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Bernadette Serra Rêgo ESTUDO DA PREFERÊNCIA MANUAL DURANTE O DESENVOLVIMENTO ONTOGENÉTICO EM SAGUI COMUM (Callithrix jacchus) Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do título de Mestre em Psicobiologia na área de Psicologia Fisiológica Natal 2008

Estudo da preferência manual durante o desenvolvimento ... · em teste de coordenação bimanual ao qual utilizaram um tubo de plástico com uma abertura para acessar o alimento;

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Bernadette Serra Rêgo

ESTUDO DA PREFERÊNCIA MANUAL DURANTE O DESENVOLVIMENTO

ONTOGENÉTICO EM SAGUI COMUM (Callithrix jacchus)

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do título de Mestre em Psicobiologia na área de Psicologia Fisiológica

Natal2008

ii

Bernadette Serra Rêgo

ESTUDO DA PREFERÊNCIA MANUAL DURANTE O DESENVOLVIMENTO

ONTOGENÉTICO EM SAGUI COMUM (Callithrix jacchus)

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do título de MestreOrientadora: Profa Maria Bernardete C. de Sousa

Natal

iii

2008

Estudo da preferência manual durante o desenvolvimento

ontogenético em sagüi comum ( Callithix jacchus).

Bernadette Serra Rego

Data da defesa ____/_____/_____

Banca Examinadora:

____________________________________

Profa. Dra. Marilia Barros - UnB

_____________________________________

Prof. Dr. Daniel M. A. Pessoa - UFRN

_____________________________________Profª Drª Maria Bernardete Cordeiro de Sousa - UFRN

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, ao meu anjo da guarda e meus guias espirituais

por me guiarem, me protegerem e me inspirarem sempre a seguir o melhor caminho,

a esperar quando necessário e por me ensinarem, na sua sutileza, a compreender

melhor a mim e aos demais.

Aos meus pais, pela oportunidade de estar aqui, por tudo que me ensinaram e

pelo exemplo que sempre foram para mim.

À minha orientadora, Profa Maria Bernardete Cordeiro de Sousa, pela

oportunidade de aprender a ser pesquisadora, por sua compreensão e dedicação em

todos os momentos, por seu exemplo como profissional e como pessoa.

À Profa. Maria Helena Sprydes, pela oportunidade de me familiarizar com a

estatística, e pelo apoio nos momentos necessários.

Ao veterinário do Núcleo de Primatologia José Flávio Coutinho e aos

funcionários Edinólia Câmara Rodrigues, Antônio Barbosa da Silva (Tota), Geniberto

Cláudio dos Santos, Márcio André, José Rubens, Luiz Veríssimo e Francisco Inácio

pela ajuda recebida no manejo dos animais e na manutenção das condições

adequadas ao experimento.

Ao bioquímico Luis Carlos Fernandes por ajudar nas análises hormonais e a

estagiária Raíssa Cavalcanti pela pesagem das amostras fecais.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

pelo financiamento dessa pesquisa.

Aos demais professores e colegas estiveram ao meu lado e que de alguma

forma me apoiaram.

Aos meus amigos por me aturarem nos momentos mais difíceis.

Aos animais que participaram desse experimento que, mesmo sem saber,

contribuíram para o benefício de seres humanos e de outros animais.

v

SUMÁRIO

RESUMO 1

ABSTRACT 2

INTRODUÇÃO GERAL 3

A influência da idade na preferência manual 4

Dimorfismo sexual no uso das mãos 5

A participação dos esteróides gonadais na assimetria manual 6

A preferência manual em primatas do Novo Mundo 8

O uso das mãos em atividades espontâneas 10

O sagüi comum (Callithirx jacchus) 11

OBJETIVOS 13

Artigo 1 - Estabilização da preferência manual e efeito ativacional dos esteróides gonadais durante a ontogênese em sagüis comuns (Callithrix

jacchus) 15Abstract 16

Resumo 17

Introdução 18

Métodos 22

Resultados 28

Discussão 34

Referências 38

Artigo 2 - Preferência manual em atividades espontâneas durante o desenvolvimento no sagüi (Callithrix jacchus) 43Abstract 44

Resumo 45

Introdução 46

Métodos 47

Resultados 51

Discussão 56

Referências bibliográficas 61

vi

DISCUSSÃO GERAL 64

CONCLUSÕES GERAIS 70

BIBLIOGRAFIA GERAL 71

ANEXOS 77

1

RESUMO

O estudo da preferência manual é um dos meios mais utilizados para

investigar a lateralidade cerebral em primatas não humanos. No entanto, em

primatas do Novo Mundo, pouco se sabe sobre a ontogênese da assimetria no uso

das mãos, tanto em atividades forçadas como espontâneas e de sua relação com

os hormônios sexuais. Com este objetivo, foi desenvolvido um estudo longitudinal

sobre a preferência manual em 10 animais (6 fêmeas e 4 machos) da espécie

Callithrix jacchus. O estudo incluiu a realização de testes de preensão de alimento

(atividade forçada) e atividades espontâneas como catação (autocatação e catação

social), coçar-se, pendurar-se e segurar o alimento, que foram registradas em

sessões semanais começando na fase infantil (4 meses) e se estendendo até o

início da idade adulta (15 meses). Paralelamente foram coletadas amostras de

fezes, pelo menos uma vez por semana, a fim de avaliar o nível de esteróides

gonadais e sua possível influência na expressão destes comportamentos. Na

atividade forçada, os resultados confirmam a influência do estágio de

desenvolvimento sobre a preferência manual evidenciada pelo aumento na

estabilização da lateralidade ao pegar o alimento entre as fases juvenil e adulta. Observou-se também um efeito dos hormônios sexuais sobre o desenvolvimento da

preferência, principalmente da progesterona nas fêmeas e dos andrógenos nos

machos, mas não foi encontrada diferença entre os sexos. Nas fêmeas, a

progesterona influenciou o índice de preferência manual, com aumento proporcional

do índice de lateralidade durante a puberdade. Em relação às atividades

espontâneas os animais mostraram uso proporcional das duas mãos para as ações

de coçar-se, pendurar-se e segurar o alimento e o uso simultâneo das duas mãos

para catação. Ficou também evidenciada uma relação positiva entre a preferência

manual na preensão do alimento na atividade forçada e segurar o alimento na

atividade espontânea.

2

ABSTRACT

The study of manual preference is a widely used approach to investigate

cerebral laterality in nonhuman primates. However, in New World primates, little is

known about the ontogenesis of hand use asymmetry, in both forced and

spontaneous activities, as well as how they correlate with sexual hormones.

Accordingly, a longitudinal study was conducted on the manual preference of 6

female and 4 male common marmosets (Callithrix jacchus). The study included the

record of forced tests to reach for the food using only one hand (forced activity) and

activities such as grooming (auto and social), scratching, grasping the food and

hanging, in weekly sessions from the infantile (4 months) to the early adult phase

(15 months). Feces samples were also collected, at least once a week, to evaluate

the level of gonadal steroids and their influence on these behaviors. In the forced

activity, the results confirm the influence of the development period on manual

preference during feeding, shown by the increase in lateral stability when grasping

the food between the juvenile and adult phases. During this period, a sexual

hormone effect on development was also observed, mainly of progesterone in

females and androgen in males, but no difference between sexes was found. In the

females, progesterone also influenced the manual preference index, with a

proportional increase in the degree of manual asymmetry during puberty. With

respect to spontaneous activities, the animals showed proportional use of both

hands when scratching, hanging, holding the food and grooming. A positive

correlation was also found between the preference for holding the food in forced

activities and in spontaneous activities.

3

INTRODUÇÃO GERAL

Considera-se lateralidade ou assimetria cerebral como uma atividade

predominante de um dos hemisférios cerebrais, em relação ao outro, para uma

determinada função e que pode se manifestar pela presença de assimetrias

morfológicas ou funcionais. Tais assimetrias têm sido demonstradas em muitas

espécies de vertebrados, incluindo primatas não humanos (Bisazza et al, 1998;

Ghirlanda & Vallortigara, 2004; Vauclair et al, 1999). Pesquisas apontam para

associações entre lateralização hemisférica e fatores como a preferência manual

(Dos Santos Sequiera et al, 2006), sexo (Hausmann & Gunturkun,1999; Breedlove &

Hampson, 2002), idade (Galaburda et al, 1990, Berribe et al, 1988) e hormônios

(Diamond, 1991; Wisniewski,1998) tanto em humanos como em outros animais. Tais

associações vão de acordo com a citação de Hellige: “A ubiquidade das assimetrias

comportamentais e biológicas em animais indica que esta característica não é única

dos humanos e nem completamente dependente da linguagem” e sugere que

modelos animais podem prover informações adicionais sobre assimetria cerebral

relacionadas à filogênese, hereditariedade, ontogênese, cognição e efeitos

hormonais (Hellige, 1990).

Nos seres humanos, tanto a linguagem como a preferência manual se

associam predominantemente ao hemisfério esquerdo (Knetcht et al, 2000) e há uma

distribuição na preferência manual na qual mais de 90% de indivíduos são destros. A

existência dessa lateralidade manual genuína foi, durante muito tempo, considerada

como típica dessa espécie. Para os demais símios a preferência manual era

considerada como resultado de experiência ou aprendizado (Warren,1980). No

entanto, a análise de diversos trabalhos permitiu verificar a presença de preferência

4

manual em algumas populações de primatas não humanos (McaNeilage et al,1987;

Marchant & McGrew, 1998 ).

Segundo Fagot & Vauclair (1991), a preferência manual pode ser descrita

como o uso mais freqüente de uma das mãos em uma determinada tarefa, como por

exemplo, pegar um alimento. Para estes autores, a especialização manual

representa o melhor desempenho de uma das mãos em testes que requerem

precisão. A habilidade no uso de ferramentas para obter alimento pode ser

considerada como especialização manual (Hopkins & Raminowitz, 1997).

A influência da idade na preferência manual

Marchant & McGrew (1991) realizaram uma meta-análise sobre a lateralidade

manual em macacos antropóides. Contudo, a maioria dos estudos não determinava

a idade dos indivíduos observados e a distribuição entre indivíduos maduros e

imaturos nem sempre foi proporcional, o que dificultou a realização de uma análise

conclusiva entre idade e assimetria. Alguns trabalhos sobre preferência manual em

primatas consideram a idade como uma covariável e não costumam apresentar uma

relação entre faixa etária e lateralidade no uso das mãos (Olson et al, 1990; Hopkins

et al, 2003;). Entretanto, a presença de correlações entre a idade e a direção (direita

ou esquerda) no uso das mãos pode ser evidenciada em diversas pesquisas

(Vauclair & Fagot, 1987; Kubota, 1990; Westergaard et al, 2000). No entanto, ainda

existem poucos estudos sobre a ontogenia da preferência manual em primatas.

Hopkins & Bard (1999) pesquisaram chimpanzés, observando-os em diferentes

estágios da vida, iniciando-se aos três meses quando avaliaram a lateralidade na

posição da cabeça em decúbito e movimentos de agarrar, mão-boca e mão-mão.

Posteriormente, retornaram a observar os mesmos indivíduos entre os 3- 5 anos no

uso das mãos para se alimentar, em atividades de simples preensão de alimentos e,

5

em teste de coordenação bimanual ao qual utilizaram um tubo de plástico com uma

abertura para acessar o alimento; enquanto uma das mãos segurava o tubo a outra

pegava o alimento. Encontraram uma correlação positiva entre a direção da rotação

da cabeça e atividade bimanual coordenada. Nas duas situações, o grupo

apresentou desvio da lateralidade para a direita. O comportamento assimétrico no

uso das mãos está relacionado a diferentes funções cerebrais, entre elas, a motora,

a coordenação e a cognição, de acordo com as condições requeridas para a

atividade manual. Tais funções tendem a se aperfeiçoar a medida que ocorre a

maturação dos neurônios envolvidos nesses mecanismos. Desse modo, a idade

deve ser considerada como um fator importante na manifestação desse

comportamento, uma vez que a assimetria manual está sujeita a transformações ao

longo do desenvolvimento neuromotor e cognitivo do indivíduo.

Dimorfismo sexual no uso das mãos

Embora nem sempre sejam evidenciadas diferenças entre machos e fêmeas

nos testes de preferência manual (Vauclair et al, 2005; O’Malley & McGrew, 2006),

quando elas são consideradas, podem ser obtidas distribuições diversificadas de

acordo com a espécie estudada. Informações mais precisas ainda podem ser obtidas

se forem avaliadas as variações entre os sexos de acordo com a faixa etária. Ward

et al. (1990), ao pesquisar uma população de 194 lêmures de diferentes espécies e

subespécies, observou que os machos apresentaram lateralidade mais acentuada,

direcionada para mão esquerda, quando comparados às fêmeas. A preferência

manual aumentou proporcionalmente com a idade até cerca dos sete anos. A partir

dessa idade, uma tendência maior ao uso da mão direita passou a ser manifestada.

Nas fêmeas, o fenômeno foi semelhante, porém, a lateralização ocorreu mais tarde e

6

o uso da mão direita foi mais acentuado com o avançar da idade. Chimpanzés, em

ambiente natural, mostraram comportamento similar ao manipular certos frutos. Os

machos apresentaram lateralidade mais acentuada e usaram mais a mão esquerda

enquanto que as fêmeas usaram mais a direita (Corp & Byme, 2004).

Em humanos, o uso da mão direita também alcançou melhor desempenho

para as meninas em testes envolvendo habilidade manual. A lateralidade foi mais

acentuada no sexo feminino quando comparada ao masculino (Pedersen et al,

2003).

É interessante notar que um ponto comum nessas espécies estudadas é a

prevalência de desvio à direita no uso das mãos para as fêmeas indicando a

existência de um padrão de assimetria envolvendo estruturas corticais passíveis de

influências hormonais conforme evidenciado no estudo de Habib et al (1991) ao

verificar uma relação entre a espessura do corpo caloso e a preferência manual

entre homens e mulheres, estas apresentaram maior consistência no uso da mão

direita.

A participação dos esteróides gonadais na assimetria manual

Padrões de lateralização cortical relacionados à atividade dos esteróides

gonadais têm sido vistos em alguns animais. Estudos realizados em roedores

demonstraram diferenças na espessura cortical entre machos e fêmeas cujo padrão

se alterava com a esterilização após o nascimento (Diamond et al, 1981,

Diamond,1991). Então, pode-se dizer que os esteróides gonadais podem atuar na

ontogênese, conduzindo a uma assimetria hemisférica e, conseqüentemente,

promovendo um dimorfismo sexual no desempenho de determinadas funções como,

por exemplo, a lateralidade manual. Entretanto, um estudo de preferência no uso das

7

patas em gatos adultos demonstrou que a testosterona pode agir sobre a

lateralidade mesmo depois de completado o desenvolvimento (Tan et al, 1991). Tal

fenômeno é sugestivo de que os hormônios sexuais possam atuar sobre a

lateralização funcional do cérebro tanto no nível organizacional quanto ativacional.

De fato, os hormônios parecem exercer efeitos ativacionais sobre a

lateralidade. Ao pesquisar 140 crianças buscando identificar associações na

lateralidade e no desenvolvimento psicométrico, Mulligan et al (2001) encontraram

relações significativas entre especialização manual e sexo durante o

desenvolvimento puberal. Estes pesquisadores observaram que meninas destras, de

baixa estatura, tenderam a ingressar na puberdade mais tardiamente e,

consequentemente, tinham alta estatura final. Lacrause (2006), ao revisar uma série

de estudos sobre o efeito dos estrógenos na cognição em primatas, observou que os

estrógenos afetam o desempenho em testes cognitivos, tanto em fêmeas jovens

como mais velhas. Desse modo, é possível que este hormônio apresente potencial

para atuar no processo de assimetria manual na realização de testes envolvendo

algum grau de complexidade, uma vez que aspectos cognitivos estão envolvidos na

execução dos mesmos. Em humanos, Thilers et al (2007) verificaram diferenças

sexuais entre indivíduos destros e não destros na realização de testes cognitivos

envolvendo habilidades visuoespaciais, fluência verbal e memória episódica. Os

autores encontraram maiores níveis de testosterona livre no plasma sanguíneo de

homens destros quando comparados aos não destros. De um modo geral, os

homens não destros, ou seja, que utilizaram mais a mão esquerda ou as duas mãos,

também apresentaram um padrão de desempenho semelhante ao das mulheres em

testes envolvendo habilidades espaciais, fluência verbal e memória episódica

(Thilers et al, 2007). Esses achados sugerem um papel da testosterona no

8

desempenho de testes cognitivos relacionados à especialização manual. Mulheres

canhotas mostraram menores níveis de prolactina, estradiol e progesterona quando

comparadas às destras (Negrev et al 2000). Tais achados reforçam a idéia de que os

esteróides gonadais estão relacionados à assimetria funcional do cérebro, incluindo

a lateralidade manual.

A preferência manual em primatas do Novo Mundo

Uma série de trabalhos foi revisada por Hook-Costigan & Rogers (1996)

sobre a preferência manual em primatas neotropicais e demonstram que o sagüi

comum (Callithrix jacchus) e micos de cheiro (Saimiri sciureus) apresentam uma

distribuição simétrica na preferência manual. Alguns macacos do Novo Mundo,

apresentaram maior uso da mão esquerda relacionada a tarefas visualmente

direcionadas e da mão direita para testes que exigiam habilidades manipulativas.

Por exemplo, os micos de cheiro (Saimiri sciureus) mostraram preferência manual

esquerda para capturar insetos em movimento, enquanto os macacos pregos

(Cebus apella) usaram mais a mão direita para retirar amendoim de um recipiente.

Na família Calitrichidae, Singer & Schwibbe (1998) estudaram a preferência

manual aplicando diferentes testes, considerando aspectos posturais e manipulativos

envolvidos nesse comportamento. Os testes incluíram atividades de preensão de

alimento, modalidades sensoriais (visual e tátil) e ajustes posturais. O gênero

Callithrix mostrou desvio da lateralidade manual para a esquerda e Leontophitecus

para a direita, enquanto Saguinus não apresentou desvio na lateralidade manual. Os

autores acreditam que as diferenças entre os gêneros se vinculem aos aspectos

posturais e comportamentais de forrageio e não necessariamente a complexidade do

teste aplicado. A preferência pela mão direita também foi observada em L.

9

chrysomelas e L. chrysopygus por Ades & Diego (2004). Contudo, estes autores

encontraram flutuações na lateralidade manual de acordo com a postura empregada

em cada tarefa. Esses dados reforçam a idéia de Singer & Schwibbe sobre o

comportamento de manipulação destes animais na ocasião do forrageio. A aplicação

de testes de discriminação visual cromática não indicou desvio na direção do uso

das mãos em macacos prego (Cebus apella); os animais também não apresentaram

consistência no uso das mãos (Tavares et al 2002). Estas pesquisas demonstram

que testes complexos não são imprescindíveis para indicar a lateralidade manual,

podendo esta ser evidenciada em atividades comuns de cada espécie.

Cameron & Rogers (1999), em uma pesquisa com sagüi comum, observaram-

se diferenças no comportamento exploratório quando expostos a objetos e ambiente

novos. Tal comportamento parece ter uma forte correlação com a direção do uso das

mãos nesses animais. Indivíduos com preferência manual direita são mais

exploratórios que aqueles com preferência manual esquerda. Estudos sobre

lateralidade manual mostram resultados contraditórios para testes de preensão de

alimento, nesta espécie. A preferência pela mão esquerda foi evidente na maioria

dos animais estudados por Box (1977) e Matoba et al (1991). Por outro lado, Rothe

(1973) verificou que 14 dos 21 animais observados tinham preferência pela mão

direita. Em todas as pesquisas foram utilizados mais de um teste de preensão de

alimento. Os animais estudados por Rothe também apresentaram flutuações na

lateralidade manual durante o experimento que poderiam estar relacionadas à

natureza dos testes aplicados os quais exigiram diferentes posturas em sua

execução. Hook-Costigan & Rogers (1995) observaram que atividades com maior

demanda postural intensificava a lateralidade manual em sagüi comum. De acordo

com alguns pesquisadores, tanto a postura quanto a complexidade do teste aplicado

10

são fatores influentes na direção e intensidade da preferência manual em primatas

não humanos (MacNeilage et al, 1987, Fagot & Vauclair,1991). Apesar de a postura

e a complexidade do teste serem fatores bastante considerados em pesquisas de

preferência manual, não está bem claro o peso de sua influência na definição da

lateralidade manual nestes animais. Provavelmente, uma análise mais detalhada de

outras variáveis como idade, sexo, hormônios e outros aspectos biológicos e

ambientais, poderá elucidar melhor o comportamento da lateralidade manual nos

primatas não humanos. Em macacos do Novo Mundo, ainda há poucos trabalhos

avaliando o efeito do sexo e da idade nesse comportamento (Matoba et al,1991;

Lacrause & Fragaszy 1996).

O uso das mãos em atividades espontâneas

As atividades espontâneas refletem a expressão do comportamento natural

em situações cotidianas, sem a interferência de experimentos. A catação, por

exemplo, consiste no cuidado da pele e dos pêlos do corpo usando as mãos, língua

ou dentes (Goosen, 1978). Durante a catação, os animais usam as mãos

alternativamente. Chapelain et al (2006) observaram que macacos da espécie

Cercopithecus c. campbelli apresentaram preferência manual direita, em nível

individual, para atividades espontâneas e induzidas (experimentais), sugerindo que a

especialização manual possa ser evidenciada em comportamentos naturais. É

provável que a lateralidade no uso das mãos varie conforme o tipo de ação

executada e entre as espécies. Por exemplo, chimpanzés não demonstraram

preferência manual para tocar a face (Aruguete et al, 1992) e para se coçar (Hopkins

et al, 2006) Em relação ao uso das mãos para se alimentar, observa-se que os

sagüis comuns tendem a usar mais frequentemente a boca para comer alimentos

11

estáticos (frutos) e, uma das mãos para capturar presas e levar a boca (Rothe,

1971). Atividades como coçar-se, catação, pendurar-se ou segurar-se na grade da

gaiola revelam que, geralmente, esses animais são ambidestros (Rothe, 1973,

Sousa et al, 2000). Resultados diferentes foram encontrados para S. oedipus na

realização de variadas categorias de atividades cotidianas como pegar alimento,

segurar, manipular, carregar, coçar e catar em que a maioria dos animais apresentou

preferência manual direita (Diamond & McGrew,1994).

O sagüi comum (Callithrix jacchus)

O sagüi comum (Callithrix jacchus) é um primata neotropical pertencente a

família dos calitriquídeos e habita florestas contínuas situadas no litoral do nordeste

do Brasil. Alimentam-se basicamente de frutas e goma, vivem em grupos sociais e

seu sistema de acasalamento é, geralmente, monogâmico, composto por um macho

e uma fêmea dominantes (Rylands,1996). Em relação ao uso das mãos em

atividades forçadas e espontâneas, ainda há poucos dados sobre a influência de

fatores como sexo e idade no processo de lateralização manual em sagüis (Hook-

Costigan & Rogers, 1995; Hook & Rogers, 2000).

É interessante notar que tal espécie, assim como outros calitriquídeos,

apresenta um comportamento bastante peculiar após a puberdade: a supressão dos

ciclos ovulatórios em fêmeas subordinadas. Este fenômeno é comumente observado

em grupos sociais vivendo em cativeiro onde as fêmeas subordinadas podem sofrer

supressão da ovulação na presença da fêmea dominante. Todavia, tal fenômeno é

reversível se forem afastadas do ambiente onde se encontra a fêmea dominante

(Abbott et al, 1988; Ziegler & Sousa, 2002). Em ambiente natural a supressão

reprodutiva das fêmeas subordinadas parece ser mais um fenômeno

12

comportamental que hormonal, pois níveis de progesterona compatíveis com

ovulação foram encontrados em alguns grupos de sagüis de vida livre (Sousa et al,

2005). Provavelmente, alterações no comportamento reprodutivo e social, com

reflexos nos níveis hormonais, estejam relacionadas às condições ambientais em

que se encontram, ou seja, campo ou cativeiro (Yamamoto, 1991).

Em relação ao desenvolvimento motor observa-se que os sagüis são

fisicamente mais independentes a partir do quarto mês (120 semana de vida). No

período juvenil aumentam a freqüência de atividade e maior tempo na catação

(Yamamoto, 1993).

Até o momento, a literatura carece de mais informações sobre a ontogenia da

assimetria manual em sagüi comum e da associação desse comportamento com

hormônios. Cunha (2005) estudou a relação entre preferência manual e níveis de

cortisol, em resposta a estímulo estressor, nessa espécie. Observou que as fêmeas

destras eram mais reativas quando comparadas aos machos e aos animais com

preferência manual esquerda.

Diante do exposto, o presente estudo visa investigar a preferência manual

durante o desenvolvimento ontogenético no sagüi comum, considerando as variáveis

idade, sexo e níveis de esteróides gonadais, estrogênio e progesterona para as

fêmeas e andrógenos para os machos.

13

OBJETIVOS

- Estudar a lateralidade em sagüi comum de ambos os sexos, através da

observação da preferência manual em atividades forçada e espontâneas durante seu

desenvolvimento ontogenético;

- Identificar se há uma fase do desenvolvimento na qual ocorre a definição da

preferência manual;

- Verificar a possível influência dos hormônios sexuais sobre a assimetria

manual.

Hipóteses e Predições

H1 – A preferência manual se instala no período juvenil, coincidindo com a

puberdade e, após sua instalação, ela se mantém constante ao longo do tempo.

P1 – No período infantil, devido à imaturidade dos sistemas nervoso e motor,

a preferência manual não se apresenta de forma bem definida. Contudo, no período

juvenil, com a chegada da puberdade e a aceleração do desenvolvimento, espera-se

que a preferência manual se manifeste de forma mais clara e mantenha a

consistência durante a idade adulta.

H2 – As demandas comportamentais relacionadas à reprodução e vida em

grupo são diferentes , em machos e fêmeas, podendo gerar diferenças referentes ao

uso das mãos, em atividade forçada, nos dois sexos.

P2 – Considerando que os esteróides gonadais exercem seu efeito

ativacional, atuando de forma direta ou indireta nas estruturas cerebrais e na

expressão comportamental, espera-se que fêmeas e machos tendam a apresentar

14

uma resposta diferente no uso das mãos, em atividade forçada, sob influência dos

hormônios sexuais a partir do período puberal.

H3 - Atividades espontâneas sem habilidades motoras finas podem apresentar

uso preferencial de uma das mãos e essa pode variar conforme as fases do

desenvolvimento.

P3 - As ações motoras espontâneas refletem atividades naturais dos sagüis

também sujeitas às transformações do desenvolvimento. Desse modo, espera-se

que algumas dessas atividades apresentem desvios no uso das mãos e que estes

sejam consistentes com o passar do tempo.

15

Artigo 1 – Efeito ativacional dos esteróides gonadais na estabilização da

preferência manual em sagüi comun (Callithrix jacchus) durante a

ontogênese.

Bernadette Serra Rego, Maria Helena Spyrides & Maria Bernardete Cordeiro de Sousa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN- Brasil

Address correspondence to:

Maria Bernardete Cordeiro de Sousa

Dept of Physiology

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

P.O. Box 1511

59078-970 Natal, RN, Brazil

Tel 55 84 32153409

Fax 55 84 32119206

E-mail:

(*) Artigo a ser submetido à revista Hormones and Behaviour

16

Abstract

Manual preference has been widely studied in nonhuman primates. However,

little is known about this behavior throughout ontogenetic development and about

the factors that can influence it, such as age and sex. To determine the influence of

these factors, we selected ten common marmosets (Callithrix jacchus), six females

and four males, who had been observed in forced activity tests involving hand use

preference from the infantile to the adult phase. During this period fecal samples

were collected for sexual hormone analysis (estrogen, progesterone and androgen).

The results point to an age effect on manual preference, which tends to stabilize

between the juvenile and subadult phases. Although no differences in manual

laterality between males and females were found, a significant progesterone effect

on the intensity of hand use asymmetry was observed in the females, shown mainly

during puberty. These data indicate that stabilization of hand preference in these

animals occurs during puberty and is adjusted by activational effects of gonadal

steroids.

17

RESUMO

A preferência manual tem sido largamente estudada em primatas não

humanos. No entanto ainda pouco se sabe a respeito desse comportamento ao

longo do desenvolvimento ontogenético e dos fatores que possam influenciá-lo,

como a idade e o sexo. Com o propósito de verificar a influência de tais fatores,

foram selecionados 10 sagüis comuns (Callithrix jacchus), seis fêmeas e quatro

machos, que foram observados em testes de atividade forçada para o uso das

mãos desde o período infantil até a fase adulta. Nesse período também foram

coletadas amostras de fezes para análise de hormônios sexuais (estradiol,

progesterona e andrógenos). Os resultados apontam para um efeito da idade sobre

a preferência manual, a qual tende a se estabilizar entre a fase juvenil e subadulta.

Apesar de não haver diferenças na lateralidade manual entre machos e fêmeas,

observou-se um efeito significativo da progesterona nas fêmeas, sobre a

intensidade da assimetria no uso das mãos, evidenciada principalmente durante a

puberdade. Tais dados sugerem que a estabilização da preferência manual nesses

animais ocorra durante a puberdade e seja modulada pelo efeito ativacional dos

esteróides gonadais.

18

INTRODUÇÃO

A lateralização hemisférica pode ser indicada por desvios na simetria motora,

refletidas pelo uso mais freqüente de um dos membros (direito ou esquerdo) em

relação ao outro, em determinadas atividades. Um dos métodos mais usados para

estudar a assimetria ou lateralidade funcional inclui a observação da lateralidade

manual em atividades forçadas ou espontâneas. Em primatas não humanos, os

testes de preensão simples de alimento têm sido amplamente usados para o estudo

da preferência (assimetria) manual (Sanford et al, 1984; Kubota, 1990; Masataka,

1990). Alguns autores consideram este tipo de teste como atividades de baixa

complexidade, por não requisitarem aspectos motores finos e cognitivos que podem

influenciar na lateralidade manual (Fagot & Vauclair, 1991). Apesar das críticas, a

preensão de alimento pode indicar a assimetria manual em primatas não humanos,

não apenas em nível individual, mas também populacional (Hopkins et al, 2005).

Algumas pesquisas têm demonstrado assimetria no uso das mãos, aplicando teste

de preensão simples de alimento ou utilizando-se de instrumentos de modo a torná-

lo mais complexo, exigindo mais dos mecanismos motores para sua execução

(Christel & Fragaszy, 2000; Vauclair et al, 2005).

Considerando que a habilidade motora está vinculada a maturidade do

sistema neuromotor, pode-se dizer que a idade é um fator importante na

determinação da preferência manual nos primatas. Embora alguns trabalhos não

mostrem relação entre idade e preferência manual (Singer & Schwibbe, 1999;

Vauclair et al, 2005), outros têm demonstrado que essa variável atua na

manifestação desse comportamento. Forsythe & Ward (1998), ao observar 33

19

lêmures pretos (Lemur macaco), encontraram correlação negativa entre idade e

preferência manual esquerda (PME), isto é, quanto mais jovens os indivíduos, maior

o uso da mão esquerda. Os autores admitem que o maior número de indivíduos

jovens no grupo possa ter contribuído para o desvio da lateralidade à esquerda

porém, sugerem uma relação entre a maturação motora e a mudança de direção no

uso das mãos para os indivíduos mais velhos. Resultados semelhantes foram

encontrados por Westergaard & Suomi (1996) e Westergaard et al (1997), em um

estudo comparativo entre duas espécies: Cebus apella e Macaca mulatta.

Alterações na lateralidade manual ocorreram de acordo com a faixa etária desses

animais. Em macacos do Novo Mundo, os sagüis comuns (Callithrix jacchus)

parecem apresentar variações na preferência manual de acordo com a faixa etária e

no mesmo indivíduo em momentos diferentes do seu desenvolvimento (Hook-

Costigan & Rogers, 1995; Hook & Rogers, 2000).

Na execução de testes discriminativos de forma e textura de objetos,

Lacreuse & Fragaszy (1996) verificaram que tanto a idade quanto o sexo foram

fatores influentes na manifestação da assimetria manual em macacos prego (Cebus

apella). Outra pesquisa com esses animais demonstrou que as fêmeas exibiram

maior lateralidade em atividades bimanuais coordenadas em um grupo cuja

distribuição da preferência manual foi para o uso da mão direita (Spinozzi et al,

1998).

A puberdade geralmente é considerada um marco no desenvolvimento

corporal, cujo ápice é a maturação sexual e a capacidade de se reproduzir. Em

humanos, o início da puberdade se evidencia com a ativação do eixo hipotálamo-

hipófise-gônadas que estimula a secreção dos hormônios sexuais que conduzirão à

maturação sexual do indivíduo. Nas mulheres esse fenômeno é um pouco mais

20

precoce que nos homens, e se completa com o surgimento da menarca. No período

pré-pubere, antes de iniciar a puberdade, o hipotálamo e a hipófise passam a

secretar maiores quantidades de hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e de

gonadotrofinas LH e FSH caracterizados por sua maior pulsatilidade e

concentração. Esses hormônios estimularão as gônadas a produzir, principalmente,

estrógenos nas fêmeas e andrógenos, nos machos. No meio da fase púbere, cresce

a pulsatilidade e a concentração de LH, apresentando picos noturnos que precede a

ovulação, nas fêmeas, seguindo-se de maiores concentrações de progestágenos.

No final da puberdade, fase pós-puberal, as concentrações de GnRH , LH e FSH

diminuem e os esteróides gonadais passam a manter um nível basal maior do que

na fase pré-púbere (Terasawa & Fernandez, 2001). Nos primatas não humanos,

embora ocorram variações conforme a espécie, o processo é semelhante ao dos

humanos e se evidencia quando o animal é capaz de se reproduzir. Apesar de a

reprodução sinalizar a maturação sexual nesses indivíduos, ela não

necessariamente finaliza o processo da puberdade, que pode ser considerada como

um período no qual ocorre um padrão de mudanças hormonais e de

desenvolvimento corporal que se completa na fase adulta (Bernestein et al, 1991;

Chandolia et al, 2006).

Em calitriquídeos, observa-se que a maturação sexual, confirmada pelo

aumento de metabólitos da progesterona na urina, inicia-se mais precocemente em

Callimico goeldii quando comparada aos gêneros Cebuella, Callithrix e Saguinus.

Em Callimico goeldii , não se observou fenômenos de supressão da ovulação como

ocorre nos outros três gêneros (Dettling & Pryce,1999). Considerando os efeitos

ativacionais dos hormônios sexuais sobre aspectos cognitivos e motores durante o

desenvolvimento, variações entre espécies devem ocorrer de acordo com o ciclo

21

reprodutivo. A puberdade, em Callithrix jacchus, consiste num processo longo que

ocorre entre o oitavo e décimo segundo mês de vida, onde atingem o tamanho de

um animal adulto (Clarke, 1994). Segundo Chandolia et al, (2006), pode-se dividir a

puberdade, no sagüi, nas fases pré-púbere (21 semanas), púbere (43-52 semanas)

e pós-púbere ou maturo (a partir de 70 semanas). Observa-se que a ativação

gonadal aparece em torno do sexto mês (21 semanas), seguindo-se do

desenvolvimento progressivo da massa corporal e do aumento testicular, nos

machos, que começa em torno de 43 semanas, atingindo a maturação sexual por

volta de 70 semanas. No início da fase púbere, os machos apresentam elevação

nos níveis de testosterona, coincidindo com o aumento testicular e do

comportamento voltado para cópulas. As fêmeas exibem flutuações nos níveis de

estradiol, com concentrações maiores desse hormônio em níveis pré-ovulatórios. A

esse fenômeno, segue-se a ovulação e elevações nos níveis sanguíneos de

progesterona. Contudo, a primeira ovulação parece ocorrer após o primeiro ano de

vida (Abbott & Hearn, 1978; Abbott et al, 2003).

Diferenças sexuais na lateralidade manual podem indicar um efeito dos

hormônios gonadais sobre esse comportamento, indicado por diferentes padrões de

assimetria anátomo-funcionais encontradas em humanos e animais (Wisniewski,

1998). Desse modo, transformações hormonais apresentadas na puberdade podem

influenciar o processo de assimetria funcional durante o desempenho de atividades

cognitivas e motoras , como têm sido evidenciado em estudos (Kimura, 2002).

As alterações hormonais ocorridas durante a puberdade podem ser fatores de

interferência em diversos processos cognitivos e motores, como por exemplo, a

lateralidade no uso das mãos na execução de determinadas atividades. Nesse

22

estudo, buscou-se estudar a preferência manual durante a ontogênese de sagüi

comum, focando atenção sobre a influência dos hormônios sexuais.

MÉTODOS

Sujeitos

Para realização deste estudo foram selecionados dez sagüis comuns

(Callithrix jacchus), seis fêmeas e quatro machos, vivendo em grupos familiares no

Núcleo de Primatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Nordeste

do Brasil. Os animais receberam duas refeições ao dia, com dieta balanceada e

água ad libitum. Todos os selecionados para o experimento nasceram em cativeiro,

habitando em gaiolas externas sob condições climáticas naturais. A identificação

individual dos sagüis foi feita por meio de pintura com tinta atóxica, realizada em

diferentes partes do corpo (cauda, tufos, lombo, membros superiores ou inferiores).

Os animais incluídos neste estudo estão descritos na Tabela 1.

23

Tabela 1. Dados dos animais observados durante seu desenvolvimento

Animal No. de indivíduos/ área da gaiola

Sexo Data do nascimento

Período de coleta

Janete Jandira (G)

3/ 6 m2 FF

06/03/06 Julho/2006 aMaio/2007

JoãoJoana (G)

5/ 6 m2 MF

28/03/06 Agosto/2006 ajunho/2007

Flor Flora (G)

10/ 7,5 m2 FF

30/03/06 Agosto/2006 ajunho/2007

BeloBiona (G)

6/ 6 m2 MF

12/05/06 Setembro/2006 a

julho/2007

Francisco 10/ 7,5 m2 M 11/10/06 Março/2007 aDezembro/200

7

Agrião 4/ 6 m2 M 11/07/06 Novembro/2006 a Setembro/2007

(G) = gêmeos --

Classificação etária

A observação comportamental iniciou-se a partir do quarto mês de idade do

animal até o 15º. mês, compreendendo um período de 11 meses. Apenas um

animal (Francisco) começou a ser observado a partir do quinto mês. As fases do

desenvolvimento foram consideradas de acordo com Yamamoto (1993) em: infantil

(0 a 5meses), juvenil (5,1 a 10 meses), subadulto (10,1- 15 meses) e adulto ( >15

meses).

24

Na fase adulta, realizaram-se registros complementares apenas da atividade

forçada na alimentação, a fim de verificar a consistência da preferência manual em

testes de preensão.

Procedimentos Experimentais

Teste da atividade forçada

Para testar a preferência manual em atividade forçada, foi utilizada uma

placa de vidro transparente redonda com 4 mm de espessura, 11,5cm2 de área e

um orifício central medindo 2 cm de diâmetro que permitia a passagem de apenas

uma das mãos. Esta placa de vidro foi colocada acima do prato contendo pedaços

de frutas, especialmente banana. O teste foi realizado pela manhã, entre 07h00min

e 09h00minh, coincidindo com a primeira refeição. O experimento foi repetido

semanalmente durante 10 minutos cada sessão, num total de 44 sessões para cada

animal, compreendendo o período dos 5 aos 15 meses. Após essa idade, foram

realizadas mais 10 sessões de atividade forçada, para cada animal, a fim de

verificar a consistência da preferência manual na idade observada. Durante cada

sessão foi registrado o uso da mão utilizada para pegar o alimento e conduzi-lo à

boca.

A fim de evitar competição por alimento, colocou-se mais de um prato com o

mesmo aparato na gaiola, de modo que todos os animais se submeteram ao teste,

mas somente o comportamento dos animais selecionados foi registrado. Os animais

foram testados nos grupos familiares, uma vez que envolvia observação de filhotes

cujo afastamento dos pais ocasionaria estresse pela separação e poderia interferir

nos resultados (Anexo 1).

25

Análise Hormonal

Ao final de cada sessão de atividade forçada, o pesquisador permaneceu

observando os animais a fim de coletar amostras de fezes para quantificação dos

níveis hormonais (estradiol, progesterona para as fêmeas e andrógenos para os

machos). As fezes foram armazenadas em um tubo de plástico e levadas

imediatamente para congelamento a -200C até a análise hormonal. A coleta iniciou-

se no final da fase infantil, incluindo principalmente os períodos juvenil e subadulto.

O número de amostras para cada fêmea foi numa média de 26 enquanto os machos

tiveram uma média de 20 amostras (Anexo 2).

O preparo das amostras incluiu a pesagem inicial de 0,1g de fezes para cada

amostra e homogeneização. A seguir realizaram-se a hidrólise, solvólise e

suspensão em 500 µl de etanol de acordo com o que está descrito em Barbosa

(2003). A análise hormonal foi realizada pelo método ELISA. Os coeficientes de

variação correspondentes foram: estradiol (intra-ensaio = 5,77 %, inter-ensaio =

3,82 %), progesterona (intra-ensaio = 4,23 %, inter-ensaio = 11,50 %) e andrógenos

(intra-ensaio = 2,25 %, inter-ensaio = 5,64 %).

Os andrógenos medidos nas amostras fecais foram os metabólitos da

testosterona, pois esta última é quase ausente em fezes de sagüi (Castro & Sousa,

2005).

Análise Estatística

Utilizou-se o índice de preferência manual para registro da freqüência e para

avaliar a consistência da lateralidade dos sagüis na atividade forçada. O índice de

26

preferência manual ou Handedeness Index (HI) ( Hopkins, 1999) foi adaptado para

se obter a proporção do uso das mãos, resultando na seguinte fórmula:

módEDED

HI+−

=

que corresponde ao módulo da diferença entre a freqüência absoluta de uso

da mão direita e da mão esquerda ( )ED − sobre o total de vezes com que o animal

pegou o alimento com o uso das mãos separadamente ( )ED + . Esta variável

resposta (HI) foi utilizada para avaliar o grau de lateralidade manual dos sagüis na

atividade forçada, variando de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1 for o valor de HI,

maior será o grau de lateralidade, ou seja, a intensidade da preferência manual, na

atividade de alimentação com uso forçado de uma das mãos.

Os dados provenientes de estudos longitudinais se caracterizam pela

seqüência de medidas observadas no tempo de duas ou mais observações em um

mesmo animal. Tais dados apresentam estrutura hierárquica, uma vez que as

medidas repetidas são aninhadas dentro de cada um dos indivíduos. A estrutura

hierárquica deve levar em consideração a suposição de que as observações entre

sagüis sejam independentes e que as aninhadas em cada animal possuam a

característica da dependência, isto é, se correlacionam. O modelo linear ou não-

linear de efeitos mistos ou modelo de efeitos aleatórios permite analisar dados

longitudinais, incorporando a dependência e a estrutura de correlação dos erros

(Pinheiro & Bates, 2000, Twisk, 2006).

Uma adaptação nas fases de desenvolvimento baseada nos dados

hormonais também foi realizada para fazer outro tipo de análise dos efeitos dos

hormônios sobre a idade e a preferência manual. Nesse caso, os dados foram

27

divididos, considerando as fases pré-púbere, púbere e pós-púbere, usando os

seguintes critérios:

Pré-púbere: valores basais até os hormônios se elevarem até 1,5 vezes em

relação ao valor basal.

Púbere: quando ocorrerem até três ciclos ovulatórios consecutivos nas

fêmeas e, nos machos corresponde até 90 dias após o início da elevação dos

andrógenos.

Pós-púbere: ciclos restantes conforme a duração da coleta.

Utilizou-se o Modelo de Efeitos Mistos para dados contínuos e discretos de

acordo com a variável resposta (variável a ser comparada com as demais). Para

efeitos de análise, os dados foram transformados utilizando-se logaritmo. Nos testes

utilizados foram considerados significativos os resultados cujos valores de p fossem

iguais ou menores que 0,05.

As análises estatísticas foram desenvolvidas no programa computacional R6

usando estimativas de Máxima Verossimilhança Restrita para o ajuste dos modelos

de efeitos aleatórios.

28

RESULTADOS

Efeito da idade na preferência manual em atividade forçada

O comportamento da preferência manual do animal ao pegar o alimento,

representado pelo índice de preferência manual para a alimentação forçada, está

apresentado na Figura 1 para cada um dos animais observados. Constata-se que,

com exceção do sagüi Belo, Janete e Joana, os animais apresentaram uma

evolução ao longo dos estágios de desenvolvimento na definição da lateralidade.

Os índices de preferência manual na fase adulta tendem a se aproximar de 1 (um),

ou seja, o módulo da diferença entre o uso da mão direita e esquerda corresponde

praticamente ao total de tentativas realizadas pelos animais para pegar o alimento.

Belo caracteriza-se por um comportamento ambidestro já que o valor da diferença

entre o uso das mãos aproxima-se de zero, ou seja, realiza o mesmo número de

tentativas a mão esquerda e direita. Enquanto que Joana e Janete desde a fase

infantil já haviam definido a lateralidade nesta atividade forçada.

Fase de Idade

Índi

ce d

e Pr

efer

ênci

a M

anua

l1,0

0,5

0,0

AdultaSub-adultaJuvenilInfantil AdultaSub-adultaJuvenilInfantil

AdultaSub-adultaJuvenilInfantil

1,0

0,5

0,0

AdultaSub-adultaJuvenilInfantil

1,0

0,5

0,0

Agrião Belo Biona Flor

Flora Francisco Jandira Janete

Joana João

João

A griãoBeloBionaF lorF loraF ranciscoJandiraJaneteJoana

A nimal

29

Figura 1 – Evolução do Índice de preferência manual para alimentação forçada em

Callithrix jacchus nos estágios do desenvolvimento.

O índice médio de preferência para as fêmeas foi de 0,70 enquanto dos

machos foi de 0,56 e não houve diferença estatística entre os sexos. Em relação aos

aspectos ontogenéticos desse comportamento, se observou variações no índice

médio da preferência manual (HI) dos sagüis ao longo do desenvolvimento.

Verificou-se uma tendência crescente do índice de preferência manual para a

alimentação forçada à medida que o animal amadurecia em seu ciclo de vida,

mostrado por uma maior consistência do uso de uma das mãos, esquerda ou direita,

com o passar do tempo. Na fase infantil, a média dos índices de lateralização foi de

0,41 (desvio padrão 0,37), para as fases juvenil e subadulta corresponderam a 0,61

e 0,67(desvio padrão 0,27 respectivamente) subindo para 0,87 (desvio padrão 0,27)

na fase adulta.

30

A Figura 2 permite observar que o animal tende a diminuir a variação no uso

das mãos na atividade de pegar o alimento com o passar do tempo.

Fase

Índi

ce d

e Pr

efer

ênci

a M

anua

l

AdultaSub-adultaJuvenilInfantil

1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0

Figura 2 - Índice de preferência manual na alimentação forçada de acordo com as

fases do desenvolvimento em sagüi comum.

Com base no modelo estatístico ajustado, os resultados confirmam a

influência significativa da idade na definição da preferência manual para a

alimentação forçada, indicando que à medida que o animal passa de uma fase do

desenvolvimento para outra, o índice de preferência manual aumenta em 2,44

vezes em proporção (Anexo 3).

O teste de comparação entre as médias (Tabela 2) revela que existe diferença

significativa entre as etapas do desenvolvimento. A fase infantil difere das fases

sub-adulta e adulta e a juvenil, da adulta. Com isso, pode-se dizer que o processo

de definição do uso das mãos para pegar o alimento ocorre entre a fase juvenil e a

adulta do animal.

31

Tabela 2 – Valores encontrados no pós-teste (Teste de Comparação entre as

Médias) dos Índices médios de preferência manual conforme as fases do

desenvolvimento em C. jacchus

Fases de Idade Juvenil Subadulto AdultoInfanti 0,1272 0,0174* 0,0002**Juvenil 0,7599 0,0264*Subadulto 0,1901

*valor-p significativo a 5%**valor-p significativo a 1%

Efeito do sexo e dos hormônios gonadais na preferência manual em atividade

forçada

Quanto ao efeito do sexo no uso das mãos, não houve diferenças

significativas na preferência manual entre machos e fêmeas, conforme demonstrado

pelo teste estatístico aplicado (modelo linear de efeitos mistos), representado por p =

0,808.

A ação dos esteróides gonadais, no desenvolvimento, foi baseada no perfil

hormonal padrão durante a puberdade. Os resultados encontrados mostram

claramente os efeitos dos hormônios sobre a idade e a preferência manual. Para as

fêmeas, observa-se um efeito da progesterona sobre as fases da puberdade, ou

seja, ao longo do desenvolvimento do animal; o mesmo não ocorre com o estradiol.

Nos machos, os andrógenos exerceram efeito principalmente na fase púbere,

encontrando-se uma diferença significativa nos valores médios entre as fases pré e

pós-púbere. Foi encontrada uma relação entre os níveis hormonais médios e as

fases do desenvolvimento. Progesterona: Pré (média= 116,3 e desv pad = 113,6),

Púbere (média= 270 e desv pad= 376) Pós (média= 451,8 e desv pad = 475,2).

Estradiol : Pré (Média= 31,29 e desv. pad. = 62,83), Púbere (Média= 57,4 e desv.

pad. = 113,6), Pós (Média= 30,34 e desv. pad. = 53,6= 74,7). Andrógenos : Pré

32

(Média= 97,6 desv. pad. = 74,7) Púbere (Média= 143,4 e desv. pad. = 89,4), Pós

(Média= 153,5 e desv. pad. = 76,3).

A ação dos hormônios, comparada isoladamente ao módulo do índice de

preferência manual (mod HI), evidencia novamente o efeito da progesterona sobre a

lateralidade manual, ocorrendo uma variação proporcional entre os níveis

hormonais e o índice de preferência manual. Tal efeito não foi demonstrado nem

pelo estradiol nem pelos andrógenos, conforme mostrado na Tabela 3.

Tabela 3. Coeficientes estimados do índice de preferência manual em C. jacchus em relação aos esteróides gonadais.

As Figuras 3A e 3B ilustram a variação da preferência manual, dos dez

indivíduos estudados, em função das fases da puberdade.

VariáveisFêmeas

Estimativa Erro Padrão Valor p

Efeitos Fixos Intercepto 0,722 0,304 0,019Progesterona 0,001 0,001 0,017Estrógeno -0,002 0,002 0,383Efeitos Aleatórios Intervalo de Confiança

Limite inferior

Estimativa Limite superior

erceptointσ 0,285 0,601 1,270

residual2σ 1,533 1,720 1,930

MachosEfeitos FixosIntercepto 1,431 0,647 0,030Andrógeno -0,001 0,002 0,580Efeitos Aleatórios Intervalo de Confiança

Limite inferior

Estimativa Limite superior

erceptointσ 0,476 1,074 2,426 residual

2σ 1,365 1,610 1,898

33

Fases da Puberdade

Índi

ce d

e Pr

efer

ênci

a M

anua

lPósPúberePré

1,00

0,75

0,50

0,25

0,00

PósPúberePré

1,00

0,75

0,50

0,25

0,00

PósPúberePré

Biona F lor F lo ra

Jandira Janete Joana

Fases da Puberdade

Índi

ce d

e Pr

efer

ênci

a M

anua

l

PósPúberePré

1,00

0,75

0,50

0,25

0,00

PósPúberePré

1,00

0,75

0,50

0,25

0,00

Agrião Belo

Francisco Joao

Figura 3A. Índice de preferência manual de acordo com as fases da puberdade nas

fêmeas; 3B. Índice de preferência manual na puberdade em machos.

A

B

34

DISCUSSÃO

Os resultados apontam para uma influência hormonal e da idade sobre a

preferência manual em C. jacchus. Observa-se que ocorre uma estabilização da

preferência manual na maioria dos indivíduos à medida que evoluem nas fases do

desenvolvimento. Isso parece mais evidente a partir do período juvenil, coincidindo

com a puberdade e as transformações hormonais envolvidas nesse período. De

fato, observou-se uma ação da progesterona e dos andrógenos sobre o

desenvolvimento dos sagüis, indicado pela relação entre os valores hormonais e as

etapas da puberdade. Quando tais hormônios foram associados ao módulo do

índice de preferência manual, encontrou-se uma relação significativa apenas da

progesterona, não ocorrendo o mesmo para os andrógenos e o estradiol.

Os animais pesquisados mostraram que a preferência manual tende a se

estabilizar ao longo do desenvolvimento ontogenético, a exceção de alguns

indivíduos, sendo que um macho apresentou comportamento ambidestro por quase

todo tempo e duas fêmeas que manifestaram a lateralidade desde o período infantil.

Desse modo, diferenças na lateralidade manual ocorrem de acordo com a idade.

Tais resultados corroboram com achados da literatura, como os encontrados por

Westergaard & Suomi (1993) que verificaram variações da preferência manual com

a idade em macacos-prego (Cebus apella) ao aplicar dois tipos de testes de

preensão. Os adultos apresentaram maior lateralidade no uso das mãos,

principalmente direita, quando comparados aos mais jovens. Chimpanzés (Pan

troglodytes), quando testados em dois momentos da ontogênese, exibiram

concordância na direção da rotação da cabeça e no uso das mãos, aos três meses

e aos três e cinco anos, respectivamente. Os autores sugerem que o desvio da

35

lateralidade nos primeiros três meses de vida prediz a preferência manual

posteriormente, indicando a existência de um mecanismo motor específico que atue

nesses movimentos (Hopkins & Bard, 2000).

Em sagüis (Callithrix jacchus), variações na preferência manual em testes de

preensão de alimento foram observadas por Hook-Costigan & Rogers (1995),

principalmente no período subadulto (12-14meses) e no início do adulto (18-

22meses). Os autores sugerem que a preferência manual se estabilize aos 18

meses. No entanto, nossos resultados apontam para uma estabilização mais

precoce, que se inicia na fase subadulta (10-15meses) e se concretiza no período

adulto (> 15 meses). Em trabalho posterior, Hook & Rogers (2000) observaram um

efeito significativo da idade na assimetria manual, evidenciada já nas fases infantil e

aumentando na juvenil; após esse período, a consistência no uso das mãos se

manteve. Tais dados são similares aos do presente estudo, no qual a preferência

manual se manifestou desde a infância em duas fêmeas e, a partir do período

juvenil nos demais animais, mantendo a consistência em toda etapa experimental.

A ausência de dimorfismo sexual no uso das mãos, em sagüis, foi

demonstrada por este e outros estudos (Cameron & Rogers, 1999; Sousa et al,

2001; Sousa et al., 2000) Apesar de nossos dados não terem demonstrado

diferenças significativas entre os sexos, o índice de preferência manual das fêmeas

exibiu maior grau de assimetria que dos machos. No entanto, há de se ressaltar que

o pequeno número da amostra possa intervir nessa diferença. Em todo caso, a

literatura tem demonstrado maiores graus de assimetria em fêmeas. Lacreuse &

Fragaszy (1996) verificaram uma lateralidade mais acentuada nas fêmeas de

macacos-prego (Cebus apella), apresentando uma associação positiva com a idade.

Em fêmeas do gênero Hylobates (gibões) a lateralidade manual também foi mais

36

acentuada quando comparadas aos machos (Sttaford, 1990). A tendência a maior

intensificação da assimetria manual nas fêmeas pode ser indicativa da ação de

hormônios sexuais.

A relação entre hormônios e fases do desenvolvimento tem sido evidenciada

pelo processo de aceleração do crescimento e maturação sexual, tanto em humanos

como em primatas não humanos (Bernestein et al, 1991; Chandolia et al,2006). Em

mulheres, as flutuações hormonais ocorridas durante o ciclo menstrual parecem

afetar o desempenho em ações que exijam habilidades motoras. Hampson & Kimura

(1988) verificaram melhor desempenho em testes de habilidades motoras durante a

fase lútea média, coincidindo com maiores níveis de estradiol e progesterona. No

entanto, o estradiol não demonstrou ter efeito significativo em atividades envolvendo

habilidades motoras em fêmeas de macacos rhesus ovarectomizadas que

receberam reposição hormonal. A idade foi um fator influente na velocidade de

execução do movimento, mostrando que as macacas mais velhas eram mais lentas

que as jovens (Lacreuse & Herdon, 2003). No envelhecimento, a perda da

velocidade e precisão em movimentos, principalmente mais complexos, parece estar

relacionada à atrofia de áreas cerebrais importantes para função motora, como

grupos de neurônios ligados ao sistema dopaminérgico situados principalmente nos

núcleos da base. Acredita-se que o estradiol exerça um efeito protetor nesse

sistema. Lacreuse et al (2005) verificou uma associação importante entre sexo e

idade sobre a função motora em macacos rhesus, exibida por um desempenho mais

rápido das fêmeas na realização de testes complexos em relação aos machos. Os

animais selecionados em nosso estudo eram todos muito jovens, de modo que um

efeito marcante do estradiol não foi detectado. Um acompanhamento mais longo

desses animais, adentrando a maturidade e talvez o envelhecimento pudesse trazer

37

maiores informações a respeito da ação desse hormônio sobre a função motora em

relação ao sexo e a idade.

Embora, nos sagüis, os hormônios masculinos não tenham exibido influência

na execução de ações motoras ou na direção da lateralidade manual, em humanos,

a testosterona salivar mostrou uma relação significativa com a preferência manual.

Indivíduos destros, de ambos os sexos, apresentaram maiores níveis de

testosterona salivar que os indivíduos canhotos (Moffat & Hampson, 1996). É

possível que haja uma relação entre andrógenos e preferência manual direita, pois

baixos níveis de andrógenos ou de receptores de andrógenos durante o período de

desenvolvimento cerebral nos machos parecem induzir uma regressão em

determinadas regiões cerebrais, como a área temporo-parietal, resultando num

alargamento do istmo do corpo caloso e, conseqüentemente, redução da assimetria

cerebral funcional. Tal hipótese é reforçada pela maior incidência de preferência

manual esquerda em indivíduos homossexuais masculinos (Witelson, 1991). Uma

associação significativa entre a direção da lateralidade no uso das mãos e níveis de

testosterona plasmática foi observada por Westergaard et al (2000) em macacos

rhesus, vivendo em ambiente natural. As amostras para dosagem hormonal foram

coletadas no período juvenil e correlacionadas com a preferência manual na fase

adulta. Os animais que tiveram maiores níveis de andrógeno, apresentaram maior

tendência ao uso da mão direita. O fato desse hormônio não ter se manifestado de

forma marcante sobre a preferência manual em sagüis não exclui a possibilidade de

agir tanto em nível organizacional, como ativacional. Alguns estudos demonstraram

efeito da testosterona sobre a ontogênese do sistema nervoso e após a puberdade

(Diamond et al, 1981, Diamond, 1991, Tan et al, 1991). Como o presente estudo

apresenta uma amostra muito pequena e se prolongou apenas até o início da idade

38

adulta, pode ser que a inclusão de um número maior de sagüis, por um período

maior de tempo e coletando amostras de sangue para dosagem de testosterona e

não de seus metabólitos, como ocorre nas fezes, o papel desse hormônio fosse

mais evidente sobre a assimetria funcional motora.

Em resumo, os achados deste estudo comprovam as hipóteses de que a

preferência manual nos sagüis está sob influência da idade e, no caso das fêmeas,

de ações hormonais (progesterona) durante o desenvolvimento ontogenético. A

estabilização da preferência manual ocorreu entre o período juvenil e subadulto

coincidindo com a puberdade, momento de maior produção de esteróides gonadais.

A progesterona correlacionou-se positivamente com a força da lateralidade,

indicada pelo aumento proporcional do hormônio à medida que o módulo do índice

de preferência manual aproximava-se do valor unitário. A ausência de uma

expressão mais significativa dos andrógenos e do estradiol sobre a assimetria no

uso das mãos pode estar relacionada a limitações do estudo, como o tempo de

coleta e o tamanho da amostra. Não foram observadas diferenças entre os sexos

na expressão da lateralidade, conforme o que está demonstrado na literatura.

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43

Artigo 2 – Hand preference in spontaneous activities during ontogeny in

common marmosets (Callithrix jacchus)

Preferência manual em atividades espontâneas durante o

desenvolvimento no sagüi (Callithrix jacchus) (*)

Bernadette Serra Rego, Maria Helena Spyrides & Maria Bernardete Cordeiro de Sousa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN- Brasil

Address correspondence to:

Maria Bernardete Cordeiro de Sousa

Dept of Physiology

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

P.O. Box 1511

59078-970 Natal, RN, Brazil

Tel 55 84 32153409

Fax 55 84 32119206

E-mail:

(*) Artigo a ser submetido à revista Primates ou International Journal of

Primatology

44

Abstract

Published reports point to a symmetrical distribution in hand use preference in

common marmosets, suggesting that they are ambidextrous when performing

spontaneous activities. To investigate the existence of manual laterality in

spontaneous activities during development, 10 common marmosets (Callithrix

jacchus) were studied in the infantile, juvenile and subadult phases during

scratching, hanging, food holding and grooming activities. We found that, although

manual preference in the population did not take place, laterality deviations occurred

at the individual level for the acts of grooming, hanging, and food holding. For these

activities, manual preference remained constant from the infantile period, except for

hanging. There was consistency in hand use for grasping and holding the food

between forced and spontaneous feeding. As has been demonstrated in other

primates, common marmosets have manual preference for determinate

spontaneous actions and this preference seems to remain steady with neuromotor

development.

45

Resumo

Relatos da literatura apontam para uma distribuição simétrica no uso das

mãos em sagüi comum, sugerindo que eles sejam ambidestros na realização de

atividades espontâneas. A fim de investigar a existência de lateralidade manual em

atividades espontâneas durante o desenvolvimento, dez sagüis comuns (Callithrix

jacchus) foram estudados nas fases infantil, juvenil e subadulta durante a expressão

de ações como catar-se, coçar-se, pendurar-se e segurar o alimento. Foi encontrado

neste estudo que, embora não tenha ocorrido preferência manual na população,

desvios da lateralidade ocorreram em nível individual para os atos de coçar-se,

pendurar-se e segurar o alimento. Para essas atividades, a preferência manual se

manteve estável a partir do período juvenil, exceto para pendurar-se. Houve

consistência no uso das mãos para pegar e segurar o alimento quando comparados

na alimentação forçada e espontânea. Como demonstrado em outros primatas, os

sagüis têm preferência manual para determinadas ações espontâneas e se essa

preferência se estabiliza a partir do estágio juvenil.

46

INTRODUÇÃO

A lateralidade no uso dos membros tem sido evidenciada em várias espécies

de vertebrados. Diversos estudos apontam para presença de preferências por patas

ou mãos em diferentes grupos de vertebrados (Vallortigara et al, 1999). A presença

de assimetria nos vertebrados com uma organização cerebral mais simples pode

indicar que, em animais cujo cérebro é mais complexo, como os primatas, a

assimetria no uso dos membros se manifeste espontaneamente nas atividades

cotidianas. No entanto, ainda há poucos dados sobre a lateralidade manual em

atividades espontâneas nos primatas. Pesquisas sobre o uso espontâneo das mãos

ao tocar a face em grupos diferentes de primatas, incluindo antropóides, apontam

para resultados diversos. A preferência manual para tocar a face foi evidenciada

para os antropóides, mas não para os outros macacos, por Diamond & Harries

(1984). Entretanto, o desvio no uso das mãos, para essa mesma atividade, foi

observada em duas espécies do gênero Macaca, sugerindo que a lateralização em

movimentos espontâneos, como o toque na face, se apresente, de forma mais

ampla, nos primatas (Suarez & Gallup, 1986). Babuínos apresentaram preferência

manual direita ao realizar gestos espontâneos vinculados à comunicação

(Merguerditchian & Vauclair, 2006), enquanto orangotangos tenderam a usar mais a

mão esquerda para tocar, coçar ou manipular partes da face, cabeça e corpo

(Rogers & Kaplan, 1996).

Em testes de preensão, costuma haver uma variabilidade inter-específica na

assimetria manual e é possível que isso também ocorra para gestos manuais não

relacionados à preensão de alimento. A alimentação espontânea em primatas, por

47

meio da preensão simples de alimento, tem sido utilizada como indicador da

preferência manual (Forsythe & Ward, 1988; Hopkins et al, 2005).

Em humanos, a consistência no uso das mãos se inicia nos estágios

precoces do desenvolvimento e é influenciada pelo sexo e pela cognição (Gottfried

& Bathurst, 1983). Nos primatas não humanos, a preferência manual parece se

estabilizar com o tempo (Meunier & Vauclair, 2007) e a consistência no uso das

mãos pode ser evidenciada ao longo de um ou mais testes (Lehman, 1980, 1989).

No sagüi comum (Callithrix jacchus), Box (1977) verificou a consistência no

uso das mãos para pegar e segurar o alimento durante a alimentação espontânea e

na tendência da assimetria manual para a esquerda. De modo contrário, Rothe

(1973) notou que dos oito animais que apresentaram lateralidade manual em

atividades espontâneas, seis usaram mais a mão direita, porém, tal comportamento

não se manteve ao longo do experimento. Guerra et al (1997) também encontraram

flutuações no uso das mãos em C. jacchus e C. penicillata. Ao comparar ações

espontâneas com outras mais complexas, os autores observaram maior assimetria

nos movimentos de maior complexidade, como pegar o alimento dentro de um frasco

de vidro ou de um tubo de plástico opaco.

O presente estudo buscou verificar se ocorre lateralidade manual durante o

desenvolvimento, no sagüi comum (Callithrix jacchus), em atividades espontâneas

assim como verificar se a consistência se mantém quando se compara a mão usada

para pegar e para segurar o alimento em atividades espontâneas e no uso forçado

de uma das mãos.

MÉTODOS

Atividades Espontâneas

48

Para avaliar a preferência manual em atividades espontâneas foram

selecionados dez indivíduos da espécie Callithrix jacchus (seis fêmeas e quatro

machos), vivendo em grupos familiares e habitando em viveiros no Núcleo de

Primatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil.

Os animais receberam duas refeições ao dia, com dieta balanceada e água ad

libitum. Os animais mantiveram contato olfatório, visual e auditivo com outros

residindo em gaiolas separadas. A identificação individual dos sagüis foi feita por

meio de pintura com tinta atóxica, realizada em diferentes partes do corpo (cauda,

tufos, lombo, membros superiores ou inferiores). O período total de coleta de dados

ocorreu entre junho de 2006 e setembro de 2007. Os animais incluídos neste

estudo estão descritos na Tabela 1.

Tabela 1. Dados dos animais observados durante seu desenvolvimento.

Animal Densidade de indivíduos por área da gaiola

Sexo Data do nascimento

Janete Jandira (G)

0.5 indiv./m2 FF

06/03/06

JoãoJoana (G)

0.8 indiv./m2 MF

28/03/06

Flor Flora (G)

0.7 indiv./m2 FF

30/03/06

BeloBiona (G)

1 indiv./m2 MF

12/05/06

Francisco 0.7 indiv./m2 M 11/10/06

Agrião 0.6 indiv./m2 M 11/07/06

(G) = gêmeos

Classificação etária

49

Os animais foram observados por um período de 11 meses, iniciou-se a partir

do quarto mês e completou-se no 150 mês de idade. Apenas um animal (Francisco)

começou a ser observado no início do período juvenil. As fases do desenvolvimento

foram consideradas de acordo com Yamamoto (1993) em: infantil (0 a 5meses),

juvenil ( 5,1 a 10 meses) e subadulto (10,1- 15 meses)

Procedimentos Experimentais

Os comportamentos registrados incluíram catação (auto-catação e catação

social), coçar, pendurar e segurar o alimento, num total de 44 sessões. A catação

consiste no cuidado da pele e dos pêlos do corpo usando as mãos, língua ou

dentes (Goosen, 1978). Durante a catação, é comum o uso alternado das mãos. O

ato de coçar consiste numa atividade reflexa repetitiva, desencadeada por um

estimulo irritativo local ou por estresse (Guyton & Hall, 2006; Brent et al, 2002). Para

se pendurar na grade ou em galhos de árvores, os sagüis podem utilizar os dois

membros superiores ou apenas um deles, deixando os membros inferiores livres.

Para segurar o alimento, o animal ficava geralmente sentado, mantendo os

membros superiores livres.

Durante cada sessão se verificou: (1) a mão preferencialmente usada para

segurar o alimento enquanto se alimentavam; (2) o uso das mãos em atividades

espontâneas como catação, coçar-se e pendurar-se na grade. As observações

foram feitas por meio de registro comportamental contínuo durante 10 minutos,

semanalmente, num total de 40 sessões por animal. O experimento ocorreu no

período da manhã, durante e após a alimentação. Para todos os comportamentos

só foram considerados os usos dos membros superiores.

50

Análise estatística

Variáveis estudadas

Durante cada sessão foram registradas as freqüências de expressão das

atividades espontâneas tais como: catação, coçar-se, pendurar-se e segurar o

alimento com a mão direita (D), esquerda (E) ou com ambas (A), considerando o

total de realizações do dia observado. O índice de preferência manual ou

Handedeness Index (HI) (Hopkins ,1999) foi adaptado para obter a proporção do

uso das mãos, resultando na seguinte fórmula:

AED

EDmódHI

++−

=

O índice corresponde ao módulo da diferença entre a freqüência absoluta de

uso das mãos direita e esquerda ( )ED − sobre o total de vezes com que o animal

realizou determinada atividade espontânea ( )AED ++ . A variável resposta dada

pelo índice de preferência manual absoluto (mód HI) foi utilizada para verificar a

intensidade da preferência manual, variando de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1 for

o valor de HI, maior será a lateralidade manual nas atividade espontâneas. Em

atividades caracterizadas pelo uso das duas mãos simultaneamente, este índice

apresenta valores próximos de zero.

Modelagem Estatística

Os dados provenientes de estudos longitudinais se caracterizam pela

seqüência de medidas observadas no tempo de duas ou mais observações em um

mesmo animal. Geralmente, tais medidas são observadas em tempos diferentes. O

modelo linear ou não-linear de efeitos mistos ou de efeitos aleatórios é um modelo

51

estatístico que permite analisar dados longitudinais, incorporando a dependência e

a estrutura de correlação dos erros, é o (Twisk, 2006).

A preferência manual medida ao longo do tempo é um exemplo disso, pois o

interesse está centrado em avaliar a evolução da lateralidade dos animais, como o

módulo do índice de preferência manual (mód HI), ao longo das fases da vida.

Sendo assim, é necessário ajustar um modelo que simultaneamente leve em

consideração a estrutura média geral, como também sua variabilidade inter e intra-

individual. Os modelos de efeitos aleatórios para dados discretos longitudinais

permitem que os coeficientes da regressão variem entre os indivíduos. Esses

modelos têm dois componentes: um intra-indivíduo e outro entre indivíduos

(Pinheiro & Bates, 2000, Verbeke & Molenberghs, 2000).

Consideraram-se significativos os resultados cujos valores de p fossem iguais ou

menores que 0,05.

As análises estatísticas foram desenvolvidas no programa computacional 6,

de domínio público e disponível no endereço http://www.r-project.org/, por meio

do comando glmmPQL, usando estimativas de Máxima Verossimilhança Restrita

para o ajuste dos modelos de efeitos aleatórios para dados discretos.

RESULTADOS

Percentual de lateralidade nas atividades espontâneas

A Tabela 1 apresenta as proporções de uso das mãos para cada atividade

espontânea: catação (autocatação e catação social), coçar, pendurar e segurar o

alimento, em sagüis (Callithrix jacchus).

52

Tabela 1. Proporção média (%) de uso das mãos em atividades espontâneas em dez sagüis.

Atividade

espontânea

Ambas Direita Esquerd

a

Valor-p

Catação

Coçar

Pendurar

Segurar o alimento

0,767a

0,006a

0,323a,b

0,064a

0,115b

0,522b

0,401a

0,582b

0,114b

0,473b

0,282b

0,361b

0,000

0,000

0,018

0,000a,b,c letras iguais não apresentam diferença significativa ao nível de significância de

5%.

Catação

A análise mostrou diferenças significativas no uso das mãos entre atividades

unimanual e bimanual, com maior freqüência de uso simultâneo das duas mãos

para catar (p< 0,001), com percentual 76,7%. O teste de comparação das médias

não revelou diferenças significativas na direção da preferência manual quando

apenas uma das mãos foi utilizada (p = 0,999), sendo 11,5% e 11,4% para a mão

direita e esquerda, respectivamente. A Figura 1a ilustra os resultados encontrados

nesse comportamento.

Coçar-se

Ocorreu maior freqüência de atividade unimanual para execução desse

comportamento (p < 0,001), com maior freqüência de uso das mãos direita (52,2%)

ou esquerda (47,3%), conforme ilustrado na Figura 1b. No entanto, não houve

diferenças na direção da preferência manual (p= 0,369).

53

Pendurar-se

Neste caso, verificou-se uma atividade mais lateralizada (p = 0,018). Quando

comparada à direção no uso das mãos, foi encontrada maior freqüência da direita

(40,1%) sobre a esquerda (28,2%), diferença esta significativa (p= 0,015). Tal

fenômeno ocorreu nas fases iniciais do desenvolvimento. Na Figura C, pode-se ver

o perfil desse comportamento.

Segurar o alimento

Na Figura 1d, observa-se que para segurar o alimento ocorreu maior

freqüência do uso de uma das mãos do que de ambas (p= 0,000), porém quanto à

direção da lateralidade, não houve uma tendência de uso preferencial de mão

direita (p= 0,073) com exceção de um animal cujo uso preferencial foi da mão

esquerda, uma freqüência de 89%.

54

Figura 1: a) Proporção média de uso das mãos durante a catação; b) Proporção de uso manual (D=direita; E=esquerda ou A= bimanual) durante a atividade de coçar–se; c) Proporção de uso das mãos durante a atividade de pendurar-se; d) Proporção de uso manual durante a atividade de segurar o alimento.

Consistência das Atividades Espontâneas

A análise da consistência da lateralização manual nas atividades

espontâneas não detectou diferenças significativas nas fases de desenvolvimento

dos animais para as atividades: catação (p= 0,730), coçar (p= 0,130) e segurar

alimento (p= 0,905), ou seja, não houve alterações importantes no uso das mãos

em função da idade. A atividade de se pendurar apresentou diferença significativa

Preferência Manual

Pro

porç

ão M

édia

EDA

1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0

João

AgriãoBeloBionaFlorFloraFranciscoJandiraJaneteJoana

Sagui

1a

Preferência Manual

Prop

orçã

o M

édia

EDA

1,0

0,8

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João

AgriãoBeloBionaFlorFloraFranciscoJandiraJaneteJoana

Sagui

1b

Preferência Manual

Pro

porç

ão M

édia

EDA

1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0

João

A griãoBeloBionaF lo rF lo raF ranciscoJand iraJaneteJoana

Sagui

Preferência Manual

Prop

orçã

o M

édia

EDA

1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0

João

A griãoBeloBionaFlorFloraFranciscoJandiraJaneteJoana

Sagui

1c

Preferência Manual

Prop

orçã

o M

édia

EDA

1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0

João

A griãoBeloBionaF lo rF lo raF ranc iscoJandiraJaneteJoana

Sagui

1d

Pro

porç

ão m

édia

Preferência manual

55

ao longo das fases do desenvolvimento (p= 0,003). A fase infantil divergiu

significativamente das fases juvenil (p= 0,008) e sub-adulto (p= 0,004). Contudo,

não houve diferença entre o período juvenil e sub-adulto (p= 0,920). Na Tabela 2

estão incluídas as médias para cada comportamento. Os valores do índice de

preferência manual nas atividades espontâneas apresentam-se baixos,

possivelmente por serem atividades em que os animais tendem a desenvolver

habilidades com ambas as mãos, simultaneamente ou alternadamente.

Tabela 2. Módulo do índice de lateralidade (mód HI) nas atividades espontâneas conforme as fases do desenvolvimento

a,b,c letras iguais não apresentam diferença significativa ao nível de significância de 5%.

Consistência no uso das mãos entre pegar e segurar o alimento

A consistência no uso das mãos para segurar o alimento foi comparada com

aquela observada na atividade forçada durante a alimentação, ou seja, quando o

animal só pode usar uma das mãos por meio de dispositivo descrito em Sousa et al

(2001). Uma análise de regressão entre essas variáveis demonstrou que o

Atividades espontâneas

Infantil Juvenil

Sub-adulto Valor-p

Catação

Coçar-se

Pendurar-se

Segurar o alimento

0,110a

+ 0,185

0,295a

+ 0,247

0,378a

+ 0,216

0,524a

+ 0,380

0,138a

0,162

0,158a

0,148

0,163b

0,167

0,437a

0,252

0,088a

0,092

0,159a

0,133

0,137b

0,094

0,453a

0,251

0,730

0,130

0,003

0,091

56

percentual de uso da mão direita apresentou uma correlação significativa entre

pegar e segurar o alimento na alimentação forçada e espontânea, respectivamente

(p< 0,001). A análise desse comportamento segundo as fases do desenvolvimento,

mostrou consistência no uso da mão de forma significativa para pegar e segurar o

alimento nas fases juvenil (p= 0,000) e subadulta (p= 0,003), mas não na fase

infantil (p= 0,626). A Figura 2 ilustra o comportamento dessas duas atividades nos

três períodos do desenvolvimento.

Consistência para Pegar Alimento

Cons

istê

ncia

par

a Se

gura

r Al

imen

to

1,000,750,500,250,00

1,00

0,75

0,50

0,25

0,00

1,000,750,500,250,00

1,00

0,75

0,50

0,25

0,00

1 2

3

123

Fase

Figura 2. Consistência no uso das mãos para pegar e segurar o alimento durante as

fases do desenvolvimento ontogenético (1= infantil; 2= juvenil; 3= subadulta).

DISCUSSÃO

Os resultados indicam que sagüis tendem a apresentar ambidestria para

atividades espontâneas, evidenciada pela maior freqüência de uso simultâneo das

duas mãos na catação e pela distribuição proporcional entre o uso das mãos direita

e esquerda ao coçar-se, pendurar–se e segurar o alimento. No caso de se pendurar

57

na grade, evidenciou-se uma lateralidade manual nos estágios iniciais do

desenvolvimento, caracterizada pela maior freqüência de uso da mão direita. Uma

comparação da preferência manual para pegar e segurar o alimento mostrou

correlação significativa, indicando consistência no uso das mãos para essas duas

atividades.

O uso das duas mãos para a catação, em sagüis, também foi encontrado por

Rothe (1971) e Sousa et al (2000). De modo contrário, essa atividade apresentou

maior lateralidade nos animais estudados por Guerra et al (1997). Este último

estudo, porém, envolvia duas espécies de calitriquídeos sendo o maior número de

indivíduos pertencentes à espécie C. penicillata. Com base nisso, é possível que

variações interespecíficas possam intervir, uma vez que grande parte das pesquisas

indica que em C. jacchus a catação tende a ser executada bimanualmente.

O coçar-se apresentou maior freqüência de uso de uma das mãos, embora

tenha sido observada uma distribuição proporcional tanto para a mão direita quanto

para a esquerda para o grupo estudado. Resultados semelhantes, para essa

mesma espécie, foram encontrados por Sousa et al (2000) que encontraram maior

desempenho de uma das mãos, mas com distribuição quase igual na preferência

manual. De modo contrário, os micos de cheiro (Saimiri sciureus) parecem

apresentar desvio da lateralidade para a direita ao coçar o corpo (Aruguete et al,

1992). Por outro lado, chimpanzés não parecem apresentar assimetria manual em

certas atividades espontâneas como catação (Marchant & McGrew,1996). No

entanto, Hopkins et al, (2006) observaram uma maior tendência desse animais para

coçar o lado esquerdo do corpo, o que geralmente era feito com a mão direita.

Variações entre os grupos de primatas devem ocorrer, mas é provável que, o ato de

coçar-se não se manifeste de modo assimétrico em muitas espécies, uma vez que

58

se trata de uma atividade automática, simples. Tal comportamento pode ser

explicado pela tendência do animal a buscar o lado contralateral do corpo que irá

coçar.

Na atividade de se pendurar, os sagüis na fase infantil apresentaram maior

lateralidade, exibindo maior freqüência de uso da mão direita na fase infantil, porém

observou-se redução no desvio da lateralização nas fases juvenil e subadulta,

tendendo a mostrar maior habilidade no uso das duas mãos com o passar do

tempo. De acordo com a teoria das origens posturais de MacNeilage et al., (1987)

uma especialização sensório-motora do hemisfério direito (PME), estaria

relacionada a um ajustamento da postura, seguida de uma especialização do

hemisfério esquerdo no controle postural em ancestrais prossímios. Nesse caso, o

animal se sustentaria com o membro direito na árvore e com o esquerdo capturaria

a presa (predação unimanual). A transformação ocorrida na lateralidade dos sagüis

durante as fases de crescimento pode ser conseqüente ao desenvolvimento de

habilidades adquiridas à medida que ocorre o desenvolvimento neuromotor.

Resultados similares foram encontrados por Sousa et al (2001) e Guerra et al

(1997) em animais adultos.

Á exceção do ato de se pendurar, as demais atividades não apresentaram

alterações importantes na preferência manual nos estágios do desenvolvimento,

refletindo certa estabilidade no uso proporcional das mãos nas atividades

lateralizadas e no uso bimanual para a catação.

Em atividade forçada, os sagüis demonstraram estabilização na preferência

manual à medida que a idade avançava (como discutido no artigo 1). Quando

comparadas às atividades de pegar e segurar o alimento observou-se uma relação

positiva no uso das mãos, ou seja, uma tendência do animal usar a mesma mão

59

para pegar e segurar o alimento. É interessante notar que os animais mostraram

estabilidade no uso das mãos tanto na atividade forçada como na espontânea, mais

evidenciada na fase juvenil do que na infantil e sub-adulta. Nessa mesma espécie,

Box (1977), ao pesquisar o uso das mãos em sete categorias comportamentais,

verificou consistência para a maioria dos indivíduos em apenas duas categorias:

pegar e segurar o alimento. O uso das mãos nessas duas atividades também

demonstrou correlação significativa nos sagüis estudados por Sousa et al (2000),

com total coincidência na preferência manual tanto para a atividade forçada, como

para a espontânea.

A complexidade do teste experimental é um fator influente na determinação

da estabilidade e força da preferência manual. Pesquisadores defendem que testes

de maior complexidade, por exigir mais habilidade em movimentos finos, são mais

indicados para verificar a existência de especialização no uso das mãos (Fagot &

Vauclair,1991). Estudos utilizando testes de atividades uni e bimanuais

coordenadas mostraram consistência na preferência manual em ambas as

atividades, porém houve maior lateralidade nas ações bimanuais coordenadas que,

geralmente, eram mais complexas (Blois-Heulin et al, 2006; Meunier & Vauclair,

2007; Lillak & Phillips, 2008).

Os atos de pegar e segurar o alimento envolvem basicamente os mesmos

grupos musculares e isto pode explicar a tendência dos sagüis a usar o mesmo

membro nas duas atividades, ou seja, a medida que desenvolvem maior habilidade

em um dos lados, tendem a usar mais a mesma mão. Um exemplo foi observado

em macacos-prego, cuja preferência manual manteve-se estável em testes cuja

atividade motora foi semelhante (Lillak & Phillips, 2008). Lehman (1980a) observou

consistência no uso das mãos em teste de simples preensão de alimento em

60

macacos do Velho Mundo (Macaca irus) e uma relação entre o grau de lateralidade

e o peso dos animais. É importante salientar que o efeito do peso com a

lateralização pode ser resultado da associação do peso com a idade, causando

assim uma possível relação enviesada entre peso e o grau de lateralização. Neste

trabalho detectou-se uma maior consistência da lateralidade longo do

desenvolvimento dos animais. De acordo com Lehman (1980a) primeira escolha no

uso das mãos talvez esteja relacionada a fatores intrínsecos do animal, mas que à

medida que o animal cresce, fatores do desenvolvimento possivelmente

mantenham essa tendência. Desse modo, os fatores intrínsecos podem ser

genéticos e, posteriormente, sofrer influência de fatores ambientais que venham a

intervir no desenvolvimento neuromotor.

Apesar das limitações encontradas, como o pequeno número de animais na

amostra e a não inclusão da fase adulta, os resultados encontrados nesse trabalho

corroboram com os reportados na literatura. Pesquisas futuras, incluindo

observações por um período maior de tempo, incluindo um maior número de

comportamentos e de indivíduos, assim como abrangendo mais detalhadamente as

fases do desenvolvimento, até a fase adulta, poderão elucidar melhor o perfil da

preferência manual nas atividades espontâneas dos sagüis. Em todo caso, o uso

unimanual exibido em alguns comportamentos espontâneos relatados neste estudo

e sua consistência na fase juvenil do desenvolvimento, na qual ocorre o inicio da

estabilização, podem indicar que os sagüis possam apresentar preferência manual

para algumas atividades espontâneas como ocorre com a atividade forçada.

61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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64

DISCUSSAO GERAL

A análise da assimetria manual ao longo da ontogênese confirma a hipótese

de que a idade e os hormônios sexuais exerçam influências sobre a lateralidade

manual. O índice de preferência manual da maioria dos animais estudados

aproxima-se do valor absoluto entre as fases juvenil e subadulta. Na fase infantil, a

preferência manual oscilou quanto à direção (direita ou esquerda), mas isso se

torna mais estável a medida que adentra o período juvenil e subadulto, mantendo-

se na fase adulta. A definição da preferência manual também foi acompanhada pelo

aumento do grau de lateralidade ao longo das fases do desenvolvimento. Tal fato

coincide com o aparecimento da puberdade e das transformações hormonais

apresentadas pelo indivíduo durante nesse tempo. Verificou-se que alguns

esteróides gonadais tiveram expressão significativa na ontogênese, como os

andrógenos nos machos e a progesterona nas fêmeas. A progesterona também

apresentou uma relação positiva com a preferência manual, na atividade forçada,

principalmente na fase juvenil, ou seja, a medida que ocorreram aumentos nos

níveis de progesterona, evidenciou-se uma melhor definição da lateralidade no uso

das mãos, identificada pelo aumento no índice de preferência manual. Essa

associação entre assimetria e hormônio, indica que este último pode exercer efeitos

sobre aspectos cognitivos e motores, que aparecem principalmente durante a

puberdade, quando ocorre a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas e,

conseqüententemente, o aumento na secreção dos esteróides sexuais. O fato de o

estradiol e dos andrógenos não terem demonstrado uma expressão significativa na

preferência manual não exclui a possibilidade de agirem sobre essa forma de

assimetria, uma vez que relatos da literatura sustentam a hipótese de sua atuação

65

tanto em níveis organizacionais, quanto ativacionais (Diamond, 1991; Tan et al,

1991). Uma observação experimental desse comportamento por um maior período

de tempo, abrangendo a fase adulta até o início do processo do envelhecimento

acompanhado de um maior números de amostras fecais ou a realização de

amostras plasmáticas poderão elucidar melhor o papel desses hormônios sobre a

preferência manual nos sagüis. A cada dia descobre-se que os hormônios sexuais

participam de forma direta ou indireta na manifestação de determinados

comportamentos vinculados a aspectos cognitivos e motores como, por exemplo,

parece haver uma associação entre níveis de testosterona pré-natal e o

desenvolvimento das mãos e dos pés, refletidos por marcadores como as

impressões digitais e o comprimento dos dedos. Tais marcadores têm sido

associados ao desempenho cognitivo em determinadas tarefas e sugerem um efeito

organizacional dos andrógenos no desenvolvimento cerebral e, conseqüentemente,

na cognição (Sanders et al, 2002). A relação entre habilidades cognitivas e

especialização manual apresenta diferenças entre os sexos quanto ao seu

desempenho em determinados testes (Thilers et al, 2007). Se habilidades cognitivas

sofrem influência de esteróides gonadais, é provável que a assimetria manual

também sofra, uma vez que tais comportamentos resultariam da ação desses

hormônios ao longo da ontogênese e podem se manifestar de uma forma clara ou

sutil, dependendo da espécie estudada e das condições ambientais presentes.

McEwen (1999) sugere que os hormônios sexuais atuem sobre a plasticidade

neuronal durante a vida de um indivíduo e que as diferenças entre machos e

fêmeas na estrutura cerebral e na realização de habilidades motoras e cognitivas

devem estar vinculadas a ação desses hormônios. Considerando-se os dados

levantados por essas pesquisas, pode-se dizer que os esteróides gonadais,

66

possivelmente, atuem tanto em níveis organizacionais quanto ativacionais sobre

regiões cerebrais relacionadas a funções cognitivas e motoras.

A maioria das pesquisas sobre preferência manual concorda com o fato de

que a complexidade do teste interfere nos resultados. Testes mais complexos

requerem uma atividade motora mais fina, podendo inferir especialização manual

(Fagot & Vauclair,1991). Entretanto, Papademetriou et. al. (2005), realizaram uma

meta-análise de diversos estudos sobre preferência manual em primatas não

humanos e verificaram que os trabalhos com aplicação de testes com vários

componentes e com variações posturais, apresentaram resultados inconsistentes

na maioria dos trabalhos. Também foi demonstrado que os testes com muitos

componentes ou complexos demais exibiram resultados diferentes dos testes de

preensão simples de alimento. Para uma análise mais detalhada, dividiram os

testes aplicados aos animais em “com preensão” e “sem preensão”. As atividades

que não envolveram preensão de alimento mostraram que, na maioria dos

trabalhos, não houve preferência manual em nível populacional, apenas

variabilidade individual (Papademetriou et al, 2005). Em nosso estudo, observou-se

que a estabilização da preferência manual foi mais evidente na atividade forçada.

Nas atividades espontâneas a preferência manual se manifestou de forma simétrica

nos animais estudados, isto é, ocorreu uma distribuição proporcional entre destros e

canhotos para as atividades lateralizadas. A catação apresentou uso simultâneo

das duas mãos enquanto o coçar-se, pendurar-se e segurar o alimento mostraram

uso alternado entre as mãos direita e esquerda. A atividade de pendurar exibiu

maior tendência ao uso da mão direita na fase infantil, mas com o tempo, passaram

a usar também a mão esquerda. Tal comportamento sugere que nas fases iniciais

do desenvolvimento, os sagüis tenham mais habilidade com o membro superior

67

direito e, a medida que se desenvolvem, o membro superior esquerdo também

adquire habilidade para essa atividade. Quando se comparou o ato de pegar o

alimento na alimentação forçada com o segurar na atividade espontânea, observou-

se uma correlação positiva na consistência no uso das mãos ao longo da

ontogênese. Isso quer dizer que os animais tendem a usar a mesma mão para

pegar e segurar o alimento, principalmente, a partir da fase juvenil.

Uma das inovações deste trabalho foi a aplicação do método estatístico.

Geralmente, as pesquisas sobre preferência manual apresentam resultados

diversos, às vezes contraditórios, em relação à direção no uso das mãos em uma

mesma espécie. As justificativas para essas diferenças concentram-se

principalmente nos métodos utilizados para medir a lateralidade manual. No entanto,

os estudos de revisão apontam para outros problemas que podem variar desde o

tamanho da amostra, até o ambiente ao qual é realizado o experimento, ou seja, se

no campo ou em cativeiro (Marchant & McGrew, 1991). Em estudos sobre

comportamento, é sabido que, mesmo em ambiente controlado de laboratório,

existem variáveis que escapam o controle. Papademetriou et al (2005), em sua

meta-análise sobre preferência manual em primatas não humanos, utilizaram um

método estatístico que permitiu extrair mais informações de dados que em uma

meta-análise tradicional. O modelo explícito de uma variabilidade individual permitiu

maiores interpretações dos resultados e encontraram alto nível de significância na

variabilidade intra-indivíduo. Baseado nessa análise, os autores sugerem que as

variações individuais contribuem significativamente na manifestação da preferência

manual em primatas. Nos estudos longitudinais é importante considerar as variações

intra-individuais que, se subestimadas, poderão mascarar resultados.

68

A preferência manual de sagüis medida ao longo do tempo é um exemplo

disto, pois o interesse está centrado em avaliar a evolução das preferências de

lateralidade dos animais, como o índice de preferência manual (HI), ao longo das

fases da vida. Sendo assim, é necessário ajustar um modelo que, simultaneamente,

leve em consideração tanto a estrutura média geral, como também sua variabilidade

inter e intra-individual.

O modelo aplicado neste estudo levou isto em consideração de modo que a

preferência manual pudesse ser avaliada de duas maneiras, inter e intra

individualmente. A literatura tem demonstrado que os sagüis apresentam

distribuição simétrica da lateralidade, com distribuição proporcional no uso das mãos

direita e esquerda (Cameron & Rogers, 1999; Sousa et al, 2001). Com base nesses

dados, o índice de preferência manual (HI) foi adaptado sob a forma de módulo (0 a

1), sem considerar a direção no uso das mãos, de modo a levar em conta o grau de

lateralização no uso das mãos. Com isso, os valores foram ajustados ao modelo

linear ou não-linear de efeitos mistos ou modelo de efeitos aleatórios (Twisk, 2006),

que permite analisar dados longitudinais, como a preferência manual (adaptada ao

módulo de HI) e os níveis hormonais ao longo da ontogênese. Isso permite que os

dados sobre a lateralidade sejam modelados considerando perdas de seguimento ou

ausência de informação em algum momento do estudo.

O modelo adaptado para análise do comportamento da assimetria manual

aplicado neste trabalho oferece mais uma opção de análise estatística em estudos

longitudinais fornecendo informações sobre a variabilidade em cada indivíduo ao

longo do tempo, assim como entre os indivíduos.

Por fim, os resultados dessa pesquisa indicam que a preferência manual em

sagüis apresenta variabilidade ao longo do desenvolvimento, tendendo a se

69

estabilizar durante a puberdade quando ocorre a maior produção de hormônios

sexuais. A partir deste trabalho, novas perspectivas para o estudo da lateralidade

manual sobre a visão da endocrinologia comportamental poderão contribuir para o

melhor entendimento da lateralização cerebral e dos aspectos cognitivos, motores e

comportamentais envolvidos.

70

CONCLUSÕES GERAIS

1. A preferência manual se instala no período juvenil, coincidindo com a

puberdade e, mantém a consistência após sua instalação, confirmando a

hipótese primeira.

2. Não se observou dimorfismo sexual no uso das mãos, sendo assim, a

segunda hipótese não foi confirmada. Entretanto, os andrógenos, nos machos, e

a progesterona, nas fêmeas, tiveram expressão significativa na ontogênese

3. O aumento nos níveis de progesterona relacionou-se com a definição da

lateralidade, identificada pelo índice de preferência manual.

4. Em atividades espontâneas a preferência no uso das mãos não demonstrou

sofrer efeito da idade, exceto para pendurar-se e, no geral, teve uma

distribuição simétrica para as atividades observadas.

5. Os animais mantiveram a consistência no uso da mesma mão, para pegar e

para segurar o alimento, principalmente, a partir da fase juvenil.

71

BIBLIOGRAFIA GERAL

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ANEXOS

77

ANEXO 1

Figura 1. Aparato utilizado para verificar a preferência manual na atividade

forçada.

Figura 2. Preferência manual direita.

78

Figura 3. Animais em atividade forçada.

79

ANEXO 2

Dados hormonais das fêmeas de sagüi coletados ao longo do desenvolvimento.

Animal Sexo Data

Intervalo (dias)

Idade em dias Progesterona Estradiol

Janete F 24/8/2006 168 29,81 0,91Janete F 6/9/2006 13 181 106,18 5,29Janete F 13/9/2006 7 188 78,29 0,60Janete F 27/9/2006 14 203 62,67 64,17Janete F 4/10/2006 7 210 51,96 0,28Janete F 15/10/2006 11 221 45,83 1,15Janete F 27/10/2006 12 233 69,10 22,49Janete F 10/11/2006 14 247 50,35 0,66Janete F 24/11/2006 14 261 56,18 43,99Janete F 2/12/2006 8 269 19,86 2,18Janete F 12/12/2006 10 279 78,83 11,71Janete F 23/12/2006 11 290 22,37 11,78Janete F 2/1/2007 10 300 134,82 19,94Janete F 15/1/2007 13 313 36,46 5,41Janete F 28/1/2007 13 326 77,03 9,86Janete F 10/2/2007 13 339 343,93 50,24Janete F 22/2/2007 12 351 74,00 6,99Janete F 1/3/2007 7 358 117,61 9,16Janete F 10/3/2007 9 367 490,32 40,03Janete F 22/3/2007 12 379 68,79 1,47Janete F 30/3/2007 8 387 32,14 13,10Janete F 8/4/2007 9 396 32,32 88,77Janete F 15/4/2007 7 403 112,18 20,64Janete F 23/4/2007 8 411 75,08 38,44Janete F 2/5/2007 9 420 333,74Janete F 10/5/2007 8 428 297,83Janete F 17/5/2007 7 435 350,07Janete F 23/5/2007 6 441 1335,33Janete F 31/5/2007 7 448 667,51

Jandira F 24/8/2006 168 58,37 10,07Jandira F 6/9/2006 13 181 135,51 22,50Jandira F 13/9/2006 7 188 180,88 35,06Jandira F 27/9/2006 14 203 150,45 196,92Jandira F 4/10/2006 7 210 60,58 1,05Jandira F 15/10/2006 11 221 143,28 3,94Jandira F 27/10/2006 12 233 102,62 5,69Jandira F 10/11/2006 14 247 221,02 35,41Jandira F 24/11/2006 14 261 66,74 7,05Jandira F 2/12/2006 8 269 80,25 4,10Jandira F 12/12/2006 10 279 847,54 616,71Jandira F 23/12/2006 11 290 107,65 0,27Jandira F 2/1/2007 10 300 98,51 0,90Jandira F 15/1/2007 13 313 177,18 16,33

80

Jandira F 28/1/2007 13 326 374,66 2,45Jandira F 10/2/2007 13 339 257,58 79,94Jandira F 22/2/2007 12 351 26,09 0,77Jandira F 1/3/2007 7 358 88,26 1,23Jandira F 10/3/2007 9 367 57,09 2,46Jandira F 22/3/2007 12 379 86,16 34,89Jandira F 30/3/2007 8 387 262,06 0,52Jandira F 8/4/2007 9 396 638,61 18,82Jandira F 15/4/2007 7 403 1474,21 28,79Jandira F 23/4/2007 8 411 86,98 80,16Jandira F 2/5/2007 9 420 554,96 11,63Jandira F 10/5/2007 8 428 701,03 24,73Jandira F 17/5/2007 7 435 281,44Jandira F 23/5/2007 6 441 1149,76Jandira F 31/5/2007 7 448 1182,84Joana F 19/9/2006 173 32,42 11,30Joana F 2/10/2006 13 186 69,64 6,24Joana F 16/10/2006 14 200 96,92 0,69Joana F 24/10/2006 8 208 381,83 19,51Joana F 31/10/2006 7 215 347,79 26,84Joana F 8/11/2006 8 223 40,32 14,65Joana F 17/11/2006 9 232 353,14 165,38Joana F 25/11/2006 8 240 192,40 8,02Joana F 5/12/2006 10 250 162,44 2,31Joana F 15/12/2006 10 260 95,53 0,51Joana F 26/12/2006 11 271 203,97 0,18Joana F 6/1/2007 11 282 249,81 3,82Joana F 15/1/2007 9 291 182,77 1,97Joana F 24/1/2007 9 300 329,29 0,04Joana F 4/2/2007 10 310 81,98 0,15Joana F 15/2/2007 11 321 77,18 15,77Joana F 25/2/2007 10 331 305,95 36,87Joana F 10/3/2007 13 344 69,62 0,82Joana F 24/3/2007 14 358 149,16 0,92Joana F 9/4/2007 15 373 18,63 0,43Joana F 23/4/2007 14 387 145,96Joana F 3/5/2007 10 397 100,77Joana F 15/5/2007 13 410 364,35Biona F 15/9/2006 126 45,52 10,29Biona F 30/9/2006 15 141 42,82 9,01Biona F 13/10/2006 13 154 27,22 4,13Biona F 25/10/2006 12 166 0,02 0,83Biona F 5/11/2006 11 177 170,34 0,36Biona F 16/11/2006 11 188 21,79 0,14Biona F 27/11/2006 11 199 1,57 0,61Biona F 8/12/2006 11 210 222,78 0,31Biona F 20/12/2006 12 222 51,66 7,21Biona F 2/1/2007 13 235 0,02 0,14Biona F 16/1/2007 14 249 216,42 13,47Biona F 27/1/2007 11 260 398,69 78,03

81

Biona F 4/2/2007 8 268 20,47 6,38Biona F 15/2/2007 11 279 123,22 30,72Biona F 23/2/2007 8 287 69,34 3,62Biona F 4/3/2007 9 296 561,43 369,89Biona F 15/3/2007 11 307 75,88 7,72Biona F 27/3/2007 12 319 0,02 4,99Biona F 8/3/2007 12 331 47,84 0,18Biona F 20/4/2007 12 343 104,99 5,23Biona F 30/4/2007 10 353 1734,11Biona F 10/5/2007 10 363 229,62Biona F 25/5/2007 15 380 214,80Biona F 6/6/2007 12 392 673,20Biona F 18/6/2007 12 404 64,16Biona F 1/7/2007 13 417 276,12Biona F 15/7/2007 14 431 688,02Biona F 30/7/2007 15 446 750,13Biona F 10/8/2007 11 457 890,97Flor F 15/9/2006 169 243,50 49,6727Flor F 25/9/2006 10 179 162,41 2,1225Flor F 6/10/2006 11 190 39,38 1,4361Flor F 20/10/2006 14 204 151,73 12,7707Flor F 30/10/2006 10 214 58,98 3,8648Flor F 10/11/2006 11 225 457,37 90,3278Flor F 20/11/2006 10 235 43,38 64,0527Flor F 30/11/2006 10 245 8,19 1,2527Flor F 9/12/2006 9 254 42,24 7,0844Flor F 16/12/2006 7 261 67,15 3,2034Flor F 26/12/2006 10 271 18,62 93,1852Flor F 3/1/2007 8 279 2373,25 167,4184Flor F 13/1/2007 10 289 329,12 328,9085Flor F 25/1/2007 12 301 614,39 89,0535Flor F 2/2/2007 8 309 335,94 124,3256Flor F 10/2/2007 8 317 338,26 279,0413Flor F 23/2/2007 13 330 167,12 17,4914Flor F 6/3/2007 11 341 40,44 4,5880Flor F 18/3/2007 12 353 209,29 116,6752Flor F 31/3/2007 12 365 174,07 39,1439Flor F 13/4/2007 13 378 9,27 32,5220Flor F 24/4/2007 11 389 69,75Flor F 4/5/2007 10 399 105,91Flor F 15/5/2007 11 410 374,15

Flora F 6/10/2006 179 420,95 241,7923Flora F 20/10/2006 14 193 41,76 19,8875Flora F 3/11/2006 14 207 353,17 39,2253Flora F 11/11/2006 8 215 226,67 14,0397Flora F 20/11/2006 9 224 368,30 69,2338Flora F 30/11/2006 10 234 408,38 134,6089Flora F 11/11/2006 11 245 66,26 39,6039Flora F 23/12/2006 12 257 92,24 54,6426

82

Flora F 3/1/2007 11 268 116,43 367,1489Flora F 13/1/2007 10 278 192,20 7,5676Flora F 25/1/2007 12 290 1225,05 4,8866Flora F 5/2/2007 11 301 733,46 0,0656Flora F 16/2/2007 11 312 122,20 5,0217Flora F 27/2/2007 11 323 133,89 50,4879Flora F 13/3/2007 14 337 304,12 1,8679Flora F 28/3/2007 15 352 394,66 1,1952Flora F 12/4/2007 15 367 118,53Flora F 25/4/2007 15 382 276,87Flora F 10/5/2007 15 397 621,54

Dados hormonais dos sagüis machos coletados ao longo do desenvolvimentoanimal sexo data intervalo (dias) idade em dias testosteronaBelo M 11/10/2006 152 45,81Belo M 21/10/2006 10 162 32,24Belo M 1/11/2006 11 173 264,38Belo M 16/11/2006 15 188 69,54Belo M 30/11/2006 14 202 63,71Belo M 7/12/2006 7 209 111,03Belo M 15/12/2006 8 217 241,73Belo M 26/12/2006 11 228 59,67Belo M 6/1/2007 10 238 140,16Belo M 18/1/2007 12 250 138,85Belo M 1/2/2007 14 264 207,17Belo M 20/2/2007 19 283 189,11Belo M 8/3/2007 16 299 69,97Belo M 22/3/2007 14 313 154,55Belo M 4/4/2007 13 326 96,91Belo M 15/4/2007 11 337 108,91Belo M 25/4/2007 10 347 130,58Belo M 3/5/2007 8 355 145,84Belo M 15/5/2005 12 367 126,64Belo M 25/5/2007 10 377 8,75Belo M 10/6/2007 16 393 142,11Belo M 22/6/2006 12 405 162,61Belo M 3/7/2007 11 416 95,23Belo M 18/7/2007 15 431 46,79Belo M 26/7/2007 8 439 247,78Belo M 3/8/2007 8 447 159,64

João M 21/10/2006 205 90,36João M 31/10/2006 10 215 135,48João M 10/11/2006 10 226 91,79João M 23/11/2006 13 239 32,58João M 2/12/2006 9 248 147,87João M 12/12/2006 10 258 57,74João M 23/12/2006 11 269 285,67João M 2/1/2007 12 281 117,70

83

João M 14/1/2007 12 293 331,50João M 25/1/2007 11 304 156,95João M 4/2/2007 10 314 139,33João M 17/2/2007 13 327 183,86João M 2/3/2007 13 340 193,00João M 15/3/2007 13 353 113,43João M 31/3/2007 11 364 42,28João M 14/4/2007 14 378 123,72João M 25/4/2007 11 389 20,95João M 4/5/2007 9 398 184,21João M 20/5/2007 16 414 209,58

Agrião M 4/1/2007 177 59,87Agrião M 24/1/2007 20 197 64,82Agrião M 15/2/2007 21 218 71,49Agrião M 7/3/2007 20 238 53,73Agrião M 30/3/2007 23 261 128,92Agrião M 17/4/2007 18 279 101,50Agrião M 11/5/2007 24 303 46,95Agrião M 31/5/2007 20 323 310,42Agrião M 24/6/2007 24 347 337,42

Francisco M 12/3/2007 183 152,34Francisco M 31/3/2007 16 199 303,98Francisco M 13/4/2007 13 212 100,16Francisco M 23/4/2007 10 222 26,27Francisco M 7/5/2007 14 236 131,13Francisco M 20/5/2007 13 249 65,13Francisco M 3/6/2007 14 263 178,43Francisco M 19/6/2007 16 279 272,18Francisco M 3/7/2007 14 293 80,07Francisco M 18/7/2007 15 308 113,83Francisco M 31/7/2007 13 321 100,43Francisco M 13/8/2007 13 334 386,68Francisco M 24/8/2007 11 344 49,94Francisco M 5/9/2007 12 356 98,01Francisco M 15/9/2007 10 366 149,56Francisco M 30/9/2007 15 381 112,42Francisco M 13/10/2007 13 394 213,57Francisco M 26/10/2007 13 407 199,44Francisco M 7/11/2007 12 419 96,09Francisco M 23/11/2007 16 435 183,62Francisco M 5/12/2007 13 448 143,32

84

Anexo 3Valores observados para o índice de preferência manual (HI) nos sagüis,

utilizando variáveis do modelo linear de efeitos mistos.

Variáveis Estimativa ErrPadrão

Valor-p

Efeitos Fixos:Intercepto -1,4584 0,8609 0,1013Fase do

desenvolvimento 0,8935 0,3171 0,0088

Efeitos aleatórios: Intervalos de Confiança 95%Limite

InferiorEstimativa Limite

Superior erceptointσ 1,2200 2,2966 4,3231

IdadedeFaseσ 0,4599 0,8367 1,5222

IdadedeFaseInterceptoCor *-0,9761 -0,8926 -0,5788

residual2σ

2,0769 2,8694 3,9643