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ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA ARTICULAÇÃO ENTRE ENSINO, APRENDIZAGEM E TECNOLOGIAS Tânia Regina da Rocha Unglaub 1 , Gisele Adriana Pereira Maciel 2 , Jaqueline Maria Coelho Maciel 3 , Soeli Francisca Monte Blancor 4 1 Universidade do Estado de Santa Catarina/Centro de Educação a Distância/Departamento de Pedagogia, [email protected] 2 Universidade do Estado de Santa Catarina/Centro de Educação a Distância/Departamento de Pedagogia, [email protected] 3 Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Ciências da Educação/Pedagogia, [email protected] 4 Universidade do Estado de Santa Catarina/Centro de Educação a Distância/Departamento de Pedagogia, [email protected] Resumo Este artigo apresenta reflexões sobre a dinâmica do Estágio Curricular Supervisionado do curso de Pedagogia a Distância do CEAD/UDESC desenvolvida na perspectiva multidisciplinar, mediante o uso das tecnologias digitais. A articulação entre ensino, aprendizagem e uso das tecnologias digitais está presente nesse curso de formação docente. A docência compartilhada formada pela equipe pedagógica acompanha o processo de Estágio Curricular Supervisionado. As características da multidisciplinaridade e atuação colaborativa, com ênfase nas Tecnologias da Informação e Comunicação estão previstas no Projeto Pedagógico do Curso (PPC). O estágio segue a Legislação Nacional de Estágio 11.788/2008 e a Resolução de Estágio da UDESC nº 066/2014/CONSUNI, situando essa disciplina como um processo interdisciplinar e avaliativo, articulador da indissociabilidade teoria/prática e ensino/pesquisa/extensão. Por se tratar de um curso na modalidade a distância, as tecnologias digitais permeiam todo o processo através de estratégias diferenciadas, para acompanhar e orientar a disciplina de Estágio, pois facilitam as aproximações e acessibilidade. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, tendo como fonte os relatos dos acadêmicos registrados no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Palavras-chave: Educação a Distância. Tecnologias digitais. Ensino. Aprendizagem. Estágio Curricular Supervisionado. Abstract – This article presents reflections on the dynamics of the Supervised Curricular Internship of CEAD/UDESC Distance Pedagogy course, developed in a multidisciplinary perspective, through the use of digital technologies. The shared teaching formed by the pedagogical team follows the Supervised Curricular Internship process. The characteristics of multidisciplinarity and collaborative action, with emphasis on Information and Communication Technologies are foreseen in the Pedagogical Project of the Course (PPC). The internship follows the National Legislation of Internship 11.788 / 2008 and the Internship Resolution of XXXXX nº 066/2014 / CONSUNI, situating this discipline as an interdisciplinary and evaluative process, articulating the inseparability theory / practice and teaching / research / extension. Because it is a distance learning course, digital technologies permeate the whole process through differentiated strategies to follow and guide the Internship discipline, since they facilitate the approaches and accessibility. It is a bibliographical and documentary research, having as a source the reports of the academics registered in the Virtual Environment of Learning (VEL). Keywords: Distance Education. Digital technologies. Teaching. Learning. Supervised internship

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ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA ARTICULAÇÃO ENTRE ENSINO, APRENDIZAGEM

E TECNOLOGIAS Tânia Regina da Rocha Unglaub1, Gisele Adriana Pereira Maciel2, Jaqueline Maria Coelho Maciel3,

Soeli Francisca Monte Blancor4

1 Universidade do Estado de Santa Catarina/Centro de Educação a Distância/Departamento de Pedagogia, [email protected]

2 Universidade do Estado de Santa Catarina/Centro de Educação a Distância/Departamento de Pedagogia, [email protected]

3 Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Ciências da Educação/Pedagogia, [email protected] 4 Universidade do Estado de Santa Catarina/Centro de Educação a Distância/Departamento de Pedagogia,

[email protected]

Resumo – Este artigo apresenta reflexões sobre a dinâmica do Estágio Curricular Supervisionado do curso de Pedagogia a Distância do CEAD/UDESC desenvolvida na perspectiva multidisciplinar, mediante o uso das tecnologias digitais. A articulação entre ensino, aprendizagem e uso das tecnologias digitais está presente nesse curso de formação docente. A docência compartilhada formada pela equipe pedagógica acompanha o processo de Estágio Curricular Supervisionado. As características da multidisciplinaridade e atuação colaborativa, com ênfase nas Tecnologias da Informação e Comunicação estão previstas no Projeto Pedagógico do Curso (PPC). O estágio segue a Legislação Nacional de Estágio 11.788/2008 e a Resolução de Estágio da UDESC nº 066/2014/CONSUNI, situando essa disciplina como um processo interdisciplinar e avaliativo, articulador da indissociabilidade teoria/prática e ensino/pesquisa/extensão. Por se tratar de um curso na modalidade a distância, as tecnologias digitais permeiam todo o processo através de estratégias diferenciadas, para acompanhar e orientar a disciplina de Estágio, pois facilitam as aproximações e acessibilidade. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, tendo como fonte os relatos dos acadêmicos registrados no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Palavras-chave: Educação a Distância. Tecnologias digitais. Ensino. Aprendizagem. Estágio Curricular Supervisionado.

Abstract – This article presents reflections on the dynamics of the Supervised Curricular Internship of CEAD/UDESC Distance Pedagogy course, developed in a multidisciplinary perspective, through the use of digital technologies. The shared teaching formed by the pedagogical team follows the Supervised Curricular Internship process. The characteristics of multidisciplinarity and collaborative action, with emphasis on Information and Communication Technologies are foreseen in the Pedagogical Project of the Course (PPC). The internship follows the National Legislation of Internship 11.788 / 2008 and the Internship Resolution of XXXXX nº 066/2014 / CONSUNI, situating this discipline as an interdisciplinary and evaluative process, articulating the inseparability theory / practice and teaching / research / extension. Because it is a distance learning course, digital technologies permeate the whole process through differentiated strategies to follow and guide the Internship discipline, since they facilitate the approaches and accessibility. It is a bibliographical and documentary research, having as a source the reports of the academics registered in the Virtual Environment of Learning (VEL). Keywords: Distance Education. Digital technologies. Teaching. Learning. Supervised internship

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Introdução

A educação a distância no Brasil é uma realidade incontestável. A implantação de cursos na modalidade a distância tem se multiplicado e muitos deles se destinam à formação pedagógica. Nesse contexto, encontra-se a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), que também por meio dessa modalidade, tem contribuído para a formação inicial e continuada de professores possibilitando a construção de saberes e aprendizagens a diferentes pessoas. Muitos preferem a educação a distância, seja por falta de tempo, pela distância dos centros de formação ou até mesmo pelo estilo de aprendizagem diferenciado (ZACLIKEVIC, 2007). O Centro de Educação a Distância (CEAD) da UDESC tem se empenhado em encurtar distâncias, expandir fronteiras e em realizar sonhos, viabilizando a oportunidade de ensino aos diferentes polos espalhados pelo território estadual. O desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) tem possibilitado significativamente a comunicação síncrona e assíncrona em várias esferas da atividade humana, seja lazer, trabalho, ou processo formativo. O acesso ao conhecimento na era globalizada da informação digitalizada torna-se relativamente fácil, imediato, onipresente e acessível. Ademais, a era da informação pode ser caracterizada como “[...] uma época de rápidas mudanças, de aumento sem precedentes de interdependência e complexidade, o que está causando uma mudança radical na nossa forma de comunicar, agir, pensar e se expressar (na forma de aprender e ensinar) ” (PÉREZ GÓMES, 2015, p.14). Nessa linha de argumentação, Riedner e Pischetola (2016) afirmam que se trata de um período marcado pela utilização generalizada das Tecnologias Digitais de Rede, especialmente a internet. Para os autores, as relações sociais em tal contexto têm sido fortemente influenciadas e transformadas, com ressonâncias econômicas, sociais, culturais, políticas e, consequentemente, educacionais. A EaD ocupa seu lugar nessa cultura digital e aponta desafios a superar, ao mesmo tempo em que lança um olhar sobre as possibilidades que abarcam a formação docente, pois, como afirma Sibilia (2012) “[...] a simples disponibilidade de alternativas interativas ou a possibilidade de intervir no desenvolvimento das narrativas como um ‘usuário ativo’, por exemplo, não garante a qualidade dos resultados nem sua transformação em diálogo, experiência ou pensamentos” (p.186). Nesse contexto, a docência compartilhada encontra ecos para mediação e construção da aprendizagem significativa. Diante do acima exposto este artigo buscou tecer reflexões sobre a dinâmica do Estágio Curricular Supervisionado do curso de Pedagogia a Distância do CEAD/UDESC, desenvolvido na perspectiva inter e multidisciplinar, com a mediação das TICs nos processos de ensino e aprendizagem, sob o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental, analisada na perspectiva metodológica de conteúdo e do discur-so preconizada por Bardin (2010). Fizeram parte do corpus documental da pesquisa relatos escritos pelos acadêmicos na ferramenta fórum, bem como conversas escritas em chats, ambos disponibili-zados no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do Moodle. Também foram incluídas conversas mediadas pelo WhatsApp que se demostrou instrumento privilegiado de comunicação e interação entre os acadêmicos e equipe docente, fomentando o fortalecimento da docência compartilhada, preconizada no Projeto Pedagógico do CEAD

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da UDESC (UDESC, 2014). A aplicação dessa meto-dologia possibilitou situar três categorias de análise: Docência Compartilhada, Mediações Tecnológicas no AVA e Práxis Pedagógica.

1. O estágio curricular supervisionado: pressupostos teóricos e metodológicos

O Estágio Curricular Supervisionado de Ensino do Curso de Pedagogia a Distância (CEAD/UDESC) organiza-se sob uma proposta multidisciplinar e colaborativa. Articula teorias, conhecimentos e práticas desde o início do curso, fazendo com que o Contexto do Exercício Profissional seja planejado e executado com base em pressupostos de força, de modo a vincular base teórica, experiências e reflexões e possibilitando o desenvolvimento de competências a partir da dinâmica estabelecida na trajetória e nos elementos do currículo, que se interligam gerando interfaces sólidas de formação. O estágio segue a Legislação Nacional de Estágio nº 11.788/2008 e a Resolução de Estágio da UDESC nº 066/2014 – CONSUNI, as quais situam a disciplina de Estágio Curricular como “[...] um processo interdisciplinar e avaliativo, articulador da indissociabilidade teoria/prática e ensino/pesquisa/extensão que objetiva proporcionar ao acadêmico-estagiário espaços para criação de alternativas que possibilitem a sua formação profissional”. (Resolução 066/2014, cap. 1, art. I.). No âmbito de sua estrutura curricular, possui as dimensões formadoras e sócio-políticas que orientam o estudante à colaboração e à participação em situações reais de vida e de trabalho e isso reflete diretamente na sua profissionalização e na geração de competências indispensáveis a uma formação profissional para atuação em diferentes contextos e situações, levando em conta os diferentes espaços educativos. O Curso de Pedagogia a Distância da UDESC possui ênfase nas TICs e para a consecução desses objetivos promove-se além da articulação curricular, a integração de agentes e projetos pedagógicos que deverão favorecer situações em que seja possível desenvolver uma formação integral e conectada com a sociedade da informação e com as demandas atuais da escola, tendo como base o perfil do aluno do século XXI e a tendência da Colaboração1. As práticas colaborativas, além de representarem excelentes estratégias de apoio à aprendizagem, também fortalecem um movimento recente dentro da teoria e prática da educação, que pressupõe a adoção de uma nova forma de planejar o ensino e a aprendizagem, em atenção a projetos formativos mais amplos e flexíveis os quais permitam novas relações educativas. Nesse âmbito, as tecnologias educativas criam uma nova configuração, promovendo também uma transformação no uso dos materiais didáticos. Esses apontamentos se coadunam com as prerrogativas de Neder (2009) quando enfatiza que:

1 A tecnologia nos oferece alternativas para organizar os conteúdos da formação a distância gerando o diálogo entre pares e especialistas; possibilita e/ou cria a abertura de um lócus propício à colaboração, próprio de co-munidades de prática, o que poderá também acentuar o potencial das mídias e o impacto didático na disciplina de

Estágio, gerando um processo reflexivo e interativo constante.

A educação a distância é uma modalidade de ensino que, paradoxalmente, por prescindir da relação face a face, exige um processo de interlocução permanente e

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próprio. Mas apesar da distância física, não pode deixar de existir o diálogo permanente. O material didático é o instrumento para esse diálogo. Ele deve ser pensado e concebido no interior de um projeto pedagógico e de uma proposta curricular definidos claramente. (NEDER, 2009).

Neste sentido, o projeto do curso busca favorecer a atualização dos docentes, em conso-nância com as novas linguagens midiáticas. Elas são o maior dos desafios dos professores da Era Digital em cursos a distância. Eles precisam propor desenhos diferenciados e terão de faze-lo com ouso de ferramentas que sejam capazes de auxiliar de maneira significativa e criativa o processo de ensino e de aprendizagem. Pois, tal como assinalam Unglaub e Escobar (2014):

[...] O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) é uma excelente opção utilizada para mediar o processo ensino-aprendizagem a distância. Para tanto, um ensino baseado na transmissão-recepção, em que os AVAs podem se converter em meros repositórios de conteúdos, necessita ser superado por uma educação dialógico-problematizadora, mediada pelas tecnologias que permitam a participação ativa do educando, mediante interação em processos dinâmicos e flexíveis (UNGLAUB; ESCOBAR, 2014).

Isso torna o docente, ao mesmo tempo, especialista, mediador, arquiteto e profissional reflexivo, ou seja, um profissional que também necessita construir novas competências (PERRE-NOUD, 2005) na sua função como formador, posto que a EaD, tal como apregoa Litwin (2001) pre-cisa ser encarada como uma maneira particular de criar um ambiente profícuo para gerar, promo-ver e implementar situações em que os alunos aprendam, pois.

Seu trato distintivo se revela na mediatização das relações entre docentes e alunos, que, trata-se da substituição da assistência que historicamente foi dada ao momento da aula, por propostas não convencionais, no processo de ensino e aprendizagem, em espaços e tempos [compartilhados e] não compartilhados pelos professores e alunos. 2001, p. 13).

Em linhas gerais, pode-se afirmar que a mediação da aprendizagem depende dos instrumentos que se colocam à disposição dos acadêmicos, pois serão o fio condutor do desenvolvimen-to do processo da aprendizagem do aluno, através da construção pedagógica colaborativa. (VIDAL; MERCADO, 2014, p.2852).

Desse modo, busca-se oferecer aos acadêmicos uma proposta de ensino/educação a dis-tância no qual o trabalho colaborativo ultrapasse práticas arraigadas que tendem a limitar-se a colocar materiais instrucionais à disposição do aluno distante, pois “Exige atendimento pedagógico, superador da distância e que promova a essencial relação professor-aluno, por meios e estratégias institucionalmente garantidos”. (SARAIVA, 1996, p. 17). Sendo assim, o Estágio como disciplina e como “interdisciplina” se nutre, ao longo de todo o Curso, de conteúdos, princípios e métodos para dar conta de formar o perfil do educador do século XXI em que a apropriação e o consumo dos novos espaços se estabelecem na relação existente entre as pessoas, a tecnologia e as atividades por elas exercidas. É “[...] no coração do paradigma sociotécnico que se constitui, na realidade, a base material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e comunicação” (CASTELLS, 2002, p. 287).

Como a disciplina de estágio se insere no eixo do exercício profissional do Curso e, tendo uma ação intrinsecamente vinculada às demais atividades acadêmicas e à Prática como Componente Curricular (PCC), as disciplinas pertencentes aos eixos “Contexto da Educação Básica e Conteúdos e Metodologias do Ensino” estabelecem uma conexão tecnológica vinculada ao

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objeto de conhecimento e próxima à prática, favorecendo reflexões sobre e na prática no intuito de que essa formação produza efeitos nos diferentes estágios e dimensões da profissionalização ao longo da carreira.

1.1 A contribuição da inter e multidisciplinaridade para a práxis docente no estágio curricular supervisionado

De acordo com Pimenta e Lima (2006), a teoria do campo educacional, da qual o aluno se apropria ao longo de sua formação, só tem função se estiver aliada à compreensão do contexto sociocultural em que se realiza o ato educativo. Sobre isso as autoras afirmam que

[...] o papel das teorias é o de eliminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação, que permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos e, ao mesmo tempo, de se colocar elas próprias em questionamentos, uma vez que as teorias são explicações sempre provisórias da realidade [...] Assim o papel da teoria é a de oferecer aos professores perspectivas de análise para compreenderem os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para neles intervir, transformando-a”. (PIMENTA e LIMA, 2006, p.16-17)

Considerando que Estágio não pode ser visto como um apêndice da formação ou como um composto de teorias advindas dos diferentes campos de conhecimento e que os alunos, em sua maioria, atuam em escolas, as atividades das diversas disciplinas do currículo foram desenvolvidas articuladas à docência, à pesquisa e à extensão e/ou às dimensões ligadas à educação não formal, dito de outro modo em uma perspectiva inter e multidisciplinar.

Para tanto, é preciso ir além da visão simplista que vê a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade como junção de disciplinas e encará-la como atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento (FAZENDA, 2008), problematizando os aspectos que envolvem a cultura do lugar e igualmente como e em quais condições são formados os novos professores e, com que mediações tecnológicas. Nesse sentido, pode-se afirmar que o estágio supervisionado numa perspectiva da práxis já carrega em si o gérmen da interdisciplinaridade. Pois, é na prática que as expressões teóricas se mostram válidas, momento em que parte do conhecimento acumulado se efetiva na prática e, por conseguinte, subsidia a teorização, conceituação e definição.

Segundo Fazenda (1979, p. 57) a “[...] interdisciplinaridade, necessidade básica para conhecer e modificar o mundo, é possível de concretizar-se no ensino através da eliminação das barreiras entre as disciplinas e entre as pessoas”. Porém, todo esse processo demanda interação e diálogo coletivo, pois, tal como afirma Paulo Freire (1987); “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. [...] Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim? ” (p.93).

Por isso, o desenvolvimento de uma práxis docente inter e multidisciplinar requer, antes de tudo, uma mudança de atitude, trabalho e compromisso político entre todos os sujeitos nela envolvidos. Trabalhar numa perspectiva interdisciplinar requer que o professor compreenda a sua área do conhecimento como algo que não é fragmentada, mas partícipe do conhecimento geral e que requer apoio de todos os profissionais envolvidos no processo.

Nesse sentido, as disciplinas do curso buscam oferecer subsídios para uma formação

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integral, voltada às necessidades próprias do espaço educativo, sem perder de vista o desenvolvimento das competências e habilidades básicas do professor nos diversos campos da formação por meio de diferentes estratégias didático-pedagógicas.

Cabe destacar que as Tecnologias da Informação e da Comunicação no desenvolvimento das atividades acadêmicas no decorrer do Curso, e especificamente no estágio, proporcionaram mecanismos de interação, de informação e de comunicação, em que a relação entre os pares foi necessária à elaboração de projetos, que se desejavam colaborativos. O Estágio criou redes de colaboração e se tornou um grande palco em que os autores se tornam ao mesmo tempo coautores das práticas que são, nesse processo, compartilhadas pela própria necessidade do espaço escolar.

2. Práticas inovadoras no estágio curricular supervisionado: a docência compartilhada

A disciplina de Estágio Curricular do curso de Pedagogia do CEAD/UDESC organiza a prática pedagógica no campo de estágio em quatro etapas, correspondentes a quatro disciplinas articuladas com as demais disciplinas do Curso e, em especial com as disciplinas de Metodologias para a prática da pesquisa e extensão. Em cada uma das etapas do Estágio ocorre a “experimentação” em diferentes contextos educacionais: Anos Iniciais, Educação Infantil e outros espaços educativos.

Todo esse processo pressupõe uma investigação preliminar sobre o contexto educacional, por meio da pesquisa-ação (THIOLLENT, 2011), oferecendo subsídios para a elaboração de um projeto de intervenção docente que atenda às necessidades de formação acompanhada da devida análise e reflexão crítica por parte do estagiário.

Os alunos estagiários, desse curso, residem em diferentes municípios de todas as regiões do Estado de Santa Catarina. Devido à organização da estrutura do estágio bem articulada e sistêmica é possível atender às exigências e necessidades do estágio curricular supervisionado, apropriado para a formação de professores. Essa possibilidade se coaduna com o pensamento de Moore e Kearsley (2007, p.9), que defendem a necessidade de uma visão sistêmica, para proporcionar meios de interligação e relacionamento de todo o processo de planejamento e estruturação organizacional da EaD. Essa visão é composta por todos os processos e componentes que operam quando ocorre o ensino aprendizagem a distância. Isso inclui aprendizado, ensino, comunicação, criação e gerenciamento.

A docência compartilhada é não apenas desejável, mas necessária na EaD. O dicionário Aurélio define o vocábulo docência como a “qualidade do docente; ensino do magistério” (FERREIRA, 1988). Já o termo compartilhar é descrito no mesmo dicionário como “ter ou tomar parte em; participar de; partilhar, compartir, usar em comum” (FERREIRA, 1988). Desse modo, pode-se afirmar que o compartilhamento da docência se dá na participação efetiva de vários agentes envolvidos no processo formativo do educando de Pedagogia, de forma integrada e comunitária. Na visão de Fernández (1993), compartilhar a docência “permite a utilização flexível e eficiente do tempo do professor e se beneficia dos diferentes estilos de ensino, da colaboração entre profissionais e da utilização de alternativas de ensino”.

A previsão da docência compartilhada aparece nas exigências da Legislação Nacional de Estágio nº 11.788/2008 e na Resolução de Estágio da UDESC nº 066/2014, cap. 4 art. 7, que prevê a supervisão in loco do exercício da prática pedagógica dos estudantes. Por isso, o

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Estágio Curricular disponibiliza diferentes agentes para o acompanhamento dos estagiários no campo de estágio em todos os locais em que há Polos do CEAD/UAB. Cada profissional da educação tem uma função específica a desempenhar. A docência compartilhada precisa estar sincronizada e sintonizada com o modelo pedagógico, de acordo com o princípio filosófico da instituição e trabalhar de forma articulada e unida.

Na instituição formadora, cabe ao coordenador de Estágio de Centro a responsabilidade da administração e supervisão geral do estágio em nível de Centro, enquanto que o coordenador de Curso tem a atribuição de coordenar, administrar os estágios por curso. O professor da disciplina é responsável por ministrar as aulas na(s) disciplina(s) de estágio; também é responsável pelo planejamento, orientação, acompanhamento e avaliação do estágio e do estagiário. Outro agente da docência compartilhada é o professor supervisor docente que atua na cidade de desenvolvimento das atividades de estágio, para o acompanhamento in loco. Também há o tutor online, que faz parte dessa docência compartilhada; o tutor online atua mediante orientação do professor, auxilia nas atividades e leituras online.

No Polo presencial encontra-se o tutor presencial, que auxilia o estagiário na definição do campo de estágio e mapeia os locais, informando o professor orientador de estágio. O tutor presencial também orienta o estagiário na organização dos documentos necessários ao desenvolvimento do estágio e organiza encontros com os alunos, seminários parciais e a socialização final de Avaliação do Estágio Curricular Supervisionado, conforme cronograma previsto no Plano de Ação. Na instituição acolhedora estão os profissionais referência. Esse profissional é um educador devidamente habilitado e responsável pelo acompanhamento, supervisão e avaliação do estagiário no local de desenvolvimento nas atividades de estágio. Esse profissional participa de um curso online de formação continuada a fim de que compreender o seu papel e a dinâmica da modalidade a distância.

Tal estrutura de processos e agentes envolvidos no Estágio Curricular Supervisionado favorece o exercício da docência para formar um educador reflexivo, pesquisador e crítico para contribuir com a formação de cidadãos éticos e comprometidos com a sociedade.

2.2 Práticas inovadoras: desafios e possibilidades na formação docente compartilhada

Uma prática bem-sucedida e que vem contribuindo para a aproximação dos sujeitos da Educação a distância e que tem dado voz aos mesmos é a proposição de fóruns temáticos, seja no âmbito da disciplina de estágio, ou de forma mais ampla, no âmbito dos projetos interdisciplinares de fase. Como exemplo pode-se mencionar o que foi realizado em 2017, intitulado: “Interações e brincadeiras como foco da docência na educação infantil” com o objetivo de promover espaços de articulação entre as disciplinas da 8.ª fase do Curso de Pedagogia a Distância do CEAD, a saber: Estágio Curricular Supervisionado (EST IV); Literatura Infanto-Juvenil (LIT); Metodologia da Educação a Distância (MEAD II); Educação Lúdica (ELUD); Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). A intenção precípua desse projeto interdisciplinar consistiu na proposição e desenvolvimento de um trabalho colaborativo entre as referidas disciplinas, no intuito de dar prosseguimento à abordagem interdisciplinar que vinha sendo desenvolvida desde 2015. A partir de então se mostrou evidente a preocupação em se realizar, efetivamente, um trabalho coletivo, com perspectiva interdisciplinar, quando, ao avaliar os projetos, relatórios e TCCs (8ª fase), percebeu-se o esvaziamento de conteúdos próprios das metodologias de Matemática, Arte,

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Ciências, etc., provocando algumas inquietações e questionamentos, tais como: “Por que muitas propostas de atividades apresentadas nos relatórios/projetos de docência se distanciam das abordagens trazidas pelas disciplinas e metodologias cursadas no Curso?”. Além disso, o expressivo volume de “cópias não autorizadas” intrigava e levava a equipe pedagógica a pensar sobre as razões pelas quais os alunos recorriam a tal prática e assim, tomando como hipótese que não se tratava apenas de “práticas de má-fé”, mas também, em alguma medida, de desconhecimento e que tais situações precisavam ser analisadas.

Dentre as possibilidades de articulação entre as disciplinas, naquele momento, vislumbrou-se a realização de vídeos e webconferências interdisciplinares. Motivados pela possiblidade de articulação entre as diversas disciplinas, as reuniões, discussões e debates, foram profícuos e ultrapassaram o âmbito local. Os docentes vislumbraram a possibilidade da realização de um evento regional, atendendo os preceitos e compromisso social que fundamentam o ideal universitário ou seja, a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Assim sendo, a culminância do projeto se efetivou mediante o 1º Colóquio: “Interações e brincadeiras como foco na docência na Educação Infantil”, homônimo ao título do projeto e que abordou as experiências e vivências na e da prática pedagógica na Educação Infantil, sob o prisma das interações e brincadeiras, com participação dos alunos, professores e tutores, presencial e online, da 8.ª fase dos diferentes polos.

Como parte do cronograma do projeto foi aplicado aos acadêmicos um questionário no AVA para avaliação do projeto sobre sua importância para a formação dos acadêmicos. Importa destacar que 159 alunos participaram do colóquio, de um total de 202 inscritos, dos quais 43 responderam ao questionário, correspondendo a 32% dos participantes (PEREIRA, et al. 2017), a partir dos quais serão apresentados alguns dos relatos que corroboram as experiências vivenciadas no âmbito do estágio e dos limites e possibilidades da integração entre o ensino, aprendizagem e tecnologias e em particular da docência compartilhada

A opção metodológica de análise do discurso, proveniente do que foi relatado nos fóruns temáticos, se mostrou relevante na medida em que a prática da proposição dos mesmos, na disciplina de estágio e sala interdisciplinar, auxiliou na condução do trabalho pedagógico colaborativo. Além disso, deu voz aos acadêmicos participantes, em uma linguagem mais próxima da utilizada nas redes sociais, a exemplo do facebook e whatsApp.

O estabelecimento deste tipo de comunicação mediada pela tecnologia da informação possibilitou o diálogo entre todos os envolvidos na práxis pedagógica, além de contribuir para a construção de um espaço coletivo de conhecimento acerca das vivências e experiências no âmbito do curso de pedagogia e, em particular, no estágio curricular supervisionado, potencializando a integração entre o ensino, aprendizagem e tecnologias.

3. Práticas colaborativas no estágio supervisionado

As práticas colaborativas no contexto das tecnologias digitais precisam contar com as habilidades e conhecimento dos participantes envolvidos, que muitas vezes esbarram em alguns limites de comunicação para a construção dos saberes acadêmicos. Essas limitações são desafios, e se mostram recorrentes nas falas dos estudantes de pedagogia registradas no AVA. Além disso, é importante que o educando compreenda seu papel dentro de uma comunidade virtual, criando vínculos com comprometimento e valores. Dessa maneira, construirá aprendizagens e conhecimentos significativos a partir do senso de pertencimento e de permanência, corroborando para um projeto comum com colegas e equipe multidisciplinar.

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Uma comunidade virtual é construída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais (LÉVY, 2000, p. 127).

A concepção de Lévy (2000) permite compreender que o aluno, mesmo na relação a distância, necessita ser um agente transformador, fazendo do ambiente virtual um lugar de ensino e aprendizagem. Outro desafio a ser superado consiste na relação aluno/professor/tutor que pode influenciar na obtenção de resultados positivos. Nesse processo comunicativo de aprendizagem os feedbacks entre esses agentes são de suma importância para a interação e socialização dos conhecimentos, na perspectiva dos aportes de Tardif (2017): “[...] concretamente ensinar é desencadear um programa de interações com um grupo de alunos a fim de atingir determinados objetivos educativos relativos a aprendizagem de conhecimentos e à socialização.” (2017, p. 118);

Considera-se relevante, para a práxis pedagógica, apresentar relatos registrados nos fóruns pelos acadêmicos, à luz das reflexões teóricas. As vivências compartilhadas por meio dessa ferramenta, no âmbito da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado, permitem o desenvolvimento de um olhar sensível e atento às particularidades de cada aluno e dos polos. Essa visão favorece a percepção das dificuldades e necessidades dos acadêmicos para um melhor desenvolvimento da mediação e colaboração com a aprendizagem individual e coletiva.

Dentre os relatos selecionados, podem-se situar três categoriais de análises de conteúdo, na perspectiva de Bardin (2010): Docência Compartilhada – incluindo o engajamento docente em âmbito interdisciplinar (das disciplinas da fase) e multidisciplinar (dos diferentes profissionais envolvidos na docência compartilhada: professores e tutores em ação online e presencial, supervisor do campo de estágio, profissional referência no campo de estágio); Mediações tecnológicas no AVA; Práxis pedagógica - entendida como possibilidade de articulação entre os conhecimentos teóricos e práticos no estágio curricular supervisionado.

3.1 Docência compartilhada

A Educação a Distância contribui para que muitas pessoas que não tiveram a perspectiva do curso superior tenham seus direitos assegurados. E ao se conhecer um pouco da história de cada aluno, entende-se que a falta de oportunidade favoreceu a perpetuação das diferenças sociais, econômicas e culturais, incluindo a falsa crença de que não são merecedores da formação. Desse modo, pode-se afirmar que a EaD oportuniza um olhar de esperança não apenas para suprir uma necessidade, mas um novo modelo de ensino que possibilite a construção de sujeitos críticos e criativos, que possam administrar seu tempo e espaço para o estudo de forma colaborativa. Assim, a motivação é algo que precisa fazer parte do aluno EaD, porque em diversos momentos o acadêmico irá se sentir sozinho, pensar em desistir e entender que não é merecedor da oportunidade. A partir deste entendimento o professor EaD tem uma responsabilidade crucial que é manter o aluno motivado, por isso é importante também a organização do material pedagógico, possibilitando um estudo colaborativo e multidisciplinar e não individualizado.

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Durante o estágio tive a oportunidade de vivenciar grandes experiências que trarei pra minha prática. Tivemos uma professora de estágio e uma profissional referência incríveis que nos ajudaram muito nos dando dicas e falando um pouco de sua experiência em sala de aula, o que para mim foi muito bom. Acho que este momento de intervenção deveria se multiplicar durante a graduação, pois, como eu não atuo na área da educação, me serviu de norte e me fez ter certeza de que este é o caminho que quero trilhar. Amei o estágio. (RELATO 1, AVA, 2017).

Em consonância com o relato supracitado Tardif (2017) considera que “[...]as interações com os alunos, não representam, portanto, um aspecto secundário, ou periférico do trabalho dos professores: Elas constituem o núcleo e, por essa razão, determinam, ao nosso ver, a própria natureza dos procedimentos e, portanto, da pedagogia”. (p. 118).

A docência compartilhada na EaD pode favorecer o aprendizado do educando com um “jeito hacker de ser”, no sentido preconizado por Pretto (2017), ao afirmar, que,

Quando se pensa em hacker, é comum que se pense num criminoso que age entre os zeros e uns da internet, roubando senhas e quantias em dinheiro. Entretanto, o estereótipo do vilão online não representa adequadamente os hackers. Para os vilões, foi inclusive criada a palavra cracker, para identificar esses criminosos cibernéticos, que não têm nada a ver com o jeito hacker a que aqui nos referimos. (PRETTO, 2017, p. 36)

O jeito hacker de ser segundo Pretto (2017) está alicerçado na ideia da construção coletiva do conhecimento por um grupo de pessoas que buscam a aprendizagem de maneira autônoma e criativa, assumindo inclusive o risco do erro. Neste entendimento coloca-se como possibilidade que professores incentivem os alunos a buscar alternativas para resolver seus problemas, saber como as coisas funcionam, buscar as leituras sem que estas sejam obrigatórias e sem esperar tudo do professor. Ao mesmo tempo, é preciso mostrar ao aluno como lidar com o erro, com a frustação e com a necessidade da ajuda do outro, sem esquecer-se do seu compromisso com a produção do conhecimento.

Em se tratando das atividades propostas tanto virtuais, quanto presenciais, considero de extrema importância para nós acadêmicas, uma vez que tivemos tanto a aprender com os demais, quanto a compartilhar nossas experiências com futuros professores, como também expor nossas ansiedades. O período da prática docente foi uma experiência única, a qual faz e para refletir sobre as próximas ações do futuro. (RELATO 2, AVA, 2017, grifos nossos)

As palavras contidas nesse relato permitem observar o quanto as interações virtuais, mediadas por professores e tutores online, bem como o acompanhamento in loco, pelo supervisor de campo de estágio, profissional referência e tutor presencial, contribuíram para a formação inicial docente.

3.2 Mediações tecnológicas no AVA

As mediações tecnológicas no AVA são de suma importância para a formação do estudante da EaD, para conhecer o educando, favorecer o diálogo e a aproximação entre discentes e docentes, ou seja, possibilitar a interação e consequentemente a aprendizagem

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significativa e colaborativa. Fantin (2013) percebe que a tecnologia, media relações humanas e em alguma medida modifica nossa condição humana. Nesse aspecto a autora alerta sobre a necessidade de redefinir o que entendemos por formação. “Um ponto de partida possível é considerar que formação não é apenas algo exterior ao sujeito, mas que existe também como autoformação, sendo, ao mesmo tempo, objeto e instrumento daquilo que nos constitui e que somos” (FANTIN, 2013, p. 58).

Muitos acadêmicos que optaram por um curso EaD geralmente executam diversas atividades durante o dia, como cuidar da família e do trabalho, e precisam chegar em casa e ainda estar dispostos a estudar, o que exige uma organização do tempo e do espaço. Isto se apresenta como um dos desafios nessa modalidade de ensino. Devido à falta de tempo, ou por desconhecimento, ou mesmo por malandragem, encontra-se a apropriação indevida de fontes e ideias, sem que se faça a devida referência aos autores e, somadas ao plágio, uma escrita mal estruturada e propostas inadequadas, incompatíveis com a formação esperada para um acadêmico de ensino superior, colocando em cheque a problemática: “Como esse acadêmico chegou até aqui?”.

Diante dessa problemática a equipe docente sentiu a necessidade de recorrer a outros instrumentos que permitissem uma maior aproximação dos alunos, tais como a utilização de tecnologias alternativas de comunicação, com as quais os acadêmicos estavam mais familiarizados, como por exemplo o facebook e whatsApp. Nesse sentido, Riedner e Pischetola (2016) percebem que “[...] a cultura digital é a nova cultura da sociedade da informação. O digital é um elemento transformador da cultura contemporânea e se constitui como uma nova possibilidade de comunicação” (2016, p.40). A partir do uso desses recursos tecnológicos, que os acadêmicos estavam mais familiarizados, foi possível compreender que nem sempre o aluno consegue sanar suas dúvidas pelo AVA - Moodle. Assim, à medida que outras possibilidades de diálogo foram proporcionadas aos acadêmicos, se construiu um ambiente favorável no qual o aluno se sentiu acolhido em suas limitações e dificuldades.

Nesse cenário foram ofertadas outras possibilidades de mediações pedagógicas pautadas não apenas nos erros, mas naquilo que melhor pudessem apresentar, convergindo para um mo-vimento diferente, focado na vontade de acertar e de mostrar todo seu potencial. Esses resultados foram observados quando esses alunos procederam à refacção dos projetos de intervenção de estágio, e posteriormente foram a campo para aplicar seus planos de docência e realizaram intervenções relevantes, testemunhadas pelos supervisores de estágio, avaliação dos profissionais referência e, em particular, pela avaliação da equipe docente nos seminários de socialização dos estágios apresentados pelos próprios alunos, na forma de mesas temáticas e em especial na participa-ção do evento proposto interdisciplinarmente pelos professores da fase.

Registros de discentes no fórum avaliativo da disciplina testemunham que as atividades que foram propostas no ambiente virtual, bem como o contato da tutora online via whatsApp possibilitaram a construçao do repensar sobre a praxis pedagógica. “Nossa!! Eterna gratidão pela forma que a tutora J...me orientou tanto por whatsApp, como pelas devolutivas no AVA. Acho que agora aprendi a escrever..e citar autores. Ela corrigiu várias vezes o projeto de intervenção e relatório de estágio.. Isso, fez toda a diferença” (RELATO 3, AVA, 2017).

Nesse sentido, compreende-se que a mediação na EAD está em consonância com as pala-vras de Riedner e Pischetola (2016) ao mencionarem “[...] a importância da educação e, princi-palmente, da formação inicial de professores, na perspectiva da cultura digital, em que o

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professor não é substituído pela tecnologia, mas assume um papel fundamental de mediador”. (IDEM, 2016, p.40).

Também é importante que o educando compreenda a necessidade da autoformação, buscando ajuda, superando suas dificuldades e aproximando-se mais do uso das tecnologias de modo consciente e crítico. Não obstante, a facilidade que a web proporciona para a pesquisa traz consigo práticas a serem superadas, haja vista que o plágio se constitui em um grande desafio a ser vencido. Em contrapartida, há que se destacar que na maioria das vezes essas práticas acontecem pela inexperiência do acadêmico na rede. Portanto, cabe ao professor/tutor orientar o aluno como construir seu conhecimento com ética, utilizando recursos da web entrelaçando com suas experi-ências.

Em relação às atividades do estágio mediado pelas tecnologias da informação e comunicação disponibilizadas no ambiente virtual, os alunos informaram que “as atividades que nos foram propostas no ambiente virtual também contribuiram muito para nosso aprendizado nos possibilitando trocar experiências. O projeto de estágio foi uma das experiências de maior aprendizagem, pois podemos assimilar a teoria com a prática docente.” (RELATO 4, AVA, 2017).

Para a construção do conhecimento de forma interdisciplinar, além da sala da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado no Moodle, os acadêmicos também puderam contar com a sala virtual interdiscipinar. Nesse ambiente os professores das demais disciplinas puderam propor e realizar discussões para constribuir com a prática do estágio na perpesctiva inter e multidisciplinar. Sobre as propostas e mediações nesse espaço virtual, os acadêmicos registraram que: “[...] as atividades que foram propostas no ambiente da sala interdisciplinar vieram a fazer com que repensássemos nosso cotidiano dentro das escolas, no meu caso, dos centros de educação infantil, levando em consideração que a criança pequena deve brincar, fantasiar.” (RELATO 5, AVA, 2017).

Esses relatos permitem perceber como a aprendizagem tornou-se significativa, mediada pelas tecnologias no AVA, através da docência compartilhada, bem como o acompanhamento comprometido de docentes envolvidos nesse processo.

3.3 A práxis docente: articulação entre teoria e prática

O Estágio Curricular Supervisionado é o momento em que os alunos se deparam com a oportunidade de colocar em prática seus conhecimentos adquiridos e construídos no decorrer de sua formação no oficio de ser professor. Essa é a etapa de unir teoria e prática. Embora pareça ser uma tarefa desafiadora, esse é o momento de observar o campo, elaborar projeto de intervenção, intervir, analisar e relatar. Nesse movimento tem a possibilidade de perceber que a formação docente é um processo inacabado, que requer dedicação, estudos, pesquisa e muita reflexão. A elaboração do relatório escrito de estágio e a socialização oral do mesmo, colabora significativamente para esse processo formativo.

O ato de escrever, na compreensão de Mills (2009) pode ser comparado ao artesão que vai fiando, desmanchando e refazendo sua obra de arte até construir a obra prima satisfatória. O pesquisador, neste caso o aluno, também vai tecendo por diferentes caminhos e escolhas, trazendo sua própria experiência de vida passada e presente, moldando a si mesmo como um artesão e preparando seu futuro. Isso é percebido no momento em que os alunos em seu período de Estágio Curricular Supervisionado trazem em seus projetos e propostas as vivências como alunos, principalmente nos estágios de Educação Infantil e Ensino Fundamental.

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Neste entrelaçar passado e presente, os educandos trazem de suas experiências as brincadeiras, as músicas, as histórias e as experiências com arte que fizeram parte de seus repertórios.

Nesse sentido, o educador precisa considerar, que a escrita revela a experiência de vida dos alunos, já que essas são inseparáveis e se completam, embora ao trabalharem nessa árdua tarefa de escrita, muitas vezes não conseguem apontar tudo o que compreenderam e relatar o quanto isso significou para a sua experiência de vida (Mills,2009). Portanto, é necessário considerar que as boas práticas devem proporcionar reflexões com a teoria, pois ambas, teoria e prática, devem caminhar juntas na direção de uma práxis docente.

Com esse movimento o estágio fica mais leve e o aluno começa a entender, valorizar seu conhecimento e aperfeiçoar sua prática. É neste momento que o papel do professor/tutor faz a diferença, pois mediante as interações problematiza aos alunos que nos caminhos percorridos pelas diferenças e na relação com a alteridade dá-se o descobrimento de si e também do outro. Nesse sentido, o relato 7, de outro acadêmico considera o “[...] estágio uma experiência grandiosa, nós aprendemos muito no campo de estágio, pois tudo aquilo que nos foi ensinado, de alguma forma nos deparamos na sala de aula, e assim tivemos que aplicar nossos conhecimentos”. (RELA-TO 7, AVA, 2017). Outros registros de outros alunos revelam o mesmo entendimento, como é o caso do seguinte relato:

O momento de intervenção na educação infantil foi bastante marcante, pois nos possibilitou por em prática o que havíamos aprendido, tendo em vista que na educação infantil as crianças passam por novas adaptações e transformações, onde precisam de um olhar mais atento e acolhedor para superarem suas dificuldades encontradas, e assim precisam ser desafiadas a participar de um “novo mundo”, por meio daquilo que já sabem para que desta forma venham construir novos saberes. (RELATO 8, AVA, 2017).

Tais reflexões estão em consonância com Freire (2009), quando considera que sempre há algo que aprender ou que ensinar, e que o processo de ensino aprendizagem é inacabado. Tanto professores e tutores quanto os estagiários tem a possibilidade de participar desse continuo mo-vimento inacabado de se constituir professor por meio da práxis docente.

Conclusão

A formação acadêmica do professor envolve diretamente o contato com a realidade esco-lar, por meio do Estágio Curricular Supervisionado. Essa etapa da formação na modalidade a dis-tância, teve suas dificuldades superadas com o apoio da docência compartilhada, bem como atra-vés dos diálogos e interações mediados pelo uso dos recursos das tecnologias digitais. A organização do AVA-Moodle e as intervenções dos docentes, professores e tutores foram fundamentais nesse processo.

Sempre haverá desafios a serem superados, pois a cada dia nos deparamos com novos problemas. Porém, pode-se perceber muitas possibilidades na perspectiva multidisciplinar, medi-ante o uso das tecnologias digitais de formação docente vivenciadas por alunos do curso de Peda-gogia a Distância do CEAD/UDESC, entre as quais está o entrelaçamento entre teoria e prática. O exercício constante da escrita, a participação da aprendizagem colaborativa e o constante contato e aprendizagem mediante as TICs favoreceram a reflexão, propiciando aos acadêmicos a constru-ção de seu conhecimento relativo à prática pedagógica. As experiências revelaram que a disciplina de estágio curricular supervisionado no curso de pedagogia na modalidade a distância

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contribuiu para a formação de qualidade dos novos docentes, independente de professores e alunos estarem, ou não, no mesmo espaço físico.

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