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Estudo de Viabilidade Econômico-Financeira para Implantação e Operação de Circuito de Arvorismo (Canopy) no Parque Nacional da Tijuca. Denis Helena Rivas 1 João Felipe Heerema Martins da Silva 2 Marco Mangini Antonelli 3 SUMÁRIO O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio – planeja implantar diversos serviços nos parques nacionais. Por meio de contratos de terceirização junto à iniciativa privada, tem o intuito de ampliar e apoiar a visitação turística nessas importantes áreas. Neste estudo, foi analisada a viabilidade econômico-financeira da implantação de um circuito de Arvorismo e lanchonete no interior do Parque Nacional da Tijuca por meio de contrato de concessão. A estrutura onde atualmente está localizado o “Restaurante A Floresta” será reformada para abrigar a lanchonete e a estrutura de apoio ao visitante do circuito de Canopy. As receitas serão obtidas com a venda de ingressos e produtos da lanchonete e loja de souvenir. Em contrapartida, a proposta prevê o repasse de parte do faturamento ao ICMBio, a manutenção da infraestrutura, a implantação de um serviço de transporte através de 2 vans no Setor Floresta, bem como também o envio rotineiro de informações sobre a operação. A análise de viabilidade se baseou em fluxos de caixa de investimentos, gastos e receitas operacionais projetados em 10, 15 e 20 anos. Os dados foram levantados por meio de pesquisas de mercado e entrevistas semiestruturadas. Utilizou-se uma Taxa Mínima de Atratividade de 10% e foram calculados os indicadores de viabilidade Valor Presente Liquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e Payback Descontado. Os resultados demonstraram que o projeto é viável, considerando a configuração proposta. O projeto apresentou ganhos em termos atuais, isto é, VPL Privado positivo de R$ 3,3 milhões, R$ 5,3 milhões e R$ 6,8 milhões nos cenários de 10, 15 e 20 anos respectivamente. 1 Geógrafo, Analista Ambiental, Coordenador de Uso Público e Negócios do Parque Nacional da Tijuca 2 Biólogo, Analista Ambiental da Coordenação de Uso Público e Negócios do Parque Nacional da Tijuca 3 Economista da RIO TUR, Prefeitura do Município do Rio de Janeiro

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Estudo de Viabilidade Econômico-Financeira para Implantação e Operação de Circuito de Arvorismo

(Canopy) no Parque Nacional da Tijuca.

Denis Helena Rivas1

João Felipe Heerema Martins da Silva2

Marco Mangini Antonelli3 SUMÁRIO

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio – planeja implantar diversos

serviços nos parques nacionais. Por meio de contratos de terceirização junto à iniciativa privada, tem o

intuito de ampliar e apoiar a visitação turística nessas importantes áreas. Neste estudo, foi analisada a

viabilidade econômico-financeira da implantação de um circuito de Arvorismo e lanchonete no interior do

Parque Nacional da Tijuca por meio de contrato de concessão. A estrutura onde atualmente está

localizado o “Restaurante A Floresta” será reformada para abrigar a lanchonete e a estrutura de apoio ao

visitante do circuito de Canopy. As receitas serão obtidas com a venda de ingressos e produtos da

lanchonete e loja de souvenir. Em contrapartida, a proposta prevê o repasse de parte do faturamento ao

ICMBio, a manutenção da infraestrutura, a implantação de um serviço de transporte através de 2 vans no

Setor Floresta, bem como também o envio rotineiro de informações sobre a operação.

A análise de viabilidade se baseou em fluxos de caixa de investimentos, gastos e receitas

operacionais projetados em 10, 15 e 20 anos. Os dados foram levantados por meio de pesquisas de

mercado e entrevistas semiestruturadas. Utilizou-se uma Taxa Mínima de Atratividade de 10% e foram

calculados os indicadores de viabilidade Valor Presente Liquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e

Payback Descontado.

Os resultados demonstraram que o projeto é viável, considerando a configuração proposta. O

projeto apresentou ganhos em termos atuais, isto é, VPL Privado positivo de R$ 3,3 milhões, R$ 5,3

milhões e R$ 6,8 milhões nos cenários de 10, 15 e 20 anos respectivamente.

1 Geógrafo, Analista Ambiental, Coordenador de Uso Público e Negócios do Parque Nacional da Tijuca 2 Biólogo, Analista Ambiental da Coordenação de Uso Público e Negócios do Parque Nacional da Tijuca 3 Economista da RIO TUR, Prefeitura do Município do Rio de Janeiro

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Palavras-chave: Concessão; Arvorismo; Canopy; Parque Nacional da Tijuca; viabilidade econômico-financeira.

INTRODUÇÃO

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, como autarquia federal

responsável pela gestão das Unidades de Conservação Federais, e o Parque Nacional da Tijuca, tem como

um de seus objetivos a promoção e execução de programas recreativos, de uso público e de ecoturismo e

uma das estratégias para atingir esses objetivos é a concessão de serviços de apoio à visitação.

Com vistas a cumprir com esses objetivos, a equipe técnica da UC realizou estudos que

diagnosticaram o potencial de instalação de um circuito de arvorismo associado a uma lanchonete e loja

de souvenires, a serem concedidas pelo Poder Público. Por meio de licitação na modalidade concorrência,

o Estado delegará a prestação de serviços a uma pessoa jurídica ou consórcio de empresas que

demonstrem capacidade para o seu desempenho por sua conta e risco e prazo determinado (Lei 8.987,

de 13 de fevereiro de 1995).

O processo de terceirização de serviços públicos exige que a atividade a ser implantada tenha

viabilidade econômico-financeira, a qual este estudo se propõe a analisar. Com este objetivo, apresenta-

se o contexto atual do turismo local, a proposta de concessão do ICMBio e a análise de viabilidade

econômico-financeira.

O CONTEXTO DO TURISMO NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

O Parque Nacional da Tijuca (PNT) preserva um importante fragmento de Mata Atlântica no

município do Rio de Janeiro. Localizado no centro metropolitano, estende-se pelas montanhas do Maciço

da Tijuca compondo uma área de 3.953 ha (Figura 1). O parque é dividido em quatro grandes setores

cortados por estradas e circundados por bairros residenciais, conforme demonstrado no mapa à seguir:

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O Parque Nacional da Tijuca protege importantes fragmentos da Mata Atlântica em meio à cidade do Rio de Janeiro

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No setor Floresta da Tijuca, são diversas as possibilidades de recreação e lazer, sendo uma das

áreas mais visitadas do Parque: trilhas sinalizadas, espaços de lazer e churrasco, cachoeiras, picos, mirantes e recantos convidam os visitantes para caminhadas, passeios de bicicleta, exercícios físicos ao ar livre, banhos e piqueniques. Belas paisagens e a possibilidade de observar a fauna e flora locais também motivam os frequentadores da Floresta da Tijuca. A maior parte das trilhas sinalizadas estão neste setor e atendem a diversos públicos. Nesse setor está localizado, também, o Centro de Visitantes do PARNA Tijuca, que abriga a exposição permanente “Uma Floresta na Metrópole”. Conforme pode ser observado na tabela abaixo, a visitação no Parque Nacional da Tijuca apresentou crescimento nos últimos anos, superando dois milhões de visitantes no ano de 2011, e se tornando a Unidade de Conservação mais visitada do país:

Tabela 1 – Dados mensais de visitação do Parque Nacional da Tijuca e do Setor Floresta da Tijuca

2009 2010 2011 2012

Total

PARNA

Tijuca

Setor

Floresta

da Tijuca

Total

PARNA

Tijuca

Setor

Floresta

da Tijuca

Total

PARNA

Tijuca

Setor

Floresta

da Tijuca

Total

PARNA

Tijuca

Setor

Floresta

da Tijuca

JAN 239.345 36.265 294.316 41.139 295.755 41.730 300.971 35.762

FEV 182.686 32.657 197.546 35.360 190.326 34.842 258.098 40.492

MAR 157.547 29.195 145.666 26.640 179.482 28.326 202.679 25.758

ABR 149.314 27.679 50.199 15.596 193.751 35.636 184.872 27.146

MAI 133.409 27.036 52.736 19.803 137.579 23.571 142.270 23.827

JUN 122.561 19.933 70.847 17.051 169.473 25.821 142.527 24.979

JUL 167.482 21.503 156.914 21.801 218.115 29.517 237.237 26.486

AGO 144.324 23.779 129.103 22.556 154.383 26.683 184.264 28.018

SET 125.275 23.334 126.778 22.987 168.912 29.803

OUT 142.161 23.098 162.963 26.466 176.360 32.491

NOV 159.939 29.052 139.022 21.705 178.904 29.422

DEZ 179.328 22377 170.120 24.976 211.458 25.417

TOTAL 1.913.617 315.908 1.696.210 296.080 2.274.498 363.259 1.652.918 232.468

PROPOSTA DE CONCESSÃO

O ICMBio e Parque Nacional da Tijuca propõe a concessão de uso de área dos circuito de

arvorismo, com início no atual Restaurante “A Floresta”, conforme descrito no Projeto Básico. Ao

concessionário será autorizada a exploração da atividade de Circuito de Arvorismo (Canopy) com serviços

de bilheteria, a comercialização de alimentos e souvenires em uma lanchonete e loja de conveniência,

com ônus para o concessionário de reforma e adequação das estruturas físicas necessárias nos padrões

descritos no Projeto Básico, obedecendo a todas as normas e condições descritas no edital de concessão

e nos seus anexos.

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Antes da implantação da concessão, a edificação onde atualmente funciona o Restaurante “A

Floresta” será restaurada com recursos do concessionário. A manutenção da infraestrutura será de

responsabilidade do operador, para a garantia do bom estado de conservação da edificação, dos

equipamentos e da limpeza do entorno.

O percentual sobre o faturamento se refere à taxa máxima de arrecadação do ICMBio a ser

cobrada do concessionário. Essa taxa é proposta pelo estudo de viabilidade econômico-financeira. Além

disso, o concessionário devera cumprir uma rotina de envio de informações de ordens operacional,

financeira e de perfil e satisfação dos visitantes, que serão utilizadas para fins de monitoramento e

avaliação.

OBJETIVOS

Este estudo tem como objetivo avaliar a viabilidade econômico-financeira da concessão de um Circuito de Arvorismo no Parque Nacional da Tijuca, associada à permissão para administrar uma lanchonete e loja de souvenires, de forma a apoiar a tomada de decisão do ICMBio. Em especifico, objetiva-se:

Estimar a demanda do serviço com base em dados secundários;

Projetar os investimentos, receitas e gastos envolvidos na operação;

Construir fluxos de caixa anuais descontados para 10, 15 e 20 anos de contrato;

Simular a taxa máxima de arrecadação do ICMBio;

Gerar subsídios para a elaboração do edital de licitação e seu contrato.

REFERENCIAL TEÓRICO

ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA

O Estudo de Viabilidade Econômico-financeira fundamenta-se na teoria das Decisões de

Investimentos (ASSAF NETO, 2008), que objetiva a maximização da eficiência na alocação de recursos. Um

investidor costuma ter um portfolio de alternativas de investimento a sua disposição. No processo de

tomada de decisão, deve avaliar qual e o melhor uso de seus recursos, podendo incluir as seguintes

opções: (i) mantê-los aplicados no mercado financeiro 4, (ii) aplicá-los no projeto em questão ou (iii)

aplicá-los em projeto alternativo que apresente melhor desempenho. A tomada de decisão passa por

considerações sobre a relação retorno - risco. Para que um investimento seja interessante ao

empreendedor, e necessário que a relação retorno - risco seja melhor do que a melhor alternativa

deixada de lado.

4 Por exemplo, poupança, CDBs, títulos da divida publica e/ou ações

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INDICADORES DE VIABILIDADE E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO A viabilidade econômico-financeira é estimada através do calculo de indicadores de viabilidade com base

na projeção de fluxos de caixa incrementais5 ao longo do período determinado para a analise. Esse

período e definido pela expectativa de recuperação do investimento em função do montante inicial

investido e dos fluxos de caixa operacionais e/ou da expectativa do investidor em obter retorno do seu

investimento. Os principais indicadores de viabilidade econômico-financeira são o Valor Presente Liquido

(VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o Payback Descontado. Esses indicadores permitem

interpretações complementares sobre o investimento. O VPL e calculado pela soma dos fluxos de caixa

incrementais do investimento ao longo do período relevante de analise, descontados a uma taxa de

desconto que representa o custo de oportunidade do capital investido. Essa taxa de desconto costuma

ser denominada de Taxa Mínima de Atratividade (TMA) em analises do setor privado, e reflete o retorno

mínimo requerido pelo investidor sobre o capital investido (ASSAF NETO, 2008). Segundo Belli et al.

(2001), a formula do VPL e dada por:

B se refere a benefícios, C a custos, t ao tempo, n ao numero de períodos e r a taxa de desconto (i.e. a TMA). Os valores são apurados no fim do respectivo período. Conceitualmente, o VPL expressa a variação no nível de riqueza gerada por um projeto. Os critérios de avaliação com base no VPL são os seguintes:

VPL ≥ 0, o investimento e considerado viável; quanto maior for o VPL, maior e o beneficio gerado

pelo projeto;

VPL < 0, o investimento é considerado inviável.

A TIR representa a “rentabilidade do projeto expressa em termos de taxa de juros composta equivalente periódica” (ASSAF NETO, 2008). Ela é equivalente à taxa de desconto que iguala os fluxos de custos e benefícios descontados, zerando o VPL. Portanto, seu cálculo é feito iterativamente até que o VPL iguale-se a zero. A TIR permite um entendimento sobre o retorno do projeto sobre o capital inicial investido, e também informa preliminarmente sobre o nível de risco do investimento. A fórmula da TIR é dada por:

5 Interessam ao analista somente os investimentos, custos, despesas e receitas incrementais proporcionados pelo projeto (ASSAF NETO, 2008).

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Os parâmetros da formula são os mesmos descritos, anteriormente, na fórmula do VPL. Os critérios de avaliação com base na TIR são os seguintes:

TIR ≥ TMA, o investimento é considerado viável; quanto maior for a TIR em relação à TMA, menor

o risco do projeto;

TIR < TMA, o investimento é considerado inviável.

Apesar de o uso da TIR ser muito popular na avaliação de investimentos, o VPL é o melhor indicador, pois a TIR possui limitações, podendo apresentar resultados incorretos em determinadas condições6 (CASSAROTO & FILHO, 2006). O Payback Descontado, também chamado de Tempo de Recuperação do Investimento (Descontado), demonstra o tempo que o projeto leva para pagar (retornar) o investimento inicial considerando o custo de oportunidade do capital. É um indicador muito popular, mas limitado, pois despreza os fluxos posteriores ao Payback e tampouco considera o valor de liquidação do investimento. Pode ser usado para determinar a viabilidade do empreendimento, de forma conservadora, desde que se determine um Payback mínimo aceitável. Também pode, alternativamente, ser utilizado como medida do nível de risco do projeto, ainda que limitada. Quanto menor o Payback, menor seria o risco do projeto. A representação da fórmula do Payback pode ser dada pela seguinte expressão:

II refere-se ao montante do investimento inicial e os outros parâmetros são os mesmos descritos, anteriormente, na formula do VPL. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ESTIMATIVA DA DEMANDA E PREÇOS

A estimativa da demanda para a atividade do Canopy, lanchonete e loja de souvenires se baseou na média histórica de visitação do setor Floresta da Tijuca, atualmente de 325 mil visitantes entre 2009 e 2011. Também foi realizado o estudo Pesquisa de Perfil e demanda do Circuito de Arvorismo no Parque Nacional da Tijuca, segundo o qual 95% dos entrevistados demonstraram interesse em praticar arvorismo na Floresta da Tijuca. A partir dessas duas informações, considerou-se que o circuito operaria inicialmente com um público anual de 18.000 visitantes com aumento anual projetado em 5% ao ano, até o oitavo ano, quando chegaria próximo ao limite máximo de sua capacidade, estimada em 27.000 pessoas por ano para o circuito de arvorismo. A estimativa de público para a loja de souvenires e bar temático foi de 120 mil pessoas por ano. 6 Por exemplo, a análise pode apresentar uma TIR para cada ocorrência de mudança de sinal nos fluxos de caixa.

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Com relação ao preço do ingresso, o valor de R$ 90,00 foi utilizado baseado no resultado da Pesquisa de Perfil e demanda do Circuito de Arvorismo no Parque Nacional da Tijuca a qual indicou que mais de 75% dos entrevistados se dispuseram a pagar este valor até R$ 100,00. Por não haver informações mercadológicas e devido aos fatores limitantes de recursos e prazos deste estudo, foi estimado o número de clientes atendidos pela loja de souvenires e a cafeteria em 120 mil clientes anuais. Por tratar-se de uma estimativa, optou-se por estabelecer um gasto médio de R$ 10,00 por pessoa para a loja de souvenir e de R$ 8,00 para o bar temático. ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA

Para a avaliação da viabilidade econômico-financeira dessa concessão, foi utilizado o CONCESS 1.0 (FLECK, 2009), um modelo baseado em Microsoft Excel 2007 de análise de viabilidade econômico-financeira de concessões em Parques Nacionais. Este modelo permite o cálculo dos indicadores econômico-financeiros, VPL, TIR e Payback Descontado em 10, 15 e 20 anos. A duração da concessão é normalmente longa porque é associada ao tempo de retorno dos investimentos (PEREIRA, 2003). Este estudo utilizou o cenário de 10, 15 e 20 anos. Foram identificados os aportes necessários em investimentos, gastos e receitas operacionais e estimada a necessidade de capital de giro (NCG). Considerada para Ano 0, a NCG foi calculada em 25% do valor dos custos e despesas operacionais previstos para o Ano 1. Esta representa uma necessidade de caixa mínima para contingências e oportunidades e seu valor é retornado no ultimo ano da analise. Os preços e custos adotados referem-se a 2011, em valores reais, portanto, não incorporam o efeito da inflação, como de praxe em estudos deste tipo (ASSAF NETO, 2008). Tampouco são considerados crescimentos reais nos preços e todas as vendas e pagamentos foram considerados à vista.

Os levantamentos fundamentaram-se em pesquisas de preços e na aplicação de questionários para a Pesquisa de Perfil e Demanda . Foram levantados os principais recursos, custos e despesas envolvidos na construção e do circuito de arvorismo, loja de souvenires e lanchonete. Em função da ausência de estudo de mercado que indicasse uma carteira de produtos e seus respectivos preços e quantidades demandadas tanto para a loja quanto para a lanchonete, adotou-se que o custo médio de aquisição das mercadorias em 50% do valor de venda. Para fins dessa análise, considera-se que o futuro concessionário cumprira com todas as exigências estabelecidas pela legislação brasileira.

Foi estabelecida a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) efetiva e real em 10% a.a. e mais 5% de premio de risco. Foram utilizados o VPL, TIR e Payback como os indicadores da viabilidade do projeto. A taxa do ICMBio foi simulada de forma a manter a viabilidade do negócio para o operador.

ANÁLISE DOS DADOS INVESTIMENTOS

Os principais investimentos necessários à operação referem-se à reforma do prédio onde está localizado o “Restaurante A Floresta”, aquisição de duas Vans para o transporte de visitantes no interior do Setor Floresta da Tijuca, um veículo utilitário de apoio, construção da estrutura de arvorismo e de equipamentos operacionais e de segurança, mobiliário de escritório, lanchonete e loja de souvenires.

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Prevendo-se a necessidade futura de substituir equipamentos, foram previstas novas aquisições em equipamentos de informática, conforme apresentado na Tabela. Tabela 2 – Principais Investimentos para operação do Arvorismo, lanchonete e loja. Item Custo Real Unitário

CIF (R$/Unidade) Quant. Tempo de

Uso(Anos) Valor Residual

Reforma do prédio floresta 603.750,00 1 10 0% Veículo adaptado C/plat Embarq 23 a 25 pessoas 85.000,00 1 5 50% Veiculo utilitário p/serv. Apoio 36.000,00 1 5 50% Material para construção de plataformas 3.800,00 12 10 10% Cabo de aço c/ alma de aço 3/8 (em metros) 8,90 5.000 10 0% Mobiliário de escritório, recepção e vestiário. 7.500,00 1 5 0% Mobiliário para lanchonete 15.000,00 1 5 0%

CUSTOS OPERACIONAIS Como custos operacionais foram considerados:

Confecção do ingresso: custo estimado em R$ 1,00 que se refere aos materiais envolvidos;

Seguro acidentes pessoais: R$ 2,00 por visitante;

Custo médio de aquisição de mercadorias para loja e cafeteria: R$ 2,00/ visitante, que representa

50% da receita obtida com a venda dos produtos

Folder informativo: R$ 0,10 por visitante.

DESPESAS OPERACIONAIS

As despesas operacionais representam aquelas com folha de pagamento, manutenções, administrativas e financeiras. A folha de pagamento esta detalhada na Tabela 3 e seu custo anual inclui FGTS, PIS, 13o salario, adicional de ferias, demais provisões, transporte e alimentação. O quadro de funcionários considera uma equipe necessária à realização das atividades de monitoria, operacionais e de atendimento.

As demais despesas são apresentadas na Tabela 4 e Tabela 5.

Tabela 3 – Cargos, Salários, Encargos e Benefícios

Cargo Nº Inicial de Funcionários

Salário Bruto Unitário (R$)

Custo Anual Unitário (R$)*

Gerente 1 6.220,00 119.994,71

Sub Gerente 1 4.976,00 96.906,57

Administrativo 1 1.866,00 39.186,21

Jardineiro 1 1.244,00 27.642,14

Monitor 25 1.866,00 39.186,21

Auxiliar de Limpeza 2 933,00 21.870,11

Vigia 2 1.244,00 27.642,14

Motorista 4 1.866,00 39.186,21

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Chefe de Equipe (Instrutor de Arvorismo) 2 3.110,00 62.274,36

Copeira 2 933,00 21.870,11

Vendedor 2 1.244,00 27.642,14

Operador de Caixa 1 1.244,00 27.642,14

Monitor (contrapartida) 12 1.244,00 27.642,14

Chefe de Equipe (contrapartida) 2 1.600,00 34.249,36

Auxiliar de Serviços Gerais 2 1.244,00 27.642,14

Total da Folha de Pagamento 58 - 640.576,70

*Inclui encargos e benefícios

Tabela 4 – Despesas de Manutenção, Administrativas e Financeiras

Item Frequência Custo CIF (R$)

Manutenção de veículos Semestral 10.000,00

Manutenção posto médico Anual 1.000,00

Manutenção da lanchonete Mensal 800,00

Manutenção do circuito Mensal 800,00

Assessoria Contábil Mensal 750,00

Pro Labore Mensal 5.000,00

Energia Mensal 1.000,00

Telefonia Mensal 500,00

Marketing Mensal 2.000,00

Tarifas de cartões de crédito Mensal 2.300,00

Uniforme (motorista e recepcionista) Mensal 100,00

RECEITAS

De acordo com as estimativas de demanda e preços, obtém-se uma Receita Bruta anual de aproximadamente R$ 3,5 milhões no primeiro ano chegando a R$ 6,19 milhões no décimo ano . Esta receita foi corrigida a uma taxa de 5% ao ano para o Canopy e 5% para a loja de souvenir e lanchonete a cada dois anos, simulando a atualização de preços pela inflação. Com esses índices o Canopy representa 42,85% do faturamento no primeiro ano e chega a 41,25% no vigésimo ano.

Tabela 5 – Projeção das Receitas por Unidade de Negócio

Unidade de Negócio Demanda Receita por Visitante (R$)

Receita (Ano 1) Receita (Ano 10)

Bilheteria 18.000 90,00 1.620.000,00 2.724.216,72

Lanchonete 120.000 8,00 960.000,00 1.724.022,07

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Loja Souvenir 120.000 10,00 1.200.000,00 2.155.027,59

TRIBUTAÇÃO, TAXAS E COMISSÕES

A taxa do ICMBio será cobrada sobre a arrecadação com ingressos do concessionário, sendo repassada diretamente ao ICMBio. Portanto, não foi considerada na base de cálculo da tributação sobre o faturamento. O valor da taxa foi modelado na Análise de Ponto de Equilíbrio e é apresentado nos resultados e discussão. Neste caso, não foi considerado o pagamento de comissões. Devido ao faturamento projetado ultrapassar o limite permitido para a adoção da modalidade do Super Simples, dentre as opções restantes a tributação pelo Lucro Real foi a mais vantajosa para essa concessão. A tributação sobre o faturamento relativa a serviços incluiu o pagamento de PIS e COFINS, com alíquotas de 10,00%, 2,00% e 5%, respectivamente. Na tributação sobre o lucro, considerou-se o IRPJ, o AIRPJ e a CSLL. NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO

A Necessidade de Capital de Giro (NCG) inicial (Ano 0) foi estimada em 20% do valor inicial das despesas operacionais (Ano 1) e representa uma necessidade de caixa mínimo para contingências e oportunidades. Seu valor é retornado no último ano da análise. Todas as vendas e pagamentos foram considerados à vista. TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE

Considera-se uma TMA efetiva real é de 10% a.a. Consideramos, para este fim, um custo de oportunidade do capital de 3,01% referente ao CDB, representando investimento de baixo risco, e 6,99% de prêmio de risco. ANÁLISE DOS DADOS

Os resultados da análise de viabilidade são apresentados resumidamente na Tabela 6. Estes resultados demonstram que o investimento é viável em qualquer alternativa de concessão. A rentabilidade muda pouco em relação às alternativas de concessão e o investimento se pagaria em pouco menos de dois anos.

Tabela 6 – Resumo da análise de viabilidade

Indicador Duração do projeto

10 anos 15 anos 20 anos

VPL do projeto R$ 5.245.805,00 R$ 7.908.557 R$ 9.805.749

VPL Privado R$ 3.305.835,00 R$ 5.336.944 R$ 6.801.115

TIR 37,79% 39,81% 40,19%

Payback Descontado 3 anos 8meses e 15dias

É viável ao concessionário? SIM SIM SIM

Fonte: Elaboração própria Tabela 7 – Valor Presente (VP) do ICMBio em diferentes alternativas de concessão

Variável 10 anos 15 anos 20 anos

VP da arrecadação R$ 1.939.970 R$ 2.571.613 R$ 3.004.634

Taxa Máxima sobre o faturamento total 37,0% 32,5% 30,6%

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A Tabela 7 apresenta os resultados para a concessão de 10 anos aplicando a taxa máxima para esse

período, e os efeitos de potenciais extensões da concessão para 15 e 20 anos. As tabelas com os fluxos de

caixa do concessionário detalhados podem ser consultadas no Anexo. Em comparação com a tabela 6, a

Taxa Interna de Retorno mantém-se próxima nas diferentes opções .

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

O investimento avaliado é viável financeiramente no arranjo definido e permitirá a melhoria da

infraestrutura de visitação e da prestação de serviços no PARNA da Tijuca. Além disso, o estabelecimento

da concessão proporcionará remuneração minimamente adequada ao concessionário e receitas

adicionais ao ICMBio.

Recomenda-se a opção pelas alternativas de concessão de 10 ou 15 anos, pois são

suficientemente rentáveis ao concessionário e garantem retorno em prazo menor, portanto, diminuindo

riscos. Como essa concessão implica em investimento de grande soma, é recomendável que se

estabeleçam com transparência e objetividade os critérios norteadores de possíveis reequilíbrios

financeiros, especialmente caso as previsões de demanda não se confirmem.

Alguns fatores adicionais devem ser destacados na interpretação dos resultados:

A confirmação das previsões de demanda estimadas será de suma importância para a

manutenção da rentabilidade da concessão. Desvios relativamente pequenos nos valores

estimados afetarão significativamente os resultados da concessão. Caso ocorram, poder-se-á,

como estratégia, flexibilizar-se o preço do ingresso e/ou a taxa cobrada pelo ICMBio.

A acurácia dos resultados relaciona-se à qualidade das estimativas de investimentos

necessários feitas pelas empresas consultoras.

O concessionário poderá oferecer produtos adicionais na loja de souvenires e lanchonete, que

proporcionarão outras fontes de receita associadas à concessão;

É possível que o concessionário opte pelo investimento em bens de segunda mão, obtendo

ganhos de eficiência operacional.

O nível de risco adotado na estimativa da TMA poderá ser negociado em função dos

critérios que definirão a possibilidade ou não de reequilíbrios financeiros.

Estes e outros fatores poderão ser utilizados como base de negociação em futuros reequilíbrios

financeiros. Recomenda-se o uso do modelo desenvolvido sobre o CONCESS 1.0 na modelagem de

cenários alternativos com alterações em variáveis selecionadas.

Sugere-se que seja estabelecido em contrato o conteúdo e forma dos dados de monitoramento

financeiro e operacional que o concessionário deverá fornecer anualmente ao ICMBio. Esses dados

servirão de base para acompanhamento e eventuais renegociações de contrato e para novos estudos de

viabilidade por ocasião da organização de novos processos licitatórios.

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