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Ética Instrumental

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7/23/2019 Ética Instrumental

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O que é a ética instrumental?

A faculdade subjetiva do pensar é a razão, e a ética deriva do movimento da razão, ou seja, é a faculdade que julga,discerne, compara, relaciona, calcula, ordena e coordena os meios com os fins. Esta faculdade tornou-se em suaevolução um instrumento formal. A razão não é apenas a faculdade interior do homem, mas ela se personificou nos prprios objetos deste mundo. A razão tornou-se racionalidade, e dela emanam os princ!pios éticos. Ela est" presenteno aparelho produtivo, no aparelho tecnolgico e cientifico, nas instituiç#es pol!ticas, no hospital, na escola, notr$nsito e na m!dia. Em todos os empreendimentos humanos h" a relação calculada entre meios e fins. A operação, a

coordenação, a ordem, o sistema, o c"lculo, a busca da unidade define a racionalidade em sua efic"cia.% primeiro pensador que desvelou o fen&meno da racionalidade no mundo ocidental foi 'a( )eber. )eber em seulivro *A  ética protestante e o espírito do capitalismo+, publicado em /, diagnosticou que a caracter!sticafundamental espec!fica da sociedade ocidental é a racionalização. Ele entende a racionalização como uma*regularização da ação humana+ na busca de certos fins espec!fico. Em seus estudos ele percebeu que no ocidenteocorreram fen&menos culturais dotados de *desenvolvimento universal+ em seu valor e significado. 0or e(emplo, aidéia de um estado racionalmente organizado como uma entidade pol!tica, com uma constituição racionalmenteredigida, um direito racionalmente ordenado, uma administração orientada por regras racionais e com funcion"riosespecializados somente e(istiu no ocidente. 1a mesma forma, a apropriação capitalista racionalmente efetuada ecalculada em termos de capital. 2udo sendo feito em termos de balanço, onde a ação individual das partes, baseada noc"lculo, s e(istiu no ocidente. % que 3eber faz *é postular como racional toda a ação que se baseia no c"lculo, naadequação de meios e fins, procurando obter com um m!nimo de disp4ndios um m"(imo de efeitos desejados,evitando-se ou minimizando-se todos os efeitos colaterais indesejados+ 567E82A9, :, p.;.

'as de onde teria surgido est" racionalidade que hoje fundamenta o moderno capitalismo e atinge todas as esferas davida social<

=egundo )eber o conceito de *racionalização+ se desenvolveu principalmente pelas ci4ncias ocidentais em suas possibilidades técnicas. *Essa racionalização intelectualista 5>; devemos ? ci4ncia e ? técnica-cient!fica+ 5)eber,@, p.@;. % desenvolvimento de uma ci4ncia racional fundamentada em princ!pios racionais e no métodocient!fico é um produto do ocidente. A astronomia fundamentada matematicamente a geometria demonstrada atravésda prova racional as ci4ncias naturais fundamentada na observação e no método e(perimental a medicinadesenvolvida empiricamente com fundamentos biolgicos e bioqu!micos é uma descoberta da cultura ocidental. Esse processo de racionalização das ci4ncias atingiu todas as esferas da vida social e tornou o *mundo desencantado+.2udo o que e(iste poderia ser e(plicado pelo conhecimento racional. % mundo dei(ou de ser misterioso.

Apesar de a racionalização ter começado com as ci4ncias, foi somente com os protestantes que ela adquiriu valor esignificado. 6oi graças ? ética protestante que a racionalidade tornou-se universal, impulsionando o capitalismo. Bomos protestantes o capitalismo ganhou consist4ncia, assumiu formas e direç#es. 6oi com o protestantismo que surgiu aorganização capitalista assentada no trabalho livre.

%s membros da escola de 6ranCfurt também fizeram uso, em larga medida, do conceito de racionalidade na teoriacr!tica da civilização. 0ode-se dizer que o objetivo primordial da Escola de 6ranCfurt é fazer uma cr!tica radical ?racionalidade técnica do ocidente, que tem desencantado o mundo.

 Do seu livro *Eclipse da Razão+ publicado em //, orCheimer define mais amplamente o conceito racionalidadeinstrumental. Ele distingue duas formas de razãoF a razão subjetiva 5interior; e razão objetiva 5e(terior;.

A razão subjetiva 5instrumental; é a faculdade que torna poss!vel as nossas aç#es. G a faculdade de classificação,infer4ncia e dedução, ou seja, é a faculdade que possibilita o *funcionamento abstrato do mecanismo de pensamento+.5orCheimer, H:, p. ;. Essa razão se relaciona com os meios e fins. Ele é neutra, formal, abstrata, e lgico-matem"tica. *A razão subjetiva se revela como a capacidade de calcular probabilidades e desse modo coordenar osmeios corretos com um fim determinado+ 5orCheimer,H:, p. @;.

0or sua vez, a razão objetiva 5Iogos;, conhecida desde a época cl"ssica da histria da 9récia, era considerada o principal conceito da filosofia. A razão não é somente uma faculdade mental, mas é também do mundo objetivo.E(iste uma ordem, uma harmonia por tr"s do mundo, uma racionalidade objetiva. A razão se manifesta nas relaç#esentre os seres humanos, na organização da sociedade, em suas instituiç#es, na natureza e no cosmo. As teorias de0latão, Aristteles, o escolaticismo e o idealismo alemão se fundamentam sobre uma teoria objetiva da razão.

1urante a evolução do conhecimento a faculdade subjetiva do pensar foi tomando o lugar da razão objetiva. A

faculdade subjetiva de pensar foi o instrumento cr!tico que dissolveu os conceitos da mitologia e da filosofia 5razãoobjetiva; como mera superstição. A luta da razão subjetiva contra a mitologia e a filosofia, ao denunci"-las como falsaobjetividade, teve que usar conceitos que reconheceu como v"lidos, como a lgica formal e a matem"tica. %resultado disso foi que nenhuma realidade particular pode ser vista como racional. A razão na busca de uma

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objetividade cada vez maior se formalizou. Em sua formalização a razão foi transformando o pensamento em umsimples instrumento.

% livro *Dialética do Esclarecimento”, publicado em :H, escrita a quatro mãos por Adorno e orCheimer, tambémmostra-nos como a razão emancipatria objetiva se converteu em razão instrumental subjetiva. % objetivo deste livrofoi o de investigar a autodestruição da razão. 0or que a humanidade através do progresso técnico e cient!fico nãoalcançou sua maioridade e sim sucumbiu a um estado de barb"rie< =ua tese principal nos revela o lado oculto doesclarecimento, sua histria subterr$nea. 0ara adorno e orCheimer a razão não atingiu seu fim, pois a razão é em sua prpria ess4ncia um mitoF *% mito é esclarecimento, e o esclarecimento acaba por converter-se em mito+. Esses

 pensadores analisaram o conceito de razão em seu desdobramento dialético, que em sua evolução buscava seemancipar da mitologia e da metaf!sica conduzindo a sua autonomia e a sua autodeterminação. Bontudo, essa razãoonipotente, dominadora da natureza, emancipatria, que buscava submeter ? natureza e a sociedade ? objetividade darazão não atingiu seu fim. A razão se transformou em mera abstração, mero instrumento formal.

*7azão significa triunfo da m"quina, do trabalho, da natureza Jtil e gr"tis, razão mistificada que se realiza como razãoinstrumental, pela qual a natureza, o Jtil-gr"tis, é espoliado pela m"quina e pelo trabalho. 'istificada porque é o ladoabstrato da regularidade, da disciplina do trabalho legitimador dessa pr"tica de pilhagem K pr"tica do trabalho para ocapital, da e(ploração dos homens para o capital+. 5'atos, L, @;.

A grande conseqM4ncia da racionalidade instrumental foi ? perda da autonomia do indiv!duo. A racionalidade técnicaeliminou qualquer tentativa de ruptura. % aparato produtivo e as mercadorias se imp#em ao sistema social como umtodo. %s consumidores dos produtos e das formas de bem estar social tornaram-se prisioneiros do capital. Adorno eorCheimer detectaram uma civilização que chegou a uma dialética sem s!ntese. Ds vivemos na eterna contradiçãoentre produtividade e destruição, dominação e progresso, prazer e infelicidade. Dão houve a s!ntese libertadora de umasociedade livre e feliz.

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