Estudo das consequências do aquecimento global na produção ... Os Estados Unidos e a China são ... é um dos países que apresentam maior crescimento populacional e econômico

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  • Estudo das consequncias do aquecimento global na produo agrcola Dezembro/2013

    ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 6 Edio n 006 Vol.01/2013 dezembro/2013

    Estudo das consequncias do aquecimento global na produo agrcola

    Carlos Roberto Leandro ([email protected])

    MBA Percia, Auditoria e Gesto Ambiental

    Instituto de Ps-Graduao e Graduao IPOG

    Joo Pessoa, PB, 28 de janeiro de 2013

    Resumo

    O aquecimento global e suas consequncias tem sido um dos temas mais debatidos na

    atualidade em diversas reas do conhecimento. Tal sua importncia, que tem sido motivo

    de preocupao no s entre os cientistas, mas tambm entre polticos, governos e sociedade.

    O aquecimento global ocorre em funo do aumento da temperatura do planeta causado

    principalmente pela alta concentrao de certos gases atmosfricos, principalmente o

    dixido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o xido nitroso (N2O), entre outros. O dixido

    de carbono, ou simplesmente gs carbnico, o maior vilo dessa histria, pois tem sido

    lanado em grande quantidade na atmosfera nas ltimas dcadas, principalmente pela

    queima de combustveis fosseis e de madeira, para uso na indstria e nos automveis.

    Atualmente so derrubadas diariamente centenas de hectares de florestas nativas para uso da

    agricultura e pecuria, o que representa a destruio de uma das principais fontes

    dissipadora e de absoro do excesso de carbono. Neste cenrio catastrfico de aquecimento

    global, incluem-se, como consequncia, ameaas produo de alimentos. Neste contexto, o

    presente artigo pretende apresentar, mediante pesquisa na literatura pertinente disponvel

    sobre este tema, alguns aspectos relacionados ao aquecimento global e a produo de

    alimentos e suas relaes com os agro-ecossistemas e, a partir dessa discusso, sugerir

    formas para abordar o problema. No existe uma soluo fcil, preciso coragem, esforo

    conjunto e quebra de paradigmas. Produzir alimentos com sustentabilidade ambiental, social

    e econmica; minimizar os impactos causados pelo uso de insumos qumicos; reduzir os

    desperdcios; reflorestar as reas devastadas; preservar as margens de rios e nascentes;

    transformar o ambiente rural com educao, capacitao e valorizando o homem do campo.

    O modelo de desenvolvimento sustentvel, proposto pelo Relatrio Brundtland, em 1987 e

    consagrado no Rio de Janeiro, durante a conferncia ECO 92, um modelo de

    desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da gerao atual, sem comprometer

    a capacidade das geraes futuras de satisfazerem as suas prprias necessidades, significa

    possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nvel satisfatrio de

    desenvolvimento social ambiental e econmico, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razovel

    dos recursos da terra e preservando as espcies e os habitats naturais.

    Palavras-chave: Agroecologia. Aquecimento global. Desenvolvimento sustentvel.

    1. Introduo

    As emisses muito elevadas de gases de efeito estufa na atmosfera tm provocado o aumento

    da temperatura do planeta e em consequncia eventos climticos extremos, derretimento dos

    gelos polares, elevao do nvel do mar, furaces, inundaes, secas prolongadas, etc. H

    novas e fortes evidencias que a maior parte do aquecimento observado nos ltimos 50 anos

    mailto:[email protected]

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    ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 6 Edio n 006 Vol.01/2013 dezembro/2013

    atribuvel a atividades humanas. Portanto, sabe-se que aes antrpicas so responsveis por

    essas agresses ao planeta e que tem provocado os diversos fenmenos ambientais descritos

    acima. A elevao da temperatura global tem provocado queda significativa na produo de

    alimentos e prejudicado os seres vegetais e animais do planeta (IPCC TAR).

    O efeito estufa, segundo Silva et al (2006), pode ser descrito como um fenmeno que envolve

    processos de absoro e emisso das diferentes formas de energia eletromagntica, onde uma

    radiao mais energtica pode ser absorvida por um corpo e, ao ser emitida, se transforma em

    outro tipo de radiao, com energia mais baixa.

    importante ressaltar que o efeito estufa um fenmeno natural do planeta. Sendo o

    resultado da ocorrncia de determinados gases existentes na atmosfera terrestre e permitem

    que o planeta apresente uma temperatura mdia relativamente estvel, em torno de 15 C. Sem

    a presena destes gases, a temperatura mdia da terra seria de aproximadamente -18 C

    (DAMLIO, 2006).

    A expresso aquecimento global refere-se ao aumento da temperatura do planeta como

    resultado do aumento da concentrao de certos gases atmosfricos, os mais importantes so:

    o dixido de carbono (CO2); o metano (CH4) e o xido nitroso (N2O). Esses gases tm como

    principal caracterstica, a habilidade de prender a energia solar, aumentando, assim, a

    temperatura atmosfrica, a qual, por sua vez, pode provocar mudanas drsticas no clima,

    alterar os padres de chuvas e tempestades, mudar os padres de correntes marinhas, e

    aumentar a faixa mxima de alcance do nvel do mar (BENETI, 2012).

    O aquecimento global tem provocado efeitos climticos extremos, como por exemplo, muita

    seca em algumas regies e muita chuva em outras. Os Estados Unidos e a China so as duas

    maiores economias do planeta e os maiores produtores de alimentos do mundo; a ndia, a

    despeito da enorme pobreza, um dos pases que apresentam maior crescimento populacional

    e econmico nos ltimos anos. Estes pases esto sofrendo os efeitos das mudanas globais

    provocadas pelo aquecimento global. A seca nos Estados Unidos em 2012 deve repercutir em

    todo o mundo, pois a economia americana responsvel por quase metade das exportaes

    mundiais de milho e boa parte das exportaes de soja e trigo. As chuvas excessivas na China

    tm reduzido produo de alimentos, enquanto a queda das precipitaes provocadas pelas

    mones na ndia deve reduzir a produo mundial de arroz (ALVES, 2012).

    As mudanas climticas no Brasil ocorrem com efeitos mais danosos pela vulnerabilidade

    histrica que o pas apresenta a desastres naturais, como secas, enchentes e deslizamentos de

    encostas. Os modelos de previso de mudanas climticas do Centro de Distribuio de

    Dados do IPCC apresentam resultados bastante variveis quanto ao comportamento da

    Amrica do Sul. Contudo, todos preveem aumento de temperatura para todo o continente. H

    tambm a previso de maior frequncia de fenmenos extremos que podem ser especialmente

    danosos para a agricultura.

    Temperaturas acima de 45 C comeam a provocar a desnaturao das molculas orgnicas,

    representado uma sria ameaa vida das plantas pelas anomalias e mutaes que provocam.

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    Apesar das novas tecnologias agrcolas, que atravs de modificaes genticas, tem

    conseguido produzir lavouras mais resistentes s pragas, bem como as mudanas climticas,

    ainda no apontam para uma soluo destes problemas. Portanto, a produo de alimentos no

    planeta est ameaada e necessitando urgente que a humanidade repense suas atitudes perante

    a natureza, procurando meios sustentveis de produo, respeitando o meio ambiente e

    buscando alternativas que possam diminuir as emisses de gases poluentes, como o gs

    carbnico, que em grande quantidade provoca o aumento exagerado da temperatura do

    planeta. A produo de alimentos dependente do clima e se nada for feito, no curto prazo,

    haver uma grave crise mundial provocada pela falta de alimentos.

    Diante desse quadro, necessrio unir esforos e conscientizar a humanidade com campanhas

    das mais diversas, no que se refere importncia da preservao do meio ambiente e a busca

    por alternativas sustentveis de produo. preciso quebrar paradigmas e sensibilizar os

    governos, bem como a populao em geral na busca de solues. Este artigo versar sobre

    estas questes, pretende apresentar e discutir pontos relevantes sobre as mudanas climticas

    procurando esclarece-los ainda mais e por meio de pesquisa bibliogrfica pertinente.

    2. A atmosfera terrestre e o efeito estufa

    A atmosfera terrestre constituda por gases atmosfricos. Como pode ser observado na

    Tabela 1, (AHRENS, 2000, apud BENETI, 2012).

    Gases Permanentes

    Gs Smbolo Porcentagem de volume

    Nitrognio N2 78,08

    Oxignio O2 20,95

    Argnio Ar 0,93

    Non Ne 0,0018

    Hlio He 0,0005

    Hidrognio H2 0,00006

    Xennio Xe 0,000009

    Gases variveis

    Gases e partculas Smbolo Porcentagem de volume Ppm

    Vapor de gua H2O 0 a 4

    Dixido de Carbono CO2 0,037 368

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    Metano CH4 0,00017 1,7

    xido nitroso N2O 0,00003 0,3

    Oznio O3 0,000004 0,04

    Partculas 0,000001 0,01-0,15

    Clorofluorcarbono 0,00000002 0,0002

    Tabela 1. Fonte: Ahrens (2000).

    O efeito estufa um fenmeno natural, para o aquecimento trmico do planeta terra.

    imprescindvel para manter a temperatura do planeta em condies ideais de sobrevivncia.

    Os principais gases envolvidos no efeito estufa so: o dixido de carbono (CO2), o metano

    (CH4) e o xido nitroso (N2O) entre outros. No entanto, o gs carbnico (dixido de carbono)

    constitui um dos mais importantes, sendo gerado atravs da queima dos combustveis fsseis

    e de madeira. Portanto, as alteraes registradas na composio padro dos gases

    atmosfricos, so decorrentes de aes antrpicas relacionadas com as atividades econmicas

    e industriais. Com relao a isso Soarez afirma:

    Na crise atual que a sociedade humana vem enfrentando, a mudana ambiental

    global tem se manifestado com preponderncia. Para entender essa mudana,

    preciso concentrar-se nas interaes entre os sistemas ambientais, que incluem

    (atmosfera, biosfera, geosfera e hidrosfera) e os sistemas humanos (incluindo os

    econmicos, polticos, socioculturais e tecnolgicos). Esses sistemas encontram-se

    em dois pontos: naqueles onde as aes humanas causam mudanas ambientais

    alterando diretamente sistemas ecolgicos, e naqueles onde as mudanas ambientais

    afetam diretamente aspectos que os seres humanos valorizam (SOAREZ, 2000:1).

    No cenrio global atual, no que se refere s agresses ambientais, o que se percebe

    visivelmente uma completa irresponsabilidade das pessoas ao lidar com os recursos naturais

    e com os seus resduos aps o uso. Com uma populao com mais de oito bilhes de pessoas,

    muitas das quais regidas por um consumismo exacerbado e irresponsvel, o planeta vem

    sendo vorazmente agredido em todos os sentidos. Mas, isso tem um preo a ser pago, e j

    comea a ser cobrado mediante as consequncias que j se materializam atravs do

    aquecimento global, aquecimento este desencadeante de inmeros desequilbrios no clima do

    planeta, com srias consequncias para a vida na Terra. Como consequncia desses atos, a

    concentrao dos GEEs (Gases de Efeito Estufa), comparados entre 1750 a 1998,

    praticamente dobrou, conforme mostra a Tabela 2.

    Gs Carbnico (CO2) Metano (CH4) xido Nitroso (N2O)

    Concentrao em 1750 280 ppm 700 ppb 270 ppb

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    ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 6 Edio n 006 Vol.01/2013 dezembro/2013

    Concentrao em 1998 365 ppm 1.745 ppb 314 ppb

    Taxa de alterao* 1,5 ppm/ano** 7,0 ppb/ano** 0,8 ppb

    Residncia na atmosfera (anos) 50-200 12 114

    Legenda: ppm = partes por milho; ppb = partes por bilho; * = Taxa calculada durante o perodo

    de 1990 a 1999; ** = A taxa para CO2 tem flutuado entre 0,9 e 2,8 ppm/ano e para CH4, entre 0 e

    13 ppb/ano durante o perodo de 1990 a 1999.

    Tabela 2. Fonte: Rocha (2003)

    As questes relacionadas s influncias humanas nessas mudanas envolvem uma srie de

    foras propulsoras, podendo-se mencionar como principais as socioeconmicas e as tico-

    culturais, Nesse sentido, o modelo de desenvolvimento predominante, baseado no carter

    mecanicista e acumulativo do sistema econmico capitalista, tem moldado um estilo de vida

    baseado no consumismo e no desperdcio, este fato coloca permanentemente em risco o meio

    ambiente e perpetua as desigualdades sociais, pois o desejo de atingir o progresso e a

    modernizao atravs do crescimento econmico, catalisado pela industrializao, demanda

    um alto grau de consumo de energia e explorao dos recursos naturais, renovveis ou no, do

    planeta (fonte de matria prima e energia), que por sua vez so os principais componentes do

    processo de produo (SUAREZ, 2000: 1).

    Em 2007 foi divulgado o Quarto Relatrio de Avaliaes das Mudanas Climticas (IPCC-

    AR). Os resultados alertam para um aumento mdio global das temperaturas do planeta entre

    1,8 e 40

    C at o final do sculo XXI. Esse aumento poder ser ainda maior, cerca de 6, 40

    C se

    forem mantidos os atuais nveis de consumo e a queima de combustveis fsseis (IPCC-AR

    2007).

    Estas foram algumas das concluses que chegaram os cientistas reunidos no 4 Painel

    Intergovernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC-AR4):

    - Gases do Efeito Estufa: dixido de carbono, metano e xido nitroso a concentrao desses

    gases na atmosfera tem aumentado significativamente como resultado das atividades

    humanas.

    - Aumento na frequncia da ocorrncia de eventos climticos extremos tais como: enchentes,

    tempestades, furaces e secas. Ainda, o El Nio, um evento climtico que ocorre

    regularmente a cada 5 a 7 anos, poder se tornar mais intenso e frequente, provocando secas

    severas no norte e nordeste e chuvas torrenciais no sudeste do Brasil.

    - Elevao do nvel do mar: o nvel do mar dever subir em mdia entre 18 e 59 cm at o final

    do sculo XXI, o que implicaria no desaparecimento de muitas ilhas (em alguns casos pases

    inteiros), com danos fortes em vrias reas costeiras, alm de causar enchentes e eroso.

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    - Perda de cobertura de gelo: o rtico j perdeu cerca de 7% de sua superfcie de gelo desde

    1900, sendo que na primavera esta reduo chega a 15% de sua rea. Nos prximos anos,

    poder haver uma diminuio ainda maior na cobertura de gelo da Terra tanto no rtico,

    quanto na Antrtica.

    - Alteraes na disponibilidade de recursos hdricos: ocorrero mudanas no regime das

    chuvas, onde reas ridas podero se tornar ainda mais secas. Na Amaznia, as chuvas

    podero diminuir em 20% at o final deste sculo. Poder ocorrer tambm o avano de gua

    salgada nas reas de foz de rios, alm de escassez de gua potvel em regies crticas, que j

    enfrentam stress hdrico. As previses ainda alertam sobre os riscos de diminuio dos

    estoques de gua armazenados nas geleiras e na cobertura de neve, ao longo deste sculo. As

    reas como os Andes e o Himalaia, que dependem do derretimento de neve armazenada no

    inverno, podem sofrer impactos significativos na disponibilidade de gua.

    - Mudanas nos ecossistemas: as alteraes climticas previstas certamente afetaro os

    ecossistemas e podero colocar em risco a sobrevivncia de vrias espcies do nosso planeta.

    Como consequncia do aquecimento global, a biodiversidade de vrios ecossistemas dever

    diminuir e mudanas na distribuio e no regime de reproduo de diversas espcies

    ocorrero. A antecipao ou retardamento do incio do perodo de migrao de pssaros e

    insetos e dos ciclos reprodutivos de sapos, a florao precoce de algumas plantas, a reduo

    na produo de flores e frutos de algumas espcies da Amaznia, a reduo da distribuio

    geogrfica de recifes de corais e mangues, o aumento na populao de vetores como malria

    ou dengue e a extino de espcies endmicas so alguns exemplos dos impactos da mudana

    climtica global sobre a biodiversidade do planeta.

    - Desertificao: a desertificao principalmente causada pelas atividades humanas e

    alteraes climticas. Estima-se que cerca de 135 milhes de pessoas esto sob o risco de

    perder suas terras por desertificao. Segundo a Conveno das Naes Unidas para o

    Combate Desertificao, a frica poder perder cerca de 2/3 de suas terras produtivas at

    2025, enquanto a sia e a Amrica do Sul podero perder 1/3 e 1/5, respectivamente. reas

    inteiras podem se tornar inabitveis, como consequncia dos crescentes efeitos do

    aquecimento global, da agricultura predatria, queimadas, mananciais sobrecarregados e

    exploses demogrficas.

    - Impactos na sade e bem-estar da populao humana: dever haver aumento na frequncia

    de doenas relacionadas ao calor (por exemplo: insolao, stress trmico etc.) e daquelas que

    so transmitidas por mosquitos, tais como malria e dengue. Ainda h a possibilidade de

    ocorrer o deslocamento da populao humana em funo das alteraes no clima. Acredita-se

    que a populao mais empobrecida e vulnervel dos pases em desenvolvimento seria a mais

    afetada, uma vez que teriam recursos limitados para se adaptar s mudanas climticas.

    - Interferncias na agricultura: nas regies subtropicais e tropicais, mudanas nas condies

    climticas e no regime de chuvas podero modificar significativamente a vocao agrcola de

    uma regio; na medida em que a temperatura mudar, algumas culturas e zonas agrcolas tero

    que migrar para regies com clima mais temperado, ou com maior nvel de umidade no solo e

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    ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 6 Edio n 006 Vol.01/2013 dezembro/2013

    taxa de precipitao. Estudos mostram que para aumentos da temperatura local mdia entre 1

    a 3 C, prev-se que a produtividade das culturas aumentaria levemente nas latitudes mdias a

    altas, e diminuiria em outras regies. Nas regies tropicais, h previso de que a

    produtividade das culturas diminua at mesmo com aumentos leves da temperatura local (1 a

    2 C). Com o aumento da vulnerabilidade da produo de alimentos s mudanas climticas,

    cresce tambm o risco da fome atingir um nmero muito maior de pessoas no mundo. Isto

    ocorreria principalmente nos pases pobres, os quais so os mais vulnerveis aos efeitos do

    aquecimento global e os menos preparados para enfrentar seus impactos.

    3. Aquecimento global e a produo de alimentos

    Secas extremas, inundaes, furaces... Pessoas que perderam suas casas, suas plantaes,

    seus animais, sua f. Apesar de muita gente ainda achar que aquecimento global coisa de

    cinema ou que s acontecer daqui a muitas geraes, um documentrio que o Greenpeace

    mostra que tudo isso j uma realidade (http://www.greenpeace.org.br/clima/filme/home/)

    Enquanto nos pases desenvolvidos as emisses de gases de efeito estufa se concentram

    basicamente no setor industrial e no consumo de combustveis fsseis, no Brasil a emisso a

    partir das queimadas, desmatamento e expanso agrcola muito maior do que a industrial e

    da queima de combustveis fsseis e o pas tem sido considerado como um dos maiores

    emissores do mundo.

    As concluses do relatrio do IPCC reforam que, no Brasil a emisso de dixido de carbono

    proveniente de mudanas no uso do solo acontece a partir do desmatamento e da perda de

    material biolgico do solo, com a converso de florestas em pastagens, so muito mais

    elevadas do que as emisses do setor energtico.

    Um dos efeitos devastadores do aquecimento global ser a queda da produo de alimentos. A

    agricultura ser duramente afetada. O aquecimento global afeta as culturas mais sensveis,

    causando perda de gua por aumento da evapotranspirao e a reduo da fotossntese,

    diminuio da capacidade reprodutiva e baixa produtividade. Quando a temperatura supera

    34 C por perodos prolongados, ocorre o abortamento das flores. Nas lavouras de caf, as

    mais analisadas pelos pesquisadores do CEPAGRI/EMBRAPA, os efeitos da elevao da

    temperatura j so observados em So Paulo, na regio Noroeste, antiga fronteira de expanso

    do caf, que passa a abrigar seringais em escala crescente (SAFRA, 2007).

    A pecuria tambm ser afetada pelo aquecimento do planeta, pois to ou mais sensvel do

    que a agricultura. Os pesquisadores alertam para os riscos de reduo na produo de leite,

    incremento das taxas de aborto e reduo de prenhes. No caso dos sunos, espera-se um

    aumento na taxa de mortalidade durante a gestao e no nascimento dos leites. Para as aves,

    prev-se queda na produo e o aumento de postura de ovos sem casca, afetando a oferta de

    animais para reproduo e abate. Todos esses fatores indicam mais trabalho para os

    especialistas em conforto animal (VEIGA FILHO, 2007).

    Com base em modelos de simulao, os impactos mais provveis so os efeitos favorveis

    gerais para as margens mais frias da zona temperada, bem como consequncias negativas para

    a zona semirida subtropical. As mudanas regionais no clima j afetaram diversos sistemas

    http://www.greenpeace.org.br/clima/filme/home/

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    ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 6 Edio n 006 Vol.01/2013 dezembro/2013

    fsicos e biolgicos em muitas partes do mundo. Os perodos de crescimento entre latitudes

    mdias e altas esto mais longos. Foram observadas mudanas atitudinais e em direo aos

    polos quanto distribuio geogrfica de plantas e de animais. Os sistemas naturais em risco

    de mudana climtica incluem geleiras, atis, ecossistemas polares e alpinos, zonas midas de

    pradarias e pastagens autctones restantes. Os sistemas humanos vulnerveis incluem a

    agricultura, particularmente a segurana alimentar, e a silvicultura (IPCC-TAR, 2001).

    Diante dos cenrios de mudanas climticas globais apresentados pelo IPCC, simularam-se

    cenrios agrcolas futuros para aumentos de temperatura de 1C, 3C e 5,8C e aumentos de

    precipitao de 5%, 10% e 15%. Esses aumentos foram simulados de maneira homognea

    para todo o pas e desconsideraram qualquer evoluo tecnolgica, tanto no manejo das

    culturas quanto no seu melhoramento gentico, e qualquer adaptao fisiolgica das plantas s

    novas condies. Os resultados dessas simulaes para as culturas da soja, milho, arroz e

    feijo. http://www.agritempo.gov.br/climaeagricultura/

    As figuras abaixo exemplificam trs cenrios para o plantio da soja de 1 a 10 de outubro, em

    solo de textura mdia e com aumento de 15% na precipitao, para os trs aumentos de

    temperatura.

    http://www.agritempo.gov.br/climaeagricultura/

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    Figura 3. Fonte: CEPAGRI/EMBRAPA (Centro de Pesquisas Metereolgicas e Climticas Aplicadas

    Agricultura / Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria) - Exemplo de cenrio de zoneamento de risco

    climtico futuro para plantio da soja de 1 a 10 de outubro, em solo de textura mdia, aumento de 15% na

    precipitao e de 1C na temperatura. So apresentadas trs classes de ndice de satisfao das necessidades de

    gua, de 0 a 0,55, de 0,56 a 0,65 e de 0,66 a 1, definidas como inapta (em vermelho), apta com restries (em

    amarelo) e apta (em verde), respectivamente.

    Figura 4. Fonte: CEPAGRI/EMBRAPA (Centro de Pesquisas Metereolgicas e Climticas Aplicadas Agricultura

    / Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria) - Exemplo de cenrio de zoneamento de risco climtico futuro para

    plantio da soja de 1 a 10 de outubro, em solo de textura mdia, aumento de 15% na precipitao e de 3C na

    temperatura. So apresentadas trs classes de ndice de satisfao das necessidades de gua, de 0 a 0,55, de 0,56

    a 0,65 e de 0,66 a 1, definidas como inapta (em vermelho), apta com restries (em amarelo) e apta (em verde),

    respectivamente

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    ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goinia - 6 Edio n 006 Vol.01/2013 dezembro/2013

    Figura 4. Fonte: CEPAGRI/EMBRAPA (Centro de Pesquisas Metereolgicas e Climticas Aplicadas

    Agricultura / Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria) - Exemplo de cenrio de zoneamento de risco

    climtico futuro para plantio da soja de 1 a 10 de outubro, em solo de textura mdia, aumento de 15% na

    precipitao e de 5,8C na temperatura. So apresentadas trs classes de ndice de satisfao das necessidades de

    gua, de 0 a 0,55, de 0,56 a 0,65 e de 0,66 a 1, definidas como inapta (em vermelho), apta com restries (em

    amarelo) e apta (em verde), respectivamente.

    Observando as Figuras 3, 4 e 5 percebe-se o efeito negativo das mudanas climticas sobre a

    rea considerada apta para o plantio, de acordo com os modelos do zoneamento de risco

    climtico, havendo, para o caso da soja exemplificado, um decrscimo de

    1.204.911,86 km2 no cenrio mais pessimista, exclusivamente para esse perodo de plantio. O

    cenrio de aumento de 1C a partir de 1990 j est prximo de acontecer e o cenrio de 3C

    praticamente certo. As estimativas para este ltimo cenrio mostram perdas de rea em torno

    de 18% para o arroz, 11% para o feijo, 39% para a soja, 58% para o caf e apenas 7% para o

    milho.

    Embora as condies iniciais dessas simulaes desconsiderem questes importantes, esses

    cenrios j nos do indicaes essenciais ao planejamento das pesquisas, principalmente

    quanto adaptao dos sistemas de cultivos e de novos cultivares mais tolerantes s altas

    temperaturas e mais resistentes seca. Ao se considerar que a condio climtica ser de fato

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    alterada, com base nesses cenrios possvel formular algumas hipteses sobre a dinmica da

    agricultura no Brasil e no mundo. Quanto s culturas anuais, uma hiptese aceitvel que a

    migrao deva seguir o caminho das zonas temperadas, com boa possibilidade de ganho de

    produtividade nas espcies de ciclo fotossinttico C4, denominao dada a um grupo de

    plantas gramneas em sua maioria que formam o cido oxalactico como primeiro produto

    da fotossntese, que tem quatro carbonos. Quanto ao ciclo fotossinttico, outro grupo de

    plantas conhecido C3, pelo fato da primeira molcula formada no ciclo ter apenas trs

    carbonos.

    4. Um novo modelo de desenvolvimento para garantir a produo de alimentos.

    Relatrio Brundtland, e o documento intitulado Nosso Futuro Comum, publicado em1987.

    Foi o pontap inicial em busca de solues para os problemas globais, naquela oportunidade

    foi concebido o um novo modelo de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentvel, que

    satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das geraes futuras de

    suprir as suas prprias necessidades.

    O desenvolvimento sustentvel, como um ideal, rejeita polticas e prticas que deem suporte

    aos padres de vida correntes custa da deteriorao da base produtiva, inclusive a de

    recursos naturais, e que diminuam as possibilidades de sobrevivncia das geraes futuras.

    (REPETTO, 1986: 15).

    O Brasil possui uma matriz energtica relativamente limpa e, resolvida a questo do

    desmatamento e das queimadas, pode deixar de ser um dos maiores emissores do mundo para

    ocupar uma posio de destaque no cenrio ambiental global. Nesse sentido, diversas

    organizaes no governamentais atuantes no pas propuseram ao governo uma meta

    ambiciosa de eliminar as queimadas em sete anos, atravs de contratos de recompensa por

    servios ambientais e fiscalizao extensiva, com auxlio do monitoramento por satlites. A

    recompensa por servios ambientais tambm proposta na declarao dos pases detentores

    de florestas tropicais pluviais, como forma de permitir a implantao das aes de reduo das

    emisses resultantes das queimadas e mudanas do uso da terra, j a partir de 2008 a 2012 e

    aps 2012. Essas alternativas precisam ser avaliadas a fundo e preciso que haja vontade e

    coragem poltica para implant-las. Vale lembrar que aps o fim do Protocolo de Quioto em

    2012 j se cogita o estabelecimento de metas tambm para os pases em desenvolvimento e o

    Brasil deve estar preparado para responder a essas demandas.

    Destarte, o desenvolvimento sustentvel preconiza que as sociedades atendam s necessidades

    humanas em dois sentidos: aumentando o potencial de produo e assegurando a todos as

    mesmas oportunidades (geraes presentes e futuras). Nesta viso, o desenvolvimento

    sustentvel no um estado permanente de equilbrio, mas sim de mudanas quanto ao acesso

    aos recursos e quanto distribuio de custos e benefcios. Na sua essncia, um processo

    de transformao no qual a explorao dos recursos, a direo dos investimentos, a orientao

    do desenvolvimento tecnolgico e a mudana institucional se harmonizam e reforam o

    potencial presente e futuro, a fim de atender s necessidades e s aspiraes humanas

    (WCED, 1991:49).

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    5. Concluso

    Com base nessa pesquisa, pode-se concluir que o aquecimento global, apesar de no ser um

    fenmeno novo, um problema novo para humanidade, que ter de ser resolvido com

    urgncia, no h uma soluo fcil, requer quebra de paradigmas, viso holstica e

    conscincia da populao de que preciso mudar comportamentos e vontade politica e

    coragem do governo para implantar as mudanas necessrias. Trata-se de uma questo de

    sobrevivncia da raa humana. preciso usar os recursos existentes de forma sustentvel do

    ponto de vista ambiental, afinal existe um compromisso com as geraes futuras, os nossos

    filhos. Produzir e usar fontes de energia renovveis como os biocombustveis e menos

    poluentes, energia elica e solar. Na indstria, preciso produzir com responsabilidade social

    e ambiental, minimizando os impactos da poluio e do desperdcio. Praticar os 3 Rs.

    Reduzir: diminuir a quantidade de lixo residual que se produz; Reutilizar: utilizar vrias vezes

    a mesma embalagem; Reciclar: transformar o resduo antes intil em matrias-primas ou

    novos produtos, um benefcio ambiental e energtico. Nas cidades: utilizar transporte

    publica e transporte individual, no poluente. Na agricultura, praticas agrcolas sustentveis,

    com o uso de tecnologia de processos, agroecologia, agricultura familiar (diversificada).

    Preservar o que ainda resta das florestas nativas do planeta e plantar rvores nas cidades, nos

    campos, nos telhados etc. Adaptar-se aos novos tempos e praticar a sustentabilidade, assim

    haver um futuro para o planeta terra, a nossa casa.

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