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EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA MUNICIPAL E PROBABILIDADE DE REELEIÇÃO Sidney Mathias da Conceicao (UCAM ) [email protected] Roberta Montello Amaral (UCAM ) [email protected] O objetivo deste trabalho foi analisar o reflexo das decisões de investimentos de recursos públicos em determinada área de um governo municipal em um processo de tentativa de reeleição de um candidato a prefeito nos municípios brasileiros. Desse modo, foi elaborada uma base contendo os dados eleitorais dos pleitos ocorridos nos anos de 2000, 2004, 2008 e 2012, os valores de execução orçamentária dos municípios brasileiros de 1998 até 2011 e dados sobre a população estimada pelo IBGE para cada município em cada período a ser estudado. Os dados foram analisados estatisticamente sendo, ao final, realizada regressão logística binária múltipla a fim de estimar um modelo econométrico que ajuda a explicar a relação entre as despesas orçamentárias municipais e a probabilidade de reeleição de um prefeito. Foram utilizadas segmentações por despesa orçamentária per capita e por população estimada para melhorar a aderência do modelo nos municípios agrupados por similaridades. Mesmo com pouco poder explicativo do modelo econométrico, foi possível observar que a variação de aplicação de recursos nas funções “Urbanismo”, “Agricultura”, “Legislativo” e “Planejamento” contribuem para a probabilidade de reeleição de um candidato a prefeito, sendo as duas primeiras observadas com correlação positiva e as duas últimas com correlação negativa em relação à variável dependente. Palavras-chaves: Orçamento Público; Reeleição; Investimentos; Políticas Públicas. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA

MUNICIPAL E PROBABILIDADE DE

REELEIÇÃO

Sidney Mathias da Conceicao (UCAM )

[email protected]

Roberta Montello Amaral (UCAM )

[email protected]

O objetivo deste trabalho foi analisar o reflexo das decisões de

investimentos de recursos públicos em determinada área de um

governo municipal em um processo de tentativa de reeleição de um

candidato a prefeito nos municípios brasileiros. Desse modo, foi

elaborada uma base contendo os dados eleitorais dos pleitos ocorridos

nos anos de 2000, 2004, 2008 e 2012, os valores de execução

orçamentária dos municípios brasileiros de 1998 até 2011 e dados

sobre a população estimada pelo IBGE para cada município em cada

período a ser estudado. Os dados foram analisados estatisticamente

sendo, ao final, realizada regressão logística binária múltipla a fim de

estimar um modelo econométrico que ajuda a explicar a relação entre

as despesas orçamentárias municipais e a probabilidade de reeleição

de um prefeito. Foram utilizadas segmentações por despesa

orçamentária per capita e por população estimada para melhorar a

aderência do modelo nos municípios agrupados por similaridades.

Mesmo com pouco poder explicativo do modelo econométrico, foi

possível observar que a variação de aplicação de recursos nas funções

“Urbanismo”, “Agricultura”, “Legislativo” e “Planejamento”

contribuem para a probabilidade de reeleição de um candidato a

prefeito, sendo as duas primeiras observadas com correlação positiva

e as duas últimas com correlação negativa em relação à variável

dependente.

Palavras-chaves: Orçamento Público; Reeleição; Investimentos;

Políticas Públicas.

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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1. Introdução

O presente trabalho tem como objetivo determinar a relação entre a aplicação dos recursos

municipais e o resultado de uma eleição onde o prefeito em exercício concorra à reeleição.

Caso esta relação possa ser estabelecida, fornecerá subsídios para que um prefeito possa

estimar determinado nível de aprovação da sociedade sobre cada recurso investido em

determinada área.

Entendendo que um governo almeja como resultado positivo de sua gestão a satisfação dos

eleitores, e que o candidato em exercício vislumbra, como prêmio de uma boa gestão, a

perpetuação no cargo, Mendes (2004) considera que a probabilidade de reeleição de um

prefeito será função direta das despesas do município e das transferências adicionais por ele

obtidas.

Numa empresa privada, bem como para qualquer indivíduo, um investimento é realizado

visando o retorno que poderá ser obtido de cada recurso aplicado. Deste modo, as opções de

investimentos serão tomadas com base ma maximização do retorno e minimização do risco

inerente aos mesmos, vislumbrando ampliar a satisfação de seus investidores. (SANTOS,

2006)

Aproximando a administração pública da privada sob a ótica dos investimentos, onde os

mesmos são realizados com expectativa de determinado retorno, este trabalho propõe a

seguinte reflexão: Quais as formas de mensurar o retorno dos investimentos realizados por

uma administração pública municipal em determinada área?

Desta forma, o objetivo principal do presente trabalho é propor que uma das formas mensurar

o retorno dos investimentos realizados é através da satisfação dos eleitores demonstrada nas

urnas durante um processo de tentativa de reeleição do prefeito em exercício.

Este artigo está estruturado em cinco seções sendo esta introdução a primeira. A segunda

seção trata de um breve referencial teórico utilizado como embasamento para este trabalho. A

seção três descreve os aspectos metodológicos deste trabalho, as variáveis obtidas e os

tratamentos necessários para elaboração do banco de dados a ser analisado. Já na quarta

sessão são demonstradas as análises estatísticas e econométricas realizadas a partir dos dados

coletados na sessão anterior e, por fim, a sessão cinco traz as considerações finais do trabalho.

2. Referencial Teórico

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Para embasamento do presente trabalho são expostos conceitos de orçamento público com seu

devido formato, objetivos e determinações criadas na Constituição Federal de 1988 e

detalhadas na Lei Complementar n° 101 de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), também

detalhada nesta seção. Serão analisados, ainda, os principais conceitos de políticas públicas

sob a ótica da população e dos governantes e, fechando a análise contextual da administração

pública atual, será analisada a lei que passou, em 1997, a permitir a reeleição do chefe do

poder executivo por mais um mandato de quatro anos ininterruptos, se assim o povo desejar.

2.1. Orçamento Público

Segundo Musgrave (1973), uma política orçamentária tem por objetivo assegurar

ajustamentos na alocação de recursos, conseguir ajustamentos na distribuição da renda e da

riqueza e garantir a estabilização econômica.

Entretanto, segundo Pires (2001), dependendo da capacidade gerencial dos governantes, um

orçamento público pode simplesmente existir para cumprir com exigências legais e não

manter relação com o planejamento de governo.

“Um calhamaço de papel cheio de números sem muito significado: é nisso que ele foi

transformado por burocratas de plantão, imbuídos exclusivamente da intenção de cumprir a

lei, que o exige, sem a menor preocupação em utilizá-lo como instrumento de gestão eficiente

e transparente. Há, pois, que resgatá-lo em sua função original. E isto só pode ser feito com a

vontade política de quem quer e precisa de maior eficiência no setor público: a sociedade civil

organizada” (PIRES, 2001).

O planejamento orçamentário de um município deve ser composto do Plano Plurianual

(PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA) e

deve refletir um plano estratégico do governo, determinando as áreas em que deseja investir

bem como os recursos que serão aplicados em cada uma delas. (Constituição Federal de

1988, Art. 165)

2.2. Lei de Responsabilidade Fiscal

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A Lei Complementar n° 101 de 04 de maio de 2000, conhecida como Lei de

Responsabilidade Fiscal (LRF), vem regulamentar a política de planejamento orçamentário

disposta na Constituição Federal bem como delimitar instrumentos de maior transparência e

acompanhamento quanto ao cumprimento de programas e metas estabelecidos nas peças do

orçamento que deve retratar as opiniões, interesses e desejos dos eleitores através de ações e

propostas de seus representantes eleitos.

A Constituição Federal de 1988 determina que haja uma lei complementar que regulamente

detalhadamente os artigos que tratam da parte da Tributação e do Orçamento para todos os

entes federados. A LRF vem, em conjunto com a Lei de Crimes da Responsabilidade Fiscal

(lei n° 10.028 de 19 de outubro de 2000), efetivar uma modificação nos moldes de

governabilidade presentes até o momento, caracterizando responsabilidades e punições legais

aos políticos que descumpram regras antes interpretadas apenas como princípios morais.

Criou-se a motivação necessária para que os governantes promovam o equilíbrio fiscal, o

ajustamento de contas e se preocupem com as condições de governabilidade deixadas para

seus sucessores no cargo. (SILVA, 2002)

2.3. Políticas Públicas

As políticas públicas planejadas e executadas pelo Estado devem focar o bem comum

(DALLARI, 1995). Porém, para Monteiro (1982), qualquer definição de política pública não é

um consenso.

Para este trabalho, utilizaremos a conceituação de política pública como estratégia de atuação

de um governo. “Poderíamos dizer que ela é um sistema de decisões públicas que visa ações

ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um

ou vários setores da vida social, através da definição de objetivos e estratégias de atuação e da

alocação dos recursos necessários para atingir os objetivos estabelecidos.” (SARAVIA &

FERRAREZI, 2006)

Na elaboração e comunicação de uma política pública, determinado governante deverá pensar

como objetivo principal o bem-estar social de sua comunidade. Por consequência, é natural

afirmar que, se as políticas públicas, traçadas de acordo com os interesses dos cidadãos,

manifestados em função dos votos em seus representantes, forem implantadas e executadas

com sucesso, os eleitores, satisfeitos, tendem a preferir uma continuidade dessa política,

garantindo um prolongamento ou até mesmo a perpetuação de seu bem-estar. (Mendes, 2004)

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Tal satisfação e desejo de continuidade de dada política pública poderá refletir-se nas urnas,

quando em um processo eleitoral, determinado governante é, de certa forma, premiado por

sua boa gestão com uma permissão legítima dos eleitores para a continuidade no poder por

mais um período consecutivo, caracterizando a então chamada reeleição.

2.4. Reeleição

Mesmo observadas alterações nos períodos dos mandatos, variando de quatro a seis anos,

mesmo durante o período do regime militar e mesmo após a promulgação da constituição de

1988, a impossibilidade de um governante do poder executivo exercer mais de um mandato

consecutivo era nula na história política contemporânea brasileira.

No intuito de proporcionar mais tempo no poder para os governantes do poder executivo em

pleno exercício de mandato surge a emenda constitucional n° 16, de 04 de julho de 1997 que

permite no Brasil, para cargos de prefeito, governador e presidente, a candidatura para a

reeleição por um único período subseqüente de quatro anos. A partir daí, os governantes

passam a lidar com os investimentos e o orçamento público de outra maneira, visando, ao

final de seu primeiro mandato, ser premiado por sua boa gestão com a autorização do

eleitorado para continuar no poder por mais um mandato consecutivo. (Mendes, 2004)

Assim, apesar dos princípios e regras estabelecidos na LRF que limitam as ações do poder

executivo, principalmente no período eleitoral, acredita-se que o estudo do orçamento

público, incluindo seu formato e finalidade, pode, através da avaliação dos gastos e

investimentos governamentais em suas principais pastas, mensurar que rubrica aumenta ou

reduz a possibilidade de reeleição de um prefeito. As seções 3 e 4 a seguir destinam-se,

então, a levantar dados que possam confirmar ou refutar esta hipótese.

3. Metodologia

Nesta seção é apresentado o perfil metodológico do trabalho, detalhando-se os dados que

foram trabalhados, sua fonte e formato, bem como o tratamento necessário para cada um

deles.

3.1. Dados Eleitorais

Foram obtidos diretamente do website do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) os dados

referentes aos resultados das eleições municipais ocorridas nos anos de 1996, 2000, 2004,

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2008 e 2012. Após análise criteriosa dos dados e eliminação dos erros e outliers, foi criada

uma base de dados estando disponíveis os dados de 5227 municípios em 1996, 5414 em 2000,

5440 em 2004, 5308 em 2008 e 5303 em 2012. Os dados dos processos eleitorais de 1996

foram comparados com os dados das eleições de 2000, sendo considerada uma tentativa de

reeleição quando o nome do candidato consta com situação ELEITO em um determinado

município e estado no ano de 1996 e o mesmo nome consta no processo eleitoral de 2000 para

o mesmo município e estado. O mesmo comparativo foi feito dos dados de 2004 com os de

2000, os dados de 2008 com os de 2004 e os dados de 2012 com os de 2008.

3.2. Dados de execução orçamentária dos municípios

Foram obtidos do website da Secretaria do Tesouro Nacional os dados da FINBRA (Finanças

Brasil), contendo o relatório das informações sobre despesas e receitas de todos os municípios

brasileiros de 1998 a 2011. De 1998 até 2001 algumas funções orçamentárias estão agrupadas,

dificultando a interpretação de qual a real função que, quando mais investida, pesa mais na

decisão do eleitorado quanto a manter ou não o governante no poder. No período de 1998 a

2000, sendo ainda o primeiro mandato de um possível candidato à reeleição, os dados serão

analisados considerando agrupamentos de educação e cultura, habitação e urbanismo,

indústria e comércio, saúde e saneamento, assistência e previdência. Já no segundo período de

governo analisado, 2001-2004, os dados continuam agrupados, conforme citado acima,

apenas para o ano de 2001. Nos anos 2002, 2003 e 2004, os dados estão distribuídos em suas

devidas funções sem agrupamentos. Portanto, para melhor condução das análises, o ano de

2001 será eliminado da amostra por ser considerado fora dos padrões dentro de um ciclo

mandatário.

Os dados de 2004 a 2011 possuem os devidos detalhamentos necessários a este estudo e serão

tratados em separado dos demais, fornecendo melhores condições de análise. Todas as

informações sobre despesas por função dos municípios coletadas foram analisadas

estatisticamente agrupadas por período de governo (1997-2000, 2001-2004, 2005-2008 e

2009-2012) possibilitando analisar média de investimentos por área dos candidatos bem e mal

sucedidos no processo de reeleição, estabelecendo, ao final, quais as principais características

de gastos orçamentários presentes nos candidatos que conseguiram aprovação popular para

permanecer no governo por mais um mandato e o que os difere dos derrotados na tentativa de

reeleição.

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3.3. Dados adicionais dos municípios

Com a finalidade de proporcionar maior assertividade nas análises realizadas por este estudo,

se tornará necessária a classificação dos municípios em faixas de similaridade segundo

critérios determinados. Para isso, foram baixados do website do IBGE os dados referentes ao

número estimado de habitantes de cada um dos municípios para os anos 2000, 2004, 2008 e

2012. Com os dados populacionais dos municípios ao final de cada período analisado por este

trabalho, foi possível a criação de uma tabela contendo, para cada um deles, a despesa

orçamentária média do período (1998-2000, 2002-2004, 2005-2008 e 2009-2011), a

população estimada e, aplicando-se a divisão do primeiro pelo segundo, apurou-se a despesa

orçamentária per capita no período para cada município sendo este dado importante para

utilização no decorrer do trabalho.

3.4. Preparação para análise econométrica

Os dados foram analisados a partir dos resultados da execução de uma regressão logística

binária, tendo sido, inicialmente, separados em dois períodos distintos: o primeiro referente

aos resultados das eleições de 2000 que contém dados das despesas municipais de 1998 até

2000 e o segundo grupo com informações dos anos 2004, 2008 e 2012.

As regressões logísticas foram rodadas utilizando o software estatístico SPSS com a opção de

stepwise forward (Wald), técnica que insere, uma a uma, as variáveis do modelo. Para

analisar o nível de ajuste do modelo utilizou-se a medida Nagelkerke R² e para analisar a

importância de cada variável presente no modelo final, analisou-se o nível de significância

apresentado e o beta de cada uma.

4. Análise dos dados eleitorais

Neste tópico são analisadas todas as informações coletadas a respeito das candidaturas dos

anos de 2000, 2004, 2008 e 2012.

4.1. Análise das candidaturas

A análise dos dados revela que cerca de 2/3 dos candidatos que podem se candidatar de fato

tentam permanecer no cargo. E,destes, cerca de 55% a 60% de fato conseguem se reeleger,

conforme demonstra a figura 1.

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Figura 1: Valor percentual dos resultados das candidaturas à reeleição para prefeito nas

eleições de 2000, 2004, 2008 e 2012

57%

56%

66%

55%

43%

44%

34%

45%

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

2000 2004 2008 2012

COM SUCESSO SEM SUCESSO

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral. Elaborada pelo Autor

4.2. Análise das despesas dos municípios

Para uma melhor análise dos dados, foram feitas análises por período eleitoral da média

porcentual de despesas executadas em cada uma das funções disponibilizadas pelo TSE em

relação ao total de despesa orçamentária informado para cada município. A seguir seguem as

principais considerações das análises.

No período de governo de 1997 a 2000 a média de despesas realizadas pelos candidatos

reeleitos no pleito de 2000 foi consideravelmente mais alta nas funções “Saúde e

Saneamento”, “Transporte” e “Habitação e Urbanismo” onde aplicaram, em média, 2,73%,

1,66% e 1,51% respectivamente a mais do orçamento municipal que os não reeleitos. Já

dentre as funções onde os reeleitos tiveram despesas menores que os não reeleitos destacam-

se “Assistência e Previdência” e “Planejamento”, onde os vitoriosos gastaram, em média,

2,7% e 2,16%, respectivamente, a menos do orçamento municipal que os derrotados.

No exercício 2001-2004, a média de despesas realizadas pelos candidatos vitoriosos nas urnas

em sua tentativa de reeleição foi consideravelmente mais alta nas funções “Previdência

Social” e “Urbanismo” com 2,79% e 2,17%, respectivamente, em comparação com os gastos

dos candidatos derrotados. No mesmo governo, os prefeitos reeleitos, em média, investiram

menos em “Educação”, “Administração”, “Saúde” e “Saneamento” onde os candidatos

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vitoriosos aplicaram, respectivamente, 2,16%, 1,58%, 1,32% e 1,07% a menos do orçamento

municipal que os candidatos derrotados.

No governo de 2005 a 2008 é possível identificar um maior aporte de recursos nas funções

“Urbanismo”, “Previdência Social” e “Saúde” onde os reeleitos gastaram, em média, 2,33%,

1,23% e 1,22%, respectivamente, mais do orçamento municipal que os derrotados na tentativa

de reeleição. Por outro lado, destaca-se neste período a aplicação de menos 3,63%, em média,

na função “Educação” por parte dos vitoriosos em relação aos não reeleitos.

No último período analisado, que contempla o governo de 2008 a 2012, existe um maior

aporte de recursos nas funções “Previdência Social” e “Urbanismo”, onde os reeleitos

gastaram, em média, 1,69% e 0,70%, respectivamente, mais do orçamento municipal que os

candidatos derrotados na tentativa de reeleição de 2012. Já dentre as funções onde os reeleitos

tiveram despesas menores que os não reeleitos destacam-se “Saúde” e “Educação”, onde os

candidatos vitoriosos aplicaram, respectivamente, 2,44% e 2,20% a menos do orçamento

municipal que os candidatos derrotados.

4.3. Análise dos resultados das regressões

A Tabela 1 resume os resultados encontrados após a aplicação da metodologia proposta na

seção 2 deste artigo.

Tabela 1: Resultados principais das regressões logísticas binárias das eleições de 2000, 2004,

2008 e 2012 segmentando os municípios por população e despesa orçamentária per capita.

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Fonte: Tribunal Superior Eleitoral, Secretaria do Tesouro Nacional e IBGE. Elaborada pelo Autor

Para o ano de 2000 o melhor ajuste foi no grupo de municípios com população entre 15mil e

50mil habitantes, onde o modelo consegue explicar 5,6% dos casos de reeleição, tendo como

única variável explicativa significativa a função “Planejamento”, onde uma redução de 2,8%

de investimentos nesta área contribuiria positivamente para a reeleição de um prefeito.

Já para o período de 2004 a 2012, o melhor ajuste foi para o grupo de municípios com mais de

50mil habitantes, onde, nos 723 casos analisados, o modelo consegue explicar 3,3% das

reeleições de prefeitos, tendo como única variável explicativa significativa a função

“Urbanismo”, quando uma variação positiva de 4,6% nesta função proporciona maiores

chances de reeleição de um candidato.

Mesmo com as regressões explicando muito pouco das reeleições ocorridas de 2000 a 2012,

analisando as variáveis que mais aparecerem nos resultados e seus betas, fica evidente a

atenção maior que deve ser dada para algumas das funções presentes neste estudo. As três

principais que aparecem, mesmo que por vezes com significância nula, são “Urbanismo”,

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“Legislativo”, “Planejamento” e “Agricultura”, sendo a primeira citada seis vezes nos

períodos e cortes analisados, dos quais, por quatro vezes aparece como uma variável

explicativa significativa com beta positivo, indicando que um maior investimento nesta

função pode aumentar a probabilidade de reeleição de um candidato.

A função “Legislativo” é citada sete vezes em todos os períodos e cortes analisados, dos quais

em quatro ela aparece como significativa para aumentar a probabilidade de sucesso na

tentativa de reeleição. Porém, em todos os resultados em que aparece, esta função apresenta

um beta negativo, indicando que, quanto menos os prefeitos destinam ao Legislativo de seus

municípios, mais chances têm de sucesso na reeleição.

Das cinco vezes em que é citada nas regressões realizadas, a função “Planejamento” aparece

como significativa em quatro, sendo todas elas nas eleições de 2000 e com um beta negativo,

significando que, nas eleições de 2000 os prefeitos que investiram menos recursos nesta

função tiveram mais chances de se reeleger. Por outro lado, esta função deixa de aparecer nos

resultados das regressões rodadas para o período 2004-2008 devido ao surgimento de novas

variáveis por conta do desmembramento de funções presentes na FINBRA.

A função “Agricultura” está presente em quatro resultados, sendo que em três deles ela é

significativa ao modelo com beta positivo, todas as vezes no período de 2004 a 2012 quando

esta função foi incorporada aos dados de despesas dos municípios.

5. Considerações finais

Considerando as análises de todos os municípios e, posteriormente, as segmentações

realizadas, foi possível observar que a função “Urbanismo”, teve mais recursos aplicados

pelos candidatos reeleitos em todos os cenários analisados, podendo sugerir que esta é uma

área do governo em que os prefeitos que pretendem a reeleição devem estar atentos e alocar

mais recursos quanto for possível.

As funções “Previdência Social” e “Habitação” sugerem uma contribuição para a reeleição de

um candidato nos 15% dos municípios com maior despesa per capita. Nos municípios com

população entre 5.000 e 15.000 habitantes, “Habitação” também se mostrou contributiva ao

receber mais recursos, já “Previdência Social” se mostra, ao receber mais recursos, também

contributiva para reeleger prefeitos dos municípios com mais de 50.000 habitantes.

Por outro lado, a função “Educação”, apesar da notória importância, uma vez que toda

formação básica e fundamental é de responsabilidade dos municípios, só contribuiu

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efetivamente para a reeleição de prefeitos no corte realizado com os 15% de municípios com

maior despesa per capita. No restante das segmentações realizadas, “Educação” apareceu

como uma função que, quando recebia menos recursos durante o período de governo,

contribuía para a reeleição do candidato. Nos municípios com até 5.000 habitantes, esta

função aparece, dependendo do período, tanto como uma função que deve receber mais

recursos, quanto como uma função que, ao receber menos recursos contribui para a reeleição

do candidato, portanto, não é possível sugerir, para este corte em específico, qual o

comportamento ideal desta função na composição do orçamento público municipal.

Já a função “Saúde” sugere uma perda de importância conforme a população do município

aumenta, uma vez que é citada cinco vezes como uma função contributiva, ao receber menos

recursos, para a reeleição de prefeitos dos municípios que tem mais de 15.000 habitantes.

As demais citações das funções com mais e menos recursos aplicados pelos candidatos

vitoriosos na tentativa de reeleição tornam-se inviáveis de análise estatística uma vez que

aparecem de forma dispersa nos agrupamentos. Do mesmo modo, não foi analisado o impacto

das funções que possuem menor percentual de recursos do orçamento e/ou que possuem

pouca variação do percentual orçamentário aplicado entre vitoriosos e derrotados no processo

de reeleição, sendo esta análise inviável de ser realizada por meios estatísticos utilizados neste

trabalho.

Numa conclusão sobre os resultados de todas as regressões logísticas realizadas para os dados

disponíveis, é possível afirmar que, mesmo com pouco poder explicativo, a variação positiva

dos investimentos nas funções “Urbanismo” e “Agricultura”, e a variação negativa dos

recursos aplicados nas funções “Legislativo” e “Planejamento” foram contributivas para a

decisão da população quanto a permitir que um determinado prefeito fosse contemplado com

sua recondução para um novo mandato consecutivo.

Sugere-se, portanto, a realização de trabalhos futuros com a execução de regressão

considerando mais cortes seletivos de municípios presentes na análise, podendo ser utilizados

como critério os dados socioeconômicos como IDH (Índice de desenvolvimento humano),

IDEB (índice de desenvolvimento da educação básica) e PIB (produto interno bruto), dados

geográficos como o tamanho do município, densidade demográfica, localização (litoral, serra,

região metropolitana e distância da capital), atividades principais (pecuária, pesca, turismo,

indústria, comércio e serviços), dentre outras possíveis. Acredita-se ser possível, com maior

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XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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segmentação dos municípios a serem analisados, uma significativa melhora do poder

explicativo do modelo proposto neste trabalho.

Referências

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