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Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da Associação do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos (ASASM). Raquel Alexandra Lemos Morais

Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

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Page 1: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

Estudos para uma framework de performance musical para natildeo-

ouvintes o caso da Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo de

Matosinhos (ASASM)

Raquel Alexandra Lemos Morais

2

Raquel Alexandra Lemos Morais

Estudos para uma framework de performance musical para natildeo-

ouvintes o caso da Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo de

Matosinhos (ASASM)

Dissertaccedilatildeo de Candidatura ao grau de Mestre

em Design de Imagem submetida agrave Faculdade

de Belas Artes da Universidade do Porto

Orientada por Miguel Carvalhais

Co-orientador por Pedro Cardoso

Faculdade de Belas Artes da Universidade

do Porto

3

Agradecimentos

Aos meus orientadores professores Miguel Carvalhais e Pedro Cardoso pela motivaccedilatildeo

e acompanhamento do projeto mesmo nas alturas mais complicadas Aos meus colegas

de turma pelo reconhecimento partilha de experiecircncias e criacuteticas pertinentes que me

fizeram refletir e ponderar tornando todo este processo muito mais estimulante

Ao Viacutetor Palma vice-presidente da Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio a Surdos de

Matosinhos o meu mais profundo agradecimento por toda a dedicaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo

durante estes meses de aacuterduo trabalho A todos os associados que mostraram interesse

em participar no projeto e que sempre estiveram disponiacuteveis para as atividades

demonstrando uma grande dedicaccedilatildeo e empenho

Um agradecimento sincero e especial a todos aqueles que foram entrevistados e que

contribuiacuteram para o arranque desta investigaccedilatildeo com inputs incriacuteveis e experiecircncias

inspiradoras em especial ao Alberto Mendonccedila e ao Jorge Prendas que continuam a

quebrar barreiras trabalhando com a comunidade surda na aacuterea da muacutesica

Aos meus familiares e amigos por me apoiarem ao longo deste processo dando-me

sempre uma palavra de apoio e incentivo nos momentos de maiores incertezas

4

Resumo

A presente dissertaccedilatildeo explora a forma como um sistema multimodal pode ajudar surdos

sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isso pretendemos clarificar como

as pessoas surdas experienciam a muacutesica e que necessidades tecircm nessa atividade para

assim melhorar a sua experiecircncia musical

Numa fase inicial utilizamos entrevistas para perceber que tipo de intervenccedilotildees tinham sido

feitas a esta populaccedilatildeo na aacuterea musical numa tentativa de encontrar um grupo de trabalho

recetivo a participar na investigaccedilatildeo Foi utilizado o meacutetodo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo com este

grupo alvo da ASASM onde a investigadora interagiu com o grupo de trabalho em vaacuterias

atividades Neste tipo de investigaccedilatildeo houve um procedimento in loco que visou lidar com

a questatildeo numa situaccedilatildeo concreta em que o processo foi controlado de forma constante

e cujos resultados foram traduzidos em alteraccedilotildees consoante as necessidades de modo

a colmatar as falhas existentes previamente

A investigaccedilatildeo tem por base um trabalho de campo em que a investigadora assume o duplo

papel de observadora e participante para perceber de que forma a comunidade surda

experiencia a muacutesica para iniciar um confronto desses mesmos participantes com a sua

condiccedilatildeo implementando exerciacutecios que os exponham agrave muacutesica e para avanccedilar na

construccedilatildeo de um sistema de composiccedilatildeo riacutetmica para surdos O trabalho de anaacutelise

centra-se na identificaccedilatildeo das dificuldades maiores do grupo de trabalho e na

experimentaccedilatildeo de alternativas para encontrar um modelo simples e viaacutevel para colmatar

as falhas detetadas Na conclusatildeo demonstramos o protoacutetipo de um sistema de

composiccedilatildeo riacutetmica para surdos elaborado apoacutes um esclarecimento sobre a experiecircncia

musical tida por esta comunidade Isto permitiu perceber qual a melhor abordagem nesta

temaacutetica ao longo do trabalho de prototipagem assim como as melhores formas de

colmatar as dificuldades sentidas por esta comunidade

Palavras-chave muacutesica surdez composiccedilatildeo relaccedilatildeo som-imagem

5

Abstract

This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical

training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical

composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what

needs they have to improve their musical experience

At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made

with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate

in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM

where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of

research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete

situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes

according to needs to bridge previously existing failures

The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of

observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music

to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing

exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of

rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties

of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model

to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of

rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical

experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme

and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties

experienced by this community

Keywords music deafness composition sound-image relation

6

Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Estado da Arte 11

21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18

23 Sistemas Audiovisuais 22

231 Muacutesica Visual 24

3 Metodologia 34

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34

32 Entrevistas 35

33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36

34 Questionaacuterios 37

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44

46 Consideraccedilotildees finais 46

5 Conclusatildeo 49

6 Glossaacuterio 53

7 Bibliografia 55

7

Iacutendice de Imagens

Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18

Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles

Germain de Saint Aubin 25

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30

Fig 9 Tonoscope 30

Fig 10 Protoacutetipo inicial 42

Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos

Elementos do grupo 44

Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45

Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47

8

Iacutendice de Tabelas

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46

9

1 Introduccedilatildeo

O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode

ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta

investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave

imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios

anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o

audiovisual

Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples

mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo

musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este

sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de

forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela

comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea

Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar

forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode

ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade

de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de

vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de

mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo

padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em

que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a

que todas as artes aspiram (Ribas 2012)

Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a

interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea

educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 2: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

2

Raquel Alexandra Lemos Morais

Estudos para uma framework de performance musical para natildeo-

ouvintes o caso da Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo de

Matosinhos (ASASM)

Dissertaccedilatildeo de Candidatura ao grau de Mestre

em Design de Imagem submetida agrave Faculdade

de Belas Artes da Universidade do Porto

Orientada por Miguel Carvalhais

Co-orientador por Pedro Cardoso

Faculdade de Belas Artes da Universidade

do Porto

3

Agradecimentos

Aos meus orientadores professores Miguel Carvalhais e Pedro Cardoso pela motivaccedilatildeo

e acompanhamento do projeto mesmo nas alturas mais complicadas Aos meus colegas

de turma pelo reconhecimento partilha de experiecircncias e criacuteticas pertinentes que me

fizeram refletir e ponderar tornando todo este processo muito mais estimulante

Ao Viacutetor Palma vice-presidente da Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio a Surdos de

Matosinhos o meu mais profundo agradecimento por toda a dedicaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo

durante estes meses de aacuterduo trabalho A todos os associados que mostraram interesse

em participar no projeto e que sempre estiveram disponiacuteveis para as atividades

demonstrando uma grande dedicaccedilatildeo e empenho

Um agradecimento sincero e especial a todos aqueles que foram entrevistados e que

contribuiacuteram para o arranque desta investigaccedilatildeo com inputs incriacuteveis e experiecircncias

inspiradoras em especial ao Alberto Mendonccedila e ao Jorge Prendas que continuam a

quebrar barreiras trabalhando com a comunidade surda na aacuterea da muacutesica

Aos meus familiares e amigos por me apoiarem ao longo deste processo dando-me

sempre uma palavra de apoio e incentivo nos momentos de maiores incertezas

4

Resumo

A presente dissertaccedilatildeo explora a forma como um sistema multimodal pode ajudar surdos

sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isso pretendemos clarificar como

as pessoas surdas experienciam a muacutesica e que necessidades tecircm nessa atividade para

assim melhorar a sua experiecircncia musical

Numa fase inicial utilizamos entrevistas para perceber que tipo de intervenccedilotildees tinham sido

feitas a esta populaccedilatildeo na aacuterea musical numa tentativa de encontrar um grupo de trabalho

recetivo a participar na investigaccedilatildeo Foi utilizado o meacutetodo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo com este

grupo alvo da ASASM onde a investigadora interagiu com o grupo de trabalho em vaacuterias

atividades Neste tipo de investigaccedilatildeo houve um procedimento in loco que visou lidar com

a questatildeo numa situaccedilatildeo concreta em que o processo foi controlado de forma constante

e cujos resultados foram traduzidos em alteraccedilotildees consoante as necessidades de modo

a colmatar as falhas existentes previamente

A investigaccedilatildeo tem por base um trabalho de campo em que a investigadora assume o duplo

papel de observadora e participante para perceber de que forma a comunidade surda

experiencia a muacutesica para iniciar um confronto desses mesmos participantes com a sua

condiccedilatildeo implementando exerciacutecios que os exponham agrave muacutesica e para avanccedilar na

construccedilatildeo de um sistema de composiccedilatildeo riacutetmica para surdos O trabalho de anaacutelise

centra-se na identificaccedilatildeo das dificuldades maiores do grupo de trabalho e na

experimentaccedilatildeo de alternativas para encontrar um modelo simples e viaacutevel para colmatar

as falhas detetadas Na conclusatildeo demonstramos o protoacutetipo de um sistema de

composiccedilatildeo riacutetmica para surdos elaborado apoacutes um esclarecimento sobre a experiecircncia

musical tida por esta comunidade Isto permitiu perceber qual a melhor abordagem nesta

temaacutetica ao longo do trabalho de prototipagem assim como as melhores formas de

colmatar as dificuldades sentidas por esta comunidade

Palavras-chave muacutesica surdez composiccedilatildeo relaccedilatildeo som-imagem

5

Abstract

This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical

training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical

composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what

needs they have to improve their musical experience

At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made

with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate

in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM

where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of

research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete

situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes

according to needs to bridge previously existing failures

The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of

observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music

to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing

exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of

rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties

of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model

to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of

rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical

experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme

and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties

experienced by this community

Keywords music deafness composition sound-image relation

6

Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Estado da Arte 11

21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18

23 Sistemas Audiovisuais 22

231 Muacutesica Visual 24

3 Metodologia 34

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34

32 Entrevistas 35

33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36

34 Questionaacuterios 37

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44

46 Consideraccedilotildees finais 46

5 Conclusatildeo 49

6 Glossaacuterio 53

7 Bibliografia 55

7

Iacutendice de Imagens

Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18

Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles

Germain de Saint Aubin 25

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30

Fig 9 Tonoscope 30

Fig 10 Protoacutetipo inicial 42

Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos

Elementos do grupo 44

Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45

Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47

8

Iacutendice de Tabelas

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46

9

1 Introduccedilatildeo

O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode

ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta

investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave

imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios

anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o

audiovisual

Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples

mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo

musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este

sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de

forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela

comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea

Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar

forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode

ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade

de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de

vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de

mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo

padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em

que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a

que todas as artes aspiram (Ribas 2012)

Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a

interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea

educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 3: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

3

Agradecimentos

Aos meus orientadores professores Miguel Carvalhais e Pedro Cardoso pela motivaccedilatildeo

e acompanhamento do projeto mesmo nas alturas mais complicadas Aos meus colegas

de turma pelo reconhecimento partilha de experiecircncias e criacuteticas pertinentes que me

fizeram refletir e ponderar tornando todo este processo muito mais estimulante

Ao Viacutetor Palma vice-presidente da Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio a Surdos de

Matosinhos o meu mais profundo agradecimento por toda a dedicaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo

durante estes meses de aacuterduo trabalho A todos os associados que mostraram interesse

em participar no projeto e que sempre estiveram disponiacuteveis para as atividades

demonstrando uma grande dedicaccedilatildeo e empenho

Um agradecimento sincero e especial a todos aqueles que foram entrevistados e que

contribuiacuteram para o arranque desta investigaccedilatildeo com inputs incriacuteveis e experiecircncias

inspiradoras em especial ao Alberto Mendonccedila e ao Jorge Prendas que continuam a

quebrar barreiras trabalhando com a comunidade surda na aacuterea da muacutesica

Aos meus familiares e amigos por me apoiarem ao longo deste processo dando-me

sempre uma palavra de apoio e incentivo nos momentos de maiores incertezas

4

Resumo

A presente dissertaccedilatildeo explora a forma como um sistema multimodal pode ajudar surdos

sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isso pretendemos clarificar como

as pessoas surdas experienciam a muacutesica e que necessidades tecircm nessa atividade para

assim melhorar a sua experiecircncia musical

Numa fase inicial utilizamos entrevistas para perceber que tipo de intervenccedilotildees tinham sido

feitas a esta populaccedilatildeo na aacuterea musical numa tentativa de encontrar um grupo de trabalho

recetivo a participar na investigaccedilatildeo Foi utilizado o meacutetodo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo com este

grupo alvo da ASASM onde a investigadora interagiu com o grupo de trabalho em vaacuterias

atividades Neste tipo de investigaccedilatildeo houve um procedimento in loco que visou lidar com

a questatildeo numa situaccedilatildeo concreta em que o processo foi controlado de forma constante

e cujos resultados foram traduzidos em alteraccedilotildees consoante as necessidades de modo

a colmatar as falhas existentes previamente

A investigaccedilatildeo tem por base um trabalho de campo em que a investigadora assume o duplo

papel de observadora e participante para perceber de que forma a comunidade surda

experiencia a muacutesica para iniciar um confronto desses mesmos participantes com a sua

condiccedilatildeo implementando exerciacutecios que os exponham agrave muacutesica e para avanccedilar na

construccedilatildeo de um sistema de composiccedilatildeo riacutetmica para surdos O trabalho de anaacutelise

centra-se na identificaccedilatildeo das dificuldades maiores do grupo de trabalho e na

experimentaccedilatildeo de alternativas para encontrar um modelo simples e viaacutevel para colmatar

as falhas detetadas Na conclusatildeo demonstramos o protoacutetipo de um sistema de

composiccedilatildeo riacutetmica para surdos elaborado apoacutes um esclarecimento sobre a experiecircncia

musical tida por esta comunidade Isto permitiu perceber qual a melhor abordagem nesta

temaacutetica ao longo do trabalho de prototipagem assim como as melhores formas de

colmatar as dificuldades sentidas por esta comunidade

Palavras-chave muacutesica surdez composiccedilatildeo relaccedilatildeo som-imagem

5

Abstract

This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical

training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical

composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what

needs they have to improve their musical experience

At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made

with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate

in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM

where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of

research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete

situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes

according to needs to bridge previously existing failures

The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of

observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music

to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing

exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of

rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties

of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model

to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of

rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical

experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme

and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties

experienced by this community

Keywords music deafness composition sound-image relation

6

Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Estado da Arte 11

21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18

23 Sistemas Audiovisuais 22

231 Muacutesica Visual 24

3 Metodologia 34

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34

32 Entrevistas 35

33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36

34 Questionaacuterios 37

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44

46 Consideraccedilotildees finais 46

5 Conclusatildeo 49

6 Glossaacuterio 53

7 Bibliografia 55

7

Iacutendice de Imagens

Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18

Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles

Germain de Saint Aubin 25

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30

Fig 9 Tonoscope 30

Fig 10 Protoacutetipo inicial 42

Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos

Elementos do grupo 44

Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45

Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47

8

Iacutendice de Tabelas

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46

9

1 Introduccedilatildeo

O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode

ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta

investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave

imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios

anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o

audiovisual

Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples

mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo

musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este

sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de

forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela

comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea

Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar

forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode

ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade

de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de

vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de

mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo

padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em

que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a

que todas as artes aspiram (Ribas 2012)

Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a

interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea

educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

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Page 4: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

4

Resumo

A presente dissertaccedilatildeo explora a forma como um sistema multimodal pode ajudar surdos

sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isso pretendemos clarificar como

as pessoas surdas experienciam a muacutesica e que necessidades tecircm nessa atividade para

assim melhorar a sua experiecircncia musical

Numa fase inicial utilizamos entrevistas para perceber que tipo de intervenccedilotildees tinham sido

feitas a esta populaccedilatildeo na aacuterea musical numa tentativa de encontrar um grupo de trabalho

recetivo a participar na investigaccedilatildeo Foi utilizado o meacutetodo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo com este

grupo alvo da ASASM onde a investigadora interagiu com o grupo de trabalho em vaacuterias

atividades Neste tipo de investigaccedilatildeo houve um procedimento in loco que visou lidar com

a questatildeo numa situaccedilatildeo concreta em que o processo foi controlado de forma constante

e cujos resultados foram traduzidos em alteraccedilotildees consoante as necessidades de modo

a colmatar as falhas existentes previamente

A investigaccedilatildeo tem por base um trabalho de campo em que a investigadora assume o duplo

papel de observadora e participante para perceber de que forma a comunidade surda

experiencia a muacutesica para iniciar um confronto desses mesmos participantes com a sua

condiccedilatildeo implementando exerciacutecios que os exponham agrave muacutesica e para avanccedilar na

construccedilatildeo de um sistema de composiccedilatildeo riacutetmica para surdos O trabalho de anaacutelise

centra-se na identificaccedilatildeo das dificuldades maiores do grupo de trabalho e na

experimentaccedilatildeo de alternativas para encontrar um modelo simples e viaacutevel para colmatar

as falhas detetadas Na conclusatildeo demonstramos o protoacutetipo de um sistema de

composiccedilatildeo riacutetmica para surdos elaborado apoacutes um esclarecimento sobre a experiecircncia

musical tida por esta comunidade Isto permitiu perceber qual a melhor abordagem nesta

temaacutetica ao longo do trabalho de prototipagem assim como as melhores formas de

colmatar as dificuldades sentidas por esta comunidade

Palavras-chave muacutesica surdez composiccedilatildeo relaccedilatildeo som-imagem

5

Abstract

This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical

training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical

composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what

needs they have to improve their musical experience

At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made

with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate

in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM

where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of

research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete

situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes

according to needs to bridge previously existing failures

The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of

observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music

to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing

exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of

rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties

of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model

to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of

rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical

experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme

and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties

experienced by this community

Keywords music deafness composition sound-image relation

6

Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Estado da Arte 11

21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18

23 Sistemas Audiovisuais 22

231 Muacutesica Visual 24

3 Metodologia 34

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34

32 Entrevistas 35

33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36

34 Questionaacuterios 37

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44

46 Consideraccedilotildees finais 46

5 Conclusatildeo 49

6 Glossaacuterio 53

7 Bibliografia 55

7

Iacutendice de Imagens

Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18

Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles

Germain de Saint Aubin 25

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30

Fig 9 Tonoscope 30

Fig 10 Protoacutetipo inicial 42

Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos

Elementos do grupo 44

Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45

Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47

8

Iacutendice de Tabelas

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46

9

1 Introduccedilatildeo

O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode

ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta

investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave

imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios

anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o

audiovisual

Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples

mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo

musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este

sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de

forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela

comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea

Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar

forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode

ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade

de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de

vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de

mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo

padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em

que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a

que todas as artes aspiram (Ribas 2012)

Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a

interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea

educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 5: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

5

Abstract

This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical

training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical

composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what

needs they have to improve their musical experience

At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made

with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate

in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM

where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of

research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete

situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes

according to needs to bridge previously existing failures

The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of

observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music

to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing

exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of

rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties

of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model

to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of

rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical

experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme

and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties

experienced by this community

Keywords music deafness composition sound-image relation

6

Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Estado da Arte 11

21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18

23 Sistemas Audiovisuais 22

231 Muacutesica Visual 24

3 Metodologia 34

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34

32 Entrevistas 35

33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36

34 Questionaacuterios 37

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44

46 Consideraccedilotildees finais 46

5 Conclusatildeo 49

6 Glossaacuterio 53

7 Bibliografia 55

7

Iacutendice de Imagens

Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18

Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles

Germain de Saint Aubin 25

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30

Fig 9 Tonoscope 30

Fig 10 Protoacutetipo inicial 42

Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos

Elementos do grupo 44

Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45

Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47

8

Iacutendice de Tabelas

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46

9

1 Introduccedilatildeo

O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode

ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta

investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave

imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios

anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o

audiovisual

Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples

mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo

musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este

sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de

forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela

comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea

Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar

forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode

ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade

de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de

vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de

mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo

padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em

que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a

que todas as artes aspiram (Ribas 2012)

Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a

interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea

educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 6: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

6

Sumaacuterio

1 Introduccedilatildeo 9

2 Estado da Arte 11

21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18

23 Sistemas Audiovisuais 22

231 Muacutesica Visual 24

3 Metodologia 34

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34

32 Entrevistas 35

33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36

34 Questionaacuterios 37

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44

46 Consideraccedilotildees finais 46

5 Conclusatildeo 49

6 Glossaacuterio 53

7 Bibliografia 55

7

Iacutendice de Imagens

Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18

Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles

Germain de Saint Aubin 25

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30

Fig 9 Tonoscope 30

Fig 10 Protoacutetipo inicial 42

Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos

Elementos do grupo 44

Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45

Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47

8

Iacutendice de Tabelas

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46

9

1 Introduccedilatildeo

O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode

ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta

investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave

imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios

anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o

audiovisual

Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples

mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo

musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este

sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de

forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela

comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea

Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar

forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode

ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade

de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de

vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de

mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo

padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em

que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a

que todas as artes aspiram (Ribas 2012)

Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a

interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea

educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 7: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

7

Iacutendice de Imagens

Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18

Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles

Germain de Saint Aubin 25

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30

Fig 9 Tonoscope 30

Fig 10 Protoacutetipo inicial 42

Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos

Elementos do grupo 44

Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45

Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47

8

Iacutendice de Tabelas

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46

9

1 Introduccedilatildeo

O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode

ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta

investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave

imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios

anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o

audiovisual

Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples

mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo

musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este

sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de

forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela

comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea

Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar

forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode

ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade

de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de

vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de

mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo

padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em

que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a

que todas as artes aspiram (Ribas 2012)

Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a

interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea

educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 8: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

8

Iacutendice de Tabelas

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46

9

1 Introduccedilatildeo

O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode

ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta

investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave

imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios

anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o

audiovisual

Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples

mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo

musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este

sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de

forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela

comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea

Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar

forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode

ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade

de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de

vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de

mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo

padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em

que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a

que todas as artes aspiram (Ribas 2012)

Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a

interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea

educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 9: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

9

1 Introduccedilatildeo

O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode

ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta

investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave

imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios

anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o

audiovisual

Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples

mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo

musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este

sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de

forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela

comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea

Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar

forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode

ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade

de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de

vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de

mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo

padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em

que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a

que todas as artes aspiram (Ribas 2012)

Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a

interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea

educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 10: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

10

de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em

Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1

Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos

prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia

musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas

escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a

usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica

Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente

questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De

seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse

capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os

resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias

Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados

obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a

investigaccedilatildeo nesta temaacutetica

1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham

City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 11: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

11

2 Estado da Arte

21 Experiecircncia Musical dos Surdos

Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo

e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo

American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou

total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o

indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)

Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se

insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial

A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a

ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o

que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter

a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o

consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena

percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos

como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)

Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine

em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia

magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou

dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral

2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais

dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo

(httpwwwasurdosportoorgpt)

3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido

Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 12: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

12

na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram

atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a

estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia

auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees

conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos

satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4

Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas

estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora

isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se

demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar

um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde

cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos

surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A

colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de

suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes

colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento

22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de

expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu

corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um

instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste

modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo

estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica

podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer

estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional

Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa

de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de

memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas

4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 13: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

13

tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da

muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor

ao seu gosto

A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo

portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas

surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo

fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6

Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a

proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos

em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu

potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como

por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de

percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses

elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja

algo mecacircnico e obrigatoacuterio

A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo

indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem

algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos

auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos

satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo

produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades

sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam

mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos

baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios

devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem

deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo

a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um

conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os

5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People

6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated

from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community

or culturerdquo (Deaf 2016a)

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 14: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

14

participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS

2013)

Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf

uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as

oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a

deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo

profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na

universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve

workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem

de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para

lidar com estes alunos (NDCS 2013)

Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto

de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas

surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como

por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns

e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente

e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco

muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes

em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste

processo

Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos

participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de

competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e

treinados no contacto com indiviacuteduos surdos

O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de

composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na

7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque

8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo

Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar

9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido

simultaneamente

15

primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 15: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

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primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e

tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees

posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das

sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do

desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das

sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais

que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres

musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees

utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram

que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara

pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave

muacutesica (Deaf 2016b)

Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada

agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda

profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de

piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que

Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava

fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do

maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que

estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery

tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior

curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta

utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve

de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos

(Montgomery 2013a)

Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar

aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de

muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos

mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica

eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 16: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

16

ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de

afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice

corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota

Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura

percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o

que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute

vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M

Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos

visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos

sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de

notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos

mais facilmente aprendam a identificar

Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11

Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o

envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs

tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de

educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este

contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora

os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de

matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista

realizada a 2 de dezembro de 2016)

10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades

11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 17: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

17

Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em

performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase

Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da

Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos

musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado

mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos

O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos

incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de

integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada

muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa

Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e

apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam

Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no

Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha

experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real

Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou

a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo

letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de

Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis

natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual

Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e

a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e

elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica

Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar

12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de

Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos

13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos

e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo

do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo

da Casa da Muacutesica

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 18: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

18

com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na

integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula

221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos

Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da

muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido

Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de

aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O

estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que

funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar

imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens

em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo

movimento

Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio

Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do

som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone

instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute

em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados

19

percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 19: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

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percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa

eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as

suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica

Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma

parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa

as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de

som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a

muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de

aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador

de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os

estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos

foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco

voltes que ilumina as luzes LED

Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs

O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida

agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das

paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os

alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 20: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

20

constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a

pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-

verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um

programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o

aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem

O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas

experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo

fiacutesica (Varrasi 2014)

As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do

contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees

cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva

Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito

de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e

explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e

a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma

Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e

filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os

jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para

surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo

Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que

nunca as vi14 (Deaf 2016a)

Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto

Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por

criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais

objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a

compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades

de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua

muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa

profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas

14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more

young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing

and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

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Page 21: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

21

durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o

desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo

Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas

sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os

participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em

casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das

sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho

Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que

as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de

faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que

o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas

com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham

de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo

nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a

utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees

Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar

uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave

muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens

muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e

exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento

de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria

musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da

criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a

confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma

variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas

musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer

alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo

musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 22: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

22

23 Sistemas Audiovisuais

A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular

dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)

Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem

altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo

mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar

ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras

relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos

estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno

musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao

concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em

que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que

leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves

possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se

a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida

eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)

Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que

a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica

estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de

movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em

cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute

para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de

maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo

de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical

ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes

do som (Rudi 2005)

15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

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Page 23: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

23

Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais

fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto

Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes

natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes

adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria

Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva

realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem

duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical

Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram

explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado

por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica

na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica

elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)

Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres

entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia

incontestaacutevel entre cores e sons

Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um

instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava

o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes

desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais

latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese

conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais

concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical

Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na

muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos

estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica

onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de

cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a

transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre

as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes

inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 24: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

24

novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o

desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes

prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas

conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo

promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de

eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que

se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute

fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria

(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer

loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao

mesmo tempo (Chion 1994)16

O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo

analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com

um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da

possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias

enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia

dos sentidos

231 Muacutesica Visual

A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe

Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista

mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco

e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios

tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria

gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios

tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se

transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto

representando as mais agudas

16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these

occur at exactly the same time

17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 25: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

25

Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre

as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)

Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho

para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19

principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave

ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som

Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e

notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que

permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor

diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima

do instrumento indicava a cor violeta

Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin

Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que

correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo

baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre

18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727

19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas

20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 26: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

26

cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a

artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que

se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em

particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias

experiecircncias (Levin 2000 22)

Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico

alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a

relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas

frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas

Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22

Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e

fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes

das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas

nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni

foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo

som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis

denominados de cimaacutetica

21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)

22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm

23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

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participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

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Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

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5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

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Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press

Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York

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Page 27: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

27

Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann

Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas

fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em

vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante

a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta

musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o

filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em

Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar

cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees

desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo

colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que

tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor

idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada

mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos

pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o

Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois

pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de

filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon

2006)

Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o

Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos

24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941

25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967

26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 28: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

28

audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a

uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas

de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz

Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred

Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram

projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e

Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora

a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo

sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade

de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)

Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary

Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias

animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi

27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral

combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 29: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

29

possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um

oscilador

Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of

Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir

muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934

descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos

filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo

visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes

incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha

sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele

chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons

eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)

Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova

muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o

visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo

pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco

oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada

este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo

queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta

forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente

O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo

de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que

usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e

depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as

distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma

gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a

amplitude

28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute

29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul

30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA

31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 30: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

30

Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas

O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o

material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o

Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar

passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente

espalhado

Fig 9 Tonoscope

Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a

mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em

desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 31: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

31

Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de

Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo

e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi

projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos

visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus

ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias

distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara

a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em

VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de

televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram

projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo

completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para

criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas

eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon

2006)

Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada

Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o

sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas

acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro

Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada

ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a

integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte

que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem

um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente

por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de

desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A

tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender

as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em

instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das

interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de

transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador

Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a

32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que

integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 32: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

32

dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33

interativos

Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes

dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de

relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges

medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo

musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental

tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e

instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram

inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto

o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)

Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de

pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente

poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation

em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros

paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a

evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro

low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas

para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina

um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador

interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro

sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo

espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto

eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de

linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos

sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles

encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)

Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media

Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada

33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo

cotaccedilotildees da bolsa de valores etc

34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940

35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente

36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a

frequecircncia de corte

37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 33: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

33

um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um

loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador

pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema

Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas

temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a

influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz

de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por

exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)

A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos

anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees

cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens

expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e

linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees

emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de

desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)

38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 34: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

34

3 METODOLOGIA

Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o

desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo

que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas

Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos

mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo

31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa

Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo

que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da

subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que

a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema

(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo

assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-

accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo

Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da

Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem

para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele

procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena

abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha

lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das

questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns

exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para

identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo

individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir

e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio

a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e

logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato

de papel e posteriormente em formato digital

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 35: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

35

32 Entrevistas

As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois

causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era

pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de

cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho

Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os

portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas

natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado

tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior

permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para

que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave

As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a

conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os

entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de

informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante

este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a

comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias

barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas

foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia

de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das

quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes

de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram

elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a

comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros

neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar

perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado

Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas

para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que

experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por

exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva

profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo

por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com

os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das

vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 36: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

36

profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos

e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas

para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical

comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que

eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para

amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me

muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40

No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com

deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as

estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada

atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras

Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de

Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com

deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho

porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante

vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos

natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo

Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao

Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da

Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo

muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila

ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)

33 Anaacutelise de Casos de Estudo

No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica

do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma

deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma

instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos

o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como

auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no

39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila

40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of

three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 37: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

37

pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda

possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-

se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva

explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este

projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e

liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)

Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel

obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os

resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)

34 Questionaacuterios

No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes

sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber

os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no

protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus

utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados

pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se

por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas

dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual

Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao

tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas

investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para

que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco

explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que

instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo

Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que

fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de

contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir

informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa

Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da

ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 38: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

38

4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM

Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas

dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta

comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez

entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia

com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e

pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa

fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a

possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos

entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por

uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e

dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a

ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com

a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham

trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica

Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse

preferencialmente algum interesse pelo tema

41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo

A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de

participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos

perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de

surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o

tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou

seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado

tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra

diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 39: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

39

Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1

GRAU DE

SURDEZ

IMPLANTADO

S APARELHO

HAacuteBITO

DE OUVIR

MUacuteSICA

INSTRUMENT

OS QUE

TOCOU

Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum

Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica

Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra

Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano

Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum

Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria

Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica

Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum

Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum

Participante 10 Moderadamente

Severa

Aparelho Sim Folclore

(percussatildeo)

A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os

participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam

regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns

participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos

musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum

Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam

identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves

colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e

marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que

pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do

grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os

participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear

identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares

auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de

sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo

da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 40: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

40

o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e

implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e

impercetiacutevel

42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes

de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para

esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles

um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico

marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento

fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone

mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os

objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma

dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo

este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse

mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical

entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem

aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos

De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de

contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo

ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3

ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar

percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de

madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de

uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato

os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os

ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de

madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 41: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

41

43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo

Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta

terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria

musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica

muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras

riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas

(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso

foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de

conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical

demonstrada anteriormente

Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados

na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que

havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se

tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano

sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que

fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim

perceber que todos tinham entendido os seus significados

Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os

presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a

satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes

ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser

demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de

referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo

de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os

participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo

assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma

estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 42: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

42

44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica

eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em

formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo

Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua

funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo

por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As

colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos

participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos

Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As

colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar

Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas

pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o

laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar

o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele

Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras

riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo

de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos

padrotildees

Fig 10 Protoacutetipo Inicial

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

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5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 43: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

43

Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes

compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos

participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes

reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois

eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que

permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase

inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os

dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes

fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda

Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora

Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que

pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por

indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees

simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem

executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar

alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com

recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio

e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas

depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais

complexo

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

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Page 44: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

44

Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo

Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em

que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma

que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos

conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma

dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo

indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o

tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-

it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a

linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo

marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que

demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram

analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte

45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo

Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para

facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as

alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que

manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas

alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita

com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os

tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

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Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29

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Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do

Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

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master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

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in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute

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et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

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8

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56

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relaccedilotildees de sentido 32

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Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

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escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

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compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 45: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

45

participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os

ritmos

Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo

Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez

utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que

correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente

no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento

Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que

foram fornecidos aos participantes

Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

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Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press

Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York

Columbia University Press

Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music

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Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29

Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade

Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do

Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

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Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the

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Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired

master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son

Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science

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et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-

8

Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016

Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting

1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 46: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

46

Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2

Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima

podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os

nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os

instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa

uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio

era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por

exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os

participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida

em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes

Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a

executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles

bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem

conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que

demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo

por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos

participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no

protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida

BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8

Instrumento 1

Instrumento 2

Instrumento 3

Instrumento 4

47

46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

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Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 47: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

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46 Consideraccedilotildees finais

Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva

tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca

caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de

conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por

descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees

riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num

mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse

mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa

opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo

e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software

desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos

de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que

poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das

faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso

aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais

facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo

A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem

fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a

preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores

dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo

tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD

os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade

de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio

41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os

bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29

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Page 48: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

48

Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo

Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico

musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto

com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste

modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback

da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

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Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

Media Art Net Overview of Media Art

Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the

visual arts

Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired

master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son

Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science

in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute

of Technology

Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons

et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-

8

Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016

Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting

1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 49: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

49

5 Conclusotildees

Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a

comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural

nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos

propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia

ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto

traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que

satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo

musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance

e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos

surdos

Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas

experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo

do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e

percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a

muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos

tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons

Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave

conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor

o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual

tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber

se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de

aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato

muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas

Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma

melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a

exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um

independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles

consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica

apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria

interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo

50

(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29

Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press

Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York

Columbia University Press

Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music

Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016

Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29

Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade

Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do

Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

Media Art Net Overview of Media Art

Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the

visual arts

Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired

master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son

Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science

in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute

of Technology

Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons

et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

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8

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Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016

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1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

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Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 50: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

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(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a

palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das

muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo

volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras

A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral

para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos

com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees

proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das

sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma

grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos

deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito

partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas

como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem

musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua

instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes

e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes

ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para

alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas

fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos

materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais

de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes

conceitosrdquo (Finck 2009)

Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo

Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo

a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os

Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais

destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos

mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender

a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29

Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press

Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York

Columbia University Press

Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music

Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016

Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29

Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade

Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do

Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

Media Art Net Overview of Media Art

Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the

visual arts

Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired

master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son

Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science

in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute

of Technology

Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons

et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-

8

Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016

Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting

1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 51: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

51

professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas

(Trigueiro et al)

Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns

conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e

depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito

poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no

reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era

pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que

todo o grupo entendesse os conceitos apresentados

Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando

as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo

obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse

mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos

instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda

assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser

bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido

algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder

funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos

pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham

apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse

no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a

performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade

haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo

com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a

acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como

por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos

ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave

informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este

toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida

tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29

Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press

Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York

Columbia University Press

Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music

Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016

Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29

Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade

Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do

Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

Media Art Net Overview of Media Art

Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the

visual arts

Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired

master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son

Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science

in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute

of Technology

Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons

et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-

8

Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016

Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting

1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 52: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

52

As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os

grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos

assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de

ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que

forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais

inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade

musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste

projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical

e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio

que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser

usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com

a muacutesica combatendo esse estigma

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29

Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press

Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York

Columbia University Press

Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music

Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016

Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29

Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade

Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do

Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

Media Art Net Overview of Media Art

Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the

visual arts

Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired

master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son

Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science

in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute

of Technology

Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons

et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-

8

Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016

Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting

1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 53: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

53

6 Glossaacuterio

Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees

corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos

Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos

Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela

interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio

Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo

Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de

dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para

representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais

Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade

sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados

Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos

de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas

Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num

sintetizador com uma superfiacutecie multi toque

Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a

produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane

Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos

(acordes)

Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que

fica repartida vibram em sentido oposto

Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas

frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte

Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa

sequecircncia linear com identidade proacutepria

Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical

MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute

uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre

instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29

Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press

Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York

Columbia University Press

Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music

Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016

Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29

Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade

Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do

Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

Media Art Net Overview of Media Art

Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the

visual arts

Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired

master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son

Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science

in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute

of Technology

Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons

et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-

8

Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016

Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting

1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 54: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

54

Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos

MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis

ao ouvido humano

Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo

frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de

aplicaccedilatildeo de um sinal externo

Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia

Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical

Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da

bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente

Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado

Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos

Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo

Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo

Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade

normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela

Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica

Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo

de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem

numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada

VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual

em tempo real

Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de

partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio

Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo

aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da

bolsa de valores etc

55

7 Bibliografia

Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29

Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press

Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York

Columbia University Press

Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music

Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016

Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29

Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade

Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do

Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

Media Art Net Overview of Media Art

Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the

visual arts

Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired

master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son

Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science

in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute

of Technology

Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons

et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-

8

Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016

Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting

1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 55: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

55

7 Bibliografia

Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29

Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press

Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York

Columbia University Press

Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music

Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016

Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29

Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade

Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do

Porto

Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo

pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do

Rio Grande do Sul

Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2

Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking

Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception

Media Art Net Overview of Media Art

Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the

visual arts

Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired

master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina

Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son

Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science

in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute

of Technology

Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons

et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76

McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-

8

Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016

Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016

Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting

1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26

Page 56: Estudos para uma framework de performance musical para não- ouvintes: o caso da ... ·  · 2018-03-13Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composição musical visual

56

Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology

compendium401-13

Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve

Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras

Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo

relaccedilotildees de sentido 32

NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people

Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music

Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto

httpwwwasurdosportoorgpt

Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive

Systems Doutoramento FBAUP

Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music

Journal

Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo

Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades

entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-

Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo

Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42

Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar

Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage

Yale University Press

Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de

Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo

953-65

Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na

escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica

UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos

Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology

compendium 425-37

Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa

Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos

surdos do CEJA - Crato

Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016

Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26