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ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PROJETO CAJU É GERAÇÃO DE RENDA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BAIXO ACARAÚ - CE 2010 - 2012

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ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA

PROJETO CAJU É GERAÇÃO DE RENDA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BAIXO ACARAÚ - CE

2010 - 2012

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ESTUDO DE VIABILIDADE

PROJETO CAJU É GERAÇÃO DE RENDA E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL NO BAIXO ACARAÚ – CE

Associação Alternativa Terrazul / IEES-UVA (Sobral-CE)

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SUMÁRIO

1. Introdução ………………..…………………………………….……………………………………………………………. 03

2. Metodologia …..………………………………………………….…………………………………………………………. 08

3. Análise de Dados ……..……………………………....………………………………………………………………….. 12

4. Considerações Finais ………………………………………………………………………………………………..…… 22

5. Anexos ……………..…………………………………………………………………………………………………………… 24

5.1. Acaraú ………………………………………………………………………………………………….... 24

5.2. Bela Cruz ……………………………………………..……………………………….………………….. 30

5.3. Cruz ………………………………………………………………………………………………………… 36

5.4. Itarema …………………………………………………………………………………………………….. 43

5.5. Jijoca …………………………………………………………………………………………………….… 49

5.6. Marco …………………………………………………………………………………………………..… 55

5.7. Morrinhos …………………………………………………………………………………………….… 61

5.8. Santana do Acaraú ……………………………………………………………………………….… 68

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1. INTRODUÇÃO

O objeto de contratação entre a ASSOCIAÇÃO CIVIL ALTERNATIVA TERRAZUL (ora

abreviadamente denominada TERRAZUL) e o Instituto de Apoio ao Desenvolvimento da

Universidade Estadual Vale do Acaraú – IADE/UVA (ora IADE/UVA), agora apreciado,

constituiu-se no ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA1. Seu objetivo é compor análises e

informações para respaldar as ações pertinentes ao Projeto “Caju é Geração de Renda e

Desenvolvimento Sustentável no Baixo Acaraú (CE)” (que para todos os efeitos, utiliza apenas

a o acrônimo CAJUS no decorrer do presente documento).

O Projeto CAJUS é uma iniciativa da Associação Civil Alternativa Terrazul, com apoio do

CEAT (Centro de Estudos e Apoio ao Trabalhador e Trabalhadora), e financiamento da União

Européia, tendo como objetivo melhorar a qualidade de vida, proporcionando ocupação

laboral e geração de renda para trabalhadoras rurais de 8 municípios, sejam eles: Santana do

Acaraú, Morrinhos, Marco, Bela Cruz, Cruz, Acaraú, Jijoca de Jericoacoara e Itarema) da região

noroeste do Estado do Ceará (Nordeste do Brasil) denominada Baixo Acaraú (observando-se

que Santana do Acaraú é considerado “médio-baixo Acaraú”, ou seja, em transição dentro

dessa convenção geográfica).

Através deste projeto, pretende-se capacitar, no decorrer de 3 anos, através de cursos

de processamento de caju, trabalhadoras rurais nestas 8 localidades para realizar o

beneficiamento e comercialização do pedúnculo do caju e, acessoriamente, para os períodos

de seca ou entressafra, outras frutas, pertencentes à flora, ou à cultura de plantio da região.

A produção agroflorestal orgânica e certificada se destaca como uma de suas

principais qualidades, já que, seu objetivo final é realizar uma produção e beneficiamento das

frutas sem a intervenção de agrotóxicos, como forma de manejo mais racional e sustentável

dos recursos da terra.

O CAJUS também realizará cursos de Capacitação, de Organização Comunitária,

Associativismo, Cooperativismo e Economia Solidária, e oficinas de Gênero, Organização

Comunitária e Capacitação e Organização para Lideranças Jovens. O artesanato e o ecoturismo

comunitário estarão presentes como atividades complementares, que vão fornecer ocupação

para o período de entressafra, e para as trabalhadoras que desejem engajar-se em outras

1 Ver Contrato e Anexos I e II.

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atividades catalisadas pelo projeto, que não o beneficiamento do caju. Vale destacar que a

produção de artesanato deve considerar matéria-prima da região, como o coco e a palha da

carnaúba.

Assim, o referido trabalho, agora relatado, é parte de um processo que conta com a

interveniência técnica e de gerência da Incubadora Universitária de Empreendimentos

Econômicos Solidários – IEES-UVA (Sobral-CE), na condição de executora física do referido

ESTUDO e contrato, e com o acompanhamento permanente da TERRAZUL2, através de

representante(s) indicado(s) a participar em todas as fases do trabalho, no sentido de

assegurar a sua concretização com o melhor aproveitamento possível para necessidades do

projeto.

Tal fato se apresenta devido ao elevado número de perguntas no questionário

aplicado – 64, com subdivisões e “informações complementares” – tornando-o extremamente

abrangente em seus aspectos gerais, de forma a dificultar a edificação de tamanho volume de

informações, para o fornecimento dados claros e concretos, a serem abordados para

diferentes fins e em momentos variados no decorrer dos três anos do CAJUS.

Portanto, quando transparece a dinâmica complexa e a extensão assumida pelo

Projeto na Região, é relevante destacar a abrangência do levantamento (pesquisa) para fins de

utilizações futuras em diversas intervenções que se fizerem necessárias, acarretando o que já

se pode concretamente visualizar como um Banco de Dados do Projeto CAJUS, composto a

partir deste trabalho na forma de:

707 Questionários aplicados, lançados e arquivados (por ordem de

lançamento) separadamente por cada um dos 08 municípios;

08 “Plataformas Excel”, que receberam, respectivamente, os dados dos

Questionários aplicados por município, observando-se ao final das colunas (que correspondem

às perguntas e/ou a subdivisão destas no Questionário) os seus resultados, que passarão a

fases finais de análise compondo relatório(s) geral(ais) e/ou outro(s) específico(s);

“Análises dos Dados” de cada município de per si (ANEXOS ao Relatório Final,

subitem 5.3);

2 Ver PROTOCOLO ORIENTADOR QUE ENTRE SI CELEBRAM A ASSOCIAÇÃO CIVIL ALTERNATIVA TERRAZUL E A INCUBADORA IEES-UVA.

5

01 “Plataforma/Tabela” em programa Word, consolidando o resultado das

respostas dos 08 municípios a cada pergunta;

O RELATÓRIO FINAL – setembro de 2010 (primeira abordagem ao Banco de

Dados Cajus).

Institui-se, portanto, no bojo do referido trabalho, a criação de uma base inaugural de

informações, um “Banco de Dados Cajus” para consultas diversas, à posteriori, assim como

para possíveis acréscimos, correções, e críticas, no decorrer do Projeto.

Contudo, o ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA, em seu primeiro momento, lança

olhar sobre tais dados, para perpetrar um contorno inicial das realidades a serem abordadas e

trabalhadas pelo CAJUS, ou seja, neste dado momento, as análises que se seguem,

desempenham um papel de “marco zero” para o projeto. Esta apreciação inicial proporcionará

subsídios para comparações temporais avaliativas do cumprimento e progresso – ou não – das

metas a serem atingidas pelas atividades propostas, nas perspectivas de curto, médio e longo

prazo, a que se prestam.

Portando, no ESTUDO, além dos seus aspectos gerais há orientação para metas

específicas do projeto, que se tornam prioridades mais imediatas, merecendo atenção e

tratamento igualmente imediatos, a saber:

1) Identificação geográfica das áreas dos 08 municípios abrangidos pelo Projeto onde

haja produção de caju e potencialidade para trabalhar com seu pedúnculo; produção de outras

frutas regionais, as quais teriam a possibilidade de substituir e/ou complementar o trabalho

com o pedúnculo no caso de eventual dificuldade no beneficiamento do mesmo, por conta de

secas, pragas, etc.; potencial para o ecoturismo comunitário, mapeando quais comunidades

específicas teriam interesse em participar das atividades propostas; potencial para o

artesanato, mapeando quais comunidades específicas teriam interesse em participar das

atividades propostas;

2) Mapeamento geográfico do público-alvo do projeto, ou seja, mulheres em situação

de pobreza, integrantes de comunidades da zona rural dos 08 municípios supracitados;

famílias interessadas em praticar o ecoturismo comunitário e/ou trabalhadores(as)

interessados em participar das atividades ligadas ao artesanato; jovens interessados em

tornarem-se liderança em suas comunidades ou participar dos cursos de juventude.

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3) Mapeamento das políticas públicas, nos municípios abrangidos pelo projeto, em

agricultura familiar, economia solidária e comercialização de pequenos produtores.

4) Mapeamento e análise das práticas ambientais costumeiras em todas as etapas do

plantio, pelos agricultores, e nos afazeres domésticos, pela família dos entrevistados.

Observam-se assim, na conformação ou perfil do ESTUDO, em seu “marco zero”, os

assuntos básicos: mulheres em situação de pobreza e integrantes de comunidades (sobretudo

rurais), cajucultura, pedúnculo, frutas da cultura local, agricultura familiar e seus produtos,

organização comunitária, ecoturismo e turismo, artesanato, juventude, e práticas e noções

relativas ao meio ambiente.

Desta feita, de acordo com as premissas relatadas acima, aliadas aos princípios e

metas definidos pelo projeto CAJUS, foram extraídos, dos assuntos básicos, 12 (doze) tópicos

norteadores das presentes análises, tanto na consolidação regional do ESTUDO, quanto no

exame de cada município per si, contidos nos anexos do trabalho, sendo eles:

1. IDENTIFICAÇÃO, contendo dados gerais dos municípios, como as fronteiras,

população, distritos, etc.;

2. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS, apresentando informações importantes para o

projeto, tais como, a porcentagem de mulheres da amostra, a média de moradores por

residência, e a quantidade de entrevistados que possuem, TV, rádio, celular, internet, etc.,

3. FORMAÇÃO, que relata a escolaridade dos entrevistados de cada município,

perpassando também pelo conteúdo “extra-escolar”, ou seja, cursos similares aos ofertados

pelo projeto CAJUS;

4. OCUPAÇÃO E RENDA, exibindo, talvez, os dados mais importantes deste

trabalho, como as ocupações, não só as principais, como as secundárias, dos entrevistados,

além de revelar as fontes das quais provêm sua renda, e qual é essa renda;

5. AGRICULTURA FAMILIAR, apreciando a situação dos agricultores e suas

plantações;

6. PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR, observando as culturas plantadas,

consumidas, e comercializadas pelos agricultores e familiares;

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7. SISTEMAS DE PRODUÇÃO, adentrando a questão do sistema produtivo e práticas

de manejo adotadas;

8. APROVEITAMENTO DO PEDÚNCULO DO CAJU, que salienta outra parte essencial,

da realidade local, para o projeto, apresentando, principalmente, a presença de cajueiros nas

propriedades, a porcentagem de pedúnculos desperdiçados, e a porcentagem de pedúnculo

comercializado e processado;

9. ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA, que demonstra a força da organização das

comunidades, como associações e grupos produtivos, e suas divisões decorrentes, sejam

grupos de mulheres, de jovens, etc.;

10. POTENCIAL PARA O ARTESANATO, denotando a presença e as particularidades

dessa atividade nas comunidades;

11. POTENCIAL PARA O ECOTURISMO COMUNITÁRIO, identificando a imagem que

os entrevistados têm do turismo e de sua possibilidade em suas localidades; e

12. PERCEPÇÃO E PRÁTICAS AMBIENTAIS, observando as práticas cotidianas,

pessoais e comunitárias, relativas ao desenvolvimento sustentável e à ecologia.

Desta forma, crê-se alcançar aos objetivos finais deste ESTUDO, quais sejam, a

construção de um Banco de Dados do CAJUS, possibilitando novas leituras e releituras de

informações valiosas para a região e para o projeto; a criação do “marco zero” possibilitando o

acompanhamento futuro dos processos e atividades propostas, por meios comparativos e

temporais; e, por fim, uma base informativa concatenada, lógica, e conclusiva – mesmo que

bastante específica – das realidades sociais, culturais, e econômicas, com as quais se pretende

trabalhar nos próximos 3 anos.

Nestes três pilares, tem-se a oportunidade de se proceder à consulta de dados que

sejam importantes para determinar o contexto e indicarem um norte, uma orientação, um

viés, não só para cada atividade no processo de implementação do CAJUS, como para qualquer

percalço ou limitação que venham a se apresentar, em breve ou futuramente, e que, em seu

propósito final, estima-se que auxiliem o relevante propósito a que se propõe a iniciativa sob

responsabilidade da TERRAZUL.

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2. METODOLOGIA

2.1 Objetivos do estudo

- Obter informações sobre a realidade socioeconômica da população envolvida no

projeto CAJUS.

- Obter dados para, através de comparações futuras, avaliar a realização, ou não, das

metas inicialmente propostas e dar subsídios para a tomada de decisões, norteando

as ações dos projetos.

- Criar um banco de dados para posteriores consultas

- Avaliar o potencial das comunidades envolvidas no que diz respeito aos objetivos do

projeto CAJUS

2.2 Tipo de estudo

As informações foram obtidas através de fontes primárias e secundárias. Quanto ao

método utilizado configurou-se como levantamento, ao interrogar diretamente as pessoas

cujas informações seriam/serão úteis, e, em seguida, os dados obtidos foram tratados de

forma quantitativa; de acordo com as fontes de informação foi uma pesquisa de campo, com

o(a) pesquisador(a) presente onde ocorre o fenômeno para diretamente obter as informações

necessárias; e, de acordo com a natureza dos dados pode-se classificar como pesquisa

qualitativa e quantitativa concomitantemente, quando a entrevista alargou a captação de

vivências, práticas, entendimentos peculiares a valores e conceitos numa perspectiva

qualitativa e, é também quantitativa desde que informações numéricas foram obtidas para, a

seguir, participarem da análise respectiva.

A pesquisa de campo foi escolhida por possibilitar a aquisição do conhecimento

através da coleta direta frente à realidade dos fatos, permitindo um contato direto com o

informante e diminuindo a possibilidade de interpretações subjetivas, importando em relativa

rapidez e significativa quantidade de dados em um menor espaço de tempo, que podem ser

objetivamente consolidados e relacionados.

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Na pesquisa de campo foram utilizadas entrevistas com abordagem, parte direcionada,

parte aleatória, como será detalhado mais adiante.

2.3 Ambiente do estudo

A região do Baixo Acaraú (litoral noroeste do Estado do Ceará), localizada no Semi-

Árido nordestino, caracteriza-se pela pequena propriedade rural. Por conta desta configuração

agrária diferenciada, a maior parte do contingente populacional se organiza em torno da

agricultura familiar. O calor excessivo, os longos períodos de estiagem, e o regime intermitente

de chuvas tornam o cultivo de culturas de subsistência bastante limitado, sobretudo no

contexto de drástica mudança climática em que vivemos. Os 8 municípios objeto da proposta

constituem uma das áreas mais pobres do Brasil (com IDH médio de 0,615, semelhante ao do

Gabão, na África: fonte IPECE), com taxas de analfabetismo em torno de 58% (fonte: INEP), PIB

per capita na faixa de US$1200,00 (bem inferior ao índice nacional de US$6.600,00, fonte:

IBGE), tendo o acesso a direitos sociais básicos bastante deficitário. A região se caracteriza,

também, por alta taxa de desemprego, aliado ao fato de que uma parcela significante das

mulheres da zona rural não possui qualquer ocupação formal, na maior parte das vezes

realizando tarefas domésticas não remuneradas.

2.4 Sujeitos do estudo

Partindo de um universo de 226.530 habitantes da região do Baixo Acaraú, foi

descartada a população urbana, por se tratar de um projeto com atuação principalmente na

zona rural, sendo, com isso, considerados os 123.343 habitantes da zona rural.

Foi feita uma tempestade de idéias para a definição da amostra. Sendo acatadas as

seguintes sugestões de formas de coletas de dados para o Estudo de Viabilidade Econômica:

Pesquisa intencional - com os entrevistadores dirigindo-se para os grupos produtivos já

mapeados na região ou para comunidades indicadas pelas lideranças locais.

Priorizar a entrevista com mulheres agricultoras, artesãs ou pertencentes a um grupo

produtivo; e com grupos de jovens.

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Realização de uma entrevista por unidade familiar/ residência.

O alvo do projeto é preferencialmente mulheres em situação de pobreza (classes D e

E), integrantes de comunidades da zona rural dos 08 municípios supracitados (76,52% dos

questionários) as quais estejam em posição de desemprego, subemprego, ou que mesmo

possuindo alguma ocupação em atividade econômica desejem/precisem melhorar a situação

financeira de suas famílias; famílias que beneficiam o pedúnculo do caju e outras culturas

substitutas em época de crise; famílias interessadas em praticar o ecoturismo comunitário;

trabalhadores (as) interessados em participar das atividades ligadas ao artesanato; e,

complementarmente, jovens rurais com alguma participação no cotidiano familiar e

comunitário, se capacitados a acessar tecnologias modernas e enquanto lideranças em seus

meios.

2.5 Elaboração da entrevista

Foi elaborado um questionário com 64 perguntas enumeradas (com subdivisões e

“informações complementares”), fechadas e abertas, iniciando-se com questionamentos

voltados à identificação dos (as) respondentes, incluindo sua escolaridade, moradia e

moradores, ocupações, renda, acesso à informática, alimentação, etc.

Foi necessário tempo e paciência para as respostas, com atenção redobrada na

tabulação, o que requeria, sobretudo nas questões abertas, leituras e releituras interpretativas

e, sobretudo validadoras das informações colhidas.

A maior parte das perguntas caracterizou-se pela objetividade, e a estrutura do

questionário foi dividida em blocos buscando a melhor compreensão do entrevistador, do

entrevistado e dos responsáveis pela sua compilação e análise.

São os blocos e quantidades de perguntas do questionário:

1. identificação e localização do(a) entrevistado(a); informações sócio-

econômicas e familiares (da 01 a 26);

2. agricultura familiar, agroecologia e cajucultura (da 27 a 46, além de seis

outras perguntas complementares sobre outros produtos agropecuários

e extrativistas, em subdivisão inserida neste bloco);

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3. ecoturismo e artesanato (da 47 a 54);

4. questões ambientais ( da 55 a 64);

2.6 Coleta dos dados

A aplicação do questionário foi realizada em um município por vez, entre os dias 22 de

junho e 15 de julho de 2010.

Cada entrevistado demorou em média de 30 min., face à necessidade de aproximação,

convencimento e explicações de perguntas dentro da finalidade da pesquisa em promover,

pari passu ao contato da entrevista/questionário, uma divulgação correta do processo de

intervenção proposto para os próximos 03 (três) anos no município e na região.

As perguntas foram compiladas (classificadas/codificadas) no intuito de permitir

precisão ao tabular, no caso previsto das perguntas abrigadas em matriz (realizada em

programa Excel), ou plataforma, idêntica para cada um dos municípios de per si; o que, por sua

vez, foi condição obrigatória para fins da posterior e mais correta consolidação dos 08

municípios contidos na região foco da Pesquisa Cajus.

Por se observar, dentro da “plataforma Excel” de cada município, ausências eventuais

de respostas, variando na dependência da pergunta específica do questionário (ou subdivisões

desta), estas “ausências” não foram ponderadas no conjunto da pergunta (ou de subdivisão

desta); no caso apunha-se um “traço” na condição de “zero resposta”, desde que

percentualmente se considerou, no conjunto de respostas de cada pergunta, só o

efetivamente respondido (e compreendido).

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3. ANÁLISE DOS DADOS

Com relação ao tratamento e análise dos dados, sobretudo na perspectiva do Projeto

“Caju é Geração de Renda e Desenvolvimento Sustentável no Baixo Acaraú (CE)”, buscam-se a

compreensão municipal e regional, completando ao todo, 9 (nove) apreciações distintas,

porém dispostas em uma “estrutura base” similar.

A primeira, com a consolidação regional das respostas de cada município, ou seja, uma

análise conjuntural, contendo as informações dos 705 questionários válidos, relativa à região

do Baixo Acaraú. Aqui constará um estudo completo da região, que vai corroborar, ou não,

com a necessidade e a possibilidade do projeto CAJUS em sua totalidade, apontando caminhos

e obstáculos. Para além, fincará um marco para futuras comparações e constatações do

andamento do projeto e da consecução de metas propostas.

A segunda, constando em anexo no presente ESTUDO, com a apreensão das realidades

específicas de cada município, dispostos nesta ordem: Acaraú, Bela Cruz, Cruz, Itarema, Jijoca,

Marco, Morrinhos, e Santana do Acaraú. A consulta a cada análise em anexo, se torna

indispensável à compreensão do trabalho como um todo, pois delas decorrem não apenas as

informações que darão norte às atividades propostas em cada município, bem como às suas

nuances, suas sutilezas.

Para tanto, nesta primeira utilização do Banco de Dados do Projeto CAJUS, em

detrimento de outras informações, definiu-se trabalhar nas perspectivas temáticas mais

urgentes ao andamento e preparação das atividades e cursos oferecidos. Ainda, cada temática,

por sua vez, contém questões escolhidas como mais representativas de sua realidade. Desta

forma, seguem-se os tópicos:

3.1 Aspectos Socioeconômicos

Foram realizadas, ao todo, no Baixo Acaraú, 707 entrevistas, com apenas 2 (duas)

sendo invalidadas, o que resultou uma amostra de 705 questionários. Deve-se destacar que o

público-alvo do projeto – população feminina das áreas rurais em situação de pobreza –

compõe, aproximadamente, 77% da amostra, num total de 542 mulheres.

A principal faixa etária é composta de 420 adultos, de 30 a 59 anos, ou cerca de 60%

da amostra. A população jovem, também foco de atividades específicas do projeto, alcança

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cerca de 30% do total, apresentando, em média, 25,6 jovens por município. A média de idade

é de 39 anos, sendo a menor, de 34, pertencente a Cruz. A região possui uma média de 25,6

jovens por cidade, possuindo, Acaraú, 35, o maior número absoluto deles.

Fato com influência positiva para o projeto, é que a grande maioria dos entrevistados,

603, ou 85,5% moram em casa própria, o que facilitaria o recolhimento do caju, e de outras

frutas, para o processamento, nas residências. Também com grande relevância para as metas

do CAJUS, desponta o número de pessoas por residência, 4,7, em média, chegando, algumas

vezes, a mais de 10 pessoas. Assim, caso o projeto beneficie diretamente, por exemplo, 100

pessoas, estará beneficiando indiretamente, uma média aproximada de 400 (quatrocentas).

Quanto ao acesso à informação e aos meios de comunicação dos entrevistados, pode-

se destacar que 598, ou 85% possuem televisão em sua casa, 446, ou 63,3% possuem rádio, e

343, ou 48,7% tem celular. Ainda, apenas 65, ou 9,2%, têm computador, e 86% afirmam não

possuir qualquer acesso à internet. Tais informações nos levam a conclusão de que o rádio

seria a melhor mídia a ser trabalhada na região. Também há a possibilidade de mobilização de

boa parte da amostra com o uso do celular, a despeito do computador e conseqüentemente

da internet, mídias ainda pouco utilizadas nessas comunidades.

2. Formação

A escolaridade da amostra populacional selecionada situa-se, principalmente, no

Ensino Fundamental incompleto, já que, 48,8%, ou 341, não chegaram ao Ensino Médio.

Outros 119, ou 17%, possuem o Ensino Médio completo, e 103, ou 14,7%, não possuem

qualquer escolaridade. Entre as mulheres, a maioria possui o Fundamental Incompleto: são

287, ou 52%. Possuem o Ensino Fundamental completo, 18%, e outras 11,4% não possuem

escolaridade alguma. Apenas 8 (oito) possuem alguma graduação.

Assim, destaca-se o alto número de indivíduos que não chegaram ao ensino médio,

71,5% do total, o que aponta para a necessidade de metodologias e didáticas específicas, de

preferência com linguagem simples e direta, que sejam dinâmicas, baseadas nos

conhecimentos e experiências locais.

A participação em cursos, como atividades e aprendizados extraclasse, foi considerada

complementar à educação tradicional, pois, alguns deles, possuem foco em áreas temáticas

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mais específicas, de interesse do CAJUS, possibilitando o melhor desenvolvimento de

atividades produtivas, da geração de renda, da melhoria de vida, de atitudes ecológicas e

sustentáveis.

Deste modo, destaca-se a excelente quantidade de cursos, de interesse do projeto,

como agroecologia, turismo, meio ambiente, entre outros, que foram ofertados. Participaram

de alguma atividade relacionada aos objetivos do projeto, 310 entrevistados, resultando em

44% do total da amostra. Entre as mulheres a participação aumenta, já que 47% das mulheres

já participaram de algum.

Os cursos mais freqüentados foram o de artesanato, por 39% dos participantes, de

produção do caju, por 32,2%, e de cooperativismo, por 25,8%. É importante destacar que as

atividades relacionadas ao processamento de frutas também obtiveram bom resultado, com

21% de assiduidade. As aulas menos freqüentadas foram as de agroecologia, turismo, e

gênero, com a participação de 10,6%, 7,8%, e 5%, dos alunos, respectivamente. Pode-se

afirmar que houve participação mediana nos cursos de meio ambientes, com 19,3%, e

associativismo, com 17,7%. Individualmente, o município de Cruz se destaca novamente, já

que 85,5% de seus entrevistados fizeram algum desses cursos, seguido por Santana do Acaraú,

com 65,5%. Acaraú, Itarema, Bela Cruz, e Jijoca, têm o índice mais baixo, cada um com cerca

de 30% de participação.

É forçoso notar a pouca atividade em torno da questão do gênero, já que apenas 5%

dos que fizeram algum curso, estudaram essa questão. Torna-se ainda mais preocupante

quando se destaca a grande participação feminina nos cursos em geral, 44%. Assim, torna-se

imprescindível, que haja equilíbrio na distribuição das atividades a serem implementadas pelo

projeto, não só em cada município, mas também em cada área de conhecimento proposta.

3. Ocupação e Renda

Foram consideradas no ESTUDO, as ocupações principais e secundárias dos

entrevistados, porém, foi aceita somente 1 (uma) ocupação principal por resposta, enquanto

várias respostas poderiam ser dadas, como ocupação secundária, pela mesma pessoa. É

também necessário frisar que as fontes de renda foram analisadas separadamente do quesito

ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de governo, como o Bolsa

Família.

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A agricultura tem grande relevância como ocupação principal, compreendendo 447

entrevistados, ou 63,4% do total da amostra. A segunda atividade mais praticada é o

artesanato, apontado por 99 pessoas, ou 14% do total.

Afirmaram possuir uma segunda ocupação, aproximadamente 60% da amostra, ou

seja, 419 pessoas. Destes, 81,4% são mulheres, e entre as mulheres, 63%, ou 341, tem, pelo

menos, outro trabalho. O artesanato e a agricultura, novamente, são os mais citados, porém,

com relevância invertida: o primeiro é o mais citado, com 186 respostas, ou 44,4%, e o

segundo, com 73, ou 17,4%. A cajucultura, agora, aparece com destaque, sendo a segunda

ocupação de 49 pessoas, ou 11,7% da amostra.

Quanto às respostas sobre as fontes de renda dos pesquisados, devem ser

consideradas duas observações: a primeira remete ao fato de que poderiam ser citadas mais

de uma por resposta, aparecendo assim, contagens numéricas múltiplas; e a segunda diz

respeito ao fato de que, uma ocupação, como agricultura, por exemplo, serem citadas não só

como uma das principais fontes de renda, por ser ocupação principal, como também por ser

ocupação secundária.

Assim, as duas fontes de renda mais mencionadas foram a agricultura e o Bolsa

Família, por 522 pessoas, ou 74%, e 307, ou 43,5%, respectivamente. O artesanato também

tem grande destaque, presente na receita de 208, ou 29,5% dos entrevistados, assim como a

aposentadoria, com 122, ou 17,3%. A castanha de caju foi citada por 80 pessoas, ou 11,3%, e a

produção do caju por 47, ou 6,7%, sugerindo a forte presença do caju, e, por conseguinte, do

pedúnculo, nessas localidades. Outros ganhos que obtiveram alguma evidência foram o serviço

público, a pesca e o turismo.

Ainda sobre a renda familiar da amostra, 407, ou 58,2%, recebem menos de 1 (um)

salário mínimo por mês, e 250, ou 35,7%, recebem até 2 (dois) salários mínimos mensais.

Aparece negativamente nesse quesito, Cruz, com 71% das famílias sobrevivendo com menos

de 1 (um) salário mínimo, enquanto Itarema é o município que possui mais entrevistados com

renda acima de 2 (dois) salários: 17, ou 12,2% de sua amostra.

Desta forma, desponta a importância de projetos como o CAJUS, de geração de renda

e melhoria de qualidade de vida, já que 93,9% das famílias pesquisadas vivem com menos de 2

(DOIS) salários por mês.

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4. Agricultura Familiar

A maioria dos agricultores e agricultoras possui casa própria, ou moram com

familiares. São donos de suas terras 324, ou cerca de 50%, enquanto 209, ou 31%, são

parentes dos donos. Outros 66, ou cerca de 10%, moram em áreas de assentamento. Portanto,

é provável que se tenha facilidade em coletar os cajus desperdiçados em aproximadamente

80% dos lares.

Sobre o acompanhamento da produção familiar, foram obtidas 405 respostas. Dentre

elas, 184, ou 45,4% afirmam não haver qualquer acompanhamento, e 221, ou 54,6%

asseguram ser acompanhados. A maior parte dos agricultores é acompanhada por associações,

sindicatos, cooperativas, em um total de 26,2%. Recebem apoio do governo ou prefeitura,

22,7%, e de ONGs, 13%. Pode-se deduzir que praticamente a metade dos agricultores

pesquisados não recebe assistência técnica à sua produção.

Quanto à alimentação, os entrevistados têm um gasto mensal médio de R$ 285,50.

Afirmam gastar mais com arroz, 40,1% deles, enquanto 23,8% dizem gastar mais com carne, e

19,2% com açúcar. Também pesam na renda familiar, a compra de frango, feijão, e peixe,

citados, respectivamente, por 15,1%, 14%, e 11,6%. É importante ressaltar que, nessa questão,

poderia ser dada mais de uma resposta, por exemplo: alguém diz gastar mais com arroz, leite,

e café, enquanto outro cita apenas carne e feijão.

Os dados revelaram que apenas 14,7% de famílias, do total de 665 respostas, comprar

100% de seus alimentos, constatando-se que a esmagadora maioria utiliza-se também de

outras formas de complementação da alimentação de seus membros. Compram 75% de seus

alimentos, 407, ou 61,2%, e 121, ou 18,1% produzem metade do que consomem. Apenas 7

(sete) pessoas, ou 1% da amostra possui uma produção que satisfaça praticamente toda a

necessidade alimentar da família.

5. Produtos da Agricultura Familiar

Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da

agricultura familiar é bastante diversa, havendo produção para consumo próprio, e venda de

excedentes. O feijão e o milho são os mais plantados: o primeiro, por 90,6% dos agricultores, e

o segundo por 83,1%. A mandioca e a macaxeira também têm grande relevância, sendo

17

plantadas por 70%, e 50,8%, respectivamente. Cultivam hortaliças, 24,5%, e batata doce, 20%.

Um dado inesperado é a citação da melancia como uma das culturas mais plantadas por 7,6%,

superando outras frutas mais comuns na região, como o caju, e o coco.

É necessário fazer, aqui, um olhar mais atencioso, já que o caju aparece como cultura

mais produzida em apenas 3,1% das respostas. Porém, à frente, poderemos constatar que

existe um grande número de cajueiros nas propriedades dos entrevistados. Uma das possíveis

explicações para tal fato é a de que, como os cajueiros são mais comuns, não necessitando “do

mesmo cuidado” de outras culturas, como feijão e hortaliças, eles sejam momentaneamente

“esquecidos” nessa questão, sendo “relembrados” em questões específicas relativas ao

pedúnculo.

Apesar de existir um grande número de produtores, apenas 325, ou 53%

comercializam algo que produzem, podendo ser processado ou vendido diretamente. A

castanha do caju é a “campeã de vendas”, já que é trabalhada por 41% dos vendedores. Logo

em seguia aparece a farinha, negociada por 33%, e o coco3, por 15,3%. O caju é citado apenas

por 4,5%, sugerindo a possibilidade de coleta da maioria dos pedúnculos.

6. Sistema de Produção

Afirmaram usar o sistema produtivo convencional, 64,5% dos agricultores. Apenas 5%

utilizam o sistema orgânico, e somente 2,5% usam o agroecológico. Não souberam responder

sobre este tema, 7% dos que plantam alguma cultura. Dizem evitar a utilização de agrotóxico,

aproximadamente 25% dos produtores.

Quanto às práticas de manejo adotadas, dos 567 entrevistados que responderam esse

quesito, 336, ou aproximadamente 60%, afirmam utilizar-se de queimadas. A segunda prática

mais utilizada é a capina seletiva, com 177, ou 31,2% das respostas, e em seguida, o quintal

produtivo, com 70, ou 12,3%. Práticas como a agrofloresta e a adubação verde, e a utilização

de defensivos naturais, e biofertilizantes, são citadas, cada uma, em menos de 6% das

respostas.

É aparente a falta de conhecimento dos agricultores e agricultoras, não só de práticas

ecológicas e sustentáveis, como dos usos cotidianos na sua produção. O projeto CAJUS deverá

18

exercer papel importante no repasse de informações que conduzam ao abandono de práticas

nocivas ao homem e ao meio ambiente, como as queimadas e o uso do agrotóxico.

7. Aproveitamento do Pedúnculo do Caju

A presença do cajueiro na região do Baixo Acaraú é intensa. Todos os municípios

visitados possuem essa árvore, e apenas nas localidades de Lagoa Velha, Canema – em Cruz –

e Mutambeiras – em Santana do Acaraú – os pesquisados disseram não existir caju na

vizinhança.

Confirmando a força do caju na região, 550 pesquisados, ou 78% do total, asseguram

possuir pés de caju em sua propriedade. Destes, 357, ou 65%, dizem não vender 1 (um)

pedúnculo sequer. Ainda, somente 16, ou 3,4% vendem mais que 75% dos pedúnculos

produzidos em suas terras, e 42, ou 7,6% vendem metade da produção. Assim, é apropriado

afirmar que 450, ou 82% dos donos de cajueiros não vendem mais que 5% dos pedúnculos de

sua produção.

Esta grande quantidade de caju in natura que não é comercializado é consumido

diretamente, por 70, ou 13% dos entrevistados, enquanto outros 78, ou 14,2% o transformam

em ração animal. Assumem desperdiçar o caju, 244, ou 44,4% dos pesquisados. Porém, a

maioria absoluta, 453, ou 82,4%, diz processar o caju em outros produtos, como suco, doce,

mel, etc. Note-se que neste item foi permitida mais de uma resposta por entrevistado, já que,

é possível, por exemplo, processar uma parte do caju, transformar outra em ração animal, e

ainda sim, haver desperdício.

A maioria dos pesquisados, que afirmam fabricar outros produtos através do

pedúnculo, fazem o suco de caju e o doce de caju em calda: 301, ou 66,5% fazem o suco, e

255, ou 56,3%, o doce em calda. Também há elevada fabricação de doce (em massa), por 189,

ou 42% dos produtores, cajuína, por 154, ou 34%, e carne de caju, por 65, ou 14,3%. Também

há algum processamento de mel, mocororó, rapadura, e vinho. Poucas pessoas opinaram

sobre qual produto geraria mais resultado, totalizando 238 respostas. Destes, 124, ou 52%

crêem ser o doce o produto de melhor resultado, seguido da cajuína, com 61, ou 25,6% das

respostas. O suco, a rapadura, e o mocororó, foram citados, cada um, por cerca de 8% dos

pesquisados.

19

Por fim, um dado de fundamental importância para o projeto, é que 446

entrevistados, ou seja, 63,3% do total, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio,

fazenda, terreno público, etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. A quantidade de

caju existente na região, e desperdiçada, aliada ao conhecimento já existente, da maioria,

sobre o processamento do pedúnculo, realça o enorme potencial do projeto CAJUS na região.

8. Organização Comunitária

Foram detectados em todos os municípios, inúmeros grupos organizados, para os mais

diversos fins, como associações, cooperativas, grupos de jovens, grupos produtivos, etc. Entre

a amostra pesquisada, 455, ou 64,5% dizem fazer parte de alguma organização comunitária, o

que demonstra um excelente potencial mobilizador nessas comunidades.

Segundo os entrevistados, todos os 8 (oito) municípios envolvidos pelo projeto

possuem grupos produtivos. É válido destacar que apenas em Jijoca, Marco, e Santana do

Acaraú, foram citados grupos produtivos de caju4 (para mais detalhes sobre esses grupos, vede

as análises de cada município em anexo).

Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos, 165

mulheres, ou seja, 30,5% do total, afirmam participar de algum. Importante ressaltar a

decepcionante participação feminina, em grupos exclusivos, em Bela Cruz, Jijoca, e Morrinhos,

onde apenas 3 (mulheres) estão envolvidas em tais atividades.

Sobre organização jovem, 267 entrevistados, ou 38% fazem parte, tem filhos, ou

conhecem alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, como pró-jovem,

grupos religiosos, entre outros. Ainda, 77, ou 11% dos pesquisados, se consideram liderança

jovem local.

9. Potencial para o Artesanato

O artesanato é o principal trabalho de 79, ou 11,2% dos entrevistados, e a ocupação

secundária de 183, ou 26%. Caso se considere apenas o universo das pessoas que possuem

uma segunda ocupação, a porcentagem sobe para 43,7%, ou seja, dos pesquisados que têm

mais de um trabalho, 43,7% são artesãos ou artesãs. Além disso, é terceira fonte de renda

20

mais citada na pesquisa. Desta forma, o potencial para o artesanato em toda a região é claro e

evidente. Fato ratificado pelo número de pessoas que afirmam fazer artesanato, ou conhecer

alguém na comunidade que faça: 567, ou 80,4% do total.

Os produtos fabricados são bastante variados, abrangendo desde artes mais usuais,

como chapéus e bolsas de palha, crochê, bonecas, e redes, até produtos menos comuns, como

ímãs de geladeira, vassouras, e abajur de palito de picolé, cortina de conchas, esculturas de

gesso, filtros de coco, e cofres de barro. Consequentemente, as matéria primas também são

diversificadas, contendo materiais ecologicamente corretos, como palha de carnaúba, barro, e

garrafas pet, até produtos tóxicos, e degradantes da natureza, como tinta, verniz, E.V.A (etil

vinil acetato – um tipo de borracha).

Quanto ao ponto de venda dos produtos, 42,6% dizem comercializar na própria

comunidade, enquanto 34,6% afirmam não possuir local certo. Outros 17,5% vendem seus

produtos a atravessadores, 14,4% se utilizam das feiras, e 9% tem “loja parceira”. Apenas 4%

expõem seus produtos em loja comunitária. Portanto, há necessidade de se trabalhar a

logística dessa atividade, nas localidades englobadas pela pesquisa, para a venda e

escoamento dos produtos.

10. Potencial para o Ecoturismo Comunitário

A pesquisa apontou que 265 pessoas, ou 37,6% do total, têm alguma idéia do que seja,

ou já ouviram falar de turismo ou ecoturismo comunitário. O potencial turístico das

comunidades é pouco, ou nenhum, segundo 379 entrevistados, ou 53,8%. Apesar disso, 318,

ou 45,1% souberam apontar algum atrativo turístico de sua região (informações mais

detalhadas nas análises de dados específicas de cada município, em anexo). Vale lembrar que

Jijoca, Cruz, Acaraú, e Itarema, são municípios litorâneos, que possuem praias populares no

Ceará, incluindo a internacionalmente famosa praia de Jericoacoara. Além disso, Santana do

Acaraú, Morrinhos, Marco, Bela Cruz, Cruz, e Acaraú, fazem parte da bacia hidrográfica do rio

Acaraú, ou seja, são banhadas por ele.

Sobre a quantidade de visitas à comunidade, 430, ou 61%, dizem ser pouca ou

nenhuma, enquanto 226, ou 32%, afirmam ser o tempo todo, ou muitas. Ainda, segundo 301

entrevistados, ou 46%, os visitantes costumar se hospedar na casa de alguém, e, de acordo

21

com 137, ou 21%, 38, os visitantes ficam na sede de alguma associação. Para 92, ou 14%, ou

turistas dormem em pousadas, e para 28, ou 4%, em hotéis.

11. Percepção e Práticas Ambientais

Foram considerados nesta primeira consulta aos dados, cinco tópicos básicos, para

obter uma idéia geral das práticas adotadas pela amostra, sendo: o manejo do lixo, o uso ou

não de agrotóxico, o destino dado às embalagens dos agrotóxicos, o tipo de saneamento

utilizados nas casas, e o manejo do esgoto na comunidade.

Quanto à coleta de lixo, a maioria, 52%, ou 367 pessoas, afirmam queimar seus

resíduos, enquanto a coleta da prefeitura atinge 192, ou 27,2%. Outros 154, ou 21,8% dizem

enterrar o lixo, e 110, ou 15,6% jogam fora (normalmente em terreno baldio, porém não é

possível afirmar de uma forma segura onde esse lixo é jogado). É necessário observar que

poderiam ser dadas mais de uma resposta, já que, por exemplo, parte do lixo poderia ser

jogada fora, e outra enterrada, ou queimada.

Entre os 614 pesquisados que afirmam plantar algo, 223, ou 36,3%, usam agrotóxicos.

Destacam-se negativamente, Acaraú e Cruz, com 75% e 60% de seus agricultores utilizando

venenos em suas plantações, e positivamente, Marco, Morrinhos, e Santana do Acaraú, cada

um, com aproximadamente 15% de produtores utilizando agrotóxicos. Sobre o destino dado às

embalagens, a maioria, ou seja, 93, ou 41,7% dizem jogá-las fora. Queimam os recipientes, 71,

ou 32%, e os enterram 65, ou 29%. Somente 9 agricultores dizem lavar e devolver as

embalagens.

Quanto ao saneamento das residências, 612, ou 87%, utilizam fossa comum, enquanto

34, ou 4,8% possuem esgoto ligado à rede de saneamento do município. Fato alarmante é a

situação crítica de 33 pessoas, ou 4,7% que afirmam ter “esgoto a céu aberto”, e que este

número seja praticamente o mesmo dos que são assistidos pelo sistema de esgoto dos

municípios.

Por fim, quando falam do manejo do esgoto, não de suas residências, mas da

comunidade, 117, ou 16,7%, dizem haver sistema de tratamento, contra 443, ou 63%, que

afirmam não existir tal manejo, e 143, ou 20,3%, que não souberam responder.

22

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o estudo, foi possível concluir que é viável a implementação do projeto

CAJUS e suas metas, na região denominada Baixo Acaraú. Pode-se inferir que tanto os

objetivos principais, quanto os secundários, não só são passíveis de realização, como,

sobretudo, são necessários às famílias do campo, nestes municípios, que estão privadas de

direitos sociais básicos, como educação, saneamento, saúde, etc.

4.1. Aspectos Negativos

Alguns fatores aferidos deste trabalho podem causar alguns obstáculos à realização

das tarefas propostas. O desestímulo e a descrença de alguns, é um ponto forte a ser

considerado. Por algumas vezes os entrevistadores depararam-se com afirmações tipo: “já

houve projetos desse tipo e que nunca foram prá frente”; “acho que não vai dar certo e é

desperdício de tempo; e que é muito difícil isso acontecer”; “não quero responder, pois já sou

velho e não vou ter participação nessa estória”; “não vou responder, pois posso perder o

‘bolsa-família’ e o ‘aposento’, etc.

Outro fator adverso interessante para a pesquisa foi a constatação do

desconhecimento de entrevistados sobre diversos assuntos e termos utilizados na concepção

do questionário, e dos seus fazeres diários. Há grande desconhecimento, por exemplo, sobre

sistemas produtivos e práticas de manejo sustentáveis, com uso em larga escala, por exemplo,

de agrotóxicos e queimadas, além da queima do lixo, e da falta de saneamento básico. Tal fato

pode ser parcialmente explicado pela falta de qualquer acompanhamento na produção de

grande parte dos agricultores.

Portanto, esta desinformação em suas práticas cotidianas, aliada à escassa formação

escolar, e a pouca participação em cursos específicamente de agroecologia e meio ambiente,

pode ser um entrave a uma das metas do projeto, que é a produção agroflorestal orgânica e

certificada.

Ainda como pontos negativos podem-se destacar a pouca participação feminina em

grupos de gênero, a pouca comercialização das culturas plantadas, e ínfima renda familiar

(apesar da melhora desta ser o foco principal do projeto).

4.2. Aspectos Positivos

Como principal ponto positivo, despontam dois fatores essenciais ao alcance dos

objetivos propostos pelo CAJUS. O primeiro recai sobre o alto índice de presença de cajueiros

em todas as localidades e propriedades visitadas na região, além de existir desperdício de caju

(fato que por si só não é positivo, porém, tal fato é primordial às atividades a serem

realizadas). Além disso, o alto número de pessoas que processam o caju, e, portanto, já

possuem algum know-how para o beneficiamento, pode facilitar o aprendizado durante os

cursos. Uma última informação importante sobre esse assunto é a presença de plantações de

23

outras frutas, como o coco e a melancia, que poderão ser usadas como substitutas do

pedúnculo.

O segundo ponto diz respeito aos objetivos secundários, porém indispensável, ao

perfeito andamento do processo: a prática do artesanato e do ecoturismo. O segundo tem um

bom potencial na região, apesar da necessidade de análise específica na consolidação de cada

município. Já o artesanato possui forte participação na renda e na ocupação laboral de grande

parte dos entrevistados, em TODOS os municípios, resultando num excelente potencial de

geração de emprego e renda a que se destina o projeto.

Ainda, como aspectos positivos, pode-se ressaltar a alta média de moradores por

residência, o que certamente aumenta o número de beneficiados indiretos em cada família; a

boa participação em cursos como associativismo, cooperativismo, etc.; e a grande participação

das pessoas em grupos e movimentos da comunidade, demonstrando facilidade de

mobilização dos indivíduos.

4.3. Sugestões

O projeto CAJU É GERAÇÃO DE RENDA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA

MULHERES DO BAIXO ACARAÚ (CE), deverá, no âmbito de suas atividades, atentar para o

ensino em áreas mais carentes da região, como gênero e meio ambiente. Será um

imprescindível um reforço nesses temas, para que se possa obter mudança significativa nas

práticas cotidianas, pessoais e sociais, na realidade regional.

É também, imperativa, devido à baixíssima escolaridade, a adoção de uma

metodologia dinâmica, participativa que permita a atuação dos partcipantes, na busca de

novas práticas cotidianas, onde se valorize os conhecimentos e experiências locais,

identificando, discutindo, e buscando soluções para problemas vivenciados pela comunidade.

Quanto à questão da produção e comercialização, será necessário “jogo de cintura”,

para implementar as ações estabelecidas, pois além da existência de alguns grupos produtivos

– de pedúnculo de caju, inclusive – há venda de produtos individualmente, o que poderia gerar

alguns conflitos de interesse. O artesanato, por exemplo, é amplamente negociado, em todos

os municípios. Nesse caso, um desafio do projeto é, não só formar novos artesãos, como

encontrar, criar espaços fixos de negociação, além de novos mercados consumidores.

24

5. ANEXOS

5.1. ACARAÚ

Identificação

O Município de Acaraú tem a extensão de 842,88 km2 e uma população de 57.425

habitantes. Situa-se a uma distância de 198 km da capital, Fortaleza, com localização de 2° 53’

08” de longitude, 40° 07’ 12” de latitude, e a 22m do nível do mar. O município tem fronteira

ao norte com Oceano Atlântico, ao sul com Marco, Morrinhos e Amontada, a leste com

Itarema, e a oeste com Cruz e Bela Cruz.

Acaraú tem o PIB de 176 milhões de reais, sendo R$ 3.378 per capita, com 64,6% dessa

renda advinda do setor de Serviços. O IDH do município é o 121º no ranking estadual, com o

valor de 0,617. A maior parte dos empregos formais, 63,6%, está na administração pública,

com 62,4% destes sendo ocupados por mulheres.

É formada pelos distritos de Acaraú, Aranaú, Juritiania, e Lagoa do Carneiro. Apresenta

em seu território Complexo Vegetacional da Zona Litorânea, Floresta Mista Dicotillo-Palmácea

e Floresta Perenifólia Paludosa Marítima. Pertence à Bacia Hidrográfica do Acaraú, Coreaú, e

Litorânea. Possui várias praias, como Barrinha, Aranaú, Monteiro; lagoas, como a dos Espinhos

da Volta, da Carrapateira; e ilhas, com a dos Fernandes, Imburana, Coqueiros, e Ponta do

Presídio.

No Município foram visitadas as comunidades de Carrapateira, Tucunzeiro, Aroeiras,

Lagoa Dantas, Lagoa dos Espinhos, Curral Velho e Córrego dos Augustinhos, percebendo-se a

presença de grupos produtivos formais e informais assim como um aparente potencial das

mesmas para as atividades do projeto.

Aspectos Socioeconômicos

No município de Acaraú foram realizadas 149 entrevistas, sendo todas consideradas

válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram feitos

preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, público alvo do projeto, num

total de 116 mulheres, ou 77,9% da amostra.

A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 59 anos, ou 60,4%, totalizando 90

adultos. Outros 23,5%, ou 35 entrevistados, são jovens entre 18 e 29 anos, resultando uma

faixa etária média de 40,8 anos no total dos pesquisados.

Podemos destacar o fato de que, a grande maioria dos entrevistados, 135, dos 148 que

responderam esse quesito, ou seja, 91,2% afirmam morar em casa própria, o que pode facilitar

o recolhimento do caju, e de outras frutas, para o processamento. O grande número de

pessoas que moram numa mesma residência, 4,4, em média, chegando até 13, e com média

25

de 5,6 cômodos, pode influenciar de modo positivo no alcance do projeto, já que mais pessoas

vão se beneficiar, mesmo que indiretamente.

Para a questão da comunicação do projeto, é podemos destacar que, em um universo

de 148 residências, 130 pessoas, ou 87,8% possuem televisão em sua casa, 81, ou 54,7%

possuem rádio, e 77, ou 52% têm celular. Ainda, apenas 3, ou 2%, dos entrevistados possuem

computador, e 96,6% não possui qualquer tipo de acesso à internet, impossibilitando qualquer

uso desse mídia nesse município.

Formação

A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 149

entrevistados, a maior parte, 49,7%, ou 74 pessoas, possuem o Ensino Fundamental

Incompleto, enquanto 30, ou 20,1% não têm qualquer escolaridade, e 20, ou 13,4% tem o

Ensino Médio completo. É importante destacar que não houve, na amostra, pessoas com

ensino superior, ou superior incompleto, ou com outros níveis de formação.

É relevante afirmar que 59,1% dos participantes não chegaram ao Ensino Médio, e

que, entre as mulheres, público alvo do projeto, a maioria, 80, ou 53,7%, não completou o

Ensino Fundamental, o que indica a necessidade de uma metodologia participativa, com

linguagem simples e direta.

Levou-se em conta, também, além da formação escolar, a participação em cursos,

considerando-os como uma formação complementar ao ensino convencional, com foco em

áreas temáticas mais específicas, possibilitando o melhor desenvolvimento de atividades

produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, foco de análise do presente estudo.

Cerca de 30%, ou 46 entrevistados, já participaram de algum curso relacionado aos

objetivos do projeto, com destaque para as mulheres, que representam 82,6% desse número,

com alta participação em cursos de artesanato e processamento de frutas. Portanto, é

importante, nesse município, que o projeto CAJUS aproveite o fato de que muitas pessoas já

têm conhecimento sobre alguns dos cursos que serão ministrados.

Ocupação e Renda

Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações

principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram

destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de

governo, como o Bolsa Família.

A maioria dos entrevistados, 112, apontou como sua ocupação principal a agricultura,

correspondendo a 75,1% das respostas, acompanhados pelos 13,5%, ou 20 pessoas que

afirmaram trabalhar com artesanato. As ocupações secundárias são citadas em 97

questionários, ou 65,1% da amostra. O artesanato e a agricultura foram os mais citados,

somando, respectivamente, 58,8% e 14,5% das respostas.

26

As principais ocupações entre as mulheres da amostra são a agricultura, 71,5%, e

artesanato, com 17,2%. Afirmaram ter ocupação secundária, 70% das mulheres, dentre as

quais, 70% estão no artesanato, 11,25% na agricultura, e 11,25% como dona de casa.

Como principais fontes de renda, a agricultura tem, novamente, grande destaque,

sendo citada em 127, ou 87,6% das respostas, seguida pelo Bolsa Família, com 57,9%, ou 84

respostas. É importante ressaltar a força do artesanato nesse município, já que está como uma

das principais rendas de 60 pessoas, ou 41,4% da amostra. Outras rendas provêm da

aposentadoria, com 21,4% e do serviço público, com 9%. É ainda interessante o aparecimento

de outras atividades, mais características do litoral, como o turismo, a produção de coco, e a

pesca artesanal, na receita das famílias.

Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, dos 148 que

responderam esse quesito, 54,7% ganham menos de um salário mínimo, e 37,2% até dois

salários. Tal fato comprova a importância de projetos, como o CAJUS, de geração de renda e

melhoria de qualidade de vida, já que, 92% da renda familiar dessas pessoas não ultrapassa 2

salários mínimos.

Agricultura Familiar

A maioria dos agricultores e agricultoras, 128, ou 92,1% dos 139 que responderam

essa questão, afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa, ou que a propriedade

pertence a familiares; 11 ou 7,9% tem áreas de reforma agrária ou assentamento.

Sobre a produção familiar, dos 70 agricultores que responderam a esse quesito,

apenas 18, ou 25,8% tem algum acompanhamento da produção em sua propriedade por

alguma instituição, como ONGs, Sindicatos, Governo, etc. Dessa forma, a grande maioria dos

agricultores pesquisados, ou seja, 74,2% não recebem assistência técnica à sua produção.

Em relação à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 327,59, com

os principais gastos em arroz, 48,6%, carne, 30,8%, frango, 24%, e peixe, com 15,8%. A maioria

dos entrevistados, 127, ou 89,5% remetem à compra de 50 a 75% da alimentação. Compram

todos os alimentos consumidos pela família, 7,7% das pessoas, e outros 2,8%, compram um

quarto do que consomem.

Produtos da Agricultura Familiar

Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da

agricultura familiar é vasta e diversificada, com produção para a comercialização e para o

consumo próprio.

As culturas mais produzidas pelos 130 agricultores que responderam esse quesito são

feijão, por 127, ou 97,7%; milho por 117, ou 90%; mandioca por 111, ou 85,4%; macaxeira por

75, ou 57,7%; hortaliças por 58 ou 44,6%; e batata doce por 41, ou 31,5%. A produção do

27

pedúnculo do caju foi citada por 4 pessoas, também existindo produção de coco, manga,

melancia, e banana. Note-se que há agricultores que plantam dois ou mais tipos de alimentos.

Números similares aparecem em relação aos alimentos consumidos pelos 141

entrevistados, e que são produzidos na propriedade, com o feijão em primeiro lugar, citado

por 131 pessoas, ou 92,9% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 102

citações, ou 72,3%; seguido da farinha, com 78, ou 55,3%; do caju, 43, ou 30,5%; da mandioca,

39, ou 27,7%; e do coco, com 35, ou 24,8%.

As respostas positivas em relação à comercialização da produção foram de 58

entrevistados, ou seja, 44,6% do total de produtores. Destes, a maior parte, 48,3%, ou 28

pessoas comercializam a castanha do caju; 43,1%, ou 25, o coco; e 13, ou 22,4%, vendem

farinha.

Sistemas de Produção

Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 114 agricultores que

responderam, 91, ou 80,5% afirmaram utilizar o sistema convencional; 10 ou 8,8% afirmaram

evitar agrotóxicos; 9 ou 8% afirmaram utilizar sistema orgânico; 2, ou 1,8% utilizam o sistema

misto; e 2 ou 1,8% afirmou utilizar sistema agroecológico; e 2 ou 1,8% o arado.

Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem

conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e agroecológicas. Foi considerada para a

análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos

agricultores, que não tem acesso a acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento

não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis.

Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 112 que

responderam, 82, ou 73,2% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após

aparecem o arado, com 34 ou 30,3%, e o quintal produtivo, com 26 ou 23,2%. Também foram

citados os defensivos naturais, biofertilizantes, compostagem e arado manual.

Aproveitamento do Pedúnculo de Caju

No município de Acaraú, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros. Quando a

pergunta é dirigida à própria terra do agricultor(a), o número é similar: 113 entrevistados, de

139, ou 81,3%, afirmam ter cajueiros em sua propriedade.

Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum

agricultor afirmou vender mais de 75% do caju in natura produzido em sua propriedade. A

maioria, 75,9%, ou 85 pessoas, não comercializa nada do caju produzido em suas terras; e 12,

ou 10,7% vendem apenas 5%, demonstrando o enorme potencial e desperdício do pedúnculo

no município.

28

Em um universo de 89 pessoas , a maior parte dos que não comercializam o caju in

natura, acaba o desperdiçando, ou seja, 69, ou 77,5% dos entrevistados. Outra parte, 29,2%,

processa novos produtos; e 19,1% usa para consumo próprio. Apenas 5 utilizam o caju que não

é vendido para alimentação de animais. Nesse quesito era possível mais de uma resposta,

como o exemplo de alguém que processa uma parte e desperdiça a outra, ou, usa para

consumo próprio e para alimento animal.

A porcentagem de caju que é processada se destina, em sua maioria, para a fabricação

de suco de caju, mais precisamente 68,7%, ou 57 entrevistados; seguida pela fabricação do

doce de caju em calda, por 32 ou 38,5%; doce de caju, por 23, ou 27,7%; e 17 ou 20,4% para

cajuína. Entre os produtos que geram mais resultado e tem mais retorno estão o doce de caju,

a cajuína, e o suco.

Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 75,4%, ou 98 de 130

entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,

etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, percebe-se um excelente potencial

para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em

alguma cooperativa que seja criada pela comunidade.

Organização Comunitária

O município de Acaraú possui um grande número de grupos e associações, para os

mais diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande

possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do

projeto CAJUS.

Quando perguntados se participavam de alguma organização comunitária, 59%, ou 86

pessoas, responderam afirmativamente, sendo a grande maioria, de alguma associação. Em

relação a grupos produtivos, 46, ou 34% disseram que tem algum em sua comunidade. Foram

citados grupos produtivos de rendeiras, de artesãs, de criadoras de galinha caipira, entre

outros. Nota-se que diferente de outros municípios, Acaraú não tem uma grande presença de

grupos produtivos, e não foi detectado nenhum de processamento de caju.

Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos, 20,

do total de 116, afirmam participar de algum, entre grupos de mulheres, rendeiras,

catequistas, e de bolo. Sobre organização jovem, 58 entrevistados, ou 40,3% fazem parte, tem

filhos, ou conhecem alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, entre

pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc. Apesar de apresentar um bom

número na participação em grupos de jovens, apenas 4 pessoas da pesquisa se apresentaram

como liderança jovem.

Potencial para o Artesanato

29

O artesanato foi citado nessa pesquisa por 20 entrevistados como a principal

ocupação, e por 57 como a principal ocupação secundária, resultando em um excelente

potencial de geração de emprego e renda. Além disso, quando são questionados se tem

conhecimento de artesanato feito pela família ou comunidade, 122, ou 82%, responderam que

sim. As artes fabricadas são as mais variadas, como saias, redes, e crochê, vassouras, vasos de

flores, luminárias etc. As matérias primas, por conseqüência, também são as mais variadas,

como palha, linha, papelão, e espinhos de mandacaru.

Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, das respostas, ou 49 das 116

respostas, afirmou vender os produtos na própria comunidade, enquanto 33, ou 28,5%

vendem para atravessadores, e 29, ou 25%, não tem local certo para a venda. Outros 24, ou

20,7% têm a feira, como principal local de venda. É interessante observar a figura do

atravessador muito presente nas comunidades desse município, apontando para uma

necessidade de melhor organização para a venda da produção.

Potencial Para o Ecoturismo Comunitário

Em Acaraú, 81 pessoas das 113 que responderam esse quesito, ou seja, 71,7% do total

da amostra, não sabem ou nunca ouviram falar de ecoturismo comunitário ou dos benefícios

que eles trariam para a comunidade. Quanto ao potencial turístico da comunidade, 74

entrevistados de 138, ou 60,9% acham pouco ou nenhum, e 54, ou 39,1% crêem ser muito

grande ou relevante; e 82, ou cerca de 60% souberam apontar belezas naturais, entre praias,

lagoas, dunas, morros, açude, manguezais, coqueirais, trilhas, entre outras.

Também há um equilíbrio nas respostas, agora em relação à quantidade de visitas na

comunidade: dos 138, 60, ou 44%, afirmam que há o tempo todo ou muitas; contra 56%, que

dizem receber poucas ou nenhuma. Ainda, segundo 67,3%, quando vem à comunidade, os

visitantes se hospedam na casa de alguém, um bom sinal para a prática do Ecoturismo

Comunitário.

Percepção e Práticas Ambientais

Apenas 29 entrevistados, ou 19,5% da amostra, afirmaram existir área de preservação

em sua comunidade, entre APAs, áreas de mangue, lagoas, e mata nativa.

Quanto à coleta de lixo, a maioria, 60,9%, ou 89 pessoas, afirmam queimar seus

resíduos, 54, ou 39,1% enterram. A coleta pela prefeitura atinge apenas 12,3% dos

entrevistados. É importante salientar que neste item poderiam ser dadas mais de uma

resposta. Entre os 97 que usam agrotóxicos, 41,2% afirmam enterrar as embalagens, 38,1% as

queimam, 32% simplesmente jogam fora, e apenas 5, ou 5,2% lava e devolve.

Em relação ao saneamento básico, 88,3% relatam usar fossa comum, 15, ou 11,1%

afirmam não possuir fossa ou ter esgoto a céu aberto, e apenas uma pessoa tem esgoto ligado

ao sistema de saneamento do município. Ao responder como é o manejo do esgoto na

30

comunidade, das 97 respostas, 86 ou 88,6% afirmam não haver sistema de tratamento de

esgoto.

Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimentos de ecologia e

sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas usam a práticas

antigas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do lixo e o

descuido e despreparo com embalagens tóxicas.

5.2. BELA CRUZ

Identificação

O Município de Bela Cruz tem a extensão de 841,72km2 e uma população de 30.471

habitantes. Situa-se a uma distância de 202 km da capital, Fortaleza, com localização de 3º 03’

02’’ de longitude, 40º 10’ 04’’ de latitude, e a 9m do nível do mar. O município tem fronteira

ao norte com Cruz e Jijoca de Jericoacoara, ao sul com Marco, a leste com Marco e Acaraú, e a

oeste com Camocim, Granja e Marco.

Bela Cruz tem o PIB de 77,163 milhões de reais, sendo R$ 2.610 per capita, com 70,1%

dessa renda advinda do setor de Serviços. O IDH do município é o 155º no ranking estadual,

com o valor de 0,595. A maior parte dos empregos formais, 89,4%, está na administração

pública, com 66,2% destes sendo ocupados por mulheres.

É formada pelos distritos de Bela Cruz e Prata. Apresenta em seu território Complexo

Vegetacional da Zona Litorânea e Floresta Mista Dicotillo-Palmácea. Pertence à Bacia

Hidrográfica do Acaraú e Coreaú. Possui lagoas, como a do Mato, do Grosso e Santa Cruz; além

da Barragem de Araticum e dos açudes do Prata e do cajueirinho.

No Município foram visitadas as comunidades de Varjota, Pedro Passos, Mil Passos,

Ibiratanha, Camará, Aroeira, São Gonçalo, e Quatro Bocas, notando-se potencial das mesmas

para as atividades do projeto.

Aspectos Socioeconômicos

No município de Bela Cruz foram realizadas 95 entrevistas, sendo todas consideradas

válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram feitos

preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, público alvo do projeto, num

total de 71 mulheres, ou 74,7% da amostra.

A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 59 anos, ou 58,5%, totalizando 55

adultos. Outros 27,7%, ou 26 entrevistados, são jovens entre 18 e 29 anos, resultando uma

faixa etária média de 40,8 anos no total dos pesquisados.

31

Podemos destacar o fato de que, a grande maioria dos entrevistados, 75, dos 94 que

responderam esse quesito, ou seja, 80% afirmam morar em casa própria, o que pode facilitar o

recolhimento do caju, e de outras frutas, para o processamento. Novamente, o grande número

de pessoas que moram numa mesma residência, 4,2, em média, chegando até 10, pode

influenciar de modo positivo no alcance do projeto, já que mais pessoas vão se beneficiar.

Para a questão da comunicação do projeto, podemos destacar que, em um universo

de 94 residências, 80 pessoas, ou 85,1% possuem televisão em sua casa, 54, ou 57,4%

possuem rádio, e 40, ou 42,6% tem celular. Ainda, apenas 3, ou 3,2%, dos entrevistados

possuem computador, e 93,7% não possui qualquer tipo de acesso à internet, impossibilitando

qualquer uso desse mídia nesse município.

Formação

A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 95 entrevistados

que responderam sobre sua formação, a maioria, 57,9%, ou 55 pessoas, possuem o Ensino

Fundamental incompleto, enquanto 14, ou 14,7% não têm qualquer escolaridade, e 10, ou

10,5% tem o Ensino Médio completo. É importante destacar que houve, na amostra, 2 pessoas

com Ensino Superior incompleto, e 2 com Ensino Superior incompleto.

Importante salientar que 72,6% dos participantes não chegaram ao Ensino Médio, e

que, entre as mulheres, público alvo do projeto, a grande maioria, de 63,4%, não completou o

Ensino Fundamental, o que aponta fortemente para a necessidade de uma didática com

linguagem simples e direta, baseada nos conhecimentos locais e pessoais do grupo.

Levou-se em conta, também, além da formação escolar, a participação em cursos,

considerando-os como uma formação complementar ao ensino convencional, com foco em

áreas temáticas mais específicas, possibilitando o melhor desenvolvimento de atividades

produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, foco de análise do presente estudo.

Assim, no município de Bela Cruz, 32 dos 95 entrevistados, ou 33,7% já participaram

de algum curso relacionado aos objetivos do projeto. Assim, o projeto CAJUS se apresenta

como uma oportunidade, para a maioria da amostra, de ter alguma atividade produtiva local,

que possa gerar mais renda para todos os envolvidos.

Ocupação e Renda

Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações

principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram

destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de

governo, como o Bolsa Família.

A maioria dos entrevistados, 67, apontou como sua ocupação principal a agricultura,

correspondendo a 70,5% das respostas, acompanhados pelos 16, ou 16,9% que afirmaram

trabalhar com artesanato, além da presença de 3 pessoas que tem como principal ocupação a

32

cajucultura. As ocupações secundárias são citadas em 71 questionários, ou 74,7%. O

artesanato, a cajucultura, e a agricultura, têm grande relevância nas ocupações secundárias,

sendo citadas, respectivamente, em 40,8%, 29,6%, e 22,5% das respostas.

Como principais fontes de renda, a agricultura se destaca novamente, sendo citada em

88, ou 92,6% das respostas, seguida pelo Bolsa Família, com 60%. O artesanato tem grande

relevância, pois contribui com os ganhos de 35,8% da amostra. Em Bela Cruz, a castanha de

caju, com 25,3%, e outros produtos do caju, com 9,5%, também são importantes na receita

familiar.

As mulheres da amostra têm como principal ocupação, a agricultura, com 52, ou 73,2%

delas envolvidas nessa atividade. Logo em seguida, em termos de relevância, está o

artesanato, ocupando 22,5% das entrevistadas. Entre o universo feminino da amostra, 81,7%

tem ocupações secundárias, ou seja, 58 das 71 mulheres, dentre as quais, 46,5% estão no

artesanato, 24,1% na agricultura, e 22,4% na cajucultura.

Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, 62, ou 65,3%, vivem

com menos de um salário mínimo, e 30, ou 31,6% recebem no máximo dois salários. Assim,

projetos de geração de renda e de melhoria de qualidade de vida, como o CAJUS, são

extremamente importantes para a população local.

Agricultura Familiar

A maioria dos agricultores e agricultoras, 43, ou 46,7% dos 92 que responderam essa

questão, afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa; 34 ou 37% afirmam que a

propriedade pertence a familiares; 15 ou 16,3% tem outros tipos de relação com a

propriedade, entre aluguel, arrendamento, “mora de favor”, entre outras.

Sobre a produção familiar, dos 35 entrevistados que responderam se tem

acompanhamento da produção em sua propriedade, apenas 4, ou 11,5% são assistidos por

alguma instituição, como ONGs, Sindicatos, Governo, etc. Assim, a grande maioria dos

agricultores pesquisados, ou seja, 88,5% não recebem qualquer tipo de assistência técnica à

sua produção.

Em relação à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 242,42, com

os principais gastos em arroz, açúcar, carne, café e frango, respectivamente. A maioria das 89

respostas, 54, ou 60,7% remetem à compra de 75% da alimentação. Compram metade dos

alimentos consumidos pela família, 22,5% das pessoas, e outros 9%, ou 8 entrevistados,

compram toda a comida que consomem. Apenas 7 pessoas, ou 6,8% têm uma produção que

atenda mais de 75% de sua necessidade alimentícia.

Produtos da Agricultura Familiar

33

Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da

agricultura familiar é vasta e diversificada com produção para a comercialização e para o

consumo familiar.

As culturas mais produzidas pelos 92 agricultores que responderam esse quesito são

feijão, por 91 ou 98,9% dos agricultores; milho por 90 ou 97,8%; mandioca por 83 ou 90,2%;

macaxeira por 61 ou 66,3%; e hortaliças por 24 ou 26,1%. Note-se que há agricultores que

plantam dois ou mais tipos de alimentos.

Quanto aos alimentos mais consumidos pelos entrevistados que são produzidos na

propriedade, temos números semelhantes, com o feijão em primeiro lugar, citado por 89 das

90 respostas, ou seja, 87,8% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 75

citações, ou 83,3%; seguido da farinha, com 57, ou 63,3%, e mandioca com 26, ou seja, 28,9%.

O caju, que não é citado como uma das culturas mais produzidas, tem destaque em relação ao

consumo familiar, sendo citado por 46 pessoas, ou 51,1%.

Quando se trata da comercialização da produção, 55 pessoas, ou seja, 58% do total de

95 produtores, afirmam vender seus excedentes. Destes, a grande maioria, 41, ou 74,5%

comercializa a castanha de caju. Outros 15% comercializam a farinha. Também há, por poucos

produtores, alguma venda de hortaliças, melancia e milho.

Pode-se perceber, nessa pesquisa, a interessante relação dos entrevistados com o

caju. Ele não aparece como principal produto da agricultura familiar, porém, é amplamente

consumido pela família, com a sua castanha sendo forte moeda comercial.

Sistemas De Produção

Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 91 entrevistados que

responderam, 65 ou 71,4% afirmaram utilizar o sistema convencional; 21 ou 23,1% afirmaram

evitar agrotóxicos; 6 ou 6,6% afirmaram utilizar sistema orgânico; e apenas 1 ou 1,1% afirmou

utilizar sistema agroecológico. Nenhum afirmou utilizar sistema misto de produção ou algum

outros sistema.

Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem

conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e agroecológica. Foi considerada para a

análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos

agricultores, que, na maioria dos casos, não tem acesso a acompanhamento técnico, ou que

este acompanhamento não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis. Tomamos como

base de orientação o cruzamento das respostas e levantamento dos agricultores que adotam

um sistema produtivo baseado em praticas sustentáveis. Eliminando assim questões

contraditórias para visualizar os sistemas e práticas produtivas utilizados pelos entrevistados.

Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 90 que

responderam, 65, ou 72,2% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após

aparece a capina seletiva, com 18 ou 20%, o arado, com 11 ou 12,2%, e o quintal produtivo,

34

com 9, ou seja, 10% das respostas. Também foram citados o sistema agroflorestal, a

compostagem, e os defensivos naturais.

Aproveitamento do Pedúnculo de Caju

No município de Bela Cruz, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros.

Quando a pergunta é dirigida à própria terra do agricultor(a), 86 entrevistados, ou 90,5%,

afirmam ter cajueiros em sua propriedade.

Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum

agricultor afirmou vender 100% ou 75% do caju in natura produzido em sua propriedade. A

maioria, 57%, ou 49 pessoas, dos 86 que tem cajueiros, não comercializa nada do caju

produzido em suas terras, e 25, ou 29% vendem menos de 50%.

A maior parte dos entrevistados, 58, ou 67,% afirma que há desperdício do caju in

natura que não é comercializado. Outras 15 pessoas, ou 17,5%, diz processar o caju em novos

produtos; 6,ou 7% consomem; e 2 utilizam o que sobra para ração animal.

A porcentagem de caju que é processada se destina, em sua maioria, para a fabricação

do suco, por 76,4%, ou 55 das 72 respostas; seguida pela fabricação do doce em calda, por 46

ou 63,9%; cajuína, por 33, ou 45,8%; e 17 ou 23,6% para o doce de caju em massa. Para a

maioria, os produtos que geram maior resultado são o doce de caju e a cajuína.

Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 80,9%, ou 76 dos 95

entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,

etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, percebe-se um excelente potencial

para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em

alguma cooperativa ou grupo produtivo que sejam criados pela comunidade.

Organização Comunitária

A amostra das comunidades selecionada para o questionário no município de Bela

Cruz possui variados grupos e associações para os mais diferentes fins. Porém esse número

ainda é pequeno, o que possibilita a formação de novas associações e cooperativas em torno

das propostas do projeto CAJUS.

Quando perguntados se participavam de alguma organização comunitária, 40%, ou 38

pessoas, responderam afirmativamente. Em relação a grupos produtivos, apenas 9 pessoas, ou

9,5% disseram que tem algum em sua comunidade. Foram citados Associação de Apicultores,

Grupo de Limpeza de Castanha, e Associação de Imbiratanha. Note-se que não há uma

presença significativa de grupos produtivos, e nenhuma de processamento de caju, revelando

bastante espaço para os objetivos do projeto.

Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos,

apenas duas mulheres, do total de 71 entrevistadas, participam de algum, sendo o Grupo da

35

Mãe Rainha, e o Terço das Mulheres. Sobre organização jovem, 32 entrevistados, ou 33,7%

fazem parte, tem filhos, ou conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento

específico, entre pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc. Ainda, 6

entrevistados se consideram liderança jovem local, e 51 conhecem alguma liderança jovem na

comunidade.

Potencial Para o Artesanato

O artesanato foi citado nessa pesquisa por 40,8% das pessoas que tem ocupação

secundária, sendo a principal ocupação de praticamente 17% do total da amostra, mostrando

a força que essa atividade tem nessas comunidades, como geração de emprego e renda. Além

disso, quando são questionados se tem conhecimento de artesanato feito pela família ou

comunidade, 88, ou 92,6%, responderam que sim. As artes fabricadas são as mais diversas,

sendo manufaturadas desde redes, crochê e varandas, até bijuterias, bonecas e ímã de

geladeira. As matérias primas, por conseqüência, também são variadas, como tintas, verniz,

retalho de pano, garrafas pet, linhas, folhas de jornal, espinhos de mandacaru, e palha de

carnaúba, entre outros.

Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 62,5%, ou 55 das 88 respostas,

afirmou não ter lugar certo para a venda dos produtos, sendo que 29, ou 52,7% destes, dizem

se valer de atravessadores para escoar a produção. Outros 9, ou 10,2% vendem seus produtos

na própria comunidade, não havendo um número relevante de pessoas que vendam seus

produtos em feira, por programa do governo, instituição parceira, ou loja parceira. Assim,

apesar da grande relevância do artesanato na ocupação e na renda das comunidades visitadas,

não existe um nível de organização satisfatório para essas atividades.

Potencial para o Ecoturismo Comunitário

Quanto ao conhecimento do termo ecoturismo, 44 pessoas, ou 46,3% não tem

qualquer conhecimento sobre o que seja ecoturismo, e 20 pessoas não responderam a

questão. Segundo os entrevistados no município de Bela Cruz, suas comunidades não

apresentam potencial turístico relevante, já que 30, ou 31,6% disseram ser pouco, e 65, ou

68,4% afirmaram não haver nenhum potencial, ou seja, ninguém acredita que o turismo na sua

comunidade seja muito grande ou relevante. Mesmo assim, 20 deles, ou cerca de 20%,

souberam apontar belezas naturais, como o Açude dos Pubas, Açude do Edimar, Trilhas,

pássaros, e cajueiros.

Para a maioria, ou seja, 67% a comunidade recebe poucas visitas; e para 19 pessoas,

ou 20,2%, não há qualquer visita. Ainda, segundo 80% da amostra, os visitantes se hospedam

na casa de alguém, quando vão à comunidade.

Percepção e Práticas Ambientais

36

Apenas 5 entrevistados, ou 5,2%, afirmaram existir área de preservação em sua

comunidade, sendo citadas a “mata vizinha em São Gonçalo” e “dentro da propriedade

gerenciada pela própria família”.

Quanto à coleta de lixo, a maioria, 43,2%, ou 41 pessoas, afirmam queimar seus

resíduos, e 32, ou 33,7% dizem que apenas “jogam fora”. A coleta pela prefeitura atinge 30%

dos entrevistados. Note-se que neste item poderiam ser dadas mais de uma resposta.

Verificou-se que 40 agricultores, ou seja, 44,2% dos pesquisados, usam agrotóxicos.

Desses, 26, ou 75% afirmam jogar embalagens fora, não especificando onde. Outros 10, ou

25% as queimam, e quatro, ou 10% enterram. Nenhum entrevistado lava e devolve as

embalagens.

Em relação ao manejo do esgoto, 87,2% relatam usar fossa comum, apenas seis

pessoas têm esgoto ligado ao sistema de saneamento do município, e seis pessoas não têm

fossa ou tem “esgoto a céu aberto”. Ao responder como é o manejo do esgoto na comunidade,

69, ou 89,6% das 77 respostas, afirmam não haver sistema de tratamento de esgoto.

Percebe-se a importância do aprendizado de novas teorias e práticas, ecológicas e

sustentáveis para essas comunidades, já que elas se utilizam de práticas antigas e perigosas às

pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do lixo e o descuido e despreparo com

embalagens tóxicas.

5.3. CRUZ

Identificação

O Município de Cruz tem a extensão de 334,83km2 e uma população de 22.230

habitantes. Situa-se a uma distância de 209 km da capital, Fortaleza, com localização de 2º 55’

04’’’ de longitude, 40º 10’ 18’’ de latitude, e a 18m do nível do mar. O município tem fronteira

ao norte com Acaraú e Oceano Atlântico, ao sul com Bela Cruz, a leste com Acaraú, e a oeste

com Jijoca de Jericoacoara.

Cruz tem o PIB de 58,739 milhões de reais, sendo R$ 2.653 per capita, com 74,6%

dessa renda advinda do setor de Serviços. O IDH do município é o 61º no ranking estadual,

com o valor de 0,643. A maior parte dos empregos formais, 87,65%, está na administração

pública, com 67% destes sendo ocupados por mulheres.

É formada pelos distritos de Cruz e Caiçara. Apresenta em seu território Complexo

Vegetacional da Zona Litorânea, Floresta Mista Dicotillo-Palmácea e Floresta Perenifólia

Paludosa Marítima. Pertence à Bacia Hidrográfica do Acaraú e Coreaú. Possui lagoas, como a

do Mato, do Grosso e Santa Cruz; além da Barragem de Araticum e dos açudes do Prata e do

Cajueirinho.

37

No Município foram visitadas as comunidades de Canema, Cajueirinho, Preá, Malvinas,

Alto da Brasília, Ginásio, Córrego dos Anas, Monteiros, Porteiras, Lagoa Velha, Lagoa Salgada, e

Pisunha, notando-se potencial das mesmas para as atividades do projeto.

Aspectos Socioeconômicos

No município de Cruz foram realizadas 55 entrevistas, sendo todas consideradas

válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram feitos

preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, o principal público alvo do

projeto, num total de 45 mulheres, ou 81,8% da amostra.

A principal faixa etária pesquisada tem entre 18 a 29 anos, ou aproximadamente

53,7%, totalizando 29 jovens. Outros 27,7%, ou 15 entrevistados, tem mais de 43 anos,

resultando uma faixa etária média de 34,1 anos no total dos pesquisados. Dessa forma, nota-

se que o público atingido pelo projeto em Cruz, é essencialmente jovem, indicando bom

potencial para cursos de Liderança Jovem, e afins.

Podemos destacar o fato de que, a grande maioria dos entrevistados, 40, ou 81,8%

afirmam morar em casa própria, facilitando o recolhimento do caju, e outras frutas, para o

processamento. Outro destaque, que também influenciará o número de pessoas atingidas e

beneficiadas pelo projeto, é o elevado número de pessoas por residência, resultando numa

média de 4,1 moradores, com até 10 familiares em uma mesma casa, que tem em média 5,5

cômodos.

Para a questão da comunicação do projeto, é necessário destacar que, em um

universo de 55 residências, 36 pessoas, ou 65,5% possuem televisão em sua casa, 33, ou 60%

possuem rádio, e 22, ou 40% têm celulares. Apesar de apenas 9, ou 16,4%, dos entrevistados

possuírem computador, 24, ou 43,6% tem acesso à internet. Assim, percebe-se a influência da

internet nesta amostra, com possibilidade de se trabalhar essa mídia.

Formação

A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 55 entrevistados

que responderam, apenas 3, ou 5,6% não possuem qualquer tipo de escolaridade, 19, ou

35,2% possuem o Ensino Fundamental Incompleto, 6, ou 11,1% possuem o Ensino

Fundamental Completo, 3, ou 5,6% possuem o Ensino Médio Incompleto, 23, ou 42,6%

possuem o Ensino Médio Completo, e somente um possui Ensino Superior Completo. É

importante destacar que não houve, na amostra, pessoas com ensino superior incompleto ou

com outros níveis de formação. Entre as mulheres, 19, ou 42,2% tem o ensino fundamental

incompleto, e outras 16, ou 35,5% tem o Ensino Médio completo.

Assim, apesar de não haver um número significativo de pessoas sem alfabetização, e

uma presença significativa de entrevistados que terminaram o ensino médio, podemos afirmar

que metade dos entrevistados não passou do Ensino Fundamental. Tal fato indica a

38

necessidade de uma metodologia com linguagem simples e direta, com foco na cultura de

aprendizagem local, porém com metodologia dinâmica e de conteúdo, para não causar

desinteresse em um grupo tão heterogêneo.

Considerou-se, também, além da formação escolar, a participação em cursos como

uma formação complementar ao ensino convencional. Formações que possibilitam o melhor

desenvolvimento de atividades produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, que é

foco de análise do presente estudo.

Assim, percebe-se a excelente participação dessa amostra em cursos desse tipo, já que

47 pessoas, ou 85,5%, fizeram alguma atividade ligada ao objetivo do projeto, com grande

presença feminina, em um total de 40 mulheres, ou praticamente 90%. Outro ponto a ser

destacado é relativo ao tipo de matéria abordada, já que ninguém participou de atividades de

agroecologia e gênero, e menos de 10% participaram de associativismo, processamento de

frutas, e cooperativismo; enquanto outros cursos tiveram grande participação, como o de

artesanato, 56,3%, de juventude, 31,3%, de meio ambiente, 29,2%, e de turismo, com 20,8%.

O projeto CAJUS deverá encontrar mais facilidade em temas como juventude,

enquanto deverá fortalecer os temas principais do projeto, como processamento do caju, já

que o grupo selecionado não possui um bom embasamento sobre esses assuntos.

Ocupação e Renda

Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações

principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram

destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de

governo, como o Bolsa Família.

A maior parte dos entrevistados, 17, apontou como sua ocupação principal a

agricultura, correspondendo a 31% das respostas, acompanhados pelos 16,4% que afirmaram

ser autônomos, e 9,1% de artesãs. As ocupações secundárias são citadas em 36 questionários,

ou 65,5% do total. O artesanato tem grande destaque, sendo a segunda atividade de 55,6%

das pessoas que tem mais de uma ocupação. A agricultura, e a pesca, têm um leve destaque

nas ocupações secundárias, somando 22,2 % das respostas. É necessário dizer que nesse item

era possível relatar mais de uma ocupação por pessoa.

Como principais fontes de renda, a agricultura tem destaque, sendo citada em 51% das

respostas, seguida pelo artesanato, com 38,2%, ou 21 respostas. Outras rendas provêm do

serviço público, com 22,2%, da aposentadoria, com 18,5%. É ainda interessante o

aparecimento da pesca, na renda de 21,8% dos entrevistados nessas comunidades, e a pouca

participação do bolsa família e da aposentadoria, que, juntas, são citadas apenas por 8, ou

14,5%, da amostra.

Das 45 mulheres que participaram da pesquisa, 13, ou 28,9%, têm como ocupação

principal, a agricultura, e 7, ou 15,5%, se dizem autônomas. A maioria das mulheres, 75,5%,

tem ocupação secundária, sendo que, 58,8%, têm essas atividades no artesanato.

39

Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que todos, ou 100%,

possuem renda familiar de menos de 2 (dois) salários mínimos. Destes, 39, ou 70,1%, têm a

receita familiar abaixo de 1 (um) salário. Assim, é notória a importância de projetos de geração

de renda e melhoria de qualidade de vida, como o CAJUS, para a população local.

Agricultura Familiar

A maioria dos agricultores e agricultoras, 28, dos 49 que responderam essa questão,

afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa; 18 ou 36,7% afirmam que a

propriedade pertence a familiares; 3 ou 6,1% tem outros tipos de relação com a propriedade,

entre áreas de assentamento, arrendamento, da comunidade, entre outras, e 8,2%, ou 4

pessoas vivem de aluguel.

Sobre a produção familiar, dos 29 entrevistados que responderam se tem

acompanhamento da produção em sua propriedade, apenas 7, ou 24,13% são assistidos por

alguma instituição, como ONGs, Sindicatos, Governo, etc. É reafirmar que, dessa forma, a

grande maioria dos agricultores pesquisados, ou seja, 75,87% não recebem qualquer tipo de

assistência técnica à sua produção.

Em relação à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 321,88, com

os principais gastos em arroz, com 25,5% e frango, com 23,5%. A maioria das 49 respostas, 26,

ou 53,1% remetem à compra de 75% da alimentação. Compram todos os alimentos

consumidos pela família, 22,4% das pessoas, e outros 20,4%, ou 10 entrevistados, compram

metade da comida que consomem. Percebe-se que apenas 2 pessoas, ou 4% têm uma

produção que atenda mais da metade de sua necessidade alimentícia.

Produtos da Agricultura Familiar

Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da

agricultura familiar é vasta e diversificada com produção para a comercialização e para o

consumo familiar.

As culturas mais produzidas pelos 38 agricultores que responderam esse quesito são

feijão, por 33 ou 86,8% dos agricultores; milho por 32 ou 84,2%; mandioca por 27 ou 71,1%;

macaxeira por 21 ou 55,3%; e hortaliças por 15 ou 39,5%. Note-se que há agricultores que

plantam dois ou mais tipos de alimentos.

Os alimentos consumidos pelos entrevistados, que são produzidos na propriedade, são

o feijão, citado por 43 pessoas, ou 87,8% das 35 respostas; a farinha, com 23 citações, ou

65,7%; e o milho, com 19, ou 54,3%. O caju, seus subprodutos, e a castanha não foram citados

por ninguém nesse item.

Quanto à comercialização da produção familiar, 20, ou 36,4% afirmaram vender seus

excedentes. Destes, sete, ou 35%, comercializam a castanha de caju; quatro, ou 20%, a farinha;

e três, ou 15%, o artesanato. Somente uma das pessoas vende produtos processados do caju.

40

Esse é um dos municípios que menos citou o caju. Seja no item “culturas mais

produzidas”, nos “alimentos mais consumidos”, ou na “produção comercializada”, o pedúnculo

não aparece de forma relevante, sendo categoricamente ignorado pelos entrevistados.

Sistemas de Produção

Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, das 37 respostas, 20, ou 54% se

referiam ao sistema convencional, e apenas uma ao sistema agroecológico. Dentre esses

agricultores, grande parte, 43,2%, não sabem dizer qual o sistema produtivo que usam em

suas terras.

Com essas considerações, podemos perceber grande parte dos agricultores não tem

conhecimento sobre seu sistema produtivo, e a maioria deles, não conhece as técnicas de

produção orgânicas e agroecológica. Foi considerada para a análise das questões referentes

ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos agricultores, que não tem acesso a

acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento não seja voltado para práticas

agrícolas sustentáveis.

Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, todas as 29

respostas, apontaram a capina seletiva como sendo a prática mais usual. Dois desses 29 se

utilizam também de defensivos naturais. Contrapondo a pesquisa em todos os outros

municípios, em Cruz, ninguém disse realizar queimadas. Porém, boas práticas como a

adubação verde, o sistema agroflorestal, e a utilização de biofertilizantes também foram

esquecidas. (conferir com o Paulo)

Aproveitamento do Pedúnculo de Caju

Em Cruz, somente nas comunidades de Lagoa Velha e Canema não foram detectados

cajueiros. Quanto à presença do caju em sua propriedade, 32 entrevistados, ou 58,2%

respondem afirmativamente; contra 23, ou 41,8%, que dizem não possuir cajueiros

propriedade.

Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, apenas um

agricultor afirmou vender 100% do caju in natura produzido em sua propriedade. A maior

parte, 45,5%, ou 15 pessoas, comercializa metade do caju produzido em suas terras, e 9, ou

27,3% não vende nenhum caju que é produzido.

A maior parte do caju in natura que não é comercializado acaba virando ração animal,

porém, todos os entrevistados que disseram ter caju em suas terras fazem algum produto a

partir do pedúnculo. A porcentagem de caju que é processada se destina, em sua maioria, para

a fabricação do doce de caju em massa, por 90,6%, ou 29 entrevistados; seguida pela

fabricação de suco de caju, por 25 ou 78,1%; cajuína, por 21, ou 65,7%; e doce de caju em

calda, por 18 ou 56,2%. Para 22 pessoas, ou 68,8%, o doce de caju é o produto que gera mais

41

resultado. Outro produto com boas possibilidades é a cajuína, que foi citada em 10, ou 31,2%

das respostas.

É importante destacar que no município de Cruz o caju não foi citado de forma

relevante em praticamente nenhum dos quesitos que lhe são relativos, ou seja, ocupação

primária e secundária, renda familiar, culturas mais produzidas na propriedade, alimentos mais

consumidos, e excedente da produção vendido. Porém, o pedúnculo volta a ter destaque

quando se fala em processamento, já que todos que tem cajueiros processam pelo menos um

produto.

Organização Comunitária

O município de Cruz possui um grande número de grupos e associações, para os mais

diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande

possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do

projeto CAJUS.

Quanto à participação em alguma organização comunitária, 71%, ou 39 pessoas,

pertencem a alguma associação, grupo de jovens, grupo de mulheres, grupo religioso, ou

grupo produtivo.

Em relação a grupos produtivos, apenas 13 pessoas, ou 23,6%, disseram que tem

algum em sua comunidade. Foram citados três grupos produtivos: de artesanato, de

pescadores, e das marisqueiras. Percebe-se que não há uma presença marcante de grupos

produtivos, principalmente de processamento de caju, proporcionando ainda bastante espaço

para os objetivos do projeto.

A participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos é razoável, já

que praticamente um terço delas, ou seja, 13, do total de 45, afirmam participar de algum,

entre grupo de artesanato, de mães, e de marisqueiras. Sobre organização jovem, 4

entrevistados se consideram liderança jovem local, e 28 entrevistados, ou 51%, fazem parte,

tem filhos, ou conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, entre

pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc.

Potencial para o Artesanato

O artesanato foi citado nessa pesquisa por 9,1% das pessoas como a principal

ocupação, e por 55,6% como a principal ocupação secundária, denotando a importância dessa

atividade na de geração de emprego e renda da população local. Em Cruz, 51 entrevistados, ou

92,7% do total, ou trabalha diretamente com artesanato, ou tem conhecimento de alguém que

trabalhe em sua comunidade. As artes fabricadas são diversificadas, sendo produzidas redes,

crochê, varandas, abajur e cortina de conchas, cestos e bolsas de palhas, entre outras. As

matérias primas, utilizadas também são as mais variadas, como palha da carnaúba, linha, cipó,

sementes, lona, madeira, etc.

42

Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 82,3%, ou 42 das 51 respostas,

afirmou vender seus produtos na própria comunidade, enquanto 17, ou 33,3%, vendem em

loja comunitária. Outros 14, ou 27,5% têm a feira, como local de venda. Nota-se um mercado

local movimentado, com muitos produtores, porém com consumo externo (fora da

comunidade) ainda insipiente.

Potencial para o Ecoturismo Comunitário

Todos os entrevistados no município de Cruz têm alguma idéia do que seja, ou já

ouviram falar, de Ecoturismo Comunitário. Quanto ao potencial turístico da comunidade, as

opiniões se dividem, já que 28, ou 50,9%, acham que é grande ou relevante, enquanto 27, ou

49,1% crêem que é pouco ou nenhum. Apesar disso, novamente todos apontaram as belezas

naturais da comunidade, como a praia do Preá, que fica ao lado de Jericoacoara, a famosa

Lagoa Azul, açudes, manguezais, e o próprio rio Acaraú.

Para 33,4% de 54 respostas, a quantidade de visitas à comunidade são muitas, ou

acontecem “o tempo todo”, e para 66,7% as visitas são poucas. Ainda, 83,6% dizem que os

visitantes se hospedam em pousadas ou hotéis, e 30,9% afirmam que as pessoas que chegam

de fora se hospedam na casa de alguém.

Percepção e Práticas Ambientais

Segundo 30 entrevistados, ou 54,5%, há área de preservação nas comunidades. S mais

citadas foram a da Praia do Preá, Serrote do Cajueirinho, e o Parque Nacional de Jericoacoara.

Quanto ao destino dado ao lixo, quase a totalidade, 94,5%, ou 52 pessoas, recebem o

serviço de coleta da prefeitura, e 8, ou 14,5%, afirmam separar e reciclar seus resíduos. Duas

pessoas dizem queimá-los e duas dizem jogá-lo fora. Apenas uma enterra seu lixo. É

importante salientar que neste item poderiam ser dadas mais de uma resposta.

Entre os 21 que usam agrotóxicos, 38,9% dizem jogar fora, porém não relatam onde.

Outros 3 afirmam lavar e devolver as embalagens, 2 as queimam, um enterra, e um não

respondeu o que faz com os recipientes.

Em relação ao manejo do esgoto, 48, ou 87,3%, relatam usar fossa comum, e apenas 3,

ou 5,5% têm a residência ligada ao sistema de tratamento do município. Ao responder como é

o manejo do esgoto na comunidade, dos 45 que souberam responder, 36, ou 80%, afirmam

não haver sistema de tratamento de esgoto em suas comunidades.

Apesar de, diferentemente de outros municípios, em Cruz, existirem práticas

sustentáveis, como a separação e reciclagem do lixo, o número de pessoas que tomam essas

atitudes é bem pequeno. Assim, serão importantes os cursos previstos no projeto, que

repassem teorias e práticas ecológicas e sustentáveis para essas comunidades.

43

5.4. ITAREMA

Identificação

O Município de Itarema tem a extensão de 720,66km2 e uma população de 37.222

habitantes. Situa-se a uma distância de 185 km da capital, Fortaleza, com localização de 2º 55'

13" de longitude, 39º 54' 54" de latitude, e a 20m de altitude. O município tem fronteira ao

norte com Acaraú e Oceano Atlântico, ao sul com Acaraú e Amontada, a leste com Amontada e

Oceano Atlântico, e a oeste com Acaraú.

Itarema tem o PIB de 154,15 milhões de reais, sendo R$ 4.495 per capita, com 45,1%

dessa renda advinda do setor de Serviços, 42% do setor Industrial, e 12,9% da Agropecuária. O

IDH do município é o 143º no ranking estadual, com o valor de 0,601. A maior parte dos

empregos formais, 60,4%, está na administração pública, com 70,1% destes sendo ocupados

por mulheres, seguida pela agropecuária, com 24%, e com 97,3% de participação dos homens.

É formada pelos distritos de Itarema, Almofala e Carvoeiro. Apresenta em seu

território Complexo Vegetacional da Zona Litorânea, Floresta Mista Dicotillo-Palmácea e

Floresta Perenifólia Paludosa Marítima, além da Caatinga Arbustiva Densa e Caaringa Arbustiva

Aberta. Pertence à Bacia Hidrográfica Litorânea. Seu litoral possui diversas praias, como a Praia

de Torrões, Praia da Enseada dos Patos, Praia do Morro, Farol de Itapajé (Praia do Farol) e a

mais conhecida, Praia de Almofala.

No Município foram visitadas as comunidades de Barro Vermelho, Pana de Baixo, Pau

Darco, Cajueiro Encarnado, Assentamento Lagoa dos Mineiros, Assentamento Mamacos,

Almofala, Assentamento Morro dos Pastos, e Patos, verificando-se o potencial das mesmas

para as atividades do projeto.

Aspectos Socioeconômicos

No município de Itarema foram realizados 140 questionários, sendo 139 considerados

válidos pela equipe. É importante destacar que as entrevistas foram feitas preferencialmente

com a população feminina das áreas rurais, público alvo do projeto, num total de 99 mulheres,

ou 71,2% da amostra.

A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 60 anos, ou aproximadamente 70%

dos entrevistados, totalizando 93 pessoas adultas. Outros 23%, ou 32, são jovens entre 15 e 29

anos, resultando uma faixa etária média de 40,5 anos no total dos pesquisados.

Podemos destacar, em Itarema, como um fator relevante para o projeto, o fato de que

a grande maioria dos entrevistados, 126 de um total de 139 respostas, ou seja, 90,6%, afirmam

morar em casa própria, o que facilitaria o recolhimento do caju, e de outras frutas, quando

houver, para o processamento. Também terá forte influência no alcance do projeto, o elevado

número de pessoas que moram na mesma residência, em média, 5,6 moradores, com até 12

familiares em uma mesma casa, geralmente com 6,5 cômodos.

44

Quanto à comunicação do grupo, podemos destacar que, de 138 entrevistados, 127

pessoas, ou 92% possuem televisão em sua casa, 121, ou 87,6% possuem rádio ou som, e 41,

ou 29,7% tem celular. Ainda, apenas 9, ou 6,5% tem computador em casa, enquanto 14,4%

tem acesso a algum computador, e 87,7% não possuem qualquer acesso à internet. Podemos

destacar o papel do rádio na divulgação das atividades do projeto, porém, em Itarema, a

presença do celular não é tão significativa quanto em outros municípios. Assim, o trabalho dos

mobilizadores terá importante papel no município.

Formação

A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 139

entrevistados que responderam, 23, ou 16,5% não possuem qualquer tipo de escolaridade, 62,

ou 44,6% possuem o Ensino Fundamental Incompleto, 10, ou 7,2% possuem o Ensino

Fundamental Completo, 8, ou 5,8% possuem o Ensino Médio Incompleto, 24, ou 17,3%

possuem o Ensino Médio Completo, e os outros 12, ou 8,6% restantes possuem Ensino

Superior incompleto, completo, ou outras formações. Entre as mulheres, a maioria, 64, ou

64,6% não passaram do Ensino Fundamental.

Assim, podemos afirmar que, 95 pessoas, ou 68,3% não chegaram ao Ensino Médio.

Tal fato, que indica a necessidade de uma metodologia com linguagem simples e direta, com

foco na cultura de aprendizagem local.

Considerou-se, também, além da formação escolar, a participação em cursos como

uma formação complementar ao ensino convencional. Formações que possibilitam o melhor

desenvolvimento de atividades produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, que é

foco de análise do presente estudo.

Assim, percebe-se a participação de 53 pessoas, ou 36,6% da amostra em cursos desse

tipo. Outro ponto a ser destacado é relativo ao tipo de matéria abordada, com grande

participação em cursos de processamento de caju, artesanato, associativismo, cooperativismo,

e meio ambiente, e menor participação em atividades de juventude, agroecologia, e gênero.

O projeto CAJUS poderá aproveitar o conhecimento já adquirido para aprofundar

atividades como processamento de caju e artesanato, ao mesmo tempo em que insere noções

não tão difundidas no grupo, como agroecologia, juventude, e gênero.

Ocupação e Renda

Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações

principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram

destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de

governo, como o Bolsa Família.

A maioria dos entrevistados, 94, apontou como sua ocupação principal a agricultura,

correspondendo a 67,6% das respostas, acompanhados pelos 12, ou 8,6% que afirmaram

45

trabalhar com artesanato. As ocupações secundárias são citadas em 82 questionários, ou 59%

da amostra. O artesanato, o processamento de caju, e a agricultura, foram os mais citados,

somando, respectivamente, 26,8%, 25,6%, e 17% das respostas.

Como principais fontes de renda, a agricultura tem, novamente, grande destaque,

sendo citada em 115, ou 82,7% das respostas, seguida pelo Bolsa Família, com 54%, ou 75

respostas. Outras rendas provêm do serviço público, com 18% e da aposentadoria, com 18%.

Em Itarema pode-se perceber a boa participação do artesanato, 23,7%, castanha do caju,

20,9% e em outros produtos do caju, 12,9%. É ainda interessante o aparecimento de outras

atividades, mais características do litoral, como o turismo, na renda de 9,8% dos entrevistados,

a produção de coco, e a pesca artesanal.

As principais ocupações das mulheres da amostra são a agricultura, 63,6%, artesanato,

11,1%, e serviço público, com 5,1%. Entre os entrevistados que afirmaram ter ocupação

secundária, 68,3% são mulheres, dentre as quais, 30,3% estão no artesanato, 19,7% na

agricultura, e 16% na cajucultura.

Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, dos 139 que

responderam esse quesito, 56,8% ganham menos de um salário mínimo, e 31,7% até dois

salários. Tal fato comprova a importância de projetos, como o CAJUS, de geração de renda e

melhoria de qualidade de vida, já que a renda familiar de 88,5% não ultrapassa 2 salários

mínimos.

Agricultura Familiar

A maioria dos agricultores e agricultoras, 43, ou 31% dos 139 que responderam essa

questão, afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa; 42 ou 30,2% afirmam que a

propriedade pertence a familiares; 37 ou 26,1% tem áreas de reforma agrária ou

assentamento.

Sobre a produção familiar, dos 76 agricultores entrevistados, apenas 9, ou 11,8% não

tem acompanhamento algum da produção em sua propriedade por alguma instituição, como

ONGs, Sindicatos, Governo, etc. Dessa forma, a grande maioria dos agricultores pesquisados,

ou seja, 88,2% recebem assistência técnica à sua produção, sendo a maioria, 21,1%

proveniente de Cooperativas, seguida de Associações, acessória técnica de programas

governamentais, e do MST, cada um com 18,4% das respostas.

Em relação à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 257,73, com

os principais gastos com arroz, 38,1%, açúcar, 27,3%, frango, 22,3%, e peixe, com 21,6%. A

maioria dos entrevistados, 112, ou 75,2% remetem à compra de 50 a 75% da alimentação.

Compram todos os alimentos consumidos pela família, 5,8% das pessoas, e outros 11,6%, ou

16 entrevistados, compram 25% do que consomem.

Produtos da Agricultura Familiar

46

Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da

agricultura familiar é vasta e diversificada com produção para a comercialização e para o

consumo familiar.

As culturas mais produzidas pelos 128 agricultores que responderam esse quesito são

feijão, por 126, ou 98,4%; milho por 122, ou 95,3%; mandioca por 110, ou 86 %; macaxeira por

96, ou 75%; batata doce por 82, ou 64,1%; e hortaliças por 48 ou 37,5%. Note-se que há

agricultores que plantam dois ou mais tipos de alimentos.

Números similares aparecem em relação aos alimentos produzidos na propriedade e

mais consumidos pelos entrevistados, com o feijão em primeiro lugar, citado por 125 pessoas,

ou 95,4% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 102 citações, ou 77,9%;

seguido da farinha, com 72, ou 55% e do coco, com 65, ou seja, 49,6%. É importante destacar

que o caju aparece citado por 62 pessoas, ou 43,7% do consumo. Apesar de não aparecer

significativamente no quesito cultura mais produzida, o caju aparece como um dos produtos

mais consumidos pela produção familiar.

As respostas positivas em relação à comercialização da produção foram de 95

entrevistados, ou seja, 74,2% do total de produtores. Destes, a maior parte, 72,6%, ou 69

pessoas comercializam a castanha do caju; 64,2%, ou 61, o coco; e 49, ou 51,5%, vendem

farinha.

É interessante notar que o caju aparece, em grande porcentagem, nos itens

consumidos pela família que são produzidos na propriedade, mas não aparece como uma das

culturas mais produzidas, nem nos mais comercializados, no qual a castanha tem grande

relevância.

Sistemas de Produção

Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 125 entrevistados que

responderam, 57, ou 45,3% afirmaram utilizar o sistema convencional; 64 ou 51,2% afirmaram

evitar agrotóxicos; 4 ou 3,2% afirmaram utilizar sistema orgânico; 6, ou 4,8% utilizam o sistema

misto; e apenas 1 ou 0,8% afirmou utilizar sistema agroecológico.

Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem

conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e agroecológica. Foi considerada para a

análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos

agricultores, que não tem acesso a acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento

não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis.

Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 128 que

responderam, 68, ou 53,1% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após

aparecem a capina seletiva, com 39 ou 30,5%, e o quintal produtivo e arado, com 24 ou 18,8%.

Também foram citados os defensivos naturais, biofertilizantes, compostagem e arado manual.

47

Aproveitamento do Pedúnculo de Caju

No município de Itarema, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros. Quando

a pergunta é dirigida à própria terra do agricultor(a), o número é similar: 113 entrevistados, ou

81,9%, afirmam ter cajueiros em sua propriedade.

Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum

agricultor afirmou vender 100% do caju in natura produzido em sua propriedade. A maioria,

56,6%, ou 64 pessoas, não comercializa nada do caju produzido em suas terras, e 41, ou 36,3%

vendem apenas 5%, demonstrando o enorme potencial e desperdício do pedúnculo no

município.

A maior parte do caju in natura que não é comercializado acaba sendo desperdiçado

por 46, ou 40,7% dos entrevistados. Outra parte, 18,6%, serve para processamento de novos

produtos; e 12,9% para alimentação de animais; servindo para consumo próprio, apenas 6,2%

do caju.

A porcentagem de caju que é processada se destina, em sua maioria, para a fabricação

do doce de caju em calda por 77,9%, ou 74 entrevistados; seguida pela fabricação de suco de

caju, por 56 ou 58,9%; mocororó, por 36, ou 37,9%; e 34 ou 35,8% para carne de caju. Para a

maioria, ou seja, 31 das 59 respostas, em um percentual de 52,5%, os produtos que geram

maior resultado são o doce de caju, seguido pelo mocororó, com 27,1%.

Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 62,6%, ou 87 dos 139

entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,

etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, percebe-se um excelente potencial

para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em

alguma cooperativa que seja criada pela comunidade.

Organização Comunitária

O município de Itarema possui um grande número de grupos e associações, para os

mais diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande

possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do

projeto CAJUS.

Quando perguntados se participavam de alguma organização comunitária, 71,2%, ou

99 pessoas, responderam afirmativamente, sendo 72, de alguma associação. Em relação a

grupos produtivos, 65, ou 46,7% disseram que tem algum em sua comunidade. Foram citados

grupos produtivos de coco, de pescadores, de costureiras, de rendeiras, de bordadeiras, de

casa de farinha, entre outros. Nota-se que apesar da forte presença de grupos produtivos,

ainda há bastante espaço para o beneficiamento do caju.

Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos, 34,

do total de 99, afirmam participar de algum, entre grupos de mulheres, de senhoras,

religiosos, de caju, e de artesanato. Sobre organização jovem, 71 entrevistados, ou 51% fazem

48

parte, tem filhos, ou conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento específico,

entre pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc. Ainda, 22 entrevistados se

consideram liderança jovem local.

Potencial para o Artesanato

O artesanato foi citado nessa pesquisa por 8,6% das pessoas como a principal

ocupação, e por 26,8% como a principal ocupação secundária, resultando em um excelente

potencial de geração de emprego e renda. Além disso, quando são questionados se tem

conhecimento de artesanato feito pela família ou comunidade, 111 responderam que sim. As

artes fabricadas são extremamente variadas, e vão desde saias, redes, e crochê, até vassouras,

bancos de madeiras, e abajur de palitos de picolé. As matérias primas, por conseqüência,

também são as mais variadas, como palha, linha, garrafas pet, e palitos.

Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 58,3%, ou 60 das 103 respostas,

afirmou não ter lugar certo para a venda dos produtos, enquanto 37, ou 36%, tem o mercado

na própria comunidade. Outros 8, ou 7,8% têm a feira, programa do governo, ou instituição

parceira como principal local de venda. Portanto, apesar do grande potencial do artesanato

para essas comunidades, existe a necessidade de organizar as vendas e encontrar novos

mercados para o escoamento dos produtos.

Potencial para o Ecoturismo Comunitário

Em Itarema, 83 pessoas, ou seja, 60% do total, não sabem ou nunca ouviram falar de

ecoturismo comunitário. Apesar de se dividirem no quesito potencial turístico da comunidade,

já que 59,1% acham pouco ou nenhum, e 40,9% crêem ser muito grande ou relevante; 93, ou

cerca de 70% souberam apontar belezas naturais, entre praias, lagoas, dunas, morros, açude,

manguezais, coqueirais, projeto TAMAR, entre outras.

Novamente há uma divisão bem equilibrada nas respostas, agora em relação a

quantidade de visitas na comunidade: 42,4% afirmam que há o tempo todo ou muitas, contra

57,6%, que dizem receber poucas ou nenhuma visita. Ainda, para 51,6%, os visitantes se

hospedam na casa de alguém, contra 23, ou 18,5% das respostas para acomodações em hotéis

e pousadas.

Percepção e Práticas Ambientais

Apenas 14 entrevistados, ou 10% da amostra, afirmaram existir área de preservação

em sua comunidade, entre APAs e áreas de mangue.

Quanto à coleta de lixo, a maioria, 64%, ou 89 pessoas, afirmam queimar seus

resíduos, 51, ou 36,7% enterram. A coleta pela prefeitura atinge apenas 11,5% dos

entrevistados. É importante salientar que neste item poderiam ser dadas mais de uma

49

resposta. Entre os 25 que usam agrotóxicos, 34,3% afirmam enterrar as embalagens, 28% as

queimam, 25,7% simplesmente jogam fora, uma pessoa joga no “carro de lixo”, e nenhuma

lava e devolve.

Em relação ao manejo do esgoto, 95,7% relatam usar fossa comum, enquanto apenas

uma pessoa tem esgoto ligado ao sistema de saneamento do município. Ao responder como é

o manejo do esgoto na comunidade, 131, ou 94,2% afirmam não haver sistema de tratamento

de esgoto.

Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimento, teorias e práticas de

ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas se atém a

práticas obsoletas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do

lixo e o descuido e despreparo com embalagens tóxicas.

5.5. JIJOCA

Identificação

O Município de Jijoca de Jericoacoara tem a extensão de 201,86 km2 e uma população

de 16.713 habitantes. Situa-se a uma distância de 238 km da capital, Fortaleza, com localização

de 2º 47’ 37’’ de longitude e 40º 30’ 47’’ de latitude, e a 22m de altitude. O município tem

fronteira ao norte com Cruz e Oceano Atlântico, ao sul com Camocim e Bela Cruz, a leste com

Bela Cruz e Cruz, e a oeste com Camocim.

Jijoca tem o PIB de 45 milhões de reais, sendo R$ 2.935 per capita, com 76,6% dessa

renda advinda do setor de Serviços. O IDH do município é o 108º no ranking estadual, com o

valor de 0,623. A maior parte dos empregos formais, 63%, está na administração pública, com

64% destes sendo ocupados por mulheres. Apesar de fornecer a maior renda, o setor de

serviços ocupa a segunda posição na geração de empregos formais, com 403, ou cerca de 30%

do total municipal.

O município possui umas das praias mais conhecidas do Brasil, com projeção

internacional: Jericoacoara. Sua vegetação é um típico Complexo Vegetacional da Zona

Litorânea, e pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Coreaú.

No Município foram visitadas as comunidades de do Córrego do Urubui, Mangue Seco,

Baixio, Lagoa do Meio, Lagoa Grande, Santo Ridio, Forquilha I e II, Jijoca, e Jericoacoara,

percebendo-se a presença de grupos produtivos formais e informais assim como um aparente

potencial das mesmas para as atividades do projeto.

Aspectos Socioeconômicos

No município de Jijoca foram realizadas 55 entrevistas, sendo todas consideradas

válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram aplicados

50

preferencialmente junto à população feminina das áreas rurais, o principal público alvo do

projeto, num total de 31 mulheres, ou 56,36% da amostra.

A principal faixa etária pesquisada se tem entre 30 a 60 anos, ou aproximadamente

55%, totalizando 31 pessoas adultas. Outros 32,7%, ou 18 entrevistados, são jovens entre 15 e

29 anos, resultando uma faixa etária média de 39,7 anos no total dos pesquisados.

Um fator importante a ser destacado, com elevada influência para o projeto é que a

grande maioria dos entrevistados, 46, ou 86,6% afirmam morar em casa própria, facilitando

bastante o recolhimento do caju para o processamento (quando existirem cajueiros) nas

residências. Outro destaque, que também influenciará o número de pessoas atingidas e

beneficiadas pelo projeto, é o elevado número de pessoas por residência, resultando numa

média de 4,3 moradores, com até 12 familiares em uma mesma casa, que tem em média 6,4

cômodos.

Para a questão da comunicação do projeto, é necessário destacar que 48 pessoas, ou

87,3% possuem televisão em sua casa, e 35, ou 63,3% possuem rádio. Ainda, 16,4%, ou 9

entrevistados, tem computador, e 19, ou 33,6% afirmam possuir acesso à internet. Assim,

percebe-se alguma possibilidade de se trabalhar com esse meio no município.

Formação

A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 54 entrevistados

que responderam, apenas 7,5% não possuem qualquer tipo de escolaridade, 49,1% possuem o

Ensino Fundamental Incompleto, 3,8% possuem o Ensino Fundamental Completo, 11,1%

possuem o Ensino Médio Incompleto, 26,4% possuem o Ensino Médio Completo, e os outros

5,7% restantes possuem Ensino Superior Completo. É importante destacar que não houve, na

amostra, pessoas com ensino superior incompleto ou com outros níveis de formação. Entre as

mulheres, a grande maioria, 19, ou 63,3% tem o ensino fundamental incompleto.

Assim, apesar de não haver um número significativo de pessoas sem alfabetização, e

uma presença significativa de entrevistados que terminaram o ensino médio, podemos afirmar

que mais da metade dos entrevistados não passou do Ensino Fundamental. Tal fato, que indica

a necessidade de uma metodologia com linguagem simples e direta, com foco na cultura de

aprendizagem local, porém com metodologia dinâmica e de conteúdo, para não causar

desinteresse em um grupo tão heterogêneo.

Considerou-se, também, além da formação escolar, a participação em cursos como

uma formação complementar ao ensino convencional. Formações que possibilitam o melhor

desenvolvimento de atividades produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, que é

foco de análise do presente estudo.

Dessa forma, percebe-se certa carência de cursos desse tipo para a amostra

selecionada pelo estudo, já que apenas 18 pessoas, ou aproximadamente 33%, participaram

de alguma atividade ligada ao objetivo do projeto. Outro ponto que se destaca é a pequena

51

participação das mulheres nessas atividades, já que apenas 13% das que responderam ao

questionário fizeram algum curso dessa natureza.

O projeto CAJUS terá papel fundamental no preenchimento da lacuna de atividades e

cursos que possam gerar renda e agregar mais possibilidades e conhecimentos para a

população envolvida pelo presente estudo.

Ocupação e Renda

Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações

principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram

destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de

governo, como o Bolsa Família.

A maioria dos entrevistados, 24, apontou como sua ocupação principal a agricultura,

correspondendo a 44,4% das respostas, acompanhados pelos 14,8% que afirmaram ser

estudantes e 11,1% de donas de casa. As ocupações secundárias são citadas em apenas 28

questionários, ou 51,9%. O artesanato e a agricultura têm um leve destaque nas ocupações

secundárias, somando 32,2% das respostas.

Como principais fontes de renda, a agricultura se destaca novamente, sendo citada em

42,6% das respostas, seguida pelo Bolsa Família, com 37%, ou 20 respostas. Outras rendas

provêm do serviço público, com 22,2%, da aposentadoria, com 18,5%. É ainda interessante o

aparecimento do turismo na renda de 9,2% dos entrevistados, a pouca participação do caju,

citado como “castanha”, aparecendo em apenas 7,5% das respostas, e da boa participação do

artesanato na renda de 13% da amostra.

As principais ocupações das mulheres da amostra são a agricultura, 45%, dona de casa,

19%, e estudante, 7,4%. Entre os entrevistados que afirmaram ter ocupação secundária, 60,7%

são mulheres, dentre as quais, 20% estão no artesanato.

Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, dos 51 que

responderam esse quesito, 90,6% ganham no máximo 2 salários mínimos. Tal fato sugere a

importância de projetos de geração de renda e melhoria de qualidade de vida, como o CAJUS,

para a população local.

Agricultura Familiar

A maioria dos agricultores e agricultoras, 28, dos 49 que responderam essa questão,

afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa; 18 ou 36,7% afirmam que a

propriedade pertence a familiares; 3 ou 6,1% tem outros tipos de relação com a propriedade,

entre áreas de assentamento, arrendamento, da comunidade, entre outras, e 8,2%, ou 4

pessoas vivem de aluguel.

52

Sobre a produção familiar, dos 29 entrevistados que responderam se tem

acompanhamento da produção em sua propriedade, apenas 7, ou 24,13% são assistidos por

alguma instituição, como ONGs, Sindicatos, Governo, etc. É mister reafirmar que, dessa forma,

a grande maioria dos agricultores pesquisados, ou seja, 75,87% não recebem qualquer tipo de

assistência técnica à sua produção.

Em relação à alimentação, a amostragem indica um gasto mensal médio de R$ 321,88,

com os principais dispêndios em arroz, com 25,5% e frango, com 23,5%. A maioria das 49

respostas, 26, ou 53,1% remetem à compra de 75% da alimentação. Compram todos os

alimentos consumidos pela família, 22,4% das pessoas, e outros 20,4%, ou 10 entrevistados,

compram metade da comida que consomem. Percebe-se que apenas 2 pessoas, ou 4% têm

uma produção que atenda mais da metade de sua necessidade alimentícia.

Produtos da Agricultura Familiar

Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da

agricultura familiar é vasta e diversificada, com produção para a comercialização e para o

consumo familiar.

As culturas mais produzidas pelos 38 agricultores que responderam esse quesito são

feijão, por 33 ou 86,8% dos agricultores; milho por 32 ou 84,2%; mandioca por 27 ou 71,1%;

macaxeira por 21 ou 55,3%; e hortaliças por 15 ou 39,5%. Note-se que há agricultores que

plantam dois ou mais tipos de alimentos.

Números similares aparecem em relação aos alimentos mais consumidos pelos

entrevistados, que são plantados na propriedade, com o feijão em primeiro lugar, citado por

43 pessoas, ou 87,8% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 41 citações,

ou 83,7%; seguido da macaxeira, com 35, ou 71,4% e hortaliças, com 15, ou 30,6%. É

importante destacar que o caju só aparece citado por 4 pessoas, ou 8,2% do consumo.

As respostas positivas em relação à comercialização da produção foram de 21

entrevistados, ou seja, 43,8% do total de 48 produtores. Destes 21, a maior parte, 47,6%, ou

10 pessoas, comercializam a castanha de caju; 23,8%, ou 5, comercializam farinha, e apenas 1

entrevistados vendem doce de caju, num total de 4,8%.

Sistemas de Produção

Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 39 entrevistados que

responderam, 24 ou 61,5% afirmaram utilizar o sistema convencional; 13 ou 33,3% afirmaram

evitar agrotóxicos; 4 ou 10,3% afirmaram utilizar sistema misto; 1 sistema agroecológico, e 1

sistema orgânico.

Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem

conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e de agroecologia. Foi considerada para a

análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos

53

agricultores, que não têm acesso a acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento

não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis.

Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 31 que

responderam, 21, ou 67,8% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após

aparece a capina seletiva, com 5 ou 16,1%, e o sistema agroflorestal, com 4 ou 13%. Também

foram citados a compostagem, defensivos naturais, adubação verde, entre outros.

Aproveitamento do Pedúnculo de Caju

No município de Marco, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros. Quando a

pergunta é dirigida à própria terra do agricultor ou agricultora, dos 55 entrevistados, 43, ou

78,2% responderam que têm cajueiros em sua propriedade.

Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, somente 3

agricultores afirmaram vender mais de 75% do caju in natura produzido em sua propriedade. A

maioria, 69,2%, ou 27 pessoas, não comercializa nada do caju produzido em suas terras, mais

uma vez demonstrando o enorme potencial e desperdício do pedúnculo no município. O caju

in natura que não é comercializado é desperdiçado por 41%, enquanto outros 35,3% usam

para consumo próprio. Serve para ração animal 14,7%, mesma porcentagem do caju destinado

ao processamento para novos insumos.

Das 35 pessoas que processam o pedúnculo do caju, a maioria, ou 77,1% faz doce de

caju. O suco de caju é a segunda maior produção, feito por 71,4% dos entrevistados, seguido

da cajuína, feita por 40%, doce de caju em calda, por 31,4%, e do mel de caju, por 17,1%.

Dentre os produtos que trazem maior resultado, os mais citados foram a cajuína e o suco de

caju.

Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 63,7%, ou 35 dos 55

entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,

etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, comprova-se um excelente potencial

para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em

alguma cooperativa que seja criada pela comunidade.

Organização Comunitária

O município de Jijoca possui um grande número de grupos e associações, para os mais

diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande

possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do

projeto CAJUS.

Quando perguntados se a sua comunidade se organizava em grupos produtivos, 19, ou

44,2% responderam afirmativamente. Foram citados grupos produtivos de caju e coco,

beneficiamento de caju castanha, artesanato, pesca e agricultura, crochê. Importante frisar o

relato da existência de grupos de beneficiamento de caju, por três pessoas.

54

Individualmente, em 25 de 44 respostas, ou seja, 56,8% participam de algum

movimento, grupo, ou associação comunitária. Em relação à participação das entrevistadas em

grupos de mulheres, apenas 3 afirmam participar de algum, e dois homens afirmaram que suas

esposas participam. Nota-se a presença de poucos grupos de gênero, com uma necessidade de

se trabalhar esse tema no projeto, já que há bastante espaço para discussão e criação desse

tipo de grupo. Sobre organização jovem, 10 entrevistados, ou 18,2% fazem parte, tem filhos,

ou conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, entre pró-jovem,

grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, grupo Águias da Paz, etc. Ainda, 9 entrevistados

se consideram liderança jovem local.

Potencial Para o Artesanato

O artesanato não foi citado de forma relevante, nessa pesquisa, como a principal

ocupação, e como ocupação secundária, dividiu espaço com a agricultura, sendo citada por

21,5%. Apesar disso, quando são questionados se tem conhecimento de artesanato feito pela

família ou comunidade, 40 responderam que sim. As artes fabricadas são bem diversificadas,

como escultura, crochê, tapetes, cestos, saídas de banho, redes, luminárias, e abajures. As

matérias primas, por conseqüência, também são as mais variadas, como palha, linha, “cipó de

coqueiro”, argila, garrafas pet, madeira e náilon.

Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 57,5%, ou 23 das 40 respostas,

afirmou não ter lugar certo para a venda dos produtos, enquanto 16, ou 40%, tem o mercado

na própria comunidade. Outros 12, ou 30% fazem a venda em loja parceira e 7,5% em loja

comunitária. Assim, apesar da amostra selecionada não ter no artesanato uma de suas

principais ocupações, há a existência de um potencial nas comunidades, mesmo que não

tenha, em geral, pontos de venda organizados e fixos.

Potencial para o Ecoturismo Comunitário

Em Jijoca, apenas 9 pessoas, ou seja, 23% do total de respostas, não sabem ou nunca

ouviram falar de ecoturismo comunitário. As respostas se dividem no quesito potencial

turístico da comunidade, com 26, ou 53% delas afirmando ser muito grande ou relevante, e 23,

ou 47% afirmarem ser pouco ou nenhum. Porém, 37, ou 75,5% souberam apontar belezas

naturais, entre praias, lagoas, cachoeira, manguezais, coqueirais, córrego, trilhas ecológicas,

casa de farinha, entre outras.

Novamente há um equilíbrio nas respostas, agora em relação a quantidade de visitas

na comunidade: 43,8% afirmam que há o tempo todo ou muitas, contra 56,2%, que dizem

receber poucas ou nenhuma. Ainda, para 51%, os visitantes se hospedam na casa de alguém,

demonstrando um costume interessante para o trabalho com o ecoturismo comunitário.

Percepção e Práticas Ambientais

55

Afirmaram existir área de preservação em sua comunidade 27 pessoas, que citaram

APAs, áreas de mangue, parque nacional, e praia do mangue seco.

Quanto ao destino dado para o lixo, a maioria, 54%, ou 27 pessoas, afirmam queimar

seus resíduos, e 25, ou 50% são coletados pela prefeitura. Outros 16% tem o costume de

enterrar o lixo. É importante salientar que neste item poderiam ser dadas mais de uma

resposta. Entre os 13 que usam agrotóxicos, 53,8% afirmam enterrar as embalagens, 23,1% as

enterram, e 23,1% simplesmente jogam fora. Ninguém afirmou que lava e devolve.

Em relação ao manejo do esgoto, 78,2% relatam usar fossa comum, e 17,4% tem

esgoto ligado ao sistema de saneamento do município. Ao responder como é o manejo do

esgoto na comunidade, 38, ou 77,6% afirmam não haver sistema de tratamento de esgoto.

Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimento, teorias e práticas de

ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas se atém a

práticas obsoletas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do

lixo e o descuido e despreparo com embalagens tóxicas.

5.6. MARCO

Identificação

O Município de Marco tem a extensão de 574,15 Km2 e uma população de 24.697

habitantes. Fica a 198 km da capital, Fortaleza, e está localizado a 40º 08’ 48” de longitude e 3º

07’ 26” de latitude, e a 20m de altitude. As fronteiras de seu território têm a seguinte

configuração: ao Norte, o Município de Bela Cruz; ao sul, Senador Sá e Morrinhos; a Leste,

Morrinhos, Acaraú, e Bela Cruz; a Oeste, Senador Sá e Granja.

Tem o PIB de 82 milhões de reais, sendo 3.556 per capita, ocupando a 124º colocação

no ranking do IDH estadual, com o índice de 0,616. A maioria dos empregos se encontra na

administração pública, com cerca de metade dos empregos formais, sendo 78% dos cargos

ocupados por mulheres. Em seguida, vem a indústria de transformação, com 40%, sendo 88%

dessas vagas ocupadas por homens.

Possui os distritos Marco, Mocambo e Panacuí. Apresenta em seu território os

seguintes acidentes geográficos: Rio, Açude Tucunduba, Serra do Tucunduba. Tendo como

principal vegetação a caatinga.

No Município foram visitadas as comunidades de Baixa do Meio, Bom Jesus, Canecão,

Triângulo do Marco e Assentamento Leite. Essas comunidades foram indicadas pelo STTR de

Marco que apontou/estimou a presença de grupos produtivos formais e informais assim como

um aparente potencial das mesmas para as atividades do projeto.

Aspectos Socioeconômicos

56

No município de Marco foram realizadas 55 entrevistas, sendo 54 consideradas válidas

pela equipe. É importante salientar que os questionários foram aplicados preferencialmente

junto a mulheres das áreas rurais, o principal público alvo do projeto, num total de 40

mulheres, ou 74% da amostra.

A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 e 60 anos, ou 64,8% de adultos,

totalizando 35 pessoas adultas. Outros 29,6%, ou 16 entrevistados, tem de 15 a 29 anos,

resultando uma faixa etária média de 37,9 anos no total dos pesquisados.

Um fator importante a ser destacado, com elevada influência para o projeto é que a

grande maioria dos entrevistados, 50, ou 92% afirmam morar em casa própria, facilitando

bastante o recolhimento do caju para o processamento (quando existir cajueiros) nas

residências. Outro destaque, que influenciará o número de pessoas atingidas e beneficiadas

pelo projeto, é o elevado número de pessoas por residência, resultando numa média de 5,5

moradores, com até 12 familiares em uma mesma casa, que tem em média 6,1 cômodos.

Para a questão da comunicação dos participantes do projeto, é necessário destacar

que 36 pessoas, ou 67,9% possuem televisão em sua casa, e 33, ou 62,3% possuem rádio.

Ainda, apenas 3,8%, ou 2 entrevistados, tem computador, e 44, ou 93,6% afirmam não possuir

qualquer acesso à internet. Assim, por mais aparente que seja a facilidade do “mundo

moderno” atual, de, por exemplo, retirar receitas na internet, essa possibilidade praticamente

inexiste nas comunidades que pretendemos assessorar.

Formação

A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 54 entrevistados

que responderam, 14,8% não possuem qualquer tipo de escolaridade, 40,7% possuem o

Ensino Fundamental Incompleto, 11,1% possuem o Ensino Fundamental Completo, 11,1%

possuem o Ensino Médio Incompleto, 11,1% possuem o Ensino Médio Completo, e os outros

11,1% restantes possuem Ensino Superior Incompleto. É importante destacar que não houve,

na amostra, pessoas com ensino superior completo ou com outros níveis de formação. Entre

as mulheres, a maior parte, ou 35,1% tem o ensino fundamental incompleto.

Assim, podemos dizer que mais da metade dos entrevistados não alcançou o Ensino

Médio, o que indica a necessidade de uma metodologia com linguagem simples e direta, com

foco na cultura de aprendizagem local.

Levou-se em conta, também, além da formação escolar, a participação em cursos,

considerando-os como uma formação complementar ao ensino convencional, com foco em

áreas temáticas mais específicas, possibilitando o melhor desenvolvimento de atividades

produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, foco de análise do presente estudo.

Mais da metade dos entrevistados, ou 51,85%, já participaram de algum curso

diretamente relacionado aos objetivos principais do projeto, como agroecologia, juventude,

processamento de frutas, artesanato, produção do caju, gênero, meio ambiente,

associativismo e cooperativismo. Observando que 78,57% dos entrevistados que já fizeram

57

algum curso são mulheres, percebemos o acerto do CAJUS em trabalhar, nesse município,

preferencialmente com esse público alvo, já que, de alguma forma, as mulheres estão mais

presentes nessas capacitações.

Ocupação e Renda

Foram consideradas como mais relevantes para o estudo apenas as ocupações

principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram

destacadas do quesito ocupação, pois podem vir de aposentadoria, ou programas de governo,

como o Bolsa Família.

A grande maioria dos entrevistados, 46, apontou como sua ocupação principal a

agricultura, correspondendo a 85% das respostas ao passo em que 42, ou 82,4% afirmaram ser

a agricultura a sua principal fonte de renda. Essa pequena diferença, provavelmente se deve

ao fato de 29, ou 54,1% das pessoas também terem citado a aposentadoria ou o Bolsa Família

como sua principal fonte de renda. Note-se que neste item era possível citar mais de uma

fonte de renda principal.

As ocupações secundárias são citadas em apenas 25 questionários, sendo 46,6%, ou

seja, 53,7% dos entrevistados têm apenas uma ocupação. O artesanato é a principal atividade

secundária observada pelo estudo, sendo citado por 10 pessoas, ou 40% dos que tem a

segunda ocupação, seguida de “casa de farinha”, com 16%, costura, 12%, cajucultura, 12%,

entre outros. É importante frisar, levando em conta a sua importância cultural, como ainda é

incipiente a participação do caju, ou cajucultura, na ocupação e renda da amostra selecionada:

apenas 12% das pessoas que tem ocupação secundária, caindo para 3,7% se considerarmos os

54 questionários.

Quanto à participação feminina, 80%, ou 32, afirmam ter a agricultura como ocupação

principal, indicando a participação da mulher no roçado. A ocupação secundária envolve 24

mulheres, ou 60% do total de 40 entrevistadas no município de Marco. Destas, 11, ou 45,83%

tem como outra ocupação o artesanato, e apenas 3, ou 12,5% tem atividades relacionadas ao

caju.

Assim, o artesanato local, com 10 pessoas evolvidas, num total de 54, ou seja, 18,5%,

se mostram como uma boa opção à geração de renda do município, enquanto a falta de

atividades relacionadas ao caju demonstra a necessidade e a importância de mais ações nessa

área.

Mais uma informação é necessária para a percepção de urgência da melhoria de renda

nas comunidades visitadas: mais da metade dos entrevistados, 56,6%, tem menos de um

salário mínimo de renda e quase a totalidade, 98,1% não ganham mais do que 2 salários.

Agricultura Familiar

58

Agricultura familiar representa uma parcela significativa da ocupação da população

pesquisada. Dentre os 54 questionários aplicados no município pelo presente estudo, 46

pessoas têm como ocupação principal a agricultura, correspondendo a 85% dos entrevistados.

A maioria dos agricultores e agricultoras afirma que a propriedade é sua ou de esposo

ou esposa; 7 ou 13,5% afirmam que a propriedade é de familiares; 10 ou 19,2% tem outros

tipos de relação com a propriedade, entre áreas de assentamento, arrendamento, da

comunidade, entre outras, não havendo nenhuma alugada.

Sobre a produção familiar, 38 dos 54 entrevistados, ou 70,37% afirmam ter

acompanhamento da produção em sua propriedade. Desses, 14 ou 36,8 % recebem assessoria

técnica de programas governamentais, 14 ou 36,8% são assessorados por algum sindicato, 11

ou 28,9% recebem assessoria técnica de ONG e 7 ou 18,4%, de alguma associação. Ainda,

cerca de 26% dos entrevistados afirmam não ter nenhum acompanhamento.

Em relação à alimentação, a amostragem demonstra um gasto mensal médio de

R$332,10, com os principais gastos em arroz, com 44,2% e feijão, com 25%. A maioria, 63,5%,

ou 33 entrevistados, afirma comprar cerca de 75% da sua alimentação. Compram todos os

alimentos consumidos pela família, 17,3% das pessoas, e outros 17,3%, ou 9 entrevistados,

compram metade da comida que consomem. Percebe-se que apenas 10 pessoas, ou 19,2%

têm uma produção que atenda, pelo menos, metade de sua necessidade alimentícia.

Produtos da Agricultura Familiar

A produção da agricultura familiar é bastante diversificada. Havendo áreas de

produção diferenciadas para a comercialização e para o consumo familiar. As culturas mais

produzidas pelos 48 agricultores que responderam esse quesito são feijão, por 39 ou 81,3%

dos agricultores; farinha por 33 ou 68,8%; milho por 24 ou 50,0%; caju por 17 ou 35,4%; frutas

por 9 ou 18,8%; mandioca por 6 ou 12,5%, e hortaliças por 5 ou 10,4%. Note-se que há

agricultores que plantam dois ou mais tipos de alimentos.

Números similares aparecem em relação aos alimentos mais consumidos pelos

entrevistados, com o feijão em primeiro lugar, citado por 43 pessoas, ou 87,8% dos

entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 41 citações, ou 83,7%; seguido da

macaxeira, com 35, ou 71,4% e hortaliças, com 15, ou seja, 30,6%. É importante destacar que o

caju só aparece citado por 4 pessoas, ou 8,2% do consumo.

As respostas positivas em relação à comercialização da produção foram de 28

entrevistados, ou seja, 58,33% do total de 48 produtores. Destes 28, a maior parte, 53,6%, ou

15 pessoas, comercializam a farinha de mandioca, 32,1% comercializam o milho plantado, e

apenas 2 (dois) entrevistados vendem doce de caju, num total de 4,8%.

É interessante notar a aparente “perda” do caju nesse processo de plantio, consumo,

venda, segundo o presente estudo de viabilidade. Afirmam produzir caju, 17 pessoas,

enquanto apenas 4 pessoas tem o pedúnculo como um dos principais alimentos para consumo

59

próprio. Quando observamos a comercialização do que foi produzido o número fica ainda mais

reduzido, com apenas 2 pessoas comercializando o doce de caju.

Sistemas de Produção

Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 48 entrevistados que

responderam, 36 ou 75,0% afirmaram utilizar o sistema convencional; 15 ou 31,3% afirmaram

evitar agrotóxicos; 5 ou 10,4% afirmaram utilizar sistema orgânico; e apenas 1 ou 2,1% afirmou

utilizar sistema agroecológico. Nenhum afirmou utilizar um sistema misto de produção; e 4 ou

8,3% Não souberam responder.

Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem

conhecimento sobre seu sistema produtivo, nem sobre técnicas de produção orgânicas e

agroecológica. Foi considerada para a análise das questões referentes ao sistema de

produção, a imprecisão das respostas dos agricultores, que não tem acesso a

acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento não seja voltado para práticas

agrícolas sustentáveis. Tomamos como base de orientação o cruzamento das respostas e

levantamento dos agricultores que adotam um sistema produtivo baseado em práticas

sustentáveis. Eliminando assim questões contraditórias para visualizar os sistemas e práticas

produtivas utilizados pelos entrevistados.

Quanto às praticas de manejo da terra utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 43

que responderam, 29, ou 67,4% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após

aparecem os defensivos naturais, com 9 ou 20,9%, e o sistema agroflorestal, com 5 ou 11,6%.

Também foram citados a capina seletiva, compostagem, adubação verde, cobertura na horta,

e terreno arado.

Aproveitamento do Pedúnculo de Caju

No município de Marco, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros. Quando a

pergunta faz referência à própria terra do agricultor(a), o número é similar: 50 entrevistados,

ou 96,2%, afirmam ter cajueiros em sua propriedade.

Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum

agricultor afirmou vender 100% ou 75% do caju in natura produzido em sua propriedade. A

maioria, 60%, ou 27 pessoas, não comercializam nada do caju produzido em suas terras, mais

uma vez demonstrando o enorme potencial e desperdício do pedúnculo no município. O caju

in natura que não é comercializado serve para consumo próprio de 15, ou 28,8% dos

entrevistados, sendo desperdiçado pelo mesmo número de pessoas: 15, ou 28,8%. Outra parte

da amostra, 9 pessoas, ou 17,3%, utiliza o caju que não é vendido para a alimentação animal.

Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 79,6%, ou 39 dos 49

entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,

etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, percebe-se um excelente potencial

60

para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em

alguma cooperativa que seja criada pela comunidade.

Organização Comunitária

O município de Marco possui um grande número de grupos e associações, para os

mais diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande

possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do

projeto CAJUS.

Quando perguntados se a sua comunidade se organizava em grupos produtivos, a

grande maioria, 75%, ou 36 pessoas, responderam afirmativamente. Foram citados grupos

produtivos de caju, mel, horta, crochê, apicultura, feijão, milho, mandioca. Também existem

grupos de teatro, religiosos e de mulheres.

Em relação à participação das entrevistadas em grupos comunitários, 39, do total de

40, afirmam participar de algum, sendo 25 ou 62,5% de grupo de mulheres, 10 ou 25,0% de

grupo das mulheres de corte e costura, 1 ou 2,5% associação de mulheres produtivas, 1 ou

2,5% grupo de apicultoras e 2 ou 5,0% grupo de beneficiamento do pedúnculo do caju. Nota-se

que apesar da forte presença de grupos produtivos, ainda há bastante espaço para o

beneficiamento do caju.

Entre os 16 entrevistados que estão na faixa etária considerada jovens, 6 deles, ou

37,5%, se consideram liderança jovem local.

Potencial para o Artesanato

O artesanato foi citado nessa pesquisa como a principal ocupação secundária dessas

comunidades, resultando em um excelente potencial de geração de emprego e renda. As artes

mais fabricadas são bonecas, bordados e crochê, tendo como principais matérias primas a

linha, tecidos e panos.

Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 61,1%, ou 22 entrevistados,

afirmou ter o mercado na própria comunidade. Outros 19,4% têm a feira da comunidade como

principal local de venda. Mesmo número de quem vende os produtos para lojas parceiras.

Afirmaram não conhecer nenhum outro espaço de comercialização, 33,3% dos entrevistados.

Potencial para o Ecoturismo Comunitário

Apesar de 67,5% da amostra, ter consciência de que o turismo traria benefícios para a

comunidade, a maioria, ou 71,4% acredita não haver nenhum potencial turístico na localidade.

Como belezas naturais, foram citadas as plantas e a roça, tendo como atrativo turístico as

festividades de Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora de Fátima. Ainda, 73% diz que a

freqüência de visitas às localidades é pouca ou nenhuma.

61

Percepção e Práticas Ambientais

Foi detectada nas comunidades do município apenas uma área de preservação

ambiental, já que o Assentamento Leite tem 20% de suas terras como reserva legal gerenciada

pelo INCRA.

Quanto à coleta de lixo, a maioria, 64,7%, ou 33 pessoas, afirmam queimar seus

resíduos, 22, ou 43,1% apenas jogam fora. A coleta pela prefeitura atinge apenas 7,8% dos

entrevistados. Entre os que usam agrotóxico, 50% afirma queimar as embalagens, 33,3%

apenas jogam fora, 16,6% enterram, e somente uma pessoa respondeu que lava e devolve.

Em relação ao manejo do esgoto, 91,5% relatam usar fossa comum, enquanto 2,1%

tem esgoto ligado ao sistema de saneamento do município. Ao responder como é o manejo do

esgoto na comunidade, 41, ou 85,4% afirmam não haver sistema de tratamento de esgoto.

Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimento, teorias e práticas de

ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas se atém a

práticas antigas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região.

5.7. MORRINHOS

Identificação

O Município de Morrinhos tem a extensão de 408,88km2 e uma população de 20.488

habitantes. Situa-se a uma distância de 191km da capital, Fortaleza, com localização de 3º 13’

46’’ de longitude, 40º 07’ 30’’ de latitude, e a 35,08m de altitude. O município tem fronteira ao

norte com Marco, ao sul com Santana do Acaraú e Amontada, a leste com Amontada e

Itarema, e a oeste com Marco e Senador Sá.

O município tem o PIB de 48,21 milhões de reais, sendo R$ 2.284 per capita, com 77%

dessa renda proveniente do setor de Serviços. O IDH do município é o 134º no ranking

estadual, com o valor de 0,608. A maior parte dos empregos formais, 91,44%, está na

administração pública, com 67,2% destes sendo ocupados por mulheres.

Formada pelos distritos de Morrinhos e Sítio Alegre. Apresenta em seu território

Caatinga Arbustiva Aberta, Floresta Caducifólia Espinhosa e Floresta Subcaducifólia Tropical

Pluvial. Pertence à Bacia Hidrográfica do Acaraú, do Coreaú e Litoral. Possui como acidentes

geográficos o Rio Acaraú, o riacho Tucunduba e Pedra Redonda.

No Município foram visitadas as comunidades de Associação Altino 1º de Janeiro, São

Luis, Caninana e Bom Jardim, avaliando-se o potencial das mesmas para as atividades do

projeto.

62

Aspectos Socioeconômicos

No município de Morrinhos foram realizados 71 questionários, sendo todos

considerados válidos pela equipe. É importante destacar que as entrevistas foram feitas

preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, público alvo do projeto, num

total de 63 mulheres, ou 88,7% da amostra.

A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 60 anos, ou aproximadamente 60%,

totalizando 41 pessoas adultas. Outros 36,2%, ou 25 entrevistados, são jovens entre 15 e 29

anos, resultando uma faixa etária média de 37 anos no total dos pesquisados.

Também em Morrinhos, podemos destacar como um fator relevante para o projeto, o

fato de que a grande maioria dos entrevistados, 52 de um total de 70 respostas, ou seja,

74,3%, afirmam morar em casa própria, o que facilitaria o recolhimento do caju, e de outras

frutas, quando houver, para o processamento. Também influenciará no alcance do projeto, o

elevado número de pessoas que moram na mesma residência, em média, 5 moradores, com

até 12 familiares em uma mesma casa, geralmente com 5 cômodos.

No aspecto relativo à comunicação, podemos destacar que, de 69 entrevistados, 61

pessoas, ou 88,4% possuem televisão em sua casa, 28, ou 40,6% possuem rádio, e 40, ou 58%

tem celular. Ainda, apenas um entrevistado afirma ter computador em casa, enquanto 15,5%

têm acesso a algum computador, e 82,9% não possuem qualquer acesso à internet. Podemos

destacar o papel do rádio e do telefone celular na comunicação local, porém percebe-se que o

trabalho dos mobilizadores será de grande importância nesse município.

Formação

A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que, 13, ou 18,3% não

possuem qualquer tipo de escolaridade; 36, ou 50% possuem o Ensino Fundamental

Incompleto; 4, ou 5,6% possuem o Ensino Fundamental Completo; 10, ou 14,1% possuem o

Ensino Médio Incompleto; 6, ou 8,5% possuem o Ensino Médio Completo; e somente um tem

ensino superior, porém incompleto. Entre as mulheres, a maioria, 48, ou 67,6% não passaram

do Ensino Fundamental.

Dessa forma, podemos afirmar que, 53 pessoas, ou 74,7% não chegaram ao Ensino

Médio. Isto indica a necessidade da adoção de metodologia simples, com linguagem direta, e

atividades mais práticas do que teóricas, para os cursos que serão ministrados pelo projeto.

Considerou-se, também, além da formação escolar, a participação em cursos como

uma formação complementar ao ensino convencional. Formações que possibilitam o melhor

desenvolvimento de atividades produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, que é

foco de análise do presente estudo.

A participação das pessoas selecionadas em tais cursos é relevante, atingindo 29

participantes, ou 40,8% do total. O curso mais freqüentado foi o de corte e costura,

alcançando 9 pessoas, ou 31% dos que fizeram essas atividades. Logo em seguida, vem o curso

63

de artesanato, com a presença de 8 entrevistados, ou 27,6%. Também houve cursos de

cooperativismo, produção do caju, e agroecologia, abrangendo, respectivamente, 20,7%,

17,2%, e 13,8%. As atividades de processamento de frutas, associativismo, e meio ambiente,

contaram, cada uma, com a participação de 3 pessoas. Um ponto a ser destacado é a ausência

de cursos de gênero, em uma amostra na qual 88,7% é feminina.

Apesar de haver uma boa participação, de uma forma geral, em cursos

complementares, ligados de alguma forma ao projeto, as atividades foram pontuais e

específicas, não abrangendo de uma forma relevante uma boa parte do grupo.

Ocupação e Renda

Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações

principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram

destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de

governo, como o Bolsa Família.

A agricultura é a principal ocupação de 31, ou 43,7% dos entrevistados, seguida de 14,

ou 19,8% de artesãs, e de 10, ou 14% de “donas de casa”. As ocupações secundárias são

citadas em 31 questionários, ou 43,7% do total. O artesanato e a agricultura se destacam nesse

quesito, somando, respectivamente, 15, ou 48,4%, e 10, ou 32,3% das outras atividades

exercidas em Morrinhos.

Como principais fontes de renda, a agricultura e o artesanato se destacam novamente.

A agricultura é principal renda de 29, ou 40,8% dos pesquisados, e o artesanato de 17, ou 24%.

O Bolsa Família, com 11, ou 15,5% das respostas, e a aposentadoria, com 8, ou 11,3%, também

têm papel importante na receita dessas famílias. Deve-se notar que nem o pedúnculo do caju,

nem a castanha, foram citados como principais fontes de renda.

As principais ocupações das mulheres da amostra são a agricultura, 41,3%, e o

artesanato, com 23,8%. Quanto à ocupação secundária feminina, 28, ou 44,4% delas têm

outras atividades. Dessas, 53,6% têm o artesanato como atividade complementar.

Sobre a renda dos entrevistados, 47, ou 66,2% ganham menos de um salário mínimo, e

21, ou 29,6%, ganham, no máximo 2 salários mínimos. Projetos de geração de renda como o

CAJUS, se mostram imprescindíveis para a melhoria da qualidade de vida da população local.

Agricultura Familiar

Pode-se afirmar que a maioria, ou 85,5% dos agricultores e agricultoras que

responderam esse quesito, ou seja, 53, dos 62, são donos, ou parentes dos donos da

propriedade onde moram.

Sobre a produção familiar, dos 49 entrevistados que responderam se tem

acompanhamento da produção em sua propriedade, 11, ou 22,5% são assistidos por

64

programas governamentais, e 2 são assistidos pela EMATERCE. Não recebem qualquer tipo de

assistência técnica à sua produção, 36, ou 73,5% dos agricultores.

Quanto à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 297,32. O maior

consumo é de arroz, para 24% dos entrevistados; e de carne, leite e feijão, para 19,7%.

Afirmam comprar 100% dos seus alimentos, 29 das 62 pessoas que responderam esse quesito,

ou seja, 46,8%. Compram 75% dos alimentos, 30, ou 48,4%. Somente 3 pessoas, ou 5%, têm

uma produção que atenda mais da pelo menos metade de sua necessidade alimentícia.

Produtos da Agricultura Familiar

Apesar de não satisfazer suas necessidades diárias, a produção da agricultura familiar

é bastante diversificada, sendo utilizada para o consumo próprio e para a comercialização do

excedente, apesar deste não ser de grande relevância.

As culturas mais produzidas pelos 53 agricultores que responderam esse quesito são

feijão, por 45 ou 84,9%; milho por 42 ou 79,2%; mandioca por 38 ou 71,7%; macaxeira por 13

ou 24,5%; e hortaliças por 4 ou 7,5%. Há agricultores que plantam dois ou mais tipos de

alimentos.

Números semelhantes aparecem em relação aos alimentos produzidos na propriedade

e consumidos pelos entrevistados, com o feijão em primeiro lugar, citado por 37 pessoas, ou

78,7% das respostas válidas. Logo em seguida aparece o milho, citado por 27, ou 57,4%; a

farinha, com 24, ou 51,1% e da mandioca, com 10, ou 21,3%. O caju só é mencionado por 4

pessoas, ou 8,5%, e apenas uma pessoa diz consumir os derivados do caju.

Quanto à comercialização da produção, somente 15 entrevistados afirmaram vender

seu excedente, ou seja, 28,3% do total de 53 produtores. Destes, 6, ou 40%, comercializa a

farinha de mandioca. A castanha de caju é vendida por 26,8%, mesma porcentagem das

pessoas que vendem o milho. Também há venda de mandioca, feijão, ovos, coco, doce, goma,

galinha, e ovos, porém, por apenas uma pessoa.

É importante notar que o caju não foi citado como uma das culturas mais produzidas,

que apenas quatro pessoas disseram ser uma das mais consumidas, e, como produto

comercializado, foi mencionada apenas a castanha do caju. Porém, é possível que haja uma

aparente distorção nos números no quesito APROVEITAMENTO DO PEDÚNCULO DE CAJU.

Talvez pela facilidade e grande quantidade de cajueiros existentes, os entrevistados não os

consideram como cultura mais plantada ou consumida, ou mesmo como excedente de

produção de venda, apesar de provavelmente comercializarem o caju e seus derivados. As

pessoas da comunidade, de certa forma, parecem considerar o caju como “uma coisa à parte”.

Sistemas de Produção

65

Foi considerada para a análise das questões referentes ao sistema de produção, a

imprecisão das respostas dos agricultores, que não tem acesso a acompanhamento técnico, ou

que este acompanhamento não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis.

Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 57 entrevistados que

responderam, 41, ou 72% afirmaram utilizar o sistema convencional; 11 ou 19,3% afirmaram

evitar agrotóxicos; 3 ou 5,2% afirmaram utilizar sistema misto. Apenas uma pessoa disse

utilizar o sistema orgânico, e nenhum utiliza o agroecológico.

Quanto às práticas de manejo adotadas pelos agricultores e familiares, dos 55 que

responderam, 33, ou 60% apontaram como sendo a capina seletiva a mais utilizada. Logo após

aparece a queimada, com 40% das respostas. Outras práticas, como o quintal produtivo,

arado, e compostagem não foram citadas.

Pode-se notar que a grande maioria dos agricultores e agricultoras não tem

conhecimento ou não se atém à práticas ecológicas e sustentáveis, utilizando técnicas como as

queimadas, que são agressivas ao meio ambiente.

Aproveitamento do Pedúnculo de Caju

No município de Morrinhos, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros.

Quanto à presença de cajueiros na própria terra do agricultor(a), 48, ou 67,6% afirmam possuir

essas árvores.

Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum

agricultor afirmou vender 100% do caju in natura produzido em sua propriedade. Apenas 9, ou

18,7%, comercializa 5% do caju produzido em suas terras, e 3, ou 6,3% vendem 25%. A grande

maioria, ou seja, 36, ou 75%, não vende nada do pedúnculo produzido na propriedade, o que

aponta para um desperdício, ou uma subutilização do caju, e conseqüentemente, para o

grande potencial do projeto CAJUS no município.

Apesar de haver muito caju desperdiçado, já que 19 pessoas, ou 39,6% disseram

desperdiçar uma parte da produção que não é vendida, praticamente todos que possuem

cajueiros, fazem o processamento do pedúnculo: exatamente 46, ou 95,8% dos entrevistados.

Além disso, 11, ou 23% deles, dizem usar o caju como ração animal.

Desse caju processado, a maioria se destina à fabricação do doce de caju em calda, já

que ele é feito por 35, ou 76%, dos entrevistados. O suco de caju é o segundo produto mais

consumido, sendo produzido por 30 pessoas, ou 65,2% do total. Em seguida vem a cajuína,

com 15, ou 32,6%, e o doce de caju em massa. Poucos responderam qual seria o produto de

maior viabilidade. Para 18, ou 37,5% seria o doce de caju em calda, e para 6, ou 12,5% a

cajuína.

Outro fator importante para o projeto é que cerca de 70% dos entrevistados

conhecem alguma propriedade, em sua região, onde exista desperdício de caju. Portanto, há

66

potencial para a captação e uso do pedúnculo nas atividades propostas pelo CAJUS, e na

produção de alguma associação ou cooperativa a ser criada.

Organização Comunitária

As localidades visitadas no município de Morrinhos não possuem uma grande

variedade de grupos produtivos. Somente 3 pessoas afirmaram que existe algum em sua

região, não sendo citado nenhuma cooperativa ou afim que lidem com o caju. Porém, segundo

35 entrevistados, existe a prática do comércio coletivo em sua comunidade.

Quanto à situação de associações e grupos, a realidade é outra, já que 48, ou 67,7%

dos entrevistados participam de algum. A participação das mulheres em grupos

exclusivamente femininos é muito pouca, pois somente 3 dizem participar de algum.

Sobre organização jovem, 10 entrevistados, ou 14% fazem parte, tem filhos, ou

conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento específico. Apesar disso, 14

entrevistados se consideram liderança jovem local.

Dessa forma, mais do que a possibilidade de atingir as metas do projeto CAJUS, há a

necessidade de organização para essas comunidades, com bastante espaço para que se forme

um grupo produtivo de processamento de caju. A questão do gênero precisa ser reforçada, já

que a participação feminina em grupos exclusivos é muito pouca, e a formação de jovens

lideranças possui grande potencial.

Potencial para o Artesanato

O artesanato é a ocupação principal de cerca de 20% dos pesquisados, e a ocupação

secundária de aproximadamente 50%. Além disso, 47, ou 66,2% dos entrevistados fazem

artesanato ou conhecem alguém em sua comunidade que faz. O potencial para a formação de

novas artesãs, e conseqüentemente para a geração de emprego e renda, é significativo.

Os produtos fabricados são bem diversificados, como bolsas de palha, esculturas,

imagens de gesso, bordado, crochê, filtros de coco, cofres de barro, entre outros. Os materiais

usados são pano, madeira, linha, palha de carnaúba, argila, fio, barro, gesso, arame, etc.

Para a maioria, ou seja, 60%, ou 27 dos 45 entrevistados que fazem artesanato, não

existe um local certo para a venda dos produtos. Outros 10, ou 22,2%, disseram repassar a

atravessadores, e 9, ou 20% vendem na própria comunidade. Somente 3 afirmaram

comercializar seus produtos em feiras. Note-se que uma mesma pessoa poderia dar duas

respostas, já que pode, por exemplo, vender na feira e também na própria comunidade.

Potencial para o Ecoturismo Comunitário

67

O potencial turístico das comunidades visitadas é pouco ou nenhum para 83% dos

entrevistados, e somente duas pessoas souberam apontar os atrativos turísticos locais, sendo

o “parque de vaquejada” e o açude. Ainda, somente 10 disseram saber ou ter alguma idéia do

que seria turismo ou ecoturismo. Das 47 respostas válidas em relação às visitas na

comunidade, 45, ou 95,7% se colocam entre muito pouca e nenhuma, de tal maneira que,

segundo os próprios pesquisados, não há viabilidade para o ecoturismo no município.

Percepção e Práticas Ambientais

Segundo os entrevistados, não existem áreas de preservação permanente ou APAs em

suas comunidades.

Quanto à destinação dos resíduos sólidos, 36 pessoas, ou 50,7% da amostra, afirmam

queimar o lixo, e 30, ou 42,2% recebem a coleta da prefeitura. Jogam fora 6, ou 8,5%, e 5,ou

7% enterram seu lixo. Note-se que neste item poderiam ser dadas mais de uma resposta.

Apenas 9 agricultores afirmaram usar agrotóxico, e, destes, 4 afirmam jogar as

embalagens fora, 2 as queimam, e 1 enterra. Outros dois não responderam à questão.

Em relação ao manejo do esgoto, 94,3% usam fossa comum, e 3 possuem esgoto a céu

aberto. Ninguém relatou ter seu esgoto ligado ao sistema de saneamento do município. Ao

responder como é o manejo do esgoto na comunidade, 53, ou 75% afirmam não haver sistema

de tratamento de esgoto, e 18 não souberam responder.

As atividades e cursos do projeto CAJUS terão grande relevância no repasse de

conhecimento, teorias e práticas de ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, já

que a maioria das pessoas ainda utiliza práticas antigas e perigosas às pessoas e ao meio

ambiente da região, como a queima do lixo e o descuido e despreparo com embalagens

tóxicas.

5.8. SANTANA DO ACARAÚ

Identificação

O Município de Santana do Acaraú tem a extensão de 969,32km2 e uma população de

28.944 habitantes. Situa-se a uma distância de 196km da capital, Fortaleza, com localização de

3º 27’ 38’’ de longitude, 40º 12’ 44’’ de latitude, e a 30m de altitude. O município faz fronteira

ao norte com Morrinhos e Senador Sá, ao sul com Sobral, a leste com Sobral e Miraíma, e a

oeste com Senador Sá, Massapé, e Sobral.

Santana do Acaraú tem o PIB de 88,12 milhões de reais, sendo R$ 3.254 per capita,

com 63,7% dessa renda proveniente do setor de Serviços. O IDH do município é o 115º no

ranking estadual, com o valor de 0,619. A maior parte dos empregos formais, 92,25%, está na

administração pública, com 65% destes sendo ocupados por mulheres.

68

É formada pelos distritos de Santana do Acaraú, Baía, Baixia Fria, Barro Preto, João

Cordeiro, Mutambeiras, Parapui, e Sapó. Apresenta em seu território Caatinga Arbustiva

Aberta, Caatinga Arbustiva Densa e Floresta Mista Dicótilo-Palmácea. Pertence à Bacia

Hidrográfica do Acaraú, do Coreaú, e Litoral. Possui como acidentes geográficos o Rio Acaraú,

e a Serra do Mucuripe.

No Município foram visitadas as comunidades de Camará, Mutambeiras, Águas Belas,

Bulandeira, Floresta e Chora, avaliando-se o potencial das mesmas para as atividades do

projeto.

Aspectos Socioeconômicos

Em Santana do Acaraú foram realizadas 87 entrevistas, sendo todas consideradas

válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram feitos

preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, o principal público alvo do

projeto, num total de 77 mulheres, ou 88,5% da amostra.

A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 60 anos, ou aproximadamente

62,1%, totalizando 54 pessoas adultas. Outros 26,4%, ou 23 entrevistados, são jovens entre 15

e 29 anos, resultando uma faixa etária média de 40,9 anos no total dos pesquisados.

Um fator importante a ser destacado, com influência positiva para o projeto, é que a

grande maioria dos entrevistados, 79, ou 91,9% moram em casa própria, facilitando o

recolhimento do caju, e de outras frutas, para o processamento nas residências. Outro

destaque, que também influenciará o número de pessoas atingidas e beneficiadas pelo

projeto, é a ocorrência, também em Santana do Acaraú, do elevado número de pessoas por

residência, resultando numa média de 4,5 moradores, com até 8 pessoas em uma mesma casa,

que tem em média 6,3 cômodos.

Quanto ao acesso à informação e aos meios de comunicação dos entrevistados,

podemos destacar que 80 pessoas, ou 93% possuem televisão em sua casa, 61, ou 71%

possuem rádio, e 62, ou 72,1% tem celular. Ainda, apenas 7, ou 8,1%, tem computador, e 84,

ou 96,6% afirmam não possuir qualquer acesso à internet. Assim, percebe-se a impossibilidade

de se trabalhar esse meio no município, enquanto existe uma grande facilidade da

comunicação por telefone móvel.

Formação

Sobre a qualidade de formação das pessoas selecionadas em Santana do Acaraú,

podemos afirmar que, a maior parte, ou seja, 47, ou 54%, têm o ensino fundamental

incompleto. Outros 7, ou 8% não possuem qualquer tipo de escolaridade, e 8, ou 9,2%

possuem o ensino fundamental completo. Terminaram o ensino médio 18,4%, e 5, ou 5,8%

não chegaram ao seu fim. Apenas 4 pessoas atingiram o ensino superior, porém nenhuma

delas se graduou. A maioria das mulheres, 70,1% não chegaram ao Ensino Médio.

69

Uma metodologia simples e dinâmica, que possa demonstrar, na prática, suas teorias,

se mostra imprescindível em um grupo aonde 71,2% das pessoas não chegaram a cursar o

ensino médio.

Além da formação tradicional escolar, foi considerada no estudo, a participação em

cursos diversos, ofertados por ONGs, projetos sociais, projetos governamentais, entre outros,

já que estes podem ter possibilitado o desenvolvimento de atividades englobadas pelo CAJUS,

modificando, ou mesmo facilitando, a abordagem prevista em suas atividades.

Dessa forma, percebe-se um razoável número de pessoas que participaram de tais

formações. No total, 57, ou 65,5% dos entrevistados estiveram envolvidos em algum curso ou

atividade de interesse do projeto. Cursos como o de artesanato e produção de caju foram os

mais procurados, com a participação de 63,2%, e 58% dos entrevistados, respectivamente.

Agroecologia, processamento de frutas, associativismo, e cooperativismo também contaram

com boa presença: cerca de 20% cada. Aparecem com menor participação, atividades de

gênero, juventude, e meio ambiente, atingindo aproximadamente 10% dos que fizeram algum

curso.

O projeto CAJUS deve aproveitar o conhecimento já adquirido para aprofundar o

conhecimento de cursos com grande participação, enquanto reforça noções importantes,

como a de meio ambiente, que foram preteridas pela maioria.

Ocupação e Renda

Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações

principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram

destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de

governo, como o Bolsa Família. Outro fato importante é que foi considerada apenas uma

ocupação como principal, enquanto para as secundárias pôde-se dar mais de uma resposta.

A agricultura se destaca, como principal atividade de 56, ou 64,4% da amostra, seguida

do artesanato, com 11, ou 12,6%. A terceira ocupação mais citada foi a de auxiliar de serviço,

por 5 pessoas, ou 5,7% do total.

As ocupações secundárias são citadas em 49 respostas, ou seja, 56,3% da amostra. O

artesanato, a apicultura, e a agricultura foram os mais citados pelos que tem uma segunda

atividade, com 49%, 20,4%, e 8,2%, respectivamente. A cajucultura também é a segunda

ocupação de 8,2% dos entrevistados.

Como principais fontes de renda, a agricultura tem, conseqüentemente, grande

destaque, sendo citada por 70 pessoas, ou 80,5% das respostas. O Bolsa Família, o artesanato,

e a aposentadoria surgem como principal receita de 42,5%, 36,8%, e 24,1%, respectivamente.

A castanha de caju e os produtos do caju aparecem, cada um, na renda de 10 entrevistados,

em um total de 23%.

70

As mulheres da amostra têm como principal ocupação a agricultura, somando 61%, e o

artesanato, com 14,3%. Entre os entrevistados que afirmaram ter ocupação secundária,

aproximadamente 60% são mulheres, dentre as quais, 31,2% trabalham com artesanato, e

13% com apicultura.

Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, aproximadamente 60%

ganha menos de um salário mínimo, e cerca de 40% ganham até dois salários. Ou seja,

podemos ressaltar a importância do projeto CAJUS, na geração de renda e melhoria de

qualidade de vida dessa população.

Agricultura Familiar

A maioria dos entrevistados, 56, ou 64,4%, afirmam ser donos ou familiares dos donos

das propriedades onde moram, o que facilitaria bastante a coleta de caju e outras frutas para

as atividades do projeto. Outras 12 pessoas, ou 13,8% vivem em áreas de assentamento.

Sobre a produção familiar, dos 79 agricultores entrevistados, 20, ou 25,4% não tem

acompanhamento algum da produção em sua propriedade. O restante é acompanhado por

ONGs, 31,6%, programas governamentais, 24%, e associações, 19%. Assim, a grande maioria

dos agricultores pesquisados, ou seja, 74,6% recebem assistência técnica à sua produção.

Os entrevistados têm um gasto mensal médio de R$ 289,48 com alimentação. Os itens

mais citados foram arroz, 62%, açúcar, 39%, macarrão, 35,6%, carne, 28,7%, e café, com

27,6%. A maioria dos entrevistados, 57, ou 75% afirmam comprar 75% da alimentação.

Compram todos os alimentos consumidos pela família, 9 pessoas, e outros 12 compram cerca

de 50%. Algumas pessoas não responderam esse quesito, porém, podemos afirmar, que 78

entrevistados, ou, aproximadamente, 90%, compram, pelo menos, metade da alimentação

que consomem.

Produtos da Agricultura Familiar

Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, como ficou

demonstrado no item anterior, a produção da agricultura familiar é diversificada e abrangente,

com produção para a comercialização e para o consumo familiar.

As culturas mais produzidas pelos 83 agricultores que responderam esse quesito são

feijão, por 76, ou 91,6%; milho por 74, ou 89,1%; mandioca por 68, ou 82%; macaxeira por 54,

ou 65%; e hortaliças, por 30, ou 36,1%. Note-se que há agricultores que plantam dois ou mais

tipos de alimentos.

Números similares aparecem em relação aos alimentos produzidos na propriedade e

mais consumidos pelos entrevistados, com o feijão em primeiro lugar, citado por 76 pessoas,

ou 91,6% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 58 citações, ou 70%;

seguido da farinha, com 52, ou 62,7% e da mandioca, com 35 ou 42,2%. É importante destacar

que o caju é citado por apenas 5 pessoas, e os derivados do caju por uma.

71

Somente 33 entrevistados comercializam alguma coisa do que produzem, ou seja,

cerca de 40% dos que produzem. Os itens mais vendidos são a farinha, por 12 pessoas, o

milho, por 7, a castanha de caju, por 6, e ovos de galinha, por 6 entrevistados. Três pessoas

afirmam vender produtos feitos a partir do caju.

Vale salientar que o caju e seus produtos processados não têm grande relevância

nesse item. Porém, quando são questionados diretamente sobre o pedúnculo e seus

derivados, os números crescem de maneira abrupta. É possível notar no item

APROVEITAMENTO DO PEDÚNCULO DO CAJU, que 50 pessoas transformam o caju em algum

outro produto. Possivelmente, frente ao feijão e o milho, o caju seja preterido, e levemente

“esquecido”, mas um estudo mais profundo clarifica a importância dessa fruta na região.

Sistemas de Produção

Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 79 entrevistados que

responderam, 46, ou 58,2% afirmaram empregar o sistema convencional, e 31 ou 39,2%

afirmaram evitar agrotóxicos. Apenas 6 afirmaram utilizar sistema agroecológico, e somente 4

utilizam o sistema orgânico. Outros 4 não souberam responder.

Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem

conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e agroecológica. Foi considerada para a

análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos

agricultores, que não tem acesso a acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento

não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis. É necessário frisar que, tanto na questão

acima, como na subseqüente, houve respostas duplicadas.

Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, 48, ou 60,8%

apontaram como sendo a queimada a mais usual. A capina seletiva aparece logo em seguida,

citada por 34 agricultores, ou 30,4% do total. Quatro entrevistados afirmam usar a capina

seletiva, mesmo número dos que empregam o quintal produtivo. Foram mencionados ainda o

uso de sistema agroflorestal, adubação verde, defensivos naturais e biofertilizantes.

Aproveitamento do Pedúnculo de Caju

No município de Itarema, somente as pessoas da comunidade de Mutambeiras não

disseram haver cajueiros em sua comunidade. Quanto a presença de cajueiro em sua

propriedade, 65, ou 74,7% dos entrevistados disseram possuir essas árvores.

Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, a grande

maioria não comercializa nada do caju produzido em suas terras: aproximadamente 94%. A

maior parte do caju in natura que não é comercializado acaba sendo processada em outros

produtos, já que 50 pessoas, ou 77% dos donos de cajueiros transformam o pedúnculo. Outros

25, ou 38,5%, dizem alimentar os animais, e apenas 8, ou 12,3% desperdiçam algum caju.

72

A porcentagem do pedúnculo que é processada se destina, em sua maioria, para a

fabricação de suco de caju, por 76%, dos entrevistados. Seguida pela fabricação de cajuína, por

34 ou 68%; doce em massa, por 32, ou 64%; e doce em calda, por 20, ou 40%. Das 44 respostas

sobre os produtos que geram maior resultado, 24, ou 57,1% apontam o doce de caju, e 18, ou

42,9% indicam a cajuína.

Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 57, ou 65,5%, dos

entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,

etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. O potencial para o aproveitamento do caju,

que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em alguma cooperativa que seja criada

pela comunidade é promissor.

Organização Comunitária

O município de Santana do Acaraú possui um grande número de grupos e associações,

para os mais diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande

possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do

projeto CAJUS.

Quando perguntados se participavam de alguma organização comunitária, 90%, ou

seja, 78 pessoas, responderam afirmativamente. Em relação a grupos produtivos, 66, ou 76%

disseram existir algum em sua comunidade. Foram citados grupos produtivos de apicultores,

farinhada, artesãos de palha de Mutambeiras, mulheres do caju (Floresta), Castacaju e

Polpacaju (Chora), grupo de agricultores, entre outros. Desponta a forte presença de grupos

produtivos do caju e da castanha, sendo necessário um diálogo entre as metas do projeto

CAJUS, e as conquistas já realizadas por esses grupos.

Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos,

66%, ou 51, afirmam participar de algum, como o Grupo de Bordados das Irmãs do Patronato

de Santana, grupos de mulheres apicultoras, grupo de mulheres artesãs de Bulanderia, grupo

de mulheres do caju, etc. Quanto à organização jovem, 35 entrevistados fazem parte, tem

filhos, ou conhecem alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, entre

pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc. Ainda, 12 entrevistados se

consideram liderança jovem local.

Potencial para o Artesanato

O artesanato foi citado nessa pesquisa por 12,6% dos entrevistados como a principal

ocupação, e por 49% como ocupação secundária, resultando em um excelente potencial de

geração de emprego e renda. Além disso, quando são questionados se tem conhecimento de

artesanato feito pela família ou comunidade, 69, ou 79,3% responderam afirmativamente. As

artes fabricadas são variadas, como crochê, artesanato com E.V.A (etil vinil acetado – um tipo

de borracha), bijuterias, ímã de geladeira, cestas, bolsas, chapéus, jogo americano, entre

73

outros, utilizando lã, EVA, palha de carnaúba, linha, agulha, tinta, verniz, tecido, como matéria

prima.

Quanto ao local de venda dos produtos, dos 68 que responderam, 34, ou 50%,

disseram fazer comércio na própria comunidade. Outros 25, ou 36,7% vendem seus produtos à

atravessadores, e 21, ou 31% vendem o artesanato em feiras. Dez pessoas não têm lugar certo

para a venda. Apesar do grande potencial do artesanato para essas comunidades, existe a

necessidade de organizar as vendas e encontrar novos mercados para o escoamento dos

produtos.

Potencial para o Ecoturismo Comunitário

Em Santana do Acaraú, 38 pessoas, ou seja, 56,3% do total, não sabem ou nunca

ouviram falar de ecoturismo comunitário. Mesmo que a grande maioria dos entrevistados, 76,

ou 87,4%, considerem que sua comunidade possui pouco, ou nenhum potencial turístico, 26,

ou 30% souberam apontar algum atrativo natural em sua vizinhança. O Açude de Mucambo, o

rio Acaraú, a Gruta de nossa Senhora de Lourdes, o Olho D’água de Goiabeiras, e o Serrote de

Jacurutu foram os mais lembrados.

Há uma divisão entre as respostas sobre a quantidade de visitas à comunidade: 38, ou

43,7% responderam “o tempo todo” ou “muitas”, enquanto 39, ou 44,8%, responderam

“poucas” ou “nenhuma”. Ainda, para 43,7% os visitantes se hospedam nas sedes das

associações, e para 34, ou 39%, as visitas se hospedam na casa de alguém. Ninguém afirmou

que os visitantes se hospedam em hotéis ou pousadas, e 15 pessoas, ou 17,3% não souberam

responder.

Percepção e Práticas Ambientais

Apenas 22 entrevistados, ou 25,3% do total, afirmaram existir área de preservação em

sua comunidade, citando o Serrote do Jacurutú, e reserva ambiental de assentamentos.

Quanto à coleta de lixo, a maioria, 57,5%, ou 50 pessoas, afirmam queimar seus

resíduos, enquanto 25, ou 28,7% enterram e 20, ou 23%, jogam fora. A coleta pela prefeitura

atinge apenas 15% dos entrevistados. É importante salientar que neste item poderiam ser

dadas mais de uma resposta.

Somente 12 agricultores dizem usar agrotóxicos. Nenhum deles diz lavar e devolver as

embalagens. Três as queimam, três enterram, três jogam fora, e três não responderam o que

fazem com as embalagens.

Em relação ao manejo do esgoto, 92% relatam usar fossa comum. Só duas pessoas têm

esgoto ligado ao sistema de saneamento do município, e 4 tem “esgoto a céu aberto”. Ao

responder como é o manejo do esgoto na comunidade, 74 entrevistados, ou 85% afirmam não

haver sistema de tratamento de esgoto, e 6 não souberam responder.

74

Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimento, teorias e práticas de

ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas se atém a

práticas obsoletas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do

lixo e o descuido e despreparo com embalagens tóxicas.