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Artigo de Revisão Estresse ocupacional dos enfermeiros de urgência e emergência: Revisão Integrativa da Literatura Francimar Nipo Bezerra 1 , Telma Marques da Silva 2 , Vânia Pinheiro Ramos 3 RESUMO Objetivo: Analisar a produção científica relacionada ao modo como o estresse ocupacional está presente na vida do enfermeiro que atua no cenário da urgência e emergência. Métodos: Foi realizada uma revisão integrativa da literatura nas bases de dados Bdenf, Lilacs, Medline, Pubmed e no repositório Scielo. Os critérios de inclusão para a seleção da amostra foram: artigos publicados em português e inglês que retratassem a temática em estudo, publicados e indexados nas referidas bases nos últimos 10 anos. Resultados: Foram selecionados oito artigos. Os resultados apon- taram que o estresse ocupacional dos enfermeiros de urgência e emergência está relacionado à escassez de recursos humanos e à carga horária de trabalho, instalações físicas e recursos materiais inadequados, além de plantões noturnos, interface trabalho-lar, relacionamentos interpessoais, trabalho em clima de competitividade e distanciamento entre teoria e prática. Conclusão: O sentido do trabalho para os profissionais contribui para sua proteção contra o sofrimento e o estresse ocupacional. Descritores: Enfermagem em emergência; Assistência pré-hospitalar; Esgotamento profissional; Enfermagem do trabalho ABSTRACT Objective: Toanalyze the scientific literature related to the way in which occupational stress is present in the life of a nurse who works in an emergency care setting.Methods: Weperformed an integrative review of the literature using the Bdenf, Lilacs, Medline, and Pubmed databases, and the Scielo repository.The inclusion criteria for sample selection were: articles published in Portuguese and English which reflected the theme of the study, published and indexed in these databases within the last 10 years.Results:We selected eight articles.The results indicated that the occupational stress of nurses in emergency care is related to the scarcity of human resources and number of hours worked, the physical plant and inadequate material resources, as well as night shifts, the work-home interface, interpersonal relationships, competitive work climate, and the gap between theory and practice.Conclusion:The meaning of work for professionals contributes to their protection against suffering and occupational stress. Keywords: Emergency nursing; Prehospital care; Burnout professional; Occupational health nursing RESUMEN Objetivo: Analizar la literatura científica relacionada de cómo el estrés laboral está presente en la vida del enfermero que trabaja en el ámbito de la urgencia y emergencia. Métodos: Se llevó a cabo una revisión integrativa de la literatura en las bases de datos Bdenf, Lilacs, Medline, PubMed y repositorio Scielo. Los criterios de inclusión para la selección de la muestra fueron: artículos publicados en portugués e inglés que retraten la temática en estudio, publicados e indexados en las referidas bases en los últimos 10 años. Resultados: Fueron seleccionados ocho artículos. Los resultados señalaron que el estrés ocupacional de los enfermeros de urgencia y emergencia está relacionado a la escasez de recursos humanos y a la carga horaria de trabajo, instalaciones físicas y recursos materiales inadecuados, además de guardias nocturnas, interface trabajo-hogar, relaciones interpersonales, trabajo en clima de competitividad y distanciamiento entre teoría y práctica. Conclusión: El sentido del trabajo para los profesionales contribuye para su protección contra el sufrimiento y el estrés ocupacional. Descriptores: Enfermería de urgencia; Atención prehospitalaria; Agotamiento profesional; Enfermería del trabajo Autor Correspondente: Francimar Nipo Bezerra Endereço: Rua Cruz Macedo, nº 52, Várzea Recife – PE – CEP: 50810-030 E-mail: [email protected] Acta Paul Enferm. 2012;25(Número Especial 2):151-6. 1 Pós-graduanda (Mestrado) do Programa de Pós Graduação do Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Pernambuco – UFPE – Recife(PE), Brasil. 2 Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Pernambuco – UFPE – Recife (PE), Brasil. 3 Doutora em Neuropsiquiatria e Ciência do Comportamento. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Pernambuco – UFPE – Recife (PE), Brasil. Occupational stress of nurses in emergency care: an integrative review of the literature Estrés laboral de los enfermeros de urgencia y emergencia: revisión integradora de literatura Artigo recebido em 24/11/2011 e aprovado em 02/07/2012

Estresse Ocupacional Dos Enfermeiros de Urgência e Emergência - Revisão Integrativa Da Literatura

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Estresse Ocupacional Dos Enfermeiros de Urgência e Emergência - Revisão Integrativa Da Literatura

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Artigo de RevisoEstresse ocupacional dos enfermeiros de urgncia e emergncia: Reviso Integrativa da LiteraturaFrancimar Nipo Bezerra1, Telma Marques da Silva2, Vnia Pinheiro Ramos3RESUMOObjetivo: Analisar a produo cientfca relacionada ao modo como o estresse ocupacional est presente na vida do enfermeiro que atua no cenrio da urgncia e emergncia. Mtodos: Foi realizada uma reviso integrativa da literatura nas bases de dados Bdenf, Lilacs, Medline, Pubmed e no repositrio Scielo. Os critrios de incluso para a seleo da amostra foram: artigos publicados em portugus e ingls que retratassem a temtica em estudo, publicados e indexados nas referidas bases nos ltimos 10 anos. Resultados: Foram selecionados oito artigos. Os resultados apon-taram que o estresse ocupacional dos enfermeiros de urgncia e emergncia est relacionado escassez de recursos humanos e carga horria de trabalho, instalaes fsicas e recursos materiais inadequados, alm de plantes noturnos, interface trabalho-lar, relacionamentos interpessoais, trabalho em clima de competitividade e distanciamento entre teoria e prtica. Concluso: O sentido do trabalho para os profssionais contribui para sua proteo contra o sofrimento e o estresse ocupacional. Descritores: Enfermagem em emergncia; Assistncia pr-hospitalar; Esgotamento profssional; Enfermagem do trabalho ABSTRACTObjective: Toanalyze the scientifc literature related to the way in which occupational stress is present in the life ofa nurse who works in an emergency care setting.Methods: Weperformed an integrative review ofthe literature using the Bdenf, Lilacs, Medline, and Pubmed databases, and the Scielo repository.The inclusion criteria for sample selection were: articles published in Portuguese and English which refected the theme ofthe study, published and indexed in these databases within the last 10 years.Results:We selected eight articles.The results indicated that the occupational stress ofnurses in emergency care is related to the scarcity ofhuman resources and number ofhours worked, the physical plant and inadequate material resources, as well as night shifts, the work-home interface, interpersonal relationships, competitive work climate, and the gap between theory and practice.Conclusion:The meaning ofwork for professionals contributes to their protection against suffering and occupational stress.Keywords: Emergency nursing; Prehospital care; Burnout professional; Occupational health nursing RESUMENObjetivo: Analizar la literatura cientfca relacionada de cmo el estrs laboral est presente en la vida del enfermero que trabaja en el mbito de la urgencia y emergencia. Mtodos: Se llev a cabo una revisin integrativa de la literatura en las bases de datos Bdenf, Lilacs, Medline, PubMed y repositorio Scielo. Los criterios de inclusin para la seleccin de la muestra fueron: artculos publicados en portugus e ingls que retraten la temtica en estudio, publicados e indexados en las referidas bases en los ltimos 10 aos. Resultados: Fueron seleccionados ocho artculos. Los resultados sealaron que el estrs ocupacional de los enfermeros de urgencia y emergencia est relacionado a la escasez de recursos humanos y a la carga horaria de trabajo, instalaciones fsicas y recursos materiales inadecuados, adems de guardias nocturnas, interface trabajo-hogar, relaciones interpersonales, trabajo en clima de competitividad y distanciamiento entre teora y prctica. Conclusin: El sentido del trabajo para los profesionales contribuye para su proteccin contra el sufrimiento y el estrs ocupacional. Descriptores: Enfermera de urgencia; Atencin prehospitalaria; Agotamiento profesional; Enfermera del trabajo Autor Correspondente: Francimar Nipo BezerraEndereo: Rua Cruz Macedo, n 52, VrzeaRecife PE CEP: 50810-030E-mail: [email protected] Paul Enferm. 2012;25(Nmero Especial 2):151-6.1 Ps-graduanda (Mestrado) do Programa de Ps Graduao do Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Pernambuco UFPE Recife(PE), Brasil.2 Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Pernambuco UFPE Recife (PE), Brasil.3 Doutora em Neuropsiquiatria e Cincia do Comportamento. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Pernambuco UFPE Recife (PE), Brasil.Occupational stress ofnurses in emergency care: an integrative review ofthe literatureEstrs laboral de los enfermeros de urgencia y emergencia: revisin integradora de literaturaArtigo recebido em 24/11/2011 e aprovado em 02/07/2012152 Bezerra FN, Silva TM, Ramos VPActa Paul Enferm. 2012;25(Nmero Especial 2):151-6.INTRODUOO estresse ocupacional gerado por fatores ligados ao trabalho, que constitui um conjunto de atividades pre-enchidas de valores, intencionalidades, comportamentos erepresentaes.Otrabalhopossibilitacrescimento, transformao, reconhecimento e independncia pessoal, porm, as constantes mudanas impostas aos indivduos podemgerartambm,problemascomoinsegurana, insatisfao, desinteresse e irritao(1,2).Nestesentido,otrabalhopodefavorecertantoa sade como o adoecimento. Assim, o trabalho em sade, apesar dos avanos tecnolgicos, permanece sustentado pelamodeobraintensivaecomnveisdesiguaisde domnio dos componentes que interagem no processo. Entretanto, a compreenso da relao do trabalho com asadedependedosentidoqueostrabalhadoresdo suasituao(3).Amaioriadosprofssionaisqueatua no cenrio de urgncia e emergncia aprecia o fato de lidar com o inesperado, sendo considerado um fator de proteo contra o estresse ocupacional. A relao interpessoal pode infuenciar o estilo de vida dos profssionais de sade. Neste processo, o enfermeiro tem como agente de trabalho e como sujeito de ao, o prprio homem: contudo, trabalha de modo normatizado, fragmentado, com excessiva responsabilidade, rotatividade de turnos e cobrana por constante ampliao de conheci-mentos(4,5). Estes fatores de estresse, quando somados ao tempo podem provocar adoecimento nos profssionais.Considerando este contexto, a atuao do enfermeiro de urgncia e emergncia avaliada como desencadeado-ra de desgaste fsico, emocional e de estresse, visto que oambienteondeestinseridocompreendeaatuao conjunta de uma equipe multiprofssional, comprometida com exigncias do processo de trabalho, sendo respon-svel pelo bem-estar e vida dos pacientes(6,7). Os profssionais de sade, que atuam em urgncia e emergncia, diariamente, deparam-se com situaes que exigem condutas to rpidas que, em alguns momentos, demandam aes simultneas sem prvios planejamentos. Portanto,necessitamdeconhecimento,autocontrolee efcincia ao prestarem assistncia ao paciente, a fm de no cometerem erros. Assim estes profssionais lidam constantemente com o risco iminente de morte, em que a complexidade dos cuidados prestados, somada aos fatores pessoais, tem re-lao frequente com o desencadeamento do estresse(2,7,8). Portanto, estes estressores devem ser identifcados, para que medidas de enfrentamento sejam adotadas, a fm de evitar ou minimizar o adoecimento.Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS), em 2012 90% da populao mundial afetada pelo estresse, pois,seviveemumtempodegrandesexignciasde atualizao e constante necessidade de lidar com novas informaes(9). Essa crescente preocupao encontra-se fortemente presente na rea de enfermagem, considerada pelaHealthEducationAuthority(7,10-11),aquartaprofsso mais estressante no setor pblico.O estresse est relacionado subjetividade, tanto da percepo de sua ocorrncia, como na resposta do indiv-duo a ele. Isto pode ser verifcado, no ambiente de urgncia eemergncia,noqueoenfermeirovivenciasituaes imprevisveis que envolvem tenso, medo, sofrimentoe morte, que podem desencadear o estresse ocupacional. Neste contexto, so exigidos do enfermeiro, conheci-mentos, esforos e competncias(4-6,11) e, ainda, tomada de deciso rpida e efcaz(6). Nesta situao, o estresse surge como uma resposta fsiolgica e psicolgica, complexa e dinmica do organismo, desencadeada quando o indiv-duo depara-se com estressores, podendo gerar doenas fsicas e psquicas. Dessa forma, o estresse ocupacional determinado pela percepo do profssional em relao ssuasdemandasdetrabalhocomoestressores,epor sua habilidade para enfrent-los(4,6-8,12).Sendo assim, o estressor um fator que gera senti-mentos de tenso, ansiedade, medo ou ameaa, podendo ter origem interna ou externa. Os danos provocados por esses fatores dependem da vulnerabilidade de cada ser humano, personalidade, cultura, valores, dentre outros(6).Estudos mostraram que ao deparar-se com um estres-sor, o organismo experimenta trs fases: a primeira, fase de alarme ou alerta, o corpo identifca o estressor e ativa o sistema neuroendcrino. A segunda, fase, de adaptao ou resistncia, momento em que o organismo repara os danos causados pela reao de alarme e reduz os nveis hormonais. A terceira fase ocorre se o estressor perma-necer presente, esta a fase de exausto, que compreende o surgimento de uma doena associada ao estresse(1,7).Assim, considera-se importante que o enfermeiro que atua no cenrio de urgncia e emergncia reconhea os estressoresemseuambientedetrabalhoesuasreper-cussesnoprocessosade-doena,ebusquesolues para ameniz-los e enfrent-los, prevenindo danos sua sade e garantindo uma boa assistncia aos usurios(6). O conhecimento desse processo relevante, porm, con-sidera-se que o sentido que os profssionais conferem a seu trabalho seja um fator protetor contra adoecimentos.Estas estratgias de confronto so conhecidas como coping, que signifcam formas de lidar, e enfrentamento que compreende criar condies e possibilidades, para que as situaes com as quais os profssionais defrontam--se,acarretemomenordesgastesuasade,deseus colegas de trabalho e de seus usurios(6). Nesta perspectiva, a Sndrome de Burnout ou Sndro-me do Esgotamento Profssional, surge como um dos resultadosdafalhadasestratgiasdeenfrentamento, sendo esta uma das principais consequncias do estresse ocupacional. Sendo assim, quando esta sndrome no 153 Estresse ocupacional dos enfermeiros de urgncia e emergncia: Reviso Integrativa da LiteraturaActa Paul Enferm. 2012;25(Nmero Especial 2):151-6.tratadadeformaadequadapodelevarosindivduos morte. A Enfermagem, por estar em contato direto com os sentimentos e problemas de outras pessoas, uma das profsses mais afetadas(7,13).A importncia das investigaes cientfcas relaciona-das ao estresse ocupacional da Enfermagem no cenrio de urgncia e emergncia fundamenta-se na relao com o sofrimento e adoecimento provocados ao profssional, justifcando-se, assim, o desenvolvimento desta reviso integrativa. Nesta pesquisa, foram utilizados como pila-res do estudo, enfermagem em emergncia, assistncia pr-hospitalar,estresseocupacionaleenfermagemem sade do trabalhador.OBJETIVOAnalisar a produo cientfca relacionada ao modo comooestresseocupacionalestpresentenavidado enfermeiro que atua no cenrio da urgncia e emergncia.PROCEDIMENTOS METODOLGICOSNesteestudo,foirealizadaumarevisointegrativa da literatura, defnida como aquela em que as pesquisas j publicadas so sintetizadas e geram concluses sobre o tema em estudo. A elaborao da reviso integrativa compreende seis etapas: seleo das hipteses ou ques-tes para a reviso, defnio dos critrios para a seleo daamostra,defniodascaractersticasdapesquisa original, anlise de dados, interpretao dos resultados e apresentao da reviso(6,14).A questo condutora desta pesquisa foi: qual a pro-duocientfcarelacionadaaomodocomooestresse ocupacional est presente na vida do enfermeiro que atua no cenrio da urgncia e emergncia?Para a busca dos artigos foram utilizadas as seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade (Lilacs), Medical Literature Analysis and Retrieval System on-line (Medline), Base de dados de Enfermagem (Bdenf),National Library ofMedicine, EUA(Pubmed)eorepositrioScientifcElectronic Library Online (Scielo).Para o levantamento dos artigos foram utilizados como descritores,enfermagemememergncia,assistncia pr-hospitalar, estresse ocupacional, enfermagem em sade do trabalhador. Inicialmente, realizou-se a busca pelosdescritoresindividualmente.Emseguida,foram realizados os cruzamentos utilizando o operador bolea-noand. Posteriormente, os trs descritores foram cruzados em conjunto. Os critrios de incluso para a seleo da amostra foram: artigos publicados em portugus e ingls, publicados e indexados nas referidas bases de dados, nos ltimos dez anos e que retratassem a temtica em estudo. A tabela 1 evidencia a estratgia de busca utilizada.Tabela 1. Publicaes encontradas entre os anos de 2001 e 2010 segundo as bases de dados Bdenf, Lilacs, Medline e Pubmed.Descritores BDENF LILACS MEDLINE PUBMEDEstresse ocupacional25 112 2279 122Assistncia Pr-hospitalar8 14 0 1Enfermagem em emergncia 76 78 2648 4Enfermagem em sade do trabalhador97 117 666 8Estresse ocupacional and assistncia pr-hospitalar0 1 0 0Estresse ocupacional and enfermagem em emergncia2 2 23 0Estresse ocupacional and enfermagem em sade do trabalhador5 5 10 0Assistncia pr-hospitalar and enfermagem em emergncia0 1 0 0Assistncia pr-hospitalar and enfermagem em sade do trabalhador0 0 0 0Enfermagem em emergncia and enfermagem em sade do trabalhador3 3 1 1Todos 0 0 0 0Asestratgiasutilizadasparaolevantamentodos artigosforamadaptadasparacadaumadasbasesde dados, de acordo com suas especifcidades de acesso, sendoguiadaspelaperguntacondutoraecritriosde incluso. Para a seleo dos artigos foram lidos todos osttuloseselecionadosaquelesquetinhamrelao com o objetivo do estudo.Em seguida, foram analisados os resumos e elegidos para leitura do artigo na ntegra aquelesqueestavamrelacionadoscomatemticaem estudo. Em suma, foram lidos quarenta artigos e esco-lhidosoitoosquaisrespondiamquestocondutora do estudo e se encaixavam nos critrios de incluso da Reviso Integrativa.A realizao dos levantamentos bibliogrfcos ocorreu nos meses de setembro e outubro de 2011. Os artigos encontrados foram enumerados conforme a ordem de localizao,identifcadoseapresentadosconformeas normas de referncia bibliogrfca.Para a organizao dos 154 Bezerra FN, Silva TM, Ramos VPActa Paul Enferm. 2012;25(Nmero Especial 2):151-6.artigos foi preenchido um formulrio de coleta de dados de acordo com o modelo previamente validado(15). Aps o uso foram colocados em uma pasta e catalogados em ordem numrica crescente.O material selecionado foi tratado por meio de fcha-mento,queproporcionouumaaproximaoinicialdo assunto.Nasequncia,osartigosforamsubmetidosa releituras, com a fnalidade de realizar uma anlise interpre-tativa, direcionada pela questo condutora. Para anlise dos dados foram criadas categorias temticas de acordo com o agrupamento dos contedos encontrados, referentes aos estressoresocupacionaisqueacometemosenfermeiros que atuam no cenrio de urgncia e emergncia.RESULTADOSNesta reviso integrativa, foram analisados oito arti-gos cientfcos que atenderam aos critrios de incluso previamente estabelecidos. Os dados da Tabela 2 apresen-tam o sumrio das caractersticas dos estudos includos.Tabela 2. Apresentao das caractersticas dos artigos includos na Reviso IntegrativaTtulo Autor(es) Ano / PasDelineamento do estudoDesfechosEstresse e estratgias de enfrentamento em uma equipe de Enfermagem de Pronto Atendimento.Calderero ARL, Miasso AI, CorradiWebster CM.2008 / BrasilDescritivo,transversal, com abordagem quali-quantitativa.O estresse apresentado por esses profssionais deve ser acompanhado por esforos de enfrentamento, para que o indivduo mantenha-se em um nvel estvel de funcionamento homeosttico.Work under urgency and emergency and its relation with the health ofnursing professionals.Pai DD, Lautert L.2008 / Brasil Qualitativo descritivo.O benefcio do trabalho para a sade dos profssionais de enfermagem est posto no valor simblico da atuao.Estressores e coping: enfermeiros de uma unidade de emergncia hospitalar.Silveira MM, Stumm EMF, Kirchner RM.2009 / BrasilTransversal, quantitativa, analtica.O gerenciamento do estresse ocupacional pode repercutir em melhora no desempenho dos enfermeiros.Estressores e coping vivenciados por enfermeiros em um servio de atendimento pr-hospitalar.Stumm EMF, Oliveski CCO, Costa CFL, Kirchner RM, Silva LAA.2008 / BrasilQuantitativo, do tipodescritivo, exploratrio.A identifcao dos estressores pode viabilizar aes de enfrentamento efcazes para lidar com o estresse no trabalho.Stress among emergency unit nurses.Batista KM, Bianchi ERF.2006 / BrasilQuantitativo, do tipo exploratrio, descritivo.O enfermeiro um profssional que vive sob condies estressantes de trabalho.Infuence ofthe stress in the occupational nurses health who works in hospital emergency.Valente GSC, Martins CC.2010 / BrasilQualitativo, do tipo exploratrio e descritivo.Os sintomas e sinais que so apresentados pelos profssionais da enfermagem esto relacionados aos fatores desencadeantes da Sndrome de Burnout.Estresse da equipe de enfermagem de emergncia clnica.Panizzon C, Luz AMH, Fensterseifer LM.2008 / BrasilQuantitativo, exploratrio.Necessidade de mudanas gerenciais no setor de emergncia para a diminuio do estresse desses profssionais.Stress and coping in the workplace.Kovacs M. 2007 / EUAObservacional, descritivo.Dealing with stress in the workplace will require psychologists and corporate consultants to devise coping strategies.DISCUSSOO estresse gerado pela percepo de estmulos que provocam excitao emocional e perturbao da homeos-tase, disparando, assim, um processo de adaptao carac-terizado por distrbios psicolgicos e fsiolgicos(16-18). A Organizao Internacional do Trabalho (OIT) considera o estresse do trabalho, um conjunto de fenmenos que se apresentam no organismo e que podem afetar sade(19), resultando em respostas diferentes entre os indivduos. O cenrio de urgncia e emergncia caracterizado pela grande demanda de pacientes com risco iminente de morte, ocorrncias de natureza imprevisvel, longas jornadas de trabalho, presso de chefa, cobrana de fa-miliares e tempo reduzido para prestao da assistncia. Em algumas situaes, at a segurana da equipe colo-cada prova, por exemplo, em ocorrncias de agresso fsica sem o apoio da Polcia Militar, gerando situaes de crescente estresse ocupacional.Aps a anlise, as foram construdas sete categorias, de acordo com o agrupamento dos contedos referentes ao modo como o estresse ocupacional est presente na vida do enfermeiro que atua no cenrio da urgncia e emergncia.Escassez de recursos humanosO dfcit de pessoal foi identifcado como fator negati-vo no contexto do trabalho e est relacionado sobrecarga de atividades, sendo responsvel por sofrimento psquico e estresse ocupacional. Os profssionais so impulsionados a acumular funes, tendo, algumas vezes, de improvisar 155 Estresse ocupacional dos enfermeiros de urgncia e emergncia: Reviso Integrativa da LiteraturaActa Paul Enferm. 2012;25(Nmero Especial 2):151-6.seu trabalho ou exerc-lo de forma incompleta e em ritmo acelerado(1-3,12,13,18). Responder por mais de uma funo estressante e pode gerar desmotivao por sobrecarga de trabalho e por no conseguir cumprir todas as tarefas(4).Nestesentido,outrosestudoscorroboramcoma afrmao de que esta situao gera tomadas de decises delicadas, que mobilizam forte carga afetiva, sendo neces-srio fazer adaptaes radicais no processo de trabalho sob condies precrias(20,21).Ainda nesta direo, o cenrio de urgncia e emergn-cia exige dos profssionais de enfermagem o desenvolvi-mento de atividades que demandam esforo fsico, e que somado precariedade de profssionais leva queda da qualidade da assistncia prestada(1,4).Carga horria de trabalhoO cumprimento de uma carga horria semanal elevada considerado estressante pelos enfermeiros; pois, signifca ele-vada produtividade e maior energia despendida. Este excesso de trabalho indicativo de desequilbrio entre o indivduo e seu emprego, gerando prejuzo qualidade de vida, estreme-cimento de relaes com colegas, alm do desgaste(4,6,7). Este resultadocorroboradopelaafrmaodequeotempo dispensado atividade , em si, um elemento estressor(21).Nestecontexto,aelevadacargahorriaacarreta desequilbriosnasadefsicaementaldoprofssional, desencadeando difculdades para lidar com as situaes do cotidiano em seu ambiente de trabalho, exigindo maior ca-pacidade de direcionar a ateno para a tomada de deciso e resoluo de problemas no exerccio de suas funes(7).Esta situao agravada pela atual crise no setor de sade, que repercute no ambiente de trabalho, com bai-xos salrios, assim, os profssionais so impulsionados a manterem mais de um vnculo empregatcio(2,4,6,7,21). No entanto,quandoessacargahorriadesenvolvidaso-mente em emergncia, o estresse menor do que quando realizadaemserviosdenaturezasdiferenciadas(6,7,13). Odescontentamentocomosbaixossalrios,tambm colabora com o surgimento da Sndrome de Burnout na enfermagem brasileira(6,7).Recursos materiais e instalaes fsicas inadequadasO trabalho com recursos materiais e instalaes fsi-cas inadequadas considerado fator estressante para os profssionais de sade(1,3-4,6,13-14,19). Esta falta de recursos materiais de trabalho provoca o improviso e a procura por materiais em outros setores, que, quando permitida, causa perda de tempo, fadiga mental e fsica.Nestes cenrios de urgncia e emergncia, a agilidade e a efcincia no desempenho das atividades, garantidos tambmpeladisponibilidadedemateriaisnecessrios eumespaofsicoadequado,contribuemparaobom prognstico do paciente, sendo imprescindveis para o seu atendimento em tempo hbil(21,23).Plantes noturnosOs plantes noturnos so considerados um estressor, visto que, o trabalho noturno contnuo proporciona dfcit de sono, problemas de vigilncia e alteraes do humor. Tambm, predispe ao risco na qualidade da assistncia, isolamento social com repercusses na famlia ou outros segmentos sociais e descompasso da convivncia social em relao aos horrios de trabalho, entre outros(2,4,6,7). Assim, o trabalho realizado em horrio noturno no propicia boa qualidade de vida aos profssionais.Interface trabalho-larConciliar questes vivenciadas no trabalho com o tra-balho no lar considerado estressante, por ser a profsso de enfermagem, constituda predominantemente por mu-lheres, que convivem com a dinmica do desenvolvimento desuasatividadesegerenciamentodesuasvidascomo esposas, mes e pessoas(2,4,8). Por outro lado, autores afr-mam que a interface trabalho-lar, em lugar de estressante, pode funcionar como suporte ou fator de proteo(21).Relacionamentos interpessoaisEm algumas situaes, o relacionamento interpes-soal, considerado um estressor(4,6,13), e a insatisfao pode ser resultante de relaes interpessoais das hie-rrquicas confituosas(21,22).Osconfitosinterpessoaissoinerentessrelaes entre as pessoas, e no devem ser considerados fatores negativos,vistoque,algumassituaesconflitantes tornam-se importantes, como sinalizadoras de mudanas, possibilitandoquesejamrepensadosemodifcadosos modos de agir(4,6,13).Nocenriodeurgnciaeemergncia,adivisodo trabalho pode ser amenizada pela necessidade de atuar intelectualmente diante do risco iminente de morte(2,3), surgindo assim, um nmero menor de confitos.Trabalhar em clima de competitividadeEstudos evidenciaram que a necessidade de realizar procedimentosemtempomnimo,somadainstabi-lidadedasituaodepacientesgraves,considerada determinanteparaoestressegeradonassituaesde urgnciaeemergncia(4,12),tambmnestaperspectiva, ocumprimentodeprazos,participaoemreunies importantes(23) eonveldegravidadedopacienteso apontados em outro estudo(21).Trabalhar em clima de competitividade um estressor, por ser este, um fator marcante no contexto atual das re-laes humanas. Grandes exigncias geram repercusses negativas sobre a sade psquica dos profssionais(4,6,24).Distanciamento entre a teoria e a prticaOdistanciamentoentreteoriaeaprticatam-bmreferidocomoumfatorestressor.Emboraas 156 Bezerra FN, Silva TM, Ramos VPActa Paul Enferm. 2012;25(Nmero Especial 2):151-6.instituiesdeensinotenhamopapeldepreparar osprofissionaisparaaprtica,cadaprofissional devepermanentementebuscarseuaprimoramento e crescimento(4).Outro fator estressor identifcado, foi o cumprimento de atividades pelos profssionais, cuja formao acadmi-ca est voltada para assistncia, alm do fato de traba-lharem em um ambiente repleto de pacientes graves(1,6,12). Neste contexto, conciliar atividades burocrticas com a assistncia aos pacientes graves resulta no distanciamento doenfermeirodaequipedecuidadosdiretos,gerando ainda cobranas para esse profssional.Para muitos profssionais, trabalhar com uma equipe despreparadaconsideradotambmumgrandegera-dordeestresse,vistoquetrabalharemumcenriode urgncia e emergncia exige conhecimento, habilidades e destreza na execuo de procedimentos em que o tempo fundamental(6,12).Tendo em vista a diversidade do cenrio de urgncia e emergncia e a quantidade de estressores presentes defundamentalimportnciaoreconhecimentodesses fatores pelos enfermeiros, para que sejam adotadas me-didas de enfrentamento.CONCLUSOOsestressoresocupacionaismaisreferidospelos enfermeirosqueatuamnoambientedeurgnciae emergncia so escassez de recursos humanos, recursos materiais e instalaes fsicas inadequadas, carga horria detrabalho,plantesnoturnos,interfacetrabalholar, relacionamentosinterpessoais,trabalharemclimade competitividade e distanciamento entre teoria e prtica.Todavia, sabe-se que um aspecto que contribui para a proteo contra o sofrimento e o estresse no ambiente la-boral o sentido que os indivduos conferem ao trabalho. As peculiaridades do cenrio da urgncia e emergncia exigem iniciativa, capacidade de deciso rpida e domnio tcnico,proporcionandoosentimentodeprivilgioe satisfao aos profssionais.Destaca-seaimportnciadoreconhecimentodos estressores e de seus efeitos sobre o organismo para que sejam adotadas medidas de enfrentamento a fm de evitar distrbios psicolgicos e fsiolgicos.Sugerimos que as instituies de sade criem momen-tos e ambientes para que os profssionais compartilhem ex-perincias e sentimentos vivenciados durante os plantes. REFERNCIAS1.Batista KM, Bianchi ER. Estresse do enfermeiro em unidade de emergncia. Rev Latinoam Enferm. 2006; 14(4): 534-9. 2.Dalri RC, Robazzi ML, Silva LA. [Occupational hazards and changesIFhealthamongbrazilianprofessionalsnursing fromurgencyandemergencyunits].CiencEnferm.2010; 16(2):69-81. Portuguese.3. Dal Pai D, Lautert L. Work under urgency and emergency and its relation with the health ofnursing professionals. 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