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TÍTULOEstudos sobre a Diversificação da Economia Angolana

EDITORESAlves da RochaFrancisco PauloLuís BonfimRegina Santos

EDITORUniversidade Católica de AngolaRua Pedro de Castro Van ‑Dúnem, 24,Bairro Palanca, C.P. 2064 LuandaWeb site: www.ucan.eduEmail: [email protected]

PRÉ ‑IMPRESSÃOLeYa, S.A.

CAPALeYa, S.A.

IMPRESSÃO E ACABAMENTOSEigal

Reservados todos os direitos. É proibida a reprodução desta obra por qualquer meio (fotocópia, offset, fotografia, etc.) sem o consentimento escrito da Editora, abrangendo esta proibição o texto, a ilustração e o arranjo gráfico. A violação destas regras será passível de procedimento judicial.

LUANDA, NOVEMBRO DE 2016 • 1.a EDIÇÃO 1.a TIRAGEM (500 exemplares)Registado na Biblioteca Nacional de Angola sob o n.o 7693/2016

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA (CEIC/UCAN)

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

Alves da RochaArne Wiig (CMI)Ana Duarte (ISP Lusíada Benguela)Regina SantosFernando PachecoFrancisco Miguel PauloLuís BonfimIvar Kolstad (CMI)

GRUPO DE APOIO

Carlos VazVissolela GomesWilson da SilvaPaxote Gunza

DISPONÍVEL NO SITE

www.ceic ‑ucan.org

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APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 7

Capítulo 1: Considerações teóricas e evidências empíricas ................................................. 111.1 Algumas considerações teóricas ................................................................................. 111.2 Mais considerações teóricas (export diversification) .................................................. 17

1.2.1 Measures of export concentration (diversification): the main indicators ......... 171.2.1.1 Herfindahl index .................................................................................... 181.2.1.2 Theil index ............................................................................................. 181.2.1.3 Gini index ............................................................................................... 20

1.2.2 Drivers of diversification .................................................................................... 211.2.3 The importance of export diversification .......................................................... 23

1.3 Algumas evidências empíricas .................................................................................... 28

Capítulo 2: Experiências internacionais ............................................................................... 342.1 A desindustrialização no mundo ................................................................................. 342.2 Os coeficientes de transformação estrutural: algumas comparações africanas ......... 412.3 Experiências internacionais (Coreia do Sul, Malásia e África do Sul) .......................... 53

2.3.1 Experiência da Coreia do Sul ............................................................................. 532.3.1.1 A estrutura da economia ....................................................................... 532.3.1.2 A intervenção do Estado ........................................................................ 542.3.1.3 Investindo na educação ......................................................................... 542.3.1.4 Foco da política industrial ...................................................................... 552.3.1.5 Promovendo as exportações ................................................................. 552.3.1.6 Promovendo indústrias nascentes ......................................................... 562.3.1.7 Compromisso político ............................................................................ 562.3.1.8 Possíveis lições para Angola .................................................................. 56

2.3.2 Experiência da Malásia ...................................................................................... 592.3.2.1 Diversificando o sector agrícola ............................................................. 602.3.2.2 Políticas de substituição de importações e promoção de exportações ...... 612.3.2.3 Possíveis lições para Angola .................................................................. 62

2.3.3 Experiência da África do Sul .............................................................................. 632.3.3.1 Estrutura da economia .......................................................................... 652.3.3.2 Estratégias e políticas económicas adoptadas ....................................... 662.3.3.3 Formas de financiamento ...................................................................... 702.3.3.4 Possíveis lições para Angola .................................................................. 72

2.4 Políticas de diversificação de alguns países africanos ................................................. 73

Capítulo 3: Processo de industrialização de Angola ............................................................ 823.1 Experiência colonial .................................................................................................... 82

3.1.1 Processo de industrialização .............................................................................. 85

ÍNDICE

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3.1.2 As transformações estruturais entre 1960 ‑1973 ............................................... 883.1.3 A industrialização antes da independência ....................................................... 95

3.2 A indústria transformadora depois da independência ............................................... 1013.3 Causas da desindustrialização em Angola depois da independência ......................... 1123.4 As políticas económicas e a diversificação económica em Angola

desde a independência ............................................................................................... 1153.4.1 Período 1975 ‑1992 ............................................................................................ 1223.4.2 Período 1993 ‑2002 ............................................................................................ 1303.4.3 Período 2003 ‑2008 ............................................................................................ 1363.4.4 Período 2008 ‑2010 ............................................................................................ 1413.4.5 Período 2010 ‑2011 ............................................................................................ 144

3.5 Apelos e condições para a reindustrialização com diversificação da economia ......... 1493.5.1 A posição estratégica do sector da energia e águas para

a reindustrialização e diversificação da economia nacional .............................. 1603.5.2 Policies of diversification in Angola ................................................................... 162

Capítulo 4: O estado da diversificação da economia nacional ............................................ 1644.1 Looking at macroeconomics fundamentals ................................................................ 1644.2 The structure of the economy .................................................................................... 168

4.2.1 The GDP’s structure ........................................................................................... 1684.2.2 The export structure .......................................................................................... 1694.2.3 Angola’s main trade partners in the exports ..................................................... 174

4.3 A concentrated economy ............................................................................................ 1764.3.1 Concentration increased after the end of the civil war ..................................... 1784.3.2 Concentration has been increasing since independence .................................. 1804.3.3 Why diversify? ................................................................................................... 180

4.4 Export concentration index (Herfindahl index) ........................................................... 1814.5 Indicadores de diversificação da economia nacional .................................................. 1864.6 O papel de alguns sectores de actividade na diversificação da economia ................. 189

4.6.1 Agricultura, pecuária e florestas ........................................................................ 1914.6.2 Indústria transformadora e indústria petrolífera ............................................... 1944.6.3 Transportes ........................................................................................................ 199

Capítulo 5: Diversification, income and democracy, a descriptive overview ...................... 2035.1 Introduction ................................................................................................................ 2035.2 Relation to literature ................................................................................................... 2055.3 Empirical strategy and data ........................................................................................ 2085.4 Results ........................................................................................................................ 2105.5 Conclusion .................................................................................................................. 211

Bibliografia ............................................................................................................................ 213

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O CEIC tem em desenvolvimento há cerca de 6 anos um projecto de pesquisa sobre a diversi‑ficação da economia nacional, em parceria com o Christian Michelsen Institute (CMI) de Bergen, Noruega, com a finalidade de:

• Caracterizar o processo de industrialização e de desenvolvimento da agricultura e identi‑ficar os factores e transformação ou de bloqueio para a alteração estrutural e sustentável da estrutura económica do país.

• Qualificar a economia diversificada: qual o indicador mais relevante (concentração das exportações, malha intersectorial interna pouco densa, distribuição sectorial do PIB e do emprego, etc.)?

• Determinar os coeficientes e índices que medem as transformações sectoriais em direc‑ção a uma economia diversificada.

• Estudar e descrever as políticas económicas nacionais desde a independência (nos domí‑nios monetário, orçamental e fiscal, investimentos público, agricultura, indústria, etc.) até 2012, no sentido de se perceber o seu cunho diversificador da economia angolana.

• Compreender a relação entre política e diversificação económica: menor concentração e maior multiplicação da actividade económica geram, de facto, uma classe média em‑preendedora? Suficientemente independente do poder político? Se sim, o processo de diversificação sai beneficiado ou prejudicado, atendendo à circunstância de em Angola o seu regime ser internacionalmente classificado de autoritário? Ou seja, um poder político autoritário e concentrado num círculo restrito de família partidária estará interessado na diversificação da economia e na sua sustentabilidade, se isso equivaler a uma perda de influência, de oportunidades de enriquecimento e de poder político e económico?

• Estudar e compreender algumas experiências internacionais relevantes sobre diversifica‑ção e os respectivos processos em matérias como estrutura económica diversificada, polí‑ticas expressamente implementadas para favorecê ‑la, etc.

• Tentar quantificar os custos da diversificação em termos de investimentos totais – priva‑dos e públicos, nacionais e estrangeiros – a realizar durante o seu processo temporal.

• Identificar os principais actores do processo de diversificação e o seu peso relativo: Esta‑do, trabalhadores, empresários e empresas, sector bancário e financeiro, instituições de pesquisa, instituições da sociedade civil, etc.

APRESENTAÇÃO

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A identificação deste projecto de pesquisa ocorreu no âmbito da elaboração dos estudos para o Relatório Económico de 2009 e teve como razões:

• Degradação da estrutura da indústria transformadora desde a independência e em espe‑cial durante o período de maior agudização da guerra civil.

• Degradação dos índices de transformação interna de matérias ‑primas e produtos de base e de agregação de valor nacional.

• Análise temporal do comportamento do preço e da procura mundial de petróleo – com base, entre outras fontes, na BP Statistical Review of World Energy de vários anos – para se perceberem os efeitos nefastos para Angola duma excessiva e quase única origem do rendimento nacional.

• Curiosidade em se conhecerem processos de diversificação em países produtores e inicial‑mente dependentes do petróleo ou outro recurso natural não renovável. E neste aspecto a Noruega foi sempre o país de referência.

• Necessidade de se anteciparem visões estratégicas quanto ao devir económico e produti‑vo do país, propondo ‑se soluções pós ‑petróleo, das quais a diversificação das exportações é uma delas.

No projecto de investigação do CEIC os pontos essenciais do estudo projectaram ‑se sobre matérias económicas e de políticas económicas. Por exemplo, não foi, por enquanto, dado o devido relevo ao capital humano, matéria que os estudos sobre experiências internacionais de diversificação analisadas revelaram ser decisivas para a sua sustentabilidade. São conhecidos casos de algumas economias do sudeste asiático onde os planos estratégicos para o capital humano tiveram a duração de 50 anos, estando hoje em revisão e actualização para mais meio século. Por aqui se percebe que acções de valorização do capital humano são centrais em áreas como a educação primária, secundária e terciária, a formação profissional e a reciclagem de força de trabalho, a alfabetização da população, a melhoria da qualidade dos serviços de saúde e a generalização do seu acesso, o controlo das doenças endémicas, etc. Da aprendizagem que o CEIC retirou deste estudo e investigação sobrou o seguinte: há uma boa e uma má diversi‑ficação. A boa é a que se centra num modelo de competitividade de altos salários e elevada produtividade. É o modelo que funciona em contextos de economias abertas e de globalização crescente das forças produtivas nacionais. A má diversificação é alicerçada em salários baixos, produtividades incompetitivas e num mercado doméstico fechado e protector de interesses das elites económicas e políticas. A mais ‑valia retirada é à custa da exploração da força de trabalho, impreparada para resistir a estratégias empresariais de obtenção de lucro fácil e rápido. Nestes casos, a inserção externa das economias é feita com o apoio de subsídios à exportação, conde‑nados pela Organização Mundial do Comércio.

A forma directa, incisiva e eficaz de as empresas petrolíferas estrangeiras contribuírem para a diversificação económica em Angola é a do investimento em actividades produtivas

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desligadas do petróleo (aliás, deve ser sublinhado que, face às perspectivas de comporta‑mento descendente do preço do petróleo e da sua estabilização, por um bom par de anos, na vizinhança de 75 dólares o barril, a diversificação produtiva também se coloca às próprias companhias petrolíferas, podendo encontrar ‑se uma convergência de interesses e estratégias económicas que valorizem o processo de diversificação em Angola). Algumas experiências estudadas pelo CEIC apontam no sentido de serem a agricultura e a manufactura as áreas de eleição dos países interessados e vivenciadores do processo de alteração estrutural e compe‑titiva dos seus sistemas produtivos. Não constitui propriamente uma novidade, por se tratar de actividades muito melhor posicionadas na malha de relações intersectoriais, de cuja maior ou menor densidade depende o sucesso e a rapidez da diversificação. Ainda que moderna‑mente se tenha do sector industrial uma visão mais ampla e abrangente do que a tradicional (Colin Clark) – incluindo ‑se a prestação de serviços industriais – o convencimento é de que os resultados são muito mais ricos e transcendem o que hoje em dia se convencionou apelidar de local content.

Fora destas áreas podem ‑se considerar, e a experiência internacional estudada por nós valida esta apreciação, aspectos relacionados com a responsabilidade social das empresas de grande porte e traduzidas, sobretudo, em acções de natureza social junto das comunidades civis dos aglomerados populacionais onde a actividade das empresas estrangeiras mais incide. Ainda que existam visões críticas sobre a efectiva "vontade" de inserção social das grandes empresas – como em Economia não há almoços grátis e também pelo facto de o objectivo das entidades empresariais ser o da obtenção do máximo lucro, a repercussão, imediata ou mediata, sobre os preços dos bens e utilidades tem sido a forma encontrada de evitar montan‑tes menores de lucros – o que é facto é que, em maior ou menor extensão, a responsabilidade social das empresas parece ser hoje uma realidade visível. Não foram encontrados relatos espe‑cíficos da relação entre responsabilidade social das empresas e diversificação da economia.

Nos seus estudos, o CEIC verificou diferentes situações em alguns países. Naqueles onde as economias ainda se encontravam ‑por ‑fazer, mas com vontade política determinada para se abraçar um processo desta envergadura, foram adoptadas Agendas para a Diversificação e, em alguns casos, criadas agências nacionais com a responsabilidade de dinamizarem e coor‑denarem o processo de alterações estruturais, sempre na acepção doutrinária da primazia da liberdade económica e da prevalência do sector privado. Noutras experiências, a condução do processo foi deixada a duas ou três instituições públicas relacionadas com as actividades envolvidas na diversificação e com as políticas macroeconómicas. São casos de economias de mercado já em fase de consolidação de estruturas produtivas e institucionais, onde as institui‑ções existem e funcionam no seu sentido sociológico e político. Em Angola, como se sabe, ainda não foram completamente dirimidas as fronteiras, os equívocos e as sobreposições entre os Ministérios do Planeamento e Ordenamento Territorial, da Economia e da Indústria no concer‑nente à responsabilidade de condução do processo de diversificação da economia. Estes Minis‑térios, aos quais se junta o da Agricultura e Desenvolvimento Rural, são os pivôs da estratégia

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de diversificação económica do país na componente das políticas públicas mais próximas dos sectores e das empresas e das suas associações representativas, como a Câmara de Comércio e Indústria de Angola (CCIA) e a Associação Industrial de Angola (AIA). Mas também estes con‑glomerados empresariais costumam apresentar um pensamento sobre a diversificação, que retrata a sua visão, predominantemente comercial e de curto prazo, sobre a matéria. A sua óptica é sobretudo proteccionista, equivalente aos modelos de substituição de importações implementados em alguns países da América Latina nos idos anos de 50 e 60 do século passado (CEPAL, Raul Prebisch, Celso Furtado, André Gunder Frank, Paul Baran, Charles Betelheim, etc., da escola da Nova Ordem Económica Mundial dos anos 60 e 70) e, portanto, bastante desajus‑tados às realidades da Nova Economia e da Globalização. Porém, são instituições que têm um pensamento sobre a matéria, o que é relevante, havendo, consequentemente, de organizar encontros, palestras, seminários, ateliers de trabalho, etc., para se inculcar um novo espírito de maior abertura à concorrência internacional.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

CAPÍTULO 1: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS

Alves da Rocha Francisco Paulo

Desde 2009 que o CEIC se tem preocupado com as questões relacionadas com a diversifica‑ção da economia nacional e com os processos e estratégias mais adequadas, tendo em conta as experiências conhecidas de sucesso. No seu Relatório Económico de 2008 foi, pela primeira vez, reservado um parágrafo para este tema. A importância e relevância da diversificação deram origem a um projecto de pesquisa que se desenvolve desde 2010 e que em 2011 teve o envol‑vimento do Christian Michelsen Institute de Bergen (Noruega) através da constituição duma equipa conjunta de investigadores angolanos e noruegueses. A abordagem deste capítulo no Relatório Económico de 2012 é parte do resultado dessa investigação.

A pesquisa que o CEIC tem em mãos sobre a diversificação da economia angolana – com uma importante colaboração do CMI nas pessoas dos Professores Ivar Kolstad e Arne Wiig – tem como um dos seus aspectos de maior relevância o estudo sobre as políticas e as estratégias económicas anunciadas e implementadas, antes e depois da independência.

1.1 Algumas considerações teóricas

Alves da Rocha

A diversificação da economia é considerada como a melhor estratégia para resolver os problemas criados pela dependência dos recursos naturais, conhecida na literatura econó‑mica como "the natural resources curse”1. Em particular, a diversificação da estrutura econó‑

1 Naturalmente que é muito melhor os países possuírem recursos naturais, renováveis e não reno‑váveis, do que não detê ‑los. A amplitude de alternativas de crescimento e desenvolvimento econó‑mico que tal circunstância permite é enorme. A questão está no modelo de utilização das receitas provenientes da sua exploração, em particular daqueles que são exportados. As evidências empí‑ricas demonstram que as elites políticas as usam em proveito próprio e sem aplicações economi‑camente rentáveis. A desigual repartição do rendimento e a excessiva concentração da riqueza em Angola são um caso flagrante da influência perversa das receitas petrolíferas e diamantíferas. Por‑tanto, este é que é o problema e não o facto de se ter recursos naturais. A diversificação só será uma estratégia correcta se os mecanismos de reprodução das desigualdades sectoriais e pessoais se não transferirem para o cerne do processo de se tornar a estrutura económica mais abrangente, em ter‑mos de actividades, regiões e pessoas. Se assim não for, então a diversificação – financiada com recur‑sos financeiros originários dos sectores de enclave – acabará por ampliar as assimetrias causadas pelo “resources curse”. Os instrumentos anunciados pelo Governo para promover a diversificação da economia nacional pecam, justamente, por trazerem em seu bojo os mecanismos corruptos duma reprodução de recursos típica da maldição dos recursos naturais. Os pólos industriais/regionais, as zonas económicas especiais – formas típicas de intervenção aprendidas da Teoria dos Pólos de

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mica e produtiva dos países tem como propósito contrariar os efeitos da doença holandesa identificados em muitos estudos e países. Consiste, como se sabe, em distorções ao nível dos preços internos de alguns factores de produção e produtos e do crowding ‑out sobre o sector da indústria transformadora. Os elevados desníveis entre os valores da produtividade bruta aparente do trabalho das actividades de rent ‑seeking (voltadas para o exterior) e as que trabalham para um mercado interno sem grande capacidade de endogeneização e poder de compra são uma das piores consequências, fazendo com que o crescimento económico se torne desequilibrado.

Estudos recentes têm vindo a enfatizar a influência dos mecanismos políticos perversos (tráfico de influências e corrupção) sobre as causas e as incidências da maldição dos recursos naturais.

Para se avaliar a importância da diversificação económica no enfrentamento desta maldição dos recursos naturais, a relação entre diversificação e instituições é muito importante, devendo certos códigos de conduta política, como a transparência e a boa governação, fazer parte intrín‑seca da cultura administrativa e dos processos de afectação de recursos.

O padrão de diversificação duma economia pode ser analisado em diferentes níveis da cadeia de valor (leia ‑se valor agregado interno): substituição de importações (pela via de eficiência e não por mecanismos administrativos de protecção, que só geram burocracia e corrupção)2, a produção de produtos intermédios, a valorização dos recursos humanos nacionais (redução da dependência de expatriados), a inovação tecnológica (no mínimo uma “cópia criativa” à boa maneira japonesa e chinesa), o aproveitamento das matérias ‑primas nacionais e o destino das exportações.

Além disso, pode medir ‑se a diversificação em termos de fontes de receitas públicas e o modo como o rendimento é distribuído.

Em todos os níveis em que a diversificação é abordada, o sucesso do seu processo tem de implicar a redução do seu contrário, ou seja, um menor nível de concentração3.

A conciliação entre a diversificação e a redução do desemprego pode, à partida, ser difícil ou apresentar zonas de trade ‑off. A razão radica no facto de a diversificação da economia apelar

Desenvolvimento Regional de François Perroux – e outro tipo de intervenções são correctas e só não desencadeiam os efeitos que a ciência económica lhes reconhece quando forem poluídos e inquina‑dos pela intervenção política perversa.2 A protecção aduaneira da indústria nascente está amplamente estudada na Economia Internacional e os casos em que tal procedimento é aceite estão perfeitamente tipificados e analisados. Nesta Teo‑ria não se aborda a protecção aduaneira ou administrativa da indústria infante duma forma generali‑zada, como a melhor forma de se promover este vector da diversificação da economia.3 Para as duas situações existem indicadores estatístico ‑económicos para as medir. No capítulo 4.5 é feita essa medição para Angola.

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a uma forte componente externa (exportação) nos casos de dimensão doméstica do mercado fraca e pouco geradora de economias de escala. Esta componente externa do processo é apela‑tiva de elevada produtividade e competitividade, donde a sua capacidade de empregabilidade ser reduzida. Então, talvez o modelo mais ajustado seja o denominado “ambidextro”4: dum lado, estimula ‑se a inovação, o progresso tecnológico, a qualificação do novo capital humano e melhora ‑se na escala de valor e, do outro, apoia ‑se a competitividade pelos custos – baseada em baixos salários – nos segmentos que podem absorver os recursos humanos menos qualificados, protegendo ‑se, assim, o emprego.

Há ainda a conciliação entre a diversificação da economia e a sua integração económica regio‑nal, no contexto da qual se tem de assegurar o cumprimento de metas de convergência macroe‑conómica que limitam o uso de instrumentos nominais de competitividade aparente da economia. Por exemplo, a adopção duma moeda única (abolição da taxa de câmbio como ferramenta de controlo da inflação e de impulso ao aumento das exportações e diminuição das importações) consequencializa, necessariamente, um abaixamento nas taxas de juro, estímulo ao aumento da produção e do consumo. Se a produção sofre de alguma rigidez no curto/médio prazo – como é normal – o incremento do consumo (melhoria das condições de vida das pessoas através da aquisição de habitação, viaturas, electrodomésticos, bens de consumo final não duradouro, bens culturais, etc.) pode colocar em risco o respeito da convergência macroeconómica. A abolição da taxa de câmbio, nestas circunstâncias, se não for acompanhada duma flexibilização do mercado de trabalho, introduz desequilíbrios graves nas contas internas e nas contas externas.

No quadro dos avanços da globalização, algumas economias – em especial as menos estrutu‑radas e menos desenvolvidas – confrontam ‑se com a concorrência de algumas economias emer‑gentes muito dinâmicas, como a China e a Índia. Estes países surgem a disputar os segmentos de mercado de baixa ou média tecnologia, onde se movimenta a quase totalidade dos países africanos subsarianos, eventualmente com excepção da África do Sul e Maurícias. Só que com uma diferença substancial: os custos de produção/exportação dessas economias emergentes são, em vários segmentos de produção, bem mais baixos do que os apresentados por esses países africanos. Razões: elevados custos de contexto (inflação alta, excesso de burocracia, acen‑tuada corrupção, sistema judicial pouco eficiente, mão ‑de ‑obra não qualificada, etc.), falta de infra ‑estruturas, acesso restrito ao crédito, sistemas de distribuição de energia deficientes, etc. Assim sendo, estes países africanos subdesenvolvidos e necessitados de diversificar as suas eco‑nomias ficam confinados com o dilema de concorrerem pelos custos – tendo que empobrecer para o efeito, na medida em que os salários têm de ser baixos e sujeitos a eventuais reduções futuras – ou de progredir na escala tecnológica e aumentar a sua produtividade (a única solução duradoura de melhorar o nível de vida, ainda que à custa dum certo desemprego). Os salários baixos são, também, os que podem ajudar a preservar o máximo de emprego.

4 Vítor Bento, O Nó Cego da Economia: Como Resolver o Principal Bloqueio do Crescimento Económico, Editora Bnomics, 2.a Edição, Novembro de 2010.

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Evidentemente que a solução desejável é a segunda anteriormente apresentada, ainda que os resultados palpáveis apenas aconteçam no médio/longo prazo, sendo, por isso, necessário começar já a traçar‑se estratégias concretas e a definir ‑se rumos viáveis. Mas o tempo não é a única restrição. A capacidade de financiamento é outra, seguramente mais determinante do que a primeira. Enquanto o petróleo existir e as economias desenvolvidas e as emergen‑tes necessitarem desta fonte primária de energia, Angola tem este problema resolvido. No entanto:

• A utilização das receitas daí advenientes tem de ser feita na base de outros critérios – de maior rigor económico e total transparência social – dando ‑se por acabado o processo ainda em vigor de rent ‑seeking.

• A aposta na valorização do capital humano tem de ter outros contornos e apresentar ‑se muito mais ousada e estruturante. Se assim não for, dificilmente a diversificação da eco‑nomia vingará e se evitará ter de competir externamente pelos custos, o mesmo é dizer, pela via de salários baixos e de valor agregado interno reduzido.

• A solução de médio/longo prazo enunciada não resolve o problema do emprego, porque a maior parte da mão ‑de ‑obra das economias africanas apresenta um perfil baixo de qua‑lificação produtiva, dificilmente reconvertível às exigências da solução tecnológica exigida pela diversificação e concorrência em mercados abertos.

O trade ‑off entre curto prazo e longo prazo em Angola coloca ‑se do modo seguinte:

• No curto prazo, terão de ser estritamente mantidos os equilíbrios financeiros conseguidos, ainda que dependentes em excesso do petróleo, e ganhar ‑se competitividade pelos preços, sendo para isso fundamental reduzir os custos de contexto acima enunciados. Esta abor‑dagem pode permitir a manutenção de ritmos de crescimento do PIB em redor de 7 ‑8% ao ano, com efeitos interessantes sobre a capacidade de geração de emprego e renda.

• No longo prazo, a rota é a do aumento sustentado da produtividade e da negociação dum contrato social sustentável de partilha justa dos ganhos da diversificação entre trabalho, capital e tecnologia. A sustentabilidade exige, simultaneamente, eficiência e crescimento económico, sem o qual não haverá novos recursos para distribuir.

• Os ganhos de eficiência podem, no entanto, ser exigentes em flexibilidade salarial e mobili‑dade laboral, premissas algo incompatíveis com um contrato social de pendor fortemente redistributivo. De resto, a elasticidade dos despedimentos é, adicionalmente, reclamada pela equidade inter ‑geracional, que pode pôr em causa o direito ao emprego permanente.

Outra matéria de enorme relevância relaciona ‑se com os termos de troca entre o sector transaccionável e o sector não ‑transaccionável da economia. A concorrência internacional exerce ‑se, como se sabe, sobre os bens transaccionáveis e como a diversificação da economia tem de ter um forte vector de internacionalização, fica evidente a necessidade de a alteração

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estrutural do tecido económico se alicerçar neste sector de actividade. Acresce que a com‑petitividade geral depende da relação de troca entre estes dois tipos de bens. A economia angolana está actualmente baseada num forte sector de transaccionáveis que é o petróleo em bruto. É um sector que obedece aos standards internacionais de competitividade. Com efeito, o preço de referência da actividade do petróleo é o preço internacional e não nenhum preçário nacional. Como se sabe, em termos de Economia Internacional, o preço competi‑tivo é o preço internacional, porque se assimila o mercado internacional a um mercado de concorrência perfeita, onde, portanto, os seus preços são os de eficiência. Mas se se retirar o sector petrolífero, a economia angolana fica órfã de um sector de transaccionáveis, no sentido competitivo do termo. É isso que a diversificação da economia tem de criar. Mas, atenção: a diversificação – o seu processo e as políticas e estratégias adequadas – não devem promover um sector não ‑petrolífero transaccionável baseado numa excessiva protecção (em tese baseado em qualquer protecção), porquanto isso equivale a falsearem ‑se as regras de concorrência internacional.

O sector não ‑petrolífero da economia angolana é constituído pelas seguintes actividades: agricultura, pecuária e florestas, pescas, manufactura, energia e águas, construção, extracção de diamantes, prestação de serviços não ‑mercantis (Estado) e serviços mercantis diversos (comér‑cio, transportes, actividades bancária, financeira e seguradora, telecomunicações, correios, etc.). Segmentando a economia não ‑petrolífera em dois sectores tem ‑se: sector transaccionável – agricultura, pecuária, florestas, pescas, diamantes, manufactura, actividades bancária, financeira e seguradora e telecomunicações; sector não ‑transaccionável – construção, energia e águas, transportes internos, algumas componentes do comércio interno e serviços não ‑mercantis. Em termos de PIB e para 2010, os valores envolvidos são: sector transaccionável da economia não ‑petrolífera – 23 260,2 milhões de dólares; sector não ‑transaccionável da economia não‑‑petrolífera – 19 295,9 milhões de dólares. Em 2003 os valores foram: bens transaccionáveis – 3273 milhões de dólares e bens não ‑transaccionáveis – 3566,7 milhões de dólares. A relação de troca foi de 3273/3567 = 0,92 em 2003 e de 1,21 em 2010.

Olhando para a estrutura económica dos países, em desenvolvimento e desenvolvidos, aprende ‑se que à medida que o rendimento nacional per capita aumenta, o peso relativo do sector industrial no PIB igualmente eleva ‑se5. Está ‑se a falar de um sector industrial em latu senso (incluindo as actividades de extracção mineira, normalmente geradoras duma renda importante, que, se aplicada em investimentos de diversificação, multiplica os efeitos sobre

5 A correlação pode ser circular, isto é, o aumento da importância relativa da indústria na actividade económica global, pelos efeitos multiplicadores sobre a renda e o emprego, conduz o rendimento per capita para cima. Mas se o incremento do PIB por habitante for conduzido por outros sectores – por exemplo, os de natureza mineral – o mercado assim criado constitui ‑se numa oportunidade (sobre‑tudo pelo lado da procura) para o lançamento e desenvolvimento de actividades manufactureiras, aumentando o seu peso relativo no PIB. Portanto, e deste estrito ponto de vista, pode dizer ‑se que a variação do rendimento médio é um dos factores de crescente industrialização dos países. Clara‑mente foi este o percurso da economia colonial angolana até 1975.

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o PIB por habitante). Perkins et al. (2001) sinaliza as condições para um arranque sustentado da indústria, afirmando o factor população/poder de compra nacional como essencial para o crescimento da indústria “nations with larger markets are able to develop a wider range of industries sooner in their development because they can take advantage of scale economies in the domestic market. Hence, we expect large countries to industrialize faster than small ones”. Este limite à industrialização não se fez sentir, em toda a sua extensão, na economia colonial de Angola, devido ao mercado alargado estabelecido entre Portugal e as restantes colónias, em especial o triângulo Portugal/Angola/Moçambique. No entanto, mesmo no âmbito das leis protectoras do mercado interno (como as derivadas da Lei do Condicionamento Industrial), pressentia ‑se que uma população total de cerca de 5 milhões de habitantes e um poder de compra médio de 300 dólares (a preços e câmbios de 1974) seria insuficiente para alavancar uma industrialização sustentada.

Ainda segundo Perkins, para os países grandes – em termos populacionais e de poder de compra – estudos internacionais e evidências empíricas diversas sinalizam uma forte correlação entre rendimento médio e participação da indústria no PIB. Com efeito e para a média dos países de grande dimensão, quando o rendimento por habitante passa de 1000 dólares para 5000 dólares, o valor acrescentado bruto da indústria aumenta de 13% para 22% do PIB. Mantendo o mesmo incremento no PIB por habitante, nos países de menor dimensão, o coeficiente de industrialização avança de 7% para 17% do PIB. Admitindo ‑se uma variação percentual anual do rendimento médio por habitante de 3% e um coeficiente de industrialização de 4,5%, seriam necessários cerca de 54 anos para se atingir um patamar de 22% do PIB.

O coeficiente de industrialização não cresce indefinidamente, começando a declinar algu‑res dentro do intervalo de rendimento por habitante compreendido entre 10 000 dólares e 20 000 dólares, passando os países a uma fase de sociedade de serviços. Os padrões de indus‑trialização revelados por diversos estudos empíricos – mormente do Banco Mundial – apon‑tam para a necessidade de o valor acrescentado bruto da indústria, em termos reais, crescer acima do PIB e as evidências empíricas conhecidas apontam para os resultados seguintes (período 1965 ‑1990)6: para o conjunto de países de baixa e média renda a manufactura cres‑ceu a 7,2% ao ano, comparados com 4,8% do PIB. No entanto, este padrão não é verificável para a maior parte dos países, quando analisados individualmente. Para um conjunto de 42 países em desenvolvimento, a indústria transformadora cresceu um ponto percentual acima do PIB em apenas 19 dentre eles.

6 Perkins, Dwight et al. (2001), Economics of Development, Fifth Edition, Norton & Company.

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1.2 Mais considerações teóricas (export diversification)

Francisco Paulo

Export diversification is a very important topic that interests not only policy makers, but also researchers and academics. Several papers and case studies (Heiko, 2008; Misztal, 2011; Carrère, Cadot, Strauss ‑Khan, 2011) have shown the importance of export diversification for the economic growth in some countries around the world, finding a positive relationship between export diversification and GDP per capita, showing that a decrease of the level of export concentration (increase in the level of export diversification) leads to an increase of GDP per capita.

In a volatile and uncertain world, countries with higher levels of export concentration are very sensible to any change in the international market affecting severely the economic situation of those countries regarding growth, revenues, employment, and poverty. Data from United Nations Conference on Trade and Development shows clearly that developing countries are the ones with higher export concentration levels and in turn with more volatile economic growth throughout the years due to the less export diversification, whereas developed countries have a more stable economic growth as result of having higher export diversification.

According to the UNCTAD database, Angola is one of developing countries with the highest export concentration in Africa, with the index of 0,971 in 2011 (measured by Herfindahl index). This index illustrates well how concentrated Angolan exports are! In fact, data from Angola Customs shows that oil represents more than 96% of the total export and if combined with dia‑monds the percentage goes up to 99%. Angolan exports depend entirely on oil and diamonds, with more emphasis on oil, which is not good for the economy. The price of oil, which is set in the international market, “command” the economic prospects of the country; if the price is high in a certain year, the economic growth is higher in that year, as occurred between 2004 and 2008, and lower if the price is low, fact that happened in 2009 and 2010.

1.2.1 Measures of export concentration (diversification): the main indicators

The body of literature on export diversification actually uses indicators from income‑‑distribution literature, that measure income concentration, to compute measures of export diversification. In fact, what is calculated by these indicators is export concentration and by extension is applied to measure export diversification taking into account that if the level of export of a given country is concentrated, it means that is not diversified; and inversely if the export level is less concentrated, it implies export diversification. In this regard, the most com‑monly used export concentration indexes in the literature are Herfindahl, Theil and Gini.

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1.2.1.1 Herfindahl index

This concentration index is the one used by the UNCTAD and is computed according to the following formula7:

where: Hj – Herfindahl export concentration index of a given country; xi – value of exports of product i.

where: X – stands for total value of export; η – number of products (SITC Revision 3 at 3 ‑digit group level).

Herfindahl index is normalized to range between zero and one. A value close to zero implies fully export diversification, whereas values close to one mean highly export concentration.

1.2.1.2 Theil index

This index is determined using the following formula:

where:

– average export value; n – total number of different products exported (num‑ber of export lines); xi – value of exports of product i.

Carrère, Cadot and Strauss ‑Khan (2011) argued that Theil’s index is of particular interest because: “it can be calculated for groups of individuals (export lines) and decomposed additi‑vely into within ‑groups and between ‑groups components (i.e., the within ‑ and between ‑groups components add up to the overall index)”8.

7 This formula was taken from http://unctadstat.unctad.org/TableViewer/summary.aspx.8 Cadot and Strauss ‑Khan (2011), p. 2.

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Therefore, Theil’s index is usually decomposed into two subindex, the within ‑ and between ‑ ‑groups. This decomposition helps to compute the concentration level that may exist within a specific export line (which is made up of different products of the same category) or the con‑centration level that may well exist between export lines.

Between groups:

Within groups:

,

where: Tj – Theil’s subindex for group j (j = 0,1); nj – the number of export lines in group j; μj – group j’s average export value.

To better understand the evolution of export diversification and how it occurs in general, the literature make distinction between what is called the intensive and extensive margins of exports. The intense margin, according to Hummels and Klenow (2005), is to export larger quantities of each existing good included in the current number of export line; in this case a country exports more volume of the products or goods that has been trading. In extensive margin, however, a wider set of goods, different from the existing goods, are exported; here, an economy produce and export new goods, increasing the number of export lines. Whereas in intensive margin, the number of export lines remains the same since what is being exported is the same product but in higher volume.

Hummels and Klenow’s Intensive and Extensive Margins

These two authors presented an effective way to measure the Intensive and Extensive mar‑gins of exports on their paper about “The Variety and Quality of a Nation’s Exports”, published in 2005. On this paper they came out with formulas to compute both the intensive and extensive margin. The formulas we are using on this session is in fact a version from Cadot et al. (2012), since on his paper the formulas are presented in more understandable way according to our purpose. Then, the formulas are the following.

Intensive Margin:

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Extensive Margin:

where: a – is a subscript standing for a given country; xak – the value of country a’s export of good

k; xwk – the world’s export of good k; Ga

1 – stands for the group of country a’s active export lines; m – total number of goods exported worldwide.

As regards intensive margin, the formula help us to know how much of the world’s export of a given good does a country export, that is, the share of this good in the world’s export of that good. The extensive margin, according to Hummels and Klenow, “can be thought of as a weighted count of country a’s active export lines relative to the world’s”9. Essentially this margin tells us “how much of the goods which country a exports counts in world trade”10.

If facts if we want to compute the country’s share in world trade, one can just multiply both margins, that is ( – Country’s share in world’s total exports).

1.2.1.3 Gini index

Gini index is wildly used in different fields of economics and other sciences. To measure export concentration using this index, it is just a matter of ordering the exports by increasing size and computing the cumulative export shares.

Export shares (s): ; Accumulative export shares: .

In this way, Gini Index will be:

This index ranges from zero to one; where a value close to one implies very high export concentration, consequently, very low export diversification. And value close to zero denotes export diversification.

Of all export concentration measures presented above, we are going to use the Herfindahl index in our study, as calculated by the United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), for the reason that availability of data concerning the other measures. UNCTAD com‑pute this index since 1995 and is available for countries and group of countries.

9 Hummels and Klenow (2005), The American Economic Review, p. 710, June 2005.10 Cadot et al., Survey Diversification, p. 6, 2012.

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1.2.2 Drivers of diversification

After presenting the main indicators used to measure export diversification, now is the time to review what the literature says about the possible drivers of diversification according to seve‑ral empirical studies done on this topic.

Agosin, Alvarez and Ortega (2012) on their working paper about Determinants of Export Diver‑sification around the World, found out the following factor as drivers of export diversification:

Human capital accumulation: according to their regression human capital, measured by years of schooling, contributes positively to diversify exports. This positive relationship is explained by the fact that the increase in the level of education tends to increase the levels of entrepre‑neurship and productivities of the workers, enabling a country to change its production pattern and in its turn the exports, “going from primary exports to manufactured goods and high ‑value services. In these latter two categories, the scope for diversification is likely to be higher”11.

Terms ‑of ‑trade: about this factor they found that improvement in terms of trade is more likely to concentrate export, but this concentration is lower for the countries with higher years of schooling. Hence, countries with higher education levels can take advantages of term of trade improvement to expand export lines by producing new products or goods and services that can result from the entrepreneurship spirit that levels of education generate.

Another empirical research done by Parteka and Tamberi (2008) on Determinants of Export Diversification12 using a panel dataset (from 1985 ‑2004) for 60 countries around the world, pre‑sents additional factors that drives manufacturing exports diversification at least in the countries included in the dataset; those factor are:

Country size (measured either by GDP or Population): their research revealed that, in gene‑ral, holding other factors constant, “an increase in country size by 1% can be associated with an increase in the degree of exports diversification by approximately 0,2%”. These results actually confirm that the bigger the population of a country is, greater is the likelihood of producing different goods due to the bigger internal market and diversity of tastes among the population; this also hold for the GDP since the richer a country is the higher is the possibility of producing and exporting different goods and services.

Easy access to main world markets: an economy that wants to export a diversity of products has to find mechanisms that easily enable it to get entrance to the markets; taking into account the trade is done in a world full of barriers of different types, it is crucial to explore mechanisms such as Unilateral, Preferential and Regional Trade Agreements in order to overcome trade barriers

11 Agosin, Alvarez and Ortega (2012), Determinants of Export Diversification around the World, 1962‑2000, p. 16.12 Parteka and Tamberi (2008), Determinants of Export Diversification: An Empirical Investigation, p. 20.

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that do not allow an easy access to markets. In this regard, Parteka and Tamberi (2008) found that increasing the distance to main markets can decrease the level of export diversification by approximately 0,2 ‑0,3%, showing that minimizing the distance definitely boost export diversity.

An additional contribution to literature regarding drivers of export differentiation comes from the paper Trade Diversification: Drivers and Impact by Cadot, Carrère and Strauss ‑Kahn (2011). Using a panel dataset of 87 countries from 1990 ‑2004, they run a regression that enable them to see among several factors which factors contribute to the reduction of levels of export concentration. Thus, they presented the following factors:

Quality of infrastructures: infrastructures such as roadways, paved roads, telecommunica‑tion lines, ports and airports, good transportation networks play a key role in determining the diversity of products to be exported; exporting several goods demands for good infrastructures that can smooth the process of export differentiation. Concerning this factor their estimates reveal that “a 10 per cent increase in the infrastructure index decreases the Theil’s index (export concentration measure) by about 0,7 per cent”13. This implies that better infrastructure quality boosts indeed export diversification. Knowing that a country has infrastructures that make pos‑sible producers to export their products smoothly, motivate the enterprises to produce and export different products.

Quality of Institutions: on his own a producer cannot export products directly without an assistance from both public and private institutions constituted to promote and facilitate the exports, such as: the governmental ministers related to the products subject to export, the customs, the customs brokers, the chambers of commerce, the export and import banks and so on. If these institutions do work in effective way (by reducing to the minimum the level of bureaucracy, being quick in the approval of the processes, being interested in and committed to the economic policies aiming at export diversification and supporting the export of new goods or products either from existing producers or from new ones), they are fine instrument to drive export diversity. Clearly the good quality of institutions has a positive impact on diversification, being capable of reducing the level of export concentration.

Unilateral trade liberalization: it is often said that liberalizing unilaterally the trade can cause harm to the economy since this will increase the imported goods within the economy provoking a deficit in the balance of trade. Remarkably Cadot et al. study revealed that the unilateral trade liberalization combine with the years of schooling increase export diversification. This occurs through the impact that the imported goods can have on the total factor productivity at the firm level, since firms with skilled and educated workers tend to learn from imported goods unders‑tanding how this products are made and what can be done differently. Consequently, “import liberalization can be taken as a positive shock on TFP, which should raise the number of industries

13 Cadot et al. (2011), Trade Diversification: Drivers and Impact, p. 267.

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with an upper tail of firms capable of exporting – and thus raise overall export diversification”14. Therefore if a country wants to diversify its exports should fear the short side effect of unilate‑ral trade liberalization, considering that if the country has high levels of education among the population can benefit from imported goods which has a positive effect on TFP and in its turn contributes to export diversification.

John Page (2008) points out another important aspect or factor that plays a crucial role in the process of diversifying the exports through the expansion of the extensive margin, which is, creating new export lines by promoting the production and exports of new goods. He calls this factor:

A good investment climate – entrepreneurship flourish within an appropriate business environment that permits the smoothly doing of business and the creation of new firms or companies being it small, medium or large. To promote export diversification, the governments must strive to provide a good investment climate to every economic agent in the economy, by reducing to the minimum the risks and costs associated with corruption, political instability, sovereign risk, bad economic policies, and legal enforcement of the laws. In view of the fact that international investors usually look for countries and markets where there is excellent investment climate, and not too expensive to open and start new business, governments can attract new investors to invest in the production of new goods and incentive them to export the rest to other markets.

1.2.3 The importance of export diversification

An African popular proverb says “it is important and necessary not to sow only one type of crop, because if it fails the entire village will severely be affected and suffer”. This proverb helps us to see how important and crucial it is for a country not to rely only on one export product or to concentrate its export on few goods in these uncertain and turbulent times that we are living today, although the classical theory of David Ricardo (1817) pointed out that every coun‑try should specialize and concentrate on producing and exporting the goods where it has the comparative advantages in comparison to its trade partners15.

The theory of international trade started by Adam Smith (1775) in his classic book The Wealth of Nations and developed in details by Ricardo (1817) on his book The Principles of Political Economy and Taxation, (where he formulated the law of comparative advantages and gave the classical example of Portugal and England about the production and export of wine and cloth by the two countries and argued that since Portugal has comparative advantages in producing wine over England it should focus on this product and England on other hand on the production of clothes since it had comparative advantages over Portugal), and extended in modern times

14 Cadot et al. (2011), Trade Diversification: Drivers and Impact, p. 269.15 Of course Ricardo develops his model in a static environment.

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by the Heckscher ‑Ohlin ‑Samuelson theory, urges the nations to focus their efforts on producing and exporting goods and services in where they have comparative advantages over their trade partners.

However, the international trade theory does not imply that the nations should not differen‑tiate exports by producing and exporting diversified sets of goods and services. The lack of comparative advantage should not hold back a country to produce and export different products taking into account one can learn to improve the efficiency in production by not holding back but yes, by producing. Besides, there are sound and valid reasons why a country should endeavour to make an effort to diversify its export and not to concentrate it on few products.

The literature on export diversification presents several reasons and some stylized facts why a country should strive to diversify its exports, among them: first of all the positive effect export diversification has on GDP per capita; second the role of export diversification as a hedge against sectoral fluctuation or volatility; third, the impact of export diversification on natural resources curse or Dutch Disease; and finally the effect of export diversification on democracy improvement.

We will now examine each of the above mentioned reasons to see how important export diversification is and why countries should set economic policies aiming at it.

First reason: export diversification has a positive effect on GDP per capita

In theory, a country which diversifies exports produces more different goods and services with the same number of workers and thereby or in doing so, it increases the gross domestic production per capita. In fact this does not occur in a linear way, since according to Imbs and Wackziarg (2003) the relationship between export concentration (measured by Gini Index) and GDP per capita plotted graphically has a U ‑shaped curve. They argued that decreasing export concentration (which implies the increasing export diversification) leads to an increase in the level of GDP per capita up to certain amount (a threshold that they computed ranging between 9 to 11 thousand USD) from which a country starts to specialize in exporting some goods and services which will lead to concentrate the export again.

Also Hesse (2008) in his working paper found out an empirical evidence of a positive effect of export diversification (concentration) on GDP per capita growth. According to him the “effect is potentially nonlinear with developing countries benefiting from diversifying their exports in con‑trast to the most advanced countries that perform better with export specialization”16.

A more recent empirical research done by Misztal (2011) concerning export diversification and economic growth in European Union member states concluded that “during the years 1995

16 Hesse, H., 2008, Export Diversification and Economic Growth: Commission on Growth and Develop‑ment, Working Paper N.o 21, page V.

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to 2009 export diversification (concentration) was one of the most important factors that deter‑mined the level of GDP per capita in the EU” 17. He found that the impact of export concentration on changes in GDP per capita was about 0,33 and that more than 30% of the variability of income per capita in the EU was due to the changes in the index of export concentration. It is important to highlight that in the particular case of the EU countries, he did not find a U ‑shaped curve, as Imbs and Wickziarg did in 2003, but yes, a W ‑shaped curve, which meant according to him, during 1995 to 2009 that “the exports diversification increased in countries of EU with relatively low GDP per capita, while the exports concentration increased in countries with relatively high GDP per capita”18. Regarding the income per capita threshold beyond which the countries of the EU he studied increased their level of export concentration was 6000 USD for the poorest countries and about 20 000 USD for the richest countries of the EU.

Thus, it’s crucial to diversify exports (reduce export concentration index) in order to have a higher level of GDP per capita growth and to generate more income for the populations in the economy.

Second reason: export diversification can serve as a hedge against economic growth volatility

The world statistics on economic growth show us clearly that the growth rates, throughout the past century, of poor countries around the world are more volatile and unstable vis ‑à ‑vis to those of the rich and more developed countries. Why is this so? Why do poor countries face greater fluctuation and instability of growth than the rich countries? The answer to this ques‑tions helps to see how important diversification is.

Koren and Tenreyro (2007) on their paper on volatility and development19 did a volatility accounting analysis in order to find out the source of the growth volatility in poor countries. They presented three main reasons, one of them being that the less developed countries concentrate their production in fewer and more volatile sectors and very often the sectors where they specia‑lize in are affected by aggregate shocks either internal (due to country specific risk such as political instability or even macroeconomic policy) or external (coming from the international markets). They concluded that almost 50% of volatility that poor countries experience is for the reason that they concentrate or specialize in fewer and more volatile sectors. This does not occur with rich countries since they have a more diversified economic structure which allows them to have a more diversified export structure.

So, Koren and Tenreyro (2007) showed that by having a diversified economic structure (which in its turn leads to a diversified export structure) developed countries are able to shield

17 Misztal (2011), Export Diversification and Economic Growth in European Union Member States, Oeconomia 10 (2) 2011, p. 63. 18 Ibid.19 This paper was published in the Quarterly Journal of Economics, pp. 243 ‑287, February 2007.

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themselves against economic growth volatility and sustain their economic development. Less developed countries, if they want to protect themselves from the growth instability that they have being facing throughout the years, should strive to diversify their production structure by producing and exporting new products and not relying only on their fewer and volatile existing production sectors which are the main source of their income.

The international financial and economic crisis that affected and is still affecting the world in current days was a wakeup call for all countries and particularly for the poor ones to diversify their economies and exports if they do not want to pass through the same experience again in the years to come. Countries with a more diversified economic structure were less affected by this crisis, revealing clearly that diversifying the export structure is indeed a protection or shield against economic volatility and poor countries are urged to do so if they want to have a less volatile and sustainable economic growth and development.

Third reason: the positive impact that export diversification might have on the fight against natural

resources curse and Dutch disease

It is well documented in the economic literature, through statistic data and empirical researches, how most of resource ‑rich countries all over the world20, especially in South Ame‑rica and in Africa, have tended to fail to grow fast and steadily despite the natural resource abundance that they have. This phenomenon is called natural resources curse due to fact that the resources in this countries, instead of boosting a sustainable economic growth, are actually viewed as detrimental to the growth. Sachs and Warner (1995), in their working paper entitled Natural Resources Abundance and Economic Growth, documented what they called a statically significant evidence of the negative relationship between natural resource intensity or concen‑tration and subsequent economic growth, consequently confirming empirically the theory of natural resources curse.

Other phenomenon linked to natural resources curse is the Dutch disease that for some is viewed as one of the causes of the natural resources curse since this so called disease is the crowding out of the non ‑natural resources sectors of the economy, such as the manufacturing industry, caused by the increase of the real exchange rate and wages driven by the increase of the revenues from natural resource exports, damaging in this way the other productive sectors of the economy. However, Frankel (2010) argued that viewing the Dutch disease like this we are in effect referring to natural resources curse.

20 Of course with exception of countries such as Australia, Botswana, Chile, Canada and Norway, that although riches in natural resources, were able to be “growth winners” by taking full advantages of their resources to diversify their economy and maintain in this way a steady and sustainable eco‑nomic growth with striking contrast with other countries such as Angola, Bolivia, Democratic Repu‑blic of the Congo, Nigeria, Zambia, Saudi Arabia and Venezuela. Mehlum et al. (2006), Institutions and the Resources Curse, in the Economic Journal, 116 (January), pp. 1 ‑20.

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In view of the damaging effect that natural resources curse and Dutch disease have on the economic growth, what role can a diversification of the economic structure have in counterac‑ting this effect? Well, Matsuyama (1992), in his paper where he formalized a model of endo‑genous growth that demonstrated the relation between agricultural productivity and growth, gives the intuition that the manufacturing industry is characterized by learning by doing and this implies that a diversification out of extractive industry (of natural resource endowment) into other economic sectors such as services and manufacturing industries could help boost a sustainable economic growth.

For this reason, export diversification if taken seriously can be used as a valid reason to set economic policies aiming to promote export differentiation through the targeting of economic structure diversification by using the revenues from the natural resource exports to strengthen and support the no ‑commodities sectors of the economy. A well or fairly diversified economy, and consequently export structure, can be viewed as a shield against the tendency of allowing the revenues coming from the extraction of natural resources to hinder and crowd out the other sectors of the economy. Policymakers in this case are forced to carefully ponder over the advan‑tages and disadvantages, not only in the short term, but also in the long ‑run for the economy as a whole of allowing the existence or presence of this harmful phenomenon in the economy. That’s why we argue that promoting export diversification can have a positive effect on the ruling out of resources curse and Dutch disease phenomenon’s in the economy.

Fourth reason: export diversification may help in the improvement of democracy

The transition from oligarchic (or dictatorship) institutions to democratic ones during the centuries was accomplished in some cases with the emergence of middle classes and their consequential economic empowerment from gradual participation in the ownership structure of existing economic activities and in new ones. Acecmoglu (2008) argued that the high levels of income distribution that may be obtained in democratic institutions are one of the attractive features of the democracy. According to him, democratic societies “may be better able to take advantage of new technologies”21 making it possible to start new businesses faster than in dic‑tatorship societies.

The extent to which diversification can lead to better democratic institutions needs to be carefully analysed in view of the fact that not all forms of diversification lead to better institu‑tions; this warning comes from Wiig and Kolstad22 (2011). These two Norwegian researchers argued that it is the pattern of industrial activity, in which an economy is centred on, which affects institutions like democracy rather than diversification per se, and where diversification

21 Acecmoglu (2008), Oligarchic versus Democratic Societies, Journal of the European Economic Asso‑ciation, March 2008 6(1), p. 1.22 Arne Wiig and Ivar Kolstad are both economists and senior researchers at Christian Michelsen Ins‑titute (CMI) of Norway.

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has a positive impact on institutions, in some cases diversification might be hard to accomplish when it intimidates the power of the ruling party or elite.

Although not all forms of diversification lead to enhanced democratic institutions, it is a fact that diversification increases the income per capita and if well distributed this will improve the economic capacity of the citizens which in its turn will more likely allow them to earn higher incomes and give them more power to demand or require changes in institutions that can bene‑fit all in the economy and not only the ruling elite. So, it is good to promote export diversification in view of its effect on the quality of institutions and economic democracy or liberalism.

1.3 Algumas evidências empíricas

Alves da Rocha

Conforme se referiu, muitos estudos foram e estão a ser elaborados sobre a diversificação económica no mundo, utilizando diferentes instrumentos estatísticos e económicos de enqua‑dramento e análise. Os casos que a seguir são reportados têm como variável de análise as exportações.

Uma visão geral da diversificação em alguns países da África Subsariana, ao longo dos últimos 25 anos, revela que:

• O nível de concentração das suas exportações aumentou entre 1995 e 2009. Neste mo‑mento, a África Subsariana é menos diversificada do que os países em desenvolvimento, em geral.

• Os principais exportadores de petróleo na África Subsariana, como Angola, Nigéria, Sudão, Guiné ‑Equatorial, Congo e Gabão, são os países que se apresentam com valores mais ele‑vados do índice de concentração das exportações.

• Também alguns exportadores de outros minerais, como a Zâmbia, denotam o mesmo de‑feito.

• Países sem acesso a grandes reservas de petróleo, tais como África do Sul, Quénia e Mo‑çambique têm uma estrutura económica com uma base mais diversificada.

Estes padrões podem ser reconhecidos na figura seguinte, onde a concentração de expor‑tação é dada no eixo vertical. Como a figura seguinte revela, Angola é o país menos diversifi‑cado (mais concentrado) da amostra, seguido de perto por vários outros países produtores de petróleo23.

23 Estas conclusões são confirmadas mais adiante (capítulo 4) pelos indicadores específicos da diver‑sificação da estrutura económica interna.

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Figura 1 – Concentration of merchandise exports and democracy Sub ‑Saharan Africa (SSA), 2009

SOURCE: Wiig and Kolstad, 2012.

No eixo horizontal estão representados níveis de democracia para os países da amostra, medidos pela escala de democracia Polity IV, que varia de 0 a 10 e onde os valores mais elevados representam mais democracia.

Tal como a figura mostra, parece existir uma correlação entre mais democracia e menos concentração das exportações, embora alguns países fujam a um padrão fixo. Como quer que seja e tal como mais atrás se referiu sobre a ligação da política à maldição dos recursos natu‑rais, a diversificação da economia pode ajudar a melhorar os índices democráticos. Fica, ainda, por cabalmente se provar que mais democracia induz um maior índice de diversificação das economias.

Existem outras evidências empíricas baseadas em indicadores mais clássicos sobre os processos de diversificação. Foram seleccionadas algumas referentes a países produtores de petróleo e cen‑tradas na evolução dos pesos relativos da indústria petrolífera e da indústria transformadora no PIB.

Figura 2 – Petróleo em percentagem do PIB

FONTE: World Bank Database.

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Figura 3 – Peso da indústria transformadora no PIB (%)

FONTE: World Bank Database.

Nota ‑se que a Malásia e a Indonésia se situam já numa fase pós ‑petróleo, em que a manufac‑tura tem um peso determinante na criação de valor, emprego e rendimento. O México e o Brasil encontram ‑se, igualmente, numa fase de industrialização forte das suas economias.

Algumas das razões para as diferenças entre os países representados nas figuras anteriores são devidas à maior desregulamentação das actividades económicas (que não significa ausência de intervenções correctoras sobre as falhas de mercado), à aplicação de programas de promoção da indústria, ao desenvolvimento de competências (educação, investigação e desenvolvimento, formação, etc.), bem como à existência de regimes fiscais e sistemas de incentivos financeiros amigos da diversificação e estimulantes do investimento privado.

Para que isto se verifique, torna ‑se indispensável uma boa organização institucional do Estado, transparente nos processos de outorga dos incentivos, célere na resolução dos pro‑blemas burocráticos, equidistante na aplicação da lei e dos critérios de acesso a determinados benefícios e competente no seu funcionamento24.

Um conjunto útil de indicadores para a diversificação, no seu relacionamento com a quali‑dade do capital humano nacional, é a metodologia do Banco Mundial de Avaliação do Conheci‑mento (KAM), concebido para facilitar as comparações entre países e economias. Este indicador consegue captar aspectos fundamentais que são favoráveis ao desenvolvimento social e ao crescimento económico e permite, ao mesmo tempo, a comparação entre países ou regiões seleccionadas.

24 Quantas vezes o poder político reconheceu estes aspectos e inscreveu ‑os nos seus programas de governação? A questão central está na sua aplicação, dificultada pelo emaranhado de interesses eco‑nómicos dos detentores de cargos públicos, que levou o Presidente da República a apelar por uma completa separação entre negócios e exercício de funções de governação pública.

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O gráfico abaixo mostra as pontuações KEI (Knowledge Economic Index, ou seja, as pontua‑ções no conhecimento necessário para o desenvolvimento económico, na base da diversificação) para alguns países produtores de petróleo, bem como para oito economias da região da SADC, normalizados com o “resto do mundo”.

A pontuação média para a África Subsariana em relação ao resto do mundo é de 2,7 (de si, mesmo, muito baixo), enquanto o score de Angola é significativamente inferior à média da África Subsariana.

Figura 4 – Knowledge Economy Index Comparison Group: All Countries, 2009 versus 2000

FONTE: World Bank Institute.

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A figura anterior indica que no último período de 10 anos (2000 a 2009), em que Angola experimentou um surto significativo de crescimento económico e de modernização de algumas estruturas materiais e imateriais, impulsionado pelo sector do petróleo, houve poucos efeitos sobre o nível geral de conhecimento e de escolaridade, medida pela metodologia KAM.

Alguns argumentos teóricos sugerem que a diversificação da economia pode não melhorar, acto contínuo, as oportunidades de democracia. O efeito diversificação/democracia depende dos sectores envolvidos no processo de desconcentração da estrutura produtiva, sectorial e regionalmente. Uma importante dimensão deste processo é o grau de intensidade capital/tecnologia das indústrias, e outras actividades que estão a ser parte do processo de diversi‑ficação.

O diálogo entre diversificação e democracia, estudado em muitos países e que se recuperou para o caso angolano, é rico de consequências, na medida em que se torna evidente que uma concentração da actividade económica em sectores offshore tem sido uma das razões essenciais para a centralização do poder político em redor de interesses económicos não democratizados, ocasionando controlo da democracia e inquinação dos modelos de repartição do rendimento.

Os países cujo PIB tem uma percentagem elevada de rendimentos oriundos da exploração de recursos naturais, como o petróleo, a diversificação tem sido analisada nas perspectivas seguintes:

• A diversificação em sectores cuja produção se baseia em factores mais móveis (trabalho, capital, equipamentos), como a manufactura e os serviços, pode induzir menos resistência à democracia por parte das elites políticas.

• A diversificação em sectores onde os factores sejam mais rígidos, como a terra (portanto, na agricultura), cuja propriedade ou usufruto está restrita a uma faixa pequena da popula‑ção, pode dificultar a democratização, ao exigir uma maior dinâmica na sua utilização para o processo produtivo25.

• Um país cujas actividades económicas estejam concentradas em indústrias de capital hu‑mano intensivo pode ter melhores perspectivas para a democracia do que um outro onde a produção ou as exportações estejam divididas, em proporções próximas, entre factores imóveis e factores móveis.

• A diversificação baseada em actividades utilizadoras de factores de produção imóveis, controlados por uma pequena elite e numa sociedade onde a propriedade da terra esteja muito concentrada, é improvável que promova a democracia. Por outras palavras, embora

25 No caso de Angola têm sido referenciados casos de reserva de grandes extensões de terra sem uti‑lidade económica imediata. O sector agrícola é um dos de maior peso num processo de diversificação económica e se ocorrem, sistematicamente, casos de imobilidade do factor de produção básico, então muitos estrangulamentos se oporão à sua dinâmica.

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muitos países da África Subsariana apresentem vantagens comparativas na agricultura, a sua exploração pode não ser a melhor forma de promover o regime democrático.

As elites dos países em transição para a diversificação económica enfrentam um claro trade‑‑off para decidir se devem ou não prosseguir uma estratégia para introduzir novas actividades e promover novos sectores e novas regiões de desenvolvimento económico. É evidente que este processo poderia ajudá ‑las a aceder a novas fontes de renda, mas correm o risco de essas novas actividades poderem enfraquecer o seu poder político e, consequentemente, as vias de obtenção de novos rendimentos.

Se as rendas provenientes das actividades existentes intensas em factores de produção rela‑tivamente rígidos na sua transferência de propriedade forem suficientemente elevadas quando comparadas com as esperadas das novas actividades económicas, então o mais natural a esperar é uma atitude de resistência à diversificação. Significa dizer que, nestes casos, as propostas de diversificação da economia – implementação de novas indústrias e serviços conexos – têm de ser defensivas dos interesses das elites. Por outras palavras, se as elites, nos países de elevado potencial em recursos naturais, também controlam os activos em factores imóveis dos países (como a terra), então a diversificação da economia basear ‑se ‑á em actividades onde o uso desses activos for mais intenso. Isto é, em países onde as instituições são fracas, a responsabilidade política difusa e a transparência pouco transparente, a diversificação será feita no sentido de preservar os interesses das elites dominantes e não da democratização da actividade económica (criação de emprego e geração de renda).

Em resumo: embora algumas formas de diversificação possam melhorar as instituições democráticas em países ricos em recursos, a diversificação pode ser difícil de alcançar quando se ameaça a base de poder da elite dominante.

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CAPÍTULO 2: EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS

Alves da Rocha Francisco Paulo

Regina Santos

2.1 A desindustrialização no mundo

Alves da Rocha

Os processos de diversificação das estruturas económicas estão muito correlacionados com a diversificação das exportações e com a industrialização dos países. Quanto mais elevados forem os índices de industrialização, melhores serão as condições para disputar a concorrência internacional, nos mercados internos e em diferentes segmentos dos mercados mundiais.

Angola esteve sujeita a um processo violento de desindustrialização depois da indepen‑dência, em 1975, tendo a participação do Valor Agregado Bruto industrial (indústria no sentido estrito, abarcando apenas a manufactura) atingido uma cifra média, entre 1975 e 2000, de 3% do PIB global. A produtividade foi um dos segmentos onde o choque da desindustrialização maiores estragos provocou, com um valor médio, no mesmo período, de cerca de 3400 dólares por trabalhador empregado. De resto, a baixa produtividade acabou por ser, também, um dos factores de desindustrialização do país. As empresas industriais – à época, na sua maior parte propriedade do Estado – funcionavam com índices muito baixos de eficiência económica e a sua principal tarefa era a de preservar o emprego à custa de transferências financeiras do Orçamento Geral do Estado.

Apesar das abordagens que enfatizam a entrada de alguns países numa sociedade de lazer e de serviços, conhecida também por sociedade pós ‑industrial, a indústria continua a ser fonte de poder económico e a desempenhar um papel fundamental na organização dos territórios, na dinâmica das transformações dos sistemas produtivos e na criação de valor. Por isso, todos os países, independentemente do seu estádio de desenvolvimento, inscrevem nas suas agendas de desenvolvimento a industrialização.

A geografia industrial mundial tem mudado muito desde 1980, mas com uma acentuação depois de 1990. Em 20 anos, portanto entre 1990 e 2010, ocorreram transformações profun‑das na hierarquia económica mundial. Alguns dos países emergentes são os responsáveis por estas fantásticas mudanças. O peso industrial da Europa (União Europeia, Islândia, Noruega e Suíça) diminuiu consideravelmente durante aquele lapso de tempo: de 36% passou para 24,5%, estando ‑se perante um processo acentuado de desindustrialização (ainda que relativa) induzida pela deslocalização das indústrias dos centros desenvolvidos para as periferias em desenvolvi‑mento. Em 2011, a China tornou ‑se na primeira potência industrial do mundo, acabando com

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dois séculos de hegemonia dos Estados Unidos da América. O Brasil, actualmente a sexta eco‑nomia mundial (segundo a classificação do Banco Mundial)26, ultrapassou a França na produção industrial, de acordo com o IHS Global Insight27. A Coreia do Sul está à frente do Reino Unido na capacidade de produção industrial e a Índia apressa ‑se a ultrapassar a sua antiga potência colonial e imperial.

A emergência de uma nova divisão internacional do trabalho, associada à globalização neo‑liberal depois de 1980 e às acentuadas dinâmicas de transformação a ocorrer em alguns países emergentes (com a China claramente no comando) explicam o extraordinário movimento de deslocação geográfica da produção, dos mercados e dos serviços que atrai investimentos, tec‑nologias e emprego28.

As lógicas da deslocalização das empresas multinacionais, embora mantenham como razão principal as diferenças de custos salariais, alicerçam ‑se num novo motivo dado pela procura das camadas sociais médias dos países da periferia, sustentada pelos crescentes aumentos do ren‑dimento médio associados aos elevados índices de crescimento económico. Ao juntar ‑se a este raciocínio a constatação de que nos países industrializados do centro desenvolvido os rendimen‑tos médios estão em processo de ajustamento em baixa provocado pelas crises orçamentais e de dívida soberana, entendem ‑se, claramente, as estratégias de deslocalização das multinacionais. E compreende ‑se, igualmente, que bastante do crescimento económico de países como a China e a Índia tenha como componente a exportação de produtos para satisfazer uma procura de padrão mais baixo nos países desenvolvidos (produtos de gamas médias e baixas)29. Esta nova divisão internacional do trabalho comprova, afinal, a teoria de Stephan B. Linder da sobrepo‑sição das procuras, ainda que os custos salariais continuem a contar como elemento definidor das vantagens comparativas de David Ricardo30.

A estratégia que alguns países emergentes estão a seguir, no quadro da sua crescente afirmação na geografia industrial mundial passa por negociações profundas e duras com as

26 World Bank, World Development Indicators, 2012.27 World Manufacturing Production 2010, www.ihs.com.28 Entre 1990 e 2010, os lucros dos 220 maiores grupos europeus obtidos nos países emergentes pas‑saram de 15% para 24%. Ver Laurent Carroué, A Indústria, Alicerce de Poder, Le Monde Diploma tique, Angola, Abril de 2012.29 A crise de rendimentos e o empobrecimento na Europa são uma oportunidade para os produtos de média e baixa gama provenientes da China e da Índia, o que explica a enorme procura em pratica‑mente todos os países da Zona Euro. No entanto, estes dois países estão, do mesmo modo, a competir em produtos de alta gama, nos domínios das telecomunicações, indústria espacial, aeronáutica, com‑boio de alta ‑velocidade, nuclear, indústria naval, etc.30 Guillochon, Bernard; Kawecki, Annie; Peltrault, Frédéric; Venet, Baptiste, Économie Internationale, Dunod, Sixiéme Édition, 2009, e também Appleyard/Field/Cobb, International Economics, Fifth Edi‑tion, McGraw ‑Hill International Edition, 2006: “the Linder theory postulates that tastes of consumers are conditioned by their income levels; the per capita income level of a country will yield a particular pattern of tastes”.

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multinacionais estrangeiras para a transferência de tecnologia, um esforço sério de formação da sua mão ‑de ‑obra31 e uma política de constituição de empresas nacionais com perfil inter‑nacional.

A geografia mundial da inovação está, igualmente, a mudar, prevendo ‑se que a China possa dispor, até 2025, de 30% dos investigadores mundiais. Os chineses apresentaram, em 2010, um orçamento para a investigação que coloca a China na segunda posição em termos mun‑diais, ainda longe dos Estados Unidos, mas à frente do Japão. Em 2011, a China tornou ‑se o primeiro depositante mundial de patentes – o que a coloca numa posição invejável em matéria de desenvolvimento tecnológico – pretendendo passar do “made in China” para o “designed in China”32.

Em contraponto com estes desenvolvimentos e ajustamentos está a Europa, e mesmo os Estados Unidos, que se encontram seriamente afectados por períodos e processos de desin‑dustrialização acentuados.

Em dois anos, 2007 e 2009, a crise europeia destruiu 20% do valor da produção industrial33, com recuos diferenciados consoante os países: 15% na Europa Central e Oriental, ⅓ na Estónia, ¼ na Letónia. Nos grandes países europeus as quebras igualmente se pautaram por registos impressionantes: 20% na Alemanha, 25% em França e mais de 21% na Itália, na Finlândia e na Suécia. Dir ‑se ‑ia que os países das grandes revoluções industriais estão afectados pela globali‑zação do comércio, pela incapacidade de competir com os mais aguerridos países emergentes e por desequilíbrios internos que consequencializam margens de crescimento cada vez mais redu‑zidas. Naturalmente que esta intensidade de desindustrialização se reflecte no desemprego – um dos segmentos mais importantes da constituição de procuras internas sólidas, representativas e estimulantes do investimento. Desde o início da última crise financeira e económica – Outono de 2008 – e o final de 2010, a União Europeia assistiu à destruição de mais de 4 milhões de empregos industriais (11% dos efectivos totais empregados). E o cenário para 2012 ‑2014 pode ser ainda pior devido aos fortes impactos negativos dos programas de austeridade orçamental que a maior parte dos países da Zona Euro está a implementar com a finalidade de se tornarem sustentáveis as respectivas dívidas soberanas.

31 Já por algumas vezes escrevi e me pronunciei publicamente sobre a contradição inerente à opção doutrinária do MPLA e do Governo de se criar uma burguesia nacional endinheirada como forma de oposição a uma penetração exageradamente “violenta” das empresas e dos capitais estrangeiros. O mais importante era ter ‑se dotado o país de uma mão ‑de ‑obra, a todos os níveis, com elevadas qua‑lificações e excelência de procedimentos, trabalho e produtividade. O retorno para o Orçamento de Estado seria muito maior, pois a maior parte desta burguesia nacional é improdutiva.32 Um dos grandes propósitos da Estratégia de Lisboa para a União Europeia tinha sido a consagra‑ção de pelo menos 3% do PIB de cada país à Investigação & Desenvolvimento e à inovação, de modo a caminhar ‑se para a criação duma economia europeia do conhecimento. Esta decisão nunca foi cum‑prida.33 A queda no valor bruto da produção industrial em Angola entre 1991 e 2000 foi de 21,6%.

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Dentre os países europeus mais industrializados, a França tornou ‑se no mais desindustria‑lizado nas últimas décadas (os outros que apresentam quebras nos indicadores ilustrativos da industrialização são a Alemanha, a Itália e a Espanha)34. O índice mais inquietante é o emprego industrial que entre 1980 e 2011 passou de 24% para 13% do total de empregos da economia, correspondente à perda de mais de 2,5 milhões de postos de trabalho35. Estudos feitos sobre a desindustrialização francesa apontam as causas seguintes para o fenómeno:

• Deslocalização das actividades económicas para países com custos salariais mais baixos36.

• Mutações do sistema produtivo (maior intensidade de capital e de tecnologia) e crescente externalização de tarefas industriais para o sector dos serviços (terceirização da economia industrial)37.

• Incidência crescente do trabalho temporário, em especial nas tarefas e segmentos indus‑triais terceirizados.

• Diminuição do investimento, em todas as linhas: inovação, equipamentos, formação, pes‑quisa & desenvolvimento (10% entre 2008 e 2010).

• Quebra da competitividade geral da economia, expressa no aumento significativo do dé‑fice comercial desde 2004: as exportações apenas cobrem 87% dos produtos industriais, 73% dos bens alimentares e 87% dos bens de equipamento.

• Pressão exercida pela política do euro forte, com estragos na capacidade competitiva da Zona Euro e não só da França38. A perda de competitividade em França ultrapassa os cus‑tos do trabalho39.

34 O PIB industrial, em média dos últimos 40 anos, tem um peso de 12% no PIB e o emprego de 11% no total da força de trabalho francesa.35 Os ganhos de produtividade proporcionados pela natureza tecnológica das actividades industriais foi também uma das razões para esta desindustrialização do emprego. O desemprego industrial tem incidido mais sobre a mão ‑de ‑obra menos qualificada.36 A provar que a Teoria Clássica do Comércio Internacional ainda fornece indicações relevantes para a especialização produtiva e a divisão internacional do trabalho.37 Trata ‑se, afinal e também, duma questão de definição do sector industrial, havendo algumas que incluem os serviços industriais num conceito mais abrangente de indústria. Algumas tarefas de con‑cepção, manutenção ou mesmo de secretariado passaram a ser registadas como serviços, quando anteriormente o eram na actividade industrial.38 No entanto, a Alemanha tem outros argumentos em termos de competitividade estrutural que tem aguentado a sobrevalorização da moeda única europeia: qualidade da formação, qualidade da infra‑‑estrutura, qualidade da organização do trabalho, importância da investigação e da inovação, etc.39 Custo horário do trabalho na indústria francesa foi, em 2008, de 33,16 euros (33,37 euros na Alema‑nha) e a produtividade média por trabalhador é 21% superior à média europeia e 15% superior à da Alemanha. Por isso é que a estratégia sistemática de diminuição contínua do custo do trabalho se revela inadequada. Onde a França perde para a Alemanha é em atributos relacionados com a qualidade da força de trabalho, a capacidade de organização, inovação, pesquisa e investigação.

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Apesar de se encontrar no grupo de países em processo de desindustrialização, a Alemanha continua a ser a maior potência industrial da Europa e uma das maiores do mundo e a sua efi‑cácia baseia ‑se numa forte estratégia industrial assente na inovação, no aumento da gama dos produtos (diversificação da produção), numa especialização em actividades motrizes baseadas em bens de equipamento e numa articulação entre grandes grupos económicos e o poderoso tecido alemão de pequenas e médias empresas (capazes de inovar e exportar). Por isso é que o PIB industrial representava, em 2011, 20% do PIB total e o emprego industrial 19% do emprego total da economia. Os efeitos destas opções estratégicas são evidentes: apesar da crise, a taxa oficial de desemprego na Alemanha está no ponto mais baixo desde há vinte anos (6,8%) e a taxa de crescimento do PIB foi de 3% em 2011.

Da análise das várias experiências de desindustrialização na Europa sobressaem as causas seguintes40:

• Insuficiência de Investigação & Desenvolvimento privada e industrial.

• Posicionamento de alguns países em gamas medianas de produções, mais atreitas à feroz concorrência dos países emergentes, principalmente da China.

• Esmagamento do tecido empresarial constituído por pequenas e médias empresas. O relacionamento com os grandes grupos faz ‑se através duma dialéctica de diminuição do poder e do espaço das PME.

• Insuficiência de formação inicial e contínua.

• Subqualificação e não reconhecimento das formações existentes pelo sistema produtivo (afinal uma descontinuidade entre sistemas de educação e sistemas produtivos, com o consequente desperdício de dinheiro e tempo).

• Ampla desqualificação de qualquer cultura técnica, tecnológica e científica no sistema das representações sociais.

• Subinvestimento do Estado e dos privados na investigação e na inovação.

• Desvios nas estratégias de financiamento das economias. Durante os gloriosos 30 (pe‑ríodo de euforia keynesiana no pós ‑guerra europeu até 1975) os sistemas financeiros tiveram como tarefa prioritária financiar os investimentos produtivos. Com a aurora neoliberal depois de 1980, globalização incluída, as operações especulativas passaram a dominar as estratégias bancárias e de outros agentes do sistema, de onde resulta‑

40 Ver ‑se ‑á mais adiante que alguns destes factores também ajudam a compreender a desindustriali‑zação de Angola, embora neste caso existam explicações específicas e talvez próprias para se enten‑der a tremenda redução do peso industrial na economia nacional. Os equívocos do sistema socialista de produção – implantado numa altura em que os sinais da sua desagregação mundial eram por demais evidentes, tendo faltado aos dirigentes angolanos a necessária presciência política para o abandonar – foram uma das causas mais fortes da dramática redução do VAB industrial na economia.

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ram as sucessivas bolhas e um peso excessivo do sector financeiro em relação ao sector produtivo41. Assim, na Europa torna ‑se urgente repensar por inteiro o seu modelo de desenvolvimento e voltar a atribuir ao sistema financeiro o papel que nunca deveria ter abandonado de financiar um desenvolvimento económico, social e territorial eficaz, duradouro e solidário.

A ideia é a de contrariar a tendência para a transferência para o exterior das principais actividades das empresas europeias. Durante a década de 90 do século XX o outsourcing (sub‑contratação exterior às fronteiras dos países) fez sucesso e as diferenças nos custos salariais amplamente justificavam estas deslocações produtivas da parte das empresas, principalmente multinacionais. A situação tende a inverter ‑se. Já não são apenas os processos de desindustria‑lização nacionais a reclamarem por uma crescente concentração das indústrias nos países de onde são originárias, mas igualmente os elevados índices de desemprego. Parece fazer agora algum consenso o movimento contrário designado por insourcing através do qual se pretende levar de novo a produção industrial para os territórios nacionais42.

Este regresso das indústrias43 é visto como uma das formas de fazer descer o desemprego, de abrandar o declínio relativo das economias mais desenvolvidas (em relação às economias emer‑gentes) e de evitar o desequilíbrio do comércio externo. E reveste ‑se, igualmente, de particular acuidade no actual contexto das dívidas soberanas, uma vez que as agências internacionais de rating sancionam severamente os desequilíbrios externos e os défices fiscais.

A desindustrialização é um processo mais geral e antigo do que a deslocalização das activi‑dades económicas. Entre os historiadores económicos parece ser consensual que a deslocaliza‑ção coincide, ainda que não totalmente, com a ruptura do modelo keynesiano do pós ‑segunda guerra mundial (nos Estados Unidos o equivalente de Roosevelt foi o New Deal) e o surgimento das estratégias e políticas económicas neoliberais de Milton Friedman, o que aconteceu a partir dos anos 80. Por exemplo, nos Estados Unidos, a indústria teve o seguinte declínio (em percen‑tagem do PIB): 26% nos anos 60, 19% nos anos 80 e 11% em 2007, no início da mais recente crise económica mundial44. Como se viu anteriormente, o declínio do sector industrial também se mostrou dramático em muitos países europeus, com especial destaque para as locomotivas da Europa, como a Alemanha, a França, a Itália, a Espanha e a Suécia. É evidente que a dimi‑nuição do peso do sector industrial na economia corresponde a um movimento global e de longo prazo de alteração das estruturas económicas, em direcção às economias de serviços e

41 O sistema financeiro tem sido o responsável pelas diferentes crises financeiras e económicas mun‑diais e um factor de desigualdades no mundo.42 Remarks by the President on Insourcing American Jobs, Casa Branca, 11 de Janeiro de 2012 (www.whitehouse.gov).43 Em França designa ‑se este movimento por “relocalização”.44 A situação parece reverter ‑se nos últimos anos, sendo o indicador mais citado a recuperação da indústria automóvel americana.

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do conhecimento, mas os especialistas afirmam que uma quota ‑parte importante de respon‑sabilidade pelas desindustrializações da Europa e dos EUA pertence à globalização neoliberal.

O principal agente desta estratégia neoliberal de deslocalização industrial foi a empresa multinacional, ao aumentar e reforçar os investimentos directos estrangeiros nas periferias do sistema capitalista mundial. Os Estados Unidos são os pioneiros nos movimentos interna‑cionais de capitais produtivos, mesmo antes do início do movimento neoliberal. Na verdade, já na década de 70, o investimento directo das empresas norte americanas no resto do mundo representava 23% dos investimentos totais, enquanto durante a década que precedeu a crise 2008 ‑2009 (1998 ‑2007) essa percentagem subiu para 81%, demonstrando uma vontade delibe‑rada de produzir noutras paragens que não o território nacional.

Estes movimentos de capitais e de transposição de actividades económicas acontecem a despeito de se notar um incremento dos custos salariais nas economias emergentes e mesmo noutras do grupo dos países em desenvolvimento. Este movimento ascendente dos custos sala‑riais tende a aproximar os salários dos valores praticados nas economias mais desenvolvidas. É o conhecido teorema de Stolper ‑Samuelson da tendência da igualização dos custos salariais entre as economias. Era suposto, de acordo com aqueles economistas, que esta igualização ten‑dencial se fizesse sobretudo através dos movimentos do factor trabalho. Mas a realidade tende a demonstrar que é por intermédio das trocas comerciais de produtos que esta equalização se tem operado45.

Esta convergência entre os custos de trabalho tem sido reconhecida pelo Presidente Barack Obama em relação à China, onde os custos salariais horários têm subido a um ritmo de 13% ao ano, a preços constantes. A revalorização do yuan também está em causa, tendo a sua relação com o dólar americano aumentado mais de 30% entre 2005 e 2012. Nos Estados Unidos está a ocorrer um ajustamento para baixo nos custos do trabalho, o que tem sido aproveitado por algumas empresas americanas a repatriarem as suas actividades (insourcing).

Na Alemanha esta pressão sobre os custos salariais do trabalho (remunerações mais contri‑buições sociais) está também a verificar ‑se46. A redução tem sido particularmente forte e con‑centrada nos salários mais baixos, que não pararam de aumentar, na sua percentagem relativa, desde o final dos anos 90. As contribuições sociais foram drasticamente reduzidas.

O Estado do bem ‑estar social – que foi a maior experiência de solidariedade jamais inven‑tada e que propiciou que da sua intervenção se disciplinasse e democratizasse a distribuição

45 Bhagwati, Jagdish; Panagarya, Arvind and Srinivasan, T. N., Lectures on International Trade, Second Edition, Massachusetts Institute of Technology, 1998: “according to this theorem, an increase in the relative price of the labor intensive good leads to a rise in the relative as well as the real return of labor of labor and a decline in the relative and real return to capital”.46 De resto, é a receita que a troika FMI/Banco Central Europeu/Comissão Europeia está a aplicar nos programas de ajustamento fiscal e redução das dívidas soberanas na Europa.

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do rendimento nacional – está a chegar ao fim e os sistemas económicos estão cada vez mais a ser dominados pelos sistemas financeiros, havendo quem veja nesta característica – que se tornou marcante a partir da década de 80 – uma das razões do falhanço do actual modelo de desenvolvimento económico. O sector industrial, que tradicionalmente era um manancial de criação de emprego, tem adoptado processos tecnológicos fortemente poupadores de mão‑‑de ‑obra, assistindo ‑se mesmo em muitos países a despedimentos em massa ocasionados pela natureza da tecnologia e pelas fusões de empresas (uma das formas de melhor se resistir à concorrência).

Um recente estudo do Fundo Monetário Internacional é categórico quanto aos efeitos do crescimento nas economias mais avançadas: a desindustrialização é uma consequência clara do crescimento económico. Na verdade, os dados conhecidos revelam que desde os anos 70 as economias mais avançadas registaram uma descida contínua do emprego no sector da indústria transformadora, em contraposição a um acréscimo do emprego no sector dos serviços. Com o avanço da tecnologia, da informática e das telecomunicações começa a falar ‑se na quarta revolu‑ção industrial, que pode vir a determinar o fim do comércio tradicional e até mesmo do dinheiro, enquanto instrumento de transacções, e a diminuição drástica do emprego industrial (as ope‑rações instantâneas de câmbio movimentam hoje em todo o mundo a astronómica cifra de um trilião de dólares por dia). Na opinião dos autores daquele estudo, esta desindustrialização está associada a outras tendências, como a crescente disparidade de remunerações verificada em muitas economias e o aumento do desemprego total.

Nos países mais desenvolvidos verificou ‑se que o processo de crescimento económico só se traduziu em aumento do emprego industrial na sua fase inicial de industrialização. No Brasil, por exemplo, já há algum tempo que o sector industrial não cria volumes significativos de emprego, parecendo ser a agricultura o sector mais dinâmico em matéria de emprego, tendo gerado cerca de 4 milhões de novos postos de trabalho de 1990 até finais de 1996. Ainda que a maior parte destes empregos tenha sido de subsistência, esta capacidade do sector agrícola brasileiro deve, a todos os títulos, ser considerada de extraordinária. Só que talvez não seja uma experiência generalizável, porquanto o Brasil dispõe dum capital de base que muitos países não têm e que é a (disponibilidade de) terra.

2.2 Os coeficientes de transformação estrutural: algumas comparações africanas

A pesquisa efectuada trabalhou com quatro índices de transformação estrutural: de natureza global – transformação das estruturas económicas – da indústria transformadora, das exporta‑ções e das importações.

A análise dos Valores Agregados por sectores e por países é o ponto de partida para o estudo das transformações estruturais na África Subsariana (ASS), amostra definida.

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Tabela 1 – Valores Agregados Brutos sectoriais (mil milhões de USD)

PaísAgricultura Indústria Manufactura Serviços

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

África do Sul 4,0 10,9 42,5 112,7 25,3 54,6 86,4 240,0Nigéria 22,5 87,2 14,3 46,5 1,4 13,6 9,7 60,0Angola 0,5 8,4 6,6 53,2 0,3 5,1 2,0 22,8Quénia 4,1 6,0 2,2 4,4 1,5 2,5 6,5 21,0Camarões 2,2 4,5 3,6 6,7 2,1 4,9 4,2 11,2Costa do Marfim 2,5 5,2 2,6 6,2 2,3 4,3 5,3 11,4Tanzânia 3,4 6,5 1,9 5,8 0,9 2,3 4,8 10,9Botswana 0,2 0,4 3,0 6,7 0,3 0,4 2,5 7,7Zâmbia 0,7 1,5 0,8 6,0 0,4 1,5 1,7 8,7Gabão 0,3 0,5 2,9 7,0 0,2 0,5 1,9 5,5RDC 2,2 5,6 0,9 3,1 0,2 0,7 1,3 4,3Namíbia 0,5 1,0 1,1 2,4 0,5 1,0 2,3 8,9Maurícias 0,3 0,4 1,4 2,8 1,1 1,8 2,9 6,5Congo 0,2 0,5 2,3 9,5 0,1 0,5 0,7 1,9Chade 0,6 1,1 0,2 3,7 0,1 0,5 0,6 2,9Ruanda 0,6 1,9 0,2 0,8 0,1 0,3 0,8 2,9Moçambique 1,0 3,1 1,1 2,2 0,5 1,2 2,1 4,3Amostra 45,7 144,6 87,4 279,8 37,2 95,8 135,8 431,1

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

Curiosamente, pela comparação entre os totais sectoriais dos Valores Agregados, em 10 anos de crescimento económico, a indústria transformadora – teoricamente o alfobre das trans‑formações estruturais – foi a que menos dinâmica apresentou no processo de transformações estruturais. O sector agrícola dos países da amostra ombreia com a indústria e os serviços, tendo os respectivos Produtos Internos aumentado cerca de 3 vezes entre 2000 e 2010.

Figura 1 – Dinâmicas de transformação estrutural, 2000 ‑2010

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

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A posição de destaque do Chade é justificada pela importância do sector do petróleo, sendo, na verdade, o que, entre 2000 e 2010, mais se transformou.

Angola expõe variações absolutas importantes na agricultura e na indústria transformadora, que devem ser, sobretudo, explicadas pela débil situação de partida, depois de 27 anos de destruições consecutivas dos aparelhos e das bases infra ‑estruturais, de insuficiências e dese‑quilíbrios macroeconómicos severos e de políticas económicas desfocadas da resolução dos problemas da economia.

Figura 2 – Taxas anuais nominais de crescimento dos VAB sectoriais

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

Os dados da tabela seguinte corroboram algumas conclusões quanto às relativamente fracas dinâmicas de transformação estrutural da maior parte das economias da amostra.

Tabela 2 – Estrutura das economias da amostra (valores em %)

PaísAgricultura Indústria Manufactura Serviços

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

África do Sul 3 3 32 31 19 15 65 66Nigéria 49 45 31 24 3 7 21 31Angola 6 10 72 63 3 6 22 27Quénia 32 19 17 14 12 8 51 67Camarões 22 20 36 30 21 22 42 50Costa do Marfim 24 23 25 27 22 19 51 50Tanzânia 33 28 19 25 9 10 47 47Botswana 3 3 53 45 5 3 45 52Zâmbia 22 9 25 37 11 9 52 54Gabão 6 4 56 54 4 4 38 42RDC 50 43 20 24 5 5 30 33Namíbia 12 8 28 20 13 8 60 73

continua

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País Agricultura Indústria Manufactura Serviços

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

Maurícias 7 4 31 29 23 19 62 67Congo 5 4 72 80 3 4 23 16Chade 42 14 11 49 9 7 46 38

Ruanda 37 34 14 14 7 6 49 52Moçambique 24 32 25 23 12 13 51 45Amostra 17,0 16,9 32,5 32,7 13,9 11,2 50,6 50,4

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

De facto, os movimentos de mudança são praticamente imperceptíveis em 10 anos de pro‑cesso de crescimento económico. O peso da agricultura no PIB, no conjunto dos países da amos‑tra, não se alterou de 2000 para 2010, o mesmo acontecendo ao sector da indústria no sentido alargado, englobando a extracção de minerais. A indústria transformadora vê a sua importância relativa diminuir, não sendo, evidentemente, um sinal positivo para as estratégias de mudança das estruturas.

Esta situação geral contrasta com algumas posições isoladas:

• No Chade parece ter havido um corte radical com o sector agrícola, a favor da extracção de petróleo. Passou a fazer parte dos países africanos produtores de petróleo a partir de 2001, quando se estimaram em 900 milhões de barris as suas reservas provadas47. Em 2010 e 2011 as reservas provadas aumentaram para 1,5 mil milhões de barris48. Ainda que se trate de uma produção média diária de cerca de 120 mil barris de petróleo, o que é evi‑dente é a ocorrência de uma espécie de “canibalização” dos outros sectores de actividade.

• Na Nigéria parece ocorrer um fenómeno contrário, com sinais mais positivos no sentido das transformações estruturais: o peso da agricultura e da indústria diminuiu e o da manufactura e dos serviços em geral aumentou. Aliás, alguns estudos sobre a economia africana têm destacado a Nigéria, no conjunto dos países africanos produtores de pe‑tróleo, como um caso de mudança na sua estrutura económica e produtiva de sucesso, e que vai no sentido de reduzir o peso das exportações de petróleo na sua configuração económica geral.

• Moçambique aparentemente é um caso de reforço das actividades agrícolas em des‑favor das de transformação e de prestação de serviços. Ainda se aguardam os efeitos sobre a sua estrutura económica das recentes descobertas de carvão e gás, as quais seguramente concorrerão para o aumento do peso relativo das indústrias extractivas, caso se não contrarie esta tendência com políticas fortes de dinamização da indústria transformadora.

47 BP Statistical Review of World Energy, June 2012.48 Ibid.

continuação

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• Em Angola parece clara a emergência de um movimento de alteração da natureza da sua estrutura económica, revelada pela diminuição do peso relativo da indústria (extractiva) e o aumento da manufactura e dos serviços. O único sinal negativo é dado pela agricultura (de 6% para 10%).

É natural, portanto, que os coeficientes de transformação estrutural se diferenciem bastante de país para país49.

Figura 3 – Índices de transformação da estrutura económica, 2000 ‑2010

FONTE: Cálculos baseados no ficheiro Transformações Estruturais em África, CEIC.

Um sector com uma influência central nos processos de transformação estrutural das eco‑nomias é a indústria transformadora. Os estudos, via de regra, baseiam ‑se na repartição do VAB da manufactura por 5 sectores de actividade: alimentação, bebidas e tabaco, têxteis e vestuário, máquinas e equipamento de transporte, indústria química e outras transformadoras.

Não foi possível obter informação relevante e transversal para cada um dos países da amos‑tra, pelo que não se consegue visualizar o sentido e a intensidade de alteração das estruturas industriais dos países africanos da amostra.

O gráfico da página seguinte mostra que em Angola50, Tanzânia e Maurícias pode ter sido registado um processo de ajustamentos sectoriais com alguma relevância.

49 O coeficiente geral de transformação da estrutura económica é dado pela média aritmética da soma, em módulo, das diferenças entre as participações sectoriais no PIB no ano base e no ano limite.50 As informações para Angola são originárias de algumas instituições públicas e de estimativas do CEIC. Logo, podem não ser, necessariamente, comparáveis com os registos dos restantes países.

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Figura 4 – Índices de transformação da indústria transformadora, 2000 ‑2008

FONTE: Cálculos baseados no ficheiro Transformações Estruturais em África, CEIC.

O que de relevante há a assinalar no processo de alterações estruturais da indústria trans‑formadora angolana é a perda de importância relativa do subsector das bebidas (de 97,5% em 2000, para 78,2% em 2008) e a emergência duma actividade, ainda que elementar, de produção de produtos químicos. Igualmente relevantes os mais de 12% dos VAB da indústria transforma‑dora relativos a outros produtos manufacturados, com destaque para os minerais não ‑metálicos (construção civil).

A análise do emprego seria de enorme valia para a compreensão dos movimentos de trans‑formação estrutural, até este momento medidos pela estrutura do PIB e pela produtividade do capital. Contudo, as publicações do Banco Mundial – que estão a ser utilizadas para esta pesquisa – não contemplam estatísticas do emprego para a maior parte dos países africanos, em particu‑lar para os integrantes da amostra. Seguramente que esta falha se deve aos países: ou porque inexistem, ou são lacunares as estatísticas nacionais de emprego, ou porque, politicamente, não é conveniente a sua divulgação internacional (e mesmo nacional). Assim, na falta de uma base comum de análise, a variável emprego foi retirada do estudo das transformações estruturais. Deixa, por conseguinte, de ser possível o cálculo das taxas de transferência de força de trabalho entre os sectores das economias em estudo.

As exportações são outra variável que também absorve as transformações estruturais dos tecidos produtivos.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

Tabela 3 – Estrutura das exportações (%)

País

Produtos alimentares

Matérias ‑primas agrícolas

Petróleo e derivados

Minerais diversos

Produtos manufacturados

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

África do Sul 8 9 3 2 10 10 11 33 54 47

Nigéria 0 3 0 2 100 87 0 1 0 7

Angola 99 97 2 1 1

Quénia 59 48 9 11 8 4 3 2 21 35

Camarões 15 24 9 15 67 50 6 3 3 8

Costa do Marfim 51 50 14 10 21 24 0 0 14 16

Tanzânia 66 32 13 7 0 3 1 34 20 24

Botswana 3 5 0 0 0 0 7 15 90 80

Zâmbia 9 6 4 1 1 1 74 86 11 6

Gabão 1 1 12 9 83 83 2 3 2 4

RDC

Namíbia 29 23 1 0 2 0 11 31 56 45

Maurícias 18 37 1 1 0 0 0 0 81 62

Congo

Chade

Ruanda 57 52 3 3 0 0 37 37 3 8

Moçambique 42 16 11 4 21 20 17 54 7 2

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

Entre os 17 países da amostra, África do Sul, Nigéria e Angola (nestes dois casos com elevada participação do petróleo) são as economias que mais exportam na África Subsariana e represen‑taram, em 2010, 75,3% do total das suas exportações totais.

Figura 5 – Repartição percentual das exportações da África Subsariana

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

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Figura 6 – As economias que mais exportam na África Subsariana (mil milhões de USD)

FONTE: Cálculos baseados no ficheiro Transformações Estruturais em África, CEIC.

Nigéria, Angola e Gabão têm as suas exportações concentradas num único produto não transformado – o petróleo. Daí que os respectivos coeficientes de transformação estrutural sejam baixos.

Figura 7 – Coeficiente de transformação estrutural das exportações de mercadorias, 2000 ‑2010

FONTE: Cálculos baseados no ficheiro Transformações Estruturais em África, CEIC.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

Olhando para os grupos de produtos inseridos na estrutura das exportações – produtos alimentares, matérias ‑primas agrícolas, petróleo, minerais diversos e produtos manufacturados – conclui ‑se que apenas 5 países se organizaram no sentido duma melhoria no índice de diversi‑ficação das exportações. Os restantes continuaram dependentes da exploração e exportação de produtos da gama dos recursos naturais não renováveis. Os casos mais extremados são Nigéria, Angola, Gabão e Moçambique (com as recentes explorações de carvão e gás). A percentagem dos produtos manufacturados nestes países não vai além de 7%.

Tabela 4 – Os países que melhor diversificaram as suas exportações (% nas exportações totais)

PaísProdutos alimentares Produtos manufacturados

2000 2010 2000 2010

África do Sul 8 9 54 47

Quénia 59 48 21 35

Costa do Marfim 51 50 14 16

Tanzânia 66 32 20 24

Maurícias 18 37 81 62

FONTE: Cálculos baseados no ficheiro Transformações Estruturais em África, CEIC.

Conforme se pontualizou, o estudo das transformações económicas estruturais também tem de levar em devida linha de conta as importações e a sua estrutura, cuja alteração no tempo é consistente com os processos de diversificação económica baseados na valorização das vanta‑gens comparativas dos países.

Os 17 países da amostra importaram, em 2010, um total de 232 mil milhões de dólares de mercadorias diversas (77% do conjunto da África Subsariana), equivalente a uma taxa média de variação anual (2000 ‑2010) de 14,4% (14% para a ASS).

Tabela 5 – Estrutura das importações (%)

PaísProdutos

alimentaresMatérias ‑primas

agrícolasPetróleo

e derivadosMinerais diversos

Produtos manufacturados

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

África do Sul 5 6 1 1 14 20 2 2 69 65

Nigéria 20 10 1 1 2 1 2 1 75 86

Angola

Quénia 14 12 2 2 22 22 1 2 60 63

Camarões 18 18 2 2 23 27 1 1 56 52

Costa do Marfim 17 19 1 1 34 24 1 1 46 55

Tanzânia 15 10 3 1 19 28 1 1 63 60

Botswana 14 12 1 1 5 15 2 2 75 68

Zâmbia 8 5 3 1 12 12 3 21 73 62

Gabão 18 17 1 0 4 7 1 1 76 74continua

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País

Produtos alimentares

Matérias ‑primas agrícolas

Petróleo e derivados

Minerais diversos

Produtos manufacturados

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

RDCNamíbia 17 14 1 1 3 14 1 1 78 70Maurícias 14 21 2 2 12 19 1 1 70 56CongoChadeRuanda 21 13 3 2 14 8 2 1 60 76Moçambique 14 12 1 1 13 20 1 1 68 50

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

Os dois grandes grupos de produtos onde se concentram as importações destes países sub‑sarianos são os produtos manufacturados – com uma incidência nas máquinas, equipamentos industriais e agrícolas, e material de transporte, mostrando ‑se, assim, as ainda grandes fragi‑lidades das economias africanas na fabricação de bens de alta tecnologia – e os derivados do petróleo.

Figura 8 – Coeficiente de transformação estrutural da importação de mercadorias, 2000 ‑2010

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

Zâmbia, Ruanda, Maurícias e Moçambique aparecem como os que mais ajustamentos estru‑turais introduziram nas suas economias, com uma transferência das importações de produtos alimentares e matérias ‑primas para produtos acabados.

Os maiores importadores de mercadorias em 2010 foram África do Sul, Nigéria, Angola e Quénia, com um valor acumulado de 159,8 mil milhões de dólares (52,9% da África Sub sariana).

continuação

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

Figura 9 – Os maiores importadores da África Subsariana (mil milhões de USD)

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

O grau de exposição das economias da amostra – medido pelo peso das exportações no PIB – é, em média, aceitável, com um valor em 2010 de 34%.

Os países mais expostos aos choques externos e mais dependentes dum número reduzido de produtos exportáveis são Angola, Gabão e Congo, todos produtores de petróleo.

Curiosa e surpreendentemente a Nigéria não consta deste grupo de países de maiores riscos de exposição ao exterior, o que é consistente com a diminuição do peso do petróleo nas suas exportações (de 100% em 2000, para 87% em 2010, expresso na tabela da estrutura das expor‑tações), com os indicadores de diversificação da sua economia que constam de muitos estudos e com o coeficiente de transformação da sua estrutura económica (igual a 6).

Tabela 6 – Indicadores do comércio externo

País

Exportações de mercadorias (milhões

de dólares)

Importações de mercadorias (milhões

de dólares)

Grau de abertura

(%)

Consumo interno aparente

(%)

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

África do Sul 29 983 81 821 29 695 94 040 22,6 22,5 99,8 103,4Nigéria 20 975 82 000 8721 44 235 45,6 42,3 73,4 80,5Angola 7921 53 500 3040 21 500 87,0 63,4 46,4 62,1Quénia 1734 5151 3105 12 090 13,7 16,4 110,8 122,1Camarões 1833 4000 1489 4850 18,1 17,9 96,6 103,8Costa do Marfim 3888 10 320 2482 7830 37,4 45,3 86,5 89,1Tanzânia 734 3687 1524 7830 7,2 16,0 107,7 117,9Botswana 2675 4693 2081 5657 47,8 31,5 89,4 106,5

continua

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País

Exportações de mercadorias (milhões

de dólares)

Importações de mercadorias (milhões

de dólares)

Grau de abertura

(%)

Consumo interno aparente

(%)2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

Zâmbia 892 7200 888 5321 27,9 44,4 99,9 88,4Gabão 2598 9371 950 2983 50,9 72,1 67,7 50,9RDC 807 5300 683 4500 18,8 40,5 97,1 93,9Namíbia 1320 4052 1550 5360 33,8 33,2 105,9 110,7Maurícias 1557 2239 2093 4402 33,8 23,1 111,7 122,3Congo 2489 8200 465 2900 77,8 68,9 36,8 55,5Chade 183 3450 317 2600 13,1 45,4 109,6 88,8Ruanda 52 297 211 1431 3,1 5,3 109,4 120,3Moçambique 364 3200 1158 4500 8,7 33,3 118,9 113,5Amostra 80 005 288 481 60 452 232 029 29,8 33,7 92,7 93,4

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

Do grupo dos países mais dependentes da exportação de petróleo, Angola é o que reduz de uma forma mais substancial o seu grau de exposição ao exterior, o que também está em linha com as transformações estruturais da sua economia que têm vindo a ser assinaladas.

África do Sul, Namíbia, Camarões, Quénia e Ruanda são exemplos de grande estabilidade na sua exposição ao exterior, explicada, aparentemente, por um aumento na dimensão dos respec‑tivos mercados internos, num processo de substituição do mercado externo, enquanto factor de crescimento económico. As Maurícias destacam ‑se por ser a economia com o maior valor rela‑tivo do Mercado interno: o consumo interno aparente foi estimado em 122% do PIB em 2010.

Figura 10 – Exposição económica dos países da amostra

FONTE: World Bank, World Development Indicators, 2012.

continuação

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

2.3 Experiências internacionais (Coreia do Sul, Malásia e África do Sul)

Francisco Paulo

Angola tem o desafio de diversificar a sua economia que actualmente depende de um único produto de exportação, o petróleo. Em 2012, cerca de 96% das exportações totais de Angola foram de produtos relacionados com petróleo. A posição dominante deste produto na economia é um sinal claro de falta de diversificação da estrutura económica do país.

No processo da diversificação da economia nacional, Angola pode aprender das experiên‑cias de outros países que tiveram resultados positivos na diversificação das suas economias via industrialização e promoção das exportações.

2.3.1 Experiência da Coreia do Sul

As reformas que permitiram a “decolagem económica” da Coreia do Sul ocorreram na década de 1960 e foram motivadas pelas opiniões daqueles que achavam que a única maneira de mudar a estrutura económica do país era alterar a trajectória da economia para o foco no mercado internacional, em vez de uma industrialização focada no mercado interno, o que até então estava a acontecer.

2.3.1.1 A estrutura da economia

Segundo Westphal, “em 1960, a economia sul ‑coreana era dominada pela agricultura e mineração. Com poucas excepções, o sector industrial fornecia apenas produtos simples de con‑sumo”51. Desde 1980, a economia é dominada pelo sector de indústria e manufactura, e em 2010, o peso do sector industrial no PIB foi de 39,4%. As principais indústrias estabelecidas desde 1960 vão desde indústrias de produtos químicos e electrónicos para automóveis e equi‑pamentos eléctricos pesados.

De acordo com Alice Amsden52, para a Coreia alcançar notáveis taxas de crescimento econó‑mico e uma forte diversificação da sua economia, o país usou de um modo eficiente e racional as seguintes instituições:

• Um Estado intervencionista moderado.

• Grandes grupos empresariais diversificados, que actuavam em vários negócios53.

51 Larry, Westphal, Industrial Policy in an Export ‑Propelled Economy: Lessons from South Korea’s Expe‑rience, Journal of Economic Perspective, p. 43, 1990.52 Amsden, Alice, Asia’s Next Giant: South Korea and Late Industrialization, New York: Oxford Univer‑sity Press, 1989, XVI, p. 38.53 Os grandes grupos empresariais coreanos surgem de uma forma impressionante. De acordo com Alice, “as grandes empresas consolidaram o seu poder em resposta a incentivos do Governo com base no bom desempenho das empresas. Empresas que tinham desempenho impressionantes nas áreas de expor‑

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• Uma oferta abundante de gestores competentes.

• Uma oferta abundante de força de trabalho qualificada e de baixo custo.

2.3.1.2 A intervenção do Estado

O que ocorreu na Coreia mostra que, em alguns casos, para se alcançar a expansão da acti‑vidade económica, a intervenção do Estado é necessária, pois esta pode direccionar mais inves‑timentos para a actividade económica. Por exemplo, o Governo coreano interveio para proteger a indústria têxtil de algodão local da competição japonesa; a intervenção ocorreu sob a forma de tarifas, quotas, subsídios à exportação, crédito subsidiado, e assim por diante. Esta intervenção foi necessária, uma vez que as forças de mercado por si só não podiam desenvolver a economia e a diversificação da sua estrutura.

A protecção concedida às empresas por parte do Estado não era arbitrária e aleatória, visto que as empresas tinham que alcançar uma série de objectivos previamente estabelecidos no que dizia respeito ao volume de exportação que tinham que alcançar, à performance da sua actividade empresarial e ao nível de transparência da gestão.

2.3.1.3 Investindo na educação

Segundo Alice, na Coreia do Sul no início do processo da diversificação, “não havia espe‑cialistas no sector industrial tendo em conta os padrões mundiais”54; logo, os engenheiros de produção que eram os guardiões de transferência de tecnologia vieram das escolas. Para isso, o Estado teve que investir fortemente na qualificação da força de trabalho, desde o nível primário até ao superior.

O Governo assegurou que engenheiros suficientes fossem formados para garantir que um número deles seguisse a carreira pretendida pela sua formação. Um grande número de enge‑nheiros fez com que houvesse competição entre eles para obter os melhores empregos e pro‑moções mais rápidas, aumentando assim a produtividade e diminuindo o seu custo para as empresas, pois havia uma oferta relativamente grande de engenheiros qualificados.

O sucesso da Coreia em diversificar a sua economia em parte deveu ‑se ao esforço que se fez em investir na formação da sua população em geral e na qualificação da sua força de trabalho em particular, fazendo com que houvesse uma força de trabalho qualificada e bem treinada, pois havia muitas escolas no país.

tação, I & D, ou introdução de novos produtos, eram recompensadas com mais licenças para expandir os seus negócios, ampliando assim a escala das grandes empresas em geral. Em troca de entrarem em indús‑trias especialmente arriscadas, o Governo recompensava ‑as com outras licenças industriais em sectores mais lucrativos”, promovendo assim o desenvolvimento de grupos empresariais com negócios diver‑sificados. Empresas com fraco desempenho eram penalizadas ao ponto de lhes retirarem as licenças.54 Amsden, Alice, Asia’s Next Giant: South Korea and Late Industrialization, New York: Oxford Univer‑sity Press, 1989, XVI, p. 215.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

2.3.1.4 Foco da política industrial

Desde o início dos anos 1960, a política industrial sul ‑coreana teve dois objectivos principais e interligados: incentivar as exportações e promover as indústrias nascentes. As exportações das indústrias bem estabelecidas têm sido incentivadas com uso de políticas neutras, isto é, políticas que não afectam negativamente as relações comerciais com os países parceiros55; políticas não‑‑neutras56 foram usadas para a promoção de indústrias nascentes.

2.3.1.5 Promovendo as exportações

As reformas políticas que colocaram a Coreia no caminho da industrialização foram centradas na forte promoção das exportações.

A Coreia estabeleceu um regime de livre comércio para as actividades de exportação, de modo que os bens de capital e intermediários utilizados na produção para exportação podiam ser importados livremente e isentos de quaisquer tarifas aduaneiras, isto é, independentemente da sua origem, estes bens estavam isentos de impostos indirectos.

Para apoiar as empresas com falta de recursos para financiar as exportações, o Governo garantiu a disponibilidade de financiamento adequado, permitindo aos exportadores obterem empréstimos na proporção da sua actividade de exportação.

Devido às circunstâncias do mercado, quando uma sobrevalorização da moeda ocorresse, as empresas exportadoras afectadas recebiam incentivos, como a redução directa de impostos, taxas de juro preferenciais e acesso privilegiado aos certificados de importação para compensar a sobrevalorização da moeda57.

A fim de encorajar as empresas a exportar cada vez mais, Westphal observa que “o Governo anunciava publicamente as metas trimestrais de exportação dos commodities, dos mercados e das empresas”. O progresso em direcção às metas e a situação do comércio externo eram revistos regularmente em uma Conferência Mensal de Promoção Comercial, presidida pelo Presidente da República e com a presença de ministros, banqueiros, e os exportadores de maior sucesso, grandes e pequenos. A relação entre os exportadores e os funcionários do Governo era tão próxima que “uma grande equipa mantinha contacto quase diário com os principais exportadores”58.

55 O Governo coreano concedia às empresas exportadoras créditos com taxas de juros bonificados, redução de impostos, subsídios e outras facilidades a fim de promover as exportações.56 Estas políticas incluíam o estabelecimento de quotas de importação em alguns produtos produ‑zidos pelas industriais nascentes ou o agravamento das taxas aduaneiras destes mesmos produtos. Mas estas medidas tinham um horizonte temporal perfeitamente definido e acordado, para não dei‑xar que as empresas se acomodassem.57 Esta abordagem de concessão de incentivos às empresas revelou ‑se melhor do que a desvaloriza‑ção da taxa de câmbio, evitando reacções de países terceiros que se sentissem prejudicados com o aumento dos preços dos seus produtos no mercado coreano.58 Larry, Westphal, Industrial Policy in an Export ‑Propelled Economy: Lessons from South Korea’s Expe‑rience, Journal of Economic Perspective, p. 45, 1990.

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2.3.1.6 Promovendo indústrias nascentes

As indústrias nascentes precisam de apoio do Governo, principalmente na fase inicial do seu desenvolvimento. Na Coreia, tendo em vista o processo da diversificação da econo‑mia, indústrias criteriosamente bem seleccionadas, em função da relevância interna e das necessidades do mercado interno e externo, beneficiaram de protecção absoluta por meio de controlos de importação destinados a garantir ‑lhes um nível adequado de vendas no mercado interno, bem como uma taxa satisfatória de retorno sobre o investimento. Esses controlos têm assumido, na maior parte dos casos, a forma de quotas que estabelecem limites máximos para as importações. Noutras situações os controlos manifestam ‑se sob a forma “de uma lei sob a qual uma licença de importação será concedida apenas se pudesse ser mostrado que um determinado bem não pode ser adquirido em termos razoáveis no mercado interno”59. Esta política foi usada para promover várias indústrias de produção de maquinarias.

2.3.1.7 Compromisso político

Um outro factor ‑chave que ajudou a Coreia a diversificar a sua economia foi o compromisso pessoal do líder político da Nação.

Segundo Westphal (1990), “antes das reformas, o ‘rent ‑seeking’ em relação às licenças de importação e isenções de tarifas tinham fornecido uma importante fonte de receitas ilícitas para os empresários e alguns funcionários do Governo. Para redireccionar o foco de suas actividades, o Presidente Park ordenou que muitos empresários proeminentes fossem presos pouco depois de assumir o poder, e, em seguida, ameaçou ‑os com o confisco de seus bens ilícitos”60. Só depois destes empresários terem concordado investir estas mais ‑valias ilícitas e mesmo ilegais é que foram restituídos à liberdade, num contexto de envolver todas as forças vivas do país num esforço nacional e patriótico de industrialização e diversificação da economia nacional. Este episódio mostra que o compromisso político foi importante no processo de diversificação da economia feita pelo Governo sul ‑coreano, uma vez que este compromisso ajudou a alcançar resultados efectivos.

2.3.1.8 Possíveis lições para Angola

Definir prioridades em relação ao tipo de indústrias que o país necessita que irão garantir um processo seguro rumo a uma contínua industrialização e diversificação da economia. Sem um sector industrial forte e representativo não haverá nem industrialização sustentável, nem Angola tem que definir prioridades em relação ao tipo de indústrias que o país realmente precisa. Indústrias leves, como processamento de alimentos, bebidas, têxtil e outros são importantes. No entanto, a indústria pesada também deve ser levada em conta. O censo industrial realizado

59 Ibid.60 Journal of Economic Perspective, Volume 4, N.o 3, p. 58, 1990.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

pelo Ministério da Indústria entre Outubro de 2013 a Outubro de 2014 constitui uma grande oportunidade para se conhecer efectivamente o tipo de indústria existente e para determinar o tipo de indústria que o país precisa desenvolver a fim de sustentar o processo da diversificação da economia nacional61.

A participação do sector manufactureiro no PIB angolano é ainda muito baixo, tendo sido de cerca de 4%, em média anual, entre 2002 e 2012. Tal como se sublinhou no início deste capítulo, esta percentagem configura mais uma situação de desindustrialização do que de diversificação da economia. A experiência coreana prova, na verdade, a existência duma forte correlação entre industrialização e diversificação.

Apoio e incentivo às exportações

Muito esforço deve ser feito a fim de incentivar as empresas nacionais a produzirem não só para o mercado interno, que é relativamente pequeno, nem tão pouco para a substituição de importações (daí o CEIC, em diferentes estudos, reflexões e intervenções públicas, duvidar que uma política de substituição de importações seja exitosa e difunda ganhos substanciais para a economia e a sociedade. Segundo a Teoria Económica, a substituição de importações pela protecção tarifária aumenta substancialmente o excedente do produtor em detrimento do excedente do consumidor, podendo o efeito final ser negativo sobre o bem ‑estar nacional), mas principalmente para a exportação.

Produzir para exportar vai ajudar as empresas nacionais a aprender com os seus concorren‑tes internacionais e aumentar a sua capacidade de produzir com qualidade e praticar preços competitivos, como ocorreu com as empresas sul ‑coreanas.

Como no caso da Coreia do Sul, o Governo angolano deve assegurar a disponibilidade de finan‑ciamento adequado que permita aos exportadores obterem empréstimos de capital de giro ou fundo de maneio na proporção da importância da sua actividade de exportação. E, de facto, esse apoio é realmente necessário tendo em conta que o país precisa fomentar as exportações do sec‑tor não ‑mineral e a maioria das empresas do sector não ‑mineral não têm tanto dinheiro quanto as empresas que operam no sector mineral (petróleo e diamantes) para financiarem as exportações.

A intervenção do Governo para incentivar e promover as exportações é extremamente importante. É bom saber que o Ministério da Economia tem um departamento que lida com a promoção das exportações, mas a questão é saber se o departamento é realmente funcional e se dá a ajuda e o apoio que as empresas exportadoras necessitam.

Ao departamento de promoção de exportações devem ser dados os recursos necessários que lhe permita identificar os exportadores de pequena escala e trabalhar com eles para determinar

61 O censo industrial deveria terminar em Outubro de 2014, mas até ao momento da edição deste livro os resultados não são conhecidos.

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as suas reais necessidades e ajudá ‑los a superar os desafios que enfrentam para exportarem maiores quantidades e para mais mercados.

Investir na formação

A qualificação do capital humano é a chave para o desenvolvimento e sustentabilidade de qualquer processo de transformação económica, tal como a diversificação. A Coreia do Sul inves‑tiu seriamente na formação para que não dependesse de estrangeiros (já que eles vêm e vão) para sustentar o processo de diversificação económica.

É interessante que o Governo sul ‑coreano primeiramente determinou as necessidades do país em termos da qualidade e da conveniência de força de trabalho que o país precisava naquele momento para arrancar com o processo da industrialização do país. Angola tem de seguir o mesmo padrão. O Governo, juntamente com o sector privado, devem determinar as reais necessidades do país em termos de mão ‑de ‑obra qualificada necessária para desenvolver e sustentar o processo de diversificação económica. Por exemplo, será que Angola tem suficientes engenheiros locais qualificados? O que está a ser feito a esse respeito? A política educacional do país é definida de acordo com as reais necessidades da sociedade em geral e das empresas em particular?

A Estratégia Nacional de Recursos Humanos62 estima que entre 2010‑2020 Angola irá neces‑sitar entre 31 500 a 39 000 engenheiros (civis, mecânicos, ambientais, químicos, etc.). Para satisfazer essas necessidades muito esforço deve ser feito, uma vez que a oferta interna prevista no mesmo período é de apenas 15 100 a 19 500 engenheiros.

Tendo sido determinadas as necessidades de força de trabalho, o passo seguinte é o da certificação de que o sistema nacional de educação trabalhe seriamente para atender às neces‑sidades do país. Oportunidades de emprego devem ser garantidas, a fim de permitir que o recém ‑formado possa ter o seu primeiro emprego, sem a exigência de experiências passadas.

Em Angola há muitos estrangeiros que trabalham para diferentes tipos de empresas, o que é compreensível, já que o país não tem mão ‑de ‑obra qualificada o suficiente. Mas a questão que se levanta é: estão os trabalhadores angolanos a aprender com eles? Como o processo de transmissão do conhecimento está a ocorrer? As empresas que contratam trabalhadores estran‑geiros qualificados devem ser persuadidas a terem “programas de aprendizagem no trabalho” que facilitem os trabalhadores nacionais a aprenderem com os trabalhadores estrangeiros mais qualificados.

Política monetária

Um dos objectivos da política monetária em Angola é o de manter a taxa de inflação sob controlo, usando a taxa de câmbio como âncora para estabilizar o nível de preços internos, dado

62 Governo da República de Angola, Estratégia Nacional de Formação de Quadros, Casa Civil da Presi‑dência da República.

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que a maior parte dos bens consumidos (quase 70%) são importados e qualquer variação da taxa de câmbio afecta o nível de preços.

Neste caso, qualquer depreciação da moeda angolana vai afectar dramaticamente os preços internos, influenciando, assim, o nível de inflação. Se tivéssemos uma parte significativa das exportações não ‑minerais, a desvalorização da moeda teria, até um certo ponto, impulsionado essas exportações uma vez que os preços relativos ao importador teriam sido relativamente mais baixos devido à depreciação da taxa de câmbio.

A principal função do Banco Nacional de Angola, como indicado na sua declaração de missão, “é assegurar a preservação do valor da moeda nacional”63. Esta política é geralmente chamada de política do “kwanza forte”, que evita a todo o custo a depreciação da moeda. Mas é importante res‑saltar que a sobrevalorização da taxa de câmbio afecta negativamente a competitividade das expor‑tações angolanas, especialmente as não ‑minerais em que os preços são definidos internamente.

O Banco Central poderia conduzir a política monetária para promover as exportações não‑‑minerais. Juntamente com o Governo, o Banco Nacional poderia compensar (como fez a Coreia do Sul) as empresas exportadoras afectadas pela sobrevalorização da moeda, concedendo ‑lhes incentivos, tais como taxas de juro preferenciais, redução de impostos, acesso privilegiado directo aos certificados de importação para compensar a sobrevalorização da moeda.

2.3.2 Experiência da Malásia

Como a Malásia, Angola é também um país produtor de petróleo, mas diferentemente de Angola, a Malásia não depende apenas da produção de petróleo ou gás natural, visto que a sua economia é bem diversificada. A Malásia fez um tremendo esforço para diversificar a sua estrutura económica e usou bem as receitas provenientes da agricultura e do sector mineral para desenvolver a indústria manufactureira, intermediária e pesada.

A chamada de alerta para o Governo da Malásia iniciar o processo de diversificação da eco‑nomia após a independência ocorreu com “as flutuações do preço da borracha durante os anos 1950 e da queda dos preços da borracha na década de 1960, combinado com a antecipação do inevitável esgotamento dos depósitos de estanho”64. No caso de Angola, a crise financeira inter‑nacional 2009 ‑2010, que levou à redução dos preços do petróleo nos mercados internacionais, foi um ponto de viragem para o Governo angolano começar a pensar em diversificar a economia.

Em 1957, quando a Malásia conseguiu a independência da Grã ‑Bretanha, a sua economia dependia de dois produtos principais de exportação: estanho e borracha, e naquele tempo a indústria transformadora era inferior a 10% do PIB, devido ao facto de as autoridades coloniais

63 http://www.bna.ao/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=139&idsc=169&idl=1.64 Jomo K. S.; Rock, Michael (1998), Economic Diversification and Primary Commodity Processing the Second ‑Tier South ‑East Asian Newly Industrializing Countries, p. 6, 1998.

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não permitirem o desenvolvimento de indústrias locais visto que as colónias eram consideradas uma fonte e fornecedores de matérias ‑primas e importadores de bens manufacturados. No entanto, em 2011, a Malásia já era a 29.a maior economia do mundo, com o sector industrial responsável por cerca de 25% do PIB e 74% do total das exportações, o que ilustra o tremendo esforço que foi feito para industrializar o país.

Hoje a Malásia é o segundo maior produtor de petróleo e gás natural no sudeste da Ásia e o segundo maior exportador de gás natural liquefeito no mundo65. Apesar de ser um país produtor de petróleo, a Malásia tem hoje uma economia bem diversificada com o sector mineral pesando cerca de 9% do PIB. Diferentemente de Angola, a Malásia não depende apenas do petróleo, da produção de gás natural e da exploração de estanho.

A Malásia usou bem as consideráveis receitas de exportação e essas receitas garantiram que não sofresse de escassez de poupança ou de divisas, contribuindo para o investimento, crescimento e mudança estrutural da economia. Estes ganhos financiaram parte do processo de diversificação, explorando novas actividades económicas e produzindo novos produtos agrícolas e industriais.

2.3.2.1 Diversificando o sector agrícola

Segundo Jomo e Rock (1998), no início de 1970 foram intensificados os esforços para diver‑sificar as exportações agrícolas. A Malásia nos tempos coloniais foi mundialmente hegemónica no comércio de borracha, estanho e pimenta. Mas em 1980 apostou na produção de óleo de palma, madeiras tropicais e cacau, ou seja, diversificou a produção do sector primário. Óleo de palma e produção de cacau, por exemplo, foram encorajados com incentivos para culturas específicas, o que fez com que a Malásia se tornasse o maior exportador do mundo de ambos os produtos agrícolas em 1980.

O Governo percebeu que era também necessário olhar para o desenvolvimento rural pós‑‑colonial e “várias reformas foram introduzidas para promover cooperativas rurais e para limitar os juros cobrados sobre os empréstimos de crédito”66. Desde o início de 1980, no entanto, mais importância tem sido dada ao desenvolvimento da agricultura comercial para a exportação.

As receitas provenientes do petróleo, gás natural, estanho, madeira e outros produtos agrí‑colas têm sido “alocadas de modo a promover investimentos em novas actividades produtivas, que aceleraram a diversificação da economia a partir de sua herança colonial. Grande parte destes investimentos têm sido canalizados para a diversificação, especialmente a industriali‑zação, inicialmente com base na substituição de importações, em seguida, a promoção das exportações”67, bem como o fomento da indústria pesada.

65 http://www.eia.gov/countries/country ‑data.cfm?fips=my. E de acordo com esta fonte, a Malásia produz cerca de 513 mil barris de petróleo bruto por dia.66 Jomo K. S.; Rock, Michael, Economic Diversification and Primary Commodity Processing the Second‑‑tier South ‑East Asian Newly Industrializing Countries, p. 6, 1998.67 Ibid, p. 9.

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2.3.2.2 Políticas de substituição de importações e promoção de exportações

O crescimento industrial da Malásia foi impulsionado, quer pelas políticas de industrialização orientadas para a substituição de importações, quer pelas políticas de industrialização orien‑tadas para a promoção das exportações. No que diz respeito a substituição de importações, os bens de capital e intermediários, como produtos químicos, cimento, alumínio, aço e equipamen‑tos de transporte foram a prioridade. As taxas nominais e efectivas de protecção desses bens aumentaram a fim de proteger as empresas locais e as indústrias nascentes.

Mas de acordo com Okamoto (1994), em meados de 1980, o Governo da Malásia decidiu “reduzir gradualmente a taxa de protecção”, porque percebeu ‑se que as indústrias de substitui‑ção de importações não estavam a funcionar conforme o esperado e “uma série de indústrias nascentes nunca cresceu, apesar de terem sido protegidas por mais de dez anos, o que impediu a indústria de exportação de reforçar a sua competitividade no mercado internacional”68.

Um dos mecanismos utilizados pelo Governo para promover as exportações dos produtos manufacturados foi o de “admitir 100% de propriedade de capital estrangeiro para as empresas que exportavam mais de 50% de seus produtos”69, o que possibilitou a entrada no país de empre‑sas estrangeiras orientadas para a exportação que eram mais produtivas e competitivas no mer‑cado internacional do que as empresas locais. As empresas locais beneficiaram das empresas estrangeiras voltadas para a exportação, pois foram induzidas a melhorar a sua produção e gestão de tecnologia sob a crescente pressão da concorrência.

Em resumo, o Governo da Malásia, nos primeiros anos após a independência, viu a neces‑sidade de desenvolver e diversificar a estrutura económica do país. Foram feitos esforços no sector da agricultura para a produção de outras culturas, além de borracha, diversificando desta forma este sector; o Governo criou também um plano para o desenvolvimento da área rural que permitiu que os camponeses se tornassem pequenos agricultores orientados para o mercado e mais ênfase foi dada para o desenvolvimento da agricultura comercial – envolvendo agricultores de grande escala.

O desenvolvimento do sector industrial teve um papel fundamental no processo da diver‑sificação. A política de substituição de importações permitiu a promoção de indústrias de bens intermediários e de capital, tais como produtos químicos, cimento, alumínio, aço e equipamen‑tos de transporte. Além desses sectores, o Governo, juntamente com o sector privado, procurou desenvolver outras indústrias, como a de processamento de alimentos, fabrico de máquinas eléctricas e máquinas em geral, indústrias de ferro e aço, têxteis, refinarias de petróleo e indús‑trias de produtos metálicos.

68 Okamoto, Yumiko, Impact of Trade and FDI Liberalization Policies on the Malaysian Economy, p. 463, 1994.69 Ibid, p. 464.

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Empresas orientadas para a exportação ajudaram a economia da Malásia a ganhar compe‑titividade no mercado internacional, tornando ‑se mais produtiva e eficiente. Produzir apenas para satisfazer a procura interna não era suficiente se o país quisesse realmente consolidar o processo da diversificação da economia.

2.3.2.3 Possíveis lições para Angola

Angola pode aprender da experiência da Malásia, olhando mais atentamente para o padrão de diversificação económica feito por este país e seguir os bons exemplos que se adaptam ao contexto angolano.

A Malásia começou por diversificar o sector agrícola, investindo na produção de outras cul‑turas, além de borracha, tais como óleo ‑de ‑palma, cacau e outros. O interessante é a atitude de orientação para o mercado que foi incutida entre os agricultores, a produção não foi apenas para o mercado interno, mas essencialmente para a exportação. Esta atitude ajudou a desenvolver os agricultores comerciais de grande porte que produzem para exportar.

Angola pode bem seguir o mesmo exemplo. O desenvolvimento da agricultura em Angola é crucial para promover o processo de diversificação da economia, mas para tal o país precisa de incentivar a agricultura comercial, que é orientada para o mercado, e não apenas a familiar. Agri‑cultores de pequena escala devem ser apoiados para vender parte dos seus produtos no mercado interno e outra para exportar e receber qualquer ajuda que possam necessitar para que alguns se tornem grandes agricultores e ganhem competitividade no mercado internacional. A participação da agricultura no PIB angolano é relativamente pequena, cerca de 5% em média, de acordo com as Contas Nacionais do INE, um número que mostra que muito trabalho pode ser feito neste sector.

O sector industrial foi outra prioridade da Malásia. Em 1967, o Governo da Malásia estabeleceu a The Malaysian Industrial Authority, que agora é conhecida como The Malaysian Investment Develop‑ment Authority (MIDA), que tem a missão especial de promover e apoiar o investimento no sector industrial e de serviços. Na sede desta instituição altos representantes de agências governamentais‑‑chave estão presentes para aconselhar os investidores sobre as políticas e procedimentos do Governo.

O Governo da Malásia investiu seriamente no desenvolvimento de infra ‑estruturas que permitiram a expansão do sector industrial no país. Infra ‑estruturas tais como estradas, por‑tos, aeroportos, telecomunicações e parques industriais podem ser facilmente encontrados na Malásia e são de grande importância para o desenvolvimento da economia local e do comércio internacional. Para promover as exportações, zonas industriais ou económicas livres (ZIL) foram desenvolvidas para atender às necessidades de indústrias orientadas para a exportação.

As empresas em zonas industriais têm direito a duty free de importações de matérias ‑primas, componentes, peças, máquinas e equipamentos directamente necessárias no processo da pro‑dução. Há cerca de 18 zonas industriais livres na Malásia que estão totalmente equipadas com infra ‑estruturas como estradas, energia eléctrica e abastecimento de água e tele comunicações.

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Em geral, as indústrias na Malásia estão localizadas principalmente em parques industriais e há mais de 200 deles em todo o país, os quais estão continuamente a ser desenvolvidos não só pelo Governo, mas também por promotores privados para satisfazer a procura.

Angola, para diversificar a sua economia, tem de investir no desenvolvimento de boas infra‑‑estruturas que permitirão que as indústrias funcionem sem sobressaltos ou problemas. É ver‑dade que um grande esforço vem sendo feito pelo Governo para reconstruir as infra ‑estruturas, mas os esforços também devem ser feitos para garantir a qualidade e durabilidade destas infra‑‑estruturas.

O desenvolvimento das Zonas Económicas/Industriais Livres deve ser outra prioridade do Governo para apoiar a expansão de indústrias em todo o país. Nestas zonas, infra ‑estruturas tais como estradas, energia eléctrica, telecomunicações e água devem ser de boa qualidade. As indústrias que operam nestas zonas devem ser incentivadas a produzir não só para o mercado interno, mas também para as exportações, para forçá ‑los a ganhar competitividade no mercado internacional.

Até ao momento há somente uma zona económica em Angola, que é conhecida como Zona Económica Especial Luanda ‑Bengo. Esta zona económica foi criada em 2009 pelo Decreto Presi‑dencial n.o 50/09, de 11 de Setembro, e um dos seus principais objectivos é diversificar a estru‑tura económica, reduzir o nível de importações e promover as exportações. A zona económica Luanda ‑Bengo cobre uma área de 8300 hectares e tem a capacidade de albergar 73 fábricas, mas actualmente apenas 22 fábricas estão efectivamente em funcionamento.

Olhando para o exemplo da Malásia, parece que a criação de zonas económicas em todo o país é uma boa política para promover a industrialização e diversificação da economia.

2.3.3 Experiência da África do Sul

A África do Sul é uma das maiores e a mais diversificada70 economia no continente, tem uma base de produção bem estabelecida, que foi desenvolvida logo no início do século XX e está fortemente ligada aos sectores tradicionais como a agricultura, a indústria transformadora e as minas. Pode ‑se afirmar que esta base de produção é o principal motor do crescimento económico e da diversificação da actividade económica do país. E isto é ilustrado pela forte presença de indústrias químicas (produção de plástico e borracha, produtos farmacêuticos), de processamento de produtos agrícolas, de metais e couro, de construção civil e engenharia especificamente voltada para o sector mineiro, de projectos geológicos e de serviços financeiros que se especializam frequentemente em determinados sectores da economia do país.

70 Como um índice de concentração de exportações de apenas 0,172 em 2013 (enquanto que em Angola é de 0,968), a África do Sul é o país africano com o maior Competitive Industrial Performance Index (0,08), estando classificado em 41.o lugar num total de 133 países

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Nos últimos anos, novos sectores surgiram como a indústria automobilística, desde a década de 90, em especial com o fim do apartheid, com forte apoio do Governo através do Motor Industry Development Programme (MIDP) – que é o plano director da política industrial do sec‑tor automobilístico. Hoje este sector representa pelo menos 6% do PIB e 12% das exportações industriais sul ‑africanas, emprega directamente mais de 65 mil trabalhadores e indirectamente mais de 200 mil71.

O Turismo é outro sector que nasceu e é visto como um componente importante de desenvolvi‑mento económico do país, por causa de suas repercussões no desenvolvimento de infra ‑estruturas (estradas e aeroportos, especialmente), construção de hotéis e outras instalações, e da criação de emprego. O peso médio deste sector no PIB é de cerca de 7% e o Governo sul ‑africano, em conju‑gação com os agentes económicos privados, tem feito muitos esforços em promover o turismo e atrair turistas quer nacionais como internacionais nas diversas regiões do país.

O sector das telecomunicações e tecnologias de informação é um dos que tem vindo a apresentar maiores taxas de crescimento nos últimos anos e em conjunto com o sector dos transportes tem o peso de 10% no PIB. Por sua vez, o sector financeiro é bem sofisticado e desen‑volvido com instituições prestando serviços financeiros diversificados e conta com uma bolsa de valores desde 1887 denominada Johannesburg Stock Exchange (JSE), que é actualmente a 19.a maior do mundo em termos de capitalização do mercado e a maior do continente, nela estão cotadas cerca de 400 empresas72. Esta bolsa tem sido um importante instrumento alter‑nativo à banca comercial para o financiamento das empresas de diversos sectores económicos que fazem investimentos conducentes à diversificação da economia.

A África do Sul não alcançaria o actual nível de diversificação da sua economia se não apos‑tasse na construção de infra ‑estruturas que facilitassem a produção, distribuição e comercia‑lização de bens e serviços quer a nível nacional como internacional. As estradas, os portos, aeroportos, caminhos ‑de ‑ferro estão em constante manutenção e expansão, o que permite uma livre e eficiente circulação de bens e serviços dentro e fora do país. Esforços estão a ser feitos para melhorar a oferta de electricidade, pois há ainda falhas neste sector. De acordo com o bole‑tim trimestral publicado pelo Statistics South Africa, só em 2013 as empresas que operaram na indústria de produção de electricidade, gás e fornecimento de água fizeram investimentos, em termos de despesas de capital, avaliados em 53 852 milhões de Rands73, ou seja, mais de 4,65 mil milhões de dólares americanos. E a taxa de crescimento anual deste sector tem rondado entre 3,8% a 5% nos últimos anos74, pois quer o Governo como as empresas do sector estão cônscios da importância do mesmo para a economia.

71 http://www.southafrica.info/business/economy/sectors/automotive ‑overview.htm#.VKubSGd3uM9.72 https://www.jse.co.za/about/history ‑company ‑overview.73 Quarterly Financial Statistics (QFS), December 2013, p. 14, Statistics South Africa, December 2013.74 Quarterly Bulletin, December 2013, p. 6, South Africa Reserve Bank.

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2.3.3.1 Estrutura da economia

Segundo as contas nacionais sul ‑africanas, a actividade económica do país está categorizada ou classificada em dez sectores principais e o peso relativo de cada no Produto Interno Bruto (PIB) é razoavelmente equilibrado, evidenciando a diversificação da sua economia, como se poder ver na figura seguinte.

Figura 11 – Estrutura da economia sul ‑africana em 2012

FONTE: Statistics South Africa (Quarterly Gross Domestic Product by Industry File).

O sector da agricultura, floresta e pescas pesa 2,3% no PIB, enquanto o sector mineiro 8,3%, o que quer dizer que o sector primário tem um peso relativo na economia sul ‑africana de 10,6%. O sector da construção civil, indústria transformadora, electricidade, gás e água, em conjunto, pesam 17,2%. Os serviços financeiros, em conjunto com a actividade imobiliária, representam 19,3% da produção nacional, enquanto os serviços de comércio a grosso e retalho e alojamento têm um peso de 14,3%, os serviços públicos gerais (fornecidos pelo Governo) têm 14,9% e os serviços pessoais particulares têm 5,3%.

Vê ‑se claramente que a África do Sul é um país com uma estrutura económica diversificada. Mas resta saber que estratégias e políticas o Governo sul ‑africano tem vindo a adoptar que permitiram a diversificação da economia, qual tem sido o papel do sector privado e como o processo de diversificação foi e está sendo financiado.

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2.3.3.2 Estratégias e políticas económicas adoptadas

Como de resto é sabido, a diversificação económica é um processo que leva tempo e que precisa ser criteriosamente bem estudado e planificado, garantindo que os sectores ‑chave sejam identificados, os recursos necessários estejam à disposição, as políticas e os programas sejam coerentes e consistentes entre si, com o pensamento económico geral e com a vontade política de diversificar a economia em prol do bem da Nação.

O pensamento económico da diversificação e a vontade política para prossegui ‑la estava presente mesmo no Governo sul ‑africano do regime do apartheid. O regime apercebeu ‑se logo de início que não era seguro depender apenas da extracção dos recursos naturais e que era preciso desenvolver a indústria transformadora e outras actividades económicas que iriam garantir a auto ‑sustentabilidade do país no caso de embargos económicos por parte das potên‑cias mundiais na altura devido à extrema política de segregação racial que o regime do apar‑theid implementou no país. Assim, como estratégia para diversificar a economia e promover o crescimento económico, o Governo criou vários organismos com a missão específica de fomentar a diversificação e apoiar todos os agentes económicos que estavam prontos para este desiderato.

Assim, em 1940 foi criada a Industrial Development Corporation (IDC), uma instituição financeira que promove o crescimento económico ao apoiar iniciativas que resultam em negó‑cios com potencial em contribuírem para o desenvolvimento industrial da economia sul ‑africana e do continente em geral. Até hoje esta instituição pública existe e está sob a supervisão do Ministério do Desenvolvimento Económico do Governo sul ‑africano (Economic Development Department) e tem como missão: “to contribute to the creation of balanced, sustainable econo‑mic growth in South Africa and on the rest of the continente”75.

Em 1951 a Industrial Development Corporation financia a criação da Foskor, empresa voca‑cionada para produzir fosfatos, que na altura eram indispensáveis para a expansão da agricul‑tura, e hoje a Foskor76 é a maior fornecedora sul ‑africana de fertilizantes granulados (o principal ingrediente em produtos de nitrogénio), fosfato e potássio; é também produtora comercial de ácidos fosfórico e sulfúrico e magnetite, que são vendidos a nível local e no estrangeiro.

O Governo promoveu ainda em 1950 a criação da SASOL77 para encabeçar a produção de combustível através dum processo de liquefacção a partir do carvão, para compensar a depen‑dência da África do Sul em relação ao petróleo importado. Actualmente, a SASOL é uma das maiores empresas do mundo que produz combustível do carvão e uma das maiores companhias de África.

75 http://www.idc.co.za/about ‑the ‑idc.html.76 http://www.foskor.co.za/ob_history.php.77 http://www.sasol.com/about ‑sasol/company ‑profile/historical ‑milestones.

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A África do Sul estabeleceu uma série de instituições e organismos com o objectivo de pro‑mover e apoiar o processo da diversificação da economia, que por sua vez conduziria ao cresci‑mento económico sustentado e diversificado. Mesmo com a mudança do regime do apartheid, o novo Governo de 1994 manteve as instituições que promoviam a diversificação e criaram ‑se novas instituições complementares.

The Council for Scientific and Industrial Research (CSIR), uma das principais organizações de pesquisa científica e tecnológica em África, foi constituída por uma lei do Parlamento em 1945 como um conselho de ciência; este conselho “faz investigação multidisciplinar, promove a inovação tecnológica, bem como o desenvolvimento industrial e está empenhada em apoiar a inovação na África do Sul para melhorar a competitividade da economia nacional na economia global”78.

Mostrando que a diversificação da economia é um processo contínuo e permanente, em 2007 o Governo sul ‑africano criou o National Industrial Policy Framework (NIPF) e o seu res‑pectivo Plano de Acção da Política Industrial (Industrial Policy Action Plan). Analisando a visão do National Industrial Policy Framework, nota ‑se que ela tem com objectivos, entre outros, os seguintes:

• “To facilitate diversification beyond the current reliance on traditional commodities and non ‑tradable services. This requires the promotion of increased value ‑addition per capita characterized particularly by movement into non ‑traditional tradable goods and services that compete in export markets as well as against imports.

• The long ‑term intensification of South Africa’s industrialization process and movement towards a knowledge economy.

• The promotion of a more labour ‑absorbing industrialization path with a particular empha‑sis on tradable labour ‑absorbing goods and services and economic linkages that catalyze employment creation”79.

O NIPF reconhece que “the industrial policy is not the domain of a single government depart‑ment but requires intensive coordination across a range of government departments. It can only be implemented successfully if it is aligned with four associated and supporting sets of policies. First, a stable and supportive macroeconomic and regulatory environment. Second, appropriate skills development and educational systems which are increasingly integrated with the needs of the industrial economy. Third, sufficient, reliable and competitively priced traditional and modern infrastructure. Fourth, adequate support for various forms of technological effort within the economy”80.

78 http://www.csir.co.za/about_us.html.79 National Industry Policy Framework, Department of Trade and Industry of SA, p. 2.80 National Industry Policy Framework, Department of Trade and Industry of SA, p. 3.

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Assim, nota ‑se que a política industrial sul ‑africana tem sido inclusiva, procurando envolver pelo menos quatro aspectos importantes que garantam a sustentabilidade do crescimento eco‑nómico, nomeadamente, um ambiente macroeconómico favorável; um sistema educacional que satisfaça as necessidades da economia e que estimule o desenvolvimento tecnológico em função das exigências do mercado; infra ‑estruturas modernas, adequadas e funcionais que sir‑vam duma forma eficiente os interesses dos agentes económicos e apoio ao desenvolvimento tecnológico.

E a coordenação entre os diversos organismos do Governo é um outro factor a destacar como sendo crucial e preponderante para que o pensamento económico geral da diversificação da actividade produtiva do país fosse harmonioso e explícito para todo o aparelho administrativo do Estado, fazendo com que todos os planos e políticas convergissem no fim último da diversifi‑cação da economia. No caso da África do Sul a forma como o Governo está estruturado permite a harmonização dos objectivos entre os diferentes órgãos ministeriais.

Por exemplo, dentro da estrutura governativa, os ministérios ou departamentos ministeriais foram agrupados em clusters ou aglomerados para promover uma abordagem integrada de governação que visa melhorar o planeamento, a tomada de decisão e prestação de serviços públicos. O principal objectivo desta aglomeração é garantir uma boa coordenação de todos os programas e políticas do Governo quer a nível nacional e provincial. Os clusters servem ainda para assegurar a coerência das “prioridades do Governo no seu todo, facilitar e monitorar a implementação de programas prioritários, e fornecer uma plataforma de consulta sobre prio‑ridades transversais e assuntos que são levados ao Conselho de Ministros”81. Há sete clusters e nota ‑se que alguns ministérios ou departamentos estão em vários clusters devido à sua impor‑tância e transversalidade.

1. Cluster do Desenvolvimento das infra ‑estruturas (Infrastructure Development Cluster): agrega os sectores como Transporte, Energia, Obras Públicas, Telecomunicações, Água e Saneamento, Desenvolvimento Económico, Finanças, Empresas Públicas, entre outros.

2. Cluster dos Sectores Económicos e Emprego (Economic Sectors and Employment Cluster): agrega os ministérios do Desenvolvimento Rural e Reforma da Terra, Ciência e Tecnologia, Agricultura, Recursos Florestais e Pescas, Desenvolvimento Económico, Finanças, Ensino Superior, Recursos Minerais, Empresas Públicas, Telecomunicações, Turismo, Emprego, Comércio e Indústria.

3. Cluster do Desenvolvimento Humano (Human Development Cluster): agrega os secto‑res da Saúde, Educação Básica, Ensino Superior, Artes e Cultura, Ciência e Tecnologia, Emprego, Desporto e Recreação.

81 http://www.gov.za/about ‑government/government ‑system/structure ‑and ‑functions ‑south ‑african‑‑government#gov_cluster.

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4. Cluster da Governança e Administração (Governance and Administration Cluster): aglo‑mera os ministérios do Interior, Justiça e Desenvolvimento Constitucional, Finanças, Ser‑viços Públicos e Administração, Governança Corporativa e Assuntos Tradicionais.

5. Cluster da Protecção Social e Desenvolvimento Comunitário (Social Protection and Commnunity Development Cluster): integra os ministérios do Emprego, Transporte, Água e Saneamento, Desenvolvimento Social, Ambiente, Obras Públicas, Desenvolvimento Rural, Governança Corporativa e Assuntos Tradicionais.

6. Cluster da Cooperação Internacional, Comércio e Segurança (International Coopera‑tion, Trade and Security Cluster): agrega os ministérios da Defesa, Finanças, Comércio e Indústria, Turismo, Ambiente, Relações Internacionais e Cooperação, Água e Saneamento, Desenvolvimento Rural.

7. Cluster da Justiça, Prevenção do Crime e Segurança (Justice, Crime Prevention and Security Cluster): agrupa os ministérios da Justiça e Desenvolvimento Constitucional, Serviços Cor‑reccionais e Prisionais, Interior, Defesa e Veteranos de Guerra, Segurança do Estado.

Esta forma de organização do Governo faz com que todas as políticas e estratégias que são elaboradas e executadas estejam integradas horizontal e verticalmente, facilitando a conver‑gência dos objectivos, e o processo da diversificação económica floresce mais rapidamente num ambiente assim. Desta forma, pode ‑se entender porque a África do Sul é o país com a economia mais diversificada no Continente.

E que dizer do sector privado, que papel tem tido neste processo? “The South African private sector is heavily involved in most of the key areas of the economy. Due to its size, complexity and links to major global corporations, it has played a major role in enabling South Africa to become an emerging economic powerhouse”82. De facto o sector empresarial privado sul ‑africano é muito forte e está presente nas diversas áreas da economia do país, procurando mais oportu‑nidades de negócio dentro e fora do país. Os privados com um forte espírito empreendedor sempre estiveram cônscios que deveriam fazer parte do processo da diversificação económica por procurar abrir negócios em sectores de actividade não tradicionais, explorando assim novas áreas. Por sua vez, o próprio Governo sabe que sozinho não consegue diversificar a economia, precisa da classe empresarial privada para conseguir este objectivo, por isso todos os planos económicos são sempre feitos em articulação com o sector privado.

Durante o regime do apartheid, o sector privado era composto maioritariamente por empre‑sários brancos, os quais tinham acesso à maior parte das oportunidades de negócio que o país oferecia devido à política de segregação racial levada a cabo na altura. Depois de 1994, o novo Governo viu a necessidade de fazer com que a classe empresarial se alargasse e incluísse homens

82 OECD/United Nations, Economic Diversification in Africa: A Review of Selected Countries, p. 32, OECD, 2011, Publishing: http://dx.doi.org/10.1787/9789264038059 ‑en.

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de negócios de outras raças, em especial a maioria negra. Assim, em 2001 foi criado o programa Black Economic Empowerment que visava favorecer o surgimento duma nova classe empresa‑rial que fosse abrangente em termos de raça. Mas devido a algumas falhas neste programa83, em 2007 foi revisado e introduzido o Broad ‑Based Black Economic Empowerment (B ‑BBEE) Programme que pretende ser mais inclusivo e abrangente. Desta forma, hoje a classe empresa‑rial sul ‑africana é mais heterogénea em termos de raça e mais competitiva e empreendedora, procurando afirmar ‑se no mercado interno e internacional. Sabe aproveitar as oportunidades que o Governo oferece mas não espera que o mesmo faça tudo por eles.

2.3.3.3 Formas de financiamento

A Diversificação é um processo oneroso que requer muitos fundos não somente públicos, mas também privados. Ao Estado espera ‑se o financiamento integral das infra ‑estruturas bási‑cas necessárias para o desenvolvimento das diversas actividades económicas e o apoio à classe empresarial empreendedora com poucos recursos para que esta obtenha perante o sistema financeiro (banca comercial e de investimento) crédito a taxas de juro competitivas que lhes permite expandir os seus negócios e explorar novas áreas. Em termos gerais, o financiamento do processo da diversificação económica advém de pelo menos quatro fontes principais:

• Estado, por meio dos bancos de desenvolvimento e outros programas que são criados com o intuito de fornecer créditos, com taxas de juro competitivas, aos agentes económi‑cos que actuam em determinados sectores.

• Bancos Comerciais que concedem empréstimos para o investimento a operadores econó‑micos com propostas credíveis e viáveis.

• Bolsa de valores que possibilita às empresas cotadas a emissão de títulos (acções ou obri‑gações) transaccionáveis que lhes permite obter fundos para expandirem os seus negócios ou investirem em novos; a Bolsa de Johannesburg tem um impacto muito significativo na economia sul ‑africana84, pois ela permite às empresas acederem a financiamento pela emissão de títulos financeiros que podem ser adquiridos por investidores quer nacionais e estrangeiros.

• Investidores Estrangeiros que por meio do investimento directo estrangeiro realizam in‑vestimentos por adquirirem parte de negócios locais ou por directamente abrirem novos negócios em áreas do seu interesse em função das “orientações” indirectas dos Governos locais por meio de incentivos e outros mecanismos.

83 O BEE foi severamente criticado por ter favorecido o enriquecimento apenas duma pequena franja da classe negra e, por isso, foi substituído pelo B ‑BBEE, que é em princípio mais abrangente, desde 2007 tem estado em vigor na África do Sul.84 Hassan, S., South African Capital Markets: An Overview, South African Reserve Bank, Working Paper Series WP/13/04.

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A experiência da África do Sul mostra que essas quatro fontes foram usadas e continuam a ser usadas para o financiamento da diversificação da economia. Mas o que chama mais a aten‑ção é o nível de investimento directo estrangeiro que tem afluído ao país. Como se pode obser‑var no gráfico abaixo, em especial desde 1994, o IDE tem vindo a aumentar significativamente.

Figura 12 – Fluxo líquido do investimento directo estrangeiro na África do Sul (milhões de USD)

FONTE: World Bank.

Em 1997, segundo os dados do Banco Mundial, o IDE realizado na África do Sul foi de USD 3,8 mil milhões, em 2001 de 7,2 mil milhões, em 2008, o ano com o maior fluxo líquido, foi de 9,8 mil milhões e em 2013 de 8,1 mil milhões de dólares americanos. Estes investimentos contribuíram muito para a intensificação e diversificação da actividade económica no país, pois foram realizados não só apenas nos sectores tradicionais, mas também em novos sectores como a indústria automóvel, serviços financeiros, hotelaria e turismo, entre outros.

Há muitos factores que fazem com que a África do Sul seja um destino favorável de investimen‑tos estrangeiros, entre eles destacam ‑se o bom ambiente macroeconómico, a qualidade das infra‑‑estruturas, a dimensão do mercado e a possibilidade de expandi ‑lo aos demais países da região, e a existência da bolsa de valores, pois por meio dela atraem ‑se muitos investidores estrangeiros.

O sector bancário sul ‑africano está muito avançado e sofisticado, oferecendo serviços e pro‑dutos financeiros em função do sector de actividade económica, possibilitando em especial às empresas não cotadas na bolsa obterem empréstimos de longo prazo para o financiamento dos seus negócios. Por sua vez, o Governo garante financiamento por meio de diversos organismos públicos tais como a Industrial Development Corporation que financia projectos em sectores industriais ou de prestação de serviços com grandes impactos e que sejam intensivos em mão‑‑de ‑obra. Deste modo, a África do Sul tem financiado a diversificação da sua economia por meio de combinação de capitais públicos e privados, e atracção de investimentos estrangeiros.

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2.3.3.4 Possíveis lições para Angola

A experiência da África do Sul mostra que para que o processo da diversificação da economia angolana seja bem ‑sucedido e sustentado é necessário pelo menos ter ‑se em conta os seguintes factores:

• O Governo deve conduzir o processo de uma forma bem pensada, estruturada e continua‑da, fazendo com que todos os organismos, públicos e privados, participem activamente; a diversificação precisa de estar no pensamento geral do Executivo e no centro dos seus planos. Na África do Sul, mesmo com a mudança do regime em 1994, o novo Governo con‑tinuou com o processo da diversificação iniciado pelo anterior. Angola está com o mesmo Governo desde 1975, nota ‑se durante todo este período que não tem havido um pensa‑mento geral e planos bem ‑estruturados, dentro do Governo, para a diversificação da eco‑nomia nacional. A diversificação não é feita da noite para o dia, muito menos em tempo de crise, ela é realizada continuamente, aproveitando ‑se os anos em que há excedentes para se investir mais em novos sectores.

• Deve ‑se criar ou designar instituições próprias, que em articulação com o Governo, acom‑panharão o processo da diversificação, apoiando projectos de investimentos em áreas ou sectores de actividades previamente bem definidas que são capazes de serem intensivos em mão ‑de ‑obra. Na África do Sul uma das instituições que realiza este papel é a Indus‑trial Development Corporation (IDC) que fornece financiamento a projectos de desen‑volvimento industrial em sectores tidos como prioritários85. Como se fez com a Reforma Tributária, em que se criou um organismo próprio que está a conduzir a reforma, devia ‑se também criar uma entidade que fosse responsável por conduzir o processo da diversifica‑ção com planos bem definidos e resultados bem especificados, que se devem atingir num determinado período de tempo.

• Investir seriamente nas infra ‑estruturas e garantir que elas sejam bem ‑feitas e tenham a devida manutenção para que durem o suficiente e gerem o devido retorno económico e social esperado. Os dados mostram que desde 2002 até 2013 se investiu cerca de USD 80 mil milhões em infra ‑estruturas, mas a qualidade de muitas delas é muito baixa de tal modo que duram pouco. Por outro lado, apostar na formação do capital humano em função das necessidades já identificadas na Estratégia Nacional de Formação de Quadros, articulando com as instituições de ensino e de formação profissional no sentido de capa‑citarem a mão ‑de ‑obra nacional de acordo com as exigências actuais do mercado e da diversificação da economia.

85 Os sectores e as áreas que a IDC financia e apoia são as seguintes: agro ‑processamento e novas indústrias – agro ‑indústrias; indústrias verdes; projetos de alto impacto estratégico; capital de risco. Indústrias mineira e transformadora – produtos químicos e indústrias afins; produtos florestais e de madeira; metais, de transporte, de produção de maquinaria; mineração; têxtil e vestuário. Indústrias de serviços – tecnologias de informação; saúde; media e comunicação; turismo.

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• Mobilizar o sistema financeiro nacional (em especial a banca comercial) para que atenda às necessidades de financiamento da diversificação da actividade económica, incentivando‑‑o a conceder empréstimos de longo prazo, e com taxas de juro competitivas, a empresas com projectos de investimentos que de facto contribuirão para a diversificação da base produtiva nacional; por sua vez permitir uma política monetária que possibilite que a ban‑ca comercial consiga conceder tais financiamentos.

• Atrair mais investimento directo estrangeiro melhorando o ambiente de fazer negócios no país para que os investidores se sintam seguros quanto à possibilidade de realizarem os seus negócios sem terem que se preocupar com a corrupção e a burocracia que em muito dificulta a prática de qualquer actividade económica. O facto de o investidor poder criar postos de trabalho e pagar impostos é já por si um grande ganho para o país, as práticas corruptas impendem isso e restringem a entrada de capitais estrangeiros para financiar a economia nacional.

• Tornar conhecidas todas as possibilidades de financiamento que os agentes económicos têm à disposição, no âmbito do processo da diversificação, para que eles analisem as que mais se adequam ao seu negócio e ao sector de actividade em que operam. Para isso é importante acabar com o nepotismo, clientelismo, parcialidade e o partidarismo em conceder apoios financeiros aos reais empreendedores. Os empresários, por sua vez, precisam ser mais determinados e responsáveis na forma como aplicam os fundos que lhes são concedidos, garantido que sejam aplicados para o propósito como foram solicitados.

2.4 Políticas de diversificação de alguns países africanos

Regina Santos

Em África a agricultura continua a ser um grande sector em muitas economias, o que repre‑senta cerca de 20% do PIB regional (em comparação com uma quota de 6% a nível mundial) e cerca de 65% de emprego (BAD, OCDE e PNUD, 2014). A mineração é uma importante indústria em muitos países da África Subsariana, tanto como empregadora, como fonte de receitas de exportação.

Três estágios são identificados no percurso africano para a promoção da industrialização (Relatório para o Desenvolvimento Industrial em África, 2011):

• A 1.a fase (anos 60 a 70) – substituição das importações.

• A 2.a fase (anos 80 a 90) – ajustamento estrutural.

• A 3.a fase (anos 2000) – redução da pobreza.

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O Relatório revela certas evidências nas várias fases.

Na 1.a fase o foco estava mais directamente relacionado em criar empresas do que em cons‑truir capacidades para dinamizar a indústria e desenvolver sectores exportadores competitivos. No entanto em países como as Maurícias e o Zimbabwe, a protecção do mercado interno per‑mitiu que determinadas empresas acumulassem recursos para investimento em capacidades que lhes permitissem exportar.

Na 2.a fase ficou implícito que os países que adoptaram o ajustamento estrutural tiveram que fazer reformas e estabelecer políticas de desvalorização da moeda, de liberalização do comércio e de eliminação dos subsídios do Governo, entre outras. Mas o principal objectivo era sobretudo atenuar a presença do Estado e dar espaço ao mercado. Os críticos do ajustamento estrutural argumentam que o mesmo “colocou África num caminho de baixo crescimento, destruiu inicia‑tivas de diversificação económica e levou a uma erosão da base industrial na região”.

A 3.a fase ligada ao alívio da dívida e redução da pobreza teve consequências no desenvolvi‑mento industrial uma vez que houve que transferir recursos para o sector social.

O sector da manufactura desempenha um papel muito limitado nas economias africanas comparativamente a outras economias em desenvolvimento e é dominado pelas pequenas empresas, ao lado de grandes empresas estrangeiras ou estatais. Numa amostra de 9 países subsarianos as empresas grandes mostraram ser extremamente importantes, como em muitos outros casos de economias desenvolvidas, porque têm mais altos níveis de produtividade e condições de financiamento (Johannes Van Biesebroeck).

África tem vindo a desindustrializar ‑se nas últimas duas décadas, como evidenciado pelo facto da participação da manufactura no valor acrescentado total ter caído de 13 por cento em 1990 para 12 por cento em 2000 e para 10 por cento em 2011 (ECA 2014). A escassez de infra ‑estruturas como energia, transportes, tecnologias de informação e comunicação (TIC) e recursos hídricos representam uma barreira enorme para a actividade económica na África Subsariana. Assim, os países africanos devem perseverar na industrialização dos seus países como a melhor oportunidade para um crescimento sustentado e a diminuição da pobreza. Mas o desempenho da manufactura varia entre os países africanos e a transformação estrutural tem sido lenta ao longo dos anos.

São identificadas algumas razões para tal: falta de capacidades técnicas e tecnológicas, falta de recursos financeiros, vantagens comparativas na produção e exportação de recursos primá‑rios dada a abundância natural. As estratégias passadas de industrializações em África, muitas delas baseadas na substituição de importações, apelam para novas políticas.

O Relatório de Desenvolvimento Económico em África (2011) evoca as principais lições tira‑das das diferentes tentativas de promoção do desenvolvimento industrial em África, nomeada‑mente:

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• A promoção do desenvolvimento industrial requer políticas públicas activas para cons‑truir as capacidades internas e investimentos directos e recursos para áreas prioritárias. Influências externas na forma de política e condicionalidades do processo podem limitar o espaço de política disponível para os Governos e fazer a concretização do desenvolvimen‑to industrial mais difícil (UNCTAD, 2009c).

• A experiência com substituição de importações em África sugere que um programa de in‑dustrialização que se concentra exclusivamente no mercado interno e não tem uma com‑ponente de promoção de exportação é susceptível de tornar ‑se pouco eficaz. A pequena dimensão doméstica dos mercados na maioria dos países africanos limita as possibilida‑des de sustentar um programa de industrialização sem acesso aos mercados externos.

• A necessidade de melhorar a segurança alimentar suscita que o desenvolvimento agrícola deve ser parte da agenda de desenvolvimento de África continuando o sector a ser uma importante fonte de receitas, emprego e divisas a curto e médio prazo.

• Outra lição importante das décadas de implementação de estratégias de desenvolvimento industrial em África é que a estabilidade política é uma condição necessária para o sucesso de qualquer programa de desenvolvimento industrial.

• A lição do período de substituição de importações é que é mais fácil iniciar um programa industrial do que sustentá ‑lo. Algumas tentativas anteriores de industrialização em Áfri‑ca e em algumas partes da América Latina falharam em parte porque foram baseadas numa visão de curto prazo do processo de industrialização e menos atenção foi dada ao aperfeiçoamento da capacidade de gerar divisas necessárias para garantir a sustentabi‑lidade.

Uma nova abordagem sobre as políticas industriais reconhece que estas devem ser imple‑mentadas através de acções coordenadas, como por exemplo:

• Políticas de promoção do empreendedorismo – os empreendedores desempenham um papel importante no processo de desenvolvimento.

• Políticas tecnológicas e de inovação – os países bem ‑sucedidos no sector da manufactura foram aqueles que investiram no conhecimento e nas capacidades.

• Políticas de educação e de formação profissional – o tipo de educação e de formação implementada pelos Governos são determinantes e têm efeitos no desenvolvimento in‑dustrial.

• Políticas de suporte financeiro – nomeadamente no acesso ao crédito para as pequenas e médias empresas.

• Políticas comerciais – focadas não só nas exportações mas reconhecendo também oportu‑nidades na substituição de importações.

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• Políticas de clusters – um elemento emergente no cenário económico africano é o cluster industrial. Os benefícios dos clusters seriam particularmente importantes e úteis para as PME africanas, dados os problemas conjunturais em que operam. Vários estudos enfati‑zam os benefícios dos clusters em África, “crescimento económico e criação de emprego”, “contribuição para o processo de industrialização”, “acesso mais fácil ao mercado”, “facili‑tar spillovers tecnológicos”, “a melhor abordagem para construir um sistema de inovação em África”. Mas resta a seguinte questão: como lidar com eles?

A industrialização em África actualmente figura entre as principais prioridades de política que devem estar complementadas com outras a nível macroeconómico, nomeadamente o controlo da inflação, políticas fiscais e monetárias consistentes com a promoção industrial e um ambiente que promova o investimento interno e externo. Restrição importante em matéria de política industrial eficaz em África é sobretudo as fragilidades nas capacidades de governação.

Pesquisas recentes sugerem que para a maioria dos países de baixa renda, o crescimento a longo prazo, a criação de emprego e a redução da pobreza dependem de uma estrutura de pro‑dução e exportação industrial competitiva e cada vez mais diversificada e sofisticada. Assim, se a transformação estrutural e a diversificação são o objectivo, um conjunto de políticas industriais têm de ser estabelecidas. A nível nacional, muitos países têm feito das transformações econó‑micas um ponto essencial da sua agenda de desenvolvimento a médio e longo prazo.

Muitos países têm Planos e Estratégias como a Etiópia, o Uganda, a Costa do Marfim, o Lesoto, o Ruanda, mas o horizonte temporal é variável. Normalmente, estes Planos enquadram‑‑se num objectivo mais amplo de transformações económicas e sociais.

Tabela 7 – Tipologia dos países africanos em termos da sua performance industrial

País Plano Objectivo

Etiópia Crescimento e Transformação Impulsionar o crescimento agrícola e industrial

Uganda Visão 2040 Acelerar a transformação socioeconómica

Costa do Marfim Estratégia de Emergência Económica Economia industrial em 2020

Lesoto Visão 2020 Lugar de destaque ao desenvolvimento industrial

Ruanda Visão 2020 Economia diversificada em 2020

Egipto, Quénia, África do Sul, Serra Leoa, Ruanda e Zimbabwe Planos e Estratégias

Transformar a estrutura da economia em desenvolvimento industrial e

agro ‑industrial

FONTE: ECA 2014.

O desenvolvimento de políticas e a coordenação a nível continental e regional é praticada pela União Africana (UA) e pela Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), que

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formularam o Plano de Acção da UA/NEPAD, com o Banco Africano de Desenvolvimento o Pro‑grama de Desenvolvimento de Infra ‑estruturas em África (PIDA) e o Plano de Acção Prioritária.

Uma avaliação comparativa de políticas implementadas em África segundo uma categoriza‑ção de Di Maio (2009) referida em ECA 2012 elenca uma série de políticas sectoriais, tecnológi‑cas e comerciais. O que avulta é que cada vez mais as políticas sectoriais são importantes para a atracção de investimentos e as políticas comerciais são amplamente utilizadas em vários países africanos para regular o funcionamento interno da economia, mas também as relações entre o país e os parceiros comerciais do resto do mundo.

Tabela 8 – Políticas sectoriais e competitivas, políticas tecnológicas e de inovação, políticas comerciais

Políticas sectoriais e competitivasBo

tsw

ana

Cam

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Cost

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Facilidade de crédito(manufactura não ‑tradicional) X X X X X

Promoção de pequenas e médias empresas (manufactura não ‑tradicional) X X X X X X

Regulação da concorrência X

Compras (contratação) do Governo a favor da manufactura local X X X X

Políticas tecnológicas e de inovação

Medidas para atrair IDE X X X X XFinanciamento para obtenção de tecnologia industrial, máquinas e equipamentos X X X

Investigação industrial e difusão de tecnologia X X X X X X XPolíticas comerciais

Incentivos a actividades de exportação X X X X X X X X X X XExport Processing Zones (EPZ) X X X X X X X X X XPromoção de exportação (manufactura) X X X X X XEstandardização/melhoria da qualidade dos produtos para exportar X X X X X X

Medidas para atrair IDE para actividades de exportação X X X X X X X X X X

Facilidade de crédito (manufactura não‑tradicional) X X X X XTarifas protectivas selectivas X X X X X X XUtilização de outros instrumentos comerciais X XDireitos de exportação para favorecer a manufactura local X X X X X

FONTE: Harabi (2008), Marti and Ssenkubuge (2009), Soludo et al. (2004), várias propostas nacionais, documentos e declara ções, citado em ECA Policy Research, paper n.o 2.

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Várias iniciativas no continente foram propostas a nível regional e sub ‑regional. ECA 2012 descreve alguns casos de sucessos industriais em África: Maurícias, Tunísia, Botswana, África do Sul, Lesoto, Quénia, Ghana, Cabo Verde e Moçambique.

As Maurícias conseguiram parte deste sucesso graças à mudança no padrão de especia‑lização resultante de um conjunto de políticas industriais específicas. A chave do sucesso da Tunísia é uma estratégia de desenvolvimento que visou aumentar o nível de diversificação da produção interna e das exportações. O sucesso económico do Botswana pode ser explicado em parte pelo desenvolvimento histórico das suas instituições políticas. Na África do Sul as nume‑rosas agências e instrumentos de formulação de políticas. Além destes programas facilitados por aquelas agências, a industrialização tem sido ajudada pela actividade do Banco Sul Africano de Desenvolvimento.

A Tunísia é um país classificado como de rendimento médio, que tem uma série de vantagens comparativas que permitiram diversificar a sua economia, destacando ‑se entre elas a sua loca‑lização próxima da Europa, o seu clima de negócios, as infra ‑estruturas e os recursos humanos. Dada a sua proximidade geográfica e cultural com a Europa, a Tunísia tem progressivamente fortificado as suas relações com a UE, seu principal parceiro industrial e principal comprador. O acordo de associação assinado em 1995 estabeleceu, ao longo do tempo, uma zona de livre‑‑comércio entre os dois países. Desde Janeiro de 2008, as relações económicas com a UE entra‑ram numa nova fase com a entrada do acordo de livre comércio, UE ‑Tunísia, o primeiro acordo a ser implementado com um país MED. O acordo levanta todas as restrições às importações de produtos industriais da UE.

Do ponto de vista económico, este acordo abre a via para os investimentos europeus e contribuirá para o aumento da competitividade dos sectores produtivos tunisinos. A par disso, a Tunísia está a realizar um Programa de Modernização que visa tornar as empresas do sector privado globalmente competitivas, que inclui formação e modernização de infra‑‑estruturas. A modernização do aparelho produtivo tunisino permitirá à sua economia uma mais fácil inserção internacional. A perspectiva do comércio livre entre a UE e a Tunísia num prazo de doze anos requer, em primeiro lugar, a melhoria da indústria tunisina, de modo a colocá ‑la ao mesmo nível da europeia, preservando simultaneamente o bem ‑estar social da população, desafio para cuja realização a UE está disposta a dar o seu contributo. Dos sectores tradicionais dos têxteis evoluiu ‑se mais recentemente para as indústrias electróni‑cas, eléctricas e de engenharia, com o desenvolvimento da indústria dos componentes de automóveis e aeronáuticos. Com base numa análise de tendências de mercado, o Ministro da Indústria, Energia e das PME publicou uma estratégia em 2008 designada “Estratégia Indus‑trial Nacional 2016” que visa transformar a Tunísia num centro inovador de competitividade euro ‑mediterrânico. Em 2010, a Tunísia começou a preparar uma estratégia de integração da Tunísia na cadeia de abastecimento da UE a fim de torná ‑la um hub de comércio e de serviços no Mediterrâneo.

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A Tunísia identificou quatro sectores industriais como prioridades e cada um deles constituiu‑‑se como um exportador: componentes aeronáuticos e automotivos; TIC; têxtil, couro e calçados; e processamento de alimentos. Estes sectores estão rapidamente a evoluir e a constituírem ‑se em motores de um maior crescimento diversificado.

As políticas de comércio da Tunísia também a têm ajudado a tornar ‑se mais competitiva nos mercados internacionais, assim como os programas e políticas governamentais têm desempe‑nhado um papel importante no desenvolvimento económico da Tunísia.

Rodrik (2004) defende que seja decisivo e importante entender a contribuição da estrutura produtiva ao processo de crescimento, em que consiste essa estrutura e o que significa para a formulação de políticas, tanto macroeconómicas como microeconómicas.

Rodrik (2004) identifica dez Princípios que devem ser observados na formulação de políticas de diversificação:

1. Concessão de incentivos e subsídios somente a actividades “novas”.

2. Estabelecimento de pontos de referência e critérios claros de êxito e fracasso dos projectos subsidiados.

3. Aplicação de uma cláusula de extinção automática dos subsídios.

4. Focalização em actividades económicas (transferência ou adopção de tecnologia e capa‑citação, entre outras) em vez de sectores industriais.

5. Concessão de subsídios somente a actividades com evidentes possibilidades de ter efeitos secundários positivos e servir de exemplo.

6. Atribuição da responsabilidade de aplicar as políticas industriais a instituições de compro‑vada competência.

7. Adopção de medidas para garantir que estas instituições sejam supervisionadas por um director com claro interesse nos resultados e que tenha autoridade política do mais alto nível.

8. Adopção de medidas para garantir que as instituições que aplicam as políticas mantenham canais de comunicação com o sector privado.

9. Compreensão de que, no contexto de políticas industriais óptimas, às vezes são “escolhi‑dos” projectos “perdedores”.

10. Apoio a actividades de fomento capazes de evoluir para que o ciclo de inovação seja constante.

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Condições para a diversificação

O Chefe de Estado angolano ao falar de diversificação defendeu que os objectivos passam por produtos de boa qualidade e a preços mais baixos, mas também ter boas vias de comunicação, provimento de água e energia, telecomunicações e força de trabalho qualificada, sustentando também uma boa política fiscal e cambial.

Desde logo são importantes transformações estruturais que permitam no médio/longo prazo a emergência de sectores de actividade fora do petróleo. Os desafios passam por diversificar a estrutura produtiva, alargar a base de tributação, reduzir a dependência do petróleo, aumen‑tar os níveis de emprego, melhorar a balança de transacções correntes e garantir o equilíbrio orçamental.

Os sectores que têm vindo a ter algum dinamismo na economia angolana são o comércio, os transportes, a agro ‑indústria e os serviços. Este impulso resulta dos investimentos públicos e da tendência de diversificação económica promovida pelas autoridades angolanas para reduzir a dependência em relação ao petróleo.

Angola dispõe de recursos e de um potencial natural que lhe possibilitam assentar uma estratégia de desenvolvimento fora do sector do petróleo. No sector industrial, mas também no sector primário, com recurso dos minérios, da agricultura, da pesca e do sector florestal.

O Plano Nacional de Desenvolvimento 2013 ‑2017 adopta como objectivo estratégico para a indústria transformadora os clusters. Em 2009, o Governo apostou na criação de Zonas Econó‑micas Especiais (ZEE) para dinamizar os investimentos privados e o então Ministro da Economia declarou considerar as ZEE como uma forma rápida e efectiva de se poder pôr numa relação de complementaridade investimentos públicos e investimentos privados, e que os investimentos públicos são feitos no sentido de tornar o investimento privado mais atractivo e mais rentável.

A política de criação de pólos industriais tem sido a aposta do Executivo, que tem investido na industrialização do país somas consideráveis e agido numa política de reforço do sector pri‑vado nacional, especialmente nas micro, pequenas e médias empresas. Novas estruturas estão a ser constituídas com vista a fortalecer o sector privado conjuntamente com a promulgação de legislação nesse sentido. No entanto, as restrições institucionais com as quais os investidores se têm de confrontar continuam a existir (BAD 2012).

No quadro do fortalecimento do empresariado nacional foi criado o programa ”Angola Investe” para apoio aos empresários prevendo o Executivo a criação de 9 mil empresas até 2015. O balanço do programa “Angola Investe” – um dos instrumentos que visa o empreende‑dorismo e a diversificação da economia – realizado no fim de 2013 revelou que em cerca de um ano e meio foram criados cerca de três mil empregos, dos 300 mil previstos até 2015, com 187 projectos promovidos (dos quais 13% na agricultura).

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No entanto, os bancos continuam a queixar ‑se das enormes debilidades dos projectos, da falta de retorno dos financiamentos concedidos ao longo dos anos e do crédito malparado. O crédito vencido voltou a registar um aumento em 2013 (31,9% face a 2012), que se reflectiu igualmente no peso do crédito vencido no total de crédito concedido (8,1% em 2013 face a 7% em 2012) (KPMG, Análise ao Sector Bancário, 2014).

No sector financeiro foram lançadas reformas sobre o regime cambial dos petróleos, a “des‑dolarização” da economia, a aplicação de limites à exposição cambial e ao crédito em moeda estrangeira, a diferenciação dos coeficientes de reserva entre moeda nacional e moeda estran‑geira com efeitos esperados no aumento do investimento privado e também no consumo.

Em Angola o sector petrolífero gera riqueza sem criar emprego e os jovens carecem de emprego. Considerando o potencial de crescimento (taxa de fecundidade de 3,2%) e de compo‑sição etária (60% da população tem menos de 21 anos), esta realidade constituirá a longo prazo uma enorme aposta para o Executivo.

Assim, identificados que foram os sectores prioritários para o investimento privado (Lei do Investimento Privado) podem ‑se estendê ‑los aos objectivos da diversificação da economia nas áreas reconhecidas como de interesse económico como a agricultura tanto industrial como familiar, a pesca artesanal e industrial e o turismo. Deste modo são apontadas políticas voltadas para proteger a indústria nacional, adequar a entrada do capital estrangeiro, impelir a forma‑ção de joint ‑ventures e obter condições favoráveis para a transferência de tecnologia. Angola poderia traçar estratégias de forma a ligar projectos económicos com os sistemas de transporte que estão a ser construídos por empresas chinesas. O caminho ‑de ‑ferro com a consolidação de três eixos ferroviários apresenta ‑se como um factor de desenvolvimento económico, de coesão territorial e de diminuição das assimetrias regionais. A dinâmica ligada à actividade de trans‑porte de mercadorias, de mobilidade de pessoas e de serviços pode conferir maior integração ao mercado interno e daí ao desenvolvimento da agricultura. O modelo institucional para o sector ferroviário abre o sector à iniciativa privada. Assim é legalmente assegurado o acesso dos privados à actividade transportadora ferroviária.

O caminho para a diversificação exige tarefas essenciais como a estabilização económica, a criação de condições para um ambiente empresarial favorável, um sistema financeiro ágil e a melhoria das infra ‑estruturas e dos recursos humanos, mas sobretudo relativas à actuação do Estado. Angola tem necessidade crítica de capacidades e habilidades para o desenvolvimento industrial e agrícola. O desafio é, portanto, expandir a base económica estimulando sectores não ‑petrolíferos e ao mesmo tempo assegurando que a sua força de trabalho seja uma parte fundamental desse esforço.

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CAPÍTULO 3: PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE ANGOLA

Luís Bonfim Alves da Rocha

Arne WiigIvar Kolstad

3.1 Experiência colonial

Luís Bonfim

A estrutura económica de Angola até ao final da década de 1950 reflectia o desígnio a que o território estava votado como colónia e integrado no chamado espaço comum português: fornecedor de produtos primários, economia de exploração e mercado privilegiado da indústria transformadora e de vinhos portugueses. Não existiam, praticamente, infra ‑estruturas indus‑triais, os investimentos eram desencorajados e a penetração de capitais estrangeiros igualmente desencorajados por via de uma forte regulamentação.

A incipiente indústria transformadora baseava ‑se na refinação do açúcar, na manipulação do tabaco, na produção de cerveja e refrigerantes, na fabricação de cimento, nos têxteis e confecções, na saboaria e refinação de óleos alimentares, no desfibramento do sisal e do algo‑dão, e nos derivados da pesca (conservas, farinha e óleo de peixe). Uma indústria assente em processos tecnológicos simples, com pouco valor acrescentado e concentrada em produtos de consumo final, com predomínio do capital português uma vez que o capital internacional se concentrava no sector mineiro (diamantes, ferro, manganês e cobre) e no caminho ‑de ‑ferro de Benguela.

Dada insuficiente informação estatística sobre indicadores globais da produção com que habitualmente se caracteriza a estrutura económica de um território, recorreu ‑se, pela relativa abundância de dados, à análise da estrutura do comércio externo, por a composi‑ção das exportações e importações de um dado território evidenciar os bens cuja produ‑ção esse território goza de superioridade ou inferioridade. Por outro lado, ao traduzir em que sentido as condições de custo orientaram a especialização da produção, reflecte, de certo modo, as disponibilidades de factores produtivos do território. Assim, a análise da estrutura do comércio externo de Angola, com base na classificação pautal de uma média amostral, representativa das mercadorias transaccionadas entre 1953 e 1957, conforme ilustra a tabela ao lado.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

Tabela 1 – Comércio externo por classes pautais (médias de 1953 ‑1957)

Classes pautaisImportação Exportação

Contos % Contos %

I – Animais vivos 2397,00 0,08 419,00 0,01

II – Matérias ‑primas 419 041,00 14,35 1 032 855,00 32,38

III – Fios, tecidos, feltros e respectivas obras 456 656,00 15,63 317,00 0,01

IV – Substâncias alimentícias 546 371,00 18,70 2 140 050,00 67,09V – Aparelhos, instrumentos, máquinas (…),

embarcações e veículos 926 019,00 31,70 3817,00 0,12

VI – Manufacturas diversas 570 548,00 19,53 12 142,00 0,38

Total 2 921 032,00 100,00 3 189 600,00 100,00

FONTE: Estrutura do Comércio Externo de Angola, Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais, n.o 28, 1959.

A tabela mostra que:

• Cerca de 32% do valor da importação é constituído por aparelhos, máquinas, veículos, etc., distribuindo ‑se a percentagem restante, de modo equilibrado, pelas manufacturas diversas, substâncias alimentícias, têxteis e matérias ‑primas.

• Com relação à exportação, na sua quase totalidade, é constituída por substâncias alimen‑tícias e matérias ‑primas, destacando ‑se as primeiras com 67% do total. A análise des‑tes dois itens permite também destacar que o comércio de Angola com o exterior, na época, apresenta uma estrutura típica das regiões economicamente subdesenvolvidas, caracterizando ‑se basicamente pela troca de alimentos e matérias ‑primas ou produtos semi ‑facturados por bens acabados.

Recorrendo à classificação que distingue os bens transaccionados consoante satisfaçam directa ou indirectamente as necessidades do consumidor, ou seja, respectivamente, bens de consumo ou directos e bens de produção ou indirectos, conforme ilustra a tabela seguinte.

Tabela 2 – Comércio externo por grandes categorias de bens (médias de 1953 ‑1957)

Classes de bensImportação Exportação

Contos % Contos %

Bens de produção 817 381 38,67 889 621 28,89

Energia 157 993 7,47 — —

Matérias ‑primas 123 842 5,86 889 621 28,89

Equipamento 535 546 25,34 — —

Bens de consumo 1 296 412 61,33 2 189 868 71,11

Alimentos 454 460 21,50 2 189 868 71,11

Outros bens de consumo 841 952 39,83 — —

Bens de produção e de consumo 2 113 793 100,00 3 079 489 100,00

FONTE: Estrutura do Comércio Externo de Angola, Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais, n.o 28, 1959.

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Constata ‑se:

• Um predomínio dos bens de consumo sobre os bens de produção tanto na importação como na exportação, sendo este predomínio mais acentuado no caso das exportações e que a participação dos bens de consumo nos totais da importação e da exportação traduz‑‑se, respectivamente, em 61% e 71%.

• Com relação à importação, o grupo principal, que atinge cerca de 40%, é o de bens de con‑sumo não ‑alimentares, e que, apesar de terem sido incluídos catorze produtos neste gru‑po, só aos tecidos de algodão cabem 14,4% do valor da amostra considerada. Nos grupos seguintes, o da energia é constituído, na sua maior parte, por combustíveis líquidos (86% do valor do grupo), e o das matérias ‑primas que inclui três produtos semi ‑manufacturados, isto é, matérias ‑primas em sentido amplo: ferro fundido, aço em bruto e cimentos86.

• Relativamente à composição das exportações, a observação da respectiva amostra permi‑te constatar que os alimentos com 71% e as matérias ‑primas com 29% constituem quase a totalidade da exportação. Segundo Ferreira dos Santos & Gaspar Rabaça, não obstante no grupo dos alimentos estarem incluídos onze produtos, só o café representa 50% do valor da amostra considerada para a exportação. Observa ‑se ainda que alguns produtos incluídos por esse grupo não são bens alimentares acabados, mas matérias ‑primas para determinadas indústrias alimentares. Incluem ‑se neste grupo as ramas do açúcar, do amendoim, do milho e, de certa medida, do café. Fica também patente que os alimentos exportados são, em grande parte, constituídos por produtos semiacabados, ao invés do que acontece com os alimentos importados, que, à excepção da farinha de trigo, são, na maior parte dos casos, produtos acabados.

Para melhor percepção da estrutura económica subjacente na década de 1950, recorreu ‑se igualmente à composição das exportações ilustrada pela tabela seguinte, que mostra o contri‑buto, em percentagem, dos diversos sectores de actividade económica do território para o fluxo das exportações, no final da década de 50.

Tabela 3 – Contribuição dos sectores económicos para o comércio de exportação (médias de 1953 ‑1957)

Origem AlimentosMatérias ‑primas

TotalPara indústrias alimentares

Para outras indústrias

Agricultura, silvicultura e pecuária 50,9 9,6 14,1 74,6Pesca 10,6 0 1,3 11,9Subsolo 0 0 13,5 13,5Total 61,5 535 546 28,9 100

FONTE: Estrutura do Comércio Externo de Angola, Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais, n.o 28, 1959.

86 Santos, F. & Gaspar, R., Estudos de Ciências Sociais e Políticas, 28, Estrutura do Comércio Externo de Angola, 1959.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

Da análise verifica ‑se:

• Que perto de 75% da exportação tem origem na agricultura, silvicultura e pecuária e que o contributo deste sector é constituído em grande parte por alimentos, 50,9% do valor da exportação, uma vez que o café foi incluído nesta categoria e não na categoria de matérias ‑primas.

• Que a exportação originária da agricultura, além de incluir produtos que são exportados sem qualquer transformação – como o milho, coconote, feijão e amendoim – inclui igual‑mente produtos sujeitos a pequenas transformações como café, sisal, ramas de açúcar, óleo de palma, arroz, madeira serrada e outros.

• Que a exportação originária das indústrias extractivas ronda os 13,5%, e a proveniente da actividade piscatória – 11,9% – é constituída na totalidade por produtos desta actividade resultantes de transformação local (conservas, farinhas e óleo de peixe).

• Igualmente se verifica que as exportações provêm quase exclusivamente do sector primá‑rio e que a participação de produtos resultantes da laboração de indústrias transformado‑ras é reduzida ou inexistente.

Por outro lado, constata ‑se que, em última analise, a especialização interna da produção se operou sob a influência de um forte predomínio do factor produtivo terra ou natureza, relativa‑mente aos restantes factores de produção.

Com relação ao factor capital, dada a exiguidade do mercado interno, determinada por um baixo rendimento per capita e pelas reduzidas necessidades da maior parte da população, alia‑das a incipientes infra ‑estruturas, os capitais privados dirigiram ‑se preferencialmente para o sector exportador, ou seja, para aquele em que existe um mercado já formado, ficando a cargo do principal exportador de capitais – a Metrópole – a missão de satisfazer uma importante par‑cela da procura interna de bens industriais87.

3.1.1 Processo de industrialização

A partir da década de 60 verificou ‑se uma viragem na política colonial portuguesa, espe‑cialmente no que se refere a Angola, que, segundo Torres88, constituiu a passagem do pacto colonial tradicional para um novo pacto colonial, em que a industrialização do território, ape‑sar de paradoxal, passou a ser condição básica. Essa mudança de paradigma da política por‑tuguesa deveu ‑se ao facto de Portugal estar a confrontar ‑se com novos desafios decorrentes da mundialização progressiva da economia internacional e pela necessidade de responder aos imperativos da integração progressiva na CEE, que começava a preparar. Neste contexto, para

87 Santos, F. & Gaspar, R., Estudos de Ciências Sociais e Políticas, 28, Estrutura do Comércio Externo de Angola, 1959.88 Torres, A., Análise Social, Vol. XIX (77 ‑78 ‑79) – 3.o, 4.o, 5.o, 1101 ‑1119, 1983.

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poderem suportar com certa margem de manobra económica e também política a concorrência da chamada nova ordem económica internacional, as autoridades portuguesas propõem alterar algumas coordenadas do espaço económico metropolitano ‑colonial, que consistia numa res‑truturação simultânea da economia da metrópole e da colónia, e passava pela deslocação das indústrias no interior do chamado espaço económico português. Por outro lado, a alteração da correlação de forças na arena internacional devido à entrada dos recém ‑independentes países africanos veio exercer uma pressão externa considerável sobre a política colonial em África e na estratégia de reestruturação, situação que foi agravada e complementada, em 1961, com o início das lutas armadas de libertação dos Povos das Colónias Portuguesas.

Em reacção às revoltas de Fevereiro e Março de 1961, as autoridades coloniais, apressada‑mente, anteciparam o processo de reformas e deram início à viragem que caracterizar ‑se ‑á por modificações importantes nos aspectos político, social e económico.

Do ponto de vista político intensificaram acções conducentes ao aumento da imigração euro‑peia no território que se consubstanciaram no aumento da presença de militares e suas famílias e na criação de colonatos. Foram instituídos os mercados rurais como instrumentos destinados a estabilizar a produção agrícola camponesa que passou a ser apoiada através das campanhas de estabilização da agricultura itinerante e de subsistência, com a finalidade de organizar a vida rural e criar uma classe de pequenos agricultores estabilizados.

No campo social as reformas que permitiram um maior acesso dos angolanos ao sistema de ensino e aos postos intermédios da Administração Pública, as relações de trabalho mais justas e o maior apoio à agricultura camponesa.

O território foi aberto aos investimentos nacionais (portugueses) e estrangeiros e aos Planos de Fomento, com particular destaque para o III e IV planos, a consagrarem parte dos investimen‑tos previstos em infra ‑estruturas.

No âmbito legislativo, foram igualmente tomadas diversas medidas de forma a permitirem ao Governo ‑geral maior poder decisório sobre certas matérias relativas ao fomento económico e à industrialização. Merecem destaque pelo papel estruturante na economia e no processo de industrialização as seguintes89:

• O Decreto ‑Lei n.o 46 666, de 24 de Novembro de 1965, que definiu as novas regras e a filosofia a seguir no tocante ao condicionamento industrial, sujeitando determinadas indústrias ao condicionamento nacional e outras ao condicionamento territorial, o que permitiu a implantação de novas indústrias. A título de exemplo, refira ‑se que com esta lei 99% das indústrias passaram a ficar abrangidas pela competência directa do Governador‑‑geral de Angola em matéria de autorização de instalação.

89 Ferreira, M. E., Nacionalização e Confisco do Capital Português na Indústria Transformadora de Angola (1975 ‑1990), 2002, Análise Social, Vol. XXXVII (162), 40 ‑70.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

• O Decreto ‑Lei n.o 478, de 8 de Novembro de 1971, da província de Angola, que, ao regular o novo sistema de pagamentos interterritoriais, irá traduzir ‑se num importante instru‑mento proteccionista das actividades económicas provinciais.

• Paralelamente, e entre diversa legislação, registem ‑se ainda o Decreto ‑Lei n.o 46 312, de 26 de Abril de 1965, relativo a um novo código de investimentos, o Decreto ‑Lei n.o 48 581, de 16 de Setembro de 1968, que oferecia isenções fiscais às indústrias a implantar nas coló‑nias, o Diploma Legislativo n.o 3945, de 21 de Outubro de 1969, isentando de pagamen‑to da contribuição industrial as novas empresas que instalassem novas unidades na pro‑víncia, o Decreto n.o 177 de 1971, concedendo isenção automática de direitos aduaneiros para matérias ‑primas e bens de equipamento, e o Despacho e o Aviso do Governo ‑geral de Angola datados, respectivamente, de 17 e 18 de Janeiro de 1972. O primeiro, inserin‑do disposições sobre a concessão de licenças de bens de equipamento, e o segundo, es‑tabelecendo os critérios de prioridade a considerar na emissão de boletins para importa‑ção de mercadorias, pagamento de invisíveis correntes e exportação de capitais privados.

Apesar de não haver consenso, entre os estudiosos da economia angolana, sobre quando é que verdadeiramente a industrialização começou, todos são unânimes em reconhecer, e os registos estatísticos evidenciam, que ocorreu em Angola, não obstante o contexto político de contestação da presença portuguesa, um espectacular crescimento económico no período de 1961 ‑1973, em particular no sector industrial, com uma taxa anual de crescimento VBP de 19% e de 22% no período de 1965 ‑1973, depois de publicada a nova legislação sobre o condicionamento industrial90. De realçar que este processo de crescimento dos sectores económicos se realiza com sanidade das finanças públicas, transparência da gestão macroeconómica e, ainda de acordo com Costa Oliveira, é o resultado do grande propósito estratégico que foi a industrialização da colónia, a mais representativa do “Império Colonial Português” pela quantidade, diversidade e riqueza dos seus recursos naturais. Esse propósito estratégico teve dois períodos temporais de implementa‑ção: o primeiro, de 1961 até 1969, consagrado ao lançamento das bases para a grande arrancada industrial, e o segundo, de 1969 a 1973, dedicado às políticas de crescimento económico e de industrialização. Pertencem ao primeiro período a publicação do primeiro manual sobre o sector mineiro (4 volumes), o estudo sobre o aproveitamento dos excedentes de energia pelo sector industrial, o estudo aprofundado sobre o desenvolvimento regional de Angola, o outro virado para a industrialização do território e dois extraordinários trabalhos sobre o desenvolvimento econó‑mico de Angola, ainda hoje referências incontornáveis para a História Económica de Angola91. No segundo período e até 1973, a nível institucional, ocorreram reformas e ajustamentos como a criação da Secretaria Provincial de Planeamento e Fianças (tentativa de união do curto e a pers‑pectiva de estratégica de longo prazo) e a elaboração da Estratégia de Desenvolvimento Industrial.

90 Prefácio do Dr. Costa Oliveira, in Industrialização de Angola: Reflexões sobre a Experiência da Admi‑nistração Portuguesa, 1961‑1975, Ana Maria Neto, Escher, 1991.91 Marques, W., Problemas do Desenvolvimento Económico de Angola 1965 ‑1966, 600 páginas, Imprensa Nacional de Angola.

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É neste contexto de reformas que a estrutura económica de Angola experimenta transfor‑mações significativas e a indústria transformadora emerge e, aos poucos, passou a satisfazer parte da procura interna.

3.1.2 As transformações estruturais entre 1960 ‑1973

Entre 1960, prelúdio da guerra de libertação, e 1973, prólogo da independência, ocorreram em Angola, de acordo com Ana Maria Neto e Escher92 algumas transformações estruturais. O peso do sector primário baixou de 32% em 1966, para 23% em 1970, sinais de ganhos de produtividade, enquanto se incrementava a participação relativa das actividades dos sectores secundário (14% em 1966 e 21% em 1970) e terciário (para os mesmos anos, 54% e 56%).

No sector secundário, conforme ilustra a tabela abaixo, foi a indústria transformadora que mais cresceu, com uma taxa média de variação anual de 19,3% (com dinâmicas interessantes das indústrias alimentares, têxtil, bebidas, tabaco, papel e pasta de papel, produtos minerais não ‑metálicos e química).

O fenómeno da urbanização é uma parte da explicação para os níveis de informação ilustra‑dos pelos indicadores, uma vez que em 1960 o coeficiente de urbanização rondava o valor de 9%, e em 1970 atingiu os 15%. Ou seja, importantes contingentes de população rural deslocaram ‑se para os grandes centros urbanos, em particular Luanda, Lobito, Benguela e Huambo.

O coeficiente de industrialização apresentou valores relevantes, com 41% considerando ‑se a extractiva e 25% só com a indústria transformadora, o que é o mais importante.

Do mesmo modo, as exportações industriais começaram a ganhar relevo, embora com um desempenho médio no período inferior a 0,5% em crescimento médio anual.

Tabela 4 – Indicadores económicos e da indústria transformadora

AnoPIB

(mil contos)Prod.

indust.Grau

indust.Indust. trans.

Grau indust.

Exp. indust.

Exp. indust./Prod. indust.

1960 11 607 2453 21,1 1420 12,2 142 10,0

1963 14 820 3858 26,0 2450 16,5 198 8,1

1965 19 200 4841 25,2 3024 15,8 389 12,9

1968 28 299 7964 28,1 4918 17,4 379 7,7

1970 40 076 13 915 34,7 8240 20,6 1181 14,3

1971 42 078 15 670 37,2 9540 22,7 1418 14,9

1972 45 865 18 851 41,1 11 359 24,8 1045 9,2

1973 58 707 24 317 41,4 14 539 24,8 1513 10,4

Tx. cresc. (%) 13,3% 19,3% 5,3% 19,6% 5,6% 20,0% 0,3%

92 In obra anteriormente citada.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

O processo de industrialização reclamado pelos empresários lusos em Angola, justificado pelas potencialidades do território em recursos naturais, exigido pelas necessidades de melho‑ria das condições de vida da população, reivindicado pelos objectivos de unidade territorial, legitimado pelos imperativos metropolitanos de criação de uma zona de trocas livres entre os territórios da Nação portuguesa, assentava no modelo de crescimento de substituição das importações; era fortemente dependente de importações, dada a incipiência do tecido empre‑sarial local e beneficiou, no seu início, da criação do Fundo Monetário da Zona do Escudo que garantia a cobertura financeira das compras feitas ao estrangeiro (predominantemente à Metró‑pole), em situação de saldo devedor da Balança de Pagamentos. Este Fundo era parte integrante do Sistema de Pagamentos Interterritoriais criado em 1962 e da Zona Monetária do Escudo, dentro do propósito da instituição do Mercado Único Português.

Foi durante os anos sessenta que a indústria transformadora se modernizou e se tornou capaz de satisfazer crescentemente uma procura interna de maior valor agregado, reforçada pela melhoria geral dos rendimentos, pelos contingentes militares, pela emigração portuguesa e pelas melhorias, relativas, de rendimento da população negra derivadas da crescente mone‑tarização dos circuitos comerciais dos produtos agrícolas e da produção agrícola familiar.

Porém, as estatísticas revelam que nem tudo correu como seria de esperar e desejar, de acordo com os objectivos políticos e as potencialidades de recursos. A estrutura industrial trans‑formadora não mostrou excepcional habilidade de deixar de estar assente em indústrias ligeiras, de processamento tecnológico simples. Conforme ilustra a tabela seguinte, a maior parte das actividades de transformação regrediram na sua participação relativa no tecido industrial, em especial as químicas e os derivados do petróleo. Como referências de destaque, em termos de acrescento de valor agregado relativo, surgem as indústrias dos produtos metálicos, dos artigos de borracha e da pasta de papel e derivados.

Tabela 5 – Estrutura da indústria transformadora em Angola93

Indústria transformadora 1962 1965 1968 1971 1973 Tx. cresc.93

Alimentação 25 28 33 42 36 3,37%

Produtos derivados do petróleo 12 10 10 5 4 ‑9,50%

Têxteis 12 13 10 13 12 0,00%

Bebidas 11 14 12 10 11 0,00%

Químicas 11 11 8 7 5 ‑6,92%

Tabaco 7 7 6 5 5 ‑3,01%

Produtos minerais 6 8 6 6 5 ‑1,64%

93 Estas taxas de variação média anual referem‑se à participação relativa de cada atividade referida na tabela e medem, afinal, a capacidade de modificação estrutural de cada uma delas no seu posicio‑namento relativo face às demais. Não são taxas de crescimento de produção ou valor dessas activida‑des de transformação.

continua

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Indústria transformadora 1962 1965 1968 1971 1973 Tx. cresc.93

Pasta de papel e derivados 2 4 3 4 3 3,75%

Artigos de borracha 1 1 3 3 2 6,50%

Produtos metálicos 1 2 3 3 4 13,43%

Material eléctrico 0 1 1 1 1 —

Material de transporte 0 0 0 3 2 —

Diversos 11 5 3 9 8 ‑2,85%

A grande maioria das empresas e estabelecimentos industriais era de pequena dimensão e o capital investido por trabalhador, a despeito de um crescendo no seu valor entre 1956 e 1970, correspondia a tecnologia de média complexidade, ajustada, de resto, às habilidades trabalhistas existentes na época, vide tabela seguinte.

Tabela 6 – Factores de produção na indústria (valores do capital em milhares de contos e coeficiente capital/trabalho em contos)

Ano Estabelecimento Empregados CapitalCapital/

TrabalhadorTrabalhador/

Estabelecimento

1956 1960 41 834 1692 40,45 21,3

1960 2725 55 068 2429 44,11 20,2

1965 3886 67 991 3894 57,27 17,5

1970 5587 58 736 6289 107,07 10,5

A análise da relação da industrialização e a importação de todo o tipo de bens mostrou que a importação de bens de equipamento e intermédio estabeleceu ‑se em torno de 34% das importações totais em 1973, conforme ilustra a tabela abaixo.

Tabela 7 – Importação de bens de equipamento e intermédios (mil contos)

Tipos de bens 1955 1960 1965 1968 1971 1973 Tx. cresc.

Veículos auto e acessórios 261 332 560 878 1332 1243 9,1%

Aço, ferro fundido e macio 216 210 370 864 996 1111 9,5%

Material para caminho ‑de ‑ferro 59 147 176 192 58 171 6,1%

Tractores 50 83 149 149 290 212 8,4%

Máquinas e aparelhos industriais 133 237 167 439 721 1245 13,2%

Máquinas e aparelhos agrícolas 35 35 28 39 89 85 5,1%

Ferramentas 18 35 49 78 171 195 14,2%

Motociclo, velocípedes e acessórios 9 16 51 49 61 70 12,1%

Fios e cabos eléctricos 20 21 16 47 48 65 6,8%

Produtos químicos diversos 11 24 28 33 58 85 12,0%

Adubos 32 34 38 48 139 202 10,8%

% nas importações totais 25 31 26 32 32 34 1,7%

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As importações mais dinâmicas no período considerado foram as de equipamentos indus‑triais, ferramentas, adubos, motociclos e produtos químicos diversos, comprovando ‑se que a colónia estava ainda em processo de construir a sua base industrial. Com efeito, as indústrias que sustentam a industrialização – a metalomecânica, a química, a siderurgia – tinham ainda um carácter incipiente, ou não existiam.

Em relação às exportações não se verificou alteração do padrão dos períodos anteriores. Nas principais exportações, em 1973, não constavam muitos produtos de transformação interna: petróleo (30% do total exportado), café (27%), diamantes (10%), minério de ferro (6%), algodão em rama (3%) e sisal (2%)94.

Em relação à formação bruta de capital fixo, conforme ilustra a tabela abaixo, os investi‑mentos que mais cresceram entre 1966 e 1970 foram da área das máquinas e equipamentos industriais (43,1% em taxa anualizada) e os edifícios e outras construções com 25,1%. A variação média anual da FBCF foi de 27,2% no mesmo período.

Tabela 8 – Formação bruta de capital fixo na indústria transformadora (mil contos)

1966 1967 1968 1969 1970 Tx. cresc.

Edifícios e outras construções 95 140 222 222 233 25,1%

Material de transporte 44 38 48 66 70 12,3%

Máquinas e outro material 126 347 375 483 529 43,1%

Outros bens de capital 57 6 13 11 10 ‑35,3%

Total 322 531 658 782 842 27,2%

Apesar dos espectaculares resultados alcançados, o processo de industrialização, em curso até 1974, apresentava, de acordo com os autores da Estratégia de Desenvolvimento Industrial de Angola, alguns aspectos sobremaneira negativos ao desenvolvimento industrial do território, em parte devido ao modelo adoptado e em virtude do objectivo subjacente: criação do espaço comum português. Entre esses aspectos negativos destacam ‑se:

• Os condicionalismos legais que configuram alguns aspectos negativos da integração eco‑nómica nacional (Metrópole e Colónias) como:

– as manobras de dumping das empresas metropolitanas;

– as sobrefacturações nas importações, com a correspondente fuga de divisas e dificulda‑des na balança de pagamentos;

– as disparidades nos sistemas legais e administrativos;

– a livre troca de mercadorias no espaço nacional, cujo problema não residia na liberdade de comércio entre as várias parcelas territoriais do espaço nacional português, mas na

94 Faziam também parte da pauta de exportação: o tabaco, a pasta de papel, o cimento, os derivados de petróleo, a cera (em bruto ou preparada), os óleos essenciais para perfumaria, os couros e as peles.

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emissão de certificados de origem falsos pela Metrópole e Moçambique, fazendo passar produtos estrangeiros por nacionais, prejudicando, assim, a concorrência e a possibili‑dade de Angola poder fabricá ‑los; a obrigatoriedade de se comprarem produtos à Metró‑pole e a Moçambique, em vez do mercado internacional, limitou o estabelecimento de indústrias novas em Angola e criou sérias dificuldades às existentes.

• As imperfeições do condicionamento industrial que consistiam na falta de uma adaptação mais conforme do regime do condicionamento industrial a um desenvolvimento industrial mais equilibrado do espaço económico português, porquanto, a existência de longa lista de indústrias condicionadas, muitas delas sem qualquer interesse técnico e económico justificativo desse condicionamento, conduzia a uma sobrecarga administrativa e a um entrave à iniciativa privada.

• A inadequação das estruturas administrativas para implementar uma estratégia de de‑senvolvimento industrial que se expressava pela falta de uma Direcção dos Serviços da Indústria, de centros de documentação e informação, de gabinetes de análise de projectos industriais e de estudos sectoriais, bem como na carência de uma estrutura de crédito apropriada e na ausência de mentalidade e tradição industrial.

• O excesso de burocracia e imperfeições da política fiscal e aduaneira. Neste aspecto havia a destacar o facto de intervirem no processo de autorização de instalação de novas in‑dústrias ou alargamento das existentes, nomeadamente as sujeitas ao regime de condi‑cionamento industrial, organismos, regras e critérios em excesso que não atraíam o in‑vestimento privado. Por outro lado, a burocracia era exercida e aplicada por pessoal não qualificado, o que dificultava e atrasava os processos de autorização. Em relação à política fiscal, o processo de industrialização em curso era penalizado por imperfeições que se manifestavam pela pulverização de encargos que oneravam a actividade industrial, quer sob a forma de impostos, quer de taxas (estas muitas vezes escapando ao controlo central por ser o seu lançamento da competência das autarquias locais), situação que introduzia instabilidade no sistema fiscal e fomentava o desinteresse de alguns investidores estran‑geiros. Por um lado, o facto da colecta dos impostos assentar sobre lucros presumíveis em vez de lucros reais, desestimulava o investimento privado e tornava injusto o sistema de repercussão para diante. Acrescia ‑se a isso a falta de estudos quanto aos efeitos da carga tributária sobre as diferentes categorias de contribuintes e espécies de rendimentos, e as prolixas exigências de natureza burocrática relativas ao cumprimento das obrigações fis‑cais. Em relação à política aduaneira a imperfeição mais referenciada relacionava ‑se com a remanescência de determinadas imposições sobre as exportações, em especial sobre produtos da indústria transformadora.

Além dos aspectos mencionados de que se destacaram os condicionalismos legais relacio‑nados com a “integração económica nacional” persistiam outros condicionalismos básicos im‑peditivos ao desenvolvimento industrial, a saber:

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• A necessidade de mão ‑de ‑obra qualificada. Não deixou de ser uma das mais importantes questões para o processo de industrialização em curso, uma vez que nenhum programa de desenvolvimento industrial pode ser cumprido sem que haja disponível para o efei‑to um quantitativo suficiente de mão ‑de ‑obra qualificada, tanto nas áreas da produção, quanto nas de pendor administrativo. A falta de produtividade das indústrias da altura era imputada, em larga percentagem, à fraca qualificação e experiência da mão ‑de ‑obra, o que originava autênticas disputas entre as empresas pela sua contratação, provocando a elevação dos salários no mercado de emprego, no entanto, sem contrapartida no au‑mento da produtividade. Ainda em relação à mão ‑de ‑obra para a indústria colocava ‑se, na época, o ingente problema da pouca assiduidade do trabalhador, ou seja, o absentismo. Considerava ‑se este fenómeno relacionado com problemas culturais (escassez de necessi‑dades materiais e espirituais, inexistência de uma mentalidade de inovação e progresso) e educacionais (relativos à sua reduzida educação de base).

• A mentalidade industrial. A falta de capacidade dos empresários da época permitia apenas descobrir oportunidades de investimento óbvias e baseadas em recursos evidentes, em tecnologia pouco refinada e numa procura facilmente detectável. Exigia ‑se mais para a industrialização de Angola. As razões para a existência duma mentalidade industrial retró‑grada residiam:

– na origem dos empresários – grande parte era oriunda do sector comercial, com uma visão essencialmente de curto prazo e de ganho fácil e rápido, alguma era proveniente de antigos operários que conseguiram criar o seu próprio negócio;

– na aversão ao risco;

– na tendência para produzir bens cujo mercado fosse conhecido e bem delimitado, para a concentração de funções (capitalista, empresário e gestor confundiam ‑se numa só pes‑soa), para criar empresas de dimensão diminuta e de pequeníssimo capital social;

– na fraca capacidade de trabalho e na reduzida visão estratégica da actividade industrial e do desenvolvimento económico do país e do mundo e na incerteza quanto ao desen‑volvimento da situação política e militar do território.

• A gestão e organização empresarial. Na estrutura económica, em geral, e na industrial, em particular, predominavam pequenas empresas, poucas médias empresas e a direcção, nos aspectos técnicos e administrativos, confinava‑se a uma única pessoa, frequentemente o dono da empresa. A concentração e centralização de funções num número reduzido de pessoas e a falta de planeamento estratégico reduzem a rendibilidade, ancilosam a actividade fabril e comercial e provocam, amiudas vezes, a obtenção de produtos de baixa qualidade.

• Os mercados e a comercialização. Era difícil a penetração no mercado mundial dos pro‑dutos da indústria transformadora angolana da época, devido à natureza do parque

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industrial e do estádio de desenvolvimento do território. Na indústria extractiva a situação era diferente, dado que laborava para os mercados externos. No sector transformador somente as indústrias que processavam matérias ‑primas para incorporação noutros sec‑tores apresentavam alguma competitividade. Nas restantes indústrias transformadoras que concentravam a sua actividade no mercado interno a situação era diferente. Portanto, estavam inseridas na estratégia de industrialização baseada no alargamento do mercado interno, no incremento do poder de compra da população (melhor distribuição do rendi‑mento), no incremento da agricultura e melhoria da estrutura do comércio e dos circuitos de distribuição e comercialização. Debatiam ‑se com o facto de 80% da população ser rural e utilizar processos de produção rudimentares, pelo que o seu poder de aquisição era ex‑tremamente reduzido em relação aos produtos provenientes do sector industrial, mesmo para os destinados a satisfazer necessidades básicas como de alimentação, vestuário e utensílios de uso doméstico e agrícola.

• O financiamento para a indústria. O sistema e a estrutura bancária existente à época eram subdesenvolvidos e a penetração no interior do território estava circunscrita ao litoral e centro ‑litoral, e o Banco Emissor (Banco de Angola) acumulou durante bastante tempo as funções comerciais e de investimento com as de banco central e não pagar juros aos depósitos nele constituídos, não atraiu os potenciais depositantes.Associado a este facto havia ainda a registar:

– o baixo valor da poupança e a reduzida propensão a poupar, explicados pelos diminutos níveis de rendimento da população e por razões culturais que colocam no consumo pre‑sente a maior parte das opções de aplicação de ganhos;

– a preferência dos aforradores por aplicações de curto prazo em vez de produtos de rendibilidade mais diferida no tempo, e nos casos em que se podia falar de aforro, o mesmo era mantido ocioso, não procurando intermediação bancária para entrar no cir‑cuito económico;

– as taxas reduzidas de investimento e a baixa propensão ao investimento, sobretudo por‑que o peso da economia não monetária era muito significativo;

– a repercussão das deficiências do sistema financeiro na estrutura das empresas que se manifestavam pela cobertura de activos permanentes por capitais de curto prazo, envie‑samento do crédito concedido, dando ‑se preferência ao sector comercial;

Este facto acrescido de uma actuação pouco dinâmica e incisiva do Estado no sentido da supressão das muitas lacunas, insuficiências e imperfeições do sistema financeiro, deixa‑ram, por consequência, a indústria privada de um dos mais importantes pilares para o seu crescimento.

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• Política de energia. Um dos aspectos mais controversos em matéria de suprimento ener‑gético no passado relacionava ‑se com as tarifas e a sua inadequação com as necessidades de desenvolvimento industrial. O problema que se colocava então tinha a ver com as for‑mas de cálculo do tarifário de electricidade, aparentemente prejudiciais à indústria por‑que contribuíam para a elevação dos custos unitários de produção. As cidades do interior, com pequenas centrais térmicas, não podiam praticar as tarifas que eram convenientes para a indústria.

3.1.3 A industrialização antes da independência

O crescimento económico de Angola desde 1962 até às portas da independência foi notá‑vel. Ennes Ferreira destaca o número crescente de unidades industriais que se foram estabele‑cendo ano após ano e a sua diversificação, tendente a aproveitar/criar um mercado de consumo interno que se ia alargando com o crescimento da população, a melhoria dos seus rendimentos e respectivo poder de compra e com a crescente imigração portuguesa. Notaram ‑se afloramentos de diversificação industrial a par das indústrias tradicionalmente exportadoras.

Internacionalizar uma economia pela via da conquista de mercados externos é complexo, leva tempo e é apelativa de políticas inteligentes.

A tabela seguinte (Angola – Portugal: Do Espaço Económico Português às Relações Pós ‑Coloniais, Manuel Ennes Ferreira, Escher, 1990, páginas 143/148, 167/178) traduz a mesma situação da reve‑lada anteriormente quanto ao processo de industrialização de Angola antes da independência.

Tabela 9 – Indústria transformadora e Produto Interno Bruto

Ano VBP PIB Tx. câmbio VBP (USD) PIB (USD) IT/PIB (%)

1962 2269 17 245 22,5 100 844,4 766 444,4 13,2

1963 2450 18 641 23,0 106 521,7 810 478,3 13,1

1964 2767 20 318 23,5 117 744,7 864 595,7 13,6

1965 3024 22 512 24,0 126 000,0 938 000,0 13,4

1966 3653 25 103 24,5 149 102,0 1 024 612,2 14,6

1967 3937 27 141 25,0 157 480,0 1 085 640,0 14,5

1968 4918 29 482 25,5 192 862,7 1 156 156,9 16,7

1969 6425 33 529 26,1 246 168,6 1 284 636,0 19,2

1970 8240 39 277 26,9 306 319,7 1 460 111,5 21,0

1971 9540 43 794 27,5 346 909,1 1 592 509,1 21,8

1972 11 359 49 049 28,1 404 234,9 1 745 516,0 23,2

1973 14 539 55 180 29,0 501 344,8 1 902 758,6 26,3

Tx. cres. nom. 18,4 11,2 2,3 15,7 8,6 6,5

Tx. cres. real 12,1 4,7

NOTA: A conversão em dólares é dos autores, bem como a hipótese da taxa de câmbio.FONTE: Estatísticas Industriais de Angola 1961 ‑1973.

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A conversão em valores constantes atenua o ritmo médio de crescimento verificado na década, mas não deixa, ainda assim, de ser muito positivo.

Aspectos a destacar:

• Em termos reais, a taxa média anual de variação da produção industrial de transforma‑ção foi tripla da do PIB, sendo prova do intenso ritmo de industrialização que se viveu na época, provavelmente acelerado como resposta à luta de libertação nacional e à criação dum mercado interno de maior rendimento e poder de compra, particularmente devido à emigração e aos efectivos militares portugueses.

• Presume ‑se, na medida em que o quadro de Ennes Ferreira o não clarifica, que esta indus‑trialização deve ter acelerado o ritmo de subida dos preços.

• Os valores do PIB necessitam de ser confrontados com os de outras fontes mais adiante refe‑ridas, nomeadamente os da Missão de Estudos do Rendimento Nacional, de Vasco Fortuna.

• A industrialização do território também pode ser confirmada pelo rácio VBP transforma‑dora/PIB.

• Apesar dum índice de industrialização sempre crescente, no entanto o seu ritmo de varia‑ção média é inferior ao do PIB, significando que outros factores de crescimento de Ango‑la no período foram igualmente relevantes, como as exportações de produtos primários agrícolas e minerais.

Os resultados anteriores são ainda mais significativos devido à incipiente base de partida nos anos 50 e às incidências castradoras da legislação industrial (lei do condicionamento industrial), mas, apesar disso, tinham de ser ainda maiores para satisfazer as crescentes necessidades do crescimento económico da colónia.

A despeito da visível industrialização no período considerado, o padrão de crescimento e de especialização produtiva de Angola ainda era constituído por uma trilogia baseada na expor‑tação de produtos de base e matérias ‑primas, na industrialização interna de bens de consumo final directo (alimentares, bebidas, tabaco, têxteis, confecções e calçado) e na importação de bens de equipamento e intermédios.

A avaliação do processo de industrialização da colónia fica mais completa com a comparação das importações de bens industriais e as importações totais.

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Tabela 10 – Importações de bens industriais versus importações totais

Ano Import. indust. Import. totais Coeficiente Mind/Mportug Mind/Moutros

1962 3426,5 3897,9 87,9 94 6

1963 3794,9 4211,6 90,1 94 6

1964 4176,6 4714,3 88,6 94 6

1965 5035,2 5601,2 89,9 94 6

1966 5367,7 5947,6 90,2 92 8

1967 7210,4 7908,7 91,2 95 5

1968 7778,3 8709,9 89,3 95 5

1969 8274,4 9261,4 89,3 95 5

1970 9408,9 10 594,7 88,8 95 5

1971 10 914,2 12 126,6 90,0 96 4

1972 9481,1 10 728,2 88,4 97 3

1973 12 144,9 13 268,9 91,5 96 4

Tx. cresc. (%) 12,2 11,8 0,4

Verifica ‑se que o padrão de crescimento de Angola nos 10 anos das décadas de 60 e 70 correspondia ao de uma economia tipicamente subdesenvolvida, com uma industrialização em produtos de pouca sofisticação tecnológica e de baixo conteúdo de qualificação de mão ‑de ‑obra e satisfação das necessidades da economia e da própria industrialização (equipamentos e pro‑dutos intermédios) através duma importação crescente. De resto, como 97% das importações totais da colónia eram provenientes da metrópole portuguesa, facilmente se pode concluir que, durante estes anos, a lei do condicionamento industrial prejudicou o processo de industrializa‑ção de Angola, limitando uma dinâmica justificada pela excelente dotação de recursos naturais e pelo interesse de investidores estrangeiros não portugueses.

A economia angolana, do ponto de vista do seu processo de industrialização, era uma econo‑mia de importação, com um coeficiente de dependência muito alto e com os riscos associados conhecidos.

Os anos aos quais corresponde uma diminuição do coeficiente de importação propiciam algumas leituras:

• O valor do coeficiente de importação é elevado e não apresenta, na sua tendência geral de comportamento entre 1962 e 1973, nenhum sinal de sair da vizinhança dos 90%.

• As oscilações para menos ocorridas em 1962, 1964 e 1972 podem ser meros episódios circunstanciais e, provavelmente, derivados da necessidade de se diversificarem as impor‑tações industriais para outros países, devido à crise de pagamentos interterritoriais com Portugal.

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• Ennes Ferreira defende que a quebra registada entre 1971 e 1972 no valor do coeficiente de importação se deveu à aplicação do Decreto ‑Lei n.o 478/71.

• Devido à Lei do Condicionamento Industrial, o mercado de importação de Angola esteve fechado a outros países, conforme se deduz pelos valores do respectivo coeficiente de importação da tabela anterior.

• O mercado angolano funcionou como uma reserva da economia portuguesa nos seus seg‑mentos menos eficientes e competitivos (os de maior capacidade concorrencial dirigiam‑‑se para a Europa, em especial para a EFTA, e para os Estados Unidos, para as comunidades portuguesas aí residentes).

• Devem ter sido substanciais as distorções na produção e no consumo em Angola, não por força da imposição de barreiras aduaneiras à entrada, mas por ter de comprar e consumir bens a um preço muito mais alto do que o preço de eficiência internacional.

As importações angolanas de produtos industriais com proveniência portuguesa têm asso‑ciado um elevado coeficiente de dependência. De acordo com cálculos de Ennes Ferreira o seu valor médio acumula ‑se em 95%, com uma clara sinalização de agravamento em 1971, 1972 e 1973.

Os coeficientes de importação de bens industriais de Portugal variam consoante a natureza dos produtos provenientes da potência colonizadora e acabam por mostrar também a própria fraqueza da estrutura económica portuguesa na década de 60 e primeira metade da década de 70 do século XX.

A tabela seguinte, construída na base das informações de Ennes Ferreira, arruma as importa‑ções de bens industriais de origem portuguesa pela classificação internacional vigente na época.

Tabela 11 – Tipos de bens industriais importados por origem geográfica (valores em %)

Tipos de bens

Ano de 1962 Ano de 1971 Ano de 1973

PortugalResto do mundo

PortugalResto do mundo

PortugalResto do mundo

Produtos alimentares 65 35 62 38 20 80

Bebidas 94 6 85 15 83 17

Têxteis, vestuário, calçado 69 31 74 26 67 33

Madeiras e mobiliário diverso 73 27 84 16 91 9

Papel e pasta de papel 64 36 47 53 41 59

Produtos químicos diversos 40 60 33 67 30 70

Borracha e matérias plásticas 70 30 34 66 25 75

Vidro e produtos não ‑metálicos 55 65 48 52 46 54

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

Tipos de bensAno de 1962 Ano de 1971 Ano de 1973

PortugalResto do mundo

PortugalResto do mundo

PortugalResto do mundo

Produtos metalúrgicos de base 7 93 14 86 9 91

Produtos metálicos 43 57 37 63 30 70

Máquinas, aparelhos eléctricos e não‑eléctricos 20 80 14 86 16 84

Material de transporte 2 98 3 97 5 95

FONTE: Estatísticas do Comércio Externo de Angola, 1962‑1973.

Portugal foi perdendo posição entre 1962 e 1973 enquanto fornecedor de bens industriais transformados a Angola, a favor do resto do mundo (outras ex ‑colónias, Macau, Estados Unidos e alguns países da EFTA). Ou seja, ocorreram indícios de uma deslocação do comércio importa‑dor de Angola.

Uma outra leitura vai no sentido da confirmação do fraco nível de desenvolvimento de Portugal e da reduzida diversificação da sua estrutura produtiva. Na verdade, as importações industriais de Angola do ramo da indústria pesada e de elevada incorporação tecnológica foram sempre satisfeitas pelo resto do mundo, adivinhando ‑se tratar ‑se de países da EFTA e de outros espaços desenvolvidos da economia mundial da época.

Quanto às exportações não se espera um padrão de comércio semelhante ao das importa‑ções, em que o essencial das compras ao estrangeiro era constituído por bens de equipamento e intermédios. Mas o paradigma continua a ser o de um país subdesenvolvido, representando as exportações de matérias ‑primas e produtos de base mais de ⅔ das exportações totais.

O que importa, em termos de processo de industrialização de Angola, é verificar a importân‑cia relativa da produção industrial nas exportações totais, aliás, um dos indicadores de aferição da industrialização dum país.

O processo de desenvolvimento depois de 1962 – e que abruptamente foi interrompido em 1974, com consequências mais visíveis a partir de 1975, depois da independência política – não criou uma base industrial capaz de, em simultâneo, satisfazer as crescentes necessidades inter‑nas em bens transformados (induzidas, como se disse, pelo aumento da população, melhoria do seu poder de compra, emigração portuguesa e contingente militar metropolitano) e atender às oportunidades de exportação. Por três razões:

• O modelo económico era de substituição de importações e não de promoção de exporta‑ções e abertura da economia95.

95 Portugal começava a estar internacionalmente isolado do ponto de vista político devido às incidên‑cias das lutas africanas pela independência e era dada prioridade aos produtos tipicamente portu‑gueses nas exportações do espaço económico português.

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• Na generalidade, os preços dos bens industriais estavam na fronteira da eficiência, faltando ‑lhes competitividade externa para disputar mercados exteriores.

• A produtividade aparente dos factores de produção ainda era baixa e só começou a apresen‑tar incrementos quantitativos e qualitativos com o grande programa de construção de estra‑das e outras infra ‑estruturas e as estratégias de formação e qualificação da mão ‑de ‑obra e a integração da economia rural nos circuitos monetários da economia geral.

Por isso, o coeficiente de exportações industriais situou‑se sempre na vizinhança dos 10% entre 1962 e 1973. A economia angolana apresentava estrangulamentos concretos na sua estru‑tura industrial, representados pela baixa qualidade da força de trabalho, dos empresários e da organização económica geral.

Tabela 12 – Exportações totais e estrutura das exportações de produtos industriais. Peso relativo de alguns produtos industriais

AnoExp.

indust.Exp.

totaisExp. indust./

Exp. totaisAlimentação Têxt./Vest.

Papel/Deriv.

Vidro Outros

1962 439,9 4264,3 10,3 83,6 4,5 0,7 1,1 10,1

1963 469,9 4683,9 10,0 68,6 5,3 7,6 2,3 16,2

1964 517,0 5867,6 8,8 70,3 5,8 9,8 3,8 10,3

1965 598,0 5747,4 10,4 68,1 3,5 10,0 4,7 13,7

1966 712,9 6359,4 11,2 63,6 7,8 9,9 4,3 14,4

1967 706,5 6837,8 10,3 65,4 8,0 10,3 1,7 14,6

1968 686,4 7787,9 8,8 61,2 8,7 12,1 1,1 16,9

1969 719,4 9387,4 7,7 51,8 6,4 13,9 3,0 24,9

1970 918,8 12 172,2 7,5 53,2 5,1 14,8 3,1 23,8

1971 1007,7 12 147,7 8,3 56,5 6,3 13,1 3,1 21,0

1972 1575,5 13 923,3 11,3 45,0 3,3 7,8 3,1 40,8

1973 1295,5 19 158,2 6,8 59,9 4,7 10,8 8,1 16,5

Tx. cresc. (%) 10,3 14,6 ‑3,8 ‑3,0 0,4 28,2 19,9 4,6

FONTE: Estatísticas do Comércio Externo de Angola, 1962 ‑1973.

A estrutura das exportações industriais é típica duma economia subdesenvolvida, onde os bens de processamento tecnológico fácil a dominam, conforme os valores da tabela anterior o comprovam.

Com efeito:

• Os produtos alimentares detiveram sempre a maior representatividade relativa na pau‑ta das exportações industriais angolanas, embora com uma tendência clara de perda. De resto, a taxa média de variação das exportações industriais de bens alimentares foi negativa e estimada em ‑3%.

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• Uma razão que pode ajudar a compreender esta tendência liga ‑se ao aumento das neces‑sidades internas com o aumento da população, a sua urbanização e a crescente moneta‑rização da economia rural.

• Outra justificação pode ser dada pelos processos semelhantes de substituição de impor‑tações dos países/territórios para onde se dirigiam as exportações angolanas de bens ali‑mentares.

• A indústria da pasta de papel e do papel – de compleição tecnológica razoável – é a segun‑da maior exportadora industrial do país no período considerado, admitindo ‑se que, graças à disponibilidade de florestas de qualidade e ao elevado grau de organização das fábricas que laboravam os produtos, os preços angolanos aproximavam ‑se aos de eficiência inter‑nacional.

3.2 A indústria transformadora depois da independência

Alves da Rocha

Entre 1976 e 1985 foram vários os factores que actuaram sobre a economia angolana, depois de as novas autoridades terem decretado o socialismo, a planificação centralizada e o regime de partido único como as pedras basilares da construção do novo Estado. Enumeram ‑se:

• Adesão de Angola à Convenção de Lomé (1986), acarretando o cumprimento de regras de mercado no funcionamento da economia.

• Influência do enquadramento económico externo, nomeadamente a conjuntura do petró‑leo (segundo choque petrolífero em 1979‑1980).

• Novas orientações da política económica, com uma assinalável vertente administrativa na sua gestão: definição de sectores prioritários de acordo com as opções socialistas, arranjo duma nova política comercial, escolha de novos parceiros comerciais estratégicos (Cuba, RDA, União Soviética).

• Influência da situação militar interna sobre a actividade económica.

O agravamento do conflito militar e a Nova Política Económica acarretaram dificuldades à economia expressas numa recessão económica que se estendeu até 1986 e que deter‑minou a elaboração do programa de Saneamento Económico e Financeiro (SEF), reconhe‑cidas as limitações da economia socialista e administrativa e a despeito do boom no preço do petróleo em 197996. Daí que as informações macroeconómicas tenham sido negativas, incluindo a inflação, calculada como índice de preços implícito no PIB.

96 As despesas militares emergiram, então, como as grandes consumidoras das receitas fiscais do Estado.

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Na verdade, a taxa média real de crescimento do PIB entre 1978 e 1985 – com ajustamentos feitos por nós para os anos 1983, 1984 e 1985, foi de ‑4,3%, em concordância com valores de algumas publicações internacionais como o FMI (World Economic Outlook) e do Banco Mundial (World Economic Prospects). A pressão militar começava a ser elevada em termos de reafecta‑ção de factores e recursos de produção e as despesas com a defesa passaram a canibalizar o orçamento de Estado.

Tabela 13 – Alguns dados macroeconómicos de Angola entre 1978 e 1985

AnoPIB corrente

(milhões de USD)PIB const.

(milhões de USD)Tx. cres. nom. Tx. cres. real Infl. implícita

1978 79,4 30,6 7,5 ‑1,3 159,5

1979 99,7 31,1 25,6 1,6 220,6

1980 108,5 30,9 8,8 ‑0,6 251,1

1981 118,0 31,1 8,8 0,6 279,4

1982 109,4 26,4 ‑7,3 ‑15,1 314,4

1983 126,3 25,4 15,4 ‑3,6 396,4

1984 141,6 24,2 12,1 ‑4,9 485,2

1985 144,2 22,8 1,8 ‑5,9 533,5

FONTE: Economist Inteligent Unit, 1986.

A situação na indústria transformadora reflectia, afinal, os bloqueios gerais e as dificuldades macroeconómicas. Os índices de utilização da capacidade de transformação interna degradaram‑‑se ao longo do período e mesmo a recuperação depois de 1982 acabou por ser duvidosa, aten‑dendo aos métodos de contabilização que passaram a ser usados.

Figura 1 – Índices de produção industrial (base 100 = 1973)

FONTE: Ministério da Indústria de Angola, 1986.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

Mas provavelmente a causa mais importante para a regressão da capacidade manufactu‑reira nacional depois da independência tenha estado na carência de divisas para aquisição de equipamentos, matérias ‑primas e sobressalentes, tendo, portanto, ocorrido uma extraordinária desvalorização na capacidade tecnológica, na aptidão dos trabalhadores e empresários (e na sua experiência acumulada) e nas possibilidades produtivas dos equipamentos.

A consequência desta degradação industrial foi o incremento inusitado das importações de todos os tipos de produtos, que, por dificuldades do Orçamento Cambial, não eram adquiridos nas quantidades requeridas para a satisfação das necessidades duma população já em deban‑dada dos campos. A fome e a pobreza foram o que se seguiu. Por exemplo, a produção alimentar em 1985 atingiu apenas 37% da quantidade produzida em 1973.

No cômputo geral, a indústria transformadora, embora patenteando alguns sinais de recu‑peração entre 1977 e 1985, representou neste último ano pouco mais de metade do valor verificado em 1973 (55%).

Tabela 14 – Sector petrolífero

Ano Receitas % Export. totais Export. totais

1980 1390 86 1616,3

1981 1344 87 1544,8

1982 1234 83 1486,7

1983 1525 96 1588,5

1984 1748 89 1964,0

1985 1905 96 1984,4

FONTE: EIU, 1986 (milhões de dólares).

Como era de esperar, a dependência do petróleo já vem de longe e nem o impressionante crescimento do sector não ‑petrolífero depois de 2003 alterou, duma forma radical, o excesso de dependência registado no período considerado na tabela anterior.

O sector petrolífero sempre teve um valor estratégico e estabilizador para a economia de Angola: 65% das receitas fiscais e 96% das receitas em divisas fortes em 1985. Estas posições preponderantes mantêm ‑se em 2008.

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Tabela 15 – Exportações, importações, abertura e PIB (valores em milhões de kwanzas e grau de abertura em %)

Ano Exportações Importações Exp. + Imp. Grau de abertura PIB

1978 998 888 1886 70 2694,3

1979 1182 1228 2410 73 3301,4

1980 1623 1483 3106 86 3611,6

1981 1270 1513 2783 71 3919,7

1982 1490 1122 2612 72 3627,8

1983 1583 990 2573 61 4218,0

1984 1960 1265 3225 68 4742,6

1985 1976 1374 3350 70 4785,7

FONTE: BNA.

O esforço de incremento da produção e exportação de petróleo e a política de contenção das importações permitiram que a balança comercial se tivesse mantido positiva, com algumas excepções em 1979 e 1981, justificado o défice comercial pela descida do preço do petróleo.

Já foram feitas alusões ao modo como a economia nacional se comportou durante a década de transição para a economia de mercado (1990‑2000). Devo adiantar neste parágrafo a confi‑guração muito desequilibrada como o (de)crescimento económico se vem realizando, pratica‑mente desde a independência.

As tabelas seguintes, elaboradas a preços constantes de 1985, traduzem, em números, as dificuldades por onde tem passado a economia produtiva nacional, muito particularmente a não ‑petrolífera, da qual depende efectivamente a população.

Tabela 16 – Estrutura sectorial do PIB, década de transição

Ano Agricultura Petróleo Diamantes Transforma.Energia/

ÁguasConstrução Comércio Serviços

1989 10,8 54,7 3,5 0,25 2,2 4,6 01990 10,3 55,7 3,2 0,22 2,2 4,4 01991 12,0 46,7 1,4 3,7 0,16 3,7 10,3 8,41992 13,7 37,7 2,8 4,1 0,1 5,2 16,2 16,71993 11,1 42,6 0,5 5,2 0,1 4,3 19,4 13,81994 6,2 58,1 1,2 6,7 0 3,2 17,1 6,21995 7,8 56,0 1,1 7,2 0 3,4 16,6 6,91996 7,5 59,3 0,6 6,8 0 3,2 14,8 7,11997 9,5 48,3 3,8 4,4 0 4,1 16,2 11,31998 12,3 32,9 7,3 5,7 0,1 5,5 20,7 13,91999 6,7 55,7 7,5 3,6 0 3,7 13,1 7,82000 5,3 61,7 7,9 2,9 0 3,0 10,6 6,3

Média 9,4 50,8 3,4 4,7 0,1 3,6 13,7 8,2

NOTA: As somas horizontais não igualam 100 porque não se consideraram outros sectores de actividade.

FONTES: Missão do Fundo Monetário Internacional, Fevereiro de 1994; Angola ‑Recent Economic Developments, IMF, September 1997; Concluding Statement of the IMF Mission to Angola, May 1999.

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A economia nacional é uma economia dual, com um domínio predominante da economia petrolífera, que responde por cerca de 51% do Produto Interno Bruto. Os anos de 1994, 1995, 1996,1999 e 2000 – com uma média de 58,2% – foram os de maior carga desta economia e que corresponderam aos períodos de maior crescimento da produção de petróleo.

Uma outra economia de enclave que se prepara para assumir algum protagonismo é a diamantífera e que aparentemente está em processo de ultrapassar o período de acentuadas oscilações em que viveu até 1998. Claro que pesa sobre esta actividade uma enorme imponde‑rabilidade emprestada pela instabilidade militar e pelo processo internacional de sanções contra o tráfico ilegal de diamantes.

Verifica ‑se que em 2000, 70% da actividade económica interna se orientava para as expor‑tações, tornando ‑se Angola numa das economias mais abertas ao exterior, do mundo. Res‑tam 30% de actividade económica interna para gerar emprego para uma população em idade activa da ordem dos 6 milhões de habitantes (os dois sectores de enclave não devem empregar sequer 0,5%: em declarações à TIME de Outubro de 2000, o Ministro Angolano da Geologia e Minas referia que o sector diamantífero empregava cerca de 22 000 trabalhadores nacionais, que representavam cerca de 90% de toda a mão ‑de ‑obra em actividade no sector mineiro, incluindo o petróleo).

Os sectores estruturantes do resto da economia (agricultura, pecuária e pescas, indústria transformadora, energia e águas, e construção) têm uma representatividade média de tão‑‑somente 18,9%, sendo patente a crescente perda de influência ao longo da década. O sector da energia e águas apresenta ‑se com uma influência muito exígua, registando ‑se anos em que a sua comparticipação relativa foi muito próxima de zero.

Igualmente preocupante é a posição da indústria transformadora – já integrada com a pro‑dução de derivados do petróleo – com apenas uma média de 4,7% na década. Mas ainda mais inquietante é a tendência de desindustrialização já denunciada na caracterização geral. Os valo‑res relativos patenteados nos anos de 1994 e 1995, embora sendo de excepção no processo de desintegração industrial do país, estão muito longe dos anos de ouro da indústria transfor‑madora angolana. Uma nota curiosa – assinalada como um aviso à navegação – as melhorias verificadas em 1994 e 1995 no coeficiente de participação relativa da indústria transformadora coincidiram com um aumento importante do crédito à economia e em particular à actividade empresarial, respectivamente, 3,4% e 11,8% do Produto Interno Bruto (ambas as variáveis medi‑das em dólares americanos correntes). São, aparentemente, dois exemplos de como a política monetária pode ser usada em benefício da dinamização da economia não enclavada.

As actividades agrícolas, como pecuária e florestas, e das pescas, não chegam a comparti‑cipar com 10% no processo de geração da riqueza anual. Com excepção do ramo das pescas, as outras mostram ‑se sensíveis a factores extra ‑económicos, como a instabilidade militar e as calamidades naturais, como as secas e as cheias.

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Mas a performance da economia real pode ainda ser apreciada pelas dinâmicas de cresci‑mento que constam na tabela seguinte.

Tabela 17 – Taxas reais anuais de crescimento, década de transição

Ano Agricultura Petróleo Diamantes Transform.Energia/

ÁguasConstrução Comércio Serviços PIBpm

1989 ‑0,7 0,1 0,0 27,2 5,2 0,2 5,0 0,0 1,81990 ‑2,6 4,1 0,0 ‑5,2 ‑12,2 1,0 ‑2,0 0,0 2,81991 ‑14,9 7,3 22,9 ‑10,8 3,9 3,0 3,5 ‑3,5 1,01992 ‑27,3 10,5 45,7 ‑16,3 20,0 5,1 9,0 ‑6,9 ‑0,81993 ‑46,2 ‑8,4 ‑88,2 ‑15,4 0,0 ‑45,1 55,9 ‑30,1 ‑21,01994 8,5 9,2 89,1 6,6 4,8 21,8 6,0 ‑8,5 ‑20,01995 37,6 12,0 ‑3,2 17,5 10,5 15,0 7,2 1,5 12,01996 9,0 11,1 ‑11,1 8,0 10,6 7,0 3,8 0,5 7,31997 9,7 3,2 58,7 9,3 9,4 13,0 9,4 5,5 6,61998 5,0 3,5 88,5 4,9 14,3 10,0 5,0 0,0 5,01999 ‑10,1 3,5 ‑20,0 4,0 ‑6,9 10,0 4,7 ‑7,5 ‑0,12000 3,0 1,6 5,0 5,6 5,0 6,0 5,0 5,6 3,5

Média ‑4,7 4,7 ‑1,2 2,2 5,0 2,3 8,6 ‑4,1 ‑0,7

FONTES: Missão do Fundo Monetário Internacional, Fevereiro de 1994; Angola ‑Recent Economic Developments, IMF, September 1997; Concluding Statement of the IMF Mission to Angola, May 1999.

A primeira nota é devida ao comportamento do Produto Interno Bruto a preços de mer‑cado que na década em análise decresceu, em média, ‑0,7%, comprovando ‑se, deste modo, o fraco desempenho económico já assinalado. Se se acrescentar que a taxa média de crescimento demográfico foi de 3,75% – de acordo com as informações do Núcleo de Estudos da População do Ministério do Planeamento – pode, então, concluir ‑se por um aviltamento médio das condi‑ções de vida de praticamente 4,4% ao ano, em termos reais (correspondente a uma depreciação acumulada de cerca de 53,8%).

No conjunto das actividades estruturantes, a indústria transformadora e a construção regis‑taram as taxas de variação mais baixas da década. A agricultura, sujeita às vicissitudes da guerra e às adversidades naturais, expressou a sua dinâmica de evolução por uma taxa média negativa de 4,7% ao ano.

As actividades petrolíferas e do comércio foram as que mais cresceram, com taxas médias de 4,7% e 8,6%, respectivamente. O bom desempenho da energia e águas, com uma taxa de varia‑ção média anual de 5%, não foi suficiente para que, em termos relativos, este sector ocupasse uma posição proeminente na estrutura do PIB.

A produtividade média em Angola tem apresentado valores de referência muito baixos, manifestamente insuficientes para permitirem a criação dum poder de compra interno que propicie melhores condições de vida aos cidadãos e reduza o risco de rendibilidade dos inves‑timentos privados.

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O valor médio da produtividade bruta por trabalhador registado entre 1989 e 2000 foi de apenas 1582 dólares dos Estados Unidos, de resto, compatível com as cifras relativas ao Produto Interno Bruto por habitante, cuja média durante a década de 90 foi tão ‑somente de 586 dólares americanos. Aquela quantia é ainda mais irrisória por se referir a toda a economia, onde actua um sector de tecnologia de ponta que é o dos petróleos e dos refinados.

Os dados mais significativos da produtividade encontram ‑se na tabela seguinte e foram obti‑dos através da consulta de determinadas bases estatísticas e da aplicação de metodologias de avaliação consagradas. Obviamente que valores mais próximos da realidade económica só teriam sido possíveis na base de inquéritos empresariais específicos.

Tabela 18 – Informações sobre a produtividade em Angola desde 1989

Ano PIB PIBpc (USD) VARANUA Taxa Empreg. VARANUA Produtividade Ganhos prod.

1989 8587 881,7 85 2161,11990 8547 852,8 ‑3,3 85 0 1927,2 ‑10,81991 8797 847,5 ‑0,6 83 ‑2,4 1975,4 2,51992 7989 743,2 ‑12,3 80 ‑3,6 1809,4 ‑8,41993 5819 522,7 ‑29,7 75 ‑6,3 1415,9 ‑21,71994 4292 372,2 ‑28,8 70 ‑6,7 1085,2 ‑23,41995 5365 423,8 13,8 64 ‑8,6 1282,8 18,21996 6535 502,3 18,5 64 0 1516,4 18,21997 7645 571,5 13,8 63 ‑1,6 1748,7 15,31998 6449 468,5 ‑18,0 60 ‑4,8 1502,9 ‑14,11999 5669 399,9 ‑14,6 58 ‑3,3 1325,6 ‑11,82000 6556 448,9 12,3 58 0 1486,4 12,1

TMV90/00 ‑2,4 ‑5,7 ‑3,4 ‑2,3MÉDIAS 6854,2 586,3 ‑4,4 70,4 ‑3,4 1603,1 ‑2,2

TVLOGAR ‑3,0 ‑7,2 ‑4,2 ‑3,1

NOTAS: O PIB está expresso em milhares de dólares americanos e os respectivos valores foram retirados dos relatórios sobre a economia angolana do FMI; a produtividade está valorizada em dólares e refere ‑se a cada trabalhador activo; os ganhos de produtividade estão dados em percentagens anuais; a taxa de emprego é expressa em percentagem da população economicamente activa; as taxas médias de variação foram calculadas segundo três modelos: o exponencial, o da regressão logarítmica e o da média das variações anuais.

O comportamento das variáveis ligadas directamente à produtividade foi globalmente negativo:

• O produto médio por habitante decresceu a uma cadência muito forte, entre 4,4% e 7,2%, consoante o método de cálculo, com consequências negativas directas sobre o poder de compra, a motivação para o trabalho e as condições de saúde da população trabalhadora.

• O emprego regrediu a uma velocidade média anual entre 3,4% e 4,2%, tendo com certeza este comportamento da variável directamente relacionada com as condições de vida da população agravado a situação geral de pobreza; entre 1990 e 2000 ter ‑se ‑ão destruído 31,8% dos empregos existentes no início da década.

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• A taxa de crescimento demográfico situou ‑se em torno dos 3,9% de acordo com os cálcu‑los baseados nas estimativas populacionais da Unidade Técnica da População do Ministé‑rio do Planeamento, valor muito alto.

• O Produto Interno Bruto decresceu a um ritmo médio anual entre 2,4% e 3,0%.

A produtividade bruta média comportou ‑se negativamente a uma taxa entre 2,6% e 3,1%, tendo provavelmente sido de 1486 dólares americanos em 2000.

Os ganhos de produtividade foram sistematicamente negativos, com a sua máxima expressão em 1993 e 1994, com ganhos negativos substanciais. Em contrapartida, 1996 foi, aparente‑mente, o melhor ano da década em matéria de ganhos de produtividade.

No sector industrial transformador o panorama da produtividade exprimiu ‑se por valores ainda mais degradantes, conforme se expressa na tabela seguinte.

Tabela 19 – Informações sobre a produtividade em Angola desde 1989

Ano PRINTRAN Ganhos prod. Vabit/PIB Empindus Índindustr Índvabit Índempind

1989 4319 7,2 81 122 24,3 100 97,2

1990 4026 ‑6,8 7,0 83 382 23,6 96,8 100

1991 3733 ‑7,3 5,4 70 212 18,2 76,8 84,2

1992 1903 ‑49,0 2,4 60 986 8,1 31,0 73,1

1993 1446 ‑24,0 1,5 54 887 5,1 14,1 65,8

1994 1257 ‑13,1 1,5 51 228 5,1 10,4 61,4

1995 3808 203,0 4,0 56 351 13,5 34,7 67,6

1996 3943 3,6 3,4 56 351 11,5 35,9 67,6

1997 4933 25,2 4,0 61 986 13,5 49,5 74,3

1998 4162 ‑15,6 4.0 61 986 13,5 41,7 74,3

1999 3217 ‑22,7 3,4 59 929 11,5 31,2 71,9

2000 3610 12,2 3,3 59 920 11,1 34,5 71,9

TMV90/00 ‑1,6 9,6 ‑6,8 ‑3,0 ‑6,6

MÉDIAS 3363 9,6 3,9 63 194 13,3

TVLOGAR ‑2,1 ‑1,8 ‑0,5

NOTAS: PRINTRAN – Produtividade na indústria transformadora em dólares americanos; Empindus – Emprego industrial; Índindustr – Índice de industrialização base 100 em 1974; Índvabit – Índice do valor acrescentado bruto industrial; Índempind – Índice de emprego industrial.

FONTES: Ministério da Indústria, Plano Director de Reindustrialização de Angola, 1995; IV Plano de Fomento; Ministério do Planeamento, Contas Nacionais; Cálculos baseados em metodologias específicas.

É evidente a situação de degradação da economia industrial com um índice de industrializa‑ção em 2000 de 11,1 relativamente a 1974. De resto, a participação da indústria transformadora no Produto Interno Bruto não foi além dos 3,9 contra 29,6, registada em 1974. As razões para esta desindustrialização são conhecidas e estão analisadas com algum destaque no Plano Direc‑tor de Reindustrialização de Angola:

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• Imponderabilidades diversas que têm prejudicado o funcionamento normal das empresas industriais.

• Ambiente económico geral pouco propício ao investimento industrial privado.

• Concorrência desleal das importações institucionais, petrolíferas e de algumas ONG.

• Inexistência de políticas correctas de incentivo e fomento da iniciativa privada nacional e de captação do investimento estrangeiro para o sector manufactureiro.

• Políticas restritivas de crédito ao sector produtivo.

Quanto à produtividade bruta industrial, o valor médio registado durante a década de 90 foi de 3363 dólares americanos, com uma taxa média negativa de variação de praticamente 2,1%. A produção em Angola tem estado rodeada de uma série variada de constrangimentos desde a independência.

Mesmo numa situação normal, a capacidade de permanentemente serem gerados ganhos de produtividade tem limites evidentes emprestados pela qualificação média dos trabalhado‑res e pela sua aptidão para lidarem com as mudanças, pelos processos de destruição criadora (inovações tecnológicas, organizacionais e espaciais), pelos ajustamentos culturais, pelo grau de inserção nos processos de globalização, etc.

Em Angola podem identificar ‑se os limites seguintes:

• Rigidez da oferta explicada por diversos factores restritivos como o fornecimento regular de água, electricidade e de outras infra ‑estruturas básicas, a política de sobrevalorização cambial só parcialmente revertida com consistência a partir de 1999 e a política de restri‑tividade do crédito.

• Descapitalização de conhecimentos e experiência da mão ‑de ‑obra industrial justificada pelas sucessivas paralisações e recessões da produção da indústria transformadora e pela obsolescência do parque de equipamentos.

• Desequilíbrio entre o índice de industrialização e o índice de emprego industrial, arrastan‑do índices elevados de sobre ‑emprego industrial. As razões para esta situação encontram‑‑se na função estabilizadora do emprego reconhecida às empresas públicas industriais e à inflexibilidade e regulamentação do mercado de trabalho.

• Envelhecimento tecnológico do parque industrial. Estatísticas referentes a 1994 referiam que 94% do equipamento industrial tinha mais de 20 anos de vida tecnológica, 33% mais de 30 anos e que entre 1984 e 1994 não se tinha procedido a qualquer renovação tecno‑lógica (a última grande renovação tecnológica remontava a 1974 e anos anteriores). Uma actualização linear a 2000 revela que a maior parte do equipamento está hoje impróprio para produzir em condições mínimas de eficiência e rendibilidade, atendendo à sua prove‑ta idade tecnológica superior a 36 anos (provavelmente noutros países estes equipamen‑tos seriam peças de museu).

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• Qualificação média dos trabalhadores muito baixa, sendo o melhor retrato desta deficiên‑cia a taxa de analfabetismo dos adultos que em 1998 apresentava o valor de 58%. Mas também o são as reduzidas taxas de escolarização nos Ensinos Primário e Secundário e as altas taxas de reprovação e abandono em todos os níveis de ensino.

• Falta de tradição industrial explicada por razões históricas (modelo colonial) e ideológicas (modelo socialista). Os empresários angolanos têm sido feitos à pressa e quase sempre oriundos do poder político (ou da sua periferia) e das empresas estatais. Esta origem em‑presarial é perigosa porque no primeiro caso a acumulação primitiva tem resultado dum processo de transferência gratuita de recursos financeiros do Estado (dinheiro sem custo, nem trabalho), enquanto no segundo a posição quase sempre monopolista das empresas estatais (no limite posicionamentos oligopolistas) fez com que os gestores públicos estives‑sem desculpados de atitudes e comportamentos gerenciais de eficiência e competitividade e de pressões para a redução e minimização dos custos de produção (o OGE cobria tudo com os subsídios). O processo de aquisição do estatuto de capitão de indústria (empresário schumpeteriano) é longo, tem vectores sociológicos e económicos e assenta na capacidade de a própria sociedade gerar o espírito inovador enquanto valor cultural profundo. O em‑presário tem de ter qualidades excepcionais, não apenas de inteligência e capacitação, mas principalmente de vontade, persistência, golpe de vista e inovação.

• Ausência de políticas microeconómicas vocacionadas e direccionadas para as empresas e tendentes a reverter as causas das suas baixas produtividades. Não existem, nem nun‑ca existiram políticas integradas de incentivos empresariais – de tipo semelhante às que muitos países europeus praticaram recentemente após a adesão ao espaço económico comunitário. A política económica angolana durante a década de transição para a eco‑nomia de mercado foi sempre de tipo macro ou no máximo meso, mas nunca desceu ao nível das empresas.

• Ausência de sistemas integrados e eficientes de incentivo às empresas: o que predomina é a multiplicação de fundos, a atomicidade de isenções fiscais e aduaneiras – um sinal muito expressivo de reversão desta imponderabilidade foi dado durante o mês de Maio deste ano com a aprovação de legislação que elimina as isenções aduaneiras para os agentes institucionais, com destaque para as importações para a defesa – o tráfico de influências na obtenção de crédito, etc.

• Permanência de outras dificuldades, como o sistema fiscal, a burocracia do Estado, a cor‑rupção, as infra ‑estruturas de transportes.

Os ganhos negativos de produtividade ocorridos desde 1990 estão ligados ao processo de desindustrialização que o país experimenta desde há bastante tempo. A obtenção de níveis acei‑táveis de produtividade não depende apenas e automaticamente das políticas de estabilização macroeconómica, nem das reformas estruturais ligadas à liberalização, privatização e abertura. A produtividade está dependente de factores de natureza geral e onde podem estar a estabilização

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e as reformas de mercado, mas onde certamente pontificam o desenvolvimento institucional do Estado, as infra ‑estruturas económicas e a cultura social da disciplina, de factores organizativos e tecnológicos (modelo de gestão, clusters, efeitos de escala, estandardização, organização do trabalho empresarial) e de factores humanos, tais como a formação, a saúde, a acumulação de conhecimento tecnológico. Mas depende também de políticas de incentivo específicas que fomentem o investimento em novas tecnologias e em novos processos de produção. Investimen‑tos que devem ser financiados através de crédito. Os programas de estabilização que acabam por consequencializar é um determinismo monetário que afecta o crescimento económico e o desenvolvimento da produtividade.

Talvez o mais importante factor de crescimento da indústria transformadora em 2010 e 2011 tenha sido a procura de produtos e materiais de construção veiculada pela actividade de construção e reabilitação de infra ‑estruturas públicas e de bens e serviços finais proporcio‑nada por uma relativa melhoria geral dos salários nacionais e pelas elevadas remunerações dos expatriados (a população imigrada conjunta de Portugal, Brasil e China pode chegar às 200 000 pessoas de elevado poder de compra)97.

Continua em execução – ainda que com ajustamentos determinados pela alteração de algu‑mas circunstâncias de partida – o programa de fomento da indústria em Angola, dirigido pelo Ministério da Geologia e Minas e da Indústria.

Este programa é composto por 4 subprogramas: o da criação de infra ‑estruturas de apoio ao sector industrial avaliado em 400 milhões de dólares, o da substituição competitiva das importações computado em mais de 8 mil milhões de dólares98, o de reconstituição do capital humano para o qual se reservaram 86 milhões de dólares e um último de reforço da capacidade institucional do Ministério da Indústria, com uma reserva de 71 milhões de dólares.

No entanto, o sector continua a apresentar fortes debilidades estruturais em domínios essen‑ciais para a sua internacionalização, com destaque para a fraca produtividade, a reduzida com‑petitividade99, a falta de suporte infra ‑estrutural e a ausência duma visão estratégica empresarial (as empresas privadas continuam a reclamar por apoios especiais do Estado em matéria de protecção, facilidades e favores diversos).

97 Segundo as mais recentes informações do Ministério do Interior (Maio de 2012), a comunidade estrangeira residente em Angola, legalmente, era: 239 000 chineses, 140 000 portugueses, 30 000 brasileiros e 60 000 de outras nacionalidades.98 Mais adiante são feitas algumas observações sobre a redundância da expressão “substituição com‑petitiva das importações”. De resto, esta perspectiva de abordar o crescimento do sector industrial enferma de outras insuficiências que podem desvirtuar um verdadeiro processo de construção duma competitividade estrutural do país. 99 A competitividade tem de ganhar no terreno das transformações estruturais e em confronto directo com economias que produzem com qualidade e a preços concorrenciais. Pode não ser correcto e ter efeitos nocivos a médio prazo insistir em políticas de protecção artificial das actividades industriais, pelos vícios que criam e pelas disfunções no bem ‑estar que provocam.

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Ainda que em certa medida – dada pela evolução temporal da representatividade média do PIB da manufactura no PIB nacional – Angola tenha deixado de estar envolvida num processo de desindustrialização, o que é facto é que a economia nacional permanece num estado desin‑dustrializado, qualquer que seja o indicador de avaliação e de apreciação.

3.3 Causas da desindustrialização em Angola depois da independência

Alves da Rocha

Depois da independência, Angola foi sujeita a um tremendo processo de desindustrialização que explica o estado actual de dependência das importações de mais de 70% das necessidades em todas as gamas de bens económicos100. Ainda que tentativamente, podem ser elencados os seguintes factores de desindustrialização101:

• As profundas distorções económicas introduzidas pelos princípios socialistas da gestão unificada, centralismo democrático e planificação administrativa, e que se manifestavam nos aspectos seguintes:

– défices fiscais elevados;

– política de afectação dos recursos cambiais através do famigerado Orçamento Cambial;

– regime de câmbios fixos (desde 1975 a primeira desvalorização oficial do kwanza apenas ocorreu em Março de 1991);

– regime de preços fixos e estabelecidos através de processos administrativos e que deses‑timularam a produção agrícola e industrial;

– pagamento de parte dos salários dos trabalhadores industriais com a produção das fábri‑cas, regime que ficou conhecido como de auto ‑consumo;

– em 1980 o total dos salários pagos na economia suplantou, por larga margem, o volume total da produção102.

• O comportamento desfavorável da produção nacional – excepto a de petróleo depois de 1977 – logo depois da independência, como consequência da fuga de grande par‑te dos colonos portugueses. As quebras foram impressionantes: 68% no café, 80 ‑98% em outras culturas agrícolas (em 1980 a agricultura supria, tão ‑somente, 12% das ne‑cessidades alimentares da população e 15% das necessidades da indústria transfor‑

100 No entanto, esta dependência já foi mais elevada, notando ‑se, por conseguinte, uma maior capaci‑dade de satisfação interna.101 Anotações retiradas de um estudo de desenvolvimento económico desde 1950 que está a ser ela‑borado por uma equipa do CEIC.102 É o que se chama viver acima das possibilidades, donde inflação.

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madora), 72% na indústria transformadora103 (em 1984 existiam apenas 241 empre‑sas na indústria transformadora que empregavam 85 000 trabalhadores), 85% nos diamantes, 20% no petróleo (só em 1976 a produção de 144 000 barris diários de 1973 foi retomada, depois do regresso das petrolíferas norte americanas), etc. En‑tre 1975 e 1985 estima ‑se que o crescimento do PIB tenha sido de apenas 1% ao ano (o African Development Indicators 2006 aponta um crescimento médio anual do PIB por habitante entre 1980 e 2004 de ‑0,311%)104 e em 1986 o PIB em dólares correntes dimi‑nuiu 11%.

• A continuação da guerra, tendo a partir de 1993 afectado entre 60% e 70% de todo o território nacional. Esta persistência do conflito militar ampliou as distorções económicas e provocou:

– insegurança na produção agrícola e nos transportes;

– destruição das infra ‑estruturas económicas e sociais;

– redução da capacidade de produção;

– deficiente definição de prioridades, onde o que passou a prevalecer foram as despesas militares;

– incremento das despesas militares, inferiorizando o trade ‑off com as despesas sociais;

– acentuação da corrupção.

• As severas limitações em recursos humanos, determinadas pelo êxodo dos técnicos e quadros portugueses e pela natureza do regime colonial, que só nos anos terminais es‑tendeu a educação à população angolana. A elevada taxa de analfabetismo dos adultos, a baixa taxa de escolarização, o encerramento de faculdades, etc., foram a tradução duma generalizada baixa qualidade dos recursos humanos.

• A gestão económica deficiente e políticas económicas totalmente inadequadas, traduzi‑das em:

– planeamento centralizado ineficiente;

– controlos administrativos generalizados nos preços (juros, câmbios, salários e produtos) e nas quantidades (racionamento nas lojas oficiais);

– gestão orçamental inadequada;

– excesso de empresas públicas.

103 Só entre 1975 e 1976 a produção industrial caiu 30%.104 World Bank, African Development Indicators 2006, Washington, 2006.

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• As crises petrolíferas de 1981 ‑1982 e de 1986 ‑1988 que consequencializaram:

– agravamento da crise económica, por escassez de cambiais;

– redução da capacidade de importação de peças sobressalentes, matérias ‑primas e equi‑pamentos para a agricultura e indústria transformadora.

• As margens de comercialização e, no geral, toda a política de preços, que constituíram entraves severos ao aumento da produção interna e à entrada de novos empresários no mercado.

• As falhas do sistema comercial traduzidas nos monopólios estatais do comércio (externo e interno), no corte com o sistema agrário camponês, no licenciamento das importações, no sistema de preços fixados e na distribuição administrativa dos bens (ausência de con‑corrência).

• A persistente inflação desde a independência. Apesar de só a partir de 1991 ter sido pos‑sível a medição estatística da variação dos preços no consumidor, é possível, no entanto, e através da equação de Fischer, afirmar que a taxa de variação anual dos preços no consu‑midor entre 1980 e 1985 terá sido, em média, de 20%.

• A obsolescência tecnológica dos equipamentos industriais, cuja idade média, de acordo com o Plano Director de Reindustrialização de Angola, era de 30 anos em 1990105.

• O elevado índice de pobreza da população, pressentido nos baixos salários e no não aces‑so às lojas especiais oficiais e medido em 1995 (cerca de 55%)106 e 2000 (em redor de 68,2%)107.

• O baixo peso dos investimentos públicos no nível geral da actividade económica que, até 2002, patenteou, sempre, níveis muito reduzidos. Este indicador mede o comprometi‑mento/demissão do Estado para com a actividade económica, em particular a industrial.

• A quebra da produtividade industrial, justificada pela ausência de investimentos de subs‑tituição e renovação e pela desqualificação da força de trabalho.

• A falência dos sistemas de produção e distribuição de electricidade e água, limitando o funcionamento das actividades industriais.

• A natureza das políticas industriais e a inexistência de elites técnicas e empresariais. Evi‑dentemente que entre 1975 e 2000 faltou um modelo claro de recuperação da indústria

105 Ministério da Indústria, Plano Director de Reindustrialização de Angola, Cadernos Económicos Portugal ‑Angola, Câmara de Comércio e Indústria Portugal ‑Angola, 1995, 180 páginas.106 UNICEF, Dimensões Sociais do Ajustamento em Angola: Um Relatório Preparado pelo Grupo de Estu‑dos sobre Alimentação da Universidade de Oxford, 30 de Junho de 1989.107 INE, Inquérito às Despesas e Receitas Familiares, 1998 ‑1999.

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transformadora que assentasse na viabilidade económica das empresas e no redimensio‑namento do sector empresarial do Estado (anunciado, reformulado, mas sempre adiado).

• Inexistência de cultura económica, iniciativa privada, formação adequada dos trabalha‑dores e motivação efectiva dos técnicos levou à degradação das instalações industriais, do que resultou, também por aqui, a desindustrialização.

3.4 As políticas económicas e a diversificação económica em Angola desde a independência

Alves da Rocha

A diversificação da economia é uma expressão recente do léxico político e de política económica do Governo, sendo encontrada apenas nos seus programas depois de 2008 e par‑ticularmente depois de se ter percebido que as consequências negativas duma excessiva con‑centração do PIB em sectores de enclave e exageradamente expostos ao exterior podem ser dramáticas para a criação de empregos e geração de rendimentos. A crise económica interna‑cional de 2008‑2009 despoletou o debate em torno da diversificação económica em Angola e das melhores políticas para a sua consecução. Antes desta data as prioridades estavam voltadas para a recuperação da produção e para a reabilitação/construção de infra ‑estruturas económicas.

Em termos rigorosos talvez só se deva falar de política económica em Angola depois de 1991, após terem sido firmados os Acordos de Bicesse e registado um fugaz episódio de paz no país. Seguramente que em situações de elevada instabilidade militar – em que a guerra se estendia a todo o território nacional, inviabilizando toda a espécie de comunicações e trocas comerciais internas – não era possível falar ‑se de política económica. Porventura, apenas duma política económica possível, em que o urgente e o imediato tiraram lugar ao importante e ao estru‑turante. Durante todo o período de guerra civil, devido à subordinação do sector económico ao sector militar, a política económica não teve margem de afirmação enquanto tal. Mais do que o petróleo, o conflito militar foi o grande condicionante da política económica em Angola. Por exemplo, entre 1975 e 1980, apesar do comportamento amplamente positivo do preço do petróleo, a taxa média de crescimento do PIB foi de ‑4,8% ao ano108.

108 Jorge, Manuel, Para Compreender Angola, D. Quixote, 1998.

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Figura 2 – Evolução do preço do barril de petróleo em USD (brent)

FONTES: Agência Internacional de Energia e BP Statistical Review.

Acresce, ainda, que o quadro de referência da política económica não era normal até àquela data. Dum lado, uma economia socialista, em que o planeamento imperativo, administrativo e centralizado comandava o funcionamento da economia, tirando, por conseguinte, qualquer espaço à economia privada de mercado, para onde a política económica é, normalmente, diri‑gida. A edificação do socialismo não era compatível com o mercado e a iniciativa privada, pelo que todas as orientações provindas do MPLA iam no sentido do reforço da centralização e da acentuação do carácter administrativo da intervenção do Estado na economia, feita na base de planos e programas onde tudo o que se tinha de produzir, exportar e importar estava previsto.

Do outro lado, uma economia petrolífera de enclave sobranceira a qualquer medida de polí‑tica económica que tentasse enquadrar o seu funcionamento. As relações entre o Estado e a economia petrolífera eram feitas, quase exclusivamente, pela via das receitas fiscais que as petrolíferas canalizavam para o Orçamento Geral de Estado. Os privilégios outorgados às com‑panhias petrolíferas estrangeiras – importações livres (sem pagamento de direitos aduaneiros) de bens de consumo corrente, bens de capital e serviços diversos, exportação total das receitas de exportação do petróleo, contratação de expatriados, etc., revelaram ‑se como engulhos à estruturação dum sistema financeiro interno forte e abrangente. Só em 2011 o regime cambial petrolífero especial foi abolido.

Até 1991, o foco da política governamental foi variando, consoante a intensidade da guerra e as dificuldades económicas internas derivadas da variação do preço do barril de petróleo e da escassez dos financiamentos externos. Nuns anos era a defesa a merecer a prioridade máxima na afectação das receitas fiscais do Estado (1986‑1990), enquanto entre 1978 e 1985 a atenção do Governo contemplou, também, a tentativa de recuperação dos índices de produção registados em 1973‑1974.

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A intensificação e a generalização do conflito armado depois das eleições de 1992 – por recusa de aceitação dos seus resultados pela UNITA, apesar de internacionalmente validados – coincidiram com uma quebra do preço do petróleo, ficando, deste modo, condicionada a margem da política económica pelos imperativos da defesa do país.

Figura 3 – Evolução do preço do barril de petróleo em USD, 1991 ‑2000

FONTES: Agência Internacional de Energia e BP Statistical Review.

Por isso, entre 1991 e 2000, o ritmo médio anual de crescimento económico não foi além de 1,3% (IMF, 2009). Se for contabilizada a taxa de crescimento da população, cifrada em cerca de 2,9% ao ano, conclui ‑se que o défice das condições de vida foi de ‑1,55% ao ano. Ou seja, em 10 anos, o nível de vida da população deteriorou ‑se em 14,5%. Não espanta, portanto, que a pobreza começasse a ser uma condição natural da maioria da população, devido:

• Ao fraco desempenho económico geral.

• À natureza das políticas económicas implementadas, de vertente administrativa, a des‑peito de algumas tímidas reformas, como a primeira desvalorização da moeda em Março de 1991.

• À falta de recursos financeiros para apoio à melhoria das condições de vida da popu‑lação.

• À fraca capacidade de criação de emprego.

• À degradação do poder de compra em cerca de 17,7% ao ano, devido às elevadas taxas de inflação (entre 1991 e 1998 a inflação média anual foi de 1140%) e à dificuldade em se proceder a ajustamentos salariais.

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Um estudo realizado pela UNICEF, em 1989109, sobre as implicações sociais da adopção dum Programa de Ajustamento Estrutural com o FMI, avançou com a primeira estimativa conhecida da taxa de pobreza (cerca de 55%), o que chamou a atenção do Governo para passar a incluir esta variável nas suas políticas económicas e a dedicar mais recursos fiscais à melhoria das con‑dições de vida da população.

Os problemas da economia angolana estavam, na altura, relacionados com o que se deno‑mina “restrições domésticas ao crescimento económico”, tais como a falta de recursos humanos qualificados e a escassez de poupança interna, uma vez que o esforço de guerra sobrecarregava o OGE e inferiorizava qualquer outro investimento considerado adiável.

Outra dificuldade era do foro da ineficiência da gestão como um fenómeno ubíquo na eco‑nomia angolana. Ao contrário da experiência de outros países, em que o esforço de guerra levou a uma utilização mais criteriosa dos recursos escassos, em Angola o clima de guerra foi desastroso para as práticas gerenciais – na medida em que conspirou contra qualquer tentativa de imposição de seriedade na definição de prioridades da sociedade civil – e para a economia não ‑petrolífera. A guerra exerceu um efeito desmoralizador sobre as práticas de orçamentação, planeamento e controlo financeiro110.

O 2.o Congresso do MPLA/Partido do Trabalho (PT) constatou a necessidade de o Governo estimular mais e controlar duma forma mais expedita as actividades económicas. Foi, igual‑mente, reconhecido que as dificuldades económicas tinham sido causadas não apenas pela guerra, mas igualmente por políticas económicas iníquas e ineficazes. O reconhecimento do importante papel do sector privado no processo de reconstrução económica, da necessidade de melhoria da coordenação económica entre planeamento, gestão orçamental e afectação de divi‑sas, da urgência em se diminuir a excessiva centralização – que provocou má administração, cor‑rupção e indisciplina – e da reformulação dos instrumentos de controlo e gestão da economia, conduziram à elaboração do programa de Saneamento Económico e Financeiro (SEF). Até esta altura, o Governo não tinha sido capaz de produzir um plano económico com horizonte superior a um ano. A guerra tendeu, naturalmente, a dar prioridade a todas as actividades directamente relacionadas com a defesa e segurança, em prejuízo duma visão estratégica de longo prazo.

As medidas de estabilização e reformas incluíam:

• A redução do défice do sector público e a definição de uma fórmula não inflacionista para o seu financiamento.

• A reforma da política de crédito visando abandonar critérios administrativos de afectação dos empréstimos bancários.

109 UNICEF, Implicações Sociais do Ajustamento Estrutural em Angola, 1989.110 Uma das origens da corrupção parece estar justamente nesta incapacidade ou despropósito de se gerirem bem os fundos públicos. Ver Subsídios para o Estudo da Corrupção em Angola, Alves da Rocha e NDI (Instituto Democrático para as Relações Internacionais), 1999.

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• A reestruturação das companhias estatais, concedendo ‑lhes autonomia fiscal em troca da limitação do papel do Governo central no financiamento automático dos seus prejuízos operacionais.

• O fortalecimento do sistema financeiro, especialmente retirando do balanço do Banco Central os débitos contraídos no passado.

• A renegociação da dívida externa, cujo perfil de pagamento se concentrava no curto prazo.

• A revisão dos preços controlados, incluindo a taxa de câmbio, cujos valores não sofriam alterações desde meados da década de 70.

• A definição de condições de atractividade do investimento directo estrangeiro para outras actividades que não as petrolíferas.

Na prática, o SEF, além de ter sido um meio de articular os instrumentos de política de curto prazo não implementados desde a independência, foi, também, uma forma de tornar possível um projecto nacional e dar às autoridades de planeamento algum espaço para o exame de opções envolvendo decisões estratégicas, ao invés de concentrar a atenção exclusivamente em assuntos relativos ao orçamento e à respectiva implementação. O SEF era um programa ambi‑cioso de reformas económicas e sociais, para além dum programa específico de fortalecimento da posição financeira do Estado angolano.

Após ter sido submetido ao 2.o Congresso do MPLA/PT pelo Presidente José Eduardo dos San‑tos em 1985 e se ter tornado política oficial do Governo, o SEF passou a ser visto como um passo importante da realização dum projecto nacional de desenvolvimento económico e social. No entanto, o essencial do SEF, da sua filosofia e da sua visão estratégica, ficou permanentemente adiado pelas mobilizações da guerra, incompreensões metodológicas e resistências ideológicas. Refira ‑se, a propósito das discrepâncias ideológico/doutrinárias, as diferenças políticas entre o Partido e a Assembleia Nacional Popular quanto à natureza e ao ritmo das reformas económicas, tendo, muito provavelmente, sido um elemento importante de bloqueio do SEF, uma vez que em 1988, três anos depois da sua aprovação e lançamento, a sua implementação estava bastante longe do desejado.

Um conjunto de legislação no âmbito do SEF estabeleceu as raízes administrativas para as reformas económicas:

• A lei orçamental que determinou que o Governo não cobriria os prejuízos das empresas estatais, criou tributação adicional e determinou que as despesas nominais do Governo se manteriam constantes relativamente a 1987.

• Nova legislação sobre as actividades económicas, que tornou explícita a protecção e ga‑rantia da propriedade privada em Angola.

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• Regulamentação das empresas mistas.

• Definida a lei de delimitação das actividades económicas.

• Nova lei cambial.

A desvalorização do kwanza foi o assunto económico mais polémico até Março de 1991 e tornou, na altura, explícitas as dificuldades de liberalização da economia. Em 1988 a taxa de câmbio paralela do dólar era de 1800 kwanzas, enquanto a oficial se mantinha nos 30 kwanzas (uma diferença de 60 vezes). As autoridades argumentavam que uma desvalorização superior a 50% teria consequências inflacionárias, devido ao ajustamento nos salários.

Pouco foi feito para se ajustar os preços oficiais dos produtos ou para reduzir a importância dos direitos de compra a preços oficiais na determinação dos rendimentos reais da população empregada no sector formal (a chamada monetarização dos salários). A existência de mercados duplos de produtos e câmbios continuou, neste período, a ser o facto mais surpreendente da vida económica de Angola.

O modelo de desenvolvimento esteve, sempre, ancorado na exploração do petróleo e que acabou por ser o responsável pelas profundas desarticulações sectoriais – de onde se destaca a desindustrialização do país – e desigualdades na distribuição do rendimento. Foram o longo conflito militar interno e este modelo rent ‑seeking os dois responsáveis pela crise económica que dominou o país até 2002 (a taxa de crescimento do PIB neste ano foi de 14,5%) e pelas profundas desigualdades nas condições de vida da população que hoje caracterizam o nosso tecido social (índice de Gini de 0,62 em 2005, segundo o Banco Mundial).

É depois de 2000 – a viragem do conflito militar interno a favor do Governo tornava ‑se cada vez mais iminente, a nova equipa económica, empossada em Fevereiro de 1999111, tomando esse facto em consideração, inicia um processo de reformas profundas em direcção ao esta‑belecimento da economia de mercado e o ambiente internacional melhora a favor de Angola – que o crescimento económico se torna permanente. O restabelecimento dos macroecono‑mic fundamentals foi evidente e traduziu ‑se na desinflação da economia, estabilidade cambial e recuperação da confiança na moeda nacional. No entanto:

• Não se registaram alterações estruturais de vulto e sustentáveis, continuando os sectores petrolífero (52%) e diamantífero (3,5%) a dominarem o processo de geração anual de ri‑queza.

• A desindustrialização (que ganhou substância com o abandono das empresas, as restrições cambiais e a política cambial de sobrevalorização do kwanza, a gestão macroeconómica ad‑ministrativa e a condenação da iniciativa privada nos alvores da independência) manteve ‑se,

111 Aguinaldo Jaime como Governador do Banco Nacional de Angola, Ana Dias Lourenço como Minis‑tra do Planeamento e Joaquim David como Ministro das Finanças.

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quer em termos de participação no PIB, quer do ângulo da geração de emprego líquido e a actividade de construção não conseguiu afirmar ‑se como o sector motor da reconstrução económica.

• A estagnação relativa da agricultura foi patente (em termos médios a sua representativi‑dade no PIB estabeleceu ‑se na vizinhança dos 8%), embora tenha registado, pontualmen‑te, taxas de variação acima dos 10%.

Entre 2000 e 2008, o preço do barril de petróleo proporcionou as mais elevadas receitas fiscais de que há memória no país, o que permitiu reforçar a estabilização macroeconómica e iniciar um importante processo de reconstrução nacional baseado na reabilitação/construção de inúmeras infra ‑estruturas económicas e sociais que poderão alavancar, em bases mais sus‑tentáveis, o processo de crescimento futuro.

Figura 4 – Evolução do preço do barril de petróleo em USD, 2000 ‑2008

FONTE: Agência Internacional de Energia e BP Statistical Review.

Não obstante, o crescimento não deu lugar ao desenvolvimento e, por isso, os efeitos sobre outras variáveis – tais como a pobreza, a distribuição do rendimento, a exclusão social – não se fizeram sentir de modo efectivo e sustentável. Isto quer dizer que têm existido filtros que redu‑zem a passagem para o sector real da economia e para a sociedade da totalidade dos efeitos positivos da estabilização macroeconómica e do crescimento económico. Uns são de natureza institucional – tais como a corrupção, o tráfico de influências, a circunstância de as iniciativas empresariais portadoras de alterações estruturais estarem circunscritas a uma muito reduzida e recorrente classe de promotores, a não total transparência nas decisões de crédito ao sector pri‑vado – enquanto outras são mesmo do domínio real da economia: carência de infra ‑estruturas físicas, falta de estratégias empresariais, baixa produtividade, baixa qualificação da generalidade da força de trabalho, etc.

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3.4.1 Período 1975 ‑1992

Antes da independência, o desenvolvimento económico assentava, em grande medida, no sector agrícola, em particular na produção de café, cujo ciclo foi decisivo para o crescimento económico da colónia e para o início do processo de industrialização do território. Entre 1960 e 1973, o PIB real aumentou a uma taxa de 7% ao ano e durante o mesmo período a produção de café passou de 100 000 toneladas para 210 000 toneladas, tornando ‑se Angola no quarto pro‑dutor mundial. Até 1975, Angola foi um exportador líquido de alimentos, em particular de milho, e possuía uma indústria pesqueira estável. No início da década de 70, Angola era, também, o quarto produtor mundial de diamantes, com uma produção anual em torno dos 2 milhões de quilates, e um exportador importante de minério de ferro. O petróleo tornou ‑se factor ‑chave do crescimento económico a partir de 1968 e em 1973 representava 30% das receitas totais de exportação. Em 1975, Angola possuía uma economia diversificada, incluindo um dos mais desenvolvidos sectores industriais da África Subsariana.

O que primeiro aconteceu em Angola, logo após a Revolução de 25 de Abril em Portugal, foi a generalizada descapitalização das empresas – os proprietários deixaram de injectar capitais devido à instabilidade da situação política na metrópole – seguida, quando se tornou claro que a inde‑pendência de Angola seria uma das consequências naturais do fecho do ciclo fascista em Portugal, duma transferência fraudulenta e fuga maciça de todo o tipo de recursos (financeiros e materiais) para o exterior, o que obrigou a uma intervenção na Banca, mesmo antes da independência112.

A fuga dos proprietários, quadros e gestores, provocada pelo agravar da situação militar e da instabilidade social por todo o país, deu o golpe de misericórdia sobre as empresas industriais e agrícolas, inviabilizando o seu funcionamento, reflectindo ‑se o fecho, a paralisação ou a redução drástica da sua actividade no início da maior crise económica e social jamais acontecida em Angola. O MPLA não dispunha de capacidade técnica para substituir os quadros e gestores fugidos, nem a que ficou no país era suficiente para cobrir as necessidades das empresas. O descalabro foi inevitável113.

112 Nelson, Mário, O Redimensionamento do Sector Empresarial do Estado e o SEF, in Caderno Econó‑mico Portugal ‑Angola, Câmara de Comércio e Indústria Portugal ‑Angola, 1991.113 É lapidar o pensamento de Mário Murteira quanto aos desacertos de calendário em termos de ideologia económica: “... as independências políticas das colónias portuguesas em África ocorrem num momento histórico muito particular da segunda metade do século XX, momento de grande viragem ou de crucial bifurcação do processo histórico, em que a maré revolucionária anti ‑sistémica aparen‑temente é ainda ascendente, mas, na realidade, o refluxo de consolidação sistémica já se tinha ini‑ciado, tornando ‑se flagrante e de proporções totalmente inesperadas na década de 80”. E mais adiante: “... os movimentos de libertação das colónias portuguesas surgem como sobressaltos finais duma vaga revolucionária prestes a desfazer ‑se na areia que protege e recupera o sistema da economia mundial, ou seja, em termos de ideologia económica, eles também são tardios, à beira da grande viragem que ocorre nos anos 80. Dito de outra forma, os países em causa sofrem, directa e indirectamente, as consequências duma aposta teórica e prática num modelo e num sistema que, afinal, estavam prestes da sua vigência histórica”, Economia do Mercado Global: Ensaio Sobre Condicionantes Mega e Macro das Estratégias Empresariais, Editorial Presença, 1997.

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Esta situação caótica é apresentada como a principal justificação para a intervenção do Estado na economia e a subsequente criação do universo empresarial público. No entanto, tem de se reconhecer que a ideologia do MPLA previa, mais cedo ou mais tarde, a criação dum amplo sector económico do Estado, de modo a que os objectivos socialistas pudessem ser realizados. Dir ‑se ‑á que o MPLA viu facilitadas as suas pretensões ideológicas com a fuga dos donos das unidades de produção (ou dos seus representantes legais), evitando ‑se, assim, o odioso das nacionalizações e dos confiscos na presença dos proprietários privados dos meios de produção. A onda estatizante não poupou nada, desde empresas estratégicas, até pequenas unidades de comércio, tudo passou a fazer parte do sector público empresarial, não se tendo percebido que este gigantismo limitava a possibilidade de gestão funcional das empresas e de aplicação duma política económica credível e consequente.

Prova disso é que, só a partir de 1990, a questão do redimensionamento empresarial se colocou, duma forma bastante envergonhada, apesar de fazer parte das opções fundamentais do SEF em matéria de criação duma economia de mercado. Os objectivos do redimensiona‑mento eram: diminuição da intervenção estatal na vida e regulação económica, acréscimo da eficiência da gestão empresarial, redução das despesas orçamentais (e por esta via atenuar‑‑se uma das preocupações do SEF sobre o défice fiscal) e criação do empresariado nacional. O processo de privatizações foi um dos veículos de transição para a economia de mercado. Mas estudos realizados no momento em que se deu por concluído o processo revelaram que as privatizações beneficiaram quem mais de perto estava do poder político e ajudou à criação duma classe rica de angolanos que mais facilmente acederam à informação relevante sobre a alienação do património empresarial do Estado e ao crédito necessário para a sua compra114. Aliás, o MPLA assumiu a opção ideológica de se criar uma burguesia nacional, ainda que a custo duma menor eficiência económica geral e da criação de pobreza. Num discurso pronunciado no dia 17 de Setembro de 1998, por ocasião da celebração do Dia do Herói Nacional, o Presidente do MPLA e da República afirmou claramente: “... Se nós não nos precavermos, dentro de pouco tempo, ao privatizarmos a economia, ela passará para o controlo de empresas estrangeiras e estaremos dependentes de estrangeiros. Não foi para isso que lutamos. Não foi para isso que milhares e milhares de heróis e anónimos perderam as suas vidas nos campos de batalha, desde a guerra contra o colonialismo, passando pela guerra contra as invasões sul ‑africanas, à guerra de desestabilização contra a democracia”115.

O programa de privatizações foi redefinido para o período 2001‑2005116, tendo havido a preocupação de o resguardar com mais transparência e assumindo ‑se que a remodelação dos

114 Grandes porções de terra foram adquiridas por pessoal militar de alta patente, políticos e outros funcionários do Estado, Relatório sobre a Desigualdade Social em Angola, Fundação Open Society, 2010.115 Jornal de Angola, 18 de Setembro de 1998.116 Lei 74/01, de 12 de Outubro.

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sectores produtivos poderia ser incentivada por esta via. Ainda permanece duvidoso o efectivo impacto económico das privatizações117 – aumento do emprego, incremento das receitas patri‑moniais do Estado, diversificação do tecido produtivo, etc. – embora seja claro que este processo foi o início da criação da classe rica em Angola.

Ao declínio do PIB registado imediatamente depois da independência, seguiu ‑se um período de ligeira recuperação económica – em que fazia sentido falar ‑se na recuperação dos índices económicos de 1973 – que foi completamente desbaratado, a partir de 1981, pela escalada do conflito militar interno, que determinou uma prioridade absoluta à defesa nacional, em pre‑juízo do sistema económico e social, mas com resguardo absoluto da economia petrolífera. Isto contribuiu para uma deterioração severa das condições de vida da população, em especial nas zonas rurais, onde o abastecimento alimentar, habitação e sistema de transportes entraram em colapso.

As tentativas de reanimar a actividade industrial em 1977‑1978, depois do crepúsculo pós‑‑independência de 1975‑1976 – na base dos índices de 1973 – foram muito tímidas e pouco corajosas, talvez porque se vislumbravam no horizonte as perturbações que a agudização do conflito militar interno iria provocar. O índice de subutilização da capacidade produtiva instalada foi avaliado em 40% e a produtividade média da economia baixou drasticamente. O princípio definido no I Congresso do MPLA – a agricultura como base e a indústria como factor decisivo – dificilmente tinha condições para vingar.

Os objectivos das reformas económicas de Angola, entre 1988 e 1992, foram, essencial‑mente:

• Reduzir o grau de centralização do planeamento e gestão económica e permitir que os sinais de mercado fossem a principal orientação da actividade económica.

• Fortalecer os controlos orçamentais e reduzir o défice fiscal.

• Resolver os problemas da dívida externa do país.

• Dar maior autonomia às empresas estatais.

• Controlar o crescimento da oferta monetária.

• Melhorar a conta corrente da balança de pagamentos.

As reformas tentadas em 1990 foram acompanhadas da definição dum regime de preços que estabelecia três categorias diferentes de produtos: os de preço fixo (só actualizáveis de tempos a tempos e que integrava os bens de primeira necessidade), os de margem de comercialização (a maior parte) e os livres (nomeadamente bens de luxo). Admitia ‑se que durante 1991 os pre‑ços do segundo cabaz de produtos poderiam ser, gradualmente, liberados, dando ‑se prioridade

117 Na sua primeira fase foram privatizadas 100 empresas do Estado que terão rendido aos seus cofres apenas 100 milhões de dólares.

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imediata aos que na altura se designavam de “bens monetários” (cerveja, refrigerantes, cigar‑ros, etc.). Afirmava ‑se que “a liberalização dos preços destes bens deverá ser total e inequívoca, de modo a evitar desconfianças ou retracções da parte dos comerciantes, pretendendo ‑se com esta medida eliminar, em definitivo, a possibilidade de transferência de renda que se gera ao comprar‑‑se a preços oficiais e vender ‑se a preços do paralelo para agentes económicos não legalizados”.

É, no entanto, com o Programa de 1992 que se assumiu, duma forma clara, uma política de preços e rendimentos (infelizmente, adiada devido à continuação do conflito armado):

• Secagem do mercado paralelo de divisas, não devendo o diferencial entre as taxas oficial e paralela situar ‑se acima dos 50%.

• Melhoria significativa dos abastecimentos e da produção interna, o que apelaria a uma selectividade rígida para as importações de bens de consumo.

• Restrição da massa monetária em circulação e, por arrastamento, do défice orça mental.

• Alteração dos hábitos alimentares e de consumo, fortemente dominados, em particular nos centros urbanos, pelas importações.

• Recuperação da agricultura empresarial, como forma de reduzir a componente importada de matérias ‑primas para a indústria.

• Controlo dos salários nominais.

É, também, com este programa que as reformas económicas de mercado aparecem como um dos aspectos essenciais da política económica. Cinco grandes áreas estavam contempladas: desburocratização geral da vida económica, descentralização das decisões económicas (licen‑ciamento e aprovação de projectos de investimento de pequena dimensão, autonomia dos Governos provinciais em matéria de decisão de afectação de verbas relativas a rubricas especí‑ficas do OGE e do Orçamento Cambial), descentralização e desconcentração das operações de licenciamento comercial e das operações bancárias internacionais, revisão de algumas leis (Lei da Planificação, Lei do Investimento Estrangeiro, Lei das Empresas Estatais, Lei das Actividades Económicas e Lei do Trabalho), reforma do sistema de administração fiscal e melhoria dos dados estatísticos.

Em Setembro de 1989, Angola tornou ‑se membro efectivo das instituições de Bretton Woods e começou a receber assistência técnica em várias áreas, como a reorganização institucional e a criação do sistema estatístico nacional.

A indústria transformadora foi dos sectores económicos que mais se definhou no período em análise, tendo a sua taxa anual média de variação sido da ordem dos ‑19,8%, com consequên‑cias evidentes no respectivo índice de participação no PIB, que chegou aos 2,5%. Zenha Rela118

118 Rela, José Manuel Zenha, Angola: O Futuro Já Começou, Editoral Nzila, 2005.

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fala dos efeitos perniciosos para a industrialização do país do autoconsumo industrial, ou seja, o direito que os operários tinham de receber uma parte do seu salário em produtos industriais que eles próprios tinham produzido119. Este comportamento foi duramente combatido entre 1976 e 1978, mas depois passou a fazer parte da prática do mercado socialista, dada a sua evidente incapacidade de prover todos os bens de consumo final das famílias. Esta atipicidade – aliada à insuficiência de recursos em divisas para a importação de bens de consumo devido ao peso das despesas militares120 – contribuiu para o aparecimento e desenvolvimento dos mercados paralelos no país. Em muitas actividades – produtoras de bens de elevada procura como o tabaco, a cerveja, os refrigerantes e a roupa – esta prática tornou ‑se na mais importante fonte de rendimento dos trabalhadores que ou os trocavam por outros bens ou os vendiam no mercado negro. Como já se referiu, as reclamações por esta situação de iniquidade económica e injustiça social só se ouviram dos trabalhadores dos sectores de serviços, que nada tinham para trocar ou vender121.

A inexistência de cultura económica, iniciativa privada, formação adequada dos trabalhadores e motivação efectiva dos técnicos levou à degradação das instalações industriais, do que resultou, também por aqui, a desindustrialização122. O salário indirecto possibilitado pela apropriação duma parte da produção industrial e o elevado absentismo da mão ‑de ‑obra foram aspectos desestrutu‑rantes do tecido industrial que Angola herdou do sistema colonial português.

Um dos factores explicativos dos fracassos económicos foi a ausência de condições míni‑mas de laboração das empresas, entre as quais a grande dependência do exterior em termos de matérias ‑primas, peças sobressalentes, acessórios e produtos intermédios. Incluem ‑se nes‑tas condições mínimas de funcionamento a crónica falta de energia eléctrica e água para usos industriais e o peso da planificação administrativa da economia, verdadeiramente castradora de iniciativas privadas e da vontade de resolver os problemas burocráticos123.

As empresas estatais foram, até 1996, as estruturas empresariais dominantes da econo‑mia angolana. Foi em Março de 1976 que a grande vaga das nacionalizações e confiscos do

119 A desregulação da economia angolana chegou até este ponto, ou seja, a fuga à moeda nacional – provocada pela hiperinflação – tendo os rendimentos refugiado‑se num conjunto de bens cujos pre‑ços oficiais permitiam algum resguardo do poder de compra médio da população.120 Segundo o UNICEF, nos piores anos do conflito militar, a defesa chegou a consumir cerca de 60% do total das receitas fiscais (Dimensões Sociais do Ajustamento em Angola, relatório elaborado por Richard Pearce, da Universidade de Oxford, para o UNICEF, 1989).121 Lembro ‑me, quando regressei ao país (1989), duma afirmação do Professor Silva Lopes, durante um encontro com quadros angolanos e consultores do sistema das Nações Unidas a trabalhar em Angola (cito de memória): “De toda a minha experiência como consultor internacional, Angola é o único país onde com uma grade de cerveja se dá a volta ao mundo de avião”.122 À falta de cultura industrial juntou ‑se a ausência duma consciência de manutenção e conservação industrial, essenciais ao processo industrial.123 A importação duma peça ou dum pequeno equipamento industrial (100 dólares ou 1000 dólares) não podia ser feita sem a autorização administrativa do Estado – demora de seis a sete meses –, por vezes mais complicada do que a aprovação dum novo investimento.

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património empresarial – e, também, habitacional – privado ocorreu, tendo ‑se confiado às organizações colectivas de trabalhadores a responsabilidade pela gestão de todos os activos abandonados, o que causou gravíssimos prejuízos à economia nacional.

Com a Lei 17/77 estabeleceu ‑se a autoridade estatal sobre as empresas e foi criado o grande império das Unidades Económicas Estatais (UEE), o instrumento fundamental para o desenvol‑vimento económico defendido pela economia socialista angolana.

Contudo, a sua aplicação prática foi demorada, de tal maneira que em 1980 – ano em que foi efectuado o primeiro recenseamento do património empresarial do Estado – apenas 41 empresas nacionalizadas ou confiscadas haviam sido transformadas em UEE, dum total de 1990 empresas registadas. Em 1984 e devido a falências, liquidações, fusões e consolidações, o uni‑verso empresarial em Angola havia ‑se reduzido para apenas 687 empresas, com uma repartição sectorial onde a indústria transformadora detinha a maior percentagem (35,1%), seguindo ‑se o comércio interno com 14,4%, os transportes com 12,5%, a agricultura com 11,5%, a construção com 5,8% e as pescas com 5,4%. De todo este universo empresarial, as empresas privadas repre‑sentavam apenas 38%, com predomínio da pequena actividade de sobrevivência na indústria e no comércio124.

As empresas estatais eram de porte médio e grande e desfrutavam dum quadro macroeco‑nómico de funcionamento em que não faltavam os subsídios orçamentais, o acesso facilitado às divisas e aos financiamentos dos bancos estatais e um tratamento preferencial pela política económica. No entanto, os seus índices de desempenho e eficiência foram sempre muito baixos, porque foram quase sempre utilizadas como instrumentos do tráfico de influências entre políti‑cos, directores de empresas e, mesmo, entre os trabalhadores. A dimensão média das empresas estatais era de 480,8 trabalhadores, atestando a função social reservada pelo modelo socialista pela via do sobredimensionamento.

A população economicamente activa total em Angola foi avaliada em 2 109 083 em 1985 – para uma população total de 8 754 000 habitantes – e o emprego total em 2 037 868125, a que correspondia uma taxa global de desemprego de 3,4%126.

Entre 1975 e 1985 estima ‑se que o PIB tenha registado uma taxa média anual de crescimento de apenas 1%, enquanto o IV Plano de Fomento havia projectado 6,7% para o período entre 1974 e 1976 e 7,3% para os anos compreendidos entre 1977 e 1979.

124 Ministério da Indústria, Registo Geral de Empresas, Abril de 1984, citado em Angola – Análise Eco‑nómica Introdutória, PNUD, 1989.125 O sector produtivo (indústria, construção, agricultura e pecuária, silvicultura, transportes, comu‑nicações, comércio e outros) empregava 1 552 912 trabalhadores e o sector não‑produtivo (serviços comunitários, educação e ciência, cultura e artes, saúde e assistência social, financiamento e seguros, administração e outros) dava trabalho a 484 956 pessoas (PNUD, 1989).126 PNUD, Análise Económica Introdutória, 1989.

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A desindustrialização foi largamente potenciada pela queda da produção agrícola, geradora de poder de compra para os produtos urbano ‑industriais e fornecedora de matérias ‑primas. Em 1980, o Valor Agregado Agrícola equivalia ‑se ao da actividade petrolífera, enquanto em 1987 represen‑tava apenas cerca de 35%. Pode dizer ‑se, ainda, que o engrandecimento da actividade petrolífera se fez à custa do atrofiamento da agricultura e das actividades primárias em geral. Claro que a guerra civil explica uma parte considerável da queda da produção agrícola, através do êxodo da população rural para as cidades. No entanto, tal justificação não colhe para o sector das pescas.

A sistemática sobrevalorização do kwanza – cuja taxa de câmbio permaneceu fixa entre 1975 e 1991 – poderia ter propiciado a aquisição de matérias ‑primas, produtos intermédios e bens de equipamento ao exterior a preços baixos, o que não se verificou, pois as importações estavam concentradas em bens de consumo não duradouros e equipamento militar.

Durante os anos 80, o PIB real cresceu a uma taxa média anual de apenas 5%, principalmente devido ao desempenho do sector petrolífero, cuja produção passou de 132 000 baris por dia em 1982 para 550 000 barris por dia em 1992. Tem ‑se, assim, entre 1982 e 1992 uma taxa média de crescimento anual do sector petrolífero de 15,3%. Atendendo à estrutura económica sectorial, o PIB do resto da economia apresentou um comportamento de retracção correspondente a uma taxa média anual de ‑5,3%, o que dá bem ideia da degradação do sistema económico interno e da profundidade da crise económica.

O Banco Mundial127 refere que o PIB não ‑petrolífero se degradou, entre 1982 e 1992, cerca de 21% (a que corresponde uma cadência anual de ‑2,3% muito provavelmente subavaliado). Três razões principais para este declínio: êxodo dos colonos portugueses depois da independência – virtualmente o único segmento da população com capacidade técnica e de gestão –, conflito militar interno associado a imensas perdas humanas, materiais e financeiras (êxodo rural para as cidades, destruição dos sistemas de transportes, degradação dos serviços públicos) e gestão socialista, centralizada e planificada da economia, que impôs uma séria variada de distorções e ocasionou uma deficiente alocação dos recursos e factores de produção. Na medida em que os incentivos de mercado falharam, as infra ‑estruturas degradaram‑se e a segurança nas áreas rurais deteriorou‑se, as exportações agrícolas – que floresceram durante a década de 60 e os pri‑meiros anos de 70 – praticamente desapareceram e a produção alimentar decaiu rapidamente.

A despeito das suas reservas minerais, bom clima e solos relativamente férteis, Angola teve pouco a mostrar em relação à sua performance económica durante o período em estudo. Durante os anos 80, as crescentes receitas petrolíferas não foram investidas em actividades que pudessem sustentar a geração de rendimentos para o futuro, tendo sido, ao contrário, consu‑midas nas despesas com a guerra, com subsídios às empresas estatais ineficientes e subsídios a preços. O investimento privado (em média 7% do PIB), sobretudo estrangeiro, foi durante os

127 Banco Mundial, Angola: Public Expenditure Issue and Priorities during Transition to a Market Eco‑nomy, 1993.

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anos 80 e início dos 90, orientado exclusivamente para a extracção de petróleo, enquanto o investimento público (em média 2% do PIB) foi dirigido para actividades de retorno económico muito baixo.

As finanças públicas foram caracterizadas, no período 1982 ‑1992, por uma exagerada depen‑dência das receitas fiscais petrolíferas (cerca de 70% em média das receitas públicas eram de ori‑gem petrolífera), um declínio notório da base fiscal não ‑petrolífera (reflexo da crise económica, do crescimento do sector informal, do aumento da inflação e da deficiente organização e capa‑cidade fiscal do Estado), um peso acentuado das despesas militares (entre 20% do PIB nos anos de maior incidência e uma média de 15% do PIB durante o período), um manifesto excesso de despesas com os funcionários públicos (sobrestimados face à quantidade e qualidade do serviço prestado) e um pesado serviço da dívida pública. Os défices fiscais aumentaram muito a partir de meados dos anos 80 para cerca de 25% do PIB e foram sempre financiados com acumulação de dívida externa e expansão monetária128. A acumulação de atrasados (3,4 mil milhões de dólares no final de 1992) e a alta inflação (175% em 1991 e 500% em 1992) foram as consequências.

Entre Março de 1991 e Abril de 1992 ocorreram diversas desvalorizações do kwanza face ao dólar, porém, insuficientes em relação ao valor real do kwanza (em Março de 1993 a taxa de câmbio do paralelo era cinco vezes mais do que a oficial). A marcha das desvalorizações foi: primeira desvalorização em Março de 1991 em 100%, seguida de outras em Novembro de 1991 de 50%, em Dezembro de 1991 de 100% e em Abril de 1992 de 206%. As taxas nominais de juros permaneceram constantes, entre 1978 e Novembro de 1991, a um nível de 10% ao ano. Um primeiro ajustamento aconteceu em 1992 para um nível de 20%, mas a taxa real de juro permaneceu fortemente negativa.

Uma das dificuldades de Angola durante o socialismo foi a do planeamento do chamado fundo de salários, uma vez que ao serem expressos em valores nominais (e não em espécie) conduziram a erros de cálculo que situaram, sistematicamente, o montante da massa salarial acima das quantidades de bens a serem produzidos a preços fixados. Isto levou a um fenómeno de excesso de liquidez e de sobre ‑procura de bens de consumo final, ao mesmo tempo que a concessão passiva de crédito às empresas, de acordo com as metas quantitativas do plano, gerou uma tendência para uma despesa excessiva em investimentos e aos correspondentes desperdícios.

Défice orçamental, erros de planeamento do fundo de salários, pressão permanente das empresas para gastar mais do que o necessário – quer em equipamentos, quer na manutenção de stocks –, prática de não reembolso dos créditos bancários, conduziram a uma situação per‑manente e endémica de excesso de procura, justificando a crise económica e as elevadas taxas de inflação.

128 Uma das razões para este aumento foi o crescente financiamento público das ineficientes empre‑sas públicas, quer em despesas de funcionamento, quer em despesas de capital.

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As primeiras eleições legislativas de Setembro de 1992 foram, provavelmente, o facto de maior relevância para Angola neste período. A pressão da crise económica interna – o PIB global registou um crescimento positivo devido, exclusivamente, ao bom comportamento do petróleo – e os crescentes défices fiscais, devido à incidência das despesas com a defesa, contribuíram para a assinatura dos Acordos de Bicesse, no contexto dos quais a abertura democrática e a realização de eleições legislativas e presidenciais deveriam ocorrer. Da não ‑aceitação dos resultados das eleições da parte da UNITA resultou uma extensão e uma violência do conflito militar interno jamais vistas em Angola, com graves repercussões económicas e sociais até 2002.

3.4.2 Período 1993 ‑2002

O facto relevante deste período foi, indiscutivelmente, a assinatura do Protocolo do Luena, em Abril de 2002, com o qual se deu por finalizado o conflito militar interno.

No entanto, durante este período, a instabilidade militar, decorrente da rejeição dos resulta‑dos eleitorais de Setembro de 1992, provocou a mais profunda retracção da actividade econó‑mica no país, de que é expressão a taxa de crescimento do PIB: ‑0,8% em 1992, ‑21% em 1993 e ‑20% em 1994. Apesar de nos anos subsequentes o preço do petróleo ter apresentado registos positivos no seu comportamento, entre 1996 e 1998, as significativas quebras mergulharam o país numa crise financeira interna e de pagamentos internacionais. A Estratégia Global de Saída da Crise (1999‑2000) foi a resposta encontrada pelo Governo para se fazer face à queda da activi‑dade económica, conformar as despesas com a defesa e criar incentivos ao investimento privado.

Depois da opção pela economia de mercado, a política económica desenvolveu ‑se por uma série de ciclos interrompidos que afectaram a sua efectividade prática. Estes ciclos incompletos e inacabados traduziram ‑se em diferentes programas de duração efémera. Entre 1989 e 2000 doze programas foram elaborados, essencialmente virados para a abordagem dos problemas de estabilização macroeconómica – a visão estratégica de longo prazo continuava toldada pela situação de conflito militar. As médias de 1,2 programas por ano e de 10,6 meses por programa são bem a expressão da incidência das situações de instabilidade política e militar, bem assim do modo como a transição para a economia de mercado foi equacionada. Neste particular, faltou um modelo adequado às condições peculiares do país nesse período129.

Este ciclo da política económica em Angola pode ser melhor apreciado relacionando ‑se as taxas mensais de inflação – ou a sua variação – com o início e o abandono dos programas de política económica. O gráfico seguinte dá conta deste fenómeno e permite, justamente, concluir que a instabilidade institucional do Estado foi um factor importante de desconfiança dos agentes económicos na política económica do Governo.

129 Rocha, Manuel José Alves da, Os Limites do Crescimento Económico: As Fronteiras entre o Possível e o Desejável, 2.a Edição, Editorial Nzila, 2009.

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Figura 5 – Ciclos da política económica. Correlação com a taxa mensal de inflação

Mas não foi apenas a instabilidade institucional a “roubar” efectividade à política económica. A falta de vontade política em se materializarem as medidas de política é outra das facetas explicativas dos insucessos no combate sustentado contra a inflação. Nota ‑se, na verdade, uma extraordinária repetição dos conteúdos das diferentes políticas macroeconómicas desde 1986, tradução, evidente, da não implementação das respectivas medidas130.

Um dos propósitos fundamentais dos programas de política económica deste período foi o da convergência cambial, politicamente assumido em 1996 e 1997 e sistematizado nos seus fun‑damentos no Programa de Estabilização e Recuperação Económica de Médio Prazo 1998 ‑2000.

Neste último programa, a política cambial foi estruturada de acordo com o seguinte raciocí‑nio básico: “A comprovação estatística anterior sugere que a aproximação do valor da taxa de câmbio paralela à taxa de câmbio oficial e o controlo da inflação exigem meios de pagamento num montante compatível com a taxa de câmbio oficial. O mecanismo mais imediato para enxu‑gar o excesso de liquidez na economia é o da venda de divisas no mercado por parte do Banco Central. Qualquer venda de divisas pelo BNA implica retirar dinheiro da economia, enquanto a compra de dólares implica entregar kwanzas. Porém, mais importante que o enxugamento inicial do excesso de kwanzas no mercado é a manutenção do montante atingido, que é vital para o controlo da taxa de câmbio paralela e da inflação. Se não existir um controlo adequado

130 Rocha, Manuel José Alves da, Os Limites do Crescimento Económico: As Fronteiras entre o Possível e o Desejável, 2.a Edição, Editorial Nzila, 2009.

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da expansão monetária, todo o esforço de enxugamento se perderá e o BNA terá dispensado reservas internacionais de forma inútil”131.

O mecanismo para atingir a unificação das taxas de câmbio, para estabelecer a liberaliza‑ção do mercado cambial e para assegurar a sustentabilidade de todo o processo passou pela instauração dum regime de compra e venda livre de divisas entre o Banco Central e as diversas instituições do sistema bancário. A taxa de câmbio seria a resultante da actuação das forças do mercado, “sem prejuízo da intervenção eventual do BNA na compra e venda para assegurar uma variação controlada”132.

Nem sempre a eficácia desta política macroeconómica foi conseguida. A instabilidade regis‑tada ao longo do tempo decorreu da circunstância de a política cambial ter sido um instrumento que favoreceu uma repartição injusta dos rendimentos e, como tal, espaço de disputa dos inte‑resses de certas faixas da população, que procuraram adiar, o mais possível, o funcionamento normal do mercado cambial. A prová ‑lo estão os diferenciais entre as taxas de câmbio oficial e do paralelo que denotam, também, a grande instabilidade desta política de estabilização (6946,9% em 1990, 710% em 1993 e 65,3% em 1998).

A efectividade da política cambial começa a verificar ‑se apenas a partir de 1999 (com a nova equipa económica do Governo, empossada em Fevereiro) e acentua ‑se em 2000. Os diferenciais cambiais são a prova (13,1% e 6%, respectivamente).

Outro aspecto marcante dos programas de política económica a partir de 1999 foi o da ten‑tativa de revisão dos regimes cambiais especiais dos sectores dos diamantes e dos petróleos, situação que introduziria uma maior equidade entre as actividades económicas internas e as de enclave, com reforço do sector financeiro nacional.

O programa de 1993 retomou o essencial do programa de 1992, mas com algumas particu‑laridades que vale a pena ressaltar:

• Tendo em conta que os preços vigentes no mercado já estavam alinhados à taxa de câm‑bio do mercado paralelo, deveria prosseguir ‑se com a política de liberalização dos preços (com excepção dos que constavam do regime de preços fixados, para os quais o que era preconizado era uma simples actualização de subsídios).

• A liberalização dos preços deveria ser clara e inequívoca, com a suspensão de qualquer repressão sobre margens consideradas especulativas (os preços deveriam reflectir, com transparência, a pressão da procura sobre a oferta existente, não só para dar estímulos correctos aos produtores, distribuidores e comerciantes, como, também, para tornar mais visível o ritmo necessário da política cambial.

131 Governo de Angola, Programa de Estabilização e Recuperação Económica de Médio Prazo, 1998.132 Ibid.

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• A liberalização dos preços visaria, também, a redução da renda obtida pelos detentores de divisas, dos trabalhadores que se abasteciam em regime especial (petrolíferas e outras), que passaria, total ou parcialmente, para os comerciantes.

• Finalmente, nos casos que se mostrassem necessários, os subsídios a preços seriam feitos ao consumidor e já não aos produtores.

A política económica do Programa Económico e Social de 1994 estava centrada nas reformas estruturais de mercado, com realce para a liberalização dos preços, afirmando ‑se que o controlo da inflação não seria possível por intermédio de medidas repressivas no âmbito da formação dos preços, mas, sim, através da transparência no funcionamento das regras de mercado. É neste contexto que são seleccionadas como medidas a desburocratização do processo jurídico de constituição de empresas, a revisão do sistema de licenciamento das importações, a eliminação das barreiras administrativas à livre circulação das mercadorias pelo país e a incentivação das pequenas empresas no domínio dos serviços. O programa defendia, à semelhança dos anterio‑res, a necessidade de ajustamento nos preços dos combustíveis, das rendas e das tarifas de água e electricidade, como uma das formas mais imediatas de eliminação dos subsídios às empresas estatais prestadoras desses serviços e admitia a possibilidade de praticar novos subsídios sobre os preços de bens considerados de consumo popular.

As Linhas de Força do Programa de Acção do Governo para o II semestre de 1996 representa‑ram um retrocesso na política de liberalização dos preços – pedra de toque da transição para a eco‑nomia de mercado – ao determinarem, na sua componente de rendimentos e preços, o seguinte:

• “Reformular e adequar os regimes de preços, transferindo uma parte significativa dos bens actualmente sujeitos ao regime de preços livres para os de margem de comercialização.

• Aplicar o regime de margens de comercialização aos produtos essenciais.

• Estabelecer uma política salarial que se ajuste progressivamente à elevação do custo de vida, devidamente complementada por uma política de assistência social.”

Nestes aspectos, bem como noutros, este programa de política económica representou um claro recuo perante os avanços que os programas anteriores tinham registado. A contenção da inflação foi incorrectamente interpretada como sendo possível através da administração duma variável que é tradicionalmente de mercado e que se rege por intermédio do compor‑tamento dos agentes económicos. No mesmo sentido se colocou a repressão económica junto dos agentes privados, com o propósito de fiscalizar o cumprimento das regras das margens de comercialização e dos preços fixados. Comentava ‑se, então, que o país necessitava duma política económica e não duma polícia económica133.

133 Assistiu ‑se, progressivamente, nos anos subsequentes, a um agravamento das acções de repressão da Inspecção das Actividades Económicas, particularmente com propósitos de obtenção duma renda adicional aos salários dos agentes do Estado. Os empresários sempre manifestaram reservas sobre a eficácia destes controlos administrativos.

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A política económica do Programa Económico e Social de 1997 enfocava o combate à inflação nas políticas orçamental, monetária e cambial – pretendendo ‑se que um regime cambial de taxa única e fixa funcionasse como âncora monetária da inflação, conhecida a significativa correlação entre os valores das variáveis monetárias e a variação dos preços – reconhecendo como medidas complementares a fiscalização económica tendente a pôr cobro a evidentes situações de espe‑culação, o controlo dos preços de determinados produtos (restrição que seria levantada até ao final do ano), o desmantelamento de todas as situações de monopólio ou oligopólio no sector do comércio, a informação ao público do que seriam os preços normais dos bens e serviços e o aumento da oferta global dos produtos essenciais.

Atitude relativamente diferente na estratégia da política de preços consta do Programa de Estabilização e Recuperação Económica de Médio Prazo 1998 ‑2000, ao afirmar ‑se: “Os preços constituem os principais sinais que guiam os diferentes agentes económicos nas suas decisões, sendo, por isso, necessário garantir maior liberdade na sua formação, de modo a que essas indi‑cações sejam as melhores possíveis. O controlo da inflação deve, preferencialmente, ser prati‑cado por intermédio duma ampla transparência no funcionamento das regras de mercado, onde a concorrência seja fomentada num clima de abertura da economia. Alcançar a estabilização nos próximos três anos pressupõe, primeiramente, conseguir o alinhamento correcto dos preços relativos, isto é, o estabelecimento dum sistema de preços em que cada preço tenha uma ade‑quada relação com todos os outros preços, de tal modo que a escassez relativa dos distintos bens, as condições reais da procura e as vantagens comparativas da produção dos distintos sectores estejam convenientemente reflectidas, reduzindo, desta forma, substancialmente os subsídios concedidos pelo Orçamento Geral do Estado”. É neste contexto que se estabelece a necessidade de ajustamento dos preços dos combustíveis, das utilidades fornecidas pelo Estado (água, elec‑tricidade, habitação, transportes públicos e transportes aéreos domésticos) e de outros bens, com o propósito dos seus valores reflectirem os custos de produção e as condições da procura. Os subsídios aos combustíveis para a agricultura, pescas e indústria, bem como ao pão e ao petróleo iluminante seriam mantidos.

Nos programas seguintes até 2000 a filosofia básica da política económica manteve ‑se, devendo, no entanto, assinalar ‑se que nem os preços dos combustíveis, nem os da água e da electricidade foram sistematicamente ajustados.

Por força das circunstâncias, o processo de liberalização económica foi suspenso com o pro‑grama de emergência do Governo a partir de Abril de 1993 e só foi retomado no Programa Eco‑nómico e Social de 1994. Um capítulo especial estava aqui reservado às políticas de liberalização e de transição para a economia de mercado e de apoio ao desenvolvimento do empresariado nacional. Pontificavam nestas políticas as medidas seguintes:

• Redimensionamento empresarial, com destaque para a modificação das relações entre o Estado e as empresas públicas e a autonomia da sua gestão.

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• Reposição do papel dos preços, reforma que visava devolver aos mecanismos de mercado a sua função de equilibradores entre a oferta e a procura e de sinalizadores das decisões de alocação de recursos.

• Reforço do sistema de intermediação financeira.

• Liberalização do mercado de trabalho.

• Garantia dos direitos de propriedade.

• Apoio à constituição de núcleos de empresários de elevado potencial.

As Linhas de Força do Governo para o II semestre de 1996 são omissas quanto às reformas estruturais de mercado e aos processos de liberalização. Apresentava, apenas, uma nota sobre a reanimação do sector produtivo, baseada, no entanto, em medidas proteccionistas directas, como a penalização das importações de bens menos prioritários, definição de quotas de impor‑tação em relação a bens e equipamentos menos prioritários, etc.

O Programa Económico e Social de 1997 recupera algumas medidas do Programa Económico e Social de 1994, destacando as privatizações, a eliminação da burocracia (pela primeira vez se fala na criação dum Gabinete Único para a Empresa), a reforma judicial, a reestruturação dos ser‑viços de registo, notariado, cadastro e licenciamento e da reorganização institucional do Estado.

As privatizações continuaram a ser o grande calcanhar de Aquiles da política de liberalização económica. Foram tortuosos os caminhos de convergência com o Banco Mundial sobre esta matéria e as divergências assinaladas em 1998 só foram corrigidas em 2001 com o lançamento do concurso internacional para a privatização do Banco de Comércio e Indústria (BCI), que, entretanto, não se realizou.

Em 2001 foi elaborado o Programa Económico e Social do Governo, já num contexto em que a situação militar estava próxima do seu desfecho, a economia mundial encontrava ‑se em crescimento e o preço do barril de petróleo mostrava uma tendência de subida, que só veio a alterar ‑se no final de 2008. Por isso, não foi difícil manterem ‑se os propósitos de criação duma economia de mercado mais de acordo com os seus reais fundamentos e começar a lançar as bases do programa de reconstrução nacional, inseridas no Programa Económico e Social do Governo de 2002. O apelo do Presidente José Eduardo dos Santos, em meados de 2002, para a realização duma Mesa Redonda de Doadores para Ajudar Angola a recompor ‑se dos destroços da guerra, foi, inexplicavelmente, rejeitado pela comunidade internacional, tendo ‑se, então, iniciado as relações financeiras e comerciais com a China.

Apesar de todo um percurso sinuoso de reformas económicas e de políticas de estabilização macroeconómica – influenciado pela instabilidade política e militar, pelo tráfico de influências e pelos lobbies de interesses, pela falta de cultura de mudança e pela inexistência dum pen‑samento estratégico e estruturante – a transição para a economia de mercado seguiu o seu

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caminho, quanto mais não seja por carência absoluta de modelo alternativo. Quando se recorda do que era a economia angolana até 1990 – orfandade ideológica, queda do sistema socialista mundial, afirmação do capitalismo como sistema planetário, transições dolorosas para a demo‑cracia política e económica – e se olha para o que é hoje, é inquestionável que progressos remar‑cáveis foram feitos. É impossível hoje com o valor dum cacho de bananas ou de uma grade de cerveja dar ‑se a volta ao mundo em avião. Mas este facto, que parece hoje mais do que vulgar, era useiro e vezeiro em 1990. O que expressa bem a dimensão dos desequilíbrios macroeconó‑micos. Mas atesta, também, o nível de mentalidade e cultura económica da época, em que falar‑‑se de inflação, de desvalorização cambial, de liberalização da economia e de desregulamentação dos mercados era não só incompreensível, mas uma autêntica heresia económica. Nem mesmo o SEF, com as suas propostas reformistas, devidamente justificadas, foi suficiente para introduzir alterações culturais determinantes da mudança e da modernização no terreno económico134.

Por outro lado, há que reconhecer que, a partir de 1998, o país entrou numa rota mais condizente e de maior convergência com a estabilização macroeconómica e com as reformas de mercado. Lentamente, mas prosseguindo um caminho indispensável: o da organização, da disciplina e da transparência. Muita pedra teve de ser partida e creio que o Programa Económico e Social de 1994 e o Programa de Estabilização e Recuperação Económica de Médio Prazo 1998‑ ‑2000 foram duas peças centrais de toda a manobra de reajustamento institucional e económico.

3.4.3 Período 2003 ‑2008

O período em referência foi caracterizado por um extraordinário crescimento do PIB, impul‑sionado por quatro factores: a paz, a estabilização macroeconómica, as exportações de petróleo e os investimentos. A taxa média anual de crescimento económico, entre 2002 e 2008, foi de aproximadamente 15,5%, a mais elevada de África e das mais elevadas do mundo. A influência da paz foi determinante para a intensidade do crescimento económico e o sucesso da política económica. A atestá ‑lo estão as diferenças entre as taxas tendenciais de crescimento do PIB: 2,1% entre 1980 e 2002 e 15,5% entre 2002 e 2008.

Os anos de 2005, 2006, 2007 e 2008 foram os melhores depois da independência, sendo os responsáveis pela alteração significativa do declive da recta de tendência a 28 anos (1980‑2008).

Estas taxas de crescimento da economia acabaram por ser influenciadas pelas reformas económicas de mercado levadas a cabo nos períodos anteriores e, particularmente, às imple‑mentadas a partir de 1999, com a nova equipa económica do Governo. É a partir deste ano

134 Facilmente são imagináveis as dificuldades que os economistas e juristas do SEF devem ter expe‑rimentado na apresentação das suas visões modernizadoras da economia nacional. Devem ter sido inúmeros os fantasmas levantados contra a mudança e a adaptação aos novos tempos. Como estaria hoje a economia nacional se o SEF tivesse vingado no tempo em que foi arquitectado? Teria o país de estar sujeito à disciplina e ao modelo do Fundo Monetário Internacional? Estaria o país tão endivi‑dado face ao exterior? Porque razão o SEF não vingou?

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que a desinflação da economia se tornou efectiva, a redução dos défices fiscais tornaram‑se consistentes e ocorreram os mais elevados excedentes da balança de transacções correntes do país. Evidentemente que a excelente situação económica mundial contribuiu para as extraor‑dinárias performances conseguidas no domínio financeiro e económico interno e permitiu que as reformas de mercado se aprofundassem, como, por exemplo, a estruturação dum sistema bancário forte e moderno.

Figura 6 – Taxas reais de crescimento do PIB

FONTES: Relatório Económico de Angola de 2008, CEIC ‑UCAN, Relatórios de Execução dos Programas do Governo 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008, African Development Indicators, Banco Mundial.

Os investimentos foram outra das fontes de crescimento económico do período. O Governo iniciou, a partir de 2003, um ambicioso programa de reconstrução de infra ‑estruturas eco‑nómicas e sociais, que envolveu dispêndios acumulados de cerca de 27,1 mil milhões de dólares correntes, equivalentes a uma média anual de 4,5 mil milhões entre 2003 e 2008. O financiamento destes investimentos foi feito através das parcerias com a China – a mais importante e com maiores perspectivas de desenvolvimento no futuro –, o Brasil e Portugal e do Orçamento Geral do Estado, que depois de 2003 passou a apresentar excedentes anuais em torno dos 5% do PIB.

Os investimentos privados foram, igualmente, decisivos para esta fase de crescimento eco‑nómico. O investimento petrolífero foi, evidentemente, o mais importante, tendo representado, em média no período, cerca de 85% do investimento total. No entanto, o investimento privado não ‑petrolífero também se acentuou, como resultado do clima de euforia, confiança e credi‑bilidade que a política económica do Governo transmitiu aos agentes económicos, nacionais e estrangeiros. Em 2008, o investimento privado não ‑petrolífero foi de cerca de 1,8 mil milhões de dólares correntes, enquanto em 2003 não foi além de 600 milhões de dólares.

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A estabilização macroeconómica foi determinante para a criação dum ambiente propício ao crescimento económico, acabando por ser um dos resultados mais expressivos da governação angolana, internacionalmente reconhecidos pelas instituições de Bretton Woods.

A redução da inflação contribuiu para que se garantisse uma relativa preservação do poder de compra dos rendimentos das classes mais pobres da população, já que durante o período, na Função Pública ocorreram ajustamentos salariais de sinal e amplitude iguais aos da inflação. Esta política foi seguida pelo sector privado.

Figura 7 – Comportamento dos macroeconomic fundamentals

FONTE: CEIC, Quadro Macroeconómico Comparativo.

A política económica do Governo durante o período em análise foi aplicada através de pro‑gramas bienais, com início em 2003. Assim, o Governo implementou os Programas Gerais do Governo de 2003‑2004, 2005‑2006 e 2007‑2008.

As preocupações comuns a estes programas bienais foram a de se consolidar a paz e a reconciliação nacional – pela via do crescimento económico e duma melhor distribuição da riqueza e dos rendimentos – e a de criar as bases para se “transformar Angola num país prós‑pero, moderno, sem pobres e com um nível de desenvolvimento científico e técnico ‑cultural elevado”135. Para a materializar, foram definidos domínios de intervenção prioritária: consolida‑ção da estabilidade macroeconómica, reorganização das redes de distribuição (energia, água, comercialização), realização duma política social adequada tendente a melhorar as condições de

135 Programas Gerais do Governo de 2003‑2004, 2005‑2006 e 2007‑2008.

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vida da generalidade da população, lançamento de indústrias de apoio à reconstrução nacional e expansão das cadeias produtivas e manutenção e exploração eficiente das infra ‑estruturas.

Foi no âmbito dos esforços tendentes a consolidar a estabilidade macroeconómica que as políticas orçamental e cambial actuaram em convergência de esforços e meios e os resultados positivos foram facilitados pela obtenção das excepcionais receitas fiscais petrolíferas, que per‑mitiram estabilizar a taxa de câmbio, promover a convergência cambial, reduzir a inflação e investir somas avultadas na reconstrução de todas as infra ‑estruturas de que o país necessita. No período considerado, as receitas fiscais petrolíferas ascenderam a 91,8 mil milhões de dóla‑res correntes, equivalente a uma média anual de 15,3 mil milhões de dólares. O crescimento ocorrido no sector não ‑petrolífero da economia e a melhoria da fiscalização orçamental (maior disciplina orçamental, combate à evasão e fraude fiscal, etc.) propiciaram que a fiscalidade não ‑petrolífera também tivesse aumentado, embora, em 2008, não representasse mais do que 9,7% do PIB (40,8% para as de origem no petróleo). As despesas sociais do Governo aumen‑taram durante o período, tendo em 2008 representado 28% das despesas orçamentais totais, equivalente a 10,8% do PIB.

Tabela 20 – Afectação orçamental aos sectores sociais

AnoEducação Saúde Segurança Social

Habitação comunitária

Total

% PIB % Total % PIB % Total % PIB % Total % PIB % Total % PIB % Total

2004 2,8 7,3 1,8 4,8 1,0 2,7 0,9 2,3 6,5 17,1

2005 2,2 6,3 1,5 4,3 5,2 14,8 1,0 2,9 9,9 28,3

2006 2,4 6,0 2,0 4,9 5,0 12,3 2,2 5,3 11,6 28,6

2007 2,9 8,4 1,8 5,3 5,5 15,9 1,8 5,3 12,3 35,6

2008 2,7 7,0 1,8 4,7 3,6 9,3 1,1 2,9 10,8 28,0

FONTE: Ministério das Finanças, Relatórios de Execução de 2006, 2007 e 2008.

Porém, assistiu ‑se, em 2008, a uma redução geral das despesas de incidência social e que podem contribuir para a criação de um ambiente propício à redução sustentável da pobreza. Em termos gerais, os gastos públicos com a melhoria das condições de vida da população dimi‑nuíram o seu peso no PIB, tendo passado de 12,3% em 2007, para 10,8% em 2008. Apesar da despesa pública social média ter passado de 420 dólares por habitante em 2007, para 506 dólares por cada cidadão em 2008, o seu montante é insuficiente face à imensa procura social por bens colectivos de primeira necessidade e às incidências da crise económica mundial136. A variação nominal de 20,5% foi inferior ao aumento, a preços correntes de mercado, do PIB (cerca de 28,6%).

136 As prestações sociais aumentaram, de acordo com o Relatório de Execução Orçamental de 2008, 50,5% em termos nominais. Porém, o seu peso no PIB manteve ‑se em 1,5%.

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As acções de impacto mais imediato sobre o alívio de determinadas condições difíceis da população pobre estão relacionadas com a saúde e a segurança social, para onde o Governo afectou, em 2008, apenas 5,4% do PIB (correspondentes a 11,7% do total das despesas públicas).

As acções de efeitos mais dilatados no tempo – educação, habitação e serviços comunitários – mereceram apenas 7,4% do PIB em termos de alocação de verbas orçamentais.

O intenso crescimento económico permitiu que o PIB por habitante se situasse em 4690 dólares correntes em 2008, o que indicia uma melhoria das condições de vida, ainda que duma forma bastante desigual. Na verdade, o índice do PIB por habitante situou ‑se em 538,4 em 2008 (base 100 em 2003), equivalente a um incremento de 438%.

Figura 8 – Evolução do PIB por habitante em dólares correntes

FONTE: CEIC, Quadro Macroeconómico Comparativo.

Como o índice do produto por habitante integra o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano, também este indicador das condições de vida da população das Nações Unidas apre‑sentou um comportamento positivo.

Figura 9 – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

FONTE: PNUD, Relatórios do Desenvolvimento Humano.

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No entanto, em matéria de repartição do rendimento – avaliada pelo Índice de Gini – a situa‑ção em Angola tem ‑se deteriorado. Em 1997, o valor deste indicador foi avaliado em redor dos 0,4137, enquanto em 2005138 se situou em 0,62, tornando Angola num dos países mais desiguais do mundo, acima da Nigéria, dos Camarões e da Argélia. Significam estas constatações que os objectivos sociais do Governo, anunciados nos três programas bienais, estão, ainda, longe de se realizarem na medida desejada pela sociedade.

3.4.4 Período 2008 ‑2010

Durante o período 2007‑2009, a política económica do Governo enquadrou ‑se no Programa Geral do Governo para o Biénio 2007‑2008 e no Plano Nacional 2009 e as condições para a obten‑ção dos objectivos aí definidos139 – com realce para a consolidação da estabilidade macroeconó‑mica, a reorganização das redes de distribuição (electricidade, água, transportes), o lançamento de indústrias de apoio à reconstrução nacional, a expansão das cadeias produtivas – aparentemente existiam e exprimiam ‑se pelo excelente ambiente económico interno (taxas elevadas de cresci‑mento em 2005 e 2006, aumento do investimento privado, melhoria significativa da situação das finanças públicas, disponibilidade de linhas de crédito, estruturação, modernização e desenvolvi‑mento do sistema bancário nacional, criação do Banco de Desenvolvimento de Angola e preser‑vação da paz e da reconciliação nacional) e pelo favorável enquadramento externo, caracterizado pelas elevadas taxas de crescimento do comércio internacional (9,8% em 2006, 7,5% em 2007 e 6,2% em 2008140) e de variação do PIB mundial (3,4% em média anual no triénio 2006‑2008141).

Contudo, o principal estímulo ao crescimento económico de Angola, no período em referên‑cia, continuou a ser dado pelo preço do petróleo no mercado internacional. Entre 2006 e 2008, o preço médio do barril de petróleo registou um incremento de perto de 60%, equivalente a uma variação média anual de 16,7%.

Entretanto, os primeiros sinais de antecipação da crise económica mundial começaram a ser visualizados pela redução do ritmo de crescimento do PIB mundial (apenas 2,5% em 2008) e pela quebra no índice de preços das commodities não‑petrolíferas. A drástica redução do preço do barril de petróleo no último trimestre de 2008 confirmou que a economia mundial entrara em crise dramática e que Angola iria sofrer os seus efeitos mais nefastos, agravados pela debilidade da estrutura económica nacional e pela reduzida capacidade de absorção de choques externos. As medidas de atenuação dos efeitos desta crise mundial tomadas pelo Governo foram num sentido inverso ao da maior parte das economias do sistema económico internacional, que

137 PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano de Angola, 1997.138 Banco Mundial, Memorando Económico do País, 2006.139 Programa Geral do Governo para o Biénio 2007‑2008.140 World Bank, Global Economic Prospects, 2009.141 Ibid.

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acentuaram a vertente do aumento das despesas públicas (de investimento, subsídios, transfe‑rências, redução de impostos para se estimular a recuperação da produção, etc.). O indicador mais claro dos efeitos da crise económica mundial foi o da redução do ritmo de crescimento do PIB em 2009, tendo passado de 13,6% em 2008, para 2% em 2009142.

Compreende ‑se, assim, que depois de 2007 o ritmo de crescimento económico diminuiu, apesar de as taxas de variação do PIB ainda se terem apresentado significativas. A taxa tenden‑cial deste período (2006‑2009) foi de 13,5%, influenciada pelos 20,9% de 2007.

Figura 10 – Taxas reais de crescimento do PIB (%)

FONTE: Ministério das Finanças, Relatórios de Execução de 2008, 2009 e 2010.

A agricultura e a indústria transformadora ressentiram ‑se dos efeitos da crise económica internacional, mas os serviços ainda conseguiram melhorar a sua performance face a 2007. De sublinhar que alguns segmentos da indústria transformadora angolana – materiais de constru‑ção, alimentação e bebidas e indústrias químicas – patentearam desempenhos interessantes entre 2007 e 2008, mas, no fundamental, continuaram a ser as actividades alimentares e de bebidas a dominarem o panorama manufactureiro nacional (perto de 80% do total).

Tabela 21 – Taxas de crescimento da agricultura, transformadora e serviços mercantis (%)

Sector 2004 2005 2006 2007 2008 2009

PIBa 14,1 17,0 9,8 27,4 1,9 27,0

PIBt 13,5 24,9 44,7 32,6 11,0 10,3

PIBs 10,4 8,5 38,1 21,8 26,9 4,3

FONTES: Ministério do Planeamento, Relatórios de Balanço dos Programas do Governo. CEIC, Relatórios Económicos.

142 Segundo outras fontes, o PIB angolano terá regredido ‑0,4% (FMI), ‑1,9% (Economic Intelligence Unit) ou crescido apenas 0,1% (Business Monitor Internacional).

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No entanto as tão desejadas alterações estruturais da economia não ocorreram e algumas das variações registadas não passaram de meros episódios no longo percurso do processo de diversificação da estrutura produtiva interna.

Figura 11 – Composição do PIB em 2009

FONTE: CEIC, Relatório Económico de Angola 2010.

As condições de preservação da estabilização macroeconómica do passado degradaram ‑se na parte final de 2008 e em 2009, acabando por ferir, significativamente, o seu exitoso percurso anterior. De resto, a resistência da inflação aos dois dígitos traduz a prevalência de diversas imponderabilidades sobre a actividade económica interna e a excessiva dependência das polí‑ticas macroeconómicas das receitas do petróleo.

Figura 12 – Comportamento da inflação (%) e dos défices fiscal e da BTC em % do PIB

FONTE: CEIC, Quadro Macroeconómico Comparativo.

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As dinâmicas de crescimento registadas entre 1997 e 2009 consequencializaram um aumento sustentado no rendimento nacional bruto por habitante, colocando ‑se o seu valor nos 3284 dólares em 2008, com uma quebra em 2009 para cerca de 2400 dólares.

A grande questão – de resto, comum a qualquer economia – reside no modo como este rendimento é repartido pelas funções capital e trabalho e pela população, desempenhando, neste caso, o Estado um papel primordial na correcção da distribuição da renda feita pelos mecanismos de mercado. Não só pela via da tributação, directa e indirecta, mas, igualmente, pelo montante e natureza das transferências que o Governo entrega à sociedade.

Figura 13 – Rendimento médio por habitante em USD

FONTE: CEIC, Quadro Macroeconómico Comparativo.

3.4.5 Período 2010 ‑2011

Ainda que não tivessem sido objecto de divulgação pública, os documentos Estratégia de Desenvolvimento de Longo Prazo 2000 ‑2025143 e o Plano Nacional de Médio Prazo 2009 ‑2013 constituem peças centrais das políticas económicas do Governo e também da diversificação da economia.

O Plano de Médio Prazo refere: “A partir desses pressupostos, as orientações gerais da política económica objectivam atingir a Visão Prospectiva até 2015 das Linhas Estratégicas de Desenvolvimento de Longo Prazo (Angola 2025), e que portanto constituem atribuições deste Plano de Médio Prazo, a saber:

143 Referida pelo Presidente da República no seu discurso sobre o estado da Nação em 18 de Outu‑bro de 2011.

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• Taxas médias de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de Angola em patamares elevados em comparação aos níveis médios mundiais e Africanos (acima de 10% ao ano, em média), assim como as taxas de crescimento de emprego (acima de 4% ao ano), pro‑dutividade (acima de 5% ao ano) e salário real (acima de 2,5 % ao ano), compatíveis com o crescimento sustentado do PIB.

• Taxas médias de investimento global, em relação ao PIB, em níveis também elevados, de‑sejavelmente acima de 30%.

• Inflação a taxas máximas de apenas um dígito.

• Situação de equilíbrio orçamental global.

• Reduções significativas do peso da dívida externa em relação ao PIB.

• Pico da produção de petróleo (acima de 2,5 milhões de barris/dia) e volumes já significa‑tivos de gás natural.

• Aceleração da diversificação da economia real, a níveis sectoriais e provinciais, com prio‑ridade ao desenvolvimento de ‘mega ‑clusters’ de recursos naturais, água, alimentação, ‘habitat’, transporte e logística, além do petróleo, gás natural e bioenergias (etanol e bio‑diesel).

• Redução da participação do sector do petróleo no PIB para níveis médios próximos a 42%, como resultado natural da diversificação da economia.

• Intensificação do processo de criação de condições de competitividade estrutural da eco‑nomia.

Para atingir estes objectivos serão utilizados todos os instrumentos consagrados de interven‑ção do Estado na economia, usualmente incluídos nas denominadas políticas macroeconómicas, a saber: política monetária, de crédito e de taxas de juros, fiscal e orçamental, de rendimentos e preços, cambial, comercial e de balança de pagamentos, de investimentos públicos e de estímulo aos investimentos privados, nomeadamente nos sectores prioritários, assim como as regulações da actividade económica a cargo do Estado. A utilização adequada e atempada desses instru‑mentos irão constar das decisões e dos documentos de gestão das políticas macroeconómicas do Governo ao longo do período deste Plano de Médio Prazo”144.

No Plano Nacional 2009145, aparecem duas referências relacionadas com a diversificação da economia: uma ao nível das políticas sectoriais e outra no domínio das políticas territoriais, afirmando ‑se: “no plano sectorial, tendo como orientação a valorização dos recursos naturais e

144 Plano Nacional de Médio Prazo 2009 ‑2013.145 República de Angola, Governo de Angola – Plano Nacional 2009, Outubro de 2008.

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a transformação estrutural da economia nacional, será concedida particular prioridade a: reforço dos mecanismos de coordenação económica das diferentes políticas, numa lógica matricial; apoio à substituição competitiva de importações e de fomento das exportações, através de sistemas de incentivos e de mecanismos temporários de protecção às actividades emergentes; apoio ao desenvolvimento rural, desenvolvimento dos clusters: petróleo e gás natural, alimentação e agro‑‑indústria, habitat e intensificação dos estudos e/ou trabalhos preparatórios do lançamento dos investimentos industriais mais significativos, como sejam o projecto LNG, a nova refinaria do Lobito, nova Siderurgia, indústria do alumínio e indústrias dos materiais de construção”. Relati‑vamente às políticas territoriais as assunções destacavam dum modo mais específico a questão da diversificação. Na verdade, “quanto ao desenvolvimento do território, merecerão prioridade, no plano nacional: iniciar a implementação dos planos integrados de expansão urbana e infra‑‑estrutural de Luanda e Bengo, incluindo a institucionalização da respectiva Zona Económica Especial; promover o desenvolvimento integrado das comunidades rurais, através da requalifica‑ção e reorganização das aldeias e das povoações completando a extensão rural conduzida pelo Ministério da Agricultura e pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural com intervenções dos domínios da saúde, da educação, da formação em artes e ofícios, da alfabetização, do for‑necimento de água potável e energia eléctrica e do ordenamento rural; conceber e assegurar a concretização dos modelos da Nova Aldeia Rural que proporcione uma boa qualidade de vida às populações em todo o País e harmonize o direito costumeiro e positivo; arrancar com os estudos necessários à criação do Corredor de Desenvolvimento Luanda ‑Malange e dos Pólos de Desen‑volvimento Industrial do Soyo, Benguela ‑Lobito (Catumbela), Huambo (Caála), Namibe (Tômbua) e Huíla (Matala); iniciar os planos de requalificação das zonas urbanas degradadas; estudo das possibilidades de criação de pólos de equilíbrio nas zonas menos desenvolvidas do território”.

O Plano Nacional 2010 ‑2011 levava em consideração, entre outros, os aspectos seguintes146:

• Promoção da estabilidade macroeconómica.

• Promoção do emprego, da estabilidade de preços e do equilíbrio das transacções externas da economia.

• Promoção da melhoria na repartição de renda.

• Implantação de bases infra ‑estruturais para atracção e reanimação dos investimentos e da iniciativa privada.

• Incremento da produção de bens e serviços finais e intermédios com prioridade para a produção de alimentos, matérias ‑primas e insumos básicos.

• Organização dum quadro de estímulos para acções convergentes com os fins da política económica do Governo.

• Recuperação da dinâmica do crescimento económico.

146 Ministério do Planeamento, Projecto de Plano 2010 ‑2011, Outubro de 2010.

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Neste Plano não se encontram referências directas à diversificação da economia, embora em alguns sectores os objectivos definidos e as políticas que deveriam ter sido adoptadas apon‑tassem para este desiderato. Na verdade, em relação à agricultura é afirmado: “Promover o desenvolvimento integrado de fileiras estratégicas (cluters/agrónomos) e revitalizar e diversificar a economia rural, contribuindo para o combate à fome, à pobreza, à melhoria das condições de vida das famílias camponesas e à maior segurança alimentar”.

Relativamente ao sector manufactureiro muito pouco ou mesmo nada é assumido quanto à diversificação da economia. Com efeito, o plano limita ‑se a referir que “o sector deverá dar continuidade à recuperação da produção industrial, através da criação de mecanismos para a instalação de novas empresas industriais e viabilização das indústrias existentes, atendendo aos objectivos que se seguem:

• Contribuir para a coordenação de estratégias económicas empresariais visando o incre‑mento da produtividade, da competitividade e do emprego.

• Proceder à reestruturação, regulamentação jurídica e organização de processos de priva‑tização de empresas industriais detidas pelo Estado.

• Conceber e fazer aprovar normas visando o aumento da qualidade da produção nacional.

• Reforçar as instituições relacionadas com a actividade industrial.

• Acompanhar os processos de Cooperação Internacional (bilaterais e multilaterais)”.

É no sector da geologia e minas que se encontra uma referência específica à diversificação da economia, ao afirmar ‑se que o mesmo deve “contribuir para o rápido, consistente e organizado desenvolvimento do sector, de forma a incrementar o valor acrescentado nacional, no contexto de um cluster dos recursos minerais e da diversificação da economia nacional e contribuir para o desenvolvimento sustentável de Angola”.

No discurso sobre o estado da Nação que o Presidente da República proferiu na Assembleia Nacional em 18 de Outubro de 2011 são apontados, no que à diversificação económica diz respeito, os objectivos: “promover um desenvolvimento sustentável, assegurando a utilização eficaz dos recursos naturais e uma justa repartição do rendimento nacional, garantir um ritmo elevado de desenvolvimento económico com estabilidade macroeconómica e diversidade estru‑tural e desenvolver de forma harmoniosa o território nacional, estimulando a competitividade dos territórios e promovendo as regiões mais desfavorecidas”147.

Sobre as realizações, o Presidente da República, nesse mesmo discurso, apresentou as seguintes, relacionadas directa e indirectamente com a diversificação da economia:

147 O estado da Nação, Discurso do Presidente José Eduardo dos Santos.

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• “… o destaque, neste momento, vai para a refinação de mais petróleo bruto no país e para a produção de combustíveis, lubrificantes, tintas e solventes, etc.;

• … de 2008 a 2011 o sector de geologia e minas registou um crescimento médio anual de 11,8%, consubstanciado numa taxa anual média de produção de diamantes na ordem dos 2,5% e no aumento da produção de quartzo e de materiais de construção de origem minei‑ra, como areia, burgau e brita;

• … no subsector dos diamantes estão em curso acções que visam, além da extracção, a valorização de todas as fases da cadeia desta indústria, desde a comercialização dos dia‑mantes brutos, à sua transformação, incluindo a joalharia;

• … foi retomada a exploração do ferro e do manganês, com um projecto integrado que inclui a indústria metalúrgica e a siderúrgica e que prevê a criação de mais de três mil empregos na Huíla;

• … exploração, no norte do país, dos fosfatos e do potássio para a produção de adubos para o desenvolvimento da agricultura;

• … em curso iniciativas para a produção de ouro e cobre e para aumentar a produção de rochas ornamentais e outras matérias ‑primas necessárias para a indústria dos materiais de construção;

• … espera ‑se que a partir de 2013 o sector da geologia e minas contribua de modo significa‑tivo para o aumento das receitas do Estado e para a diversificação da economia nacional e o aumento do emprego”.

O sector da energia (produção e distribuição) é um dos que tem um papel determinante nos processos e estratégias de diversificação da economia, ao propiciar a prática de preços competi‑tivos e facilitar a produção industrial e agrícola. A este propósito, o Chefe de Estado pontualizou: “… de forma a superar o desafio de reduzir a zero o défice de energia eléctrica no país, está em curso a reabilitação das barragens do Gove, Mabubas, Lomaum e Cambambe I, a ser concluída em 2012. Estes empreendimentos serão responsáveis por adicionar 295,6 megawatts ao sistema energético; serão também instaladas em 2011 e 2012 centrais térmicas de geração de energia em Cabinda, Luanda, Dundo, Lubango, Namibe, Menongue, Ondjiva, Huambo e Benguela”.

Sobre a indústria transformadora, o Presidente da República referiu que:

• “… de 2008 a 2011, o sector da indústria transformadora registou um crescimento mé‑dio anual na ordem dos 8%; foram criadas e entraram em funcionamento 750 empresas privadas, em quase todos os subsectores, com destaque para a indústria alimentar e de bebidas; o número de postos de trabalho directos cifrou ‑se em 25 120 e o valor dos inves‑timentos privados atingiu cerca de 4 mil milhões de dólares;

• … o sector dos têxteis, vestuário e calçado começa agora a dar os primeiros passos, com o relançamento da cultura e da fileira do algodão e a reabilitação e desenvolvimento da produção têxtil, de modo a gerar emprego e a substituir as importações;

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• … para o próximo ano deverão entrar em funcionamento três fábricas de tecidos, nomea‑damente a Textang II em Luanda, a África Têxtil em Benguela e a SATEC no Cuanza ‑Norte e Dondo;

• … prevê ‑se que de 2012 a 2017 o sector da indústria transformadora vá registar um cresci‑mento médio anual na ordem dos 10% e que o número médio anual de postos de trabalho a criar seja de 7400 directos e 7580 indirectos, estando o valor dos investimentos a realizar estimados em 8 mil e 500 milhões de dólares, inscritos na carteira dos Ministérios da In‑dústria e da Geologia e Minas”.

Na área das infra ‑estruturas económicas foram referidas “a construção e a reabilitação de 6500 quilómetros de estradas, de centenas de pontes, o relançamento de caminhos ‑de ‑ferro e a recuperação de aeroportos”148.

Não se encontraram referências aos mega ‑clusters, nem aos pólos de desenvolvimento regio‑nal e à Zona Económica Especial.

3.5 Apelos e condições para a reindustrialização com diversificação da economia

O elemento ‑chave para uma reindustrialização competente da economia nacional é a com‑petitividade. Ainda que perspectivada a longo prazo, nenhuma industrialização sustentável se consegue sem competitividade, equivalente a uma aptidão de se produzir aos custos internacio‑nais, os de eficiência económica. A protecção aduaneira, equivalente a um instrumento adminis‑trativo de política económica, gerador de distorções na oferta e no consumo e de corrupção no acesso aos preços protegidos, mesmo que defensável por algumas correntes de pensamento, tem de ser muito limitada no tempo, controlada pelo Estado149 e cessar imediatamente após ter sido criada uma massa crítica de procura interna tendente a fazer surgir economias de escala, necessárias para a redução dos custos empresariais.

148 O estado da Nação, Discurso do Presidente José Eduardo dos Santos.149 Por exemplo, através da celebração de contratos ‑programa entre o Estado e os capitães de algu‑mas indústrias eleitas para o leque de indústrias nascentes, nos quais são claras as responsabilidades de cada uma das partes envolvidas (tipo e montante de investimentos a realizar para se maximizar a capacidade interna de produção, formação de empresários e trabalhadores, gastos de Investigação & Desenvolvimento, modelos de organização da produção industrial, quotas de substituição das impor‑tações e metas temporais para a sua obtenção). Muitos países do sudeste asiático, hoje industrializa‑dos, praticaram estes contratos ‑programa e muitas empresas foram excluídas do acesso às isenções aduaneiras por incumprimento de metas e responsabilidades. A protecção aduaneira não deve ser geral, mas adoptar uma descriminação positiva face a certas indústrias e certos industriais (os que comprovadamente são portadores de futuro e duma capacidade de gestão estratégica valorizadora, do ponto de vista social, dos custos de oportunidade relacionados com a abdicação de cobranças dos direitos alfandegários).

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Um indicador ‑geral de competitividade é a exportação. Quando se exporta um determinado produto, o preço de referência é o do mercado internacional, donde – coeteris paribus – esse bem ser competitivo.

Um outro elemento é a inflação. Um breve relance sobre a inflação permite concluir que Angola não é competitiva com nenhum dos espaços tomados como base de referência, decor‑rendo, portanto, dificuldades em disputá ‑los pela via dos preços, caso existisse alguma produção exportável de bens transaccionáveis, com excepção do petróleo e dos diamantes.

Figura 14 – Discrepância de preços (n.o de vezes da inflação angolana)

FONTE: IMF, World Economic Outlook, April 2011.

Só em relação à África Subsariana os preços nacionais são relativamente aproximados, embora em 2010 a taxa de inflação angolana tivesse sido o dobro da região. São necessários esforços mais contundentes de combate à alta de preços para que se possa, por esta via, prepa‑rar o terreno para o fomento de outras exportações de transaccionáveis.

Ainda outro elemento de apreciação da competitividade é o ambiente de negócios. Ainda que se critiquem os índices construídos fora de portas150, a análise do ambiente de negócios continua a ser sustentada e validada pelo indicador do Banco Mundial e da Sociedade Financeira Internacional, denominado Doing Business.

No Relatório de 2012, Angola caiu uma posição, passando de 171.o lugar para 172.o, entre 183 economias. Como mostra a tabela da página seguinte, este declínio coincidiu com a melhoria significativa de alguns indicadores parcelares, como o registo de propriedade.

150 O que é facto, é que não existem outros, nomeadamente de iniciativa interna. Por outro lado, os investidores privados, mesmo os nacionais, dão enorme importância a estes indicadores e levam ‑nos em consideração nas suas decisões de investimento.

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Tabela 22 – Posição de Angola no Doing Business

Topic rankings 2011 rank 2010 rank Change in rank

Starting a business 167 164 ‑3

Dealing construction permits 115 119 4

Getting electricity 120 125 5

Registering property 129 174 45

Getting credit 126 130 4

Protecting investors 65 60 ‑5

Paying taxes 149 145 ‑4

Trading across borders 163 162 ‑1

Enforcing contracts 181 181 0

Resolving insolvency 160 155 ‑5

FONTE: World Bank, Doing Business, 2012.

Deve ser dada prioridade à criação de um ambiente de negócios saudável para os investido‑res privados, implementando reformas estruturais, continuando com a reabilitação das infra‑‑estruturas físicas (mas aumentando a sua qualidade e os níveis de fiscalização sobre a corrupção existente), melhorando a gestão da despesa pública e descentralizando o investimento público para níveis de decisão e implementação mais desconcentrados.

Até ao momento, os esforços neste sentido têm sido insuficientes e fazer negócios em Angola continua a ser difícil. Um dos elementos de mais difícil compreensão da parte dos investidores estrangeiros é o de como se adaptarem a regras não escritas quando pretendem lançar uma actividade nova e se defrontam com uma série de obstáculos não existentes na lei e derivados do modo como os agentes do Governo interpretam como o processo se deve desenrolar151.

Estes padrões também influenciam a eficiência das organizações que devem promover o desenvolvimento nacional, com base na educação, igualdade, participação na vida activa e ampla participação na construção do futuro de Angola.

Finalmente, a produtividade geral do trabalho. A decomposição da competitividade nos seus principais elementos – alguns dos quais descritos anteriormente – revela ser a produtividade do trabalho o mais determinante para a sua estruturação e sustentabilidade.

A despeito duma evolução francamente favorável desde 2000, com particular destaque para 2006, 2007 e 2008, a produtividade apresenta, ainda, índices muito baixos, particularmente quando inseridos em contextos internacionais. Em 2008, o valor médio da produtividade bruta aparente do trabalho foi de cerca de 12 500 dólares por trabalhador, o mais alto do intervalo temporal 2000 ‑2010. Nesse ano, a taxa de crescimento do PIB foi de 13,6% e do emprego de 4,9%.

151 Estes aspectos limitam a extensão e profundidade da aplicação do local content.

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Tabela 23 – Produtividades sectoriais em USD

Sector 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Agricultura 549,0 770,4 875,2 1010,3 1177,0 1363,8 1583,5

Manufactura 38 141,1 61 029,2 78 769,7 96 912,9 89 986,1 103 113,4 115 758,9

Diamantes 22 228,5 27 577,4 24 787,7 21 229,3 13 747,5 32 603,5 37 470,0

Construção 22 639,0 10 002,7 13 701,2 18 177,9 16 546,9 20 090,7 23 469,9

Serviços 29 501,8 39 245,1 36 370,2 44 919,5 30 164,4 35 204,9 38 677,6

Outros 10 614,4 12 781,1 12 244,6 14 215,7 12 805,5 16 795,5 16 285,4

Média 5722,9 8495,6 9310,0 12 389,9 9232,0 11 368,3 13 498,7

Petróleo 1 384 151,3 2 081 764,1 2 000 560,8 3 082 776,3 1 963 076,2 2 292 074,5 2 735 336,1

FONTE: CEIC, Estudos sobre Emprego e Produtividade.

Em 2011, o valor deste indicador foi de 13 500 dólares por trabalhador, uma forte recupe‑ração face aos 9200 dólares registados em 2009152. Uma taxa de crescimento do PIB acima de 3% e uma menor intensidade no incremento do emprego – a par, espera ‑se, de uma melhor organização das empresas e de uma maior formação dos seus quadros e trabalhadores – podem justificar o essencial deste registo.

Figura 15 – Produtividade média por trabalhador (USD)

FONTE: CEIC, Estudos sobre Emprego e Produtividade.

152 Não se pode perder de vista a circunstância de ser a produção de petróleo o sector onde este indicador atinge valores verdadeiramente galácticos, influenciando, assim, a média nacional. As dis‑paridades sectoriais são, portanto, muito fortes e a diferença para o sector petrolífero ainda não fun‑cionou como factor de disseminação, apreensão e domínio das boas práticas de gestão empresarial corrente e estratégica, apanágio destas indústrias de ponta.

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Resta, porém, uma distância significativa para alguns países da SADC – a norma de referência de Angola – como a África do Sul (onde o seu valor rondou os 55 000 dólares por trabalhador empregado em 2011) e as Maurícias e Botswana com médias brutas aparentes na vizinhança dos 42 000 dólares e para União Europeia, onde a produtividade bruta aparente do trabalho se situou em mais de 192 000 dólares.

Conforme se anotou, as disparidades intersectoriais da produtividade são muito elevadas, perdendo significado, por exemplo, a comparação entre a produtividade bruta aparente do sector do petróleo e da agricultura. São dois mundos diferentes e situados nas antípodas um do outro.

As diferenças sectoriais de produtividade do trabalho confirmam os desequilíbrios estru‑turais da economia angolana. Mesmo dentro da economia não ‑petrolífera, os desequilíbrios são enormes, aparecendo o sector primário (agricultura, pecuária, florestas e pescas) como o mais definhado, apesar das reconhecidas potencialidades e dos meios estatais postos à sua disposição.

O gráfico seguinte é uma ilustração dessas profundas assimetrias na distribuição sectorial dos ganhos de produtividade e dos espaços a serem ocupados e das oportunidades a serem aproveitadas pelas actividades englobadas no sector não ‑petrolífero da economia nacional. Há muito a fazer pela iniciativa privada, para além dos enquadramentos e regulamentações de responsabilidade do Estado.

Figura 16 – Valor médio da produtividade do trabalho, 2002 ‑2014 (USD/trabalhador)

FONTE: CEIC, Estudos sobre Emprego e Produtividade.

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Apesar da incerteza das informações, são, na verdade, desproporcionadas as diferenças entre os níveis de produtividade sectorial, ainda que se notem situações de melhorias consi‑deráveis, como na manufactura e nas actividades terciárias, com saliência para as relacionadas com as telecomunicações e os serviços bancários.

Não se considerando, na visualização gráfica, os sectores de ponta em termos tecnológicos, a configuração aparece mais propositada.

Figura 17 – Valor médio da produtividade sem petróleo (USD)

FONTE: CEIC, Estudos sobre Emprego e Produtividade.

As condições gerais para a reindustrialização com diversificação económica são várias, mas exigentes em rigor, disciplina, organização, pensamento e planeamento estratégico, capital humano, capital cultural (cultura empresarial/industrial, cultura da informação) e capital social (instituições públicas e privadas).

Em primeiro lugar sobressai a consolidação da estabilização macroeconómica não apenas porque se trata duma fase indispensável dum processo sério de reconstrução económica e de progresso social, mas, também, porque corresponderá a uma efectiva conquista política depois de muitos anos de tentativas para a correcção dos principais desequilíbrios macroeconómicos. A consolidação da estabilização apela ao efectivo consenso político, à participação da sociedade civil, ao cumprimento das leis e da disciplina e à observância da concisão monetária como regra normal de gestão macroeconómica. A consolidação da estabilização desdobra ‑se nos aspectos seguintes:

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• Controlo da inflação em limites que a teoria económica consagra como os adequados para se promover o crescimento económico em bases sólidas e irreversíveis, o que na prática significa o exercício duma gestão macroeconómica de mercado e uma acentuação do pa‑pel orientador do Estado.

• Regulação monetária permanente enquanto instrumento do exercício da política econó‑mica em economias abertas e que passa por itens como o controlo da emissão monetária (as variações na massa monetária em circulação deverão passar a ser exclusivamente en‑dógenas, ou seja, induzidas apenas pela necessidade de crescimento da economia e da produção, o que liminarmente afasta qualquer hipótese de financiamento do défice fiscal por esta via) e o fomento do crédito à economia no respeito dos limites da programação monetária153.

• Redução sustentada do défice fiscal e mobilização de fontes reprodutivas para o seu finan‑ciamento. Quer isto dizer que face ao enorme esforço que se coloca em matéria de recons‑trução económica, com particular destaque para as infra ‑estruturas físicas, os equipamen‑tos sociais e o capital humano, o Estado não poderá fugir inteiramente à ocorrência dum certo desequilíbrio orçamental154. O importante é que o seu financiamento se socorra de fontes economicamente reprodutivas, como o mercado de capitais – cuja criação se justi‑fica também pelo volume das receitas de exportação e pelo peso na economia nacional de algumas empresas estrangeiras – e as receitas da privatização do património empresarial do Estado. Além disso, a redução sustentada do défice é tributária duma radical alteração do perfil das despesas públicas – por exemplo, aligeirando ‑se substancialmente o peso dos subsídios de utilidade económica marginal e mesmo duvidosa e aumentando ‑se a partici‑pação percentual da massa salarial – e duma reforma fiscal profunda que tem no tempo e na modificação dos métodos de tributação e de cobrança dos impostos um factor im‑

153 Será que se podem obter maiores níveis de procura agregada de forma permanente – e consequen‑temente de emprego – através da intervenção do Banco Nacional de Angola ao nível da política mone‑tária ou do Governo através da política orçamental?154 A evidência empírica do que se verificou entre finais da década de 60 e meados dos anos 80 – parte final do que na Ciência Económica ficou conhecido como os “30 gloriosos” – com um crescimento acentuado da dívida pública (em percentagem do PIB), com elevadas taxas de inflação e significativos desequilíbrios nas contas externas na maioria dos países, incluindo os da OCDE, revelou que a condu‑ção da política orçamental sem a consideração expressa da restrição fiscal não é muito saudável para o funcionamento normal da economia. Não se trata de tomar à letra a afirmação de Thomas Sargent, segundo a qual “inflation is always and elsewhere a fiscal phenomenon”, mas sim de aceitar como bas‑tante lógico que dentro de determinadas condições os aumentos do défice fiscal devem desencadear pressões inflacionistas. Facilmente se demonstra que os défices fiscais que não levem a um aumento significativo e sustentável da taxa de crescimento do produto serão tendencialmente geradores de inflação. Também com relativa facilidade se prova que se o défice – ainda que seja em parte – for financiado junto do Banco Central, as tensões inflacionistas estarão presentes, para além da ocorrên‑cia do crowding ‑out. Todas estas considerações sugerem que as despesas públicas têm de ser muito bem seleccionadas em cada ano fiscal e que os investimentos públicos devem ser objecto duma ava‑liação rigorosa quanto à sua eficácia sobre o crescimento económico permanente.

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portante de sucesso. Esta alteração do perfil das despesas públicas é igualmente reclama‑da em favor dos investimentos públicos em infra ‑estruturas económicas, equipamentos sociais e constituição do capital humano nacional. Os investimentos públicos – enquanto instrumento destacado da mobilização do investimento privado – devem passar a reger ‑se por critérios e normas estritamente económicas, porque em última instância é por seu in‑termédio que se valida a utilidade social duma parte importante dos recursos financeiros que a Nação deposita nas mãos do Estado e do Governo.

Mas acresce mais um aspecto e relativamente ao qual se deve, também, obter o necessário consenso político. Trata ‑se do défice externo (saldo da balança de transacções correntes) e do correspondente contrapeso, a dívida externa. O problema de fundo é, afinal, o do financiamento da economia. Não haverá consolidação da estabilização macroeconómica, nem muito menos recuperação e crescimento da produção, sem recursos financeiros abundantes. A redução sus‑tentada do desequilíbrio das contas externas vai ter de passar, a médio prazo, por uma diver‑sificação acentuada das exportações155, uma radical transformação do perfil das importações (valendo sublinhar a importância duma política selectiva de importações que preserve os índices de eficácia económica interna e de competitividade externa, ou seja, e por outras palavras, o chamado modelo de substituição de importações só deve ser praticado enquanto instrumento de fomento do crescimento económico, se os preços internos a praticar forem, no mínimo, iguais aos preços das importações que se pretendem substituir), uma mobilização do investimento estrangeiro e pela renegociação da dívida externa. A questão da renegociação da dívida externa do país é, não só, um factor de credibilidade internacional de Angola e do seu Governo, como um meio indispensável de descompressão do constrangimento financeiro da economia, impor‑tante numa óptica de médio prazo. Subjacentemente emerge a discussão do envolvimento com o Fundo Monetário Internacional como o parceiro exclusivo de facilitação do reescalonamento das contas com o exterior.

Em segundo lugar sobressai, do contexto das linhas de força para um programa de médio prazo, a natureza do Estado. A actuação das instituições do Estado em matéria de política eco‑nómica é caracterizada por uma série de desfasamentos: entre a decisão e a execução – o que, possibilitando a ocorrência de novos factos que podem tornar ultrapassadas decisões tomadas, em última instância significa uma quase permanente desactualização das medidas de política – entre a identificação dos problemas e a sua consciencialização, e entre a tomada de consciência e a decisão de se actuar. Em particular é fundamental reforçar o elo entre o decidir executar e controlar os resultados (avaliação contínua da política económica). Estes desfasamentos contri‑buem para um esvaziamento crescente das funções do Estado e para uma certa desvalorização

155 Uma diversificação real só pode ser encontrada na indústria e na agro ‑indústria. É um erro considerar ‑se que o incremento da produção e exportação de diamantes, ferro, rochas ornamentais e outros produtos brutos da economia mineral veicula uma diversificação das exportações. A diversifi‑cação das exportações está indelevelmente relacionada com a obtenção de maior valor acrescentado interno, associado à constituição duma competitividade estrutural.

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da sua presença na economia, onde as suas tarefas são enormes para a reconstrução económica e a formação da economia de mercado.

Outro vector relevante é o de quem deve executar as decisões, o que nos transporta para o domínio da capacidade técnica da máquina do Estado. Esta falta de capacidade faz ‑se, parti‑cularmente, sentir ao nível dos escalões intermédios – o chamado middle management – que são quem afinal tem a importante missão de cumprir, fazer cumprir e fiscalizar as medidas de política económica. Nestas condições, as probabilidades de sucesso efectivo das políticas eco‑nómicas são reduzidas, podendo ‑se, portanto, referir que sem uma reestruturação do Estado e a reforma da sua Administração – donde se destacam o management capacity building e as remunerações salariais – os resultados das políticas económicas poderão situar‑se sempre aquém do esperado.

A terceira linha de força situa ‑se no domínio das reformas estruturais. É por seu intermédio que a ligação estabilização ‑recuperação ‑crescimento económico se estabelece. Sem reformas estruturais não haverá condições para o crescimento económico, ainda que se consigam níveis sustentados de inflação baixa, nem para a constituição dum mercado interno no qual se afirme a classe empresarial nacional. Vale também acrescentar que as reformas estruturais são a pedra de toque da economia de mercado. Reformas estruturais, quer no referente às políticas estru‑turais de mercado (desregulamentação dos mercados e liberalização dos preços, defesa da con‑corrência, redução do peso do Estado na economia produtiva, compensação de externalidades e produção de bens públicos), quer em relação às políticas de desenvolvimento (infra ‑estruturas físicas, equipamentos sociais, educação, saúde, capital humano, capital ambiental e transforma‑ção tecnológica). Aspecto importante é revertível ao padrão a seguir na sequência das reformas, o mesmo é dizer no estabelecimento dum calendário de prioridades sequenciais para a execução das reformas, no pressuposto evidente de que algumas reformas serão vazias se outras prévias se não efectivarem. Novamente a necessidade de consenso político a fazer ‑se sentir, uma vez que o que está em causa em matéria de reformas estruturais envolve sacrifícios e perda de pri‑vilégios, compensáveis, apenas, no médio prazo. Naturalmente que o estabelecimento de seme‑lhante cronologia vai depender dos resultados do programa de política económica do Governo para 2003 ‑2004, assim como de constrangimentos específicos da transição e das alterações que se introduzirem no funcionamento da Administração do Estado, devendo, por isso, serem evita‑das reformas particularmente arriscadas: não vale a pena tentar organizar ‑se o sistema bancário e financeiro enquanto as finanças públicas e o respectivo Ministério não estiverem organizados eficientemente e não se concederem meios e autonomia ao Banco Nacional de Angola.

A quarta linha de força é a do desemprego. O espaço indicado para o tratamento desta importante variável económica é justamente um programa de médio prazo. O desemprego estruturalizou ‑se na economia nacional por razões várias, donde avultam a guerra e a crise económica. Deve sublinhar ‑se que a estabilização macroeconómica e a sua sustentabilidade são condições sem as quais a redução do desemprego não se efectivará, enfatizando ‑se, portanto, a

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estrita necessidade do rigor monetário e da disciplina orçamental. O problema do desemprego não vai ser fácil de resolver, muito embora a economia nacional apresente determinadas folgas que podem ser aproveitadas nesse sentido, como as obras públicas e a agricultura camponesa‑‑tradicional. O equacionamento desta magna questão nacional no programa de médio prazo pode ter diferentes enfoques, dos quais se destacam:

• Nível global de abordagem, com relevo para uma política global de redução do desem‑prego centrada na formação e reciclagem da força de trabalho (redução do desemprego estrutural ou de longa duração que levou a uma desactualização de conhecimentos tec‑nológicos e de experiência profissional), na manutenção dos salários reais e da produti‑vidade em níveis incentivadores para o investimento privado, na desregulamentação do mercado de trabalho com salvaguarda da utilidade social do subsídio de desemprego e do salário mínimo, na promoção da mobilidade espacial da força de trabalho (tributária da consolidação da paz e da livre circulação em condições de segurança), na incentivação de certas actividades geradoras de emprego no sector dos serviços, na difusão do microcré‑dito por todo o país, na redução do horário de trabalho156 sem prejuízo do crescimento da produtividade, na antecipação da idade da reforma, etc. São questões que só um quadro global de referência, como um plano de médio prazo, e o tempo permitem equacionar e resolver duma maneira sustentada.

• Níveis parcelar e sectorial onde se deverão colocar os problemas da transformação tec‑nológica do sistema produtivo nacional e as suas implicações na capacidade de geração de empregos permanentes e as potencialidades dos sectores agrícola, mineiro, não‑‑petrolífero, serviços e obras públicas como as grandes reservas nacionais para a criação de empregos produtivos. A reabilitação das infra ‑estruturas e dos equipamentos sociais – da rapidez com que forem disponibilizadas ao sector privado depende a recuperação da produção – é a grande aposta dum programa de médio prazo neste domínio do com‑bate ao desemprego, compreendendo ‑se a importância do programa de investimentos públicos na dinamização da economia e particularmente a necessidade dos respectivos projectos respeitarem critérios económicos e normas sociais.

A quinta linha de força do programa de médio prazo é a pobreza. A taxa de pobreza no país, segundo os resultados do Inquérito às Despesas e Receitas Familiares do INE (2000‑2001), situa‑‑se nos 62,2% para os agregados familiares e 68,2% para os indivíduos, o que significa que quase ⅔ da população tem rendimentos diários inferiores a 1,5 dólares americanos, traduzido em exclusões variadas: não têm acesso a serviços de saneamento básico e de saúde fundamental, não têm os requisitos de alfabetização mínimos, não acedem aos serviços básicos de educação, não têm condições de disputar as oportunidades de emprego que o mercado pode oferecer (as

156 É evidentemente uma questão controversa, mas que, no mínimo, não deve deixar de ser equacio‑nada enquanto parte duma solução não estruturalizada – e por isso passageira – do problema das altas taxas de desemprego.

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percentagens mais elevadas de desemprego ocorrem justamente entre a população pobre), etc. O combate contra este flagelo social aparece, assim, na primeira linha da estratégia dum programa de médio prazo, valendo, para isso, potenciar todos os instrumentos actualmente existentes, como o Programa de Redução da Pobreza, o Programa de Reabilitação Comunitária, o Programa de Apoio à Reabilitação, o Fundo de Apoio Social (numa terceira fase de funciona‑mento, com um financiamento que pode chegar aos 100 milhões de dólares americanos), o Programa de Apoio à Reinserção Social dos Deslocados e os Programas de Microrealizações. É importante que estes instrumentos façam parte dum todo coerente e consistente e sirvam os propósitos duma estratégia consequente de redução da pobreza.

A sexta, e última, linha de força situa ‑se no reforço técnico, gerencial e económico do empre‑sariado nacional, o qual deve operar ‑se por iniciativa e determinação próprias. Ao Estado e à política económica ficam reservados neste domínio particular a criação de todas as condições necessárias para tal desiderato e donde avultam a estabilidade dos preços, a desregulamentação dos mercados, a defesa da concorrência, a desburocratização da Administração, a disponibili‑zação de meios de financiamento, a oferta de infra ‑estruturas de transportes e comunicações operativas e modernas e a estabilidade política. Se o reforço tecnológico e económico do empre‑sariado angolano não se fizer rapidamente, a estabilização macroeconómica e a sua consolida‑ção no futuro, ao criarem as condições propícias para o investimento económico, acabarão por beneficiar, sobretudo, o empresariado estrangeiro. Claro que o investimento privado estrangeiro é importante e mesmo necessário para a modernização do tecido produtivo do país e o aumento da sua capacidade tecnológica, mas não deve prejudicar o desenvolvimento das forças produti‑vas internas, nem pôr em causa o controlo da economia nacional. Um aspecto importante desta matéria tem a ver com a confiança do sector privado que é absolutamente fundamental para o sucesso da política de estabilização. Num ambiente de crise de relacionamento a confiança do sector privado enfraquece, o que pode reduzir a efectividade das políticas de ajuste, levando, em decorrência, a menos investimento e produção. Por outro lado, o controlo e a disciplina orça‑mental devem conduzir ao aumento do investimento privado, já que a redução da procura de crédito do sector público acarreta um abaixamento das taxas de juro de mercado e um aumento da oferta do volume de crédito.

Um outro aspecto relevante prende ‑se com a base de acumulação financeira interna sem a qual não se estruturará a classe empresarial nacional. É uma temática a ser equacionada numa óptica de desenvolvimento e só resolúvel a médio prazo.

Finalmente emergem como aspectos determinantes para o reforço do empresariado ango‑lano a estruturação do sistema bancário e financeiro, a cooperação empresarial internacional e o rompimento das estruturas monopolistas existentes, algumas constituídas no quadro do processo de licenciamento das importações.

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3.5.1 A posição estratégica do sector da energia e águas para a reindustrialização e diversificação da

economia nacional

Estrangulamentos económicos ligados à fraqueza estrutural do fornecimento de electrici‑dade e água. Este sector de actividade, em vez de se colocar a jusante da dinâmica global da economia, tem ‑se situado a montante, isto é, em termos médios, a sua taxa real de variação tendencial tem sido inferior à do PIB. Uma boa e correcta estrutura energética e de água é um chamariz para a iniciativa privada.

Figura 18 – Índice da energia

FONTE: CEIC, ficheiro sobre a Energia.

As evidências empíricas internacionais mostram a importância das infra ‑estruturas para a reindustrialização dos países: vias de comunicação rodoviárias, ferroviárias, portuárias e aero‑portuárias, entrepostos comerciais, sistemas de transportes e sistemas de produção e distribui‑ção de energia e águas.

De acordo com o diagnóstico oficial em Angola, o subsector eléctrico é actualmente caracte‑rizado por uma série de estrangulamentos que tornam a energia escassa, cara e intermitente157:

• Subdimensionamento da infra ‑estrutura:

– Significativas restrições no acesso à electricidade, estimando ‑se em cerca de 30% da população com electricidade doméstica158.

– Fortes limitações na capacidade de produção de energia eléctrica, com uma taxa média de satisfação da procura de 50% (a diferença é suprida pela auto ‑geração).

157 Política e Estratégia de Segurança Energética Nacional, Decreto Presidencial n.o 256/11, de 29 de Setembro, Diário da República, I.a Série, n.o 188, 29 de Setembro de 2011.158 Os benchmarks situam ‑se entre 50% e 100% na Nigéria, África do Sul e Brasil.

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• Elevada inoperacionalidade dos activos, calculada entre 40% a 50% da infra ‑estrutura exis‑tente ao longo de toda a cadeia de valor, motivada pela intensidade de exploração, idade avançada dos equipamentos, falta de manutenção regular e insuficiência dos trabalhos de reabilitação.

• Custos elevados de fornecimento (220 dólares por MWh, cerca de 60% superiores aos de referência), justificados por perdas técnicas substanciais (15% do produzido, quando não deveria ultrapassar os 10%).

• Elevada subsidiação, com manutenção duma tarifa média de 42 dólares por MWh, supor‑tando o Estado 80% do custo total do sistema. Este desequilíbrio é agravado pelas perdas comerciais ocasionadas pelas ligações clandestinas e ilegais, não pagamento e deficiências no ciclo comercial das cobranças. Com estes desperdícios, o valor efectivo da tarifa cobra‑da é de 26 dólares por MWh distribuído, gerando ‑se sucessivos défices financeiros anuais (800 milhões de dólares em 2008)159.

• Défices financeiros estruturais das empresas públicas do subsector dos quais resulta uma situação patrimonial insustentável, inviabilizadora do recurso ao crédito bancário privado e sobrevalorizadora dos apoios do Estado a fundo perdido.

Para se poder fazer face ao esperado aumento da procura de electricidade até 2025 (estima‑‑se que a mesma passe de 5 TWh para 30 a 354 TWh) a Estratégia de Segurança Energética define duas fases: a primeira, de curto prazo até 2012, para se aumentar a capacidade de oferta do sistema de produção de electricidade de 1 GW para 2 GW, para se satisfazer o aumento de procura esperado. Os investimentos previstos rondam os 4 mil milhões de dólares.

Para a segunda, de longo prazo, prevê ‑se que o sistema garanta o aumento da capacidade de oferta de 2 GW para 9 GW em 2025, para o que será necessário um investimento acumulado de 13 mil milhões de dólares.

Generalizada fraqueza da capacidade científica e tecnológica nacional, o que limita a qua‑lidade dos quadros e mão ‑de ‑obra nacional. Este aspecto é retomado no capítulo 4 sobre a diversificação da economia160.

159 Esta situação pode ser considerada como uma das heranças do sistema socialista, onde tudo deve‑ria ser o Estado a fornecer e a prover. Continua instalada uma cultura paternalista, muito penaliza‑dora da economia e da sociedade.160 Ver a página 32, Considerações sobre o Knowledge Economy Index (KEI) do Banco Mundial e a importância que a qualificação dos recursos humanos tem para o crescimento e a diversificação das economias.

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Persistente má classificação no ranking do Doing Business do Banco Mundial (não se tem conseguido, desde que este indicador passou a ser divulgado, uma classificação melhor do que a 168.a posição)161.

Excessiva concentração do crescimento económico e dos recursos e factores de produção em Luanda162. Num primeiro andamento a concentração pode ser factor de crescimento pela via das “economias de aglomeração”, que se transformam em deseconomias quando a densidade da localização espacial se torna desmesurada163.

Em Angola, o que é necessário para a reindustrialização e a diversificação (entre muitas outras coisas):

• Definição de políticas industriais e de investimentos a longo prazo.

• Acentuação do papel de financiador do sistema nacional de investimento e desenvolvi‑mento do sector financeiro e bancário.

• A valorização do potencial humano e da inovação.

• A emergência de especializações em torno do reforço da oferta baseada em novos produ‑tores e novos produtos.

3.5.2 Policies of diversification in Angola

Arne WiigIvar Kolstad

Its potentially benign effects notwithstanding, diversification has been given little explicit attention in official Angolan policy up until quite recently. A thorough examination of official policy documents and economic plans has revealed that diversification was at best indirectly addressed up until the last 2000s. The National Medium Term Plan 2009 ‑2013, however, explici‑tly sees diversification as an objective, arguing for the importance of diversification at sectoral and provincial levels with priority to development of sectors related to natural resources, water, food, “habitat”, transport and logistics. Diversification was further discussed in the National Plan 2009, indirectly in the National Plan 2010 ‑2011, and some attention to the development of sectors outside of oil has been given in a subsequent presidential address on the state of the nation to the National Assembly.

161 World Bank, Doing Business, vários anos.162 “In terms of employment the Luanda area accounts for some 75% of the nation’s industry work places, 75% within trade, 92% in finance and 90% in the university sector”, in IRIS/University of Stavanger – Pilot Study on Scientific Knowledge Enhancement in Angola, Jan Erik Karslen and Christian Quale, 2011.163 Definidas como a redução dos custos resultantes da proximidade física de empresas do mesmo ramo ou de actividades complementares. As economias de aglomeração constituem, de certa forma, um caso particular de economias externas.

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The limited attention given to diversification in Angola raises questions of how to approach the issue of industrial policy in the country. There are a number of conventional constraints to diversification, such as a lack of human capital, weak infrastructure, high costs of doing business, and high currency rates. Angola suffers from a number of these, as reflected in indicators of its business environment. Each of the constraints can in principle be addressed through general or more sector specific interventions. For instance, interventions can focus on human capital, infrastructure or regulatory requirements of specific industries, or on more general improve‑ments in education, infrastructure and regulation that would benefit a number of industries. Sector specific interventions can also aim for a more or less radical departure from the current industrial structure; local content policies related to the petroleum industry represent a more narrow approach than for instance policies related to agriculture or manufacturing.

Our analysis indicates that diversification may have desirable effects on key challenges facing resource ‑rich countries. However, it also suggests that diversifying resource ‑rich economies through conventional means is not straightforward. While diversification improves chances of democracy in a country, it also undermines the power of the elite. Reforming domestic industrial policy to the detriment of the elite is likely to be difficult, and measures to increase diversifica‑tion may be resisted, undermined, perverted, or captured by elites in these countries. In addition to the conventional constraints, there are also political constraints to diversification. Designing policies for diversification without analyzing the political constraints to diversification may lead to the wrong policy prescriptions.

The distinction between more or less narrow specific and general industrial policies high‑lights an important dilemma or trade ‑off in this respect. Policies that aim to more substantially broaden the economic base will also undermine the elite’s hold on more power, and hence be less likely to be implemented. An elite is likely to favour local content policies which are related to the development of a sector under their control, over improvements in conditions for other industries, or in the general business climate. The contrast between the relatively passive role played by the Angolan government in developing industries outside of petroleum and its active emphasis on local content fits this political economy observation.

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CAPÍTULO 4: O ESTADO DA DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA NACIONAL

Francisco Paulo Ivar Kolstad

Arne Wiig Alves da Rocha

Fernando Pacheco Ana Duarte

4.1 Looking at macroeconomics fundamentals

Francisco Paulo

After becoming independent from Portugal in 1975, Angola faced an intense civil war that destroyed most of the economic infrastructure which led to the paralysation of most economic activities (agriculture and the industry) except the production of oil and diamond that were used mainly to finance the war. In 2002 the war ceased and eventually the country gained peace. With the peace Angola increased the production of oil and diamonds and started to invest in agricul‑ture and industry and other sectors of the economy such as services which led to the boom of GDP growth as we can see in the table below.

Table 1 – Angolan economic growth rates (after the war)

Annual GDP Growth (%) 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

GDP 3,4 11,7 20,6 18,6 23,3 13,8 2,4 3,4 3,4 5,2

Oil GDP ‑1 13,9 26,0 13,1 20,4 12,3 ‑5,1 ‑3 5,6 4,3

Non ‑Oil GDP 6,8 9,1 14,1 25,7 25,7 20,5 8,31 7,8 9,1 5,6

SOURCE: BNA, MINPLAN, IMF and Economic Reports of CEIC/UCAN.

A year after the cease of the war, Angola recorded a growth rate of 5,31%164 and from there on the average growth rate was about 17,01% from 2004 up to 2008. The peace allowed Angola to have a tremendous growth mainly due to the increase of oil production that was stimulated by the increase of the demand and price of oil in the international market. This period of high growth that Angola had from 2002 to 2008 is considered to be the mini golden age of the Ango‑lan economy165 given that Angola never in its history has had such remarkable growth.

164 According to Alves da Rocha this growth rate was due to the break in the growth production of oil in 2003 compared to the preceding year which led to a decrease of the overall rate of GDP since oil production represented at that time 54,9% of the GDP – Economic Growth in Angola to 2017 the Main Challenges, Angola Brief, December 2012, Volume 2, N.o 4.165 Alves da Rocha was the one that named this period as the mini golden age.

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These growth rates reveal how concentrated the Angolan economy is. As we can see in table 1, in every year that the oil sector had a negative growth (2003, 2009, 2010, 2011) the overall GDP growth rate is less and lower although the non ‑oil sector had a positive growth rate. The financial and economic international crisis was a wakeup call to the Angolan authorities since this led them to realize, after experiencing the bad consequences of relying only on the oil production, that it is crucial and necessary to diversify the economy as Jensen and Paulo (2011) argued.

The several projects of reconstruction that were implemented after the peace stirred most of the growth of the non ‑oil sector during the golden age period. Data from the Ministry of Planning show that during this period the sector of construction (public works and civil cons‑truction) had an average growth of about 30% whereas the agriculture was about 15%, and the manufacturing industry was about 25%. These higher rates of growth of the non ‑oil sector need to be interpreted carefully taking into account that after the end of the war the non ‑oil sector started, so to speak, nearly from the scratch thus having a very low base from where the growth started to be counted.

The current Gross Domestic production of Angola today is almost 8 times greater than what it was after the end of the war in 2002. In 2011 the GDP was estimated to be 104 thousand millions of USD whereas in 2003 it was about 12 thousand millions as the table 2 shows.

Table 2 – Population, GDP per capita and unemployment rates (after the war)

Indicator Name 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

GDP (current USD millions) 12 463,59 18 954,40 30 619,44 43 784,51 61 796,53 79 620,70 65 161,07 80 856,69 104 331,61 112 700,00

Population, total (millions) 15,42 15,96 16,49 17,01 17,53 18,04 18,56 19,08 19,62 20,61

GDP per capita 808,28 1187,81 1856,96 2573,99 3526,12 4414,06 3511,76 4237,35 5318,04 5468,41

Unemployment rate (%) 42,31 40,35 34,54 32,33 25,33 23,90 26,63 24,70 24,81 26,50

SOURCES: Unemployment rates from Economic Report of CEIC/UCAN; Population from World Bank database; GDP from WB database and the Ministry of Planning of Angola.

Since 2003 the Angolan total population has been growing on average at the rate of nearly 3% a year this is lower than the rate at which the GDP has been growing (an average of 10,5% from 2003 to 2012). This fact allowed a GDP per capita increase from USD 808,28 in 2003 to USD 5318,04 in 2011 contributing to the improvement of the Human Development Index that increased from 0,375 in 2000 to 0,508 in 2012, corresponding to an average annual increase of 2,6%166. Still in 2012 Angola was ranked at 148 out of the 187 countries, with a low human develo ‑ pment index. The life expectancy at birth increased by 6,3 years between 2000 and 2012 while in 2000 was 45,2 years, in 2012 was 51,5 years. The mean years of schooling has not increased so much since in 2000 this was 4,4 and in 2012 was still 4,7.

166 Human Development Report 2013, Explanatory note on 2013 HDR composite indexes, Angola.

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The unemployment rate is still very high according to the estimates of the research centre for scientific studies of Catholic University of Angola (CEIC/UCAN) although it has been decreasing from 2003 to 2011. Almost 24,81% of the labour force in Angola is unemployed, making life difficult for the majority of the households since without income they cannot feed their families thus contributing to the increase of the poverty rate among the population.

The high unemployment can be explained on the one hand due to the lower years of schoo‑ling of the labour force (most of the companies import a lot of workers from abroad arguing that is due to the lack of skilled local workers) and on the other hand due to concentration of the economy on oil production which is highly capital intensive requires fewer workers in com‑parison to the non ‑oil sector such as agriculture, manufacturing industry and services. Thus, endeavouring to diversify the economy will for sure help to increase the employment rate and decrease the unemployment among the labour force in Angola and consequently decrease the high poverty rate that still plaguing the Angolan population and improve their life conditions. This can be one of the most important channels for diversification to improve welfare.

With the end of the war the Angolan government managed to set economic policies that allowed the country to achieve macroeconomic stability regarding the main macroeconomic variables such as the inflation rate, the exchange rate and the net international reserves. Having those variables stabilized was fundamental and it still is today, to ease the business climate and to inspire trust and confidence to the investors and entrepreneurs, making them to feel com‑fortable to invest in the economy.

Table 3 – Other macroeconomics variables

Others macroeconomic variables 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Inflation Rate (%) 76,56 31,02 18,53 12,21 11,78 13,17 13,99 15,31 11,38 9,02

Exchange Rate (AOA/USD) (average) 78,79 85,63 80,78 80,08 74,83 74,85 89,40 92,64 95,28 95,83

Net Intern. Reserves (USD millions) 623,3 527,5 3194,5 8193,2 11 235,6 17 876,9 13 679,1 18 796,8 26 320,6 30 828,1

SOURCES: INE, BNA; CEIC/UCAN.

As table 3 shows the inflation rate was very high in 2003, in the first year of peace, it was 76,56% and four years later, in 2007, the inflation rate was 11,78%. This tremendous reduction was due to the good monetary policy and instruments used by the Central Bank (Banco Nacional de Angola) to reduce and stabilize the inflation rate and they managed to do so. In order to inspire trust to the investors in the economy, because of the high inflation, at that time the Central Bank allowed the use of the United States Dollars as currency along with the local currency kwanza (AOA) in the economy. Everyone could use dollars in almost every transaction even to pay salaries and ask loans from the commercial banks and this was particularly convenient and good to the importers and exporters given that they used dollar in their international trade.

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The Central Bank used the exchange rate (kwanza (AOA)/dollar) as an anchor to keep the inflation rate (measured by the consumer price index) under control and reducing in this way the prices of goods and services in the economy167. As we can see on the table 3, the reduction of inflation was related with the reduction of the exchange rate from 2003 to 2007. In order to have the exchange rate lower and under control the Central Bank used the net international reserves. In this period of the golden age168 the export of oil was excellent and this allowed the Central Bank to have the dollars needed to stabilize the exchange rate and controlling in this way the inflation rate. Nevertheless, at the end of 2008 with the start of the international crisis the export of oil dropped dramatically affecting negatively the inflow of the international reserve in the economy. This fact put the Central Bank in an awkward and difficult situation since they could no longer count on the international reserve to control the exchange rate and the inflation rate. That is why we saw an increase of the inflation rate from 2008 to 2010. But in 2011 and 2012 with an increase in the price of oil in the international market, things slightly improved, as it was possible to keep the inflation under 10% in 2012, with the international reserves reaching the value of 29 thousand millions of dollars, almost 27% of GDP and representing more than 7 months of imports.

But the problem of inflation in Angola is not only a monetary one; other factors also play a big role such as the quality of the infrastructures and of the institutions (the port, the Customs, the customs brokers, the high level of bureaucracy in these institutions); the lack of the national production of most of the consumable goods that leads the country to import more than 60% of this type of goods and importing in this way also a part of the inflation; and the lack of law enforcement with regard price speculations, etc.

Regarding the bureaucracy in the institutions, most of the companies that respond to the quar‑terly169 survey done by the CEIC/UCAN to measure the climate of doing business in Luanda complain about the efficiency of the instructions related with the international trade and the quality of infra‑structures (such as electricity, water, telecommunications, roads and other facilities) since these factors, according to them, make the cost of doing business too high. This fact is not surprising since the report of the World Bank on doing business ranks Angola in the group of countries where doing business is not easy and is highly costly. The Report of 2013 ranks Angola in the position 172170 out of 185 worldwide and among the factors that contributes to this are the length of time needed to

167 The Consumer Price Index used to measure the inflation rate by the National Bureau of Statistic (INE) refers only to prices of the capital of the country (Luanda) and not of all the country (the 18 provinces). According to INE this is so due to the lack of infrastructures and staff to cover all the coun‑try. Then the inflation rate presented are only of Luanda and it is important to highlight that more the 70% of the economic activities are concentrated in Luanda as Alves da Rocha documented in his book on regional unbalances and inequalities in Angola (2010). 168 As Alves da Rocha calls it.169 This quarterly survey is called Barómetro de Conjuntura Económica (Barometer of the Economic Conjuncture) and surveys more than 150 companies to get their perception if the climate of doing business in the prior quarter was favourable to them or not. 170 Doing Business Report 2013, pp. 4 and 5, World Bank.

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start a business, the difficulties to get property registration, construction permits, credit and loans and the difficulties to trade across the borders. Then if Angola really wants to diversify its econo my and consequently its exports it is imperative to improve and ease the climate to do business.

In summary the macroeconomic variables presented in the table 3 also help us to see how important and fundamental it is to diversify the Angolan exports in order to achieve a more sustainable macroeconomic stability and to ease the environment to do business. The coun‑try needs urgently to have other main products of exports besides oil, in order to diversify its source of international reserves. The Angolan authorities and policymakers should take to heart the wakeup call that the international crisis aroused and commit themselves to diversify the econo my and its exports. The depreciation of the kwanza in relation to the US dollar would have been a great opportunity to export more products if Angola exported more of other products rather than oil, in view of the fact that with the depreciation of the local currency the exports become cheaper to the international buyers.

4.2 The structure of the economy

Francisco Paulo4.2.1 The GDP’s structure

The Angolan Gross Domestic Production is made of or comes from several economic activi‑ties such as agriculture, fishing, diamonds and other minerals, oil, manufacturing industry, construction, energy and water, merchant services and other services (banking, insurance, tele‑communications and so on). But as for the sake of national accounts and statistics, the GDP is divided or grouped in two main categories of production: oil and non ‑oil. The oil GDP refers to all production related with the extraction of crude oil and its derivatives and refinery, whereas the non ‑oil GDP is the production of all other goods and services without including the oil sector. The figure 1 shows the structure of the Angolan GDP according to the classification stated above.

Figure 1 – Structure of GDP

SOURCE: Data from BNA, MINPLAN, CEIC/UCAN and own calculations.

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As we can see from the figure 1, from 2003 up to 2008, during the mini golden age, more than half of the all Angolan Gross Domestic Production was oil related production, showing how concentrated the Angolan GDP was, the whole economy depended solely on one commodity. The non ‑oil sector production all combined (agriculture, fishing, diamond and other minerals, manufactu ring industry, construction, energy and water, merchant services) was less than 45% of GDP on average.

From 2009 to 2011, the years of the international crisis that affected deeply the price of oil, the non ‑oil GDP was able to overcome the weight of the oil sector in the economy, weighting more than 53% of the total GDP. In our understanding this was possible for the most part due to the two factors:

• Firstly due to the accumulative decrease of oil production in this period of 13,7% (on ave‑rage ‑4,57 of decrease per year) compared to period of 2004 to 2008 where we had po‑sitive growth rate of the oil sector; doing a simple empirical calculations171 we see that during this period the decrease of oil production led to the accumulative destruction of the growth of the overall GDP of about ‑6,33%, on average about ‑2,1% year.

• Secondly owing to the positive modest growth of the non ‑oil sector that on average was 8,2% year. If was not for this positive growth of the non ‑oil sector, Angola could have faced a big recession. During this period this sector was able to have an accumulative contribu‑tion to the overall growth of GDP of about 13,26%, on average 4,42 per year.

4.2.2 The export structure

Before presenting the composition and structure of the Angolan exports let us first have a quick view of its position in the international trade and within the different regional and inter‑national organizations that is part of.

Angola is a member of the World Trade Organization, a worldwide organization whose pri‑mary purpose is to open trade for the benefit of all172 involved in the international trade. The country got WTO accession on 23 November 1996, eleven years after the establishment173 of this organization with more than 150 countries members. Belonging to this organization can actually be good and advantageous for the country given that as a member it has opportunity to export its products to all other members without great obstacles concerning tariffs and import duties that might hinder the international trade. And as a member of the Least Developed Countries negotiation group within the WTO, Angola as a poor country can get special preference to export

171 The calculations imply just multiplying the growth of the oil sector with its respective weight on the GDP (growth oil GDP × % oil sector on GDP).172 http://www.wto.org/english/thewto_e/whatis_e/wto_dg_stat_e.htm.173 The WTO was established in January 1, 1995. It has its headquarters in Geneva, Switzerland. On March 2, 2013 the WTO had 159 countries as members.

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its agricultural and some manufacturing products to developed countries, under the Generalised System of Preferences, thus by diversifying the exports Angola can benefit and take advantages of being member of the WTO.

Data from WTO gives note that in 2011 Angola’s share in the world total exports was about 0,37% whereas the imports were 0,11%.

Table 4 – Angolan trade profile in 2011

Breakdown in economy’s total Exports Imports

Merchandise trade (million USD) 66 996,00 20 190,00

Agricultural products 0,0% 23,0%

Fuels and mining products 98,3% 6,3%

Manufactures 1,7% 70,2%

Commercial services trade (million USD) 732,00 22 415,00

Transportation 3,6% 16,2%

Travel 88,3% 0,8%

Other commercial services 8,1% 83,0%

SOURCE: WTO database.

Those figures per se do not give us much information. It is important to breakdown those figures to see deeper and obtain meaningful information about the Angolan exports. As we can see in the table 4, of all merchandise exported, 98,3% was just mineral, that is oil and diamonds whereas manufactures were only 1,7% and agricultural products almost zero. Looking at the imports we see that 23% of them were agricultural products and 70% manufactures. Here we see a great room to diversify the exports, if Angola could invest in agriculture and manufactu‑ring could reduce some imports of these goods and even export more, reducing in this way the weight that oil and diamonds have.

Table 4 also gives us information regarding the export and import of commercial services. 88,3% of exported services were travel whereas other commercial services (such as communi‑cation, construction, insurance, financial, computer, information, other business, and cultural and recreational services, and royalties and license fees) were just 8,1%, too low in comparison to the imports of these services that were 83% of the total imported commercial services. These figures tell us that Angola can as well diversify its exports by investing in the sectors of com‑mercial services and export more of these services than what is being done currently. For that purpose to be accomplished it is crucial to invest in quality education among the population and especially the young generation.

Now we are going to look at the breakdown of the Angolan exports according to the figures from the national customs services of Angola to see in details the main products exported by the country and their respective weight in the nations total exports.

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According to the Standard International Trade Classification (SITC) revision 3 at 3 level of the United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), the export lines of Angola are made up of many products such as crude oil, diamonds, refined petroleum, natural gas, coffee, sisal, fish and fish products, timber, cotton, agricultural products and many other products and services. According to the National Customs the export line of Angola contains more than 2 thou‑sands products; but the most exported number of products, with the monetary value greater than 100 000 USD, is shown in the figure 2.

Figure 2 – Number of products exported with value > 100 000 USD

SOURCE: UNCTAD database.

As we can see in the figure 2, in 1995 Angola exported 31 different products with monetary value higher than 100 000 USD and considering the period between 1995 and 2001, a period of war, the average in this time was 50 per year; after the end of the war in 2002, the average number of the most exported products increased. Between 2002 and 2011 the average was 69 without including 2007 and 81 if 2007174 is included.

Out of all total number of exported products, crude oil, refined oil, gas, and diamonds are among the main exported products and the crude oil is of course the most exported product of all.

174 The year 2007 was an outlier in the history of the economic growth of Angola since in this year the country recorded the highest growth rate of its economy and thus the high level of the num‑ber of products exported which the monetary value was greater than 100 000 USD in 2007 can be explained due to this fact. Some facts might explain this: in 2007 Angola joined the Organization of Petroleum Exporting Countries (OPEC) and also in this very year Angola got a credit line from the Chinese Eximbank amounting to USD 2,5 billion (in 2004 and 2005 Angola had already received up to USD 4 billion).

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Figure 3 – Composition of the Angolan exports

SOURCE: Alfandegas of Angola and BNA.

The figure 3 shows clearly how the Angolan exports are concentrated on just one product, which is the crude oil. In 2004 more than 92% of the total export was crude oil and this percen‑tage is increasing from year to year as we can see in the figure 3. From 2004 to 2012 the export of crude oil on average was 95% of the exports; just in 2012 alone the weight was more than 96%. The weight of diamonds in the total value of the exports has been decreasing since 2004, in this year more than 5% of the total exports were diamonds whereas in 2012 the weight was less than 2%. The weight of refined oil is on average almost 1% of the exports strikingly inferior to the export of the crude oil. This shows that nearly all crude oil that Angola produces is not refined within the country but is sold as such; even part of the refined oil that is consumed internally is imported from abroad175.

The export of natural gas is on average 0,5% of the total exports; these figures would actu‑ally be higher if Angola did not burn most of the natural gas coming from the process of the extraction of the crude oil. But with the implementation of the Angola LNG Project176, a specific factory (industry) destined to recover and treat the natural gas and then export it, the weight of the natural gas in the total exports will certainly increase in the near future.

175 According the Report of the Alfandegas of Angola (Angolan Customs) 2012, the imported refined oil is on average more than 4%.176 Angola LNG is a project that is being implemented in the province of Zaire and was established in 2008. According to the website of the Project, Angola LNG has the potential to produce one billion cubic feet of clean gas per day for domestic and international markets. The facility will be supplied by the over 10 trillion cubic feet of gas reserves that are available from offshore blocks of crude oil extraction 0, 1, 2, 14, 15, 17 and 18 (http://www.angolalng.com/project/aboutLNG.htm).

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The other exports comprised on average more than 50 products out of 57 in 2004 and in other years more than 85% of the total number of products exported. But in terms of percentage weight in the total value of the exports they represent less than 1% of the total value of exports. What room to diversify the exports Angola has, just by increasing the intensive margin and not even touching the extensive! To increase the intensive margin of these other exports, the authori‑ties should know exactly who are the ones that export these products, what challenges they are facing and what can be done to help them, why they do not export more quantities of these goods and so forth. Because on their own the small enterprise exporters or the small companies that export cannot or are not able to export more quantities without help (either financial or by facilitating the process of obtaining an export credit line177, either institutional by easing the bureaucracy of the institutions that deals with the exports) from the authorities.

In the figure 3 we also see that the weight of coffee in the total exports is almost zero throughout the years; this fact really saddens those who know the history of the Angolan exports. The young generation would not believe that before the independence from Portugal in 1975, for more than 20 years coffee was on the top of the main exported products and in the period of 1960 to 1973 Angola was the 4th biggest producer and exporter of coffee in the world! At that time coffee represented on average more than 30% of the total exports being the most exported product, followed by diamonds, cotton, sisal and agricultural products representing on average 9 to 15%178.

Angola started exporting oil in 1959; in 1960 the share of oil was 0,74% and only in 1973 the crude oil was on the top of the most exported products179, constituting 30% of the total export, whereas coffee 26%; from there on coffee almost disappeared from the commercial balance, letting crude oil and diamonds alone to dominate180.

The civil war that occurred soon after the proclamation of the independence affected dra‑matically the agricultural production, since farmers were destroyed and most of the arable lands were mined with the land mines. However, fortunately the war is over now and most of land mines are being cleared. Then this is the time to invest again in coffee and cotton production and start exporting these products again as it was before the independence. Once more, the figures of the coffee exports show us that it is indeed possible to diversify the Angolan exports by focusing not only on the extensive margin but particularly on the intensive margin, by promoting the increase of the production and exports of coffee, cotton and other agricultural products.

177 Many countries have Export and Import Banks that help their companies to export more and more since without money is very hard to export products successfully and find new markets. In this regard we have the Eximbank of the USA, of China and other countries. 178 Dilolwa, Carlos Rocha, História Económica de Angola, Editora Nzila 2000, pp. 120 ‑149.179 Dilolwa, Carlos Rocha, História Económica de Angola, Editora Nzila 2000, p. 99.180 Unfortunately from 1975 to 1989 there are almost no records of the trade or export of coffee.

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Now if we aggregate the exports in just two categories, as we did in the GDP, oil and non ‑oil exports we clearly see the highly concentration of the Angolan exports.

Figure 4 – Structure of the Angolan exports

SOURCE: BNA and Alfandegas of Angola.

As can be seen in the figure 4, only in 2004 and 2005 the oil export were less than 95% of the total exports but from 2006 onward the weight was more than 96% and in 2012 the weight reached 98%! As obvious the weight of the non ‑oil exports has been decreasing since 2004 and in 2012 was only 2%.

According to the data that we are analysing there is no evidence of export diversification process in Angola given that the oil export is getting more and more weight whereas the non ‑oil is decreasing. The facts are unambiguous and very clear that something must be done soon in order to free the Angolan economy from the total dependence on the crude oil, by engaging with commitment in the process of diversifying the exports.

4.2.3 Angola’s main trade partners in the exports

Angola has trade relationship with many countries around the world, importing181 most of the goods and services from them and exporting to them its main export products namely crude oil and diamonds. The main trade partners to whom Angola exports its products are presented in the figure 5.

181 We do not present the imports in this work because our focus is just on the exports. But data from National Customs Services and the Central Bank show that the main import partners are: Portugal (18%), China (11%), USA (7,6%) and others. See the Appendix p. 55, table 12.

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Figure 5 – Top 10 of Angola’s main trade partners (in exports)

SOURCE: BNA and Alfandegas of Angola.

As can be seen in the figure 5, since 2007 China has become the main trade partner of Angola in the exports, being the country where more than one third of crude oil is exported182; the USA is the second biggest trade partner183, followed by India, Taiwan, Canada, South Africa, Portugal, France, Holland and Spain. The other countries comprise more than 20 countries such as the UK, Sweden, Switzerland, Japan and others.

The oil exports have been concentrated on China; this makes the country depend on one or few importers which can cause troubles in the future. Diversifying the destination of exports might also be away to diversify the exports itself, since by doing so the country is promoting what it produces and attracting in this way more buyers.

It is interesting to see that among the top ten there is only one African country, South Africa. Angola is a State Member of the Southern African Development Community (SADC), a regional economic community comprising 15 Member States founded in 1992 which aims, among others,

182 Jensen and Paulo (2011) argued that “China is by far the largest Angola’s creditor which lent more than USD 14,5 billion (thousands million) up to 2011” for the process of national reconstruction that has being carried out by the government after the end of the war. As part of the guarantee of the debt, Angola and China agreed that China would have privilege on the export of the crude oil. This can be one of the reasons why China has become the main trade partner of Angola regarding the exports of oil. 183 The USA was the biggest trade partner in the exports (oil) of Angola since the independence up to 2006.

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to promote sustainable and equitable economic growth and socioeconomic development through efficient, productive systems, deeper cooperation and integration184, and achieve eco‑nomic regional integration by promoting a free regional trade. In this Community Angola is the second biggest economy after the South African economy which is the biggest economy in the region and in the continent. Congo, Zambia and Namibia (countries that share borders with Angola) are also members of this community185 and the trade between them is very low, almost zero. Then in the process of exports diversification, Angola has a regional market with more than 270 million of inhabitants where it can export its products and enhance the competiveness of its firms or companies. With the construction of the Refinery of Lobito probably the export of refined oil to the countries of the region will be more significant than what is seen today.

4.3 A concentrated economy

Arne Wiig Ivar Kolstad

The concentration of the Angolan economy is extremely high. In fact, Angola has the second most concentrated economy in the world in terms of exports, beaten only by Iraq. The top half of table 5 presents the ten most concentrated economies of the world, the bottom half the ten most diversified economies. As the top of the table indicates, the most concentrated economies tend to be oil producing ones in Asia, Africa and Latin America. Among the least concentrated economies from the bottom of the table, we find a number of developed European countries the most diversified being Italy, Germany and Austria, and also the United States and China. In the table, countries are ordered by their score on the Theil index but the ranking does not change much if we instead use the Herfindahl or Gini indexes. Iraq and Angola remain the most con‑centrated, and the same countries tend to be among the most diversified. The picture changes a bit more if countries are ordered by the number of products they export, this tends to push smaller and poorer countries towards the high end of concentration.

Table 5 – Ten most concentrated and ten most diversified economies in the world, 2011

Country Export products Theil index Herfindahl index Gini index

Iraq 668 8,480577 0,9878063 0,9982079

Angola 680 8,354405 0,9464675 0,9978949

Chad 152 8,259516 0,9091074 0,9917966

Eritrea 158 8,020873 0,9165822 0,9864095

Sudan 569 7,958477 0,824419 0,9951745

Venezuela 2029 7,832878 0,7315947 0,9978372

184 SADC mission statement (http://www.sadc.int/about ‑sadc/overview/sadc ‑mission/).185 The other members are: Botswana, Lesotho, Madagascar, Malawi, Mauritius, Mozambique, Sey‑chelles, Swaziland, Tanzania and Zimbabwe.

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Country Export products Theil index Herfindahl index Gini index

Azerbaijan 1450 7,777124 0,7717369 0,9958887

Gabon 612 7,739021 0,6910733 0,9957256

Congo 552 7,738413 0,7334283 0,9940432

Equatorial Guinea 271 7,668503 0,6006376 0,9920844

Czech Republic 4553 2,369045 0,0072619 0,8830778

United States 4939 2,33323 0,0115188 0,8749446

Turkey 4521 2,180637 0,0054508 0,8693475

Spain 4739 2,171961 0,0094431 0,8466359

Poland 4560 2,156763 0,004799 0,8715453

China 4895 2,154203 0,0089939 0,8453763

France 4801 2,146459 0,0100328 0,8488799

Austria 4595 1,9556 0,0036046 0,855015

Germany 4812 1,896379 0,0060665 0,82263

Italy 4783 1,745633 0,004665 0,8148357

SOURCE: Authors calculations.

The high level of concentration in Angola reflects an economy that revolves almost completely around oil. Table 6 shows the ten products categories with the highest export values in 2011, with values in 1998 for comparison in the last column. Crude oil completely dwarfs the other products, with exports of almost 50 billion USD in 2011 compared to exports in the millions for the other product categories. What there is of exports in other categories tends to be dominated by raw and base materials and distillates of petroleum. There is little in terms of other processed exports on any major scale. Consistent with this pattern, only four Angolan companies make it onto a 2010 list of the 500 largest non ‑financial corporations in Africa in term of revenues; oil companies Sonangol and Total E & P Angola, and mining companies Endiama and Catoca.

Table 6 – Top ten Angolan exports, 2011

Product nameExport value 2011

(1000 USD)Export value 1998

(1000 USD)

Petroleum oils, oils from bituminous minerals, crude 49 014 632,00 2 577 355,75

Oils petroleum, bituminous, distillates, except crude 635 807,13 66 699,49

Diamonds (jewellery) unworked or simply sawn, cleaved 213 688,70

Propane, liquefied 199 047,17 376,47

Butane, liquefied 51 826,68 212,74

Ferrous waste or scrap, nes 48 420,45

Petroleum gases & gaseous hydrocarbons nes, liquefied 35 005,72 42 149,45

Granite, crude or roughly trimmed 25 768,87 489,57

Shrimps and prawns, frozen 9404,28 21 202,32

Copper/copper alloy waste or scrap 8853,39 214,12

Total exports 50 386 640,00 2 754 535,25

SOURCE: Baci.

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It is not that surprising that other industries have trouble being competitive in an oil ‑rich economy. A hugely profitable oil sector tends to drive up factor prices and/or currencies, leaving other industries at a considerable cost disadvantage internationally. But even for an oil country, the concentration of the Angolan economy seems high. A closer look at the evolution of exports over the last decades provides some clues as to why, as well as some nuances in the overall picture of extreme concentration.

4.3.1 Concentration increased after the end of the civil war

The end of a civil war is likely to improve the overall business environment in a country. There are some indications that this also happened in Angola after the civil war ended in 2002. The number of export products has risen steadily since the end of the war, from around 450 active export lines in 2002 to 680 products in 2011. Some industries also saw considerable increases in export volumes in the period after the civil war.

Figure 6 – Number of products exported from Angola, 1998 ‑2011

SOURCE: Authors calculations.

However, though more products are being exported from Angola, export volumes of new products remain at low levels, in relative and absolute terms. And at the same time, Angola has experienced a considerable increase in export revenues from oil. Figure 7 documents the increase in the period after the civil war, reflecting high oil prices and the phasing in of oil pro‑duction from deep ‑water reservoirs. The rise in oil exports in this period is behind what has been term the mini golden age in Angola, where economic growth was in the double digits in the period 2002 ‑2008.

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The increase in oil export since 2002 dominated any increase in the number or volume of other products, leading to an overall increase in concentration of exports. This overall increase is shown in figure 8 for the Theil index of concentration (whose scale is on the left vertical axis) and the Gini index (scale on the right vertical axis). While Angola was already highly concentrated at the end of the civil war, concentration has risen even from this high level, leading to the current extreme level of industrial concentration in Angola.

Figure 7 – Exports of crude oil from Angola, 1998 ‑2011

SOURCE: Baci.

Figure 8 – Theil and Gini indexes for Angola, 1998 ‑2011

SOURCE: Authors calculations.

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4.3.2 Concentration has been increasing since independence

The increasing concentration of the Angolan economy in recent years has added to a more long ‑term process of concentration and de ‑industrialization that has been ongoing since inde‑pendence in 1975. It seems obvious that diversification of the Angolan economy was far greater at the time of independence than today, even though the lack of detailed exports data prevents the calculation of indexes comparable to those used above. Before independence, agriculture dominated the Angolan economy, particularly coffee of which Angola was the fourth largest producer in the world. Coffee was the largest export until overtaken by oil in 1973, when oil represented 30 per cent of total export earnings. Until 1975, Angola was a net exporter of food, particularly maize, and had a stable fishing industry. In the early 70’s, Angola was also the world’s fourth largest exporter of diamonds, with an annual production of around 2 million carats, and a major exporter of iron ore. Angola also had a manufacturing industry based on simple technologies, in food, textiles, paper, glass and other products.

With independence in 1975 came a number of events and changes which led to a decline in agriculture and manufacturing production and exports. With the exodus of portuguese settlers after independence substantial technical and management capacity and expertise was lost. The internal military conflict was associated with immense human, material and financial losses, leading to rural exodus to the cities, destruction of infrastructure and degradation of public services. And a socialist, centrally planned economic system imposed a series of dis‑tortions and led to a poor allocation of resources and factors of production. As infrastructure and the security in rural areas deteriorated, agricultural exports – which flourished during the 1960’s and the early years of the 70’s – virtually disappeared and food production declined rapidly. Economic distortions, inflation, mismanagement and unproductive investment led to falling productivity and the decline of the manufacturing sector. While market reforms started to be introduced in the late 1980’s and early 1990’s, the return of civil war after the 1992 elections reduced their effect. The decline in agriculture and manufacturing in the first two decades of independence all happened against the backdrop of increasing reliance on oil exports.

4.3.3 Why diversify?

Avoiding the Dutch disease is the most common argument behind diversification of econo‑mies concentrated in primary products like petroleum or minerals. Natural resources like oil tend to crowd out manufacturing activity in a country, which may lead to the loss of technologi‑cal progress and to lower growth prospects. Diversification is seen as a way of preventing such decreases in productivity by broadening a country’s economic base. Other economic arguments for diversification are reduction in volatility and vulnerability to deteriorating terms of trade that comes from reliance on a single industry. However, even with costs in terms of forgone productivity gains, and increased volatility and vulnerability, it is not obvious that countries

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benefit from diversification rather than concentrating their inputs on the hugely lucrative oil sector. Some degree of Dutch disease, volatility and vulnerability may be optimal. While empiri‑cal results show that richer countries are more highly diversified, it is unclear what the causal relation is between income and diversification, or if indeed there is one.

The main problem facing resource ‑rich countries like Angola may be political rather than economic, however. Institutional dysfunctions, in particular a lack of democratic accountability, create problems of patronage and rent ‑seeking. Public resources are used to shore up the power of the ruling elite to secure their continued access to rents from petroleum resources, rather than invested in economically sound activities that would improve development outcomes for the Angolan population. For diversification, the important question to ask is therefore whether a more diversified economy would also improve prospects for democracy. For this reason, political effects of diversification have been a main focus of the recent CEIC ‑CMI project on Diversification of the Angolan Economy.

The project has provided an analysis of possible mechanisms through which diversification can affect prospects for democracy. A more diversified economy likely has a less unified elite, and citizens who have better outside employment options and hence less to lose from challenging the elite. On the other hand, diversified economies may experience fewer economic crises in which opportunity costs of challenging power are lower, and hence see fewer transitions from authoritarianism to democracy. Our empirical analysis suggests that the former mechanisms are more important; we find a significant and sizeable positive effect of diversification on democracy. This indicates that less concentrated economic power in a society leads to more widely distribu‑ted political power. An important effect of diversification is therefore that, at least in principle, it can improve chances of democracy.

4.4 Export concentration index (Herfindahl index)

Francisco Paulo

The Angolan export structure showed that the exports are concentrated on just one com‑modity which represents more than 95% of the total value of the exports. In this section we are going to look at the exports concentration indicator (Herfindahl index) computed by the United Nation Conference on Trade and Development for all countries members since 1995; of course our attention is on the case of Angola and some countries within the Southern African Develop‑ments Community region just to help us make some comparisons.

It is important to remember that the Herfindahl index is normalized to range between zero and one; a value close to zero implies full export diversification, whereas values close to one mean a high export concentration.

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Figure 9 – Angola’s Herfindahl index

SOURCE: UNCTAD database.

Figure 9 is unambiguous about how highly concentrated the Angolan exports are, the Her‑findahl index is above 0,9 very close to 1 the upper limit of concentration. It is noteworthy that from 1997 to 2001 the concentration index is lower than 0,9 and within this period in 1998 and 1999 was recorded the lowest concentration index being this 0,85. One of the reasons that might explain this fact is the higher diamond production and exports that occurred in this period and the lower crude oil production due to the intensity of the war in these years, helped decrease the exports concentration index. With the end of the civil war in April of 2002 the concentration index started to increase again reaching the value of 0,97 in 2011. During the period of peace from 2002 to 2011, only in 2007 was recorded a lower index (0,92) throughout all this period. This is not surprising since in the figure 2 we saw that in this year Angola exported the lar‑gest number of products which monetary values were higher than 100 000 USD recorded in its mo dern history, more than 190 different products and experienced the highest economic growth rate; of course this explains the lower concentration index in 2007.

How does Angola compare with the other countries within SADC? Figure 10 helps us answer this question. The average export concentration of SADC is about 0,4186 and we selected some countries to compare with Angola.

186 This is an arithmetic average that was computed by us according to the data from UNCTAD of the 14 countries member of SADC available; although there are 15 countries, we just used 14 because data for Madagascar is not available.

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Figure 10 – Herfindahl index of some SADC countries

SOURCE: UNCTADstat.

Figure 10 shows that by far Angola is the country with the highest export concentration index within SADC, its index being two times higher than the average of the region. Botswana, Zambia and Mozambique also have a concentration index above the average of SADC but far from those of Angola. Namibia, Zimbabwe and South Africa187 present an index much below of the SADC’s average, meaning that these countries are the ones with more diversified exports within region. Clearly Angola can learn from them how to diversify the exports given that those countries managed to differentiate their exports.

Comparing Angola with the countries of SADC alone can be misleading since among the SADC’s countries Angola is the biggest crude oil producer. To avoid what some people might call an unfair comparison, we will now compare Angola with other African and non ‑African countries main producers of crude oil to see how concentrated their exports are in comparison to Angola.

187 South Africa is the country with the lowest export concentration index in the region, its concentra‑tion index being on average 0,12. This means that South Africa is the country that has more diversi‑fied exports in the region followed by Zimbabwe (0,24) and Namibia (0,27).

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Figure 11 – African oil ‑producing countries

SOURCE: UNCTADstat.

Figure 11 shows us the export concentration index of the biggest African oil ‑producing coun‑tries, still Angola is the country with the highest export concentration although is not the biggest crude oil producer in the continent188. The average export concentration index of these countries is about 0,67 and Angola is very above of this average; Nigeria (the biggest oil producer); Libya, Sudan and Equatorial Guinea are also above the average showing that they have a high export concentration index but lower than of that of Angola. Algeria and Egypt have their export con‑centration index below the average; and Egypt with the average index of 0,26 is managing to reduce its concentration index particularly since 2007, whereas with other African oil ‑producing countries the index is increasing. Algeria is the second biggest oil producer in Africa producing more oil than Angola; even so its export concentration index is on average 0,54, much lower that of Angola (0,92 on average). The fact that not all African oil ‑producing countries have a high export concentration index (above 0,9) seems that high export concentration does not have to do with oil production per se, but yes it has to do with the internal economic policies and priority of its government regarding the sectors of the economy they will focus on according to their objectives and goals.

For the sake of completeness we are going also to compare the export concentration index of Angola with that of the other oil ‑producing countries outside of the African continent to see if they also have a very high concentration index. The figure 12 plots the export concentration

188 In 2011 Nigeria was the biggest producer with 2,4 million of barrels per day, followed by Alge‑ria (2,07 million), then Angola the #3 (1,9 million), Libya the #4 (1,7 million), Egypt the #5 (662 thousand), Sudan (514 thousand) and Equatorial Guinea (322 thousand), according to index mundi (http://www.indexmundi.com/g/r.aspx?v=88).

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index of some major oil ‑producing and exporting countries in the world189 along with that of Angola to see how concentrated their exports are in comparison with Angola.

Figure 12 – Some world oil ‑producing countries

SOURCE: UNCTADstat.

It is interesting to see that Angola is sharing the rank with Iraq as the oil ‑exporting countries with the highest export concentration index. In 1995, 1996 and 2004 Angola had the highest index whereas in the remaining years Iraq is on the top. Throughout all of this period the average index for Angola is 0,92 as for Iraq is 0,94. Saudi Arabia, Russia, Emirates, Norway and Kuwait, that export more oil than Angola, they all have an export concentration index lower than Angola, showing that besides oil they export other goods and services. Venezuela almost exports the same quantity of oil as Angola, but its export concentration index is much lower (0,61 on avera‑ ge). Just exporting a large quantity of crude oil does not necessarily imply that a country will have a high export concentration index as in the case of Angola. The world’s biggest oil ‑exporting countries, as the figure 12 shows, do not have export concentration indexes as high as Angola has.

The year 2007 recorded a slight decrease of export concentration index of almost all oil‑‑exporting countries except Iraq and Kuwait. In the case of Angola the decrease is really notewor‑thy since its line is very close of that of Iraq and in this year there is a notable gap, greater that of 2009 when all countries were affected severely the financial and economic international crisis.

189 Saudi Arabia is the world biggest oil exporter (7,6 million barrels per day), Russia ranks the #2 exporter (5,01 million barrels per day), Iran the #3 (2,5 million barrels per day), United Arab Emira‑tes the #4 (2,3 million barrels per day), Norway the #5 (2,1 million), Iraq the #6 (2,1 million), Kuwait the #7 (2,1 million), Venezuela the #12 (1,8 million). Angola is ranked the #13 (1,8 million) (http://www.indexmundi.com/g/r.aspx?v=88).

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CEIC / UCAN

4.5 Indicadores de diversificação da economia nacional

Alves da Rocha

As experiências analisadas provam que a agricultura e a indústria são os suportes de um processo de industrialização com diversificação, eficiência e sustentabilidade. Naturalmente também as políticas correctas e ajustadas, no domínio macroeconómico, como a monetária e a orçamental. Os processos angolanos de industrialização – sem repetir o modelo colonial, baseado na indústria ligeira e em salários baixos – e de diversificação estão numa fase muito preliminar, provando ‑o a dificuldade aparentemente estrutural de a indústria transformadora assumir uma representatividade forte no Produto Interno Bruto e os obstáculos até aqui intrans‑poníveis para a agricultura assumirem o essencial dos fornecimentos de matérias ‑primas trans‑formáveis para a indústria. As Contas Nacionais 2002 ‑2012 do INE reportam um valor médio de 4,5% para o peso relativo da manufactura no PIB e de cerca de 5% para a agricultura.

No Relatório Económico do CEIC aborda ‑se a questão da diversificação da economia nacio‑nal desde 2009, quando pela primeira vez se apresentaram indicadores sobre as transforma‑ções estruturais dentro da manufactura e da economia em geral. Um aspecto recorrente das análises do CEIC refere ‑se ao tempo, porquanto as transformações conducentes à diversifica‑ção duma qualquer economia requerem (muito) tempo e evidentemente políticas ajustadas e eficazes.

O trade ‑off entre curto prazo e longo prazo em Angola coloca ‑se do modo seguinte:

• No curto prazo, terão de ser estritamente mantidos os equilíbrios financeiros consegui‑dos, ainda que dependentes em excesso do petróleo, e ganhar ‑se competitividade pelos preços, sendo para isso fundamental reduzir os custos de contexto acima enunciados. Esta abordagem pode permitir a manutenção de ritmos de crescimento do PIB em redor de 7 ‑8% ao ano, com efeitos interessantes sobre a capacidade de geração de emprego e renda.

• No longo prazo, a rota é a do aumento sustentado da produtividade e da negociação dum contrato social sustentável de partilha justa dos ganhos da diversificação entre trabalho, capital e tecnologia. A sustentabilidade exige, simultaneamente, eficiência e crescimento económico, sem o qual não haverá novos recursos para distribuir.

• Os ganhos de eficiência podem, no entanto, ser exigentes em flexibilidade salarial e mobili‑dade laboral, premissas algo incompatíveis com um contrato social de pendor fortemente redistributivo. De resto, a elasticidade dos despedimentos é, adicionalmente, reclamada pela equidade inter ‑geracional, que pode pôr em causa o direito ao emprego permanente.

A vulnerabilidade do país deve ‑se a duas ordens de razões: a excessiva concentração da actividade produtiva no petróleo e a falta de competitividade geral da economia.

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Como se tem sublinhado muitas vezes nestes Relatórios do CEIC é insuficiente, e mesmo arriscado, avaliar o processo de diversificação da economia pelo viés do peso do PIB petrolífero na actividade económica global. Este indicador é muito atreito às variações do mercado petrolí‑fero internacional, pelo que as correspondentes variações podem não corresponder a alterações estruturais internas.

A figura seguinte – extensão até 2013 das linhas tendenciais apresentadas mais atrás, tam‑bém em representação gráfica para o período 2002‑2010 – permite confirmar estar ‑se ainda nas fases preliminares do processo de transformações estruturais efectivas e consolidadas.

Figura 13 – Linhas tendenciais de crescimento dos sectores estruturantes da diversificação

FONTE: CEIC, ficheiro Estudo e Análise da Eficiência da Produção Nacional.

As informações seguintes pretendem estabelecer uma comparação entre o comportamento do preço do petróleo e a evolução do rácio do PIB petrolífero.

Tabela 7 – A insuficiência da análise do processo de diversificação pelo peso do sector petrolífero

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

PIBp/PIB 40,58 41,3 48,21 45,31 48,24 49,7 39,05 43,48 47,49 46,19 46,76

Preço do petróleo 28,2 36,1 50,0 61,4 72,4 93,9 60,9 77,8 110,3 111,5 107,7

FONTE: CEIC, Quadro Macroeconómico Comparativo, com base no Ministério dos Petróleos e nas Contas Nacionais.

Verifica ‑se que a variação da percentagem de participação do sector petrolífero no Produto Interno Bruto está muito conectada ao preço do barril de petróleo no mercado externo e segu‑ramente também à procura mundial.

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Outro ângulo de análise que recoloca em discussão a validade do peso relativo da activi‑dade petrolífera como indicador de diversificação é dado pelo índice da sua contribuição para o crescimento económico. Numa perspectiva de diversificação o seu valor deve tendencialmente diminuir, para se dar espaço a outros sectores.

Figura 14 – Contribuições parcelares para o crescimento económico

FONTE: CEIC, ficheiro Relatório Económico de 2004.

Das assimetrias na distribuição das despesas entre os cinco escalões de rendimento consi‑derados no IBEP e aglutinando ‑os em rural, urbano e nacional, constata ‑se que entre os 20% mais pobres e os 20% menos pobres as diferenças são abissais, em redor de 850% em termos nacionais.

Tabela 8 – Diferenças entre a despesa média mensal dos 20% menos pobres e dos 20% mais pobres

Média nacional Média urbana Média rural

Em número de vezes 9,5 7,3 6,7

Em percentagem 851,5 630,2 569,1

FONTE: INE, IBEP.

Não havendo ou sendo exígua a dimensão económica do mercado interno, a solução está na abertura ao exterior, colocando ‑se problemas essenciais no domínio do controlo da inflação, da pauta aduaneira, da livre circulação de capitais e rendimentos factoriais, da política cambial – como se sabe, uma das vias de melhorar a competitividade aparente das economias –, da taxa de juro e da produtividade.

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Um breve relance sobre a inflação comparada com alguns países europeus, latino ‑americanos, asiáticos e sadcianos permite concluir que, na generalidade, Angola não é competitiva com nenhum deles, decorrendo, portanto, dificuldades em disputá ‑los pela via dos preços, caso exis‑tisse alguma produção exportável de bens transaccionáveis, com excepção do petróleo e dos diamantes. No capítulo sobre a inflação está feita uma análise circunstanciada sobre a compe‑titividade da economia nacional pela via dos preços.

Só em relação a alguns (poucos) países da África Subsariana os preços nacionais são relati‑vamente aproximados, embora as diferenças sejam ainda assim elevadas no período 2005‑2013 (a única excepção é a RDC). São necessários esforços mais contundentes de combate à alta de preços para que se possa, por esta via, preparar terreno para o fomento de outras exportações de transaccionáveis.

A tabela seguinte mostra os valores de quatro indicadores que, usualmente, se utilizam para medir o grau de diversificação das economias190. Qualquer um deles mostra um índice muito baixo de diversificação da actividade produtiva do país, razão pela qual o seu grau de exposição a choques externos é muito maior, sem que, na maior parte das vezes, a política económica nacional consiga contrariar os seus efeitos negativos.

Tabela 9 – Indicadores de diversificação da economia angolana

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

IDIEC 0,529 0,524 0,525 0,530 0,531 0,530 0,520 0,519 0,520 0,530 0,527

ITEI 0,363 0,313 0,938 1,615 1,510 1,996 3,044 0,118 0,175 0,253 0,275

ITEE 0,964 0,334 0,956 ‑0,141 0,963 0,148 2,195 1,104 0,811 ‑0,127 ‑0,299

ICAE 0,359 0,367 0,441 0,410 0,441 0,457 0,342 0,390 0,433 0,419 0,425

NOTAS: ITEI – índice de transformação da estrutura industrial, ITEE – índice de transformação da estrutura económica, ICAE – índice de concentração da actividade económica, IDIEC – índice de diversificação da economia.

FONTE: CEIC, ficheiro Estudos sobre a Diversificação da Economia.

4.6 O papel de alguns sectores de actividade na diversificação da economia

Os pontos essenciais para a reflexão sobre a diversificação da economia são que os recursos naturais ‑chave são não ‑renováveis e que este processo tem de ocorrer, na sua parte essencial e

190 O índice de Hirschmann, usualmente utilizado para medir o grau de concentração das exporta‑ções dum país foi adaptado para medir o nível de concentração da actividade económica em Angola. O índice de diversificação da estrutura económica foi calculado – de resto, como o anterior, tendo em atenção as 182 actividades identificadas na CTCI – sobre as actividades de extracção mineral. Os res‑tantes índices comparam, no tempo, as transformações ocorridas e foram calculados com base na estrutura económica e na estrutura industrial do país.

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substantiva e dentro das premissas diversificação/democracia discutidas mais atrás, antes que os mesmos se esgotem (ver mais adiante neste parágrafo a análise sobre o papel do sector dos petróleos para a diversificação).

A elevada intensidade de capital e tecnologia das indústrias petrolíferas e de gás e a natureza da estrutura económica do país – que tem limitado uma maior extensão a profundidade dos efeitos de contágio – sugerem que a diversificação é um processo complexo, sobretudo quando se envolvem aspectos sociais de melhoria das condições de vida de grande parte da população.

Só através dum processo de diversificação abrangente o país poderá deixar de pertencer ao grupo dos “least developed countries” e entrar nos de rendimento médio, de acordo com os critérios das Nações Unidas e das instituições de Bretton Woods: “At the center of such an effort would, however, be the imperative of building sustainably robust human capital and skills, toge‑ther with resilient institutions – laws, systems, regulations and procedures – capable of withs‑tanding endogenous and exogenous shocks that transitional economies such as Angola’s will inevitably confront. The economic diversification process needs a strong emphasis on enhancing geographically balanced growth and on economic diversification. Promoting regionally balanced growth and development is not only desirable, but also allows Angola to develop its rich non‑‑petroleum resources and help accelerate economic diversification. Conditions need to be created for existing economic agents to become more productive and for new businesses to flourish in the broader Angolan economy, in addition to the thriving petroleum and gas sector, so that good jobs could be created in a sustained manner. More growth opportunities in the Provinces would help to stem the urbanization tide, particularly of those rural farm households which already possess significant traditional farming techniques that could be upgraded relatively easily to double or triple crop yields. The tripling of cassava yield since 1997 attests to the potential of Angolan farmers to achieve high productivity in other cash crops. Higher yields allow for post ‑farm gate processing industries and services to achieve economies of scale, and for farm households to build up food security buffer which is essential for them to diversify their production. With ade‑quate facilitation programs (preferably not price support), Government of Angola feels that the rural economy could build streams of value chains that connect more efficiently to the market. The same approach to the diversification applies not only to agriculture, but also fisheries, non‑‑petroleum mining and quarrying, manufacturing, construction, transport and storage – in fact, a cluster of economic activities where Angola is known to have existing comparative advantage and strong latent potential191.

A diversificação da economia é, do mesmo modo, apelativa dum conjunto de serviços públi‑cos que o Governo deve prover: investigação na agricultura (em conjugação com serviços de extensão rural) e na indústria transformadora, redes de segurança social, sistemas de abasteci‑mento de água e electricidade para a agricultura e indústria, sistemas de transportes rodoviários

191 Karslen, Jan Erik and Quale, Pilot Study on Scientific Knowledge Enhancement in Angola, IRIS/Uni‑versity of Stavanger, January 2012.

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eficientes, ambiente de negócios mais transparente e menos burocratizado, rede de escolas e universidades de elevado grau de eficiência e rede de serviços de saúde que contribua para o incremento da produtividade da força de trabalho e para o bem ‑estar da população.

As estratégias de diversificação, de acordo com as referências recolhidas de várias fontes que têm estudado este processo, devem ser elaboradas sob o maior consenso nacional possível, envolvendo todos os níveis institucionais, públicos e privados, para o que se necessita de refor‑çar a capacidade de discussão e participação. Há toda a vantagem em considerar os aspectos sociais e culturais nestes processos de mudança profunda de estruturas e mentalidades.

4.6.1 Agricultura, pecuária e florestas

Fernando Pacheco

Apesar da lentidão na implementação de acções, projectos e programas gizados com o objec‑tivo de diversificação, parece haver agora mais preocupação com a coerência e continuidade nas medidas que estão a ser projectadas e materializadas, que contrastam com outras de tempos passados, nomeadamente em meados da década de 80, num contexto de descida dos preços do petróleo no mercado internacional, não tiveram seguimento após a retomada de tais preços. O crédito agrícola, a comercialização rural, a extensão rural e os programas municipais de combate à pobreza parecem indicar uma outra direcção.

Porém, são vários os constrangimentos que ainda se colocam a esta caminhada. A diversifi‑cação da economia pressupõe uma aposta financeira do Estado que tenha a ver com uma nova ideia do seu papel na economia e em particular no desenvolvimento agrícola. Uma análise das verbas atribuídas ao sector através do OGE nos últimos três anos mostra que, quer em percen‑tagem em relação à totalidade do orçamento, quer em termos absolutos, as coisas não estão bem. Em 2009, a verba foi de 1,7 mil milhões de dólares, reduzida em 2010 para 680 milhões e em 2011 para 674 milhões. Em termos percentuais em relação ao todo do OGE, as cifras estive‑ram sempre a descer, passando de 4,13% em 2009 para 1,41% em 2011, com 1,97% em 2010. O cenário torna ‑se mais preocupante quando se sabe que as verbas realmente alocadas ficam quase sempre muito abaixo das inscritas no OGE. De acordo com o Ministério da Agricultura, em 2009 apenas foram executados 27% dos montantes do Programa de Investimentos Públicos inscritos no OGE (Ministério da Agricultura, 2010).

Tabela 10 – A agricultura no OGE

2008 2009 2010 2011

Kz 113 158 411 851 131 203 516 689 60 926 798 197 60 707 442 649

Câmbio 76,70 75,10 89,40 90,02

USD 1 475 337 834 1 747 050 821 681 507 810 674 377 279

% 4,45 4,13 1,97 1,41

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Os resultados do agronegócio mostram, por sua vez, que ele gera poucos empregos, princi‑palmente para as mulheres rurais, o que é natural porque um dos seus objectivos é aproveitar a baixa oferta de mão ‑de ‑obra, como é o caso de Angola. Mostram ainda pouca correspondência aos investimentos realizados, pois as produtividades atingidas são baixas. Os baixos investimen‑tos na investigação, que em 2010 ficou apenas aquém de um milhão de dólares (CEIC, 2011) e a ausência de coordenação entre a investigação e o agronegócio, pois os processos técnicos e tecnológicos conseguidos não são acompanhados pelos Institutos de Investigação, explicam esta situação.

Apesar dos progressos registados nos últimos tempos, com a paz e principalmente com a deci‑são sobre a diversificação da economia, ancorados nos programas de combate à pobreza, descen‑tralização administrativa, extensão rural, crédito agrícola e comércio rural, a agricultura angolana continua a ter uma contribuição escassa para o PIB. A falta de coerência entre as políticas e a legislação, por um lado, e as estratégias de execução e práticas governamentais, por outro, são uma das razões do menor desempenho do sector. A mais notória diz respeito às verbas atribuí‑das ao sector no OGE, que têm estado em decréscimo nos últimos anos, exactamente depois da decisão sobre a diversificação da economia, como se viu. Outra, estreitamente ligada à primeira, é revelada pela secundarização da agricultura familiar, em contradição com o programa do Governo para o período de 2008 a 2012 e a chamada Estratégia 2025 de Longo Prazo, agravada em 2011 com a aprovação de projectos de grande dimensão no valor de quase mil milhões de dólares, numa altura em que são notórios os insucessos financeiros com projectos do mesmo tipo.

Segundo estimativas da FAO, Angola exporta actualmente um único produto agrícola, que é o café, no valor de cerca de USD 2 milhões (FAO, 2010), e muito recentemente fez ‑se a expor‑tação de uma quantidade muito pouco significativa de algodão. Além disso, há um fluxo de produtos na fronteira com a República Democrática do Congo (feijão, banana e mandioca). O Executivo reconhece o sector agrícola como sendo uma das áreas com potencial para o aumento considerável das exportações, mas esse potencial tem de ser analisado de forma estratégica, baseado não só na dimensão nacional, mas também nas oportunidades existentes nos mercados internacionais. Num contexto de diversificação da economia, o Executivo previu a elaboração de estudos em 2011 sobre a substituição de importações e promoção de exportações (República de Angola, 2010) mas parece que o único estudo realizado foi no sector do algodão (MINADERP, 2010). O sector florestal é um bom exemplo do que se poderia fazer em termos de exportação de produtos agrários com valor incorporado.

A estratégia de desconcentração não tem impedido uma tendência inversa de centralização do poder, expressa, por exemplo, no facto de 88% das verbas do OGE de 2011 serem geridas pela administração central, o que sugere que se tira com uma mão o que se deu com a outra, com o argumento de debilidade de capacidades de execução a nível local. A ausência de medidas ousa‑das para o reforço das capacidades locais, quer através da capacitação dos recursos existentes, quer da criação de condições atractivas que levem à fixação de quadros que vivem nas cidades

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vai continuar a dar argumentos aos defensores dessa estratégia e dificultar o desenvolvimento das economias locais, principalmente no domínio da agricultura e dos serviços conexos.

O deficiente desempenho do sector agrícola é ainda resultado da fraca capacidade de influên‑cia junto de instituições chave com poder para a afectação de recursos que se coadunem com o que dele se espera como contribuição para o PIB. Isto diz respeito ao Ministério da Agricultura e também à falta de organização dos diferentes tipos de produtores e outros actores, como provedores de serviços, por exemplo, em associações representativas ou em federações de coo‑perativas. Com mais diálogo, com mais capacidade de apresentação de projectos de qualidade e maior capacidade ao nível municipal e provincial, o sector poderia defender o aumento de verbas no OGE, com o argumento de se procurar atingir o compromisso assumido pelo Governo Angolano no contexto do Comprehensive Africa Agriculture Development Programme (CAADP) promovido pelo NEPAD e pela SADC192, de investir 10% do PIB na agricultura.

A modernização do sector agrícola, objectivo desejável e inadiável, não tem sido devida‑mente equacionado, pois tem sido sobrevalorizada em relação aos outros pilares do desenvol‑vimento, como, por exemplo, a identidade cultural, a participação e a preservação ambiental, levando os governantes a tomarem decisões políticas que não tenham a mínima fundamentação técnica. Caso não sejam tidos em conta os outros pilares, poderá haver crescimento ancorado na disponibilidade de petrodólares e no voluntarismo dos governantes, mas não certamente um desenvolvimento sustentável, até porque são enormes – e nem sempre entendidos e assumidos – os obstáculos culturais, organizacionais, de gestão, técnicos e tecnológicos que se levantam à modernização acelerada da agricultura angolana. Um exemplo poderá ser o facto de tal opção exigir grande quantidade de mão ‑de ‑obra qualificada de que Angola não dispõe, o que obriga ao recrutamento de expatriados e provoca mal ‑estar social e político. Num dos novos projectos recentemente aprovados e cuja implementação está a iniciar, os trabalhadores angolanos repre‑sentam apenas cerca de 30% do total (Pacheco et al., 2011).

Para que o desenvolvimento agrícola seja sustentável é necessário o reforço de capacidades e o resgate de dinâmicas perdidas, para a promoção de interacções e actividades colectivas, que permitam recuperar, refazer ou criar relações sociais que envolvam todos os actores do processo social ligado à agricultura. Importa reflectir, pois, sobre os perigos do voluntarismo quando se pretende pôr em marcha processos de desenvolvimento, visto que há etapas que têm de ser cumpridas. Angola não poderá enveredar por uma agricultura competitiva a nível internacional ou desenvolver os pólos agro ‑industriais pretendidos, por exemplo, se não investir seriamente em alguns sectores fundamentais como o ensino agrícola (a nível médio e superior), a investi‑gação científica e a formação profissional (Pacheco, idem).

A promoção do agronegócio justamente pretendida não pode ignorar a agricultura familiar. Em primeiro lugar, porque a base técnico ‑científica não o permite. Depois, porque a crise global

192 Ver http://www.nepad ‑caadp.net.

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que atinge a humanidade aconselha que os modelos produtivos e de consumo sejam repensa‑dos, exigindo o bom senso que a pequena agricultura seja reconsiderada e se evitem os erros de outros que, sabe ‑se agora, são em grande parte responsáveis pela própria crise, incluindo a ambiental. Por outro lado, na agricultura, mais do que em qualquer outra actividade econó‑mica, não se pode ignorar a lei dos factores limitantes. Por mais recursos financeiros de que se disponha, nada pode substituir a apropriação do desenvolvimento pelos agricultores e em particular, no caso de Angola, pelas agricultoras. Os paradigmas de desenvolvimento que insis‑tiram em processos de substituição, em vez dos que propunham o conhecimento, a adaptação e a transformação, falharam porque geraram situações socialmente injustas, economicamente ruinosas e politicamente perigosas.

Entre as várias soluções para, a prazo, transformar a agricultura de subsistência e combater a exclusão social, particularmente das mulheres agricultoras e acabar com a estrutura “dualista” arcaica que ainda caracteriza a agricultura angolana, afigura ‑se bastante judiciosa a abordagem unimodal do desenvolvimento agrário que procure conciliar, na medida do possível, os inte‑resses de todos os actores em parcerias mutuamente vantajosas, sob a arbitragem do Estado (Negrão, 2002).

4.6.2 Indústria transformadora e indústria petrolífera

Alves da Rocha

A industrialização e o subsequente processo de diversificação da economia estão, igualmente, relacionados com a densidade intersectorial, cuja análise é feita através das matrizes de Leontief. As relações que se estabelecem entre os sectores e as actividades são de dois tipos: relações a montante (backword linkages) e relações a jusante (forword linkages). Uma relação a montante directa é medida por Lbj = ∑aij (somatório em i), onde Lbj é o índice de relacionamento a montante e aij os coeficientes de Leontief. A leitura é: a quantidade de input i que o sector j utiliza para produzir uma unidade de produto. Quanto mais elevado o valor do índice, mais dependente da produção interna se encontra a actividade j e, portanto, maior a densidade intersectorial.

Assim, por exemplo, se a actividade em análise for a de confecções: coeficiente técnico de algodão = 65%, coeficiente técnico de produtos químicos = 20%, então ∑aij = 85%, os restantes 15% são materiais importados. Seguramente que os efeitos de arrastamento não se limitam aos directos. No exemplo dado das confecções a sequência pode ser: confecções estimulam os têx‑teis que estimulam a produção de algodão (efeitos directos a montante). Em termos matriciais, os efeitos a montante são lidos em coluna.

Mas o incremento do algodão pode estimular a produção de fertilizantes e pesticidas (efeitos indirectos). A incorporação destes efeitos (efeitos totais a montante) exige a existência duma matriz input ‑output produto a produto e o cálculo da matriz inversa de Leontief: Ltj = ∑rij, onde Ltj é o índice dos efeitos directos e indirectos e rij os coeficientes da inversa de Leontief.

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Os efeitos a jusante medem a influência da actividade j anteriormente considerada nas acti‑vidades dos restantes i sectores. Estes efeitos são lidos em linha na matriz de Leontief. A formu‑lação matemática é Lfi = ∑aij, mas lido com referência a j. Outra formulação é: Lfi = ∑Xij/Zi (em j), onde Xij são os fornecimentos intermédios e Zi a produção total (intermédia e final).

Uma aplicação concreta encontra ‑se em Perkins193 e o quadro de relações é o seguinte.

Tabela 11 – Efeitos a montante e a jusante

Actividades Índice a montante Índice a jusante Efeito total

Couro 0,645 0,683 2,39

Metais básicos 0,980 0,632 2,36

Vestuário 0,025 0,621 2,32

Têxtil 0,590 0,621 2,24

Alimentação e bebidas 0,272 0,718 2,22

Papel 0,788 0,648 2,17

Químicas/Ref. petróleo 0,599 0,637 2,13

Máquinas/Prod. metálicos 0,430 0,558 2,12

Madeira e mobiliário 0,582 0,620 2,07

Construção 0,093 0,543 2,04

Tipografias 0,508 0,509 1,98

Outras manufacturas 0,362 0,505 1,94

Borracha 0,453 0,481 1,93

Minerais não ‑metálicos 0,870 0,517 1,83

Agricultura 0,502 0,368 1,59

Utilidades 0,614 0,296 1,49

Extractiva 0,638 0,288 1,47

Serviços 0,378 0,255 1,41

Os países considerados pelos autores deste estudo foram Chile, Grécia, Coreia do Sul, México e Espanha. A leitura dos resultados da tabela é fácil. Por exemplo, para o sector do couro, por cada dólar adicional de produção de produtos de couro, a produção de todos os inputs deve aumentar 2,39 dólares. Esta é justamente a actividade que, em média, naqueles países, induz o maior efeito de arrastamento.

Não existem matrizes de Leontief para a fase actual da economia angolana. Durante a Admi‑nistração portuguesa foram construídas 4 matrizes input ‑output para 1967, 1968, 1969 e 1970. É, assim, possível, sobre a matriz de 1970, estimar os efeitos a montante e a jusante, que se encontram na tabela seguinte.

193 Perkins, Dwight et al., Economics of Development, Fifth Edition, Norton & Company, 2001.

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Tabela 12 – Efeitos a montante e a jusante

Actividades Efeitos a montante Efeitos a jusante Efeitos totais

Extractivas 0,098 0,484 0,582Alimentação e bebidas 0,205 0,160 0,365Têxteis e calçado 0,270 0,259 0,529Químicas e derivados de petróleo 0,601 0,495 1,096Minerais não ‑metálicos 0,264 0,113 0,377Metalúrgicas e metálicas 0,534 0,185 0,719Máquinas e material de transporte 0,521 0,867 1,388Diversos 0,214 0,146 0,360

FONTE: Estrutura e Planeamento Industrial, Serviços de Planeamento, 1971.

O sector das máquinas e material de transporte é o de maiores efeitos sinergéticos e a aposta na indústria pesada em Angola foi lançada desde o final do III Plano de Fomento e retomada em força no IV Plano de Fomento com dois empreendimentos importantes: o Parque Industrial do Huambo, a Zona Industrial de Moçâmedes. As químicas e derivados do petróleo (com um coe‑ficiente de arrastamento de 1,1) estavam, igualmente, na lista das prioridades, com o projecto de aproveitamento das fosforites e a nova refinaria de Angola.

Indústria petrolífera

Reconhece ‑se ao sector petrolífero enormes capacidades e potencialidades de ser um par‑ceiro importante da diversificação económica. Não apenas pela dinâmica que as indústrias quí‑micas emprestam aos sistemas económicos – na matriz anterior foi estimada em quase 1,1 a sua envergadura de arrastamento a montante e a jusante –, mas principalmente como o grande financiador do processo.

O preço do barril do petróleo volta a apresentar uma tendência crescente, fazendo recear o retorno aos piores momentos de 2008, em que se chegou a atingir, em Abril, a cifra de 147,5 dólares. Esta tendência pode ser interpretada de duas maneiras. Ou que o pior da crise econó‑mica mundial já ocorreu, ou, então, que o petróleo começa, de facto, a escassear.

Seguramente que para as finanças públicas angolanas esta recente tendência no comporta‑mento da sua principal fonte fiscal é recebida com enorme júbilo, esperando ‑se que as reservas internacionais aumentem e se volte a devolver aos mecanismos de mercado as decisões de afectação dos recursos do sistema bancário nacional.

Em termos de longo prazo, as questões são, no entanto, outras. Não é completamente cre‑dível que a economia mundial – economias avançadas e algumas das emergentes – “consinta” (no sentido económico do termo) preços muito elevados do principal recurso energético da cha‑mada civilização ocidental. Barack Obama e a sua Administração estão fortemente empenhados na substituição rápida dos derivados do petróleo na indústria e nos transportes (os principais utilizadores de petróleo e, também, os mais poluentes). Foi anunciada uma redução de 40%

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no uso do petróleo até 2014. No mesmo sentido se colocam determinados posicionamentos da União Europeia, sujeita a uma espécie de chantagem política da Rússia por causa da sua dependência do petróleo.

Do ponto de vista nacional, a principal preocupação prende ‑se com o tempo requerido para se promover uma diversificação económica sustentável e os respectivos custos financeiros, necessariamente dependentes das receitas do petróleo (os empréstimos externos acabarão por estar sempre relacionados com as disponibilidades de petróleo do país, só deixando de ser assim quando a diversificação for irreversível e a força da economia não‑mineral a mais determinante do crescimento e desenvolvimento nacional). E quando se fala em tempo, pensa ‑se na duração provável das reservas petrolíferas nacionais. Ou seja, no peak oil angolano.

Utilizando a definição clássica de ponto de inversão do aumento da produção de petróleo – correspondente à data a partir da qual a produção declinará progressivamente e assimilado à extracção de metade das reservas comprovadas ou prováveis – construíram ‑se quatro alter‑nativas para o peak oil angolano. As hipóteses de trabalho são: produção de 2 milhões de barris por dia e reservas de 13,2 mil milhões de barris (BP, Junho de 2011), 13,5 mil milhões de barris (são as reservas oficialmente admitidas como correctas), 19 mil milhões de barris (WTI, 2008) e 24,5 mil milhões de barris (outras fontes), ao admitirem ‑se correcções dinâmicas derivadas do progresso tecnológico capaz de ir buscar petróleo a profundidades cada vez maiores e de outros tipos de óleo (areias asfálticas, óleo pesado, xistos betuminosos, etc.).

Assim, o ponto máximo da produção petrolífera nacional poderá ocorrer já em 2020 (dentro de pouco mais de oito anos), ou em 2021, ou em 2025 ou, finalmente, em 2028 (mais 15 anos a contar do próximo ano). Estas estimativas são consistentes com as que costumam ser feitas a nível das reservas mundiais.

Na verdade, os cálculos mais pessimistas sobre o peak oil mundial apontam para a sua ocor‑rência entre 2015 e 2020 (correspondentes a reservas entre 2000 e 3000 biliões de barris), enquanto as previsões mais optimistas estabelecem o ponto de declínio da produção mundial somente depois de 2030. Vale a pena, no entanto, sublinhar que, actualmente, por cada barril de petróleo descoberto, três são consumidos.

Ainda bem que está lançado o desafio da diversificação da economia nacional. A partir de um pronunciamento do Presidente da República, os ministérios relacionados duma forma mais directa com este processo começaram a recentrar e a repensar estratégias de actuação.

A maior parte das economias que deixaram de pertencer ao grupo das menos desenvolvi‑das precisaram de mais de 30 anos para consolidarem os seus processos de diversificação das estruturas produtivas nacionais. Se atentarmos nos anos que nos separam do peak oil, conclui ‑se que outras fontes de financiamento do crescimento e da diversificação têm de ser encontradas, mesmo sabendo ‑se que o ponto de break da produção não significa esgotamento das receitas petrolíferas.

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No entanto, as projecções das receitas petrolíferas brutas feitas pelo Banco Mundial194, e jus‑tamente baseadas na ocorrência do peak oil em Angola, apontam para um máximo de 226 698 mil milhões de dólares no quinquénio 2010 ‑2014 (para um preço médio do barril de petróleo de 60 dólares), momento a partir do qual se registará uma quebra acentuada, até cerca de 17 mil milhões de dólares em 2025. Ou seja, para o Banco Mundial o ponto de produção petrolífera máxima em Angola poderá ocorrer entre 2010 e 2014.

Evidentemente que as receitas fiscais oriundas da exportação e extracção de petróleo se reduzirão na mesma percentagem. Assim, entre 2010 e 2014, no melhor cenário, as receitas do Estado situar ‑se ‑ão, anualmente, em cerca de 35 mil milhões de dólares.

Dir ‑se ‑á que são apenas cenários. Claro que sim. Mas têm a vantagem de assinalar a probabi‑lidade da ocorrência de factos determinantes para a sustentabilidade do crescimento económico de Angola e que alicerçam a ideia de que o reforço da economia não ‑mineral e o processo de musculação da sua estrutura produtiva têm de ser dramaticamente dinamizados e acelerados.

Esforço de investimento para a diversificação da economica nacional

O esforço financeiro envolvido na diversificação está estimado em 604 mil milhões de dóla‑res195, para que em 2025 se tenha uma estrutura económica menos dependente do petróleo, centrada numa economia industrial em transição para uma economia de serviços, os pesos relativos são: agricultura, florestas e pescas com 16,5% do PIB, indústria transformadora, cons‑trução e energia com 37,5% do PIB, comércio, transportes, banca, seguros e telecomunica‑ções com 24,5% do PIB e 18,7% para a extracção de petróleo. A taxa média de crescimento do PIB admitida neste exercício é de 9,5% ao ano, com os parciais de 13,9% para o conjunto agrícola, 21% para o agregado industrial e da construção, 11,5% para os serviços e 2,5% para o petróleo.

Tabela 13 – Esforço de investimento para a diversificação até 2025 (em milhões de USD)

ActividadesInvestimento

totalInvestimento

anualTaxa de

investimento (%)

Agricultura, pecuária, florestas e pescas 98 770,4 5810,0 10,3

Manufactura, construção, energia e águas 276 941,4 16 290,7 11,8

Comércio, bancos, seguros, transportes e comunicações 99 301,3 5841,3 7,4

Petróleo 54 626,6 3213,3 13,2

Total 604 344,3 35 549,7 11,8

FONTE: CEIC, ficheiro Estudos sobre a Diversificação da Economia.

194 Angola, Memorando Económico do País – Petróleo, Crescimento Alargado e Equidade, Outubro de 2006.195 Para mais informações ver CEIC, Relatório Económico de Angola 2009.

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ESTUDOS SOBRE A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA

4.6.3 Transportes

Ana Duarte

O sector dos transportes é de central importância para o desenvolvimento de um país, uma vez que as suas infra ‑estruturas e serviços, se forem eficientes e adequados, podem contribuir para a redução da pobreza, promover o crescimento e o desenvolvimento económico.

Em África, o investimento no sector dos transportes surgiu relativamente tarde, em regra durante o período colonial, quando a maior parte dos países experienciaram as suas primeiras fases de construção ferroviária e rodoviária. O caminho ‑de ‑ferro, em regra, não foi construído para facilitar o movimento de pessoas e mercadorias no território em causa ou com áreas vizi‑nhas. O investimento feito no tempo colonial teve como principal objectivo servir as necessida‑des dos Governos coloniais. O transporte ferroviário, por exemplo, iniciava nas regiões ricas em minérios até à costa marítima, a partir de onde se exportavam esses minérios para as potências colonizadoras. O padrão de construção do Caminho ‑de ‑Ferro de Benguela (CFB) em Angola é um exemplo disso. A descoberta das minas de cobre no Katanga (1901) e o seu escoamento pelo Porto do Lobito deram lugar à assinatura do contrato, a 28 de Novembro de 1902, entre o Governo Português e a Tanganyika Concessions Company Limited. Concluída a construção do CFB, o Planalto Central e Sul de Angola entraram num verdadeiro movimento. As outras duas vias ‑férreas do país, Caminho ‑de ‑Ferro de Luanda e Caminho ‑de ‑Ferro de Moçâmedes, também foram construídas com orientação Este ‑Oeste para o transporte das áreas interiores até aos por‑tos marítimos. Nenhuma das três linhas estava interligada nem havia alguma ligação Norte ‑Sul porque não havia interesse económico pelas autoridades coloniais (Bhagavan, 1986)196.

No entanto, na análise das infra ‑estruturas e as suas ligações nos processos de diversificação económica e desenvolvimento, importa referir que o investimento no transporte ferroviário em África não foi exclusivamente por questões de exploração mineira. O sistema ferroviário também foi construído por questões políticas, estratégicas e administrativas e mesmo para promover a exportação de produtos agrícolas. A verdade é que a linha férrea transformou económica e socialmente as áreas que atravessava, independentemente do propósito para o qual tinha sido construído197. Associado à abertura do CFB, por exemplo, vários sectores económicos como o agro ‑pecuário, indústria de transformação e comércio foram encorajados e estimulados, por

196 O transporte ferroviário foi desenvolvido em África com a ideia de que a “experiência Americana”, ou seja, que os impactos positivos associados à expansão da via ‑férrea, poderia ser facilmente repe‑tida ou que as condições do séc. XIX que existiam na Inglaterra e que também permitiram usufruir dos impactos do desenvolvimento do transporte ferroviário podiam ser uma realidade no contexto Afri‑cano. Ambas as ideias estavam incorrectas. Além disso, em vez de se verificar o reinvestimento das receitas provenientes da exploração do minério encorajando a auto ‑suficiência local (Prinsloo, 1978), as colónias asseguraram que as mais ‑valias eram transferidas para a Europa e América do Norte.197 A história do transporte ferroviário em Uganda é um exemplo disso e no Quénia inúmeras trans‑formações positivas ocorreram imediatamente após a chegada do comboio em certas áreas (Neu‑mark, 1964).

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um lado, por serem fonte de matéria ‑prima para a indústria europeia e americana, de finan‑ciamento do aparelho do Estado português e dos investimentos de infra ‑estruturas e apoio às empresas, e, por outro lado, para garantir o abastecimento dos trabalhadores e o aumento do tráfego ferroviário. No ramo industrial, por exemplo, a produção artesanal autóctone cedeu lugar a pequenas indústrias transformadoras. O comércio espalhou ‑se por toda a região. Para as exportações e importações e para o movimento das pessoas, a via ‑férrea representava a espinha dorsal de todo o sistema de transporte. Actualmente, a elevada taxa de crescimento da economia angolana só poderá ser sustentada com uma aposta na diversificação económica que não deverá esquecer a importância do transporte ferroviário no passado já que esteve na base não só da estabilidade política, mas também de mudanças económicas e da mobilidade e promoção social das várias províncias e, logo, do país. Em paralelo, sendo as estradas a principal infra ‑estrutura para transporte de passageiros e mercadorias, o desafio que o país enfrenta é o de melhorar a manutenção das estradas existentes e expandir a rede de estradas secundárias e terciárias que ligam os meios rurais às estradas principais. Um sistema logístico (ferroviário e rodoviário) interligado servirá o escoamento que a expansão das produções agrícola e industrial exige198.

No entanto, uma oferta maior no sector dos transportes não significa necessariamente uma oferta melhor. Quando se atribui muita importância aos investimentos nas infra ‑estruturas de transporte está implicitamente a sugerir ‑se que os operadores públicos e privados irão res‑ponder de uma forma eficiente a este investimento, oferecendo serviços de transporte ade‑quados. Alguns países baseiam a sua estratégia de desenvolvimento assumindo (erradamente) que é apenas necessário investir em infra ‑estruturas de transporte modernas em áreas menos desenvolvidas que, em seguida, o desenvolvimento acontecerá de uma forma espontânea (Moavenzadeh and Geltner, 1984) ou “mágica”. Para a expansão das actividades que permitam que a economia angolana ultrapasse a dependência das receitas petrolíferas torna ‑se essencial que o desenvolvimento do sector dos transportes adopte uma estratégia holística, integrada e sustentável. É necessário tomar em linha de conta o impacto que os limites e as carências dos serviços de transporte têm sobre o desenvolvimento económico das comunidades locais e, consequentemente, na diversificação da economia. Assim, em conjunto com o investimento em infra ‑estruturas de transporte é imprescindível que os serviços de transporte sejam eficientes, adequados e financeiramente acessíveis.

A economia de Angola ainda se caracteriza por um sector industrial de pequena dimensão, uma agricultura de subsistência e um sector comercial de pequena escala. Assim, uma grande

198 Uma rede inadequada de infra ‑estruturas representa um dos grandes obstáculos ao desenvolvi‑mento das actividades comerciais em África, sendo o sector dos transportes um dos principais entra‑ves ao crescimento da produtividade e competitividade. Dados de um estudo realizado pelo World Economic Forum e o African Development Bank (AfDB) indicou que as empresas africanas perdem cerca de 3% das vendas devido aos atrasos em termos de transporte (World Economic Forum, 2007). Infra ‑estruturas de transporte em mau estado impedem o desenvolvimento da actividade agrícola comercial e, consequentemente, impedem o crescimento (Wang, 2007).

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maioria das necessidades de transporte ainda é para o movimento de pequenas quantidades de mercadorias entre áreas dispersas. Para satisfazer esta procura irregular, difusa e de pequena dimensão, operadores privados prestam serviços de transporte de mercadorias e pessoas con‑tribuindo para o restabelecimento da ligação comercial entre as zonas rurais e mais remotas com as zonas urbanas. Se por um lado é importante não descurar a importância destes actores dada a sua eficiência relativa na satisfação da mobilidade dos passageiros e das mercadorias, por outro lado, deverá ser incentivado um sistema de transportes que melhore as condições de mobilidade para que os recursos do país sejam devidamente explorados permitindo a criação de centros de produção e distribuição de maior escala e mais competitivos.

Ainda no contexto de uma oferta melhor no sector dos transportes, em paralelo com a importância da mobilidade é a acessibilidade. A construção de uma estrada ou de uma via‑‑férrea numa determinada área implicará um aumento da mobilidade mas não necessariamente a melhoria da acessibilidade, definida pela proximidade física de um indivíduo ou comunidade a um centro activo local, a outra estrada ou a serviços básicos como escolas, hospitais, mercados, entre outros. A necessidade de prestar serviços de transporte que permitam não só aumentos de mobilidade, mas, mais importante, melhorias na acessibilidade, é particularmente relevante nas áreas mais pobres. Não só áreas mais pobres estão necessariamente mal servidas de infra‑‑estruturas de transporte199, como também está provado que uma melhoria do acesso das comu‑nidades, em particular das rurais e mais vulneráveis, aos transportes pode reduzir o nível de pobreza. Comunidades privadas de serviços básicos tornam ‑se cada vez mais marginalizadas e não têm possibilidade de participar na vida económica, política e social local ou regional. Ligar estas comunidades com uma rede de transportes eficiente ajudaria a integração da população rural, permitindo ‑lhes aceder e usufruir de serviços que lhes garantiriam uma melhor qualidade de vida.

Por outro lado, em Angola, por exemplo, dado o número reduzido de proprietários de veí‑culos motorizados, a melhor forma de melhorar a acessibilidade é garantindo a provisão de serviços de transporte financeiramente acessíveis. É necessário, por exemplo, considerar medi‑das que ultrapassem o desequilíbrio existente entre investimentos em serviços de transportes motorizados e não motorizados, individuais e colectivos, ou seja, os que são financeiramente acessíveis aos mais vulneráveis e pobres. Isto porque a forma como os mais vulneráveis utilizam o sistema de transportes modela os benefícios que eles recebem. Desta forma, dependendo do tipo de actividades que o meio de transporte complementa, o bem ‑estar será afectado de uma forma directa ou indirecta. Neste contexto, defende ‑se que investimento nos serviços rodoviá‑rios e ferroviários pode, por exemplo, resultar num aumento da produtividade agrícola e do

199 Por exemplo, no Nepal cerca de 42% da população vive abaixo do nível de pobreza com especial incidência nas zonas onde as infra ‑estruturas dos transportes não são adequadas. Essa mesma per‑centagem aumenta para 70 nos países em vias de desenvolvimento onde cerca de 900 milhões de pessoas estão isoladas porque não têm acesso a estradas. Na Índia, a maior parte das aldeias mais pobres encontra ‑se a cerca de 15 a 20 km das estradas (Banco Mundial, 2006).

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emprego não ‑agrícola, aumentando os salários e emprego dos mais pobres e, logo, o seu bem‑‑estar económico. Isto é um efeito directo traduzido pela distribuição mais equitativa de maiores níveis de rendimento. Em paralelo, maiores níveis de produtividade e de emprego implicam níveis superiores de crescimento económico, afectando a oferta e preços de bens e serviços e, consequentemente, o bem ‑estar dos mais pobres. Este é um efeito indirecto. Em conclusão, uma melhoria da acessibilidade das comunidades pode contribuir para a redução do nível de pobreza que está interligada com as oportunidades de expandir as opções da economia angolana200.

Tanto nas zonas urbanas como nas rurais os problemas evidenciados no sector dos trans‑portes podem ser enfrentados através de um enquadramento integrado que considere a com‑plexidade político ‑social e inclua soluções que levem a uma planificação eficiente, por exemplo, criando transportes que liguem as zonas residenciais e as comerciais, as zonas rurais e as zonas urbanas, que evitem o congestionamento do trânsito, acidentes, que levem a um aumento da acessibilidade e mobilidade e a uma redução da poluição e soluções para todos os outros aspec‑tos que impedem um desenvolvimento sustentável e a diversificação da economia. No longo prazo, o sistema de transportes, entre outras funções económicas, permitirá a diminuição do tempo de viagem e logo dos custos de produção, promovido mediante a construção de novas vias de escoamento e de ampliações do sistema de transportes existente, seja pelo alargamento da malha rodoviária existente e faixas pela utilização de novas tecnologias na reconstrução, manutenção e extensão das redes de estradas e vias ‑férreas. Verificar ‑se ‑á a possibilidade de especialização regional, visto que se a região detentora de rede de transportes for bem articu‑lada com outros centros produtores, isso permitirá que ela se concentre economicamente na produção de certo tipo de produto e importe os demais de outros centros para a provisão da sua subsistência. Finalmente permitirá a exploração de novos mercados, uma vez que a ligação geográfica com centros consumidores permitirá o escoamento da produção para exportação.

200 No caso particular dos países em desenvolvimento que foram afectados por conflitos, quando se pretende atingir níveis mais elevados de PIB per capita e bem ‑estar, os principais objectivos deverão ser crescimento económico, diversificação económica e redução da pobreza. Tendo por base evidên‑cia que sugere que pobreza e conflitos estão inter ‑ligados (Collier et al., 2003; Malapit et al., 2003; Smith and Vaux, 2003 and Stewart, 2003) e que a pobreza atinge níveis mais elevados em áreas onde os meios de transporte não existem ou são irregulares (World Development Report, 1994), a recons‑trução do sistema de transportes nos países afectados por conflito é crucial. No entanto, a destruição das infra ‑estruturas em consequência do conflito e a necessidade de reconstrução socioeconómica impõem desafios adicionais (quando comparados com países que não foram afectados por conflito) na provisão de infra ‑estruturas e no processo de reconstrução.

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CAPÍTULO 5: DIVERSIFICATION, INCOME AND DEMOCRACY, A DESCRIPTIVE OVERVIEW

Arne Wiig Ivar Kolstad

5.1 Introduction

Diversification of the economy is claimed to be important for a number of reasons; it is argued to reduce economic volatility, increase the potential for productivity growth and hence economic growth, and provide some shelter against deteriorating terms of trade. Understanding how diversification evolves as countries change is important in assessing such claims, and in informing our views of and approaches to diversification. Previous studies argue that there is a pattern to diversification where countries tend to get more diversified as their economies grow richer and then to concentrate again as they pass a certain threshold (Klinger and Lederman, 2006; Cadot, Carrère and Strauss ‑Kahn, 2011). In other words, the relation of concentration to income takes the form of a “U”, the relation is first negative and then turns positive for higher incomes. While the empirical approach used in these kinds of studies means that the results cannot be seen as evidence for a causal impact of income on diversification, or of diversification on income, the U ‑shaped pattern seems to be an established empirical regularity that has some general recognition in the empirical literature.

A question that has so far received far less attention is how diversification relates to politi‑cal institutions, in particular democracy. In a sense, diversification can be viewed as a form of de ‑concentration of economic power, and democracy as a form of de ‑concentration of political power, so a relation between the two is not unlikely. The lack of discussion of this topic is particu‑larly glaring in relation to resource ‑rich countries, where diversification is often suggested as an important policy tool to reduce problems related to the so ‑called resources curse, in particular the Dutch disease. This literature tends to ignore the observation that a central problem behind the resource curse is the lack of good institutions and in particular a lack of democracy, which permits country elites to use patronage as a strategy to remain in power and capture resource rents (Robinson et al., 2006; Kolstad and Wiig, 2009). Understanding how diversification relates to democracy then becomes essential to assessing its role in addressing the resources curse (Wiig and Kolstad, 2012).

For Angola, this is a particularly relevant concern. As shown in table 1, Angola has the second most concentrated economy in the world in terms of exports, only Iraq is more concentrated. And this high level of concentration has been fairly consistent in recent years and has even shown a considerable increase after the civil war ended in 2002, as seen in figure 1. This raises questions of whether Angola could be in a better situation economically and politically if the

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country was more diversified. It also raises questions of whether the political situation, with little democracy and high levels of elite capture of rents, is in itself a factor which inhibits the country from having a more diversified economic base, since this might also undermine the power of the ruling elite. These are questions that cannot be answered using the few data points available on Angola in figure 1. It is also challenging to assess the causal impact of diversification on demo‑cracy, and vice versa. But these observations nevertheless point to a need to better understand the political economy of diversification in oil ‑rich countries, and outlining the association bet‑ween diversification and democracy is a useful starting point in this discussion.

Table 1 – Most concentrated economies in the world in terms of exports, 2010

Country UNCTAD index of concentration

Iraq 0,972

Angola 0,970

Micronesia 0,940

Guinea ‑Bissau 0,887

Azerbaijan 0,866

Andorra 0,838

Equatorial Guinea 0,819

Chad 0,809

Vanuatu 0,795

Libya 0,795

Nigeria 0,768

Congo 0,762

Figure 1 – Score on UNCTAD concentration index for Angola, 1995 ‑2010

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This point presents new descriptive evidence on the relation between income and demo‑cracy on the one hand, and diversification on the other. We present results that suggest that the U ‑shaped relationship between income and concentration found in previous studies is due to oil ‑rich outliers with high incomes. When these outliers are dropped from the sample, the relationship between concentration and income is negative for all levels of income; countries get more diversified as they get richer. We also present results suggesting that more democratic coun tries are more diversified. We stress that these results are descriptive in nature, and hence do not prove causal effects from income or democracy to diversification, or vice versa. The results on democracy can mean that a lack of democracy hinders diversification, that diversifica‑tion increases the chances of democracy, or both, or neither. Causal effects need to be assessed in further studies. Our results do suggest, however, that further analysis of the political economy of diversification is needed.

5.2 Relation to literature

One can measure diversification in an economy in different parts of the value chain: diversi‑fication of imports and intermediary production, of factor endowments, of technology, of pro‑duction and of exports of goods and services (or even the destinations of exports). At all levels diversification implies a lower level of concentration, whether in imports, production or exports. Here, we focus on diversification in terms of exports, since success in exports indicates that companies and industries are able to compete on world markets.

Diversification can take place within a particular sector such as the manufacturing sector, or denote less concentration across sectors. It can take the form of selling more of existing products to new markets, or of producing new products or improving the quality of existing products (Brenton et al., 2009). Diversification along the “intensive margin” refers to increasing volumes on active or existing product lines. Production of new product lines is referred to as diversifi‑cation along the “extensive margin”. Hummels and Klenow (2005) show that export growth is mainly driven by growth at the extensive margin – i.e. through new products, although this finding is disputed in the literature (see for instance Brenton et al., 2009).

A very rough proxy of diversification in natural resources rich countries is the natural resour‑ces export as a share of total exports. There are also more fine – tuned indexes for diversification of exports or production. Most of these are taken from the income ‑distribution literature such as the Gini, Theil and Herfindahl indexes (see an overview in Carrère et al., 2009). Reported concentration measures are usually based on measuring inequality of export shares. Here we use a Herfindahl concentration index compiled by UNCTAD.

Two questions are raised in the following: Does increasing the income of a country also increase diversification? And are there institutional constraints to diversification? As for the first question, Cadot et al. (2011) show that the number of new export lines peaks for middle

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income countries, and then falls as economies develop further. They accordingly find a hump or U ‑shaped relationship between income and concentration. Diversification along the extensive margin increases in the early development process partly due to an entrepreneurial trial and error process. As times passes, comparative advantage catches up with old product lines and they slowly die, reducing diversification. High diversification is consequently a transitory pheno‑menon observed at middle income levels (Cadot et al., 2011).

Applying the UNCTAD concentration index and more updated time series we find indica‑tions of a similar U ‑shaped relationship between income and concentration. Figure 2 presents a bivariate plot between GDP per capita and concentration as measured by the UNCTAD concen‑tration index for the countries for which we have data on both variables. The full line shows the best quadratic fit in the data. This line suggests that concentration is decreasing with income at low incomes, and then increasing with income at higher incomes. In other words, there is a suggestion here of the U ‑shaped relationship previous studies have found. We have, however, also highlighted a few countries in the sample. Angola, Norway, and the United Arab Emirates are all at higher concentration levels than countries at comparable income levels. This conforms to the expectation that oil ‑rich countries are more concentrated since oil tends to increase costs of other industries, making them less internationally competitive. We note, however, that having oil does not necessarily entail being fully concentrated; Norway for instance does have some degree of diversification in exports. An extreme outlier in our sample is oil ‑rich Qatar. It is possible that the oil ‑rich countries with high incomes are the ones driving the apparent upward sloping relationship between income and concentration at high incomes. The U ‑shaped relationship could thus be less of a general pattern that previous studies suggest and one more driven by a few idiosyncratic cases. Visually, if a few of these cases are excluded, the relation seems mostly downward sloping throughout the figure.

Figure 2 – Concentration and income, 2009

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Our second main question is whether there are institutional constraints to diversification. This question is partly motived by the puzzle of why countries, and in particular resource ‑rich countries, do not diversify more if there are gains from diversification (Wiig and Kolstad, 2012). Could it be the case that diversification is not always easy to attain due to political interests? According to Dunning (2005), resource dependence is the outcome of strategic decisions by incumbent elites to limit the extent to which political opponents can challenge their power. In a model of Acemoglu and Robinson (2006a), the elite faces a clear trade ‑off in deciding whether or not to pursue a strategy that would lead to the introduction of new industries. On the one hand, this could help elites access new sources of income, for instance from manufacturing or services. On the other hand, the elite will likely foresee that these new areas of industry will make them more vulnerable to popular revolt, and hence make it more likely that they will lose political power and access to rents over which they previously had control. In other words, if current sources of income are sufficiently important to the ruling elite, it is unlikely to introduce a strategy of diversification into industries whose existence would undermine the elite’s hold on political power. To the extent that an elite will introduce industrial policies of diversification in this case, it will likely focus on diversification into industries that shore up the political power of the elite. There is however little existing empirical analysis of institutional or political constraints to diversification.

A plot of concentration and political constraints as measured by democracy levels for the countries in our sample is presented in figure 3. Concentration is again measured by the UNCTAD index, and democracy by the Polity IV Democracy Index. It is perhaps hard to see a general pattern here, but we note that none of the highly democratic countries have very high levels of concentration in exports. And the most diversified countries are highly democratic. In contrast, countries at lower levels of democracy have levels of concentration that are scattered all over the scale. The full line in the figure represents the linear fit, and suggests that the relation between democracy and diversification is a negative one. Again, we highlight a few interesting cases, in this instance Angola and Norway. Similarly to the figure on income, oil ‑rich countries such as these tend to have higher levels of concentration compared to countries at similar levels of democracy. Angola scores higher on the concentration index than any of the countries at comparable levels of democracy. And Norway is at the high end of concentration for countries with a perfect score of 10 for democracy.

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Figure 3 – Concentration and democracy, 2009

5.3 Empirical strategy and data

The analysis focuses primarily on the relation between concentration, and income and demo‑cracy. We use OLS estimation with robust standard errors, estimating the relationship given by equation (1), where concentration in country c is regressed on GDP per capita and democracy in country c. To assess the U ‑shaped relationship with GDP per capita, we include both the individual term and its square. The robustness of the U ‑shape is tested by dropping the outlier Qatar. Since small states in the sample tend to have a low degree of diversification, we also control for population size in the estimations. We use data from 2009 for concentration, which was the latest available data at the time of the analysis. All independent variables are lagged one period. To make sure that the results do not depend on choosing the year 2009, we also perform between effects panel data estimations, which essentially use the average of the data for the years available.

Concentrationc = α1 + β1 · GDP capitac + β2 · (GDP capitac)2 + β3 · Democracyc

+ β4 · Populationc + εc (1)

It should be noted that this empirical approach only permits us to capture correlations bet‑ween the variables in question. There are likely to be unobserved variables that affect income or democracy on the one hand, and concentration on the other. This means that our estimates are highly likely to be biased, and cannot be used to make causal statements. We therefore interpret all results as capturing correlations, rather than impacts of income and democracy on concentration. Capturing causal effects would require a more complicated empirical setup, for instance using instruments for income and democracy. We leave this issues for further research, but see the results here as an indication of issues and relationships that can be probed further.

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Our main variables are presented in table 2. The concentration index is taken from UNCTAD, and is computed as a Herfindahl index of merchandise export concentration (for details on the index, see Wiig and Kolstad, 2012). The index runs from 0 to 1, with higher numbers capturing greater concentration. A country whose export is fully concentrated in one sector will hence get a value of 1, whereas the more diversified the country is across sectors, the closer the index is to 0. As our measure of income, we use GDP per capita, PPP adjusted and in constant 2005 USD. Our main measure of democracy is the Polity IV Democracy Index, which runs from 0 to 10, with higher values representing greater democracy. To assess the robustness of our results for the democracy variable, however, we also use the Freedom House Political Rights Index. We have rescaled this index so that it also runs from 0 to 10, making the results comparable across estimations. Our democracy indexes are standardly used in the empirical literature on demo‑cracy (see for instance Kolstad and Wiig, 2013). We control for total population in billions, from the World Development Indicators.

Table 2 – Main variables

Variable Explanation Source

Dependent variableConcentration

Herfindahl index of merchandise export concentration UNCTAD

Independent variablesGDP/capitaGDP/capita squaredDemocracy PolityDemocracy FHPopulation

GDP per capita, PPP adjusted, 1000 constant 2005 USD, lagged

Polity Democracy IndexFreedom House Political Rights Index, rescaled

(0 ‑little democracy, 10 ‑high democracy)Total population (in billions)

World Development IndicatorsWorld Development Indicators

Quality of Government InstituteQuality of Government InstituteWorld Development Indicators

Descriptive statistics for the variables are shown in table 3. Our main sample includes 151 countries, which increases to 174 when using the Freedom House Democracy Index instead of the Polity IV Index. The mean level of concentration in our sample is 0,32; there is substantial variation in the sample, which contains both highly diversified and highly concentrated coun‑tries, such as Angola. Our sample consists of both poor and wealthy countries, Qatar being the richest with an average GDP per capita of 84 000 USD and the average country having a GDP per capita of 12 000 USD. The average country in the sample is borderline democratic, with a score on the democracy indexes of about 6.

Table 3 – Summary statistics

Variable Obs Mean Std. dev. Min. Max.

Concentration 151 0,32 0,22 0,05 0,96

GDP/capita 151 12,17 13,81 0,29 84,04

Democracy Polity 151 5,81 3,80 0,00 10,00

Democracy FH 174 6,08 3,44 0,00 10,00

Population 151 0,04 0,15 0,00 1,32

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5.4 Results

Results from our main estimations are presented in table 4. In the first column are the results from the full sample of 151 countries using the Polity IV Index as the measure of democracy. The results suggest that there is a U ‑shaped relationship between concentration and income, as suggested by figure 2. However, the second column in table 4 shows results when the outlier Qatar is dropped from the sample. The squared GDP per capita term is then no longer significant, making the non ‑linearity of the relation between income and concentration appear not very robust. Column three in table 4 presents results when using the Freedom House Democracy Index instead of the Polity IV Index, and when excluding Qatar, and the result is the same for this larger sample of countries. In other words, it is likely that the U ‑shaped relationship documented in previous studies is driven by countries with some highly specific characteristics, in particular large petroleum endowments. This means that a hypothesis that countries that grow richer first diversify and then re ‑concentrate need not be as fruitful a line of inquiry as past studies have argued. Instead, there seems to be a consistently negative relation between income and concentration, outside of oil ‑rich economies, richer economies seem to be more diversified.

Table 4 – Results, OLS

OLS 1 OLS 2 OLS 3

Dependent variable Concentration Concentration Concentration

GDP/capita

GDP/capita squared

Democracy Polity

Population

Democracy FH

Constant

‑0,007***

(0,00)0,000**

(0,00) ‑0,022***

(0,01) ‑0,247***

(0,06)

0,509***

(0,04)

‑0,008*

(0,00)0,000(0,00)

‑0,022***

(0,01) ‑0,248***

(0,06)

0,513***

(0,04)

‑0,007**

(0,00)0,000(0,00)

‑0,289***

(0,06) ‑0,018***

(0,01)0,513***

(0,04)R ‑sq.N

0,286151

0,283150

0,209174

NOTE: Robust standard errors in parentheses. *** – Indicates significance at the 1% level, ** – Indicates significance at the 5% level, * – Indicates significance at the 10% level.

The results for the democracy variables in table 4 are negative, suggesting that more demo‑cratic countries are more diversified. The results are very similar in all three columns, and so do not depend on which of the two democracy indexes is used. A one standard deviation increase in democracy reduces concentration by about eight percentage points, so the relation is also economically significant. This of course does not imply a causal relation, we cannot tell from these results whether democracy affects concentration, or vice versa, or whether the correlation between the two is driven by some third variable that we have not controlled for. Nevertheless,

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this finding is a novel one in the literature on diversification, and given the importance of political economy considerations in assessing the potential for and impacts of diversification, this opens up interesting hypotheses for further studies.

The population variable shows a negative coefficient, which means that larger countries have less concentrated economies in terms of exports. This is in line with expectations.

The results in table 4 are based on concentration data from 2009. To assess whether the results are due to using data from this particular year, we also run between effects panel data estimations. The results are presented in table 5, and each column is comparable to the columns of table 4. In other words, columns one and two present results using the Polity IV Democracy Index, with Qatar excluded from the sample in column two, and column three uses the Freedom House Democracy Index and omits Qatar from the sample. The uncovered relationships are more or less the same as in the OLS regressions presented above. There is a negative relation between income and concentration. In contrast to the OLS estimations, the second order GDP per capita term is not significant in any estimation, again suggesting that the U ‑shaped relationship found in previous studies is not very robust. Democracy and concentration are negatively related, as in the above results. And more populous countries have less concentrated economies.

Table 5 – Results, between effects

BE 1 BE 2 BE 3

Dependent variable Concentration Concentration Concentration

GDP/capita

GDP/capita squared

Democracy Polity

Population

Democracy FH

Constant

‑0,006*

(0,00)0,000(0,00)

‑0,029***

(0,00) ‑0,281***

(0,10)

0,537***

(0,03)

‑0,008*

(0,00)0,000(0,00)

‑0,029***

(0,00) ‑0,284***

(0,10)

0,542***

(0,03)

‑0,007**

(0,00)0,000(0,00)

‑0,345***

(0,11) ‑0,024***

(0,00)0,543***

(0,03)R ‑sq.N

0,3822322

0,3792312

0,2742743

NOTE: Standard errors in parentheses. *** – Indicates significance at the 1% level, ** – Indicates significance at the 5% level, * – Indicates significance at the 10% level.

5.5 Conclusion

Analyzing how diversification relates to central characteristics of countries such as income and democracy are important in assessing the merits and preconditions of diversification, and in informing our views of and approaches to diversification. While the empirical analyses in this paper are not used for causal inference, the results presented do suggest that oil ‑rich countries

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deserve some special attention in discussions of diversification. Firstly, oil ‑rich countries tend to be more concentrated than countries at comparable levels of income, which should be taken into account when discussing patterns of industrialization. Our results show that a U ‑shaped relationship between concentration and income is due to a single oil ‑rich country, making this less of a general and robust pattern than the previous literature would suggest. Instead, it seems for the most part that with higher average incomes comes more diversification. Secondly, the resource related problems in oil producing developing countries means that we need to focus on the political economy of diversification, and specifically its relation to democracy. The paper has presented some initial evidence on this suggesting that across countries, and controlling for income and population size, diversification increases with democracy.

The result that there is a negative relation between concentration and democracy can mean either of four things. Firstly, it is possible that no causal relation exists between democracy and concentration, and the negative relation uncovered above simply reflects some underlying third variable which influences both democracy and diversification. Secondly, it could be that our results reflect a causal effect of democracy on diversification. This would be consistent with a hypothesis that elites in undemocratic countries would be reluctant to promote diversification of the economy, as this would reduce their power and ability to extract rents. Thirdly, the results could reflect a causal effect of diversification on democracy, consistent with a hypothesis that when economic power is more widely distributed this also leads to pressure for more de ‑concen‑trated political power. Fourthly, our results could reflect causal effects in both directions, from democracy to diversification and from diversification to democracy. Which of these four possi‑bilities actually underlies our results cannot be inferred from the results given the approach we have taken. This would require a different methodological approach. But our results do present some useful working hypotheses which can form the basis of such studies of causal effects. In particular, they do suggest that the political economy of diversification is an important and so far under ‑explored topic in the relevant literature.

Some caution is therefore advised in suggesting diversification as a key policy to improve the situation in resource ‑rich countries such as Angola. While there are arguments that diversification has positive economic and political effects, these effects so far remain insufficiently proven to provide a firm basis for policy. More research is needed before we can conclude on this matter. Even with the descriptive results we present here, it remains possible that diversification policies and narratives can be captured and used by political elites to increase their hold on power, by focusing on sectors conducive to this end (see Wiig and Kolstad, 2012). Our results could also be taken to suggest that the scope for any form of beneficial diversification likely depends on the incentives facing the political elite, which needs to be explored further in future work, quantita‑tive and qualitative. What we do not need in the context of resource ‑rich countries such as Angola is more policy advice based on assumptions of a benevolent or fully accountable government. Political economy considerations need to be taken into account when analyzing the potential of diversification or any other policy in improving the situation in these countries.

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