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1 Estratégia da argumentação utilizada nas eleições municipais de Curitiba em 2008: o embate entre o PSDB, mandatário e PT, desafiante. Danielle Telles Wolff 1 Izaira Rodrigues de Andrade RESUMO: O artigo apresenta um estudo sobre as estratégias da argumentação utilizadas pelos candidatos Beto Richa do PSDB e Gleisi Hoffman do PT na disputa pela Prefeitura Municipal de Curitiba em 2008. A análise foi realizada a partir dos programas que foram ao ar no dia 20 de agosto de 2008 na TV no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), no período noturno das 20h às 20h30, encerrando-se no dia primeiro de outubro em função da eleição ter chegado ao fim no primeiro turno. O eixo de análise está relacionado à dimensão pragmática que diz respeito à polarização entre o discurso do candidato do PSDB (situação) versus candidato do PT (oposição). Palavras-chaves: Curitiba, eleições municipais, PSDB, PT, HGPE. ABSTRACT: The article a study about the strategies of the line of argument used by the candidates Beto Richa from PSDB and Gleisi Hoffman from PT in the disputes for the Municipal City Hall of Curitiba in 2008. The analysis was carried out from the programs that were broadcast on August 20 th , 2008, in the Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (fre electoral advertising) in the evening period from 8:00pm to 8:30pm, enclosing in the first day of october due to the election have ended on the first poll. The analysis is related to the pragmatical dimension thet concerns the polarization between the speech of the PSDB candidate (situation) versus the PT candidate (opposition). Key words: Curitiba, City election, PSDB, PT, HGPE. 1. Introdução: A retórica não é meramente uma arte de persuasão, mas antes uma faculdade de descobrir especulativamente o que, caso a caso, pode servir para persuadir”. Aristóteles 1 Danielle Telles Wolff é Publicitária e Izaira Rodrigues de Andrade é Jornalista e ambas são pós graduando em Comunicação Política e Imagem pela UFPR.

Estratégia da argumentação utilizada nas eleições municipais de … · 2016-03-10 · prefeito foi candidato à reeleição e conseguiu ser reeleito. ... a metodologia aplicada

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Estratégia da argumentação utilizada nas eleições municipais de Curitiba

em 2008: o embate entre o PSDB, mandatário e PT, desafiante.

Danielle Telles Wolff1 Izaira Rodrigues de Andrade

RESUMO: O artigo apresenta um estudo sobre as estratégias da argumentação utilizadas pelos candidatos Beto Richa do PSDB e Gleisi Hoffman do PT na disputa pela Prefeitura Municipal de Curitiba em 2008. A análise foi realizada a partir dos programas que foram ao ar no dia 20 de agosto de 2008 na TV no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), no período noturno das 20h às 20h30, encerrando-se no dia primeiro de outubro em função da eleição ter chegado ao fim no primeiro turno. O eixo de análise está relacionado à dimensão pragmática que diz respeito à polarização entre o discurso do candidato do PSDB (situação) versus candidato do PT (oposição). Palavras-chaves: Curitiba, eleições municipais, PSDB, PT, HGPE.

ABSTRACT : The article a study about the strategies of the line of argument used by the candidates Beto Richa from PSDB and Gleisi Hoffman from PT in the disputes for the Municipal City Hall of Curitiba in 2008. The analysis was carried out from the programs that were broadcast on August 20th, 2008, in the Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (fre electoral advertising) in the evening period from 8:00pm to 8:30pm, enclosing in the first day of october due to the election have ended on the first poll. The analysis is related to the pragmatical dimension thet concerns the polarization between the speech of the PSDB candidate (situation) versus the PT candidate (opposition). Key words: Curitiba, City election, PSDB, PT, HGPE.

1. Introdução:

“ A retórica não é meramente uma arte de persuasão, mas antes uma faculdade de descobrir especulativamente o que, caso a caso, pode servir para persuadir”. Aristóteles

1 Danielle Telles Wolff é Publicitária e Izaira Rodrigues de Andrade é Jornalista e ambas são pós graduando em Comunicação Política e Imagem pela UFPR.

2

Em outubro de 2008 foram realizadas as eleições municipais para a escolha dos

candidatos a prefeitos e vereadores dos mais de Cinco mil municípios brasileiros. Em

Curitiba a polarização ficou entre o candidato à reeleição, Beto Richa, do Partido da

Social Democracia Brasileira (PSDB) e a candidata de oposição, Gleisi Hoffman, do

Partido dos Trabalhadores (PT). Percebe-se que, nas disputas eleitorais, os candidatos

traçam um confronto sobre o mundo atual. Para a situação, o mundo atual está bom e,

para ficar ainda melhor, deve ser mantido o grupo que está no poder; já para a oposição,

o mundo está ruim e, para ser alterado, deve haver uma mudança de grupo político. O

trabalho faz uma análise das estratégias de argumentação utilizadas nas eleições

municipais de 2008, pelos candidatos do PSDB, (mandatário) e PT (desafiante).

Através do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), observa-se que o

candidato do PSDB, Beto Richa, não se apresentava como um candidato de direita e

nem a candidata do PT, Gleisi Hoffman, se apresentou como de esquerda. A ideia não é

de estabelecer uma comparação entre estes eixos de análise: a dimensão ideológica

(direita versus esquerda) e a dimensão pragmática (situação versus oposição), mas

mostrar como os candidatos do PSDB e PT utilizaram-se das estratégias de

argumentação durante o HGPE.

O artigo, ao definir como objeto de análise as estratégias discursivas dos

candidatos a prefeito de Curitiba, discute as mudanças que vêm ocorrendo no mundo da

política a partir da compreensão como tais processos eleitorais concretizam uma disputa

de retóricas.

Parte-se da seguinte problemática: como o candidato do PSDB Beto Richa, que

disputava a reeleição, conciliou a dimensão pragmática (construir o discurso da

situação) e a dimensão ideológica. Para realizar tal pesquisa, partiu-se do eixo analítico

de caráter circunstancial que diz respeito à disputa situação X oposição, uma vez que o

prefeito foi candidato à reeleição e conseguiu ser reeleito. Por outro lado, a candidata do

PT, Gleisi Hoffman, tentou desconstruir a imagem do candidato do PSDB e em

contrapartida preferiu apostar na boa avaliação do governo do Presidente da República,

Luis Inácio Lula da Silva para ganhar o apoio do povo, porém isso não foi suficiente em

função da similaridade das propostas com as do candidato do PSDB.

A ideia é analisar se os candidatos utilizaram estrategicamente a estrutura de

argumentação teórica, e qual conteúdo recorreu (se ideológico ou pragmático) e que tipo

de retórica persuasiva mais se utilizou (pragmática ou ideológica). Para realizar o

trabalho, a metodologia aplicada tem como base o modelo formulado por Figueiredo et

3

al. (2000) que parte do pressuposto de que, no debate eleitoral, os candidatos empregam

uma retórica cuja argumentação é de natureza ficcional. Os candidatos visando

convencer os eleitores constroem interpretações de mundo que se fundam na realidade,

mas, que são percepções diferenciadas, dependendo da posição que o ator político

ocupa no cenário político.

A interpretação do mundo político traz verossimilhança com o real, mas deve ser

entendida no jogo estabelecido entre situação e oposição, que cria versões diferenciadas

para essa realidade, tendo em vista a especificidade da retórica utilizada. Os candidatos

convivem o tempo todo entre mundos possíveis, atuais e futuros. Para Figueiredo et al.

(2000) a única garantia de que algo será feito é através do candidato, do grupo político

ou do partido ao qual está inserido. São eles que garantem a realização do mundo futuro

desejável. Diante dos problemas de cunho social e econômico, o candidato e seu grupo

político podem ser argumentos fortes para o desenvolvimento de um discurso político.

Uma argumentação eficaz é a que consegue aumentar essa intensidade de adesão, de forma que se desencadeie nos ouvintes a ação pretendida (ação positiva ou abstenção) ou, pelo menos, crie neles uma disposição para a ação, que se manifestará no momento oportuno. (PERELMAN, OLBRECHTS-TYTECA, 1996:50).

O trabalho tem por objetivo analisar o discurso retórico das campanhas do PSDB

e do PT, e como cada candidato se apropriou dos argumentos para formular o seu

discurso. Segundo Figueiredo (2000), a intenção de qualquer partido é obter a maioria

dos votos através dos argumentos políticos persuasivos fictícios dependendo do

contexto de mundo atual real em que se encontram os partidos e seus candidatos. A

partir desse pressuposto a pesquisa tem por objetivo descobrir em que medida foi

apresentada o mundo atual e o futuro para os eleitores a partir de cada candidato, os

argumentos persuasivos utilizados e como se deu a disputa eleitoral para a Prefeitura de

Curitiba.

O trabalho não tem por finalidade retraçar o longo caminho que as várias

correntes científicas já percorreram na tentativa de compreender o comportamento

eleitoral. Para Figueiredo et al. (2000:4), “os candidatos constroem um mundo atual possível,

igual ou um pouco diferente do mundo atual real, e com base nele projetam um novo e bom mundo futuro

possível”. Segundo ele, a estrutura dessa argumentação tem duas vertentes: o mundo

atual está ruim, mas ficará bom ou o mundo atual está bom e ficará ainda melhor.

Observa-se que a primeira é típica da argumentação da oposição e a outra da situação. A

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hipótese a ser proposta é que o eleitor ao votar no seu candidato tende a agradecer de

maneira racional, buscando maximizar as suas oportunidades futuras.

Essencialmente, a primeira parte da pesquisa se desenvolve com a leitura e

discussão crítica de obras pertinentes sobre o assunto. A partir de uma análise crítica

dos programas do Horário Gratuito de Programa Eleitoral (HGPE), pretende-se verificar

e identificar como os discursos foram elaborados para atingir o eleitor. A análise dos

programas se deu a partir da coleta de dados no formato de uma planilha inspirada na

metodologia desenvolvida por Figueiredo et al. (2000). Procuramos mostrar a

aplicabilidade dessa metodologia, tomando como referência a análise do HGPE na TV

no período noturno das 20h às 20h30, desde o dia 20 de agosto de 2008 a primeiro de

outubro do mesmo ano, em função da eleição em Curitiba ter sido decidida já no

primeiro turno. A partir daí analisamos a retórica através de alguns fragmentos de

discursos ao longo da campanha utilizada pelos candidatos do PSDB e PT; a construção

dos discursos através do HGPE e o desempenho eleitoral do PSDB e PT.

2. A retórica do PSDB e do PT: alguns fragmentos de discursos ao longo da

campanha.

Aristóteles (op. Cit., p. 31) afirma que o papel da Retórica é distinguir o que é verdadeiramente suscetível de persuadir do que é só na aparência. A persuasão acontece através de argumentos, ou seja, do discurso e das ferramentas discursivas ou retóricas, cuja base é o entinema. Na visão aristotélica, todo discurso é composto por três elementos: a pessoa que fala, o assunto de que se fala e a pessoa a quem se fala. Este último, o ouvinte, pode ser juiz ou espectador. Independente do gênero escolhido, os discursos sempre são utilizados para formar uma opinião. (ARISTÓTELES, 1999).

Dentro do referencial teórico analisado acerca das argumentações para formular

os discursos, verificou-se o desempenho e a retórica utilizada pelos candidatos nas

eleições municipais de Curitiba; os eixos que nortearam a análise dos discursos foram a

situação X oposição, além de mostrar como o PSDB elaborou o seu discurso de

mandatário e o PT a sua retórica de desafiante, bem como as análises dos programas

veiculados no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral na TV no período noturno, esse

tipo de análise pode ser observado por Veiga et al. (2004).

Qualquer balanço eleitoral deve partir da análise de três fatores: o cenário da

disputa e as demais forças que disputaram as eleições, as metas traçadas pelo partido e o

quanto o desempenho eleitoral fortaleceu a construção partidária. Através da resposta e

a combinação desses três fatores é que se pode avaliar a retórica e o desempenho do

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partido na disputa eleitoral. “Na disputa eleitoral por cargos majoritários, ganha aquele que obtiver o

maior número de votos, isto é, ganha quem conseguir persuadir a maioria”. (FIGUEREDO et al., 2000).

Para o autor ganha aquele que conseguir convencer a maioria do eleitorado que

determinada obra ou benfeitoria trará benefícios àquela comunidade do município.

Nas eleições municipais de 2008, em Curitiba, o candidato do PSDB, Beto Richa

venceu os oponentes com 778.514 votos (77,27%) em um universo de 1.245.505

eleitores, através da união de 11 partidos e com a coligação “Curitiba continua”. A

segunda colocada foi à candidata do PT Gleisi Hoffman que obteve 183.027 (18,17%),

e que também contou com o apoio de alguns partidos menores sob a coligação “Curitiba

para todos” seguida de Carlos Moreira (PMDB), com 19.157 votos (1,9%) e de

Maurício Furtado (PV), que obteve 8.906 votos (0,88%). O candidato Ricardo Gomyde

(PC do B) ficou na quinta colocação com 7.187 votos (0,71%), seguido de Fábio

Camargo (PTB), com 5.366 votos (0,53%). Bruno Meirinho (PSOL) obteve o sétimo

lugar com 4.464 votos e Lauro Rodrigues (PT do B) o oitavo, com 888 votos (0,09%).

Os votos brancos e nulos somaram 61.104 votos. A abstenção em Curitiba foi de

14,84%. Como podemos observar no gráfico a seguir:

Gráfico 1 : Resultado individual de cada candidato da eleição 2008

0 200.000 400.000 600.000 800.000

BETO RICHA

GLEISI HOFFMAN

CARLOS MOREIRA

MAURÍCIO

RICARDO GOMYDE

FÁBIO CAMARGO

BRUNO MEIRINHO

LAURO RODRIGUES

BRANCOS E NULOS

1.245.505 VOTOS 778.514 183.027 19.157 8.906 7.187 5.366 4.464 888 61.104

BETO RICHAGLEISI

HOFFMANCARLOS

MOREIRAMAURÍCIO FURTADO

RICARDO GOMYDE

FÁBIO CAMARGO

BRUNO MEIRINHO

LAURO RODRIGUES

BRANCOS E NULOS

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Na essência, as eleições municipais de 2008 foram marcadas pela conservação,

pelo discurso do continuísmo e pelo fortalecimento das candidaturas da ordem com um

alto índice de reeleição dos atuais prefeitos. Em Curitiba isso ficou visível desde o

início da campanha. Observe uma das falas do candidato do PSDB Beto Richa no

programa eleitoral gratuito do dia 20 de Agosto de 2008: “Por isso sou candidato para resolver

os problemas de quem ainda não foi atendido e para continuar um trabalho que a maioria dos curitibanos

aprova”. Em seguida vem um jingle, no mesmo programa, que reforça o perfil de

administrador e homem trabalhador e cumpridor do dever.

O Brasil queria ver qual o melhor prefeito e foram pesquisar o que já tinham feito foram no Brasil inteiro do Iapóque ao Chuí, mas não viram nada igual, ao que viram por aqui, Centros de Urgência, a melhor educação do País, Secretaria Antidrogas competente, mas de mil ruas asfaltadas, tem o Mãe Curitibana, tem a FAS2, assistência eficiente, prefeito sério, que investiu no que devia, porque escutava o povo.

O candidato do PSDB à prefeitura de Curitiba ao elaborar seu discurso, mostrou

à população que apesar de não comungar da mesma ideologia do Presidente da

República, soube tirar “louros” do governo federal em parceria com o município. Isso

pode ser constatado através da sua fala no programa do Horário Eleitoral do dia

08/09/2008, quando enfatiza a importância do projeto “Armazém da Família” aliado

com o “Bolsa Família”.

O Bolsa Família do governo federal distribui em Curitiba até R$ 100,00 por família. Com esse dinheiro que chega todos os meses as compras vão até aqui..., mas com o mesmo dinheiro nos Armazéns da Família da Prefeitura de Curitiba, as compras crescem da pra comprar 30% a mais. O Bolsa Família é uma boa idéia que a gente fez questão de melhorar.

Através do HGPE observa-se que o cenário político para o candidato do PSDB

Beto Richa estava favorável. Observa-se também a ausência de uma oposição mais

contundente durante a campanha. Outro fator que colaborou com o desempenho do

candidato do PSDB em Curitiba foi à neutralização do Partido Popular Socialista (PPS)

em função do seu candidato na época Rubens Bueno ter ficado em terceiro lugar no

pleito municipal de 2004 ficando em terceiro lugar, com 188.313 votos, obtendo

20,039% dos votos válidos. Atualmente ele preside o PPS Estadual. O candidato do

PSDB a eleição de 2008, Beto Richa, disputava em 2004 a mesma eleição, a qual foi

eleito com 329.451 votos válidos, ou seja, 35,059%, mas somente no segundo turno

2 FAS – Fundação de Ação Social.

7

contra o então candidato do PT Ângelo Vanhoni, que obteve 292.265 votos válidos, ou

seja, 31,176% .

A neutralização se deu quando o PSDB se coligou com o PPS e o DEM (Partido

Democrata) que sempre obtiveram boa votação no município, e influenciou esses

partidos a não lançar candidato próprio, para não ocorrer o risco de obter divisão de

votos, gerando assim um possível segundo turno, assim a disputa ficou polarizada entre

o PSDB e PT, favorecendo o candidato da situação, Beto Richa.

Em contrapartida a candidata Gleisi Hoffman preferiu o apoio e a boa avaliação

do governo do Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, o qual faz parte do

mesmo partido, para ajudá-la na campanha. Mesmo tendo o partido se coligado com

outros partidos menores e com pouca influência no município. Entretanto, a

comprovação do uso da boa avaliação do governo federal por parte da candidata petista,

pode ser constatada no seu programa eleitoral do dia 01 de Setembro de 2008, no qual a

candidata ressalta o bom desempenho do país:

Há sete anos ninguém diria que o Brasil teria estabilidade econômica, teria emprego, teria desenvolvimento. Vocês lembram o que diziam do presidente Lula? Que ele não iria conseguir governar que ele não era capaz de tocar o Brasil. O Brasil hoje é outro, o Brasil mudou, graças a Deus. Porque o povo teve coragem, a esperança. Venceu o medo...

Com isto Gleisi se apropria de um mundo atual positivo e favorável para obter

uma maior influência sobre o eleitorado. Esse mundo atual de acordo com Figueiredo et

al. (2000) é descrito da seguinte forma:

Na lógica de construção de mundos possíveis-passados, atuais ou futuros, não há espaço para a manipulação da realidade. A transição de mundos reais para possíveis pode ser feita por dois caminhos: o da dedução lógica, típica das análises contrafactuais e prospectivas sobre o estado físico ou social; e o da lógica da inferência interpretativa das condições físicas ou sociais de uma sociedade. Este segundo caminho, na construção de mundos possíveis, é típico da argumentação política e, especialmente, da retórica de campanhas eleitorais, nas quais a contextualização ou a interpretação da história, dos fatos e das condições sociais são a matéria-prima do discurso eleitoral.

O desempenho econômico do governo passa ter uma maior importância para o

eleitor do que o voto ideológico, pois o mundo atual resulta diretamente sobre os

aspectos financeiros de cada eleitor, segundo André Singer (2002), “o voto retrospectivo

poderia ser, em conseqüência, mais “econômico” do que o voto orientado pela ideologia em determinadas

condições”. Para o autor em função da política econômica do governo federal estar

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favorável na época pode ter influenciado o eleitor na decisão do voto. Através do HGPE

observa-se que as parcerias entre o município e o governo federal também podem ter

levado o eleitor a construir um mundo futuro melhor do que o mundo atual e isso pode

ter refletido diretamente na decisão do voto.

Segundo Figueiredo et al. (2000) o voto está diretamente ligado ao candidato

que garanta a melhor realização do mundo atual e futuro e também do partido e grupo

político que o apóia. Diante deste cenário o autor ressalta:

(...) a estrutura discursiva de uma competição eleitoral deve descrever um mundo atual, dentre os possíveis, que melhor represente as condições sociais em que as pessoas vivem e a melhor maneira de se construir o mundo futuro desejável é fazer X; a única garantia de que X será feito é através do candidato, do grupo político ou partido ao qual está ligado; esses atores se tornam os garantidores da realização do mundo desejável.

Um exemplo de discurso de um mundo futuro é a fala do candidato do PSDB

Beto Richa em seu programa eleitoral do dia 17 de Setembro de 2008:

Além do mini-hospital do Boa Vista que vai ter capacidade para até mil consultas por dia, estão garantidas três novas unidades de saúde na Regional Boa Vista, uma delas na Barreirinha. E pensando na qualidade de vida da comunidade vai ser construído aqui, um clube comunitário com piscinas aquecidas, além disso, vamos implantar novas ciclovias e equipamento de ginástica ao longo do Rio Belém e ainda vamos instalar câmeras de monitoramento na regional para melhorar a segurança dos moradores.

Ao analisar as retóricas utilizadas pelo PSDB e PT em Curitiba, podemos

constatar a semelhança na campanha de 2004 pela Prefeitura de São Paulo, PT,

mandatário, versus PSDB, desafiante, onde a autora Veiga et al. (2004) observou que o

discurso do PT e PSDB ficou mais no campo pragmático: situação versus oposição. O

ideológico divide-se em esquerda e direita; e o pragmático, tem as posturas de situação

e oposição, no qual a eleição municipal de Curitiba se encaixa. E a partir daí

localizaremos os discursos dos candidatos do PSDB e PT dentro deste cenário.

Através do cenário eleitoral analisam-se todos os personagens e as suas

participações no resultado final da votação, uma vez que a polarização da eleição

municipal de 2008 ficou entre o candidato do PSDB Beto Richa e do PT Gleisi

Hoffman.

3. Primeiro turno: crescimento e polarização entre PSDB e PT

Observa-se no HGPE a similaridade entre as propostas apresentadas pelo

candidato do PSDB Beto Richa e pela candidata do PT Gleisi Hoffman. Considerando

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que as opções não são conflitantes no essencial, o processo de escolha do eleitor tende a

ser ativado mais por discussões de questões reais e práticas e menos por paixões

ideológicas excludentes. Isso confere estabilidade ao regime político e às instituições, e

neste caso uma reeleição.

A disputa entre iguais ou quase iguais, teoricamente também dá tranqüilidade ao

ambiente econômico. André Singer (2000) destaca a importância da identificação

ideológica para explicar o comportamento do eleitor. Para Singer existe uma

consolidação do PT como o partido do proletariado, e do PSDB enquanto um partido da

classe média. “A grande capital que o PSDB ganhou foi Curitiba, típica cidade de classe

média” 3. Segundo Singer (2008), esse é um alinhamento de natureza social que envolve

aspectos ideológicos da maior importância, e que se revelou melhor na eleição de 2008,

que, por ser local, não é puxada por candidatos nacionais, ficando mais claro o perfil

dos partidos.

Observando os programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE),

todos os candidatos a prefeito não apresentaram propostas diferenciadas ao de Beto

Richa. Em função disso, o eleitorado curitibano primou pelo continuísmo em uma

disputa esvaziada de conteúdo político e ideológico e centrada no debate sobre quem

pode administrar melhor a cidade. Logo abaixo exemplificamos com um trecho do

programa do candidato do PSDB apresentado no dia 05 de Setembro de 2008:

Âncora falando: - Boa noite. Este é o programa do melhor prefeito do Brasil por cinco vezes. Guilherme você tá vendo o que tá acontecendo? Do que você tá falando? Dos programas dos outros candidatos. Eu não sei, tenho a impressão que eles só ficam copiando as propostas do Beto. Ué deixa. Tá no site para todo mundo ver, não tá? To até pensando em criar um slogan “site do Beto Richa à disposição da oposição”...

Albuquerque (1999) considera como um marco decisivo no processo da

profissionalização das campanhas eleitorais e da utilização de marketing político e

argumentos capazes de seduzir os eleitores levando o mesmo a legitimar o seu voto.

Para Aristóteles (1999:33) “é pelo discurso que persuadimos, sempre que demonstramos a verdade

ou o que parece ser a verdade, de acordo com o que, sobre cada assunto, é suscetível de persuadir”.

Através da retórica procurou-se mostrar como dela nos poderemos nos apropriar não

apenas enquanto técnica de persuasão discursiva, mas também como referência crítica e

metodológica para toda a discussão política.

3 Citação retirada de entrevista dada ao Jornal Folha de São Paulo no dia 03.11.2008 e se encontra no site da Folha online: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u463377.shtml

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3.1. A análise da retórica A análise dos discursos das campanhas dos candidatos do PSDB e do PT foi

feita através dos programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, veiculados no

horário noturno na disputa municipal de 2008. Para identificar se as estratégias de

comunicação do PSDB e do PT foram observadas primeiramente se a retórica era

coerente com a posição do candidato na disputa, além de classificar o conteúdo em

categorias próprias de mandatário (Situação) e de desafiante (Oposição).

As estratégias típicas de mandatários analisadas foram: a postura “acima da

briga”, em relação à competição; ênfase em realizações e a associação à administração

em curso (mundo atual e futuro); endosso de lideranças da sociedade civil organizada;

encontros com lideranças estaduais e nacionais, ou até internacionais. Por outro lado, as

estratégias típicas de desafiantes incluídas foram: o apelo à mudança (do mundo atual);

ofensiva quanto a temas (avaliando o mundo atual e descrevendo o futuro); ataques à

administração em curso.

Através da análise do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, observou-se que

os candidatos recorreram à estratégia típica de sua posição na competição com exceção

da petista. O candidato do PSDB claramente como candidato da situação, como

realizador de obras e apresentando suas realizações através de reformas de praças,

construção de creches, postos de saúde, mostrando um mundo atual positivo e um

mundo futuro ainda muito melhor, através do hospital do idoso, construção de novos

restaurantes populares em parceria com o governo federal, entre outros.

Depoimento do candidato do PSDB Beto Richa em seu programa eleitoral de 29

de agosto de 2008:

Honramos todos os compromissos com a cidade nesta gestão, por isso nos atingimos cerca de 85% de aprovação pelos curitibanos. Isso nos confere credibilidade e confiança para apresentarmos novas propostas para os próximos quatro anos. Administramos com ética, administramos com austeridade e, com extremo zelo e rigor na aplicação sagrada do contribuinte e se traduz em obras por toda a cidade e obras que melhoraram a vida das pessoas. Ainda carrego a responsabilidade de ter sido eleito por cinco vezes o melhor prefeito do Brasil...

Depoimento do candidato do PSDB Beto Richa, dia 12 de setembro de 2008.

A saúde pública só vai ser eficiente quando todo cidadão for atendido com o respeito que merece e com a solução que precisa. Ainda não chegamos lá. Mas avançamos muito, muito mesmo. A rede de unidade de atendimento cresceu. As antigas unidades foram reconstruídas e todas têm um padrão de qualidade que não é muito comum na saúde pública do Brasil. Funcionam e funcionam bem. Avançamos porque a cidade tem hoje uma rede de atendimento de emergências que não tinha há quatro anos. São mini-hospitais com Pronto Atendimento Infantil o PAI. Além disso, os mini-hospitais estão equipados e preparados para atender casos complicados que não podem esperar.

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Ao contrário, a candidata petista não foi oposição de fato e optou por associar

seu empenho à imagem do presidente Lula. Através dos programas fica evidente que a

oposição não teve um posicionamento firme de crítica a administração do prefeito-

candidato. Como veremos a seguir:

Programa da candidata do PT Gleisi Hoffman, dia 12 de setembro de 2008.

Locutor em off: - Muitos postos de saúde sem médicos. Filas intermináveis para exames. Filas intermináveis para consultar médicos especialistas. Nada muda. E a população de Curitiba carrega uma dúvida. Por que não resolveram as filas nesses quatro anos? Por que não cuidaram das pessoas? Gleisi em seguida: - Hoje eu quero falar com você que não tem plano de saúde. Você não acha estranho que só agora na eleição venham falar em resolver as filas na saúde. Marcar exames e consultas por telefone? Por que não fizeram isso antes? Prioridade não é algo que você espera quatro anos para começar a fazer. Você não espera quatro dias para medicar um filho com febre, espera? Nós não podemos brincar com a vida das pessoas.

Através da avaliação do eixo situação e oposição, os candidatos assumiram as

posturas esperadas: Beto Richa assumiu um discurso de situação e Gleisi, o de oposição,

mas sem um posicionamento firme de opositora. Observa-se que os candidatos

priorizaram o apelo pragmático. O quadro a seguir apresenta as principais linhas das

estratégias discursivas:

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Quadro I: ESTRATÉGIAS DE RETÓRICA

BETO RICHA - PSDB GLEISE HOFFMAN - PT

MUNDO ATUAL

Melhoria em todos os setores municipais: Educação, Saúde, Segurança, Ação Social e Trânsito.

Críticas aos setores com uma maior deficiência da atual Administração, exemplos citados: Saúde, Ecologia, Trânsito, Ações Sociais.

MUNDO

FUTURO

Aperfeiçoar serviços prestados a população, modificar o sistema atual de Trânsito com a melhoria das ruas e ainda a construção de um meio de transporte diferente do atual, neste caso o metrô.

Construção do metrô, modificação do sistema de cobrança dos meios de transporte, melhorias na Saúde, modificação no sistema de aprendizagem municipal.

O QUE FAZER?

O candidato se vale da grande aprovação da sua administração atual, prêmios no exterior, de reconhecimento a Administração atual e conta com a continuidade das melhorias.

A Candidata se vale de ter o apoio total do Governo Federal

GARANTIA

Eleito cinco vezes o melhor prefeito do Brasil. Foi deputado por dois mandatos sendo um em 1994 e outro em 1998, é filho de José Richa um dos maiores nomes da política brasileira. Em 2004 foi eleito prefeito de Curitiba. Em 2007 foi eleito por dois institutos de pesquisas o melhor prefeito do Brasil e em 2008 foi eleito novamente o melhor prefeito entre as capitais brasileiras. E também discursou na Alemanha sendo um dos melhores prefeitos do mundo.

Especialista em gestão pública e administração financeira. É formada em Direito. Tem como patrono, o presidente Lula. Experiência administrativa: foi diretora da Itaipu, fez parte da equipe de transição do governo Lula ao lado da ministra Dilma. Foi candidata ao senado e obteve uma excelente votação. É esposa do ministro Paulo Bernardo. Proximidade com o governo estadual e Federal.

3.2. Mundo atual De acordo com os programas do HGPE na TV o mundo atual da candidata do

PT Gleisi Hoffman, a administração do candidato à reeleição Beto Richa deixava

algumas coisas a desejar, como na área da saúde e transporte coletivo para mostrar que

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o desempenho do candidato do PSDB era ineficiente nestas áreas. Por outro lado o

candidato do PSDB Beto Richa mostrava as benfeitorias da sua administração em todas

as áreas aprovadas pela “maioria da população”. Dados dos institutos de pesquisas, e

obras realizadas nos bairros e centro da cidade através de dados. Observa-se que os

discursos dos candidatos do PSDB e PT estavam embasados na realidade, porém a

argumentação do candidato do PSDB Beto Richa era mais coerente com a realidade e

com o grau de satisfação do eleitorado. No discurso da candidata do PT Gleisi Hoffman

faltava um posicionamento firme, e não combinava com a realidade que o curitibano

estava vivenciando, pois, próximo à eleição, foram realizadas muitas obras ao mesmo

tempo e em vários bairros e no centro da cidade.

3.3. Mundo futuro Através dos programas do HGPE, os candidatos deram muita atenção para o

presente e na construção dos mundos futuros. O candidato do PSDB Beto Richa propôs

continuar o que estava realizando com expansão de projetos e programas e priorizava

saúde, educação, transporte coletivo, segurança e obras de infraestrutura. A candidata

do PT Gleisi Hoffman propunha continuar o que estava dando certo, mas com algumas

alterações como é o caso da Linha Verde, na área da saúde e no transporte coletivo.

Observa-se que apesar do mundo atual ser diferenciado para ambos, o mundo futuro era

semelhante em alguns aspectos como é o caso do metrô e educação. Já a saúde,

segurança, transporte coletivo e Linha Verde tinham algumas diferenciações.

3.4. Garantia Apesar dos mundos futuros diferenciados em alguns aspectos, a garantia tem

relevância na hora de decidir em quem votar. O currículo do candidato do PSDB Beto

Richa demonstra mais experiência do que as candidata do PT Gleisi Hoffman. Todos os

eleitores sabiam quem é o prefeito e quem foi seu pai José Richa. O candidato do PSDB

tinha vantagem por ser prefeito e estar tentando a reeleição. Através de sua gestão, ele

mostrou que era um fazedor de obras. A candidata do PT Gleisi Hoffman, ao contrário é

ainda um rosto novo na política, sua experiência político-administrativa é pequena

diante do candidato do PSDB Beto Richa, mas conta com o apoio do presidente Lula. O

candidato do PSDB se apresentou como um candidato capacitado e experiente para

continuar as obras no município. A sua experiência vinha de sua trajetória política. Por

14

outro lado, a candidata do PT Gleisi Hoffman se preocupou em construir sua imagem

através do presidente Lula, de uma pessoa capaz, de coragem e com vontade de

trabalhar pelo município e pelo povo.

Numa campanha política o candidato terá que ter um excelente argumento para

um discurso bem sucedido. Segundo Charaudeau (2006), as estratégias discursivas

empregadas pelo político para atrair a simpatia do público dependem de vários fatores

entre eles: de sua própria identidade social, da maneira como ele percebe a opinião

pública e do caminho que ele faz para chegar até ela, da posição dos outros atores

políticos, que sejam parceiros ou adversários, do que julgar necessário defender ou

atacar: as pessoas, as ideias ou as ações.

3.5 A construção do discurso do PSDB e PT

Para avaliar os discursos elaborados pelo candidato do PSDB Beto Richa e pela

candidata do PT Gleisi Hoffman enumerou-se três categorias: a) retórica da mensagem

através do uso de sedução, de preposição, de crítica, de valores ou de ameaça; b) a

linguagem utilizada: se era didática, informativa, panfletárias, no diálogo com o eleitor;

c) o orador dominante: se era o próprio candidato, patrono político, garoto-propaganda,

líder partidário, locutor em off, um cantor, um personagem ou uma personalidade

pública.

O que se observa nos programas é que ambos se utilizaram mais da retórica de

sedução e de preposição, com exceção da candidata do PT Gleisi Hoffman que também

se utilizou da crítica, mas não com um posicionamento firme de opositora.

A linguagem utilizada tanto pelo PSDB e PT foi mais informativa e panfletária.

Já os oradores que mais prevaleceram no discurso do PSDB foram: locutor em off, o

popular, âncora, instrumental, seguido do candidato. No programa do PT, quem mais

apareceu foi: o locutor em off, o próprio candidato, seguido do cantor em off. De modo

geral, os diferentes tipos de apelo encontram-se associados a determinadas retóricas,

sendo o apelo o elemento que dá o mote4 do comercial. Através dos programas é

possível identificar que tanto o PSDB como o PT, recorreram mais aos discursos

emocionais, seguido do pragmático. Podemos identificar na tabela abaixo:

4 Mote ou lema é uma ideia expressa por uma frase que serve de guia ou de motivação para uma pessoa, grupo, seita, país ou nação.

15

Quadro II: Analise dos segmentos do programa no aspecto: APELO

BETO RICHA GLEISI HOFFMAN

Apelo Nº segmentos %

Segmentos Apelo Nº segmentos

%

Segmentos

Pragmático 179 17,1 Pragmático 47 15,7

Documental 2 0,2 Ideológico 2 0,7

Político 2 0,2 Político 3 1,0

Emocional 863 82,5 Emocional 247 82,6

TOTAL 1046 100,0 TOTAL 299 100,0

Constata-se que houve certa semelhança na escolha da retórica, uma vez que os

candidatos fizeram mais uso do “apelo emocional”, que nos remete à forma como a

argumentação política foi construída. A estrutura retórica lógica que permeou as

campanhas foi o confronto entre as visões sobre o “mundo atual” e o “mundo futuro”,

ou seja, a situação tentando mostrar que o “mundo atual” é bom, e a oposição, por sua

vez, procurando desconstruir o discurso, dizendo que o “mundo atual” está ruim, e que

o “futuro” pode ser melhor se houver mudanças.

Para “seduzir” o eleitor e convencer o eleitor de que a sua argumentação é a

mais consistente, os candidatos utilizaram-se apelos persuasivos pragmáticos e não

ideológicos. O candidato do PSDB, Beto Richa foi o que mais procurou mostrar para o

eleitor, o cálculo custos e benefícios, tentando persuadir o público de que valeria a pena

dar continuidade ao modelo de administração, iniciado há quatro anos. Beto Richa

utilizou 17,1% de “apelos pragmáticos”, 0,2% de “apelos políticos” e 82,5% de “apelos

emocionais”. A candidata do PT utilizou 15,7% de “apelos pragmáticos”, 1,0% de

“apelos políticos” e 82,6% de “apelos emocionais”.

Tanto o PT como PSDB priorizaram a imagem do candidato, sendo que Beto

Richa dentre os 1046 segmentos utilizados na apresentação do seu programa eleitoral

priorizou 34,0%, ou seja, 356 segmentos, já a candidata do PT, Gleisi Hoffman 39,1%,

ou seja, 117 segmentos, entretanto a quantidade de segmentos totais da candidata não

passou de 299. O PSDB deu mais ênfase ao tema infraestrutura e saneamento básico

(8,5%), dentro de 89 segmentos, seguido de um cardápio-variedade de políticas públicas

(6,7%) que aparecem em 70 segmentos. Por outro lado o PT priorizou a área da saúde

(10,7%), mostrado dentro de 32 segmentos e também se apropriou de ideias para um

cardápio-variedade de políticas públicas, observado em 21(7,0%) do total dos

16

segmentos utilizados por essa candidata. Para uma melhor compreensão dos dados

observe o quadro a seguir:

Quadro III: Analise quanto aos Objetos-temas usados pelos candidatos em questão.

BETO RICHA GLEISI HOFFMAN

Apelo Nº

segmentos

%

segmentos Apelo Nº segmentos

%

segmentos

Imagem 356 34,0 Imagem 117 39,1

Infraestrutura e

saneamento

básico.

89 8,5 Saúde 32 10,7

Cardápio:

variedade de

Políticas Públicas

70 6,7

Cardápio:

variedade de

Políticas

Públicas

21 7,0

TOTAL 1046 100,0 TOTAL 299 100,0

Através dos programas, foi possível identificar a maneira pela qual a campanha

do PSDB e PT se comunicou com o eleitor. O PSDB passou a sua mensagem através de

vídeo clipe/jingle, telejornal, chamada, povo fala e em seguida pelo pronunciamento do

candidato. Já o PT priorizou o vídeo clipe/jingle e o pronunciamento da candidata.

Na análise da propaganda dos candidatos em Curitiba, identificamos,

novamente, uma semelhança da campanha de Beto Richa e Gleisi Hoffman, na

categoria “ Retórica”. Como candidato à reeleição, Beto Richa, além de ter utilizado

“apelos emocionais”, utilizou mais a “retórica da sedução” (83, %), procurando destacar

as suas ações à frente da prefeitura de Curitiba. Em segundo lugar, aparece a “retórica

da proposição” (16,0%). A candidata do PT Gleisi Hoffman também utilizou (82,6%)

de “apelos emocionais”, bem como a retórica da sedução (65,9%), seguida da retórica

de crítica utilizada em 18,7% do seu programa, sendo um dos diferenciais da campanha.

O poder de convicção do orador sobre o seu auditório não depende só dos fatos,

das premissas que emprega e nem da sua boa argumentação. Segundo Gomes (1994

apud ALBUQUERQUE, 2000:24), considera a questão da retórica na propaganda

política na televisão sob o prisma da ética. “O texto não fornece uma resposta precisa, apenas

indica ser necessário, normas, regras e parâmetros que devem governar a interação argumentativa entre os

sujeitos de interesse e pretensões”.

17

Soares (1995 apud ALBUQUERQUE, 2000:24), defende a necessidade de se

integrar, na análise da propaganda política, questões diferentes: refere-se ao cenário de

representação política; à propaganda política, como processo retórico por excelência,

visando uma audiência; voto racional, conforme a visão de mundo, opiniões e atitudes e

objetivos. O autor considera o ato retórico através da persuasão e sedução. Para ele, a

estratégia da persuasão se vale de argumentos para convencer as pessoas sobre

determinada opinião. Na estratégia da sedução, o objetivo é fascinar.

Tanto o candidato do PSDB Beto Richa quanto à candidata do PT Gleisi

Hoffman em seus programas utilizaram-se do ato retórico de persuasão e sedução para

atraírem o eleitor. Observa-se que o objetivo de ambos era convencer e fascinar as

pessoas de que o mundo futuro seria muito melhor do que o atual. Figueiredo et al.

(1998:10) enfoca que numa campanha, os candidatos se engajam em uma argumentação

de natureza ficcional. “Todos constroem um mundo atual possível, igual ou pouco diferente do

mundo real, e com base nele projetam um novo e bom mundo possível”.

Albuquerque (1998:26) concorda com autor citado, pois acredita que: “com base

nesse modelo, os autores apresentam uma série de proposições que relacionam a situação retórica vigente

em uma campanha eleitoral às possibilidades de sucesso dos competidores”. Segundo o autor, o

político vai sendo lapidado, e a sua fala vai sendo adequada, para aquele cenário

político, econômico e social.

Em Curitiba, por exemplo, nenhum candidato pode abrir mão de proclamar o

cuidado com o ordenamento e o desenvolvimento urbano da cidade. Por outro lado, a

questão social também fez parte da agenda pública municipal. Observa-se nos

programas dos candidatos que essa foi a principal mudança no plano das ideias e dos

discursos.

A ênfase dos dois principais candidatos sobre esse ponto produziu um curto-

circuito tanto na imagem como na mensagem do PT. A figura maternal da candidata do

PT Gleisi Hoffmann, se propondo a “cuidar das pessoas”, nada menos do que a

radicalização um tanto piegas daquela disposição assistencial, teve de ser

complementada pela exibição (e pela exaltação) do seu currículo profissional: técnica

em orçamento público, especialista em finanças, secretária de governo, entre outras.

Nos últimos quatro anos, o candidato do PSDB Beto Richa incorporou, de forma

bem mais pragmática, essa inclinação para as questões sociais, sem abrir mão do

figurino de administrador. Para Figueiredo et al. (1998:4) “esse debate se dá entre

18

interpretações sobre o mundo atual (se ele está bom ou ruim), comparações sobre os mundos futuros que

as campanhas apresentam, e sobre quem garante a realização do mundo futuro”.

Através da análise do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, observa-se que o

candidato do PSDB Beto Richa conseguiu convencer os eleitores, construindo um

mundo atual possível, igual ou um pouco diferente do mundo real, e com base nele

projetou um novo e bom mundo futuro possível. No aspecto igualdade social se mostrou

semelhante ao PT. Por sua vez, o discurso do PT, na condição de desafiante foi mais

pragmático e menos ideológico. A postura da candidata do PT Gleisi Hoffman foi muito

parecida com a candidata de São Paulo em 2004, Marta Suplicy.

4. Avaliação geral dos programas do PSDB e PT

Através da análise dos programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral,

observa-se que as campanhas da situação e da oposição interpretam o mundo atual e

propõem um mundo futuro melhor. Vemos que a estratégia da candidata do PT Gleisi

Hoffman reforçou a corrente avaliação negativa do mundo presente, usando parte de seu

programa para desconstruir a imagem do candidato do PSDB Beto Richa e de sua

administração uma vez que ele concorria à reeleição. É interessante notar o baixo grau

de posicionamento da candidata do PT. Em termos agregados, 96,7% dos segmentos

apresentados no horário eleitoral noturno, não continham uma avaliação, negativa ou

positiva, do status quo. Mesmo para a petista que pregava a “mudança”, portanto, esta

proposta de renovação não se construiu como uma oposição muito crítica ao candidato

do PSDB. A candidata do PT simplesmente descreveu problemas e propôs soluções,

ainda que fantasiosas, mas sem atribuir responsabilidades muito claras. Além da

construção/desconstrução do mundo, os programas da candidata do PT dedicam espaço

mais significativo de todos à própria campanha, presente em grande parte dos

segmentos.

A imagem de uma campanha dinâmica, com adesões crescentes, bem-sucedida e

emocionante são uma das tônicas, efetivamente, do programa do candidato do PSDB

Beto Richa. Também ganham algum destaque, nos programas do PSDB, os temas

relativos à saúde (5,7%), transporte coletivo (5,6%) e educação (6,4%). Todos

projetados para um futuro positivo.

Observa-se que o candidato do PSDB soube se beneficiar da adesão em

potencial dos eleitores efetivamente satisfeitos com o governo e o estado das coisas.

19

Como já observado em outras ocasiões, brigar no campo do adversário é sempre uma

estratégia eleitoral arriscada, uma vez que é difícil reivindicar uma bandeira já em poder

de outro ator político. Verifica-se que ele soube incorporar em seu programa eleitoral,

mostrando as melhorias incorporadas nos programas do governo federal.

Os conteúdos temáticos e políticos chegaram ao público através de determinados

formatos e estilos discursivos, que certamente contribuem para sua compreensão, e para

o julgamento e decisão eleitoral da parte importante da população que, direta ou

indiretamente, atingem. No caso dos candidatos do PSDB e PT através da retórica de

sedução e persuasão, mas com apelo emocional. Através do HGPE é possível identificar

que os discursos de ambos são emocionais e menos político.

O apelo emocional está presente na valorização, pela campanha, de aspectos

afetivos e simbólicos para estabelecer a associação política do candidato do PSDB Beto

Richa à situação, ao continuísmo. Chama a atenção, a absoluta ausência de apelos

ideológicos, caracterizados pela crítica estrutural ao regime capitalista, divergência em

termos de projeto; nenhum dos dois propôs uma mudança de sistema.

Em termos de retórica, os dois candidatos usaram predominantemente a sedução.

O candidato do PSDB Beto Richa 83,0% e a candidata do PT, Gleisi Hoffman 65,9%.

Esta ênfase na sedução seja tendo como objeto a imagem dos candidatos, ou as

promessas de uma cidade melhor para todos, mostram que o debate se deu, como se

observou no HGPE, mais em termos da construção de uma imagem genérica dos

candidatos em disputa do que em diferenças programáticas consideráveis.

Na categoria “linguagem”, em que chama a atenção o fato de que tanto o PT

como o PSDB, construíram seus programas principalmente na linguagem informativa.

Beto Richa utilizou 77,2% e Gleisi Hoffman 77,6% dos seus programas a transmitir

informações ao eleitor. Verificou-se que o candidato do PSDB Beto Richa e a candidata

do PT Gleisi Hoffman privilegiaram os apelos emocionais e pragmáticos calcados na

sedução. Já os atributos se diferenciam. O candidato do PSDB é focado mais no político

e a candidata do PT no pessoal e administrativo.

O PSDB procurou associar a imagem do seu candidato a suas qualidades-

políticas-administrativos e o PT procurou associar a imagem da candidata do PT a suas

qualidades pessoais e feitos administrativos. A ênfase nas realizações e na performance

demonstrada em outros cargos que pode ser um argumento persuasivo forte, mas trata-

se essencialmente de um recurso de mandatário, que ganha maior credibilidade em

tempos de avaliação positiva do governo em curso.

20

Neste aspecto, o candidato do PSDB é mais coerente com a realidade, do que a

petista quando transmite o seu discurso. Isso pode ser observado em um dos programas

em que a candidata do PT Gleisi Hoffman faz críticas à área da saúde. Na tentativa de

esvaziar o discurso oposicionista, o candidato do PSDB Beto Richa no mesmo dia, fala

sobre a área da saúde e reconhece os problemas existentes em sua gestão, como falta de

médicos e demora na marcação de consultas médicas e exames e, em seguida apresenta

as soluções necessárias para melhorá-los.

Observa-se também a maneira como são transmitidas as mensagens dentro dos

programas de cada candidato. A persuasão e a sedução são muito fortes nos programas

do candidato do PSDB. A linha condutora das mensagens veiculadas nos programas do

PSDB apresenta um bom mundo atual. Isso pode ser observado através do respaldo da

maioria do eleitorado de Curitiba, quando, eram apresentados os dados de sua

aprovação através dos institutos de pesquisas.

Verificou-se também que no jogo retórico a campanha do candidato do PSDB

teve a interpretação dominante sobre os seus opositores. Diante da busca pela reeleição

o PSDB soube exaltar o “seu bom mundo atual possível”, mostrando as realizações, e

associando o candidato a elas. A situação mostrou-se “acima da briga”.

Para Albuquerque (1999) as obras fornecem marcos palpáveis das realizações de

uma determinada administração. Já ao PT como desafiante, coube o papel de

desqualificar o mandatário, criticando suas ações junto ao povo e apelar para mudanças

e tomar a ofensiva quanto a temas. O PT usou o horário eleitoral para mostrar o seu

candidato e suas propostas e explorar sua relação com o governo federal, centrado em

críticas ao candidato do PSDB.

A campanha da petista defendeu prioridade a obras sociais, como creches.

Tentou convencer o eleitor da necessidade de "mudança de prioridades". Através do

HGPE pode se verificar, que tanto o PSDB, como o PT, usou o espaço que é dedicado

ao debate eleitoral para apresentação de candidatos e propostas sem confronto direto. A

boa avaliação, pelo povo, da administração do candidato do PSDB Beto Richa lhe

garantiu a interpretação de que o mundo atual estava bom e no futuro ficaria ainda

melhor.

Os candidatos Beto Richa (PSDB) e Gleisi Hoffman (PT) apesar de assumirem

posições polarizadas, afinal eram adversários, acabaram estabelecendo um “diálogo”

durante a campanha. Enquanto um procurava construir a imagem da cidade, o outro

procurava desconstruí-la. Alguns temas políticos foram utilizados nesta disputa - saúde,

21

segurança, transporte e políticas sociais. Beto Richa enfatizou as conquistas nas

diferentes áreas, enquanto Gleisi Hoffman apontava as deficiências. Se houve uma

convergência temática, a abordagem é diferenciada. Beto Richa criou uma campanha

positiva, apresentando as melhorias na cidade, principalmente do ponto de vista social:

os avanços na saúde, a importância da participação da comunidade nas decisões

públicas, as políticas sociais aos jovens e comunidades carentes. Investiu na construção

da imagem de uma cidade que avançava, tanto no campo de melhorias sociais como na

democratização das ações públicas.

5. A análise do desempenho do PSDB e PT

Embora sucintamente faz-se necessário analisar o papel desempenhado pelo

PSDB e PT nas eleições municipais, em Curitiba. Observa-se nos programas de TV que

o discurso do PSDB foi mais coerente que a do PT. O PSDB buscou esclarecer durante

o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral as deficiências da atual gestão e de suas

práticas. A popularidade do candidato do PSDB Beto Richa se deve a sua política de

tocador de obras em toda a cidade. Do centro à periferia com a reforma das calçadas,

recapeamento das ruas centrais, abertura de vias para dar vazão ao aumento de milhares

de novos veículos em circulação. São obras que aparecem aos olhos dos eleitores.

Observa-se através do HGPE que o candidato do PSDB tem a imagem de bom

administrador, com uma eficiente política de propaganda e marketing. Do ponto de vista

de Albuquerque (1999) o primeiro deles concerne ao entendimento da imagem como

dizendo respeito a uma representação visual do mundo sensível. Verificou-se também

que um dos fatores preponderantes foi a forma eficaz como o candidato do PSDB agiu

em regiões da cidade onde a esquerda usualmente conseguia mais votos.

O PSDB, para a reeleição de Richa montou uma aliança de 11 partidos,

conseguindo trazer para o seu grupo siglas como DEM e PPS, que sempre tiveram boa

votação na cidade. O objetivo foi evitar a pulverização de votos e a realização de

segundo turno como aconteceu na eleição de 2004 em Curitiba. A frente de apoio ao

prefeito Beto Richa reuniu partidos que fez forte oposição ao governo do Presidente

Lula.

Entretanto, verifica-se que a postura desta aliança durante a campanha foi a de

maquiar sua posição e procurar fazer transparecer uma parceria de sucesso com o

Governo Federal. Ao fazer isto, o candidato do PSDB Beto Richa buscou confundir as

22

distinções entre os projetos políticos em vigor no país e dificultou uma maior

demarcação ideológica.

Assim mesmo foram enfocados problemas sociais graves, como a falta de vagas

nas creches, a inoperância dos exames especializados, a saturação do sistema de

transporte urbano, a ausência de políticas para a juventude, a falta de transparência das

licitações municipais.

A articulação do candidato do PSDB Beto Richa lhe rendeu o maior tempo de

televisão no horário eleitoral, com quase 11 minutos e 58 segundos de duração. O mote

da campanha do candidato do PSDB era: “O trabalho do prefeito das quatro mil obras

continua". Em parte, o sucesso do candidato do PSDB Beto Richa pode ser atribuído à

habilidosa reconstrução da figura política do pai. Fazendo uma breve retrospectiva

histórica das disputas eleitorais, o candidato do PSDB obteve o melhor desempenho de

um prefeito eleito em Curitiba desde 1985, quando a disputa nas capitais foi

restabelecida após o fim do regime militar. A eleição na capital paranaense não era

definida no primeiro turno desde 1996, quando o hoje deputado federal Cassio

Taniguchi (DEM) foi eleito com 54% dos votos.

Já o desempenho do PT foi dentro do possível, mas aquém do necessário e é o

retrato das possibilidades e das dificuldades para a reconstrução do ideário como projeto

de transformação social. A petista Gleisi Hoffman foi à segunda colocada com 18,17%.

Apesar da distância para o candidato do PSDB, a candidata teve um bom desempenho

na campanha, chegando a subir cinco pontos nas intenções de voto na reta final. O PT

consolidou-se como a principal opção política de oposição na cidade, encarnando as

críticas ao modo do PSDB de gestão, por uma Curitiba para Todos.

Observa-se no HGPE que a estratégia da petista foi explorar sua relação com o

governo federal – seu marido que é o ministro Paulo Bernardo. Centrada em críticas

moderadas ao candidato do PSDB, a campanha da petista defendeu prioridade a obras

sociais, como creches. Tentou convencer o eleitor da necessidade de "mudança de

prioridades". As estratégias da campanha da candidata do PT se revelaram incapazes de

mudar o pensamento do eleitor.

5.1. A vitória do PSDB

O prefeito de Curitiba, Beto Richa foi reeleito no primeiro turno da eleição

municipal com 768.514 votos, ou 77,27% do total. A candidata do PT, Gleisi Hoffman,

23

teve 183.027, ou 18,16%; O resultado confirmou o amplo favoritismo do candidato do

PSDB apontado desde o início da campanha eleitoral por todas as pesquisas. Apurados

os votos, o prefeito conquistou um resultado recorde, superando as marcas de Jaime

Lerner (57%) em 1992, Rafael Greca (52%) em 1996 e Cassio Taniguchi (54%) em

20005.

Ele começou a nova gestão com o apoio dos onze partidos - PSDB, PP, PSL,

PDT, DEM, PSB, PPS, PR, PSDC, PRP e PTN - que integraram a maior coligação da

cidade para as eleições municipais. Durante todo o período da campanha, o candidato

do PSDB Beto Richa obteve sempre 68% ou mais das intenções de voto.

Além disso, os avanços do Governo Federal trouxeram importantes reflexos para

o processo eleitoral de 2008. O significativo aumento dos investimentos (principalmente

na área social e pelas obras do PAC-Programa de Aceleração do Crescimento), assim

como a estabilidade econômica e política, beneficiou os atuais governantes,

independente do campo político.

Para Albuquerque (1999: 38) “a vida em público passou a se estruturar, então, nos termos

de um espetáculo perene, no qual o desempenho pessoal dos atores é julgado pela “platéia” de

espectadores”.

Através do HGPE pode se observar que a política econômica estabelecida pelo

Governo Federal garantiu uma saúde financeira confortável para a Prefeitura de

Curitiba, permitindo uma significativa ampliação nos investimentos - um fator

preponderante para o resultado eleitoral. A grande estabilidade vivida inibiu o debate

das mudanças necessárias.

6. Considerações Finais

Ao realizarmos o trabalho de análise das eleições municipais de 2008 em

Curitiba, foi possível chegar a algumas considerações sobre a estratégia da

argumentação utilizadas pelos candidatos do PSDB e PT no que diz respeito ao jogo

retórico. No entanto, as conclusões a que chegamos não esgotam o assunto, ainda

permeado por polêmicas, em relação às estratégias retóricas e discursivas utilizadas no

HGPE. Analisados os dados da disputa em Curitiba, pode-se afirmar que a discussão

5 www.g1.globo.com/eleicoes2008/parana

24

pragmática sobre o estado do mundo atual nas campanhas foi essencial. Houve um peso

considerável do voto retrospectivo – avaliação da prefeitura - e do voto prospectivo - o

que seria melhor - manter o atual governo ou mudar. Com uma postura pragmática,

observa-se que os candidatos à prefeitura utilizaram à mesma estrutura de argumentação

retórica. O candidato da situação defendeu a ideia de que o “copo está quase cheio”, e a

oposição, de que “o copo está quase vazio”.

Apesar de a estrutura argumentativa ser semelhante, identifica-se um conteúdo

político-ideológico diferenciado, mas, ao construir os apelos retóricos, novamente os

atores políticos usaram estratégias com apelos pragmáticos e não ideológicos. A eleição

municipal de 2008 em Curitiba trouxe de novo a polarização entre os partidos de

esquerda (PT) e o de direita (PSDB). Isso já havia ocorrido em 2004, quando o embate

ficou entre o candidato do PSDB, Beto Richa, e o candidato do PT, Ângelo Vanhoni6.

Entre os dois principais concorrentes à Prefeitura de Curitiba constata-se o

predomínio da agenda social. Sobre esta convergência temática em Curitiba, o

candidato do PSDB, Beto Richa beneficiou-se por ser o principal articulador desta

agenda, principalmente a ideia de aliar políticas sociais e participação popular. O

domínio sobre a agenda pode ter sido um dos fatores que beneficiou a candidatura de

Beto Richa.

Ao analisar os formatos dos programas dos candidatos do PSDB e do PT, foi

possível identificar similaridades. Ao desenvolver uma análise sobre a variável mais

circunstancial das disputas em 2008 em torno da construção do “mundo atual” X

“mundo futuro”, verificou-se um posicionamento dos candidatos a partir das premissas

da “Escolha Racional”, com uma concentração de recursos voltada para a elaboração

dos programas no HGPE. Numa perspectiva mais pragmática, percebe-se que a variável

em debate entre situação X oposição tornou-se mais exacerbada dando ênfase ao voto

retrospectivo.

Em Curitiba, o candidato à reeleição Beto Richa procurou construir a imagem de

um governo bem sucedido para atrair o eleitor. Por outro lado, a candidata do PT, Gleisi

Hoffmann tentou desconstruir a imagem do candidato do PSDB e em contrapartida

preferiu apostar na boa avaliação do governo do Presidente da República, Luis Inácio

Lula da Silva para ganhar o apoio do povo. Na dimensão pragmática, percebe-se que

Beto Richa utilizou o argumento da continuidade. Ao analisar a variável “disputa

6 Argumento citado apenas para informação, sem o devido aprofundamento.

25

situação X oposição”, as divergências saem do plano ideológico e estão relacionadas à

reeleição. Beto Richa construiu estratégias pragmáticas de reforçar a ideia do voto

retrospectivo, assim como em utilizar uma campanha otimista, de proposições, que

implicavam em dar continuidade a suas ações. Já a candidata Gleisi Hoffmann, verifica-

se um padrão no uso pragmático e crítico de tentar desconstruir a administração

municipal da época. Observa-se que o posicionamento dos candidatos nesta variável,

não recorreu a apelos ideológicos, mas a apelos pragmáticos – que mostram o peso da

reeleição e o caráter mais imediatista das competições eleitorais. Os dados

possibilitaram perceber esse jogo retórico no HGPE, mas mantendo a natureza da

política.

Referências Bibliográficas

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ALBUQUERQUE, Afonso. Aqui você vê a verdade na tevê: a propaganda política na televisão. Niterói: Universidade Federal Fluminense, Mestrado em Comunicação, Imagem e Informação, 1999.

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