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ESTUDOS DO DISCURSO OPERADORES ARGUMENTATIVOS Na aula do dia 09/06, discutimos, em aula, os operadores argumentativos. Mas o que são operadores argumentativos? Bem, operador argumentativo é o morfema que, aplicado a um conteúdo, transforma as potencialidades argumentativas desse conteúdo (cf. Moeshler, 1985, p.61-2). Vejamos alguns exemplos utilizados pela professora Marlene Teixeira: (a’) Este vestido é caro. (a”) Este vestido é caro demais. (b’) Ela levou um fora. (b”) Ela levou mais um fora. Os operadores argumentativos mais utilizados são: até, até mesmo, pouco, um pouco, ainda, já, na verdade, aliás, etc. Agora, veremos como esses operadores funcionam em alguns enunciados. Para isso, utilizaremos mais alguns trechos dos textos: “O povo perde a vez” e “Uma aula de como governar”: 1-“É extraordinário que, historicamente, o folguedo popular, criado artesanalmente por amadores, tenha conseguido despertar a atenção de espectadores da classe alta e até de turistas, que se deslocam e pagam para assisti-lo.” No trecho acima, o conector argumentativo “até”, tenta persuadir seus leitores e apóia uma tese. Ele puxa o argumento para o topo de uma escala. Ou seja, os folguedos são um sucesso, atraem tanto a classe alta, quanto os turistas. 2- “Com isso veio, porém, a preocupação de transformar o folguedo em espetáculo: primeiro, com a contratação de profissionais para o conceber e gerenciar; depois, com o

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ESTUDOS DO DISCURSO

OPERADORES ARGUMENTATIVOSNa aula do dia 09/06, discutimos, em aula, os operadores

argumentativos. Mas o que são operadores argumentativos? Bem,

operador argumentativo é o morfema que, aplicado a um conteúdo,

transforma as potencialidades argumentativas desse conteúdo (cf.

Moeshler, 1985, p.61-2).

Vejamos alguns exemplos utilizados pela professora Marlene Teixeira:

(a’) Este vestido é caro.

(a”) Este vestido é caro demais.

(b’) Ela levou um fora.

(b”) Ela levou mais um fora.

Os operadores argumentativos mais utilizados são: até, até mesmo,

pouco, um pouco, ainda, já, na verdade, aliás, etc.

Agora, veremos como esses operadores funcionam em alguns

enunciados. Para isso, utilizaremos mais alguns trechos dos textos:

“O povo perde a vez” e “Uma aula de como governar”:

1-“É extraordinário que, historicamente, o folguedo popular, criado

artesanalmente por amadores, tenha conseguido despertar a atenção

de espectadores da classe alta e até de turistas, que se deslocam e

pagam para assisti-lo.”

No trecho acima, o conector argumentativo “até”, tenta persuadir

seus leitores e apóia uma tese. Ele puxa o argumento para o topo de

uma escala. Ou seja, os folguedos são um sucesso, atraem tanto a

classe alta, quanto os turistas.

2- “Com isso veio, porém, a preocupação de transformar o folguedo

em espetáculo: primeiro, com a contratação de profissionais para o

conceber e gerenciar; depois, com o progressivo aumento dos gastos,

que termina por alijar o adepto tradicional da participação eaté da

platéia, que ganhou preço de mercado.”

Aqui o conector argumentativo “até”, marca o argumento mais forte,

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o conector hierarquiza os argumentos.

3- Agora veremos como os conectores argumentativos transformam

as potencialidades argumentativas dos enunciados abaixo:

a) “Morreu mais uma indiazinha em Dourados.”

Aqui o conector argumentativo “mais” nos mostra que este é um fato

que se repete; ele denúncia as mortes.

b) “A resposta já foi dada por Humberto Costa (...)”

Neste exemplo, o conector “já” enfatiza a ocorrência de um fato em

tempo passado.

c) “Sua viúva agradece agora ser espanhola, um pouco menos

pobre.”

Aqui o conector “um pouco” argumenta no sentido de que a situação

econômica da viúva melhorou; uma ultrapassagem de limite, que nos

leva em direção da riqueza.

d) “Sua viúva agradece agora ser espanhola, um pouco menos

pobre.”

Neste caso, o operador “um pouco menos”, deixa implícito a

possibilidade de aumento da posição social.

MARCADORES DE INTEGRAÇÃO LINEAR

Ainda nessa aula, vimos os marcadores de integração linear ou

seqüenciadores, cuja função é estruturar a linearidade do texto,

organiza-lo em uma sucessão de fragmentos complementares que

facilitam a interpretação.

O marcador linear pode ter três funções:

1 - indicar que o constituinte que ele acompanha marca a abertura de

uma série (valor de abertura): primeiramente, antes de mais nada,

em primeiro lugar, por um lado, por uma parte, etc. Ex: “Inicialmente,

exporei algumas reflexões que (...)”.

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2- marcar que o constituinte discursivo que ele acompanha entra na

série sem ser o elemento inicial (valor de intermediação): em

segundo lugar, em seguida, a seguir, por outro lado, por outra parte,

etc. Ex: “(...) Um segundo fator está em jogo (...)”.

3- indicar que o constituinte discursivo que ele acompanha marca o

fechamento da série (valor de fecho): enfim, finalmente, para

terminar, em último lugar, etc.

Ex: (...) Finalmente especularei sobre o perfil (...)”.

CONECTORES - AnáliseAgora vamos ver na prática a utilização dos conectores vistos

anteriormente. Para os exemplos utilizaremos trechos de dois textos:

“Uma aula de como governar” de Clóvis Rossi, publicado na Folha de

São Paulo em 12/03/2005 e “O povo perde a vez” de Rachel Valença,

publicado na Folha de São Paulo em 05/02/2005.

1- Os efeitos contextuais da conjunção são:

a) sucessividade: “(...) com a contratação de profissionais para o

conceber e gerenciar (...)”; “(...) formas de folguedo carnavalesco

existentes pelo país, quase sempre idealizados e organizados por

gente humilde (...)”.

b) simultaneidade: soma duas coisas que podem ocorrer ao mesmo

tempo: “(...) realizar algo de muito belo e rico em nome de sua

cultura.”

c) restrição/ inversão: “O dinheiro era pouco, e a dedicação,

enorme.” Aqui o “e” é substituível pelo “mas”.

d) conseqüência: “(...) morrer em atentados terroristas ‘está dentro

do número que normalmente acontece’ e que, portanto, o governo

nada poderia fazer para ajudar as famílias das vítimas.” Aqui o “e”

tem valor de “conseqüentemente, portanto”.

e) ultrapassagem: “(...) tenha conseguido despertar a atenção de

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espectadores da classe alta e até de turistas (...)” Aqui o “e” pode ser

substituído por “além disso, não só...mas também”.

2- Os conectores de disjunção ligam duas proposições,

estabelecendo alternância entre o elemento coordenado e o elemento

anterior. Vejamos os trechos abaixo:

a) “Não adianta perguntar ao ministro da Saúde ou a qualquer outra

autoridade o que estão fazendo.” Aqui o “ou” tem efeito contextual

de equivalência, é inclusivo.

b) “Ou, posto de outra forma, ninguém do governo espanhol (...)”.

Aqui novamente, o “ou” é inclusivo.

3- Em relação ao conector porque em : “Para mim, este momento é

sempre o Carnaval, porque fica visível, impossível de ser ignorada, a

força da cultura.” – a relação se dá entre proposições, ou seja,

causalidade que decorre da visão do sujeito falante sobre

determinado fato/ fato possível, argumentativo.

4- Nos enunciados abaixo (a) e (b), os conectores “mas” e

“embora” expressam relação de restrição. O conector “mas” nega

os argumentos da outra asserção, ele quase sempre frustra uma

expectativa. E o conector “embora” nega o argumento do segmento

em que aparece. Assim sendo, o “mas” restringe uma conclusão a

partir da primeira idéia (implícita) e, o “embora” é sinalizador de um

argumento mais fraco daquele que seguirá depois.

(a) Saddan Hussein é um tirano sanguinário que merece o pior dos

destinos. O Iraque certamente ficará melhor sem ele. Mas isso não

significa que os EUA e o presidente George W. Bush tenham o direito

de arriscar milhares de vidas de iraquianos e de (a) soldados da

coalizão para iniciar uma guerra para depor o ditador. (Folha de São

Paulo, 22/03/2003)

(b) Embora as crianças de escola pública tenham direito a um ano

letivo normal, é injusto que os reajustes salariais não cubram a

inflação.

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5- Funcionamento discursivo do conector “mas”:

a) “Alguns desses folguedos são bastante rudimentares, mas têm a

beleza do que vem do povo, do que é autêntico.” Temos aqui um

exemplo de “mas” argumentativo. O conector “mas” nega

argumentativamente o segmento e apresenta um outro aspecto a ser

considerado.

b) “Mas que turista pagaria caro por eles?” Aqui o “mas” é um

elemento fático, configurando-se como uma marca de negociação de

ponto de vista típica da interação. E tem a função de atrair a atenção

do interlocutor.

c) “(...) que lamentava muito, mas morrer em atentados terroristas

‘está dentro do número que normalmente acontece (...)”. Aqui o

“mas” é refutativo, caracterizando uma estratégia discursiva

conflitual.

6.1- Nos trechos abaixo, analisados, a relação causal se dá entre

predicações, ou seja, acontecimentos ou situações do mundo –

causalidade real/ efetiva:

a) “A cada novo pacote econômico, os argentinos ficam mais

abatidos porque mudanças anunciadas sempre trazem mais

conseqüências ruins para o povo.’

b) “O governo argentino está conseguindo desagradar muito a

população, porque um número crescente de manifestações ganha as

ruas.”

c) “Alguns turistas brasileiros estão aproveitando essa crise no país

vizinho porque as companhias de turismo estão registrando uma

procura por pacotes para a Argentina duas vezes maior que a

normalmente registrada nos anos anteriores.”

6.2 - No trecho seguinte, a relação causal se dá entre

proposições – fatos possíveis:

a) “Como a população quer chamar a atenção do governo, apela para

os famosos panelaços.”

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6.3 - E finalmente no trecho abaixo, a relação causal se dá entre

enunciados – atos de fala:

a) “Eles afirmam que, já que, para ter crédito no exterior é preciso

apertar os cintos da população, estão tomando as decisões mais

acertadas para o bem estar da nação.”