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UNINGÁ UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR INGÁ FACULDADE INGÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA LUIZE RAVIZON LEITE BRANDA FATORES ETIOLÓGICOS DO APINHAMENTO DOS INCISIVOS INFERIORES PERMANENTES PASSO FUNDO 2008

Etiologia Do Apinhamento Ant-Inf (Mono)

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Apinhamento - monografia

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  • UNING UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR ING FACULDADE ING

    CURSO DE ESPECIALIZAO EM ORTODONTIA

    LUIZE RAVIZON LEITE BRANDA

    FATORES ETIOLGICOS DO APINHAMENTO DOS

    INCISIVOS INFERIORES PERMANENTES

    PASSO FUNDO

    2008

  • 2

    LUIZE RAVIZON LEITE BRANDA

    FATORES ETIOLGICOS DO APINHAMENTO DOS INCISIVOS INFERIORES PERMANENTES

    PASSO FUNDO 2008

    Monografia apresentada unidade de Ps-graduao da Faculdade Ing UNING Passo Fundo-RS como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em Ortodontia. Orientador: Prof. Ms. Lilian Rigo Co-orientador: Prof. Dr. Lincoln Issamu Nojima

  • 3

    LUIZE RAVIZON LEITE BRANDA

    FATORES ETIOLGICOS DO APINHAMENTO DOS

    INCISIVOS INFERIORES PERMANENTES

    BANCA EXAMINADORA: Aprovada em ___/___/______.

    ________________________________________________

    Prof. Ms. ou Dr. (nome) - Orientador

    ________________________________________________ Prof. Ms. ou Dr. (nome)

    ________________________________________________

    Prof. Ms. ou Dr. (nome)

    Monografia apresentada comisso julgadora da Unidade de Ps-graduao da Faculdade Ing UNING Passo Fundo-RS, como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em Ortodontia.

  • 4

    DEDICATRIA

    A Deus, por nos conduzir e dar fora na execuo dos nossos projetos, e nos

    mostrar que para quem nele cr, tudo possvel.

    Ao meu amado e querido marido, Fabrcio Ba Branda, pelo incentivo e incansvel apoio. Exemplo de trabalho e dedicao Odontologia em que me espelho na busca

    de ser uma excelente profissional.

    Aos meus queridos pais, Pedro Carlos Leite e Joceli Ftima Ravizon Leite e a minha irm Liana, por estarem sempre presentes e participarem dos meus sonhos,

    incentivando e confiando. A eles dedico este trabalho, lembrando-me sempre do

    exemplo de pacincia e amor por eles demonstrados, e que me auxiliaro a vencer

    os obstculos e alcanar os objetivos.

    Aos familiares perdidos no decorrer desses trs anos de especializao: a minha

    amada v Anita, aos queridos tio Z e tio rico, pelo carinho, pelo exemplo de vida

    que nos deixaram e pelas pessoas maravilhosas que foram, dedico este trabalho.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus, que incomparvel e inconfundvel na sua infinita

    bondade, compreendeu os meus anseios e me deu a necessria coragem para

    atingir os objetivos, ofereo o meu porvir e agradeo pelas foras empreendidas

    neste trabalho..

    Ao meu marido, Fabrcio Ba Branda, pelo auxlio nas tradues dos artigos, pela pacincia nos momentos difceis desta caminhada, e pela fora dada ao longo

    desses anos que estamos juntos.

    prof. Ms. Lilian Rigo, pela dedicao, carinho e ateno com que sempre me orientou na realizao desta monografia.

    Ao prof. Dr. Lincoln Issamu Nojima, pelas correes feitas ao trabalho, pelo

    carinho e ateno, e por todo conhecimento transmitido no decorrer do curso de

    especializao.

    A coordenadora do curso de ps-graduao em Ortodontia, professora Anamaria

    Estacia e a todos os professores do curso de Ortodontia, pelos ensinamentos transmitidos para a minha formao clnica dentro da Ortodontia.

    Ao meu primo Carlos Eduardo Leite, por ter conseguido os artigos na PUC-RS,

    pelo carinho e ateno.

  • 6

    Aos meus colegas de especializao: Anderson, Celso, Claudiane, Daniela,

    Fernanda, Flvia, Gabriela, Lauter, Michelli e Rbia pela amizade e

    companheirismo.

    A todos que direta ou indiretamente estiveram envolvidos no desenvolvimento deste

    trabalho.

  • 7

    EPGRAFE

    O futuro pertence queles que acreditam

    na beleza de seus sonhos.

    Eleanor Roosevelt

    O mais importante no saber; nunca

    perder a capacidade de aprender.

    Leonardo Boff

  • 8

    RESUMO

    O apinhamento dos incisivos inferiores permanentes a malocluso mais prevalente. No entanto, essa condio gera dvidas frente as suas causas nos profissionais das mais diversas reas da Odontologia. Esta reviso bibliogrfica teve como objetivo pesquisar os fatores etiolgicos do apinhamento dos incisivos inferiores permanentes. A maioria dos autores admite uma etiologia multifatorial para o apinhamento dos incisivos, envolvendo o crescimento mandibular residual, a morfologia dos incisivos, a maturao do tecido mole peribucal, a migrao mesial dos dentes posteriores, ausncia de desgaste devido dieta moderna, bem como a erupo dos terceiros molares entre outros fatores. Todos esses parecem ter influncia no apinhamento, sendo que para cada caso existe a combinao de um ou mais fatores.

    Palavras-chave: Apinhamento de dente. Etiologia. Malocluso.

  • 9

    ABSTRACT

    The mandibular crowding is the most prevalent type of malocclusion. However, this condition creates doubts about their causes in the daily multi-professional clinic in various fields of dentistry. This literature review aims to find the various causes of the crowding of the permanent incisors lower. Most authors admits a multifactorial etiology for the crowding of incisors, involving growth mandibular later, the dental morphology, the maturation of the soft tissue perioral, mesial later teeth migration, due to lack of wear fron modern diet, and the eruption the third molars among other factors. All these seem to influence the crowding, and that in each case there is the combination of one or more factors.

    Key Words: Etiology. Malocclusion.

  • 10

    SUMRIO

    1 INTRODUO.................................................................................. 11

    2 REVISO DE LITERATURA E DISCUSSO...................................

    13

    2.1 FATORES RELACIONADOS AO APINHAMENTO NTERO-

    INFERIOR..........................................................................................

    13

    2.1.1 Desenvolvimento da civilizao moderna..................................... 13

    2.1.2 Morfologia dos incisivos................................................................. 15

    2.1.3 Estgios de desenvolvimento........................................................ 19

    2.1.4 Influncia dos terceiros molares.................................................... 20

    2.1.5 Crescimento mandibular residual.................................................. 24

    2.1.6 Crescimento facial........................................................................... 27

    2.1.7 Funes musculares anormais...................................................... 29

    2.1.8 Condies periodontais.................................................................. 30

    2.1.9 Migrao mesial dos dentes........................................................... 32

    2.2 TRATAMENTO ORTODNTICO E SUA RELAO COM O

    APINHAMENTO NTERO-INFERIOR..............................................

    34

    3 CONCLUSO.................................................................................... 36

    REFERNCIAS................................................................................. 38

  • 11

    1 INTRODUO

    As malocluses podem apresentar inmeras caractersticas e, dentre elas, o

    apinhamento dentrio ntero-inferior constitui-se em um desafio para os

    ortodontistas, pois somente um completo entendimento do problema levar a uma

    correta resoluo. Dessa forma, torna-se importante o conhecimento de sua

    etiologia, a determinao adequada da forma de soluo do problema, bem como a

    sua subseqente estabilidade.

    A falta de espao para a acomodao dos dentes alinhados nas arcadas

    dentrias denominada de apinhamento dentrio, ou seja, discrepncia entre a

    largura dos dentes e o espao disponvel no processo alveolar. O apinhamento

    classificado em primrio, quando est localizado na regio anterior do arco e

    observado geralmente na dentadura mista, podendo tambm ser encontrado na

    dentadura decdua; secundrio, quando est localizado na regio intermediria do

    arco, a etiologia deve-se aos fatores ambientais, tais como hbitos, perda de

    elemento dentrio, dentre outros; e por ltimo tercirio ou tardio, quando localizado

    particularmente na regio ntero-inferior do arco, e ocorre na dentadura permanente,

    na puberdade ou ps-adolescncia (VAN DER LINDEN, 1974; KAWAUCHI et al;

    2004; BERNAB; FLORES, 2005; PENA; PEREIRA; BIANCHINI, 2008).

    O apinhamento est presente em 37% das malocluses classe I, sendo que

    em torno de 40% das crianas e 85% dos adolescentes tm algum grau de

    desalinhamento nos arcos dentrios (RHEE; NAHM, 2000).

    No ltimo Levantamento Nacional de Sade Bucal realizado na regio Sul do

    Brasil (SB200) verificou-se uma prevalncia de 50,18% (2.419) do total de 4.821

    crianas aos 12 anos com apinhamento dentrio. Na faixa etria de 15 a 19 anos, os

    valores foram mais baixos: 42,39% (3.214) dos 7.582 adolescentes examinados.

    Estes dados refletem a alta prevalncia deste tipo de malocluso na infncia e

    adolescncia (RIO GRANDE DO SUL, 2003).

    Estudos recentes sugerem que, sem tratamento ortodntico,

    aproximadamente dois teros dos adolescentes com bom alinhamento e ocluso

    normal iro desenvolver o apinhamento no incio da idade adulta. Em funo da alta

    prevalncia o apinhamento tardio inferior pode at ser considerado um processo

    normal do envelhecimento, pois parte da populao est chegando idade adulta

    com a presena de uma dentio mais completa do que em outras pocas.

  • 12

    (RICHARDSON, 1994; ASSOCIAO AMERICANA DE ORTODONTIA, 1999;

    ANTANAS; GIEDR, 2006).

    Entretanto, a preocupao em se manter os dentes perfeitamente alinhados,

    estimulou o estudo da etiologia deste apinhamento tardio, no intuito de evit-lo

    (MARTINS, 1997).

    O objetivo deste trabalho verificar os fatores etiolgicos mais relevantes

    relacionados ao surgimento do apinhamento dos incisivos inferiores permanentes.

  • 13

    2 REVISO DE LITERATURA E DISCUSSO

    Este trabalho tem como metodologia a Pesquisa Bibliogrfica. Para tal, foram

    utilizados livros, revistas, artigos, teses e dissertaes, na forma impressa e

    eletrnica, das bases de dados da Biblioteca Virtual em Sade da Medicina

    (Bireme), da Biblioteca Brasileira de Odontologia (BBO), e da Biblioteca Latino

    Americana e do Caribe (Lilacs). Foram utilizados os seguintes descritores na rea da

    sade: apinhamento de dente, etiologia, malocluso.

    O desenvolvimento da civilizao moderna, a morfologia dos incisivos, a

    presso dos terceiros molares, o crescimento mandibular residual, o crescimento

    facial, as funes musculares anormais, as condies periodontais, a migrao

    mesial dos dentes juntamente com os diferentes estgios de desenvolvimento, tm

    sido alguns dos fatores etiolgicos observados na literatura com variada extenso e

    em diferentes combinaes no apinhamento dos incisivos inferiores permanentes

    (PECK; PECK, 1972; RICHARDSON, 1994; RICHARDSON,1999; FREITAS, 2002;

    PROFFIT, 2002; ANTANAS; GIEDR, 2006).

    2.1 FATORES RELACIONADOS AO APINHAMENTO NTERO-INFERIOR

    2.1.1 Desenvolvimento da civilizao moderna Os registros de fsseis documentam tendncias evolutivas em muitos

    milhares de anos que afetaram a dentio atual, incluindo diminuio no nmero de

    dentes e no tamanho dos ossos maxilares. De acordo com estudos, existe uma

    contnua reduo no tamanho dos dentes anteriores e p osteriores nos ltimos

    100.000 anos. O nmero de dentes na dentio dos primatas mais evoludos foi

    reduzido, se comparado ao padro comum dos mamferos. O terceiro incisivo e o

    terceiro pr-molar desapareceram, assim como o quarto molar (PROFFIT, 2002).

    Atualmente o terceiro molar humano, o segundo pr-molar e o incisivo lateral

    sofrem agenesia com freqncia, o que indica, para alguns autores, que esses

    dentes podem no estar sendo formados como forma de evoluo. Comparados

    com populaes primitivas, os humanos modernos tm ossos maxilares pouco

    desenvolvidos. fcil verificar que se essa reduo progressiva do tamanho dos

    maxilares no for bem combinada com a reduo no tamanho e no nmero de

  • 14

    dentes, poder levar a apinhamento e desalinhamento dentrio. muito difcil saber

    por que tal apinhamento teria aumentado to recentemente, mas isto parece se

    comparar com a transio de sociedades agrcolas primitivas para sociedades

    modernas urbanizadas. Existe alguma evidncia de que a malocluso aumenta em

    populaes bem definidas aps a sua transio de reas rurais para a cidade. Pode-

    se argumentar que a malocluso seja outra condio agravada pelas modificaes

    das condies da vida moderna, talvez resultando, em parte, do menor uso agora do

    aparelho mastigatrio com comidas mais macias (PROFFIT, 2002).

    As populaes primitivas tendem a apresentar uma prevalncia menor de

    malocluso que as populaes contemporneas em pases desenvolvidos. Se a

    diminuio do comprimento do arco, e a migrao mesial dos molares permanentes

    so fenmenos naturais, pareceria razovel que o apinhamento se desenvolvesse a

    no ser que fosse diminuda a quantidade de estrutura dentria durante os estgios

    finais de crescimento (PROFFIT, 2002).

    Pesquisas sobre aborgines australianos mostraram que a malocluso era

    rara, porm ocorriam grandes quantidades de atries oclusal e interproximal. O

    autor sugeriu que os dentes apinhavam quando no ocorria atrio com alimentos

    moles e preconizou a extrao de pr-molares para promover o equivalente a atrio

    que ele viu nos aborgines. Com a mudana de estilo de vida da populao

    aborgene, os desgastes oclusais e interproximais desapareceram, entretanto, o

    apinhamento tardio raramente se desenvolveu, apesar de a doena periodontal ter

    se tornado o maior problema (RAYMOND BEGG, 1954 apud PROFFIT, 2002).

    Verificando-se o desenvolvimento do ser humano, percebem-se grandes

    modificaes de suas caractersticas antomo-fisiolgicas durante a evoluo.

    Estudos antropolgicos demonstram que a cabea do homem sofreu modificaes ,

    em especial o sistema estomatogntico, provavelmente em conseqncia da

    mudana de seus hbitos comportamentais e alimentares, pois o homem primitivo

    utilizava seu sistema mastigatrio intensamente, no s pela variao do tipo de

    alimento, mas tambm como ferramenta ou arma de ataque e defesa em suas lutas.

    Isso o difere do homem moderno, ps-revoluo industrial, que ingere alimentos

    mais amolecidos e que passam por fases prvias de preparao. A consistncia da

    alimentao atual bem diferente, podendo minimizar, a cada dia, a ao da

    mastigao e assim, provocar crescente modificao antomo-fisiolgica,

  • 15

    aumentando as possibilidades de perturbaes em todo sistema (PENA; PEREIRA;

    BIANCHINI, 2008).

    Os alimentos duros parecem exercer influncia em diversas estruturas, tal

    como a fora da musculatura oral aumentando a carga de funo sobre os dentes,

    atuando no apenas na qualidade da mastigao como tambm no desenvolvimento

    e manuteno dos ossos maxilares, dos arcos dentrios e de todo o sistema

    estomatogntico, possibilitando assim menores interferncias oclusais. J os

    alimentos moles teriam efeito atrfico sobre os ossos maxilares contribuindo para o

    aparecimento da malocluso. Assim, a crescente incidncia do apinhamento

    dentrio nos ltimos anos na populao de reas urbanas traz referncia mudana

    da consistncia alimentar nestas regies (PENA; PEREIRA; BIANCHINI, 2008).

    2.1.2 Morfologia dos Incisivos

    Dentre os inmeros fatores etiolgicos responsveis pelo apinhamento

    ntero-inferior, encontra-se a variao de tamanho dentrio. Embora esta relao

    entre as dimenses coronrias e o apinhamento seja reconhecida, a natureza exata

    desta associao no bem esclarecida (FREITAS, 2002).

    Smith, Davidson e Jipe (1982), sugerem que existe uma relao de causa e

    efeito entre a forma dos incisivos inferiores e a presena ou ausncia de

    apinhamento. Concordando com isto, Martins e Ramos (1997) observaram que o

    aumento dos dimetros mesiodistais de todos os dentes est diretamente

    relacionado com o aumento do apinhamento no arco.

    Arcos dentrios com moderado, suave e sem apinhamento diferem, na

    maioria das vezes, significativamente em seu tamanho dentrio msio-distal e

    proporo de apinhamento individual e em conjunto, mas no no seu comprimento

    vestbulo-lingual (BERNAB; FLORES, 2005).

    Peck e Peck (1972) sugeriram que o fator determinante no apinhamento

    incisal no era apenas o tamanho dentrio, mas tambm o seu formato. A coroa dos

    incisivos pode apresentar vrias formas: quadrada, triangular, ovoidal e mista. Foi

    declarado que o contato quanto mais largo, mais estvel tendo menor chance de

    ceder a tenses e presses. Incisivos com formato mais triangular apresentam maior

    apinhamento e maior recidiva em funo da instabilidade da rea de contato.

    Tambm verificaram que os incisivos inferiores bem e mal alinhados possuam

  • 16

    caractersticas distintas de tamanho. A partir desse dado, formularam mdias de

    tamanhos dentrios ideais para o bom alinhamento dos dentes.

    Segundo os mesmos autores, o alinhamento dos incisivos inferiores

    depende do ndice VL-MD. Esse ndice deve ser calculado para os incisivos

    inferiores (Figura 1 e Figura 2).

    NDICE = Dimetro MD da coroa do incisivo inferior (mm) X 100

    Dimetro VL da coroa do incisivo inferior (mm)

    Figura 1 - Dimetro mesiodistal da coroa do incisivo inferior. Paqumetro paralelo ao plano oclusal e paralelo ao solo. Fonte: CASTRO et al. (2007)

    Figura 2 - Dimetro vestibulolingual da coroa do incisivo inferior

    - paqumetro perpendicular a toda incisal da coroa do incisivo (segundo o longo eixo da coroa dos incisivos inferiores). Fonte: CASTRO et al. (2007)

    O ndice mdio dos incisivos corretamente alinhados de 88 mm a 92 mm

    para os incisivos centrais inferiores e 90 mm a 95 mm para os incisivos laterais. Os

  • 17

    pacientes com um alinhamento ideal apresentavam incisivos com menor largura

    mesiodistal e maior vestbulo-lingual. Entretanto, os autores salientaram que

    conveniente afirmar que problemas de desvios de tamanho dentrio sejam somente

    alguns entre vrias condies que podem levar ao apinhamento ntero-inferior

    (PECK; PECK, 1972).

    A mdia da largura dos incisivos pode ser uma ferramenta til no

    diagnstico, tratamento e conteno nos casos de malocluso com apinhamento

    (RHEE; NAHM, 2000).

    Com o objetivo de verificar se os incisivos inferiores naturalmente bem

    alinhados possuam caractersticas dimensionais distintas, Peck e Peck (1972),

    selecionaram dois grupos de mulheres americanas leucodermas, de ascendncia

    europia, no tratadas ortodonticamente, com idade variando de 17 a 27 anos,

    sendo o primeiro grupo com 45 mulheres com todos os dentes permanentes

    irrompidos at os segundos molares, ausncia de tratamento ortodntico prvio,

    contato proximal presente e ausncia de sobreposio dos incisivos inferiores, e o

    segundo grupo com 70 mulheres foi escolhido sem critrio. Em ambos os grupos, os

    dimetros mesiodistal e vestibulolingual mximo de cada incisivo inferior foram

    medidos diretamente na boca. O dimetro mesiodistal mximo foi encontrado na, ou

    prximo borda incisal; entretanto, o dimetro vestibulolingual mximo, na maior

    parte dos casos, est abaixo da margem gengival, sendo ento necessrio

    posicionar a ponta do compasso subgengivalmente, impedindo assim a utilizao de

    modelos de estudo. Concluram que a forma dentria (dimenses mesiodistal e

    vestibulolingual MD/VL) um fator determinante na presena ou ausncia do

    apinhamento dos incisivos inferiores.

    Rhee e Nahm (2000) realizaram um estudo com o objetivo de estabelecer a

    correlao entre a forma da face vestibular das coroas dos incisivos e o

    apinhamento. Aps avaliarem modelos de estudo de 69 indivduos (30 do gnero

    masculino e 39 do feminino), divididos em dois grupos, normal e com apinhamento.

    Encontraram que o valor mdio mesiodistal para o grupo apinhado era

    significantemente maior na rea incisal, e menor na rea cervical. Portanto, a

    prevalncia de apinhamento maior em indivduos com incisivos com forma

    triangular. A razo da largura (cervical x incisal) da face vestibular dos incisivos est

    relacionada com o ndice de Little, mtodo quantitativo para avaliar as

  • 18

    irregularidades dos dentes ntero-inferiores, envolvendo as medies da distncia

    linear real dos pontos de contato anatmicos de cada incisivo inferior at o ponto de

    contato anatmico do dente adjacente, onde as somas destas cinco irregularidades

    representam a distncia para o qual os pontos de contato devem ser movidos para

    atingir o alinhamento (Figura 3 e Figura 4). Este ndice classificado de acordo com

    os seguintes critrios:

    0 = alinhamento perfeito;

    1 - 3 = apinhamento mnimo;

    4 - 6 = apinhamento moderado;

    7 - 9 = apinhamento severo;

    10 = apinhamento muito severo.

    Figura 3 - A+B+C+D+E = ndice de irregularidade Fonte: CASTRO et al. (2007)

    Figura 4 - Tcnica de medio do ndice de irregularidadeo paqumetro deve ser colocado paralelo ao plano oclusal< medindo apenas o apinhamento linear horizontal dos pontos de contatos anatmicos. Fonte: CASTRO et al. (2007)

  • 19

    A importncia clnica da constatao de formas diferentes de incisivos

    utilizar recursos para atingir maior estabilidade ps-tratamento. Os incisivos com

    forma triangular apresentam pequenos pontos de contato, o que tornaria esses

    contatos mais instveis, levando a deslizes e consequentemente ao apinhamento.

    Uma das formas de alterar esses contatos menos estveis seria transform-los em

    reas de contato, por meio de desgastes interproximais. Esse desgaste no causaria

    desconforto ao paciente e no provocaria nenhuma reao dentinria pulpar

    (ARAUJO et al., 2006).

    2.1.3 Estgios de desenvolvimento

    Existe uma forte tendncia para que o apinhamento dos incisivos inferiores

    se desenvolva no final da adolescncia at os 23-24 anos, no importando se

    estiverem bem alinhados inicialmente. Dessa forma, um apinhamento moderado dos

    incisivos inferiores tende a se desenvolver se os dentes estiverem bem alinhados

    inicialmente, ou se existia um apinhamento moderado pode tornar-se ainda pior. O

    aparecimento das mudanas pode ser verificado em alguns indivduos por volta dos

    17 aos 18 anos, e em outros, s mais tarde, por volta dos 25 anos (PROFFIT, 2002).

    Sanin e Savara (1973) estudaram os modelos e as teleradiografias de

    alguns pacientes em dois diferentes estgios: I, na dentadura mista, onde os nicos

    dentes permanentes presentes eram os incisivos e os primeiros molares inferiores;

    II, na dentadura permanente, e na maioria dos pacientes j se encontravam

    presentes os segundos molares. Destes pacientes estudados, 82% que no

    apresentavam apinhamento no estgio I no sofreram alteraes, e 18%

    apresentaram apinhamento de leve a moderado. Dos pacientes com apinhamento

    no estgio I, 89% mostraram apinhamento tambm no estgio II, e apenas 11%

    apresentaram um completo alinhamento. Concluram que a probabilidade de

    indivduos sem apinhamento no estgio I continuarem sem apinhamento no estgio

    II de 80%. E a probabilidade de indivduos com apinhamento no estgio II

    mostrarem apinhamento no estgio I de 90%.

    Richardson (1999) fez uma reviso das alteraes no alinhamento do arco

    inferior de indivduos no tratados com ortodontia, em vrios estgios de

    desenvolvimento. Em mdia, o apinhamento diminuiu entre os 7 e os 12 anos e

    aumentou aps esta idade. O maior aumento ocorreu na adolescncia entre os 13 e

  • 20

    os 18 anos (mdia de 2,3 mm), dos 18 aos 21 anos o arco inferior se manteve

    relativamente estvel em contraste aos anos anteriores. Pouca ou nenhuma

    alterao ocorreu na terceira dcada, e pequenos aumentos ocorreram

    posteriormente. Segundo a autora, isso sugere que as causas podem variar em

    diferentes estgios do desenvolvimento.

    Bishara (1999) avaliou a mudana nos incisivos inferiores de pacientes entre

    12 e 25 anos de idade e ento reavaliou os mesmos aos 45 anos de idade. Ele

    encontrou um aumento da discrepncia dentria com relao ao comprimento do

    arco com a idade. A mdia da reduo no comprimento do arco entre os pacientes

    de 12 e 25 anos era 2,7 mm nos homens e 3,5 mm nas mulheres.

    Geralmente o apinhamento considerado uma condio normal de uma

    dentio permanente completa. Antanas e Giedr (2006), em seu estudo verificaram

    que falta de espao no arco inferior foi observado em quase 90% dos pacientes

    examinados. Eles sugeriram tambm que mudanas hormonais durante a

    adolescncia ou gravidez poderiam causar um aumento na maleabilidade ssea. O

    osso perde em funo da idade ou doena periodontal capacidade de resistir a

    presses que anteriormente resistia. Esses fatores so mais provveis como sendo

    causas do apinhamento que se desenvolve numa idade mais tardia depois de um

    perodo de relativa estabilidade.

    Fatores responsveis para reduo do arco dentrio podem variar de uma

    pessoa para outra, e muitos destes fatores agindo em conjunto, ou em fases

    diferentes do desenvolvimento, podem contribuir para o apinhamento (ANTANAS;

    GIEDR, 2006). 2.1.4 Influncia dos terceiros molares inferiores

    Aps a adolescncia, o apinhamento dos incisivos inferiores manifesta-se

    com freqncia e em diversos graus, podendo-se considerar como uma alterao

    normal da dentadura permanente em jovens tratados ou no tratados com

    Ortodontia. Entretanto, a preocupao em se manter os dentes perfeitamente

    alinhados, estimulou o estudo da etiologia deste apinhamento tardio, com o objetivo

    de evit-lo. Como a manifestao deste desalinhamento ocorre concomitante

    erupo dos terceiros molares, estes dentes tornaram-se o alvo principal das

    pesquisas. Em muitas delas foram apontados como viles, contrastando com

  • 21

    outros resultados que os absolviam desta responsabilidade (MARTINS; RAMOS,

    1997).

    Segundo a Associao Americana de Ortodontia (1999), a teoria de que os

    terceiros molares, quando em erupo, empurram o arco inferior, forando os dentes

    posteriores para frente e apinhando os incisivos, constitui-se na explicao mais

    proclamada pelos clnicos gerais e pelos prprios pacientes como etiologia e recidiva

    ps-tratamento ortodntico. Este conceito atraente, visto que ele implica que os

    dentistas podem prevenir o apinhamento simplesmente pela extrao dos terceiros

    molares antes que o apinhamento se desenvolva.

    O apinhamento tardio inicia mais ou menos na poca em que os terceiros

    molares deveriam irromper. Na maioria dos indivduos, esses dentes esto

    impactados porque o comprimento do arco no aumenta suficientemente para

    acomod-los pela remodelao posterior do ramo. (PROFFIT, 2002).

    Segundo Richardson (1999), uma impresso errada pensar que apenas

    terceiros molares impactados causam o apinhamento. Um terceiro molar que

    erupciona provvel que exera maior presso no arco dentrio do que um que

    permanece impactado, e alguns terceiros molares impactados podem exercer maior

    presso do que outros. O terceiro molar inferior inicia seu desenvolvimento no ramo

    mandibular em uma posio msioangular relativa ao plano mandibular e

    gradualmente se torna mais vertical at que se encontre em posio para erupo.

    Os terceiros molares podem causar presso enquanto eles estiverem tentando

    erupcionar, mas uma vez que eles se tornarem impactados e especialmente com os

    pices fechados eles provavelmente deixam de causar esta presso. Os dentes que

    foram para estar no arco e erupcionam so os que provavelmente mais causam

    apinhamento.

    Como causadores do apinhamento, estes dentes exerceriam uma fora na

    regio posterior do arco dentrio, provocando uma migrao mesial de todos os

    dentes anteriores a eles, acarretando uma menor disponibilidade de espao para os

    incisivos. Este processo estaria associado ao movimento mesial fisiolgico dos

    dentes posteriores, decorrentes do componente anterior das foras oclusais. Alguns

    autores relatam que a remoo dos terceiros molares permitiria espao adequado

    para acomodao distal dos primeiros e segundos molares, diminuindo assim a

    possibilidade de apinhamento anterior (RICHARDSON, 1982; MARTINS; RAMOS,

    1997; BEEMAN, 1999).

  • 22

    Vego (1962) comparou pacientes com e sem os terceiros molares, entre 12

    e 17 anos, observando um maior apinhamento no primeiro grupo. Lindquist e

    Thilander (1982) realizaram extraes unilaterais dos terceiros molares e

    observaram melhores condies de espao (menor apinhamento) no lado da

    extrao, em 70% dos casos, comparado ao lado controle. Resultados semelhantes

    foram encontrados por Antanas e Giedr (2006).

    Foras geradas durante a erupo do terceiro molar podem causar

    apinhamento incisal, alm de inclinao bucal ou lingual dos segundos molares. Em

    teoria, os terceiros molares no podem influenciar diretamente os incisivos, sem

    exercer um efeito ao segmento bucal e ao canino. Sanin e Savara (1973)

    enfatizaram que os primeiros molares podem tambm ser movimentados

    dependendo da sua posio original no arco dentrio.

    A agenesia do terceiro molar e estudos de extrao sugerem que a migrao

    mesial maior com a presena do terceiro molar em desenvolvimento. Essa

    sugesto fortemente suportada pelos estudos de extrao do segundo molar. A

    remoo deste dente isola o terceiro molar do restante do arco. A reduo do

    apinhamento e movimento distal dos primeiros molares em pacientes que tiveram os

    segundos molares extrados comparados com o aumento do apinhamento e

    movimento mesial dos primeiros molares em sujeitos sem extraes, do evidncias

    convincentes dos efeitos do desenvolvimento do terceiro molar na parte anterior do

    arco (BERGSTRON; JENSEN, 1960; RICHARDSON, 1999; PROFFIT, 2002).

    O padro facial tambm pode influenciar o posicionamento dos terceiros

    molares e o apinhamento dos incisivos inferiores. Os pacientes com padro facial

    vertical (dolicofaciais) apresentam maiores chances de impaco dos terceiros

    molares e de apinhamento dos incisivos inferiores (MARTINS; RAMOS, 1997).

    A idade em que os terceiros molares inferiores erupcionam coincide com a

    fase em que se inicia a diminuio do comprimento do arco no adulto, por volta dos

    20 anos. H uma tendncia de associar estes fatos em funo da dificuldade de

    estabelecer controle j que a anlise dos fatores implicados no apinhamento inferior

    necessita de pareamento cauteloso dos grupos experimentais para se determinar o

    papel dos terceiros molares nestas modificaes. Sendo assim, a remoo de

    terceiros molares com a inteno de prevenir o apinhamento dos incisivos inferiores

    ainda infundada e, portanto contra-indicada (ADES et al., 1990; ANTANAS;

    GIEDR, 2006; ARTESE, 2006).

  • 23

    Como j foi mencionado anteriormente, em pacientes no tratados

    ortodonticamente h um aumento da discrepncia dentria inferior de 2,7mm nos

    homens e 3,5mm nas mulheres quando acompanhados dos 12 aos 45 anos de

    idade. Na verdade, o apinhamento ntero-inferior, mesmo ps-tratamento

    ortodntico, um fenmeno contnuo dos 20 aos 40 anos e muito provavelmente

    alm. Assim, a presena, ausncia, impaco ou erupo dos terceiros molares

    parece ter pouco ou nenhum efeito na ocorrncia ou no grau de apinhamento dos

    incisivos inferiores (ARTESE, 2006).

    A divergncia de opinies entre escolas, autores e at mesmo da poca se

    reflete no artigo de Lindauer et al (2007). Neste estudo atravs da anlise de

    questionrios enviados para ortodontistas e cirurgies buco-maxilo-faciais

    americanos, pode-se observar que a opinio dos cirurgies sobre a influncia da

    erupo de terceiros molares, componente anterior de foras e com o apinhamento

    anterior da dentio foi significativamente maior do que a dos ortodontistas, assim

    como a recomendao da extrao profiltica dos terceiros molares na tentativa de

    prevenir o apinhamento tardio.

    Quando os terceiros molares apresentam condies favorveis para

    irromper em boa ocluso, o apinhamento no deve ser justificativa para a extrao.

    Como estes dentes constituem mais um sinal da discrepncia dentoalveolar, do que

    causadores ativos do apinhamento, a simples extrao geralmente no soluciona o

    problema. Alm disso, sugere-se que o desenvolvimento dos terceiros molares, e

    no simplesmente a sua erupo, que provoca a migrao mesial, embora

    pequena, do segmento posterior. Desta forma, os mesmos cuidados tomados

    quando estes dentes esto impactados devem ser observados, buscando reduzir as

    alteraes na regio ntero-inferior (MARTINS; RAMOS, 1997; NIEDZIELSKA,

    2005).

    Segundo autores, a recomendao para exodontia dos terceiros molares

    inferiores no pode ser apenas baseada na razo duvidosa de diminuir o

    apinhamento presente ou futuro dos incisivos inferiores (BISHARA, 1983;

    HARADINE; PEARSON; TOTH, 1998; BISHARA, 1999; ANTANAS; GIEDR, 2006)

  • 24

    2.1.5 Crescimento mandibular residual

    Como resultado de crescimento, na mandbula pode ocorrer, e realmente

    ocorre, um crescimento maior do que na maxila ao final da adolescncia. possvel

    que o crescimento mandibular residual gere, de alguma forma, o apinhamento tardio

    dos incisivos inferiores. As pesquisas feitas com implantes por Bjork (1969)

    trouxeram um entendimento do porqu do apinhamento tardio e como este se

    relaciona, de fato, com o padro de crescimento dos maxilares.

    A posio da dentio relacionada com a maxila e a mandbula

    influenciada pelo padro de crescimento dos maxilares. Quando a mandbula cresce

    para frente em relao maxila, como geralmente ocorre ao final da adolescncia,

    bem como antes, os incisivos inferiores tendem a se deslocar lingualmente,

    particularmente se estiver presente qualquer rotao excessiva (Figura 5)

    (PROFFIT, 2002).

    Figura 5- crescimento mandibular residual resulta em um movimento lingual dos incisivos inferiores. Fonte: ASSOCIAO AMERICANA DE ORTODONTIA (1999)

    Em pacientes com uma ocluso anterior muito forte antes de ocorrer o

    crescimento mandibular residual, a relao de contato dos incisivos inferiores com

    os incisivos superiores precisa mudar. Nesta circunstncia, ocorre um dos trs fatos:

    (1) a mandbula deslocada distalmente, acompanhada de uma distoro da funo

    da articulao temporomandibular e deslocamento do disco articular; (2) os incisivos

    superiores se inclinam para frente abrindo espaos entre eles; ou (3) os incisivos

    inferiores deslocam-se para lingual e se tornam apinhados (PROFFIT, 2002).

    Todos esses trs fenmenos foram relatados. A segunda hiptese,

    inclinao e abertura de espao dos incisivos superiores a menos comum. O

  • 25

    deslocamento posterior da mandbula acompanhado de disfuno da articulao

    temporomandibular pode acontecer e ocasionalmente pode estar relacionado com

    dor e disfuno miofacial, porm isso tambm parece ser muito raro. O

    deslocamento lingual dos incisivos inferiores, juntamente com o apinhamento e a

    diminuio da distncia intercanina inferior, a resposta mais provvel (PROFFIT,

    2002).

    Os indivduos que apresentam uma mandbula que cresce mais para frente

    que a maxila tendem a mostrar um maior aumento na irregularidade dos incisivos

    inferiores e tambm um aumento do ngulo interincisivos. Segundo os autores, uma

    possvel explicao para a recidiva da irregularidade dentria, seria o princpio do

    arco contido, segundo o qual, medida que o trespasse vertical aumenta, a fora

    lingual imposta sobre os incisivos inferiores, a partir dos incisivos superiores, tende a

    comprimir e apinhar o arco inferior que est contido (VADEN; HARRIS; GARDNER,

    1997).

    No necessrio sequer que os incisivos estejam em contato oclusal para

    se desenvolver apinhamento tardio. Isto tambm ocorre comumente em indivduos

    que apresentam uma mordida aberta anterior e uma rotao mandibular para trs, e

    no para frente. Nesta situao, a rotao mandibular leva a dentio para frente,

    colocando os incisivos contra os lbios. Isso cria uma presso labial leve, porm

    duradoura, que tende a reposicionar os incisivos protrados pra lingual, reduzindo o

    comprimento do arco e causando apinhamento (PROFFIT, 2002).

    Bjork (1969) sugeriu que graus extremos de crescimento mandibular

    rotacional podem resultar em apinhamento aumentado. Quando a mandbula rota

    para cima e para frente, o padro de erupo de todos os dentes foi movimentado

    em direo mesial, resultando em empacotamento do segmento anterior inferior. Em

    extrema rotao para baixo e para trs os incisivos inferiores se tornam

    retroinclinados em funo da sua relao funcional com os incisivos superiores.

    Sanin e Savara (1973) analisaram 150 crianas leucodermas, e observaram

    que o crescimento horizontal da mandbula, sem um concomitante crescimento

    maxilar, restringe o arco inferior, apinhando ento os incisivos. Concluram que o

    apinhamento ntero-inferior no ocorre devido discrepncia entre o tamanho dos

    dentes e do arco, mas sim de uma discrepncia envolvendo vrios outros fatores.

    Quando o crescimento mandibular residual ultrapassa o crescimento maxilar,

    foras originadas no arco maxilar e nos tecidos moles labiais causam verticalizao

  • 26

    dos incisivos mandibulares. Esta verticalizao, ou movimento lingual, resulta em

    apinhamento em funo dos incisivos serem forados a ocupar o menor permetro

    no arco. Pode-se esperar crescimento mandibular residual ou diferencial com maior

    intensidade no final da adolescncia, continuando de forma mais lenta no incio da

    idade adulta (ASSOCIAO AMERICANA DE ORTODONTIA, 1999).

    Existem evidncias que a mandbula cresce por mais tempo que a maxila, e

    o osso mais basilar mandibular cresce mais que o osso alveolar. Se os incisivos

    inferiores no estiverem livres para avanar em funo da conteno do arco

    superior, provvel que eles se tornem retro inclinados e apinhados (ANTANAS;

    GIEDR, 2006).

    Para Van Der Linden (1974), a continuao do crescimento mandibular,

    numa poca em que h pouco ou nenhum crescimento do resto do complexo

    craniofacial, parece ser o fator contribuinte mais importante para a ocorrncia deste

    apinhamento.

    O atual conceito que o apinhamento tardio dos incisivos se desenvolva

    medida que os incisivos inferiores, e talvez toda a dentio inferior, se movem

    distalmente em relao ao corpo da mandbula no crescimento mandibular tardio.

    Isto tambm lana alguma luz sobre o possvel papel dos terceiros molares em

    determinar se o apinhamento ocorrer e quo grave ele ser. Se houvesse espao

    na extremidade distal do arco, seria possvel para todos os dentes inferiores se

    moverem ligeiramente para distal, permitindo aos incisivos inferiores se

    verticalizarem sem apinhar. Por outro lado, terceiros molares impactados no arco

    inferior impediriam os dentes posteriores de se movimentarem distalmente e, se

    ocorresse o crescimento mandibular diferencial, a presena desses molares talvez

    garantisse o desenvolvimento do apinhamento. Neste caso os terceiros molares

    inferiores seriam o ltimo elo numa cadeia de eventos que leva o apinhamento

    tardio dos incisivos (PROFFIT, 2002).

    Como mostrado anteriormente, o apinhamento tardio ocorre de fato em

    indivduos que no apresentam os terceiros molares, portanto, a presena desses

    dentes no uma varivel crtica. O crescimento mandibular remanescente que

    ocorre aps o crescimento normal a maior chance para que os incisivos se tornem

    apinhados ou no (PROFFIT, 2002).

  • 27

    2.1.6 Crescimento facial

    Segundo Siatkowski (1974), uma possvel explicao para a verticalizao

    dos incisivos ao final da adolescncia seria a diferena no padro de crescimento

    entre o esqueleto facial e o tecido tegumentar circundante, pois esse sofre uma

    desacelerao mais rpida no seu crescimento que o tecido sseo, resultando numa

    fora com direo lingual sobre os incisivos. Outra possibilidade seria um aumento

    da rigidez, com o passar da idade, no tecido tegumentar bucal durante o crescimento

    tardio.

    Sakuda et al. (1976) apud Freitas (2002), realizaram um estudo

    cefalomtrico e de modelos de 18 pacientes do gnero masculino e 12 do feminino,

    no tratados com ortodontia, avaliados nas idades de 12,14 e 17 anos. O objetivo

    era investigar as alteraes no apinhamento dos arcos superiores e inferiores

    durante a adolescncia e sua relao com o crescimento facial. Os autores

    concluram que, de acordo com anlise de regresso mltipla, o apinhamento inferior

    parece estar amplamente relacionado a algumas alteraes cefalomtricas ocorridas

    com o crescimento (menor protruso dos incisivos superiores, pouco crescimento da

    maxila, grande crescimento vertical no segmento pstero superior, diminuio do

    ngulo intermolares), bem como algumas caractersticas cefalomtricas presentes

    aos 12 anos (alto valor para o ngulo do plano mandibular, grande comprimento

    efetivo da mandbula, pequeno comprimento do corpo mandibular, primeiros molares

    inferiores inclinados para mesial, pequena dimenso vertical no segmento pstero

    superior, grande altura facial superior). Portanto, o apinhamento secundrio parece

    ser causado no apenas pelo padro especfico de crescimento, mas tambm pelo

    tipo de esqueleto susceptvel ao apinhamento no comeo da adolescncia.

    Leighton e Hunter (1982) estudaram as caractersticas esquelticas faciais

    associadas com o espaamento ou apinhamento dos dentes inferiores nas

    dentaduras mista e permanente de uma amostra longitudinal de 80 indivduos com

    dentes inferiores severamente apinhados. Esse estudo revelou que os indivduos

    com apinhamento severo possuam inclinao maior dos planos mandibular e

    oclusal em relao linha SN que os outros indivduos. Esse grupo tambm

    apresentava uma altura facial posterior diminuda, um menor valor para o

    comprimento do corpo mandibular, tendo a snfise e os dentes posicionados mais

    para trs que os indivduos dos outros dois grupos. Os indivduos com espaamento

  • 28

    apresentaram um maior crescimento mandibular anterior e uma maior rotao

    anterior da mandbula. Os autores concluram que dentes inferiores apinhados

    existem numa estrutura de suporte morfologicamente distinta, que possui uma

    direo de crescimento inferior e uma relativa deficincia na quantidade de

    crescimento.

    Perera (1987) estudou o crescimento rotacional da mandbula em relao ao

    apinhamento dos incisivos em 29 indivduos no tratados com ortodontia, por um

    perodo de 9 anos, com idades variando dos 11 aos 19 anos. As medidas foram

    analisadas usando anlise cefalomtrica convencional e anlise baseada no mtodo

    de Bjork de superposio de estruturas anatmicas definidas. Os resultados

    indicaram que o crescimento rotacional final da mandbula est fortemente

    relacionado com o apinhamento incisal que ocorre comumente durante este perodo.

    Estas mudanas parecem ser mediadas por uma pr-inclinao compensatria dos

    incisivos mandibulares localizados na snfise que est associado com esta rotao.

    O autor encontrou uma mdia de 4,09 para rotao mandibular anterior.

    Richardson (1994) estudou o papel do crescimento horizontal diferencial no

    apinhamento tardio do arco inferior. Oitenta e cinco indivduos possuindo ocluses

    normais ou prximas do normal, ou ainda vrias malocluses, avaliados logo aps a

    erupo dos segundos molares permanentes, foram acompanhados

    longitudinalmente por 3 ou 4 anos. Como resultados, a autora no encontrou

    qualquer diferena significativa na quantidade ou direo de deslocamento entre os

    dentes superiores e inferiores ou entre a maxila e a mandbula. O pognio alterou-se

    mais no sentido horizontal que o ponto B, sugerindo que o crescimento alveolar no

    mantm o mesmo ritmo que o crescimento esqueltico. O aumento do apinhamento

    inferior foi pouco associado ao crescimento horizontal reduzido e o maior

    crescimento vertical da maxila, o deslocamento anterior dos incisivos e o aumento

    do crescimento da base mandibular foram at certo ponto relacionados ao aumento

    no apinhamento dos incisivos. Ainda a autora, aps uma reviso de literatura, relatou

    que no h evidncia suficiente para apoiar uma ligao causativa direta entre o

    apinhamento tardio dos incisivos e um padro facial especfico, mas os padres de

    rotao mandibular foram suspeitos de contribuir com esse apinhamento.

  • 29

    2.1.7 Funes musculares anormais

    Geralmente aceito que as estruturas dentoalveolares so susceptveis a

    foras dos tecidos moles e se adaptam a uma posio de equilbrio entre os

    msculos dos lbios, bochechas e lngua (Figura 6) (RICHARDSON, 1994).

    Figura 6- dentes posicionados em uma zona de equilbrio. Fonte: ASSOCIAO AMERICANA DE ORTODONTIA. (1999)

    As foras provenientes dos lbios, das bochechas, da lngua, dos dedos, ou

    de outros objetos podem influenciar a posio dos dentes, tanto no sentido vertical

    como horizontal, se as presses forem mantidas por um tempo suficiente. Uma

    pequena quantidade de presso contnua pode ser muito eficaz no deslocamento

    dos dentes. Qualquer dente individual ou todos os dentes de uma seco do arco

    podem estar deslocados para lingual ou vestibular, ou erupcionar mais ou menos do

    que deveriam erupcionar em condies normais (GRABER, 1961 apud PROFFIT,

    2002).

    De acordo com o estudo de Cohen e Vig (1976) apud Richardson (1994),

    onde foram avaliadas 50 radiografias cefalomtricas de pacientes dos 4 aos 20

    anos, foi sugerido que o tamanho da lngua relativo ao espao intermaxilar aumenta

    com a idade, podendo gerar fora anterior nos dentes inferiores. Foi sugerido

    tambm que a lngua pode tomar uma posio mais inferior com a idade, em funo

  • 30

    do crescimento, podendo compensar qualquer possibilidade de aumento da presso

    anterior pela maior largura da lngua.

    Mudanas na funo dos tecidos moles podem alterar a relao entre os

    dentes e a musculatura. Adolescentes com incompetncia labial, tornam-se mais

    atentos e exigentes com sua aparncia, mantendo os lbios fechados com uma

    fora consciente causando um aumento da presso perioral (RICHARDSON, 1994).

    Essas investigaes mostram que as mudanas nas estruturas dos tecidos

    moles esto presentes durante toda a adolescncia, podendo alterar a presso

    sobre o balano nos incisivos inferiores, gerando o apinhamento (RICHARDSON,

    1994).

    O crescimento mandibular pode trazer os incisivos inferiores para uma

    relao diferente com os tecidos moles. Comparando 25 pacientes que foram

    tratados ortodonticamente e desenvolveram o apinhamento inferior tardio com 25

    pacientes que no desenvolveram. Verificaram uma forte tendncia em manter a

    distncia intercanina original em todos os casos. Os casos apinhados tinham uma

    distncia intercanina antes do tratamento e retornaram sua dimenso original aps

    o tratamento com expanso. Os autores imaginaram que a musculatura do lbio no

    permitiu a expanso intercanina necessria para manter o alinhamento incisal.

    Ainda, sugeriram que como a mandbula cresce em tamanho, os lbios exercem

    maior presso do que a lngua criando uma fora no sentido lingual, que somada ou

    contrapondo a foras mesiais causam apinhamento incisal (ANTANAS; GIEDR,

    2006).

    2.1.8 Condies periodontais

    A explicao do apinhamento tardio dos incisivos inferiores sob o ponto de

    vista biomecnico sugere que cada contato dentrio classificado como uma

    articulao, de forma que o arco dental completo um conjunto de vrias

    articulaes. O arco dental no sentido horizontal representa uma cadeia nica onde

    duas superfcies convexas de articulao esto em contato e permanecem

    tensionadas pelo tecido fibroso dentogengival e dentoalveolar. Articulaes

    compostas por superfcies convexas esto em posio mecanicamente estveis sob

    compresso. A cada contato mastigatrio, os incisivos superiores recebem o impulso

    de separao, e os incisivos inferiores tendem a convergir em contatos mais ntimos.

  • 31

    Assim, esta compresso poderia causar um deslizamento entre os dentes,

    especialmente na regio incisal. Experincias em modelos de gesso mostram que

    estabilidade dimensional de um arco articulado consideravelmente aumentada

    quando superfcies cncavas e convexas esto em contato. Usando o mtodo do

    desgaste interproximal, o arco dental moderno poderia ganhar estabilidade similar ao

    da pr-histria onde existia processo de abraso aos dentes do homem (ANTANAS

    E GIEDR, 2006).

    Proffit (1978), afirmou que dois fatores principais esto envolvidos no

    equilbrio que determina a posio final dos dentes: a presso da posio de

    repouso do lbio, da bochecha e da lngua; as foras produzidas pela atividade

    metablica dentro do ligamento periodontal, anloga s foras da irrupo dentria.

    A funo do sistema de fibras transeptais consiste em estabilizar os dentes

    contra as foras que tendem a separ-los. Se esta estabilizao realizada pela

    manuteno dos contatos vizinhos num estado de ligeira compresso, ento o efeito

    a longo prazo dessa compresso poderia ser um deslize dos contatos dentrios e o

    colapso do arco. A remoo dos pontos de contato permite a contrao das fibras

    transeptais e a aproximao dos dentes adjacentes. Essa fora interproximal

    aumentada aps a carga oclusal e pode auxiliar e explicar a migrao fisiolgica e o

    apinhamento dos incisivos a longo prazo. Portanto, parece que o prprio periodonto

    pode estar ligado recidiva ps tratamento (WALDRON, 1942; SOUTHARD;

    SOUTHARD; TOLLEY, 1992).

    De acordo com Richardson (1994), foi demonstrado a presena de uma

    fora periodontal contnua na dentio mandibular, agindo para manter contatos

    proximais em um estado de compresso. Essa fora aumentada aps carga

    oclusal. Foi verificado tambm significativa correlao entre fora interproximal e

    desalinhamento anterior mandibular. Em funo disso concluiu-se que as foras

    periodontais podem contribuir para o desenvolvimento do apinhamento tardio ntero-

    inferior.

    H evidncias que a condio periodontal pode influenciar na estabilidade

    dos incisivos inferiores. Um desequilbrio leve entre lbios, lngua e bochechas

    geralmente est presente. Os dentes so estabilizados contra este desequilbrio leve

    por foras produzidas dentro do ligamento periodontal por metabolismo ativo. difcil

    verificar como as foras periodontais, por si s, podem iniciar o apinhamento, mas

  • 32

    em combinao com outros fatores pode exacerbar o processo (RICHARDSON,

    1994; ANTANAS; GIEDR, 2006). 2.1.9 Migrao mesial dos dentes

    A migrao mesial dos dentes humanos vem sendo reconhecida desde o

    sculo XVIII, e pode ser causada por movimento fisiolgico, por componente anterior

    de fora da ocluso em dentes inclinados mesialmente, vetores mesiais de

    contrao muscular ou contrao das fibras transeptais do ligamento periodontal.

    (RICHARDSON, 1999).

    Owman, Bjerklin e Kurol (1989), tambm, observando longitudinalmente a

    regio ntero-inferior de pacientes tratados e no tratados, encontraram uma

    resultante de foras recprocas para mesial que se relacionou ao apinhamento

    ntero-inferior.

    Southard, Beherents e Tolley (1989) determinaram a distribuio e a

    disseminao da fora promovida pelo componente anterior de fora. Quando uma

    carga foi colocada nos dentes posteriores, esse componente da fora oclusal

    progrediu anteriormente pelos contatos interproximais. Aps avaliarem 15 indivduos,

    os autores concluram que o mau alinhamento dos dentes anteriores estava

    relacionado magnitude do componente anterior e firmeza dos contatos

    interproximais nos segmentos pstero inferiores.

    Richardson (1982) examinando 51 jovens, com mdia de idade de 13 anos,

    22 homens e 29 mulheres, correlacionou o aumento de apinhamento dos incisivos

    com a migrao mesial dos primeiros molares permanentes, aos 13 e aos 18 anos,

    todos com os terceiros molares presentes. Nestes cinco anos evidenciaram um

    aumento mdio de 1 mm do apinhamento inferior. Em alguns casos o aumento foi de

    quase 4 mm e em 16% dos casos no ocorreu alterao no apinhamento incisal. O

    ponto de contato mesial do primeiro molar projetado sobre o plano maxilar foi usado

    para medir a alterao de posio deste dente ao longo dos 5 anos.

    Richardson (1996) em seu estudo, observou as inclinaes axiais dos

    molares inferiores e incisivos e as mudanas de suas inclinaes em relao ao

    aumento do apinhamento do arco inferior que comumente ocorre nos anos seguintes

    da erupo dos segundos molares permanentes. O presente estudo sugere uma

  • 33

    relao entre o aumento do apinhamento e a retroinclinao dos incisivos. Molares

    mesioinclinados e incisivos retroinclinados que continuam a erupcionar na mesma

    direo iro resultar numa mxima reduo do comprimento do arco e um aumento

    no apinhamento. No entanto, a correlao pode explicar apenas 20% das variaes

    na mudana da condio de espao.

    Estudos atribuem o apinhamento tardio a movimentos mesiais causados por

    uma fora fisiolgica dos dentes, foras oclusais, funo muscular e padro de

    erupo. possvel que esses fatores contribuam para este problema, mas nenhum

    deles associado com o fator primrio (ASSOCIAO AMERICANA DE

    ORTODONTIA, 1999).

    Estudos longitudinais de ocluso normal demonstram que a movimentao

    dentria faz parte do processo normal de maturao da ocluso durante toda vida;

    portanto, o apinhamento dos incisivos poder aumentar com a idade, mesmo em

    casos de ocluso normal (SINCLAIR; LITLLE, 1983).

  • 34

    2.1 TRATAMENTO ORTODNTICO E SUA RELAO COM O APINHAMENTO

    NTERO-INFERIOR

    O desenvolvimento do apinhamento ntero-inferior aps o tratamento

    ortodntico envolve inmeros fatores. Alguns deles relacionam-se diretamente ao

    tratamento ortodntico, como: falta de uma completa correo da giroverso dos

    dentes, levando quebra dos pontos de contato; aumento da distncia intercaninos;

    alterao da forma dos arcos dentrios; protruso excessiva dos incisivos; falta de

    harmonia da ocluso; habilidade do profissional; no remoo das causas da

    malocluso e tempo de conteno (PROFFIT, 1978; FREITAS, 2002).

    A posio estvel dos dentes aps o movimento dentrio ortodntico pode

    ser estabelecida apenas quando os tecidos conjuntivos do ligamento periodontal se

    adaptam nova posio criada. Se a adaptao no ocorrer, os dentes podem voltar

    s suas posies originais aps a remoo do aparelho. Ao final do tratamento, os

    dentes devem estar em equilbrio com as foras exercidas pelo lbio, pela bochecha

    e pela lngua e com as foras contrrias erupo dentria, proporcionadas pelo

    ligamento periodontal (PROFFIT, 1978).

    Fastlicht (1970) comparou pacientes tratados (com mdia de idade de 19

    anos e 8 meses) e no tratados com ortodontia (com mdia de idade de 19 anos e

    10 meses), e encontrou maior apinhamento ntero-inferior nos no tratados,

    concluindo ento, que o tratamento ortodntico aumenta a estabilidade dos arcos

    dentrios. No mesmo ano, o autor comparou o apinhamento ntero-inferior de 56

    casos, 28 tratados e 28 no tratados com ortodontia, para determinar se o

    tratamento tinha influncia sobre o apinhamento ntero-inferior e verificar as

    possveis causas desse apinhamento. Os dois grupos tinham 13 pacientes do

    gnero masculino e 15 do feminino cada, e o grupo no tratado apresentava os

    incisivos inferiores alinhados. Ele estudou os inmeros fatores como: gnero, idade,

    tamanho dentrio, trespasse vertical e horizontal, distncia intercaninos e presena

    de terceiros molares. Deste estudo, concluiu-se que o apinhamento dos incisivos

    um fenmeno anatomofisiolgico de adaptao observado nos casos tratados, bem

    como nos no tratados, que resulta da combinao de muitos fatores, tais como

    gnero, discrepncia de tamanho dentrio, grande trespasse vertical, reduo da

    distncia intercaninos, idade, funo muscular, mecnica imperfeita, entre outros.

    Encontrou-se menos apinhamento nos incisivos do grupo tratado com ortodontia.

  • 35

    Quanto maior a largura msiodistal dos dentes maior o apinhamento,

    proporcionalmente. Notou-se mais apinhamento ntero-inferior nos pacientes de

    gnero masculino.

    Os resultados de estudos longitudinais comeam a esclarecer as alteraes

    ps-tratamento ativo (ps-conteno) presente em casos tratados com ortodontia. O

    problema era a incapacidade em determinar se estas alteraes ocorrem

    principalmente como resultado da terapia ortodntica ou se fazem parte do

    desenvolvimento maturacional. A terapia ortodntica pode alterar o curso destas

    contnuas alteraes fisiolgicas, por algum tempo, e possivelmente at mesmo

    revert-las; no entanto, aps a mecanoterapia e o perodo de conteno, o

    desenvolvimento do processo maturacional prossegue (VAN DER LINDEN, 1974).

    Pode-se observar, que tratamento ortodntico e conteno nos adolescentes

    no os protegeram contra o apinhamento tardio. O tratamento ortodntico corrige a

    malocluso original, mas no modifica o processo de desenvolvimento do

    apinhamento tardio. Uma vez retirada as contenes, pacientes ortodnticos podem

    mostrar mudanas no alinhamento dos incisivos similares a pacientes no tratados.

    Alguns anos depois da retirada do aparelho existe um pequeno perodo verdadeiro

    de colapso do arco. No entanto, as irregularidades incisais aumentam com o

    aumento da idade de forma lenta e gradual (ASSOCIAO AMERICANA DE

    ORTODONTIA, 1999).

    O diagnstico e tratamento de problemas relacionados a espao requerem

    um conhecimento da etiologia do apinhamento e do desenvolvimento da dentio

    para se determinar o plano de tratamento para casos leves, moderados e severos

    (KAWAUCHI et al., 2004).

  • 36

    3 CONCLUSO

    Aps revisar criteriosamente os dados da literatura sobre a etiologia do

    apinhamento ntero-inferior, constatou-se que a causa do apinhamento tardio pode

    no ser a mesma em todos os indivduos, existindo mais do que um fator

    contribuinte. Alguns fatores parecem ter maior influncia que outros, ou podem atuar

    em diferentes estgios de desenvolvimento:

    1- A civilizao moderna, na medida que verificam-se as modificaes das

    caractersticas anatomo-fisiolgicas durante a evoluo do ser humano,

    juntamente com a mudana nos hbitos alimentares, parece constituir um dos

    provveis fatores etiolgicos do apinhamento dentrio.

    2- Os incisivos com formas mais triangulares apresentam maior apinhamento ou

    falta de espao para um alinhamento adequado do que os incisivos com

    formas mais retangulares, em funo da instabilidade da rea de contato.

    3- A influncia dos terceiros molares no apinhamento dos dentes anteriores

    ainda controversa. Entretanto, no existem evidncias que possam

    incriminar estes dentes como sendo o fator etiolgico mais importante nas

    mudanas do alinhamento dos incisivos inferiores. As evidncias sugerem

    que a relao entre estes dois fenmenos a de que eles ocorrem

    aproximadamente no mesmo estgio de desenvolvimento, ou seja, na

    adolescncia e no adulto jovem.

    4- O crescimento mandibular residual parece ser o fator mais importante para

    que o apinhamento dos incisivos inferiores se desenvolva. Este crescimento

    ocorrendo aps o crescimento normal a maior chance para que os incisivos

    se tornem apinhados.

    5- Graus extremos de rotao na direo do crescimento mandibular podem

    resultar em apinhamento na regio ntero-inferior.

    6- Mudanas na funo muscular dos tecidos moles, bem como condies

    periodontais, podem alterar o ambiente onde os dentes esto em equilbrio

    entre os msculos das bochechas, lbios e lngua, podendo causar

    apinhamento.

    7- A movimentao dentria, no sentido mesial, faz parte do processo normal de

    maturao da ocluso durante toda vida, portanto, o apinhamento dos

  • 37

    incisivos poder aumentar com a idade, mesmo em casos de ocluso normal.

    Contudo, movimentos mesiais podem contribuir com o apinhamento dentrio.

  • 38

    REFERNCIAS

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