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Estórias de cantador/cordelista Francisco Agripino de Alcaniz (1926-1989) era potiguar de Ipanguaçu, poeta cordelista, repentista, conhecido em todo Nordeste brasileiro pelo apelido de "Chico Traíra. A FEIRA É sábado, amanhece o dia Chegam primeiro os feirantes Loroteiros, arrogantes Arrumam as mercadorias. Mais tarde vem os feireiros Sempre em grupos separados Ainda desconfiados Com as sacolas vazias. Grita logo um barraqueiro: “- Olha aqui feijão novinho Tem enxofre e mulatinho Tem o preto e o macaça Esse amarelinho é bom O pintado é um azeite Se quer levar aproveite Que hoje é quase de graça”. Muitos trazem pra vender Couro de bode, algodão, Batata, milho verde e feijão, Porco, carneiro e peru, Depois que terminam as vendas

Estórias de Cantador

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Poemas do grande poeta Assuense Francisco Agripino de Alcaniz (Chico Traira)

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Page 1: Estórias de Cantador

Estórias de cantador/cordelistaFrancisco Agripino de Alcaniz (1926-1989) era potiguar de Ipanguaçu, poeta cordelista, repentista, conhecido em todo

Nordeste brasileiro pelo apelido de "Chico Traíra.

A FEIRA

É sábado, amanhece o diaChegam primeiro os feirantes

Loroteiros, arrogantesArrumam as mercadorias.Mais tarde vem os feireiros

Sempre em grupos separadosAinda desconfiados

Com as sacolas vazias.

Grita logo um barraqueiro:“- Olha aqui feijão novinhoTem enxofre e mulatinhoTem o preto e o macaçaEsse amarelinho é bomO pintado é um azeite

Se quer levar aproveiteQue hoje é quase de graça”.

Muitos trazem pra venderCouro de bode, algodão,

Batata, milho verde e feijão,Porco, carneiro e peru,

Depois que terminam as vendasSe reúnem, vão beber,As mulheres vão comerPé-de-moleque e angu.

Entra um rebanho no bar,Lá já tem outra patota,

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Ali começa a lorotaPois o prazer é profundo.

Tomam a primeira dosagemLogo após, outra bicada,Com a terceira rodada,Haja mentira no mundo.

Diz um, nunca me faltouDinheiro pra brincar

Quando eu quero vadiarBoto a sela no jumento.Responde outro, melado

Eu juro no evangelhoQue no meu cavalo velhoDerrubo até pensamento.

Grita um mais exaltadoComigo não tem ladeiraEu topo toda zonzeira

Toda brincadeira é festa.Grita outro, eu também sou

Osso duro de roerQuem quiser venha saber

Um velho pra quanto presta.

A coisa está esquentandoVai acabar o zum-zumChega a mulher de um

Do outro chega a esposaCom pouco o filho do outro

Chega pra dar o recado“- Mamãe está no mercado

Vamos comprar qualquer coisa”.

O vendedor de galinhaFala alto, “aqui freguês

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Essa galinha pedrêsÉ pesada de gordura,Esse pescoço pelado

É boa pra criar,Eu garanto ela botar

Cem ovos numa postura.

Um galo velho surúPra cantar não tem mais som

O vendedor diz “É bom!Pode levar que é novinho.

Esse galo, meu amigo,Ainda tem outra coisa

Tem dado surra em raposaQue ela perde o caminho.“- Olha a ovelhinha gorda!”

Gritam lá na criaçãoGrita o do porco “O leitãoÉ novinho, cavalheiro”!

O velho que está meladoNão presta muita atenção,No porco compra barrão;

No bode, pai de chiqueiro.

Na carne de gado mostramUma manta do pescoço

“- Aqui é carne sem osso,Compra boa, quem conhece!”

A carne velha encardidaComo que foi de murrinha

Na panela não cozinhaNa brasa não amolece.

Aquele que se entreteuNa birita o dia inteiro

Acabou todo o dinheiroPassou o tempo e não viu

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Ficou sem nenhum tostãoNo bolso da velha calça

O que sobrou da cachaçaO pife-pafe engoliu.

Arranja uma confusãoQuase ao morrer do dia

Vai para a delegaciaPara um repouso forçado

Coitado, caiu à crista.De manhã faz a faxinaInda vai dar entrevista

Com o doutor delegado.

Chico Traíra

Do poeta Francisco Agripino de Alcaniz, o popular Chico Traíra – grande violeiro, assuense de coração, nascido no sítio Pau de Jucá

– Ipanguaçu/RN. Em Assu existe uma rua, no Bairro Frutilândia, que tem Chico Traíra como patrono.