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Estratégia da argumentação utilizada nas eleições municipais de Curitiba
em 2008: o embate entre o PSDB, mandatário e PT, desafiante.
Danielle Telles Wolff1 Izaira Rodrigues de Andrade
RESUMO: O artigo apresenta um estudo sobre as estratégias da argumentação utilizadas pelos candidatos Beto Richa do PSDB e Gleisi Hoffman do PT na disputa pela Prefeitura Municipal de Curitiba em 2008. A análise foi realizada a partir dos programas que foram ao ar no dia 20 de agosto de 2008 na TV no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), no período noturno das 20h às 20h30, encerrando-se no dia primeiro de outubro em função da eleição ter chegado ao fim no primeiro turno. O eixo de análise está relacionado à dimensão pragmática que diz respeito à polarização entre o discurso do candidato do PSDB (situação) versus candidato do PT (oposição). Palavras-chaves: Curitiba, eleições municipais, PSDB, PT, HGPE.
ABSTRACT : The article a study about the strategies of the line of argument used by the candidates Beto Richa from PSDB and Gleisi Hoffman from PT in the disputes for the Municipal City Hall of Curitiba in 2008. The analysis was carried out from the programs that were broadcast on August 20th, 2008, in the Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (fre electoral advertising) in the evening period from 8:00pm to 8:30pm, enclosing in the first day of october due to the election have ended on the first poll. The analysis is related to the pragmatical dimension thet concerns the polarization between the speech of the PSDB candidate (situation) versus the PT candidate (opposition). Key words: Curitiba, City election, PSDB, PT, HGPE.
1. Introdução:
“ A retórica não é meramente uma arte de persuasão, mas antes uma faculdade de descobrir especulativamente o que, caso a caso, pode servir para persuadir”. Aristóteles
1 Danielle Telles Wolff é Publicitária e Izaira Rodrigues de Andrade é Jornalista e ambas são pós graduando em Comunicação Política e Imagem pela UFPR.
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Em outubro de 2008 foram realizadas as eleições municipais para a escolha dos
candidatos a prefeitos e vereadores dos mais de Cinco mil municípios brasileiros. Em
Curitiba a polarização ficou entre o candidato à reeleição, Beto Richa, do Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB) e a candidata de oposição, Gleisi Hoffman, do
Partido dos Trabalhadores (PT). Percebe-se que, nas disputas eleitorais, os candidatos
traçam um confronto sobre o mundo atual. Para a situação, o mundo atual está bom e,
para ficar ainda melhor, deve ser mantido o grupo que está no poder; já para a oposição,
o mundo está ruim e, para ser alterado, deve haver uma mudança de grupo político. O
trabalho faz uma análise das estratégias de argumentação utilizadas nas eleições
municipais de 2008, pelos candidatos do PSDB, (mandatário) e PT (desafiante).
Através do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), observa-se que o
candidato do PSDB, Beto Richa, não se apresentava como um candidato de direita e
nem a candidata do PT, Gleisi Hoffman, se apresentou como de esquerda. A ideia não é
de estabelecer uma comparação entre estes eixos de análise: a dimensão ideológica
(direita versus esquerda) e a dimensão pragmática (situação versus oposição), mas
mostrar como os candidatos do PSDB e PT utilizaram-se das estratégias de
argumentação durante o HGPE.
O artigo, ao definir como objeto de análise as estratégias discursivas dos
candidatos a prefeito de Curitiba, discute as mudanças que vêm ocorrendo no mundo da
política a partir da compreensão como tais processos eleitorais concretizam uma disputa
de retóricas.
Parte-se da seguinte problemática: como o candidato do PSDB Beto Richa, que
disputava a reeleição, conciliou a dimensão pragmática (construir o discurso da
situação) e a dimensão ideológica. Para realizar tal pesquisa, partiu-se do eixo analítico
de caráter circunstancial que diz respeito à disputa situação X oposição, uma vez que o
prefeito foi candidato à reeleição e conseguiu ser reeleito. Por outro lado, a candidata do
PT, Gleisi Hoffman, tentou desconstruir a imagem do candidato do PSDB e em
contrapartida preferiu apostar na boa avaliação do governo do Presidente da República,
Luis Inácio Lula da Silva para ganhar o apoio do povo, porém isso não foi suficiente em
função da similaridade das propostas com as do candidato do PSDB.
A ideia é analisar se os candidatos utilizaram estrategicamente a estrutura de
argumentação teórica, e qual conteúdo recorreu (se ideológico ou pragmático) e que tipo
de retórica persuasiva mais se utilizou (pragmática ou ideológica). Para realizar o
trabalho, a metodologia aplicada tem como base o modelo formulado por Figueiredo et
3
al. (2000) que parte do pressuposto de que, no debate eleitoral, os candidatos empregam
uma retórica cuja argumentação é de natureza ficcional. Os candidatos visando
convencer os eleitores constroem interpretações de mundo que se fundam na realidade,
mas, que são percepções diferenciadas, dependendo da posição que o ator político
ocupa no cenário político.
A interpretação do mundo político traz verossimilhança com o real, mas deve ser
entendida no jogo estabelecido entre situação e oposição, que cria versões diferenciadas
para essa realidade, tendo em vista a especificidade da retórica utilizada. Os candidatos
convivem o tempo todo entre mundos possíveis, atuais e futuros. Para Figueiredo et al.
(2000) a única garantia de que algo será feito é através do candidato, do grupo político
ou do partido ao qual está inserido. São eles que garantem a realização do mundo futuro
desejável. Diante dos problemas de cunho social e econômico, o candidato e seu grupo
político podem ser argumentos fortes para o desenvolvimento de um discurso político.
Uma argumentação eficaz é a que consegue aumentar essa intensidade de adesão, de forma que se desencadeie nos ouvintes a ação pretendida (ação positiva ou abstenção) ou, pelo menos, crie neles uma disposição para a ação, que se manifestará no momento oportuno. (PERELMAN, OLBRECHTS-TYTECA, 1996:50).
O trabalho tem por objetivo analisar o discurso retórico das campanhas do PSDB
e do PT, e como cada candidato se apropriou dos argumentos para formular o seu
discurso. Segundo Figueiredo (2000), a intenção de qualquer partido é obter a maioria
dos votos através dos argumentos políticos persuasivos fictícios dependendo do
contexto de mundo atual real em que se encontram os partidos e seus candidatos. A
partir desse pressuposto a pesquisa tem por objetivo descobrir em que medida foi
apresentada o mundo atual e o futuro para os eleitores a partir de cada candidato, os
argumentos persuasivos utilizados e como se deu a disputa eleitoral para a Prefeitura de
Curitiba.
O trabalho não tem por finalidade retraçar o longo caminho que as várias
correntes científicas já percorreram na tentativa de compreender o comportamento
eleitoral. Para Figueiredo et al. (2000:4), “os candidatos constroem um mundo atual possível,
igual ou um pouco diferente do mundo atual real, e com base nele projetam um novo e bom mundo futuro
possível”. Segundo ele, a estrutura dessa argumentação tem duas vertentes: o mundo
atual está ruim, mas ficará bom ou o mundo atual está bom e ficará ainda melhor.
Observa-se que a primeira é típica da argumentação da oposição e a outra da situação. A
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hipótese a ser proposta é que o eleitor ao votar no seu candidato tende a agradecer de
maneira racional, buscando maximizar as suas oportunidades futuras.
Essencialmente, a primeira parte da pesquisa se desenvolve com a leitura e
discussão crítica de obras pertinentes sobre o assunto. A partir de uma análise crítica
dos programas do Horário Gratuito de Programa Eleitoral (HGPE), pretende-se verificar
e identificar como os discursos foram elaborados para atingir o eleitor. A análise dos
programas se deu a partir da coleta de dados no formato de uma planilha inspirada na
metodologia desenvolvida por Figueiredo et al. (2000). Procuramos mostrar a
aplicabilidade dessa metodologia, tomando como referência a análise do HGPE na TV
no período noturno das 20h às 20h30, desde o dia 20 de agosto de 2008 a primeiro de
outubro do mesmo ano, em função da eleição em Curitiba ter sido decidida já no
primeiro turno. A partir daí analisamos a retórica através de alguns fragmentos de
discursos ao longo da campanha utilizada pelos candidatos do PSDB e PT; a construção
dos discursos através do HGPE e o desempenho eleitoral do PSDB e PT.
2. A retórica do PSDB e do PT: alguns fragmentos de discursos ao longo da
campanha.
Aristóteles (op. Cit., p. 31) afirma que o papel da Retórica é distinguir o que é verdadeiramente suscetível de persuadir do que é só na aparência. A persuasão acontece através de argumentos, ou seja, do discurso e das ferramentas discursivas ou retóricas, cuja base é o entinema. Na visão aristotélica, todo discurso é composto por três elementos: a pessoa que fala, o assunto de que se fala e a pessoa a quem se fala. Este último, o ouvinte, pode ser juiz ou espectador. Independente do gênero escolhido, os discursos sempre são utilizados para formar uma opinião. (ARISTÓTELES, 1999).
Dentro do referencial teórico analisado acerca das argumentações para formular
os discursos, verificou-se o desempenho e a retórica utilizada pelos candidatos nas
eleições municipais de Curitiba; os eixos que nortearam a análise dos discursos foram a
situação X oposição, além de mostrar como o PSDB elaborou o seu discurso de
mandatário e o PT a sua retórica de desafiante, bem como as análises dos programas
veiculados no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral na TV no período noturno, esse
tipo de análise pode ser observado por Veiga et al. (2004).
Qualquer balanço eleitoral deve partir da análise de três fatores: o cenário da
disputa e as demais forças que disputaram as eleições, as metas traçadas pelo partido e o
quanto o desempenho eleitoral fortaleceu a construção partidária. Através da resposta e
a combinação desses três fatores é que se pode avaliar a retórica e o desempenho do
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partido na disputa eleitoral. “Na disputa eleitoral por cargos majoritários, ganha aquele que obtiver o
maior número de votos, isto é, ganha quem conseguir persuadir a maioria”. (FIGUEREDO et al., 2000).
Para o autor ganha aquele que conseguir convencer a maioria do eleitorado que
determinada obra ou benfeitoria trará benefícios àquela comunidade do município.
Nas eleições municipais de 2008, em Curitiba, o candidato do PSDB, Beto Richa
venceu os oponentes com 778.514 votos (77,27%) em um universo de 1.245.505
eleitores, através da união de 11 partidos e com a coligação “Curitiba continua”. A
segunda colocada foi à candidata do PT Gleisi Hoffman que obteve 183.027 (18,17%),
e que também contou com o apoio de alguns partidos menores sob a coligação “Curitiba
para todos” seguida de Carlos Moreira (PMDB), com 19.157 votos (1,9%) e de
Maurício Furtado (PV), que obteve 8.906 votos (0,88%). O candidato Ricardo Gomyde
(PC do B) ficou na quinta colocação com 7.187 votos (0,71%), seguido de Fábio
Camargo (PTB), com 5.366 votos (0,53%). Bruno Meirinho (PSOL) obteve o sétimo
lugar com 4.464 votos e Lauro Rodrigues (PT do B) o oitavo, com 888 votos (0,09%).
Os votos brancos e nulos somaram 61.104 votos. A abstenção em Curitiba foi de
14,84%. Como podemos observar no gráfico a seguir:
Gráfico 1 : Resultado individual de cada candidato da eleição 2008
0 200.000 400.000 600.000 800.000
BETO RICHA
GLEISI HOFFMAN
CARLOS MOREIRA
MAURÍCIO
RICARDO GOMYDE
FÁBIO CAMARGO
BRUNO MEIRINHO
LAURO RODRIGUES
BRANCOS E NULOS
1.245.505 VOTOS 778.514 183.027 19.157 8.906 7.187 5.366 4.464 888 61.104
BETO RICHAGLEISI
HOFFMANCARLOS
MOREIRAMAURÍCIO FURTADO
RICARDO GOMYDE
FÁBIO CAMARGO
BRUNO MEIRINHO
LAURO RODRIGUES
BRANCOS E NULOS
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Na essência, as eleições municipais de 2008 foram marcadas pela conservação,
pelo discurso do continuísmo e pelo fortalecimento das candidaturas da ordem com um
alto índice de reeleição dos atuais prefeitos. Em Curitiba isso ficou visível desde o
início da campanha. Observe uma das falas do candidato do PSDB Beto Richa no
programa eleitoral gratuito do dia 20 de Agosto de 2008: “Por isso sou candidato para resolver
os problemas de quem ainda não foi atendido e para continuar um trabalho que a maioria dos curitibanos
aprova”. Em seguida vem um jingle, no mesmo programa, que reforça o perfil de
administrador e homem trabalhador e cumpridor do dever.
O Brasil queria ver qual o melhor prefeito e foram pesquisar o que já tinham feito foram no Brasil inteiro do Iapóque ao Chuí, mas não viram nada igual, ao que viram por aqui, Centros de Urgência, a melhor educação do País, Secretaria Antidrogas competente, mas de mil ruas asfaltadas, tem o Mãe Curitibana, tem a FAS2, assistência eficiente, prefeito sério, que investiu no que devia, porque escutava o povo.
O candidato do PSDB à prefeitura de Curitiba ao elaborar seu discurso, mostrou
à população que apesar de não comungar da mesma ideologia do Presidente da
República, soube tirar “louros” do governo federal em parceria com o município. Isso
pode ser constatado através da sua fala no programa do Horário Eleitoral do dia
08/09/2008, quando enfatiza a importância do projeto “Armazém da Família” aliado
com o “Bolsa Família”.
O Bolsa Família do governo federal distribui em Curitiba até R$ 100,00 por família. Com esse dinheiro que chega todos os meses as compras vão até aqui..., mas com o mesmo dinheiro nos Armazéns da Família da Prefeitura de Curitiba, as compras crescem da pra comprar 30% a mais. O Bolsa Família é uma boa idéia que a gente fez questão de melhorar.
Através do HGPE observa-se que o cenário político para o candidato do PSDB
Beto Richa estava favorável. Observa-se também a ausência de uma oposição mais
contundente durante a campanha. Outro fator que colaborou com o desempenho do
candidato do PSDB em Curitiba foi à neutralização do Partido Popular Socialista (PPS)
em função do seu candidato na época Rubens Bueno ter ficado em terceiro lugar no
pleito municipal de 2004 ficando em terceiro lugar, com 188.313 votos, obtendo
20,039% dos votos válidos. Atualmente ele preside o PPS Estadual. O candidato do
PSDB a eleição de 2008, Beto Richa, disputava em 2004 a mesma eleição, a qual foi
eleito com 329.451 votos válidos, ou seja, 35,059%, mas somente no segundo turno
2 FAS – Fundação de Ação Social.
7
contra o então candidato do PT Ângelo Vanhoni, que obteve 292.265 votos válidos, ou
seja, 31,176% .
A neutralização se deu quando o PSDB se coligou com o PPS e o DEM (Partido
Democrata) que sempre obtiveram boa votação no município, e influenciou esses
partidos a não lançar candidato próprio, para não ocorrer o risco de obter divisão de
votos, gerando assim um possível segundo turno, assim a disputa ficou polarizada entre
o PSDB e PT, favorecendo o candidato da situação, Beto Richa.
Em contrapartida a candidata Gleisi Hoffman preferiu o apoio e a boa avaliação
do governo do Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, o qual faz parte do
mesmo partido, para ajudá-la na campanha. Mesmo tendo o partido se coligado com
outros partidos menores e com pouca influência no município. Entretanto, a
comprovação do uso da boa avaliação do governo federal por parte da candidata petista,
pode ser constatada no seu programa eleitoral do dia 01 de Setembro de 2008, no qual a
candidata ressalta o bom desempenho do país:
Há sete anos ninguém diria que o Brasil teria estabilidade econômica, teria emprego, teria desenvolvimento. Vocês lembram o que diziam do presidente Lula? Que ele não iria conseguir governar que ele não era capaz de tocar o Brasil. O Brasil hoje é outro, o Brasil mudou, graças a Deus. Porque o povo teve coragem, a esperança. Venceu o medo...
Com isto Gleisi se apropria de um mundo atual positivo e favorável para obter
uma maior influência sobre o eleitorado. Esse mundo atual de acordo com Figueiredo et
al. (2000) é descrito da seguinte forma:
Na lógica de construção de mundos possíveis-passados, atuais ou futuros, não há espaço para a manipulação da realidade. A transição de mundos reais para possíveis pode ser feita por dois caminhos: o da dedução lógica, típica das análises contrafactuais e prospectivas sobre o estado físico ou social; e o da lógica da inferência interpretativa das condições físicas ou sociais de uma sociedade. Este segundo caminho, na construção de mundos possíveis, é típico da argumentação política e, especialmente, da retórica de campanhas eleitorais, nas quais a contextualização ou a interpretação da história, dos fatos e das condições sociais são a matéria-prima do discurso eleitoral.
O desempenho econômico do governo passa ter uma maior importância para o
eleitor do que o voto ideológico, pois o mundo atual resulta diretamente sobre os
aspectos financeiros de cada eleitor, segundo André Singer (2002), “o voto retrospectivo
poderia ser, em conseqüência, mais “econômico” do que o voto orientado pela ideologia em determinadas
condições”. Para o autor em função da política econômica do governo federal estar
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favorável na época pode ter influenciado o eleitor na decisão do voto. Através do HGPE
observa-se que as parcerias entre o município e o governo federal também podem ter
levado o eleitor a construir um mundo futuro melhor do que o mundo atual e isso pode
ter refletido diretamente na decisão do voto.
Segundo Figueiredo et al. (2000) o voto está diretamente ligado ao candidato
que garanta a melhor realização do mundo atual e futuro e também do partido e grupo
político que o apóia. Diante deste cenário o autor ressalta:
(...) a estrutura discursiva de uma competição eleitoral deve descrever um mundo atual, dentre os possíveis, que melhor represente as condições sociais em que as pessoas vivem e a melhor maneira de se construir o mundo futuro desejável é fazer X; a única garantia de que X será feito é através do candidato, do grupo político ou partido ao qual está ligado; esses atores se tornam os garantidores da realização do mundo desejável.
Um exemplo de discurso de um mundo futuro é a fala do candidato do PSDB
Beto Richa em seu programa eleitoral do dia 17 de Setembro de 2008:
Além do mini-hospital do Boa Vista que vai ter capacidade para até mil consultas por dia, estão garantidas três novas unidades de saúde na Regional Boa Vista, uma delas na Barreirinha. E pensando na qualidade de vida da comunidade vai ser construído aqui, um clube comunitário com piscinas aquecidas, além disso, vamos implantar novas ciclovias e equipamento de ginástica ao longo do Rio Belém e ainda vamos instalar câmeras de monitoramento na regional para melhorar a segurança dos moradores.
Ao analisar as retóricas utilizadas pelo PSDB e PT em Curitiba, podemos
constatar a semelhança na campanha de 2004 pela Prefeitura de São Paulo, PT,
mandatário, versus PSDB, desafiante, onde a autora Veiga et al. (2004) observou que o
discurso do PT e PSDB ficou mais no campo pragmático: situação versus oposição. O
ideológico divide-se em esquerda e direita; e o pragmático, tem as posturas de situação
e oposição, no qual a eleição municipal de Curitiba se encaixa. E a partir daí
localizaremos os discursos dos candidatos do PSDB e PT dentro deste cenário.
Através do cenário eleitoral analisam-se todos os personagens e as suas
participações no resultado final da votação, uma vez que a polarização da eleição
municipal de 2008 ficou entre o candidato do PSDB Beto Richa e do PT Gleisi
Hoffman.
3. Primeiro turno: crescimento e polarização entre PSDB e PT
Observa-se no HGPE a similaridade entre as propostas apresentadas pelo
candidato do PSDB Beto Richa e pela candidata do PT Gleisi Hoffman. Considerando
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que as opções não são conflitantes no essencial, o processo de escolha do eleitor tende a
ser ativado mais por discussões de questões reais e práticas e menos por paixões
ideológicas excludentes. Isso confere estabilidade ao regime político e às instituições, e
neste caso uma reeleição.
A disputa entre iguais ou quase iguais, teoricamente também dá tranqüilidade ao
ambiente econômico. André Singer (2000) destaca a importância da identificação
ideológica para explicar o comportamento do eleitor. Para Singer existe uma
consolidação do PT como o partido do proletariado, e do PSDB enquanto um partido da
classe média. “A grande capital que o PSDB ganhou foi Curitiba, típica cidade de classe
média” 3. Segundo Singer (2008), esse é um alinhamento de natureza social que envolve
aspectos ideológicos da maior importância, e que se revelou melhor na eleição de 2008,
que, por ser local, não é puxada por candidatos nacionais, ficando mais claro o perfil
dos partidos.
Observando os programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE),
todos os candidatos a prefeito não apresentaram propostas diferenciadas ao de Beto
Richa. Em função disso, o eleitorado curitibano primou pelo continuísmo em uma
disputa esvaziada de conteúdo político e ideológico e centrada no debate sobre quem
pode administrar melhor a cidade. Logo abaixo exemplificamos com um trecho do
programa do candidato do PSDB apresentado no dia 05 de Setembro de 2008:
Âncora falando: - Boa noite. Este é o programa do melhor prefeito do Brasil por cinco vezes. Guilherme você tá vendo o que tá acontecendo? Do que você tá falando? Dos programas dos outros candidatos. Eu não sei, tenho a impressão que eles só ficam copiando as propostas do Beto. Ué deixa. Tá no site para todo mundo ver, não tá? To até pensando em criar um slogan “site do Beto Richa à disposição da oposição”...
Albuquerque (1999) considera como um marco decisivo no processo da
profissionalização das campanhas eleitorais e da utilização de marketing político e
argumentos capazes de seduzir os eleitores levando o mesmo a legitimar o seu voto.
Para Aristóteles (1999:33) “é pelo discurso que persuadimos, sempre que demonstramos a verdade
ou o que parece ser a verdade, de acordo com o que, sobre cada assunto, é suscetível de persuadir”.
Através da retórica procurou-se mostrar como dela nos poderemos nos apropriar não
apenas enquanto técnica de persuasão discursiva, mas também como referência crítica e
metodológica para toda a discussão política.
3 Citação retirada de entrevista dada ao Jornal Folha de São Paulo no dia 03.11.2008 e se encontra no site da Folha online: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u463377.shtml
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3.1. A análise da retórica A análise dos discursos das campanhas dos candidatos do PSDB e do PT foi
feita através dos programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, veiculados no
horário noturno na disputa municipal de 2008. Para identificar se as estratégias de
comunicação do PSDB e do PT foram observadas primeiramente se a retórica era
coerente com a posição do candidato na disputa, além de classificar o conteúdo em
categorias próprias de mandatário (Situação) e de desafiante (Oposição).
As estratégias típicas de mandatários analisadas foram: a postura “acima da
briga”, em relação à competição; ênfase em realizações e a associação à administração
em curso (mundo atual e futuro); endosso de lideranças da sociedade civil organizada;
encontros com lideranças estaduais e nacionais, ou até internacionais. Por outro lado, as
estratégias típicas de desafiantes incluídas foram: o apelo à mudança (do mundo atual);
ofensiva quanto a temas (avaliando o mundo atual e descrevendo o futuro); ataques à
administração em curso.
Através da análise do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, observou-se que
os candidatos recorreram à estratégia típica de sua posição na competição com exceção
da petista. O candidato do PSDB claramente como candidato da situação, como
realizador de obras e apresentando suas realizações através de reformas de praças,
construção de creches, postos de saúde, mostrando um mundo atual positivo e um
mundo futuro ainda muito melhor, através do hospital do idoso, construção de novos
restaurantes populares em parceria com o governo federal, entre outros.
Depoimento do candidato do PSDB Beto Richa em seu programa eleitoral de 29
de agosto de 2008:
Honramos todos os compromissos com a cidade nesta gestão, por isso nos atingimos cerca de 85% de aprovação pelos curitibanos. Isso nos confere credibilidade e confiança para apresentarmos novas propostas para os próximos quatro anos. Administramos com ética, administramos com austeridade e, com extremo zelo e rigor na aplicação sagrada do contribuinte e se traduz em obras por toda a cidade e obras que melhoraram a vida das pessoas. Ainda carrego a responsabilidade de ter sido eleito por cinco vezes o melhor prefeito do Brasil...
Depoimento do candidato do PSDB Beto Richa, dia 12 de setembro de 2008.
A saúde pública só vai ser eficiente quando todo cidadão for atendido com o respeito que merece e com a solução que precisa. Ainda não chegamos lá. Mas avançamos muito, muito mesmo. A rede de unidade de atendimento cresceu. As antigas unidades foram reconstruídas e todas têm um padrão de qualidade que não é muito comum na saúde pública do Brasil. Funcionam e funcionam bem. Avançamos porque a cidade tem hoje uma rede de atendimento de emergências que não tinha há quatro anos. São mini-hospitais com Pronto Atendimento Infantil o PAI. Além disso, os mini-hospitais estão equipados e preparados para atender casos complicados que não podem esperar.
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Ao contrário, a candidata petista não foi oposição de fato e optou por associar
seu empenho à imagem do presidente Lula. Através dos programas fica evidente que a
oposição não teve um posicionamento firme de crítica a administração do prefeito-
candidato. Como veremos a seguir:
Programa da candidata do PT Gleisi Hoffman, dia 12 de setembro de 2008.
Locutor em off: - Muitos postos de saúde sem médicos. Filas intermináveis para exames. Filas intermináveis para consultar médicos especialistas. Nada muda. E a população de Curitiba carrega uma dúvida. Por que não resolveram as filas nesses quatro anos? Por que não cuidaram das pessoas? Gleisi em seguida: - Hoje eu quero falar com você que não tem plano de saúde. Você não acha estranho que só agora na eleição venham falar em resolver as filas na saúde. Marcar exames e consultas por telefone? Por que não fizeram isso antes? Prioridade não é algo que você espera quatro anos para começar a fazer. Você não espera quatro dias para medicar um filho com febre, espera? Nós não podemos brincar com a vida das pessoas.
Através da avaliação do eixo situação e oposição, os candidatos assumiram as
posturas esperadas: Beto Richa assumiu um discurso de situação e Gleisi, o de oposição,
mas sem um posicionamento firme de opositora. Observa-se que os candidatos
priorizaram o apelo pragmático. O quadro a seguir apresenta as principais linhas das
estratégias discursivas:
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Quadro I: ESTRATÉGIAS DE RETÓRICA
BETO RICHA - PSDB GLEISE HOFFMAN - PT
MUNDO ATUAL
Melhoria em todos os setores municipais: Educação, Saúde, Segurança, Ação Social e Trânsito.
Críticas aos setores com uma maior deficiência da atual Administração, exemplos citados: Saúde, Ecologia, Trânsito, Ações Sociais.
MUNDO
FUTURO
Aperfeiçoar serviços prestados a população, modificar o sistema atual de Trânsito com a melhoria das ruas e ainda a construção de um meio de transporte diferente do atual, neste caso o metrô.
Construção do metrô, modificação do sistema de cobrança dos meios de transporte, melhorias na Saúde, modificação no sistema de aprendizagem municipal.
O QUE FAZER?
O candidato se vale da grande aprovação da sua administração atual, prêmios no exterior, de reconhecimento a Administração atual e conta com a continuidade das melhorias.
A Candidata se vale de ter o apoio total do Governo Federal
GARANTIA
Eleito cinco vezes o melhor prefeito do Brasil. Foi deputado por dois mandatos sendo um em 1994 e outro em 1998, é filho de José Richa um dos maiores nomes da política brasileira. Em 2004 foi eleito prefeito de Curitiba. Em 2007 foi eleito por dois institutos de pesquisas o melhor prefeito do Brasil e em 2008 foi eleito novamente o melhor prefeito entre as capitais brasileiras. E também discursou na Alemanha sendo um dos melhores prefeitos do mundo.
Especialista em gestão pública e administração financeira. É formada em Direito. Tem como patrono, o presidente Lula. Experiência administrativa: foi diretora da Itaipu, fez parte da equipe de transição do governo Lula ao lado da ministra Dilma. Foi candidata ao senado e obteve uma excelente votação. É esposa do ministro Paulo Bernardo. Proximidade com o governo estadual e Federal.
3.2. Mundo atual De acordo com os programas do HGPE na TV o mundo atual da candidata do
PT Gleisi Hoffman, a administração do candidato à reeleição Beto Richa deixava
algumas coisas a desejar, como na área da saúde e transporte coletivo para mostrar que
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o desempenho do candidato do PSDB era ineficiente nestas áreas. Por outro lado o
candidato do PSDB Beto Richa mostrava as benfeitorias da sua administração em todas
as áreas aprovadas pela “maioria da população”. Dados dos institutos de pesquisas, e
obras realizadas nos bairros e centro da cidade através de dados. Observa-se que os
discursos dos candidatos do PSDB e PT estavam embasados na realidade, porém a
argumentação do candidato do PSDB Beto Richa era mais coerente com a realidade e
com o grau de satisfação do eleitorado. No discurso da candidata do PT Gleisi Hoffman
faltava um posicionamento firme, e não combinava com a realidade que o curitibano
estava vivenciando, pois, próximo à eleição, foram realizadas muitas obras ao mesmo
tempo e em vários bairros e no centro da cidade.
3.3. Mundo futuro Através dos programas do HGPE, os candidatos deram muita atenção para o
presente e na construção dos mundos futuros. O candidato do PSDB Beto Richa propôs
continuar o que estava realizando com expansão de projetos e programas e priorizava
saúde, educação, transporte coletivo, segurança e obras de infraestrutura. A candidata
do PT Gleisi Hoffman propunha continuar o que estava dando certo, mas com algumas
alterações como é o caso da Linha Verde, na área da saúde e no transporte coletivo.
Observa-se que apesar do mundo atual ser diferenciado para ambos, o mundo futuro era
semelhante em alguns aspectos como é o caso do metrô e educação. Já a saúde,
segurança, transporte coletivo e Linha Verde tinham algumas diferenciações.
3.4. Garantia Apesar dos mundos futuros diferenciados em alguns aspectos, a garantia tem
relevância na hora de decidir em quem votar. O currículo do candidato do PSDB Beto
Richa demonstra mais experiência do que as candidata do PT Gleisi Hoffman. Todos os
eleitores sabiam quem é o prefeito e quem foi seu pai José Richa. O candidato do PSDB
tinha vantagem por ser prefeito e estar tentando a reeleição. Através de sua gestão, ele
mostrou que era um fazedor de obras. A candidata do PT Gleisi Hoffman, ao contrário é
ainda um rosto novo na política, sua experiência político-administrativa é pequena
diante do candidato do PSDB Beto Richa, mas conta com o apoio do presidente Lula. O
candidato do PSDB se apresentou como um candidato capacitado e experiente para
continuar as obras no município. A sua experiência vinha de sua trajetória política. Por
14
outro lado, a candidata do PT Gleisi Hoffman se preocupou em construir sua imagem
através do presidente Lula, de uma pessoa capaz, de coragem e com vontade de
trabalhar pelo município e pelo povo.
Numa campanha política o candidato terá que ter um excelente argumento para
um discurso bem sucedido. Segundo Charaudeau (2006), as estratégias discursivas
empregadas pelo político para atrair a simpatia do público dependem de vários fatores
entre eles: de sua própria identidade social, da maneira como ele percebe a opinião
pública e do caminho que ele faz para chegar até ela, da posição dos outros atores
políticos, que sejam parceiros ou adversários, do que julgar necessário defender ou
atacar: as pessoas, as ideias ou as ações.
3.5 A construção do discurso do PSDB e PT
Para avaliar os discursos elaborados pelo candidato do PSDB Beto Richa e pela
candidata do PT Gleisi Hoffman enumerou-se três categorias: a) retórica da mensagem
através do uso de sedução, de preposição, de crítica, de valores ou de ameaça; b) a
linguagem utilizada: se era didática, informativa, panfletárias, no diálogo com o eleitor;
c) o orador dominante: se era o próprio candidato, patrono político, garoto-propaganda,
líder partidário, locutor em off, um cantor, um personagem ou uma personalidade
pública.
O que se observa nos programas é que ambos se utilizaram mais da retórica de
sedução e de preposição, com exceção da candidata do PT Gleisi Hoffman que também
se utilizou da crítica, mas não com um posicionamento firme de opositora.
A linguagem utilizada tanto pelo PSDB e PT foi mais informativa e panfletária.
Já os oradores que mais prevaleceram no discurso do PSDB foram: locutor em off, o
popular, âncora, instrumental, seguido do candidato. No programa do PT, quem mais
apareceu foi: o locutor em off, o próprio candidato, seguido do cantor em off. De modo
geral, os diferentes tipos de apelo encontram-se associados a determinadas retóricas,
sendo o apelo o elemento que dá o mote4 do comercial. Através dos programas é
possível identificar que tanto o PSDB como o PT, recorreram mais aos discursos
emocionais, seguido do pragmático. Podemos identificar na tabela abaixo:
4 Mote ou lema é uma ideia expressa por uma frase que serve de guia ou de motivação para uma pessoa, grupo, seita, país ou nação.
15
Quadro II: Analise dos segmentos do programa no aspecto: APELO
BETO RICHA GLEISI HOFFMAN
Apelo Nº segmentos %
Segmentos Apelo Nº segmentos
%
Segmentos
Pragmático 179 17,1 Pragmático 47 15,7
Documental 2 0,2 Ideológico 2 0,7
Político 2 0,2 Político 3 1,0
Emocional 863 82,5 Emocional 247 82,6
TOTAL 1046 100,0 TOTAL 299 100,0
Constata-se que houve certa semelhança na escolha da retórica, uma vez que os
candidatos fizeram mais uso do “apelo emocional”, que nos remete à forma como a
argumentação política foi construída. A estrutura retórica lógica que permeou as
campanhas foi o confronto entre as visões sobre o “mundo atual” e o “mundo futuro”,
ou seja, a situação tentando mostrar que o “mundo atual” é bom, e a oposição, por sua
vez, procurando desconstruir o discurso, dizendo que o “mundo atual” está ruim, e que
o “futuro” pode ser melhor se houver mudanças.
Para “seduzir” o eleitor e convencer o eleitor de que a sua argumentação é a
mais consistente, os candidatos utilizaram-se apelos persuasivos pragmáticos e não
ideológicos. O candidato do PSDB, Beto Richa foi o que mais procurou mostrar para o
eleitor, o cálculo custos e benefícios, tentando persuadir o público de que valeria a pena
dar continuidade ao modelo de administração, iniciado há quatro anos. Beto Richa
utilizou 17,1% de “apelos pragmáticos”, 0,2% de “apelos políticos” e 82,5% de “apelos
emocionais”. A candidata do PT utilizou 15,7% de “apelos pragmáticos”, 1,0% de
“apelos políticos” e 82,6% de “apelos emocionais”.
Tanto o PT como PSDB priorizaram a imagem do candidato, sendo que Beto
Richa dentre os 1046 segmentos utilizados na apresentação do seu programa eleitoral
priorizou 34,0%, ou seja, 356 segmentos, já a candidata do PT, Gleisi Hoffman 39,1%,
ou seja, 117 segmentos, entretanto a quantidade de segmentos totais da candidata não
passou de 299. O PSDB deu mais ênfase ao tema infraestrutura e saneamento básico
(8,5%), dentro de 89 segmentos, seguido de um cardápio-variedade de políticas públicas
(6,7%) que aparecem em 70 segmentos. Por outro lado o PT priorizou a área da saúde
(10,7%), mostrado dentro de 32 segmentos e também se apropriou de ideias para um
cardápio-variedade de políticas públicas, observado em 21(7,0%) do total dos
16
segmentos utilizados por essa candidata. Para uma melhor compreensão dos dados
observe o quadro a seguir:
Quadro III: Analise quanto aos Objetos-temas usados pelos candidatos em questão.
BETO RICHA GLEISI HOFFMAN
Apelo Nº
segmentos
%
segmentos Apelo Nº segmentos
%
segmentos
Imagem 356 34,0 Imagem 117 39,1
Infraestrutura e
saneamento
básico.
89 8,5 Saúde 32 10,7
Cardápio:
variedade de
Políticas Públicas
70 6,7
Cardápio:
variedade de
Políticas
Públicas
21 7,0
TOTAL 1046 100,0 TOTAL 299 100,0
Através dos programas, foi possível identificar a maneira pela qual a campanha
do PSDB e PT se comunicou com o eleitor. O PSDB passou a sua mensagem através de
vídeo clipe/jingle, telejornal, chamada, povo fala e em seguida pelo pronunciamento do
candidato. Já o PT priorizou o vídeo clipe/jingle e o pronunciamento da candidata.
Na análise da propaganda dos candidatos em Curitiba, identificamos,
novamente, uma semelhança da campanha de Beto Richa e Gleisi Hoffman, na
categoria “ Retórica”. Como candidato à reeleição, Beto Richa, além de ter utilizado
“apelos emocionais”, utilizou mais a “retórica da sedução” (83, %), procurando destacar
as suas ações à frente da prefeitura de Curitiba. Em segundo lugar, aparece a “retórica
da proposição” (16,0%). A candidata do PT Gleisi Hoffman também utilizou (82,6%)
de “apelos emocionais”, bem como a retórica da sedução (65,9%), seguida da retórica
de crítica utilizada em 18,7% do seu programa, sendo um dos diferenciais da campanha.
O poder de convicção do orador sobre o seu auditório não depende só dos fatos,
das premissas que emprega e nem da sua boa argumentação. Segundo Gomes (1994
apud ALBUQUERQUE, 2000:24), considera a questão da retórica na propaganda
política na televisão sob o prisma da ética. “O texto não fornece uma resposta precisa, apenas
indica ser necessário, normas, regras e parâmetros que devem governar a interação argumentativa entre os
sujeitos de interesse e pretensões”.
17
Soares (1995 apud ALBUQUERQUE, 2000:24), defende a necessidade de se
integrar, na análise da propaganda política, questões diferentes: refere-se ao cenário de
representação política; à propaganda política, como processo retórico por excelência,
visando uma audiência; voto racional, conforme a visão de mundo, opiniões e atitudes e
objetivos. O autor considera o ato retórico através da persuasão e sedução. Para ele, a
estratégia da persuasão se vale de argumentos para convencer as pessoas sobre
determinada opinião. Na estratégia da sedução, o objetivo é fascinar.
Tanto o candidato do PSDB Beto Richa quanto à candidata do PT Gleisi
Hoffman em seus programas utilizaram-se do ato retórico de persuasão e sedução para
atraírem o eleitor. Observa-se que o objetivo de ambos era convencer e fascinar as
pessoas de que o mundo futuro seria muito melhor do que o atual. Figueiredo et al.
(1998:10) enfoca que numa campanha, os candidatos se engajam em uma argumentação
de natureza ficcional. “Todos constroem um mundo atual possível, igual ou pouco diferente do
mundo real, e com base nele projetam um novo e bom mundo possível”.
Albuquerque (1998:26) concorda com autor citado, pois acredita que: “com base
nesse modelo, os autores apresentam uma série de proposições que relacionam a situação retórica vigente
em uma campanha eleitoral às possibilidades de sucesso dos competidores”. Segundo o autor, o
político vai sendo lapidado, e a sua fala vai sendo adequada, para aquele cenário
político, econômico e social.
Em Curitiba, por exemplo, nenhum candidato pode abrir mão de proclamar o
cuidado com o ordenamento e o desenvolvimento urbano da cidade. Por outro lado, a
questão social também fez parte da agenda pública municipal. Observa-se nos
programas dos candidatos que essa foi a principal mudança no plano das ideias e dos
discursos.
A ênfase dos dois principais candidatos sobre esse ponto produziu um curto-
circuito tanto na imagem como na mensagem do PT. A figura maternal da candidata do
PT Gleisi Hoffmann, se propondo a “cuidar das pessoas”, nada menos do que a
radicalização um tanto piegas daquela disposição assistencial, teve de ser
complementada pela exibição (e pela exaltação) do seu currículo profissional: técnica
em orçamento público, especialista em finanças, secretária de governo, entre outras.
Nos últimos quatro anos, o candidato do PSDB Beto Richa incorporou, de forma
bem mais pragmática, essa inclinação para as questões sociais, sem abrir mão do
figurino de administrador. Para Figueiredo et al. (1998:4) “esse debate se dá entre
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interpretações sobre o mundo atual (se ele está bom ou ruim), comparações sobre os mundos futuros que
as campanhas apresentam, e sobre quem garante a realização do mundo futuro”.
Através da análise do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, observa-se que o
candidato do PSDB Beto Richa conseguiu convencer os eleitores, construindo um
mundo atual possível, igual ou um pouco diferente do mundo real, e com base nele
projetou um novo e bom mundo futuro possível. No aspecto igualdade social se mostrou
semelhante ao PT. Por sua vez, o discurso do PT, na condição de desafiante foi mais
pragmático e menos ideológico. A postura da candidata do PT Gleisi Hoffman foi muito
parecida com a candidata de São Paulo em 2004, Marta Suplicy.
4. Avaliação geral dos programas do PSDB e PT
Através da análise dos programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral,
observa-se que as campanhas da situação e da oposição interpretam o mundo atual e
propõem um mundo futuro melhor. Vemos que a estratégia da candidata do PT Gleisi
Hoffman reforçou a corrente avaliação negativa do mundo presente, usando parte de seu
programa para desconstruir a imagem do candidato do PSDB Beto Richa e de sua
administração uma vez que ele concorria à reeleição. É interessante notar o baixo grau
de posicionamento da candidata do PT. Em termos agregados, 96,7% dos segmentos
apresentados no horário eleitoral noturno, não continham uma avaliação, negativa ou
positiva, do status quo. Mesmo para a petista que pregava a “mudança”, portanto, esta
proposta de renovação não se construiu como uma oposição muito crítica ao candidato
do PSDB. A candidata do PT simplesmente descreveu problemas e propôs soluções,
ainda que fantasiosas, mas sem atribuir responsabilidades muito claras. Além da
construção/desconstrução do mundo, os programas da candidata do PT dedicam espaço
mais significativo de todos à própria campanha, presente em grande parte dos
segmentos.
A imagem de uma campanha dinâmica, com adesões crescentes, bem-sucedida e
emocionante são uma das tônicas, efetivamente, do programa do candidato do PSDB
Beto Richa. Também ganham algum destaque, nos programas do PSDB, os temas
relativos à saúde (5,7%), transporte coletivo (5,6%) e educação (6,4%). Todos
projetados para um futuro positivo.
Observa-se que o candidato do PSDB soube se beneficiar da adesão em
potencial dos eleitores efetivamente satisfeitos com o governo e o estado das coisas.
19
Como já observado em outras ocasiões, brigar no campo do adversário é sempre uma
estratégia eleitoral arriscada, uma vez que é difícil reivindicar uma bandeira já em poder
de outro ator político. Verifica-se que ele soube incorporar em seu programa eleitoral,
mostrando as melhorias incorporadas nos programas do governo federal.
Os conteúdos temáticos e políticos chegaram ao público através de determinados
formatos e estilos discursivos, que certamente contribuem para sua compreensão, e para
o julgamento e decisão eleitoral da parte importante da população que, direta ou
indiretamente, atingem. No caso dos candidatos do PSDB e PT através da retórica de
sedução e persuasão, mas com apelo emocional. Através do HGPE é possível identificar
que os discursos de ambos são emocionais e menos político.
O apelo emocional está presente na valorização, pela campanha, de aspectos
afetivos e simbólicos para estabelecer a associação política do candidato do PSDB Beto
Richa à situação, ao continuísmo. Chama a atenção, a absoluta ausência de apelos
ideológicos, caracterizados pela crítica estrutural ao regime capitalista, divergência em
termos de projeto; nenhum dos dois propôs uma mudança de sistema.
Em termos de retórica, os dois candidatos usaram predominantemente a sedução.
O candidato do PSDB Beto Richa 83,0% e a candidata do PT, Gleisi Hoffman 65,9%.
Esta ênfase na sedução seja tendo como objeto a imagem dos candidatos, ou as
promessas de uma cidade melhor para todos, mostram que o debate se deu, como se
observou no HGPE, mais em termos da construção de uma imagem genérica dos
candidatos em disputa do que em diferenças programáticas consideráveis.
Na categoria “linguagem”, em que chama a atenção o fato de que tanto o PT
como o PSDB, construíram seus programas principalmente na linguagem informativa.
Beto Richa utilizou 77,2% e Gleisi Hoffman 77,6% dos seus programas a transmitir
informações ao eleitor. Verificou-se que o candidato do PSDB Beto Richa e a candidata
do PT Gleisi Hoffman privilegiaram os apelos emocionais e pragmáticos calcados na
sedução. Já os atributos se diferenciam. O candidato do PSDB é focado mais no político
e a candidata do PT no pessoal e administrativo.
O PSDB procurou associar a imagem do seu candidato a suas qualidades-
políticas-administrativos e o PT procurou associar a imagem da candidata do PT a suas
qualidades pessoais e feitos administrativos. A ênfase nas realizações e na performance
demonstrada em outros cargos que pode ser um argumento persuasivo forte, mas trata-
se essencialmente de um recurso de mandatário, que ganha maior credibilidade em
tempos de avaliação positiva do governo em curso.
20
Neste aspecto, o candidato do PSDB é mais coerente com a realidade, do que a
petista quando transmite o seu discurso. Isso pode ser observado em um dos programas
em que a candidata do PT Gleisi Hoffman faz críticas à área da saúde. Na tentativa de
esvaziar o discurso oposicionista, o candidato do PSDB Beto Richa no mesmo dia, fala
sobre a área da saúde e reconhece os problemas existentes em sua gestão, como falta de
médicos e demora na marcação de consultas médicas e exames e, em seguida apresenta
as soluções necessárias para melhorá-los.
Observa-se também a maneira como são transmitidas as mensagens dentro dos
programas de cada candidato. A persuasão e a sedução são muito fortes nos programas
do candidato do PSDB. A linha condutora das mensagens veiculadas nos programas do
PSDB apresenta um bom mundo atual. Isso pode ser observado através do respaldo da
maioria do eleitorado de Curitiba, quando, eram apresentados os dados de sua
aprovação através dos institutos de pesquisas.
Verificou-se também que no jogo retórico a campanha do candidato do PSDB
teve a interpretação dominante sobre os seus opositores. Diante da busca pela reeleição
o PSDB soube exaltar o “seu bom mundo atual possível”, mostrando as realizações, e
associando o candidato a elas. A situação mostrou-se “acima da briga”.
Para Albuquerque (1999) as obras fornecem marcos palpáveis das realizações de
uma determinada administração. Já ao PT como desafiante, coube o papel de
desqualificar o mandatário, criticando suas ações junto ao povo e apelar para mudanças
e tomar a ofensiva quanto a temas. O PT usou o horário eleitoral para mostrar o seu
candidato e suas propostas e explorar sua relação com o governo federal, centrado em
críticas ao candidato do PSDB.
A campanha da petista defendeu prioridade a obras sociais, como creches.
Tentou convencer o eleitor da necessidade de "mudança de prioridades". Através do
HGPE pode se verificar, que tanto o PSDB, como o PT, usou o espaço que é dedicado
ao debate eleitoral para apresentação de candidatos e propostas sem confronto direto. A
boa avaliação, pelo povo, da administração do candidato do PSDB Beto Richa lhe
garantiu a interpretação de que o mundo atual estava bom e no futuro ficaria ainda
melhor.
Os candidatos Beto Richa (PSDB) e Gleisi Hoffman (PT) apesar de assumirem
posições polarizadas, afinal eram adversários, acabaram estabelecendo um “diálogo”
durante a campanha. Enquanto um procurava construir a imagem da cidade, o outro
procurava desconstruí-la. Alguns temas políticos foram utilizados nesta disputa - saúde,
21
segurança, transporte e políticas sociais. Beto Richa enfatizou as conquistas nas
diferentes áreas, enquanto Gleisi Hoffman apontava as deficiências. Se houve uma
convergência temática, a abordagem é diferenciada. Beto Richa criou uma campanha
positiva, apresentando as melhorias na cidade, principalmente do ponto de vista social:
os avanços na saúde, a importância da participação da comunidade nas decisões
públicas, as políticas sociais aos jovens e comunidades carentes. Investiu na construção
da imagem de uma cidade que avançava, tanto no campo de melhorias sociais como na
democratização das ações públicas.
5. A análise do desempenho do PSDB e PT
Embora sucintamente faz-se necessário analisar o papel desempenhado pelo
PSDB e PT nas eleições municipais, em Curitiba. Observa-se nos programas de TV que
o discurso do PSDB foi mais coerente que a do PT. O PSDB buscou esclarecer durante
o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral as deficiências da atual gestão e de suas
práticas. A popularidade do candidato do PSDB Beto Richa se deve a sua política de
tocador de obras em toda a cidade. Do centro à periferia com a reforma das calçadas,
recapeamento das ruas centrais, abertura de vias para dar vazão ao aumento de milhares
de novos veículos em circulação. São obras que aparecem aos olhos dos eleitores.
Observa-se através do HGPE que o candidato do PSDB tem a imagem de bom
administrador, com uma eficiente política de propaganda e marketing. Do ponto de vista
de Albuquerque (1999) o primeiro deles concerne ao entendimento da imagem como
dizendo respeito a uma representação visual do mundo sensível. Verificou-se também
que um dos fatores preponderantes foi a forma eficaz como o candidato do PSDB agiu
em regiões da cidade onde a esquerda usualmente conseguia mais votos.
O PSDB, para a reeleição de Richa montou uma aliança de 11 partidos,
conseguindo trazer para o seu grupo siglas como DEM e PPS, que sempre tiveram boa
votação na cidade. O objetivo foi evitar a pulverização de votos e a realização de
segundo turno como aconteceu na eleição de 2004 em Curitiba. A frente de apoio ao
prefeito Beto Richa reuniu partidos que fez forte oposição ao governo do Presidente
Lula.
Entretanto, verifica-se que a postura desta aliança durante a campanha foi a de
maquiar sua posição e procurar fazer transparecer uma parceria de sucesso com o
Governo Federal. Ao fazer isto, o candidato do PSDB Beto Richa buscou confundir as
22
distinções entre os projetos políticos em vigor no país e dificultou uma maior
demarcação ideológica.
Assim mesmo foram enfocados problemas sociais graves, como a falta de vagas
nas creches, a inoperância dos exames especializados, a saturação do sistema de
transporte urbano, a ausência de políticas para a juventude, a falta de transparência das
licitações municipais.
A articulação do candidato do PSDB Beto Richa lhe rendeu o maior tempo de
televisão no horário eleitoral, com quase 11 minutos e 58 segundos de duração. O mote
da campanha do candidato do PSDB era: “O trabalho do prefeito das quatro mil obras
continua". Em parte, o sucesso do candidato do PSDB Beto Richa pode ser atribuído à
habilidosa reconstrução da figura política do pai. Fazendo uma breve retrospectiva
histórica das disputas eleitorais, o candidato do PSDB obteve o melhor desempenho de
um prefeito eleito em Curitiba desde 1985, quando a disputa nas capitais foi
restabelecida após o fim do regime militar. A eleição na capital paranaense não era
definida no primeiro turno desde 1996, quando o hoje deputado federal Cassio
Taniguchi (DEM) foi eleito com 54% dos votos.
Já o desempenho do PT foi dentro do possível, mas aquém do necessário e é o
retrato das possibilidades e das dificuldades para a reconstrução do ideário como projeto
de transformação social. A petista Gleisi Hoffman foi à segunda colocada com 18,17%.
Apesar da distância para o candidato do PSDB, a candidata teve um bom desempenho
na campanha, chegando a subir cinco pontos nas intenções de voto na reta final. O PT
consolidou-se como a principal opção política de oposição na cidade, encarnando as
críticas ao modo do PSDB de gestão, por uma Curitiba para Todos.
Observa-se no HGPE que a estratégia da petista foi explorar sua relação com o
governo federal – seu marido que é o ministro Paulo Bernardo. Centrada em críticas
moderadas ao candidato do PSDB, a campanha da petista defendeu prioridade a obras
sociais, como creches. Tentou convencer o eleitor da necessidade de "mudança de
prioridades". As estratégias da campanha da candidata do PT se revelaram incapazes de
mudar o pensamento do eleitor.
5.1. A vitória do PSDB
O prefeito de Curitiba, Beto Richa foi reeleito no primeiro turno da eleição
municipal com 768.514 votos, ou 77,27% do total. A candidata do PT, Gleisi Hoffman,
23
teve 183.027, ou 18,16%; O resultado confirmou o amplo favoritismo do candidato do
PSDB apontado desde o início da campanha eleitoral por todas as pesquisas. Apurados
os votos, o prefeito conquistou um resultado recorde, superando as marcas de Jaime
Lerner (57%) em 1992, Rafael Greca (52%) em 1996 e Cassio Taniguchi (54%) em
20005.
Ele começou a nova gestão com o apoio dos onze partidos - PSDB, PP, PSL,
PDT, DEM, PSB, PPS, PR, PSDC, PRP e PTN - que integraram a maior coligação da
cidade para as eleições municipais. Durante todo o período da campanha, o candidato
do PSDB Beto Richa obteve sempre 68% ou mais das intenções de voto.
Além disso, os avanços do Governo Federal trouxeram importantes reflexos para
o processo eleitoral de 2008. O significativo aumento dos investimentos (principalmente
na área social e pelas obras do PAC-Programa de Aceleração do Crescimento), assim
como a estabilidade econômica e política, beneficiou os atuais governantes,
independente do campo político.
Para Albuquerque (1999: 38) “a vida em público passou a se estruturar, então, nos termos
de um espetáculo perene, no qual o desempenho pessoal dos atores é julgado pela “platéia” de
espectadores”.
Através do HGPE pode se observar que a política econômica estabelecida pelo
Governo Federal garantiu uma saúde financeira confortável para a Prefeitura de
Curitiba, permitindo uma significativa ampliação nos investimentos - um fator
preponderante para o resultado eleitoral. A grande estabilidade vivida inibiu o debate
das mudanças necessárias.
6. Considerações Finais
Ao realizarmos o trabalho de análise das eleições municipais de 2008 em
Curitiba, foi possível chegar a algumas considerações sobre a estratégia da
argumentação utilizadas pelos candidatos do PSDB e PT no que diz respeito ao jogo
retórico. No entanto, as conclusões a que chegamos não esgotam o assunto, ainda
permeado por polêmicas, em relação às estratégias retóricas e discursivas utilizadas no
HGPE. Analisados os dados da disputa em Curitiba, pode-se afirmar que a discussão
5 www.g1.globo.com/eleicoes2008/parana
24
pragmática sobre o estado do mundo atual nas campanhas foi essencial. Houve um peso
considerável do voto retrospectivo – avaliação da prefeitura - e do voto prospectivo - o
que seria melhor - manter o atual governo ou mudar. Com uma postura pragmática,
observa-se que os candidatos à prefeitura utilizaram à mesma estrutura de argumentação
retórica. O candidato da situação defendeu a ideia de que o “copo está quase cheio”, e a
oposição, de que “o copo está quase vazio”.
Apesar de a estrutura argumentativa ser semelhante, identifica-se um conteúdo
político-ideológico diferenciado, mas, ao construir os apelos retóricos, novamente os
atores políticos usaram estratégias com apelos pragmáticos e não ideológicos. A eleição
municipal de 2008 em Curitiba trouxe de novo a polarização entre os partidos de
esquerda (PT) e o de direita (PSDB). Isso já havia ocorrido em 2004, quando o embate
ficou entre o candidato do PSDB, Beto Richa, e o candidato do PT, Ângelo Vanhoni6.
Entre os dois principais concorrentes à Prefeitura de Curitiba constata-se o
predomínio da agenda social. Sobre esta convergência temática em Curitiba, o
candidato do PSDB, Beto Richa beneficiou-se por ser o principal articulador desta
agenda, principalmente a ideia de aliar políticas sociais e participação popular. O
domínio sobre a agenda pode ter sido um dos fatores que beneficiou a candidatura de
Beto Richa.
Ao analisar os formatos dos programas dos candidatos do PSDB e do PT, foi
possível identificar similaridades. Ao desenvolver uma análise sobre a variável mais
circunstancial das disputas em 2008 em torno da construção do “mundo atual” X
“mundo futuro”, verificou-se um posicionamento dos candidatos a partir das premissas
da “Escolha Racional”, com uma concentração de recursos voltada para a elaboração
dos programas no HGPE. Numa perspectiva mais pragmática, percebe-se que a variável
em debate entre situação X oposição tornou-se mais exacerbada dando ênfase ao voto
retrospectivo.
Em Curitiba, o candidato à reeleição Beto Richa procurou construir a imagem de
um governo bem sucedido para atrair o eleitor. Por outro lado, a candidata do PT, Gleisi
Hoffmann tentou desconstruir a imagem do candidato do PSDB e em contrapartida
preferiu apostar na boa avaliação do governo do Presidente da República, Luis Inácio
Lula da Silva para ganhar o apoio do povo. Na dimensão pragmática, percebe-se que
Beto Richa utilizou o argumento da continuidade. Ao analisar a variável “disputa
6 Argumento citado apenas para informação, sem o devido aprofundamento.
25
situação X oposição”, as divergências saem do plano ideológico e estão relacionadas à
reeleição. Beto Richa construiu estratégias pragmáticas de reforçar a ideia do voto
retrospectivo, assim como em utilizar uma campanha otimista, de proposições, que
implicavam em dar continuidade a suas ações. Já a candidata Gleisi Hoffmann, verifica-
se um padrão no uso pragmático e crítico de tentar desconstruir a administração
municipal da época. Observa-se que o posicionamento dos candidatos nesta variável,
não recorreu a apelos ideológicos, mas a apelos pragmáticos – que mostram o peso da
reeleição e o caráter mais imediatista das competições eleitorais. Os dados
possibilitaram perceber esse jogo retórico no HGPE, mas mantendo a natureza da
política.
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26
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