4
Estamos abrindo uma nova sec;:ao: 0 ESPA<;ODO COLEGA, no qual publica- remos, em parte ou na integra, artigos e outros tipos de colaborac;:ao remetidos or colegas professores. Esta foi aforma que encontramos de evitar que artigos enviados fiquem muito tempo it espera de pUblicac;:aopor falta de espac;:o, pois fazemos, com antecedencia, a programac;:aodos numeros da Revista de Ensino de Ciencias e, frequentemente, quando recebemos a colaborac;:ao deum colega, nao temos mais como inclui-Ia. Agora, os colegas tem, it sua disposic;:ao, um espac;:oa cada numero da nossa revista. Colaborem! . UMA EXPER/ENC/A NO ENS/NO DE SAUDE Marcia Cristina Tampellini EMPGLuiz Washington Vita Sao Paulo Com a 9rande quantidade de con- teudos para desenvolver durante urn ana e com a tao conhecida falta de re- cursos, 0 melhor e 0 professor de Cien- cias aproveitar a criatividade dos alu- nos, que muitas vezes fica escondida a espera de uma oportunidade de apare- cer e brilhar. Essa e uma experiencia realizada no ana de 1988com alunos de 7· serie do curso regular da EMPG "Luiz Was- hington Vita", Sao Paulo, Capital. Nes- sa serie 0 tema "0 Organismo Huma- no" foi trabalhado em sala de aula e a parte relativa a saude foi feita pelos alunos, como trabalho extraclasse, num caderno par eles chamado "Ca- derno de Saude". Semanalmente, urn pequeno texto mimeografado foi entregue a cada urn, dando informa«oes basicas e orienta- «ao para pesquisa e ilustra«oes. Nos textos procurei fugir ao maximo de "diagn6sticos e tratamentos" de doen- «as que, a meu ver, seria muito cansa- tivo. As pesquisas e ilustra«oes fica- ram a criterio de cada aluno. o resultado foi surpreendente: surgiram desenhistas fantasticos, tex- tos muito bem es.critos, troca de infor- ma«oes entre alunos e ate aqueles que n.unca participaram apresentaram bons trabalhos. Para os alunos, esse trabalho foi mais pmveitoso que c6pias de livros e questionar"ios inteTlJlinaveis. E, para mim, Domo !professofa, ficau a certeza de lilue sempre e p()SSive'usaf e abu- sar da capacidade. muitas vezes ca- mufllat;la.que os a1unos possuem. Vale a pena tenta.! ~ t-' c: ~ § ~ i-f ~ ~ CaOERNO §__ DC_-' " § SaUD£ TEXTO 1 Os dois lados da moeda Ambos van a esco/a: Joao na pri- meira, Pedro aa quarta serie. Ambos moram em Sao Paulo. Joao mora na periferia da zona leste, numa casinha a beira de urn c6rrego; Pedro mora numa luxuosa casa no Morumbi. o pai de Pedro 13 urn engenheiro bem sucedido, que nao mede esfor90s para manter 0 bem estar da familia. Alem da casa, da esoola, ele se preo- cupa oom a saude dos filhos: dentista duas vezes por ano, medico, aulas cle nata9ao, alimenta9ao equilibrada com frutas e legumes vindos 'diretamente do sitio da famil.ia. Que 6timol Que crian9as saudaveisl Mesmo quando tj- veram catapora se recuperaram rapi- damente e nao fic.aram urn s6 dia sem cuidados medioos_ o pai de .lDao tambem se preocll- pa com os filhos, como qua1quer paL Mas esta desempregado ha mais de urn mesoComoaJimenlaroem os fifhos que, aD "IIoltarem da escofa. bnincam na beira do c6rrego? E Joao, que nunca passa deano? Alem disso as crian9as estao sempre doentes e 0 Posto de Saude fica tao langei o que fazer com tantos proble- mas? Os exemplos acima sac extremos opostos, situa90es que, com certeza, ocorrem em nosso pais. Sao dois lados da moeda da saude e van servir paraorganizarmosnossas ideias a respeito do que consideramos como condi90es de saude de urn povo. 1. Discuta com seus colegas as se- guintes questoes; a) Podemos dizer que as condi«oes de saude dos meninos sac as mesmas? Porque? b) Que fatores fazem com que as situa- «oes de saude de Joao e Pedro sejam diferentes? 2. Ilustre a situacao dos meninos Joao e Pedro (pode s~r hist6ria em quadri- nhos, desenhos, colagem, etc.) TEXTO 2 o que e salide? A saude, bem como a educa9ao, sac fatores de desenvolvimento social. Comete urn grande erro quem pensa que a saude 13 obtida apenas atroves do combate as doen9as. A saude nao 13 fen6meno isola do, mas 0 resultado da intera9ao de todas as condi90es em que a popula9ao vive. Nao se pode considerar 0 individuo se- paradamente do seucontexto social, ecor:u5mico e ambienta/. o cUma, 0 tipo de moradia, a quali- dade da agua consumida, a rede de es- gotos, alem cle muitos outros fatores, influenciam e ate determinam 0 padrao de saude das pessoas. Para avaliar a situayiio de safJr:ie de uma populat;ao, 0 Consefho Econ6- mico e Social das Nar;6es Unidas pro- pos um con;unto de doze itens reJacio- nados com as condiqoes de saude:

Estamos abrindo uma nova sec;:ao:0 ESPA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Estamos abrindo uma nova sec;:ao:0 ESPA

Estamos abrindo uma nova sec;:ao:0 ESPA<;ODO COLEGA, no qual publica-remos, em parte ou na integra, artigos e outros tipos de colaborac;:ao remetidosor colegas professores. Esta foi a forma que encontramos de evitar que artigos

enviados fiquem muito tempo it espera de pUblicac;:aopor falta de espac;:o,poisfazemos, com antecedencia, a programac;:aodos numeros da Revista de Ensinode Ciencias e, frequentemente, quando recebemos a colaborac;:aode um colega,nao temos mais como inclui-Ia.

Agora, os colegas tem, it sua disposic;:ao, um espac;:oa cada numero danossa revista. Colaborem!

. UMA EXPER/ENC/ANO

ENS/NO DE SAUDE

Marcia Cristina Tampellini

EMPGLuiz Washington VitaSao Paulo

Com a 9rande quantidade de con-teudos para desenvolver durante urnana e com a tao conhecida falta de re-cursos, 0 melhor e 0 professor de Cien-cias aproveitar a criatividade dos alu-nos, que muitas vezes fica escondida aespera de uma oportunidade de apare-cer e brilhar.

Essa e uma experiencia realizadano ana de 1988com alunos de 7· seriedo curso regular da EMPG "Luiz Was-hington Vita", Sao Paulo, Capital. Nes-sa serie 0 tema "0 Organismo Huma-no" foi trabalhado em sala de aula e aparte relativa a saude foi feita pelosalunos, como trabalho extraclasse,num caderno par eles chamado "Ca-derno de Saude".

Semanalmente, urn pequeno textomimeografado foi entregue a cada urn,dando informa«oes basicas e orienta-«ao para pesquisa e ilustra«oes. Nostextos procurei fugir ao maximo de"diagn6sticos e tratamentos" de doen-«as que, a meu ver, seria muito cansa-tivo. As pesquisas e ilustra«oes fica-ram a criterio de cada aluno.

o resultado foi surpreendente:surgiram desenhistas fantasticos, tex-tos muito bem es.critos, troca de infor-ma«oes entre alunos e ate aqueles quen.unca participaram apresentarambons trabalhos.

Para os alunos, esse trabalho foimais pmveitoso que c6pias de livros equestionar"ios inteTlJlinaveis. E, paramim, Domo !professofa, ficau a certezade lilue sempre e p()SSive'usaf e abu-sar da capacidade. muitas vezes ca-mufllat;la.que os a1unos possuem. Valea pena tenta.!

~t-'c:~

§

~i-f~

~ CaOERNO

§__ DC_-' "§ SaUD£

TEXTO 1

Os dois lados da moeda

Ambos van a esco/a: Joao na pri-meira, Pedro aa quarta serie. Ambosmoram em Sao Paulo. Joao mora naperiferia da zona leste, numa casinha abeira de urn c6rrego; Pedro mora numaluxuosa casa no Morumbi.

o pai de Pedro 13 urn engenheirobem sucedido, que nao mede esfor90spara manter 0 bem estar da familia.Alem da casa, da esoola, ele se preo-cupa oom a saude dos filhos: dentistaduas vezes por ano, medico, aulas clenata9ao, alimenta9ao equilibrada comfrutas e legumes vindos 'diretamentedo sitio da famil.ia. Que 6timol Quecrian9as saudaveisl Mesmo quando tj-veram catapora se recuperaram rapi-damente e nao fic.aram urn s6 dia semcuidados medioos_

o pai de .lDao tambem se preocll-pa com os filhos, como qua1quer paLMas esta desempregado ha mais deurn mesoComo aJimenlar oem os fifhosque, aD "IIoltaremda escofa. bnincam na

beira do c6rrego? E Joao, que nuncapassa de ano? Alem disso as crian9asestao sempre doentes e 0 Posto deSaude fica tao langei

o que fazer com tantos proble-mas?

Os exemplos acima sac extremosopostos, situa90es que, com certeza,ocorrem em nosso pais.

Sao dois lados da moeda da saudee van servir para organizarmos nossasideias a respeito do que consideramoscomo condi90es de saude de urn povo.

1. Discuta com seus colegas as se-guintes questoes;a) Podemos dizer que as condi«oes desaude dos meninos sac as mesmas?Porque?b) Que fatores fazem com que as situa-«oes de saude de Joao e Pedro sejamdiferentes?2. Ilustre a situacao dos meninos Joaoe Pedro (pode s~r hist6ria em quadri-nhos, desenhos, colagem, etc.)

TEXTO 2

o que e salide?

A saude, bem como a educa9ao,sac fatores de desenvolvimento social.

Comete urn grande erro quempensa que a saude 13 obtida apenasatroves do combate as doen9as.

A saude nao 13 fen6meno isola do,mas 0 resultado da intera9ao de todasas condi90es em que a popula9ao vive.Nao se pode considerar 0 individuo se-paradamente do seu contexto social,ecor:u5micoe ambienta/.

o cUma, 0 tipo de moradia, a quali-dade da agua consumida, a rede de es-gotos, alem cle muitos outros fatores,influenciam e ate determinam 0 padraode saude das pessoas.

Para avaliar a situayiio de safJr:iede uma populat;ao, 0 Consefho Econ6-mico e Social das Nar;6es Unidas pro-pos um con;unto de doze itens reJacio-nados com as condiqoes de saude:

Page 2: Estamos abrindo uma nova sec;:ao:0 ESPA

1. Salide propria mente dita (ausencia dedoen/;as)2. Alimentos e nutril;ao3. Educac;ao com erradical;ao do analfabe-tismo4. Condicoes de trabalho5.lndice·de desemprego6. Consumo e economia gerais7. rransporte8. Habital;ao e saneamento basico9. Vestuario10. Lazer e divertimento11. Seguranl;a social12. Liberdade humana, po/itica e social

De acordo com um outro 6rgao dasNar;;6es Unidas, a OMS (Organizar;;aoMundial de Saude, a "saude e 0 bemestar fisico, mental e social, e nao ape-nas a ausf'mcia de doenr;;as ou enfermi-dade".

Todos os seres vivos procurammanter seus organismos em equilibriocom 0 ambiente. Assim, as agress6esdo ambiente sac compensadas por me-canismos de defesa. Se esses meca-nismos falham, instala-se um desequi-librio que pode ate levar 0 organismo amorte - e a doenr;;a.

ATIVIDADE

Escol ha tres dos itens relaciona-dos acima e escreva tres pequenasdissertac;:6es sobre a situac;:aoda suacomunidade em relac;:ao a esses as-pectos.

TEXTO 3Higi{3ne da boca

A higiene bucal ou cuidados quevoce deve tomar diariamente para evi-tar a formar;;ao de caries sac:- escovar;;ao dos dentes- usa da fita dental- bochechos.

A boa escovar;;ao comer;;apela es-colha da escova adequada, que deveter caber;;a pequena e cerdas com pon-tas arredondadas, nem muito moles,nem muito duras. Escove os dentes dofundo para a frente da boca, comecan-do pelo lade de fora e, depois, do iadode dentro.

Limpe a parte de cima de todos osdentes, fazendo movimentos de vai evem com a escova.

Ap6s a escovar;;ao use 0 fio ou fitadental para remover os restos de ali-mentos nao alcanr;;ados pela escova.

Como os restos de comida que fi-cam soltos na boca, ap6s a escovar;;aoe 0 usa da fita, podem "grudar" nova-mente nos dentes, voce deve boche-char com agua.

o ar;;ucar e 0 principal alimentodas bacterias que estragam os dentes.Ap6s algumas horas, 0 ar;;ucar transfor-ma-se em acido latico que ataca 0 es-malte dos dentes. Por isso, e importan-

te evitar balas, chicletes, chocolates oualimentos doces, ou entao escovar osdentes logo ap6s comer doces.

Ha alimentos que nao provocamcaries, como os vegetais e frutas. Atemdisso, esses alimentos sac importantespara a boa formar;;ao dos dentes.

Alimentos detergentes: tem 0 po-der de eliminar, durante a mastigar;;ao,outros alimentos que ficam grudadosnos dentes. Sao eles: mar;;a, laranja,cenoura, pessego, pera, frutas carno-sas.

o fluor deixa mais forte a estruturado dente. Ele e muito importante para aformar;;ao dos dentes das crianr;;as,des de a gestar;;ao ate os 12 anos.

1. Fac;:auma pesquisa entre os alunosde duas classes de sua escola sobrequem escova os dentes todos os dias equantas vezes ao dia.2. Ilustre seu caderno de saude comdesenhos sobre higiene bucal.

(iJUl>t1A.. (I:J d ",J.J~,d(lJ(~).• orlQ'" Jl'ftlCJPb

{o( L "pto ,.l9Jv

tC..C'r,\ ~c\.('l n. ilI, •."t,J.n' ..•

TEXTO 4

Queimando a Saude

Varios motivos levam uma pessoaa fumar: 0 fumo e um dos pouquissi-mos vicios tolerados pe/a sociedade e,as vezes, acaba sendo sinonimo de au-to-afirmar;;ao.

Em certos casos, muita gente aca-ba fumando sem ter consciencia doque esta acontecendo com seu corpo.

A fumar;;a que e tragada carregaconsigo particulas da nicotina e alca-trao que se alojam no aparelho respi-rat6rio, dificultando a passagem dooxigenio para a corrente sangilinea.

Com 0 tempo, poderao surgirdoenr;;as entre as quais bronquite e en-

fisema pufmonar. 0 uso continuo do fu-mo contribui tambem para provaveisdisturbios cardio-vasculares e nos sis-temas nervoso e digestivo.ATENc;AO: Um fumante tem 30% amais de chances de ter cancer, princi-palmente no pulmao, laringe e boca.

Claro que essas doenr;;as nao apa-recem de uma hora para outra. Em ge-ral, elas s6 se fazem presentes depoisde muitos anos de vicio. Em ultimaanalise, 0 fumo contribui para encurtara vida.

E pior do que prejudicar 0 pr6prioorganismo, e prejudicar 0 organismoalheio.

As pessoas que convivem diaria-mente com os fumantes tambem fu-mam, mesmo sem querer: sac os fu-mantes passivos ou involuntarios.

E voce, ja fumou alguma vez?Pense bem antes de queimar sua

saude.

Fa"a em seu caderno de saude urnai1ustra"ao (desenho, colagern, frases,etc.) que rnostre os prejuizos causadosa saude pelo furno.

Voce e Vacinado?

A crianr;;a, ao nascer, fa possuiimunidade contra algumas doenr;;as.Essa imunidade e recebida atraves dosanticorpos transmitidos pela mae du-rante a gravidez. Essa proter;;ao naturaltermina, em geral, antes de seis mesesde idade. A continuidade dessa prote-r;;aopode ser assegurada por meio dasvacinas.

Vacina e um preparado que con-tem germes mortos ou atenuados. In-

Page 3: Estamos abrindo uma nova sec;:ao:0 ESPA

troduzido no organismo, provoca a (or-ma9ao de substancias (os anticorpos)que permitem ao organismo resistir adoen9a.

Nem todas as doen9as transmissi-veis podem ser prevenidas por meio devacinas, mas, para algumas doen9asque costumam atacar as crian9as nosprimeiros anos de vida, existem vaci-nas protetoras.

Algumas vacinas sac aplicadasem uma s6 dose; outras, em varias do-ses. Para que a crian9a (ique protegidacontra a molestia, e necessario que elatome todas as doses recomendadas ena epoca certa.

Se, por algum motivo, a crianc;adeixar de receber a vacina nas idadesindicadas, deve-se procurar 0 centrode saLide para receber orientac;ao.

Pesquise e responda:1. Por que a vacina<;ao e importante?2. Como a vacina funciona?3. Voce acha que a maior parte dascrian<;as do mundo e vacinada? Parque?4. Qual a fun<;aodas campanhas de va-cina<;aofeitas no Brasil?

E importante

ensinar Ch~nciasdesde

as primeiras series?

Maria Teresinha Figueiredo

Sao Paulo

Por ser componente curriculardesde as primeiras series, e necessa-rio pensarmos no que 0 ensino deCiEmcias traz de fundamental para aforma<;ao do aluno e no que a escolatem desenvolvido ate agora.

A pratica mais usual no ensino deCiEmciasnas escolas de 19 grau tem-sebaseado num elenco de itens relacio-nados no indice do livro didatico. Cadaitem e desenvolvido pelo professor emaula expositiva, complementando 0 li-vro. Segue-se, entao, a fixa<;ao dessesconteudos pelos alunos, respondendoum questionario arrolado ao final decada capitulo. Desenvolvido dessa for-ma, sac pouco convincentes os argu-mentos que podemos ter para defendero ensino de CiEmcias.

E dificil abandonar 0 referencial dalista de conteudos, porque estamosatolados nela. Mas, ao nos distanciar-mos dessa lista, e possivel que fa<;a-mos alguns questionamentos do tipo:se a lista esta ou nao completa, que lis-ta seria a completa, etc., pois (ainda)estamos agarrados a ideia de que umensino de qualidade e aquele onde 0aluno aprende "tudo" ou 0 "maximopossivel".

Por outro lado, sabemos que emuito dificil professores, ainda quemuito esfor<;ados, conseguirem ensi-nar tudo 0 que eles mesmos listam co-mo importante, e que, encarando Cien-cia como um conhecimento que vemsendo acumulado e sistematizado pelahumanidade, essa lista aumentaria, nominimo, de ana para ano.

E seria necessario uma crianyaaprender, na escola, todo esse conhe-cimento cientifico acumulado ate hoje?

Sera que a qualidade do ensinofundamental ha 20 anos atras poderaser a qualidade para 0 ensino hoje?

Muita coisa mudou: os alunos,seus pais, 0 conhecimento acumulado,a tecnologia, a produ<;aosocial e cultu-ral, etc .. Alem disso, numa sociedadede classes, 0 que e qualidade parauma classe social, nao e qualidade pa-ra outra. Assim, ha 20 anos atras, aqualidade exigida para a escola publi-ca era aquela da classe media emcrescimento vertiginoso e em evidenteconsolida<;ao politica e economica. Ho-je, com a classe media em crise, semidentidade economica, desacreditandoa escola e com uma parcela significati-va do povo chegando a escola para teracesso a um mundo que nao domina,essa qualidade acabou gerando umensino que nao e para ninguem.

Portanto, sera que a contradi<;aofundamental para 0 professor de Cien-cias, hoje, e que ele nao ensina tudo 0que tem para ser conhecido?

JE1I1Il!Ciencia nao e s6 0 conhecimento

acumulado. a que se acumula e produ-to de um processo de investiga<;ao,nem sempre restrito aos muros dasuniversidades e institutos de pesquisa.Esse processo pode ser vivido por mui-tas pessoas, em muitas situa<;oes e 0que determina a produ<;ao do conheci-mento sac certas rela<;oes sociais,num determinado tempo e num deter-minado lugar.

a que nos confere maior seguran-<;anuma sala de aula e a transmissaode conteudos, uma vez que foi assim,que nos formam os. Mas e necessarionos darmos conta de que esses con-

teudos nao passam de um sem-numerode informa<;oes fragmentadas, que po-dem ser encontradas numa boa enci-clopedia. au seja, ensinamos, (e nemsempre da melhor forma), 0 que se ins-taurou no Iluminismo, na Fran<;a, nosseculos XVII e XVIII, como revoluciona-rio. E 0 era, mas ha tres seculos atras.Hoje, as enciclopedias continuam aexistir, mas, como a hist6ria avan<;ou,temos muito mais informa<;oes que noseculo XVII. Como ensinar, entao, tudoo que a Humanidade acumLtlou e siste-matizou sobre 0 conhecimento do mun-do, da vida, do universo, etc.?

E importante que 0 aluno tenha co-nhecimento dessa produ<;ao e como tu-do isso aconteceu e continua aconte-cendo. Ele deve perceber, no meio on-de vive, como uma gama enorme deconhecimentos esta presente. Perce-ber que, no seu dia-a-dia, ele lida comconhecimentos cientificos acumuladoso tempo todo, s6 que, ao inves de expli-car melhor 0 seu pr6prio meio, siste-matizando esse conhecimento, 0 seu"desconhecimento" acaba gerandouma mistifica<;ao do que acontece. Porexemplo, se a chuva e um fator impor-tante na regiao onde vive porque influina colheita, na erosao dos terrenos, naagua para 0 usa da popula<;ao local,em geral e mais facil atribuir a falta oupresen9a dela (da chuva) aos castigosou as ben<;aosdivinas, sem consideraralguma explica<;ao para isso.

Se a cada tema do conhecimentolevantado, 0 aluno come<;ar a perce-ber: 19) 0 que ja sabe sobre aquilo; 29)

que fenomenos ja observou; 39) que re-la<;ao esses fenomenos mantem entresi; 49) que rela<;ao, ele, aluno, tem comesses fenomenos; 5°) qual e a impor·tancia dessas rela<;oes para sua vida,seu trabalho, 0 trabalho dos seus pais,etc., ele produz conhecimento.

Nao seria, portanto, mais interes-sante 0 aluno estudar um conhecimen-to mais ampliado, a partir do conheci-mento que ele ja possui, ou seja, a par-tir do conceito que ja tem sobre os fe-nomenos?

JlJJJjjtlCreio que e ilusao pensar que 0

aluno nao percebeu nenhum fenomeno- a chuva por exemplo - e que naotenha nenhum conceito sobre isso.Mesmo que ele nunca tenha paradopara pensar, verbalizar ou explicar 0que ja observou, ele ja tem formuladosos seus conceitos, ainda que intuitiva-mente. E a escola e um contexto privi-legiado para que 0 aluno sistematizetudo isso em intera<;ao com seus cole-

Page 4: Estamos abrindo uma nova sec;:ao:0 ESPA

gas. E 0 momento onde a intervenyaodo professor desestabiliza seus con-ceitos, pois as novas informayoes ge-ram duvidas, 0 que 0 leva a estabele-cer novas relayoes'e novos conceitos.

Nesse processo, tanto 0 conheci-mento em si passa a ter significadoreal para ele, como tambem possibilitaque ele se capacite a elaborar 0 conhe-cimento e, dessa forma, adquira uminstrumento para desvendar 0 mundo,ou seja, torne-se capaz de produzir sa-ber.

Dessa forma, tambem, a Cienciapassa a ser uma possibilidade de 0aluno conhecer a natureza e ter domi-nio sobre ela, de ter contato mais inti-mo com a natureza e de transforma-Ia.Passa a se inserir na realidade cultu-ral, aumentando seu universo, sua lin-guagem, incorporando tudo isso a suaexistencia.

Isso tudo nao 0 torna um cientistae nem e para isso que 0 ensino deCiencias deve servir.

"Ciencia, antes de tudo, e levar aperceber uma nova logica na vida, nasua origem, uma logica na natureza,para que esse homem que vai enfren-tar essa natureza nao seja um dia en-ganado pela logica mitica que faz deleo homem uti!, porem ignorante" (MI-GUEL ARROYO).

Se encararmos 0 ensino de Cien-cias como informayoes a serem memo-rizadas, real mente, esse ensino nao eimportante nem para as primeiras se-ries, nem para as ultimas, talvez, paraninguem.

Se comeyarmos a encarar Cien-cias como principalmente 0 ensino daconstruyao reveladora dos conceitos,das relayoes dos componentes que en-volvem um fen6meno, das relayoes deum fenomeno com os outros, da rela-yao dos fen6menos cientificos com os

'sociais (por exemplo, a transformayaoda natureza segundo as necessidades,em contraposiyao a transformayao danatureza segundo interesses), os co-nhecimentos desconexos e esparsoscomeyam a ser sistematizados e acu-mulados com unidade e profundidade.

Assim, com 0 ensino de Ciencias,o aluno pode estruturar 0 seu pensa-mento logico, 0 raciocinio, a capacida-de de estabelecer relayoes e e claroque isso 0 ajudara e se incorporara aoapendizado da Matematica, da Lingua(desde a alfabetizayao) e tudo 0 mais.

Nessa perspectiva, entao, 0 ensi-no de Ciencias nao so e importante, co-mo fundamental, tanto para construir 0conhecimento apaixonante do mundo,como para estruturar a capacidade in-telectual dos alunos de forma integra esignificativa.

PAINEIS DE

DIVUlGAc;AO

Paulo AuricchioEscola Paulo Freire

Sao Paulo

o curso de Ciencias normal menteeo que mais motiva 0 aluno de 19 Grau,talvez porque 0 coloque em contatocom explicayoes e significados dosmecanismos da Natureza. Porem, a ta-refa do professor e, as vezes, um tantoexaustiva, pois nao dispoe de temposuficiente para abordar todos os as-suntos, ou nao possui artificios atraen-tes ao aluno.

Tentando minimizar tais proble-mas, imaginei uma adaptayao dos pai-neis utilizados para divulgayao de tra-balhos em congressos cientificos. Es-tes paineis suprem a falta de tempodisponivel para apresentayao oral detodos os trabalhos e possibilita, aos in-teressados, 0 contato com determina-dos estudos. Alem disso, colocam 0aluno diante de situayoes que 0 indu-zem a decidir, optar, responsabili-zar-se e ainda permitem que divulgueseu proprio trabalho, sendo este seuprincipal estimulo.

A estrutura dos paineis permiteainda que haja um grande entrosamen-to entre estudantes de series diferen-tes, pois estimula comentarios e trocade opinioes, aproximando os alunos.

Apresentacrao aos alunosEm cada uma das classes partici-

pantes, deve-se afixar uma folha ondeconstem as condiyoes de apresenta-yao:Objetivos: Dinamizar 0 estudo de Cien-cias no 19 Grau.Integrar areas de estudo de Cienciasno 19 Grau.Proposta. Apresentayao de trabalhosem areas livres da Escola (patio, corre-dores, etc.)Grupo: 0 grupo sera composto de 3(tres) alunos no maximo. Poderao serformados grupos de 2 (dois) alunos, deacordo com determinayao do profes-sor.Padronizacrao: 0 espayo maximo per-mitido na ocupayao vertical sera de 3

paineis de 50 cm x 70 cm (folha de car-tolina), sendo que dois deles para 0texto informativo e 0 terceiro para gra-vuras, fotos e desenhos. No texto as le-tras, de forma, terao 0 tamanho de setemilimetros e 0 espayo entre linhas detres milimetros (para facilleitura). Serapermitida a utilizayao de espayo hori-zontal para a apresentayao de peyasauxiliares, colocadas em frente a posi-yao dos paineis.Tempo de exposicrao: os paineis seraoexpostos durante uma semana (de se-gunda a sexta-feira, inclusive).Procedimento: 0 grupo escolhe um te-ma e recebe, por sorteio, a sua data deapresentayao.Desenvolvimento: A pesquisa poderadesenvolver-se a partir de quaisquerfontes de consulta, indicadas ou naopelo professor de Ciencias.Avaliacrao: Sera afixada, juntamentecom 0 paine!. uma folha de avaliayaoonde constarao os nomes dos avalia-dores escolhidos pelo grupo. 0 concei-to pode ser numerico ou nao, depen-dendo do criterio utilizado pela escola.Aproveitamento: A media aritmeticados conceitos dos avaliadores seracomputada como uma das notas do bi-mestre, em Ciencias. 0 professor podetambem utilizar uma questao baseadanos paineis para a prova do bimestreem todas as series onde estao sendoaplicados.

Esta experiencia foi realizada du-rante 0 29 semestre de 1988 com alu-nos de 5" a 8" serie do 19 Grau na Esco-la Paulo Freire, em Sao Paulo - SP.Dentre os temas escolhidos pelos alu-nos, alguns foram muito interessantes,como "Animais Pre-Historicos" emque 0 grupo fez, em argila, replicas dosrepteis, ou ainda "Baleias" em queuma vertebra de baleia foi exposta. Ou-tros trabalhos, como "Helicopteros",apesar de nao apresentarem peyas ououtros materiais, traziam desenhos ex-plicativos e textos de alto nivel, sim-ples e objetivos.

A proposta dos paineis de divulga-yao em Ciencias pode, devido a suaplasticidade, ser adaptada para outrasdisciplinas ou mesmo para outrosgraus, bastando modificar-Ihe algunsitens. Logicamente, e necessario pre-ver algumas modificayoes relaciona-das com a estrutura da escola como,por exemplo, numero de alunos por sa-la, espayo para fixayao, etc.

Os paineis de divulgayao em Cien-cia, como instrumento didatico, provamsua eficiencia, pois dinamizam todo 0corpo discente, induzindo-o a desco-bertas e ainda poupando tempo e tra-balho do professor.