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ESTADO DO MARANHÃO SECRETARIA DE ESTADO DA FAZENDA 1 Ref. PROCESSO N° 0238149/2013 - SEFAZ Recorrente(s): QUALITECH ENGENHARIA LTDA. Assunto: RECURSO ADMINISTRATIVO – DECADÊNCIA – MAIS DE UM REPRESENTANTE IMPOSSIBILIDADE VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO CONVOCATÓRIO – INSTRUMENTABILIDADE DAS NORMAS E LEGALIDADE RECURSO NÃO CONHECIDO - INDEFERIMENTO. DECISÃO - GAB/SEFAZ Chegaram a este Gabinete os presentes autos, para que se posicione acerca do recurso administrativo interposto pela licitante QUALITECH ENGENHARIA LTDA., correspondentes à decisão da Presidente da Comissão Setorial de Licitação da SEFAZ, havida na sessão de classificação e habilitação da Concorrência nº 07/2013 – CSL/SEFAZ, no dia 05/11/2013. De acordo com o que consta na Ata da Sessão, foi julgada e declarada vencedora a licitante BFX CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO LTDA. , eis que apresentou a melhor proposta dentre as concorrentes. As licitantes JM CASTRO e GS ENGENHARIA foram desclassificadas, em virtude de descumprimento dos termos do Edital. A RECORRENTE, por sua vez, apresentou a proposta de maior valor dentre as participantes. Ressalta-se, também, que não houve manifestação imediata de recurso na sessão. Ainda sobre a RECORRENTE, o representante credenciado na primeira sessão não compareceu no dia 05/11/2013, apresentando-se em seu lugar, o sócio proprietário da empresa. Em sua peça, a RECORRENTE alega que houve arbitrariedade da Presidente da CSL, vez que esta não permitiu a participação do sócio proprietário como representante credenciado da empresa na continuação da sessão, ocorrida em

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Ref. PROCESSO N° 0238149/2013 - SEFAZ Recorrente(s): QUALITECH ENGENHARIA LTDA. Assunto: RECURSO ADMINISTRATIVO – DECADÊNCIA – MAIS DE UM

REPRESENTANTE – IMPOSSIBILIDADE – VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO CONVOCATÓRIO – INSTRUMENTABILIDADE DAS NORMAS E LEGALIDADE – RECURSO NÃO CONHECIDO - INDEFERIMENTO.

DECISÃO - GAB/SEFAZ

Chegaram a este Gabinete os presentes autos, para que se

posicione acerca do recurso administrativo interposto pela licitante QUALITECH

ENGENHARIA LTDA., correspondentes à decisão da Presidente da Comissão Setorial de

Licitação da SEFAZ, havida na sessão de classificação e habilitação da Concorrência nº

07/2013 – CSL/SEFAZ, no dia 05/11/2013.

De acordo com o que consta na Ata da Sessão, foi julgada e

declarada vencedora a licitante BFX CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO LTDA., eis que

apresentou a melhor proposta dentre as concorrentes. As licitantes JM CASTRO e GS

ENGENHARIA foram desclassificadas, em virtude de descumprimento dos termos do

Edital. A RECORRENTE, por sua vez, apresentou a proposta de maior valor dentre as

participantes. Ressalta-se, também, que não houve manifestação imediata de recurso

na sessão.

Ainda sobre a RECORRENTE, o representante credenciado na

primeira sessão não compareceu no dia 05/11/2013, apresentando-se em seu lugar, o

sócio proprietário da empresa.

Em sua peça, a RECORRENTE alega que houve arbitrariedade da

Presidente da CSL, vez que esta não permitiu a participação do sócio proprietário como

representante credenciado da empresa na continuação da sessão, ocorrida em

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05/11/2013, sob o argumento de que já havia sido habilitado outro representante na fase

de credenciamento.

Faz referência, também, de que houve exercício ilegal da profissão

de engenheiro e de contador, por parte da Presidente da CSL, uma vez que julgou a

qualificação técnica e econômico-financeira da licitante vencedora, sem que houvesse

auxílio do Setor de Engenharia e de Contabilidade da SEFAZ, contrariando, segundo seu

entendimento, as normas que regulamentam as citadas profissões.

Ao final, pede o cancelamento da sessão do dia 05/11; que os

documentos referentes à qualificação técnica sejam levados à consideração do setor de

engenharia, assim como o balanço patrimonial seja analisado pela Contadoria da SEFAZ;

ainda, que seja marcada nova sessão para divulgação dos resultados; que seja permitida a

participação do sócio proprietário na eventualidade da marcação de nova sessão; por fim,

que sejam encaminhadas cópia deste processo ao Ministério Público e à CCL.

A Presidente da Comissão Setorial de Licitação, por sua vez,

encaminhou informações, mantendo as decisões tomadas em sessão, justificando-as à luz

da legislação aplicável.

Observado o prazo de Lei, a RECORRIDA não apresentou

contrarrazões.

É o relatório. Passo a decidir.

Os recursos em licitações, sobretudo no âmbito do Executivo

Estadual Maranhense, devem obediência ao que estabelece a Lei nº 9.579/2012 e

decreto Estadual nº 28.790/2012. Verifica-se tratar o presente certame de Concorrência,

com inversão de fases, onde a verificação da classificação (exame e aceitabilidade das

propostas) ocorre em primeiro lugar. Aceita esta proposta, abre-se o envelope de

habilitação apenas desta proponente.

Assim sendo, o conhecimento ou não dos recursos dependem

exclusivamente dos requisitos de admissibilidade previstos em Lei, e assim como

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definidos no edital. A Lei nº 9.579/20121, sobre o recurso, regulamenta que, encerrado o

julgamento final, não houver manifestação imediata, expressa e motivada de

representante de licitante legalmente habilitado, decairá o direito de recorrer.

O edital, de igual modo, estabelece as regras para o recurso

administrativo, vejamos:

12. RECURSOS ADMINISTRATIVOS

12.1. Dos atos da administração decorrentes da aplicação

deste Edital, cabem:

12.1.1. Recurso administrativo no prazo de 3 (três) dias úteis,

a contar da intimação do ato ou da lavratura da ata, nos

casos de:

I - anulação ou revogação da licitação;

II - proclamação do resultado da licitação.

12.1.2. Representação, no prazo de 5 (cinco) dias úteis da

intimação da decisão relacionada com o objeto da licitação

ou do contrato, de que não caiba recurso hierárquico, nos

termos do artigo 109, inciso II, da Lei nº 8.666/93;

12.1.3. Pedido de Reconsideração de decisão do Secretário de

Estado da Fazenda, na hipótese do art. 96, inciso IV da Lei n.º 9.579

1 Art. 62. A sessão de julgamento da licitação observará o seguinte desenvolvimento: (...) IX – Encerrado o julgamento, será questionado aos presentes o interesse em recorrer, devendo a

manifestação ser imediata, expressa e motivada, sob pena de decadência do direito de recorrer.

X – caracteriza-se renúncia do direito de recorrer quando o licitante:

(...)

c) está ausente à sessão.

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de 12 de abril de 2012, no prazo de 10 (dez) dias úteis da intimação

do ato, nos termos do artigo 109, inciso III, da Lei nº 8.666/93.

12.2. Do julgamento das propostas e habilitação caberá

apenas um recurso, antes da adjudicação, nos termos do § 1º,

artigo 102, da Lei nº 9.579/2012.

12.3. O recurso será dirigido ao Secretário de Estado da

Fazenda, por intermédio da que praticou o ato recorrido, a qual,

se não a reconsiderar no prazo de 3 (três) dias úteis, o

encaminhará ao Secretário de Estado da Fazenda.

12.4. Declarado o vencedor, a Comissão de Licitações

concederá prazo dentro da sessão para que os licitantes

presentes e credenciados na forma deste Edital possam, de

forma imediata e motivada, manifestar sua intenção de

recurso.

12.5. A ausência do licitante credenciado na sessão

caracterizará sua renúncia ao direito de recorrer, na forma do

art. 18, inc. XXXII, do Decreto nº 28.790 de 19 de dezembro de

2012.

12.6. Não havendo interesse em recorrer, a Comissão de

Licitações procederá à adjudicação do objeto ao licitante

vencedor.

12.7. Havendo manifestação da intenção de recurso,

observadas as disposições do art. 62, incisos de IX a XVI, do

Código de Licitações do Maranhão, a Comissão de Licitações:

12.7.1. resumirá a motivação, ordenando o registro em

ata;

12.7.2. procederá a leitura do resumo da motivação

lavrada na ata;

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12.7.3. consultará o recorrente sobre o interesse em

oferecer razões de recurso por escrito, concedendo, nesse caso,

o prazo de três dias úteis;

12.7.4. em observância ao § 5º do art. 105 do Código de

Licitações do Maranhão, esclarecerá a data de início da

contagem do prazo, quando os autos não forem

disponibilizados imediatamente, ou no mesmo dia;

12.7.5. se houver interesse na apresentação de razões de

recursos, informará aos demais presentes, que terão o mesmo

prazo para apresentar contrarrazões, correndo o prazo na

sequência daquele concedido ao recorrente;

12.7.6. registrará, na ata, o dia e hora que vencem os

prazos de apresentação de razões e contrarrazões de recurso,

informando aos presentes;

12.7.7. alertará aos presentes, se entender necessário,

para os efeitos jurídicos dos recursos meramente protelatórios

e as penalidades previstas para o caso;

12.8. O acolhimento do recurso implicará a invalidação

apenas dos atos insuscetíveis de aproveitamento. (grifamos)

No caso em tela foi o que houve. A manifestação, na forma disposta

na Lei, não ocorreu. Assim sendo, conforme o princípio da legalidade, o presente recurso

não deve ser conhecido, vez que o direito de recorrer decaiu, conforme reza o art. 62,

inciso IX, alínea ‘c’ da Lei nº 9.579/2012, art. 18, inc. XXXII, do Decreto nº 28.790 de 19 de

dezembro de 2012 e subitem 12.1 do edital.

Todavia, em obediência ao Princípio da Supremacia do Interesse

Público, entendemos que as controvérsias apontadas ela RECORRENTE devem,

efetivamente serem esclarecidas.

1 – SOBRE O CREDENCIAMENTO:

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O credenciamento de pessoa habilitada para representar o licitante

é um direito discricionário do participante de procedimento licitatório. Como todo ato

próprio da Administração, o seu procedimento é regulamentado em Lei. E, in casu, a Lei

nº 9.579/2012, que sobre o tema assim dispõe:

Art. 33. A licitação relativa a pregão e concorrência tem

procedimentos comuns, podendo ser aplicadas, por analogia,

as regras entre essas modalidades.

(...)

§ 3º O credenciamento dos licitantes observará o seguinte

procedimento:

I – no horário previsto para o início da sessão, os licitantes

que tiverem interesse na prática de atos durante o certame

deverão comparecer pontualmente e credenciar-se mediante

apresentação de documento de identificação e procuração

com poderes para representação:

II – aberta a sessão, o presidente da comissão ou da câmara

ou o Pregoeiro convocará os licitantes interessados, na forma

do inciso anterior, para o credenciamento do representante;

III – encerrado o credenciamento, o ingresso de licitantes no

recito é permitido para assistir a sessão, sem perturbar os

trabalhos. (grifamos)

O Decreto Estadual nº 28.790/2012, que regulamenta os

procedimentos para as modalidades de licitação previstas na Lei nº 9.579/2012, também,

trata do assunto:

Art. 18. O procedimento da sessão observará o seguinte:

Da abertura da Sessão e Credenciamento de Licitantes

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I – até o início da sessão, o Pregoeiro ou o Presidente da

Comissão de Licitação ou, por delegação destes, a equipe de

apoio ou demais membros procederão ao credenciamento

dos licitantes ou dos representantes legais presentes,

comprovando, se for o caso, a outorga de poderes necessários

para a formulação de lances e para a prática de todos os

demais atos inerentes à sessão, observando-se ainda que:

a) Não será permitido ao mesmo credenciado representar mais de

um proponente no mesmo certame;

b) Não será permitido mais de um credenciado para o mesmo

proponente;

O Edital, também, dispõe sobre a matéria. vejamos:

5. CREDENCIAMENTO

5.1. As empresas que quiserem se fazer representar nesta

Licitação, além dos envelopes, deverão apresentar credencial

do seu representante à Comissão, que poderá ser formalizada

por intermédio de instrumento de procuração, público ou

particular, ou Carta Credencial (Anexo III).

5.1.1. O instrumento de procuração, público ou

particular, ou Carta Credencial (Anexo III), deverá estar

acompanhado de cópia dos seguintes documentos:

a) ato constitutivo, estatuto ou contrato social em vigor, com

todas as suas eventuais alterações, ou ato constitutivo

consolidado, devidamente registrado, em se tratando de

sociedades comerciais e, no caso de sociedades por ações,

acompanhado de documentos de eleições de seus

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administradores, no qual estejam expressos seus poderes para

exercer direitos e assumir obrigações em decorrência de tal

investidura;

(...)

5.5. Não será admitida a participação de dois representantes

para a mesma empresa e nem de um mesmo representante

para mais de uma empresa.

5.6. Somente poderão negociar e recorrer os licitantes que

estiverem presentes na sessão através de representantes

credenciados. (grifamos).

Veja só. Pelo que consta em ata, confrontando com as cominações

legais, o que houve foi observância clássica ao princípio da legalidade e da vinculação ao

instrumento convocatório, neste caso. Na continuação da sessão, compareceu o sócio

proprietário no lugar do representante previamente credenciado. Conforme reza o inciso

III, § 3º do art. 33 da Lei nº 9.579/2012, encerrado o credenciamento, o ingresso de

licitantes no recinto é permitido para assistir a sessão, sem perturbar os trabalhos. É

mero expectador.

O credenciamento tem um momento. Este é logo no início da

sessão. Perdido o prazo, há a preclusão. Depois, passa-se ao julgamento de classificação e

habilitação, as fases não podem – nem devem – retroagir, sob pena de infringir a norma.

Além disso, conforme dispõe o inciso I, alínea ‘b’ do art. 18, do

Decreto Estadual nº 28.790/2012, assim como subitem 5.5 do Edital, não é permitido

mais de um credenciado para o mesmo proponente. E, pelo que consta nos autos, já

havia um representante credenciado, o Sr. Silvestre Conceição Filho, que não

compareceu na continuação da sessão. É bom ficar claro que no pregão, assim como na

concorrência com inversão de fases, há apenas uma sessão, que pode ser interrompida

ou não, eis que a oportunidade de recurso é uma só, válida para ambos, deferentemente

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do que ocorre com a concorrência sem inversão de fases e nas modalidades de licitação

sob a égide da Lei nº 8.666/93.

Houve, portanto, na decisão da Presidente da CSL, como

anteriormente frisado, obediência às normas vigências, e ao princípio da vinculação ao

instrumento convocatório, da qual não pode se afastar.

Nesse aspecto, vejamos jurisprudência do STJ:

(...) 1. O Edital, no procedimento licitatório, constitui lei entre

as partes.

2. Se o licitante praticou ato ilícito, definido no edital, sob

cominação de desclassificação não pode reclamar por haver

recebido tal pena. Não há em situação, ofensa ao art. 3º, § 1º, I

da Lei nº 8.666/93. (Fonte: STJ. 1ª Turma. RESP nº 401646/DF.

Registro nº 200101829971. DJ 04 nov. 2002. p. 00154)

A decisão respalda decisão da COMISSÃO semelhante a esta. No

caso citado, no entanto, o descumprimento da regra editalícia provocou a

desclassificação do licitante. Neste caso, foi a não aceitação de um segundo

representante credenciado, vez que a fase de credenciamento já havia ocorrido. A

oportunidade já havia passado.

Por tudo isso, entendo pertinente o posicionamento da Presidente

da Comissão Setorial de Licitação sobre este aspecto, mantendo a decisão de não aceitar

o novo credenciamento para o mesmo procedimento licitatório, com base no art. 62, §

3º, inciso III da Lei nº 9.579/12 c/c art. 18, inciso I, alínea ‘b’ do Decreto Estadual nº

28.790/2012 e subitem 5.5 do Edital de Concorrência nº 07/2012-CSL/SEFAZ.

2 – SOBRE EVENTUAL EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO

REALIZADO PELA PRESIDENTE DA CSL.

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Sobre este tema, também, é pertinente esclarecer alguns pontos.

Cabe, exclusivamente, ao Pregoeiro e ao Presidente da Comissão Setorial de Licitação, a

responsabilidade pelo julgamento da proposta e habilitação, conforme prevê a Lei nº

9.579/2012. Vejamos:

Art. 11. Compete às Comissões Setoriais de Licitação:

(...)

VI – decidir e julgar nos valores de alçada definidos pela CCL:

a) as licitações;

b) as dispensas e as inexigibilidades de licitação;

c) os credenciamentos e pré-qualificação, por delegação da

CCL.

(GRIFAMOS)

Vejamos. A Presidente da Comissão Setorial de Licitação julgou a

habilitação. Entendeu suficiente – eis que era mesmo! – os critérios objetivamente

definidos no edital, para o julgamento da qualificação técnica e econômico-financeira. A

solicitação de apoio técnico é de fato uma opção do julgado. Porém, não passa disso. E

esta opção só é acionada desde que a complexidade do julgamento exija isso. Não é o

caso.

O desagravo do RECORRENTE, acerca da qualificação técnica, recai

sobre o fato de não constar no acervo técnico da empresa a construção de um pátio. No

entanto, demonstrou a licitante que realizou obras semelhantes e mais complexas, como

construção de prédios, por exemplo. E essa a intenção da norma, que exige o

afastamento de amadores e aventureiros do processo licitatório.

O edital, no subitem 8.1.4.2 estabelece que a licitante deve possuir

em seu quadro profissional detentor de atestado de responsabilidade técnica que

comprove que este já executou serviços de natureza semelhante ao objeto da licitação. E

semelhante, senhores, não é igual. Pensar, ao meu ver, que, no caso em tela, pudessem

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somente ser admitidos os atestados de responsabilidade técnica que demonstrassem a

experiência na construção de pátio, excluindo todos aqueles que demonstrassem

experiência anterior em obras equivalentes, ou mais complexas, afastaria, sem dúvida,

potenciais interessados no certame. Iríamos firmar entendimento diverso da finalidade da

norma.

Este é o entendimento jurisprudencial:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO, COM

CLÁUSULA DE RESTRIÇÃO DE LICITANTES, OBJETO DOS ITENS

4.5 E 4.8 DO EDITAL DA 8ª RODADA DE LICITAÇÕES DE BLOCOS

PARA EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS

NATURAL. A competência da Agravante não é critério único

para se aferir a legalidade do ato impugnado. Ocorre que o ato

administrativo encontra na competência apenas um dos seus

elementos ou requisitos, devendo-se analisar os demais, tais

como forma, finalidade, motivo e objeto. De fato, impor

restrições desse porte ao edital de licitação é caminhar no

sentido contrário ao interesse público a ser resguardado no

procedimento licitatório. Isto porque a licitação é o meio pelo

qual o poder público abre a possibilidade do maior número de

empresas oferecer o mesmo "serviço", devendo ser escolhida

aquela que apresenta melhores condições técnicas para sua

execução, bem como menor custo, o que, restringindo a

participação de licitantes, seria certamente comprometido.

Recurso a que se nega provimento. (TRF2ª R. - Ag

2006.02.01.013804-1 - 6ª T. - Rel. Desemb. Fed. Rogerio

Carvalho - DJ 29.05.2007) - grifamos

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DECISÃO TCU nº 1.288/2002 – Plenário:

“(...)

9. O art. 30 da Lei 8.666/93 e seu inciso II diz, entre outras

coisas, que a exigência para a qualificação técnica deve ser

compatível em quantidades. Portanto, é possível se exigir

quantidades, desde que compatíveis. Por compatível, se

entende ser assemelhada, não precisa ser idêntica. A

semelhança depende da natureza técnica da contratação,

pois, para certas coisas, quem faz uma, faz duas. (...).” (grifos

nossos)

ACÓRDÃO TCU nº 32/2002 – 1ª Câmara

“(...)

3º) as exigências de qualificação técnica, sejam elas de caráter

técnico-profissional ou técnico-operacional, entretanto, não

devem ser desarrazoadas a ponto de comprometer a natureza

de competição que deve permear os processos licitatórios

realizados pela Administração Pública, mas constituir tão-

somente garantia mínima suficiente para que o futuro

contratado demonstre, previamente, capacidade para

cumprir as obrigações contratuais. (...)” (grifos nossos)

E é nesse sentido a decisão da Presidente da Comissão Setorial de

Licitação. Demonstrou a licitante vencedora que é capaz de executar obra, inclusive, de

complexidade superior ao licitado. Afastá-la, recusando o menor preço (R$ 53.675,06

menor que a da RECORRENTE), ao arrepio do que finaliza a Lei, seria ato ilegal e

antieconômico. O que houve, sim, foi observância aos critérios objetivos definidos no

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Edital e na Lei, assim como, a responsabilidade de observar a jurisprudência a orientação

jurisprudencial sobre o tem, como visto acima.

De igual modo ocorreu no julgamento da qualificação econômico

financeira. Os subitens 8.1.3.1 e 8.1.3.2 exigem, respectivamente a apresentação de

Balanço Patrimonial, já exigível, na forma da lei, predeterminando que a licitante

detenha índices financeiros (ILC e ILG)2 maiores ou igual a 01 (um), conforme fls. 408 dos

autos, ou capital social ou patrimônio líquido igual ou superior a 10% (dez por cento) do

valor estimado para a contratação, assim como apresentação de Certidão Negativa de

Falência ou Recuperação Judicial ou Extrajudicial, expedida pelo distribuidor da sede da

pessoa jurídica, com data não excedente a 60 (sessenta) dias de antecedência da data de

apresentação da Documentação e Proposta, quando não vier expresso o prazo de

validade.

Não é preciso ser contador para verificar isso. Os índices contábeis

estavam expressos, e todos acima de 01 (um), conforme se verifica as fls. , como dispõe o

edital. Além disso, ainda que não fossem superior a 01 (um), o capital social da empresa

é bem superior a 10% (dez por cento) do valor estimado para a contratação3. Pode ser

verificado nos autos (fls. 388).

Em suma. A Pregoeira não elaborou projetos, ou exerceu qualquer

outra atividade inerente a de Engenheiro Civil ou de contador. Apenas julgou a

habilitação, conforme dispõe a Lei nº 9.579/2012, em seu art. 62, inciso VIII.

Ademais, ao contrário do que argumenta a RECORRENTE, esta não

foi “alijada” do processo licitatório. Continuou participando. Ocorreu, tão-somente, de

não ter representante habilitado, na forma da Lei, no momento de manifestar a intenção

de interpor recurso. Como prova, observa-se que sua proposta esta entre as classificadas.

Porém, com preço R$ 53.675,06 (cinquenta e três mil seiscentos e setenta e cinco reais e

seis centavos) superior ao primeiro colocado.

2 Índice de liquidez Corrente igual a 5,49 e Índice de Liquidez Geral igual a 5,49.

3 O Capital Social da vencedora é de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais). Fls. 388 dos autos.

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Como visto, percebe-se que as decisões tomadas pelo Pregoeiro

fundam-se nos princípios atinentes aos atos administrativos, com ênfase as licitações e

contratos, tais como legalidade, impessoalidade, vantajosidade da proposta, supremacia

do interesse público, vinculação ao instrumento convocatório e razoabilidade. E, neste

último pesa, com relevância a serenidade das decisões.

Marçal Justen Filho, sobre o assunto, ensina que:

“deve-se privilegiar a instrumentalidade das normas jurídicas

em relação aos fins a que se orientam. A proporcionalidade

exclui interpretações que tornem inútil a(s) finalidade(s)

buscadas pela norma. Se o ordenamento consagrou certos

valores e impôs regras como forma de sua realização, é vedado

ao aplicador adotar interpretação desnaturada. A

proporcionalidade valida apenas as interpretações

concretamente adequadas à realização dos valores

consagrados no ordenamento e vivenciados pela sociedade”.4

De igual modo, esclarece-se que não houve infringência aos

princípios da isonomia, da legalidade e do julgamento objetivo, visto que as decisões

pautaram-se nas regras estabelecidas no edital, que estavam em conformidade com a lei

e era comum a todos licitantes.

Porquanto, A “demora” no julgamento do presente recurso não

ocorreu. Apenas se depreendeu o tempo necessário para a notificação do recorrido e a

preservação do prazo de 03 (três) dias úteis para apresentação de impugnação ao

recurso.

Por fim, esclareço que não há indícios de abuso de autoridade e

nem parcialidade eventualmente cometidos pela Presidente da CSL, visto que suas 4 Justen Filho, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos / Marçal Justen Filho. 11.

ed. – São Paulo: Dialética, 2005. p. 49.

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decisões pautaram-se na Lei e nas regras do Edital, considerando, portanto, indevido o

encaminhamento dos autos aos órgãos indicados pela RECORRENTE. Contudo, os autos

ficarão a disposição destes, sempre que requisitados.

Ao ensejo, entendo que nenhum princípio pode ser evocado

solitariamente, a fim de justificar um entendimento, sobretudo, em relação às decisões

administrativas. Os fins a que estes se propõem devem sempre convergir, a fim de que se

obtenha o melhor para a Administração. Este fim é a satisfação do interesse público. Na

licitação, em específico, essa satisfação personifica-se na melhor contratação possível, em

que se envolve preço, qualidade e eficiência em relação ao objeto licitado.

Isto posto, DECIDO pelo NÃO CONHECIMENTO do recurso

interposto, em razão da decadência manifesta do direito de recorrer. Porém, em

homenagem ao Princípio da Supremacia do Interesse Público, após análise da

argumentação proferida, INDEFIRO os pedidos da RECORRENTE, vez que as decisões

tomadas em sessão ocorreram em conformidade com art. 62, § 3º, inciso III da Lei nº

9.579/12 c/c art. 18, inciso I, alínea ‘b’ do Decreto Estadual nº 28.790/2012 e subitens 5.5,

8.1.3.1, 8.1.3.2 e 8.1.4.2 do Edital de Concorrência nº 07/2012-CSL/SEFAZ.

Portanto, MANTENHO a decisão final de declarar vencedora a

licitante BFX CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO LTDA., eis que apresentou o menor valor e

obedeceu as regras estabelecidas no Edital.

Satisfeito o duplo grau de jurisdição, devolvam-se os autos à CSL

para prosseguimento do feito.

Notifiquem-se os interessados.

São Luís (MA), 22 de novembro de 2013.

Cláudio José Trinchão Santos Secretário de Estado da Fazenda/SEFAZ