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História do mobiliário
EstilosFrança século VII
Estilo Luís XIII
O estilo Luís XIII durou do fim do século XVI até a subida de Luís XIV ao trono.
Os modelos hispano-flamengos e italianos dividiram a preferência dos decoradores da época e de seus clientes (príncipes, nobres e burgueses ricos). As paredes eram cobertas com pinturas enquadradas por estuques dourados, tapeçarias ou couro, com desenhos impressos, pintados e dourados.
O quarto era a principal peça da residência, ocupado pelo leito en housse (com cobertura), ornado de cortinas (substituído por volta de 1645 pela alcova fechada com uma balaustrada) e por poltronas, cadeiras, genuflexórios e tamboretes guarnecidos de tecido, com pés torneados em círculo ou em espiral. O grande móvel foi o cabinet, um móvel com vários compartimentos para objetos preciosos; era feito de ébano, sendo freqüentemente importado de Flandres, e tinha batentes esculpidos em baixo-relevo, sustentado por cariátides, mísulas ou balaústres. A escrivaninha, vinda da Itália, também apareceu nesse período.
Estilo Luís XIV
Durante os primeiros vinte anos do reinado de Luís XIV, o fabrico de móveis em França ainda recebia as influências italianas e flamengas. Só a partir de 1660, esse quadro começou a mudar, surgindo um estilo de mobiliário com características próprias da França. Muito contribuiu para a essa evolução a criação da Manufacture Royale des Meubles de la Couronne (Manufatura dos móveis da Coroa), cujo primeiro diretor foi o pintor Charles le Brun. Essa fábrica, fundada em 1667, aprovava o desenho e a execução de todos os móveis feitos para a corte, se constituindo um agente de controle de qualidade rigoroso sobre a manufatura francesa. Daniel Marot e Jean Bérain, entre outros, foram contratados para desenhar móveis de acordo com os hábitos da corte e com o estilo de arquitetura.
O mobiliário Luís XIV tem porporções grandes, absolutamente simétrico, muito luxuoso e embora apresente uma ornamentação extravagante, tem caráter masculino. Na estrutura dos móveis predominam linhas retas, as curvas sendo severas e dignas. Os painéis são retangulares, limitados por molduras arquitetônicas. A entalhação é rica e abundante, se utilizando de cabeças e patas de leão, de máscaras, sátiros, grifos, esfinges, folhas de acanto, golfinhos e folhagens. As madeiras utilizadas eram o carvalho, ébano e castanheiro. Os móveis eram dourados ou ornamentados com incrustações de metais e trabalho de marchetaria. Ficaram famosos o mobiliário de André-Charles Boulle, o mestre-ebanista do reinado. Este artista criou o processo de folhear o mobiliário com uma combinação de ébano, tartaruga, estanho, latão e madre-pérola, não necessariamente todos em uma só peça.
Muitas peças de mobiliário de prata maciça foram feitas para mobilar o Palácio de Versalhes, mas nenhuma delas se conservou, sendo derretidas para a cunhagem de moedas, tanto nas guerras europeias de Luís XIV como na Revolução Francesa. Mas, pelo menos,
uma peça se salvou: uma mesa de prata maciça que o Rei Sol deu de presente ao rei Carlos II da Inglaterra. Esta peça está hoje no Palácio de Windsor.
Além dos móveis já conhecidos, como mesas, camas, cadeiras e armários, surgiram novas peças: secretária, medalheiro, billard, cômoda, canapé e o console. O "cabinet" caiu em desuso. A cama ainda é monumental e sem madeira aparente, os tecidos - veludos e cetins - que forravam a peça, belos e luxuosos. As mesas tinham formatos variados, com decoração luxuosa, algumas em mármore e outras em madeira dourada ou ornamentadas com incrustações. As cadeiras variavam de acordo com a posição social do usuário, podendo ser de braços ou sem eles, espaldar alto, pernas retas e braços curvos ou retos, as traves unidas em "X" ou "H", os assentos forrados de veludo, tapeçarias ou brocado. Os armários eram pesados, opulentos e de um só corpo, todo em madeira ou trabalhado. As cômodas eram em geral ricas e trabalhadas à maneira Boulle com três gavetas e tampo de mármore. O console era uma mesa pequena, mais estreita, colocada junto à parede. O medalheiro era um móvel muito apreciado que servia para guardar as jóias e preciosidades e o canapé, em madeira estofada, tem a estrutura da cadeira, linhas direitas e várias pernas. Também surgiram nessa época os armários-bibliotecas e a poltrona "confessional".
Estilo Regência
O estilo regência, também conhecido como regência francesa, é um estilo decorativo arquitetônico (interiores e exteriores) e, acima de tudo, um estilo de mobiliário. Este estilo desenvolve-se em França durante a regência de Filipe de Orléans entre 1715 e 1723, após o reinado de Luís XIV e enquanto Luís XV é menor de idade (tem apenas 5 anos de idade quando morre o seu bisavô, Luís XIV).
Em termos artísticos faz a transição entre o estilo Luís XIV (inserido no movimento barroco) para o estilo Luís XV (inserido no movimento rococó). De um modo geral, e por ser um estilo de transição, possui ainda muito da sumptuosidade controlada do anterior, demonstrando já alguns elementos típicos do rococó, a leveza e liberdade das linhas. Neste pequeno período de tempo, estas duas vertentes decorativas vão coexistir em harmonia, resultando em criações de elegante flexibilidade.
Durante o período de regência, em que a corte deixa Versailles para se acomodar em Paris, a França atravessa um período económico difícil, e opta-se agora pela construção de palácios de menores dimensões e interiores menos sumptuosos, mais virados ao intimismo e à simplicidade, mas sem perder totalmente o esplendor anterior. Também os exteriores diminuem em severidade e controle, adoptando já algumas linhas mais espontâneas, que terão o seu apogeu na total liberdade imaginativa do rococó. Este desejo de uma maior liberdade formal, fora da rigidez artística do século anterior, desponta simultaneamente com a mudança social e mental que toma lugar no século XVIII, onde a sociedade aspira a uma maior independência, descontracção e alegria no quotidiano.
De modo a satisfazer as novas necessidades e prazeres descontraídos do quotidiano, as tipolofias de mobiliário multiplicam-se e especializam-se;
Fusão entre a solenidade do barroco e graciosidade do rococó; Dominam ainda as linhas simétricas, mas são feitas as primeiras propostas de
assimetria; Utilização de curvas mais leves em comparação com o estilo anterior; Materiais: Madeiras exóticas (pau-rosa, violeta, amaranto) e bronze, onde
despontam já as formas posteriores do rococó (rocaille); Elementos decorativos: Cornucópias, motivos vegetais e florais (folhagens
enroladas, folhas de acanto, palmetas, rosetas), granadas, delfins, conchas e motivos geométricos finos (quadriculados) conseguidos através do jogo com os veios da madeira.
Tipologias: o Cómodas: Cómoda regência, pesada e ainda de pernas curtas, Cómoda
Cressent, de pernas mais altas;o Cadeiras: tornam-se mais confortáveis e mais leves, com formas que se
adaptam melhor às linhas do corpo; o espaldar com madeira visível e ainda um pouco rígido, reduz em altura, os braços, pela primeira vez com manchette (estofo), recuam em relação às pernas da frente; as pernas são curvas; as travessas desaparecem gradualmente.
Nomes de destaque: Charles Cressent é o ébeniste (ebanisteria) de renome, criando trabalhos de qualidade em bronze e marqueteria em madeira.
França século VIII
O estilo Luís XV designa um estilo de decoração de interiores e mobiliário que se desenvolve a partir de França durante o reinado de Luís XV, entre aproximadamente 1730 e 1750-60 (não englobando todo o período do reinado até 1774). Este estilo é influenciado pelas linhas fluidas e graciosas do rococó e pelo seu repertório de motivos ornamentais, situando-se entre o estilo regência, onde já dá os primeiros passos, e o estilo Luís XVI, que se caracteriza por uma maior rigidez e austeridade. É considerado um dos estilos estéticos franceses de maior impacto, sendo, por isso, alvo dos mais diversos revivalismos ao longo do tempo.
De um modo geral, a estética vai estar ao serviço da mentalidade da época, da busca dos prazeres do quotidiano e intimamente ligado à figura feminina, a sua maior inspiração e a autoridade em matéria de decoração na corte. Provavelmente a figura de maior destaque no impulso das artes decorativas é Madame de Pompadour, amante do rei, que o incentiva a promover a produção artística, como no caso da oficina de porcelana de Vincennes (mais tarde Sevres) de onde originam muitas das peças usadas neste estilo.
Nos interiores, onde o salão se destaca como o espaço de eleição para estar em sociedade, o pé-direito reduz em altura e aplicam-se cores suaves e tons pasteis nas paredes. O mobiliário torna-se mais confortável pela redução para uma escala mais humana e as diferentes peças (agora de fácil transporte) espalham-se por todo o espaço, convidando ao relaxamento e à intimidade. O mobiliário, que agora não fica só encostado à parede, relegado para áreas de periferia, passa a ter um trabalho mais cuidado também nas faces traseiras que antes ficavam escondidas ao olhar. O acréscimo de riqueza no seio da burguesia introduz este estilo também nos interiores habitacionais da classe média
Caracterização formal do mobiliário
Cadeira em estilo Luís XV, Fauteuil à la reine com braços, estofos em tapeçaria de Beauvais com cenas inspiradas nas fábulas de La Fontaine.
Estrutura escultórica de linhas leves e curvas sinuosas, assimetria, fluidez, movimento e elegância. Alta qualidade de execução, trabalho cuidado na decoração e atenção ao pormenor.
Materiais: madeiras variadas (nogueira, faia, carvalho, pau-rosa, pau-roxo, pau-santo, pau-setim, amaranto), paineis de laca, placas de porcelana e mármore (para tampos), aplicação de bronzes.
Pintura e laca: utilizam-se paineis de laca oriental (ou a imitação designada Verniz Martin). Principalmente as cadeiras são pintadas, empregando-se menos a madeira dourada que no estilo anterior.
Elementos decorativos: fantasia de inspiração na natureza; desaparece a figura humana e animal em deterimento de motivos vegetais (flor com caule, de representação naturalista ou estilizada, sózinha, em ramos ou grinaldas, e folhagens retorcidas e enroladas); conchas, rochas, cristas de ondas (espuma); troféus (de música, etc); curvas em C e S; figuras geométricas; marqueteria de contornos sinuosos.
Tipologias: Proliferam móveis pequenos e para diferentes fins. o Cómodas (sem traves horizontais a separar as gavetas), toucadores, mesas
com espelho (Poudreuse) etc;o Secretárias com inúmeras gavetas e compartimentos secretos, como Bureau-
plat, Bureau-abattant, Bureau dos d’âne, Bureau à cilindre, Bonheur-du-jour (secretária de senhora) etc;
o Mesas pequenas para escrever, jogar, costurar, etc;o Assentos estofados de diversas tipologias de acordo com a função: Fauteuil
à la reine, de espaldar direito; Fauteuil en cabriolet, de espladar côncavo; Fauteuil à coiffer, com espaldar curvo no topo para permitir apoiar o pescoço e facilitar o acto de pentear; Fauteuil cabinet, cadeira curva para secretária masculina; Marquise, para duas pessoas; Chauffeuse, para sentar frente à lareira;
o A partir dos lits de repos e canapés desenvolvem-se: chaise-longue, sopha, turquoise, duchesse (à bateau ou brisées), ottomane, paphose, veilleuse, etc.
Nomes de destaque: Em geral o trabalho artesanal das corporações deste período é de grande qualidade. Surgem os menuisiers, marceneiros que desenvolvem trabalhos em madeira maciça, onde se destacam Avisse, Tilliard, Foliot, Gourdin, Dellanois e Cresson. Continua-se também a tradição dos ebénistes para trabalhos de folheado (folha de madeira) e marqueteria em madeiras exóticas, onde se destacam Dubois, R. V. La Croix, Migeon e Oeben. No trabalho em bronze destaca-se Jaques Caffieri e nos trabalhos de laca, as famílias Martin (Verniz Martin) e Chavalier.
Estilo Luís XVI
O estilo Luís XVI é um estilo de decoração de interiores e mobiliário que se desenvolve a partir de França durante o reinado de Luís XVI e que se estende além deste, entre aproximadamente 1774 e 1792. Este estilo segue as linhas do anterior, o estilo Luís XV, sendo que, entre o final deste e até 1774, existe um período de transição que se traduz em alterações superficiais do foro decorativo e não estruturais. A transição culmina na afirmação total do novo estilo com a inauguração do Castelo de Louveciennes, decorado por Ledoux para Madame du Barry.
O estilo assimila simultaneamente duas características distintas, a do estilo anterior, dentro do espírito do rococó, e a do momento que dá agora os primeiros passos, o neoclassicismo, que só assumirá toda a sua força após a Revolução Francesa. O estilo Luís XVI é, deste
modo, um estilo híbrido, que conjuga nas suas peças vários elementos opostos, criando assim uma estética muito própria.
A corte vai ser mais uma vez o modelo da nova estética, onde a própria rainha Maria Antonieta, com as suas múltiplas encomendas para o Petit Trianon, se vai tornar numa das peças chave no desenvolvimento do estilo. Também a Madame de Pompadour, que se tinha rendido ao gosto do estilo Luís XV, se começa a interessar pelas novas formas revolucionárias.
Influências
Na década de 1950 iniciam-se as escavações de Herculano e Pompéia, as cidades da Roma Antiga destruídas pela erupção do Vesúvio. O livro do Conde de Caylus "Recueil des antiquités égyptiennes, étrusques, grécques et gauloises" sobre as novidades descobertas em diversas áreas, incluindo a do mobiliário, vai dar o impulso ao novo gosto pela Antiguidade Clássica em França. Este estilo, então chamado de "Style à la greque", desenvolve-se para o estilo directório, atingindo o seu expoente máximo no estilo império.
Paralelamente às descobertas formais da arte greco-romana, mais depuradas que as do rococó, está outro factor decisivo na transformação do gosto da sociedade da época, as teorias iluministas que apoiam o regresso à natureza, à moral e à virtude, apresentadas por Jean-Jacques Rousseau. A natureza e o campo tornam-se moda, assim como a actividade da jardinagem, transpondo para a nova estética uma série de novos motivos decorativos associados.
Como resultado da crescente austeridade, aumenta a reacção contra os excessos do rococó e o seu turbilhão de curvas assimétricas, preferindo-se a linha recta e a sobriedade na decoração. No entanto permanecem ainda algumas linhas curvas que suavisam a rigidez das novas estruturas, e as dotam de alguma leveza.
Os interiores
Os interiores mantêm-se confortáveis, com as cores suaves a harmonizar com o mobiliário, e onde os tecidos assumem extrema importância.
Caracterização formal do mobiliário Maior simplicidade, sobriedade e rigidez. Dominam as linhas perpendiculares,
ângulos rectos e superfícies planas; Materiais: continuam-se a utilizar os mesmos materiais que no período anterior. No
final do período surge o mogno, introduzido por Georges Jacob pelo seu aproveitamento de elementos do estilo Chippendale em Inglaterra. Continuam-se a aplicar ao móvel os bronzes (dourados) finamente cinzelados.
Elementos decorativos: terrinas, medalhões, ovais, instrumentos musicais; de inspiração na Antiguidade Clássica: frisos, colunas, folhas de laurácea, setas; de períodos anteriores (Barroco e Rococó): grinaldas, drapeados, entrelaçados; inspiração na natureza: troféus com instrumentos de jardinagem, rosas, pérolas;
Tipologias: mantém-se a mesma variedade de peças de mobiliário que no período anterior. Introduzem-se também no mobiliário sistemas mecânicos para as mais diversas funções.
o Cadeiras: A principal característica reside no facto das pernas perderem as suas curvas e passarem a se assemelhar mais a verdadeiros elementos visíveis de suporte. As pernas direitas podem ser de secção quadrangular ou circular, estreitando em direcção ao chão e apresentanto caneluras a direito ou em espiral. As pernas são ligadas à cintura (parte inferior do plano horizontal de assento) através de um cubo decorado. O espaldar (apoio para as costas) apresenta uma moldura e pode ser rectangular (carré à la Reine), oval (na vertical, dossier à medaillon) ou ainda vasado (com aberturas). Podem ser mantidas com a cor natural da madeira, pintadas ou douradas. Um das novas tipologias é a Bergère en confessional, uma espécie de sofá com apoio laterais para apoiar a cabeça.
Nomes de destaque: o Menuisiers (trabalho em madeira maciça): Louis Delanois, Jean-Claude
Sené, Georges Jacob (que introduz alguns dos elementos que caracterizarão o estilo, como as molduras rectangulares e ovais das cadeiras).
o Ébenister (folheados e marqueteria): Riesener (discípulo de Oeben), Weisweiler, Roentgon, Beneman, Saunier, Leleu e Canabas.