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Estudo ACIRP Escolas Públicas e educação 2018 Fevereiro/2018 Brasil aponta baixo nível de qualificação da população frente a outros países Educação e qualificação da mão-de-obra no Brasil ainda estão longe de padrões internacionais. O quadro atual não mostra perspectiva de melhora para as próximas gerações, e a tendência é que a diferença para os países desenvolvidos continue grande. Quando comparada ao restante do país, Ribeirão Preto mostra uma população mais instruída, mas ainda abaixo de padrões internacionais. O Brasil possui população com nível de instrução, em média, baixo, e este quadro está muito ligado à diferença das condições econômicas locais em comparação com outros países. Ao analisar o nível atual da população mais economicamente ativa no mercado de trabalho, percebe-se o baixo nível de instrução dos brasileiros em relação a grande parte dos países. Os dados da tabela 1 mostram que o Brasil possui menor nível de instrução da população, mesmo na comparação com países próximos. O abismo para os países desenvolvidos e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, entidade que agrupa os países com maior nível de desenvolvimento) é ainda maior. A tabela 1 mostra que os países com PIB per capita mais elevado também apresentam maior parcela da população instruída. Adicionalmente, estes países tiveram crescimento em patamar similar ao do Brasil desde a década de 70, mesmo partindo de patamares mais elevados. Apenas para comparação, o Brasil possui atualmente PIB per capita inferior ao de países desenvolvidos em 1970, como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido. Adicionalmente, o baixo grau de desenvolvimento no passado não pode ser utilizado como pretexto para a situação atual. Em 1970, a Coréia do Sul possuía PIB per capita muito inferior ao brasileiro, e atualmente se encontra no mesmo nível de diversos países desenvolvidos. Se destaca também o fato de o Brasil ter gastos relativos em educação (como proporção do total de gastos públicos) em níveis próximos ao de outros países, incluindo os desenvolvidos. Este fator é uma evidência que os problemas educacionais não estão relacionados necessariamente à falta de investimento público, mas sim à qualidade deste investimento. Mesmo em termos absolutos, os gastos brasileiros não se diferem muito do observado no Chile e na Argentina, e ainda assim estes países possuem população com maior grau de instrução. O futuro não aponta perspectivas melhores. O PISA, avaliação escolar internacional elaborada pela OCDE, mostra que o desempenho brasileiro está entre os piores dos países avaliados. Na média das provas de ciências, matemática e leitura, a nota brasileira é uma das únicas abaixo de 400 pontos, ficando atrás de países com grau de desenvolvimento similar, como o México, por exemplo. A diferença para os países líderes em educação é da ordem de 25%. De acordo com o Censo populacional do IBGE de 2010, Ribeirão Preto possui uma população mais instruída do que a média do país. Observa-se maior fração da população com curso superior completo. No entanto, o fato de mais de 50% da população não terem completado o ensino médio mostra que há muito espaço para melhoria da educação na cidade.

Estudo ACIRP Escolas Públicas e educação 2018 Fevereiro/2018 · mostram sinais distintos para diferentes aspectos da educação em Ribeirão Preto. O indicador, que mede a qualidade

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Estudo ACIRP – Escolas Públicas e educação 2018

Fevereiro/2018

Brasil aponta baixo nível de qualificação da população frente a outros países

Educação e qualificação da mão-de-obra no Brasil ainda estão longe de padrões internacionais. O quadro atual não mostra perspectiva de melhora para as próximas gerações, e a tendência é que a diferença para os países desenvolvidos continue grande. Quando comparada ao restante do país, Ribeirão Preto mostra uma população mais instruída, mas ainda abaixo de padrões internacionais.

O Brasil possui população com nível de instrução, em média, baixo, e este quadro está

muito ligado à diferença das condições econômicas locais em comparação com outros países.

Ao analisar o nível atual da população mais economicamente ativa no mercado de trabalho,

percebe-se o baixo nível de instrução dos brasileiros em relação a grande parte dos países. Os

dados da tabela 1 mostram que o Brasil possui menor nível de instrução da população, mesmo

na comparação com países próximos. O abismo para os países desenvolvidos e a OCDE

(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, entidade que agrupa os

países com maior nível de desenvolvimento) é ainda maior. A tabela 1 mostra que os países

com PIB per capita mais elevado também apresentam maior parcela da população instruída.

Adicionalmente, estes países tiveram crescimento em patamar similar ao do Brasil desde a

década de 70, mesmo partindo de patamares mais elevados. Apenas para comparação, o Brasil

possui atualmente PIB per capita inferior ao de países desenvolvidos em 1970, como Estados

Unidos, Alemanha e Reino Unido. Adicionalmente, o baixo grau de desenvolvimento no

passado não pode ser utilizado como pretexto para a situação atual. Em 1970, a Coréia do Sul

possuía PIB per capita muito inferior ao brasileiro, e atualmente se encontra no mesmo nível

de diversos países desenvolvidos.

Se destaca também o fato de o Brasil ter gastos relativos em educação (como

proporção do total de gastos públicos) em níveis próximos ao de outros países, incluindo os

desenvolvidos. Este fator é uma evidência que os problemas educacionais não estão

relacionados necessariamente à falta de investimento público, mas sim à qualidade deste

investimento. Mesmo em termos absolutos, os gastos brasileiros não se diferem muito do

observado no Chile e na Argentina, e ainda assim estes países possuem população com maior

grau de instrução.

O futuro não aponta perspectivas melhores. O PISA, avaliação escolar internacional

elaborada pela OCDE, mostra que o desempenho brasileiro está entre os piores dos países

avaliados. Na média das provas de ciências, matemática e leitura, a nota brasileira é uma das

únicas abaixo de 400 pontos, ficando atrás de países com grau de desenvolvimento similar,

como o México, por exemplo. A diferença para os países líderes em educação é da ordem de

25%.

De acordo com o Censo populacional do IBGE de 2010, Ribeirão Preto possui uma

população mais instruída do que a média do país. Observa-se maior fração da população com

curso superior completo. No entanto, o fato de mais de 50% da população não terem

completado o ensino médio mostra que há muito espaço para melhoria da educação na cidade.

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Tabela 1: Indicadores educacionais de países selecionados (Fontes: OCDE, Unesco, Banco Mundial e Censo IBGE 2010)

*Sujeito a disponibilidade dos dados, ano referência entre parênteses

**Dados de PIB disponíveis apenas a partir de 1990

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Tabela 2: Gastos educacionais de países selecionados (Fonte: OCDE)

Tabela 3: Resultados do teste PISA de países selecionados (Fonte: OCDE)

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Apesar de avanços da rede municipal na avaliação do Ideb,

defasagem entre regiões da cidade ainda é grande Notas das escolas públicas da cidade no Ideb (Índice de desenvolvimento da educação básica) evoluíram positivamente desde 2007. Entretanto, verificou-se queda no percentual de escolas que atingiram as metas estabelecidas. Ainda há queda sensível de qualidade entre o quinto e o nono ano do ensino fundamental, e as escolas da rede municipal das regiões norte e oeste são, em média, piores do que as das zonas sul e leste.

Nos últimos anos, os dados do Ideb (Índice de desenvolvimento da educação básica) mostram sinais distintos para diferentes aspectos da educação em Ribeirão Preto. O indicador, que mede a qualidade das escolas públicas do país com notas que variam de zero a dez, é calculado em uma amostra1 de escolas estaduais e municipais da cidade ao final do quinto e do nono ano do ensino fundamental. Houve melhora em alguns indicadores desde a primeira medição, em 2007. Entretanto, alguns fatores ainda mostram situações delicadas, como a queda da qualidade do ensino após o quinto ano, e a defasagem entre os bairros de diferentes regiões da cidade. A avaliação média ao final do 5º ano do ensino fundamental teve evolução positiva desde 2007, tanto na rede municipal como na estadual. Entretanto, as últimas avaliações apontam certa estagnação da rede municipal, cuja diferença para a rede estadual caiu bastante.

Fonte: Inep

A análise das notas para o final do 9º ano mostra queda significativa da qualidade da educação

nesta etapa do ensino. Ambas as redes mostram notas inferiores às registradas ao fim do 5º

ano. Adicionalmente, tanto a rede estadual como a rede municipal não apontam sinais

consistentes de melhora, com relativa estagnação desde a primeira medição, em 2007.

1 O Ideb só está disponível para escolas que participam da Prova Brasil, aplicada a cada dois anos. Apenas

escolas com mais de vinte alunos matriculados nas séries avaliadas (quinto ou nono ano) podem participar da

prova. Por esta razão, o Ideb não cobre toda a rede pública da cidade.

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Fonte: Inep

Outro fator preocupante na educação da cidade é a diminuição do percentual de

escolas que cumprem a meta estabelecida para o Ideb. Em 2009, mais de 95% das escolas

municipais bateram a nota mínima esperada ao final do quinto ano. No entanto, as metas

aumentam ao longo dos anos, e este percentual caiu nas duas medições subsequentes,

indicando que a evolução do ensino tem sido aquém do esperado, com pouco mais de 70%

das escolas municipais atingindo a nota projetada em 2015.

Fonte: Inep

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Para a avaliação do nono ano, a situação é ainda mais delicada, mostrando mais um

indicativo que a qualidade da educação cai sensivelmente após o quinto ano. Em 2009, o

percentual de atingimento da meta era superior a 90% na rede municipal. No entanto, a

evolução do ensino ficou muito abaixo do esperado, com um percentual, em média, inferior a

50% nas três medições subsequentes.

Fonte: Inep

Outro problema que se destaca nos dados do Ideb é a forte heterogeneidade de

desempenho das escolas. Na medição ao final do quinto ano, desde 2007, a melhor escola

sempre teve nota ao menos 52% superior à da pior escola da cidade, na rede municipal. É

importante ressaltar que a avaliação do Ideb é realizada em uma amostra de escolas públicas

que não chega a 50% do total do município. Dessa forma, ao se considerar escolas não

avaliadas, esta defasagem muito provavelmente será ainda maior.

Fonte: Inep

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Ao final do nono ano, esta defasagem é ainda maior, tendo superado 100% em 2013.

Fonte: Inep

Uma forte desigualdade também é observada entre as regiões da cidade. Nas escolas

da rede municipal, as zonas sul e leste mostram desempenho consistentemente superior ao das

zonas norte e oeste.

Fonte: Inep

Assim como nos outros indicadores, o quadro se agrava no nono ano, evidenciando a

piora do ensino na segunda parte do ensino fundamental.

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Fonte: Inep

As tabelas 4 a 7 mostram a relação das 20 melhores e das 20 piores escolas públicas de

Ribeirão Preto, ao final do 5º e do 9º ano. É possível verificar a disparidade regional, pois,

apesar da aparição de todas as regiões entre as melhores escolas, a relação das piores indica

predominância de instituições das zonas norte e oeste. Outro fator preocupante que se destaca

nas tabelas é o fato de apenas 18 escolas terem alcançado a meta estabelecida para 2015 ao

final do 9º ano.

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Tabela 4: Melhores escolas públicas de Ribeirão Preto no Ideb 2015, fim do 5º ano do ensino fundamental (Fonte: Inep)

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Tabela 5: Piores escolas públicas de Ribeirão Preto no Ideb 2015, fim do 5º ano do ensino fundamental (Fonte:

Inep)

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Tabela 6: Melhores escolas públicas de Ribeirão Preto no Ideb 2015, fim do 9º ano do ensino fundamental (Fonte:

Inep)

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Tabela 7: Piores escolas públicas de Ribeirão Preto no Ideb 2015, fim do 9º ano do ensino fundamental (Fonte:

Inep)