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ETHOS DE VIOLÊNCIA E VIOLÊNCIA ICÔNICA EM FOTOS DE PERFIS DE COMUNIDADES VIRTUAIS QUE AGRIDEM PROFESSORES Morgana Soares da Silva (UFRPE/UAG) [email protected] RESUMO Esta pesquisa é qualitativa e documental e tem o objetivo precípuo de analisar como elementos não verbais constitutivos de fotos de perfis de 30 comunidades virtuais agressoras de professores contribuem com a constituição do ethos de violência. Para tanto, baseamo-nos na Análise do Discurso de linha francesa e em pesquisas específicas sobre fotografia, redes sociais e elementos não verbais. PALAVRAS-CHAVE Ciberviolência contra professores. Ethos de Violência. Comunidade Virtual. ABSTRACT This research is qualitative and documentary and has the primary objective of analysing how nonverbal elements constituting profile photos of 30 teacher aggressing virtual communities contribute to the formation of the ethos of violence. For this, we rely on the French Discourse Analysis and specific research on photography, social networking and nonverbal elements. KEYWORDS Cyberviolence against teachers. Ethos of Violence. Virtual community. 0. Introdução Neste trabalho refletiremos sobre como a discursividade materializada através de elementos não verbais interfere no ethos de violência (SILVA, 2014) construído por estudantes em páginas iniciais de comunidades virtuais 1 que agridem professores em sites de redes sociais utilizadas no Brasil em 2011, quando da coleta dos dados. Nossa ancoragem será na Análise do Discurso de linha francesa desenvolvida por Maingueneau (2010, 2008, 2007, 2002, 1998) e em 1 Analisamos um recorte específico dos sites de redes sociais (RECUERO, 2009), as comunidades virtuais, entendidas como agrupamentos virtuais de pessoas que partilham ideologias (CASTELLS, 2003; RECUERO, 2009) e filiam-se a discursos e a comunidades discursivas (MAINGUENEAU, 2008b) em sites de redes sociais.

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ETHOS DE VIOLÊNCIA E VIOLÊNCIA ICÔNICA EM FOTOS DE PERFIS DE COMUNIDADES VIRTUAIS QUE AGRIDEM PROFESSORES

Morgana Soares da Silva (UFRPE/UAG)

[email protected]

RESUMO Esta pesquisa é qualitativa e documental e tem o objetivo precípuo de analisar como elementos não verbais constitutivos de fotos de perfis de 30 comunidades virtuais agressoras de professores contribuem com a constituição do ethos de violência. Para tanto, baseamo-nos na Análise do Discurso de linha francesa e em pesquisas específicas sobre fotografia, redes sociais e elementos não verbais.

PALAVRAS-CHAVE Ciberviolência contra professores. Ethos de Violência. Comunidade Virtual.

ABSTRACT This research is qualitative and documentary and has the primary objective of analysing how nonverbal elements constituting profile photos of 30 teacher aggressing virtual communities contribute to the formation of the ethos of violence. For this, we rely on the French Discourse Analysis and specific research on photography, social networking and nonverbal elements.

KEYWORDS Cyberviolence against teachers. Ethos of Violence. Virtual community.

0. Introdução

Neste trabalho refletiremos sobre como a discursividade materializada

através de elementos não verbais interfere no ethos de violência (SILVA, 2014)

construído por estudantes em páginas iniciais de comunidades virtuais1 que

agridem professores em sites de redes sociais utilizadas no Brasil em 2011,

quando da coleta dos dados.

Nossa ancoragem será na Análise do Discurso de linha francesa

desenvolvida por Maingueneau (2010, 2008, 2007, 2002, 1998) e em

1 Analisamos um recorte específico dos sites de redes sociais (RECUERO, 2009), as

comunidades virtuais, entendidas como agrupamentos virtuais de pessoas que partilham ideologias (CASTELLS, 2003; RECUERO, 2009) e filiam-se a discursos e a comunidades discursivas (MAINGUENEAU, 2008b) em sites de redes sociais.

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pesquisas específicas sobre fotografia, redes sociais e elementos não verbais,

tais como Aragão (2013), Castells (2005), Mozdzenski (2013), Recuero (2009),

Recuero & Rebs (2013), Silva (2014, 2012) e Soares (2011).

Nosso objetivo principal será, portanto, analisar os elementos não verbais

constitutivos de imagens de exibição do perfil de 10 comunidades do Orkut, 10

grupos do Facebook e 10 perfis temáticos do Twitter, corpus desta pesquisa, e

seu papel na constituição do ethos de violência (SILVA, 2014). Pretendemos

também caracterizar aquilo que chamamos de “violência icônica”, expressão

que cunhamos neste estudo, entendida como a materialização não verbal das

agressões contra professores, um dos acréscimos que nossa pesquisa de

doutoramento fez à abordagem do ethos em Maingueneau. Para tanto, torna-

se necessário também verificar os efeitos de sentido produzidos pelos

elementos não verbais nos perfis das comunidades, comparando as

(des)semelhanças entre os três sites de redes sociais (Doravante: SRS)

enfocados, no que tange ao uso desses elementos não verbais.

1. A contribuição de elementos não verbais ao ethos de violência e à violência icônica

Em Silva (2014), identificamos e caracterizamos o ethos de violência

como a imagem de violência que o sujeito discursivo (o enunciador), que se

mostra como aluno, constrói para si ao produzir textos agressivos em SRS, a

fim de conquistar a adesão dos leitores-internautas.

Especificamente para o recorte deste trabalho, verificamos também que

os elementos verbais e não verbais constitutivos das ferramentas virtuais e dos

gêneros digitais integrantes das comunidades virtuais interferem na

constituição desse ethos, que se apresentou no corpus na forma de três

categorias: a) ethos vinculado a representações de agressão física; b) ethos

vinculado a representações de ofensa moral; c) ethos vinculado a

representações de intolerância (SILVA, 2014).

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Neste artigo, recorte daquela pesquisa maior, defendemos que a

contribuição dos recursos não verbais ao ethos de violência se dá de forma

mais expressiva no que tange à corporalidade, nos termos de Maingueneau

(2010, 2002, 1998), porque eles interferem diretamente no “[...] conjunto de

traços físicos e indumentários” (MAINGUEMEAU, 1998, p. 60) que auxiliam na

imagem2 construída para o locutor; ou seja, no ethos. Por outro lado,

entendemos que eles também auxiliam na composição do caráter relacionado

ao ethos, no “[...] conjunto de traços psicológicos...” (Op. Cit.), porque os efeitos

de sentido construídos por elementos icônicos juntam-se à imagem de

violência construída pelos textos verbais.

Nossa pesquisa não é a única a fazer essa aproximação entre recursos

icônicos e ethos. O próprio Maingueneau (2010, 2008) o faz, ao analisar as

fotografias dos anunciantes de sites de relacionamento e ao afirmar que podem

ser materiais que constroem o ethos tanto verbal quanto não verbal.

Mozdzenski (2013, p. 8), ao descrever a teoria de Maingueneau, também

atenta para essa possibilidade, incluindo gestos, vestimentas e expressões

faciais entre os componentes não verbais. Soares (2011), ao tratar da

construção da identidade de sujeitos na constituição do ethos, também o

relaciona a recursos como fotografias, textos não verbais criados a partir de

sinais gráficos, músicas e vídeos. Essas análises, a teorização do autor de

referência em comum e as discussões desta pesquisa relacionam o ethos a

recursos não verbais. Essa recorrência de abordagens semelhantes a deste

trabalho sinaliza a coerência de nosso procedimento teórico-metodológico.

As reflexões de Maingueneau legitimam nosso procedimento analítico de

ampliação dos elementos constitutivos do ethos discursivo para os objetos

icônicos. Para ele, “a espacialidade do escrito e do impresso permite também

que lhes associemos elementos icônicos variados (esquemas, desenhos,

2 Nesta seção, empregaremos “imagem” para a construção discursiva do ethos e “não verbal”

para a linguagem que envolve pictórico, icônico e plástico. Usaremos também a expressão “foto do perfil” para nos referir à imagem de exibição colocada no perfil da comunidade para representá-la, mesmo que não seja uma fotografia propriamente dita, pois é esse o termo usado pelo SRS.

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gravuras, fotos etc.) e um paratexto” (MAINGUENEAU, 2002, p. 81). Por isso,

sentimo-nos autorizados a acrescentar ilustrações, colagens e textos não

verbais.

Em outras obras com traduções de 2008, 2007, 2006, 2004 e 2002, esse

analista do discurso trata de recursos não verbais e prevê que eles também

possibilitam a Análise do Discurso. Mais que isso, Maingueneau (2008)

defende a relação intrínseca entre a noção de ethos e o emprego de recursos

icônicos na produção dos gêneros, argumentando que “o problema é mais

delicado se considerarmos que o ethos, por natureza, é um comportamento

que, enquanto tal, articula verbal e não verbal para provocar no destinatário

efeitos que não decorrem apenas das palavras” (MAINGUENEAU, 2008, p. 61).

Ao tratar de textos não verbais, em um capítulo intitulado Uma prática

intersemiótica, Maingueneau (2007, p. 149) afirma que o não verbal pressupõe

“[...] o conjunto virtual daqueles com os quais ele pode legitimamente ser

associado [...], um universo de sentido cujo percurso desenha a fronteira do

dizível de um certo discurso”. Desse modo, respalda nosso posicionamento de

que o emprego de elementos não verbais pode construir um universo de

sentido que delineia, ao dizer da incorporação textual, um discurso violento

(HARTMANN, 2005) revelador de um uso linguístico, que, na verdade, é social

e tecnológico (SILVA, 2014).

Ao aprofundar a discussão, o autor francês chama a atenção para o fato

de que um texto pictórico sofre restrições discursivas estabelecidas no nível

das condições genéricas (MAINGUENEAU, 2007), ou seja, os gêneros para os

quais os elementos não verbais são constitutivos interferem nesse processo

discursivo. A predisposição do gênero perfil à constituição com fotografias,

ilustrações e elementos não verbais variados favorece a materialização em

modos de representação contemporâneos do discurso violento, que, por

conseguinte, constrói uma imagem agressiva do enunciador – o ethos de

violência constatado em Silva (2014). Esse ethos conquista a adesão de outros

internautas, que, juntos, constituem uma comunidade discursiva

(MAINGUENEAU, 2008, 2002, 2007).

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Para Castells (2005) – um importante filósofo do ciberespaço –, a

homepage é construída de colagens de textos verbais, de não verbais e de

outras semioses. A linguagem da comunicação mediada por computador

(doravante: CMC) retorna à mente tipográfica, tem informalidade, anonimato,

novas formas de oralidade e escrita informal e não-burilada, misturando

diferentes formas de comunicação. É diversificada, multimodal e versátil, capaz

de fazer interagir todas as formas de expressão (CASTELLS, 2005).

Por sua vez, Santana (2013) elenca dois tipos de cyberbullying, um tipo

de violência cometido através do suporte da internet: i) escrito; ii) imagem. Para

o segundo, ela lista como possibilidades “postagem de fotos constrangedoras

(montagem); postagem de vídeos” (SANTANA, 2013, p. 71). Nosso

posicionamento teórico e analítico corrobora tal descrição do fenômeno, já que

as imagens tratadas por ela são exatamente os elementos não verbais

enfocados aqui. Se a autora prevê o cyberbullying através de elementos não

verbais, acreditamos que a nomeação por nós realizada como “violência

icônica” é adequada ao fenômeno estudado e às ocorrências analisadas mais

adiante.

Ressaltamos que, no corpus analisado nesse trabalho, a violência pode

se revelar apenas no verbal, apenas no icônico ou nos dois elementos. Desta

forma, o termo que cunhamos - violência icônica - abarca essencialmente os

casos nos quais há apenas não verbal no espaço da foto do perfil3, mas

também tangencia aqueles nos quais há verbal e não verbal, porque

consideraremos que existe, mesmo que mínimo, um componente icônico na

constituição do ethos.

A observação detalhada do corpus da tese de doutoramento nos revelou

três naturezas de elementos icônicos interferentes na constituição do ethos de

violência: 1) as fotos e ilustrações que compõem o perfil; 2) os caracteres

especiais utilizados na camuflagem dos nomes de usuários no perfil e na lista

3 Utilizaremos a expressão “foto do(de) perfil” para a imagem de exibição colocada no perfil da

comunidade, mesmo que não seja uma fotografia propriamente dita, pois é esse o termo usado pelo Facebook.

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de membros e 3) os caracteres computacionais empregados em emoticons

constitutivos da descrição de perfis e das mensagens em fóruns, murais e

tweets (SILVA, 2014). Por uma restrição espacial, no recorte deste artigo,

deteremo-nos às fotos e ilustrações que compõem a foto do perfil de

comunidades virtuais. Os dados relacionados às demais categorias constam

em Silva (2014).

2. Fotos e ilustrações de perfis como materializadoras do ethos

de violência

A fim de oportunizar uma visão geral das fotos/ilustrações utilizadas

pelos donos das comunidades virtuais (RECUERO, 2009; CASTELLS, 2005)

de redes sociais, construímos o quadro sinóptico a seguir:

QUADRO 1: fotos/ilustrações e das descrições dos perfis das comunidades virtuais

ORKUT (SIC) FACEBOOK (SIC) TWITTER (SIC)

C1: Odeio professor de matemática

G1: Eu odeio o Professor de Matemática

PT1: Odeio Professor

C2: Eu odeio professor FRUSTRADO

G2: ODEIO tanto o meu professor!

PT2: odeio_meu_professor

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C3: Odeio puxa saco de professor!

G3: Odeio o meu professor de matematica

PT3: m...

C4: EU ODEIO PROFESSOR CHATO

G4: Odeio quando o professor me

manda calar e eu nem estava a falar.

PT4: odeio aula

C5: Eu Odeio Professor de História

G5: Odeio tar numa aula de substituição e o professor NÃO deixar ouvir música!

PT5: Eu Odeio Escola

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C6: Eu odeio meu professor de mat

G6: Odeio aulas sem intervalo!!!

PT6: Odeio Escola

C7: Odeio meu professor d historia

G7: odeio professores de português que dão erros gramaticais!!!

PT7: Escolaxatadokct

C8: Eu oDeIo ProFesSor CuzÃo

G8: Odeio a minha stora de fisico-quimica!

PT8: l...

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C9: eu odeio professor(a) chato(a)

G9: odeio Ciencias e não tou para estudar matéria secante

PT9: Eu Odeio A Escola

C10: Odeio a voz do meu professor

G10: Odeio quando o sor(a) manda continuar a ler e eu nem sei qual é a página

PT10: odeio a escola

O quadro anterior possibilita um olhar panorâmico sobre as

fotos/ilustrações utilizadas no perfil das comunidades virtuais. Ressaltamos que

nosso enfoque neste artigo será o texto não verbal, mas, como elas só

constroem sentido juntamente com a descrição e o título – texto verbal –,

acrescentamo-los ao quadro, para que o efeito de sentido construído pelos

donos das comunidades virtuais de SRS seja compreendido mais claramente

pelo leitor. O que de fato pode instaurar o ethos de violência no gênero perfil é

a conjunção entre o título, a foto/ilustração do perfil e a descrição, elementos

recortados e organizados no quadro anterior.

Através dele, constatamos que a iconicidade dos textos contribui

significativamente para a coerência textual; ou seja, o material não verbal é

importante na construção do efeito de sentido de agressão a professores e, por

conseguinte, na construção do ethos de violência. Desta forma, eles são

essenciais para o que chamamos de violência icônica, pois a união do não

verbal da foto do perfil com o verbal do título e da descrição compõe uma

unidade textual e discursiva, que tem uma força argumentativa em busca da

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adesão dos leitores ao discurso violento, fato constatado no corpus. Essa

verificação corrobora os resultados e as premissas de Maingueneau (2010) de

que a fotografia auxilia na construção do ethos. Tomamos fotografia como

semelhante à ilustração e podemos afirmar que esse elemento não verbal do

gênero perfil é imprescindível para a instauração do tipo de ethos constatado

por este trabalho.

Ao observar o todo das ocorrências, acreditamos que os textos não

verbais utilizados como foto do perfil das comunidades são reaproveitados

entre aqueles disponíveis no banco de textos do Google. Parece-nos que os

donos das comunidades virtuais de SRS buscam no banco de dados digital da

Web uma foto/ilustração, que não necessariamente é agressiva em sua

essência, e juntam-na ao título e à descrição por eles produzidos. A partir da

conjunção desses elementos, processa-se um deslocamento de sentido que

materializa e divulga o discurso violento contra professores, objetivo precípuo

das comunidades virtuais enfocadas. Defendemos que, assim, fotos/ilustrações

não agressivas em outras situações e usos, no contexto da comunidade virtual,

resvalam e, ao mesmo tempo, corroboram os discursos do resto do perfil.

Naquela enunciação específica, essas fotos ganham uma conotação violenta,

como se vê nas ocorrências PT1, C2, C3, C4, G4, PT4, C5, C6, G6, G7, PT7,

G9, C10 e G10.

Constatamos que, além de oportunizar esse deslocamento de sentido, as

descrições dos perfis, associadas ao não verbal, também restringem o público-

alvo, delimitando que aquelas comunidades destinam-se aos internautas que

(com)partilham aquele discurso e as ideologias perpassadas. Portanto,

defendemos que fotos/ilustrações, juntamente com descrição e título, criam

uma imagem agressiva para a comunidade virtual e para os enunciadores – o

ethos. Essas fotos têm (ou não) a adesão dos demais membros, a partir do

momento em que eles “respondem” às mensagens postadas nos fóruns do

Orkut, no mural do Facebook e nos tweets do Twitter.

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Adesões desse tipo têm como consequência a instauração de uma

comunidade discursiva, nos termos de Maingueneau (2008, 2007, 2002).

Nesse ponto da discussão, podemos afirmar, então, que a constituição dessa

comunidade discursiva, do ethos de violência e daquilo que chamamos

violência icônica têm como ancoragem principal o não verbal e a estenderemos

para os casos que associam verbal e não verbal na foto do perfil.

Para explicitar a natureza dos elementos não verbais utilizados no perfil

das comunidades, construímos a tabela a seguir com a categorização dos

dados:

TABELA 1: recursos não verbais utilizados na foto do perfil das comunidades virtuais

ELEMENTOS UTILIZADOS ORKUT FACEBOOK TWITTER

a) Ilustrações lúdicas e humorísticas 4 (C1, C4, C6,

C7) 2 (G1, G4)

3 (PT1, PT3,

PT9)

b) Fotos não agressivas editadas e/ou ressignificadas

4

4 (C2, C3, C5,

C10) 3 (G6, G7, G10)

c) Ilustrações não agressivas editadas e/ou ressignificadas

2 (G4, G9) 3 (PT1, PT2,

PT7)

d) Fotos/ilustrações tipicamente agressivas 3 (C1, C9,

C10) 1 (G1) 2 (PT4, PT9)

e) Grafismos 2 (C1, C8)

f) Ilustrações do sistema/ilustração padrão do SRS 3 (G2, G3, G8) 4 (PT5, PT6, PT8, PT10)

PREVALÊNCIAS a, b b, a, c a, c

Ela organiza-se a partir das categorias por nós nomeadas na primeira

coluna, da alocação dos exemplares nas determinadas linhas e do total de

ocorrências calculadas para cada uma, número registrado do lado de fora dos

parênteses e negritado quando for a prevalência do caso. Cada comunidade foi

nomeada de acordo com as siglas estabelecidas (C+ número da ocorrência,

para o Orkut; G + número da ocorrência, para o Facebook; PT + número da

4 Por editadas, tomamos aquelas imagens que foram manipuladas visualmente; por

ressignificadas, tomamos aquelas imagens que tiverem seus sentidos reconstruídos e recontextualizados.

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ocorrência para o Twitter ), colocada no interior dos parênteses na linha do tipo

de elemento contemplado e na coluna referente a cada SRS. Ressaltamos que

algumas ocorrências integram-se a mais de uma categoria; por isso, há

repetições nas linhas. Portanto, o total das ocorrências por SRS extrapola o

número de comunidades de cada uma.

A partir das informações reveladas pela Tabela 1, constatamos o uso

frequente nos três SRS de fotos e ilustrações editadas e/ou ressignificadas. As

fotos que se aproximam das ilustrações são manipuladas e editadas pelos

usuários. Se descartarmos as ocorrências que permaneceram com a ilustração

padrão do sistema (3 do Facebook e 4 do Twitter) e a que optou pelo grafismo

(1 do Orkut), constatamos que as demais (22 ao todo) são ilustrações de

alguma natureza ou fotos editadas e/ou ressignificadas, o que muda é a forma

como elas são utilizadas.

No Orkut (4) e no Twitter (3), há uma preferência por a) ilustrações lúdicas

e humorísticas, com a “brincadeira” e o “humor” sendo utilizados como atrativo

para conquistar a adesão do leitor e desfocar a violência. Na primeira linha do

Quadro 1, podemos perceber que os dois primeiros textos não verbais são

relevantes na instauração da agressão aos professores e, consequentemente,

constroem uma imagem agressiva dos donos e da própria comunidade. As

ações executadas pelas personagens desenhadas – um homem socando outro

em C1 e um carrasco ferroando um homem preso a um instrumento de tortura

em G1 – constroem um ethos de violência, que é “completado” pelo título e

pela descrição dos gêneros perfil. Através dos dados verbais, constatamos que

ambos os homens agredidos representam o grupo social dos professores de

matemática, sujeitos discursivos construídos pela junção das linguagens verbal

e não verbal. Apesar dessa nossa interpretação, na ilustração de G1, também

é possível compreender o carrasco como o professor e o personagem torturado

como o aluno. Nesse caso, o alvo da violência icônica mudaria, mas o teor

agressivo do texto permaneceria.

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Ancorados em Maingueneau (2010), acreditamos que a escolha dessas

ilustrações disponíveis na web, em detrimento de outras, auxilia na construção

do ethos do enunciador, no sentido de que revela traços de seu caráter. Isso

significa que, ao optar por colocar esses textos não verbais de C1 e G1 na foto

do perfil, os criadores das comunidades materializam o discurso violento.

Apesar de serem ilustrações, também podemos dizer que a corporalidade dos

enunciadores é indiretamente mostrada pelo não verbal. Não se trata de uma

relação direta, como seria em um autoretrato posado, mas as ações agressivas

executadas pelas personagens podem ser metonimicamente levadas para os

criadores da comunidade. A seguinte afirmação de Maingueneau (2010, p. 84)

subsidia nossa análise anterior: “convergentes ou não com o ethos discursivo,

essas fotos inevitavelmente levam o destinatário a construir um ethos”.

Uma das diferenças entre nossos dados e os do pesquisador francês está

na natureza dessas imagens. Verificamos que, para construir anonimato e

ludicidade, nos exemplares listados na primeira linha da Tabela 1, o não verbal

não é composto por fotografias propriamente ditas; mas sim por ilustrações

(fotos manipuladas, caricaturas e desenhos coletados na própria Net, dentre

outros). Enquanto as fotos analisadas por Maingueneau (2010) desejam

construir traços de sensualidade e de carisma, qualidades que conquistam

namorados(as); as ilustrações de C1 e G1 do Quadro 1, por exemplo, mostram

um “ar” humorístico, sarcástico e lúdico, visível no traço quase infantil do nariz

do prisioneiro e dos olhos do carrasco de G1, das mãos do soco de C1 e do

rosto de PT1. Esse mesmo padrão infantil aparece nos três sites de redes

sociais, regularidade que constatamos no corpus. Porém, essa aparente

infantilização é soterrada pela constatação do efeito de sentido violento e

agressivo que está subjacente à cena desenhada em G1: o professor de

matemática é amarrado e marcado literalmente “a ferro e fogo” com o número

2, resultado da soma proposta por ele na lousa; diante da pressão física do

estudante representado como um carrasco, o professor modifica o resultado da

soma para 3, número matematicamente incoerente; ou seja, o aluno obriga,

pela força física, o docente a errar. Percebemos, portanto, o discurso violento e

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constrangedor que a ilustração do perfil da comunidade virtual constrói. A

apreciação especializada do analista do discurso consegue superar o desvio de

foco da cena, aparentemente inocente e engraçada, e chega à violência

icônica, que converge para a violência verbal.

Acreditamos que esse movimento analítico em direção ao não verbal,

associado ou não ao verbal, é importante à Análise do Discurso, porque chama

a atenção para o fato de que ele também materializa o discurso violento.

As análises anteriores se aproximam das constatações obtidas por

Recuero & Rebs (2013, p. 163) de que “a imagem que é exibida no perfil dos

internautas estaria, assim, ‘selecionando’ (ou, por outra dimensão,

‘apresentando’) a imagem do sujeito fisicamente, unindo sua compreensão por

meio do concreto visualizado na imagem e o seu significado virtual...”. A

associação das três pesquisas – esta tese, a de Recuero & Rebs (2013) e a de

Maingueneau (2010) – nos faz defender que o não verbal mostra traços do

“dono do perfil”. Ele é, portanto, uma materialidade que constrói o ethos dos

enunciadores e dá indícios da ideologia partilhada pela comunidade virtual do

SRS; nesse caso, a violência.

Por outro lado, no Orkut(4) e no Facebook(3), há preferências por b) fotos

não agressivas editadas e/ou ressignificadas e no Facebook(2) e no Twitter(2),

há ocorrências de c) ilustrações não agressivas editadas e/ou ressignificadas.

Nessas categorias, alocamos as ocorrências de elementos não verbais já

existentes na web, como a maioria dos casos, que, essencialmente e em

outros contextos, não constroem efeitos de sentidos agressivos, mas que na

comunhão com o título e a descrição produzidos pelos autores da comunidade,

num processo de edição e/ou ressignificação, constroem o discurso violento

destinado a professores. Como bem constataram Recuero & Rebs (2013), a

fotografia utilizada pelos sujeitos por eles observados e entrevistados funciona

em sites de redes sociais como: 1) identificação da realidade; 2) reconstrução

do eu; 3) valor social. Esses resultados têm algumas diferenças dos nossos,

porque os pesquisadores enfocam os perfis pessoais, enquanto nós, as

comunidades virtuais. Apesar disso, esses resultados se aproximam do

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ETHOS DE VIOLÊNCIA E VIOLÊNCIA ICÔNICA EM FOTOS DE PERFIS DE COMUNIDADES VIRTUAIS QUE AGRIDEM PROFESSORES

Morgana Soares da Silva (UFRPE/UAG)

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funcionamento discursivo de nosso corpus. As fotos/ilustrações condensadas

no Quadro 1 identificam uma realidade construída discursivamente pelos donos

das comunidades, reconstruindo (através da edição e da ressignificação) um

eu, mesmo que esse eu seja coletivo, e têm valores sociais como violência e

agressão. Enquanto Recuero & Rebs (2013) constatam pouca manipulação

nos autorretratos por eles analisados, constatamos em nosso corpus um

número elevado de edições de fotos e ilustrações, manipulações essas que

constroem o ethos de violência.

Ocorrências como C3 e G4 ilustram as categorias anteriores. A fotografia

de um homem (C3) e a ilustração de um menino sentado à mesa (G4) não têm,

em si mesmas, sentidos agressivos, mas, quando associamos tais elementos

aos verbais, constatamos o ethos constituído pela composição textual como um

todo. A descrição de C3 (Cf. Quadro 1) ressignifica os elementos não verbais

aparentemente afetivos e instaura a agressão, desta vez, ao que eles chamam

de “puxa saco de professor”. Também a descrição de G4 (Cf. Quadro 1)

ressignifica as interrogações que circundam o menino e constroem a imagem

do professor injusto, daí as interrogações (o aluno não compreende por que o

professor o repreendeu), que, por isso, deve ser odiado. Em ambos os casos,

fica evidente nos elementos não verbais que houve uma edição dos textos.

Provavelmente, a frase circulada não fazia parte da foto nem as interrogações

da ilustração originais. Acreditamos que elas tenham sido acrescidas pelos

autores da composição imagética, o que revela a manipulação dos elementos

como um recurso construtor do ethos de violência. Ressaltamos que, nos

casos analisados, a própria e singular associação entre os textos não verbais

preexistentes e a produção de textos verbais novos já instaura a manipulação e

a ressignificação típicas dessas categorias.

No Orkut (2), no Facebook (1) e no Twitter (2), há ocorrências de d)

Fotos/ilustrações tipicamente agressivas, nas quais o texto não verbal já traz

em si um efeito de sentido violento. É o que percebemos em C10, PT4, PT4,

PT9, além dos casos explícitos de C1 e G1 já analisados anteriormente. As

quatro ocorrências têm em comum a fisionomia de alguém gritando, ação que

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já traz em si um teor de agressão, pois sempre está presente em momentos

como discussões e embates pessoais. Seja na forma de fotografia ou de

ilustração, as cenas construídas pelo não verbal materializam uma

corporalidade (MAINGUENEAU, 1998, 2002) agressiva. Quando a foto do

gênero perfil se constitui de cenas que denotam ira, como acontece com as

fisionomias de gritos variados expressos no corpus, o ethos de violência

constitui-se de forma explícita, o que nos faz colocá-lo dentro do ethos

mostrado (MAINGUENEAU, 1998, 2002, 2006). Nesses casos, o tipo de ethos

constitutivo no não verbal corrobora a agressão presente nos textos verbais

dos títulos e das descrições.

Apenas no Orkut, há ocorrências (2) de e) grafismos, uma composição

não verbal constituída por letras e formatação especial, tal como diferenciação

de fontes, jogo com tamanho e com disposição dos caracteres e uso de

recursos de formatação como negrito, itálico, subescrito etc. Os autores de C3

e C8 utilizaram tais recursos; no primeiro, há uma mescla entre elementos

verbais – grafismo – e elementos não verbais – fotografia manipulada e

caricaturada – que juntos constituem a corporalidade. O caso de C8 é um

autêntico grafismo, pois a foto do perfil da comunidade não apresenta figura

propriamente dita, o caráter agressivo está no conteúdo do texto – declaração

de ódio ao Prof. CUZÃO – e na formatação especial dada às palavras

agressivas como “CUZÃO”. Percebam que “Prof.” Inicia em maiúscula e

continua em minúscula, por ser o alvo da violência, e a palavra que contém o

estopim do ataque está em caixa alta. Esse é um recurso visual aplicado às

palavras, o que nos autoriza a tratar o caso de C8 também como um recurso

visual. Constatamos que essa categoria não interfere diretamente na

corporalidade (MAIGUENEAU, 1998) do ethos de violência, como fazem as

outras anteriores, mas tem papel significativo na constituição do caráter

(MAIGUENEAU, 1998) necessário para a constituição desse ethos.

Por último, temos uma categoria pouco representativa para nossas

reflexões: f) ilustrações do sistema/ilustração padrão do SRS, presente no

Facebook(3) e o Twitter(4), SRS que apresentaram quantidades consideráveis

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ETHOS DE VIOLÊNCIA E VIOLÊNCIA ICÔNICA EM FOTOS DE PERFIS DE COMUNIDADES VIRTUAIS QUE AGRIDEM PROFESSORES

Morgana Soares da Silva (UFRPE/UAG)

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de comunidades que não utilizam uma foto de perfil particular. O Orkut

mostrou-se como o único SRS no qual todos os donos optaram por escolher

uma foto/ilustração para representá-los. Acreditamos que esse resultado seja

pouco significativo para nossa reflexão, porque não conseguimos levantar

efeitos de sentidos possíveis nem corporalidade ou caráter específicos que

construam o tipo de ethos constatado, já que a ilustração padrão do sistema

homogeiniza e torna semelhantes os textos não verbais.

Considerações Finais

Ao final das análises, concluímos que os recursos não verbais presentes

na foto do perfil de comunidades virtuais que agridem professores em SRS são

significativos na constituição do ethos de violência, configurando o que

chamamos de violência icônica.

Além disso, constatamos que o não verbal constitutivo do gênero perfil

pode se configurar como um elemento agregador dos membros da

comunidade. Ao vincular-se às comunidades virtuais que apresentam aqueles

textos não verbais como foto de exibição do perfil, os internautas passam a ser

mais que membros de uma comunidade virtual, pois passam a integrar uma

comunidade discursiva, nos termos de Maingueneau (2010, 2008, 2007, 2002),

que partilha a violência contra professores, até porque a foto do perfil da

comunidade é o primeiro dado visualizado pelos candidatos a membros quando

acessam o perfil da comunidade. Clicar no ícone para entrar na comunidade é

corroborar e tornar-se partícipe da violência.

Ao final deste artigo, que auxilia à compreensão do funcionamento não

verbal do ethos de violência, esperamos ter chamado a atenção para o

fenômeno textual e discursivo que nomeamos como violência icônica.

Acreditamos que as análises linguísticas, textuais e discursivas traçadas

anteriormente tenham sinalizado que fotos e ilustrações de perfis interferem

diretamente na imagem de violência construída pelo enunciador e na adesão

de sujeitos.

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Morgana Soares da Silva (UFRPE/UAG)

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