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ESTE LIVRO ELETRÔNICO FOI OBTIDO ATRAVÉS DO SITE
WWW.EDIREITO.NET. SUA CÓPIA SEM AUTORIZAÇÃO ESTÁ
ESTRITAMENTE PROIBIDA.
Gabriel Freitas Angst é apresentador
na rede eDireito.net
* O CONTEÚDO DESTA OBRA REFERE-SE A TRABALHO
MONOGRÁFICO DEFENDIDO NO ANO DE 2011, NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, QUE OBTEVE CONCEITO
MÁXIMO EM SUA AVALIAÇÃO.
3
Dedico aos meus pais, José Carlos Angst e Rita
da Glória Freitas de Almeida, aos meus irmãos,
Leonardo Freitas de Almeida e Luiz Antônio
Freitas de Almeida, e à minha namorada, Kamila
Venuto de Souza.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, que nos dá fôlego, coragem, disposição e, sobretudo, força para
que enfrentemos cada desafio de nossa vida.
Ao Professor Mestre André Puccinelli Júnior, que muito bem orientou a
elaboração dessa monografia.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 - HISTÓRICO
1.1 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
1.2 ORIGEM DAS TÉCNICAS DE DECISÃO
CAPÍTULO 2 – TÉCNICAS DE DECISÃO
2.1 DECISÕES TRADICIONAIS
2.1.1 Declaração de Constitucionalidade
2.1.2 Declaração de Inconstitucionalidade
2.1.2.1 Inconstitucionalidade por Omissão
2.2 TÉCNICAS INTERPRETATIVAS
2.2.1 Interpretação Conforme à Constituição
2.2.1.1 Interpretação Conforme à Constituição no
Direito Brasileiro
2.2.1.2 Limites da Interpretação Conforme à
Constituição
2.2.1.3 Diferenças entre a Interpretação Conforme à
Constituição e a Declaração de Nulidade
Qualitativa
2.2.2 Declaração de Nulidade Qualitativa
2.3 TÉCNICAS MODIFICATIVAS
2.3.1 Sentenças Aditivas
8
10
10
17
22
22
22
26
28
37
37
39
41
42
44
46
46
6
2.3.2 Sentenças Substitutivas
2.4 TÉCNICAS TRANSITIVAS
2.4.1 Modulação de Efeitos e Declaração de
Inconstitucionalidade de Caráter Limitativo ou Restritivo
2.4.1.1 Teoria da Nulidade
2.4.1.2 Teoria da Anulabilidade
2.4.1.3 Os Efeitos das Decisões de
Inconstitucionalidade no Brasil
2.4.1.4 O art. 27 da Lei nº 9.868/1999 e a Modulação
de Efeitos
2.4.2 Apelo ao Legislador e Lei Ainda Constitucional
2.4.2.1 Diferenças entre Apelo ao Legislador e
Declaração de Inconstitucionalidade de Caráter
Limitativo
CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DAS TÉCNICAS DE
DECISÃO NA JURISPRUDÊNCIA NACIONAL
3.1 INTERPRETAÇÃO CONFORME À
CONSTITUIÇÃO: AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE Nº 4277/DF: UNIÃO
ESTÁVEL ENTRE HOMOAFETIVOS
3.2 SENTENÇA ADITIVA: MANDADO DE INJUNÇÃO
Nº 670/ES: A GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS
3.3 DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
SEM A PRONÚNCIA DE NULIDADE: AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 2.240-7/BA: O
50
52
52
54
55
62
65
71
77
77
81
7
CASO LUÍS EDUARDO MAGALHÃES
3.4 APELO AO LEGISLADOR E LEI AINDA
CONSTITUCIONAL: RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº
135.328/SP: ARTIGO 68 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL
3.5 INTERPRETAÇÃO CONFORME À
CONSTITUIÇÃO: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO
DE PRECEITO FUNDAMENTAL Nº 54: ABORTO DE
ANENCÉFALOS
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
84
87
90
95
98
8
INTRODUÇÃO
Desde o final do século XX, a insuficiência do binômio
constitucionalidade/inconstitucionalidade para solucionar as questões
levadas à mais alta Corte do país, em sede de técnicas de decisão de
controle de constitucionalidade, ensejou a diversificação das modalidades
decisionais utilizadas no Brasil.
Prova disso foi a inserção, no direito brasileiro, de técnicas como
a interpretação conforme à Constituição, a declaração de nulidade
parcial, a declaração de nulidade parcial sem redução de texto e a lei
ainda constitucional.
Ademais, a entrada em vigor da Lei nº 9.868/99 reforçou tal fato,
trazendo ao ordenamento jurídico uma importante técnica, que já estava
sendo utilizada em outros países como Portugal, Alemanha, Itália e
Espanha, qual seja: a declaração de inconstitucionalidade de caráter
limitativo ou restritivo, técnica que consubstancia o que se denomina
modulação dos efeitos das decisões em sede de controle de
constitucionalidade.
Portanto, este trabalho tem como escopo analisar as principais
técnicas de decisão utilizadas em sede de controle de constitucionalidade
na jurisprudência brasileira, utilizando-se, eventualmente, das
experiências observadas no Direito Comparado.
9
Para isso, proceder-se-á a uma breve análise histórica do controle
de constitucionalidade e dos efeitos tradicionais de suas decisões no
Brasil.
Em um segundo momento, far-se-á um estudo específico sobre as
principais técnicas de decisão citadas e estudadas na doutrina e aplicadas
na jurisprudência brasileira, analisando suas características e suas
consequências no ordenamento jurídico, questionando-se inclusive a
necessidade das mesmas.
As técnicas de decisão foram organizadas, para a composição
dessa pesquisa, com base na valiosa classificação proposta por Emílio
Peluso Neder Meyer, sendo separadas de acordo com as suas funções,
sejam interpretativas, modificativas ou ainda transitivas.
Por fim, para concretizar a pesquisa realizada, foi selecionada
uma série de decisões importantes relacionadas com o tema, que tiveram
e ainda têm grande importância na jurisprudência brasileira e, mormente,
na própria sociedade.
Essas decisões serão investigadas, em apartado, no capítulo 3
desta monografia, identificando-se as técnicas de decisão nelas utilizadas
e sua repercussão em cada uma delas.
10
1. HISTÓRICO
1.1. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
É cediço que o controle de constitucionalidade tem por objetivo
aferir a denominada compatibilidade vertical das normas
infraconstitucionais em relação às constitucionais, com fundamento no
princípio da supremacia da constituição.
Como diz Lewandowski, ―o controle de constitucionalidade
surge historicamente como um mecanismo destinado a assegurar a
supremacia da Constituição sobre todas as demais normas legais que
convivem no mesmo sistema jurídico‖1.
Segundo José Afonso da Silva, com base neste princípio, ―as
normas de grau inferior só valerão se forem compatíveis com as normas
de grau superior, que é a Constituição‖, de forma que ―as que não forem
compatíveis com ela são inválidas, pois a incompatibilidade vertical
resolve-se em favor das normas de grau mais elevado, que funcionam
como fundamento de validade das inferiores‖ 2.
1 LEWANDOWSKI, Enrique Ricardo. Notas sobre o controle da
constitucionalidade no Brasil. Disponível em
<http://www.bibliojuridica.org/libros/2/626/7.pdf>. Acesso em: 12/10/2011.
2 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 30.ed. São
Paulo: ed. Malheiros, 2008, p. 47.
11
Complementando tal informação, Jorge Miranda bem explica
que constitucionalidade e inconstitucionalidade designam conceitos de
relação, ou seja, ―a relação que se estabelece entre uma coisa — a
Constituição — e outra coisa — um comportamento — que lhe está ou
não conforme, que com ela é ou não compatível, que cabe ou não no seu
sentido‖3.
Assim, percebe-se que as leis são, por excelência, objetos do
controle de constitucionalidade, em suas variadas formas e hierarquias4.
Nesse contexto, cabe ao órgão competente pelo controle de
constitucionalidade5 de um país averiguar a validade, no ordenamento
jurídico, das leis infraconstitucionais eventualmente questionadas,
declarando-as, a princípio, constitucionais ou inconstitucionais, a
depender da compatibilidade ou incompatibilidade das mesmas em
relação às disposições constitucionais.
3 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. 2.ed. Coimbra: ed.
Coimbra, 1983, p. 206/212 apud BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO,
Inocencio Martires; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional.
5.ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2010, p. 1051.
4 SAMPAIO, José Adércio Leite. A Constituição Reinventada pela Jurisdição
Constitucional. Belo Horizonte: ed. Del Rey, 2002, p. 191.
5 No Brasil, o controle de constitucionalidade é jurisdicional, ou seja, é de
competência do Poder Judiciário, combinando os critérios difuso e concentrado,
sendo este último de competência do Supremo Tribunal Federal.
12
Necessário destacar, contudo, que a origem do controle de
constitucionalidade remonta à construção jurisprudencial norte-americana
aplicada no caso Marbury versus Madison6, no ano de 1803.
Naquela ocasião, Marshall, o Chief Justice da Suprema Corte
norte-americana, demonstrou, pela primeira vez, que as leis ordinárias
com conteúdo contrário ao da Constituição, seriam nulas, já que esta
última seria inalterável pelos meios comuns, diferentemente daquelas7.
Essa decisão foi aplicada no controle difuso de
constitucionalidade.
Além do controle difuso, há ainda os controles concentrado e
misto de constitucionalidade, que surgiram após o advento do primeiro.
Acerca dos sistemas de controle de constitucionalidade, Gilmar
Ferreira Mendes declara, de forma precisa:
O controle concentrado de constitucionalidade
(austríaco ou europeu) defere a atribuição para o
julgamento das questões constitucionais a um órgão
jurisdicional superior ou a uma Corte Constitucional.
O controle de constitucionalidade concentrado tem
ampla variedade de organização, podendo a própria
Corte Constitucional ser composta por membros
6 A decisão pode ser visualizada no seguinte endereço eletrônico:
http://law2.umkc.edu/faculty/projects/ftrials/conlaw/marbury.html
7 LEWANDOWSKI, Enrique Ricardo. Notas sobre o controle da
constitucionalidade no Brasil, op. cit.
13
vitalícios ou por membros detentores de mandato, em
geral, com prazo bastante alargado.
Referido modelo adota as ações individuais para a
defesa de posições subjetivas e cria mecanismos
específicos para a defesa dessas posições, como a
atribuição de eficácia ex tunc da decisão para o caso
concreto que ensejou a declaração de
inconstitucionalidade do sistema austríaco.
Especialmente a Emenda Constitucional de 7-12-1929
introduziu mudanças substanciais no modelo de
controle de constitucionalidade formulado na
Constituição austríaca de 1920.
Passou-se a admitir que o Supremo Tribunal de Justiça
(Oberster Gerichtshof) e o Tribunal de Justiça
Administrativa (Verwaltungsgerichtshof) elevem a
controvérsia constitucional concreta perante a Corte
Constitucional. Rompe-se com o monopólio de
controle da Corte Constitucional, passando aqueles
órgãos judiciais a ter um juízo provisório e negativo
sobre a matéria. Essa tendência seria reforçada
posteriormente com a adoção de modelo semelhante
na Alemanha, Itália e Espanha.
Em verdade, tal sistema tornou o juiz ou tribunal um
ativo participante do controle de constitucionalidade,
pelo menos na condição de órgão incumbido da
provocação. Tal aspecto acaba por mitigar a separação
entre os dois sistemas básicos de controle.
14
O sistema americano, por seu turno, perde em parte a
característica de um modelo voltado para a defesa de
posições exclusivamente subjetivas e adota uma
modelagem processual que valora o interesse público
em sentido amplo. A abertura processual largamente
adotada pela via do amicus curiae amplia e
democratiza a discussão em torno da questão
constitucional. A adoção de um procedimento especial
para avaliar a relevância da questão, o writ of
certiorari, como mecanismo básico de acesso à Corte
Suprema e o reconhecimento do efeito vinculante das
decisões por força do stare decisis conferem ao
processo natureza fortemente objetiva.
O controle de constitucionalidade difuso ou
americano assegura a qualquer órgão judicial
incumbido de aplicar a lei a um caso concreto o poder-
dever de afastar a sua aplicação se a considerar
incompatível com a ordem constitucional.
Esse modelo de controle de constitucionalidade
desenvolve-se a partir da discussão encetada na
Suprema Corte americana, especialmente no caso
Marbury v. Madison, de 1803. A ruptura que a judicial
review americana consagra com a tradição inglesa a
respeito da soberania do Parlamento vai provocar uma
mudança de paradigmas. A simplicidade da forma —
reconhecimento da competência para aferir a
constitucionalidade ao juiz da causa — vai ser
15
determinante para a sua adoção em diversos países do
mundo.
Finalmente, o controle misto de constitucionalidade
congrega os dois sistemas de controle, o de perfil
difuso e o de perfil concentrado. Em geral, nos
modelos mistos defere-se aos órgãos ordinários do
Poder Judiciário a prerrogativa de afastar a aplicação
da lei nas ações e processos judiciais, mas se
reconhece a determinado órgão de cúpula — Tribunal
Supremo ou Corte Constitucional — a competência
para proferir decisões em determinadas ações de perfil
abstrato ou concentrado. Talvez os exemplos mais
eminentes desse modelo misto sejam o modelo
português, no qual convivem uma Corte
Constitucional e os órgãos judiciais ordinários com
competência para aferir a legitimidade da lei em face
da Constituição, e o modelo brasileiro, em que se
conjugam o tradicional modelo difuso de
constitucionalidade, adotado desde a República, com
as ações diretas de inconstitucionalidade (ação direta
de inconstitucionalidade, ação declaratória de
constitucionalidade, ação direta de
inconstitucionalidade por omissão e representação
16
interventiva), de competência do Supremo Tribunal
Federal. (Grifo nosso)8
No Brasil, o controle difuso de constitucionalidade surgiu com a
Constituição de 1981, influenciado pelo direito norte-americano.
O controle concentrado, por sua vez, foi criado no Brasil somente
em 1965, através da Emenda Constitucional nº 16/65, durante a vigência
da Constituição de 1946, a qual trazia em seu texto legitimação exclusiva
do Procurador-Geral da República para ajuizar uma modalidade de Ação
Direta de Inconstitucionalidade.
Com a Constituição Federal de 1988, que vigora atualmente no
ordenamento brasileiro, além de se ter ampliado o rol de legitimados para
ingressar com a Ação Direta de Inconstitucionalidade, sobrevieram
algumas novidades no controle de constitucionalidade, como, por
exemplo, a possibilidade de exercê-lo nas omissões inconstitucionais,
através da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, em
controle abstrato, ou pelo Mandado de Injunção, este último em controle
difuso.
8 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocencio Martires; MENDES,
Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional, op. cit., p. 1057/1058.
17
1.2. ORIGEM DAS TÉCNICAS DE DECISÃO
Como já exposto, o controle de constitucionalidade representa a
atribuição do Poder Judiciário de declarar eventual inconstitucionalidade
de um ato ou de uma omissão normativa.
Entretanto, a aplicação do código
constitucionalidade/inconstitucionalidade se mostrou, ao longo do tempo,
insuficiente para solucionar questões constitucionais mais complexas, o
que ensejou o surgimento de novas técnicas de decisão em todo o mundo.
Acerca do assunto, Gilmar Ferreira Mendes9 esclarece:
Inicialmente (...), o debate sobre técnicas de decisão
era um debate bastante simples: em geral, nós
dizíamos que a ADIn era improcedente, e neste caso
nós declarávamos a constitucionalidade da lei; ou que
a ADIn era procedente, e por isso nós declarávamos a
inconstitucionalidade da lei. (...) A jurisprudência
trabalhava com esse modelo dual: ou a lei é
constitucional, ou ela é inconstitucional. (...) Mas o
próprio sistema começou a perceber que havia
dificuldades na implementação dessa idéia, de um
9 MENDES, Gilmar Ferreira. Saber Direito: Controle de Constitucionalidade.
Brasília, TV Justiça, 2010. Programa de Televisão. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=orGW6FdJq8Y>. Acesso em: 14/02/2011.
18
modelo puramente dual. (...) [Hoje] saímos daquele
sistema puramente binário, dual (lei é constitucional,
ou é inconstitucional e nula) para uma série de técnicas
de decisão. (...) Agora, são tantas as alternativas que
nós nem sabemos bem quais são todas as técnicas de
controle de constitucionalidade (...).
O Brasil tem evoluído, igualmente, na adoção de novas técnicas
de decisão em controle de constitucionalidade, como observa Mendes:
(...) Além das muito conhecidas técnicas de
interpretação conforme à Constituição, declaração de
nulidade parcial sem redução de texto, ou da
declaração de inconstitucionalidade sem a pronúncia
da nulidade, aferição da ―lei ainda constitucional‖ e
do apelo ao legislador, são também muito utilizadas as
técnicas de limitação ou restrição de efeitos da
decisão, o que possibilita a declaração de
inconstitucionalidade com efeitos pro futuro a partir
da decisão ou de outro momento que venha a ser
determinado pelo tribunal10
.
10 MENDES, Gilmar Ferreira. O Controle de Constitucionalidade no Brasil.
Disponível em: <
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portalStfInternacional/portalStfAgenda_pt_
19
Refletindo acerca das técnicas de decisão, Emílio Peluso Neder
Meyer explica que na verdade as mesmas constituem sentenças
intermediárias11
, ou seja, ―diversas tipologias decisionais utilizadas pelo
órgão de fiscalização judicial da constitucionalidade de leis ou atos
normativos, com vistas a relativizar o código
constitucional/inconstitucional‖12
.
Conforme o supracitado autor13
, as sentenças intermediárias
compreendem as seguintes modalidades de decisão: a) sentenças
interpretativas, que buscam restringir o âmbito normativo da lei ou ato
normativo sujeito ao controle de constitucionalidade; b) sentenças
modificativas, nas quais o julgador tem de estabelecer o que o legislador
br/anexo/Controle_de_Constitucionalidade_v__Port1.pdf >. Acesso em:
13/10/2011.
11 José Adércio Leite Sampaio anota que essa expressão foi utilizada pela
primeira vez na VII Conferências dos Tribunais Constitucionais Europeus,
ocorrida em 1987. (SAMPAIO, José Adércio Leite. As sentenças intermediárias
de constitucionalidade e o mito do legislador negativo, p. 159 e SS. apud
MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de Constitucionalidade.
São Paulo: ed. Método, 2008). Ressalte-se, porém, que no Brasil seria mais
adequado falar em decisões intermediárias, para não excluir da expressão os
acórdãos (decisões tribunalícias).
12 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, op. cit., p. 38.
13 Ibidem, p. 40.
20
omitiu; e c) sentenças transitivas, as quais, por meio da incidência sobre
os efeitos da decisão, partem do fundamento de uma possível transação
com a supremacia da Constituição.
As sentenças interpretativas englobam as técnicas de
interpretação conforme à Constituição e a declaração de nulidade parcial
sem redução de texto (declaração de nulidade qualitativa).
As sentenças modificativas, por sua vez, abarcam as espécies de
decisões aditivas e substitutivas.
Por fim, as sentenças transitivas reúnem a declaração de
inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade (ou declaração de
inconstitucionalidade de caráter restritivo ou limitativo), que são
sentenças de modulação temporal, e o apelo ao legislador (declaração de
constitucionalidade da lei e ―lei ainda constitucional‖).
Contudo, cabe ressaltar que a divisão adotada nesta pesquisa,
baseada em Meyer, é distinta daquela proposta por José Adércio Leite
Sampaio, na qual as sentenças intermediárias se dividiriam em sentenças
normativas, que levam à criação de uma norma geral e vinculante, e
sentenças transitivas, que implicam a possibilidade de transação com a
supremacia constitucional14
.
Este último autor subdivide as sentenças normativas em: a)
sentenças interpretativas ou de interpretação conforme a Constituição; b)
sentenças aditivas; c) sentenças aditivas de princípio; e d) sentenças
14 Ibidem, p. 39.
21
substitutivas. Por outro lado, as sentenças transitivas são subdividas em:
a) sentenças de inconstitucionalidade sem efeito ablativo; b) sentenças de
inconstitucionalidade com ablação diferida; c) sentenças apelativas; e d)
sentenças de aviso.
22
2. TÉCNICAS DE DECISÃO
2.1. DECISÕES TRADICIONAIS
2.1.1. Declaração de Constitucionalidade
Está prevista no Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal, desde 1980, a possibilidade de se reconhecer a
constitucionalidade de uma norma impugnada15
. É o que dispõe o artigo
173 do mencionado regimento:
Art. 173. Efetuado o julgamento, com o quorum do
art. 143, parágrafo único, proclamar-se-á a
inconstitucionalidade ou a constitucionalidade do
preceito ou do ato impugnados, se num ou noutro
sentido se tiverem manifestado seis Ministros. (grifo
nosso)
Como anota André Ramos Tavares, é grande a importância de se
atribuir efeitos de uma decisão em controle concentrado tanto para o caso
de se reconhecer a inconstitucionalidade como a constitucionalidade de
uma lei.
15 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 7.ed. São Paulo:
ed. Saraiva, 2009, p. 259.
23
Isso porque atribuir efeitos pertencentes ao controle abstrato
apenas para a decisão que reconhece a inconstitucionalidade de uma
norma traria sérias desvantagens para o ordenamento, como, por
exemplo, rediscussões acerca da constitucionalidade de um ato normativo
outrora declarado constitucional, mesmo não havendo mudança fática
subjacente a ele.
Da mesma forma, no caso de aplicação de interpretação
conforme à Constituição, hipótese na qual se julga improcedente uma
ação de inconstitucionalidade, as interpretações inconstitucionais da
norma não teriam os efeitos próprios do controle concentrado, o que
inviabilizaria a utilização dessa técnica de decisão16
.
Preceitua Tavares:
Com a eficácia geral dessas decisões [de
constitucionalidade], há a produção de uma série de
consequências jurídicas próprias. Assim, em primeiro
lugar, obsta-se que a mesma questão seja apresentada
novamente perante o S.T.F., salvo se ocorrer mudança
na situação fática subjacente a ela ou na interpretação
constitucional pelo S.T.F. Ademais, o legislador não
fica impedido de revogar a lei constitucional e alterá-
la, inclusive com a edição de nova norma cuja
constitucionalidade seja duvidosa.
16 Ibidem, p. 260.
24
Mais recentemente, por meio da Emenda Constitucional nº 3/93,
foi introduzida no Brasil a denominada Ação Declaratória de
Constitucionalidade, cujo objetivo, já que toda lei se presume
relativamente constitucional, é ―transformar uma presunção relativa de
constitucionalidade em absoluta‖, de acordo com Pedro Lenza17
.
Assim, a decisão vincula os órgãos do Poder Judiciário e a
Administração Pública, que não poderão declarar inconstitucional o ato
normativo já declarado constitucional por esta ação específica, muito
menos agir em desconformidade com o teor da decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal.
Na verdade, a principal finalidade da Ação Direta de
Constitucionalidade é afastar a insegurança jurídica projetada pela
incerteza sobre a validade ou aplicação de um determinado ato
normativo.
Os legitimados para ingressar com Ação Direta de
Constitucionalidade são os mesmos elencados para a propositura de Ação
Direta de Inconstitucionalidade (Constituição Federal, artigo 103), e a
competência para o seu julgamento é do Supremo Tribunal Federal.
Com relação às regras de votação e quórum no julgamento de
Ação Direta de Constitucionalidade, Lenza explica:
17 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14.ed. São Paulo: ed.
Saraiva, 2010, p. 346 e ss.
25
(...) são as mesmas expostas na ADI genérica, qual
seja, desde que presente o quorum de instalação da
sessão de julgamento de 8 ministros, a declaração de
constitucionalidade dar-se-á pelo quorum da maioria
absoluta dos 11 Ministros do STF, qual seja, pelo
menos 6 deverão posicionar-se favoráveis à
procedência da ação18
.
Julgado o mérito da ação, a decisão proferida produz, de acordo
com o artigo 102, §2º da Constituição Federal, eficácia contra todos e
efeito vinculante aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
Administração Pública direta e indireta.
Obviamente, essa decisão terá efeitos retroativos (ex tunc), em
virtude da presunção relativa de constitucionalidade das leis.
No que tange às decisões de constitucionalidade combinadas com
técnicas de decisões, a declaração de constitucionalidade poderá também
se restringir a uma dada interpretação, como no caso da aplicação da
técnica da constitucionalidade por interpretação conforme à
Constituição.
Da mesma forma, tem-se a possibilidade de declarar leis como
―ainda constitucionais‖, que, embora no momento da análise não sejam
18 Ibidem, p. 318.
26
consideradas nulas, encontram-se em trânsito para uma
inconstitucionalidade, situações que serão analisadas em momento
posterior.
2.1.2. Declaração de Inconstitucionalidade
No Brasil, pelo fato de nosso país adotar como regra a teoria da
nulidade no controle de constitucionalidade, a lei inconstitucional é
considerada, ordinariamente, nula.
Assim, em tese, uma lei inconstitucional (ou nula) jamais poderá
produzir quaisquer efeitos no território brasileiro.
Contudo, como será debatido no capítulo referente à técnica de
inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, a teoria da nulidade
não pode ser adotada absoluta e inafastavelmente nas decisões judiciais.
É o que observa Tavares:
Basta atentar para a declaração de
inconstitucionalidade por omissão do legislador, para
cujos efeitos não se pode invocar a nulidade, por
completa inadequabilidade. Ademais, a falta de outras
alternativas poderia, em muitas situações, compelir o
S.T.F. a deixar de reconhecer a inconstitucionalidade
de uma lei, sob pena de causar maiores distorções
constitucionais do que causaria sua permanência
27
(indevida) no sistema jurídico. Esse é, v. g., o caso em
que a falta da lei (pela declaração de sua nulidade)
criaria um vazio normativo insuportável e insuperável.
Por essa razão, embora seja a regra geral, nem sempre as
decisões de inconstitucionalidade terão eficácia ex tunc (retroativa).
Por outro lado, a decisão proferida poderá ter efeitos inter partes
(no controle difuso) ou erga omnes (no controle concentrado, como é o
caso de decisões proferidas em Ação Direta de Inconstitucionalidade).
Na Ação Direta de Inconstitucionalidade, obedecidos aos
requisitos citados referentes à Ação Direta de Constitucionalidade, a
decisão da Corte Constitucional produzirá efeitos contra todos e
vinculantes em relação aos órgãos do Poder Judiciário e da
Administração Pública direta e indireta.
O ato normativo cuja validade é questionada poderá ser
declarado inconstitucional total ou parcialmente, e trará, comumente,
modificações textuais no dispositivo ou no corpo inteiro da lei.
No primeiro caso, a norma deve ser declarada nula por completo,
em razão de a inconstitucionalidade ferir todo o ato normativo (como no
caso de erro de iniciativa, que é vício de ordem formal).
A nulidade também pode ser total em virtude de indivisibilidade
entre o dispositivo inconstitucional e o restante da lei, como nas situações
28
em que o primeiro é absolutamente imprescindível para a compreensão e
aplicação da última19
.
Outrossim, caso a declaração de nulidade parcial da lei altere de
forma significativa o seu sentido original, nessa hipótese impõe-se o
reconhecimento da inconstitucionalidade de todo o ato normativo, sob
pena de o Poder Judiciário intervir na vontade do legislador, ferindo o
princípio da separação dos poderes.
Combinada a decisão de inconstitucionalidade com as técnicas de
decisão, a declaração de nulidade poderá ser qualitativa, ou seja, ao invés
de se proceder à modificação ou subtração textual do ato normativo, a
decisão restringe-se a declarar a nulidade apenas de uma ou mais
interpretações que vão de encontro ao texto constitucional.
Igualmente, é possível uma declaração de inconstitucionalidade
sem a pronúncia de nulidade, técnica de decisão incorporada ao
ordenamento jurídico após o advento da Lei nº 9.868/99, que será
analisada em momento próprio.
2.1.2.1. Inconstitucionalidade por Omissão
O reconhecimento de omissão inconstitucional é relativamente
recente.
19 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional, op. cit., p. 251.
29
A omissão inconstitucional tem como pressuposto a
inobservância de um dever de legislar previsto constitucionalmente, que
pode resultar tanto de um comando explícito da Constituição, como de
decisões fundamentais da Constituição identificadas no processo de
interpretação20
.
De acordo com André Puccinelli Júnior,
A omissão legislativa inconstitucional consiste numa
abstenção indevida, ou seja, em não fazer aquilo a que
se estava constitucionalmente obrigado a fazer, por
imposição de norma certa e determinada. É dizer: ela
não é aferida em face do sistema constitucional em
bloco, mas em face de uma norma constitucional
específica, cuja exequibilidade é dependente de
integração normativa.
Só é possível falar em inconstitucionalidade por
omissão quando há o dever constitucional de atuação.
Sabe-se que muitas normas constitucionais facultam –
mas não obrigam – o exercício de certas competências.
Assim, por exemplo, o art. 156, I, da Constituição
Federal, diz competir ao Município a instituição do
IPTU – imposto predial e territorial urbano. Ora,
20 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocencio Martires; MENDES,
Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 5.ed. São Paulo: ed. Saraiva,
2010, p. 1076.
30
municípios dotados de receitas alternativas podem
deixar de instituir esta exação tributária, sem que tal
proceder configure inconstitucionalidade por omissão.
Isto porque referida norma não impõe uma obrigação
concreta de legislar, mas se limita a conferir mera
faculdade.21
Assim, pode-se ter omissão inconstitucional total, quando o
legislador não empreende a providência legislativa reclamada, e a
omissão inconstitucional parcial, na hipótese de um ato normativo atender
somente parcialmente a vontade constitucional.
Caso frequentemente citado para exemplificar omissão parcial
inconstitucional é a denominada ―exclusão de benefício incompatível
com o princípio da igualdade‖, que decorre da norma que, ao conceder
vantagens ou benefícios a determinados grupos, deixa de contemplar
outros que se encontram em condições idênticas, afrontando, dessa
forma, o princípio da isonomia.
Acerca do exemplo, Mendes pondera:
Essa exclusão pode verificar-se de forma concludente
ou explícita. É concludente se a lei concede benefícios
21 JÚNIOR, André Puccinelli. A Omissão Legislativa Inconstitucional e a
Responsabilidade do Estado Legislador. São Paulo, ed. Saraiva, 2007, p. 118.
31
apenas a determinado grupo; a exclusão de benefícios
é explícita se a lei geral que outorga determinados
benefícios a certo grupo exclui sua aplicação a outros
segmentos.
O postulado da igualdade pressupõe a existência de,
pelo menos, duas situações que se encontram numa
relação de comparação. Essa relatividade do postulado
da isonomia leva, segundo Maurer, a uma
inconstitucionalidade relativa (relative
Verfassungswidrigkeit) não no sentido de uma
inconstitucionalidade menos grave. É que
inconstitucional não se afigura a norma "A" ou "B",
mas a disciplina diferenciada das situações (die
Unterschiedlichkeit der Regelung).
Essa peculiaridade do princípio da isonomia causa
embaraços, uma vez que a técnica convencional de
superação da ofensa (cassação; declaração de
nulidade) não parece adequada na hipótese, podendo
inclusive suprimir o fundamento em que assenta a
pretensão de eventual lesado. Assim, se a lei concede
um benefício a um grupo de pessoas e silencia em
relação a outro em situação idêntica, provoca situação
que dificilmente poderia ser resolvida com o caso da
declaração de nulidade22
.
22 Ibidem, p. 1077.
32
Nesse caso, configura-se uma complexa situação, já que o citado
exemplo pode ser confundido com uma inconstitucionalidade por ação.
Assim, observa Puccinelli Júnior:
Nestes casos, caracterizada a inconstitucionalidade por
omissão parcial, impõe-se o dilema dos tribunais: ―ou
declaram a inconstitucionalidade das normas que
contenham essas omissões, na perspectiva de que
houve inconstitucionalidade por ação em decorrência
de violação ao princípio da igualdade, ou, na
perspectiva de que houve omissão parcial
inconstitucional (omissão parcial), estendem o âmbito
normativo a fim de que seja observado o princípio da
igualdade‖23
.
Observa-se que nessas condições, o posicionamento de José
Joaquim Gomes Canotilho, citado por Puccinelli Júnior, realmente parece
ser acertado, ao elucidar que
se a concretização incompleta resultar de uma
deliberada intenção do legislador em privilegiar certa
categoria de pessoas em detrimento de outras, haveria
23 JÚNIOR, André Puccinelli. A Omissão Legislativa Inconstitucional e a
Responsabilidade do Estado Legislador, op. cit., p. 125.
33
de ser reconhecida, in casu, a inconstitucionalidade
por ação. Porém, decorrendo apenas de uma
equivocada apreciação das situações de fato, sem
existir o propósito deliberado de arbitrariamente
favorecer pessoas, grupos ou situações, verificar-se-ia
autêntica inconstitucionalidade por omissão.24
Nesta última hipótese, tendo em vista tratar-se de equívoco
textual cometido pelo legislador, sem o qual desejaria atender o restante
dos grupos e/ou situações, caberia ao Poder Judiciário, em face da
omissão parcial, ―corrigir o vício e estender a vantagem ao grupo
involuntariamente esquecido, providência que vem sendo adotada com
sucesso pela Corte Constitucional italiana nas chamadas sentenças
aditivas‖25
, que, aliás, serão objeto de estudo do tópico 2.3.1 desta
monografia.
De forma geral, nos casos de omissão inconstitucional, os meios
existentes para combatê-la são dois: o Mandado de Injunção e a Ação
Direta de Inconstitucionalidade.
O Mandado de Injunção, previsto no art. 5º, LXXI, da
Constituição Federal, é utilizado no controle difuso de
constitucionalidade, sendo concedido sempre que a falta de norma
regulamentadora tornar inviável o exercício de direitos e liberdades
24 Ibidem, p. 127.
25 Ibidem, p. 127.
34
constitucionais e de prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e
à cidadania.
Nesse caso, os efeitos da decisão judicial sobre um Mandado de
Injunção dependem da corrente adotada.
Para a corrente concretista geral, o Poder Judiciário deve
elaborar a norma faltante para suprir, com eficácia erga omnes, a omissão
legislativa.
Para a corrente não concretista, a decisão deve se limitar à
declaração da inconstitucionalidade da omissão normativa, cientificando,
apenas, o órgão competente para que tome as medidas necessárias.
Já para a corrente concretista individual, o Poder Judiciário deve
viabilizar, no caso concreto, o exercício imediato de liberdades,
prerrogativas ou direitos obstados pela ausência de norma
regulamentadora.
As duas primeiras correntes revelam problemas graves: enquanto
a concretista geral leva o Poder Judiciário a legislar, ofendendo o
princípio da separação dos poderes, a adoção da segunda corrente
equipararia o Mandado de Injunção à Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão, o que tornaria ilógica a coexistência
dos dois institutos.
Embora o Supremo Tribunal Federal já tenha adotado a corrente
não concretista, suas últimas decisões, como a proferida no Mandado de
35
Injunção nº 670/ES26
, indica a mudança de posicionamento do Tribunal,
adotando, em determinadas hipóteses, a corrente concretista individual.
Por outro lado, a Ação Direta de Inconstitucionalidade
(Constituição Federal, art. 103, §2º), pertencente ao controle concentrado,
tem por finalidade tornar efetiva, à sociedade, a norma constitucional
questionada.
Para isso, contudo, a decisão limita-se a cientificar o Poder
competente para a adoção das providências pertinentes e, em se tratando
de órgão administrativo, o cientifica para fazê-lo em trinta dias.
Doutrinadores como José Afonso da Silva e Flávia Piovesan
defendem, embora desamparados de previsão constitucional, que a
sentença em controle concentrado reconhecedora de omissão
inconstitucional poderia dispor normativamente sobre a matéria até que a
omissão legislativa fosse superada27
.
Entretanto, como observa Lenza28
, ―em respeito ao princípio da
tripartição dos Poderes, previsto no art. 2º da CF/88, não é permitido ao
26 Neste julgamento, o Supremo Tribunal Federal decidiu que, diante da falta de
regulamentação específica, o direito de greve dos servidores públicos seria
regulamentado, no que coubesse, pela Lei nº 7.783/89, referente ao exercício do
direito de greve na iniciativa privada.
27 JÚNIOR, André Puccinelli. A Omissão Legislativa Inconstitucional e a
Responsabilidade do Estado Legislador, op. cit., p. 160.
28 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, op. cit., p. 311.
36
Judiciário legislar (salvo nas hipóteses constitucionalmente previstas,
como a elaboração de seu Regimento Interno)‖.
Mesmo assim, ressalte-se que a sentença proferida em Ação
Direta de Inconstitucionalidade por Omissão tem caráter mandamental e
constitui em mora o Poder competente que não elaborou o ato
normativo29
.
29 Ibidem, p. 311.
37
2.2. TÉCNICAS INTERPRETATIVAS
2.2.1. Interpretação Conforme à Constituição
Existe há muito tempo, no ordenamento jurídico brasileiro, uma
presunção de constitucionalidade das normas jurídicas.
Isso porque é necessário partir-se do pressuposto de que o Poder
Legislativo não tem a intenção de editar leis inconstitucionais, as quais,
em momento posterior, possam ser consideradas nulas e se tornarem
inoperantes.
Por essa razão, a interpretação conforme à Constituição é vista
ora como técnica de decisão em controle de constitucionalidade, ora
como princípio informador da atividade jurisdicional.
Nesse sentido, doutrinadores, como o português Rui Medeiros30
,
falam, acertadamente, na existência de um princípio de interpretação
conforme à Constituição, baseado no método de interpretação
sistemático-teleológico, pelo qual se deve ler o direito infraconstitucional
em consonância com a Lei Maior.
30 MEDEIROS, Rui. A Decisão de Inconstitucionalidade. Lisboa: ed.
Universidade Católica, 1999, p. 291-296.
38
Por outro lado, autores como André Ramos Tavares31
entendem
que a interpretação conforme à Constituição é método decisional que se
aplica somente ao controle de constitucionalidade.
Nessa seara, a interpretação conforme à Constituição é uma
técnica de decisão que permite ao intérprete, sobretudo ao tribunal
constitucional, a preservação da validade de uma lei que, a priori, seria
inconstitucional, através de uma nova interpretação de um ato normativo.
De acordo com Canotilho,
A interpretação das leis em conformidade com a
Constituição é um meio de o Tribunal Constitucional
(e os outros tribunais) neutralizarem violações
constitucionais, escolhendo a alternativa interpretativa
conducente a um juízo de compatibilidade do acto
normativo com a Constituição32
.
31 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 7.ed. São Paulo:
ed. Saraiva, 2009, p. 255.
32 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6. ed revista.
Coimbra: Livraria Almedina, 1993, p. 1012.
39
Nessa hipótese, de acordo com Luís Roberto Barroso, ―o tribunal
infirma uma das interpretações possíveis, declarando-a inconstitucional, e
afirma outra, que compatibiliza a norma com a Constituição‖33
.
Assim, um ato normativo prima facie incompatível com o texto
da Constituição, pode ser declarado constitucional por meio de outra
interpretação dada pelo julgador, esta última em consonância com a Carta
Magna.
2.2.1.1. Interpretação Conforme à Constituição no Direito Brasileiro
Muito antes de seu reconhecimento legal, a interpretação
conforme à Constituição já vinha sendo utilizada pelo Supremo Tribunal
Federal, no Brasil.
Uma das primeiras decisões do Supremo Tribunal Federal que
discorreu sobre esta modalidade decisional, foi a proferida na
Representação de Inconstitucionalidade nº 1.417/DF, em 09/12/1987, de
relatoria do Ministro Moreira Alves.
Discutia-se ali a constitucionalidade do disposto no §3º do artigo
65 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional – Lei Complementar nº
35/1979, oportunidade em que foi possível o debate sobre a possibilidade
33 BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo.
São Paulo: ed. Saraiva, 2009, p. 301.
40
e os limites do uso da técnica interpretativa em comento, embora ela não
tenha sido utilizada naquela ocasião.
Pouco mais de uma década depois, a interpretação conforme à
Constituição foi formalmente inserida no ordenamento (juntamente com a
declaração de nulidade qualitativa), em sede de controle concentrado de
constitucionalidade34
, através da Lei nº 9.868/1999, no artigo 28,
parágrafo único, conforme se pode depreender do seu texto:
Art. 28, Parágrafo Único - A declaração de
constitucionalidade ou de inconstitucionalidade,
inclusive a interpretação conforme a Constituição e
a declaração parcial de inconstitucionalidade sem
redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito
vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e
à Administração Pública federal, estadual e municipal.
(grifo nosso)
Assim, embora não haja uma regulamentação vasta sobre esta
técnica, o simples fato de artigo 28 mencioná-la é suficiente para o
reconhecimento de sua efetiva existência no Direito brasileiro.
34 Contudo, os Tribunais têm utilizado essa técnica de decisão também no
controle difuso de constitucionalidade. A título exemplificativo, ver Embargos
Infringentes nº 70010961845, julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul (decisão proferida em 24/06/2005).
41
Ressalte-se, por fim, que a decisão resultante de uma
interpretação conforme à Constituição é, em regra, a de improvimento do
pedido de declaração de inconstitucionalidade, já que através daquela se
busca a manutenção de um ato normativo com base em uma interpretação
constitucional de seu texto.
2.2.1.2. Limites da Interpretação Conforme à Constituição
A técnica interpretativa ora analisada traz consigo uma
importante discussão, relacionada aos limites de seu uso.
Quando a interpretação conforme à Constituição é utilizada, o
sentido originário de uma lei é declarado inconstitucional, devendo ela ser
interpretada de uma forma diversa, esta sim adequada ao texto da Lei
Maior.
Por esse motivo, deve-se notar que se o Poder Judiciário der uma
interpretação completamente distinta daquela idealizada pelo legislador,
ocorreria uma afronta ao princípio da separação dos poderes, permitindo-
se a possibilidade de o Poder Judiciário legislar, mesmo que de forma
indireta.
42
Por essa razão, entende-se que a interpretação conforme à
Constituição nunca poderá contrariar a intenção claramente reconhecível
do legislador ou o sentido inequívoco da lei35
.
Assim, nas palavras de Gilmar Ferreira Mendes, são dois os
limites da interpretação conforme à Constituição, resultantes
(...) tanto da expressão literal da lei quanto da chamada
vontade do legislador. A interpretação conforme à
Constituição é, por isso, apenas admissível se não
configurar violência contra a expressão literal do texto
e não alterar o significado do texto normativo, com
mudança radical da própria concepção original do
legislador.36
(grifo do autor)
2.2.1.3. Diferenças entre a Interpretação Conforme à Constituição e a
Declaração de Nulidade Qualitativa
Inicialmente, o próprio Supremo Tribunal Federal mostrou-se
tendente a confundir as duas modalidades decisionais.
35 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 48.
36 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocencio Martires; MENDES,
Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. cit., p. 1257.
43
É o que se vê, por exemplo, na Rp. 1.417-7, em que o então
Ministro daquela Corte Moreira Alves procurou equipará-las,
argumentando que a interpretação conforme à Constituição levava a uma
pronúncia de inconstitucionalidade.
Ocorre que tal equiparação traria prejuízos para o nosso
ordenamento, como, a título exemplificativo, a necessidade de suscitar
incidente de inconstitucionalidade, previsto no artigo 97 da Constituição
Federal, toda vez que um tribunal, em sede de controle incidental, tivesse
de utilizar a técnica da interpretação conforme à Constituição.
Porém, como defende Lenio Luiz Streck37
, existe efetivamente
uma diferença entre as duas técnicas, qual seja: enquanto na
interpretação conforme à Constituição se tem a declaração de que uma
lei é constitucional com a interpretação que lhe é conferida pelo órgão
judicial, por outro lado, na declaração de nulidade qualitativa, tem-se a
exclusão de determinadas hipóteses de aplicação do ato normativo por
inconstitucionalidade.
Nesse sentido, atualmente, o Supremo Tribunal Federal indica
estar se afastando daquele posicionamento anteriormente adotado,
deixando de equiparar ambas as técnicas, considerando-as autônomas38
.
37 STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional e Hermenêutica: uma nova
crítica do Direito. Porto Alegre: ed. Livaria do Advogado, 2002, p. 519 e ss.
38 Gilmar Ferreira Mendes cita, como exemplo dessa tendência, a decisão
proferida na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 491 (BRANCO, Paulo
44
2.2.2. Declaração de Nulidade Qualitativa
A declaração de nulidade qualitativa, também denominada de
declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto, compõe, da
mesma forma que a interpretação conforme à Constituição, outra
modalidade das chamadas sentenças interpretativas.
Nesta oportunidade, porém, a declaração de nulidade qualitativa
leva ao provimento do pedido de declaração de inconstitucionalidade de
uma lei, ainda que parcial, diferentemente do que ocorre com a primeira
modalidade decisional estudada.
Declarar a inconstitucionalidade de uma norma sem reduzir seu
texto é reconhecer que uma determinada lei é válida somente em
determinados casos, ou em relação a determinadas pessoas, sendo
inválida, contudo, para outros.
Assim, em outras palavras, o Poder Judiciário limita-se a
considerar inconstitucional apenas determinada hipótese de aplicação da
lei39
, ―diante do amplo leque de possibilidades interpretativas que surgem
de uma norma, retirando do ordenamento jurídico apenas aquela(s) que
não se mostram consentânea(s) com a Constituição, sem que seja
Gustavo Gonet; COELHO, Inocencio Martires; MENDES, Gilmar Ferreira.
Curso de Direito Constitucional. cit., p. 1255).
39 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocencio Martires; MENDES,
Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. cit., p. 1251.
45
necessária uma modificação na expressão literal da lei ou ato
normativo‖40
.
É o que acontece, por exemplo, quando o Supremo Tribunal
Federal decide pela inconstitucionalidade da cobrança de um tributo que
não observou o princípio da anterioridade, decisão que não leva,
necessariamente, à inconstitucionalidade do texto normativo, mas apenas
de sua aplicação no exercício financeiro não permitido.
40 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, op. cit., p. 65.
46
2.3. TÉCNICAS MODIFICATIVAS
Diferentemente das já estudadas sentenças interpretativas, que
restringem o âmbito normativo de uma norma dando-lhe, por exemplo,
uma interpretação conforme à Constituição, vem-se desenvolvendo
técnicas de decisão que ampliam ou substituem os textos normativos
editados pelo Poder Legislativo: são as denominadas sentenças
modificativas ou manipulativas.
Conforme enuncia Kildare Gonçalves de Carvalho, elas são
―decisões transformadoras do significado da lei‖41
.
As sentenças modificativas se dividem, com base no estudo de
Meyer42
, em sentenças aditivas e sentenças substitutivas.
2.3.1. Sentenças Aditivas
A sentença aditiva é aquela que, reconhecendo a
inconstitucionalidade de uma norma, alarga a incidência de seu
enunciado com a finalidade de se alcançar situações que não foram
previstas originariamente.
41 CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 14. ed., rev., atual. e
ampl. Belo Horizonte: ed. Del Rey, 2008, p. 476.
42 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, op. cit., p. 70.
47
A autora Fátima de Sá conceitua precisamente essa modalidade
decisional:
Inicialmente, as sentenças aditivas podem ser definidas
como aquelas que declaram que ao preceito
impugnado lhe falta algo para ser conforme à
Constituição, devendo, assim, o preceito ser aplicado
incluindo aquilo que lhe faltava. Nesse passo, é
declarada a inconstitucionalidade do preceito na parte
em que não inclui algo ou alguém. Censuram, dessa
forma, uma omissão legislativa inconstitucional,
entendida aqui como um silêncio parcial do legislador,
que cria uma situação contrária à Constituição, pois, na
maior parte das vezes, violam o princípio da
igualdade.43
Jorge Miranda, referindo-se às sentenças aditivas, bem observa
que ―a partir da apreciação da inconstitucionalidade por acção, fazem
43 SÁ, Fátima de. ―Omissões inconstitucionais e sentenças aditivas‖ apud
MORAIS, Carlos Blanco de (org.). ―As sentenças intermédias da justiça
constitucional‖. Lisboa: AAFDL, 2009, p. 428-429 apud BONSAGLIA,
Alexandre Antonucci. Sentenças Aditivas na Jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal. São Paulo: Sociedade Brasileira de Direito Público, 2010, p.
21-22.
48
verdadeira apreciação da inconstitucionalidade não já por aquilo que
prescreve, mas sim por aquilo que não prescreve‖.44
Para Vinícius Maciel Stedele,
a sentença aditiva (...) é aquela decisão que,
reconhecendo a inconstitucionalidade de uma lei, adita
e adéqua-lhe à interpretação da constituição. Em
verdade a sentença aditiva manipula a norma que
reputa inconstitucional, por insuficiência do seu
enunciado, estendendo o seu alcance, ou seja,
ampliando o seu âmbito de incidência, com o escopo
de torná-la constitucional45
.
Aqui, a inconstitucionalidade existe porque a norma não dispõe
suficientemente sobre o conteúdo para responder aos imperativos da
Constituição.
44 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. 3ª ed. (reimpressão).
Coimbra: ed. Coimbra Editora, 1997, p. 511.
45 STEDELE, Vinícius Maciel. A sentença aditiva como método de afirmação da
constitucionalidade. Leandro Paulsen, 2009. Disponível em: <
http://www.leandropaulsen.com/site/textos_detalhe.asp?ID=33 >. Acesso em:
04/10/2011.
49
A sentença aditiva, como observa Gilmar Mendes46
, é mais
comumente utilizada em países como Itália, Espanha e Portugal.
Na Itália, por exemplo, a Corte Costituzionale declarou
inconstitucionais os artigos 303 e 304 do Codice di Procedura Penale, na
parte em que previam presença obrigatória somente do Ministério Público
em interrogatórios, para acrescentar ao dispositivo a obrigatoriedade da
presença do defensor do acusado47
.
Já no Brasil, uma das mais recentes e importantes decisões
manipulativas de efeitos aditivos é a do Mandado de Injunção nº 670/ES,
objeto de análise no Capítulo 3.2 deste trabalho.
Por fim, ressalte-se que Mendes aponta três espécies de decisões
que têm alguma eficácia aditiva: a) as decisões demolitórias com efeitos
aditivos (nos casos em que é suprimida uma lei inconstitucional
constritora de direitos); b) as aditivas de prestação (que têm impacto
orçamentário); e c) as aditivas de princípio (nas quais são fixados
princípios a serem observados pelo legislador ao prover a disciplina que
46 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de
Direito Constitucional. 6.ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2011, p. 1373.
47 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 71.
50
se tem por indispensável ao exercício de determinado direito
constitucional)48
.
2.3.2. Sentenças Substitutivas
Por outro lado, as sentenças substitutivas, outra espécie das
sentenças modificativas ou manipulativas, são aquelas decisões que
anulam a disposição inquinada de inconstitucionalidade para acrescentar
um sentido normativo diverso49
.
Em outras palavras, para Gilmar Mendes,
são aquelas em que o juízo constitucional declara a
inconstitucionalidade da parte em que a lei estabelece
determinada disciplina ao invés de outra, substituindo
a disciplina advinda do poder legislativo por outra,
consentânea com o parâmetro constitucional50
.
48 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de
Direito Constitucional, cit. p. 1373.
49 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 70.
50 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de
Direito Constitucional, cit. p. 1373.
51
Deste modo, enquanto as sentenças aditivas ampliam o âmbito de
incidência da disposição legal buscando alcançar situações possivelmente
postas de lado pelo legislador ordinário, nas sentenças substitutivas o juiz
reavalia as determinações outrora fixadas e as substitui51
.
Por enquanto, embora tenha relevância em alguns países
europeus, como a Itália, essa ainda é uma técnica decisional com
pouquíssimo uso na jurisprudência brasileira.
51 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 76.
52
2.4. TÉCNICAS TRANSITIVAS
2.4.1. A Modulação dos Efeitos e a Declaração de Inconstitucionalidade
de Caráter Limitativo ou Restritivo
A inconstitucionalidade de um ato normativo pode gerar
diferentes efeitos no ordenamento jurídico, em especial com relação ao
tempo.
Tradicionalmente, existem duas teorias que discutem os efeitos
da decisão de inconstitucionalidade no tempo: a teoria da nulidade
(eficácia ex tunc), utilizada no sistema norte-americano; e a teoria da
anulabilidade (eficácia ex nunc), adotada por vários países europeus, em
especial pela Áustria.
Nos últimos anos, exsurgiu uma tendência de universalização das
alternativas de declaração de inconstitucionalidade, independentemente
do sistema de controle de constitucionalidade adotado, o que
representaria certa aproximação entre as duas teorias52
.
52 MARCILIO, Carlos Flávio Venâncio. Constitucionalidade do art. 27 da Lei nº
9.868/99. Brasília: IBDP, 2008, p. 11. Disponível em:
<http://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/index.php/cadernovirtual/article/view
File/218/179>. Acesso em: 01/06/2011.
53
Assim, atualmente, enquanto no modelo austríaco ocorrem
atenuações à eficácia ex nunc, no modelo norte-americano há a admissão
dessa eficácia53
.
Nesse contexto, a expressão ―modulação de efeitos‖ representa
não somente a possibilidade de limitação dos efeitos absolutos de cada
uma das teorias, como a possibilidade de limitar temporalmente a data de
vigência da norma declarada como inconstitucional54
, seja com eficácia
ex tunc, ex nunc ou até mesmo pro futuro, sendo que a sua utilização
deverá observar as necessidades peculiares de cada caso.
A seguir, far-se-á uma análise das teorias mencionadas, para,
posteriormente, compará-las com a realidade do sistema brasileiro.
53Ibidem, p. 11.
54 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 116.
54
2.4.1.1. Teoria da Nulidade
De acordo com a teoria da nulidade, que se originou nos Estados
Unidos, a lei inconstitucional nasce morta55
, ou seja, nem mesmo chega a
produzir efeitos.
A Suprema Corte dos Estados Unidos, em 1886, no caso Norton
v. Shelby County56
, decidiu que a lei inconstitucional não é uma lei; não
confere direitos; não impõe obrigações; não estabelece proteções; não
cria cargos; e é tão inoperante como se nunca tivesse existido57
.
Por essa razão, tendo em vista que para a teoria da nulidade a lei
inconstitucional nunca produz efeitos, sua inconstitucionalidade é apenas
declarada pelo órgão competente, acarretando a invalidação ab initio de
todos os atos praticados com base nela e, consequentemente, produzindo
efeitos retroativos (ex tunc).
55 Segundo o famoso cânone americano, ―the inconstitutional statute is not law at
all‖ (WILLOUGHBY, Westel Woodbury. The constitutional Law, p. 9-10 apud
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14.ed. São Paulo: ed.
Saraiva, 2010, p. 120).
56 Norton v. Shelby County 118 U.S. 425 (1886).
57 Texto original: ―An unconstitutional act is not a law; it confers no rights; it
imposes no duties; it affords no protection; it creates no office; it is in legal
contemplation as inoperative as though it had never been passed‖.
55
Pedro Lenza explicita, de maneira clara e objetiva, as
características das decisões de inconstitucionalidade em um sistema que
adota a teoria da nulidade:
A lei inconstitucional é ato nulo (null and void),
ineficaz (nulidade ab origine), írrito e, portanto,
desprovido de força vinculativa. (...) A lei, por ter
nascido morta (natimorta), nunca chegou a produzir
efeitos (não chegou a viver), qual seja, apesar de
existir, não entrou no plano da eficácia58
.
2.4.1.2. Teoria da Anulabilidade
Por outro lado, conforme a teoria da anulabilidade das normas
inconstitucionais, as decisões de inconstitucionalidade não são
declarativas, mas constitutivas, o que significa dizer que a lei, enquanto
não houver uma decisão acerca de sua inconstitucionalidade, é válida e
produz efeitos.
Esta teoria foi defendida por Hans Kelsen, para quem era
inconcebível a ideia de inexistência de uma lei inconstitucional, haja vista
que referido ato normativo seria anulável e não nulo, ou seja, a lei
58 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, cit., p. 119.
56
inconstitucional só deixaria de produzir efeitos após um procedimento
especial que reconhecesse sua inconstitucionalidade59
.
Dessa forma, a decisão de inconstitucionalidade anulará o ato
normativo, que produzirá efeitos até a data de sua anulação (ex nunc).
Contudo, alternativamente, o reconhecimento da ineficácia da lei pode
também produzir efeitos somente a partir de um determinado momento,
no futuro (pro futuro).
Por isso, ensina-se que, em regra, para esta teoria, a decisão que
reconhece a inconstitucionalidade de uma lei produz efeitos prospectivos
no ordenamento jurídico (ex nunc ou pro futuro).
A teoria da anulabilidade influenciou principalmente os países
europeus, em especial a Áustria, onde as decisões de
inconstitucionalidade, por via de regra, não declaram a nulidade, mas
anulam um determinado ato normativo.
Ademais, a Corte Constitucional austríaca tem poder
discricionário de definir uma data, posterior ao pronunciamento da
inconstitucionalidade, para que somente a partir dela se opere a anulação
da norma. É o que explica Rui Medeiros:
No ordenamento austríaco, a anulação da lei
inconstitucional tem, em regra, eficácia ex nunc. (...) É
59 KELSEN, Hans. Jurisdição Constitucional , p. 140 apud MEYER, Emílio
Peluso Neder. A Decisão no Controle de Constitucionalidade, cit., p. 96.
57
tempo agora de sublinhar que, nos termos do n. 5 do
art. 140 da respectiva Constituição, o Tribunal
Constitucional austríaco pode fixar, na sentença
anulatória de uma lei, um prazo de até 18 meses
durante o qual a lei inconstitucional continue a
produzir os seus efeitos. E, se assim for, a lei deve ser
aplicada a todos os factos ocorridos até ao termo desse
prazo, com excepção do caso pretexto, por força do n.
7 do mesmo artigo60
.
Esse instituto é denominado Fristsetzung61
, ―(...) con il quale
viene concesso al tribunale costituzionale austriaco di rinviare di sei mesi
o di un anno l‘entrata in vigore della propria decisione, in attesa
dell‘intervento legislativo‖62
.
60 MEDEIROS, Rui. A Decisão de Inconstitucionalidade. Lisboa: ed.
Universidade Católica, 1999, p. 681.
61 Em uma tradução literal, corresponde à ―estabelecimento de prazo‖.
62 Tradução: ―(...) com o qual é atribuído ao Tribunal Constitucional Austríaco
adiar seis meses ou um ano a entrada em vigor de sua própria decisão, na
esperança da intervenção legislativa‖. (D'AMICO, Marilisa. Giudizio sulle leggi
ed efficacia temporale delle decisioni di incostituzionalità. Milão: ed. Giuffrè,
1993, p. 17-18 apud MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade. São Paulo: ed. Método, 2008, p. 100).
58
Ressalte-se, contudo, que o tribunal austríaco também pode optar
pela retroatividade ilimitada ou limitada da declaração63
.
No que concerne ao direito alemão, embora a regra seja a
declaração de inconstitucionalidade com efeito ex tunc, a limitação dos
efeitos, em sede de controle de constitucionalidade, é plenamente
possível, por meio das declarações de inconstitucionalidade sem
pronúncia de nulidade ou decisões de incompatibilidade.
É o que observa Rui Medeiros:
Na Alemanha, (...) é sabido que a consideração de
diferentes factores levou o Bundesverfassungsgericht a
afastar em muitos casos a sanção da nulidade das leis
contrárias à Constituição federal e a substituir o
esquema rígido validade-nulidade por instrumentos de
decisão mais pragmáticos (...). Entre as novas técnicas
de decisão utilizadas contam-se as decisões apelativas
e as decisões de incompatibilidade64
.
63 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 100.
64 MEDEIROS, Rui. A Decisão de Inconstitucionalidade, cit., p. 676.
59
A Constituição italiana, por sua vez, atribui efeitos ex nunc às
declarações de inconstitucionalidade no controle concentrado (art. 136).
Veja-se:
Articolo 136. Quando la Corte dichiara l' illegittimità
costituzionale di una norma di legge o di atto avente
forza di legge [cfr. art. 134], la norma cessa di avere
efficacia dal giorno successivo alla pubblicazione della
decisione65
.
No entanto, essa regra não é válida para o controle incidental, em
que a retroatividade prevalece, conforme a Lei nº 87/195366
.
Com relação à criação de um espaço temporal entre a decisão de
inconstitucionalidade e a nulidade da lei, a questão foi suscitada no
âmbito da Assembleia Constituinte daquele país, mas não foi aceita.
Então, os juízes da Corte Costituzionale italiana passaram a
adotar duas técnicas de decisão a partir da década de 1980: a técnica da
incostituzionalità sopravvenuta em sentido amplo ou differita, visando à
65 Tradução: ―Quando a Corte declara a ilegitimidade constitucional de uma
norma de lei ou ato que tenha força de lei, a norma tem sua eficácia cessada no
dia sucessivo à publicação da decisão‖.
66 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 101.
60
limitação do alcance da sentença de acolhimento na sua vertente pro
praeterito67
; e a técnica da doppia pronuncia ou costituzionalità
provvisoria, na qual
a Corte começa por proferir uma decisão de
costituzionalità provvisoria, (...) na qual (...) adverte o
legislador na motivação para a possibilidade de um
ulterior juízo de inconstitucionalidade, deixando para
momento posterior, e caso o vício se mantenha, a
declaração de inconstitucionalidade da norma (...)
[permitindo] evitar os efeitos negativos pro futuro de
uma eventual declaração de inconstitucionaliade68
.
Em Portugal, a declaração de constitucionalidade produz efeitos
desde o início da vigência da norma, possuindo, inclusive, efeitos
repristinatórios (Constituição Portuguesa, art. 282).
Porém, de forma semelhante aos demais países citados, a
Constituição portuguesa assegura a restrição dos efeitos da
67 ―A nulidade da norma não se dá desde sua criação, mas tão-somente no
momento em que se determina o vício. Essas decisões são utilizadas quando
surge um novo parâmetro interpretativo, quando há uma mudança na consciência
social ou quando há uma transformação nas condições que faziam a norma
compatível com a Constituição‖ (cf. MARCILIO, Carlos Flávio Venâncio.
Constitucionalidade do art. 27 da Lei nº 9.868/99, cit., p. 13.
68 MEDEIROS, Rui. A Decisão de Inconstitucionalidade, cit., p. 684.
61
inconstitucionalidade ―quando a segurança jurídica, razões de equidade
ou interesse público de excepcional relevo, que deverá ser fundamentado,
o exigirem‖ (art. 282, nº 4).
Por fim, cabe destacar que, até mesmo nos Estados Unidos, onde
se originou a teoria da nulidade, a Suprema Corte abriu precedente, no
caso Linkletter v. Walker69
, em 1965, para a incidência de efeitos
prospectivos na declaração de inconstitucionalidade.
69 Linkletter v. Walker, 381 U.S. 618 (1965). Esse caso se refere à condenação
criminal de Linkletter fundamentada em provas que foram posteriormente
consideradas atentatórias ao devido processo legal pela jurisprudência americana.
Neste julgado, a Suprema Corte decidiu que poderia ser negado efeito retroativo
à nova jurisprudência acerca da matéria de processo penal, uma vez que caso tal
efeito fosse atribuído ao novo entendimento, referente à inadmissibilidade de
certas provas, isto poderia acarretar graves prejuízos à administração da Justiça,
haja vista a eventual necessidade de revisar e anular diversas condenações
criminais, sendo que, em alguns casos, isso impossibilitaria até mesmo o reinício
dos processos penais, em razão do provável desaparecimento de provas que
teriam sido fundamentais para as respectivas condenações. Ressalte-se, porém,
que o precedente criado com a decisão deste caso foi superado (overruled) pelo
caso Griffith v. Kentucky – 479 U.S. 314 (1987), no qual entendeu a Suprema
Corte que as novas normas que afetem o processo penal devem ser aplicadas
retroativamente a todos os casos pendentes de revisão.
62
2.4.1.3. Os Efeitos das Decisões de Inconstitucionalidade no Brasil
A partir da sucinta análise feita a respeito da modulação de
efeitos em decisões de inconstitucionalidade no Direito Comparado,
torna-se mais simples a compreensão de seu funcionamento neste país.
No Brasil, desde o surgimento do controle de
constitucionalidade, vigorou o princípio da nulidade nas decisões de
inconstitucionalidade, tendo ela efeitos retroativos.
Acerca de tal entendimento, que foi visivelmente influenciado
pela doutrina norte-americana, Rui Barbosa afirma que ―a nulidade da lei
inconstitucional decorre da própria essência do sistema jurídico e da
Constituição‖70
. Isso porque nenhum Poder pode ultrapassar a autoridade
e a competência que lhe foram conferidas constitucionalmente, sob pena
de incompetência e consequente nulidade.
Logo, a aplicação de uma lei inconstitucional afrontaria o
princípio da supremacia da constituição, uma vez que os efeitos
produzidos pela norma assim declarada equivaleriam a uma negativa de
vigência temporal da Constituição71
.
Cármen Lúcia Antunes Rocha, antes de ser empossada Ministra
do Supremo Tribunal Federal, adotando esta teoria, considerava a
70 BARBOSA, Rui. Atos Inconstitucionais. Campinas: ed. Russel, 2003, p.40.
71 MARCILIO, Carlos Flávio Venâncio. Constitucionalidade do art. 27 da Lei nº
9.868/99, cit., p. 6.
63
inconstitucionalidade como uma ―falha que fulmina a lei ou o ato
normativo em sua existência‖72
, de forma que o ato impugnado seria uma
―não-lei‖ ou um ―não-ato-normativo‖.
Porém, de forma semelhante ao que ocorreu nos demais países,
houve no Brasil uma flexibilização da teoria da nulidade no controle de
constitucionalidade, passando o ordenamento a admitir a modulação dos
efeitos das decisões que declaram a inconstitucionalidade, conforme a
previsão do art. 27 da Lei nº 9.868/1999.
Embora tal permissão legal refira-se ao controle concentrado, da
mesma forma, no controle difuso, o Supremo Tribunal Federal já proferiu
decisões limitando os efeitos da nulidade.
É o que se observou, por exemplo, no Recurso Extraordinário
197.917/SP, no qual, originariamente, o Ministério Público de São Paulo
ingressara com uma Ação Civil Pública com vistas a diminuir o número
de vereadores do município de Mira Estrela, de onze para nove, com a
finalidade de adequá-lo ao limite previsto constitucionalmente para os
municípios que, como Mira Estrela, possuíam até 15.000 habitantes.
72 ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Constituição e constitucionalidade. Belo
horizonte: ed. Lê, 1991, p. 148. Entretanto, após o seu ingresso no Supremo
Tribunal Federal, passou a admitir a modulação de efeitos na declaração de
inconstitucionalidade, cf. ADI 3.462/PA (data do julgamento: 15.09.2010) e ADI
3.660-2 (data do julgamento: 13.03.2008).
64
Ademais, o Parquet requereu também a devolução dos subsídios
indevidamente pagos aos vereadores excedentes e a declaração incidental
de inconstitucionalidade da lei com efeitos retroativos.
Todavia, analisando o caso, o Ministro Maurício Corrêa
considerou:
(...) a declaração de nulidade com os ordinários efeitos
ex tunc da composição da Câmara representaria um
verdadeiro caos quanto à validade, não apenas, em
parte, das eleições já realizadas, mas dos atos
legislativos praticados por esse órgão sob o manto
presuntivo da legitimidade. Nessa situação específica,
tenho presente excepcionalidade tal a justificar que a
presente decisão prevaleça tão-somente para as
legislaturas futuras, assegurando-se a prevalência, no
caso, do sistema até então vigente em nome da
segurança jurídica73
.
In casu, percebe-se que o Supremo Tribunal Federal procedeu a
uma ponderação de valores constitucionais, entendendo que deveriam
prevalecer os princípios da segurança jurídica e da boa-fé, de forma a
73 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 197.917/SP.
Relator Min. Maurício Corrêa. Data da decisão: 07/05/2004.
65
possibilitar a modulação dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade
também no controle difuso.
Ressalte-se, porém, que há doutrinadores que criticam a
modulação dos efeitos temporais em sede de controle difuso-incidental,
tendo em vista a inexistência de norma expressa que a possibilite nesse
tipo de controle74
.
2.4.1.4. O art. 27 da Lei nº 9.868/1999 e a Modulação de Efeitos
Com a entrada em vigor da Lei nº 9.868/1999, a possibilidade de
modulação dos efeitos das decisões de inconstitucionalidade tornou-se
expressa no ordenamento brasileiro.
Referida norma, mais especificamente em seu art. 27, dispõe que:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o
Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços
de seus membros, restringir os efeitos daquela
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir
74 PASQUINI, Luís Fernando Barbosa. A modulação dos efeitos temporais no
controle difuso-incidental de constitucionalidade. Jus Navigandi, Teresina, ano
14, n. 2142, 13 maio 2009. Disponível em:
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/12831>. Acesso em: 01/06/2011.
66
de seu trânsito em julgado ou de outro momento que
venha a ser fixado.
Assim, de forma semelhante ao que foi expresso na Constituição
Portuguesa, o direito brasileiro passou a aceitar a técnica de decisão
denominada declaração de inconstitucionalidade de caráter restritivo ou
limitativo, que possibilita a limitação temporal da data de vigência da
norma declarada inconstitucional.
A possibilidade de modulação dependerá, contudo, dos requisitos
trazidos pela lei, quais sejam: a) razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse social; b) voto da maioria de dois terços dos
membros do Supremo Tribunal Federal.
Constata-se, do exposto, que o princípio da nulidade ainda é a
regra no Brasil, e por isso sua aplicação não poderá ser afastada por
razões de política judiciária, mas apenas quando houver fundamento
constitucional próprio que justifique o afastamento.
Portanto, quando for possível demonstrar que a declaração de
inconstitucionalidade com efeitos retroativos (ex tunc) envolverá o
sacrifício da segurança jurídica ou de outro valor constitucional
materializável sob a forma de interesse social, poderá o Supremo
Tribunal Federal decidir pelo seu afastamento75
.
75 MENDES, Gilmar Ferreira. A Declaração de Inconstitucionalidade sem a
Pronúncia da Nulidade e a Declaração de Inconstitucionalidade de Caráter
67
Com relação ao excepcional interesse social, Luís Fernando
Barbosa Pasquini colaciona um exemplo hipotético de sua ocorrência no
controle difuso de constitucionalidade:
Imagine, por exemplo, centenas de famílias que foram
direcionadas a um terreno expropriado e lá
construíram suas residências, sendo reconhecido,
posteriormente, a inconstitucionalidade do decreto
expropriatório. Conceder efeitos retroativos geraria um
caos social, já que não haveria locais adequados e
suficientes para o alojamento dessas famílias76
.
Entretanto, haverá ainda necessidade do requisito procedimental,
ou seja, o quorum qualificado de dois terços dos votos a favor da
limitação dos efeitos da decisão.
Superados tais requisitos legais, a aplicação dos princípios da
segurança jurídica ou do excepcional interesse público, em detrimento ao
Restritivo ou Limitativo no Direito Brasileiro. Salvador, Instituto Brasileiro de
Direito Público, nº 13, janeiro/fevereiro/ março, 2008, p. 25. Disponível em:
<http://www.direitodoestado.com.br/rede.asp>. Acesso em: 06/05/2011.
76 PASQUINI, Luís Fernando Barbosa. A modulação dos efeitos temporais no
controle difuso-incidental de constitucionalidade. Jus Navigandi, Teresina, ano
14, n. 2142, 13 maio 2009. Disponível em:
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/12831>. Acesso em: 01/06/2011.
68
princípio da nulidade, deverá ser analisada em cada caso específico,
ponderando-se as consequências que serão produzidas, mediante um
juízo de proporcionalidade e razoabilidade77
.
Acerca da aplicação do princípio da proporcionalidade para a
modulação de efeitos, Gilmar Ferreira Mendes preleciona:
Vê-se, pois, que, também entre nós, terá significado
especial o princípio da proporcionalidade,
especialmente a proporcionalidade em sentido estrito,
como instrumento de aferição da justeza da declaração
de inconstitucionalidade (com efeito da nulidade),
tendo em vista o confronto entre os interesses afetados
pela lei inconstitucional e aqueles que seriam
eventualmente sacrificados em consequência da
declaração de inconstitucionalidade78
Dessa forma, além das decisões com efeitos retroativos – que é a
regra geral, o Supremo Tribunal Federal poderá, através da declaração de
inconstitucionalidade de caráter restritivo ou limitativo, proferir uma das
seguintes decisões:
77 Ibidem.
78 MENDES, Gilmar Ferreira. A Declaração de Inconstitucionalidade sem a
Pronúncia da Nulidade e a Declaração de Inconstitucionalidade de Caráter
Restritivo ou Limitativo no Direito Brasileiro, cit., p. 25.
69
a) declaração de inconstitucionalidade com efeitos ex nunc (a
partir do trânsito em julgado da decisão);
b) declaração de inconstitucionalidade com efeitos pro futuro
(que suspenderá os efeitos da decisão por um determinado
tempo);
c) declaração de inconstitucionalidade sem a pronúncia de
nulidade (a qual suspenderá a aplicação da lei e os
processos em curso até que o legislador, dentro de prazo
razoável, venha a se manifestar sobre a situação
inconstitucional);
Na primeira hipótese, a decisão do Tribunal eliminará do
ordenamento a lei declarada inconstitucional, a partir do trânsito em
julgado da decisão, cessando a ultra-atividade da lei.
Na segunda hipótese, a lei declarada inconstitucional continuará
a ser aplicada até o prazo fixado na decisão, de forma que a mesma
somente será eliminada do ordenamento na data estipulada.
Porém, destaque-se que, diferentemente do que ocorre no
instituto austríaco da Fristsetzung – no qual há um prazo máximo de 18
meses em que é possível a aplicação da lei inconstitucional, no Brasil
caberá ao Tribunal fixar referido limite temporal, com o objetivo de
assegurar ao legislador um tempo adequado para superação da norma
inconstitucional.
70
Por fim, na terceira hipótese, a lei será declarada inconstitucional,
sem que seja retirada do ordenamento jurídico, com a justificativa de que
sua ausência geraria danos maiores que os advindos de sua presença79
.
De acordo com Gilmar Ferreira Mendes, tal decisão será cabível
no caso de lesões ao princípio da isonomia (exclusão de benefício
incompatível com o princípio da igualdade), em situações que o Tribunal
não pode eliminar a lei inconstitucional sob pena de suprimir uma
vantagem ou avanço considerável80
.
Emílio Peluso Neder Meyer acrescenta ainda duas hipóteses em
que cabíveis essa decisão: a) quando da omissão parcial do legislador; e
b) quando da criação das chamadas lacunas jurídicas ameaçadoras, nas
quais a nulidade levaria muito mais a uma minimização da vontade
constitucional do que a uma otimização81
.
Exemplo conhecido do uso dessa modalidade decisional pode ser
estudado no tópico 3.3 deste trabalho.
79 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 132.
80 MENDES, Gilmar Ferreira. A Declaração de Inconstitucionalidade sem a
Pronúncia da Nulidade e a Declaração de Inconstitucionalidade de Caráter
Restritivo ou Limitativo no Direito Brasileiro, cit., p. 26.
81 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 134.
71
2.4.2 Apelo ao Legislador e Lei Ainda Constitucional
Quando a Corte Constitucional reconhece que uma lei é ―ainda
constitucional‖, ou seja, que apesar de não padecer do vício de nulidade
naquele exato momento ela está em trânsito para uma
inconstitucionalidade, o Tribunal declara a constitucionalidade do ato
normativo, ―apelando ao legislador‖ para que proceda à adequação dessa
situação.
O apelo ao legislador (Appellentscheidung) teve sua origem na
Alemanha, sendo utilizado pela primeira vez em 1954, na decisão sobre o
Estatuto de Sarre82
.
Conforme leciona Gilmar Ferreira Mendes, ―designa-se
Appellentscheidung a decisão na qual o Tribunal reconhece a situação
como ‗ainda constitucional‘, anunciando a eventual conversão desse
estado de constitucionalidade imperfeita numa situação de completa
inconstitucionalidade‖.83
Sua aceitação não é unânime na doutrina, uma vez que a técnica
não encontraria amparo legal e, ao se utilizar dela, o Poder Judiciário
poderia estar violando a autonomia do Poder Legislativo.
82 MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de Constitucionalidade. Porto Alegre:
ed. EMAGIS, 2006, p 286.
83 Ibidem, p 286.
72
Contudo, é necessário ressaltar, desde já, que a regulamentação
legal para utilização dessa modalidade decisional seria despicienda, visto
que ela é baseada em uma decisão de constitucionalidade em cujas razões
são tecidas considerações sobre a necessidade de atuação do Poder
Legislativo para corrigir as imperfeições normativas que conduziriam a
norma à inconstitucionalidade.
Aliás, na própria Alemanha, berço de seu nascimento, o Tribunal
Constitucional promove sua utilização mesmo sem previsão legal.
Por outro lado, a técnica do ―apelo ao legislador‖ também seria
cabível nas hipóteses de inadimplemento do legislador em seu dever de
legislar.
Isso porque nos casos em que a Constituição atribui ao Poder
Legislativo a competência para regulamentar determinados direitos, e o
mesmo não o faz, o Tribunal poderia apelar ao primeiro para que
cumprisse com sua obrigação em tempo hábil.
De acordo com André Ramos Tavares,
Na realidade, trata-se de decisão que afasta a
inconstitucionalidade, reconhecendo a
constitucionalidade da norma, à qual se soma uma
espécie de ―advertência‖ judicial, ou, se se quiser, de
reconhecimento de uma situação de imperfeição que
tende a transformar-se em situação de
inconstitucionalidade. Seria o reconhecimento de um
73
processo de inconstitucionalização da norma que a
Corte identifica como incompleto, realizando
verdadeiro prognóstico de desenvolvimento da
compreensão dessa norma.
Essa técnica é o coroamento da orientação doutrinária
de que a Constituição não é um documento estático,
imutável, antes sofrendo os influxos da evolução
normal da vida, que levam à denominada ―mutação
constitucional informal‖.84
Embora Emílio Peluso85
discorde de tais sentenças de apelo,
apontando que em alguns países, como Portugal, elas são intensamente
criticadas por doutrinadores como José Joaquim Gomes Canotilho, a sua
aplicação é defendida no Brasil por Gilmar Mendes:
A utilização do ―apelo ao legislador‖ não colhe
aplausos unânimes na doutrina. Afirma-se que o
Tribunal não dispõe de base legal para proferir esse
tipo de decisão. Sustenta-se, ademais, que o ―apelo ao
legislador‖ expressa tentativa de compensar, mediante
84 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 7.ed. São Paulo:
ed. Saraiva, 2009, p. 261.
85 MEYER, Emílio Peluso Neder. A Decisão no Controle de
Constitucionalidade, cit., p. 141.
74
decisão judicial, o déficit identificado no processo de
decisão parlamentar (Kompensation
parlamentarischer Entscheidungsdefizite). A
Appellentscheidung demitiria o legislador da
responsabilidade de concretizar a ordem fundamental.
Observa-se, ainda, que a Corte Constitucional não
dispõe de competência para estabelecer prognósticos,
sendo limitada a sua capacidade de fazer previsões.
Não pode ela estabelecer, portanto, com segurança, o
exato momento da conversão de uma ―situação ainda
constitucional‖ em um estado de
inconstitucionalidade. A objeção concernente à
eventual falta de fundamento legal para pronúncia da
Appellentscheidung não se afigura irretorquível,
sobretudo se considerada esta decisão como peculiar
sentença de rejeição da inconstitucionalidade. Se
admitido que uma situação considerada constitucional
pode tornar-se inconstitucional, não se deve excluir a
possibilidade de que, no momento da decisão, ainda
não se tenha operado essa conversão. Assim, de uma
perspectiva formal, o ―apelo ao legislador‖ nada mais
expressaria do que a constatação desse incompleto
processo de inconstitucionalização. A
Appellentscheidung poderia ser vista, assim, tal como
proposto por Ebsen, como técnica específica para atuar
sobre essas ―situações imperfeitas‖ sem que se tenha
75
de pronunciar a inconstitucionalidade ou a nulidade da
lei. 86
2.4.2.1 Diferenças entre Apelo ao Legislador e Declaração de
Inconstitucionalidade de caráter Limitativo
Em que pese a semelhança entre estas técnicas de decisão,
necessário destacar que são modalidades decisionais autônomas.
Rafael de Souza Medeiros87
adverte que há uma característica
mais rígida na limitação de efeitos trazida pelo artigo 27 da Lei nº
9.868/99, em comparação com o apelo ao legislador, já que na primeira
hipótese o Supremo Tribunal Federal deve determinar expressamente a
partir de qual momento a decisão de inconstitucionalidade iniciará a
produzir seus efeitos, enquanto na última a parte da decisão referente ao
―apelo‖ não tem qualquer eficácia vinculante.
Outrossim, há uma diferença no que tange à essência de cada um
dos provimentos: enquanto na modulação dos efeitos o Tribunal declara a
inconstitucionalidade da norma impugnada, no apelo ao legislador,
embora o tribunal indique que o ato normativo será declarado
86 MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de Constitucionalidade, cit., p.286 e ss.
87 MEDEIROS, Rafael de Souza. O Apelo ao Legislador e o Controle de
Constitucionalidade no Direito Brasileiro. Porto Alegre: 2009, p. 41 e ss.
76
inconstitucional em momento posterior, a declaração é de
constitucionalidade.
Por fim, enquanto se observa a existência de previsão legal para a
declaração de inconstitucionalidade de caráter restritivo, o apelo ao
legislador não encontra previsão legal expressa no ordenamento jurídico.
No tópico 3.4 desta monografia, proceder-se-á à análise da
decisão proferida no Recurso Extraordinário nº 135.328/SP, que aplicou a
técnica decisional ora estudada.
77
3. ANÁLISE DAS TÉCNICAS DE DECISÃO NA
JURISPRUDÊNCIA NACIONAL
3.1. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO: AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 4277/DF: UNIÃO
ESTÁVEL ENTRE HOMOAFETIVOS
Discutiu-se na Ação Direta de Inconstitucionalidade 427788
,
decidida em 5 de maio de 2011, a possibilidade jurídica do
reconhecimento da união estável entre homoafetivos, ou seja, entre
pessoas do mesmo sexo.
De acordo com o texto legal do artigo 1.723 do Código Civil, ―é
reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família‖ (grifo nosso).
Desse modo, em tese, não haveria amparo legal para seu
reconhecimento.
Contudo, a requerente (Procuradoria-Geral da República)
objetivava a incidência do artigo 1.723 do Código Civil também sobre a
88 A Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4277 foi recebida como tal, embora
tenha sido protocolada na Corte inicialmente como Ação de Descumprimento de
Preceito Fundamental, de nº 178.
78
união estável estabelecida entre pessoas do mesmo sexo, com
fundamento em uma interpretação (daquele artigo) conforme à
Constituição Federal.
Isso porque, a Constituição Federal assegura princípios
fundamentais como o da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso
III), o da vedação à discriminação odiosa (artigo 3º, inciso IV), e o da
igualdade, da liberdade e da proteção à segurança jurídica (artigo 5º,
caput).
Ademais, a análise do artigo 226, §3º, da Constituição Federal,
deixa evidente a inexistência de qualquer vedação constitucional relativa
ao reconhecimento da união estável entre pessoas de mesmo sexo.
Com base nesses fundamentos, o Supremo Tribunal Federal
decidiu que a aplicação da técnica decisional da interpretação conforme à
Constituição era cabível no caso analisado e que, por essa razão, o
instituto da união estável também deveria ser aplicável às relações
homoafetivas.
Como neste caso foi aplicada uma sentença interpretativa, a
redação do artigo 1.723 do Código Civil manteve-se intacta, devendo
apenas ser interpretada de forma extensiva a abarcar também as relações
homoafetivas.
Há de se destacar, outrossim, que alguns autores como Andrei
Meneses Lorenzetto e Bruno Meneses Lorenzetto sustentam ter havido,
79
in casu, verdadeira mutação constitucional89
no artigo 226, §3º da
Constituição Federal:
À luz dos excertos transcritos acima, verifica-se que as
uniões homoafetivas estreitam as relações entre
pessoas do mesmo gênero, cujo reconhecimento
advém da releitura das normas constitucionais sob o
influxo do princípio da dignidade da pessoa humana
que fomenta a tolerância sexual e veda qualquer forma
de discriminação arbitrária.
É bem verdade que em alguns casos poderia ser
conjeturada a aplicação do preceito que impede o
enriquecimento sem causa, como nas dissoluções das
sociedades de fato onde, após longo tempo de
relacionamento, o casal se separa e uma das partes tem
vantagem econômica injustificada em relação à outra.
Contudo, tal preceito não possui ampla aplicabilidade,
tendo seu campo de atuação restrito às discussões
patrimoniais, não se prestando à solução da imensa
variedade de problemas suscitados no âmbito das
89 Mutação constitucional é o processo informal de modificação da Constituição,
através da adoção de nova interpretação para um dispositivo constitucional.
Ressalte-se que tal instituto é diferente da interpretação conforme a Constituição,
que pressupõe a existência de um ato normativo infraconstitucional que deve ser
interpretado em conformidade com o texto constitucional.
80
relações homoafetivas, muitos dos quais sem qualquer
repercussão econômica.
Daí porque tudo está a apontar para uma releitura da
paisagem constitucional que sofreu intensa variação
semântica, ou melhor, substancial mutação valorativa
sem alteração de sua redação, em decorrência da
assimilação de novos hábitos culturais não vedados
explícita ou implicitamente pelo texto magno.90
90 LORENZETTO, Andrei Meneses e LORENZETTO, Bruno Meneses. Influxos
da Alteridade e da Dignidade Humana na Mutação Constitucional do Conceito
de União Estável – A Alteridade como Pressuposto para Fundamentação do
Princípio da Dignidade Humana. In Temas Atuais de Direito Público: Estudos
em Homenagem à Professora Maria Garcia. Campo Grande: Puccinelli Centro
de Estudos Jurpidicos / UCDB, 2008.
81
3.2. SENTENÇA ADITIVA: MANDADO DE INJUNÇÃO Nº 670/ES:
A GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS
O Mandado de Injunção nº 670/ES, da mesma forma que os de nº
708 e 712, analisou a possibilidade de exercício do direito de greve dos
servidores públicos ante a falta de lei complementar regulamentando-o.
Antigamente, a jurisprudência brasileira entendia que o direito de
greve não poderia ser exercido pelos servidores públicos antes da edição
da lei complementar respectiva, já que o preceito constitucional
reconhecedor do direito constituía norma de eficácia limitada, desprovida
de autoaplicabilidade91
.
Assim, quando o Supremo Tribunal Federal se manifestava sobre
o tema, apenas reconhecia a necessidade de se editar a legislação
pertinente, sem admitir, contudo, uma efetivação direta da norma
constitucional, limitando-se somente a declarar a mora legislativa
referente à edição de norma reguladora desse direito.
Gilmar Mendes levantou um ponto de vista importante em seu
voto no Mandado de Injunção ora analisado:
91 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de
Direito Constitucional, cit. p. 1325.
82
Estamos diante de uma situação jurídica que, desde a
promulgação da Carta Federal de 1988 (ou seja, há
mais de 17 anos), remanesce sem qualquer alteração.
Isto é, mesmo com as modificações implementadas
pela Emenda n. 19/1998 quanto à exigência de lei
ordinária específica, o direito de greve dos servidores
públicos ainda não recebeu o tratamento legislativo
minimamente satisfatório para garantir o exercício
dessa prerrogativa em consonância com imperativos
constitucionais.
Por essa razão, não estou a defender aqui a assunção
do papel de legislador positivo pelo Supremo Tribunal
Federal.
Pelo contrário, enfatizo tão-somente que, tendo em
vista as imperiosas balizas constitucionais que
demandam a concretização do direito de greve a todos
os trabalhadores, este Tribunal não pode se abster de
reconhecer que, assim como se estabelece o controle
judicial sobre a atividade do legislador, é possível
atuar também nos casos de inatividade ou omissão do
Legislativo 92
.
92 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Injunção nº 670/ES. Data da
decisão: 25/10/2007. Disponível em <www.stf.jus.br>. Acessado em:
06/10/2011.
83
Então, pelas razões supracitadas, recomendou a adoção de uma
sentença de nítido caráter aditivo, propondo como solução para a omissão
legislativa a aplicação aos servidores públicos, no que coubesse, da Lei nº
7.783/89, que regulamenta o exercício do direito de greve na iniciativa
privada
O voto foi acolhido pelo Tribunal, fato que representou um passo
importante no sentido de se concretizar direitos há muito tempo carentes
de regulamentação, sobre os quais o Poder Legislativo certamente levaria
muito tempo para editar os respectivos atos normativos.
Necessário observar, igualmente, que o Supremo Tribunal
Federal não inovou neste caso, visto que não é permitido ao Poder
Legislativo deliberar sobre a concessão ou não do direito de greve
constitucionalmente assegurado aos servidores públicos, cabendo a ele
apenas discipliná-la adequadamente.
84
3.3. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM A
PRONÚNCIA DE NULIDADE: AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE Nº 2.240-7/BA: O CASO LUÍS
EDUARDO MAGALHÃES
A Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.240-7/BA93
foi
ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores, contra a Lei Estadual nº
7.619/2000, do Estado da Bahia, que criou o município de Luís Eduardo
Magalhães.
A norma constitucional dispõe, no art. 18, §4º, que o
desmembramento, a criação, a incorporação e a fusão de municípios
devem ser feitas por lei estadual, dentro do período determinado por lei
complementar federal.
Porém, fato é que inexiste tal lei complementar federal no
ordenamento jurídico, o que, em tese, impossibilitaria a criação, fusão,
incorporação ou desmembramento de municípios.
Dessa forma, o Supremo Tribunal Federal declarou a
inconstitucionalidade da lei estadual, sem, contudo, pronunciar a nulidade
do ato normativo, em razão de situação fática consolidada, uma vez que o
93 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação direta de inconstitucionalidade
2.240-7/BA. Relator Ministro Eros Grau. Data da decisão: 09/05/2007.
85
município foi efetivamente criado e já havia assumido existência de fato
(embora não de direito), como ente federativo94
.
Ao não pronunciar a nulidade da lei estadual, o Tribunal manteve
sua vigência pelo prazo de 24 meses, lapso temporal que deveria ser
suficiente para a edição da lei complementar e, com base nela, a
reapreciação do tema pelo legislador estadual.
Caso a situação não se regularizasse no prazo estipulado, a
consequência lógica seria o restabelecimento da situação anterior, com a
extinção do município95
.
Com relação ao desfecho do caso, cumpre informar que o
Congresso Nacional não elaborou a devida lei complementar, mas
promulgou a Emenda Constitucional nº 57 de 18/12/2008, que
acrescentou o art. 96 ao Ato das Disposições Transitórias Constitucionais,
convalidando os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento
de municípios, cuja lei estadual tivesse sido publicada até 31/12/2006,
entre os quais se achava o município de Luís Eduardo Magalhães.
Curiosamente, o município de Paraíso das Águas, localizado
neste Estado (Mato Grosso do Sul), encontrava-se na mesma situação
acima descrita, tendo sido extinta a ação direta de inconstitucionalidade
94 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocencio Martires; MENDES,
Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 5.ed. São Paulo: ed. Saraiva,
2010, p. 1360.
95 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, cit., p. 313.
86
que questionava sua criação (ADI 3.018), em virtude da perda de objeto
ocasionada pela entrada em vigor da Emenda Constitucional mencionada.
Em outras palavras, o que ocorreu em ambos os casos foi uma
constitucionalidade superveniente, na qual a referida Emenda, pasme,
constitucionalizou leis que nasceram inconstitucionais96
.
96 Ibidem, p. 313. Pedro Lenza, assim como a maior parte da doutrina, critica
veementemente tal emenda constitucional: ―Percebe-se, então, que referida EC
busca convalidar o vício formal de todas as leis estaduais que criaram Municípios
sem a observância do art. 18, § 4.º, ‗constitucionalizando‘, de maneira ilegítima,
leis que nasceram inconstitucionais. (...) Em nosso entender, a EC foi contra a
decisão do STF que fazia um ‗apelo‘ para se elaborar a lei complementar e, uma
vez elaborada, a decisão do STF era no sentido de se corrigir o vício apontado
(...)‖ (Ibidem, p. 313).
87
3.4. APELO AO LEGISLADOR E LEI AINDA CONSTITUCIONAL:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 135.328/SP: ARTIGO 68 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Discutia-se no Recurso Extraordinário 135.328/SP sobre a
constitucionalidade do artigo 68 do Código de Processo Penal, que
confere ao Ministério Público legitimidade para promover a ação civil ex
delicto quando o interessado for pobre, in verbis:
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do
dano for pobre (art. 32, §§ 1º e 2º), a execução da
sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64)
será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério
Público.
A razão da discussão referia-se à incompatibilidade da tarefa com
as finalidades constitucionais do Parquet, tendo muito mais razão se a
função fosse realizada pela Defensoria Pública.
Isso porque se trata de interesse individual, que iria de encontro
com a principal função do Ministério Público: a defesa dos interesses
difusos, coletivos e, quando individuais, individuais homogêneos.
Ocorre que, em razão da precariedade da assistência jurídica nos
Estados, o Supremo Tribunal Federal decidiu que tal norma seria
88
constitucional enquanto a Defensoria Pública não se instalasse
efetivamente em todo o território nacional.
Assim, decidiu-se pela constitucionalidade e consequente
manutenção do dispositivo citado, porém alertou-se que uma vez
organizada a instituição de forma suficiente para atender as necessidades
sociais, a mesma norma deverá ser declarada inconstitucional97
.
É o que se observa na ementa do julgado:
―Enquanto não criada por lei, organizada - e, portanto,
preenchidos os cargos próprios, na unidade da
Federação - a Defensoria Pública, permanece em vigor
o artigo 68 do Código de Processo Penal, estando o
Ministério Público legitimado para a ação de
ressarcimento nele prevista‖.
Portanto, o dispositivo analisado estaria ―em trânsito,
progressivamente, para a inconstitucionalidade‖, como observa Lenza98
.
Vale destacar que, pelas mesmas razões, foi considerada ainda
constitucional a disposição legal que confere à Defensoria Pública prazos
em dobro para recorrer no processo penal (LC nº 80/99, artigos 44, I; 89,
97 Dependendo, porém, de novo questionamento judicial.
98 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14.ed. São Paulo: ed.
Saraiva, 2010, p. 174 e ss.
89
I; e 128, I), situação diversa da que ocorre com o Ministério Público, que
não goza de tal prerrogativa99
.
Contudo, da mesma forma, assim que a instituição da Defensoria
se instalar efetivamente, a norma passará a ser inconstitucional.
99 Ibidem, p. 173 e 174.
90
3.5. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO:
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL Nº 54: ABORTO DE ANENCÉFALOS
Pende de julgamento a Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental nº 54, no Supremo Tribunal Federal.
No caso dessa ação constitucional, a Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Saúde (CNTS) a propôs com a finalidade de permitir o
aborto em casos de gestação de feto com anencefalia, para que, com base
em uma interpretação conforme à Constituição, nem a gestante, nem os
profissionais da saúde fossem punidos pelos crimes previstos nos artigos
124, 126 e 128, I e II do Código Penal100
, como se observa em seu
pedido:
100 Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de
quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido
mediante fraude, grave ameaça ou violência
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
91
Por todo o exposto, a CNTS requer seja julgado
procedente o presente pedido para o fim de que essa
Eg. Corte, procedendo à interpretação conforme a
Constituição dos arts. 124, 126 e 128, I e II, do Código
Penal (Decreto-lei nº 2.848/40), declare
inconstitucional, com eficácia erga omnes e efeito
vinculante, a interpretação de tais dispositivos como
impeditivos da antecipação terapêutica do parto em
casos de gravidez de feto anencefálico, diagnosticados
por médico habilitado, reconhecendo-se o direito
subjetivo da gestante de se submeter a tal
procedimento sem a necessidade de apresentação
prévia de autorização judicial ou qualquer outra forma
de permissão específica do Estado101
.
Dentre os fundamentos utilizados para a defesa de seu pleito, a
Confederação alega que a gestante portadora de feto anencefálico que
opte pela antecipação terapêutica do parto estaria protegida por direitos
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
101 A visualização do respectivo processo eletrônico encontra-se disponível em:
www.stf.jus.br.
92
constitucionalmente previstos, como os princípios da dignidade da pessoa
humana; da legalidade; da liberdade e autonomia da vontade; e,
finalmente, do direito à saúde; já que a gestante estaria submetida a riscos
para dar à luz a um filho que certamente não viveria.
Com relação à técnica de interpretação conforme à Constituição,
a ação busca a exclusão do sentido inconstitucional da norma,
relacionado à impossibilidade de aborto na hipótese de gestação de
anencéfalos, para se afirmar outro sentido, este conforme à Constituição,
que é o da possibilidade do aborto.
Alega-se ainda que a antecipação consentida no parto, em
hipóteses de gravidez de feto anencefálico, não afetaria os bens
protegidos pela norma penal, quais sejam, o feto, a vida e a integridade
física da gestante, haja vista que apenas o feto com capacidade potencial
de ser pessoa102
pode ser sujeito passivo de aborto.
Como já mencionado, a ação ainda não foi julgada. Em 2004, o
Ministro Marco Aurélio concedeu ad referendum liminar nesse processo,
autorizando o procedimento de aborto nos casos de gestação de fetos
anencéfalos.
102 Tendo em vista que ―embora haja relatos esparsos sobre fetos anencefálicos
que sobrevivam alguns dias fora do útero materno, o prognóstico nessas
hipóteses é de sobrevida de no máximo algumas horas após o parto‖, além de não
haver ―qualquer possibilidade de tratamento ou reversão do quadro, o que torna a
morte inevitável e certa‖.
93
Contudo, poucos meses depois o pleno do Supremo Tribunal
Federal revogou a liminar, na parte em que reconhecia o direito de a
gestante submeter-se ao procedimento de aborto de fetos anencéfalos,
designando audiências públicas para melhor discutir o assunto.
Os pareceres da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-
Geral da República foram favoráveis à concessão do pleito.
O julgamento deve ser realizado até o final do presente ano
(2011).
A questão é polêmica e, sobretudo, complexa.
A anencefalia é a malformação fetal caracterizada pela ausência
parcial do encéfalo e da calota craniana, oriunda de defeito de fechamento
do tubo neural durante a formação embrionária103
.
Segundo especialistas, aproximadamente mais de 50% dos fetos
anencéfalos morrem ainda no período intra-uterino, sendo que grande
parte da percentagem restante morre pouco tempo após o termo da
gestação, sendo que o maior tempo de sobrevida já registrado na literatura
foi de apenas um ano e dois meses104
.
Com fundamento nessas informações, notório que a sobrevida
esperada de um feto anencéfalo é muito pequena.
103 Conforme texto publicado em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Anencefalia>.
Acesso em: 14/10/2011.
104 GARCIA, Lenise. Anencefalia. Disponível em: <
http://www.youtube.com/watch?v=WnTeZbi8QzA>. Acesso em: 14/10/2011.
94
Assim, impor à gestante o dever de carregar um feto que não
sobreviverá, por nove meses, causando a ela sofrimento e frustração,
importa clara violação à sua dignidade humana.
Por isso, a solução mais correta, nesse caso, parece ser a
procedência do pedido.
Até porque, como se pode observar, o objetivo dessa ação é a
apenas permitir o aborto nesses casos, em que o feto é comprovadamente
anencéfalo, e não obrigar a realização do procedimento.
Caso o Supremo Tribunal Federal declare a procedência do
pedido, caberá a cada gestante decidir, conforme suas crenças e anseios,
se utilizará ou não o procedimento abortivo, podendo optar, caso assim
entenda, por um caminho de menor sofrimento físico e moral.
95
CONCLUSÃO
Analisadas as principais técnicas de decisão em sede de controle
de constitucionalidade utilizadas no Brasil, e no mundo, estudando
inclusive sua aplicação prática na jurisprudência, principalmente na do
Supremo Tribunal Federal, o tema, embora complexo, passa a ganhar
maior nitidez.
O estudo de tais técnicas releva sua importância no ordenamento
jurídico uma vez que, em determinadas situações, a simples declaração
pelo Tribunal de constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma
norma pode trazer caos e insegurança jurídica.
Decisões como a interpretação conforme à Constituição e a
declaração de nulidade sem redução de texto são imprescindíveis para
uma harmonização normativa célere e eficaz, evitando alterações textuais
desnecessárias na legislação e restringindo a inconstitucionalidade
normativa apenas a uma ou mais interpretações específicas.
Por essa razão, notável que a ausência de tais modalidades
decisionais no ordenamento jurídico causaria uma série de dificuldades
no Direito brasileiro, como, por exemplo, a necessidade de o legislador
editar novas normas sempre que um determinado ato normativo fosse
considerado inconstitucional, ainda que pudesse ser interpretado de forma
compatível com a Constituição.
96
Por outro lado, também de inestimável importância a
possibilidade de modulação de efeitos no ordenamento jurídico, a fim de
evitar que as declarações de inconstitucionalidade possam causar
consequências sociais indesejadas que poderiam advir da aplicação
absoluta da teoria da nulidade, ou da anulabilidade, como o citado caso
do município de Luís Eduardo Magalhães.
Aliás, evidência que torna patente a importância da adoção de
efeitos prospectivos, é a tendência de convergência entre os dois modelos
tradicionais (nulidade e anulabilidade), que pode ser observada
atualmente em diversos países ao redor do mundo.
Contudo, deve-se observar também que o instituto mencionado
pode estimular a inconstitucionalidade, em virtude da consequente
validação de atos inconstitucionais que não são atingidos pela decisão
com efeitos modulatórios, devendo, por essa razão, ser utilizado com
cautela e nos casos em que realmente houver possibilidade e necessidade
de sua utilização.
As sentenças aditivas e modificativas, embora muito criticadas
por exigirem certo ativismo do Poder Judiciário, compõem a solução para
um Poder Legislativo vagaroso e, muitas vezes, ineficaz.
Por fim, as decisões influenciadas pelas técnicas de apelo ao
legislador e lei ainda constitucional, mantêm no ordenamento disposições
legais importantes que ainda possuem status de constitucionalidade,
muito embora em vias de progressiva inconstitucionalidade.
97
Assim, de forma geral, pode-se concluir que o desenvolvimento e
a utilização das técnicas de decisão no controle de constitucionalidade
brasileiro, apesar de eventualmente criticados, são benéficos e muito
vantajosos à sociedade.
98
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