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Para onde vamos Pesquisa inédita antecipa opiniões dos congressistas sobre as eleições de 2014 e os principais temas que eles irão votar Ano 1 • Número 1 • Novembro / 2011 • R$ 6,70 Revista Quem são os parlamentares mais bem avaliados do país

Número 1 • Novembro / 2011 - Congresso em Focostatic.congressoemfoco.uol.com.br/2011/11/revistacongressoemfoco_1.pdf · EBO m / ABR. Até na oposição tem gente prevendo reeleição

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Para onde vamosPesquisa inédita antecipa opiniões dos congressistas sobre as eleições de 2014e os principais temas que eles irão votar

Ano 1 • Número 1 • Novembro / 2011 • R$ 6,70

Revis

ta

Quem são os

parlamentares mais bem

avaliados do país

Congresso em Foco 03

Esta edição inaugural da Revista Congresso em Foco não é bem um começo.

O Congresso em Foco nasceu como veículo jornalístico, na internet, em 12 de fevereiro de 2004. Lança esta publicação, portanto, após mais de 2.800 dias de existência. Quase oito anos de vida ininterrupta, com atualização diária.

Chegamos ao formato revista depois de conquistar alguns dos principais prêmios de jornalismo do país (Esso, Embratel e Vladimir Herzog, entre outros), atingir milhões de pessoas, que acessaram e acessam nosso site, e trazer para a agenda do país uma questão palpitante: os processos judiciais contra políticos.

Fomos o primeiro órgão de imprensa no Brasil a publicar uma lista de políticos processados. Desde então fazemos levantamentos periódicos das acusações criminais contra parlamentares federais.

Ao mesmo tempo, e este é um assunto que ocupa 16 páginas desta revista, estamos premiando neste mês de novembro, pelo sexto ano consecutivo, os melhores senadores e deputados federais.

Há quem ache contraditório um veículo independente e apartidário, conhecido por reportagens que incomodam o poder, homenagear autoridades. Para nós, premiar e fiscalizar são as duas faces da mesma missão: estimular as pessoas a monitorar os representantes eleitos. A avaliá-los, para o bem e para o mal, mas resistindo à tentação tola de decretar que nenhum deles presta.

Dois caminhos, enfim, de cumprir um mandamento do bom jornalismo – oferecer à sociedade as informações necessárias para o pleno exercício da cidadania. Por

isso, no Prêmio Congresso em Foco, não escolhemos os vencedores. Eles são definidos pelo voto dos cidadãos, via internet, após seleção inicial feita pelos jornalistas que cobrem o Congresso.

Servir à cidadania é o objetivo central da Revista Congresso em Foco. Para chegar lá, sabemos que esta edição é apenas um ponto de partida. Contamos com a sua participação – pelo e-mail [email protected] ou por intervenções em nosso site – para verificar quais ingredientes estão faltando, ou sobrando, em nossa receita editorial.

Que começa com uma culinária simples. Os perfis dos parlamentares mais bem avaliados do ano. Entrevistas com o presidente do Congresso e com um dos mais expressivos nomes da oposição. Dados fundamentais sobre a atual composição do Congresso. Pesquisa inédita que fornece indicações intrigantes sobre os rumos que o Parlamento e o país podem tomar nos próximos anos. Uma pitadinha de humor. E uma janela para o Brasil real, no caso, para algo que nos encanta e nos motiva – brasileiras e brasileiros (infelizmente, ainda poucos) que resolveram dar um basta às roubalheiras que nos indignam diariamente.

Um colaborador do site costuma se referir ao Congresso em Foco como “algo meio bossa nova, meio rock’n roll”. Adoramos essa ideia. De fazer rock, no sentido de chutar a porta das bandalheiras e das iniquidades. E buscar a serena sonoridade da música-símbolo do país, o que associamos ao nosso esforço incessante por civilidade, inteligência e pelo respeito ao direito de expressão de absolutamente todos.

Vem fazer um som com a gente!

Índice

apresentaçãoPara onde vamosPesquisa inédita antecipa opiniões dos congressistas sobre as eleições de 2014e os principais temas que eles irão votar

Ano 1 • Número 1 • Novembro / 2011 • R$ 5,80

Revis

ta

Quem são os

parlamentares mais bem

avaliados do país

Meio bossa nova, meio rock’n roll

04 Pesquisa: o que pensa o atual Congresso?

10 O Parlamento do impasse

15 Perfis dos parlamentares premiados

30 Entrevista: José Sarney

36 Entrevista: Aloysio Nunes

39 O Congresso visto por dentro

40 A sociedade contra a corrupção

42 Humor

Para onde vai a nau BrasilDilma é a principal aposta para 2014. Aécio é o nome da oposição. Lula, a figura mais amada no Congresso. Clima favorável para propostas legislativas importantes

especial

04 Congresso em Foco

Sylvio Costa

Políticos podem ter muitos defeitos, mas costumam demonstrar imensa sensibilidade para perceber antes dos mortais comuns para onde a maré está levando o barco. Até mesmo por instinto de sobrevivência, eles são capazes de antever cenários que só bem depois ficarão claros para todo mundo.

Daí por que imaginamos que um bom começo para esta Revista Congresso em Foco seria fazer uma pesquisa com os senadores e deputados em relação às principais questões da agenda do poder, como sucessão presidencial, os temas mais polêmicos da pauta legislativa e o prestígio de pessoas e instituições.

O trabalho foi encomendado ao Instituto Análise, de São Paulo, criado e dirigido pelo especialista em pesquisas Alberto Almeida, doutor em Ciência Política e autor

de um livro que se tornou rapidamente um clássico da literatura política brasileira, A cabeça do brasileiro (Editora Record, 2007).

Foram entrevistados, em outubro de 2011, 125 deputados federais e 25 senadores, respeitando-se na seleção dos respondentes o peso proporcional aproximado que os diversos grupos ocupam no Congresso: mulheres e homens, representação regional e partidária etc.

Ao final, com a inclusão do recém-criado PSD e do PV (que tem votado quase em bloco com o governo) entre os partidos da situação, 87% dos congressistas ouvidos foram considerados governistas e 13% oposicionistas.

Revelamos aqui os resultados da pesquisa.

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Até na oposição tem gente prevendo reeleição de Dilma

“Na sua avaliação, quem será o presidente eleito em 2014?”. Nada menos que 73% dos parlamentares prefe-riram não responder a essa pergunta, deixando evidente que ainda é alto o grau de indefinição quanto aos rumos da sucessão presidencial. mesmo assim, as respostas obtidas fornecem indicações bastante interessantes.

Dilma Rousseff já é vista como favorita, com 16% das respostas do conjunto total de entrevistados. Curiosamente, 5% dos oposicionistas acreditam que ela se reelegerá. A oposição menciona somente um outro nome, o do senador Aécio Neves (PSDB-mg), apontado por 16% dos oposicionistas como futuro presidente do Brasil.

Congresso em Foco 05

Lula teve 5% das respostas dos governistas, que citaram ainda o governador Eduardo Campos (PSB-PE) e a ex-senadora marina Silva (sem partido). O ex-governador José Serra (PSDB-SP) não teve nenhuma citação. “O mundo político considera que Serra passou, dará vez ao Aécio, e que Dilma será a candidata do governo em 2014”, interpreta Alberto Almeida.

Incrível: pode haver saída para a reforma tributária

Onze em cada dez analistas políticos e econômicos dão como favas contadas que a reforma tributária morreu antes mesmo de vir à luz, foi cremada e suas cinzas atiradas no Lago Paranoá. Os mais otimistas até admitem o milagre da ressureição, mas só na próxima legislatura, a começar no longínquo mês de fevereiro de 2015.

De fato, a pouca intimidade demonstrada por muitos parlamentares com temas tributários prova que o assunto não está na ordem do dia do Parlamento. Quase 60% dos congressistas sentiram-se incapazes de expressar uma opinião, contrária ou favorável, sobre três questões fundamentais dessa área (ver abaixo).

Surpreende, no entanto, o apoio alcançado por uma das medidas de maior impacto da reforma que o Brasil ensaia fazer há quase duas décadas – a unificação em um só tributo do Imposto sobre Produtos Industrializados (o IPI federal) e do Imposto sobre Circulação de mercadorias e Serviços (ICmS), que hoje é regulado de forma diferente por cada um dos 26 estados e pelo Distrito Federal. A proposta tem o apoio de 64% dos parlamentares.

O apoio à unificação do ICmS e do IPI é igual na oposição e no governo, sugerindo um clima propício à implementação da mudança, que exige alteração constitucional. As maiores restrições à medida vêm dos governadores.

governo e oposição, porém, divergem sobre os demais temas tributários que entraram no questionário. Oposicionistas são bem mais favoráveis que os governistas à desoneração de impostos sobre a folha salarial e à taxação das grandes fortunas. São mais resistentes, porém, ao fim dos incentivos fiscais.

Perfil dos entrevistadosAmostra

Deputado

Senador

%

83,3

16,7

Total

125

25

Partidos (%)Governo

PTPMDB

PPPRPSBPDT

PC do BPSDPVPTBPSC

OposiçãoPSDBDEMPPS

87231511118744211

13931

Sexo (%)

Mulheres

Homens

9

91

Norte

Centro-Oeste

Sul

Sudeste

Nordeste

Regiões (%)

9

12

15

30

32

Não sabe

Eduardo Campos

Aécio Neves

Lula

Branco/Nulo/Nenhum

Marina Silva

Dilma Rousseff

Quem se elege presidente em 2014

Governo

73

35

18

11

Total

73

3

5

16

21 1

Oposição

79

16

5

Reforma tributária

A favor NR / NSContra

Desoneração da folha de pagamento 29 11 59

Unificação dos impostossobre consumo (ICMS e IPI) 64 17 19

Taxação das grandes fortunas 27 14 59

Fim dos incentivos fiscais 21 21 58

06 Congresso em Foco

Lula é a personalidade mais admirada no Congresso

Os parlamentares deram uma nota, de zero a 10, a quatro instituições e três personalidades. Destas, a mais bem avaliada foi Lula, com nota média de 7,25. Na pesquisa, realizada antes da revelação de que ele tem câncer na laringe, o ex-presidente se saiu bem inclusive na análise dos oposicionistas.

Somente o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a imprensa tiveram notas melhores dos deputados e senadores da oposição.

“É mais uma demonstração de que o momento é francamente favorável ao Lula e a Dilma”, conclui Alberto Almeida. Para o cientista político márcio grijó Vilarouca, da Fundação getúlio Vargas (FgV-RJ), é um sinal de que os congressistas continuam preferindo Lula a Dilma. “Lula soube negociar mais com o Congresso do que Dilma. Ela tem um perfil mais técnico”, observa grijó.

De se notar, ainda, que os parlamentares avaliam o Congresso de maneira mais positiva do que o governo federal, o Judiciário e FHC.

Relações entre governo e base: a síndrome do copo

Virou clichê, mas a imagem aqui é útil. Sabe a história do copo com água até a metade, que para uns está meio cheio e para outros meio vazio? É exatamente o que se pode dizer dos resultados da pesquisa numa questão bastante sensível: as relações entre Dilma e sua base no Congresso.

Segundo 19% dos parlamentares governistas, “o governo não tem atendido às demandas da base”. O percentual é superior aos 13% para os quais a base tem sido plenamente atendida. Que há um problema para administrar a base, portanto, nenhuma dúvida. A questão é determinar o tamanho do problema.

O maior número de respostas ficou na “coluna do meio”: 35% dos governistas reconhecem o esforço do governo para gerenciar a questão “da melhor forma possível” (13% dos entrevistados) ou dizem que o governo “está com dificuldade” para atender às demandas da base (22% dos respondentes).

Isso torna os resultados finais menos desfavoráveis para o governo, que, reconhecidamente, tem de lidar com uma base heterogênea, gulosa e habituada a simular crises para negociar seus pleitos (nomeações, obras federais etc.).

De qualquer maneira, esteja o copo meio cheio ou meio vazio, seja por ter aliados gulosos demais, seja por lhe faltar habilidade política, o governo Dilma tem aí, indiscutivelmente, uma fonte potencial de problemas. Bem mais preocupante, diga-se, do que a diminuta e dividida oposição que ele hoje enfrenta.

Na reforma política, ninguém concorda com ninguém

A pesquisa traduz em números as dificuldades do Congresso para encontrar pontos mínimos de concordância na reforma política.

Das propostas em torno das quais esse debate tem girado, a que obteve maior apoio dos parlamentares foi o financiamento público das campanhas eleitorais, com apenas 25% de manifestações favoráveis.

Avaliação do desempenho de instituiçõese personalidades

Governo17111518131

Oposição161654219

Resumo > Contra (%)Unificação dos impostos sobre consumo (ICMS e IPI)

Desoneração da folha de pagamentoTaxação das grandes fortunas

Fim dos incentivos fiscaisBASE

Governo64262220131

Resumo > A favor (%)Unificação dos impostos sobre consumo (ICMS e IPI)

Desoneração da folha de pagamentoTaxação das grandes fortunas

Fim dos incentivos fiscaisBASE

Oposição6353582619

Governo

7,45

6,81

6,55

6,63

6,51

6,42

5,97

131

Oposição

5,89

5,68

6,39

5,63

5,21

5,79

6,95

19

Total

7,25

6,66

6,53

6,50

6,34

6,34

6,10

150

Resumo > Média (notas de 0-10)

Lula

Dilma

Imprensa

Congresso Nacional

Governo Federal

Judiciário

Fernando Henrique Cardoso

BASE

O governo tem arbitrado com justiça os conflitos da base?

Não sabe

Não, mas o governo tem tentado administrar da melhor forma possível as demandas da base

Sim, mas o governo está com dificuldade em atender às demandas da base

Sim, o governo tem atendido plenamente às demandas da base

Não, o governo não tem atendido às demandas da base

Total

31

19

16

22

12Governo

33

19

13

22

13

Oposição

21

16

37

21

5

Congresso em Foco 07

Chama atenção a baixíssima adesão ao fim das coligações partidárias em eleições proporcionais (para deputado e vereador). A tese, que vários analistas indicam ser o caminho para a única reforma política possível no momento, é apoiada por somente 15% dos entrevistados.

mais espantoso ainda é que a maioria dos congressistas sequer foi capaz de expressar uma opinião clara – contra ou a favor – a respeito dos principais pontos da reforma política. “A massa dos parlamentares revela pouco co-nhecimento dos temas em questão tanto na reforma políti-ca quanto na tributária”, analisa Alberto Almeida. “Esse é um debate que hoje envolve muito mais as lideranças políticas, ainda não chegou à massa dos congressistas”.

Nenhuma surpresa que venha da oposição a maior re-sistência contra o financiamento público (47% dos oposi-cionistas ouvidos o desaprovam), mas também é ela quem mais resiste contra o voto distrital e o fim das coligações.

Discordâncias aqui ou acolá entre governo e oposição, a moral da história é inevitável: a menos que o governo use o seu poder para fazer o assunto andar, a reforma política permanecerá à deriva.

Espaço para mexer na Previdência

Desde a campanha eleitoral de 2010 Dilma demonstra muito cuidado em abraçar publicamente propostas de mudanças previdenciárias.

Trata-se de campo minado. De um lado, a grande maio-ria dos economistas – de diferentes matizes ideológicos – considera preocupantes as contas da Previdência e alerta que, com o gradativo envelhecimento da população, a situação se tornará dramática nos próximos anos se nada for feito. Do outro, sindicalistas e técnicos ligados principalmente a entidades do funcionalismo argumentam que o diabo não é tão feio quanto pintam e alegam que as vozes favoráveis à reforma previdenciária querem, na verdade, esvaziar e privatizar o Estado brasileiro.

O Congresso, desde o governo Fernando Henrique, deu vários passos para melhorar o caixa da Previdência, mas preservando as vantajosas regras de aposentadoria dos servidores. Para enfrentar o assunto, o governo Lula mandou para o Legislativo, quatro anos atrás, um projeto de lei (o PL 1992/2007) que estende o teto de benefícios já válido para os trabalhadores privados – pouco menos de R$ 3,7 mil – àqueles que ingressarem no serviço público após a publicação da lei.

Pelo caráter controvertido da proposta, a própria base governista, capitaneada pelo PT, encarregou-se de fazê-la hibernar nos labirintos do Congresso. Neste ano, o ministro da Previdência, garibaldi Alves Filho, decidiu assumir a defesa do PL 1992/2007.

A novidade revelada pela pesquisa é que o projeto, ainda em tramitação nas comissões da Câmara dos Deputados, tem boas chances de prosperar. Ele é apoiado por 38% dos parlamentares, enquanto 18% são contrários e 44% não se manifestaram a respeito.

Consciência ambiental é mais forte na oposição

Uma curiosa revelação da pesquisa do Instituto Análise é que parlamentares da oposição tendem a ter maior consciência ambiental do que os governistas: 42% dos

Governo

24

20

18

13

13

131

Total

25

22

19

15

14

150

Resumo > A FAVOR

Financiamento público de campanhaLista fechada para escolha de TODAS

as cadeiras do parlamentoVoto distrital

Fim das coligaçõesLista fechada para escolha de PARTE

das cadeiras do parlamentoBASE

Oposição

32

37

26

32

21

19

Governo

19

18

27

31

25

131

Total

23

20

29

33

29

150

Resumo > CONTRA

Financiamento público de campanhaLista fechada para escolha de TODAS

as cadeiras do parlamentoVoto distrital

Fim das coligaçõesLista fechada para escolha de PARTE

das cadeiras do parlamentoBASE

Oposição

47

37

47

47

53

19

PL 1992/2007(unificação do teto de aposentadoria)

Reforma política

Lista fechada para escolha de PARTE das cadeiras do parlamento 14 29 57

A favor NR / NSContra

Fim das coligações 15 33 52

Voto distrital 19 29 52

Lista fechada para escolha de TODAS as cadeiras do parlamento 22 20 58

Financiamento público de campanha 25 23 52

Não tem opinião

Sim

Não

Governo

48

15

37

Oposição

16

42

42

Total

44

18

38

08 Congresso em Foco

oposicionistas disseram-se contrários à “flexibilização da legislação ambiental para aumentar as áreas disponíveis para a agricultura”. Somente 21% dos governistas deram a mesma resposta.

No total, 34% dos congressistas são favoráveis a mudar a lei para aumentar as áreas disponíveis para a agricultura, o que reforça o pendor agrário do atual Congresso, que, aliás, ficou bastante evidente na votação do Código Florestal.

Foi nesse debate, inclusive, que o governo Dilma sofreu a sua primeira grande derrota legislativa quando, no último mês de maio, a Câmara contrariou a orientação oficial para aprovar uma anistia em favor dos agricultores que desmataram áreas que eles deveriam ter preservado.

Apoio massivo ao fim do foro privilegiado

A Constituição Federal de 1988, para impedir que os parlamentares se tornassem reféns do poder discricionário de juízes de primeira e segunda instâncias, estabeleceu que acusações criminais contra deputados federais e senadores só podem ser julgadas pelo Su-premo Tribunal Federal (STF).

O objetivo era assegurar aos representantes eleitos a autonomia necessária para exercer o mandato popular, poupando-os de eventuais abusos de poder ou de represálias paroquiais.

Por incapacidade operacional, acúmulo de processos ou simplesmente para não enfrentar abacaxis indigestos, o Supremo terminou por deixar os processos contra políticos tramitarem a passos de tartaruga manca, e o

foro privilegiado acabou servindo de proteção para gente de folha corrida pesada e extensa.

Somente em 2010 o STF condenou pela primeira vez um parlamentar no exercício do cargo, o então deputado federal José gerardo (PmDB-CE). Outras condenações seguiram-se, atingindo os também ex-deputados Tatico (PTB-gO) e Cássio Taniguchi (DEm-PR) e os atuais de-putados Natan Donadon (PmDB-RO) e Asdrúbal Bentes (PmDB-PA).

Donadon recorre em liberdade – e recebendo da Câmara – contra uma condenação a 13 anos de prisão, por desvios de recursos na Assembleia Legislativa de Rondônia. Asdrúbal foi condenado a três anos de cadeia por fazer laqueaduras de trompas em troca de votos.

O tempo, portanto, começou a esquentar para os parlamentares que respondem a processos no Supremo (136 deputados e senadores, segundo o último levantamento do Congresso em Foco). muitos deles começaram a defender uma bandeira que até então era exclusiva dos congressistas conhecidos por sua pregação em favor da ética: o fim do foro privilegiado. Caindo o foro, afinal, os processos seriam devolvidos às instâncias inferiores da Justiça, o que vários dos parlamentares réus passaram a ver com bons olhos.

Essa soma de opiniões, de parlamentares comprome-tidos com a ética, de parlamentares réus e de parlamen-tares que adoram jogar para a plateia (mesmo quando entrevistados anonimamente por um instituto de pes-quisa), explica os números abaixo, que conferem 61% de apoio ao fim do foro privilegiado.

Governo

45

21

34

Oposição

26

42

32

Total

43

23

34

Não tem opinião

Sim

Não

Grau de conhecimentodo Congresso em Foco entre deputados e senadores é de quase cem porcento.

O Instituto Análise perguntou aos 150 parlamentares entrevistados se eles conheciam o Congresso em Foco: 97 % responderam que sim.Também é muito expressivo o percentual de senadores e deputados federais que disseram acessar o nosso site: 73%. Alto, igualmente, é o número de parlamentares que o acessam diariamente – 49%.Em média, os entrevistados entram no Congresso em Foco 11,25 vezes por mês.

É a favor de flexibilizar a lei ambiental para aumentar a área para a agricultura?

É favorável ao fim do foro privilegiadopara parlamentares?

Não tem opinião

Sim

Não

29

9

61

Total

31

8

60

Governo

16

16

68

Oposição

O Parlamento do impasse

O Congresso tem número recorde tanto de empresários quanto de gente de esquerda, mas não se tornou nem mais liberal nem mais socialista. Ficou mais dividido e com maiores dificuldades para construir maiorias

Se o ex-presidente Lula fosse chamado para analisar a composição do atual Congresso, poderia utilizar como nunca a expressão que consagrou em seu governo. Nunca, na história deste país, os candidatos vitoriosos nas urnas gastaram tanto numa campanha eleitoral. Nunca tantos partidos políticos estiveram representados no Parlamento (com a criação do PSD de gilberto Kassab, agora são 23 partidos). Nunca, por um lado, as legendas de esquerda e centro-esquerda conquistaram tantas cadeiras na Câmara. Nunca, por outro, os empresários estiveram tão presentes no Legislativo como agora.

Essas aparentes maiorias, porém, jamais se revelaram tão ilusórias. Por baixo dessa sucessão de ineditismos,

esconde-se um Congresso que enfrenta dificuldades para estabelecer maiorias consistentes. Constituído por 279 parlamentares (47% da Casa), o grupo dos empresários, por exemplo, reúne desde pequenos empreendedores a grandes industriais, passando por produtores rurais, segmentos cujos interesses nem sempre coincidem.

Distribuído entre partidos de todos os campos ideológicos, o grupo supera o recorde da legislatura iniciada em 1991, quando ocupava aproximadamente 250 assentos nas duas casas legislativas (Câmara e Senado). Se falta coesão à “bancada empresarial”, as discordâncias são ainda maiores entre os partidos supostamente de

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esquerda e centro-esquerda. Há desde os oposicionistas Psol e PPS - este reformista e o primeiro na banda mais à esquerda do espectro ideológico, - até os governistas PT, PCdoB, PSB e PDT. Sem falar do PV, que não se sabe ao certo se é governo ou oposição. muitos desses partidos abrigam parlamentares vindos de legendas conservadoras e que pouca afinidade ideológica têm com as ideias historicamente abraçadas por suas atuais siglas. Apesar da presença inédita da “esquerda” na Câmara, com 38% das vagas, os partidos de direita e centro-direita respondem por 36% dos mandatos. Uma diferença mínima, decidida muitas vezes pelo centro.

Na falta de uma força capaz de fazer o Parlamento pender para um lado ou outro, a atual legislatura caminha cada vez mais para um cenário de impasse. A única maioria existente – a folgada maioria governista – é fluida e inconstante. Oscila conforme os interesses, mais ou menos nobres, dos deputados e senadores. Provas disso foram a divisão verificada na votação do novo Código Florestal e a derrota imposta à criação de um tributo para a saúde, pretendido pelo governo.

Para parlamentares dos mais diversos partidos, essa di-ficuldade em estabelecer maiorias reflete o embaralha-mento ideológico, a crise de representatividade dos par-tidos políticos e a degradação da atividade parlamentar.

“Não há nenhum grupo aqui com hegemonia evidente. Num governo de coalizão não há maioria sólida. mas os líderes não conseguem liderar efetivamente suas bancadas porque os partidos vivem uma frouxidão ideológica e programática muito grande. A gente vive essa crise que paralisa o Congresso”, alerta o líder do Psol na Câmara, Chico Alencar (RJ). Ele prossegue: “Há um embaralhamento ideológico. A perda de paradigmas dos projetos político e social aparece com força nesse tempo de sinais trocados e cartas misturadas. muitos têm trabalhista e socialista só no nome da sigla. Nada mais”.

Para o senador José Agripino (DEm-RN), presidente nacional do Democratas, o Congresso retrata o atual

momento político do país. “É o Congresso que as circunstâncias possibilitaram. A pulverização partidária é consequência da fragilidade dos partidos, que perderam a nitidez ideológica”, avalia Agripino, presidente da legenda que perdeu metade de sua bancada para o recém-criado Partido Social Democrático (PSD).

Ex-guerrilheiro, o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) acredita que a votação do novo Código Florestal na Câmara mostrou o quanto a presença da esquerda ainda é reduzida na Casa. “Todo mundo se diz mais à esquerda do que de fato é no Brasil”, considera. “Não somos mais de 180”, estima. Na posse dos congressistas, em fevereiro, 219 das 594 cadeiras do Parlamento estavam ocupadas por parlamentares de PT, PCdoB, Psol, PV, PDT, PSB e PPS.

O senador Paulo Paim (PT-RS) concorda com Sirkis e reforça a crítica. Para ele, a grande participação de sindicalistas no governo federal esvazia os quadros da esquerda no Congresso e favorece a representação do empresariado nas duas Casas. “Este é um Congresso mais conservador. muitos se dizem de esquerda, mas não agem assim na hora de votar”, afirma o petista.

Para ele, os empresários têm levado vantagem na dis-puta com os trabalhadores na atual legislatura. “Eles agora não mandam mais representantes para cá. Deci-diram que eles mesmos viriam”, acrescenta o senador.

Um dos maiores produtores de soja do mundo, o também senador Blairo maggi (PR-mT) discorda de Paim. “Os empresários não atuam em bloco. Nossos interesses são diferentes. Atuamos de forma independente nas comissões. Vejo que estamos adotando uma postura mais crítica e autocrítica do processo”, diz Blairo.

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), atribui a dificuldade em constituir maiorias no Legislativo ao adesismo e à prática dos sucessivos governos de cooptar parlamentares com cargos e liberação de verbas para redutos eleitorais. “No Brasil, subverteu-se o lema dos anarquistas. Aqui é hay gobierno, soy a favor”, ironiza.

Evolução ideológica da Câmara dos Deputados

1) PMDB, PSDB e PMN; 2) PFL/DEM, PTB, PL/PR, PSC, PTC, PHS, PAN, PRB, PSL, PST, PSD, PSDC, PSP, PRN, PRS, PTR, PDC e o antigo Partido Popular (PP, que disputou apenas as eleições de 1994 e depois foi incorporado ao atual Partido Progressista, PP); 3) PT, PCdoB e Psol.; 4) PDT, PSB, PPS e PV; 5) PP (que ao longo do período 1987/2011 teve também as denominações de PDS, PPR e PPB), Prona (que se fundiu ao PL, formando o PR, no início de 2007) e PTdoB.

Orientação ideológica

Centro (1)

Centro-direita (2)

Esquerda (3)

Centro-esquerda (4)

Direita (5)

1987/1991 (%)

39

40

4,5

10

6,5

1995/1999 (%)

34

34,5

11,5

10

10

1999/2003 (%)

36

30

13

9

12

1991/1995 (%)

29

42,5

8

12

8,5

2003/2007 (%)

28,5

28,5

20

12

11

2007/2011 (%)

31

24,5

19

17

8,5

2011/2015 (%)

26,3

27,7

21

17

8,6

Congresso em Foco 11

12 Congresso em Foco

Quem são os carasOs parlamentares federais têm, em média, 52 anos de idade na Câmara e 59 no Senado. Gastaram na campanha eleitoral um volume inédito de recursos, ostentam diplomas de cursos superiores (79%), e metade tem parentes na política

Se alguém lhe disser que o Parlamento brasileiro é o espelho da sociedade, velho clichê com que há muito espicaçam nossos ouvidos, não acredite.

No Brasil, as mulheres são maioria. No Congresso Nacional, elas não chegam a somar 10%. Os brasileiros que se declaram negros representam 7,6% da população, segundo o último censo do IBgE. No Senado, somente dois parlamentares – Paulo Paim (PT-RS) e magno malta (PR-ES) – assumem-se como tal (2,4% dos senadores).

O Congresso é, no máximo, um espelho retorcido do país. Os filtros que o distanciam do Brasil real passam, claro, por questões culturais, nelas incluídos os preconceitos de gênero, etnia e raça. mas estão relacionados, sobretudo, com as distorções de um sistema político que privilegia a tríade dinheiro-berço-poder.

É um Congresso dominado por...

• homens bem-nascidos, originários seja de famílias ricas, seja de famílias com influência política, seja das duas coisas simultaneamente (berço);

• gente que teve muita grana para torrar na campanha eleitoral (dinheiro);• pessoas com uma história prévia de poder, tanto por meio da conquista de espaços na máquina estatal – em especial, via mandatos eletivos anteriores ou exercício de cargos importantes no Executivo – quanto pela passagem por funções de liderança em organizações religiosas e sindicais (poder).

No último caso, vale registrar o significativo avanço das bancadas sindicalista e evangélica. Da legislatura passada para a atual, a primeira cresceu de 61 para 72 parlamentares, enquanto os evangélicos saltaram de 36 para 73 congressistas.

Veja outros aspectos que tornam mais nítido o perfil dos caras que você e outros 130 milhões de eleitores mandaram para Brasília.

Educação de desiguais

Um oceano separa o nível de escolaridade do eleitor brasileiro de seus representantes no Congresso. Dos

Os brasileiros elegerampara o atual Congresso...

59 advogados

42 professores

24 engenheiros

22 médicos

18 economistas

14 administradores

11 jornalistas

Perfil profissional dos congressistas*

* Dados referentes à composição do Congresso na data de início da legislatura (1O de fevereiro).

Grupo de ocupações

Empresários urbanos e rurais

Profissionais liberais e trabalhadores de nível superior

Técnicos de nível médio

Operários e outros trabalhadores

Apresentadores de rádio e TV, artistas e radialistas

Pastores e bispos evangélicos

Policiais

Outros

Total

Legislatura 2007/2011

209

309

18

19

15

9

7

8

594

Legislatura2011/2015

279

221

42

16

10

8

4

14

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% no totaldo Congresso

47

37

7,1

2,7

1,7

1,4

0,7

2,4

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% no total do Congresso

35

52

3

3

3

1,5

1,2

1,3

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Congresso em Foco 13

667 parlamentares que já exerceram o mandato na atual legislatura, iniciada em fevereiro deste ano, 527 (79%) concluíram o ensino superior. Outros 51 deixaram a faculdade antes de concluir os estudos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), menos de 4% dos eleitores brasileiros têm curso superior completo.

Apenas quatro congressistas não concluíram o ensino fundamental, uma realidade que atinge um terço do eleitorado. E só o deputado Tiririca (PR-SP), campeão de votos na Câmara, informou que somente lê e escreve. No Brasil, 14% dos eleitores apenas leem e escrevem.

Dos parlamentares que concluíram a faculdade, um terço (174) tem título de pós-graduação. São 119 especialistas, 40 mestres, 14 doutores e um pós-doutor, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

Domínio dos cinquentões

Um poderia ser bisneto do outro, e os dois são colegas de Parlamento. O senador garibaldi Alves (PmDB-RN), 88 anos, é o congressista mais idoso da atual legislatura. O deputado Hugo motta (PmDB-PB), 22, é o mais jovem. Em termos etários, o atual Congresso fica num meio termo entre garibaldi e Hugo.

Na Câmara, onde a idade mínima exigida é de 21 anos, a maior parte dos parlamentares tem entre 50 e 59 anos. A idade média na Casa é de 52 anos. Apenas 13 deputados têm menos de 30 anos e somente oito passaram dos 80.

No Senado, onde a idade mínima exigida é de 35 anos, de cada dez senadores, quatro passaram dos 60. Nascido em novembro de 1972, Randolfe Rodrigues (Psol-AP) é o único com menos de 40. A média de idade é de 59 anos. Os parlamentares com menos de meio século ocupam só 20% das cadeiras, e seis senadores são octogenários.

A grande família

A pele e os traços são de quem mal saiu da adolescência. Eleito deputado federal aos 21 anos, o estudante de Direito Wilson Filho (PmDB-PB) é o segundo parlamentar mais jovem da história do Congresso. É um mês mais velho que seu colega de estado e partido, Hugo motta, o mais novo deputado federal, também eleito em 2010. Os dois têm algo mais em comum: são de famílias de políticos. “O sobrenome foi essencial para me eleger. mas quero mostrar que Wilson Filho é diferente de Wilson pai”, diz o deputado, filho do senador Wilson Santiago (PmDB-PB).

O jovem parlamentar não está só. Dos 667 parlamentares que exerceram mandato no Congresso este ano (incluindo licenciados, suplentes e congressistas falecidos), 332 – metade! – são de famílias que ocupam ou ocuparam mandatos eletivos. As ligações políticas familiares predominam no Senado e alcançam 60 (dois terços) das 91 pessoas que atuaram como senadores neste ano. Ao todo, 272 deputados vêm de família com alguma experiência política.

Nenhuma com mais estrada que a do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-mg), 15º representante da família no Congresso. O clã Andrada desembarcou no Parlamento em 1821 e não saiu mais. Desde 1894, não existiu uma legislatura em que não houvesse ao menos um herdeiro do “patriarca da Independência”. Bonifácio cumpre o nono mandato consecutivo.

O predomínio dos parentes é maior entre parlamentares nordestinos. Só duas das 13 pessoas que representaram o Rio grande do Norte no Congresso desde fevereiro não vêm de família política. mais da metade da bancada é formada por três clãs: os maia, os Alves e os Rosado.

Congresso para maiores de 50 *

80-88 anos - 14 parlamentares40-49 anos - 160 parlamentares

22-29 anos - 13 parlamentares

50-59 anos - 243 parlamentares

30-39 anos - 69 parlamentares

60-69 anos - 135 parlamentares

70-79 anos - 33 parlamentaresEscolaridade dos deputados e senadores *

1 - Lê e escreve51 - Ensino superior incompleto

527 - Ensino superior completo

19 - Ensino fundamental completo

57 - Ensino médio completo

6 - Ensino médio incompleto

4 - Ensino fundamental incompleto

* Dados relativos aos 667 parlamentares (incluindo suplentes, licenciados e já falecidos) que exerceram mandato nesta legislatura até o dia 15 de outubro de 2011.

14 Congresso em Foco

O poder da grana

Os cerca de 5 mil candidatos que disputaram as eleições para deputado federal e senador em 2010 declararam ter gasto R$ 1,3 bilhão na campanha eleitoral. Um montante inédito na história do país e quase o dobro dos gastos de 2006. Em geral, ganhou quem teve mais dinheiro à disposição. Levantamento da Consultoria Legislativa da Câmara mostra que 369 (72%) dos 513 eleitos registraram as maiores despesas em seus estados.

Na média, os eleitos desembolsaram, na campanha, 12 vezes mais recursos que os candidatos derrotados. Em Pernambuco, esse fosso chegou a 38 vezes. A diferença persistiu na comparação entre os gastos médios dos eleitos e dos não eleitos mais votados: variou do dobro a sete vezes, conforme o estado.

Concentração de renda

Os dez parlamentares mais ricos concentram quase metade de todo o patrimônio declarado pelos 667 deputados e senadores que passaram pela Câmara e pelo Senado nesta legislatura até agora. O deputado João Lyra (PSD-AL) e o senador Blairo maggi (PR-mT) são os mais ricos – os únicos com fortuna pessoal superior a R$ 100 milhões.

Representando 9,3% do contingente total dos con-gressistas, os 62 parlamentares mais ricos (todos com declarações de bens acima de R$ 5 milhões) detêm 69% do patrimônio declarado pelo conjunto de deputados e senadores.

Ao todo, 263 congressistas têm mais de R$ 1 milhão em patrimônio declarado.

Na parte de baixo da “pirâmide social” do Congresso, outros 220 parlamentares informaram possuir bens que não passam dos R$ 500 mil. Há ainda mais 21 que declararam não possuir qualquer bem no próprio nome, nem mesmo um centavo depositado em conta bancária no momento em que registraram suas candidaturas.

A eleição mais cara da história (em milhões de reais)Candidatos a deputado federal e senador gastaram R$ 1,3 bilhão nas últimas eleições.

O dobro da eleição anterior. Veja a evolução dos gastos eleitorais desde 2002

Fonte: TSE/Consultoria Legislativa da Câmara

Deputado

Senador

74

109

439 387

926

191

20102006

2002Dez mais ricos têm quase metade dos bens

declarados por todos os parlamentares

* Informação prestada à Justiça eleitoral em 2006, quando concorreu na condição de suplente. Foi efetivado este ano com a renúncia de Marisa Serrano (PSDB-MS).

Dep. João Lyra

Sen. Blairo Maggi

Dep. Alfredo Kaefer

Dep. Newton Cardoso

Dep. Sandro Mabel

Sen. Antônio Russo

Dep. Paulo Maluf

Dep. Eunício Oliveira

Sen. Reinaldo Azambuja

Dep. Ivo Cassol

Patrimônio acumulado

R$ 240,4 milhões

R$ 152,4 milhões

R$ 95,7 milhões

R$ 77,9 milhões

R$ 70,9 milhões

R$ 52,9 milhões*

R$ 39,4 milhões

R$ 36,7 milhões

R$ 31,9 milhões

R$ 29,8 milhões

R$ 828,4 milhões

PSD (AL)

PR (MT)

PSDB (PR)

PMDB (MG)

PMDB (GO)

PR (MS)

PP (SP)

PMDB (CE)

PSDB (MS)

PP (RO)

O patrimônio dos parlamentares

* Dados relativos aos 667 parlamentares (incluindo suplentes, licenciados e já falecidos) que exerceram mandato nesta legislatura até o dia 15 de outubro de 2011.

Fonte: Congresso em Foco, com base nas informações prestadas pelosparlamentares à Justiça eleitoral

Nº deparlamentares

11

19

32

201

163

220

21

667

Participação no patrimônio total

44%

13%

12%

22%

6%

3%

0%

Patrimôniodeclarado

Mais de R$ 25 milhões

Entre R$ 10 milhõese R$ 25 milhões

Entre R$ 5 milhõese R$ 10 milhões

Entre R$ 1 milhãoe R$ 5 milhões

Entre R$ 500 mile R$ 1 milhão

Menos de R$ 500 mil

Declararam nãopossuir bens

R$ 1,94 bilhão

Os melhores parlamentares de 2011Conheça os 47 contemplados com o Prêmio Congresso em Foco 2011. Eles foram pré-selecionados por 267 jornalistas que cobrem o Congresso, em eleição acompanhada pelo Sindicato dos Jornalistas de Brasília, e depois submetidos a voto na internet.

Cristovam Buarque (PDT-DF)Nascido no Recife, 67 anos, está no segundo mandato no Senado. Engenheiro mecânico, é pós-graduado em Economia pela Universidade de Sorbonne, em Paris, onde se exilou durante a ditadura. Ainda nos anos 1970, foi chefe de projetos para a América Latina no Banco mundial. De volta ao Brasil em 1979, começou a dar aulas na Universidade de Brasília (UnB), da qual viria a ser reitor. Elegeu-se governador em 1994. Instituiu o bolsa-escola e uma grande campanha de educação no trânsito. Já senador, foi o primeiro ministro da Educação de Lula, em 2003. Acabou demitido por criticar o governo. Trocou o PT pelo PDT, e pelo novo partido, foi candidato às eleições presidenciais de 2006. mantém independência em relação ao governo. É a quinta vez que recebe o Prêmio Congresso em Foco. Em 2007, 2009 e 2010, foi o mais votado pelos internautas. Este ano, foi o senador mais votado pelos jornalistas e selecionado como destaque na Defesa da Democracia.

Ana Amélia (PP-RS)

>>Senadores

gaúcha de Lagoa Vermelha, tem 66 anos e exerce o primeiro mandato eletivo. Primeira mulher a se tornar comentarista de economia na televisão brasileira, tornou-se conhecida por seu trabalho como jornalista no jornal Zero Hora e na RBS TV, com o programa Panorama Econômico. Filha de um carpinteiro e de uma merendeira, só conseguiu estudar graças à ajuda do então governador Leonel Brizola, que lhe concedeu uma bolsa de estudos. Apesar de seu partido fazer parte da base de sustentação do governo Dilma, mantém independência em relação ao Palácio do Planalto, o que a fez assinar, por exemplo, o pedido de criação de CPI para apurar os casos de corrupção no Executivo. No Senado, vem marcando sua atuação por mostrar os riscos da desindustrialização do país e pelo trabalho em favor do agronegócio. No Prêmio Congresso em Foco 2011, também é destaque na Defesa dos municípios.

Congresso em Foco 15

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Demóstenes Torres (DEM-GO)Natural de Anicuns (gO), tem 50 anos e está no segundo mandato de senador. Formado em Direito, é procurador de Justiça. Foi procurador-geral de Justiça de goiás, secretário estadual de Segurança Pública e presidente do Conselho Nacional de Procuradores-gerais de Justiça do Brasil. Uma das principais vozes da oposição aos governos Lula e Dilma, tornou-se um dos maiores defensores da cassação do senador Renan Calheiros (PmDB-AL) durante a crise que quase custou o mandato ao peemedebista. Também defendeu a expulsão do então governador José Roberto Arruda e de seu vice, Paulo Octávio, do DEm, quando veio à tona o caso mensalão do governo do Distrito Federal. Em 2010, foi um dos relatores do Ficha Limpa no Senado e presidiu a Comissão de Constituição e Justiça. É líder do Democratas desde o início do ano. Recebe o prêmio pela quinta vez. Também se destacou neste ano nas categorias Segurança Jurídica e Defesa da Democracia.

Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE)Natural de Vicência (PE), 69 anos, está no primeiro mandato no Senado. Foi um dos fundadores do movimento Democrático Brasileiro (mDB), partido de oposição à ditadura militar. Começou na política como deputado estadual, em 1971, e chegou à Câmara em 1975. Participou ativamente da campanha pelas eleições diretas para presidente da República, as diretas já. Foi prefeito de Recife e governador de Pernambuco duas vezes. Presidiu o PmDB durante a campanha presidencial de 1989, quando o partido tinha, como candidato, Ulysses guimarães. Apesar de integrar um partido da base de sustentação dos governos Lula e Dilma, sempre esteve aliado à oposição. Acusa, com frequência, setores do PmDB de apoiar o governo em troca de cargos e liberação de emendas. Fez parte do grupo que defendeu a cassação de Renan Calheiros (PmDB-AL) por quebra de decoro parlamentar em 2007. Recebe o prêmio pela quinta vez. Neste ano, também é destaque na Defesa da Segurança Jurídica.

Eduardo Suplicy (PT-SP)Paulistano, 70 anos, está em seu terceiro mandato no Senado. É professor universitário, economista e administrador de empresas. Tem pós-doutorado em Economia pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Foi o primeiro senador a se eleger pelo PT, em 1990. Começou a trajetória política em 1979 como deputado estadual do antigo mDB. Um dos fundadores do PT, chegou à Câmara em 1983. Foi um dos primeiros políticos de expressão nacional a pregar no país políticas de renda mínima - conceito que inspirou iniciativas como o bolsa-escola e o bolsa-família. Tem como principal bandeira política a expansão do Programa Renda Básica de Cidadania, previsto em lei de sua autoria sancionada em 2004. Independente em relação ao governo, apoiou a criação da CPI dos Correios, no auge da crise do mensalão, em 2005. Recebeu o Prêmio Congresso em Foco em todas as suas edições.

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Lindbergh Farias (PT-RJ)Paraibano de João Pessoa, tem 41 anos e está em seu primeiro mandato no Senado. Como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), liderou a campanha dos “caras-pintadas”, que contribuiu para o impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992. Dois anos depois, elegeu-se deputado federal pelo PCdoB. Em 1997, assumiu a presidência da União da Juventude Socialista (UJS) e se filiou ao PSTU. Destacou-se na oposição ao governo Fernando Henrique, sobretudo como crítico das privatizações. Filiado ao PT, voltou à Câmara em 2002. Dois anos depois, elegeu-se prefeito de Nova Iguaçu e renovou o mandato em seguida. No ano passado, venceu a disputa para o Senado como o candidato mais votado do Rio de Janeiro. Presidente da Subcomissão das Pessoas com Deficiência, tem atuado na defesa dos portadores da Síndrome de Down. Também foi selecionado para a categoria Parlamentar de Futuro.

Pedro Simon (PMDB-RS)Nasceu em Caxias do Sul (RS) há 81 anos e está no seu quarto mandato no Senado. Advogado criminalista e professor universitário, estreou na política em 1954 como vereador. Depois de ser deputado estadual, chegou ao Senado em 1978 pelo mDB. Vice-presidente do partido, coordenou nacionalmente o movimento diretas já. Escolhido ministro da Agricultura por Tancredo Neves, acabou assumindo o cargo no governo José Sarney. Elegeu-se governador em 1986 e voltou ao Senado quatro anos mais tarde. Teve atuação destacada na CPI que derrubou o presidente Fernando Collor e na que investigou os chamados “anões do orçamento”. Foi líder do governo Itamar Franco e ajudou a aprovar, no Congresso, o Plano Real. De lá pra cá, sempre se posicionou com independência em relação aos sucessivos governos. Contemplado com o Prêmio Congresso em Foco em todas as seis edições, neste ano também foi selecionado para as categorias Defesa da Democracia, dos municípios e da Segurança Jurídica.

Paulo Paim (PT-RS)Natural de Caxias do Sul (RS), 61 anos, é metalúrgico e sindicalista. Está no primeiro ano de seu segundo mandato de senador. Foi presidente do Sindicato dos metalúrgicos de Canoas e secretário-geral e vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). No Congresso, é reconhecido pela atuação em favor do aumento real do salário mínimo, dos aposentados, da população negra e dos excluídos em geral. Antes de chegar ao Senado, foi deputado federal durante quatro legislaturas seguidas. É autor do Estatuto do Idoso, em vigor desde 2003, e dos Estatutos da Igualdade Racial e da Pessoa com Deficiência. Respondeu pela primeira-vice-presidência do Senado entre 2003 e 2005. Atualmente, preside a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa. Recebe o Prêmio Congresso em Foco pela quinta vez. Neste ano, também é destaque em três categorias – Defesa da Democracia, Promoção da Saúde e Defesa do Consumidor.

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Pedro Taques (PDT-MT)Natural de Cuiabá, tem 43 anos e está em seu primeiro mandato eletivo. Ex-procurador da República, tornou-se conhecido por sua atuação contra o crime organizado e os esquemas de lavagem de dinheiro. Suas maiores ações levaram à prisão aquele que é considerado o maior bicheiro de mato grosso, João Arcanjo Ribeiro (conhecido como Comendador Arcanjo), e o ex-senador Jader Barbalho (PmDB), acusado de desviar recursos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Tem se destacado nos debates jurídicos da Comissão de Constituição e Justiça. É autor de projeto que equipara a corrupção aos crimes hediondos e aumenta de dois para quatro anos a pena mínima para o delito. Apesar de ser de um partido da base da presidenta Dilma Rousseff, é independente em relação ao governo. Também é destaque na Defesa da Segurança Jurídica.

Rodrigo Rollemberg (PSB-DF)Carioca, 52 anos, exerce o primeiro mandato de senador. Formado em História, é funcionário efetivo do Senado. Trabalhou como chefe de gabinete dos ex-senadores Jamil Haddad (PSB-RJ) e José Paulo Bisol (PSB-RS). Foi deputado distrital por duas legislaturas e secretário de Turismo do Distrito Federal no governo Cristovam Buarque. No primeiro governo Lula, foi secretário de Inclusão Social do ministério de Ciência e Tecnologia. Na Câmara, liderou a bancada do PSB durante dois anos, presidiu a comissão do Fundo Social do Pré-Sal e coordenou a Frente Parlamentar de Valorização do Servidor Público. No Senado, preside a Comissão de meio Ambiente e Fiscalização e conduz as discussões sobre a reformulação do Código de Defesa do Consumidor. É filho do ex-deputado sergipano Armando Leite Rollemberg. Recebe o prêmio pelo quarto ano consecutivo (de 2008 a 2010 como deputado). Destaque na Defesa dos Consumidores.

Randolfe Rodrigues (Psol-AP)Pernambucano de garanhuns, tem 39 anos e exerce seu primeiro mandato no Senado. É o mais jovem senador na atual legislatura. No Amapá desde os oito anos, começou a militância política no movimento estudantil. É professor universitário, historiador e bacharel em Direito, com mestrado em políticas públicas. Pelo PT, foi deputado estadual duas vezes. Trocou o partido pelo Psol em 2005 após a crise do mensalão. Em 2010, recebeu 203 mil votos e foi o senador mais votado do estado. Em seu primeiro dia na Casa, disputou a presidência do Senado contra o candidato à reeleição, José Sarney (PmDB-AP). Fez um discurso contundente, em que defendeu a independência da instituição, transparência na aplicação dos recursos públicos e ética na administração da Casa. Preside a CPI que investiga irregularidades na área de direitos autorais. Destaque na categoria Parlamentar de Futuro.

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Congresso em Foco 19

Aloysio Nunes (PSDB-SP)Natural de São José do Rio Preto (SP), tem 66 anos e está em seu primeiro mandato no Senado. Começou a militância política no combate à ditadura militar. Aderiu à luta armada, com a Ação Libertadora Nacional (ALN), do guerrilheiro Carlos marighella. Perseguido, exilou-se na França, de onde retornou em 1979. Em seguida, filiou-se ao PmDB, pelo qual se elegeu deputado estadual e vice-governador de São Paulo (na gestão Luiz Antônio Fleury Filho). Foi ainda deputado federal por dois mandatos e, no governo Fernando Henrique (já no PSDB), ministro da Justiça e secretário-geral da Presidência. Também foi da equipe do ex-governador José Serra. Com os 11,2 milhões de votos que recebeu em 2010, tornou-se o senador mais votado do país em todos os tempos. No Senado, é o relator do projeto que cria a Comissão da Verdade, destinada a apurar violações de direitos humanos durante a ditadura militar. Destaque na Defesa da Segurança Jurídica.

Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR)Natural de Boa Vista, 67 anos, está na metade de seu segundo mandato no Senado. médico ginecologista, é professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Foi diretor do curso de medicina da UFRR, presidente do Conselho Regional de medicina e secretário estadual de Saúde. Foi ainda deputado federal e constituinte. Elegeu-se senador pela primeira vez em 1998. Também se dedica às discussões sobre questões agrárias, assumindo a defesa dos interesses dos produtores rurais. É autor do projeto, aprovado no Congresso, que prevê a realização de um plebiscito para a divisão do Pará e a criação dos estados de Tapajós e Carajás. Na legislatura passada, presidiu a CPI das ONgs, instalada para investigar a atuação das organizações não-governamentais no país. Apesar de seu partido fazer parte da base governista, mantém-se independente em relação ao Planalto. Selecionado para a categoria Promoção da Saúde.

Humberto Costa (PT-PE)Paulista de Campinas, tem 54 anos e está em seu primeiro mandato no Senado. mudou-se com a família para a capital pernambucana quando tinha seis anos. médico, é pós-graduado em medicina geral Comunitária, Clínica médica e Psiquiatria. É também jornalista, e atualmente faz mestrado em Ciência Política na Universidade Federal de Pernambuco. Começou sua militância política nos movimentos estudantil e sindical e foi um dos fundadores do PT em Pernambuco. Elegeu-se deputado federal em 1994. Em 2001, assumiu a Secretaria municipal de Saúde na primeira gestão do prefeito de Recife João Paulo Lima (PT). Foi ministro da Saúde de Lula entre 2003 e 2005. Depois de perder a eleição para o governador Eduardo Campos (PSB), virou seu secretário estadual de Cidades. Atual líder do PT no Senado, foi selecionado para a categoria Promoção da Saúde.

>>Categorias especiais

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Wellington Dias (PT-PI)Nasceu em Oeiras (PI), tem 49 anos e está no primeiro mandato no Senado. Bancário e radialista, é formado em Letras, com especialização em políticas públicas. Antes de se eleger senador, governou o Piauí por dois mandatos. Iniciou-se na política como líder sindical. Foi dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e presidente da Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal (APCEF) e do Sindicato dos Bancários do Piauí. Em 1992, elegeu-se vereador em Teresina. Depois de ser deputado estadual, tornou-se o primeiro petista a conquistar uma vaga na Câmara pelo Piauí. No Senado, buscou um acordo para aprovar proposta que prevê a redistribuição dos royalties do petróleo entre os estados e os municípios conforme os critérios aplicados na divisão dos fundos de participação dos estados e dos municípios. Foi selecionado nas categorias Defesa dos municípios e Promoção da Saúde.

Aldo Rebelo (PCdoB-SP)Alagoano de Viçosa, tem 55 anos e estava no sexto mandato quando foi indicado para assumir o ministério do Esporte. Filho de um vaqueiro e de uma professora, cresceu numa fazenda que pertencia ao falecido ex-senador Teotônio Vilela, protagonista da campanha pela anistia no final da ditadura militar. graduado em Jornalismo, presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1980. Em 1988, elegeu-se vereador em São Paulo. Na Câmara desde 1991, foi o primeiro líder do governo Lula na Casa, em 2003, e ministro das Relações Institucionais entre 2004 e 2005. Em seguida, voltou à Câmara e assumiu a sua presidência. É conhecido pela postura nacionalista. Durante a tramitação do novo Código Florestal, que relatou na Câmara, defendeu uma ampla reforma da legislação ambiental e acusou os ambientalistas, principais críticos de seu relatório, de se oporem aos interesses nacionais. Foi considerado um dos melhores parlamentares brasileiros em todas as seis edições do Prêmio Congresso em Foco.

ACM Neto (DEM-BA)Natural de Salvador, tem 32 anos e está no terceiro mandato consecutivo de deputado. Herdeiro político do avô, o falecido ex-senador Antonio Carlos magalhães, destacou-se nas legislaturas anteriores pela boa oratória e pela oposição ferrenha ao governo Lula. mantém o discurso duro em relação ao governo Dilma Rousseff. Formado em Direito, ganhou projeção ainda em sua primeira legislatura como um dos sub-relatores da CPI dos Correios. Entre 2009 e 2010, acumulou a 2ª-vice-presidência e a corregedoria da Câmara. Como corregedor, pediu a cassação do então deputado Edmar moreira (mg), acusado de direcionar dinheiro público para suas próprias empresas. Assumiu este ano a liderança do DEm na Câmara, função que já havia exercido em 2008. Ficou entre os melhores parlamentares do país em três das seis edições do Prêmio Congresso em Foco (2007, 2009 e 2011).

>>Deputados

20 Congresso em Foco

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Alfredo Sirkis (PV-RJ)Carioca, tem 60 anos e está no primeiro mandato de deputado. Um dos fundadores do PV, foi presidente nacional da legenda e vereador no Rio três vezes. Começou sua militância política ainda na adolescência, em 1967, e participou ativamente de manifestações contra a ditadura, inclusive na luta armada, experiência narrada em seu livro Os Carbonários. Com o aumento da repressão, exilou-se na Argentina, no Chile, na Suécia e em Portugal. Voltou ao Brasil em 1979, continuou a exercer o jornalismo e passou a se dedicar a questões ambientais. Em 1998, candidatou-se à Presidência da República pelo PV, partido que presidiu entre 1991 e 1999. No ano passado, foi um dos artífices da candidatura de marina Silva (PV) ao Planalto. Este ano, assumiu uma postura de independência em relação ao atual comando do partido depois que marina deixou a sigla por divergências com a cúpula partidária.

Carlos Sampaio (PSDB-SP)Natural de Campinas (SP), tem 48 anos e está no terceiro mandato de deputado. Promotor de Justiça desde os 23 anos, afastou-se do ministério Público Estadual aos 29 para ingressar na política. Foi vereador em Campinas e deputado estadual. Na primeira passagem por Brasília, relatou a representação contra o deputado Pedro Corrêa (PP-PE), cassado pelo plenário por conta da sua participação no esquema do mensalão do PT. Este ano, voltou a relatar uma representação por quebra de decoro contra um parlamentar: a deputada Jaqueline Roriz (PmN-DF), flagrada em vídeo recebendo dinheiro de propina das mãos de Durval Barbosa, delator do esquema que resultou na Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. O parecer do deputado, pela cassação de Jaqueline, foi aprovado pelo Conselho de Ética, mas não obteve votos suficientes para ser aprovado no plenário, onde a votação foi secreta.

Cândido Vaccarezza (PT-SP)Baiano de Senhor do Bonfim, tem 56 anos e está no segundo mandato de deputado. Começou na política no movimento estudantil em seu estado natal. Participou da reorganização da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da fundação do PT na Bahia. É médico ginecologista e obstetra. Na década de 1980, mudou-se para mauá (SP), onde foi secretário municipal e diretor-geral de hospital. Antes de chegar à Câmara, há quatro anos, foi deputado estadual por duas legislaturas. Considerado bom articulador, de caráter pragmático, teve papel importante nas campanhas vitoriosas de Arlindo Chinaglia (PT-SP), em 2007, e de michel Temer (PmDB), em 2009, para a presidência da Câmara. Sua atuação o levou a se tornar líder do PT em 2009. É líder do governo desde janeiro de 2010. Esta é a segunda vez em que foi selecionado para receber o Prêmio Congresso em Foco (a outra foi em 2010).

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Chico Alencar (Psol-RJ)Carioca, 62 anos, está no terceiro mandato na Câmara. Projetou-se na política como líder comunitário. mestre em Educação, autor de 26 livros, é professor licenciado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre 1987 e 2005, foi filiado ao PT, pelo qual conquistou seu primeiro mandato na Câmara. Foi vereador e deputado estadual. Trocou o PT pelo Psol em 2005, no auge do escândalo do mensalão. Contundente nas críticas ao governo e também à oposição feita pelo PSDB e pelo DEm, é uma das principais referências na defesa da ética e da transparência na administração pública. Foi contemplado em todas as edições do Prêmio Congresso em Foco, Nos últimos três anos, foi considerado o melhor deputado pelos jornalistas que cobrem o Congresso. Em 2010, foi o mais votado pelos internautas. Neste ano, também ficou entre os destaques na categoria especial Defesa da Democracia e da Cidadania.

Domingos Dutra (PT-MA)Natural de Buriti (mA), tem 55 anos e está no terceiro mandato na Câmara. Antes de entrar para a política, trabalhou como balconista de loja, estudou Direito na Universidade Federal do maranhão (UFmA) e foi professor. Assumiu, em 1989, seu primeiro cargo político: vereador em São Luís. Em 1995, tornou-se o primeiro descendente de quilombola a assumir uma cadeira no Congresso. Dois anos mais tarde, tomou posse como vice-prefeito da capital maranhense, na gestão de Jackson Lago (PDT). Adversário histórico da família Sarney, fez greve de fome contra a decisão do PT de apoiar a reeleição da governadora Roseana Sarney (PmDB-mA). Na Câmara, é vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e um dos principais defensores dos direitos dos quilombolas e da aprovação da proposta que endurece o combate ao trabalho escravo. Distinguido pela segunda vez com o Prêmio Congresso em Foco (a primeira foi em 2010).

Delegado Protógenes (PCdoB-SP)Nascido em Salvador, tem 52 anos e exerce o primeiro mandato eletivo. Como delegado federal, conduziu a Operação Satiagraha, que levou à prisão, entre outros, o banqueiro Daniel Dantas, em 2008. Foi acionado judicialmente por Dantas, que o acusou de ter cometido excessos nas investigações. O delegado acabou afastado de suas funções em meio à troca de acusações com a cúpula da Polícia Federal. Antes da Satiagraha, participou de investigações sobre lavagem de dinheiro do caso Corinthians/mSI e da prisão do comerciante Law Kin Chong, considerado o maior contrabandista do país. Convidado por vários partidos para concorrer na eleição de 2010, optou pelo PCdoB. Na Câmara, apresentou projeto que endurece a pena para a corrupção, equiparando esse tipo de crime aos cometidos contra a vida, como homicídio e estupro.

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Dr. Rosinha (PT-PR)Nasceu em Rolândia (PR) há 61 anos e está no quarto mandato consecutivo. É médico pediatra formado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), com especialização em Saúde Pública e medicina do Trabalho. Foi fundador do Sindicato dos Servidores Públicos municipais de Rolândia. Como médico, trabalhou em postos de saúde da periferia da capital paranaense e presidiu a Associação dos Servidores municipais de Curitiba (1985-1987). Em 1989, assumiu mandato de vereador. Antes de chegar ao Congresso, em 1999, foi deputado estadual. Adotou como uma das suas bandeiras a luta contra a terceirização dos serviços públicos, a valorização dos servidores e a ampliação das fontes de recursos para a saúde pública. Presidiu o Parlamento do mercosul (Parlasul) entre junho de 2008 e fevereiro de 2009. Este é o quarto ano seguido em que recebe o Prêmio Congresso em Foco. Neste ano, pela segunda vez, foi considerado um dos destaques na Promoção da Saúde.

Erika Kokay (PT-DF)Nascida em Fortaleza (CE), tem 54 anos e exerce seu primeiro mandato na Câmara. É psicóloga formada pela Universidade de Brasília (UnB) e bancária. Começou a militância no movimento estudantil, na resistência à ditadura no final do regime militar. Em 1982, foi aprovada em concurso público para a Caixa Econômica Federal e passou a participar do movimento sindical. Presidiu o Sindicato dos Bancários de Brasília entre 1992 e 1998 e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Distrito Federal de 2000 a 2002. Filiada ao PT desde 1989, foi eleita deputada distrital pela primeira vez em 2002 e reeleita quatro anos mais tarde. Líder do partido na Câmara Legislativa, destacou-se como uma das principais opositoras do ex-governador José Roberto Arruda. Na Câmara, tem atuação voltada para a defesa dos direitos humanos, do funcionalismo público e da saúde.

Duarte Nogueira (PSDB-SP)Natural de Ribeirão Preto (SP), é engenheiro agrônomo e produtor rural, tem 47 anos e está no segundo mandato na Câmara. Filho do ex-prefeito Antonio Duarte Nogueira, que governou Ribeirão por dois mandatos, começou a carreira política aos 28 anos, na eleição municipal de 1992. Candidato a prefeito da cidade natal, chegou ao segundo turno. Em seguida, elegeu-se deputado estadual por três mandatos consecutivos. Na Assembleia Legislativa paulista, foi vice-líder do governo mário Covas, em 2000, e líder do governo geraldo Alckmin entre 2001 e 2002. Na gestão de Covas, respondeu pela Secretaria Estadual da Habitação entre 1995 e 1996. No governo Alckmin, comandou a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de 2003 a 2006. Conhecido pelo tom conciliador, assumiu no começo do ano a liderança do PSDB na Câmara.

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Henrique Fontana (PT-RS)Nasceu em Porto Alegre, tem 51 anos e exerce o quarto mandato consecutivo de deputado. Formado em Administração de Empresas e medicina pela Universidade Federal do Rio grande do Sul, começou a carreira política como vereador em Porto Alegre, em 1992. Em 1996, reelegeu-se vereador e tornou-se secretário municipal de Saúde na gestão Raul Pont (PT). Chegou à Câmara em 1999 e se destacou na oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso. Em 2005, após a crise do mensalão, liderou a bancada do PT na Câmara. De 2008 a 2010, foi líder do governo na Casa e saiu-se bem ao costurar a aprovação de vários projetos importantes, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Como relator da proposta de reforma política, apresentou recentemente anteprojeto que proíbe o financiamento privado direto aos candidatos, institui o voto proporcional misto e acaba com as coligações para eleições proporcionais. Recebe o prêmio pela quinta vez.

Jandira Feghali (PCdoB-RJ)Curitibana, 54 anos, exerce o quinto mandato de deputada. Formada em medicina, é especialista em Cardiopediatria. Construiu sua carreira política dentro do movimento sindical no Rio de Janeiro. Foi presidente da Associação de médicos Residentes do estado do Rio e da Associação Nacional dos médicos Residentes e foi diretora do Sindicato dos médicos. Assumiu o primeiro mandato eletivo em 1987, quando se elegeu deputada estadual constituinte. Chegou à Câmara quatro anos depois. De lá pra cá, ficou fora da Casa apenas na legislatura passada, após tentar uma vaga no Senado. Nos últimos quatro anos, foi secretária de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói e comandou a Secretaria municipal de Cultura do Rio. É fundadora da União Brasileira de mulheres (UmB), entidade sem fins lucrativos que luta pelos direitos e emancipação das mulheres, e preside a Frente Parlamentar mista em Defesa da Cultura.

Ivan Valente (Psol-SP)Paulistano, tem 65 anos e está no quinto mandato consecutivo. É professor, formado em Engenharia (1971) e matemática (1972). Começou a vida política no movimento estudantil nos anos 1960. Foi preso e torturado durante a ditadura militar. Chegou à Câmara em 1995 após dois mandatos de deputado estadual em São Paulo, sempre pelo PT. Foi um dos autores do pedido de criação da CPI dos Bancos, que investigou o socorro dado pelo governo Fernando Henrique Cardoso a várias instituições financeiras. Nos início do governo Lula, destacou-se por criticar a política econômica implantada por seu então partido. Foi punido pela direção do PT por ter votado contra a reforma da Previdência. Em 2005, foi um dos criadores do Psol, formado em meio à crise do mensalão. No debate do Código Florestal, foi um dos principais aliados dos ambientalistas. Pela quinta vez recebe o prêmio. Neste ano, também foi selecionado para a categoria Defesa do Consumidor.

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Jean Wyllys (Psol-RJ)Baiano de Alagoinhas, tem 37 anos e iniciou este ano o primeiro mandato de deputado. Professor universitário, é jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado em Letras e Linguística. Seu envolvimento com a política começou na adolescência, nas pastorais da Juventude Estudantil e da Juventude do meio Popular, nas comunidades eclesiais de base da Igreja Católica. Primeiro parlamentar homossexual assumido a se eleger defendendo a causa LgBT, tornou-se conhecido nacionalmente ao vencer a edição do reality show Big Brother Brasil, da TV globo. Na Câmara, tem se destacado na defesa dos direitos dos homossexuais e na luta contra a homofobia. Foi um dos autores da representação contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), acusado de ser homofóbico e racista por causa de declarações dadas a um programa de TV. A representação acabou arquivada pelo Conselho de Ética. Jean também foi selecionado para a categoria Parlamentar de Futuro.

Manuela D’Ávila (PCdoB-RS)Nasceu em Porto Alegre (RS), tem 30 anos e está no segundo mandato na Câmara. É formada em Jornalismo. Nas eleições de 2006 e 2010, foi, de toda a bancada gaúcha, quem recebeu a maior votação. Filiada ao PCdoB desde 2001, começou a atividade política no movimento estudantil. Foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e vereadora. Assumiu uma cadeira na Câmara pela primeira vez aos 25 anos. No Congresso, sempre rejeitou o rótulo de “musa” e relatou projetos como a Lei dos Estágios, o Estatuto da Juventude e o vale-cultura. Preside a Comissão de Direitos Humanos e minorias e integra as frente parlamentares em defesa da liberdade na internet e pela Cidadania LgBT. É a terceira vez sucessiva em que recebe o Prêmio Congresso em Foco. Em 2009, foi eleita pelos internautas a grande vencedora entre os deputados. Neste ano, também foi selecionada na categoria Parlamentar de Futuro.

Luiza Erundina (PSB-SP)Paraibana de Uiraúna, 77 anos, está no quarto mandato consecutivo. É a mais experiente liderança feminina do Congresso. Professora universitária e técnica em educação e políticas públicas para a área social, é graduada em Serviço Social e tem mestrado em Ciências Sociais. O primeiro mandato eletivo veio em 1983, como vereadora em São Paulo. Em 1987, tornou-se deputada estadual. Em 1989, transformou-se na primeira mulher a comandar a maior cidade do país, ainda pelo PT, legenda que ajudou a fundar. Em 1993, no governo Itamar Franco, licenciou-se do partido para ser ministra da Administração. Após a passagem pelo governo, porém, começou a se desentender com a direção do PT e acabou deixando a sigla em 1997, quando se filiou ao PSB. É uma das principais críticas do atual sistema de concessão e renovação de emissoras de rádio e TV. Ficou entre os melhores nomes do Parlamento brasileiro em todas as edições do Prêmio Congresso em Foco.

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Mara Gabrilli (PSDB-SP)Paulistana, 44 anos, é publicitária e psicóloga. Filiada ao PSDB desde 2003, foi a primeira titular da Secretaria municipal da Pessoa com Deficiência e mobilidade Reduzida de São Paulo. Também na capital paulista, foi vereadora entre 2007 e 2010. Vítima de um acidente de carro em 1994, ficou tetraplégica. Três anos mais tarde, fundou uma ONg com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência. O Instituto mara gabrilli apoia atletas com deficiência, fomenta pesquisas científicas e projetos culturais. Depois de denunciar a falta de acessibilidade na Câmara, inaugurou no começo do ano um sistema de registro de votos que capta o movimento de seu rosto no plenário durante as deliberações. Também participou do relançamento da Frente Parlamentar mista de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência no Congresso.

Miro Texeira (PDT-RJ)Carioca, 66 anos, está no décimo mandato na Câmara. Advogado e jornalista, começou sua vida política no antigo mDB, na oposição à ditadura militar. Ligado ao grupo do ex-governador Chagas Freitas, foi candidato a governador na eleição de 1982, vencida por Leonel Brizola. Em 1989, trocou o PmDB pelo PDT, do próprio Brizola. Em 2002, contrariou a orientação da legenda, que apoiava Ciro gomes, e apoiou a candidatura de Lula à Presidência. Com a decisão do partido de se opor ao governo do petista, deixou o partido, ao qual só regressou quando o PDT voltou a fazer parte da base do governo. Foi ministro das Comunicações em 2003 e líder do governo na Câmara, ainda no primeiro mandato de Lula. Um questionamento apresentado por ele no Supremo Tribunal Federal levou à extinção da Lei de Imprensa. Recebe o Prêmio Congresso em Foco pela quinta vez. Neste ano, foi selecionado ainda na categoria Defesa da Segurança Jurídica.

Marco Maia (PT-RS)Atual presidente da Câmara, é natural de Canoas (RS) e tem 45 anos. metalúrgico, filiado ao PT desde 1985, começou a carreira política no movimento sindical e está no terceiro mandato consecutivo de deputado. Antes de chegar ao Congresso, teve experiência no Executivo local. Em 2001, comandou a Secretaria de Administração e Recursos Humanos do Estado do Rio grande do Sul. Dois anos mais tarde, presidiu a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. Na legislatura passada, relatou a CPI do Tráfego Aéreo e assumiu a vice-presidência da Câmara. Com a renúncia do então presidente, michel Temer (PmDB-RS), para concorrer à vice-presidência da República, encerrou o ano na condição de presidente da Casa. Em fevereiro de 2011, elegeu-se presidente da Câmara para o biênio 2011-2012 após derrotar outros três candidatos. Tem estilo conciliador e bom trânsito com partidos da base e da oposição. Recebe o prêmio pela segunda vez.

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Paulo Teixeira (PT-SP)Paulista de águas da Prata, 50 anos, é líder do PT na Câmara. Está no segundo mandato de deputado federal. Antes, foi vereador em São Paulo e deputado estadual por duas legislaturas. É formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado em Direito Constitucional pela mesma instituição. Foi subprefeito de São miguel Paulista na gestão de Luiza Erundina como prefeita de São Paulo. Na administração de marta Suplicy, comandou a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano e dirigiu a Companhia metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab). Na legislatura passada, foi vice-líder do PT na Câmara e um dos principais adversários do polêmico projeto de lei que regulamenta crimes na internet e aumenta a vigilância sobre o internauta. Este ano, orientou a bancada do partido a votar contra as alterações no Código Florestal.

Roberto Freire (PPS-SP)Recifense, 69 anos, está no sexto mandato de deputado, o primeiro por São Paulo. Nos demais, representou Pernambuco. Presidente nacional do PPS, é um dos principais remanescentes em atividade do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Pela antiga legenda, concorreu à Presidência da República em 1989. Na década de 1960, defendeu, como advogado, o líder comunista gregório Bezerra. Fez parte do chamado “grupo dos autênticos”, a parcela mais oposicionista na bancada do mDB - único partido no Congresso que fazia oposição à ditadura militar. Elegeu-se senador em 1994 e foi um dos líderes do governo Itamar Franco no Senado. Em 2002, foi o artífice da candidatura presidencial de Ciro gomes pelo PPS e apoiou Lula no segundo turno. Após divergências com o novo governo, levou o PPS a deixar a base de apoio e seguir para a oposição, na qual o partido permanece até hoje. Recebe o prêmio pela segunda vez.

Reguffe (PDT-DF)Nascido no Rio de Janeiro em 1972, tem sua carreira política vinculada à moralidade e à fiscalização dos gastos públicos. Formado em Economia e Jornalismo, como deputado distrital aliou-se à oposição ao governo de José Roberto Arruda (ex-DEm), apesar de integrantes do PDT terem assumido cargos no Executivo local. Assumiu este ano seu primeiro mandato federal. Foi eleito com a maior votação proporcional do país (19% dos votos válidos para deputado federal). Como havia feito na Câmara Legislativa, abriu mão, no Congresso, dos vencimentos extras ao salário e reduziu o número de assessores em seu gabinete. Na Câmara, adotou postura de independência, mesmo com o PDT fazendo parte do governo. Costuma dizer que vota “a favor do que é bom e contra o que é ruim”. No Prêmio Congresso em Foco, também foi selecionado nas categorias Defesa do Consumidor e Parlamentar de Futuro.

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Romário (PSB-RJ)Carioca, 45 anos, exerce seu primeiro mandato eletivo. Um dos maiores nomes da história do futebol, foi eleito o melhor jogador da Copa de 1994, conquistada pela seleção brasileira, e o melhor do mundo naquele mesmo ano. No Brasil, jogou em três dos grandes clubes do Rio: Vasco, Flamengo e Fluminense. E também presidiu o América-RJ. Na Europa, destacou-se no PSV Eindhoven (Holanda) e no Barcelona. Empresário, filiou-se ao PSB em 2009 para disputar sua primeira eleição. Foi o sexto mais votado no estado. Na Câmara, driblou a desconfiança que paira sobre as celebridades que entram para a política. Tem atuado na fiscalização das obras e demais ações referentes à realização da Copa do mundo e na defesa dos portadores de necessidades especiais. É autor de uma emenda, incluída em um projeto convertido em lei, que estendeu benefícios a pessoas com síndrome de Down e autismo.

Alessandro Molon (PT-RJ)mineiro de Belo Horizonte, tem 40 anos e está no primeiro mandato na Câmara. Professor de Direito da PUC-RJ, é advogado e bacharel em História - área na qual fez mestrado. Antes de chegar à Câmara, foi deputado estadual por dois mandatos no Rio, entre 2003 e 2010. Na Câmara, é titular das comissões de Constituição e Justiça (CCJ) e de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO). Coordena a comissão externa sobre o legado da Copa e dos Jogos Olímpicos para o Rio e região. O órgão também tem, entre suas atribuições, acompanhar o andamento das obras. É autor do livro Graco Babeuf: o pioneiro do socialismo moderno, sobre o jornalista que participou da Revolução Francesa e foi executado por seu papel na Conspiração dos Iguais. É ligado ao movimento Renovação Carismática, da Igreja Católica. Destaque na Defesa da Segurança Jurídica.

Vicentinho (PT-SP)Nascido em Santa Cruz (RN), tem 55 anos e está no terceiro mandato consecutivo. Começou a carreira política no movimento sindical. Foi trabalhador rural e minerador. Como metalúrgico na região do grande ABC, em São Paulo, presidiu o Sindicato dos metalúrgicos e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade da qual é um dos fundadores. Já adulto, completou seus estudos e formou-se em Direito. É um dos mais ativos integrantes da bancada sindicalista no Congresso. Em seu primeiro mandato, presidiu a Comissão Especial da Reforma Trabalhista, que acabou não sendo votada pela Câmara. Integra a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público. No início do ano, relatou o projeto que reajustou o salário mínimo e criou uma política de aumento para os próximos quatro anos.

>>Categorias especiais

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Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS)Natural de Porto Alegre, tem 57 anos e está licenciado de seu quinto mandato de deputado federal para chefiar o ministério da Agricultura, ao qual chegou a convite de Dilma Rousseff, de quem é amigo há mais de duas décadas. Foi nomeado para substituir Wagner Rossi, então submerso em denúncias envolvendo sua gestão. Um mês antes de ser convidado, o deputado havia assumido a liderança do governo no Congresso. Sua experiência no Executivo, porém, vem de longe. No Rio grande do Sul, foi titular das secretarias da Justiça, de Obras Públicas, Saneamento e Habitação e chefe da Casa Civil. Começou sua trajetória política em 1974, no mDB, mesmo partido do pai, o ex-deputado mendes Ribeiro. Advogado, elegeu-se vereador na capital gaúcha, em 1982. Foi ainda deputado estadual por dois mandatos, antes de chegar à Câmara. Destaque na Defesa da Segurança Jurídica.

Osmar Terra (PMDB-RS)Natural de Porto Alegre, tem 61 anos e está no quarto mandato de deputado. É médico especialista em saúde perinatal, educação e desenvolvimento do bebê. Ocupou diversos cargos públicos na área da saúde. Foi secretário-executivo do programa Comunidade Solidária da Presidência da República, entre 1999 e 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, e secretário estadual de Saúde do Rio grande do Sul. Por duas vezes, presidiu o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde. Sua primeira eleição foi em 1992, quando se tornou prefeito de Santa Rosa (RS). É coordenador da Frente Parlamentar da Primeira Infância, que tem como objetivo apoiar e estimular políticas e ações voltadas para bebês e crianças até os seis anos de idade. É titular da Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara. Destaque na Promoção da Saúde.

Darcísio Perondi (PMDB-RS)gaúcho de Ijuí, tem 64 anos e exerce o quinto mandato na Câmara. É médico especializado em Puericultura e Pediatria. Atuou por 22 anos como presidente do Hospital de Caridade de Ijuí. Também comandou a Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Rio grande do Sul e foi vice-presidente da Confederação das Santas Casas de misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Brasil. No Congresso, coordena a Frente Parlamentar da Saúde e pressiona pela regulamentação da chamada Emenda 29, que aumenta o percentual de recursos para a saúde. Em 2004, foi um dos relatores, na Câmara, do projeto da Lei de Biossegurança, que liberou estudos com as células-tronco embrionárias e também a produção de alimentos transgênicos. Também tem atuação destacada na Frente Parlamentar da Agropecuária. Destaque na Promoção da Saúde.

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Luis Carlos Heinze (PP-RS) gaúcho de Candelária, tem 61 anos e está no quarto mandato consecutivo de deputado. É engenheiro agrônomo e produtor rural. Começou sua trajetória política assessorando cooperativas e sindicatos rurais. Em 1993, conquistou seu primeiro mandato eletivo como prefeito de São Borja (RS), município onde também foi secretário de Agricultura. É um dos principais articuladores da Frente Parlamentar da Agropecuária. Foi presidente da Comissão de Agricultura e trabalhou ativamente nas calorosas discussões sobre o novo Código Florestal na Câmara, defendendo os interesses dos ruralistas. Este ano, a pedido dos prefeitos das cidades que perderam recursos do Fundo de Participação dos municípios (FPm) com a redução do número de habitantes, apresentou proposta que prevê um corte gradual no repasse da verba pública. Destaque na Defesa dos municípios.

Roberto Santiago (PV-SP)Paulistano, 53 anos, está em seu segundo mandato de deputado. Comerciário, bacharel em Direito, começou a militância política no movimento sindical. Filiado ao PV desde 2005, presidiu o Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade e a Federação Nacional dos Trabalhadores em Serviços de Asseio, Conservação e Limpeza Urbana. É vice-presidente nacional da Social Democracia Sindical (SDS) desde 2000. Na Câmara, preside a Comissão de Defesa do Consumidor e é relator da Comissão Especial do Trabalho Terceirizado, que vai definir o marco legal do setor que emprega mais de 10 milhões de pessoas no Brasil. Também foi designado relator do marco regulatório do uso da internet no país. Destaque na categoria Defesa do Consumidor.

Júlio Cesar (DEM-PI) Nasceu em guadalupe (PI), tem 63 anos e está no quarto mandato de deputado. Advogado, professor e produtor rural, foi prefeito de sua cidade natal duas vezes. Comandou a Secretaria municipal de Administração de Teresina, as secretarias estaduais de Agricultura e Segurança Pública e de Justiça do Piauí. Foi diretor-presidente da companhia estadual de saneamento e diretor de administração e finanças da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no segundo governo Fernando Henrique Cardoso. Na Câmara, preside a Frente Parlamentar municipalista e a Comissão de Agricultura e Pecuária. É autor de várias propostas que aumentam os recursos para o Fundo de Participação dos municípios (FPm), repasse federal de verbas para as cidades brasileiras. Também integra a Frente Parlamentar do Cooperativismo. Destaque na Defesa dos municípios.

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Sarney parte para o ataquePara o presidente do Senado, oposição não tem proposta nem discurso, partidos viraram “cartórios que registram candidatos” e Congresso perdeu a legitimidadeSylvio Costa e Edson Sardinha

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“A oposição não tem propostas. Adotou o discurso ‘nós somos

responsáveis por tudo isso’. Ora, isso não cabe na cabeça

de ninguém; é uma coisa que não pega”

entrevista

PAULO NEgREIROS

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Aos 81 anos, o ex-presidente da República e atual presidente do Senado e do Congresso Nacional, José Sarney (PmDB-AP), não é homem de passar recibo. Destratado por um coro de 100 mil vozes no Rock in Rio, saiu-se com esta: “A contestação está no DNA do rock”.

Sobreviveu a tudo. À crise dos atos secretos, a denúncias de problemas administrativos no Senado e à repercussão causada pelo envolvimento do seu filho Fernando em uma investigação da Polícia Federal. Alheio à pressão popular, o Senado, que na legislatura anterior havia arquivado as denúncias feitas contra ele, no início deste ano o reconduziu à presidência.

Nada mais parece abalar Sarney. Ele diz estar acostumado a apanhar. “É bom bater no Sarney”, ironiza. Fala em aguardar o julgamento da história. mas o homem que cultiva a fama de conciliador também sabe atirar.

Ao receber em seu gabinete a Revista Congresso em Foco, disparou contra a oposição, os partidos políticos e o próprio Legislativo. Aqui, os principais trechos da entrevista.

Congresso em Foco – Nesses seus quase 60 anos de vida política, qual foi o setor, na sua opinião, em que o Brasil mais avançou e qual aquele em que ainda há maiores dificuldades a serem superadas?

José Sarney – Se fizermos uma análise na história do Brasil, chegaremos à conclusão de que o Brasil é um país que sempre deu certo. Saímos da independência sem nenhuma luta, ao contrário do que ocorreu na América Espanhola. A república – um golpe militar a que o povo assistiu bestificado, como disse Aristides Lobo – também se instaura sob o poder civil. Ruy Barbosa, o grande civilista, estabelece a nova Constituição, moldada na americana. Os próprios militares estavam submetidos e querendo instaurar um regime democrático e de liberdades públicas. Por isso, o Brasil deu certo. Dentro do Congresso se fez o país. Não foi em batalhas. Saímos dos barões do café, entramos nos bacharéis. A partir de então, tivemos quase todas as classes representadas no poder. Chegamos ao fim

do primeiro século da República tendo um operário no poder e depois uma mulher na presidência, uma mudança de gênero, o que é extraordinário. Hoje somos a quinta economia do mundo. Como tivemos tempos dourados dos Estados Unidos, da Europa e dos tigres asiáticos, hoje a áfrica e a América do Sul estão despertando. Não temos motivos para pessimismo.

O senhor mantém a opinião de que o Brasil é um país ingovernável?

Logo que assumi a Presidência da República, poucos meses depois, convoquei a Constituinte. minha visão era de abrir imediatamente todos os espaços para que as forças vindas da clandestinidade tivessem espaço para exercer, dentro da democracia, seu desejo de participação. Precisávamos atualizar o Brasil em matéria de direitos sociais porque nossas constituições tinham sempre predominância da visão econômica. O Brasil precisava se modernizar também em relação a direitos sociais e civis, porque vínhamos de um regime autoritário. Esses dois capítulos são excepcionais, tanto que devemos a eles o mais longo período de tranquilidade institucional. Como a Constituição é híbrida, ela transformou o país em ingovernável. Tem se mantido a governabilidade à custa do sentimento de unidade e conciliação que o Brasil sempre teve.

Ingovernável por quê?

O Congresso está, de certo modo, com suas funções deformadas pelas medidas provisórias. A iniciativa legislativa passou a ser do Executivo, que comanda o processo legislativo. O Congresso perdeu o poder de criatividade, em que se aprofunda a democracia. Quem toma conta da pauta do Legislativo é o Executivo. Por outro lado, o Legislativo chega e assimila ações que eram do Executivo. Atribuo muito a esse sistema o fato de o Congresso ter se desviado de suas funções e, ao mesmo tempo, perdido força, substância e prestígio perante o poder público. Votamos coisas que não deveríamos votar. Organização e criação de cargos, remanejamento de créditos, coisas da administração diária que passam a ser obrigatoriamente encaminhadas pelo Executivo. Até a fixação do salário mínimo. Durante anos, o presidente fazia um decreto com o novo salário mínimo. Agora, temos de fazer uma lei todo ano. Passamos um mês ou dois aqui no Congresso discutindo o assunto.

“O Congresso tornou-se um poder que hoje já se pensa que é anacrônico,

que não representa nada. Mas é muito melhor um Congresso dessa natureza

do que nenhum Congresso”

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Por isso o Congresso tem uma imagem tão desgastada?Isso é um fenômeno mundial. É a crise da democracia representativa. Ela está no mundo inteiro. No Brasil, o Congresso tem 38% de aprovação. O Congresso do Chile está com 23% de aprovação e o dos Estados Unidos, com 27%. Isso é um fenômeno que enfrenta a democracia representativa. Ela foi instituída para que os eleitos representassem o povo, num prazo certo, em eleições periódicas. mas as novas tecnologias fizeram com que a vontade do povo se expressasse em tempo real. A questão é saber quem representa o povo. É um Congresso eleito de quatro em quatro anos e que envelhece rapidamente diante da velocidade dos fatos ou aqueles que falam diariamente em nome da opinião pública? Esse é o grande choque da crise da democracia representativa.

Como superar essa crise?Estamos marchando para um tipo de democracia direta. Hoje, 30 dias depois da eleição o eleitor já não sabe por que votou em determinada pessoa, nem o eleito sabe por que foi votado. Desapareceram os

programas e as ideologias. Ficou uma atividade pragmática do dia da eleição. O Congresso tornou-se um poder – que hoje já se pensa que ele é anacrônico – que não representa nada. mas é muito melhor você viver com um Congresso dessa natureza do que viver sem nenhum Congresso.

Muitos brasileiros canalizam contra o Congresso o incômodo causa-do hoje no Brasil por temas como corrupção e falta de serviços públicos de qualidade. É visão errada dessas pessoas ou de fato há falhas graves no Congresso e nos políticos?

É muito compreensível que as pessoas tenham visão crítica e insatisfação, embora as pesquisas apontem grau de satisfação do povo brasileiro bastante alto em relação ao país. Acreditava-se, até a queda do mundo de Berlim, que através da utopia você podia mudar o mundo. E isso criou sociedades muito questionadoras no mundo inteiro. Não é um fenômeno brasileiro; até, por exemplo, se compararmos com o movimento dos indignados na Europa e nos Estados Unidos. Eles têm uma insatisfação pessoal muito grande e isso também se reflete sobre o Congresso. Por quê? Porque o Congresso é o coração da

democracia. É onde o povo tem a oportunidade de falar, protestar e opinar. O que moveu a política do mundo inteiro foi a utopia. E, de repente, percebemos que a ciência e a tecnologia foram capazes de fazer muito mais do que fizemos todos nós com as ideias políticas ao longo do século. Por exemplo, o Alexander Fleming, que descobriu a penicilina, fez de bom para o povo e para o mundo muito mais que qualquer ideologia política. Agora, a vontade do homem de cometer desvios vem desde o princípio do mundo. A corrupção está no âmago das ideias políticas do mundo ocidental, até como desqualificadora dos adversários. Acredito que o Brasil hoje seja menos corrupto do que foi no passado. E é mais corrupto do que será no futuro, porque no futuro ele será bem melhor.

Por que o PT se tornou tão forte no Brasil? Até que ponto vai essa força?

O Lula desencadeou o processo da ascensão dos operários ao poder. A partir daí ele representa uma ideia-força que é extraordinária, porque ele levou a classe operária ao poder. Com ele, a sociedade brasileira passou a ser menos injusta. A

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liderança de Lula não é horizontal como as outras, que com um vento caem. Sua liderança é vertical; não é qualquer ventania que pode destruí-la.

O senhor quer dizer que a força não é do PT, mas do Lula?

A história sempre se conduz de um homem, de um grande líder, de algumas ideias básicas. E o Lula é justamente a síntese dessas ideias, que ele representa pessoalmente. Ele passou de um homem a símbolo desse processo.

E há algo que as oposições pudessem ter feito na história recente do país, ou que possam fazer hoje para enfrentar essa enorme força?

Em princípio, acho que a oposição perdeu ideias. Ela não tem propostas. Qual é a proposta da oposição pra isso? Ela adotou o discurso “nós somos responsáveis por tudo isso”. Ora, isso não cabe na cabeça de ninguém, porque a legitimidade do Lula é de ser operário. Como é que uma área nascida da elite paulista pode dizer que ela é que representa essas ideias? É uma coisa que não pega. A mudança de gênero, com Dilma, também é um avanço. Dilma é uma continuidade sem continuísmo, embora ela também represente essas ideias.

Esse discurso da oposição de que o PT se apropriou de seu programa não pega por que a ideia é falsa, ou não pega por que a população não acredita?

Isso é falso, não existe. O Lula é resultado de um pro-cesso histórico, que vem da República até aqui. Não há a mesma coisa em relação à oposição. A oposição

existe e deve existir, porque a pior coisa seria uma sociedade unânime. Nós temos uma oposição com nomes brilhantes, ativos, mas falta proposta, uma ideia-chave que seja a motriz desse processo.

A oposição tem condições de reverter esse processo até as próximas eleições presidenciais daqui a três anos?

Acho que não. Num horizonte médio, enquanto não se esgotar esse processo de participação do social como principal na nossa forma de governo, o Lula, com esse conjunto de forças que se agregaram a ele, ainda tem tempo. Não vejo um horizonte de perda de substância disso. Essa aliança em torno de Lula vai ter futuro ainda durante muito tempo. Ela pode ter defecções, mas a linha básica será mantida.

O senhor acha que o PSD pode virar um novo PMDB, ou seja, um partido com muitas lideranças regionais fortes, mas sem uma uniformidade ideológica, programática?

Enquanto tivermos o voto proporcional uninominal, não teremos partidos políticos. No caso do Brasil, não existe partido, porque o inimigo está dentro da legenda. O candidato tem de vencer não é o adversário, mas o seu companheiro de partido para se eleger. Não tendo partidos, as pessoas passaram a ficar desconfortáveis nessas agremiações, que não são partidos. São cartórios que reúnem políticos e registram candidatos nas vés-peras das eleições. muita gente estava insatisfeita e agora apareceu uma janela e todo mundo pulou fora.

O senhor acredita que a reforma política sairá?

A reforma política é muito difícil. Luto por ela há mais de 40 anos. Apresentei, em 1971, o primeiro projeto instituindo o voto distrital. mas a verdade é que o Congresso, por viver tantos anos sob determinadas regras, tem receio de mudá-las. Os parlamentares receiam perder as eleições.

O senhor concorda com o financiamento público de campanha?

É um grande avanço, embora eu não acredite que o financiamento público evite a participação do poder eco-nômico, que sempre vai influir em todas as eleições em todos os lugares do mundo. Essa bagunça que existe aí, de a empresa privada contribuir para as eleições, não é uma forma que tenha dado certo, porque obriga os políticos a serem pedintes, que vão com uma sacola na mão. São 500 mil candidatos atrás de recurso para fazer eleição.

“No caso do Brasil, não existe partido, porque o inimigo está dentro da

legenda. O candidato tem de vencer não é o adversário, mas o seu companheiro

de partido para se eleger”

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Muitos críticos do senhor fazem referência ao fato de seu grupo político exercer um longo domínio no estado do Maranhão, e o estado não ter se desenvolvido nesse período tanto quanto outros. Como o senhor enfrenta essa crítica?

De certo modo, essa crítica é nova. Passou a existir depois que perdemos a eleição no maranhão. Uma maneira de desqualificar a minha participação na vida pública nacional era desqualificar o estado. Então, ven-deram ao Brasil essa ideia de que o maranhão é um estado miserável, quando na realidade o IBgE tem 3 mil índices. Nós temos alguns índices que são péssimos; também os outros estados têm índices péssimos. mas quero dizer que o maranhão é o 16º estado do Brasil em PIB (Produto Interno Bruto); está na frente do mato grosso. Fala-se que o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] do maranhão é baixo. É realmente baixo, muito baixo. Agora, o Brasil é a 7º economia do mundo. E qual a posição dele no IDH? Está na 81ª posição. Nem por isso se vai dizer que o Brasil é um país miserável. O maranhão, pelo contrário, é um estado que hoje tem as maiores possibilidades naquela região. A infraestrutura que nós criamos no maranhão é a melhor dos estados

do Nordeste. Tiramos ele do século XIX. Esse foi um processo político que foi assimilado pela grande mídia porque é bom bater no Sarney, dá visibilidade isso. Em minha longa vida política, sempre atuei como um conciliador, mesmo nos momentos mais difíceis da História do Brasil. Fui um homem que procurou ajudar o país na transição democrática; o colar social dentro da Constituição foi feito por mim. Sempre procurei in-fluenciar essa visão social e solucionar crises. minhas escolhas aqui dentro da Casa também têm sido neste sentido, do homem tranquilo, do homem prudente, do homem paciente.

Que imagem o senhor acredita que o brasileiro, de maneira geral, tem do senhor?

Não sou a pessoa certa para julgar. A história é que vai me julgar. No contingente, cada um de nós sofre os problemas diários. Como não se pode falar mal do Lula, porque o Lula já não está presente, não se pode falar mal da Dilma, porque é a nossa presidente, restou Sarney para ser o ponto de crítica nacional.

O senhor acredita que sua imagem como homem público será revista no futuro?

Não tenho dúvida que serei julgado pelo que fiz e não pelo que não fiz. Eu gosto de um verso do miguel Torga, sobre o Afonso de Albuquerque, que foi vice-rei das Índias. “Do que fiz e do que não fiz, não cuido agora; as Índias todas falarão por mim.”

“Essa bagunça da empresa privada contribuir para as eleições não é uma forma que tenha dado certo porque

obriga os políticos a serem pedintes, que vão com uma sacola na mão”

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“O Congresso é quase uma

Disney World”

Aloysio Nunes “Facilitamos a vida deles”Senador tucano diz que PSDB deixou Lula se apropriar do legado de FHC por não saber contar sua história. Para ele, partido tem de se reorganizar e definir projeto para voltar ao poder.

36 Congresso em Foco

entrevista

bater e bater”, afirma ele. A segunda é “formular um projeto para amanhã”.

Congresso em Foco – Que virtudes e defeitos o senhor enxerga nesta legislatura?Aloysio Nunes – Para quem gosta e tem vocação política, o Congresso é quase uma Disney World. Acho fascinante trabalhar no Congresso porque ele é um espelho do Brasil. Agora, este é um Congresso muito submetido à pauta do Executivo, que é uma pauta pobre. O governo tem uma maioria oceânica, mas defensiva. Não tem uma

Um dos principais porta-vozes da oposição, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) chegou ao Congresso montado em mais de 11 milhões de votos, na condição de senador mais votado da história do país. mas não perdeu a capacidade da autocrítica. Para ele, o PSDB precisa se reorganizar e definir imediatamente um projeto para voltar ao poder. Aliado de José Serra, Aloysio diz que os tucanos perderam para Dilma Rousseff porque foram incompetentes ao contar sua própria história. O senador acredita que a oposição deve fazer duas coisas. A primeira, pôr o dedo nas feridas do governo. “É bater,

Edson Sardinha

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pauta clara. Tudo que a presidente Dilma apresentou em sua mensagem na abertura dos trabalhos legislativos tem sido postergado ou abandonado. mesmo Lula, no primeiro mandato, procurou o PSDB para pedir apoio para a continuidade da reforma da Previdência.

Por que isso acontece?Tenho a impressão de que é um governo de continuidade que não quer ser mero continuísmo. mas que não tem ousadia ou ideias para avançar.

O senhor vê retrocesso em relação ao governo Lula?É difícil haver retrocesso em relação ao governo Lula. O início de mandato é sempre o momento em que o governante chega carregado de legitimidade, com a corda toda, com grande expectativa e crédito de confiança. É o momento mais propício para tomar medidas legislativas de fôlego. E, no entanto, não é o que se vê.

O PSDB sempre acusou Lula e o PT de se apropriarem das bandeiras tucanas. E os petistas sempre retrucaram alegando que as políticas sociais diferenciam muito um governo do outro. Quem convence mais a população hoje?A população aprovou o governo Lula. Ele foi reeleito e elegeu sua sucessora. Se ele se apropriou, foi porque nós nos deixamos ser levados. Não contamos direito a nossa história. Nós facilitamos a vida deles. Não se deu a polêmica necessária sobre isso. mas a população tem bastante consciência de que há uma linha de continuidade entre as medidas tomadas pelo Fernando Henrique e pelo Lula, por mais que ele queira ter o monopólio delas. As pessoas sabem quem é quem, e quem fez o quê. O povo não é besta.

Entre os governistas prevalece o discurso de que a oposição está sem rumo. O senhor concorda?Quem está sem rumo é o governo. O que estão fazendo em relação à Copa, por exemplo? Estamos chegando ao fim do ano e até agora não temos as obras dos aeroportos. Continuamos numa expectativa de licitação que não se sabe quando vai acontecer. O governo está como uma barata tonta na gestão da política econômica.Que rumo tem de tomar a oposição?Precisamos basicamente botar o dedo na ferida e formular um projeto para amanhã. Apontar o problema da corrupção, da inépcia, da gestão, da economia, especialmente a volta da inflação, da segurança, da saúde pública e da infraestrutura. É bater, bater e bater.

Esse projeto da oposição ainda não está pronto?Ainda não. É preciso haver um esforço intelectual, de aplicação, e um trabalho braçal de organização. Organizar diretórios, convidar gente para entrar no partido, fazer um bom licenciamento de quem e quantos somos e tapar brechas na nossa estrutura em lugares onde o partido foi praticamente dizimado.

O que falta para isso acontecer?Nós saímos de uma eleição presidencial em que

perdemos. É obvio que depois das eleições você tem de se preparar para a travessia no deserto. É um momento realmente de reflexão e balanço que, ao meu entender, já está encerrado. Agora é hora de começar a preparar esse projeto, já tendo em vista as eleições municipais.

O ex-governador Serra criticou a antecipação do debate eleitoral para 2014 dentro do partido. O que o PSDB tem que fazer para não criar um clima de guerra interna que possa prejudicar o próprio partido?Tem de fortalecer os mecanismos de direção criativa, reunir com mais frequência a executiva nacional e o conselho político, abrir espaço para que cada um participe de acordo com a sua vocação e ambição, e não fechar portas a ninguém. A antecipação da escolha de candidato para a eleição presidencial seria profundamente negativa para o partido.

Por quê?Porque é hora de o partido se afirmar. Chamar todo mundo para dentro, para o trabalho, para a colaboração. Candidatura tem hora. Defendo prévias, mas só em 2014. Isso pressupõe organizar o partido. A começar por um belo recadastramento de todos os militantes.

O senador Aécio antecipou o processo eleitoral ao dizer que está pronto para disputar a eleição pelo partido?Ele disse algo que todo mundo sabe, que gostaria de ser candidato a presidente. Alguém ignora isso? Acho ótimo. Ele não anunciou nada de novo. Ao mesmo tempo, ele exprime a opinião de que essa questão deve continuar em aberto. Tanto que ele cita vários nomes que poderiam também ser candidatos.

O que pode representar no cenário político o surgimento do PSD?O PSD nasce como uma janela para quem não estava se sentindo confortavelmente instalado em seu lugar. O prefeito gilberto Kassab foi muito habilidoso em traçar uma teia de alianças com governadores estaduais de todos os partidos. Ele conseguiu encontrar na política estadual um ponto de convergência ou de interesse comum com quase todos os governadores. É um partido mais dos vários governismos estaduais que do governismo de atração pelo governo federal.

Que futuro tem o PSD?Acho que ele pode crescer e vir a ser até um fator de ruptura da polaridade PT/PSDB. mas depende da formulação de uma ideia, de um propósito identificável diferente dos demais e da oferta de atrativos a uma parcela significativa do eleitorado. Depende, ao mesmo tempo, de ser capaz de lançar candidatos majoritários viáveis, fortes, nos diferentes estados e até mesmo à Presidência.

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frases

O Congresso visto por dentroOuvimos vários parlamentares sobre os dilemas do Legislativo. O que eles dizem:

“O que menos importa aqui hoje são os partidos. Não vejo uma organização partidária ou doutrinária. Os programas dos partidos são muito parecidos. Não temos grandes diferenças, nenhum deles propõe a ruptura do que está aí”Blairo Maggi (PR-MT), senador

“Envelhecemos precocemente aqui com o corporativismo de passar a mão na cabeça de pessoas que tiveram práticas delituosas”Chico Alencar (Psol-RJ), deputado

“O dinheiro fez mal aos partidos políticos. A luta não é mais política, mas por recursos públicos. Estão elegendo o tempo de TV e os diretores de marketing, e não mais candidatos“Miro Teixeira (PDT-RJ), deputado

“No Brasil, subverteu-se o lema dos anarquistas. Aqui é hay gobierno, soy a favor”Roberto Freire (PPS-SP), deputado e presidente nacional do partido

“Onde estão as divergências? Não sei mais dizer o que é esquerda ou direita. Só sei que a governabilidade virou palavrão. Os parlamentares só se reúnem para troca-troca: trocam voto por ministérios, cargos e emendas”Pedro Simon (PMDB-RS), senador

“As pessoas sempre se dizem mais à esquerda do que realmente são no Brasil”Alfredo Sirkis (PV-RJ), deputado

“A pulverização partidária é consequência da fragilidade dos partidos, que perderam a nitidez ideológica”José Agripino Maia (DEM-RN), senador e presidente nacional do partido

“Sou negro, filho de pais analfabetos e metalúrgico, e vim de uma família pobre. Sou uma exceção aqui”Paulo Paim (PT-RS), senador

“No Congresso, as questões locais prevalecem sobre as discussões de caráter ideológico”Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), senador

“O jogo eleitoral está cada vez mais pesado. Precisamos limitar os gastos das campanhas e o autofinanciamento dos candidatos”Octávio Leite (PSDB-RJ), deputado

“Somos um partido de centro. Não somos a favor nem contra o governo. Não queremos ministérios por enquanto”Roberto Dorner (PSD-MT), empresário e deputado

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Elas fizeram Brasília ferverAs irmãs Daniella e Lucianna Kalil revelam como transformaram a indignação com a impunidade em marchas que reuniram 43 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios: “Tem de levantar do sofá”

denúncias de corrupção. gente de classe média que nem sempre participa da vida política, mas que, a exemplo das irmãs, também resolveu sair de casa após se sentir esbofeteada com mais um flagrante de impunidade.

As duas manifestações convocadas por Lucianna e Daniella tiveram em comum três grandes bandeiras: a crítica ao espírito de corpo dos parlamentares, a exigência do fim do voto secreto no Congresso e o apoio à aplicação da Lei da Ficha Limpa nas eleições de 2012. Temas que, até pouco tempo atrás, só levariam uma multidão às ruas se fossem levantados por partidos políticos e sindicatos. mas que agora podem ser conduzidos por personagens anônimos graças às maravilhas da internet e à crescente perda de representatividade das legendas partidárias.

Corretora de imóveis, formada em Publicidade e Propaganda, aos 32 anos Daniella nunca havia se envolvido com movimentos sociais. “Não conseguia mais ficar parada, só escutando reclamação, e nenhuma ação. gente indignada tem de fazer alguma coisa. Tem de levantar do sofá”, defende.

O envolvimento das irmãs Kalil com a marcha contra a Corrupção começou nas redes sociais. Representante

Um vídeo exibido no horário nobre da TV arrancou as irmãs Daniella e Lucianna Kalil do sofá. As imagens da deputada Jaqueline Roriz (PmN-DF) recebendo dinheiro de um esquema de corrupção em Brasília caíram como um tapa na cara das duas brasilienses, observadoras pouco atentas do noticiário político até então. Aquelas imagens fizeram com que as duas trocassem a comodidade do lar pelo inconformismo da internet. Daniella e Lucianna poderiam ser apenas mais duas brasileiras a canalizar para o mundo virtual sua indignação em relação aos políticos. mas não são. Elas conseguiram algo raro neste país: fazer brotar da coisa indigna a ação.

As irmãs Kalil deram início à maior manifestação realizada neste começo de século na capital federal sem a participação de partidos políticos e sindicatos. Tiraram de casa 30 mil pessoas até então acomodadas, como elas, num escaldante 7 de setembro. Com o apoio de quem compartilhava das mesmas ambições, ajudaram a levantar outras 13 mil no feriado de 12 de outubro.

Cidadãos que decidiram tomar as vias largas de Brasília no Dia da Independência para expressar seu descontentamento com a absolvição de Jaqueline Roriz, aprovada por 265 votos anônimos, e a proliferação de

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sociedade

Mariana Haubert

de um site de compras coletivas, Lucianna, de 31 anos, decidiu criar um grupo no Facebook, em 17 de agosto, propondo um protesto contra atos de corrupção. Naquele dia, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, deixava o governo acossado por denúncias, em uma das cinco “faxinas” já realizadas até agora por Dilma Rousseff (houve um sexto ministro demitido, Nelson Jobim, mas por falar demais).

No início, a adesão ao movimento foi baixa. Faltavam propostas concretas de ação e sobravam bate-bocas. “muita gente trocava xingamentos e defendia veementemente os partidos envolvidos nas denúncias. Era uma coisa de doido acompanhar aquilo”, diz Daniella. A campanha virtual, porém, não avançava. Pensaram em desistir. O fracasso para a marcha de 7 de setembro parecia inevitável.

A ajuda, quem diria, veio da Câmara, com a absolvição de Jaqueline Roriz, em 30 de agosto. O tapa na cara coletivo dado pelos deputados fez com que 3 mil pessoas aderissem diariamente ao movimento na rede social. No dia da marcha, 24 mil internautas haviam confirmado participação no evento. “Foi incrível ver que as pessoas estavam interessadas mesmo, porque havíamos nos conhecido alguns dias antes. Todo mundo ajudou. Cada um doou um pouco do que podia e fizemos os cartazes e as faixas”, explica Lucianna.

Uma multidão vestida de preto saiu do museu Nacional, localizado no início da Esplanada dos ministérios, e seguiu até a Praça dos Três Poderes, onde cantou o Hino Nacional. No outro lado da avenida, pela primeira vez uma presidenta da República acompanhava o desfile militar. mas a notícia do dia era outra: cerca de 30 mil pessoas protestavam nas ruas de Brasília contra a corrupção.

O ativismo mudou a vida de Daniella. Desde que o movimento de Combate à Corrupção se consolidou, a corretora deixou o trabalho com os imóveis de lado. Afastada do trabalho, vive hoje com o apoio financeiro da família e divide o tempo entre o filho de dez anos e o movimento. “Agora participo de muitas reuniões, vou às cidades satélites panfletar e fico o dia todo na internet divulgando o movimento”, conta.

O movimento de Combate à Corrupção (mCC) está consolidado e reúne-se semanalmente para discutir ações. O perfil do grupo continua o mesmo: pessoas sem envolvimento com partidos e organizações políticas. “Nas reuniões todo mundo tem direito a voto, por exemplo. Queremos descentralizar ao máximo, mas

Lucianna: “Os outros movimentos veem Brasília agora como referência

porque aqui deu certo”

Congresso em Foco 41

com organização. Estamos aprendendo juntos a fazer isso”, explica Daniella.

“Os outros movimentos veem Brasília agora como referência porque aqui deu certo”, conta Lucianna. mas o movimento não quer se restringir a manifestações. Em parceria com outros cinco grupos que têm a corrupção como alvo, o mCC trabalha na construção de um manifesto com proposições pontuais. O objetivo é conseguir um milhão de assinaturas para apresentar o documento ao Congresso, que pode até evoluir para um projeto de lei de iniciativa popular, a exemplo da Ficha Limpa, com mecanismos mais eficazes de combate à corrupção. Que mecanismos são esses? Os participantes vão discutir com a sociedade civil até o início de 2012.

Daniella admite que, impulsionada pelo sucesso do movimento, chegou a cogitar entrar para a política pelos meios tradicionais, filiando-se a partido político e disputando eleição. mas desistiu rapidamente da ideia. “Percebi que já estou fazendo política. Não preciso aderir a um partido ou fundar um novo. No começo, achamos que não teríamos resultado. mas percebemos que a sociedade quer sim mudar, que várias organizações querem sim fazer a diferença conosco”, avalia.

O sofá da casa dela nunca esteve tão vazio.

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Daniella: “Não conseguia mais ficar parada, só escutando

reclamação, e nenhuma ação”

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ExpedienteRevista Congresso em Foco

Editor: Sylvio CostaEditor adjunto: Edson SardinhaDireção de arte: Edison Nogueira FilhoComercial: Jaime Recena

Junior OliveiraReportagem: mariana HaubertCapa: Amauri PloteixaEstagiária: Aline macêdoRevisão: giselle ChassotImpressão e acabamento: gráfica Coronário

A Revista Congresso em Foco é uma publicação semestral do site Congresso em Foco, que está no ar, ininterruptamente e com atualização diária, desde 12 de fevereiro de 2004.

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