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Questão 1 Walter Benjamin entende os conceitos de teor de coisa e teor de verdade de um modo em que ambos estão intrinsecamente relacionados. O teor de coisa, que é normalmente buscado pelo comentador da obra, seriam os elementos da narrativa, mostrados por meio de uma certa causalidade que daria a forma da apresentação da obra.

Estética

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verdade, coisa, alegoria, símbolo, tratado, sistema

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Page 1: Estética

Questão 1

Walter Benjamin entende os conceitos de teor de coisa e teor de verdade de

um modo em que ambos estão intrinsecamente relacionados. O teor de coisa, que é

normalmente buscado pelo comentador da obra, seriam os elementos da narrativa,

mostrados por meio de uma certa causalidade que daria a forma da apresentação

da obra.

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O casamento e outros temas abordados na obra “As afinidades eletivas”,

como a relação de causalidade moral (ex.: o nascimento da criança com traços

físicos dos quatros personagens) fazem parte do teor de coisa, não obstante estes

elementos da narrativa serem essenciais para que o teor de verdade consiga

emergir. Pode­se afirmar então que a força mítica, entendida aqui como os

costumes da época em que a obra foi escrita, é o teor de coisa da mesma.

Já o teor de verdade, que é buscado pelo crítico, apesar de depender do teor

de coisa, a ele não se assemelha. O teor de verdade seria algo que transcende a

finitude histórica da da obra. No caso das “Afinidades” ­ que mostra como o teor de

verdade se liga de modo inaparente ao teor de coisa ­, o teor de verdade seria a luta

travada pelo homem para se libertar do mesmo mito expresso no teor de coisa;

seria a busca por uma liberdade frente ao destino humano, uma das formas por

meio das quais se mostram as forças míticas.

Além disso é possível perceber o quão fracos são tais elementos

relacionados ao teor de coisa, quanto mais se afasta na história. Dito de outro

modo, pode­se perceber que ao tempo da construção da obra, teor de verdade e

teor de coisa se misturam, não sendo percebidos de modo claro pelos

contemporâneos da obra. Somente com o passar do tempo, com o gradativo

desembaraço entre teor de verdade e o teor de coisa, causado pelo

desaparecimento dos fatos embasadores do teor de coisa, é que o crítico é impelido

num certo estranhamento entre o teor coisal e os dados do momento da realização

da crítica. E isso justifica a seguinte afirmação de Benjamin: “Neste sentido, a

história das obras prepara a sua crítica e, em conseqüência, a distância histórica

aumenta o seu poder”.

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Questão 2

Walter Benjamin descreve os sistemas, antecipadamente construídos e pelos

quais se intenta extrair a verdade da obra, com um meio inócuo para tal fim, uma

vez que tais sistemas tentam enquadrar em sua forma a verdade, mais que deixam

de fora o que não foi pensado à época da formação de tais sistemas. Desse modo,

muito, e talvez o significativo da obra, fique fora, inacessível ao sistema, além de

que o capturado surgiria de uma forma enviesada, amarrado que estaria ao sistema

preformatado. Por isso que Benjamin afirma que tal sistema, ao invés de expor a

verdade, mais funcionaria como um guia por onde o conhecimento seria conduzido.

O tratado seria, para Benjamin, a maneira adequada para a exposição da

verdade. No tratado, como num grande mosaico, a verdade, sem guia, se mostraria

em seus elementos constitutivos, cabendo ao filósofo, buscando os extremos

desses elementos, chegar à verdade. O tratado, portanto, não agarra a verdade,

conduzindo­a, mas apenas a apresenta, como deve ser.

Benjamin entende que uma diferença essencial entre a ciência sistêmica e o

tratado é que aquela não estaria a serviço da ideia, uma vez que ignora sua

existência e, como não tem a intenção de salvar as coisas, também não estaria a

serviço da empiria. A pretensão, segundo Benjamin, seria tão somente absorver as

ideias através do falso universalismo da média. Já o tratado teria intenção de

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apresentar as ideias, sendo portanto diferente do sistema, recusa­se a seguir o guia

das falsas totalizações utilizado pelo sistema.

Questão 3

Para Walter Benjamin, gênese e origem não guardam relação. A gênese é o

desenvolvimento de um pensamento ou conceito que se dá ao longo do tempo,

como uma cadeia de eventos que iriam se desenvolvendo e se conformando até a

formação de um arcabouço final. Na gênese há uma interpretação histórica, em que

os fenômenos são avaliados, numa ordem cronológica, tomando por base o que

lhes antecedeu e o que lhes sucedeu no tempo, o que tem como uma das

consequências a perda da singularidade carregada pelos fenômenos.

Origem, por outro lado, seria o que ele chama de salto que se remete ao

novo. Diferentemente do que se vê na gênese, na origem o objeto se liberta do

vir­a­ser histórico, e a avaliação deixa de levar em conta tão somente eventos

anteriores e posteriores. Para Benjamin, "o termo origem não designa o vir­a­ser

daquilo que se origina, e sim algo que emerge do vir­a­ser e da extinção".

Não obstante o afirmado acima (o fato de a origem se desvincilhar da

história), para Benjamin, a origem é também histórica, na medida em que ela se

forma e se constroi na história. Por isso que afirma ele: origem, apesar de ser uma

categoria completamente histórica, não tem nada que ver com o surgimento, com a

gênese.

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Questão 4

A distinção entre símbolo e alegoria é que o simbolo remete de forma estável

ao sentido originalmente determinado. Ele não depende do contexto, estando

aprisionado, sem possibilidade de variações significativas.

Na constituição do sentido do símbolo, é afastada a participação da

subjetividade de qualquer outro ser. Isso torna seu sentido intrínseco, sendo a

relação entre símbolo e simbolizado resultante de uma objetiva conexão.

A alegoria, por sua vez, contrariamente ao símbolo, faz com que as coisas

não tenham um sentido pré­determinado e estável. Na alegoria, fala­se de uma

coisa para significar outra, ou seja, nela uma coisa pode significar qualquer coisa,

exceto ela mesma. O sentido sempre dependerá do contexto no qual está inserido.

O alegorista retira as coisas de seu aprisionamento, liberta­as e dá­lhes um novo

significado. O processo de formação do sentido alegórico é assim consequência de

uma ligação entre signo e coisa, intermediada por uma subjetividade.

Questão 5

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Para Benjamin, a alegoria significa, em todos os caso em que se ocorre,

sempre um coisa diferente daquilo que é, ou seja, na alegoria os personagens, as

coisas e as relações significam sempre algo diferente do sentido original. Nunca são

eles mesmos, pois perdem o sentido inicial.

Na alegoria, o objeto/coisa não tem significado em si mesmo, dado que tal

significado é retirado, para que em seu lugar o alegorista atue, atribuindo ao

objeto/coisa um novo sentido. Desta forma, o sentido original da coisa se evapora.

Isso permite compreender por que Benjamin entende que há, na alegoria,

uma libertação do objeto/coisa: uma vez que o objeto/coisa não mais está

aprisionado ao seu sentido inicial, ele tem seu sentido determinado apenas na

relação como parte de um todo, como elemento do contexto. A alegoria é, portanto,

um modo de construção de sentido.

Comentando a noção de alegoria, a partir de algumas passagens do excerto,

pode­se perceber que, quando se diz:

“o olhar profundo do alegorista transmuta de um só golpe coisas e

obras numa escrita excitatória”: esta é a forma de atuação do

alegorista, transmutando as coisas, tirando­as do aprisionamento do

sentido original para um outro atribuído pelo contexto imbuído pelo

alegorista;

“quando inspeciona, num sentido totalmente anticlássico, pedaço por

pedaço, membro por membro.”: é isso o que faz o alegorista, ele

fragmenta o contexto, retirando dali os elementos e dando lhes um

novo sentido;

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“Sua beleza simbólica se evapora, quando tocada pelo clarão do saber

divino. O falso brilho da totalidade se extingue.”: novamente tem­se a

perda do significado inato, não mais é uma significado objetivamente

percebido, ele agora depende do contexto no qual está inserido.

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