15
ESTUDO DO PROCESSO DE RECICLAGEM E DA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DE MONTES CLAROS-MG Ramon Alves de Oliveira (FIP-Moc) [email protected] JOAB SYMON COSTA SANTOS (FIP-Moc) [email protected] A aceleração do processo de urbanização e a estabilização da economia, nos últimos anos, colocaram em evidência o enorme volume de resíduos de construção e demolição que vem sendo gerado nas cidades brasileiras. O estudo dos métodos de gesttão e eventuais propostas de melhorias no processo de gerenciamento dos resíduos sólidos da construção civil da cidade são de fundamental importância para a preservação dos recursos naturais, melhor qualificação das empresas de construção civil e otimização da qualidade de vida dos cidadãos. Neste artigo estudar-se-á, através de um levantamento da realidade atual, a gestão de resíduos sólidos gerados pela construção civil, com a finalidade de apresentar um quadro geral da gestão destes resíduos no município de Montes Claros-MG, com enfoque no processo de tratamento dos resíduos sólidos da construção civil. A metodologia utilizada foi o estudo descritivo exploratório, constituindo-se de coleta, mensuração e análise de dados. Os resultados mostraram que pode-se utilizar da padronização dos processos construtivos, treinamento continuado da mão de obra, exploração racional da matéria-prima e de um sistema de gestão integrada como soluções para o desperdício de material nas obras. Sendo assim, chegou-se a conclusão de que a situação do entulho ainda é um desafio a ser vencido pela administração municipal, pelas empresas do setor da construção civil e pela sociedade como um todo, sendo sua solução a implantação de projetos bem definidos na gestão dos resíduos. Palavras-chaves: Resíduos de construção; Gerenciamento dos resíduos; Processo de tratamento. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

ESTUDO DO PROCESSO DE RECICLAGEM E DA GESTÃO DOS RESÍDUOS ... · 2.3 A Reciclagem de resíduos sólidos na construção civil A reciclagem contribui para a melhoria da saúde publica

  • Upload
    vodien

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

ESTUDO DO PROCESSO DE

RECICLAGEM E DA GESTÃO DOS

RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO

CIVIL NA CIDADE DE MONTES

CLAROS-MG

Ramon Alves de Oliveira (FIP-Moc)

[email protected]

JOAB SYMON COSTA SANTOS (FIP-Moc)

[email protected]

A aceleração do processo de urbanização e a estabilização da

economia, nos últimos anos, colocaram em evidência o enorme volume

de resíduos de construção e demolição que vem sendo gerado nas

cidades brasileiras. O estudo dos métodos de gesttão e eventuais

propostas de melhorias no processo de gerenciamento dos resíduos

sólidos da construção civil da cidade são de fundamental importância

para a preservação dos recursos naturais, melhor qualificação das

empresas de construção civil e otimização da qualidade de vida dos

cidadãos. Neste artigo estudar-se-á, através de um levantamento da

realidade atual, a gestão de resíduos sólidos gerados pela construção

civil, com a finalidade de apresentar um quadro geral da gestão destes

resíduos no município de Montes Claros-MG, com enfoque no processo

de tratamento dos resíduos sólidos da construção civil. A metodologia

utilizada foi o estudo descritivo exploratório, constituindo-se de coleta,

mensuração e análise de dados. Os resultados mostraram que pode-se

utilizar da padronização dos processos construtivos, treinamento

continuado da mão de obra, exploração racional da matéria-prima e

de um sistema de gestão integrada como soluções para o desperdício

de material nas obras. Sendo assim, chegou-se a conclusão de que a

situação do entulho ainda é um desafio a ser vencido pela

administração municipal, pelas empresas do setor da construção civil e

pela sociedade como um todo, sendo sua solução a implantação de

projetos bem definidos na gestão dos resíduos.

Palavras-chaves: Resíduos de construção; Gerenciamento dos

resíduos; Processo de tratamento.

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

2

1. Introdução

A aceleração do processo de urbanização e a estabilização da economia, nos últimos anos,

colocaram em evidência o enorme volume de resíduos de construção e demolição que vem

sendo gerado nas cidades brasileiras, sobretudo, em Montes Claros-MG, que carece de

gerenciamento do grande volume de resíduos, e também dos inúmeros problemas por eles

criados.

A partir disso, surge a indagação de como avaliar a gestão de resíduos sólidos de um

município em constante expansão, que é o caso do município de Montes Claros-MG.

Para Jacobi (2006, p. 11): “A implementação de programas de coleta seletiva é fundamental

para o equacionamento dos impactos que os resíduos sólidos provocam no ambiente e na

saúde dos cidadãos.” Com isso, o estudo dos métodos de gestão e eventuais propostas de

melhorias no processo de gerenciamento dos resíduos sólidos da construção civil da cidade

são de fundamental importância para a preservação dos recursos naturais, melhor qualificação

das empresas de construção civil e otimização da qualidade de vida dos cidadãos.

Neste artigo estudar-se-á através de um levantamento da realidade atual a gestão de resíduos

sólidos gerados pela construção civil, com a finalidade de apresentar um quadro geral da

gestão destes resíduos no município de Montes Claros - MG, com enfoque no processo de

geração até o reaproveitamento dos resíduos sólidos da construção civil.

Como objetivos específicos, verificam-se: Analisar o processo de gestão de resíduos sólidos

gerados pela construção civil no município e suas destinações; Avaliar informações no âmbito

da gestão dos resíduos sólidos, gerados pelas construtoras do setor da construção civil de

Montes Claros - MG; Verificar o grau de envolvimento com a gestão sócio-ambiental na

cidade.

2. Fundamentação teórica

2.1 A Cidade de Montes Claros - MG e a Questão Ambiental.

A cidade de Montes Claros - MG teve um crescimento que determinou a reestruturação do

uso do solo: as residências que se situavam no centro foram sendo deslocadas para bairros

adjacentes, concomitantemente, centros secundários de serviços foram surgindo,

acompanhando a expansão da cidade em várias direções.

A produção mensal de resíduos na cidade de Montes Claros - MG, é de aproximadamente

106.872,99 toneladas (Montes Claros, 2009) que mostra uma grande quantidade de resíduos

produzida anualmente.

De acordo com IBGE 2010, existem 384.762 habitantes, e sua população apresenta uma taxa

de crescimento anual de 2,50%, e 99,95% do seu contingente populacional localiza-se em

área estritamente urbana.

Dentre os diversos tipos de resíduos gerados no ambiente urbano, destaca-se o entulho,

resíduo das atividades de construção e demolição. A quantidade expressiva desse resíduo e o

seu descarte inadequado causam graves impactos sócio-ambientais, impondo a busca de

soluções rápidas e eficazes para sua gestão adequada, através da elaboração de programas

específicos, que visem à minimização desses impactos.

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

3

O entulho tem uma grande vantagem, apresenta elevado potencial de reciclagem, podendo ser

utilizado como matéria prima para produção de materiais de construção.

2.2 Política Nacional do Meio Ambiente e a Construção Civil

Em meados da década de 70 do século passado, o estado de São Paulo foi o pioneiro na

questão da regulamentação legal no que se refere à poluição do meio ambiente, e nesta época

passou a vigorar a Lei n. 997, de 31.5.1976. Portanto, é preciso frisar, que não foi do Governo

Federal a iniciativa em relação à regulamentação legal no que se refere ao direito ambiental

no país, e sim estados como São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, após as iniciativas estaduais,

o governo federal tomou uma atitude e no ano de 1975 com o Presidente Ernesto Geisel foi

criado o Decreto-Lei n. 1.413/75, que tratou da questão da poluição do meio ambiente

provocada pelas indústrias, sendo alterado, pela Lei n. 6.938/81. (SOARES JÚNIOR;

GALVÃO, 2003).

Diante da necessidade de fundamentação constitucional que desse uma visão globalizada da

proteção ambiental, surgiu a Lei n. 6.938/81, fundamentando-se no artigo, inciso XVII,

alíneas “c”, “h”, e “i” que conferiram à União a competência para legislar sobre defesa da

saúde, florestas e águas. A esta lei aliou-se a Lei n. 6.902/81, que dispunha sobre estações

ecológicas e áreas de proteção ambiental, formando um plexo inicial de legislação global

sobre a tutela ambiental: A Política Nacional do Meio Ambiente. (FIORILLO; RODRIGUES,

1999, p. 157)

Para os autores Soares Júnior e Galvão (2003), a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente

(Lei n. 6.938/81), a vigorar, foi reconhecida pela sua amplitude em relação as já existentes,

gerando por sua vez uma modernização do direito ambiental no que se refere às questões

relativas ao homem e a natureza.

No tocante a causalidade o poluidor pode ser considerado aquele que diretamente provoque

ou possa provocar ato infracional ao meio ambiente, podendo também se enquadrar no

conceito de poluidor aquele que indiretamente participe de ato infracional ao meio ambiente,

seja por ação ou omissão. (SOARES JÚNIOR; GALVÃO, 2003).

Depois que o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), publicou a Resolução Nº

307, de 5 de julho de 2002, dispondo sobre a gestão dos resíduos da construção civil, passou a

haver uma maior preocupação, pelas partes interessadas (consumidores, sociedade,

investidores e órgãos de fiscalização) que tende a aumentar gradativamente devido as

perspectivas de uma crise ambiental acentuada nos próximos anos, pela dinâmica do mercado

e pela pressão mercadológica.

2.3 A Reciclagem de resíduos sólidos na construção civil

A reciclagem contribui para a melhoria da saúde publica por reciclar materiais que, poderiam

propiciar a proliferação de vetores ligados à transmissão de doenças e outros que

indiretamente afetam a saúde pública por contaminar os rios, o ar e o solo. Além disto, evita a

poluição do meio ambiente, provocada pelos resíduos, também aumenta a vida útil dos aterros

sanitários, pois diminui a quantidade de resíduos a serem dispostos; diminui a exploração de

recursos naturais, muitos não renováveis como o petróleo; reduz o consumo de energia; é um

grande passo para a conscientização de inúmeros outros problemas ecológicos.

O termo lixo ou resíduo sólido, segundo a “Norma da Associação Brasileira de Normas

Técnicas - NRB 10.004, Resíduos Sólidos”, é denominado para os restos das atividades

humanas, consideradas pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo-

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

4

se apresentar no estado sólido, semi-sólido ou líquido, desde que seja passível de tratamento

convencional (RIOS, 2006).

A reciclagem e o reaproveitamento do entulho possuem grande relevância para o controle e

minimização dos problemas ambientais causados pela geração de resíduos. O entulho é

gerado por deficiências no processo da construção (falta de projetos, falhas ou omissões na

elaboração dos projetos e na sua execução, má qualidade dos materiais empregados, perdas no

transporte, recebimento, armazenamento, substituição de componentes pela reforma,

retrabalhos, falta de padronização dos processos, ausência de controle e registros, falta de

planejamento prévio, ausência de indicadores de produtividade, incompatibilização dos

projetos, falta de treinamento, etc.).

2.4 O Entulho da Construção Civil.

A composição do entulho é função da fonte que o originou, ou seja, construções, reformas,

manutenção e demolições. Considera-se que, em razão da natureza da atividade, a composição

dos resíduos de reformas, manutenção deve se assemelhar a de resíduos de demolição.

Em linhas gerais, o entulho na construção civil consiste em concreto, estuque, telhas, metais,

madeira, gesso, aglomerados, pedras. Levy (1997), afirma que o entulho da construção civil

poderá ter diversas origens.

A quantidade de entulho gerado é equivalente a 50% do material desperdiçado (PINTO,

1999). Em obras de reforma o principal motivo do surgimento do resíduo da construção é uma

falta da cultura de reutilização e reciclagem e as demolições, como são realizados em

processos simples, são causas geradoras de entulhos (ZORDAN, 1997).

2.5 Destino do Entulho

A maioria dos responsáveis pela produção do entulho não tem nenhum tipo de preocupação

com esse material e o jogam em avenidas, estradas e próximos a rios e córregos ou no entorno

do canteiro de obra.

Pinto (1999) condena a pratica de deposições dos resíduos em áreas irregulares e o contínuo

aterramento em ambientes urbanos de volumes elevados de entulhos, pois áreas naturais são

destruídas com o decorrer do tempo. Porém, já existe hoje uma preocupação referente à

destinação destes resíduos por parte de algumas instituições, criando alternativas e estudando

opções para a destinação do resíduo sólido, sobretudo com referência a compostagem, reciclagem e a

destinação nobre.

3. Metodologia

3.1 Tipo de pesquisa

O tipo de pesquisa escolhido foi um estudo descritivo exploratório, sendo que após coleta,

mensuração e análise dos dados, fez-se a correlação e descrição minuciosa da realidade

encontrada. A partir da aplicação dos questionários às construtoras, obtiveram-se as

informações necessárias para tabulação e a elaboração do trabalho.

3.2 Natureza da pesquisa

Esta pesquisa tem uma abordagem quantitativa e qualitativa pelo fato que avaliou as opiniões

e dados através da coleta de informações e, posteriormente, interpretou-se os indicadores,

levando-se a conclusão sobre os fenômenos estudados.

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

5

3.3 Procedimentos de coleta de dados

Com o objetivo de analisar a destinação dos resíduos sólidos em Montes Claros - MG, foi

realizada uma entrevista estruturada em forma de questionário, com algumas empresas em

Montes Claros - MG, para a melhor compreensão do fenômeno estudado, com maior

abrangência e homogeneidade possível. O questionário apresentado no Anexo 1 contém 9

questões objetivas acerca de política de meio ambiente, desperdício e acondicionamento de

insumos, gerenciamento e depósitos de resíduos, conhecimento de assuntos relacionados ao

meio ambiente, conhecimento da usina de reciclagem e reciclagem de seus resíduos. Foram

preenchidos 09 (nove) questionários por empresas representativas dos segmentos das

indústrias da construção civil em Montes Claros - MG, qual seja a de micro-empresas,

pequenas empresas, médias empresas e grandes empresas. Esta segmentação foi alcançada

respeitando-se os critérios estipulados pelos entrevistadores.

Segundo o CREA-MG (2008) há 106 construtoras no município de Montes Claros, sendo que

mais de 50% das empresas estão inativas. Perfar-se, portanto aproximadamente 53 empresas

atuantes no mercado montesclarense e região. A amostra de nove empresas entrevistadas

representa 17% do mercado.

4. Desenvolvimento

4.1 O processo de reciclagem dos resíduos sólidos

A análise do processo de reciclagem foi realizada com pesquisas in loco e utilização de

fotografias para arquivamento das etapas e operações.

O processamento não tem um sistema de gestão integrado, sendo a reciclagem feita somente

pela usina, sem um pré-processamento por parte das empresas de construção civil.

A seguir, seguem as etapas do processo de reciclagem.

1) O material chega ao pátio da usina geralmente em caminhões caçamba, caçambas

móveis, e pequenas caminhonetes (FIG. 1) com entulho proveniente de construções,

demolições e reformas da cidade de Montes Claros - MG onde são pesados e

classificados;

FIGURA 1: Recepção dos resíduos

FIGURA 2: Resíduos misturados

2) Depois de depositado no pátio (FIG. 2) existe a umidificação desse material para

diminuição da poeira mineral com o objetivo de dar m a i o r segurança no trabalho (FIG.

3);

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

6

FIGURA 3: lote de entulho recém chegado sendo umedecido

3) Na unidade de reciclagem, existe a catação manual dos materiais recicláveis (por meio de

colaboradores com máscaras) tais como: plástico (FIG. 4), metais (FIG. 5), madeira (FIG.

6) e paralelepípedos (FIG. 7), que poderiam prejudicar o processo das duas (2) máquinas

de reciclar alvenaria e concreto que são compostas de trituradores, esteiras e peneiras. O

material retirado dessa catação é acumulado para posterior reutilização em obras da

prefeitura municipal;

FIGURA 4: Material triado – plástico FIGURA 5: material triado - metal

FIGURA 6: material triado – madeiras FIGURA 7: material triado - paralelepípedos

4) Os entulhos de concreto e alvenaria são separados em dois lotes e os entulhos mais

pesados são removidos por meio de pá mecânica para o lote definido por sua composição;

5) Os resíduos de concreto são colocados na máquina de reciclagem, através de pá

carregadeira. Após passarem nas máquinas de reciclagem, os mesmos são separados por

meio de peneiras granulométricas, e direcionados para quatro baias através de esteiras

transportadoras. Os resíduos de Alvenaria também são colocados em máquinas de

reciclagem com pá carregadeira, e após passarem por peneiras granulométricas, são

depositados em pequenos lotes, também através de esteiras transportadoras (FIGs. 9 e

10). E em ambos os casos o material reciclado será reutilizado em novas obras da

construção civil, tais como: bases de ruas, calçamento, tubulações, entre outras.

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

7

FIGURA 9: máquina de reciclagem FIGURA 10: material reciclado - agregados

É preciso frisar que a usina de reciclagem de resíduos sólidos da construção civil municipal,

estipulado tem na sua capacidade máxima, a possibilidade de processar 4.000t/mês. Estando

assim, com menos da metade de sua capacidade de processamento.

Conforme a descrição do processo relatado acima, foi elaborado um fluxograma descritivo

(FIG. 11).

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

8

FIGURA 11: Fluxograma processo de reciclagem

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

9

Fonte: autoria própria

4.2 Perfil das empresas de construção civil da cidade de Montes Claros-MG

A análise do perfil das empresas de construção civil de Montes Claros é fundamental para

saber qual o perfil mais favorável a um projeto de reciclagem de resíduos e quais os fatores

influenciadores disso.

GRÁFICO 1: índice de empresas que tem política de meio ambiente

Fonte: pesquisa in loco - 20XX

Foi constatado que mais da metade das empresas pesquisadas apresentam algum tipo de

política de meio ambiente, o que não significa exatamente a existência de uma certificação

como ISO 14001. No GRAF. 1, percebemos que todas as de grande porte possuem políticas

ambientais estabelecidas. O mesmo percentual de empresas que informaram possuir política

de meio-ambiente também informou que os resíduos são gerenciados, produzindo assim

aderência dos dados pesquisados. Entre os variados portes, todas as grandes empresas

consideram seu acondicionamento como bom.

GRÁFICO 2: Índice de empresas que conseguem evitar desperdícios na obra

Fonte: pesquisa in loco - 20XX

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

10

No GRAF. 2, constata-se que apenas 50% das empresas de grande porte conseguem evitar os

desperdícios, que pode ser uma consequência à falta de estabelecimento operacional destas

políticas ambientais, além de uma falta de organização do processo de construção civil.

GRÁFICO 3: Índice de empresas que contribuem de alguma maneira para a reciclagem de

seus resíduos

Fonte: pesquisa in loco - 20XX

Foi constatado que dois terços das empresas pesquisadas declaram contribuir de alguma

maneira na reciclagem de seus resíduos, o que mostra algum engajamento ambiental das

empresas pesquisadas. No GRAF. 3, percebemos que as grandes e micro empresas possuem

alta contribuição, enquanto as médias e pequenas empresas se encontram divididas neste

conceito. Além disso, os mesmos índices de empresas que contribuem para a reciclagem de

seus resíduos foram exatamente os mesmos para o quesito conscientização ambiental, o que

reflete a relação entre a cultura ambiental da empresa e suas ações para o tratamento de seus

resíduos.

GRÁFICO 4: Índice de empresas que têm conhecimento da usina de reciclagem de Montes

Claros-MG

Fonte: pesquisa in loco - 20XX

No GRAF. 4, pode-se perceber que grande parte das empresas têm conhecimento da Usina de

reciclagem de resíduos sólidos da cidade. Porém, nas grandes empresas apenas 50% declaram

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

11

conhecer a usina, o que se constitui como gargalo para a reciclagem dos resíduos da cidade, já

que as grandes empresas são as que mais produzem resíduos.

5 Análise dos resultados da pesquisa

Conclui-se claramente que as empresas pesquisadas de um modo geral, em relação à questão

ambiental, seguem a legislação vigente, embora reconheçam que ainda existem muitas

dificuldades para o desenvolvimento de uma consciência ambiental. Chamou a atenção o fato

de que de acordo com esta amostra a grande a maioria das empresas procuram orientar seus

funcionários em relação ao desperdício, o que demonstra que muitas empresas, primam por

uma política ambiental, mesmo que de forma não consciente.

A pesquisa revelou que a grande empresa contribui de forma significativa na reciclagem de

RCD, e assim, busca reduzir os custos e o impacto ambiental negativo da deposição da

enorme massa de entulho no meio urbano.

Constatou-se também que, os trabalhadores possuem conhecimento de assuntos relacionados

ao meio ambiente, pois existe uma política ambiental por parte da empresa, para

conscientização dos colaboradores no tema preservação.

De acordo com a pesquisa foi verificado, que as grandes e micro empresas, possuem política

de meio ambiente, mas nas pequenas empresas constata-se que não existe gerenciamento de

resíduos, embora tenham declarado que depositam seus resíduos conforme a legislação.

Percebe-se de forma clara, que nas pequenas empresas, existe omissão de informação, por

medo de fiscalização e as sanções decorrentes de suas ações, se constatado infrações.

Nas grandes empresas existe um planejamento junto aos colaboradores da questão ambiental,

e nas micro-empresas, o processo fica centralizado no dono da empresa, e não em

colaboradores que são flutuantes.

Foi verificado também, que em alguns segmentos não existe informação sobre o que é a usina

de reciclagem de resíduos sólidos, da construção civil na cidade Montes Claros – MG.

A solução preconizada para minimizar o desperdício de matérias na construção civil, bem

como atenuar a sua geração, seria, a principio, a padronização dos processos construtivos,

treinamento continuado da mão de obra e exploração racional da matéria-prima, como é

descrito no esquema abaixo (FIG. 12).

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

12

FIGURA 12: Esquema de padronização e melhoria do processo construtivo

Fonte: autores

Após a inserção das ferramentas logísticas para otimizar o consumo de matéria-prima na

construção para reduzir os resíduos, integra-se o fluxograma do processo de reciclagem ao

processo de construção civil, diminuindo a carga de serviço na Usina de reciclagem. Além

disso, é fundamental a criação de novos setores de coleta de resíduos sólidos da construção

civil, recolhendo os materiais que não serão utilizados na usina. Tal proposta está

exemplificada no esquema abaixo (FIG. 13).

FIGURA 13: Proposta para o fluxograma do processo de reciclagem.

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

13

Para aumentar a eficiência do fluxograma acima, é fundamental que haja um conhecimento

maior sobre a Usina de reciclagem por parte das construtoras.

6 Conclusão

A usina de reciclagem municipal propicia um conjunto de soluções, aliada à economia de

recursos públicos, voltada à eficiência de soluções que podem imprimir qualidade ao

ambiente, com a reciclagem de resíduos sólidos, que são reaproveitados em obras do

município.

A situação do entulho ainda é um desafio a ser vencido pela administração municipal, pelas

empresas do setor da construção civil e pela sociedade como um todo. Entretanto, este

trabalho visa apresentar a solução parcial ou definitiva para o problema dos resíduos da

construção civil em ações de execução programadas e necessárias à total operação do projeto.

A introdução do processo de reciclagem é de extrema necessidade à cidade de Montes Claros

- MG, pela redução de áreas para deposição final de resíduos e pelo aumento da vida útil dos

aterros.

Portanto, é preciso uma maior divulgação por parte da Prefeitura Municipal junto ao

SINDUSCON (Sindicato da Construção Civil) e seus associados, bem como as empresas não

associadas e sociedade civil. É necessário, um maior entrelaçamento de ações fiscalizatórias

educativas e punitivas, entre órgãos do Município e do Estado, sendo interessante, uma maior

capacitação do corpo técnico desses órgãos.

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

14

É necessária uma maior integração entre órgãos fiscalizadores e capacitação de técnicos do

município e uma intensa divulgação por parte da prefeitura de Montes Claros - MG, quanto à

existência ou implantação da usina de reciclagem, e também maior sensibilização do

SINDUSCOM, Sindicato Patronal, e SITRICOM, sindicato de Trabalhadores, em relação à

questão ambiental. É preciso que o SENAI-MG (Serviço Nacional da Indústria) melhore o

atendimento as demandas das empresas da construção civil no tocante, a preservação

ambiental.

Portanto, é preciso que haja um entendimento entre a empresa geradora de resíduos e os

órgãos oficiais, quanto à sua co-responsabilidade na destinação do entulho gerado e a

definição de locais oficializados para recebimento desse material.

REFERÊNCIAS

ABNT –. Amostragem de Resíduos Sólidos. NBR 10.004. RJ, 2004.

AGUIAR, Wellington. Cidade de João Pessoa – A Memória do Tempo. PB: FUNESE, 2002

AGOPYAN, V. Estudos dos Materiais de Construção Civil – Materiais alternativos In.: Tecnologia

de Edificações. Pini, São Paulo, 1998.

BRASIL. Presidência da República. Legislação. Decreto n. 99.274 de 06/07/1990. Disponível em:

<http://www.presidência.gov.br/legislação>. Acesso: em 20 out. 2009.

CALDERONI; SEBATAI. Os Bilhões Perdidos no Lixo. São Paulo, Humanistas, 1997.

CONAMA. Conselho Nacional Do Meio Ambiente. Resolução 307/02. Estabelecem diretrizes e

parâmetros para gestão dos resíduos da construção civil.

CREA-MG. Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Relatório das construtoras

do município de Montes Claros-MG. 2008

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito ambiental e

legislação aplicável. 2 ed. São Paulo: Ed. Max Limonad, 1999.

GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996

IBGE. Pesquisa Nacional por amostra de domicílios. Disponível em: <

http://www.ibje.gov.br/home>. Acesso: em 13 set. 2009.

JACOBI, Pedro. Gestão compartilhada de resíduos sólidos no Brasil: inovação com inclusão social.

São Paulo: Annablume, 2006.

LEVY. S. M. Reciclagem do Entulho de Contorção Civil, para utilização como Agregado de

Argamassa e Concretos. SP. Escola Politécnica, USP. 1997. LIMPURB. Lixo. Disponível em

http://www.prodam.sp.gov.br/limpurb. Acesso em 11 de novembro de 2008.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Conselho Nacional do Meio Ambiente. SISNAMA –

Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/estr1.cfm>. Acesso em: 05 nov. 2008.

PINTO, T.P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana.

SP, 1999. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica USP.

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

15

SOUZA, U.E.L et al. Desperdício de Materiais nos Canteiros de Obras: a quebra do mito In.;

SIMPOSIO NACIONAL – DESPERDICIO DE MATERIAIS NOS CANTEIROS DE OBRAS: A

QUEBRA DO MITO. SP, 1999. Anais São Paulo (PCC/EPUSP).

SUDEMA. Disponível em:< http://www.sudema.pb.gov.br/index.php Acesso em: 04 nov. 2009.

ZORDAN, S.E. A Utilização do Entulho Como Agregado na Confecção do Concreto.: UNICAMP,

1997.