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253 Estudo metodológico de relatos científicos e de viagem no iluminismo português: dois viajantes pelo sertão nordestino Tiago Bonato Universidade Federal do Paraná CEDOPE O universo colonial português, durante o século XVIII, caracterizou-se pelo esforço em estabelecer a exploração científica dos espaços ultramarinos. No intuito de conhecer mais detalhadamente as colônias, uma série de expedições foi organizada pela Coroa com a fi- nalidade de observar e analisar empiricamente as potencialidades dos seus domínios. As viagens filosóficas – como ficaram conhecidas as expedições – que partiram de Portugal para suas colônias estão inseridas em um conjunto mais amplo que atingiu praticamente toda a Europa naquele período. Estudar as mudanças que ocorreram nos planos teóricos e práticos durante esse processo implica perceber um aumento significativo da importância do prático, do empírico, do racional, do objetivo em detrimento do subjetivo e – por que não – religioso, metafísico e mesmo da matemática pura. Muitos homens das ciências faziam e trocavam experiências que seriam marcadamente significativas para a humanidade. No bojo de novos interesses, as ciências naturais – com todos os mistérios de origem e funcionamento da na- tureza, suas leis e conseqüências – ganharam espaço. “A ciência seria a da natureza; e, com efeito, a história natural foi posta em primeiro plano, a geometria em segundo”. 1 O fascínio pelas ciências naturais residia no fato de que ela viria ao encontro das novas inquietações e vontades: era algo objetivo, que poderia ser estudado a partir da observação empírica e racional e, no mais das vezes, seria algo útil para uma aplicação prática. O movimento de intelectuais crescia na medida em que novas obras iam sendo lançadas e novas descobertas eram feitas. O campo mais promissor parecia ser mesmo o das ciên- cias naturais com a premissa de estudar os três reinos da natureza: animal, vegetal e mine- ral. Todos então observavam mais atentamente e com olhar científico o que antes passava desapercebido. O volume de novas espécies que estavam sendo descobertas chegava a ser assustador: “já não era possível contá-las, os números apontados hoje tornar-se-ão falsos amanhã; as pessoas sentem-se como que soterradas por este aluvião incessante”. 2 Esse mo- * Esta pesquisa de mestrado é realizada com auxílio do CNPq.

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Estudo metodológico de relatos científicos e de viagem no iluminismo português: dois

viajantes pelo sertão nordestino

Tiago BonatoUniversidade Federal do Paraná

CEDOPE

O universo colonial português, durante o século XVIII, caracterizou-se pelo esforço em estabelecer a exploração científica dos espaços ultramarinos. No intuito de conhecer mais detalhadamente as colônias, uma série de expedições foi organizada pela Coroa com a fi-nalidade de observar e analisar empiricamente as potencialidades dos seus domínios. As viagens filosóficas – como ficaram conhecidas as expedições – que partiram de Portugal para suas colônias estão inseridas em um conjunto mais amplo que atingiu praticamente toda a Europa naquele período. Estudar as mudanças que ocorreram nos planos teóricos e práticos durante esse processo implica perceber um aumento significativo da importância do prático, do empírico, do racional, do objetivo em detrimento do subjetivo e – por que não – religioso, metafísico e mesmo da matemática pura. Muitos homens das ciências faziam e trocavam experiências que seriam marcadamente significativas para a humanidade. No bojo de novos interesses, as ciências naturais – com todos os mistérios de origem e funcionamento da na-tureza, suas leis e conseqüências – ganharam espaço. “A ciência seria a da natureza; e, com efeito, a história natural foi posta em primeiro plano, a geometria em segundo”.1 O fascínio pelas ciências naturais residia no fato de que ela viria ao encontro das novas inquietações e vontades: era algo objetivo, que poderia ser estudado a partir da observação empírica e racional e, no mais das vezes, seria algo útil para uma aplicação prática.

O movimento de intelectuais crescia na medida em que novas obras iam sendo lançadas e novas descobertas eram feitas. O campo mais promissor parecia ser mesmo o das ciên-cias naturais com a premissa de estudar os três reinos da natureza: animal, vegetal e mine-ral. Todos então observavam mais atentamente e com olhar científico o que antes passava desapercebido. O volume de novas espécies que estavam sendo descobertas chegava a ser assustador: “já não era possível contá-las, os números apontados hoje tornar-se-ão falsos amanhã; as pessoas sentem-se como que soterradas por este aluvião incessante”.2 Esse mo-

* Esta pesquisa de mestrado é realizada com auxílio do CNPq.

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vimento tinha sentido duplo: ao mesmo tempo em que os homens de ciência eram tomados pelo espírito de observações em lugares distantes e saem de suas províncias, reinos e até continente, descobre-se o saber de laboratório, onde muitos se reúnem para discutir o ob-servado. Muitas discussões são feitas a respeito de qual era o verdadeiro cientista: o que de fato vivia a experiência e saía para observar e coletar espécies ou os que as estudavam mais profundamente nos laboratórios.

E se o novo pensamento espalhou-se por grande parte da Europa ele chegou também a Portugal, com seu grande império ultramarino construído nos séculos anteriores. As novas potências européias, porém, iam despontando – notadamente Inglaterra, França e Holanda – e o grande império estava em crise, econômica e militarmente, correndo risco de perder seus domínios, e ainda diplomaticamente com a escravidão de suas colônias sendo discutida e criticada pelos intelectuais europeus. Uma figura importante do Iluminismo português e que se destaca na historiografia é o ministro de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal.3 Seguindo os ideais iluministas, uma série de reformas foi levada a cabo pelo ministro. Dentre elas, a reforma educacional, onde se insere a reforma da Universidade de Coimbra é de suma importância para esse trabalho. A reforma trouxe a implementação do curso de história natural e a obrigatoriedade de cursá-lo antes de se iniciar qualquer outro curso ofertado pela Coimbra reformada. Várias políticas foram adotadas no intuito de chamar filhos da elite colonial brasileira à universidade. Sabendo que a colônia brasileira constituía a melhor parte do Império e receosa de que as idéias revolucionárias que se espa-lhavam com a independência dos Estados Unidos e eclodiam também pela Europa pudessem contaminar seus “homens bons”,4 nada mais sensato que educá-los na própria metrópole, vigiando e censurando, de certa forma, suas idéias.

O número de alunos brasileiros em terras portuguesas mostra o sucesso de tais medi-das. Entre 1772 e 1822, período limitado pelo início da reforma pombalina no ensino supe-rior e pelo fim o período colonial, 866 brasileiros matricularam-se na Coimbra reformada, grande parte deles optando pela formação naturalista.5 A participação desses brasileiros foi essencial nas viagens promovidas pela Coroa. Além da política de cooptação das elites coloniais, Pereira destaca, ainda, como motivo da grande participação de naturalistas brasi-leiros nas viagens, a maior resistência dos brasileiros “às agruras do clima africano” e, con-sequentemente, aos trópicos em geral. O autor afirma que para muitos europeus, qualquer cargo administrativo nas colônias era como uma sentença de morte, sendo isto facilmente observado na documentação da época. Esse fato, portanto, não deveria ser ignorado pelos “olhares atentos dos altos escalões administrativos”.6

A primeira grande viagem filosófica foi planejada pelo italiano Domingos Vandelli em 1778. Vandelli chegara a Portugal na década de 1760, contratado para o Real Colégio dos No-bres, mais um dos projetos de Pombal. O naturalista italiano ocuparia as cátedras de História Natural e Química7. Vandelli não chegou a lecionar, já que o projeto não correspondeu às ex-pectativas e foi fechado anos depois, mas permaneceu no reino e em 1772 assumiu as mesmas cadeiras na Universidade de Coimbra8, fato que o colocou à frente dos naturalistas. A primeira viagem contaria com um grupo de brasileiros recém formados em Coimbra: Alexandre Rodri-gues Ferreira, Manoel Galvão da Silva, Joaquim José da Silva e José da Silva Feijó. Seria realizada

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uma grande expedição à Amazônia, porém, por razões administrativas, a viagem foi dividida e os naturalistas mandados a várias partes do império: Alexandre Rodrigues seguiu mesmo para a Amazônia – em uma das mais conhecidas e divulgadas viagens filosóficas – enquanto Feijó foi mandado a Cabo Verde. Manoel Galvão e Joaquim José da Silva partiram para Angola e Mo-çambique, respectivamente, onde acumulavam cargos de naturalistas e secretários de estado.9

Em 1796, assumiu o cargo de ministro do ultramar – no reinado de D. Maria I – D. Rodrigo de Sousa Coutinho, “incansável homem de projetos e reformas”, que constituiu uma equipe de cientistas que “passaram a se agitar em torno dele”.10 A idéia dos cientistas brasileiros gravitando ao redor do ministro vem de seu grande – e público – interesse pela colônia brasileira e por inúmeros projetos e incentivos dados às pesquisas e explorações no território. O ministro colocou em prática uma política de renovação da agricultura por meio da introdução de novas técnicas, além de organizar várias expedições científicas, já com naturalistas formados de uma segunda geração de brasileiros em Coimbra.11 Hipólito da Costa foi enviado aos Estados Unidos da América, ao mesmo tempo em que o naturalista pernambucano Manuel Arruda da Câmara passou a viajar pelo sertão nordestino. Em outra viagem, o paulista Francisco José de Lacerda e Almeida procurou fazer a travessia da África, entre Angola e Moçambique. Também João da Silva Feijó foi incumbido de estabelecer uma produção de salitre – matéria prima da pólvora – no Ceará.

Pelos sertões do Maranhão e Piauí Apesar do conhecimento dessas viagens e da atenção dada a esse período pela histo-

riografia recente, algumas viagens do período permanecem no esquecimento. É o caso da viagem dos naturalistas Joaquim José Pereira e Vicente Jorge Dias Cabral, enviados por Sou-za Coutinho a explorar o salitre e a quina do Piauí, árvore com propriedades antifebris nos sertões das capitanias do Piauí e Maranhão em fins do Setecentos.

A partir do ofício de 04 de setembro de 1799, enviado pela Coroa portuguesa, e dos cem mil réis recebidos como ajuda de custo, o vigário colado da Vila de Valença, Joaquim José Pereira, demorou-se apenas três dias na capital São Luis do Maranhão até iniciar o cumpri-mento das ordens reais: viajar pelos sertões dessa capitania e da vizinha Piauí. Joaquim José Pereira, conhecido também como Vigário de Valença, já era conhecedor dos sertões da Ca-pitania do Maranhão, escrevendo, a pedido do ministro D. Rodrigo de Souza Coutinho, uma memória da descrição física e demográfica da capitania, no ano de 1798.12 No mesmo ano ele ainda escreveria sobre a condição de extrema pobreza e sobre as secas nos sertões nordes-tinos.13 Dessa vez, os objetivos da viagem eram outros, demonstrando o interesse científico e empírico do Iluminismo luso-brasileiro, no sentido de conhecer, em seus pormenores, as potencialidades naturais da colônia brasileira. Em mais um dos projetos do ministro, o vi-gário partiu de São Luis e deixou explícito, em carta remetida à Coroa em 19 de fevereiro de 1803, que seus objetivos eram explorar

“as muitas e diversas terras salinas do continente desta Capitanîa do Piahuy e Maranhão dos domínios de V. Alteza Real para descobrir outros muitos sais, que estavão nelles como ocultos aos chymicos, eseu uso e intresse [sic] públicos”.14

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Partindo da capital, o padre viajou com quatro soldados,15 figuras que permanecem anô-nimas nos diários e memórias, com exceção do furriel graduado João da Crus, da 5ª Com-panhia de Caçadores, que aparece raras vezes nos relatos. Depois de subir o Rio Muni em direção ao leste da capitania, e visitar algumas vilas durante os primeiros meses da viagem, Joaquim chegou à cidade de Aldeas Altas, onde, a 12 de abril de 1800, encontraria o bacharel Vicente Jorge Dias Cabral, e com ele viajaria nos dois anos seguintes.

Dias Cabral esteve entre os brasileiros matriculados na Universidade de Coimbra, pos-sivelmente no final da década de 1780. Fazia parte do novo intelectual luso-brasileiro que, mesmo formado e exercendo a profissão de advogado, estava à disposição da Coroa portu-guesa como mais um naturalista pronto a oferecer seus serviços:

“Sempre ancioso de empregar-me no serv.º de S. Mag.e segui a Carreira das Letras indo estudar na Universid.e de Coimbra; e ali me apliquei a Philoso-phia fazendo Formatura nesta Sciencia, como tão bem no Direito Civil, queren-do facilitar o emprego, já pelo meio das Sciencias Naturaes, já pelas positivas”.16

Além de advogado havia mais de dez meses na capital, Vicente era também responsável pelo Horto Botânico da cidade de São Luis do Maranhão, não se mantendo, portanto, afasta-do de seus estudos naturalistas. Porém, como ele mesmo relata, sua profissão de bacharel de direito o impossibilitava de realizar as

“observaçoens e experiencias sobre milhares de objectos dignos de aten-são de Philosophos, principalm.te no que toca ao Reino vegetal, havendo m.tas plantas utilissimas p.a as artes, que se podem empregar em tinturarias, medici-na, massames de navio, e cordoarias.”17

Como se percebe, o bacharel estava envolvido na rede de informações dos funcionários da Coroa, a que se refere Angela Domingues.18 Justamente esse acúmulo do cargo de natura-lista e de funcionário régio construiu uma rede por onde circulava a informação científica no século XVIII. A importância desse projeto ultrapassa o caráter científico e ganha relevância no conhecimento e administração dos espaços ultramarinos portugueses. Nascido em Teju-co, Minas Gerais, Dias Cabral se tornou um exemplo do jovem da elite brasileira que estudou em Coimbra e voltou para exercer suas funções em seu país. Sobre o padre Joaquim José pouco se sabe. Nasceu em Carnoza Correa, como ele mesmo relata em suas memórias, mas a própria localização da cidade é uma incógnita. Ao que parece não estudou em Coimbra, re-cebendo sua formação naturalista provavelmente em algum seminário, uma vez que muitos deles divulgavam os saberes científicos nesse período no Brasil. No seu artigo já citado sobre a seca no sertão nordestino, o padre se tornará o primeiro a observar essa problemática e apontar para uma construção do sertão mais próxima do que se tem hoje. Desde os primei-ros contatos portugueses até o século XIX, sertão designava toda porção de terra longe da costa. No caso brasileiro, o sertão correspondia à maior parte do território.

Os dois viajantes passaram a percorrer juntos, a partir daí, as aproximadamente 500

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léguas de viagem pelas duas capitanias. Visitaram as freguesias de Santa Maria do Icatú, Aldeias Altas, Oeiras, Valença, Marvão, Parnaiba, Campo Maior e retornaram praticamente pelo mesmo itinerário até São Luis do Maranhão, onde chegaram novamente na véspera de Natal do ano de 1802.19 A última remessa das “diligencias incumbidas ao Bacharel [...], e ao Vigario de Valença”– já que é provável que elas tenham sido feitas sistematicamente duran-te a viagem, mesmo que na documentação utilizada não apareçam –, acompanhadas pelos “Diarios por eles feitos em todo o tempo das suas execussoens, e nos quaes V. Ex.a verá [uma] recapitulasão geral das Memorias, discursos, produtos, e dezenhos”,20 partiu de São Luis de Maranhão, por meio do governador do Estado do Maranhão, D. Diogo de Souza ao Secretário de Estado da Marinha e Ultramar, João Rodrigues de Sá e Melo Soto Maior, Visconde de Ana-dia, no dia 22 de março de 1803. O papel do governador do Estado do Maranhão tornou-se relevante na medida em que atuou como mediador entre os naturalistas e a Coroa. Além dis-so, no mesmo dia 04 de setembro de 1799, quando as ordens reais chegaram ao Maranhão, D. Diogo de Souza enviou a todos que lhe eram subordinados ordens para que

“prestem todo o posivel auxilio e socorro que pelo Bacharel Vicente Jor-

ge Dias Cabral lhes for requerido seja para (…) viagem que por Ordem Minha em conformidade das de Sua Magestade vai fazer pelos Sertoens deste Estado acompanhado do Vigario de Valensa o Padre Joaquim Jozé Pereira, e quatro sol-dados.”21

Além disso, o governador também foi o responsável por obter as “Licensas necessa-rias para [o padre Joaquim] poder estar fora da sua Rezidencia decorrente o tempo que se empregar na mencionada diligencia”,22 em ofício mandado no mesmo 04 de setembro ao bispo D. Joaquim Ferreira de Carvalho. Diogo de Souza teve então suas funções divididas entre governar a capitania e colaborar com a missão científica da Coroa portuguesa nos territórios brasileiros.

O habitante do sertão sob o olhar iluministaA escrita de diários de viagens científicas tornou-se, segundo Bourguet, uma das tarefas

cotidianas, “executadas com uma minúcia repetitiva e habitual, fastidiosa, por vezes esgotante, interrompidas por momentos de perigo ou de medo”.23 A notável rigidez da escrita fazia com que só estivessem presentes os elementos necessários ao cumprimento da tarefa científica e exploratória. No caso da viagem analisada, mesmo que fossem visitadas fazendas e vilarejos à procura de informações sobre salitre e quina do Piauí, nota-se na leitura dos diários uma ausência de referências às casas, ou às pessoas, não sendo mencionado sequer o número de habitantes, como no caso da memória sobre o Maranhão, do padre Joaquim José, já citada. Nes-se texto, Joaquim José Pereira construiu um “Mappa Geral do sertão da capitania de S. Luiz do Maranhão”,24 onde são arroladas as freguesias, sua população total e tamanho. Nos diários da viagem pelo Maranhão e Piauí enviados a Portugal em março de 1803, pode-se notar apenas referências a pessoas doentes ou nas quais se utilizou alguma das plantas medicinais da colô-nia como remédio, no caso a quina do Piauí – que também era objeto de interesse da viagem.

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Não se fala das pessoas sadias. Sobre isso, aliás, é interessante o que observa Alexandre Rodri-gues Ferreira quando de passagem pelo Mato Grosso em sua conhecida expedição pela Amazô-nia. Segundo Maria da Fátima Costa, analisando as memórias do naturalista, “em Mato Grosso não havia possibilidade de se estar sadio”.25 O relato sobre a passagem de Ferreira pela então capital da capitania, Vila Bela, demonstra o quão insalubre eram aquelas paragens e as terras sertão adentro do Brasil. A omissão da representação das pessoas torna-se uma característica marcante da viagem analisada, acompanhando os relatos científicos do final do século XVIII. Nas décadas seguintes, avançando o século XIX, os relatos dos viajantes tendem a apresentar descrições, por vezes minuciosas, da população e seus costumes.

Em sua Memória relativa às capitanias do Piauhy e Maranhão, Francisco Xavier Machado, personagem que viajou pelas províncias nos anos de 1810, dedicou uma parte de seu texto, ainda que pequena, à índole e caráter da população do sertão26. Suas observações são, majo-ritariamente, sobre as condições econômicas da província, seus rebanhos – inclusive com o arrolamento do número de cabeças de gado de cada freguesia –, a grande escravaria que se fazia presente na capitania e a notável produção de algodão do Maranhão, cuja exportação no ano de 1809 chegou ao valor de 1.630 contos de réis27. Sob o título de “Caracter dos ha-bitantes d’estes vastos sertões”, o autor escreveu que a índole “d’estes povos é boa, e fáceis de levar aonde necessário for”.28 Em contrapartida, sua educação é “má, porque não tiveram de quem herdar”. São diferenciados, na análise do viajante os “mais ricos e abundantes” dos pobres. Os primeiros vivem num sertão com “caça, cães, espingardas, cavalos, etc.”. A descri-ção dos pobres é mais completa:

“Os pobres são sujeitos à bebida da caxaça, a pitar, e às danças e toques próprios do paiz, fáceis em commetter crimes, logo que a isso os induzam, des-mazelados e preguiçosos: talvez a abundancia do paiz concorra para estes ma-les, porque, actividade sem precisão, raras vezes se encontra”.29

Nos últimos anos da mesma década de 1810, sob as ordens de D. Leopoldina d’Austria, foi organizada uma expedição científica para o Brasil, com a presença de inúmeros cientis-tas, entre os quais destacam-se os “reais naturalistas bávaros”30 Johann Baptist von Spix e Carl Frederich Martius. No capítulo IV, do livro V, da “Viagem pelo Brasil”,31 intitulado “Via-gem, através do sertão até o rio São Francisco”, os autores fazem uma minuciosa descrição da aparência, vestimentas, hábitos e costumes dos sertanejos:

“O sertanejo é criatura da natureza, sem instrução, sem exigências, de cos-tumes simples e rudes. Envergonhado de si próprio e de todos que o cercam, falta-lhes o sentimento da delicadeza moral, o que já se demonstra pela negli-gência no modo de vestir; porém, é bem intencionado, prestativo, nada egoísta e de gênio pacífico. A solidão e a falta de ocupação espiritual arrastam-no para o jogo de cartas e dados e para o amor sensual, no qual, incitado pelo seu tempe-ramento insaciável e pelo calor do clima, gozam com requinte. O ciúme é quase a única paixão que o leva ao crime.”32

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Ainda sobre as doenças e o clima, assuntos intimamente relacionados nos relatos, é in-teressante observar a descrição de outro viajante do sertão, Antonio Bernardino Pereira do Lago, coronel do Real Corpo de Engenheiros. Viajando pelo extremo oeste da capitania do Maranhão, nos limites com o Pará, o coronel observou a condição da Vila de Santa Helena no ano de 1820. Segundo ele, apesar do local da povoação não ser desagradável,

“o excessivo calor que alli se observa [...], a superfície alagada, barrentas águas, e máo sustento de pequenos peixes, tudo isto torna S. Helena durante nove mezes em lugar só de penúria e doença”.33

E no período em que as águas da chuva voltam ao nível normal, deixando à mostra os corpos dos animais mortos, “ninguém escapa a sezões [...] e muitos contam a idade pelos annos em que têm estado doentes”.34 Essa última afirmação do viajante vai ao encontro do que foi analisado por Maria de Fátima Costa nos relatos de Alexandre Rodrigues Ferreira. Em ambos os casos, a condição de habitante do sertão se imbricava com o estado de patologia de tal forma que os naturalistas, ao que parece, conviviam com isso cotidianamente, já que o tema ocupa tantas páginas dos relatos. E, se a povoação de Santa Helena pode ser tomada como base, durante nove meses do ano – ou, em apenas três meses a situação é diferente – o sertão apresenta somente “penúria e doença”.

Atestando mais uma vez as condições precárias de saúde dos integrantes das expedi-ções, em ofício de 22 de novembro de 1799 – portanto menos de três meses depois da parti-da dos viajantes –, o governador do Maranhão, D. Diogo de Souza, escreveu ao bacharel sobre ser de seu conhecimento que a “insalubridade daquela Ribeira atacam [sic] toda cometiva” e que Dias Cabral “estivese tão infermo como aqui me informarão algumas testemunhas ocu-lares”.35 O governador inclusive indicava uma receita utilizada pelos exércitos romanos “para aliviarem ás currupsoens internas”.

As batalhas contra o clima parecem mesmo ser muitas, visto a recorrência do assunto. Logo no início de seu “Discurso Preliminar e Histórico sobre o clima da Capitania de Mara-nhão e Piauhy em geral; origem das Serranias dos seus Sertoens, e Rezultados Salinos das Rochas da mesma; Propriedade do seu clima para anitrificação das terras; Sobre as nitreiras arteficiais, e methodo econômico de as fabricar em pequeno”, Joaquim José Pereira discorre sobre as condições do clima no sertão do Maranhão e Piauí:

“O ar he quente e humido, paudozo, e doentio [...] as carnes frescas se cor-rompem em 24 horas, e as que se goardão secas crião hum gusmo, ou moncozi-dade [...] os que viageam, e dormem no campo achão a ropas humidas quando as querem vestir de manhã [...] o calor he perpetu-o, os corpos estão sempre em actual traspiração sencivel, e copioza”.36

Mais uma vez o clima dos trópicos é dado como impróprio para se viver, diferentemente do clima temperado europeu. O clima parecia fazer com que a jornada fosse dramática, longa e cansativa. As doenças do sertão atacavam as comitivas exploradoras, matando em muitos

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casos seus integrantes, tornando-se presença certa nos relatos.Outro tema recorrente nos diários e memórias de viagem é a questão do trabalho dos

habitantes do sertão. Apesar de Francisco Xavier Machado tratar da boa índole dos habitan-tes e de serem “fáceis de levar onde necessário for”,37 Vicente Jorge Dias Cabral destacou a dificuldade de se recrutar mão de obra em sua viagem:

“A mão d’aobra aqui he muito cara quero dizer os jornaes dos trabalha-dores. Não há q.m queira trabalhar nem por bons modos nem sendo obrigados. Se algum se rezolve atura poucos dias e não mais enunca sem o interesse da comida [...]. No decurso das minhas jornadas vi em todas as fazendas homens ociozos cheos de nudez e de mizeria que senão rezolvião a plantar algodão p.ª vestir, e o pão para matar afome. Eu os convidava p.ª me ajudar no trabalho pro-metendo-lhes fartura seg.ª que o Serviço Real os livraria da recluta (do que no Certão há grande horror) não forão suficientes os meios lembrados. Em huma palavra só o trabalho a cavalo em perseguição dos gados fazem de boa vontade não sendo aturado por muito tempo outro qualquer trabalho, dizem elles he proprio dos escravos cativos.”38

O gosto dos habitantes pelo trabalho a cavalo nas fazendas do sertão também é coloca-do pelo Frei Vicente Salgado, cronista da Congregação da terceira ordem do Convento de N. Senhora de Jesus de Lisboa. O frei é autor do Roteiro do Maranhão a Goiaz pela capitania do Piauhi,39 escrito em 1800, onde se lê que os moradores tinham a maior felicidade e empenho para merecer algum dia o nome de vaqueiro.

Os diferentes sertões A marcada ausência de análise sobre os habitantes do sertão no relato da viagem de Dias

Cabral e José Pereira deriva, em grande medida, dos objetivos científicos de sua viagem. Andando pelos currais das fazendas à procura de material orgânico – que daria origem ao salitre natural -, os viajantes não se davam conta do restante da paisagem à sua volta. A paisagem do sertão do Piauí não chamou atenção dos viajantes: ambos brasileiros, o padre já viajara algumas vezes pela província, e o bacharel, mesmo tendo estudado em Portugal, voltava os olhos sobre sua terra na-tal.40 O espanto com a paisagem brasileira é peça chave na percepção diferenciada das paragens visitadas. Obviamente não se pode tomar isso como regra. Mesmo com formação iluminista e natural de terras brasileiras, Alexandre Rodrigues Ferreira se espantou muito em suas primei-ras andanças pela Amazônia. Os relatos apresentam até elementos fantásticos em um primeiro momento. Com o passar dos anos – a viagem durou uma década – os olhos do viajante acostuma-ram-se à paisagem e a atenção voltou à ciência.

Com os viajantes estrangeiros do século XIX que visitaram o Brasil, mudam os objetivos, mudam os olhares. O exótico da paisagem e do habitante do sertão é presença certa nos relatos. Spix e Martius, em trecho citado, fazem uma descrição até psicológica do sertanejo. O próprio sertanejo pode ser rastreado. O termo para designar os habitantes do sertão não aparece nas fontes analisadas do século XVIII. Sua aparição se dá apenas no relato da viagem

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de Martius e Spix, em fins dos anos de 1810. Além da caracterização a respeito do local de nascimento do habitante, o termo começa a se desenhar como definindo um grupo de pes-soas que partilha uma série de hábitos e costumes e é identificado por isso. Ao longo do sé-culo XIX, com as análises dos viajantes sobre esses habitantes, o termo vai se firmando pelo que é conhecido até hoje. Pode-se acompanhar essa trajetória também pelos dicionários. D. Raphael Bluteau em seu Vocabulário Portuguez e Latino, publicado em 1712, caracteriza sertanejo apenas como “cousa do sertão”, sem nenhuma referência aos habitantes. Um sécu-lo mais tarde, no Diccionario da Língua Portugueza, de Antonio de Moraes Silva, o termo já aparece definido como o “que vive no sertão, ou matos interiores, e longes da costa”.41

Essa definição de sertanejo e mesmo de sertão, não mais como qualquer território lon-ge da costa, mas especificamente o nordestino, marcado por características idiossincráticas é iniciada pelo próprio padre Joaquim José Pereira em outra memória produzida em suas viagens, já citada.42

A idéia de uma “ciência dos viajantes” do século XIX é dada por Lorelai Kury. Segundo ela, “para grande parte dos naturalistas do século XIX, a multiplicidade de sensações que en-volvem o naturalista em sua viagem poderia e deveria ser descrita pela ciência”.43 Obviamen-te que a noção de sensação na ciência não é dada pelos racionais naturalistas do século XVIII. Essa diferença também faz parte da composição de um sertão diferente para cada século. Se os naturalistas que percorreram o Maranhão e o Piauí viram apenas salitre natural, doenças e o remédio, a quina, os viajantes do XIX buscaram “descrever de modo exaustivo e profundo diversos elementos que compõem cada lugar. [...] É como se cada parte contivesse o todo”.44

Notas

1 HAZARD, Paul. O pensamento europeu no século XVIII. Lisboa: Presença, 1989, p. 127.2 HAZARD, op. cit., p. 130.3 O título de Marquês, entretanto, lhe foi concedido apenas em 1769, quando Pombal contava com 71 anos de idade. É importante ressaltar, porém, que esse título não lhe foi dado como herança, mas como recompensa pelos serviços prestados a Portugal. Dez anos antes, Pombal havia sido nomeado conde de Oeiras – pequena cidade à margem do estuário de Tejo –, onde possuía uma propriedade – esta sim lhe deixada como herança. Construiu em Oeiras, após 1750, uma grande casa de campo com jardins elaborados, vinhas, amoreiras e aquedutos extensos e dispendiosos. MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal. Paradoxo do Iluminismo. São Paulo: Paz & Terra, 1997, p. 2.4 CRUZ, Ana Lúcia R. B. da. “As viagens são os viajantes. Dimensões identitárias dos viajantes naturalistas brasileiros do século XVIII”. In: História: Questões & Debates, Curitiba, n.36, 2002, pp. 61-98. 5 CRUZ, op. cit., p. 66. 6 PEREIRA, Magnus R. de Mello. “Um jovem naturalista num ninho de cobras. A trajetória de João da Silva Feijó em Cabo Verde em finais do século XVIII”. In: História: Questões & Debates, Curitiba, n.36, 2002, pp. 29-60.7 A contratação é provada através de uma carta, de 16 de maio de 1764, do cônsul português em Gênova, Nico-lau Piaggio, em que informa que o portador da mesma é o Doutor Domenico Vandelli que parte para Lisboa com destino ao Real Colégio. CARVALHO, Rômulo de. A História Natural em Portugal no Século XVIII. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1987.8 O Real Colégio não correspondeu às expectativas de Pombal no que diz respeito ao ensino científico e o

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ministro mandou encerrá-lo em 1772, com apenas seis anos de funcionamento, limitando-o ao ensino das disciplinas humanitárias. Quatro anos antes, Vandelli havia sido encarregado por D. José de estabelecer um Jardim Botânico junto ao palácio Real da Ajuda, também em Lisboa. CARVALHO, op. cit., p. 49.9 O problema do acúmulo de cargos administrativos com tarefas científicas era constante na rede de na-turalistas luso-brasileiros mandados às possessões portuguesas. Sobre os motivos da divisão do grupo dos viajantes, ver PEREIRA, op.cit., pp. 30-32.10 DIAS, Maria Odila da Silva. “Aspectos da Ilustração no Brasil”. In: Revista do IHGB, vol. 278, primeiro trimestre, 1968, p. 117. 11 Em um de seus discursos à frente do ministério, D. Rodrigo de Sousa Coutinho deixou clara sua preferên-cia pelo Brasil, que era a parte mais importante do Império, segundo ele. Sendo assim, se fosse para se perder uma parte do Império, deveria ser a metrópole Portugal e não a colônia Brasil. Silva Dias, em seu artigo, oferece um panorama dos incentivos e projetos do ministro luso com seus naturalistas e cientistas. DIAS, op. cit., pp. 117-119.1 PEREIRA, Joaquim José. “Memória que contém a descripção e problemática da longitude e latitude do sertão da capitania geral de São Luiz do Maranhão...”. In: Revista do IHGB, v. 20, 1904, pp. 165-169. 13 PEREIRA, Joaquim José. “Memória sobre a extrema fome e triste situação em que se achava o sertão da Ribeira do Apody”. In: Revista do IHGB, v. 20, 1857, pp. 175-185. 14 Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Maranhão, Caixa 127, n. 9555.15 AHU, Maranhão, Caixa 108, n. 8487.16 AHU, Maranhão, Caixa 128, n. 9574.17 AHU, Maranhão, Caixa 128, n. 9574. 18 DOMINGUES, Ângela. “Para um melhor conhecimento dos domínios coloniais: a constituição de redes de informação no Império português em finais do Setecentos”. In: História, Ciências, Saúde. Manguinhos, vol. VIII. (suplemento), 2001, pp. 823-838.19 Dados retirados do “Mappa Geral Itinerário”, feito pelo vigário. Dentro de cada freguesia foram visitadas várias localidades, especificadas nos diários da viagem. AHU, Maranhão, Cx.127, doc. 9556. 20 AHU. Maranhão. Caixa 127, doc. 9555. 21 AHU, Maranhão, Caixa 108, n. 8487.22 Idem.23 BOURGUET, Marie Noeile. “O Explorador”. In. VOVELLE, M. O Homem do Iluminismo. Lisboa: Presença, 1997.24 PEREIRA, “Memória que contém ...”, p. 169.25 COSTA, Maria de Fárima. “Alexandre Rodrigues Ferreira e a capitania de Mato Grosso: imagens do inte-rior”. In: História, Ciências, Saúde . Manguinhos, vol. VIII (suplemento), 2001, p. 1002.26 MACHADO, Francisco Xavier. “Memória Relativa ás capitanias do Piauhy e Maranhão”. In: Revista do IHGB, vol. 17, 1854, p. 63.27 MACHADO, op. cit., p. 68. Sobre a produção algodoeira maranhense e uma análise do período final do século XVIII, que o autor chama de “renascimento agrícola” do Brasil, ver ALDEN, Dauril. “O período final do Brasil Colônia: 1750-1808”. In: BETHELL, Leslie (org.). América Latina Colonial, vol. II. São Paulo: Editora da USP; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2004, p. 564.28 MACHADO, op. cit., p. 63.29 Idem, ibidem.30 SPIX e MARTIUS. Viagem pelo Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da USP, 1981, vol. II, p. 03. 31 Idem, p. 75. 32 Idem, p. 76.

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33 LAGO, Antonio Bernardino. “Itinerário da província do Maranhão por Antonio Bernardino Lago, coronel do real corpo de engenheiros começado em janeiro de 1820”. In: Revista do IHGB, v. 44-45, 1872, p. 394.34 Idem, p. 394. 35 AHU, Maranhão, Caixa 108, doc. 8487.36 AHU, Maranhão, Caixa 127, doc. 9556.37 MACHADO, op. cit., p. 64. 38 AHU. Maranhão. Caixa 127, doc. 9555.39 SALGADO, Vicente. “Roteiro do Maranhão a Goiaz pela capitania do Piauhi”. In: Revista do IHGB, v. 99, 1891, pp. 60-161. 40 A questão da identidade dos viajantes é tema do trabalho já comentado de Ana Lúcia R. B. Cruz. 41 SILVA, Antonio de Moraes. Diccionario da Língua Portugueza recopilado dos vocábulos impressos até ago-ra, e nesta segunda edição novamente emendado, e muito accrescentado. Lisboa: Typographia Lacerdina, 1813, e BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez e Latino. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de JESU, 1712. 42 PEREIRA, Joaquim José. “Memória sobre a extrema fome...”, op. cit., pp. 175-185.43 KURY, Lorelai. “Viajantes-naturalistas no Brasil oitocentista: experiência, relato e imagem”. In: História, Ciências, Saúde. Manguinhos, vol. VIII (suplemento), 2001, p. 870. 44 Idem, p. 870.

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Temas Setecentistas