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Contando com Milton Hatoum Os melhores contos do Dante 2014

Este livro é o resultado do concurso Contando belíssimos ... · competição que, neste ano, tem um significado muito especial. Eles foram estimulados a criar seus próprios textos

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Este livro é o resultado do concurso Contando 2014. Os alunos foram estimulados a criar seus

próprios textos a partir das introduções de belíssimos contos de Milton Hatoum.

As narrativas foram criadas em duplas, e as melhores estão publicadas neste livro.

COLÉGIO DANTE ALIGHIERI Alameda Jaú, 1061 - CEP 01420-001 - SPTel.: (11) 3179-4400 - Fax: (11) 3289-9365

www.colegiodante.com.br

Conta ndo

Contando com

Milton Hatoum

Os melhores contos do Dante 2014

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São Paulo 2014

Os melhores contos do Dante 2014

Colégio Dante Alighieri

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5Para Milton Hatoum, com carinho...

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““

Um sonhador

Aprendi a navegar no escuro antes de ler e escrever. Meu pai me ensinou a remar e a encontrar canal em época de vazante. Isso num tempo em que havia estações. Em setembro, os rios ficaram tão rasos que os peixes foram aprisio-nados em lagos que nunca foram lagos. Mortos. E um cheiro de cinzas no ar. Meus pais não viram esse céu de fer-rugem que esconde o sol. Velhos, nem falavam mais no futuro… Agora apare-cem juntos e enlaçados, assombrados que nem fantasmas. Dizem que no Sul os rios morreram há muito tempo, e que há guerra e flagelos nas grandes cidades. Por aqui, de qualquer coisa se morre, e até malária enterra crianças. Violência, doenças: quem pode des-mentir seu próprio sofrimento?

Milton Hatoum

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Agradecemos aos Departamentos de Arte, de Audiovisual, de Editoração/Gráfica, de Marketing e de Tecnologia da

Informação pela parceria na execução deste projeto.

Agradecemos especialmente ao Presidente, Dr. José de Oliveira Messina, e à Diretora-Geral Pedagógica, Profa.

Silvana Leporace, a possibilidade da realização desta obra.

Departamentos de Língua Portuguesa e de Tecnologia Educacional

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Caro(a) aluno(a),

Esperamos que você tenha gostado da experiência e que tenha

percebido a magia que envolve o mundo da ficção. A palavra pode ser

sua aliada por toda a vida. Continue fazendo suas leituras e

lembre-se de que o ato de escrever nos transporta para mundos

maravilhosos onde podemos realizar nossos sonhos mais secretos.

Professoras de Língua Portuguesa

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Este é o resultado do Contando 2014. O concurso foi elaborado pelas professoras de Língua Portuguesa em

parceria com os departamentos de Arte e de Tecnologia Educacional do Colégio Dante Alighieri.

Todos os alunos dos 9os anos de 2014 participaram desta competição que, neste ano, tem um significado muito especial. Eles foram estimulados a criar seus próprios

textos a partir das introduções de belíssimos contos de Milton Hatoum.

Os contos foram criados de forma colaborativa, em duplas, e os melhores estão publicados neste livro.

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Sum ário017 | Prefácio: caro eScritor milton Hatoum

022 | DoiS temPoS - milton Hatoum 030 | PreSente Do PaSSaDo

033 | aS memóriaS Do amor

036 | revivenDo lembrançaS

039 | Quem Sabe, algum Dia

043 | o cHaminé

046 | tio ranulfo

49 | reencontro De viDaS

52 | SauDaDe

58 | exílio - milton Hatoum 61 | minutoS De eSPerança

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Sum ário 65 | confiança DemaiS 68 | o encontro

0774 | um oriental na vaStiDão - milton Hatoum

81 | um tal Sr. KiicHi 0 86 | iluStranDo o contanDo

0 90 | exPreSSanDo 100 | milton Hatoum - breve biografia

104 | colégio Dante aligHieri contanDo... 106 | ficHa técnica

109 | referênciaS15

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Caro escritor Milton Hatoum

É uma honra recebê-lo em nossa Escola, no Contando 2014. Nossos mais sinceros agradecimentos por estar aqui e dar-nos o privilégio de poder conversar com o senhor.

Sua obra, premiadíssima, diga-se, torna-nos leitores vorazes. Sua produção faz - nos refletir sobre o que significa ser um escritor. De talento, nem se fala, porque talento lhe sobra, graças a Deus. Falo de ser gente, de se enxergar gente, de se reparar em gente. Gente com conflitos infinitos, com buscas infinitas, gente. Simplesmente gente. E o senhor vê tudo e todos. Vê universos familiares que se desintegram, vê a decadência de princípios convencionais, vê a globalização engolindo vidas, fragilizando laços. Desde Manaus, onde o senhor nasceu, até hoje, em São Paulo. Vê-lo na FLIP, ouvi-lo falar com simplicidade

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na Academia Paulista de Letras, ouvir suas palavras sobre Proust em sua busca do tempo perdido, em um programa televisivo sobre Literatura, ler seus textos no Estadão, tudo nos mostra que uma Escola que preza a literatura não pode deixar de conhecê-lo de perto, acolhê-lo com calor e viajar por sua obra que reinventa a vida. Mostra que tocar o coração de nossos alunos é a melhor maneira de despertá-los para a importância da arte a que as palavras nos conduzem. E que as suas são para eles um ponto de referência do que é a boa literatura, aquela que nos move até as estrelas, parodiando nosso mestre Dante Alighieri.

Livros inesquecíveis, os seus. Tanto que o reconhecimento é vasto: prêmios Jabuti indicam o quão importantes são suas histórias. São obras que andam o mundo, traduzidas em 12 línguas, publicadas em 14 países. O reconhecimento de sua grandeza se deu, inclusive, em Portugal. Como não viajar por meio de suas palavras? Como não conhecer “Relato de um certo oriente”, “Dois irmãos”, “Cinzas do Norte”, só para citar algumas de suas criações? Como não reinventar vidas que imitam vidas de pessoas comuns, sonhadoras, desesperadas, que evocam fantasmas do passado? Como não se perceber na sua obra as experiências que nos traduzem nesta terra, neste país, neste mundo?

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Maria Cleire CordeiroCoordenadora do Depto. de Língua Portuguesa

Por tudo isso, caríssimo escritor, sentimo-nos honrados de tê-lo conosco. Ter um escritor pertinho de nós mostra que, em algum lugar, em alguma Manaus, há um sonhador que escreve. Que sofre. Que se alegra. Que luta com as palavras. Que ama. Que recebe boas influências. Que seja influenciado por sua obra emocionante.

O senhor é um contador de histórias. Nós as lemos e para sempre teremos luz em nossos corações: a luz de suas palavras que inspiraram nossos jovens a continuar três de seus contos.

Muita gratidão.

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Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Saí da zona portuária, caminhando devagar até as ruas escuras de um quarteirão antigo. Havia lamparinas e velas nos batentes das janelas abertas, nas estantes e mesas das salas devassadas, na janela de um sobrado onde demorei a reconhecer o rosto de uma antiga vizinha e ex-aluna do conservatório. Aiana saiu do casarão e, na calçada, perguntou: Não te lembras dela, a Tarazibula Steinway?

Eu tinha uns catorze anos, e morava na casa de meu tio. Gostava dele, um solteirão estabanado, que me levava para corricar no paraná do Cambixe. Com ele fui pela primeira vez ao Varandas da Eva e a outros balneários noturnos. Não se zangava quando me via sem farda, gazeteando aulas; mas nas noites de esbórnia no quarto dele, quando me surpreendia de olho na fechadura, tio Ran me expulsava aos gritos. No dia seguinte, ele dava um tapa no meu ombro, ria sem jeito, ia embora.

DOIS TEMPOS

Milton Hatoum

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Era alto e desengonçado, às vezes se desculpava por ser atrapalhado e não saber pôr as coisas dele em ordem nem arrumar a casa. Não sei se gostava da vida de solteiro, acho que não queria mulher ao lado dele, dia e noite, sem trégua. Mal suporto a mim mesmo, ele dizia, justificando a solidão.

Na nossa casa era raro sentar à mesa no meio de tanta bagunça. Comíamos no Sereia do rio, que, além de barato, tinha uma varanda para o rio Negro e a floresta. Quando voltava de suas viagens misteriosas, me trazia presentes embrulhados com desleixo em papel de padaria. Nunca soube por que ele viajava tanto. Numa sexta-feira incerta, dizia de supetão: Embarco de noitinha, mas daqui a dois dias estamos juntos. Não queria que o acompanhasse ao porto, despedidas solenes dão azar, ele brincava.

Via meu tio segurando uma sacola de lona e pensava que ele nunca mais ia voltar. Pensava nisso até na presença dele; na verdade, tinha medo de que ele fosse embora para sempre. Quando me via triste e calado, querendo saber o motivo de tanto silêncio, eu mentia: minha cabeça ia queimar de tanta dor, uma dor lá no fundo. Tio Ran não entendia minha recusa de ir ao médico. Então, numa segunda-feira, ele me levou ao conservatório. Ficou observando as janelas fechadas do andar superior. Depois disse: Entra e fala com a professora. Quem sabe se as aulas de canto não vão curar tua enxaqueca?

Com a minha voz indecisa, saindo da infância, comecei a aprender canto com Tarazibula Boanerges. Na minha cidade, ela era a protagonista do canto e do piano. Eu me impressionava com o rosto dela, cheio de pontinhos pretos,

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ameaçando formar barba. As pernas eram cabeludas como os braços, mas a voz, de inflexão melódica, me fazia esquecer tudo. O sorriso bonachão e a generosidade extremada participavam dessa magia. Acima de tudo, era professora, e, para nós, uma artista.

Aprendi tanta coisa com dona Steinway, disse Aiana, tentando acender uma vela.

Dona Steinway, porque só a professora tinha um desses pianos em bom estado. O outro pertencia ao teatro Amazonas, mas, além de desafinado, era um ninho de traças e baratas. Partituras e livros de música enchiam a estante da sala do conservatório; na mesa de centro, uma flauta indígena, que ela soprou uma única vez, e murmurou, como se estivesse sozinha: Nossa dissonância ancestral.

Ensinava noite e dia, talvez sonhasse com sons. Crianças dedilhavam as primeiras notas, anos depois interpretavam um chorinho de Nazareth; algum dia uma ou outra poderia tocar uma sonata de Schubert ou de Beethoven. Bach, não. O mais difícil, o quase impossível, o que pede tudo a um artista, o corpo, a alma, ambos concentrados oito ou dez horas diárias ao longo de uma vida, tudo, toda a sua força interior e física, Bach, por exemplo, só ela. E nunca em público, só para nós, quase às escondidas, no fim da tarde, quando ela se desculpava pelas notas erradas ou uma saída do andamento, esbarrões que não percebíamos, nem podíamos perceber.

Na primeira aula ela sondou minha voz. Tocava uma tecla e me pedia a nota correspondente. Outra, mais aguda, e então eu perdia a voz, a voz abandonava meu corpo. Uma nota mais grave, eu grunhia. Ela não se desapontou e teve paciência: Não é preciso se esgoelar, canta ao natural, como se estivesses falando.

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Talvez quisesse descobrir em mim um grande tenor, mas minha voz, meu corpo, claudicava.

O som já está ficando mais puro, mais claro, ela mentia. A potência virá com o tempo.

Cantou um Lied sombrio, não lembro qual, e me consolou: Tens que dar tempo ao tempo.

Naquela tarde, percebi: sou incapaz para o canto. A professora Steinway já devia saber que seu aluno não era promessa de nada. Mesmo se eu fosse estudar no outro hemisfério: nada. Uma nulidade, voz para conversa, grito ou resmungo, nunca para o canto. Ainda assim, ela estimulava seu único aluno, o único menino. Já és um tenorino talentoso, ela brincava, quando ouvia meus agudos alarmantes. As meninas e as pianistas veteranas entediavam-se; muitas frequentavam o conservatório por obrigação ou para matar o tempo. Várias alunas cochichavam nos corredores. Pior: cochichavam quando a professora pedia silêncio, as mãos e os lábios tremendo, enquanto o olhar repreendia as tagarelas.

Numa tarde, a mãe de uma aluna interrompeu bruscamente a aula, querendo saber o desempenho da filha; o sonho dela era ver a filha virtuose dar um recital no teatro Amazonas. Pagou em dobro o preço das aulas, deixou cédulas altas sobre o teclado do piano e foi embora sem esperar o troco. Dona Steinway ficou paralisada, muda. Senti seu hálito quente, vi suas mãos fechadas, o corpo que ofegava e crescia. Ela tirou as cédulas, jogou-as na mesa da flauta. Sentou lentamente na banqueta e as mãos retomaram o chorinho.

No último ano dos meus estudos de canto, já não me inquietava tanto com a ausência de tio Ran. Na manhã de um sábado, quando ele estava viajando, fui assistir aos exercícios

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de Aiana no conservatório. Na sala não encontrei minha amiga; ouvi passos na escada e, quando a professora surgiu, parecia outra; usava um vestido decotado, brincos e colar; os lábios vermelhos e o cheiro de perfume davam a impressão de que a noite a esperava. Ia me despedir, mas ela me abracou e beijou como se não me visse fazia muito tempo. Disse que tocaria alguns prelúdios e mazurcas de Chopin. Nos intervalos enxugava o rosto, concentrava-se, e interpretava com prazer o que durante a semana martirizava as alunas. Sentado perto dela, admirava os movimentos ágeis e firmes de suas mãos, que tocavam só para mim. Quando terminou, cobriu o teclado com uma faixa de feltro, e me olhou demoradamente antes de dizer: Conheci tua mãe, uma das primeiras alunas. Estudou seis anos, gostava dos Prelúdios...

A professora sabia que eu era órfão, mas nunca havia mencionado o nome de minha mãe. Ficamos em silêncio por alguns segundos; ela se levantou, me acompanhou até o portão, fez uma pergunta como se fosse uma despedida: Teu tio cuida bem de ti?

Pouco tempo depois, quando eu pensava em deixar a cidade, fui com tio Ran ao teatro Amazonas, onde dona Steinway daria um recital. Insisti em chegar cedo, queria achar lugar na primeira fila, bem perto do palco. O teatro estaria lotado e eu fazia questão de que a professora notasse minha presença. Quando entramos na sala, havia poucas pessoas. Aiana, sozinha na primeira fila, nos chamou. Tio Ran apontava o nome dos músicos, poetas e dramaturgos europeus: os artistas mais famosos do mundo estavam ali, nos estandartes de gesso em forma de lira, encardidos e empoeirados. Várias lâmpadas dos lustres, queimadas; a pintura do pano de boca parecia enrugada. Sentado, observei com calma o motivo da pintura: ninfas gordas deitadas em conchas que flutuam no

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encontro das águas. Dona Steinway demorava, esperando talvez a presença dos convidados. Lentamente a sala foi escurecendo, e apenas a pintura se destacava, iluminada, solta no espaço. O calor aumentava, tudo parecia parado, eu me estiquei na cadeira e me deixei levar por aquelas conchas com seres mitológicos; pouco a pouco me distanciei daquele lugar. Os dois rios iluminados pareciam jorrar da pintura e inundar a sala silenciosa e sombria, cobrir tudo de água, até o lustre gigantesco e a abóbada do teto, onde a torre parisiense e as alegorias em seu redor eram grandezas do outro mundo.

Um ruído me despertou. Ao meu lado, Aiana resmungava ao ver a sala quase vazia. Quando o pano de boca subiu, o piano preto do conservatório apareceu no centro do palco. Depois ela entrou, aproximou-se da plateia, foi aplaudida com entusiasmo. Da primeira fila eu podia ver o rosto em êxtase da pianista, a alegria incontida, como se fosse uma grande noite.

Depois do recital fomos falar com ela. Não parecia decepcionada. Esse teatro é grande demais para um recital de Schubert, a pianista piscou para o meu tio. Hoje em dia, uma plateia de vinte pessoas é uma multidão. O teu sobrinho vai continuar a aprender canto?

Ainda voltei algumas vezes ao conservatório. Uns meses depois do recital, parti.

Longe da minha cidade, cada vez mais longe, ao ouvir uma sonata de Schubert, um chorinho de Nazareth ou as Bachianas brasileiras, eu me lembrava da pianista. De seus dedos longos, de seu rosto suado, tenso ou radiante, todo o corpo atento, tocando para a pequena plateia. Do na Steinway não buscava a notoriedade. Ensinava. E sabia escutar.

Pensava nisso quando Aiana, vela na mão, me puxou pelo braço e me conduziu à escada de ferro. Sem saber por quê,

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hesitei em entrar. Pude ver uma parte da sala espaçosa, aclarada por lamparinas, cheia de gente bem-vestida. Um cheiro esquisito, de perfume e flores, se misturava ao bafo quente da noite. Uma faixa de tecido verde, com palavras douradas, de luto, cobria livros e partituras; perto da parede, ex-alunas cochichavam com as mães.

Quando entrei, vi um homem velho e triste, curvado sobre o rosto da mulher deitada, quieta, as mãos cruzadas. Levei um susto, tentei pronunciar o nome dele, mas emudeci. Tio Ran parecia outro, tão diferente, ali em pé, as mãos enleadas no cabelo da professora.

Quase não vi o rosto da pianista, escondido por outro, o do meu tio. Mas vi, observei, senti suas mãos que tanto dedilharam o teclado, agora silencioso, agora fechado sabe-se lá até quando.

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PreSente Do PaSSaDo

Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Ana Catharina Konzen Schmidt de Oliveira & Pietra Cipolla de Matosa partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.

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Sorri ironicamente. Um homem preconceituoso, esse tio Ranulfo. Nunca aprovou relações amigáveis entre famílias ricas e pobres.

__ É como água e óleo, Ricardo. Rico e pobre não se misturam! __ ele sempre me dizia.

Saí de meus devaneios para chamar o garçom, quando a vi na entrada do restaurante. Seus chamativos olhos esverdeados me eram, por alguma razão, familiares. Então, ela sorriu. Um sorriso lindo, meio maroto, um sorriso que fora dirigido a mim várias e várias vezes.

Estefânia Cardoso. A lembrança de nossa história veio à minha mente. Uma bela história. Uma história de amor.

Tinha dezessete anos quando a vi pela primeira vez. No auge de seus quinze anos, ela era a menina mais bonita que já havia visto.

Nosso primeiro encontro foi numa sorveteria. Ela estava chique, com um vestido vermelho de babados brancos, e, eu, simples como era, com meu traje domingueiro: calça jeans, camisa azul e sapato de sola gasta. Ela era de família rica e importante. Já eu morava com tio Ranulfo, de origem humilde. Ao saber de nosso namoro, ele desaprovou de pronto.

__ Estou te avisando, Ricardo! __ ele costumava ralhar __ essa menina não serve para você! Não demora, ela se cansa e, olha, não venha chorar no meu ombro quando isso acontecer!

E, de fato, aconteceu. Mas não da maneira que meu tio previra. Com a esperada oposição da família dela ao namoro, fizemos algo digno de um filme bem clichê: fugimos. Claro que não deu certo. A polícia nos pegou na metade do caminho. Meu tio me mandou para São Paulo, a fim de manter-me o mais longe possível de Estefânia e de encrencas. Desde então,

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nunca mais a vi. Até hoje.

De repente, todas aquelas emoções do passado voltaram. Estava prestes a me levantar e ir até ela, quando vi a expressão de felicidade e ternura em seu rosto com o olhar em direção a um homem e duas crianças que iam se aproximando. Melhor assim.

Chamei o garçom e pedi a conta.

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aS memóriaS Do amor

Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Daniel Mathias Rosenfeld & Fernando Moreira Kanareksa partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.

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Seu rosto me era muito familiar. Ela era uma senhora, de cabelos brancos, óculos, brincos discretos. Lembrei-me de uma foto que achei numa escrivaninha na casa do meu tio Ran. Sim, a foto era dela de muitos anos atrás.

A noite estava muito clara, os postes de luz nem estavam ligados. Prosseguindo meu caminho em sua direção, pensei:

“Será que é ela a mulher das histórias meu tio Ranulfo?

Me aproximei lentamente e chamei-a: __ Com licença, você conhece Ranulfo Goldenberg? __ Ranulfo Goldenberg? Sim, o conheci muitíssimos anos

atrás na Alemanha __ respondeu a senhora. __ Eu sou sobrinho de Ranulfo. Qual é o seu nome? __ Me chamo Marta Vanowsky.

Sim, era ela. A mulher de tantas histórias que meu tio contava quando eu era pequeno.

Ele era um soldado que havia sido designado para uma missão na Alemanha contra os nazistas. Estava no meio de uma batalha, quando foi ferido por uma bala na perna e ficou caído imóvel no frio congelante da Alemanha, em meio ao calor estonteante da batalha. Pensou na família, nos amigos e em todos os momentos que iria perder, quando uma mulher o arrastou para dentro de sua casa e, sem pedir nada em troca, cuidou de seu ferimento. Depois de vários dias e de muito conversarem, eles aderiram ao sentimento que já estava brotando em seus corações, apaixonaram-se.

Depois de um tempo, tio Ranulfo se recuperou de seu ferimento e já conseguia até andar. Ela havia salvado sua vida, e havia dado um novo sentido a ela também. Aquele era um

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sentimento tão forte, um sentimento que nunca havia sentido antes; era um fogo que queimava tão forte que doía só de pensar em deixá-la. Mas esse dia chegou. Todos os soldados receberam ordens de voltar. E os dois se perderam no tempo...

Cinquenta anos depois estamos aqui, Marta e eu. Ela fugiu da Alemanha semanas após tio Ranulfo conseguir voltar para casa. Falei para Marta que tio Ranulfo morava no Brasil com sua família, após ser dispensado do Exército. Falei a ela que ele morava ali perto, mas não estava em casa. Decidida, falou que sabia onde ele poderia estar. Andamos em direção ao parque e avistamos um senhor sentado em um banco dando comida para as pombas, como os dois sonhavam fazer quando se reencontrassem. Nós nos aproximamos um pouco e ela gritou:

__ Ranulfo!

Ele virou-se instantaneamente e as lágrimas começaram a rolar em seu rosto.

__ Marta!

Os dois se abraçaram e tio Ranulfo falou: __ Dessa vez, ficaremos juntos para sempre!

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revivenDo lembrançaS

Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Luísa Martins de Andrade & Maria Paula de Castro Vanzo Reisa partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.

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Estava comendo em paz, meus pensamentos longe dali. O que aconteceu nos próximos minutos foi algo que não cogitava. Ela, tão linda como há cinco anos, surgiu em meu campo de visão. Foi inevitável o filme que passou em minha mente lembrando-me de nossa juventude juntos. Éramos “o casal” da escola, digno de filmes americanos. Naquela época, eu tinha certeza de que era amor. A forma como sofri quando tivemos que nos separar indica que sim.

O som doce e macio de sua voz é o que me tira de meus devaneios. Do meu lugar era possível ouvir sua conversa com o homem a sua frente. Ela o olhava com tanto carinho que senti um aperto no peito. Ela havia sido meu primeiro amor, e, é claro, que sempre a terei num lugar especial em meu coração.

Voltei para a pensão, tomei um café e fui para o meu pequeno e confortável quarto com as lembranças desse tempo que não mais voltará, tempo em que minhas únicas obrigações eram estudar e me divertir. Acordei com uma manhã tranquila de sol e resolvi dar uma caminhada até o Mercado Municipal, com a intenção de comer um sanduíche de mortadela na velha barraca do Senhor Jairo, que existe há mais de 30 anos no mesmo local. Logo depois que entrei no movimentado espaço, esbarrei com Marianna e, dessa vez, foi inevitável, nossos olhares se cruzaram diretamente:

___ Nossa, há quanto tempo não nos vemos! Deixe-me lhe apresentar meu irmão Jorge, que você infelizmente não teve oportunidade de conhecer, pois, na época, ele morava na Áustria, onde estudava e trabalhava.

E, quando olhei para Jorge, vi que era o mesmo homem que conversava com Marianna no dia anterior; um sentimento de alegria e alívio tomou conta de mim, juntamente com

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o pensamento de que eu ainda poderia ter alguma chance de retomar nossa relação, mas essas emoções foram interrompidas com o som suave de sua voz novamente:

___ Ah, aí estão vocês! Gustavo, esse é meu marido Roger e nossa filha Isabel. Estamos fazendo um passeio em família, não quer nos acompanhar?

E, com isso, vi aquele alívio e alegria indo embora para bem longe. Uma completa desilusão amorosa acabara de acontecer da forma mais improvável possível, mas aconteceu. Estava ciente de que não poderia deixar meu sofrimento evidente para eles, então aceitei o convite.

O que foram minutos caminhando pareceram horas. Meu coração pesando como uma pedra. Porém, senti que aprendera algo durante aquela viagem. Aprendi que preciso seguir em frente, buscar meu futuro, sem olhar para trás.

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Quem Sabe, algum Dia

Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Gabriela Rodrigues Hissa Amorim & Maria Eduarda Santos dos Reisa partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.

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___ Posso retirar seu prato? ___ uma voz interrompeu meus pensamentos.

Era ela. Me lembrava bem de seu rosto. Os cabelos ruivos contrastavam com sua pele pálida, preenchida por sardas, e seus olhos verdes continuavam belos como sempre foram. Ela também me reconheceu e abriu um sorriso.

___ Amanda? ___ perguntei, não acreditando que poderia ser ela mesma.

___ Jô? Quase não te reconheci! Você mudou muito. ___ ela respondeu, ainda sorrindo. - Então, como vai a vida? O que você anda fazendo?

___ Ah, não faço muita coisa. No momento estou tentando trabalhar com arte. Você sabe, sempre sonhei com isso.

___ Ah, me lembro bem. Você passava as aulas desenhando... ___ riu novamente. ___ E a família, tem tido notícias do tio Ran? Sempre gostei dele, sabe...

___ Pra falar a verdade, vim aqui para me encontrar com ele. Mas é uma surpresa, então não o avise!

___ Não vou contar, juro. – ela riu – Mas podemos nos encontrar de novo, mais tarde? Agora é complicado. Trabalho, sabe...

___ Pois é ___ respondi ___ Que tal amanhã, no shopping da cidade, para almoçarmos?

___ Claro. Nos vemos lá, então.

Quando voltei para casa, continuei a recordar nossas aventuras do tempo da escola. Fazíamos de tudo, nunca nos separávamos. Lembrava-me de que sempre nos disseram que podíamos ser almas gêmeas, tamanha a nossa proximidade. Era verdade, em parte. Sempre tive uma “queda” por Amanda,

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mas nunca contara a ela, ou a ninguém mais. Tinha medo de estragar nossa amizade e de meus amigos caçoarem de mim. Porém, vendo minha situação atual (nunca conseguia manter-me em um relacionamento), pensei que, talvez, se tivesse contado à Amanda sobre meus sentimentos em relação a ela antes, tudo poderia ter sido diferente. Deixei esses pensamentos de lado e fui deitar-me, pois o dia seguinte seria cheio.

No domingo, nos encontramos na porta do shopping, como combinado. Durante o almoço, discutimos sobre nossa infância, nossas várias aventuras. Eventualmente, caímos no tão inevitável assunto “de quem você gostava”.

___ Então, Jô ___ Amanda disse, sorrindo ___ Me conte seus segredinhos. Quem era seu amor nos tempos de escola?

Dei uma risada fraca. Será que deveria contar a ela? Bem, provavelmente ela ignoraria ou não daria muita importância; muitas pessoas tinham uma queda por ela naquela época. Talvez ela pensasse que eu gostava dela por pura influência, ou até mesmo por ciúmes e medo de substituição. Bem, se não contasse agora, nunca mais teria a chance. Respirei fundo e arrisquei.

___ Pra falar a verdade, Amanda... Eu gostei de você por um bom tempo.

Ela arqueou uma sobrancelha, levemente confusa. ___ Você tá brincando, né? Eu também gostava de você.

Me surpreendi muito com a resposta. Amanda gostava de mim? Nunca poderia imaginar isso, nem mesmo em meus sonhos mais loucos. Nos entreolhamos por alguns segundos. Ela havia me contado que tinha terminado um namoro de longa data fazia pouco tempo, e ainda estava mal por causa

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dele. Tanto eu quanto ela estávamos em uma situação amorosa ruim. Além disso nunca poderíamos começar um relacionamento, pois eu planejava ir para o exterior estudar Arte, e ela sempre quis fazer um curso de fotografia na cidade de São Paulo. Apenas nos encaramos e sorrimos fracamente sabendo que, talvez, se tivéssemos conversado sobre esses sentimentos, tudo poderia ser diferente.

Quem sabe, algum dia, ainda poderemos dar certo? A vida é cheia de possibilidades, e nós preferimos não acreditar nelas para não arriscar o que já é certo. Talvez nos arrependêssemos depois, mas se destino realmente existe, terminaremos lado a lado algum dia. Quem sabe, algum dia.

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o cHaminé

Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Camila Min Ji Eum & Mariana Mascaro Yazbeka partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.

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Nunca soube por que ele viajava tanto, mas quando voltava de suas breves viagens a trabalho, trazia consigo um doce ou um livro. Gostava de tio Ran. Era alto, com o cabelo cor de mel sempre desarrumado e com traços do rosto bem definidos.

Saí do Sereia do rio e caminhei pelas ruas estreitas do antigo bairro, iluminadas por algumas das lamparinas acesas ao longo das ruas. Era bem pequeno quando passei por aquelas ruas pela primeira vez, depois de meus pais terem ido para bem longe para sempre, como meu tio dizia. Passei a morar com ele, que era solteirão, mas que morava numa enorme casa.

No começo, não gostei do bairro, cheio de portos, com barcos de todos os tamanhos e cores, entrando e saindo, e feiras cheias de frutas e peixes, mas agora, estando longe, aquele lugar me fazia falta.

Chegando perto da pensão onde me hospedara, escutei alguém me chamando, uma voz que já escutara anteriormente, não sei quando. Virei para ver quem era. Era ruiva, tinha olhos de esmeralda e estava debaixo de uma lamparina acesa, bem arrumada e vestida de preto. Chorava silenciosamente e, ao me ver, ficou com uma expressão de alívio e veio em minha direção.

“Dolores!” exclamei indo em direção ao seu encontro, e a moça ruiva sussurou um “Pedrinho” perto de meu ouvido, enquanto algumas lágrimas brotaram de seu rosto ao pronunciar o meu apelido. Seu nome era Doroteia, a filha fruto de um relacionamento complicado de tio Ran (que depois de sua desilusão decidiu viajar e viver a vida de solteiro), a prima que eu mal via, mas considerava uma irmã.

Lembrei-me de nossa infância naquela cidadezinha pacata,

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de Doroteia reclamando com tio Ran sobre eu chamá-la de Dolores, das aventuras no jardim da casa, e de tantas outras doces lembranças. A vida era boa quando se era jovem.

Não entendi o motivo das lágrimas, até que ela me conduziu ao Chaminé, as mãos entrelaçadas nas minhas e segurando o choro. A porta do teatro se abriu e mostrou um caminho até o palco com todas as cadeiras ocupadas. Não reconhecia nenhuma das pessoas presentes, todas estavam bem vestidas e de preto, somente um rosto familiar em meio àquele lugar, o melhor amigo de meu tio, André.

Ele estava no palco perto de uma caixa coberta por um pano preto e com várias flores em cima. Uma tontura tomou conta de mim, era a mesma cena do enterro de meus pais, mas não, não poderia ser. Até que subi ao palco e lá estava: uma foto de tio Ran em meio às flores em cima de seu caixão. “Força, Pedro, força” ___ repetia André apertando o meu ombro enquanto eu abraçava Doroteia, tentando achar o chão que, há muito tempo, tinha estado sob meus pés.

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tio ranulfo

Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Laura Gragnano Puttinato e Marina de Arruda Pinto D´Andreaa partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.

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Ela me disse que estava entrando de férias e que dava graças a Deus, pois não aguentava mais as reclamações do velho.

Tio Ranulfo era daqueles senhores rabugentos, reclamava de tudo: da comida, de suas empregadas que não paravam no emprego e, principalmente, pelo fato de sua querida mulher, alguns anos mais nova que ele, ter falecido tão cedo. Isso o deixava inquieto.

Todo dia, lembrava-se e alertava todos da família de que queria ir para o céu para encontrar sua amada. Todos nós sabíamos que ele não ia se matar, pois, na verdade, tinha medo da morte. Ele nunca havia dito isso, não era preciso, todos deduzíamos quando ele estava em seus momentos depressivos e nostálgicos.

Meu tio tinha também seus momentos felizes, quando o assunto eram viagens, parecia outra pessoa, sua expressão de desgosto saía de seu rosto amargurado, enquanto a animação e a felicidade tomavam seu lugar.

Portanto, causou-me estranheza ao chegar a sua casa e me deparar com a porta fechada, pois, quando ele viajava, avisava todos da família.

Passados dois dias, voltei à casa do tio Ranulfo e novamente a porta estava trancada. O que teria acontecido? Há pouco tempo, tio Ranulfo parecia adoentado, o que não chamou muito nossa atenção, pois pensamos ser apenas saudade de sua falecida esposa e não demos importância para sua saúde.

Percebo agora que os males do amor podem fazer mal ao coração, pois, após arrombarmos a porta, encontramos tio Ranulfo deitado em sua cama, serenamente dormindo, para não mais acordar.

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Agora ele deve estar feliz por ter finalmente viajado para encontrar sua querida esposa.

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reencontro De viDaS

Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Anna Carla Travessa Siervo & Rafaela da Conceição Machadoa partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.

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Levantei-me, paguei a conta e saí. Andava pelas ruas sentindo o vento em meu rosto e observando aquela grande lua. Meu Deus, como estava grande! Tio Ranulfo dizia que nós dois juntos significávamos algo.

Estava chegando à pensão, quando recebi um telefonema de algum número desconhecido:

— Alô? Aqui é do hospital. O senhor é João, sobrinho de Seu Ranulfo?

— Sim, o que aconteceu?

— Desculpe-nos dar-lhe essa informação por telefone, mas é urgente... ___ instintivamente, prendi a respiração, esperando o pior ___ Ele sofreu um gravíssimo acidente de carro. Não sei quanto tempo ainda... sinto muito.

Caí de joelhos na rua, meu coração acelerou e minha visão começou a embaçar. Nada mais ouvia além de meus batimentos. Tudo a minha volta começou a girar.

Limpei as lágrimas que se derramavam em meu rosto. Desesperado, procurei um táxi livre. Em meio ao meu torpor, peguei o táxi e, vagamente, pedi que fosse o mais rápido possível para o hospital. Tinha que vê-lo uma última vez. Necessitava vê-lo, afinal, ele era como um pai para mim.

Nem perguntei ao taxista o valor do trajeto, abri minha carteira e dei-lhe uma quantia em dinheiro. Saí o mais rápido possível do carro, entrei no hospital, aproximei-me do balcão e perguntei sobre a entrada de um paciente chamado Ranulfo com graves ferimentos. Mandaram-me diretamente à sala do médico.

Entrei na sala e fixei meus olhos logo à frente. Pronto. Foi o fim de minhas esperanças. Ali naquela sala encontrava-se o rosto mais sofrido que algum dia já poderia ter visto.

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A partir daquele dia, já não vivia mais. Ficava à deriva pelas ruas, desolado. Lado a lado com lágrimas e solidão. Não falava com ninguém, não sorria. Começava a preocupar as pessoas que uma vez me amaram. Aquele não era eu, bem sabia, mas o que podia fazer? Estava abalado, como nunca pensara que poderia ficar, mas, às vezes, uma surpresa nos encontra no meio do caminho.

Era noite, um sábado. Folhas voavam, e a lua iluminava minha solitária alma. Pensava em desistir da vida. Não tinha mais razão para viver, não queria passar toda a minha vida nesse abismo. E foi ali que a encontrei, toda de preto, pairando à minha frente.

Eu estava fraco, eu não comia direito, não sei se foi apenas uma ilusão, era linda. Tinha um olhar misterioso, mas um jeito delicado e doce. Enquanto ela se aproximava, um arrepio tomava o meu corpo. O seu toque era gelado, mas me acalmava.

— Feche os olhos ___ disse a Morte ___ , iremos encontrá-lo.

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SauDaDe

Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.

Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran, antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.

Giulia Martinelli Casulli & Paloma Lucia Ramireza partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.

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Em meio às boas recordações, uma voz feminina me chamava. Era ela, minha tia, extrema coincidência. Logo se aproximou com aquele seu ar todo alegre e inspirado, sempre com algo novo para contar, perguntando sobre minha vida. Sem hesitar, levantei-me e a abracei.

— Nossa, tia, quanto tempo! Como foi de viagem?

— Ah, não muito bem. Você sabe como o seu tio não gosta de distanciar-se da família. Enfim, fiquei sabendo pela sua prima que viria nos visitar, por que não se hospeda em casa? Sabe muito bem que será recebido com o maior prazer pela família. Seu tio comentou sobre você estes dias. Falou que havia se formado, um orgulho imenso!

— Sim, tia, faz tempo que não nos falamos. Com toda essa pressão para o vestibular, não tive muito tempo para encontrar quem gosto. Mas agora, tendo terminado, decidi fazer uma surpresa, estava com saudade! Só não fiquei em sua casa, pois, quando cheguei, estava vazia, e logo concluí que ainda não tinham retornado da viagem. Mas fale sobre meu tio, onde ele está?

— Conhece o Ranulfo, não é?! Está em casa vendo os seus antigos filmes nem quis saber de sair para jantar.

Ficamos conversando horas a fio, pagamos a conta e fomos para a casa da tia Anastácia. O caminho foi silencioso, seguido por um ar nostálgico, de recordação. Ao chegarmos, as luzes estavam apagadas. Abrimos a porta com cautela, imaginando que todos estivessem dormindo por ser quase meia-noite. Sentei-me no sofá, enquanto minha tia preparava algumas xícaras de café. Ficaria lá por poucos dias. Mas queria aproveitar ao máximo nosso tempo juntos.

Depois de alguns minutos, vimos uma luz vindo do

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corredor. Era tio Ranulfo. Estava muito animado, vinha em minha direção ansioso, seu sorriso contagiava. Entretanto, no momento em que levantei do sofá para abraçá-lo, tio Ran parou. Não se deslocava mais rumo a mim. Estava caindo. Seu corpo rapidamente encontrou o chão de maneira brusca, batendo a cabeça e a coluna. Tio Ranulfo sofrera um infarto súbito. Eu e tia Anastácia estávamos perplexos.

— Ranulfo! Fale comigo, por favor, eu te imploro. Não faça isso, agora não. Eu preciso de você. RANULFO!— disse minha tia apavorada.

— Tio, sou eu, seu sobrinho, Tiago. Você não pode partir sem falar comigo, não pode! Eu preciso ouvir a sua voz. E a saudade? Por favor, não!

Fui correndo pegar o telefone para chamar a ambulância, mas era tarde. Minha tia verificou sua pulsação. Não adiantava mais. Ligamos para seu médico, e este nos informou sobre uma doença. Tio Ranulfo sabia que tinha um problema cardiovascular, mas nunca contara a ninguém.

Eu e tia Anastácia estávamos desamparados. Uma noite agradável e feliz havia se transformado em tristeza sem fim. Não sabíamos o que fazer, estávamos em prantos. Ficamos parados, ali, em frente ao seu corpo, pensando nos bons momentos que havíamos passado juntos. Sua existência foi marcante.

“A vida tem dessas, nunca sabemos o que poderá acontecer, o jeito é viver o hoje e não nos preocuparmos com o amanhã, aproveitar ao máximo enquanto podemos.” Repetia sempre essa frase e, por isso, não gostava de ficar longe da família ou de sair de casa, temia morrer sem estar com as pessoas que amava.

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Tia Anastácia não tinha dúvida de que ele fora muito feliz. Partiu com um leve sorriso de satisfação no rosto, tinha visto a pessoa de quem mais se orgulhava junto à pessoa que mais amava: eu e minha tia.

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EXÍLIOMilton Hatoum

Dezembro, 1969

M.A.C. decidiu ir a pé até a rodoviária: comeria um pastel e seguiria para a W3. Numa tarde assim, seca e ensolarada, dava vontade de caminhar, mas preferi pegar o ônibus uma hora antes do combinado: saltaria perto do hotel Nacional, desceria a avenida contornando as casas geminadas da W3. A cidade ainda era estranha para mim: espaço demais para um ser humano, a superfície de barro e grama se perdia no horizonte do cerrado. A Asa Norte estava quase deserta, era sexta-feira, e só às três da tarde alguns estudantes saíram dos edifícios mal conservados. Do campus vinham os mais velhos: universitários, professores, funcionários, a turma escaldada. A liderança era invisível, os mais perseguidos não tinham nome: surgiam no momento propício, discursavam, sumiam. Valmor não quis ir: medo, só isso. Medo de ser preso, disse ele.

Zombavam do Valmor, escarneciam do M.A.C., medroso como um rato, mas agora até o M.A.C. sairia da toca e quem sabe se na próxima vez Valmor...

A revolta se irmanava ao medo, às vezes ao horror, mas a multidão nos protegia e naquela tarde éramos milhares. Os militares esperaram o tumulto explodir na W3, depois veio o cerco e quase perfeito: nas extremidades e laterais da avenida,

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nos dois Eixos e nos pontos de fuga da capital. Às cinco ouvimos os discursos- relâmpagos, urramos as palavras de ordem, pichamos paredes e distribuímos panfletos. A dispersão começou antes de escurecer. Ninguém iria ao Beirute, um bar visado pela polícia, nem ao Eixo Rodoviário, uma praça de guerra. No corre-corre saí da W3, passei pelos fundos de lojas e bares, tentando caminhar sem alarde, assobiando, e o céu ainda azul era a paisagem possível. Nunca olhar para trás nem para os lados, nunca se juntar a outros manifestantes, fingir que todos os outros são estranhos: instruções para evitar gestos suspeitos. Até então nenhum rosto conhecido, e a catedral inacabada e o Teatro Nacional não estavam tão longe. Ficaria por ali à espera da noite, anunciada pela torre iluminada.

A dispersão e a correria continuavam, e o mais prudente era ficar sentado no gramado da 302 ou da 307 e assistir ao bate-bola das crianças. Amanhã um passeio de bote com Liana no lago Paranoá, domingo a releitura de “Huit-Clos” [de Sartre] para o ensaio da peça. Se viver fosse apenas isso e se a minha voz (e não a de outro) gritasse meu próprio nome, duas, três vezes... Assustado, reconheci a voz de M.A.C., o corpo cambaleando em minha direção. A rua e a quadra comercial foram cercadas como num pesadelo, tentar fugir ou reagir seria igualmente desastroso. Depois de chutes e empurrões, eu e o meu colega rumamos para o desconhecido. M.A.C. quis saber para onde íamos, uma voz sem rosto ameaçou: calado, mãos para trás e cabeça entre as pernas.

O trajeto sinuoso, as curvas para despistar o destino da viatura, manobras que apenas imaginávamos e agora estava acontecendo. Pobre M.A.C., era o mais retraído da segunda série, misterioso como um bicho esquisito. Tremia ao meu lado, parecia chorar e continuou a tremer quando saltamos

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da viatura e escutei sua voz fraca: sou menor de idade, e logo uma bofetada, a escolta, o interrogatório. Ainda virou a cabeça, o rosto pedindo socorro...

Não o vi mais na noite longa. Eu também era menor de idade e escutei gritos de dor no outro lado de uma porta que nunca foi aberta. Em algum lugar perto de mim, alguém podia estar morrendo, e essa conjetura dissipou um pouco do meu medo. Na noite do dia seguinte, me deixaram na estrada Parque Taguatinga-Guará. A inocência, a ingenuidade e a esperança, todas as fantasias da juventude tinham sido enterradas.

Na segunda-feira, M.A.C. não foi ao colégio nem compareceu aos exames. Mais um desaparecido naquele dezembro em que deixei a cidade. Durante muito tempo a memória dos gritos de dor trazia de volta o rosto assustado do colega.

Trinta e dois anos depois, na primeira viagem de volta à capital, encontrei um amigo de 1969 e perguntei sobre M.A.C.

“Está morando em São Paulo”, disse ele. “Talvez seja teu vizinho.” “Pensei que tivesse morrido.”

“De alguma forma ele morreu. Sumiu do colégio e da cidade, depois ressuscitou e foi anistiado.”

“Exílio”, murmurei.

“Delação”, corrigiu Carlos Marcelo. “M.A.C. era um dedo-duro. Entregou muita gente e caiu fora.”

Senti um calafrio, ou alguma coisa que lembra o medo do passado.

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minutoS De eSPerança

Dezembro, 1969

M.A.C. decidiu ir a pé até a rodoviária: comeria um pastel e seguiria para a W3. Numa tarde assim, seca e ensolarada, dava vontade de caminhar, mas preferi pegar o ônibus uma hora antes do combinado: saltaria perto do hotel Nacional, desceria a avenida contornando as casas geminadas da W3. A cidade ainda era estranha para mim: espaço demais para um ser humano, a superfície de barro e grama se perdia no horizonte do cerrado. A Asa Norte estava quase deserta, era sexta-feira.

Catharina Gaidzinski Rosa e Silva & Lara Del Bianco Alvesa partir da introdução do conto Exílio, de Milton Hatoum.

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Eu era um simples jovem adulto metido a escritor, um sem família que ganhava a vida como “faz-tudo”. Já M.A.C., não. Eu, na verdade, até aquele ponto nem sabia quem ele era, ou qual era seu nome real. Nunca o tinha visto pessoalmente. Porém, falando a verdade, eu nem me preocupava com isso. Ele era meu aliado, mas apenas contra o governo e suas barbaridades. Nós simplesmente nos comunicávamos por cartas, e foi assim que combinamos tudo. Logo eu soube um pouco sobre a vida dele: era um senhor respeitável, beirando os 50 anos, dono de uma lanchonete, com dois filhos e esposa. Mas não tínhamos muitas oportunidades de nos conhecer, a não ser em alguma manifestação. A única coisa que tínhamos em comum era a vontade de ter uma voz e podermos ajudar o nosso Brasil. Eu não queria virar socialista, não, de jeito nenhum. Eu queria era poder votar, e votar em alguém que não manipularia o nosso povo. O fato era: talvez, algum dia, a ditadura militar pudesse acabar. E com isso, sim, eu me preocupava. E então lá fui eu, rumo a mais uma das manifestações contra a opressão em que vivíamos..

Cheguei não muito cedo, nem muito tarde. Várias pessoas já aguardavam, excitadas, pela manifestação. Avistei, de longe, alguns conhecidos, que acreditei terem abarcado a minha causa. Estes, por sua vez, convidaram outras pessoas, que então convidaram outras e mais outras. Mas eu não tinha tempo para parar e conversar. Eu estava determinado, não podia perder o foco. Combinamos algumas estratégias e seguimos passo a passo. Após algum tempo, mais gente aderiu à passeata. Eu já tinha participado e até mesmo ajudado a começar algumas manifestações, mas nenhuma até agora fora tão grande. Isso só aumentou minhas esperanças.

Depois de algum tempo protestando, exibindo meus olhos brilhantes de orgulho e erguendo cartazes de oposição,

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eu já tinha esquecido completamente de M.A.C. Eu estava realizado, minhas correntes elétricas estavam à flor da pele. Foi aí que, num piscar de olhos, vi muita gente sendo agredida, arrebatada! Era o nosso pesadelo: os militares haviam entrado em combate.

Vi cenas aterrorizantes que nunca imaginei que veria pessoalmente. As pessoas sangravam, muito machucadas, por resistirem à tentativa dos militares de as levarem. Outras corriam horrorizadas tentando fugir. Foi aí que tudo se transformou em breu. Eu não via nada, não sentia nada. Então acordei numa cela, escura e malcheirosa. Eu estava acorrentado, não podia me mexer. Sentia muita tontura. Minha cabeça doída. Presumia que tivesse sido acertado por um cassetete. Então, logo vi um homem, acorrentado ao meu lado.

— Boa tarde — disse ele — você também estava na manifestação na W3?

Respondi positivamente com a cabeça e então pude ver seu rosto arrebentado.

— Meu nome ém Manuel Armando de Carvalho, a propósito.

E contou-me de sua vida, talvez na esperança de que alguém fosse testemunha de sua passagem por ali.

— Nós seremos mortos, sabia?

Fiz que sim com a cabeça novamente.

— Há muito tempo me oponho aos milicos tentando uma forma que dê resultado. Imagino se agora tenha dado — terminou, dando leves risadas irônicas.

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E continuamos a conversa, ou, pela percepção de uns, ele continuou a conversa.

— Do que gosta?

Eu continuava meio confuso e sem vontade alguma de falar. Sem resposta, ele continuou:

— Eu gosto de escrever cartas. Escrevo para muita gente. Mas alguns deles nem sabem quem eu realmente sou. Assino com as iniciais.

Foi aí que comecei a me dar conta, tudo fazia sentido. Mulher, dois filhos, cartas, manifestação na W3, M.A.C...

Então ouvi um grunhido. Era a porta da cela abrindo. Dois militares robustos, sem se manifestarem, tiraram as algemas de M.A.C , pegaram-no pelos braços e saíram levando-o de forma grosseira. Seria a primeira e última vez que eu o veria. E eu sentia culpa por isso. Ele morreria sem nem mesmo saber que nos conhecíamos já fazia algum tempo. Então, continuei ali, sozinho, não pensando no que poderia acontecer, mas, no fundo, eu já sabia, e temia. Até que ouvi o mesmo grunhido que ouvira quando M.A.C. fora levado. Eram os militares, prontos para me levar para o meu abate.

Entrei numa sala escura, nada convidativa. Fui amarrado num pau-de-arara, sabendo que era o meu fim. Ouvia gritos nas salas ao lado, gritos de horror, de perdão, de pedidos de piedade. Mas eu não queria gritar. Eu temia morrer, mas não adiantaria. Eu era só mais um dentre muitos que lutavam contra as forças militares do país. Havia muitos brasileiros, mas um só governo. Eu era só mais um, mas um “só mais um” que morreria tentando abrir o olho do país. Eu sentia minhas costas quentes, uma dor interminável, o sangue escorrendo da nuca.

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confiança DemaiS

Dezembro, 1969

M.A.C. decidiu ir a pé até a rodoviária: comeria um pastel e seguiria para a W3. Numa tarde assim, seca e ensolarada, dava vontade de caminhar, mas preferi pegar o ônibus uma hora antes do combinado: saltaria perto do hotel Nacional, desceria a avenida contornando as casas geminadas da W3. A cidade ainda era estranha para mim: espaço demais para um ser humano, a superfície de barro e grama se perdia no horizonte do cerrado. A Asa Norte estava quase deserta, era sexta-feira.

Fernanda Sanchez Bachega & Maria Antonia Kluger de Campos Melloa partir da introdução do conto Exílio, de Milton Hatoum.

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Como adorava comer pastel, pedi uma informação para um homem que estava na rodoviária, até que bem vestido e parecia ser uma boa pessoa.

— Com licença, sou novo aqui na cidade e adoraria comer um bom pastel.

— Somos dois! Estava só esperando o ônibus passar por aqui para me levar até perto da pastelaria do Zequinha, que fica do outro lado da cidade!

Confiei no rapaz, pois me parecia um homem honesto.

Entramos juntos no ônibus. Papo vai, papo vem, e, quando me dei conta, já tinha falado demais sobre minha vida pessoal.

O rapaz se chamava Rogério e continuou me perguntando discretamente sobre minha vida, só que comecei a ficar atento e a disfarçar nas respostas e nas minhas feições de preocupação.

Tentando mudar de assunto, perguntei a Rogério sobre sua vida. Isso também servia para mostrar que eu não achava nada demais perguntar sobre a vida pessoal dos outros. Juntando todas as informações, descobri um pouco da vida dele; não tinha filhos nem esposa, morava sozinho numa casa afastada da cidade.

Após um bom tempo, o ônibus parou, olhei pela janela e parecia um deserto, não tinha nada. Fiquei um pouco assustado, pois pensei que o ônibus tinha quebrado, mas, na verdade, era ali a parada. Rogério falou que tínhamos de descer. Achei muito estranho, mas, mesmo assim, desci, e a primeira coisa que ele falou foi para eu obedecer-lhe, já que agora sabia muita coisa sobre minha vida.

No ônibus, já estava amedrontado, no entanto, depois que ele me falou aquilo, minhas mãos começaram a tremer, e meu

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coração parecia querer sair pela boca.

Começamos a andar por um bom tempo e chegamos até um posto de gasolina, onde Rogério me falou para ir até uma máquina e retirar todo o dinheiro que eu possuía. Para minha própria segurança, decidi que deveria sacar o dinheiro.

Entreguei-o a Rogério que me arrastou até o banheiro do posto e lá tirou tudo de mim, tirou minha vida.

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o encontro

Dezembro, 1969

M.A.C. decidiu ir a pé até a rodoviária: comeria um pastel e seguiria para a W3. Numa tarde assim, seca e ensolarada, dava vontade de caminhar, mas preferi pegar o ônibus uma hora antes do combinado: saltaria perto do hotel Nacional, desceria a avenida contornando as casas geminadas da W3. A cidade ainda era estranha para mim: espaço demais para um ser humano, a superfície de barro e grama se perdia no horizonte do cerrado. A Asa Norte estava quase deserta, era sexta-feira.

Ana Carolina Rached Catelli & Lara Carneiro Feresa partir da introdução do conto Exílio, de Milton Hatoum.

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Sentia falta dos velhos tempos, no interior de São Paulo, onde nasci e cresci. Me sentia num completo exílio, longe de meus amigos e da minha família. Vim para cá por conta da ditadura. Sou escritor, e meus livros foram censurados. Me senti na obrigação de me mudar por causa do medo e da perseguição com que os escritores censurados lidam. Era apenas uma passagem, eu logo iria para a Europa, onde me sentiria seguro. Meu endereço no interior já tinha sido visitado pelos militares. E parei de me comunicar com minha família para não prejudicá-la.

Como ia dizendo, as ruas da Asa Norte estavam vazias. O silêncio dominava. Era quase a hora do almoço, então decidi tomar um lanche e me encontrar logo com o M.A.C.

Cheguei no horário certo, esperando M.A.C com ansiedade. Quando ele finalmente chegou, com seus óculos escuros e seu terno formal, se surpreendeu com o meu short simples e minha camiseta barata. Eu estava quase sem dinheiro, e ele era o meu único recurso. Éramos amigos de infância. Estudávamos na mesma escola. Certa vez chegamos até a brigar pelo coração de uma garota. Ele estava fino e elegante e eu... Eu estava desajeitado, de qualquer jeito. Para mim estava ótimo, mas perto dele me senti envergonhado. M.A.C continuava o mesmo chato e metido de sempre.

Ele me fez uma proposta de trabalho. Não escutei muito bem qual era, mas aceitei sem pensar duas vezes, afinal, estava precisando de um emprego urgente, ou não teria como sobreviver. M.A.C me mandou assinar um papel, eu queria tanto o emprego que nem pensei, e assinei mesmo sem ler. E ele me disse que eu já o tinha conseguido, e meu primeiro dia seria o seguinte mesmo, às 8h, e me deu um cartão com o endereço.

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Saí de lá aliviado por ter conseguido um emprego, mas estava com medo. Não havia escutado do que o se tratava e, além disso, achei estranho ele já ter me contratado, eu apenas havia aceitado a proposta e assinado um papel. Enfim, o que importava era que eu conseguira o que queria.

Fui para o apartamento que aluguei, ele era velho e pequeno. Tudo que conseguira com o que restavam de minhas economias. Isso mudaria com o emprego que arrumara, com ele conseguiria comprar minha própria casa.

O dia passou rápido, acordei feliz, aquele seria meu primeiro dia de trabalho. Passei em uma padaria, tomei um café e comi duas torradas e fui para o local combinado.

Como não achei um ônibus que fosse até o local do meu novo emprego, eu chamei um táxi, gastando minhas últimas economias. Quando disse o endereço para o taxista, ele me olhou com uma expressão estranha, mas não disse nem perguntou nada.

Comecei a perceber que havia algo de errado: estávamos em uma estradinha de terra. Até que, por fim, o taxista parou em frente a uma base militar. Será que eu tinha me alistado no exército sem saber?

Estava me aproximando, quando um cerco de mais de trinta militares se fechou ao meu redor. Nossa, como eu odiava aqueles homens. Foi então que eu vi o M.A.C usando um uniforme de general. Ele fez um sinal com a mão direita e todos os homens, ao mesmo tempo, sacaram suas armas, prontos para atirar. A última coisa da qual me lembro foi um clarão e depois a escuridão total.

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UM ORIENTAL NA VASTIDÃOMilton Hatoum

Para Drauzio Varella

À memória de Maria Lucia Medeiros, Lucinha

A voz de um estrangeiro pronunciou meu nome, e o homem identificou-se: cônsul do Japão em Manaus. Pediu-me que fosse encontrá-lo depois do almoço no porto. Às duas horas, no barco do consulado, acrescentou.

Podia adiantar o assunto?

Kazuki Kurokawa, disse o cônsul, secamente.

Ele está em Manaus?

Não posso explicar agora.

Agradeceu, despediu-se e desligou o telefone.

Kazuki Kurokawa: ainda me lembrava dele e guardara o presente que me deu durante sua breve passagem por Manaus. Eu era pesquisadora e trabalhava no Departamento de Cooperação Científica da Universidade do Amazonas quando

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recebi um fax de Kazuki Kurokawa: queria fazer um passeio pelo rio Negro, mas só podia passar dois dias na cidade. Não mencionou reuniões de trabalho com pesquisadores da universidade nem do INPA. Ao ler seu currículo, soube que ele era biólogo de água doce e professor aposentado da Universidade de Tóquio. Experiência de campo na África portuguesa e nas Filipinas.

Fiz uma reserva no hotel Tropical e às treze horas de um sábado fui ao aeroporto. Quando a porta da sala de desembarque se abriu, um bafo quente e úmido paralisou os passageiros. Desse torpor surgiu um homem miúdo, carregando uma sacola vermelha, Os olhinhos apertados e vivos procuraram a placa com o seu nome, e logo a cabeça branca veio na minha direção. Não parecia combalido pelo fuso horário, nem pelas vinte horas de voo com três escalas, nem pelo calor do começo da tarde. Com reverência, me ofereceu um pequeno estojo com tampa de madeira. Dentro do estojo vi um rolinho de papel-arroz com ideogramas.

Uma lembrança do Japão, ele disse, com sotaque de Portugal.

Pedi que traduzisse os ideogramas.

“No lugar desconhecido habita o desejo.”

Sem saber o que dizer ou comentar, agradeci de novo e disse que ia acompanhá-lo até o hotel.

Vamos direto ao porto, ele disse.

Tinha certeza de que não queria descansar? Depois comeríamos uma peixada...

Recusou, balançando a cabeça e sorrindo. E então revelou um sonho antigo, desde a infância: viajar pelo rio Negro.

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Sua profissão levara-o a terras distantes e, em cada rio que navegava na África e na Ásia, aumentava o desejo de conhecer o maior afluente do Amazonas. Não tinha tempo para uma longa viagem. E acrescentou: tempo de vida.

Quer dizer que tinha vindo de tão longe só para dar um passeio pelo rio Negro?

Mas isso é tudo, resumiu Kurokawa.

Uma sacola era sua única bagagem. Fomos de táxi ao porto da Escadaria e, no trajeto, passamos em frente ao teatro Amazonas, que Kurokawa admirou em silêncio. No porto, acenei para Américo, um dos barqueiros que ficavam na beira da praia, à espera de turistas. Kurokawa quis ir sozinho até o Mercado Municipal: só ia dar uma olhada nos peixes e ver as pessoas.

Ele veio de São Paulo?, perguntou Américo.

Do Japão, eu disse.

Combinei com Américo o itinerário do passeio: desceríamos o paraná do Careiro até a costa do Murumurutuba, ilha do Maneta e voltaríamos pelo rio Amazonas, com uma parada no encontro das águas. No máximo duas horas. Américo concordou e esticou o beiço para a praia: Kurokawa conversava com uma cabocla. Pareciam animados com a conversa; o cientista tocou no ombro da mulher, e os dois riram quando ele apontou o rio Negro. Despediu-se com um aperto de mão e caminhou até o barco com passos apressados, chapéu de palha na cabeça. Comprara também uma isca de corrico, um carretel de linha de náilon e uma rede vermelha com listas brancas. Agradeceu a espera, pôs a tralha no barco e ficou de pé no convés. Américo, talvez para se exibir, tocou o sininho da partida.

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Atravessamos o rio Negro e entramos no furo do Paracuúba. Kurokawa não trouxera máquina fotográfica, filmadora, nada. No meio do furo, ele disse:

Vamos sair nos lagos de águas claras, não é? Depois vamos descer o Solimões até o Amazonas. O mesmo rio com nomes diferentes.

Américo diminuiu a velocidade: como ele sabia disso?

Kurokawa sorriu, os olhinhos quase fechados, deixando uma ponta de mistério, que só cresceu durante o passeio. Depois disse que havia lido alguma coisa sobre a fauna e a flora do rio Negro: conhecia as pesquisas de Ducke, O’Reilly Sternberg e Vanzolini. E explicou, usando termos científicos, por que as águas do Negro eram escuras como a noite. Passou o resto da viagem calado, observando a floresta, os lagos e o rio. Tive a impressão de que ele sabia mais coisas do que eu, mais do que Américo, e que aquele passeio era uma viagem de reconhecimento.

De volta ao porto, Kurokawa não arredou o pé do barco. Sentado na proa, observava o rebuliço na praia. Então ele se levantou, aproximou-se de mim e segurou minhas mãos. Os olhinhos dele me encararam por alguns segundos. Disse que não queria tomar meu tempo. Ainda apertava minhas mãos quando prosseguiu:

Se a senhora não se importar, alugo o barco do comandante Américo e faço uma viagem. A minha viagem. Armo a rede no convés e durmo aqui mesmo. Segunda-feira de manhã eu entrego o barco para o comandante e vou direto ao aeroporto.

Insisti para que o barqueiro o acompanhasse. Kurokawa agradeceu, queria viajar sozinho.

Américo concordou. E eu desconfiei: já deviam ter acertado

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alguma coisa durante o passeio. Temi pelo velho cientista navegando sozinho por aquele mundo de água. Mas era um desejo, um sonho dele. Kurokawa parecia resoluto; desceu do barco para se despedir de mim. Afastou-se de Américo e disse em voz baixa: Vou voltar... Um dia vou voltar, e a senhora será convidada para fazer outro passeio.

Nunca mais o vi. De vez em quando me lembrava da figura magra e pequena, o olhar extasiado nas margens do Negro e do Amazonas. Meses depois, quando encontrei Américo no Mercado Municipal, perguntei sobre Kurokawa. Entregara o barco na hora combinada?

Hora e lugar, disse Américo. Quase não reconheci o japonês. Moreninho, parecia um caboclo de cabeça branca. E ainda aprendeu umas palavras da nossa fala. Me disse: Obrigado, mano, teu barco é pai-d’égua. Pagou o dobro do que pedi. Curvou a cabeça, agradeceu em japonês e deu adeus com um sorriso miúdo. Eu disse: Arigatô, saionara, Kurokawa San. Palavras que aprendi com turistas. Mas aquele Kurokawa não era turista. Será que ele vai voltar?

Pensava na pergunta de Américo quando fui ao encontro do cônsul e seu secretário. Os dois vestiam terno e gravata e estavam muito sérios. Na popa da lancha do consulado, a bandeira do Japão entre as do Amazonas e do Brasil.

A senhora fez uma viagem com o professor Kazuki Kurokawa, disse o cônsul. Há uns quatro anos, não é?

Confirmei, e perguntei por ele.

Depois esclareço. Agora peço que a senhora nos acompanhe. Vamos subir o rio Negro. Viagem por conta do governo do Japão.

Disse que eu não podia demorar, pois tinha que voltar ao

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trabalho no campus.

Nosso embaixador pediu autorização da reitoria, disse o cônsul, mostrando uma folha de papel timbrado com a assinatura do reitor.

Subimos o rio Negro durante mais de três horas. Ninguém dizia nada sobre aquela viagem a um lugar desconhecido. Atravessamos o arquipélago das Anavilhanas, e mais acima da ilha do Cumprido o barco entrou num afluente do Negro. Lembro de ter visto um motor carregado de piaçaba, e outro que fisgava peixes ornamentais. O sol começava a declinar, as margens se estreitavam, e já não se viam palafitas nem canoas. Nenhum sinal humano. Um bando de periquitos encheu o fim da tarde com ruídos estridentes. Logo depois, o céu silenciou. E o silêncio subtraiu a noção do tempo. Quando entramos num outro rio ainda mais estreito, o comandante apontou o mapa: paraná da Paz. O cônsul fez um sinal com as mãos, o barco navegou lentamente, sombreado por uma vegetação alta e espessa; depois seguiu por uma curva que parecia terminar na floresta. O comandante desligou o motor, e com um varejão ele conduziu o barco entre galhos e plantas aquáticas até alcançar um remanso. Era um remanso grande, quase um lago, ou belo como um lago de águas espelhadas. Um círculo de águas calmas. O cônsul carregou uma caixa de madeira para a proa, abriu-a, e tirou de dentro outra, menor, coberta por uma bandeira do Japão. Com um gesto solene, ele pendurou a bandeira na parede da cabine e se dirigiu a mim:

O professor Kurokawa deixou uma carta-testamento. Pediu duas coisas: que as cinzas do corpo dele fossem espalhadas nas águas deste lugar. E que a senhora fizesse isso.

Lembrei da tradução dos ideogramas e fiquei emocionada.

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Quase ao mesmo tempo me surpreendi com a notícia da morte de Kurokawa. Pensei nele com saudade. E não escondi minha tristeza. Demorei um pouco para perguntar: Por que as cinzas aqui?

Ninguém sabe, disse o cônsul. Só ele sabia. Agora faço esse pedido em nome do governo do Japão.

O cônsul tirou uma bússola do bolso. Ele e o secretário se viraram para um ponto oposto ao do crepúsculo. O Oriente.

Por favor, espalhe as cinzas sem pressa. Assim temos tempo para a cerimônia.

Perfilados, os dois começaram a cantar o hino do Japão, enquanto eu enchia as mãos de cinzas e as jogava lentamente na água serena. Cinzas do cientista Kazuki Kurokawa. Repetiram mais duas vezes o canto do hino, breve, e, quando a cerimônia terminou, o sol sumia na selva, deixando um vestígio vermelho na natureza. Em silêncio, eles contemplaram o outro lado do horizonte e curvaram o corpo. Eu os imitei.

Depois, diante da vastidão, recordei a tradução dos ideogramas e indaguei calada a razão misteriosa das cinzas do cientista no fundo do rio Negro. Não havia mais claridade, e a superfície escura do remanso alcançava o céu.

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um tal Sr. KiicHi

A voz de um estrangeiro pronunciou meu nome, e o homem identificou-se: cônsul do Japão em Manaus. Pediu-me que fosse encontrá-lo depois do almoço no porto. Às duas horas, no barco do consulado, acrescentou.

Bernardo Mascarenhas Ganem & Felipe Paixão Côrtes Centenoa partir da introdução do conto Um oriental na vastidão, de Milton Hatoum.

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Nunca tinha visto aquele cidadão em toda minha vida. Se vi, não me lembrava. Mas, de qualquer modo, a curiosidade me obrigava por um motivo desconhecido a ir ao encontro daquele japonês.

No caminho para o encontro, me perguntei o porquê daquele ilustre japonês ter convidado a minha humilde pessoa. Andando pelas ruas de Manaus, perguntas desse tipo teimavam em não sair de minha cabeça, mas, mesmo assim, eu tentava esquecê-las, já que problemas não me faltavam. Cheguei ao cais do porto com pontualidade britânica. Não tive dificuldades em achar o tal barco. Era belo e grande, vermelho e com palavras escritas em japonês. No seu casco, estava escrito “Consulado do Japão” em letras garrafais. Ao me aproximar, me deparei com dois seguranças japoneses na porta: um tinha bigodes longos e o outro rabo de cavalo.

Me disseram que o Sr. Kiichi me aguardava no interior do barco. Logo que entrei, Sr. Kiichi disse com voz grossa, porém suave:

— Tome assento, por favor.

— Perdão, desculpe-me a curiosidade, mas do que se trata a conversa? — questionei-o.

— Do seu pedido — respondeu-me.

Na hora não entendi do que se tratava, mas depois lembrei-me do pedido que havia feito ao banco para financiar minha casa própria. Mas por que um cônsul japonês era quem me dirigia a palavra?

— O senhor fez seu pedido no mês passado, certo? — perguntou-me.

— Certo — respondi com firmeza.

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— O senhor está certo disso?

— Sim.

— Muito bem, Sr.Mattos, considere-se um japonês!

Aquele nome soou estranho aos meus ouvidos. Perguntei:

— Perdão, poderia repetir meu sobrenome?

— Sr. Mattos. Não é o senhor que pediu a troca de nacionalidade?

Tudo se esclareceu naquele instante. O estranho e ilustre cônsul do Japão, o barco e toda essa conversa sem clareza. Percebi que havia um engano. Meu sobrenome é Matto e não Mattos. Também não pedi nenhuma troca de nacionalidade, apenas um empréstimo. Haviam confundido meu nome com o de um estranho, coincidentemente com o sobrenome parecido.

Esse engano foi causado apenas por uma troca de sobrenomes diferenciados por uma letra e uma mera coincidência.

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Participar do Contando e do Ilustrando foi uma experiência incrível e única. Fazer uma redação em dupla pelo computador e distante um do outro! Foi realmente maravilhoso conseguirmos fazer isso, sendo que escrevemos diferente e temos ideias diferentes. Quando soube que havíamos ganhado, minhas mãos começaram a tremer e eu só conseguia olhar para minha parceira e ficar sorrindo, sem realmente compreender o que isso significava. Não trocaria essa sensação por nada.

Anna Carla Travessa Siervo

ILUSTRANDO O CONTANDO

Os alunos dos 9os anos ilustraram, individualmente, trechos (início, meio ou fim) dos contos de Milton Hatoum: Dois tempos, Exílio e Um oriental na vastidão. Antes de iniciar a produção, os alunos leram na íntegra o conto escolhido.

Doze ilustrações que melhor retrataram os contos do autor homenageado do Contando, Milton Hatoum, foram escolhidas pelas professoras do Departamento de Arte.

Dois tempos

Me senti muito realizada de ter ganhado o Ilustrando. Principalmente porque eu amo desenhar e foi um prazer fazer esse desenho. Adorei a proposta. Me senti lisonjeada de terem escolhido a minha ilustração. Obrigada.

Camila Maria Manssur Zarzur

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Eu não sabia que tinha ganhado o Ilustrando até que fui chamado pelo vigilante, desci até a sala onde me deram a notícia; fiquei feliz e surpreso.

Enrico Torriero Neto

Exílio

Gostei muito de participar do concurso Ilustrando! Eu não esperava ganhar o prêmio, e foi uma maravilhosa surpresa para mim.

Giulia Chiarella Simionato

Queria agradecer por ter ganhado o concurso Contando com minha ilustração. Não pensei que fosse ganhar, quando vi que havia muitos desenhos maravilhosos concorrendo com o meu, mas agora vejo que gostaram. Desde pequena, eu amo desenhar; sempre que possível, estou desenhando. E esse concurso, além de muito interessante, é, também, muito divertido, uma oportunidade única e super importante. Aliás, não é todo dia que trabalhos feitos por nós, alunos, são publicados em um livro. Estar aqui hoje, recebendo os parabéns de todos vocês é simplesmente incrível. Agradeço mais uma vez por terem escolhido meu trabalho; agradeço também a nossas professoras Sophia e Valéria que nos incentivaram a fazer nosso melhor. Obrigada. Julia R. de Vasconcellos

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Foi uma surpresa ganhar o Contando, quem diria o Ilustrando? Fico muito feliz de fazer parte disso, de poder homenagear um escritor tão incrível como o Milton Hatoum. Ao escrever e desenhar, senti uma forte conexão emocional com os personagens e realmente espero que vocês gostem deles tanto quanto eu. Muito obrigada e parabéns a todos.

Lara Del Bianco Alves

Gostei muito de participar do Contando, foi uma oportunidade única; espero que os outros anos também tenham essa experiência. Eu não esperava ganhar o prêmio do desenho; todos os textos e desenhos estão lindos, parabéns a todos!

Luíza O. Caminha Sant’Anna

Adorei participar desse concurso, já que ele junta o meu amor pela arte e pela literatura.

Manoela Sgai Morel

Adorei participar do Contando, foi uma experiência única. Não esperava ganhar, havia vários trabalhos ótimos.

Giulia Russo Perasso

Um oriental na vastidão

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Participar desse concurso foi uma experiência fantástica!! Principalmente porque eu amo desenhar e me dediquei muito a meu trabalho. Adorei e espero poder participar de outros eventos como esse. Agradecimentos às professoras de Arte do 9º ano.

Mariana L. O. Real Pereira

Eu fiquei surpresa de ter ganhado, eu amo desenhar e acho que é uma maneira de as pessoas se soltarem e se sentirem livres. Este ano não há muitos trabalhos de Arte, então fiquei muito feliz por ter me saído bem. Achei muito divertido e acho que deveríamos ter mais concursos como esse.

Sofia Vespa Tedesco Silva

Adorei participar da atividade proposta; foi uma experiência incrível, que, por sorte, tivemos a oportunidade de conhecer. Para mim, foi um prêmio inesperado e muito gratificante! Todos os desenhos e textos que vi estavam excelentes, parabéns a todos!

Teresa Nocito Salamone

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EXPRESSANDO

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Participar do Contando foi uma experiência muito boa. Fiquei feliz porque eu nunca havia ganhado um concurso de redação. Ana Carolina Rached Catelli

Eu adoro escrever, então criar um conto foi uma experiência muito divertida. É uma honra ganhar o concurso! Gostaria de agradecer à minha parceira, Pietra, e também à minha professora e ao Milton Hatoum por terem me dado essa oportunidade incrível. Muito obrigada!Ana Catharina Konzen Schmidt de Oliveira

Participar do Contando e do Ilustrando foi uma experiência incrível e única. Fazer uma redação em dupla pelo computador e distante um do outro! Foi realmente maravilhoso conseguirmos fazer isso, sendo que escrevemos diferente e temos ideias diferentes. Quando soube que havíamos ganhado, minhas mãos começaram a tremer e eu só conseguia olhar para minha parceira e ficar sorrindo, sem realmente compreender o que isso significava. Não trocaria essa sensação por nada.Anna Carla Travessa Siervo

CONTANDO

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93Quando fiquei sabendo sobre o concurso, não esperava que chegasse tão longe. Esperava que meu nome fosse o último colocado. O que me deixou mais pessimista para o concurso foi o fato de que eu e meu parceiro fizemos a redação nos últimos dias. Quando a minha professora chegou à sala de aula, eu já havia esquecido o concurso. Foi então que ela tirou o papel com os finalistas da nossa sala. Havia três. Estava pessimista. Nos dois primeiros, não havia meu nome nem o de meu parceiro. Mas, na terceira dupla, ela pronunciou meu nome e o de meu colega e ficamos muitos felizes. É uma honra ser um finalista desse Contando.Bernardo Mascarenhas Ganem

Participar desse concurso foi uma ótima experiência e é uma honra vencê-lo. Achei muito interessante e divertido escrever um texto com uma amiga, continuando um parágrafo de um texto originalmente escrito por um ótimo autor da literatura brasileira. É um grande prazer fazer parte dos ganhadores do Contando e acho que vai ficar como uma boa lembrança. Espero poder participar de outros concursos como esse.Camila Min Ji Eum

Participar do Contando foi uma experiência incrível, imagine ganhar, então! Escrever já é um prazer, e a escola proporcionar esse tipo de concurso é realmente incrível! Isso incentiva os alunos e, para os que querem virar escritores, é gratificante! Fico muito feliz de ser uma das alunas que tiveram a honra de ganhar. Desde que anunciaram o concurso, fiquei empolgada para soltar a imaginação. O engraçado de ganhar foi o fato de que eu e minha colega fizemos na última hora, mas, mesmo assim, com muito carinho e esforço. A emoção de vencer é fantástica. Obrigada Colégio Dante Alighieri por nos proporcionar a maravilhosa oportunidade!Catharina Gaidzinski Rosa e Silva

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Participar do Contando foi uma experiência inovadora, divertida e muito boa. No começo, parece ser difícil e complicado, mas com empenho e dedicação podemos realizá-lo tranquilamente. Ganhar o Contando foi uma surpresa emocionante, o que me motiva a continuar escrevendo boas redações e tentando sempre melhorar. Daniel Mathias Rosenfeld

Foi uma honra participar desse projeto, um dos melhores já criados pelo Colégio Dante Alighieri. Penso que foi muito bem elaborado e se encaixa no jeito que os alunos gostam de trabalhar, em dupla, com bastante tempo para pensar e ter boas ideias. Eu, particularmente, gosto muito de trabalhar em dupla e tenho uma facilidade maior em fazer bons textos com um prazo longo para entrega. Foi muito interessante, e eu aprendi muito enquanto fazíamos, já que podíamos trocar ideias e cada um aprendia com o que o outro já sabia sobre redação. Logo que soube que havíamos ganhado, fiquei muito feliz, pois não estava muito confiante em nosso texto, mas, na verdade, eu sabia que tinha ficado bom.Felipe Paixão Côrtes Centeno

Escrever esse conto com a Maria Antonia foi uma atividade muito prazerosa, pois somos grandes amigas há muito tempo. Essa amizade nos permite ler o pensamento uma da outra e colocar em evidência, em linguagem literária, nossos valores de vida.Fernanda Sanchez Bachega

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95Participar do projeto Contando foi uma experiência muito boa, construtiva e nova para mim. O desenvolvimento do projeto foi inovador e, ao mesmo tempo, um grande desafio. Eu nunca havia escrito uma história em dupla, principalmente em um evento de importância maior. Foi muito bom desenvolver minha criatividade e ter uma grande liberdade literária. Ganhar o concurso foi uma surpresa e muito boa. Eu e meu colega realmente não esperávamos que nossa redação chegasse a ganhar, e acho que essa vitória é um incentivo para começar a escrever melhores redações e, quem sabe, até, algum dia, acabar de escrever um livro que já comecei. Espero que este seja só o início.Fernando Moreira Kanarek

Participar do Contando foi uma ótima experiência, pois desde pequena sempre gostei de escrever. Além disso, pude realizar a experiência com uma amiga ao meu lado, o que deixou tudo mais divertido. Poder criar histórias novas é sempre uma experiência maravilhosa, porque podemos inventar novos personagens e situações para eles, vivendo muitas aventuras sem sair de onde se está. Fiquei muito feliz de poder participar desse concurso, porque, acima de tudo, eu me diverti bastante! Gabriela Rodrigues Hissa Amorim

Participar do Contando foi uma experiência inexplicável, uma oportunidade única em minha vida. Desde o começo, quando nos apresentaram o concurso, fiquei muito empolgada, não pelo prêmio, e sim pelo fato de podermos trabalhar em conjunto e darmos o melhor de nós. Eu e minha colega vínhamos planejando a redação há semanas, o que acabou sendo muito engraçado, pois a fizemos de última hora, mas, de qualquer forma, já tínhamos em mente o que faríamos. E, justamente por isso, ficamos muito surpresas ao ganhar, não esperávamos ser premiadas. Foi uma grande emoção conseguir vencer e estou muito lisonjeada. Obrigada, Colégio Dante Alighieri, por nos proporcionar essa maravilhosa experiência.Giulia Martinelli Casulli

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O Contando foi uma ótima experiência. Eu nunca havia ganhado um concurso de redação antes. Eu adorei participar, mesmo que tenha sido difícil. Valeu a pena. Lara Carneiro Feres

Foi uma surpresa ganhar o Contando, quem diria o Ilustrando! Fico muito feliz de fazer parte disso, de poder homenagear um escritor tão incrível como o Milton Hatoum. Ao escrever e desenhar, senti uma forte conexão emocional com os personagens e realmente espero que vocês gostem deles tanto quanto eu. Muito obrigada e parabéns a todos.Lara Del Bianco Alves

Receber a noticia de que havia ganhado o concurso Contando foi além das expectativas. Ler e escrever sempre foram uma paixão, por isso me destacar com um texto foi muito emocionante. Foi uma vontade muito grande minha, não de ganhar um prêmio, mas de saber que um professor escolheu o meu texto no meio de tantos. Ganhar esse concurso me fez abrir os olhos para outras coisas na vida, principalmente a arte de expressão, quando um texto consegue dizer ao leitor tudo o que está sentindo e consegue mostrar sua opinião sobre um assunto, apenas com algumas palavras. O Contando foi muito mais que um concurso de redação, por isso vou guardar esse título para sempre comigo. Laura Gragnano Puttinato

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97Poder estar aqui, recebendo um prêmio decorrente de um concurso proporcionado pela escola, ainda mais feito com uma amiga, me enche de orgulho. Eu sempre estudei no Dante e já testemunhei diversos concursos que envolvem redações e contos pelo Departamento de Língua Portuguesa; mas nunca havia tido a surpresa e alegria de vencê-los. O Contando vai muito além de uma competição, é uma maneira de fazer com que os alunos se envolvam mais com a literatura. Gostaria de agradecer muito a nossa professora, Sophia, e dizer que eu a admiro tanto como pessoa quanto como educadora. O incentivo que ela nos deu foi extremamente importante. Posso dizer, com enorme certeza, que esse prêmio representa não só uma conquista, mas uma grande inspiração para continuar escrevendo.Luísa Esper Martins de Andrade

Achei um trabalho interessante, pois poucas vezes fazemos redação em dupla, embora seja mais difícil, porque os parceiros têm que entrar em acordo sobre como será a história. No Contando, tivemos esse desafio, e gostei disso. Quando recebi a notícia de que eu e minha colega tivemos o nosso conto escolhido e que seria publicado em um livro, sinceramente fiquei bem impressionada porque não estava esperando por isso. Fizemos um conto que, apesar de ter sido construído por duas pessoas, seguiu uma linha de pensamento.Maria Antonia Kluger de Campos Mello

Eu gostei muito de participar do Contando; foi uma experiência muito legal até porque, além de poder desenvolver a história, tive a chance de fazer isso com uma amiga. E eu estou me sentindo muito orgulhosa por termos conseguido fazer a nossa história ficar boa a ponto de ficarmos entre os vencedores. Então, eu estou muito feliz, pois eu me diverti muito. Maria Eduarda Santos dos Reis

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98 Escrever o Contando foi uma experiência única. Poder trabalhar com a escrita, que eu adoro, junto com minha amiga, nos aproximou. Achávamos que escrever o conto seria trabalhoso e cansativo, mais uma obrigação. Porém, com o passar do tempo, percebemos que estávamos erradas, nos divertíamos ao escrever nossa história. Não esperávamos ganhar o concurso, pois nunca pareceu uma competição entre alunos, mas uma forma de aprendizagem. Gostaria de agradecer à professora Sophia, que nos ajudou no decorrer do concurso, dando conselhos, nos incentivando a fazer um bom trabalho. Esse prêmio representa não só uma vitória, mas também um incentivo para continuar escrevendo.Maria Paula de Castro Vanzo Reis

Foi muito gratificante ter participado do concurso proposto pelo Colégio Dante Alighieri e uma honra ter ganhado o Contando. Para mim, o concurso foi uma grande experiência e acho muito interessante a ideia proposta por ele, de conhecer e reconhecer grandes nomes da literatura brasileira e também de trabalhar junto com amigos, o que, com certeza, nos faz aprender ainda mais e levar isso para a vida inteira. Gostei muito de ter participado do concurso e espero participar de outros.Mariana Mascaro Yazbek

Fiquei muito surpresa quando falaram o meu nome em sala de aula, informando que meu conto havia sido um dos escolhidos. Acho que esse trabalho pode mostrar para todos nosso jeito de pensar e de nos expressar em apenas algumas linhas. Gosto de escrever e saber que gostaram de meu texto, já é um prêmio do qual nunca esquecerei.Marina de Arruda Pinto D`Andrea

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99Participar do Contando foi uma experiência inexplicável, uma oportunidade única. Devo dizer que no início foi difícil pensar no tema. Quando começamos, queríamos escrever uma boa redação, porém o nosso foco não estava no prêmio, e sim na nossa vontade de nos orgulhar de nós mesmas. Quando recebemos a notícia de que nossa redação fora uma das premiadas, ficamos surpresas, realmente orgulhosas de nós mesmas e, apesar do trabalho que tivemos, o resultado foi gratificante. Quero agradecer ao Colégio Dante Alighieri por nos proporcionar essa oportunidade maravilhosa.Paloma Lucia Ramirez

Quando a professora nos apresentou o Concurso contando, fiquei fascinada, pois desde pequena sempre gostei muito de escrever e, quando vi aquela oportunidade de poder recriar a história de Milton Hatoum, fiquei realmente muito animada. Durante a produção do texto, minha maior dificuldade foi ter um limite de linhas para desenvolvê-lo, mas no fim superamos esse desafio.Ganhar o concurso foi uma sensação extraordinariamente boa. Eu e a Ana Catharina produzimos em parceria um texto ótimo, e eu não poderia estar mais feliz com o resultado obtido pelo nosso esforço.Pietra Cipolla de Matos

Minha participação no Contando foi encarada como um desafio. Nós tentamos fazer o nosso melhor e, quando recebemos o resultado, foi uma sensação de satisfação e muita alegria. Foi realmente divertido e diferente, pois pudemos desenvolver a criatividade e cooperação em grupo. Foi uma experiência única.Rafaela da Conceição Machado

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Milton Hatoum nasceu em 1952, em Manaus (Amazonas), onde passou a infância e uma parte da juventude. Em 1967 mudou-se para Brasília, onde estudou no Colégio de Aplicação da UnB. Morou durante a década de 1970 em São Paulo, onde se diplomou em arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, trabalhou como jornalista cultural e foi professor universitário de História da Arquitetura. Em 1980, viajou como bolsista para a Espanha, onde morou em Madri e Barcelona. Depois passou três anos em Paris, onde estudou literatura comparada na Sorbonne (Paris III). Autor de quatro romances premiados, sua obra foi traduzida em doze línguas e publicada em catorze países.

Foi professor de literatura francesa da Universidade Federal do Amazonas (1984-1999) e professor visitante da Universidade da Califórnia (Berkeley/1996). Foi também escritor residente na Yale University (New Haven/EUA), Stanford University e na Universidade da Califórnia (Berkeley). Bolsista da Fundação VITAE, da Maison des Ecrivains Etrangers (Saint Nazaire,França) e do International Writing Program (Iowa/EUA).

Em 1989, sua primeria obra (Relato de um certo Oriente), ganhou o prêmio Jabuti de melhor romance. Em 2000, publicou o romance Dois irmãos (prêmio Jabuti – 3º lugar na categoria romance) indicado para o prêmio IMPAC-DUBLIN e eleito o melhor romance brasileiro no período 1990-2005 em pesquisa feita pelos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. Em 2001, foi um dos finalistas do Prêmio Multicultural do Estadão, pela publicação de Dois Irmãos. Em 2005, seu terceiro

MILTON HATOUM____ BREVE BIOGRAFIA ____

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romance (Cinzas do Norte) obteve cinco prêmios: Prêmio Portugal Telecom, Grande Prêmio da Crítica/APCA-2005, Prêmio Jabuti/2006 de melhor romance, Prêmio Livro do Ano da CBL, Prêmio BRAVO! de literatura). Em 2008, recebeu do Ministério da Cultura a Ordem do Mérito Cultural. Em 2010, a tradução inglesa de Cinzas do Norte (Ashes of the Amazon/Bloomsbury,2008) foi indicada para o prêmio IMPAC-DUBLIN.

Em 2008, publicou seu quarto romance (Órfãos do Eldorado), prêmio Jabuti – 2º lugar na categoria romance. Órfãos do Eldorado faz parte da coleção Myths, da editora escocesa Canongate. Em 2009, publicou o livro de contos A cidade ilhada.

Sua obra já foi traduzida em 12 línguas e publicada em 14 países.

Hatoum publicou também ensaios e artigos sobre literatura brasileira e latino-americana em revistas e jornais do Brasil, da Espanha, França e Itália. Alguns de seus contos foram publicados nas revistas Europe, Nouvelle Revue Française (França), Grand Street (Nova York) e Quimera (México). Participou de várias antologias de contos brasileiros publicados na Alemanha e no México, e da Oxford Anthology of the Brazilian Short Story.

Em parceria com o filósofo e crítico literário Benedito Nunes, publicou Crônica de duas cidades: Belém e Manaus, em 2006, pela SECULT-PA.

Desde 1998 mora em São Paulo, onde é colunista do Caderno 2 (O Estado de S. Paulo) e do site Terra Magazine.

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contanDo 2007 contanDo 2008 contanDo 2009

contanDo 2010 contanDo 2011 contanDo 2012

contanDo 2013 contanDo 2014

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PRESIDENTE:DR. JOSÉ DE OLIVEIRA MESSINA

DIRETORA-GERAL PEDAGÓGICA:PROFª SILVANA LEPORACE

ASSISTENTE DE DIREÇÃO (8OS E 9OS ANOS):PROF. LUÍS PATRÍCIO RAUL ARRIAGADA SANCHO

COORDENAÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA:PROFª MARIA CLEIRE CORDEIRO

COORDENAÇÃO DE ARTE:PROFª MARIA BEATRIZ PEROTTI

COORDENAÇÃO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL:PROFª VALDENICE MINATEL MELO DE CERQUEIRA

ORIENTADORA EDUCACIONAL (9OS ANOS):PROFª CLAUDIA MARIA DURAN MELETTIPROFª THATIANA SEGUNDO GERENTE DE MARKETING:FERNANDO LOPO HOMEM DE MONTES SUPERVISOR DO DEPARTAMENTO DE AUDIOVISUAL:JOÃO FLORENCIO SOUZA FILHO

SUPERVISORA DO DEPTO. DE EDITORAÇÃO/GRÁFICA:VANNIA CHIODO SILVA

CORPO DOCENTE - LÍNGUA PORTUGUESA:PROFª KATIA MARIA CAMARGO VILLARI PROFª SOPHIA MARIA VISCONTI CORPO DOCENTE - ARTE:PROFª LÚCIA JUNQUEIRA CALDAS L. OLIVEIRA PROFª VALERIA PAULA LEITE

CORPO DOCENTE - TECNOLOGIA:PROFª ADRIANA DE FREITAS SEBASTIÃOPROFª CELIA REGINA GOULART DA SILVAPROFª KARINE GUARACHO

PROJETO GRÁFICO:PROFª VERÔNICA MARTINS CANNATÁSIMONE MACHADO

FOTO CAPA - MILTON HATOUM:ADRIANA VICHI

FOTOS:ACERVO - COLÉGIO DANTE ALIGHIERI

LIVRO DIGITAL:DAVID HENRIQUE DA CUNHA PEREIRA THIAGO XAVIER MANSILLA MALDONADO

DEPARTAMENTOS ENVOLVIDOS:ARTEAUDIOVISUALEDITORAÇÃO E GRÁFICAMARKETING LÍNGUA PORTUGUESATECNOLOGIA DA INFORMAÇÃOTECNOLOGIA EDUCACIONAL

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FicHa técnica

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Créditos finais: Todas as fotos, informações e depoimentos publicados neste livro cedidos

por terceiros somente foram utilizados após a expressa autorização de seus proprietários. Agradecemos a gentileza de todas as pessoas e empresas que,

com sua colaboração, tornaram essa produção possível.

Distribuição:O livro “Contando com Milton Hatoum: os melhores contos do Dante 2014”

é distribuído gratuitamente. Não é autorizada a comercialização deste em banca, livraria, loja ou qualquer outro espaço comercial por parte de pes-

soa física ou jurídica.

Reprodução: É proibida a reprodução total ou parcial deste livro. Nenhuma pessoa física ou jurídica está autorizada a representar, promover ou se pronunciar em nome deste livro ou de seus responsáveis. Esta proibição é válida dentro e

fora do território nacional.

Tiragem: 300 exemplares

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Tel.: (11) 3179-4400 - Fax: (11) 3289-9365www.colegiodante.com.bre-mail: [email protected]

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REFERÊNCIAS

WEBQUEST CONTOS - CONTANDO 2014Disponível em: <http://migre.me/9jWmP>. Acesso em 05 Maio 2014.

BREVE BIOGRAFIA DE MILTON HATOUM Disponível em: <http://www.miltonhatoum.com.br/biografia>. Acesso em 05 Maio 2014.

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Este livro é o resultado do concurso Contando 2014. Os alunos foram estimulados a criar seus

próprios textos a partir das introduções de belíssimos contos de Milton Hatoum.

As narrativas foram criadas em duplas, e as melhores estão publicadas neste livro.

COLÉGIO DANTE ALIGHIERI Alameda Jaú, 1061 - CEP 01420-001 - SPTel.: (11) 3179-4400 - Fax: (11) 3289-9365

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