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8/17/2019 Estado de Minas - O Homem Do Silencio
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P E R F I LMARCOS PIMENTEL
CINEASTA
Obra autoral de documentarista mineiro chama a atenção em festivais no paí s e no exterior
CULTURA
E S TA D O D E M I N A S D O M I N G O , 5 D E J A N E I R O D E 2 0 1 4
7
“NÃOPRECISO
FALAR”Por que o silêncio em seus filmes?Elesnascem davontadededizercoi-sas. Meus documentários não par-temde entrevistas, deperguntasouconversas, mas procuram outrasformas de comunicação que não averbal.Sou introspectivoe trabalharassim é uma forma de dizer semprecisarfalar.Entrego-meao jogodeolhares vindodo convíviocom a si-tuação. Faço cinema observacional,mais discreto e recatado – cinemade autor. Em cada fotograma, temcoisas íntimas. É um prazer dividirsilêncioscom o espectador.
Vocêdá aulade documentário.O queé essencial a esse gênero?Documentárioéumaformadeolhar
para o mundo com atenção. Histó-riasque podem darbons documen-táriosexistem emtodolugar,mas éprecisoenxergá-las. Tento despertarnosalunosasensibilidadeparaessesaspectos.Pessoalmente,gostomuitodosfilmesque,apartirdecoisassim-plesebanais,fazem-nosverascoisaseo mundodeoutraforma.
Como você vê o cinema brasilei-ro atual?Oméritoé,mesmotrabalhandocompoucoorçamento,conseguir fazeral-go queconseguechamar a atençãopara o cinema pulsante que vemsendo feitono Brasil. Cada vezmais,hámostrasemoutrospaísesdedica-dasà nossa produçãodosúltimos 10anos. Querdizer: foramtranspostasbarreiras,e o cinemabrasileiro che-goua festivais ondeeleera raro.
Há estí mulo para a atividade?Temoseditaise podíamoster mais.Mesmo assim,com a mudança dosmeiosde produção,que jogouo or-çamento dos filmes para baixo, hámuitagente filmando no Brasil. En-tretanto, poucos filmes chegam aopúblico, devido ao número reduzi-do de salas e ao fato de elas seremcontroladas pelas majors. O gover-no já colocou muito dinheiro naprodução. Agora, poderia colocarmais naexibição, emsalasvoltadasparao conteúdonacional.
O HOMEM DO
SILÊNCIOW ALTER SEBASTI ÃOOmineiroMarcosPimentel,de36anos,cru-
zao mundo comseusfilmes.Formadoem psi-cologia, comunicação social e cinema, com es-pecialização naAlemanha,suaproduçãoreúne22documentáriosrodadosem umadécada.Sónoanopassado,ocurta Sanã,filmadonoMara-nhão,recebeuprêmiosna categoriaMelhor di-
reçãoemfestivaisemostrasrealizadosemFor-taleza(CE),Santos(SP)eCaboFrio(RJ).Elelevoutambém o troféu concedido pela AssociaçãoBrasileirade Documentaristasde SãoPaulo noFestival É TudoVerdade,além demenção hon-rosado júrioficial.
“Fuimecalandoaolongodavida.Dependiamuitodapalavra,hojesoumaisintrospectivoeosfilmes refletem isso. Acredito,cadavez mais,no silêncio e no poder das imagens”, afirmaMarcos, ao definir Sopro, seu primeiro longa-metragem.A estreia ocorreuem abril,na mos-tra suíça Visions du Réel, um dos mais impor-tantesfestivais dedicadosao documentário.
Sopro foiexibidoemmostrasrealizadasemLos Angeles (EUA), Montreal (Canadá), Nantes(França) e Bratislava (Eslováquia). O filme cha-mou a atenção também na Semana dos Reali-zadores (RJ),no Festival Primeiro Plano(Juiz deFora) e no Festival del Nuevo Cine Latinoame-ricano, em Cuba.
SONS A observação dodiretorsobreo silêncioremetea aspecto quechama aatenção nostra-balhos recentesdele:suasobrasdispensamdiá-logose textos,mas nãoabremãodossons. Nos73minutosdeSopro,háapenas90segundosdediálogo.Pimentelpõenatelaodiaadiadeumacomunidade isolada do mundo. “É um filmeexistencialistasobre a vidae a morte”, resume.
OlongafoirodadonaregiãodoParqueEsta-dual do Ibitipoca, na Zona da Mata mineira.“Devidoàatmosferadelugarremoto,tevegen-te jurando que as locações de Sopro ficam naÁsia.Mas é interior de Minasmesmo”,diverte-seo diretor. “Descobri-me comogentee apren-di a me relacionar com o mundo por meio dosilêncio nas montanhas de Ibitipoca”, explica.Háanosele visitao parque.
Ocineastatrabalhaem Juiz deForae emBe-lo Horizonte, mas passapequenas temporadasemHavana,emCuba.Desde2009,lecionanode-partamentodedocumentáriosdaEscuelaInter-nacionaldeCineyTelevisióndeSanAntoniode
losBaños.Ele trabalhatambémem Cataguases,naZona daMata mineira:desde2007,coordenaamostradecurtas AndorinhavirtualdoFestivaldeCinemade Paísesde LínguaPortuguesa.
Pimenteljá filmouem váriospaíses e rece-beuconvites paramorarfora doBrasil,mas avi-sa:“Tenho atração pelasmontanhas, pelaterrae pessoas.Em MinasGeraisexistemuita maté-ria-prima para filmes. Gosto do Rio e de SãoPaulo,mas a minha históriaé fugir desseeixo.Tendoaeroporto,correio,celulare internet,tra-balha-se em qualquer lugar”, garante.
Naadolescência ena juventude,MarcosPimentelnãopensavaemumaprofissãoes-pecífica. Movido pela curiosidade sobre ocomportamentohumano,optou porpsico-logia. “Ocursofoi importante nosentidodedespertarminha sensibilidadepara a vida,alémdemedarumaleituradomundoedaspessoas”,conta.
Alunodocursodecomunicaçãosocial,eletevecontatocomaproduçãoaudiovisual.Aoparticiparda equipe do cineastaJosé Sette,
Marcosrodouumdocumentáriocomotraba-lhodefaculdade.“Viqueeraaquilooqueque-riafazer”, conta.Depois, foialunodos docu-mentaristasEduardoCoutinhoe JoãoMorei-raSalles.FezcursosemCubaeespecializaçãonaAlemanha.“Aí,pensei:chega.Querovoltarpara o Brasile filmar.Nãoestou documenta-rista, soudocumentarista”,explica,taxativo.
Suaobrase valede diferentes modalida-desdedocumentário–filmeensaio,gêneroshíbridoscom a ficçãoe cinemaverdade, por
exemplo. O mineiroadmirarealizadores co-mo EduardoCoutinho,Humberto Mauro eSergeiDvortsevoy,diretordoCazaquistão.Osprêmiose a participação em váriosfestivaislhepossibilitaramrodarum filmepor ano.
“Gostariadeteracertezadequevoufa-zer o meu novo projeto. Não posso recla-mar, mas não tenho segurança quanto àrealização do próximo filme”, conta Mar-cos.Algunsde seuscurtasestãodisponíveisnositewww.temperofilmes.com .
PSICÓLOGO DAS TELAS
Cena de Sanã, filme rodado no Maranhão
Sopro, longa
que estreou
na Suí ça,
teve o
Parque
Nacional do
Ibitipoca
como cenário
FOTOS: MATHEUS ROCHA/DIVULGAÇÃO