediata do ato motor mas também no

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planejamento deste. O conhecimento adequado de fatores fisicos é crucial para o

entendimento do que o sistema tem de executar, mas não diz como o cérebro faz para

resolver problemas de ação. Restrições fisicas definem a implementação do problema de

ação, mas as restrições cerebrais estão lá para resolver esses problemas. Por exemplo, as

propriedades fisicas do corpo (peso e comprimento) definem quando é mais energicamente

eficiente correr ou andar. O fato de que o cérebro explora tais restrições não explica como a

locomoção é realizada, já que ele torna possível tanto correr mais rápido quanto mais

devagar.

A rejeição da noção de representação e seu papel na organização da ação é outro

aspecto bastante criticado. Para MANOEL, CONNOLLY (1997), isto traz dificuldades

com respeito á extensão do modelo teórico dentro em uma robusta teoria de

desenvolvimento de habilidades motoras. Esses autores apontam também a dificuldade desta

teoria em explicar como ocorrem mudanças na dinâmica intrinseca, pois, se se assumido

que a coordenação do movimento é determinada somente por um processo de auto­

organização, surge a questão sobre o que é que garante que um objetivo particular será

conseguido de modo confiável.

O problema principal da abordagem sistêmica, segundo tais autores pode ser a

negligência de um princípio básico de um sistema: a ordem hierárquica (a organização

multinível no qual um sistema se ramifica em outros subsistemas que, por sua vez, se

ramificam em subníveis de baixa ordem).

Para NEWEL, DONALD (1993), essa abordagem carece de especificidade relativa

ao timing da ontogênese para os diferentes componentes do sistema (um ponto fraco em

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todas as teorias de desenvolvimento), embora ofereça caminhos para considerar o timing

da transição do fenômeno do desenvolvimento motor e as restrições impostas pela tarefa

específica.

2.4 Tentativas de aproximação das abordagens cognitivista e

sistêmica para o estudo do comportamento motor humano

A proposta de aproximação da abordagem cognitivista e sistêmica é ainda alvo de

debates entre os estudiosos da área. WILLIAMS et al. (1992) argumentam que tal

conciliação é muito difícil pois as abordagens se diferenciam no enfoque e no nível de

análise, o que leva a interpretação diferente dos achados. SCHMIDT (1988) ressalta a

diferença no dominío de argumento e na abordagem do conhecimento, já que a abordagem

sístêmica ocorre em nível tácito de entendimento e a cognitívista em níveis explícitos de

conhecimento. Mesmo assim, existem propostas para solucionar os impasses teóricos que

as afastam.

Como a abordagem sistêmica írrompeu delíberadamente com a idéia de formação de

programas motores, ponto central da abordagem cognitivista, mas não conseguiu explicar

as imposições cerebrais que permeiam o movimento, estudiosos têm proposto mudanças no

conceito de programa motor, ao mesmo tempo que admitem que o comportamento motor

está sujeito a leis fisicas, embora não reduzido a elas.

TANI (1989 e 1998), MANOEL, CONNOLLY (1997) e TANI et al. (1998)

propuseram uma abordagem sistêmica segundo a qual o comportamento resulta da

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formação de padrões, observando aspectos variados da globalidade e especificidade de

sistemas complexos, mas mantiveram a noção de formação de programas de ação com

organização hierárquica. Sobre isto, MANOEL (1998b), afirmou que o conceito de

programa motor passou por grandes modificações na última década, sendo visto como uma

estrutura cada vez mais abstrata, representando acoplamento entre intenção, objetivo e

conseqüências esperadas no ambiente. Assim pode-se considerá-lo como um programa de

ação, com as mesmas características de um sistema aberto: autonomia e integração.

A autonomia existe se o programa de ação for regido por uma dinâmica interna

particular e a integração pode ser observada porque, ao mesmo tempo, o sistema

apresenta a tendência de se integrar a outros sistemas, formando uma rede de sub-sistemas

que passam a ter suas ações condicionadas a uma dinâmica global.

Embora utilizando outra nomenclatura, KELSO (1997) também lançou argumentos a

favor da aproximação das abordagens; para ele existe um padrão dinâmico de geração nos

circuitos neuronais e a representação neuronal pode ser vista como auto-organizada e

descrita com precisão em termos dinâmicos, isto é, com equações de movimento de

variáveis relevantes para a coordenação dinâmica.

HUTCHINS (1991), por sua vez, sugeriu mudanças na interpretação do conceito

de cognição, a qual não seria considerada como um processo interno com estruturas

hipotéticas, mas com o significado distribuído entre objetos e eventos no meio ambiente,

tendo como nível de análise a interação entre o executante e o mundo construído

socialmente.

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Outra sugestão foi feita por LATASH (1993), para quem o planejamento de

movimentos voluntários pode ser executado em termos de parâmetros sinergéticos do

espaço cartesiano, com o objetivo do movimento planejado expresso em termos de sua

trajetória traduzida em variáveis interpretadas por baixas estruturas, cuja descrição não

codifica diretamente propriedades do movimento, mas é um dos maiores determinantes de

sua definição.

2.5 Resumo do capítulo

Estudos sobre o comportamento motor humano podem ser encontrados desde o

século XVIII apresentando enfoques diferentes. Duas abordagens foram descritas: a

abordagem cognitivista e a abordagem sistêmica: a primeira busca entender mudanças

internas com base em inferências sobre comportamentos observados, considerando o ser

humano um transmissor de informações e procurando explicar como ocorreria o

processamento de informação e a geração de movimento. A segunda vê a formação de

padrões de movimento como resultado do processo de auto-organização dos elementos do

sistema, dando ênfase na descrição de mudanças na dinâmica fisíca e outros elementos de

ação do sistema que interagem de maneira não-linear, levando a mudanças qualitativas e,

conseqüentemente a alterações no status do desenvolvimento.

Embora ambas tenham contribuído significativamente para o avanço de estudos na

área do comportamento motor, há problemas teóricos a serem resolvidos. Em relação á

abordagem cognitívista, questiona-se a concepção de programa motor, segundo a qual

42

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existe um conjunto de comandos do Sistema Nervoso Central para a musculatura executar

um dado movimento e tal conjunto é composto de um infinito número de graus de

liberdade, não compatível com a estrutura cerebral existente. Essa abordagem traz ainda a

dificuldade de estabelecer ligações entre niveis neurais e niveis de comportamento e

demonstrar mudanças neuronais induzidas no cérebro quando uma nova habilidade é

adquirida. De outro lado, no modelo sistêmico não se analisam as imposições de restrições

cerebrais sofridas pelas limitações fisica, que podem definir a implementação de um

programa de ação, sendo também dificil explicar como ocorrem as mudanças na dinâmica

intrínseca.

Tentativas de aproximação entre as duas abordagens têm sido feitas, propondo-se

uma abordagem sistêmica que observe as imposições cerebrais, tanto procurando padrões

dinâmicos de geração dos circuitos neuronais, quanto reforrnulando o conceito de

programa motor e recolocando a idéia de organização hierárquica do sistema.

Cada proposta é importante e tem seu lugar, podendo contribuir para o

conhecimento mais acurado sobre o comportamento motor humano, o qual é bastante

complexo e envolve tantas variáveis que se torna dificil esperar que uma só abordagem

possa revelá-lo. Tais propostas foram apresentadas aqui para fornecer o pano de fundo

paradigmático sob o qual este estudo foi realizado, um momento de muitas perguntas e

questionamentos, em que as incertezas se avolumam, mas propiciam formulações de novas

propostas, que certamente serão também questionadas e modificadas.

Assim, procurando aproximar os conceitos determinados pelas abordagens

cognitivista e sistêmica que possam auxiliar na observação do comportamento motor, o

43

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próximo capítulo apresenta uma proposta de um sistema dinâmico hierárquico cuJas

restrições cerebrais podem ser inferidas por meio de variáveis cinemáticas.

44

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3 Proposta para o estudo da estabilidade do

comportamento motor

45

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Conforme visto no capítulo anterior, os enfoques dados aos estudos do

comportamento motor humano nas abordagens cognitivista e sistêmica apresentam

imprecisões teóricas, o que leva a propostas de aproximação delas. Enquanto os adeptos

da abordagem cognitivista procuram fatores que possam explicar a organização do

movimento, isto é, processos cognitivos que estejam envolvidos na execução e

planejamento do movimento, os adeptos da abordagem sistêmica procuram explicar como e

por que ocorrem as mudanças no comportamento motor.

Para aproximar essas abordagens propõem-se a utilização de uma abordagem

sistêmica que observe as propriedades hierárquicas de um sistema, permitindo a formação

de uma estrutura correspondente a um programa de ação. Procura-se observar as mudanças

que ocorrem no comportamento motor, em um determinado eixo temporal, e estabelecer

padrões que serão substituídos por outros padrões de comportamento.

Para demarcar as mudanças ocorridas, observa-se a estabilidade do sistema. O alvo

é encontrar leis fisicas e matemáticas que expliquem as mudanças, como nos estudos de

K.ELSO et al. (1981), ULRICH (1989), ZANONE et al. (1993), THELEN (1983) e

THELEN, ULRICH (1991). Uma outra possibilidade seria encontrar invariantes que

evidenciariam uma _uma sinergia funcional relativa à organização neuronal, como nos

estudos de WALLACE, WEEKS (1988) e KELSO (1997), ou no modelo alternativo de

estudo proposto por MANOEL (1989 e 1995) e TANI (1989, 1998), que analisa a

estabilidade em um modelo de programa de ação.

As propostas divergem em relação à tentativa ou não de inferir sobre os processos

cerebrais que permeiam o ato motor e, na maioria das vezes, restringem-se à análise de

46

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movimentos simples ou cíclicos, o que toma necessária a elaboração de propostas que

permitam observações de movimentos mais complexos. O presente capítulo pretende

expor tais propostas, bem como oferecer uma outra alternativa, a ser utilizada com

movimentos mais complexos.

3.1 Comportamento motor e estabilidade do sistema

A abordagem sistêmica baseia-se também na teoria de sistemas, apresentada por

Bertalanffy em !952, considerando que o comportamento motor é governado por

propriedades de sistemas abertos. Para BERTALANFFY (!975), o sistema1 é um

complexo de elementos em interação, que pode ser aberto (em constante troca com o

ambiente) ou fechado (nenhum material entraria ou sairia do sistema). Os organismos vivos

podem ser considerados sistemas abertos, com processo contínuo de decomposição e

regeneração, regulado de tal maneira, que ele se mantém aproximadamente constante no

chamado estado estável, em que a composição do sistema permanece constante, apesar da

contínua troca dos componentes.

MANOEL, CONNOLLY (1997) observaram que o sistema apresenta história com

processos de mudança de longa, média e curta duração em relação ao eixo temporal,

havendo interação entre os processos que mantêm a estrutura e os que a modificam,

podendo se afirmar que os processos de mudança no comportamento motor podem ser

entendidos como evolução, desenvolvimento ou aprendizagem, dependendo da escala

temporal utilizada.

47

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Os processos de mudança do sistema podem ser observados por meio de sua

estabilidade num certo eixo temporal, identificando-se pontos de transição, isto é, pontos

onde ocorrem perdas de estabilidade.

Para THELEN, ULRICH (1991), tais processos de mudança estão ligados à

formação de padrões dinâmicos em sistemas físicos e biológicos, relacionados à habilidade

da matéria física, sob certas condições termodinâmicas, de autoformar-se em padrões em

que os elementos originais cooperariam para produzir uma organização não-contida ou

aparente nas unidades individuais. As mudanças oconidas com o tempo podem ser

expressas com formulações matemáticas precisas, por meio de variáveis coletivas

(padrões de ordem) e da determinação de atratores dinâmicos.

Os atratores definem a configuração e trajetória preferidas por um sistema numa

situação particular, determinadas por sua morfologia, energia particular ou estado

motivacional, contexto da tarefa e meio ambiente. A estabilidade do atrator pode mudar

quando o sistema é reunido em diferentes contextos de tarefa ou com o crescimento ou

diferenciação de seus componentes, tomando alguns comportamentos mais executáveis,

com mais restrições e habilidades, deixando o sistema menos sujeito a perturbações.

Tal recurso matemático permite a observação das mudanças oconidas num sistema,

considerando-se que o sistema muda entre dois estados de atratores qualitativamente

diferentes. As mudanças ocorrem em certas variáveis físicas aplicadas ao sistema,

denominadas parâmetros-controle, as quais, quando atingem certos valores críticos,

liberam o sistema para explorar outros padrões e procurar novos estados estáveis.

1 Para maiores detalhes ver glossário de termos, no apêndice O 1.

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A utilização desses procedimentos matemáticos pode ser exemplificada nos estudos

realizados por MAUERBERG, ADRIAN (1993), THELEN, ULRICH (1991), THELEN et

ai. (1993) e KELSO et al (1981). Estes estudos, porém, referem-se a movimentos cíclicos.

A tentativa de traçar retratos de fases e determinar bacias de atração é prejudicada também

pela dificuldade de estabelecer variáveis coletivas que dão forma à sinergia funcional do

movimento.

Outra dificuldade se refere à ausência de referências ao papel das estruturas mentais

na observação das mudanças entre um estado e outro do sistema, referindo-se apenas ao

processo de auto-organização do sistema. Como observaram MANOEL, CONNOLL Y

(1997), isto não garante que um objetivo particular possa ser conquistado de modo

confiável.

Uma proposta alternativa, segundo a qual a observação do comportamento motor é

feita de acordo com uma abordagem sistêmica, porém referindo-se a estruturas mentais,

vem sendo construída por Tani, desde 1982. Com base na idéia de estabilização funcional

apresentada por Bernstein, aquele autor observou a existência de fases de adaptação, em

que o sistema continua mudando em direção a formas mais complexas. CHOSHl, T ANI

(1983) apudMANOEL, CONNOLLY (1995) sugeriram que nestas fases de adaptação há

um controle adaptativo, levando o sistema que foi desestabilizado a realizar modificações

estruturais no controle ótimo. Assim em vez de tentar a estabilização no mesmo padrão,

aparecem novas soluções para interagir com o novo problema motor, formando um novo

padrão de comportamento.

Essa estabilização funcional ocorre com a formação de uma estrutura

correspondente a um programa de ação, tendo como característica básica a coexistência de

49

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elementos aparentemente contraditórios - ordem/ desordem, macrodeterminância/

microindeterminância, consistência/ variabilidade, permitindo ajuste às demandas

ambientais, de acordo com MANOEL (1989 e 1995), MANOEL, CONNOLLY (1995,

1997), TANI(1989, 1998)eTANietal (1998).

Para MANOEL (l998b ), tais programas de ação têm organização hierárquica, em

que a macroestrutura é consistente graças a um dado padrão de interação dos elementos do

programa. Tal consistência é pouco ou quase não sendo perturbada quando essa unidade

se torna parte de um programa mais complexo. A microestrutura é variável por causa dos

graus de liberdade do comportamento individual desses elementos.

MANOEL (1998c) explicou que o padrão de comportamento é o modo de ação

preferido do sistema, com uma série de flutuações, as quais permitem que um dado

sistema se comporte adequadamente no meio ambiente. A extensão dessa flutuação seria

chamada de variabilidade funcional, termo utilizado por MANOEL, CONNOLL Y (1995),

e teria limites que permitem ao sistema superar os desafios causados por perturbações. No

entanto, num dado momento, urna perturbação pode levar a mudanças substanciais no

padrão, resultando num novo padrão. Tais mudanças são não-lineares e multiníveis.

Para dar suporte a essas idéias esses autores utilizaram tarefas de desenhar

grafemas procurando determinar caracteristicas que possam ser relacionadas à

macroestrutura (invariáveis) e à microestrutura (variáveis) do sistema. Corno

macroestrutura eles consideraram a variabilidade da seqüência utilizada para desenhar o

grafema, o tamanho relativo dos grafemas traçados, tempo e pausa relativos; e corno

microestrutura eles consideraram a variabilidade do tamanho total do grafema, tempo e

pausa total do movimento.

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Eles analisaram a consistência dessas características, assumindo, de um lado, que a

macroestrutura aumenta sua consistência como resultado da prática, permanecendo estável

quando parâmetros da tarefas são modificados, mas não quando ocorrem modificações na

estrutura das tarefas. De outro lado, a microestrutura se torna consistente em certos níveis,

aparecendo a variabilidade quando a tarefa é modificada.

No entanto, esse modelo tem utilizado apenas tarefas motoras de desenhar,

constituídas de vários segmentos com início e fim claramente determinados.

3.2 Proposta para o estudo da estabilidade do sistema

Embora os modelos expostos anteriormente estejam trazendo subsídios importantes

para estudos sobre o comportamento motor humano, há necessidade de novos modelos,

que possam auxiliar em análises de movimentos não-cíclicos e mais complexos, que

permitam tanto observações do status dinâmico do sistema, quanto inferências sobre

possíveis restrições cerebrais nele atuantes, o que contribui para a aproximação das

abordagens de estudo.

Como observou LATASH (1993), os padrões externos de movimento dependem da

tarefa motora e do estado inicial do sistema e podem apresentar diferentes trajetórias para

atingir um novo estado, que pode ser descrito com a utilização de diferentes métodos

fisicos e matemáticos. Uma opção para isto é a utilização de um modelo biomecânico,

que permite a descrição do movimento, independente das forças que o causam, apesar de

sua limitação reconhecida de considerar o corpo um somatório de segmentos rígidos

perfeitamente articulados entre si, cujas superficies de contato não sofrem deformações,

51

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como observou WINTER (1990)

Essa observação do status dinâmico do sistema pode ser feita tendo em vista

conceitos da estática, os quais, associados a variáveis cinemáticas podem auxiliar na

inferência sobre processos mentais apresentados na realização do movimento observado

em um determinado eixo temporal.

Para tanto, pode-se analisar a estabilidade do sistema com base em algum

parâmetro geométrico invariante, observando-se também as estratégias de movimento que

foram utilizadas, por meio de cálculos cinemáticos, e a qualidade da execução do

movimento, com critérios para observação de erros na trajetória, como se descreve a

seguir.

3.2.1 Estabilidade do Sistema

A trajetória realizada por algum objeto em movimento pode ser traçada com a

utilização de dois eixos (x e y), formando uma figura geométrica a partir da qual é

possível calcular a elipse de inércia correspondente. A maneira como essa figura se

desenvolve em torno de sua elipse pode ser vista como uma função indicadora do padrão

de movimento utilizado, considerando-se o deslocamento percorrido em função do tempo.

Para isto, é necessário calcular alguns elementos geométricos, de acordo com as

formulações apresentadas em MERIAN (1985), que se seguem abaixo:

a) Obtenção dos centróides da figura:

Os centróides da figura são calculados a partir dos dados de cada par,

correspondente ao deslocamento realizado nos eixos x e y, segundo a expressão:

52

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L:.Y,d,

l .Y=-'-' --

1 [ 1 l x = -''-. --

em que x, e y, são os centróides dos segmentos de coordenadas (x,, y,), (xt+ 1 ,

Yi+l), d, é o comprimento desse segmento e l é o comprimento total do traçado da figura

dada, ou seja:

_ _x-"+:;.l_+_x-'-, X = ' 2 Y

- = Yt+t + Y, ' 2

[ 2 l

e

[ 3 l

b) Translação das referências geométricas do traçado para o centróide:

As coordenadas "xy" do traçado devem ser trasladadas para os seus centróides pela

relação:

x =x-x ' '

y,=y,-y

Assim, o conjunto de pontos que descrevem o traçado passam a possuir como

origem comum o ponto (0,0).

c) Cálculo dos momentos estáticos dos traçados em relação aos centróides:

Momentos e produtos estáticos do traçado com relação aos seus respectivos

centróides são calculados da forma seguinte:

53

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com 1x, Fy, sendo os momentos de inércia nas direções x e y dos centróides

de cada segmento de reta de comprimento~-

d) Cálculo dos raios de giração polar do traçado:

O raio de giração polar do traçado é calculado a partir de seus momentos de inércia,

nas direções x e y de acordo com a expressão:

k. = -

e) Cálculo dos momentos, direções pnnctpats de inércia e ratos de giração

principais:

Os momentos e direções principais de inércia são calculados a partir das expressões:

1. =1x+1y+!_~(1-1)2+41 2 max. 2 2 xy 'O'

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t) rotação do traçado em sua direção principal:

O traçado deve ser rotacíonado de forma que suas coordenadas coincidam com as

direções principais. Assim, as novas coordenadas "x, y, " são calculadas por:

x, = xcosamàx. + ysenamàx.

y, = -xam.tt. + ycosamàx.

g) cálculo da distância dos pontos do traçado à sua elipse principal de gíração:

A elipse principal de giração é definida como aquela que possuí seus eixos k~ máx e

k + min orientados nas direções principais e com valores proporcionais aos raios de gíração

principais kmáx e kmin respectivamente.

Os valores k+máx e k" min são obtidos a partir da hipótese da distribuição simétrica dos

momentos de inércia em torno das direções principais. Assim, sejam:

I + I- Imáx mitx =- máx =--

2

semi-inércias distribuídas à direita e à esquerda da direção principal de mínima inércia. Os

raios de giração referentes as semi-inércias são:

e

Assim, a elipse principal de giração expressa pela equação paramétrica

55

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onde x ' e y' são coordenadas nas direções principais de máxima e mínima inércia

respectivamente.

A distância de um ponto do traçado rotacionado na direção principal (xr, ,yri) á

elipse principal de giração, seria dada por:

ou

As distâncias "d,/' estão associadas aos instantes de tempo "ti' em que cada ponto

do traçado foi amostrado, sendo possível a observação da distância de cada ponto a elipse

central de giração em função do tempo gasto. Essa função representa o padrão de

movimento observado.

Para comparações entre diferentes traçados, é necessária a padronização dos tempos

e dos números de amostras de cada conjunto de dados cinemáticos (distâncias "dr1"). Isto

pode ser feito por meio de uma interpolação dos valores de dr1, de tal forma que o conjunto

d~, d2, . dfinaz, tenha sempre um número de 1 024 amostras, normalizando-se os tempos

como segue:

t ínicial = O; f final = 1

para cada conjunto de variáveis cinemáticas d1, d2, . dfinat.

O gráfico 1 ilustra a reconstrução da figura geométrica dada pelo movimento

realizado, com a sua respectiva elipse de inércia e o gráfico 2 apresenta a curva de

evolução, que caracteriza o padrão de movimento utilizado.

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Gráfico 1• deslocamento realizado e elipse de inércia Wr----r----,----r----.----,----,----,----,

10 / ---- ~~ ~

8 8 o ~

~ ~

~ >o

-lO

-20 -20 -15 -10 -5 o 5 10 15 20

x(mm)

Gráfico 2• curva de evolução das distâncias em relaçao à elipse de mércra 0.5 .

o\ r-J \ ~ í \ / v-.J \ ( \.,_.)

-l'----'~--1.--_L _ _L _ _j__--L_ _ _j___[____j _ _j

o 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9

tempo (s)

Considerando-se o comportamento motor um sistema dinâmico, a observação do

padrão apresentado pode ser ligada à evolução da estabilidade do sistema num determinado

eixo temporal, de tal forma que a fase inicial apresenta padrões instáveis, como

caracterizado por T ANI (1998), com movimentos inconsistentes e descoordenados, os quais

são representados por uma grande dispersão nos dados em relação à elipse central de

giração, evoluindo para um estado mais padronizado e preciso, demonstrado por uma

dispersão dos dados sem diferenças estatísticas significativas.

A estabilidade do sistema durante todas as tentativas pode ser descrita por uma

curva construída com o desvio-padrão obtido entre cada um dos ponto de todas as curvas.

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Essa curva terá 1. 024 pontos (cada um correspondendo ao desvio-padrão de todos os

valores obtidos para cada intervalo em todas as tentativas). O gráfico 3 ilustra o padrão de

movimento obtido em cada tentativa de um determinado movimento, e o gráfico 4 mostra a

curva de dispersão dos dados, representativa da estabilidade do sistema.

Gráfico 3 • padrão de movimento de cada execução

0.5

i o ~ ;>-,

-0.5

-1 o 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 OJ 0.8 0.9

x(mm)

i 0.3 Gráfico 4 estabilidade do sistema

~

gj 0.2 ü ,§ -V>

'B gj

-o -o - o V>

o 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9

tempo (s)

Com base nas consistências e inconsistências observadas em diferentes variáveis

cinemáticas, o status dinâmico do sistema pode ser contraposto á estratégia utilizada no

movimento e permitir inferências sobre a formação de um programa de ação.

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3.2.2 Estratégias de movimento do sistema

Uma das críticas à abordagem sistêmica, feita por HOFSTEN (1989), relaciona-se à

falta de referências a restrições cerebrais que definem as estratégias utilizadas no

movimento observado. Uma opção para isto é encontrada no modelo alternativo de estudo,

proposto por Tani, Manoel, Connolly, explicitado anteriormente, o qual propõe a

determinação de variâncias e invariâncias que são interpretadas como indícios da existência

de um programa de ação.

Essa idéia é utilizada também por adeptos da abordagem cognitivista, tais como

JEANNEROD (1984 e 1986), MARTENIUCK (1990), HAGGARD (1991), JACOBSON,

GOODALE (1991), GENTILUCI (1991 e 1997), CASTIELLO et ai. (1992),

PAULIGNAN et al. (1997), SERVOS et ai. (1998) e WEIR et al. (1998), os quais

observaram tempo, picos de velocidade e distâncias percorridas para evidenciar a existência

de programas motores na coordenação do movimento.

Entretanto, essas propostas envolvem análises de movimentos simples como

aproximar-se e pegar um objeto ou desenhar grafemas, delimitando-se o início e fim de

cada segmento, com intervalos de pausa entre eles e não análises de movimento mais

complexos ou sem pausa pré-estabelecida entre seus componentes.

Uma alternativa para observação de movimentos mais complexos pode ser

encontrada com a utilização conjunta de elementos cinemáticos e estáticos que permeiam o

movimento, comparando a escala utilizada na realização de cada movimento com o tempo,

a distância e o trajetória percorridos. Pode-se assim, buscar constatações de diferenças

nas estratégias de movimento utilizadas, atribuídas a processos mentais diferenciados e que

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influenciam o status de estabilidade do sistema.

O cálculo da escala utilizada na execução do movimento pode ser feito

considerando o raio de giração da figura geométrica, que é formada pela reconstrução do

deslocamento realizado nos eixos x e y, obtendo-se, então, os centróides e os momentos

estáticos e de inércia, conforme cálculos apresentados acima, itens a) a d).

Cálculos feitos com base nos fundamentos de mecânica, da Física clássica, de

acordo com RAMALHO JR et al. (1976), fornecem o tempo, a distância e a trajetória

percorridos, possibilitando a comparação desses valores com as escalas utilizadas.

Escalas menores, correspondentes a maiores distâncias percorridas, sugerem

estratégías de movimento diferenciadas, como por exemplo o uso de trajetórias indiretas ou

o seqüenciamento diferenciado, os quais podem ser confirmados pelo gráfico de

deslocamento nos eixos x e y.

O gráfico 5 mostra duas tentativas diferentes de execução de um dado movimento.

Na primeira tentativa (a), a escala utilizada é maior que na segunda (b), no entanto, a

distância total percorrida é menor, devido à utilização de uma seqüência diferente de

movimento, como evidencia o traçado.

De acordo com o modelo de TANI (1998), inferências podem ser feitas sobre a

existência de um programa de ação, analisando-se a macro e a microconsístência do sistema

e observando, por exemplo, as seqüências utilizadas no movimento (macro) e distância/

tempo total (micro). Esses dados podem ser contrapostos aos obtidos no ítem anterior

(estabilidade) para verificar se o mesmo movimento ·que apresenta consistência na

macroestrutura é também aquele que apresenta menor dispersão nos dados relativos à

elipse central de giração, confirmando ou não sua estabilidade.

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Gráfico 5: deslocamento realizado

-0.9 ,---~---~--~---~---~----,

-0.95 1 I

-1 ~

I ~ -105 r ~ ~

-L! I -Ll5 [

-1.2

...

. ~--/-·· .... ( I '

::.. ... ~----~---~---~···-·-··-···············h

-1.25 '-----L---~----'----'----~--_j J.l

I Escala (a)=O.l44

1.15 l.l 1.25

x(mm) l.3 135 1.4

Escala (b}=O.lll I Perímetro(a)=l0900 mm I Perímetro (b)= 1.19lmm

Esta proposta de estudo pode ser utilizada para analisar diferentes movimentos,

desde que se façam registros de tempo e deslocamento em dois eixos (x e y). No presente

estudo, optou-se pela utilização de um sistema de gravação com uma mesa digitalizadora,

associada á tarefas de desenhar. Isto permitiu a análise da qualidade de execução do

movimento de acordo com critérios já estabelecidos na literatura, possibilitando a

comparação entre a qualidade apresentada no movimento e sua estabilidade.

3.2.3 Qualidade de execução do movimento

A utilização de tarefas de escrever ou desenhar tem sido explorada tanto em estudos

que descrevem o comportamento motor de forma qualitativa, como no estudo de: BLÚTE,

61

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DIJKSTRA (1989) e CONNOLLY, ELLIOTT (1981), quanto por estudos que têm se

concentrado na busca por fundamentos da formação da trajetória do movimento e sua

análise cinemática, utilizados por VAN GALEN (1993), LACQUANITI et a/. (1983),

MAARSE, THOMASSEN (1983), HULSTIJN, VAN GALEN (1983), SCIAKY et ai.

(1987), W ANN (1987), MAARSE et ai. (1989), PORTIER et a!. (1990) V AN

EMMERICK (1992) e HODGES et ai. (1995). Para MANOEL (1998b), tais tarefas podem

ser consideradas exemplos de comportamento motor complexo, já que a realização delas

envolve os elementos básicos de qualquer ação motora.

Essas tarefas são utilizadas também para inferências sobre o desenvolvimento

motor, em testes conhecidos como "teste perceptivo-motor". Embora em linhas gerais todo

movimento considera-se que todo movimento seja influenciado pela percepção, esse

termo se refere a testes que pretendem avaliar a precisão de vários sistemas sensoriais

(visual, auditivo, cinestésico e tátil) ou a habilidade de "processamento central" (capacidade

do sistema nervoso de integrar, comparar e armazenar informações).

A maior parte desses testes, de acordo com SHORT (1995), foi construída na

década de 1960, sob a premissa de que o desempenho acadêmico pode aumentar por meio

da melhora das habilidades sensório-motoras, reduzindo a resposta motora á

manipulação de uma caneta. Dois testes de lápis e caneta são bastante utilizados ainda hoje.

São eles: o teste Bender- Gestáltico criado por Bender, em 1938, e o teste de integração

visio-rnotora, conhecido corno VMI (Visio-Motor Integration) criado por BEERY e

BUKTENICA, em 1967, tendo sido ambos significativamente correlacionados nos estudos

de RYCKMAN et ai. (1972), ARMSTRONG, KNOPF (1982), BREEN (1982) e

SIEWERT etal. (1983).

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O teste Bender-Gestáltico, segundo KOPPITZ (1989), é utilizado como

instrumento para medir o grau de amadurecimento percepto-motor de pessoas em

diferentes faixas etárias, verificar ausência ou presença de sinais indicativos de lesão

cerebral (LC), realizar prognósticos de desempenho escolar e perturbações emocionais em

crianças pequenas, dentre outros. Consiste em nove figuras que são apresentadas uma de

cada vez, para serem copiadas em uma folha branca pela pessoa.

O teste de integração visio-motora (VMI) tem como objetivo identificar crianças

com problemas de aprendizagem e de comportamento, medindo a integração entre

percepção visual e motricidade, relacionando-os com o desempenho acadêmico -

RYCKMAN et a/. (1972), ARMSTRONG, KNOPF (1982), SIEWERT et a/. (1983),

GRAF, HINTON (1997), BEERY (1997) e PREDA (1997). Trata-se de um teste de lápis e

papel, que consiste na reprodução de 24 figuras geométricas dispostas em ordem crescente

de dificuldade: da mais simples (linha reta vertical) à mais complexa (estrela tridimensional

de seis pontas). O teste inicialmente tinha 72 figuras do qual a maioria foi eliminada nas

análises de validação interna. As 24 figuras restantes foram as que apresentavam

correlações estatisticamente significantes entre idade cronológica e conceituações teóricas.

As pessoas portadoras de deficiência mental, bem como as que apresentam

dificuldades de aprendizagem, geralmente têm dificuldades para copiar as figuras tanto do

VMI quanto do teste Bender-Gestàltico, obtendo menores scores. Os resultados alcançados

têm sido interpretados como dificuldade perceptivo-motora, correlacionada à dificuldade de

aprendizagem de conceitos acadêmicos - KRAUTF, KRAUFT (1972), ARMSTRONG,

KNOPF (1982), SIEWERT et a/. (1983), KOPPITZ (1989), CIASCA (1994) e GRAF,

HINTON (1997).

63

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Os critérios utilizados por BEERY (1989) para a pontuação no teste foram criados a

partir de diferentes estudos sobre a habilidade de desenhar figuras, foram revisados três

vezes em 1982, 1989 e 1997 e validados para a população brasileira por PINELLI JR,

PASQUALI (1992). Tais critérios correlacionaram os desvios em relação ao modelo com

níveis de desenvolvimento motor e podem ser usados como parâmetros para observação da

qualidade das tarefas de cópias de figuras geométricas.

O autor observou que a reprodução de cantos (ângulos de 90' ) requer que a

pessoa desenhe em uma direção, pare num lugar específico e, depois, continue em uma

direção diferente. Assim, a inabilidade de parar e mudar de direção, após 6 anos de idade,

é associada a patologias. A cópias de formas que incluam cruzar linhas verticais e

horizontais está ligada à capacidade de "cruzar a linha média", referindo-se à linha média

do corpo e à medula. O insucesso nessa tarefa estaria associado a dificuldades espaço­

temporais, ligadas ao referencial "perto e longe" do próprio corpo.

A execução de linhas oblíquas requerem a coordenação simultânea de movimentos

horizontais e verticais, e a dificuldade em reproduzi-la estaria relacionada a dificuldades

com tal coordenação. A capacidade de construir linhas oblíquas à direita precede à de

fazê-lo pela esquerda.

Investigando o processo de aprendizagem motora, PORTIER et ai. ( 1990) avaliaram

características cinemáticas de velocidade, aceleração, tempo e deslocamento e

consideraram incorreta a omissão de algum segmento da figura.

Considerando os estudos acima mencionados foram selecionados alguns critérios

para a análise da qualidade da tarefa motora realizada, baseados nos erros encontrados

nessas tarefas. Assim, foram considerados erros os seguintes itens:

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ausência de ângulos na demarcação dos segmentos;

figuras com segmentos não bem definidos;

substituição de linhas oblíquas por linhas horizontais ou verticais;

orientação incorreta do segmento;

cruzamento da linha média do segmento;

omissão de um segmento;

Além disso, considerou-se também a variação da escala utilizada para o traçado da

figura. Para isso, é necessária a construção de um gabarito de referência, ou seja, uma

figura geométrica ideal, com a qual cada traçado realizado possa ser comparado. Após o

cálculo do raio de giração, tanto do gabarito quanto da figura representando o movimento

realizado, a variação da escala pode ser observada de acordo com a relação:

em que E é a escala e kz e kzm são os raios de giração da figura, correspondente

ao movimento realizado, e do gabarito, respectivamente. Assim, obtém-se a escala relativa

de cada movimento realizado.

O gráfico 6 exemplifica o traçado de um movimento realizado e o traçado esperado

(gabarito), bem como a diferença de escala existente entre eles.

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Gráfico 6: deslocamento realizado x deslocamento proposto -••..---~-----------~-------,

~85

-90

-95

~105

~110

b

-120 '----~---:-~---:-~--~--~--~-_____J 100 105 110 115 120 125 130 135

x(mrn)

Escala (a)= 13.50 Escala (b)- 13.73 Perímetro( a)= 111.10mm Perímetro (b)= 103.55mm

3.3 Resumo do capítulo

Nas propostas de aproximação das abordagens de estudo em comportamento motor

humano, podem-se encontrar indicações para a observação do mesmo como um sistema

dinâmico cujas propriedades de organização podem ser analisadas por meio de sua

estabilidade expressas com formulações matemáticas precisas. Os estudos dentro deste

modelo são realizados a partir da observação de movimentos cíclicos. Outra proposta de

análise faz inferências a um programa de ação com coexistência de elementos de macro e

microdeterminãncia, em vez de procurar por restrições fisicas. A maior parte desses

estudos analisa movimentos simples ou tarefas de desenhar figuras que tenham claramente

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delimitados o início e o fim de cada segmento

Uma possibilidade para a análise da estabilidade de movimentos mais complexos e

não-cíclicos é encontrada na utilização conjunta de elementos cinemáticos e estáticos, tais

como tempo, distãncia, elipse central de giração e escala da figura geométrica

representativa da trajetória do movimento descrito num plano x, y. A comparação entre o

status dinâmico e estratégias de movimento possibilita a descrição matemática da

estabilidade e permite inferências a processos mentais que atuariam na coordenação do

sistema.

Embora existam diferentes opções de registro para ações motoras que se

desenvolvem em um espaço plano, optou-se pela realização de tarefas de desenhar sobre

uma prancheta, por serem representativas de um comportamento motor complexo e

permitirem a realização de análises, segundo critérios de identificação de erros em í!guras

geométricas existentes na literatura. O quadro O 1 apresenta a sinopse da análise sugerida.

Quadro 01: Análise da estabilidade do movimento

Status dinâmico

Estratégias

Qualidade de execução

Elipse de lnércía

f Variáveis cínemáticas L Escala utilizada

Erros na trajetóría

Erro de escala

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4 Metodologia

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" no andamento da atividade de pesquisa cientifica somos levados a

emprestar propriedades a um objeto utilizando os atributos de um segundo

objeto com que o primeiro guarda alguma semelhança comprovada. Por

não ser possível abordá-lo de modo mais direto, servimo-nos de modelos

como elementos mediadores entre a realidade investigada e nossos recursos

intelectuais... modelos constituem meios e não fins. São travessias. Como a

metiifora, são engenhosos produtos da mente humana e como tais podem

ser inventados, testados, corrigidos, dispensados e recriados ... "

BENNATON (1997)

4.1 Classificação da pesquisa

Este estudo se cardCterizou, de acordo com a classificação propo::.ia por

SEVERINO (1990), como uma pesquisa experimental, ou como uma pesquisa aplicada I,

como sugeriu CHRTSTINA (1989), por estar voltado para o desenvolvimento da teoria,

utilizando-se de tarefus motoras naturais.

4.2 População

As pessoas envolvidas nesta pesquisa formaram três grupos pequenos e distintos:

o primeiro constituído de Pessoas Portadoras de Sindrome de Down (PPSD), o segundo

composto de Pessoas Portadoras de Deficiência Mental de causas idiopáticas (PPDM) e o

terceiro formado por Pessoas sem Deficiência Mental conhecida (Ps!DM). Inicialmente

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cada grupo era composto de 08 pessoas, mas intercorrências com pessoas do grupo de

Síndrome de Down, reduziram-no a quatro pessoas, sendo então considerado para este

estudo, os dados coletados de 04 pessoas em cada grupo, de ambos os sexos e fuixa etária

entre 09 e 29 anos.

Entre as PPSD apenas uma é alfabetizada, tendo cursado até a 4• seríe do ensino

fundamental, e do grupo de PPDM nenhuma pessoa é alfabetizada, embora tanto as PPSD

quanto as PPDM tenham frequentado regularmente a escola especial num período de 03 a

12 anos, com atividades direcionadas à alfabetização. As Ps/DM foram escolhidas de

acordo com o critério de fàixa etária, pareando-se os grupos. Isto proporcionou diferentes

graus de escolaridade (3', 4' ,6• série do ensino fundamental e nível superior, no caso da

pessoa com fuixa etária de 25 anos, intitulada aqui como G3/2).

4.3 Material e métodos

A necessidade de aproximação entre pesquisa básica e pesquisa aplicada, levou à

utilização de uma metodologia que permite a observação do comportamento motor em

situações próximas ao cotidiano e em ambiente fumiliar aos sujeitos pesquisados. Para

tanto, a escolha da tarefu executada foi precedida da observação das atividades realizadas

em instituições especiais e a opção pelo equipamento é feita buscando algo que seja de

fácil transporte e manuseio, permita o registro dos dados de maneira simples, direta e

flexível e não possua elevado custo financeiro.

Assim, decidiu-se pela observação de tarefus de desenhar, realizadas em uma mesa

digitalizadora.

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4.3.1 Sistema de registro

A mesa digitalizadora escolhida foi a modelo OP-1812 OmniPad, fabricada pela

Yanco. Esta mesa possue uma área ativa de 12" x 12", resolução até 2540 linhas por

polegada, precisão de+/- 0.01 polegada, taxa máxima de digitalização de 200 pontos por

segundo, taxa de transmissão igual a 19200 bytes por segundo e interface tipo RS 232C. O

sistema inclue uma caneta instrumentada, responsável por transmitir a um computador a

informação de posição exata do traçado realizado sobre a mesa. O computador utilizado foi

um pentium portátil (notebook), com sistema operacional Windows 98.

Foi desenvolvido um programa de controle de aquisição dos dados da mesa,

denominado 'Digitab ', que consta de rotinas de registro das posições x e y da caneta

instrumentada, bem como do instante de tempo da aquisição de cada registro. Tal aquisição

é realizada de forma assíncrona, condicionada à geração de uma interrupção oriunda do

movimento da caneta, sendo o menor tempo limitado pela taxa máxima de digitalização da

mesa, ou seja, cinco ms.

A necessidade de monitoramento do tempo do traçado, com elevadas taxas de

aquisição, impediu o procedimento de apresentação da trajetória da caneta no monitor do

computador em tempo real. Assim, para o fornecimento de feedback visual do traçado, foi

necessário a adaptação de uma ponta de tinta à caneta instrumentada. A caneta

instrumentada que acompanha a mesa digitalizadora não permitiu a adaptação de uma ponta

com carga de tinta suficiente para a realização de um grande número de ensaios. Optou-se,

portanto, pela construção artesanal de outra caneta de precisão, com uma bobina com fio

n°. 40 ( 3.440,0 QIK.m), de 8.89mm de comprimento e um ferrite de O.lOmm, que permitiu

a colocação de carga de tinta suficiente para a realização dos ensa10s.

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A calibração do tempo foi feita utilizando-se um cronômetro externo e a calibração

do deslocamento no eixo x, y, através da mensuração das figuras desenhadas na folha de

resposta.

Os dados capturados foram gravados em arquivos com formatos ASCII que

possibilitassem a leitura do mesmo por outros aplicativos. O programa 'Matlab · foi

utilizado para computação numérica e visualização gráfica dos dados aquisitados.

O programa de controle da mesa digitalizadora, bem como as funções e arquivos de

instruções para análise de dados foram desenvolvidos no Departamento de Projeto

Mecânico da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas.

4.3.2 Questões de Estudo

As questões observadas, podem resumir-se a:

1- Durante a aquisição do controle de movimento as PPSD são mais instáveis no

comportamento motor do que as demais? Em caso afirmativo, esta

inconsistência estaria relacionada a estratégias diferenciadas de movimento?

2- A prática da atividade proposta levou à mudanças no desempenho da tarefa?

3- Houve memorização da tarefa?

4- A proposta de estudo utilizada, mostrou-se adequada para responder as questões

acima?

4.3:3 Tarefas utilizadas

Além da observação de atividades utilizadas em instituições especiais, a escolha

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das tarefas levou em consideração também estudos sobre o comportamento motor, que

abordaram movimentos de escrever e desenhar, como explicitado no capítulo 02 e recam

em diferentes execuções de uma mesma figura geométrica, que deveria:

1- ser desconhecida para os participantes do estudo

2- possuir linhas retas e curvas

3- possuir pelo menos um ângulo de 90° e um entre 50° e 70° .

Optou-se assim, pelo desenho estilizado da letra 'Tet' - r!) do alfabeto hebraico

(figura 01), que atendia às características desejadas.

Figura O 1 - Figura reproduzida pelos participantes do estudo

Foram realizadas três atividades distintas, a primeira executada ao longo de

um eixo temporal e as outras duas em uma única tentativa.

• Tarefa 01

Executar blocos de tentativas de copiar a figura conforme modelo apresentado.

Procedimentos: A pessoa sentou-se confortavelmente em frente a uma mesa

digitalizadora, com a mão colocada na posição de início e dado o sinal copiou uma série

de cinco figuras iguais (ver apêndice 02), que estavam fixadas sobre a mesa

digitalizadora, logo acima da àrea disponível para a realização da tarefa. A folha onde as

figuras deveriam ser copiadas continha cinco retângulos, dentro dos quais cada figura

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deveria ser desenhada. Cada pessoa realizou 20 blocos de tentativas, em quatro sessões

semanais, totalizando 100 execuções da referida figura.

Antes da realização desta tarefa, foram dados 15 minutos para cada pessoa se

familiarizar-se com a aparelhagem, podendo desenhar ou escrever livremente.

Instruções dadas: copiar a figura, mantendo a maior similaridade possível ("faça

um desenho o mais parecido possível com este aqui, um em cada um destes espaços").

• Tarefa 02

Reproduzir a mesma série de figuras da tarefa 01, sem a observação do modelo.

Procedimentos: Os mesmos da tarefa 01, porém a folha de resposta fornecida

estava em branco.

Instruções: reproduzir a figura desenhada nas sessões anteriores ('você se lembra

do que estamos aprendendo a desenhar? Faça um desenho igualzinho ao que fizemos nos

outros dias, coloque o mesmo número de figuras, tá?')

Esta tarefa foi realizada uma semana após a realização da última sessão da tarefa O 1.

• Tarefa 03

Reproduzir a figura modelo, porém em proporções maiores, ocupando toda a folha

(tamanho A4)

Procedimentos: semelhante á tarefa 01, porém o modelo apresentado continha

apenas uma figura, nas mesmas proporções da tarefa 01 e a folha de resposta estava em

branco.

Instruções: copiar a figura apresentada aumentando suas proporções de modo a

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ocupar toda a folha ('vamos fazer um desenho bem grandão, um só, que seja do tamanho

desta folha aqui? ").

Esta tarefa foi realizada após a tarefa 02, na mesma sessão.

4.3.4 Modelo de análise utilizado

As análises realizadas, como proposto no capítulo dois, investigaram três itens

relacionados ao comportamento motor das pessoas estudadas estabilidade, estratégias e

qualidade do movimento observado. Os dois primeiros foram veriílcados através dos dados

armazenados no computador, enquanto que o terceiro foi analisado a partir das folhas de

respostas de cada pessoa, sendo observada a freqüência relativa de cada erro encontrado no

desenho. Para a veriílcação do cruzamento da linha média a figura foi divida em cinco

segmentos, conforme a ílgura 02, notando-se a posição do segmento O 1 em relação ao 02.

O modelo da folha de observação utilizada pode ser visto no apêndice 03.

Figura 02- Numeração dos segmentos da Figura proposta

Além de variáveis de tempo de movimento e distância percorrida, foram

considerados também o tempo e a distância percorridos nas fases aéreas, entendidas aqui

como a fase de movimento da caneta que não compunha o traçado da figura exemplií!cada

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no gráfico 7 e 8 pelo traçado azul.

Gráfico 7 e 8 -Exemplo de deslocamentos realizados

PPSD -80 ,-----,-----,------,---------,------,

-100 E E

-120

-100

~ -110

-120

-130 '-------'------'------'-----'------' 50 100 150 200 250 300

mm

111 Movimento traçando a figura Fase área

4.3.5 Tratamento dos dados adquiridos pela mesa digitalizadora

As informações de posição "x, y" e tempo dos pontos amostrados no processo de

traçado das figuras sobre a mesa digitalizadora foram armazenados na forma de matrizes

com um número fixo de 03 colunas. A primeira e a segunda coluna, continham

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respectivamente as informações de posição x e y da caneta em milímetros, referentes à

origem da mesa (extremidade superior esquerda). A terceira coluna da matriz de dados

possuía o tempo, em segundos, em que a informação sobre cada par de posições "xy" foi

adquirido.

As linhas desta matriz corresponderam a diferentes posições adquiridas ao longo do

traçado. O instante de aquisição do primeiro par de coordenadas correspondeu ao tempo t =

O. O número total de posições adquiridas dependeu da velocidade de movimentação da

caneta durante o periodo do desenho.

A "reportagem" de posição da caneta foi feita a cada instante em que o software

detectou sua movimentação através das células sensoras da mesa digitalizadora. A taxa

máxima de reportagem da aquisição do equipamento foi limitada ao valor de 200

amostragens por segundo. Assim, para a caneta parada ou movimentando-se de forma bem

lenta, o número de pontos reportados por unidade de tempo foi inferior àquele obtido

quando a caneta passou de forma mais rápida pelas diversas células sensoras da mesa. Cada

sessão de aquisição possuía os registros das posições e tempos correspondentes ao desenho

de cinco figuras.

Para análise de cada figura separadamente, foram construídas cinco novas matrizes,

cada uma contendo os registros referentes a uma das figuras desenhadas. O ponto de inicio

e término de cada figura foi observado no traçado realizado e capturado através de uma

rotina construída no software Matlab, que permitia a visualização da figura, bem como a

detecção de seu ponto inicial e final, considerando-se sempre o tempo inicial igual a zero.

O tratamento dos sinais adquiridos foi feito através de operações geométricas e

cinemáticas. Em relação à análise de desempenho, os dados de tempo de movimento e

distância total percorrida, foram observados considerando-se todos os desenhos realizados 77

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na sessão, ou seja, desde o instante inicial em que foi dado o sinal para o início da sessão,

até o instante final, quando a mesma foi concluída.

Os cálculos foram realizados conforme explicitado no capítulo anterior, acrescendo­

se que para a fase aérea subtraiu-se a soma dos tempos (ou distâncias) gastos (percorridos)

em cada figura, do valor total obtido na sessão.

4.3.6 Análise estatística

Para a comparação dos dados foi utilizada a técnica sugerida por Tukey em 1977,

relativa à construção de desenhos esquemáticos, mais conhecida como "box and wisker

plots" ou simplesmente "boxplof', a qual mostra a natureza da distribuição dos dados,

permitindo a comparação entre os resultados dos diferentes grupos, bem como a

observação dos sujeitos no decorrer do processo.

Para a construção deste desenho, conforme instruções de BUSSAB, MORETTIN

( 1986) e HOGG ( 1987), considera-se um retângulo onde estão representados os valores do

1 o quartil, mediana e 3° quartil. A partir do retângulo, seguem-se linhas para cima e para

baixo, conhecidas também como "whiskers", até o ponto mais remoto que não seja uma

observação discrepante. Os valores discrepantes, também conhecidos como "outliers" são

representados individualmente por um símbolo (+). No retângulo são feitos entalhes,

correspondentes a uma estimativa da incerteza relacionada à média, para a comparação

entre os desenhos.

Os valores de p são referentes à hipótese nula, segundo a qual, a média dos

grupos seriam iguais.

78

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Além dos desenhos esquemáticos foram construídos também gráficos de linhas

exibindo a tendência de uma determinada variável no decorrer do tempo e gráfico de

coluna, para a comparação entre os resultados dos grupos na análise qualitativa.

4.4 Resumo do capítulo

Este estudo refere-se a uma pesqmsa experimental, podendo também ser

enquadrado como uma pesquisa aplicada I, para observar a estabilidade do comportamento

motor em Pessoas Portadoras de Síndrome de Down (PPSD). Além destas pessoas, foram

incluídos outros dois grupos distintos: Pessoas Portadoras de Deficiência Mental (PPDM) e

Pessoas sem Deficiência Mental conhecida (Ps/DM). Utilizou-se de um sistema de registro

composto por uma mesa digitalizadora, um computador pentium e uma caneta

instrumentada, desenvolvendo-se um programa de controle de aquisição de dados e

criando-se arquivos de instruções e funções para análise matemática no software Matlab.

Foram observadas três tarefas diferentes, referentes a cópias de uma determinada figura

geométrica que permitiam a análise proposta no capítulo três.

79

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5 Resultados

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A apresentação dos resultados será feita por tarefa analisada, considerando-se os

itens propostos para a análise, no capítulo 03, ou seja:

status dinâmico

estratégias de movimento

qualidade da execução do movimento

quando necessário, os dados obtidos em outra tarefa serão comparados. A escala para a

apresentação de gráficos e figuras, privilegiou a melhor visualização dos mesmos

5.1 Tarefa 01

Esta tarefa foi realizada para possibilitar a observação da aquisição do controle de

movimento, estabelecendo-se um determinado eixo temporal. Observou-se a consistência

na reprodução das figuras através de seu desenvolvimento em torno da elipse central de

inércia. A dispersão dos dados em cada tentativa foi representada por um boxplot,

permitindo a comparação entre as diferentes tentativas, através da construção de uma figura

contendo todos os boxplot de uma mesma pessoa. Os dados de cada pessoa estão

ilustrados nas figuras de 03 a 14.

A dispersão dos dados nas duas primeiras sessões da pessoa Gl/1 não foi muito

diferente, porém na sessão 03 e 08 a dispersão aumentou bastante, atingindo seus picos

máximos. É possível observar que até a 8' sessão os valores da mediana (e também da

média) flutuaram mais do que após ela, sendo que os intervalos interquartis foram maiores

até a 1 O sessão.

81

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.. E s !I!

I I I o •

:.§' o 0.5

·• .s = o Q.

o o " -~ o

= ':! . -0.5

I I "

I • I -1

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 sessão

Figura 03: Box and whisker display- evolução em torno da elipse Pessoa Gl/1 -Tarefa 01

E 5 $ ,;,

o • :§' 0.5 o

·• -" = o Q.

o o " -~ o

= ':! " -0.5 "

1 .... "F "!' !!! -1 ~ 'F

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 sessão

Figura 04: Box and whisker display- evolução em tomo da elipse Pessoa G1/2- Tarefa 01

83

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A pessoa G 1/3 apresentou grande flutuação nos valores das distância ponto/elipse,

até a i sessão de treinamento, tanto nos valores medianos quanto nos intervalos interquartis

ou mesmo nos valores extremos ou discrepantes. Após a s' sessão, a dispersão dos dados

diminui significativamente em relação às sessões anteriores, embora ainda não haja

estabilidade no padrão.

3.5

3

I 2.5 .,

2 S. ~ ... 1.5 = o - I "" c: o o. 1 o ... ... , "' 0.5 'õ c: .. -11) o ;;

-0.5

1 .. 'F

-1

1 2 3 4 5 6 7 6 9 10 11 12 13 14 15 16 17 sessão

Figura 05: Box andwhisker display evolução em torno da elipse -Pessoa Gl/3

84

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Os valores encontrados na pessoa Gl/4 apontaram para a variabilidade nas

diferentes sessões, tanto em relação aos valores medianos, como interquartis, sem tendência

para aumento ou diminuição dos mesmos com o passar do tempo. A s•,6• e 7• sessão foram

as que apresentaram maiores valores medianos.

1.5

I 1 ., ~ li ..., 0.5

~ 8. o -o o "' 1~ .., 1ií 'õ -0.5

-1

I ' .;. i I

I I ' 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

sessão

Figura 06: Box and whisker display evolução em tomo da elipse -Pessoa G 114

85

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A figura 07 mostra como foi a evolução da pessoa G2/1. Nota-se que os dados

variam significativamente ao longo do tempo, exibindo diminuição dos valores da média

de cada sessão. Os valores medianos também diminuem ao longo do tempo, porém com

flutuações significativas.

E' E ~ ., !i ::ai .., o -" o Q.

o .., "' .õ

" .. -<I> ,

2

1.5

1

0.5

o

-0.5

I i

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 sessão

Figura 07: Box and whisker display evolução em tomo da elipse- Pessoa G2/!

86

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Os dados referentes à pessoa G2/2, encontram-se na figura 08, onde observa-se alta

variabilidade na distribuição dos dados ao longo do tempo, com intervalos interquartis

significativamente diferentes. Nota-se, no entanto, uma diferença na distribuição dos dados

até a s' sessão, com valores interquartis e as dispersões superiores neste período são

maiores que nos demais.

Ê .s "' :!!. ~ .... o 1: o o. o

"' .. 'õ c: .., -.!!! "'

1.5

1

0.5

o

-0.5

-1 .,.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 sessão

Figura 08 Box and whisker display evolução em torno da elipse - Pessoa G2/2

87

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A pessoa G2/3, exibiu grande variabilidade na distribuição dos dados, com seus

valores medianos maiores a partir da 7• sessão, com intervalos interquartis menores após a

9• sessão, porém com valores mais altos nos primeiros quartis.

3

Ê 2.5

s "' !'!.

2

ã:i ..., 1.5

·l!l 0.5 s::: .. -<J)

'6

I T

-0.5

-1 • 1 2 3 4 5 6 7 B 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 sessão

Figura 09: Box and whisker display evolução em torno da elipse -Pessoa G2/3

88

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A figura 1 O ilustra a distribuição dos dados da pessoa GZ/4, a qual variou sua

distribuição significativamente ao longo do tempo, com valores médios e medianos

maiores após a 13• sessão, e intervalos interquartis variáveis durante todo o treinamento.

2

1.5 + Ê -É.

~ 1 -.; .., o E 0.5 8. .g .. . õ o c: .. u; 'õ

.0.5

-1

I I

T

1 • • 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

sessão

Figura 10: Box and whisker display evolução em torno da elipse - Pessoa GZ/4

89

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O caso da pessoa 3/1 mostrou pequena variabilidade nos valores medianos, mas

oscilações nos valores dos 1' e 4' quartis, com dados discrepantes na maioria das sessões.

Embora não possa ser observada alguma tendência do comportamento, percebe-se uma

diminuição gradativa nos valores medianos entre a 14• e a 19 sessão.

0.8

0.6 Ê s 0.4

"' [li 0.2 li ..,

o o ~ o ll. o -0.2 -o

"' ·g -0.4 ... -"' '5 -0.6

-0.8

-1

• I "' ~ .,. 11

I 1!\1'

+ I 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

sessão

Figura 11 Box and whisker display evolução em tomo da elipse - Pessoa G311

90

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A pessoa G3/2 não apresentou variabilidade significativa na distribuição dos dados

durante o treinamento, mantendo comportamento bastante consistente, como pode ser visto

na figura 12.

Ê .s

0.6

0.4

~ 0.2

li ~ o "E 8. .g -0.2 ., ·g .. :; -0.4

" -0.6 1 1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 sessão

Figura 12: Box and whisker display evolução em tomo da elipse -Pessoa G3/2

91

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A distribuição dos dados encontrada na pessoa G3/3 mostrou dois momentos

diferentes, o primeiro, até a 14" sessão, onde os dados não apresentaram distribuição

significativa, com valores medianos e interquartis próximos, e a segunda a partir da 15"

sessão, onde os intervalos interquartis aumentaram significativamente, embora os valores

medianos não foram muito alterados.

1.5

I 1

., !!. ~ ... 0.5

~ &.

-1

I

.L

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 sessão

Figura 13: Boxandwhisker display evolução em torno da elipse- Pessoa G3/3

92

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A variabilidade da distribuição dos dados, no caso G3/4, pode ser vista na figura 21,

a qual apresenta maiores diferenças entre os intervalos interquartis da 1 • à 4• , 183 e 19•

sessão em relação às demais.

0.8

0.6

Ê 0.4 s Q)

~ 0.2 ~ .., o ~ 8. -0.2 o .., "' õ -0.4 .ái ~ -0.6

-0.8

T

I I "' • * f -F ' I i • i I

* ~ ; "" =!= !

'!'

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 sessão

Figura 14 Box andwhisker display evolução em torno da elipse- Pessoa G3/4

93

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A comparação entre os grupos, pode ser melhor visualizada na figura 15, que

corresponde a ilustração gráfica da dispersão de todos os dados de cada grupo, a partir do

desvio padrão de cada ponto traçado. Evidencia-se uma diferença significativa entre eles.

O grupo de Ps/DM teve menor dispersão nos dados do que os demais, com 3° quartil com

valor menor (0.21mm) que o valor mediano (0.3lmm nas PPSD, e 0.33mm nas PPDM),

dos valores dos outros grupos, que também se diferenciaram, sendo o grupo de PPSD o

mais instável de todos, com intervalo interquartil maior (0.18mm contra O.lOmm e 0.07mm)

e maiores dispersões superiores (0.7lmm contra 0.38mm e 0.2 mm).

A função que retrata o status dinâmico do sistema é dada pela curva traçada,

considerando-se o desvio padrão de cada ponto nas tentativas observadas e é mostrada nos

gráficos de 9 a 20.

0.7

E ! ' E 0.6 ' '

o i • ~ .::- ' o ' ' ~

Q r

2

E3 c o 0.4

"' " o c 0.3 -.-~ .

: "' i i " 0.2 _j_ "' __j__

0.1

_L

PPSD PSDM Ps/DM

Figura 15: Box and Whisker display - Status Dinâmico do Sistema - tarefa O 1

94

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Gráficos de 9 a 20- Status Dinâmico do Sistema- Tarefa OI

Gl/1 Gl/2 Gl/3 Gl/4

~

E 0.5 0.5 0.5 E ~ o E-r/l

o o o o o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000

ponto G2/l G2/2 G2/3 G2/4

~

E E 0.5 0.5 0.5 0.5 ~

o E-r/l

o o o o o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000

ponto

G3/1 G3/2 G3/3 G3/4

Ê 0.5 0.5 0.5 0.5

E ~ o E-r/l

o o o o o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000

ponto

95

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Em relação às estratégias de movimento utilizadas, serão apresentados os dados de

Tempo de Movimento (T.M.), Distância Total Percorrida (D.T.), Tempo de fases Aéreas

(TA), Distância percorrida nas fases Aéreas (D.A.) e escala utilizada para a execução do

desenho.

Quanto ao tempo de movimento, houve diferença significativa entre as Ps/Dm e as

demais, porém ambos os grupos portadores de deficiência mental gastaram mais tempo

para executar a sessão, sem diferença significativa entre eles, como mostra a figura 16, com

valores próximos nas medianas, intervalos interquartis e dispersão superior e inferior.

+ 1 20

+ +

~ 1 00 + - -~- + ~ T o .... 80 I -~-

o ç I I ~

B e 60 • I .... s 40

_j_ 20

PPSD PPDM Ps1D M

Figura 16: Boxandwhisker display Tempo Total- tarefa 01

Houve diferença significativa na distância total entre todos os grupos, acentuando-se

entre as Ps/DM e as demais, sendo que o grupo de PPSD foi o que percorreu maiores

distâncias, tendo também maior dispersão destes dados, como representado na figura 17,

onde valores medianos e interquartis são diferentes. 96

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E

5 600 +

.!: ~ + o 500 . • i ~

E 400 +

~ • • E +

300 -L "'

+ : + o ---*- j_ f-~ 200

E 3 ·;; = :; 100 _i_ -~ ---t-o

PPSD PPDM Ps/DM

Figura 17: Box and whisker display Distância Total- tarefa 01

A dispersão dos dados relativos ao tempo gasto sem realizar traçados (fase aérea)

mostrou marcante diferença entre os grupos portadores de deficiência mental e as pessoas

sem esta caracteristica, como é possível observar na figura 18, onde não apenas os valores

do grupo de Ps/DM são menores, como também têm menor dispersão.

70 + . . + .. 60 < • 50

+ . ~

~ o " ~

é E " • ,_ 20 +

" --+--

' ~'- I ___j___ --'-

PPSD PP D M P s!D M

Figura 18: Box and whisker display - Tempo gasto na fase aérea- tarefa O 1

97

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A figura 19 ilustra a dispersão dos dados relativos à distância perconida em fases

aéreas. Pode-se observar que as PPSD percorreram maiores distâncias do que as demais,

porém sem diferenças significativas entre elas e as PPDM. No entanto o grupo de Ps/DM

diferiu dos demais significativamente.

~ '" + ~ ~ ~

--'f- * '" <

~ ""

-,..-~

0

~ "" ....

B ~ '"" -,--o

"" B c .• '"" _L -. z 13 o !

Cl -'-PPSD PPD M P s/D M

Figura 19: Box and whisker display - Distância perconida na fase aérea -tarefa O 1

Tanto o grupo de PPSD quanto o de PPDM utilizaram escalas relativas menores

para realizar o traçado, com maiores variações nas mesmas. As diferenças entre as pessoas

portadoras de deficiência não foram significantes, como pode ser visto na figura 20.

" • '" ~

• N " "

" " • • " ~ '" "'

* + -

T T + -

~ -

~ 8 -........--

1 _,_ +

p P ~ S D PPD M P sfD M

Figura 20: Box andwhisker display -Escala utilizada- tarefa 01 98

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A qualidade da tarefa foi observada em termos da existência ou não de erros no

traçado da figura, conforme os critérios especificados anteriormente.

Foram realizados três tipos de observação: a evolução dos erros no traçado, sua

freqüência relativa e a diferença entre a escala proposta para o desenho e a utilizada. A

primeira referiu-se a quantos e quais erros foram cometidos ao longo do treinamento de

cada pessoa e pode ser vista nos gráficos de 21 a 44.

Os resultados indicam que o treinamento teve diferentes influências sobre as

pessoas. A pessoa Gl/1 (PPSD), não foi beneficiada com o treino, mantendo os erros

cometidos na maioria das tentativas. A pessoa G2/1 (PPSD), além de manter o erro mais

freqüente durante todo o treino (ausência de), começou orientando corretamente o

segmento, mas entre a 42• tentativa e a 843, inverteu a orientação do segmento 02,

retornando a orientação correta a partir de então.

A pessoa G 113 manteve os erros tipo 1 (ausência de ângulos na demarcação dos

segmentos) e 4 (orientação incorreta do segmento) mas a incidência de figuras incompletas

diminuiu após a 3 s• tentativa, chegando mesmo a desaparecer entre as tentativas 36• a 693 e

a 783 e a 95• .No caso Gl/4, a orientação incorreta dos segmentos manteve-se na maioria

dos testes, porém os itens 1 e 6 diminuíram com o tempo.

Entre as PPDM também podem ser observados erros que persistiram durante todo o

treino, como a orientação incorreta, do segmento 02, realizada por todos, em pelo menos

96.47% das tentativas, e erros que diminuíram ou mesmo cessaram com a prática, como a

definição de cada segmento da figura, nas pessoas G211 e G2/4, ou a demarcação dos

segmentos das figuras com ângulos que desapareceu após a 263 tentativa, em G211, ou

diminuiu sua freqüência, na pessoa G2/4.

99

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A incidência de figuras incompletas, cessou após a 26a tentativa da pessoa G2/4 e

diminuiu após a 70• tentativa de G2/2. Convém salientar ainda, que a pessoa G2/2, foi a que

apresentou maiores índices de erro.

Entre as Ps/DM os erros foram na maioria das vezes esporádicos, ou

concentraram-se antes da metade das sessões realizadas.

Gráficos de 21 a 24 - Erros no traçado da figura

6

"' o 164

"' ., g2

o o

6

"' o 164

"' ., g2

o o

G1/1 -total de erros G1/1 -Erros na figura

06 ~ ~ ., .g4 "' 'C:

Arllt o

f2 v vv o tx o

20 40 60 80 100 o 50

G1/2 -t~Pa~~e erros fflura G1/2 - E os na figura

20

o6 l: * ., o "'4 "' ·c: o "'

w L ~2 o

I o 40 60 80 100 o

figura

Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2( -.) segmentos não definidos

o 4WI

X

50 figura

3( +) substituição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) posicionamento do segmento O I 6(*) figora incompleta

GI/1 e GI/2 = PPSD

100

I 100

100

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Gráficos de 25 a 28 - Erros no traçado da figura

6

"'

·~ o ài4

"' " g2

o o

6

"' o ài 4 "' " g2

G1/3 -total de erros G1/3- Erros na figura

e6~--~

liEK

"' o "04 ., ·c: -HIIH-o

f2 o X

oi 20 40 60 60 100 o 50

G1/4 -t~JI~e erros fi~ra G1/4 -Err na figura

g 61

"' o "4 ., ·c: + ++ o Cl "'2 1ií o -X

o 20 40 60 80 100 o

figura

Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos 3(+) substituição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) posicionamento do segmento O I 6(*) figura incompleta

GI/3 e GI/4 = PPSD

-)100(

50 figura

li

+

I 100

liE

100

101

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Gráficos de 29 a 32- Erros no traçado da figura

G2/1 -total de erros G2/1 - Erros na figura

6 06 l::

"' .g 4follllllllliiiBIII ______ _. m

~JJU . ., g, .!l2 m o

11- +++

V L,c...,v,_--------1 O L---~~~--~--~~ O L---------~--------~ o 20 40 60 80 100 o 100

G2/2 -t~a~~e erros

50 figura

G2/2 -Err()s na figura

6/----,

figura

Categoria dos erros

06 !i; o "4 m ·c o "' ~2 o

I

o o

..

----

HHHUIIIRIIIU

50 figura

l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos 3( +) substituição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) Orientação incorreta do segmento 5(: ) Posicionamento do segmento O 1 6(*) figurn incompleta

G2/l e G2/2 = PPDM

liiEl!E liE

··---

100

102

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Gráficos de 33 a 36- Erros no traçado da figura

6

o o

6

~ ai4

"' "C

g2

o o

G2/3 -total de erros G2/3 - Erros na figura

20

20

06 l':

"' liE liE

~ 4 F-----------+ '" ·c:

A g, .;2 o X

O L---------~------~ 40 60 80 100 o

G2/4 -t~PJl~e erros

50 figura

G2/4 - Erros na figura

40 60 80 100 figura

Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos

-li- -liHlll+ +

50 figura

3(+) substituição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) posicionamento do segmento O 1 6(*) figura incompleta

G2/3 e G2/4 = PPDM

100

100

103

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Gráficos de 37 a 40- Erros no traçado da figura

6 :g ãi4 ., "' g 2

6 :g ài4 ., "' g2

o o

G3/1 -total de erros G3/1 -Erros na figura

e6 ~ ., .g4 õlO 000 <D ., ·c: o C> .'!!2 ., + o X

o 20 40 60 80 100 o 50

G3/2 -t~PJI~e erros ~a G3/2 - E na figura

e 6 ~ ., o "04 ., ·c: o C>

~2 o

o 20 40 60 80 100 o 50

figura figura

Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos 3(+) substitnição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) posicionamento do segmento O I 6(*) figura incompleta

G3!1 e G3/l ; Ps!DM

+

100

100

104

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Gráficos de 41 a 44 -Erros no traçado da figura

6

:g ~4 ., "' ~b

6

:g ~4 ., "' g2

o o

G3/3 -total de erros G3/3 - Erros na figura

20

20

26 ~ ., o "04 OCD .. ·c -IH-H!-o

f2 CJ

XX

o 40 60 80 100 o 50

G3/4 -t~Pa~~e erros ~ra G3/4- E na figura

06 1:: ., .g4 <XX> o o ..

-iH-11+-·c o

f2 CJ :xa.< X

o 40 60 80 100 o 50

figura figura

Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos 3(+) substitnição de linhas obliqnas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) Posicionamento do segmento O 1 6(*) figora incompleta

G3/3 e G3/3 = Ps/SD

100

o

100

105

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A freqüência relativa dos erros está ilustrada no gráfico 45. Os resultados mostraram

diferenças importantes entre os grupos, sendo que os grupos podem ser considerados

diferentes em relação à média de seus valores ( p = 4.4315e- 004 para a= 0.05 ).

As Ps/DM apresentaram poucos e esporádicos erros no traçado da figura, sendo que

a pessoa G3/2 não apresentou nem ao menos um dos erros observados; em contrapartida, as

demais pessoas apresentaram um alto índice de erro, chegando mesmo a I 00% em algum

dos critérios observados (pessoa Gl/1 item 04, pessoa gl/3, itens 1, pessoa 2/2 itens 1 e 4).

A maior incidência de erros foi no item 04, relativo à orientação incorreta do

segmento e foi observada em todos os participantes do estudo. Entre as PPSD e PPDM

houve alto índice deste erro (entre 95% e 100%, exceto na pessoa Gl/2, com 32,94%) mas

nas Ps/DM este erro apareceu esporadicamente (de O a 7%).

Outros dois erros freqüentes foram encontrados no item O I (ausência de ângulos na

demarcação do segmento) e 03 (substituição de linhas oblíquas por linhas horizontais ou

verticais).

Comparando-se ambos os grupos de deficiência mental, as diferenças não foram

estatísticamente significantes (p = 03696 para a= 0.05), embora as PPDM tenham tido

maiores índices de erros em todos os ítens, menos no primeiro (ausência de ângulos na

demarcação do segmento).

106

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Gráfico 45 -Freqüência relativa dos erros encontrados nas figuras da tarefa O l

o ausência de ângulos na demarcação dos seg:nentos

o substituição de linhas oblíquas por horizontais ou verticais

11!1 posicionamento incorreto ou ausência do segmento1

1!11 seg:nentos não definidos

o olientação incorreta dos seg:nentos

D fi~ra if1COI'lllleta

Gl/1 a Gl/4 = PPSD; G2/l a G2/4 = PPDM; G3/l a G3/3 = Ps/DM

107

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Em relação à diferença entre a escala utilizada para o traçado da figura e a proposta

no modelo apresentado, os grupos de PPSD e PPDM obtiveram maiores valores do que as

Ps/DM, com maiores flutuações dos mesmos, não havendo diferença significativa entre os

grupos portadores de deficiência mental, como pode ser verificado na figura 21.

+ 7

6

~5 ~ w .g4 o t: + '" 3 +

! $

2 $ _j_

: -+-

o

2 3 Group Number

Figura 21: Box and whisker display - Erro de escala - tarefa O I

108

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5.2 Tarefa 02

Os gráficos de 46 a 57 mostram a consistência da execução das figuras, tanto para a

tarefa 01 (em vermelho) quanto para a tarefa 02 (em azul), considerando-se apenas as 05

últimas tentativas na primeira tarefa.

Houve variedade na maneira de traçar o desenho, exercida por cada pessoa. Uma

observação das duas tarefas de cada pessoa mostra que as Ps!DM tiveram padrão de

reprodução da figura mais próximo entre si do que as demais, sendo que a pessoa G3/2 foi a

que obteve maior semelhança entre as duas curvas, obtendo também menores flutuações em

tomo do desvio padrão em cada ponto traçado, exibindo assim grande consistência na

maneira como reproduziu tanto as figuras na tarefa 01, quanto na 02.

De outro lado observa-se que as pessoas Gl/3 e G2/3 foram as mais discrepantes,

tanto por exibirem grande flutuação em tomo dos valores de desvio padrão, quanto pela

diferença no padrão apresentado nas duas tarefas.

Convém observar ainda que a pessoa Glll difere em seu comportamento em relação

ao restante das pessoas de seu grupo, sendo mais estável (menor flutuação do desvio

padrão) e mantendo maior semelhança nas duas tarefas. Esta é a única pessoa no grupo de

PPSD e PPDM que é alfabetizada.

109

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Gráficos de 46 a 57- Status Dinâmico do Sistema-Tarefa O 1 e 02

Gl/1 Gl/2 Gli3 Gl/4

1 1 1 1

I ~O O. o O. r/1

o o~----~

500 500 1000 o 500 1000 o 500 1000

ponto

G2/1 G2/2 G2/3 G2/4

1 1

1 O. o O.

'-'

~ r/1

o 500 1000 o 500 1000 o 500 500 1000

ponto

G3/1 G3/2 G3/3 G3/4

1 1 1 1

a 8 '-' o E-<

O. O. O. O. r/1

ponto

110

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A comparação do status dinâmico entre os diferentes grupos na tarefa 02, pode ser

melhor observada na figura 22. Nota-se que o grupo de PPDM foi o mais instável, com

maior dispersão dos valores. Observa-se que o valor do 3° quartil deste grupo é superior,

bem como o intervalo interquartil e a dispersão superior, sendo seus valores discrepantes

também maiores que os encontrados nas PPSD.

A diferença entre as PPSD e as Ps/DM também foi significativa, sendo que as

últimas tiveram pequena dispersão dos dados, com a dispersão superior sendo menor

(0.32mm) que os valores do 3° quartil dos outros grupos (0.39mm e 0.49 mm,

respectivamente), com intervalo interquartil menor que os outros grupos (0. 09mm contra

0.18 mm e 0.32 mm) e ainda com valor mediano (0.17 mm) menor que o valor do 1 o quartil

dos outros grupos (0.2lmm e 0.16 mm).

A figura 23 apresenta uma comparação da dispersão dos dados da última sessão da

tarefa 01 e da tarefa 02. O grupo de PPSD não apresentou diferenças significativas nas

duas tarefas, bem como não o fez o grupo de Ps/SD, mas a diferença entre estes dois grupos

foi significante. Em relação ao grupo de PPDM as duas tarefas diferiram

significativamente, sendo a dispersão dos valores maior na segunda tarefa.

111

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E

5

1 u 1.2 u.

~ o

i ·• i .B = o .8 o

g "' • o 0.6

=

$ :;:: -~ o 4

t-., ::; "' o 2

--'- ---L _L o PPSD PPDM Ps/Dm

Figura 22 Box and whisker display- Status Dinâmico do Sistema - tarefa 02

± !.2 1 s

5

1 !} i

É 0.8 1 ~ E = o 0.6 o.

'

~ t -~

é + o 0.4 =

"" . ' ., 0.2 ~ 8 " 1----i "' - -,- ' o - -

PPSD PPSD PPDM PPDM PS/DM PS/DM TAR.l TAR2 TARI TAR2 TAR! TAR2

Figura 23: Box and whisker display -Status Dinâmico do Sistema - tarefa O I e 02

112

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Em relação a estratégias de movimento, as PPSD foram mais lentas que as demais,

tanto no percurso total quanto na fase aérea, como pode ser verificado nas figuras 24 e 25,

enquanto as Ps/DM foram as mais rápidas, havendo diferença significativa entre todos os

grupos. O mesmo pode ser verificado no percurso gasto durante a fase aérea.

Observando-se a distância total percorrida, enquanto as PPSD são as que atingiram

maiores percursos durante a execução das tarefas, as PPDM apresentaram percursos

menores, inclusive em relação a Ps/DM, como pode ser visto na figura 27, com diferença

significativa entre os grupos, porém realizaram figuras com maior perimetro das figuras e

escala, como pode ser observado nas figuras 28 e 29.

~

~

o 80

B "-s 70

Q ~

60 ;... g 50

40 _j_ ~

30 PPSD PPDM Ps/D M

Figura 24 Box and w hisker display- Tempo Total­Tarefa02

45

8 ~ 40 00

35 o "- 30

s 25

8 ~ 20 e< 1 5

1 o _i_ 5

PPSD PPD M P s/D M

Figura 25 Box and whisker dísplay- Tempo Fase a é r e a Ta r e f a O 2

113

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20()( -=. 800

!8tl( r. 700

16tl( H f--

600

s 14úC Ê -,- T ' = ' ' 5 "'500

E '

" : " l2úC ' '()

º '5 '

8 =

'ª ' éS l

º " " C'i400 ' 5 '

10úC -'-

' ' ' -'--'- 300

800 -'-

PPSD PPDM PsrDM PPSD PPDM Ps;DM

Figura 26: Box and whisker display~ Di!rtância Figura 27: Box and whisker display Distância Total- Tarefa 02 Fase Aérea- Tarefa 02

20 --.-200 ' ' 18 ' 180 l- .,...

T 16 ' '

E ' ' --.-' ' 160 14 ' ' ' ' '

~ 140 d 12 -- " s ~HJ s ~

·~ 120 8

'ª g á ' ' 100 -- 6 ' ' ' ' -"- ' ' ' 4 ' I 80 ~ -"-

' PPSD PPDM Ps/DM PPSD PPDM Ps/DM

Figura 28: Box and whisker display Perimetro da Figura 29: Box and whisker display Escala-Figura- Tarefa 02 Tarefa 02

114

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Como é possível verificar no gráfico 58, as PPSD e as PPDM realizaram traçados com

grande incidência de erros, sendo que na maioria das vezes, quando um determinado tipo de

erro foi encontrado numa figura de determinada pessoa, ele persistiu em todas as tentativas.

Foram encontrados mais erros nas figuras das PPDM. O grupo de Ps/DM não apresentou

nenhum dos erros avaliados. A pessoa G 1/3 desenhou todas as figuras invertidas, em

espelho, enquanto a Gl/4 o fez de baixo para cima (cabeça para baixo).

Os segmentos presentes nas figuras incompletas estavam corretamente

posicionados, embora nem sempre tenham seguido a orientação correta; quanto a

disposição dos desenhos na folha de resposta, correspondeu à proposta na tarefa 01.

Gràfico 58- Freqüência relativa dos erros encontrados na tarefa 02.

100

,--~~~--~--~------~----------=---------------~· --------------·-, 1

:: ausência de ângulos na demarcaçao dos segmentos &segmentos não definidos

I

Clsubsíituição de linhas ob!iquas por horizontais ou verticais C orientação incorreta dos segmentos

lilillposlcionamento incorreto ou ausência do segmento1 l:lfigura incompleta -------------·

Gl/2 a Gl/4 = PPSD; G2/1 a GZ/4 = PPDM; G3/l a G3/4 = Ps/DM

115

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A análise da qualidade de execução do movimento incluiu mais um item: o número

de figuras desenhadas. A tarefa a ser executada continha OS figuras, mas foram encontradas

alterações no número de figuras traçado, conforme mostra a tabela O 1.

Tabela 01: Número de figuras traçadas na tarefa 02 Pessoa No. de figuras Pessoa No. de figuras

Gl/1 07 G2/2 04

Gl/3 04 G2/3 06

G211 06 Demais os

Uma comparação em relação ao erro de escala observado nos diferentes grupos

pode ser vista na figura 30. Nota-se que o grupo de PPDM apresentou os erros maiores e

também a maior flutuação dos dados, com intervalo interquartil de 0.377 e o menor valor

mediano (0.1S9).

O grupo de Ps/DM foi o que apresentou a menor dispersão dos dados, com

intervalo interquartil de 0.21S e valor mediano de 0.230. O grupo de PPSD com intervalo

interquartil de 0.3S1 apresentou um erro médio próximo ao do grupo de Ps/DM (023.75 e

0.2334 respectivamente), ou seja, embora em média o grupo de PPSD e Ps/DM tenham

obtido valores semelhantes, o primeiro foi mais instável do que o outro, apresentando

maiores discrepâncias.

116

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0.7 -.-!

!So.6 ; ;

" l u --,-"' ; I IUQ5 ' "

; ' -r ' .,

' o OA

8 ... ...

f,IJ0.3

0.2

0.1 ;

' _L_ _j_

o _L_

PPSD PPDM Ps/DM

Figura 30- Box and whisker display -Erro de escala- tarefa 02

117

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5.3 Tarefa 03

Na tarefa três (reproduzir a figura modelo em maiores proporções), foi realizada

apenas uma tentativa de execução por cada pessoa.

O padrão do movimento (desenvolvimento ao redor da elipse central de inércia)

apresentado foi comparado com o padrão exibido na última tentativa realizada na tarefa O I

e é mostrado nos gráficos 59 a 70, onde as curvas azuis representam a evolução em tomo

da elipse central de inércia na tarefa O 1 e as curvas vermelhas correspondem à tarefa 03.

Observa-se que tanto as PPSD quanto as PPDM apresentaram diferentes maneiras

de realizar o traçado em ambas as tarefas, enquanto que as Ps/DM, exceção feita a pessoa

G3/3, mostraram certa similaridade no padrão realizado nas duas tarefas.

A comparação entre os grupos, em ambas as tarefas, é feita através da variabilidade

dos dados referentes ao padrão de movimento e é mostrada na figura 31. Observa-se que as

PPSD mostraram diferenças significativas nas duas tarefas, com maior intervalo interquartil

e menores valores na tarefa 01. As PPDM tiveram muitos valores discrepantes na tarefa

03, porém menor intervalo interquartil.

As Ps/DM obtiveram valores medianos e intervalos interquartis próximos nas duas

tarefas, porém apresentaram valores discrepantes abaixo da dispersão inferior, na tarefa 03,

enquanto que na tarefa O 1 houve menos valores discrepantes, mas eles ocorreram tanto

acima da dispersão superior, quanto abaixo da inferior.

118

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Gráficos de 59 a 70- Padrão de movimento Tarefa 01 (última tentativa) e tarefa 03.

Gl/1 Gl/2 Gl/3 Gl/4

2.---------, 2,--------.,

/""'. :""'\ f\ _} ·<ó s o-, 'WJ~ J \ ' :::!S ~ ()~

(âCJ v \ -"' "'""" ·-·-O"il

-2 -2 -2 -2

o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000

G2/l G2/2 G2/3 G2/4

2 2 2 2

o

-2'----~--" -2.~..-_~---" -2'--~----" -2'----~--"

o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000

2 r--G::c3:,:.;/2=-----, 2 .----G.:::.·:;:.3 /""-3 -..., 2 G3/4

-2L--~--" -2'---~---" -2,___~---" -2'----~--"

o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000

119

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- -r- 1 e -,- f !; o .8 . o o .6 T ~ 0.4

8 8 '

B o

8 l o

8 o o .2 EJ o . o . • I

-0.2 ! ;

~ -0.4

" ! l l T ~ -0.6 I j_ t -0.8 -· +

·I

PPSD PPSD PPDM PPDM PSiDM PS/DM T AR.l TAR3 TARl TAR3 TARl TAR3

Figura 31 Box andwhisker display-status dinâmico- Tarefa 01 e 03

O tempo gasto pelas PPSD para executar a tarefa 03 foi menor do que as demais,

com diferenças significativas, sendo o valor da dispersão superior menor que o valor

mediano dos demais grupos. A diferença entre as PPDM e as Ps/DM foram menos

acentuadas, sendo que as PPDM mostraram maior variabiliade nos dados, com valores

medianos e intervalo interquartil maior., como pode ser verificado na figura 32.

As distâncias percorridas foram significativamente menores no grupo de PPSD,

sendo o valor mediano inferior ao valor da dispersão inferior das Ps/DM e similar ao das

PPDM. Entre as PPDM e as Ps/DM os valores da medianos foram similares, porém as

PPDM tiveram maiores intervalos interquartis, sendo que a média destes dois grupos não

diferiu significativamente, conforme pode ser visto na figura 33.

Em relação à escala utilizada para a ampliação da figura, requerida na tarefa 03, as

PPSD traçaram figuras significativamente menores, em contraposição às escalas utilizadas

pelos demais grupos, como pode ser notado na figura 34. O grupo de PPDM apresentou os

maiores valores e grande variabilidade nos dados, com 1' quartil menor que a dispersão

inferior apresentada pelo grupo de Ps/DM.

120

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maiores valores e grande variabilidade nos dados, com 1' quartil menor que a dispersão

inferior apresentada pelo grupo de Ps/DM.

26 -.-!

24

22

~ 20 ~

o 18 o. E "

16 E-<

14 ~

12 8 lO

8

6 _L _L

PPSD PPDM Ps/DM

Figura 32 Box and whisker display- Tempo Total- Tarefa 03

950

900 ;;; - 850 o E-< .;;! 800 ()

= 750 '"' -.~ o 700

650

600

550

500

PPDM PPDM Ps/DM

Figura 33 Box and whisker display- Distância Total- Tarefa 03

121

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90

H 85

E 80

I \ " I I 75 ~

~

" 70 LJ --u ~

;.;..:; 65

B 60 I

55

50

45 PPSD PPDM Ps/DM

Figura 34 Box and whisker display- Escala utilizada na tarefa 03

122

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Em relação à qualidade de execução do movimento, alguns erros foram

encontrados. No grupo de PPSD, todas as pessoas orientaram pelo menos um dos

segmentos da figura em direção incorreta, e a maioria delas não demarcou os segmentos

com ângulos.

Entre as PPDM, estes erros também foram encontrados na maioria das pessoas.

Além disto, foram encontradas substituições de linhas oblíquas por horizontais ou verticai,

bem como figuras incompletas, totalizando um maior número de erros nas figuras. Não foi

encontrado nenhum erro nas figuras desenhadas pelas Ps/DM. O gràfico 71 permite a

visualização dos erros observados.

Gráfico 71 - Erros encontrados na tarefa 03

o s.J:SitU<;ã:J ce lims d::liq.a; !Xf h:rizl:rtas ru vaii ais

11 p::Ed<TEI1'1rto ircaráo ru aaroa <b~1

11 sa;jTEI1cs rã:> d3i rid:s

o aierlaçã:l iro:m:ta d:s S3;1TEI1cs

Qiig.rn iro::llllf:!a

123

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Na ampliação da figura, o erro de escala cometido foi maior no grupo de PPSD. Os

três grupos diferiram significativamente. O grupo de PPDM apresentou grande

variabilidade dos dados, sendo que obteve o menor valor mediano (0.23), média próxima ao

erro médio do grupo de Ps/DM (0.29 e 0.28 respectivamente), com os maiores valores no

intervalo interquartil e de dispersão superior, enquanto que a dispersão inferior foi a menor

de todos os grupos, conforme ilustrado na figura 35.

0.55

8 ~

! 0.5 !

' 0.45 i

' ! ..5! 0.4 ___j_

"' u ~

t:.:QQ.35

8 0.3

0.25 )-----{

0.2 I \ _j_ ~

0.15 PPSD PPDM Ps/DM

Figura 35 Box and whisker display- Erro de Escala -tarefa 03

124

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6 Discussão

125

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A estabilidade do comportamento motor de PPSD durante a aquisição do controle

de movimento foi observada dentro de um modelo de estudo que procurou aproximar

conceitos das abordagens cognitivista e sistêmica, considerando-se que o movimento

possui propriedades de um sistema aberto, que pode ser descrito por leis fisicas e

matemáticas e sofre restrições cerebrais inferidas através da observação de variáveis

cinemáticas.

A evolução do comportamento foi observada através do desenvolvimento em tomo

da elipse central de inércia, verificando-se as estratégias e os erros no movimento realizado,

discutindo os efeitos da prática.

6.1 Estabilidade do comportamento motor

Têm sido sugerido que PPSD apresentam comportamento motor instável. Elas

foram consideradas inconsistentes nas curvas de torque- DA VIS, KELSO (1982), no

tipo de preensão utilizada -THOMBS, SUGDEN (1991), nos pico de velocidade e

aceleração -HODGES et ai. (1995) e na trajetória do movimento - CHARLTON et a!.

(1996).

Os resultados obtidos neste estudo, referentes à observação do comportamento

apresentado nas diferentes sessões ao longo do tempo, confirmam a inconsistência destas

pessoas, mostrando que o padrão de movimento utilizado, representado pelo

desenvolvimento em tomo da elipse central de inércia da figura traçada, variou bastante,

126

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contrastando com os poucos padrões encontrados por ULRICH, ULRICH (1993), no

desenvolvimento do andar em bebês portadores desta síndrome.

As PPDM apresentaram significativa inconsistência no traçado, observada pela

dispersão dos pontos durante o desenvolvimento em torno da elipse central de inércia,

em cada tentativa, enquanto que as Ps!DM mostraram-se mais consistentes, embora em

alguns casos também tenham apresentado variações, como pode ser visto nas figuras 03 a

14.

A comparação entre os grupos é melhor exemplificada na figura 15, que mostra a

dispersão do desvio padrão de cada ponto ao longo da trajetória, considerando-se todas as

tentativas realizadas (status dinâmico). Observa-se que durante a aquisição da habilidade as

PPSD foram significativamente mais instáveis que as demais, com maior variabilidade nos

dados coletados em cada sessão.

A instabilidade das PPSD foi observada também na tarefa 02, referente à

memorização da ação, porém nesta tarefa as PPDM foram mais instáveis que as PPSD. A

figura 23 mostra que a instabilidade da PPSD manteve-se nas tarefa 01 e 02, mas

aumentou para as PPDM, mostrando que, para as últimas, a ausência do estímulo visual

interferiu mais na execução do movimento. Este dado está em concordância com os

achados de HODGES et ai. (1995), segundo os quais as PPSD são mais consistentes na

ausência de jeedback visual que as PPDM, sendo ambas mais inconsistentes que as Ps!DM.

As modificações nas exigências do movimento, requeridas na tarefa 03,

aumentaram a instabilidade observada no grupo de PPSD, mas não o fizeram nos outros

grupos (figura 31 ), o que pode ser interpretado como uma maior sensibilidade destas

pessoas a perturbações, também identificada por ULRICH et al. (1997).

127

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Observando-se os gráficos 59 a 70, referentes ao padrão de movimento apresentado

na última execução da tarefa 01 e na tarefa 03, nota-se que cada pessoa possui uma

dinâmica única na produção do movimento, como observaram ULRICH et al. (1997).

Apesar disto, existem diferenças entre as Ps/DM e as demais: elas distanciaram-se menos

da elipse central de inércia e apresentaram padrão de movimento mais próximo nas duas

tarefas (gráficos 59 a 70).

Não foi observada nenhuma tendência de comportamento durante o período de

treinamento, embora, em alguns casos, a dispersão tenha sido menor a partir de uma

determinada sessão.

A inconsistência observada nas PPSD e nas PPDM. pode significar que as mesma<>

estão em uma fase inicial de aprendizagem, como proposto no modelo de não equihbrio

elaborado por CHOSID, TANl (1983), enquanto que as Ps/DM estão numa fase posterior,

com estado mais padronizado e preciso.

Há indícios de que a instabilidade esteja ligada às estratégias utilizadas na

realização da tarefa. Como sugeriu ALMEIDA (1993), diferenças cinemáticas podem estar

ligadas a estratégias de movimento, não sendo necessariamente uma questão de preferência,

como comentou LATASH (1993), mas uma característica advinda da própria restrição

causada pela deficiência mental

Durante a aquisição da habilidade (tarefa 01) os dados mostraram não apenas

diferenças significativas no tempo e distância percorridos, entre as pessoas portadoras de

deficiência mental de ambos os grupos e as Ps/DM (ver figura 18 e 19), mas um trajeto

indireto entre uma figura e outra, o que pode ser observado tanto acompanhando o trajeto

128

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realizado por elas (veja por exemplo os gráficos 7 e 8 ) quanto confrontando-se a distância

percorrida com a escala utilizada (figura 17 c 20) .

Observa-se que, embora as PPSD e as PPDM tenham percorrido maiores distâncias

para realizar a :figura, elas utilizaram escalas significativamente menores em relação às

utilizadas pelas Ps!DM, produzindo conseqüentemente, figuras menores.

Percebe-se que a distância percorrida a mais foi devida a mudanças no trajeto tanto

na figura, quanto entre uma figura e outra, produzindo movimentos extras que podem ser

uma estratégia para compensar as dificuldades espaciais na realização de uma ação motora,

como sugeriu LURIA(l989), numa tentativa de compensar os defeitos na organização

espacial do movimento, cau.'lados por pos..'>íveis lesões no lobo frontal.

Estes movimentos extras podem também ser considerados como sincinesias

(movimentos desnecessários realizados concomitantemente a outros movimentos durante

uma ação motora) que indicam, de acordo com LEFEVRE (1989a), atraso no

desenvolvimento. AJURIAGUERRA (s/d) sugeriu que as sincinesias apareceriam em

todas as crianças, mas com o desenvolvimento iriam desaparecendo, sendo pouco

encontradas na faixa etária de 09 e lO anos e consideradas como indicativo de atraso

motor a partir dos 12 anos de idade. Tendo em vista que o grupo estudado estava acima de

09 anos de idade, e que tais sincinesias não foram esporádicas mas constantes, elas podem

indicar aqui, uma defusagem no comportamento motor de ambos os grupos portadores de

deficiência mental.

A estratégia de realizar trajetos indiretos e desenhos em menor escala, foi mantida

pelas PPSD na tarefu 02, mas modificada pelas PPDM, as quais utiliza.-am-se de escala

menores mas percorreram também menores distâncias para realizar o movimento. No

129

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entanto, o uso de trajetórias indiretas continuou a ser adotado, não nas fases aéreas (entre

um desenho e outro) mas no desenho de cada figura (o percurso de cada figura foi

significativamente maior que os demais grupos, conforme figura 28).

Na tarefa 03, foi realizado apenas um desenho, portanto não havendo fase aérea

entre as figuras. As PPSD continuaram a desenhar figuras menores (figura 34), aumentando

o erro de escala (figura 35) e, em conseqüência disto, diminuindo o tempo e a distância

percorridos (figuras 32 e 33). Isto pode ser explicado como uma dificuldade em adequar-se

às novas exigências da tarefa, dado a tendência a manter o estado dinâmico original do

sistema, como proposto por ULRICH et ai. (1997).

Em relação ao tempo de movimento, os dados coletados na tarefa O I e 02, são

semelhantes aos relatados por HODGES et al. (1995) e CHARLTON et a!. (1996), nos

quais as PPSD demonstraram performance motora mais lenta. Apesar destas pessoas

realizarem a tarefa 03 em menor tempo, elas não foram mais rápidas, pois esta diferença de

tempo deu-se porque o trajeto realizado foi também muito menor (figura 33).

A utilização de estratégias diferentes, como executar a ação mais lentamente ou

utilizar-se de escalas menores com trajetos indiretos pode estar ligada à tentativa de

compensar déficts de desenvolvimento motor que dificultam a realização da tarefa. Isto

pode ser visto também através da análise da qualidade da tarefa, onde a presença de

determinados erros sugere atraso no desenvolvimento, como proposto por BEERY (1989).

As PPSD e as PPDM que usaram tais estratégias foram as que tiveram erros freqüentes e

variados em tipo e quantidade, enquanto que as PsiDM tiveram baixo índice de erros.

Observando-se a evolução dos erros das figuras na tarefa O 1, ilustradas nos gráficos

21 a 28, correspondentes às PPSD, observa-se erros que persistiram durante todo o

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treinamento e erros que diminuíram ou mesmo desapareceram com a prática. Situação

semelhante encontra-se nos gráficos de 29 a 36, relativos a PPDM.

A dificuldade com a orientação do segmento foi encontrada em todos os casos, tanto

no grupo de PPSD quanto nas PPDM, sendo que em sete dos oito casos, esta dificuldade

persistiu até o final e foi também encontrada tanto na tarefa dois, referente à memorização,

quanto na tarefa três, evidenciando, de acordo com BEERY (1989), atrasos no nível de

desenvolvimento motor relativos à orientação espacial.

Estas dificuldades puderam ser observadas também pela presença de erros em

relação à demarcação do segmento com ângulos, o que estaria relacionado com a

inabilidade de parar e mudar de direção. Este erro foi bastante freqüente nos casos de

deficiência mental, sendo encontrado na maioria dos desenhos das pessoas G 112, G 113,

G2/2 e também nas pessoas G1/4, G211 e G2/4 entre 18 e 31% das figuras traçadas na

tarefa OI. Além disto, foi encontrado também em todas as figuras da tarefa dois da pessoa

G1/2 e em seis das oito pessoas com deficiência mental, na tarefa 03.

É possível ainda relacionar os erros encontrados com a dificuldade de coordenação

de traçados horizontais e verticais evidenciada pela substituição de linhas oblíquas por

linhas verticais ou horizontais. A pessoa G 111 fez este tipo de substituição em todas as suas

figuras, de todas as tarefas; a pessoa G2/3 o fez em 97.7% das figuras na tarefa O I e em

todas as figuras das demais tarefas. A pessoa G2/2 o fez na maioria das figuras da tarefa O 1,

até a 71 a tentativa e depois este tipo de erro desapareceu.

Uma análise detalhada sobre a incidência de erros relacionadas ao segmento O 1 da

figura proposta indica diferenças perceptivas entre ambos os grupos portadores de

deficiência mental e as Ps/DM. Este segmento era proporcionalmente bem menor que os

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demais componentes da figura e nele foram encontrados as maiores ineidências de erro,

tanto por sua ausência, quanto por sua orientação incorreta Mas entre as Ps!DM foi

encontrada certa "valorização" no traçado deste segmento, evidenciada pela sobreposição

de seu traçado em diferentes figuras das pessoas 03/1, 03/3 e 03/4.

Os erros observados em ambos os grupos de deficiência mental, em contraposição à

quase ausência de erros entre as Ps!DM, sugere que tanto as PPSD quanto as PPDM

possuem diferenças no desenvolvimento motor, relacionadas à orientação espacial, as quais

poderiam ser atribuídas a futores ligados à deficiência mental, não exclusivo da Sindrome

de Down, já que em ambos os grupos estas dificuldades foram observadas sem diferenças

significativas entre eles. LURTA (1981) argumentou que a ba<;e para a construção do

movimento voluntário ou da ação consciente é o sistema do lobo frontal, com o auxílio da

fala interior c sob in...+Juência de impulsos afcrcntcs que o atingem a partir de outras partes

do córtex. Lesões nesta área não levam à desintegração do sistema de atividades dirigidas a

metas, mas ocasiona distúrbios importantes da estrutura de movimento no espaço, o que

explica a diferença encontrada no comportamento motor.

HENDERSON (1986) sugeriu que as PPSD possuem padrão de progressão de

desenvolvimento motor similar, com estágios mais longos se comparadas às Ps/D}.f. Porém

considerando-se que os erros observados aqui têm sido relacionados a níveis de

desenvolvimento motor com fàixas etárias específicas previstas até nove anos, como

mostram os estudos de KOPPTIZ (1989) e BEERY (1989), dentre outros, e que as pessoas

estudadas aqui estão acima desta faixa etária, tais dificuldades podem estar evidenciando

não um atraso no desenvolvimento motor, mas diferenças no desenvolvimento, como

proposto por CONNOLLY (1991) e MANOEL (l998a).

132

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A diferença no nível de desenvolvimento motor observada através dos erros

encontrados relaciona-se também com a consistência na execução do movimento e com o

status dinâmico, sendo encontrados mais erros quando o comportamento motor é mais

instável. As PPSD e as PPDM exibiram comportamento instável ao mesmo tempo que

tiveram alto índice de erros, enquanto que as Ps/DM foram estáveis e apresentaram baixo

índice de erro.

Isto pode ser percebido, por exemplo, confrontando-se os resultados da pessoa

Gl/3 (PPSD) e da G3/2 (Ps/DM). A pessoa Gl//3 foi a mais instável na tarefa 01 (vide

gráficos de 09 a 20), apresentou alta incidência de erros (gráficos 25, 26 e 45) e grande

instabilidade (figura OS) e em contrapartida a pessoa G3/2 foi a mais estável, não foram

detectados erros em nenhum de seus desenhos (gráficos 39 e 40), sendo sua estabilidade

mantida em todo o período de treino (figura 12).

6.2 Efeitos da prática

De maneira geral a prática da tarefa não foi suficiente para provocar mudanças no

status dinâmico do comportamento. Algumas mudanças entretanto, foram signíficativas. A

pessoa G 1/3 a partir da 7' sessão, diminuiu significativamente a dispersão dos dados, ao

mesmo tempo que passou a exibir figuras completas. Mudança inversa aconteceu na

pessoa G3/3 que após a 15' sessão aumentou a dispersão dos dados. Observando-se o

traçado realizado por esta pessoa, percebe-se que, a partir desta sessão, passou a haver uma

133

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super valorização de um dos segmentos da figura, com sobreposição do mesmo, numa

tentativa de correção do movimento.

Os erros não diminuíram sistematicamente, sendo que alguns persistiram durante

todo o treinamento e reapareceram, tanto na tarefa dois, quanto na três. Algumas pessoas,

G2/1, G2/2 e G2/4, deixaram de apresentar um dos tipos de erro após determinadas

tentativas, mas o erro sanado não foi o mesmo, nem a quantidade de tentativas.

Um aspecto da qualidade das figuras foi influenciado pela prática: o número de

segmentos que a compunha As pessoas realizaram figuras incompletas já nas primeiras

tentativas, nas quais havia mais de um segmento ausente; depois, com a prática, o número

de segmentos ausentes diminuiu até ser evidenciado apenas a ausência do segmento 01, o

qual era bem menor que os outros.

Nos casos onde as figuras estavam incompletas na tarefa 02, pode-se observar que

segmentos da figura modelo estavam presentes e corretamente posicionados, sendo que

nestas mesmas pessoas, nas tentativas iniciais de traçar a figura, durante a tarefa 01, a

presença destes segmentos era indefinida ou não posicionada corretamente em relação aos

outros segmentos, o que pode apontar para a formação de uma macro-estrutura, como

proposto por TANI (1989) e MANOEL (1998 b), relativa à padronização espacial.

Há pistas para isto também na tarefa 03, quando foi solicitado que se reproduzisse a

mesma figura, porém em maiores proporções que o modelo apresentado, aumentando assim

a complexidade cognitiva da tarefa e modificando a musculatura exigida para a realização

da mesma; apesar disto, as pessoas conseguiram realizá-la com todos os segmentos,

exceto a pessoa G2/2.

134

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Isto pode significar a formação de um esquema para reconhecer e recordar,

conforme SCIIAPIRO, SCIIMIDT (1982), ou que os movimentos experimentados

anteriormente foram reorganizados para a nova situação, ou seja, que uma macro­

estrutura adquirida na tarefa 01 foi utilizada na tarefa 03, como propuseram

lv1ANOEL(I998b) e TANI (1998). Estes últimos consideram que a estabilidade funcional

se dá através da padronização espacial e temporal do movimento.

Uma análise da evolução das figuras, evidencia a busca pela padronização espacial.

Observa-se uma tendência na evolução do traçado. No inicio a figura era esboçada com

ausência de segmentos, depois estes eram representados imprecisamente, então eram

colocados corretamente em relação aos outros segmentos e, finalmente, demarcados

precisamente.

No entanto, os casos de figuras incompletas só ocorreram entre as pessoas

portadoras de deficiência mental, as quais demostraram dificuldade de orientação espacial,

sendo possível que esta tendência estivesse ligada a esta alteração.

A alta incidência de erros entre as pessoas portadoras de deficiência mení.al, em

confronto com a ausência de erros entre as pessoas sem esta característica, pode sugerir que

para as primeiras, a tarefu foi muito complexa, tanto por falta de pré-requisitos (aspectos

motores ainda não desenvolvidos) quanto por dificuldades no planejamento motor

relacionadas à coordenação dos traçados.

PORTIER et al. (1990) utilizando o conceito de programa motor, referente a

unidades de movimento que podem ser mudadas em função da prática, estudaram a

influência da fàmiliaridade ou não dos segmentos na aprendizagem de grafemas e

concluíram que a prática e fumiliaridade causam mudanças na programação que permitem

135

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que a preparação de segmentos futuros ocorram simuhaneamente à execução do segmento

corrente.

Isto pode explicar em parte, a fucilidade demonstrada por Ps/DM para o traçado da

figura, já que os componentes da figura modelo são familiares aos participantes do estudo e

a dificuldade maior é a coordenação de cada traçado, o que exige algumas associações.

Nos grupos portadores de deficiência, apesar dos segmentos serem familiares a prática não

foi suficiente para que os erros diminuíssem significativamente. MOSS, HOGG (1987)

hipotetizaram que o amnento na proficiência da performance está associado ao

desenvolvimento de padrões estáveis integrados e que as PPSD têm habilidade reduzida de

fuzer associações positivas, o que explicaria a dificuldade demonstrada na reprodução da.<>

figuras.

É importante ressaltar aqui, que não houve intervenção pedagógica no sentido de

facilitar a execução ou aprendizagem da tarefa Tal fato aliado aos resultados acima

expostos mostram que a mera prática de um determinado padrão motor, pode não

conduzir à mudanças desejáveis no comportamento.

Os dados coletados mostraram que o comportamento motor das pessoas portadoras

de deficiência mental é diferente das que não possuem esta característica, tanto na

consistência na reprodução do padrão de movimento, quanto no uso de estratégias e no

desenvolvimento motor exibido. Não se trata apenas de um atraso no desenvolvimento,

mas de um comportamento diversificado. Longe de ser um mero jogo de palavras, este

detalhe traz conseqüências sérias à prática motora a ser oferecida para pessoas portadoras

de deficiência mental.

136

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O desconhecimento de características do desenvolvimento destas pessoas pode levar

a intervenções com expectativas erradas esperando-se que elas apresentem determinados

desempenhos, ou utilizem determinadas estratégias não compativeis com a sua condição

motora ou mental e conduzir a frustrações. Infelizmente, muitas vezes estas pessoas são

tratadas como se pertencessem a faixas etárias menores e não como pessoas com

características diferentes que, embora apresentem dificuldades motoras e cognitivas,

possuem experiência de vida acumulada durante os anos vividos e possuem prognósticos de

vida diferenciados, com diferentes necessidades.

6.3 Modelo de estudo

Um dos problemas para a análise do comportamento motor de pessoas portadoras de

deficiência é a falta ou inadequação de métodos que possibilitem a avaliação desejada,

conforme alertou BAUMGARTNER (1988). Esta necessidade é sentida tanto na atuação

direta com estas pessoas, em procedimentos clínicos e educacionais, quanto na realização

de estudos para elucidar aspectos motores, embora exista uma grande distância entre os

achados científicos e a vida prática.

Estas pessoas possuem características que limitam a eficácia de alguns

procedimentos de medida, sendo necessário que o modelo de estudo possa propor

maneiras de avaliar que sejam adequadas às peculiaridades destas pessoas. A proposta de

análise aqui adotada preocupou-se com a caracterização de diferentes grupos de pessoas,

tendo como suporte teórico, conceitos advindos da aproximação de abordagens de estudo

137

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em comportamento motor ao mesmo tempo que possibilitou a utilização de tarefus

vivenciadas no cotidiano das pessoas observadas.

O modelo utilizado foi adequado para responder às questões de estudo propostas,

possibilitando análises objetivas sobre o comportamento de todos os grupos, bem como

inferência a processos cognitivos ligados à coordenação do movimento.

O sistema de registro permitiu que a coleta de dados fosse feita em ambiente

familiar às pessoas participantes do estudo, e possibilitou a aquisição de dados de maneira

bem precisa e econômíca, mantendo a tarefu o mais próximo possível da vida diária,

buscando aproximar pesquisa bàsica e pesquisa aplicada, para que as idéias advindas deste

estudo pudessem ser aplicadas no campo da reabilitação, conforme sugeriram PERRY

(1990), NATIV (1993), MANOEL (1994) e CRUTCHFIELD, BARNES (1995).

Em relação à metodologia utilizada, os resultados obtidos aqui mostram a

possibilidade de aplicação na vida diária, pois o instrumento utilizado para avaliação pode

ser útil para a avaliação do comportamento motor em situações do cotidiano, dado que

diferentes movimentos podem ser realizados sobre uma prancheta digital, inclusive os

testes utilizados para anàlise perceptivo-motora, permítindo anàlises de outros aspectos que

não os contemplados naqueles testes.

Os resultados sobre o comportamento motor observado não podem ser

generalizados, pois a amostra era pequena, mas o modelo de estudo utilizado

possibilita que novos estudos sejam realizados em diferentes instituições, o que elevará o

número de pessoas observadas e possibilitará a descrição mais precisa dos aspectos motores

de pessoas portadoras de deficiência. A entrada do pesquisador nas instituições, pode

aproximar a linguagem dos relatos clínicos da linguagem teórica ou experimental dos

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estudos, possibilitando a tradução entre elas, sugerida por LATASH (1993). Isto possibilita

que o pesquisador esteja em contato mais próximo com situações da vida diária e possa

então reconhecer variáveis que estariam diretamente ligadas ao comportamento analisado.

A opção pela análise de uma tarefa bastante complexa, de um lado aproximou os

achados das tarefas realizadas no cotidiano, mas de outro limitou as variáveis cinemáticas

que poderiam ser observadas, impossibilitando a análise do timing relativo, considerado

como invariante que permite inferências sobre processos cognitivos. O timing relativo para

atingir picos de aceleração, não foi analisado porque estudos preliminares mostraram a

existência de diferentes quantidades de picos de velocidade em um mesmo segmento, nas

diferentes tentativas, sem alguma tendência significativa, provavelmente relacionados à

preparação para mudança de direção ou a desacelerações realizadas para observar o modelo

proposto. O timing relativo para o traçado de cada segmento da figura não pôde ser

observado devido à indefinição do início e término de cada segmento, apresentada por

vários participantes em muitas figuras, especialmente nas primeiras tentativas.

6.4 Resumo do capítulo

A análise dos dados permitiu a discussão da estabilidade do comportamento motor

apresentado pelos diferentes grupos. Discorreu-se sobre a inconstância na reprodução do

padrão de movimento apresentada por ambos os grupos portadores de deficiência mental,

a utilização de estratégias diferenciadas de movimento e a qualidade da tarefa. O efeito do

treinamento foi investigado, tanto para o status dinâmico do sistema quanto para a

139

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melhora na qualidade da tarefa. Finalmente, argumentou-se sobre a adequação do modelo

de análise utilizado, bem como sua aplicabilidade em estudos sobre o comportamento

motor.

140

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7 Conclusões

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Não é o intuito do presente estudo fazer generalizações sobre as características aqui

observadas e sim levantar indícios que possam nortear novos estudos que possam contribuir

para um conhecimento mais acurado sobre o comportamento motor das Pessoas Portadoras

de Síndrome de Down (PPSD).

As PPSD aqui estudadas mostraram diferenças em relação às PPDM, as quais nem

sempre foram significativas e variaram com a tarefa, porém comparadas às Ps/DM, as

PPSD mostraram comportamento significativamente diferente em todos os aspectos

analisados, como se segue:

• Na qualidade da tarefa, tanto as PPSD como as PPDM, apresentaram alta incidência de

erros, enquanto nas Ps/DM estes erros foram pouco detectados. Isto pode indicar

diferenças no desenvolvimento motor entre as Ps/DM e as demais, especialmente

relacionadas com a orientação espacial. Entre as PPSD houve menor incidência de erros

que entre as PPDM, mas esta diferença não foi significativa.

• Em relação às estratégias de movimento, as PPSD utilizaram mais tempo para a

realização das tarefas, percorreram maiores distâncias e utilizaram de escalas menores

para traçar a figura. Isto evidenciou uma estratégia de movimento com traçados

indiretos para a realização da figura, possivelmente uma tentativa de diminuir a

dificuldade da realização do movimento. As diferenças entre as PPSD e as PPDM

não foram sempre significativas.

• As PPSD apresentaram maior inconsistência no padrão de reprodução do traçado que

as Ps/DM, em todas as tarefas. Entre as PPSD e as PPDM estas diferenças variaram

com a tarefa, sendo que na ausência de estímulo visual, as PPDM foram mais

inconsistentes, ocorrendo o contrário na presença do estímulo.

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• As PPSD foram mais sensíveis a alterações na tarefa, aumentando a instabilidade e

mostrando dificuldades na adequação às novas exigências.

Assim, a instabilidade motora observada não pode ser ligada diretamente à

síndrome de Down, dado que as PPDM também a apresentaram, sendo possível que tal

instabilidade esteja ligada a déficts cognitivos acarretados pela deficiência mental.

De qualquer maneira, observa-se que o comportamento da PPSD é diferente das

Ps/DM e não apenas defasado e se caracterizaria pela:

inconsistência no padrão de reprodução do movimento

sensibilidade à modificações nas exigências da tarefa (aumento da

instabilidade) e dificuldades de adequação

utilização de estratégias diferenciadas de movimento

presença de déficts no desenvolvimento motor

A prática da tarefa não foi suficiente para provocar mudanças no status dinâmico

do sistema, nem diminuir a incidência de erros. No entanto, para as PPSD e as PPDM o

treinamento levou à padronização espacial, indicativa de formação de macro-estrutura ou

de esquemas para recordar. Como as Ps/DM apresentaram as figuras completas com os

segmentos corretamente posicionados desde a primeira tentativa, faz-se necessário novos

estudos sobre esta padronização, com faixas etárias menores, para verificar se ela se

diferenciaria ou não dos outros grupos. Estes estudos permitiriam também observar pré­

requisitos necessários para a realização de tais tarefas.

A constatação de que a mera prática da tarefa pode não produzir a habilidade

desejada e que as pessoas portadoras de deficiência mental são diferentes e não apenas

atrasadas no desenvolvimento motor , sugere a necessidade de investigação sobre fatores

143

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que afetam a aprendizagem, visando superar ou minimizar as limitações impostas pela

deficiência.

O modelo de estudo utilizado mostrou-se adequado para analisar as questões

propostas, possibilitando a utilização de formulações físico-matemáticas que permitiram

analisar a estabilidade do sistema, considerando tanto a consistência na reprodução de um

determinado padrão motor, quanto as estratégias de movimento e a qualidade da tarefa

realizada. A busca por restrições cerebrais que estariam ligadas à coordenação da ação

levou a inferências sobre processos cognitivos, tais como a formação de macro-estrutura ou

esquemas para recordar.

O sistema de registro utilizado permite a aproximação de pesquisa básica e

aplicada, sendo de fácil manuseio e transporte, bastante preciso e econômico, permitindo

ainda a observação de tarefas diferentes das que foram analisadas aqui. Constitui-se assim

em um instrumento útil na avaliação do comportamento motor, possibilitando a integração

de diferentes áreas de conhecimento.

144

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Bibliografia

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Apêndice I

Glossário

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São apresentados aqui, alguns conceitos chave utilizados para a apresentação das diferentes

abordagem no estudo do comportamento motor.

Atrator = região do espaço de fase de sistemas dissipativos para a qual tendem as

trajetórias que partem de determinada região - CIÊNCIA HOJE, (1992). Ele representa, de

acordo com ABRAHAM, SHAW (1985a), o comportamento do sistema em equilíbrio dinâmico

após a transitoriedade acabar.

FERRARA (1994) observou que a resposta do estado estacionário pode ser de quatro tipos:

atrator pontual, atrator ciclo limite, atrator toro e atrator estranho. O atrator pontual é

independente do tempo; o ciclo limite é periódico no tempo e é caracterizado por sua amplitude e

período; o atrator toro corresponde a um regime quasi-periódico com n freqüências fundamentais

independentes e os atratores estranhos apresentam dependência sensitivas à condições iniciais.

Sistemas determinísticos, cuja evolução temporal conduz assintoticamente a atratores estranhos

apresentam dinâmica caótica, ou seja, devido a esta alta sensibilidade e às não linearidades

presentes no sistema, amplificam-se exponencialmente pequenas diferenças iniciais, levando à

imprevisibilidade do comportamento (o conhecimento do estado do sistema durante um tempo

arbitrariamente longo não permite predizer, de maneira imediata, sua evolução posterior).

Dentro dos estudos sobre comportamento motor, o atrator é visto como o output de

comportamentos preferidos que são determinados pela morfologia do sistema, sua energia

particular ou estado motivacional e contexto da tarefa e meio ambiente. ULRICH (1997) advoga

que a reconstrução de atratores permite investigar a estabilidade ou transição entre diferentes

modos de coordenação, ou seja, a dinâmica do comportamento, sua estabilidade e sua mudança

167

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qualitativa através de repetidos ciclos em qualquer ponto no tempo, bem como em longos

períodos de tempo.

O conceito de atrator, de acordo com lHELEN, ULRICH (1991), não faz assertivas sobre

performances típicas, mas enfoca apenas a relativa estabilidade e mudança, referindo-se ao status

dinâmico do sistema. Quando o sistema é reunido em diferentes contextos de tarefa, ou quando

os componentes mudam através do crescimento ou diferenciação, a estabilidade do atrator pode

mudar, isto é, alguns comportamentos tornam-se mais executáveis, com mais restrições, mais

habilidades e menos sujeito a perturbações. Outros padrões podem tornar-se menos fidedignos e

mais facilmente rompíveis. Assim, sob condições similares, o sistema pode ser mais estável, mas

também capaz de grande flexibilidade de tarefa.

Para ULRICH (1997), um atrator estável tem a alta probabilidade de ocorrer quando o sistema

perturbado retoma rapidamente para o padrão, isto é, o tempo que leva para o sistema se

recuperar é mínimo. Novos padrões emergentes de comportamento tendem a ser mais variáveis

que os padrões previamente formados. A estabilidade de um atrator é urna função da história do

sistema, do estado corrente dos subsistemas, do contexto e do objetivo.

Com o desenvolvimento, mudanças anatôrnícas e fisiológicas ligadas á experiência e intenção,

podem causar mudanças no atrator. Para um atrator ser substituído por outro alguns componentes

do sistema devem quebrar a estabilidade corrente, induzir a variabilidade ou fazer outras soluções

possíveis para que o sistema possa explorar alternativas.

Auto-organização = um processo espaço-temporal no qual um sistema torna-se

organizado em padrão não linear, processo parcialmente estocástico, através de auto reunião de

constituintes interativos, nenhum dos quais especifica o novo estado da organização. A interação

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entre os constituintes do sistema é numerosa, flexível, funcionalmente redundante e restringida a

agir em número limitado de caminhos particulares para uma dada condição. Quando esta

condição se excede ou aniquila, o sistema pode reorganizar-se em caminhos qualitativamente

diferentes- HOPKINS et a!. (1993).

Comando motor= seqüência de impulsos nervosos selecionados pelo mecanismo efetor,

que seria enviado aos músculos para produzir o movimento desejado- MARTENIUK (1976).

Espaço de fase = espaço constituído pelas variáveis que descrevem o sistema. Cada ponto

do espaço de fase representa um estado possível para o sistema e por ele passa só urna trajetória.

As trajetórias que preenchem o espaço fase formam o retrato de fase que num sistema

dissipativo (aberto) pode mostrar a estrutura do atrator e suas bacias- THOMPSON, STEW ART

(1993).

Feedback =termo geral que se refere a informação que o executante recebe a respeito da

execução de uma habilidade, durante ou após a realização da mesma- MAGIL (1984).

Parâmetro controle = padrão que move um sistema através de seu estado coletivo e

serve como catalisador de novos modos de organização - HOPKINS et a!. (1993). FERRARA

(1994) explicou que num sistema físico real, o parãmetro controle representa a intensidade da

força-motora agindo sobre o sistema (ex: temperatura, campo magnético dentre outros. ULRICH

( 1997) o definiu como sendo a variável a qual o sistema é sensitivo, podendo ser interno ou

externo. Para o aparecimento de um padrão particular o parãmetro controle pode variar no tempo

e na população.

169

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Plano de ação = representação de uma idéia sobre um movimento, especificando os

parâmetros que se adaptam às necessidades do executante tendo em vista as demandas ambientais

específicas- MARTENIUK (1984).

Processamento de iriformação = refere-se ao uso da informação obtida no ambiente, para

a condução do movimento, através de vàrias operações realizadas no sistema nervoso central -

MARTENIUK (1984).

Programa Motor = conjunto de comandos do Sistema Nervoso Central para a

musculatura executar um dado movimento sem ser afetado por feedback - MA GIL ( 1984)

Retrato de fase = representação gràfica do comportamento de um sistema dinâmico,

dado pelo conjunto de trajetórias dos conjuntos limites e bacias de atração. É utilizado como

forma de descrição da variável coletiva, representando o estado (em cada ponto) e a dinâmica

(relação entre os pontos sucessivos) do sistema .. Quando o sistema comporta-se de maneira

estável, de acordo com ULRICH (1997), a trajetória do retrato de fase tem uma alta

probabilidade de convergir sobre uma forma e região particular e espaço de estados. Pode ser

pensado como um espaço de trabalho ou como a fronteira na qual a trajetória do movimento é

possível.

Sistema = complexo de elementos em interação, com relações que possuem partes

somativas (soma dos elementos considerados isoladamente, aquelas que se mostram idênticas

170

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dentro e fora do complexo) ou constitutivas (propriedades específicas advindas da interação dos

elementos), cujas partes componentes estão conectadas e interrelacionadas como um todo -

BERTALANFFY (1975).

Existem sistemas fechados, quando nenhum material entra ou sai do sistema, a entropia cresce

até o máximo, atingindo um estado de equilíbrio termodinâmico, tendendo a assumir um estado

de distribuição homogênea, um estado de desordem e sistemas abertos que estão em constante

troca com o meio ambiente, num processo de aproximação ou modificação de um estado

estacionário.

MANOEL, CONNOLLY (1997) observaram a característica principal do sistema aberto é a

tendência para a anamorfose (mudar para estados mais ordenados). Para BERTALANFFY

(1975), todo organismo vivo é essencialmente um sistema aberto, mantendo-se em contínuo

fluxo de entrada e saída e conservando-se mediante a construção e a decomposição de

componentes, não estando em estado de equilíbrio químico e termodinâmico mas no estado

estacionário ou próximo a ele. Um sistema é dito dinâmico quando as grandezas que o descrevem

evoluem no tempo.

Matematicamente, o sistema dinâmico é constituído pelo espaço de estados possíveis para o

sistema (espaço de fase) e por suas regras de evolução, as quais podem ser equações diferenciais

ou mapeamentos- THOMPSON, STEW ART (1993).

Dentre as características de um sistema dinâmico estão a não linearidade e a auto organização.

Um sistema não linear é aquele cuja habilidade de mudar de um padrão particular para outro se

dá de uma maneira aparentemente súbita ou descontínua- THELEN (1991).

171

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Variável coletiva ou padrão de ordem= variáveis que dão forma à sinergia funcional no

movimento constituem um parâmetro único e macroscópico que provê cooperação entre os

subsistemas - HOPKINS et al. (1993). Parece organizar o sistema desorganizado e emerge da

cooperação de elementos (múltiplos graus de liberdade de um sistema complexo são

comprimidos sob certas condições fisicas e o sistema resultante pode ser descrito em termos das

variáveis que expressam esta compressão).

THELEN, ULRICH (1991) e ZANONE et al. (1993) referiram-se à variável coletiva como

sendo o padrão que caracteriza o padrão de comportamento sobre uma mudança. Para eles,

identificar a variável coletiva permite a descrição de detalhes dos componentes individuais e

descobrir uma chave para o padrão geral que reflete a cooperação das partes componentes.

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Apêndice 11

Folha de respostas - Tarefa 01

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-

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Apêndice 111

Folha de observação

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Erros encontrados na figura C'di d p o 1go a essoa: Erro/ 1 2 3 4 5 6 Erro/ 1 2 3 4 5 6 Figura Figura 1 51 2 52 3 53 4 54 5 55 6 56 7 57 8 58 9 59 10 60 11 61 12 62 13 63 14 64 15 65 16 66 17 67 18 68 19 69 20 70 21 71 22 72 23 73 24 74 25 75 26 76 27 77 28 78 29 79 30 80 31 81 32 82 33 83 I

34 84 35 85 36 86 37 87 38 88 39 89 40 90 41 91 42 92 43 93 44 94 45 95 46 96 47 97 48 98 49 99 50 100 Obs:

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