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PEQUENO CATECISMO Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico, os ensinamentos da Sagrada Escritura, da Tradição viva da Igreja e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos Padres, dos santos e santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e reavivar a fé do Povo de Deus. Deve ter em conta as explicitações da doutrina que, no decurso dos tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja. É também necessário que ajude a esclarecer, com a luz da fé, as novas situações e os problemas que no passado ainda não tinham surgido. O Catecismo incluirá, portanto, coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52) porque a fé, sendo sempre a mesma é, simultaneamente, fonte de luzes sempre novas. (Constituição Apostólica "Fidei Depositum") A CONFIANÇA DOS CRISTÃOS: A PROFISSÃO DE FÉ APOSTÓLICA 1. Creio em Deus, Pai Todo-Poderoso "Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura" (Mc 16,15). "Ide, pois, e ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que vos mandei" (Mt 28,19-20). Eis a missão que Jesus confiou aos seus apóstolos. A mesma que os apóstolos transmitiram aos seus seguidores: a missão da Igreja, hoje. A Igreja testemunha e anuncia para que todos possam crer e esperar, viver e amar como Jesus acreditou e esperou, viveu e amou. Ela guarda a tradição sagrada e protege-a da falsificação e do erro. A profissão de fé nasceu na Igreja como recapitulação válida da mensagem transmitida pelos apóstolos. Todos aqueles que, por ocasião do seu Baptismo, são interrogados sobre a sua fé, confessam com as mesmas palavras a sua pertença a Deus Pai, a Jesus Cristo, seu Filho e ao Espírito Santo. A profissão de fé (Credo) de todos os cristãos começa pela palavra "Eu". Porque no seio da comunidade, cada pessoa tem a sua própria história com Deus. Ninguém pode dizer "eu" pelo outro. Quem diz "sim" a Deus deve saber a que se compromete. Por isso, é importante que cada cristão aprenda a conhecer e a compreender o texto fundamental da sua fé. 1.1 Eu creio Eu sou uma pessoa e nasci rapaz ou rapariga. Tenho um pai e uma mãe, irmãos, irmãs e familiares. Vivo em sociedade com muitas pessoas, animais e plantas, e com tudo o que cresce na terra. Os homens podem ver e ouvir, aprender e reter, pensar e fazer projectos. Podem construir casas, domesticar animais, curar doenças, transmitir a vida. Investigam o universo e são capazes de viajar até à lua, atravessar os mares e inventar bombas que destroem a vida sobre a terra. São capazes de observar e estabelecer comparações. Os homens comunicam, aprendem uns com os outros, necessitam mutuamente uns dos outros. O que é difícil torna-se fácil quando há alguém a quem posso dizer: conto contigo e sei que tens boas intenções para comigo. Escuto o que me dizes: confio em ti. Tu ajudas-me sempre a levantar-me e dás-me esperança. Quero apoiar-me em ti. Acredito em ti. "Um amigo fiel é uma poderosa protecção: quem o encontrou, descobriu um tesouro." ECLESIÁSTICO 6,14

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PEQUENO CATECISMO

Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico, os ensinamentos da Sagrada Escritura, da Tradição viva da Igreja e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos Padres, dos santos e santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e reavivar a fé do Povo de Deus. Deve ter em conta as explicitações da doutrina que, no decurso dos tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja. É também necessário que ajude a esclarecer, com a luz da fé, as novas situações e os problemas que no passado ainda não tinham surgido.

O Catecismo incluirá, portanto, coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52) porque a fé, sendo sempre a mesma é, simultaneamente, fonte de luzes sempre novas.

(Constituição Apostólica "Fidei Depositum")

A CONFIANÇA DOS CRISTÃOS: A PROFISSÃO DE FÉ APOSTÓLICA

1. Creio em Deus, Pai Todo-Poderoso

"Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura" (Mc 16,15). "Ide, pois, e ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que vos mandei" (Mt 28,19-20). Eis a missão que Jesus confiou aos seus apóstolos. A mesma que os apóstolos transmitiram aos seus seguidores: a missão da Igreja, hoje. A Igreja testemunha e anuncia para que todos possam crer e esperar, viver e amar como Jesus acreditou e esperou, viveu e amou. Ela guarda a tradição sagrada e protege-a da falsificação e do erro.

A profissão de fé nasceu na Igreja como recapitulação válida da mensagem transmitida pelos apóstolos. Todos aqueles que, por ocasião do seu Baptismo, são interrogados sobre a sua fé, confessam com as mesmas palavras a sua pertença a Deus Pai, a Jesus Cristo, seu Filho e ao Espírito Santo.

A profissão de fé (Credo) de todos os cristãos começa pela palavra "Eu". Porque no seio da comunidade, cada pessoa tem a sua própria história com Deus. Ninguém pode dizer "eu" pelo outro.

Quem diz "sim" a Deus deve saber a que se compromete. Por isso, é importante que cada cristão aprenda a conhecer e a compreender o texto fundamental da sua fé.

1.1 Eu creio

Eu sou uma pessoa e nasci rapaz ou rapariga. Tenho um pai e uma mãe, irmãos, irmãs e familiares. Vivo em sociedade com muitas pessoas, animais e plantas, e com tudo o que cresce na terra.

Os homens podem ver e ouvir, aprender e reter, pensar e fazer projectos. Podem construir casas, domesticar animais, curar doenças, transmitir a vida. Investigam o universo e são capazes de viajar até à lua, atravessar os mares e inventar bombas que destroem a vida sobre a terra. São capazes de observar e estabelecer comparações.

Os homens comunicam, aprendem uns com os outros, necessitam mutuamente uns dos outros. O que é difícil torna-se fácil quando há alguém a quem posso dizer: conto contigo e sei que tens boas intenções para comigo. Escuto o que me dizes: confio em ti. Tu ajudas-me sempre a levantar-me e dás-me esperança. Quero apoiar-me em ti. Acredito em ti.

"Um amigo fiel é uma poderosa protecção: quem o encontrou, descobriu um tesouro." ECLESIÁSTICO 6,14

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1.2 Creio em Deus

As pessoas acreditam em si mesmas. Mas muitas acreditam também em algo que as ultrapassa. Acreditam em Deus. Esperam d'Ele uma resposta que ultrapassa toda a capacidade de conhecimento. Porque estou na terra? Porque temos de morrer? Donde procede a diversidade da vida? Existe uma causa última que dê sentido à vida e também ao sofrimento?

Em todas as épocas e em todos os povos, os homens procuraram e procuram Deus. Procuram-n'O para aprender d'Ele a compreenderem-se e a compreender o mundo. Todo o homem pode reconhecer a mão eficiente de Deus na maravilhosa ordem da criação com toda a sua diversidade.

As obras são o reflexo d'Aquele que as criou. Existe uma maneira mais directa de encontrar Deus e de estar seguro da Sua existência. Testemunham-no os profetas da Primeira Aliança, enviados por Deus. Um mestre da Igreja primitiva escreve: "Muitas vezes e de muitos modos falou Deus a nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho" (Hb 1,1).

Os cristãos confiam no testemunho da Bíblia. Acreditamos que Deus escolheu o pequeno povo de Israel, entre todos os povos da terra, para estabelecer com ele uma aliança. Através deste povo, todos os povos da terra aprenderão que Deus existe e que Ele tem um plano para os homens. A história desta aliança divina com Israel encontra-se nos livros do Antigo Testamento.

Através das histórias bíblicas que relatam os encontros com Deus, aprendemos a conhecer o Deus que se vai revelando. Aprendemos quem é Deus e o que Ele quer do homem e para o homem.

Moisés pastoreava o seu rebanho no deserto. Vê então uma sarça que ardia sem se consumir pelo fogo. Ouve uma voz que lhe diz: "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob... Eu bem vi a opressão do Meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor...; conheço, na verdade, os seus sofrimentos" (Ex 3,6-7).

O Deus transcendente e Todo-Poderoso permanece próximo dos homens. Sofre com eles. Através de Moisés quer conduzi-los à liberdade. Moisés estremece, não quer aceitar essa missão. Pede que, do meio do fogo, lhe diga o Seu nome. Deus diz-lhe: "Eu sou aquele que é". Não é um nome habitual. Deus está aí para o homem. Deus está aí! E isto é válido para todos os homens e para todos os tempos.

"E agora, eis o que diz o Senhor, o que te criou... Nada temas, porque Eu te resgatei, e te chamei pelo teu nome; tu és Meu. Se tiveres de atravessar as águas, estarei contigo, e os rios não te submergirão. Se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e as chamas não te consumirão. Porque Eu, o Senhor, sou o teu Deus; Eu, o Santo de Israel, sou o teu Salvador."

ISAÍAS 43,1-3

Job, um homem piedoso que confiou a sua vida a Deus, descobre-O de outra maneira: a desgraça cai sobre ele. Bandos de ladrões roubam-lhe os seus rebanhos e matam os seus pastores. Os seus filhos, sete varões e três filhas, ficam sepultados sob as ruínas da sua casa, que desabou sobre eles. Ele próprio contrai lepra: o seu corpo cobre-se de chagas. Permanece sentado sobre um monte de cinzas e raspa-se com um caco de telha.

Não é possível que Deus envie tantas desgraças ao piedoso Job! A mulher e os amigos tentam convencê-lo a separar-se de Deus, visto que lhe paga tão mal o bem que Lhe faz. Mas Job está certo disto: se aceitamos de Deus o bem que Ele nos envia, não devemos aceitar também o mal que Ele permite que nos aconteça?

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Acreditar significa:

Confiar em Deus, saber que Ele é Deus para todos os homens e mulheres, que Ele os conhece e os ama.

Estar certo de que Deus é Deus para mim, me conhece e me ama. Amar a Deus com todo o meu coração, com todas as minhas forças e com todas as

minhas capacidades. Dizer sim a Deus, escutar a Sua palavra, fazer a Sua vontade.

Numa cidade em ruínas, foi encontrada, na parede dum refúgio, a profissão de fé dum perseguido:

Creio no sol, mesmo quando este não brilha. Creio no amor, mesmo que não o sinta. Creio em Deus, mesmo quando Ele Se cala.

Conhecimento de Deus: "As faculdades do homem tornam-no capaz de conhecer a existência de um Deus pessoal. Mas para que o homem possa entrar na Sua intimidade, Deus quis revelar-Se ao homem e conceder-lhe a graça de poder acolher essa revelação na fé. Contudo, as provações sobre a existência de Deus podem dispor à fé e ajudar a ver que a fé não se opõe à razão humana" (Catecismo da Igreja Católica 35).

Bíblia significa "livro". Designa-se assim o livro que reúne os escritos que a Igreja reconhece como "Sagrada Escritura". A primeira parte, a mais extensa, o Antigo Testamento, contém os livros nos quais o povo de Israel testemunha as grandes obras de Deus na sua própria história. Contém três partes distintas: A Lei (ou Pentateuco = os cinco livros de Moisés), os Livros Proféticos, e os "Escritos" (históricos, poéticos e sapienciais). Os escritos do Antigo Testamento foram redigidos durante o milénio que precedeu o nascimento de Jesus. A segunda parte da Bíblia, mais pequena, constitui o "Novo Testamento" (cf. 3.4).

Aliança: a palavra significa o pacto que Deus fez com Noé, com Abraão, e com todo o povo no Monte Sinai. A aliança é para Israel o penhor da eleição. "Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo". Os "Dez Mandamentos" constituem as regras da aliança. Todos os anos, Israel celebra a festa da aliança. Dado que o Deus fiel concluiu esta aliança, os homens podem confiar n'Ele. Mesmo no meio das maiores adversidades, os homens piedosos não perdem a esperança. Aguardam uma nova aliança que Deus oferecerá ao seu povo. A Igreja proclama Jesus como o Cristo, o Messias através do qual Deus realiza essa esperança.

1.3 Creio em Deus, Pai Todo-Poderoso

Os que crêem falam com Deus. Procuram palavras que exprimam a grandeza de Deus e manifestem que Ele é diferente: Tu és Santo, Tu és Glorioso, Tu és o Altíssimo. Prostram-se a Seus pés e adoram-n'O.

Muitos justos, dos quais fala o Antigo Testamento, acreditam que aquele que vir a Deus face a face morrerá necessariamente. Mas o Antigo Testamento conhece homens cujo maior desejo é contemplar o rosto de Deus. São homens que tudo o que desejam é estar com Deus, porque acreditam, com fé, que o homem não pode ser feliz se não estiver junto de Deus. Acreditam que Deus castiga o pecado, mas sabem igualmente que o Seu amor e a Sua misericórdia se inclinam para salvar o pecador e são imensamente maiores do que a Sua ira.

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Eles dizem: Deus não quer humilhar-nos. Deus não amedronta as pessoas. Ele ama-as e quer ser amado. Ele diz de Si mesmo: "Como uma mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei" (Is 66,13). E também: "Chamar-Me-ás 'Meu Pai' e não te afastarás de Mim" (Jr 3,19). Um justo que conhece bem a Deus, diz: "Tal como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem" (Sl 103,13).

Que Deus nos pareça, por vezes, afastado, estranho e inacessível, faz parte do mistério do Seu amor. É também uma forma de nos fazer ver que os Seus pensamentos e os Seus caminhos não são os nossos (cf. Is 55,8).

Quando os poderes do mal prevalecem, Deus pode parecer-nos, por vezes, impotente. E, no entanto, quando sentimos faltar-nos as forças, ainda é válida a palavra que o enviado de Deus dirigiu a Abraão que duvidava - sendo ancião de noventa anos de idade - que fosse possível nascer-lhe um filho: "A Deus nada é impossível". É a mesma palavra que o anjo diz a Maria na Anunciação.

Aos que estão cansados de tanto trabalho, Deus sai ao seu encontro tomando-os nos Seus braços. Procura os que estão sós e senta-Se a seu lado, como uma mãe. Enxuga as lágrimas dos que já perderam a esperança. Tranquiliza os que têm dúvidas. O Seu sorriso anima os desencorajados. Nada nem ninguém é capaz de resistir a Deus. O Seu braço nunca é demasiado curto para ajudar. É isto principalmente o que queremos dizer quando afirmamos: Deus é todo-poderoso. Todo-poderoso para ajudar, para perdoar e para fazer o bem. Todo o mal é estranho à Sua natureza.

O amor de Deus é como uma mão à qual nos podemos agarrar, como um luz que brilha na noite e nos indica o caminho.

2. Creio em Deus, Criador do Céu e da Terra

Os homens perguntam admirados: donde vem o mundo? Donde procede esta diversidade da vida? Quem decidiu sobre o curso dos astros que determinam o tempo do Verão e do Inverno, as sementeiras e as colheitas, o dia e a noite? Quem proporcionou a ordem às plantas e aos animais e concedeu a fertilidade à terra? Quem faz brotar a vida no seio das mães? O que é que existiu no princípio e qual será o fim?

Os homens que sofrem, queixam-se: Quem faz estremecer a terra e provoca as inundações? Quem retém as águas para secar a terra? Donde vem a desgraça, a doença, a morte? Donde vem o mal e quem lhe dá o poder de encher o coração humano? Acabará o mal por vencer o bem? Será a morte mais forte que a vida?

Em todo o mundo se ouvem as mesmas interrogações que angustiam os homens. Os mais sábios de entre todos os povos buscam uma resposta. Falam do mistério dos começos, das obras da divindade e da sua história com a humanidade: são os relatos das origens.

Os sacerdotes de Israel, iluminados pelo Espírito de Deus, formulam a sua fé em Deus, "criador do céu e da terra". Esta confissão de fé é tão importante que eles a situam no princípio da Bíblia.

Relatos das origens: fala-se, por vezes, do "relato da criação" no princípio da Bíblia correndo o risco de interpretar o capítulo inicial do primeiro livro bíblico como a descrição, mais ou menos exacta, dos acontecimentos relatados nesse primeiro capítulo. Quando se diz, por exemplo, que Deus criou o mundo em seis "dias" (fala-se dos seis dias de "trabalho" divino), a palavra "dia" não significa as vinte e quatro horas do dia. A imagem pretende sublinhar que com a criação de Deus, o tempo começa o seu percurso, e também que as diferentes criaturas ficam ligadas umas às outras. O texto que a Bíblia nos transmite não nos diz como é que o universo começou, mas quem é que o fez. O povo de Israel professa neste hino a sua fé em Deus, o qual existia antes do começo e que permanece fiel à Sua criação até à Sua consumação.

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2.1 Tudo procede de Deus

"No princípio Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). Com esta frase começa a Bíblia. "No princípio" significa: quando ainda não havia nenhum ser humano na terra, nenhum homem, nenhuma mulher, nenhuma criança, nenhum animal para deixar o seu rasto na floresta e nos campos, nenhum pássaro para cantar, nenhum peixe para nadar nas águas, nenhum raio de sol para anunciar o dia nem a lua a iluminar o céu, nem uma estrela a iluminar a noite, nenhum mar, nem altura nem profundidade, nem direita nem esquerda. No princípio havia Deus: "O Seu Espírito pairava sobre as águas" (Gn 1,2).

Nós dizemos: "Creio em Deus, criador do céu e da terra", e queremos dizer com isto que o mundo e tudo o que este contém não surgiu de si mesmo nem do acaso, mas surgiu porque Deus assim o quis; sem Ele não haveria vida.

Nós dizemos: Ele criou o mundo do "nada" - o mais pequeno átomo, a galáxia mais distante. Por isso os homens podem reconhecer o rasto de Deus nas suas criaturas mesmo desconhecendo-O. "Pois, na grandeza e formosura das criaturas podemos ver, por analogia, o seu autor" (Sb 13,5).

Os homens partem à descoberta do seu meio vital, a "Terra". Explicam como a diversidade da vida evoluiu ao longo dos milénios. A nossa imagem do mundo é diferente da imagem bíblica. Acerca dos começos, da causa última da vida, existem várias respostas: nós não acreditamos no acaso, mas sim que o Deus vivo é a causa original de todos os começos.

Através da fé neste Deus, podemos adoptar um ponto de vista que nos permita compreender o mundo e a nós mesmos. E porque acreditamos, podemos confiar que o mundo e o homem estão seguros n'Aquele que existia já no princípio.

Deus é cheio de bondade para connosco. O povo de Israel experimentou-o muitas vezes, e cada crente experimenta-o na sua própria vida.

Alguém que reflectiu muito, louva a Deus assim: "Tu tens compaixão de todos, pois tudo podes e desvias os olhos dos pecados dos homens a fim de os levar à conversão. E como subsistiria uma coisa se Tu a não quisesses? Ou como se conservaria, se não tivesse sido chamada por Ti? Mas Tu poupas a todos, porque todos são Teus, ó Senhor, que amas a vida!"

SABEDORIA 11,23.25-26

Deus: Pai, Filho e Espírito Santo: Os cristãos louvam Deus-Pai que criou o céu e a terra. Louvamos Jesus Cristo, Filho de Deus, que desde sempre está unido ao Pai, porque é o Verbo (ou a Palavra), pelo qual todas as coisas foram feitas (Jo 1, 1-3). Louvamos o Espírito Santo de Deus, o qual pairava sobre as águas, no princípio (Gn 1,2), que dá a vida e a preserva ao longo dos tempos. Rezamos assim: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

Imagem do mundo: na época em que foram escritos os livros bíblicos, acreditava-se que a terra era um disco redondo suportado por colunas assentes no fundo do mar. Debaixo dela estaria o reino dos mortos: acima dela, a abóbada celeste separando as águas superiores das águas inferiores. A chuva cai de cima sobre a terra seca. "Céu e terra" significa, pois, todo o universo.

2.2 O homem procede de Deus

O homem chegou tardiamente à terra. Os oceanos e os continentes, as plantas e os animais existiam muito antes dele. Israel proclama: no sexto dia, no último dia da sua obra, Deus criou o homem. O homem que vive com as plantas e os animais e que, contudo, é diferente e "bem mais" do que eles. É o que querem dizer-nos os sacerdotes de Israel quando afirmam que Deus criou o homem à Sua imagem.

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Deus criou o ser humano, homem e mulher, para que sejam companheiros um do outro e se ajudem mutuamente. É no amor de um pelo outro que chegam a ser plenamente humanos. É juntos que transmitem a vida, a sua sabedoria, a sua experiência, o seu amor. Porque o ser humano, homem e mulher, é semelhante a Deus, é capaz de conhecer e amar a Deus, os outros homens e os animais.

O ser humano pode descobrir e investigar a terra, servir-se dela e transformá-la. Mas pode também poluí-la e destruí-la. Considera-se a si mesmo, e com razão, "senhor" da terra. A sua grandeza, porém, não vem dele mesmo. Deus destinou as últimas criaturas para que sejam as primeiras, a fim de cuidarem não só de si mesmas e dos filhos, mas também de tudo o que cresce sobre a terra.

Deus confia ao homem a tarefa de ser companheiro fiel dos animais e das plantas, a fim de que ele proteja e defenda a vida, que não explore a terra, mas a preserve, que proporcione a cada criatura o que ela necessita. O homem e a mulher, conjuntamente, são responsáveis pela terra. O homem e a mulher são ambos semelhantes a Deus.

Senhor, a nossa terra é apenas um pequeno astro no grande universo. Depende de nós fazer dela um planeta cujas criaturas não sejam atormentadas pela guerra, torturadas pela fome e pelo medo, divididas pela absurda separação de raças, de cores e de ideologias.

Concede-nos a coragem e a lucidez de começar já hoje esta tarefa, a fim de que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos possam, um dia, usar com orgulho o nome de homens.

ORAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

2.3 O bem ou o mal - a vida ou a morte

Louvamos a Deus. Ele criou a terra. Toda a vida procede d'Ele. E toda a vida é boa. Assim o acreditamos com fé e, no entanto, experimentamos que no nosso mundo, mesmo dentro de nós, o mal tem muito poder. Em todo o lado podemos encontrar vestígios de Deus e também do mal, mesmo dentro do nosso coração.

Há pessoas que acreditam na existência de dois deuses: um deus bom e um deus mau. Nós porém acreditamos, com o povo de Israel, num único Deus. Ele criou toda a vida e quer que as Suas criaturas O sirvam em liberdade. Mas elas abusam dessa liberdade e não querem servi-l'O. Israel conta que, entre os anjos que Deus criou para estarem junto d'Ele contemplando a Sua glória, alguns rebelaram-se contra o próprio Deus. Não podendo já permanecer junto de Deus, andam pelo mundo dos homens espalhando o mal. Dentre eles, existe um ao qual chamamos "demónio", que procura separar os homens de Deus e arrastá-los para si. S. Pedro aconselha-nos a estarmos atentos às tentações do mal e à fraqueza humana. Por isso diz-nos: "Sede sóbrios, estai vigilantes: o vosso inimigo, o demónio, anda à vossa volta como um leão que ruge, procurando a quem devorar. Resisti-lhe firmes na fé" (1 Pd 5,8-9).

Acreditamos que Deus destruirá as forças do mal, no último Dia, quando Ele fizer acabar o mundo. Então começará uma nova vida, definitiva (cf. Ap 20,7-14).

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Mas enquanto decorre o tempo histórico, o mal continua prejudicando os homens. O homem é livre: pode colocar-se do lado de Deus, escutar a Sua Palavra e colaborar com Ele. Mas pode também pôr-se do lado do demónio, ser seu interlocutor e fazer mal a si próprio e ao mundo.

A Bíblia conta-nos uma história-chave sobre Adão e Eva, o "primeiro homem". Uma história que se refere a todos os homens, qualquer que seja o momento e o lugar em que vieram ao mundo.

Eva conhece perfeitamente o mandamento de Deus. Sabe que se trata de vida ou morte.

E, contudo, ela escuta a voz do tentador: "ser como Deus", "conhecer o bem e o mal", parece-lhe apetecível. Eva come do fruto da árvore proibida e dá-o também a comer a Adão. Abrem-se-lhes os olhos, reconhecem a sua própria miséria, a sua própria debilidade. Escondem-se de Deus e receiam Aquele que é seu amigo.

Através de Eva, a mãe de todos os viventes, todos os seres humanos participam dessa mesma culpa (o pecado original). Uma dura herança. Os homens estariam perdidos se Deus não os amasse e não lhes permanecesse fiel.

"Donde me virá o auxílio? O meu auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Não permitirá que vacilem os teus passos, não dormirá Aquele que te guarda. Não há de dormir nem adormecer Aquele que guarda Israel. O Senhor é quem te guarda, o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo. O Senhor te defende de todo o mal, o Senhor vela pela tua vida. Ele te protege quando vais e quando vens, agora e para sempre."

SALMO 121,2-5,7-8

Anjos: são seres espirituais que rodeiam o trono de Deus, O louvam e adoram. Eles cumprem a missão divina de proteger e guardar os homens. Por isso são designados por "anjos da guarda" (SI 91,11). Deus envia os seus anjos à terra como mensageiros. Gabriel diz a Maria que ela foi escolhida para ser a Mãe de Jesus. Durante a noite santa, os anjos cantam louvores a Deus nos campos de Belém.

Demónio: a Bíblia aplica ao adversário de Deus muitos nomes que indicam a sua acção maléfica - Satanás, Belzebu, Tentador, Príncipe das Trevas, Pai da Mentira, Príncipe deste Mundo.

Pecado original ou falta original: esta expressão significa a acção continuada daquele pecado que, desde o princípio, pesa sobre a história da humanidade na sua relação com Deus. Todos os homens são herdeiros desta falta. "Como consequência do pecado original, a natureza humana ficou enfraquecida nas suas forças, sujeita à ignorância, ao sofrimento, ao domínio da morte e inclinada ao pecado" (Catecismo da Igreja Católica 418).

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3. E em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor

Quando Jesus atingiu a idade de trinta anos, saiu de Nazaré, a Sua aldeia, e foi ao encontro de João Baptista, nas margens do Jordão. Depois, levou uma vida de pregador itinerante nas aldeias e vilas dos arredores do lago de Tiberíades. Começou ali a pregar a Boa Nova de Deus, dizendo: "Completou-se o tempo e está próximo o Reino de Deus. Convertei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1,14-15). As pessoas que o contactam percebem logo que Ele não é como os outros. Juntam-se à Sua volta, querem estar perto. Escutar o que Ele diz e ver o que Ele faz. Admiram-n'O porque Ele fala sobre Deus e a natureza humana de modo distinto dos mestres das sinagogas.

Aos que a Ele vêm, Jesus diz: Deus deseja o vosso bem, quer facilitar-vos a vida. Ele não despreza os pobres e quer perdoar o pecado dos que fizeram o mal.

Jesus diz: Não temais a Deus, amai-O. Ele deseja uma só coisa: que acrediteis na mensagem que nos traz.

Jesus disse: "O Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido."

EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS 19,10

João Baptista: filho do sacerdote Zacarias e de sua esposa Isabel que haviam envelhecido sem terem filhos. O anjo Gabriel anuncia a Zacarias, no templo de Jerusalém, o nascimento de um filho que se chamará João - que significa "Deus é clemente". João Baptista é um eleito. Vive no deserto. Aos que a ele vêm, diz: "O Reino dos Céus está próximo, arrependei-vos". Ele baptiza no Jordão o arrependimento dos pecados. É o último profeta de Israel e o precursor de Jesus.

Sinagoga: é a casa de oração dos judeus. Naquele tempo os sacrifícios eram oferecidos unicamente no templo de Jerusalém. Mas, em todas as aldeias e vilas, havia lugares de oração: as sinagogas.

3.1 Jesus, o Cristo

O povo judeu tem uma longa história com Deus. Tem também uma história com a humanidade e, neste contexto, sofreu as provações de qualquer outro pequeno povo que tem vizinhos poderosos. Acabou por ser conquistado e ocupado pelos romanos. Muitos perderam a esperança. E questionavam: Deus esqueceu-nos? A Sua aliança já não é válida? Não Se lembra de que, por meio dos profetas, nos prometeu um salvador? Um salvador que nos devolverá a liberdade e a alegria de viver. Que expulsará do nosso país os estrangeiros. Que estimará mais a justiça do que os bens e que as origens sociais. Que restituirá ao povo a sua dignidade humana e aos escravos o seu nome. Que servirá a Deus e nos mostrará como podemos viver honrando a Deus.

Nós os cristãos acreditamos e proclamamos: Jesus é esse Cristo, o Messias. Deus enviou-O e ungiu-O com o seu Espírito (cf. Is 61,1; Lc 4,18). Ele é o salvador que Deus havia prometido ao Seu povo e a todos os outros. Ele redimirá os pecados do Seu povo (cf. Mt 1,21). Ele é Aquele que todos os homens piedosos esperam: o Seu nome é Jesus Cristo.

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Jesus de Nazaré, na Galiléia: Alguém que Deus nos envia Alguém que vive humanamente Alguém que defende os "humildes" Alguém que não receia os "poderosos" Alguém a quem querem calar.

Ele não oferece resistência, Não Se defende, Abandona-Se. Porque Ele sofreu, o sofrimento tem sentido. Porque Ele confiou, os que duvidam refugiam-se n'Ele. Porque Ele morreu, nós esperamos, Porque Ele ressuscitou, nós bendizemos o Pai e cantamos: Aleluia!

Jesus: o nome de Jesus (abreviação de Jehoshua, Josué) era bastante corrente em Israel. Significa Deus (Javé) salva. Jesus cumpre a promessa do seu nome: Ele é o salvador, traz a salvação. Eis porque Lhe chamamos Salvador e Redentor.

Cristo: é a tradução grega da palavra hebraica "Messias", "Ungido". Um título atribuído aos reis de Israel. Reis e sacerdotes, ao serem entronizados nos seus cargos, eram ungidos com óleo sagrado, sinal de que tinham o direito de agir em nome de Deus. Quando Israel fala do "Ungido", do "Messias", trata-se do rei que, enviado e protegido por Deus, deverá libertar o povo da dominação romana e reinar em Jerusalém, sobre o trono de David. Os cristãos confessam que Jesus de Nazaré é esse Messias, o Filho de Deus. No Baptismo, na Confirmação, na Ordenação, são ungidos com o óleo sagrado, sinal eficaz da Sua presença na comunidade.

3.2 Jesus Cristo, Filho de Deus

Jesus Cristo, o Messias, fala de Deus como mais ninguém o fez. Fala de um modo único: directo e íntimo. Em tudo o que diz ou faz, é um com o Pai. Ele conhece a vontade do Pai. Não necessita dos Livros Sagrados nem de mestres para aprender. Por isso Jesus pode contradizer os doutores da Lei quando estes, em nome de Deus, restringem a liberdade das pessoas que lhes estão confiadas, dificultando-lhes a vida.

Jesus aproxima os homens de Deus e traz Deus aos homens. Cura os doentes ao sábado. Come com os publicanos e não evita os excluídos da sociedade e das cerimónias religiosas. Perdoa em nome de Deus aos que cometeram pecados e encoraja-os a mudar o seu modo de viver.

Muitos homens e mulheres encontram-se com Jesus. Alguns perguntam: quem é este homem? Um profeta de Deus, talvez? Outros enchem-se de espanto e confiam n'Ele. Outros perguntam com desconfiança: quem Lhe terá dado tão grande poder? Outros dizem Ele blasfema. Outros, ainda, comentam: Cristo, quando vier, fará milagres maiores do que o que este faz? (Jo 7,31).

Mas todos, qualquer que seja a sua opinião, sentem que o mistério do ser de Jesus está relacionado intimamente com Deus.

Em Israel, quando se queria dizer que uma pessoa estava particularmente unida a Deus, dizia-se: é um "filho de Deus". Ao povo de Israel, por ser o eleito, chamamos-lhe "filho de Deus" (Ex 4,22). Aos reis que governam o povo em representação de Deus, que é o Rei, é-lhes dado no dia da sua entronização e da sua unção, o título honorífico de: "Tu és meu filho" (SI 2,7). Quando dizemos: "Jesus é o Filho de Deus", queremos dizer mais do que isso. Jesus está unido a Deus de um modo muito mais íntimo que o rei ou o povo de Israel. Nada no mundo dos humanos é comparável à relação de Jesus com o Pai. Os evangelistas sublinham este fato quando testemunham que Deus mesmo, em dois momentos cruciais da vida terrestre de Jesus, O proclamou seu "Filho muito amado": por ocasião do seu Baptismo no Jordão, antes de Jesus iniciar a sua missão de pregador itinerante, e no Monte da Transfiguração, antes de Jesus subir a Jerusalém para aí sofrer e morrer.

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Quando Pedro, o primeiro dos apóstolos, confessa: "Tu és o Cristo. O Filho do Deus vivo" (Mt 16,16), Jesus responde-lhe: "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne e o sangue que to revelou, mas Meu Pai que está nos céus".

Jesus disse a Nicodemos: "Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que acredita n'Ele não se perca, mas tenha a vida eterna."

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO 3,16

Publicanos: cobram os impostos por conta do ocupante romano, assegurando assim os seus rendimentos. Por vezes exigem em excesso. São desprezados por todos e ninguém deseja relacionar-se com eles.

Filho de Deus: Jesus está unido a Deus de um modo diferente e mais íntimo do que o povo de Israel com os seus reis. Ele é, como dizem os Padres da Igreja, "Deus de Deus, luz de Luz, gerado não criado, da mesma natureza que o Pai".

Apóstolos: Apóstolo significa "enviado", "mensageiro". Simão Pedro, Tiago e João, os filhos de Zebedeu, André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, o filho de Alfeu, Tadeu, Simão o Cananeu e Judas Iscariotes que O entregou (Mc 3,16-19). Doze homens que Jesus escolheu entre todos os seus discípulos. Pedro é o primeiro dentre eles.

3.3 Jesus Cristo, Nosso Senhor

O primeiro povo de Deus vive na Sua aliança. Os reis reinam em Seu nome. É para O glorificar que os sacerdotes oferecem sacrifícios. Os Seus mandamentos não são postos em dúvida. Eles são a única lei que obriga a todos, poderosos e humildes. Nas suas orações, os judeus crentes dirigem-se ao seu "Senhor". O nome de Javé, "Eu sou Aquele que sou" ou "Eu sou Aquele que está", é-lhes tão sagrado que eles não o pronunciam nem escrevem, com receio de o profanar. Dão graças a Deus, o "Senhor", que está próximo do seu povo, clemente e misericordioso, e que não exige mais do que ser amado "com todo o coração e com todas as forças".

Quando os cristãos chamam "Senhor" não só a Deus Pai mas também a Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos, confessam que Ele é o Filho de Deus, proclamam ao mesmo tempo a sua confiança e manifestam a sua vontade de estar ao serviço uns dos outros como Jesus lhes pediu, na véspera da Sua Paixão:

"Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós vos deveis lavar os pés uns aos outros."

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO 13,13-14

Para os primeiros cristãos, confessar Jesus, o Senhor, poderia ter consequências fatais, pois os imperadores romanos, os "senhores do mundo", reivindicavam também este título honorífico. Muitos cristãos (os mártires), homens e mulheres, deram a sua vida não se deixando afastar da profissão de fé em Cristo Jesus, único Senhor.

A Igreja de Cristo começa a celebração da Eucaristia pela invocação grega "Kyrie eleison": Senhor, tem piedade. E no Glória, o cântico de louvor, confessa: "Pois só Vós sois o Santo, só Vós o Senhor, só Vós o Altíssimo, Jesus Cristo, com o Espírito Santo na glória de Deus Pai".

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Nisto se reconhecem os cristãos: "Se confessares com a tua boca: "Jesus é o Senhor", e acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo." EPÍSTOLA AOS ROMANOS 10,9

3.4 A Bíblia: O Novo Testamento

O Novo Testamento é a parte da Bíblia (cf. 1.2) que nasceu na Igreja de Cristo. É composto de vinte e sete livros escritos pelos apóstolos, missionários e mestres, entre os anos 50 e 100 depois do nascimento de Cristo. Encontramos nele 21 epístolas (cartas) - 13 são de São Paulo dirigidas a diferentes comunidades. Estes livros foram rapidamente considerados uma instrução apostólica normativa para a Igreja.

Os quatro evangelistas (São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João) testemunham, cada um a seu modo, os factos, gestos e palavras de Jesus Cristo, Nosso Senhor, assim como a sua Paixão e Ressurreição. Nos Actos dos Apóstolos, o evangelista São Lucas descreve a história da Igreja primitiva, que se constitui sob a direcção de São Pedro em Jerusalém, e o trabalho dos primeiros missionários, em particular São Paulo. O último livro do Novo Testamento, o Apocalipse de São João, contém as imagens proféticas e o anúncio da vitória definitiva de Deus sobre os poderes do mal.

A Bíblia é constituída pelo Antigo e Novo Testamento. A Igreja acredita que o Espírito Santo de Deus preservou do erro os homens que escreveram estes livros e que o seu testemunho é digno de fé, verídico e fiel. Como os autores da Sagrada Escritura redigiram na língua do seu tempo, eles devem ser reinterpretados em cada época, para cada comunidade. Mas como o Espírito Santo de Deus é o garante dessa autenticidade, resultam válidos para todos os tempos. Os escritos bíblicos reconhecidos como verdadeiros e autênticos pela Igreja formam o cânon da Escritura Santa. São lidos na Missa e constituem o fundamento da fé.

"Muitos outros milagres realizou ainda Jesus, na presença dos discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para crerdes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e, crendo, tenhais a vida n'Ele."

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO 20,30-31

Colégio Apostólico: os apóstolos transmitem aos seus sucessores, os bispos, o ministério que Jesus mesmo lhes confiou. A cadeia da tradição une-nos aos começos.

Evangelho: "A Santa Mãe igreja defendeu sempre e continua firmemente a defender e com a maior constância, que os quatro Evangelhos, dos quais ela afirma sem hesitar a historicidade, transmitem fielmente o que Jesus, Filho de Deus, durante a sua vida entre os homens, fez realmente e ensinou para a sua salvação eterna, até ao dia em que foi elevado ao céu". (Concílio Vaticano II, Dei Verbum 19).

Espírito Santo: à assistência do Espírito Santo na composição dos livros bíblicos chamamos "inspiração".

Cânon: Significa "regra". Chamamos assim ao conjunto dos textos reconhecidos pela comunidade dos crentes como inspirados. Só estes podem ser lidos durante o culto divino.

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4. Concebido pelo poder do Espírito Santo, Nasceu da Virgem Maria

Nós acreditamos e confessamos que Jesus de Nazaré é o Messias, Filho de Deus. Desde todos os tempos Ele vive na glória do Pai. Veio ao mundo, tornando-Se semelhante a nós, manifestação do amor do Pai feita carne. Um amor que ultrapassa tudo o que os homens podem imaginar e dizer.

Os teólogos e os discípulos de Jesus têm, cada um, a sua própria maneira de falar do mistério da encarnação. São João começa o seu Evangelho por um hino a Cristo: "E o Verbo fez-se carne (quer dizer "homem") e habitou entre nós, e nós contemplamos a Sua glória." (cf. Jo 1,1-18).

Na epístola aos Filipenses, São Paulo cita um hino baptismal que descreve a encarnação do Filho de Deus, Jesus Cristo, como um movimento do "céu" em direcção à "terra" (de Deus para os homens) que volta para o "céu": "Ele, de condição divina... Tornou-Se semelhante aos homens... Humilhou-Se e foi obediente até à morte, e morte de cruz! Por isso Deus O exaltou... Para que todos, no céu, na terra e nos abismos, proclamem que Jesus Cristo é o Senhor." (Fil 2,6-11).

Na sua epístola aos Gálatas, São Paulo descreve a "vida de Jesus" numa só frase: "Quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido duma mulher, nascido sob o domínio da Lei... A fim de nos conferir a adopção filial." (Gal 4,4-5).

São João dirige-se à sua comunidade de maneira ainda mais directa: "Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que vivamos por Ele... E nós contemplamos e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo" (1Jo 4,9.14).

Dois dos evangelistas, São Mateus e São Lucas, escolheram uma forma familiar às comunidades para as quais escrevem o seu Evangelho. Contam como Jesus veio ao mundo e o que significa esta vinda para os homens que, segundo a vontade de Deus, desempenham um papel na história do seu Filho. Começam o seu livro pelo "Evangelho da infância" (Mt 1-2, Lc 1-2).

4.1 O Filho de Deus vem ao mundo

Com o nascimento de Jesus começa uma nova era na história da relação de Deus com os homens. É por isso que o nosso calendário conta os anos "depois de Jesus Cristo". No homem Jesus de Nazaré, é o próprio Deus - como nosso irmão - que vem ao mundo. É por isso que não podemos evocar o Seu nascimento sem evocar Deus. São Mateus e São Lucas também não podem relatar o nascimento de Jesus como o de uma criança qualquer. No seu Evangelho, não apenas se narra o que aconteceu, mas também - para dizer plenamente a verdade - o que os acontecimentos significam no projecto divino.

São Lucas narra como é que Deus enviou a Nazaré o anjo Gabriel à Virgem Maria. Ele saúda-a assim: "Alegra-te, ó cheia de graça", e diz-lhe que o poder do Espírito de Deus a tornará mãe: "O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra" (Lc 1,35).

São Lucas atesta que Maria diz sim ao projecto de Deus e acredita firmemente que a Deus nada é impossível. Conta como Maria e José se dirigem a Belém e como a cidade do rei David se tornou o lugar do nascimento de Jesus; fala dos pastores, sobre os quais o céu se abriu na noite do cumprimento, do cântico de louvor dos anjos que ecoa sobre a terra, e de novo são os pastores saídos do povo judeu os que encontram Maria, José e o menino (Lc 2,1-20).

São Mateus conta como José - o carpinteiro de quem Maria está noiva conhece em sonhos o que Deus espera dele: ele que é um descendente do grande rei David vai dar o seu nome ao Filho de Deus, abrir-lhe o acesso à família de David e, através da sua atenção e dos seus cuidados, desempenhar a sua tarefa de pai (Mt 1,18-24). Mateus viu que a maioria do seu próprio povo não acreditou em Jesus. Mas viu, igualmente, que

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existem em todos os povos da terra homens que se metem a caminho em busca de Jesus e que O encontram. E não apenas depois da Sua morte e da Sua ressurreição! É por isso que falam da estrela que conduz os magos de muito longe até Belém para que eles tragam as sua ofertas a Jesus, o rei dos judeus. São Mateus narra também que Herodes, que reina em Jerusalém, quer matar o menino Jesus. Por isso Maria e José fogem para o Egipto, com o menino (Mt 2).

O anúncio dos anjos na Noite Santa: "Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador".

EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS 2,11

Graça: Deus é santo, é eterno, é perfeito em Si próprio. O homem é mortal, pecador, imperfeito - mas ele está aberto a Deus. Contudo, não haveria história de Deus com os homens se o Deus eterno e santo não oferecesse ao homem a oportunidade duma redenção e, através desta, não Se oferecesse a Ele próprio. É este Dom de Deus que evocamos quando falamos de "graça". Nenhum homem pode merecer a "graça"; trata-se de um dom livre e gratuito do Deus livre. O homem pode refugiar-se nela. A graça de Deus torna-nos semelhantes a Ele: enquanto co-herdeiros de Cristo, tornamo-nos filhos e filhas de Deus, chamados à vida eterna, num face a face com Deus. "É pela graça de Deus que eu sou o que sou." (1Cor 15,10). Nenhum olho humano viu o que seremos. Há pessoas a quem Deus confia uma tarefa particular, para a qual concede uma graça particular.

4.2 Maria, a Mãe de Jesus

Na vida de cada um de nós a mãe desempenha um papel determinante. Deveria ter sido diferente para Jesus? É verdade que Ele fala com mais frequência do Pai que está nos céus. E mesmo nos escritos do Novo Testamento, Maria raramente é evocada. No entanto, podemos e devemos perguntar: quem era aquela mulher que deu a vida a Jesus e O acompanhou?

Uma jovem de Nazaré, prometida em casamento ao carpinteiro José. Provavelmente não teria mais de 14 anos de idade, quando do noivado, segundo os costumes da época. Uma jovem que estremece quando o anjo do Senhor vem a ela e lhe fala. Ela escuta a saudação, as palavras que exprimem a sua eleição. Ela não pronuncia o seu "Fiat" (o sim) cegamente. Põe as suas objecções: "Como será isso?" Depois aceita a sua vocação, porque "nada é impossível a Deus". É por isso que acrescenta: "Faça-se em mim segundo a tua palavra". (Lc 1,35.37-38).

A Virgem Maria, que espera um filho, põe-se a caminho com o seu esposo. O seu filho vem ao mundo "longe de casa", em condições muito pobres, ignorado por todos. Quando chegam os pastores - também eles gente pobre - e louvam a Deus pelo o que Ele fez pelo seu povo, Maria escuta atentamente. Conserva com cuidado todas estas coisas, meditando-as no seu coração (Lc 2,15-19).

Quarenta dias mais tarde, Maria e José levaram o menino a Jerusalém para O consagrar ao Senhor, segundo as prescrições rituais. É aí que Simeão e Ana, duas pessoas que esperam a vinda do Messias, O reconhecem. Simeão louva a Deus por tê-lo deixado ver "a salvação" com os seus próprios olhos. E acrescenta, dirigindo-se a Maria: "...este menino será sinal de contradição, e uma espada trespassará a tua alma!" (Lc 2,22-29).

Aos doze anos, Jesus encontra-Se em Jerusalém com os pais para a festa da Páscoa. No regresso, Maria e José dão conta de que Jesus não está com eles. Procuram-n'O durante

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três dias, como quaisquer pais procuram o filho perdido. Encontram-n'O no Templo e ouvem-n'O falar da "casa do Pai". E o evangelista repete: "Sua mãe conservava todas estas coisas no seu coração" (Lc 2,51).

Jesus tem trinta anos. Leva vida itinerante com os discípulos. Em Caná, na Galileia, é convidado para um casamento. Maria está também entre os convidados. Apercebe-se de que não há mais vinho e pede indirectamente a Jesus: "Eles não têm vinho." (Jo 2,3). Confia que Jesus resolverá a situação, embora a tenha afastado: "A minha hora ainda não chegou". Mas Maria não confiou em vão: havia seis jarras de pedra de cem litros cada. Jesus diz aos criados para encherem de água essas jarras. Eles fazem o que Jesus pede. Quando o mestre de cerimónias provou, viu que a água estava transformada em vinho. Este foi - diz-nos o evangelista São João - o primeiro "milagre" que Jesus fez. Os discípulos compreendem quem é Jesus e acreditam n'Ele (Jo 2,1-11).

Jesus deixou a sua casa em Nazaré e fundou a sua própria "família". Um dia, quando a multidão se apertava à sua volta, disseram-Lhe: "Tua mãe e Teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo". Então Jesus, estendendo a mão para os seus discípulos, responde: "Aqui estão Minha mãe e Meus irmãos, pois todo aquele que fizer a vontade do Meu Pai que está nos Céus, esse é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe" (Mt 12,46-50).

Para o evangelista São João, tudo o que Jesus diz e faz tem um sentido profundo. Assim acontece quando narra que Maria e o evangelista que Jesus amava se encontravam junto à cruz. Jesus diz a sua mãe: "Mulher, eis o teu filho", e ao discípulo: "Eis a tua mãe" (Jo 19,26.27). A partir desse momento, o discípulo levou-a para sua casa. E a Mãe de Jesus converte-se na Mãe de todos os cristãos.

Fala-se de Maria, pela última vez, na festa de Pentecostes. Os discípulos de Jesus encontram-se reunidos em Jerusalém. Rezam enquanto esperam que o Espírito Santo os envie em missão. Maria, a Mãe de Jesus, está com eles no momento em que nasce a Igreja do seu Filho (At 1,12-14).

Maria proclama:

"A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o Seu nome. A Sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do Seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de Seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à Sua descendência para sempre."

EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS 1,46-55

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4.3 Maria, Mãe da Igreja

Os cristãos veneram Maria, a mãe do seu Senhor: em todas as igrejas encontramos a sua imagem. Muitas mulheres têm o seu nome. Recordamos e celebramos Maria principalmente em quatro solenidades:

1 de Janeiro: No primeiro dia do ano celebramos a solenidade de "Santa Maria, Mãe de Deus". Festejamos a "Santa Mãe que deu à luz o Rei do céu e da terra" (antífona de entrada) e a "Mãe da Igreja" (oração final).

25 de Março: Na solenidade da "Anunciação do Senhor" (nove meses antes do Natal), a Igreja celebra ao mesmo tempo o Senhor e Sua Mãe, ela que no momento da sua eleição, afirma: "Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1,38).

15 de Agosto: A Assunção de Maria, o dia em que ela foi elevada ao céu. Celebramos este dia, embora não se saiba quando Maria morreu nem em que circunstâncias. Mas acreditamos que ela foi "elevada à glória do céu em corpo e alma". Maria já se encontra onde nós estaremos também um dia. Possui já a vida que nos está destinada.

8 de Dezembro: É o dia em que celebramos a "Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria". Estas palavras parecem complicadas, e no entanto são simples de compreender: Deus escolheu Maria. Concedeu-lhe os dons do Espírito Santo. O "poder do Altíssimo" cobriu-a com a Sua sombra. São palavras e imagens que traduzem o mistério duma eleição que preservou Maria do pecado original, com o qual todos nascemos: é esta a nossa fé.

Os cristãos veneram a santíssima Virgem de muitas maneiras. Cantam os seus louvores e pedem à Mãe de Jesus a sua intercessão. Em todo o mundo, os cristãos rezam e cantam o Magnificat de Maria e saúdam-na com as palavras do anjo.

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amem.

5. Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado

Jesus diz:

"Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da lei. Estes condena-l'O-ão à morte e entrega-l'O-ão aos pagãos. Vão escarnecê-l'O, cuspir n'Ele, vão torturá-l'O e matá-l'O. E depois de três dias Ele ressuscitará."

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MARCOS 10,33-34

São Pedro declara na sua pregação de Pentecostes: "Jesus de Nazaré foi um homem que Deus confirmou entre vós, realizando por meio d'Ele os milagres, prodígios e sinais que bem conheceis. E Deus, com a Sua vontade e presciência, permitiu que Jesus vos fosse entregue, e vós, através de ímpios, mataste-l'O, pregando-O numa cruz."

ACTOS DOS APÓSTOLOS 2,22-23

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5.1 A favor ou contra Jesus

O Credo nada diz do tempo que vai do nascimento de Jesus à Sua morte violenta (no ano 30). Quem quiser compreender como é que Jesus pôde chegar a um fim tão ignominioso terá de recorrer ao testemunho dos evangelistas. Estes falam dos sinais, dos milagres e prodígios de Jesus, para que as pessoas dêem conta de que o Reino de Deus está próximo: Jesus cura os doentes, toca os leprosos e estes ficam sãos, liberta os possessos do poder do demónio, numa palavra, realiza acções que em Israel se esperam do Messias. Jesus fala de Deus duma maneira nova. Conta parábolas e ensina de tal modo que as pessoas simples compreendem o que Ele diz do Pai.

Jesus encontra discípulos que lhe confiam a sua vida. Mas há também pessoas que duvidam e O rejeitam. Os Seus adeptos são quase sempre gente modesta, com pouca influência: entre os Seus seguidores mais próximos, os apóstolos, não há sequer um doutor da Lei.

Os dirigentes religiosos, os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, procuram evitar o aparecimento de heresias em Israel. Desde o princípio observam, com desconfiança, Jesus e o movimento que Ele suscita.

Num sábado, ao curar a mão atrofiada dum homem, protestaram: Jesus não respeita as prescrições de Moisés. É um pecador. Não é permitido curar ao sábado.

Quando exorciza um possesso, exclamam: Ele também é possesso, de contrário não teria poder sobre os demónios.

Até em Naim, quando encontra um cortejo fúnebre, Jesus não fica indiferente. Não olha como simples espectador para o sofrimento da mãe em lágrimas. Não diz aos que sofrem: "A vida é assim", ou então: "É a vontade de Deus, tens de aceitá-la". Aproxima-se do caixão e reanima o morto. Onde quer que Jesus Se encontre, os que sofrem são consolados, a morte dá lugar à vida. Esta experiência vale enquanto houver mães que choram e amigos que estão de luto.

Alguns dizem: Jesus é bom. Outros: Não, manipula as multidões, é um falso profeta.

Os fariseus e os doutores da Lei procuram levar Jesus a cair numa armadilha. Enviam mensageiros encarregados de espiá-l'O, mas estes nada encontram de negativo contra Ele. Uma vez que os fariseus e os doutores da Lei não acreditam que Jesus é o Messias, põem-se contra Ele e decidem levantar-Lhe um processo, acusando-O de blasfémia, para assim poderem condená-l'O à morte.

Quando o Sumo Sacerdote pergunta a Jesus: "És tu o Messias, o Filho de Deus?", Jesus responde: "Sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso, e vir sobre as nuvens do céu". Então o Sumo Sacerdote rasga as vestes e diz: "Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfémia! Que vos parece?". Todos se pronunciaram dizendo que Jesus era réu de morte (Mc 14,61-64).

Estar junto d'Aquele que faz falar os mudos, que Se dirige aos surdos de tal maneira que os ouvidos se abrem;

ser testemunha de que os perseguidos respiram aliviados e os oprimidos levantam a cabeça.

Ver como os extraviados reencontram o caminho, como são acolhidos de braços abertos os que regressam e encontram com alegria o seu lugar à mesa.

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Sumo Sacerdote: O sacerdote mais importante, o presidente do Sinédrio, o intermediário entre os judeus e o ocupante romano ao qual deve a sua entronização. Desde o ano 6 ao 15 depois de Cristo era Anás o sumo sacerdote em Jerusalém; do 18 ao 36 d.C., ocuparam este cargo os seus cinco filhos e o seu genro Caifás.

Sábado: O sétimo dia da semana é, para os judeus, um dia de festa e de culto religioso. Ao longo dos séculos numerosos preceitos regulamentaram o que era permitido e proibido neste dia de repouso.

Fariseus: Significa "os separados". Um partido político e religioso composto por homens piedosos que defendiam a rigorosa observância das prescrições de Moisés e viviam de acordo com elas.

5.2 A Nova Aliança

Os Evangelhos da Paixão, da morte e da ressurreição de Jesus são os textos mais antigos e mais sagrados da Igreja. Todos os anos a Igreja celebra na "Semana Santa" os últimos dias de Jesus em Jerusalém.

No Domingo de Ramos, Jesus chega a Jerusalém em companhia dos Seus discípulos para celebrar a festa da Páscoa. Entra na cidade montado num jumento; vem como rei da paz. As pessoas aclamam-n'O. Jesus ensina no Templo. Judas, um dos doze apóstolos, deixa-se corromper e dispõe-se a entregar Jesus.

Na Quinta-Feira Santa Jesus celebra com os seus discípulos a Ceia pascal. Tomou o pão, partiu-o e deu-o dizendo: "Isto é o Meu Corpo que será entregue por vós". Depois tomou o cálice, deu-o aos Seus discípulos dizendo: "Tomai, todos, e bebei: este é o cálice do Meu Sangue, o sangue da nova e eterna Aliança, que será derramado por vós e por todos, para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de Mim".

Jesus dá um novo sentido à Páscoa judaica: dá-Se a Ele próprio aos seus discípulos sob as espécies do pão e do vinho. Deste modo estabelece a Nova Aliança que Ele sela com o seu sangue.

O evangelista São João conta que Jesus, na última Ceia, na véspera da sua morte, ajoelhou-Se diante dos discípulos para lhes lavar os pés. Procede assim para que, com o seu exemplo, compreendam a ordem da Nova Aliança: o "maior" deve fazer-se "pequeno" como Jesus, para servir os seus irmãos e irmãs.

Porque Ele Se dá, nós podemos dar. Porque Ele partilha, nós podemos partilhar. Porque Ele renuncia ao poder, nós podemos servir. Porque Ele morre, nós podemos viver. Porque Ele sela a Aliança com o Seu sangue, convertemo-nos em irmãos e irmãs.

Domingo de Ramos: A Igreja comemora a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Em muitas paróquias organizam-se procissões.

Páscoa: Era outrora e continua a ser a maior festa judaica. Comemora a primeira noite de Páscoa quando Deus libertou o seu povo Israel da escravidão do Egipto e o conduziu à liberdade.

Quinta-Feira Santa: De manhã, o bispo consagra o óleo santo que se utiliza nos sacramentos do Baptismo, Confirmação, Unção dos doentes e Ordem. De tarde, as paróquias celebram o memorial da Ceia pascal. Recebemos o Corpo e o Sangue de Cristo, a Eucaristia, que nos converte em irmãos e irmãs uns dos outros e nos compromete a amar com o amor do próprio Cristo.

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5.3 Entregue nas mãos dos homens

Depois da Ceia, Jesus dirigiu-Se para o jardim de Getsémani, situado sobre o Monte das Oliveiras. Os discípulos acompanham-n'O. Chegados ao jardim, Jesus diz-lhes: "Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou rezar". Tomando consigo Pedro, Tiago e João, disse-lhes: "A minha alma está numa tristeza de morte. Ficai aqui e vigiai". Indo um pouco mais longe, prosta-Se com o rosto por terra e reza: "Pai, se queres afasta de Mim este cálice. Contudo, não se faça a minha vontade mas a tua". Depois volta para junto dos seus discípulos e encontra-os a dormir. Acorda-os e diz a Pedro: "Não pudestes vigiar comigo nem sequer uma hora?" Afastou-Se deles, pela segunda vez, para ir rezar sozinho. Depois volta e encontra-os de novo adormecidos. Afasta-Se uma terceira vez para orar no meio da noite. Em seguida, acorda os discípulos e diz-lhes: "Continuais a dormir? Chegou a hora: eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores". Vistas as coisas superficialmente, Jesus fracassou e, com Ele, a Sua mensagem. No entanto, Ele permanece fiel à Sua missão e Àquele que O enviou. Não procura escapar, não Se furta a nada. Arrisca a Sua vida e aceita a morte.

E não tem que esperar muito tempo. Nesse momento chega Judas, um dos doze apóstolos, ao Jardim das Oliveiras, com um grupo de homens armados. Arrastam Jesus conduzindo-O à presença do sumo sacerdote para ser interrogado. Quando os membros do Sinédrio Lhe perguntam: "Tu és, portanto, o Filho de Deus?", Jesus responde: "Vós dizeis que Eu sou". Pela manhã levam Jesus a Pôncio Pilatos que, desde o ano 26 ao 36 d.C., era o prefeito romano da Judéia. Acusam Jesus: "Este homem blasfema contra Deus!" e "diz ser Ele mesmo rei!" Pilatos manda flagelar Jesus. Os soldados colocam-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos, vestem-Lhe um manto vermelho, ultrajam-n'O e batem-Lhe. Pilatos acaba por pronunciar a sentença: Jesus deve morrer crucificado. Jesus leva a Sua cruz até ao Monte do Gólgota, fora dos muros de Jerusalém. Ao meio dia de Sexta-Feira Santa, Jesus é crucificado entre dois criminosos que são executados ao mesmo tempo que Ele. Por volta da hora nona (15h da tarde), expira.

Os evangelistas atestam o acontecimento. Testemunham que tudo isto faz parte do plano de Deus para a redenção: Jesus foi entregue aos homens permanecendo, apesar disso, nas mãos de Deus. Sofre e morre para nos salvar. Com a Sua morte é uma nova vida que começa. O amor de Deus por nós, homens, manifesta-se na Paixão e morte de Cristo: Mistério da fé.

Os mensageiros de Cristo dão testemunho de que:

Ele é nosso Mediador: entregou-Se a Si mesmo em resgate por nós (1Tm 2,6).

Ele é o Cordeiro de Deus: tira o pecado do mundo (Jo 1,29).

Ele é o Filho de Deus: pela Sua morte reconciliou-nos com Deus (Rm 5,10).

Ele é o servo de Deus: para todos os que Lhe obedecem, tornou-Se fonte de salvação eterna (Hb 5,9).

Ele é o Redentor: Deus anulou o documento da nossa dívida, fê-lo desaparecer pregando-o na cruz (Cl 2,14).

Ele é o Salvador: pelas Suas chagas fomos curados (1 Pd 2,24).

Jesus disse: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos."

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO 15,13

Sinédrio: a suprema autoridade judaica integrada por setenta e um membros (anciãos, sacerdotes, doutores da lei) sob a presidência do Sumo Sacerdote.

Sexta-Feira Santa: a Igreja celebra este dia duma maneira muito especial. Ao entardecer, os fiéis reúnem-se para comemorar a Paixão e morte do Senhor. Na liturgia da Palavra, ouvimos o hino profético do Servo sofredor, um extracto

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da epístola aos Hebreus e o testemunho do evangelista São João sobre a crucifixão de Jesus. Na "oração universal", os cristãos apresentam a Deus - em nome de toda a humanidade - os grandes sofrimentos do nosso tempo. Depois, veneramos a cruz, sinal de salvação. Durante a comunhão recebemos o Pão da vida.

5.4 Foi sepultado

José de Arimateia não pode aceitar que Jesus permaneça na cruz durante a noite. É um homem influente, que até ao momento receou mostrar-se como discípulo de Jesus.

Agora atreve-se a fazê-lo. Vai procurar Pilatos e pede-lhe autorização para retirar Jesus da cruz e sepultá-l'O. Pilatos acede ao seu pedido. José envolve o corpo de Jesus com um sudário e deposita-O num túmulo novo escavado na rocha, digno de um mestre de Israel. Fecha-o com uma grande pedra redonda. Algumas mulheres, que acompanharam Jesus até Jerusalém, observam de longe.

Nós Vos louvamos, ó Deus, e Vos bendizemos, nós Vos damos graças por Jesus, vosso Filho. Ele partilhou connosco a vida, Ele partilhou connosco a morte, Ele partilhou connosco o túmulo: De que havemos de ter medo?

6. Desceu à mansão dos mortos e Ressuscitou ao terceiro dia

Deus criou o homem - Adão e Eva - à Sua imagem: criou-os homem e mulher. E abençoa-os. Ama-os: a eles e a todos os seus filhos e aos filhos dos seus filhos, a quem confiou a terra. O seu amor abarca não só os que Lhe são fiéis e respeitam os Seus mandamentos, mas também todos os que nunca ouviram falar d'Ele e que, por isso, não O procuram, não O encontram e ignoram como viver para Lhe agradar. Deus quer partilhar a Sua vida com todos.

O tempo passa. Os homens morrem. Morrem os que vivem sem Deus ou contra Ele, mas também todos os que O amam: Adão e Eva, Abraão e Moisés, Sara, Rebeca e Miriam, David e Salomão, Elias e Amós, Zacarias e Isabel, Simeão e Ana, João Baptista e toda a multidão de pessoas das quais só Deus conhece o nome e o amor.

Terão eles esperado em vão? Esquece Deus a sua fidelidade? Nós acreditamos que Deus não levou a Boa Nova só aos vivos. Acreditamos que Jesus desceu à mansão dos mortos e que ali proclamou também: Completou-se o tempo. O Reino de Deus está a chegar. Estais resgatados. Deus é misericordioso com todos os que O amam. Isto quer dizer que a morte perdeu o seu poder: não pode reter os que amam a Deus. Jesus Cristo, o Senhor, morreu por todos. Todos pertencem à comunidade dos vivos fundada por Ele.

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Celebrando agora, Senhor, o memorial da nossa redenção, recordamos a morte de Cristo e a Sua descida à mansão dos mortos, proclamamos a Sua ressurreição e ascensão aos céus, e, esperando a Sua vinda gloriosa, nós Vos oferecemos o Seu Corpo e Sangue, o sacrifício do Vosso agrado e de salvação para todo o mundo.

EXTRACTO DA ORAÇÃO EUCARÍSTICA IV

Mansão dos mortos: Mundo inferior, império da morte. As histórias da Bíblia transmitem-nos a "palavra de Deus expressa em línguas humanas". Isto significa que os homens que testemunham a sua experiência de Deus, o fazem com as representações e as imagens do seu tempo. Imaginam a terra como um disco. Sobre ela, encontra-se a abóbada celeste, o "domínio" onde Deus reina sobre os viventes. Em baixo o mundo subterrâneo (sheol), a região onde reina a morte sobre os defuntos. Por isso se diz: Jesus "desceu" à mansão dos mortos.

6.1 Jesus está vivo

O Filho de Deus fez-Se homem. Um homem que nasceu e que morreu sobre a cruz. O Seu corpo foi sepultado. Existem testemunhas disso. Não só os homens e as mulheres que O tinham seguido em Jerusalém, mas também os acusadores, os servos dos carrascos, Pôncio Pilatos e os soldados romanos...

Os quatro evangelistas referem que pela manhã cedo, no dia de Páscoa, algumas mulheres foram ao túmulo de Jesus levando perfumes. Ao chegar à sepultura, encontram retirada a grande pedra que a fechava. Entraram no túmulo e viram um jovem vestido de branco, sentado à direita. Assustam-se. Mas o anjo diz-lhes: "Não vos assusteis. Procurais Jesus de Nazaré que foi crucificado? Ele ressuscitou! Não está aqui! Vede o lugar onde O puseram. Agora deveis ir dizer aos Seus discípulos e a Pedro que Ele vai à vossa frente para a Galileia" (Mc 16,1-7). São João conta como Maria Madalena encontra o Ressuscitado na manhã de Páscoa. Estava a chorar junto ao túmulo vazio. Nisto, vê Jesus sem O reconhecer. Só quando Jesus a chama pelo seu nome "Maria" é que ela O reconhece. Diz-Lhe em hebraico: "Rabuni", que significa "Mestre". O Ressuscitado responde-lhe: "Vai procurar os Meus irmãos e diz-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, para o Meu Deus e vosso Deus". Maria Madalena foi anunciar aos discípulos que tinha visto o Senhor (Jo 20,11-18).

Os discípulos dizem: Jesus não está morto. Ele vive: apareceu-nos. Nós vimo-l'O. A nossa história com Ele, a Sua história connosco, não terminou. Os homens e mulheres que proclamam esta incrível mensagem são testemunhas. Na sua primeira epístola aos Coríntios (1Cor 15,5-8), São Paulo enumera-os: em primeiro lugar Pedro, a pedra sobre a qual Jesus edificou a Sua Igreja. Depois, os Doze que Ele escolheu como apóstolos. A seguir, quinhentos irmãos dos quais alguns já morreram. Posteriormente Jesus apareceu a Tiago, que preside à comunidade cristã de Jerusalém e ainda a todos os discípulos. Por último apareceu igualmente a São Paulo no caminho de Damasco, quando este perseguia os cristãos.

Depois deste encontro, Saulo, ardente perseguidor dos cristãos, converteu-se num não menos ardente pregador de Cristo. Para todas estas testemunhas, o sepulcro vazio constituiu um sinal essencial. O encontro com o Ressuscitado converteu-se, para eles, na sua vocação: devem transmitir aos outros o que viram. A sua fé é tão firme que estão prontos a morrer por ela. É na fé destes discípulos que a nossa se enraíza.

O que teve lugar entre a Sexta-Feira Santa e a manhã de Páscoa é o mistério de Deus, ao qual nos referimos dizendo: "Ressuscitou dos mortos", ou então, "Deus ressuscitou-O".

Os homens e mulheres que viram Jesus ressuscitado, conheceram-n'O durante a sua vida terrena. Agora reconhecem-n'O: sim, é Ele, contudo, bem diferente. Assustam-se quando Jesus entra através das portas fechadas. Enchem-se de alegria quando Jesus lhes fala. Confia-lhes a missão de irem por todo o mundo levar a Boa Nova aos homens, perdoar os seus pecados e fazer deles seus discípulos. E acrescenta: "Eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo".

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Senhor, nosso Deus, nós Vos bendizemos: Nesta noite de todas as noites, fazeis brilhar a Vossa luz: Num sepulcro vazio infundis em nós a esperança.

Jesus, nosso irmão, nós Vos bendizemos. Nesta nossa noite de todas as noites, apagais em nós o medo da vida e da morte: A confiança é possível.

Deus, Espírito Santo, nós Vos bendizemos: Nesta noite de todas as noites, fazei-nos entrever que a morte não é razão de ser da condição humana, mas sim o amor.

6.2 Nós viveremos

A ressurreição de Jesus Cristo é o centro e o coração da nossa fé. A celebração da Vigília Pascal é a solenidade mais sagrada do ano litúrgico. E cada Domingo é memorial e louvor de Deus que ressuscitou o seu Filho dos mortos. Numa das comunidades da Igreja primitiva, havia pessoas que duvidavam da ressurreição do Senhor. É a elas que São Paulo se dirige por carta nestes termos: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã também a vossa fé... Permaneceis ainda nos vossos pecados... Deste modo, os que morreram em Cristo também pereceram. Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens" (1Cor 15,14-19).

Acreditamos que Jesus, nosso Senhor, está vivo. Que Ele partilhará a Sua vida com todos os que confiam n'Ele.

Acreditamos que o Ressuscitado é causa de esperança para todos: no fim da nossa vida, não é o nada o que nos espera, mas a plenitude de Deus; não são as trevas, mas a luz.

Acreditamos que com Jesus começou a transformação, a redenção do mundo.

Acreditamos que o Espírito Santo de Jesus vive e actua no nosso mundo.

Acreditamos que Jesus Cristo voltará no dia do Juízo. Que Ele há de libertar os homens e as criaturas de todo o mal e de todo o sofrimento que os oprime, que os levará à plenitude e lhes dará uma vida sem fim.

Rezamos assim: Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos, nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção. Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida, alegria plena em vossa presença, delícias eternas à vossa direita.

SALMO 16,10-11

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Vigília Pascal: A celebração da noite de Páscoa consta de quatro partes: Liturgia da Luz ou Lucernário, durante a qual se benze o fogo novo e se acende o círio pascal. O sacerdote, em solene procissão, introduz o círio na igreja que deve estar às escuras: Luz de Cristo! Liturgia da Palavra: nela têm lugar sete leituras do Antigo Testamento e duas do Novo Testamento, textos que nos lembram a longa história de Deus com os homens. Liturgia baptismal: a água do Baptismo é benzida. Adultos e crianças recebem o Baptismo; todos renovam as promessas baptismais. Liturgia eucarística: nela damos graças Àquele que está connosco até ao fim dos tempos.

7. Subiu aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso

Os discípulos de Jesus viveram a experiência da Sexta-Feira Santa: Jesus, indefeso e abandonado, pendia da cruz. A Sua vida extinguiu-se na morte. Depositaram o Seu corpo num túmulo e fecharam a entrada com uma grande pedra: sinal de que, no fim, a morte tem poder sobre a vida. No encontro com o Senhor ressuscitado, vivem a experiência que acaba com tudo o que julgavam saber sobre a vida e a morte. Jesus vem ao seu encontro. Eles reconhecem-n'O - sim, é Ele, o Crucificado. É-lhes familiar e, ao mesmo tempo, estranho. Entra, mesmo com as portas fechadas. Está presente e desaparece. Não podemos detê-l'O. Entre o medo e a dúvida, os discípulos começam a pensar e a acreditar no que está para além da morte: Deus ressuscitou o seu Filho dos mortos e recebeu-O na glória com a Sua condição humana. Os discípulos afirmam: Jesus subiu ao céu e Deus deu-Lhe o lugar de honra, à Sua direita.

7.1 Deus exaltou-O acima de todos

Jesus fracassou entre os homens. "Os Seus não O receberam." (Jo 1,11). Mas Deus ressuscitou-O e acolheu-O. Dá a Seu Filho o lugar de honra à Sua direita, constituindo-O deste modo Senhor de toda a criação.

A expressão "sentado à direita do Pai" tem um significado especial, para os cristãos de então que, tal como Jesus, procedem do judaísmo: Deus, o Senhor e Rei, escolheu Israel como Seu povo. Os reis que governam em Jerusalém são considerados representantes de Deus. Não governam a título pessoal, mas em nome de Deus. Enquanto não esquecerem isto, Deus estará com eles.

Sabemos por um salmo o que era dito ao rei no dia da sua entronização: "Senta-te à minha direita, até que eu faça de teus inimigos escabelo de teus pés" (SI 110,1).

Muitos homens piedosos, quando rezam este salmo, pensam no Salvador prometido, o Messias.

Numa das primeiras profissões de fé, os cristãos proclamam: "Ele é o Senhor, maior e mais poderoso que todos os senhores do mundo". Esta confissão é uma afirmação essencial da nossa fé.

A comunidade louva num hino o Senhor a Quem Deus exaltou: Por isso Deus O exaltou e Lhe deu o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

EPÍSTOLA AOS FILIPENSES 2,9-11

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7.2 Subiu ao céu

Quando os primeiros cristãos confessam que o seu Senhor "subiu ao céu", referem-se ao Antigo Testamento. No livro dos Génesis fala-se do patriarca Henoc, que andou com Deus e, depois, foi por Ele elevado ao céu (Gn 5,24). Acreditamos também que o grande profeta Elias foi arrebatado ao céu num carro de fogo no meio de um turbilhão (2Rs 2,11). Eliseu, seu discípulo, fica só e compreende que lhe é pedido continuar a obra de Elias.

São Lucas descreve, no fim do seu Evangelho, como Jesus Se despede dos seus discípulos: Vai com eles a Betânia, ergue as mãos e abençoa-os enquanto eles se prostram diante d'Ele. E é nesta atitude de bênção que Ele Se eleva ao céu (Lc 24,50-52). No início do seu segundo livro, os Actos dos Apóstolos, narra de novo a ascensão de Jesus a fim de mostrar claramente como a história terrena de Jesus desemboca na história da Igreja: durante quarenta dias - um período de tempo sagrado - o Senhor ressuscitado aparece aos seus discípulos e fala com eles do Reino de Deus. Depois eleva-Se a seus olhos e uma nuvem - o próprio Deus - O oculta. Atónitos e fascinados, os apóstolos fixam os olhos no céu. É então que dois mensageiros divinos perguntam: "Porque estais aí parados a olhar para o céu? Esse Jesus que vos foi tirado e levado para o céu, virá do mesmo modo como O vistes partir para o céu" (Act 1,9-11).

Os apóstolos compreendem que lhes cabe agora a eles, mandatados por Jesus, proclamar o Evangelho, curar os doentes, perdoar os pecados, exorcizar os espíritos malignos, despertar a esperança.

Na terra não tendes outro corpo senão o nosso, nem outros pés senão os nossos, nem outras mãos senão as nossas. Os nossos olhos revelam a Vossa misericórdia para com o mundo, os nossos pés levam-Vos a fazer o bem. É com as nossas mãos que, agora, podeis abençoar.

SANTA TERESA DE JESUS

Subiu ao céu (Ascensão): Não se trata duma mudança de lugar no domínio do nosso mundo, mas da entrada do homem Jesus de Nazaré no domínio celeste, donde há de vir.

Actos dos Apóstolos: O segundo livro do evangelista São Lucas relata as obras dos apóstolos que preenchem a missão do Ressuscitado. Eles anunciam-n'O como o Messias, o Crucificado, o Ressuscitado. Fundam as comunidades, obtêm êxito, são perseguidos. A primeira parte (cap. 1-12) fala sobretudo de Pedro, o primeiro dos apóstolos, e de João. Actuam sobretudo na comunidade cristã de Jerusalém. A segunda parte (cap. 13-28) é consagrada a Paulo de Tarso, o evangelizador dos gentios (três viagens missionárias). É ele quem traz o Evangelho à Europa. O livro dos Actos dos Apóstolos termina com a pregação de São Paulo em Roma. Segundo o testemunho da tradição, ele e São Pedro sofreram o martírio em Roma. Desde modo, Roma a cidade dos apóstolos, passou a ser o centro da Igreja.

Quarenta dias: Um número sagrado. Durante os quarenta anos de peregrinação pelo deserto, o povo de Israel aprende a confiar em Deus. Depois de ser baptizado por João Baptista, Jesus jejua durante quarenta dias no deserto. Depois, seguro da sua missão, começa a sua vida pública. - A Igreja atém-se ao testemunho de São Lucas: celebra a "Ascensão" quarenta dias depois da Páscoa.

7.3 A partida e a nova comunidade

É pela fé que nós compreendemos o que São Lucas - que era um fiel da sua e nossa Igreja - atesta como Evangelho de Jesus Cristo: Jesus fez-Se homem a fim de nos libertar de tudo o que nos separa de Deus. Foi por nós, homens, que Ele viveu e morreu. Deus ressuscitou-O e colocou-O à sua direita. Isto significa que Jesus deixou de estar visível e palpável junto dos Seus.

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Já não podem vê-l'O directamente nem tocá-l'O nem interrogá-l'O como quando estava entre eles. A separação significa também despedida. São João transmite-nos no seu Evangelho "discursos de despedida": são palavras do Senhor que parte, nas quais os discípulos encontram respostas e consolação.

Não se perturbe o vosso coração! Acreditai em Deus e acreditai também em Mim. Na casa de Meu Pai existem muitas moradas; se não fosse assim, Eu vos teria dito, porque vou preparar-vos um lugar. E, quando Eu for e vos tiver preparado um lugar, voltarei e levar-vos-ei comigo, para que, onde Eu estiver, vós estejais também (Jo 14,1-3).

Se Me amais, obedecereis aos Meus mandamentos. Então, Eu pedirei ao Pai e Ele dar-vos-á outro Consolador para que permaneça convosco para sempre: o Espírito da Verdade (Jo 14,15-17).

É melhor para vós que Eu vá, porque, se não for, o Consolador não virá a vós. Mas, se Eu for, Eu vos enviarei (Jo 16,7).

Eu saí de junto do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e volto para o Pai (Jo 16,28).

A Igreja de Cristo continua à espera da segunda vinda do seu Senhor. Pela fé temos a certeza de que Ele nos prepara uma morada e uma pátria junto do Pai. Jesus quer que estejamos com Ele. Por isso o céu, para onde "erguemos os olhos", já não é só o "lugar" de Deus e de Jesus Cristo, mas também o símbolo do nosso refúgio.

Enquanto vivermos no mundo dos homens, não podemos falar do mundo de Deus senão por imagens. Só quando tivermos percorrido o caminho de Jesus passando pela morte e pelo túmulo - é que se nos abrirão os olhos, na nossa própria manhã de Páscoa. Então nós veremos a Ele, Nosso Senhor.

Rezamos assim: Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte. Porque o Senhor Jesus Cristo, Rei da glória subiu ao mais alto dos céus, ante a admiração dos anjos... Ele não abandonou a nossa condição humana, mas, subindo aos céus, como cabeça e primogénito, deu-nos a esperança de irmos ao Seu encontro, como membros do Seu Corpo, para nos unir à Sua glória imortal. Por isso, na plenitude da alegria pascal, exultam os homens por toda a terra e com os Anjos e os Santos proclamam a Vossa glória...

EXTRACTO DO PREFÁCIO DA ASCENSÃO DE CRISTO

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8. De onde há-de vir a julgar os vivos e os mortos

Jesus está junto do Pai. Os homens e as mulheres que põem n'Ele a sua confiança permanecem no meio da fragilidade da vida e da imperfeição do mundo. No entanto, a luz que Jesus veio acender no mundo não está apagada. A esperança que as suas palavras e acções suscitaram no coração dos homens, não está morta.

8.1 Jesus voltará

Os primeiros discípulos crêem que o Senhor voltará brevemente. Já não como um homem entre os homens - de quem não se pode duvidar nem rejeitar - mas, desta vez, com o poder e a glória de Deus. Isto significa que nunca mais ninguém poderá duvidar da Sua autoridade nem contestar os Seus plenos poderes. Todos reconhecerão n'Ele o Enviado de Deus, o Messias, o Salvador, o Juiz que, com plena autoridade de Deus, pronuncia a sentença final sobre os homens, e leva a criação à sua plenitude: o Reino e o Reinado de Deus tornam-se realidade.

Os primeiros cristãos não tardaram em dar conta de que a sua impaciência os levava a um impasse. Compreendem que o tempo de Deus não é à medida do tempo do homem. E que é sempre válida a palavra de Jesus que anuncia o seu retorno: "Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos no céu nem o Filho, mas unicamente o Pai" (Mc 13,32).

Compreendem também que, com a "ascensão" de Jesus, começou uma nova era: a sua e nossa era, a da Igreja. Por isso, eles não podem continuar na "montanha" a olhar para o Senhor que sobe ao céu. A sua missão são os homens, em qualquer lugar onde se encontrem, seja qual for o seu modo de vida. A sua missão é a terra - até aos seus confins. São responsáveis pela luz: para que ela não se extinga; responsáveis pela esperança: para que, enraizada em Jesus Cristo, não morra. Que todos tenham o mesmo direito a aderir, pela fé, a Jesus Cristo. Só a Deus pertence decidir quando acabará, com a segunda vinda de seu Filho, a terra que Ele criou no princípio.

Enquanto dura o tempo, a expectativa pode deter-se. Os crentes podem sentir-se inseguros e duvidar: Cumprirá Deus a Sua palavra? Voltará o Senhor? Vale a pena esperar? Podem extraviar-se nos seus afazeres temporais, esquecer que este mundo não é o definitivo e as grandes coisas que os esperam. É a eles que se dirigem as exortações dos apóstolos e dos evangelistas: permanecei vigilantes pois não sabeis quando voltará o Senhor.

A Igreja de Jesus Cristo define-se como uma comunidade que espera o regresso do seu Senhor e Lhe prepara o caminho. Todos os anos celebra o Advento: uma assembleia preparada a ir ao encontro d'Aquele que vem - e a deixá-l'O vir.

Anunciamos a Vossa morte, proclamamos a Vossa ressurreição, esperamos a Vossa vinda gloriosa. Marana tha - Vem Senhor Jesus!

A segunda vinda do Senhor: Desde o princípio houve e continua a haver grupos particulares (seitas) que pretendem calcular o fim do mundo e o momento da segunda vinda do Senhor. Encontram nos acontecimentos do seu tempo sinais que - segundo eles - anunciam o "fim do mundo". Exigem de todos os que querem ser salvos, uma fé e uma obediência cegas. Algumas destas seitas causam muitas confusões. Mas todos estes movimentos estão destinados ao fracasso, pois os planos de Deus não estão sujeitos aos cálculos dos homens. Deus, no seu devido tempo, dará cumprimento e concederá a plenitude a quem, com confiança, permaneça atento e espere.

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8.2 Ele julgará os vivos e os mortos

No seu discurso em casa de Cornélio, o centurião romano, São Pedro declara: "Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Deus O constituiu Juiz dos vivos e dos mortos. Sobre Ele os profetas dão o seguinte testemunho: todo aquele que acredita em Jesus recebe, em Seu nome, o perdão dos pecados" (Act 10,42-43).

As palavras sobre o julgamento inspiram-nos medo: somos apenas homens. E qual é o homem que pode subsistir diante de Deus?

As palavras sobre o Juiz infundem-nos coragem: porque conhecemos Jesus. Não temos por que temê-l'O. A Sua mensagem é uma Boa Nova. Ele sabe como os homens se esforçam por fazer a vontade de Deus, respeitar os preceitos de Moisés, os "Dez Mandamentos" e todas as prescrições particulares que os mestres de Israel foram acrescentando ao longo dos séculos. Jesus diz: "Vinde a Mim todos os que estais afadigados e sobrecarregados e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas, pois o Meu jugo é suave, e a Minha carga leve" (Mt 11,28-30).

Numa outra ocasião, Jesus diz o que será tido em conta no Juízo Final: amar a Deus, viver para Lhe agradar e dar aos irmãos e irmãs o que necessitam: pão aos famintos, água aos que têm sede, um teto aos que não têm lar, roupa aos nus, visitar os doentes e os prisioneiros. Todos os que fizeram isto, fizeram-no por Jesus mesmo sem o saber. O Senhor dir-lhes-á então: Vinde, o Pai está à vossa espera! Ireis ver como os homens podem ser felizes. Ireis viver, com Ele, nessa comunhão a que chamamos céu.

Os outros, os que detestam Deus, não vivem no Seu espírito, não dão aos irmãos e irmãs o que precisam: não socorrem os famintos, não dão água aos que têm sede, nem teto aos estrangeiros, nem roupa aos nus, nem visitam os doentes e os prisioneiros - foi a Jesus a quem recusaram todas estas coisas, mesmo sem o saber. Vão dar conta de como os homens podem ser infelizes. Eles próprios se excluíram da comunhão definitiva com Deus (cf. Mt 25).

Senhor, Tu virás no fim dos tempos. O fim do meu tempo é a morte. Senhor, vem ao meu encontro! Acolhe-me junto de Ti! Sê para mim um juiz clemente e faz do dia da minha morte o dia da minha ressurreição! Concede-me ser feliz junto de Ti, entre os que são benditos de teu Pai!

Céu: A vida em comunhão definitiva com Jesus. A felicidade de estar junto de Deus. O "inferno" é a exclusão definitiva da comunhão com Jesus, a desgraça e a miséria dos que se separaram de Deus. O "purgatório" significa que há pessoas que, no dia da sua morte, ainda não estão preparadas para um encontro com Deus e uma plena comunhão com Ele. Cremos que Deus é misericordioso e magnânimo no perdão. Rezamos pelos nossos mortos.

9. Creio no Espírito Santo

O Espírito Santo de Deus: não O podemos ver, reter nem mostrar. Não podemos dispor d'Ele. Mas podemos sentir a Sua existência e a Sua acção, por exemplo: quando um homem ou uma mulher fala de Deus, de tal modo que outros abraçam a fé; quando duas pessoas põem fim a uma discórdia e se reconciliam; quando alguém que agiu mal repara as suas faltas; quando uma pessoa amargurada pelo ódio começa a amar; quando alguém, que só pensava em si, abre os olhos para o sofrimento dos outros; quando uma pessoa sai em defesa das plantas e dos animais, da água e do ar - da vida posta em perigo pelo homem.

9.1 O Espírito que dá a vida

A Bíblia começa pelas origens. Então - antes de Deus ter pronunciado a Sua primeira palavra - não havia mais do que desolação e vazio, águas impetuosas e trevas: a morte. Mas o Espírito de Deus paira sobre as águas: a vida.

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Com estas imagens, os mestres de Israel afirmam que Deus está em tudo e sobre tudo o que vive, se desenvolve e cresce sobre a terra. O Seu Espírito é a prova de que a criação nunca está desligada de Deus: não está abandonada ao acaso, à mercê da mente humana ou mesmo de espíritos maléficos.

Rezamos assim: Enviais o vosso Espírito... e renovais a face da terra (SI 104,30). Um dos mestres bíblicos narra como começou a história de Adão, "o homem": O próprio Deus insuflou nas suas narinas um hálito de vida e o homem converteu-se em ser vivo. Isto quer dizer: o ser humano - homens, mulheres e crianças - vivem da vida de Deus. Por isso são capazes de compreender Deus, fazer a sua vontade, tornar-se homens à sua imagem.

Fazemos o sinal da cruz: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

O Espírito Santo é o Dom supremo que Deus concede ao homem. Sopra onde quer. Mas o homem pode recusar o Espírito, fechar-se a Ele.

Rezamos assim: Respira em mim, Espírito Santo, para que eu pense coisas santas. Impulsiona-me, Espírito Santo, para que eu faça coisas santas. Atrai-me, Espírito Santo, para que eu ame o que é santo. Conforta-me, Espírito Santo, para que eu guarde o que é santo. Guarda-me, Espírito Santo, para que eu nunca perca o que é santo.

ATRIBUÍDO A SANTO AGOSTINHO (354-430)

O Espírito de Deus é invisível. Procede do Pai e do Filho como os raios quentes que emanam do sol. Ele é Deus: consubstancial ao Pai e ao Filho. A sua acção é perceptível através das acções dos homens a quem Ele Se dá. Os seus símbolos são: a água, o fogo, a tempestade, a nuvem, o sopro e o vento. Por vezes é comparado a uma pomba e representado dessa maneira. Para os homens dos tempos bíblicos - e mesmo para os de hoje - a pomba é imagem da paz e do amor que se tornou visível.

9.2 Ele falou pelas profetisas e pelos profetas

A Bíblia fala de homens e de mulheres a quem Deus dá o Seu Espírito: os reis recebem-n'O pela unção do óleo sagrado. Graças a Ele, os eleitos podem realizar uma determinada missão. Atrevem-se, com coragem, a contradizer os reis, a acusar os falsos profetas e os sacerdotes infiéis, a denunciar a heresia e o pecado. O seu entusiasmo é contagioso, a sua convicção persuasiva. As pessoas que se relacionam com eles sentem que Deus actua neles, que o Espírito Santo fala através desses homens.

Por isso, os homens inspirados são credíveis e dignos de confiança. Israel tem um modo especial de falar do Espírito quando se trata do Messias, o rei de justiça saído da casa de David, que instaura sobre a terra a paz de Deus. Um dos profetas diz d'Ele: Deus dá-Lhe o espírito de sabedoria e inteligência, espírito de conselho e fortaleza, espírito de conhecimento, de piedade e temor de Deus (Is 11,2). É a esta palavra profética que nós temos presente quando evocamos os "sete dons" do Espírito Santo.

Do servo que - enviado de Deus, rejeitado pelos homens - dá a sua vida pelo povo, Deus diz: "Eis o Meu servo a quem Eu amparo, o Meu eleito em quem a Minha alma se alegra. Eu coloquei sobre Ele o Meu espírito para que promova o direito entre as nações" (Is 42,1).

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O Espírito de Deus não é um dom só para alguns eleitos. O Ressuscitado enviou aos apóstolos e a todos os seus discípulos o dom do Espírito Santo (Jo 20,22). No Juízo Final, quando a fraqueza e a maldade dos homens forem julgadas e restar apenas o amor e a bondade de Deus pelos homens, o Espírito será dado a todos: "Derramarei o meu espírito sobre os teus filhos e a minha bênção sobre a tua descendência" (Is 44,3). Depois disto, "os vossos filhos e filhas tornar-se-ão profetas, os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões. Nesses dias, até sobre os escravos e escravas, derramarei o Meu espírito" (JI 3,12).

No dia de Pentecostes rezamos assim: Vinde, Espírito Santo, enchei o coração dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Aleluia!

Juízo Final: O dia de Deus. O último dia que Deus fixou ao velho mundo dos homens. Deus criará um novo céu e uma nova terra.

9.3 Jesus Cristo, cheio do Espírito Santo

Jesus vive e actua na unidade com o Espírito Santo. Foi pela acção do Espírito Santo que Maria O concebeu. Por isso a celebramos com as palavras: "Ave Maria, cheia de graça". Movido pelo Espírito, João Baptista declara: "Quanto a mim, eu baptizo-vos com água... mas Aquele que vem depois de mim... baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo" (Mt 3,11). Quando Jesus vai ao Jordão para Se fazer baptizar por João Baptista, os céus abrem-se. E eis que uma voz vinda dos céus diz: "Tu és o Meu Filho muito amado, no qual pus as minhas complacências." É pela força do Espírito Santo que Jesus resiste a Satanás, que quer tentá-l'O no deserto para O desviar da Sua missão (Mc 1,11-13).

Jesus sabe porque é enviado. Em Nazaré, a Sua cidade, vai à sinagoga, ao Sábado e lê uma passagem do profeta Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-Me para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4,18-19). E todos compreendem o que Jesus quer dizer quando afirma: "Hoje cumpriu-se esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir" (Lc 4,21).

Pela força do Espírito, Jesus expulsa os demónios e cura os doentes. Diz aos pobres e aos oprimidos que Deus os ama. Não tem medo dos doutores da lei nem dos poderosos.

Jesus observa como estes não se deixam convencer e dá conta de que a Sua vida corre perigo. Então, prepara os Seus discípulos para o tempo em que já não estará com eles. O evangelista São João conta como Jesus Se despede dos apóstolos. Encoraja-os e diz-lhes como poderão permanecer seus amigos. Promete-lhes um Consolador, um Paráclito. Alguém que reze por eles quando as palavras lhes faltarem. Alguém que lhes diga como defender-se quando forem acusados e perseguidos por sua causa. Promete-lhes o Seu Espírito Santo.

Rezamos: Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Satanás: Chamamos-lhe também, algumas vezes, "diabo" ou "inimigo": um anjo que, assim o cremos, se converteu em adversário de Deus. É o Mal por excelência, que tenta separar de Deus os homens para os conduzir ao pecado. Os crentes têm que escolher a quem querem servir: Deus ou Satanás. Jesus resistiu a Satanás: isto significa que este perdeu o seu poder. Quando Jesus voltar na sua glória, o diabo será definitivamente vencido.

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10. A Santa Igreja Católica

A Igreja do nosso tempo é uma comunidade com dimensões mundiais. Comunica a fé aos que a ela se incorporam pelo Baptismo e ensina-os a viver como cristãos. Cumpre assim a missão que lhe foi conferida por Jesus Cristo, até que Ele volte na sua glória.

10.1 No começo era o Espírito Santo

Os cristãos perguntam: quando, onde e como começou a igreja? A resposta é nos dada na "história da fundação" que São Lucas nos relata nos Actos dos Apóstolos:

Começou em Jerusalém, a cidade da morte e da ressurreição de Jesus. Os apóstolos e os discípulos de Jesus encontravam-se reunidos numa casa. Maria, a Mãe de Jesus, estava presente, assim como outras mulheres. Esperavam o Paráclito que Jesus tinha prometido e oravam juntos. E aconteceu que, cinquenta dias depois, o sopro do Espírito de Deus desceu do céu sobre eles como um vendaval, encheu a casa e acendeu uma chama nos corações. Já não sentem medo dos que perseguiram e condenaram Jesus. Os discípulos ficaram repletos de entusiasmo. Não podiam ficar fechados por mais tempo, tinham de sair para anunciar a Boa Nova.

Diante da casa reunira-se uma multidão de gente vinda de todos os cantos do mundo, que tinha sentido o poderoso sopro do Espírito. Contagiados pelo entusiasmo dos apóstolos, ouviam o que estes testemunhavam acerca de Jesus, o Filho de Deus, e cada um ouvia a mensagem na sua própria língua.

As pessoas nas quais vive o Espírito de Jesus, compreendem-se umas às outras, mesmo que não falem a mesma língua. Não se sentem estranhas entre si, qualquer que seja a sua nação ou raça.

Nesse mesmo dia de Pentecostes, São Pedro, o primeiro dos apóstolos, pronuncia o discurso que inaugura a missão em favor de Cristo. A sua pregação foi tão convincente que todos os que o escutavam sentiram-se tocados no coração. Nesse dia - diz-nos São Lucas - vários milhares de pessoas abraçaram a fé, receberam o Baptismo e entraram na comunidade de Jesus Cristo: irmãos e irmãs, a Igreja de Cristo.

Todos eram assíduos ao ensinamento dos Apóstolos e à fracção do pão. Mantinham-se fiéis à comunhão fraterna e davam a cada um segundo a sua necessidade.

Dizemos São Pedro e pensamos no Papa que dirige a Igreja como seu sucessor. Dizemos São Paulo ou São Tiago e pensamos em todos os que transmitem o Evangelho. Dizemos São Bernardo ou Santa Teresa e pensamos em todos os que consagram a sua vida a Deus. Dizemos Santa Clara ou São Francisco e pensamos em todos os que são pobres com os pobres. Dizemos São Martinho ou Santa Isabel e pensamos em todos os que partilham. Dizemos São Vicente de Paula e pensamos em todos os que vivem para os outros. Dizemos São Maximiliano Kolbe e pensamos em todos os que dão a vida pelos irmãos. Dizemos Santa Joana D'Arc ou o bispo Romero e pensamos em todos os que são vítimas da violência. Dizemos "cristãos" e pensamos em todos os que são vivificados pelo Espírito.

Igreja: É assim que designamos as nossas casas de oração, a paróquia, a comunidade de todos os fiéis no seu conjunto. A Igreja é regida pelo Papa, sucessor do apóstolo São Pedro, e pelos bispos, sucessores dos Apóstolos. Originalmente, "Igreja" significa "aqueles que pertencem ao Senhor": nome das assembleias do povo convocadas por Deus.

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Quinquagésimo dia (Pentecostes): O dia em que a comunidade judaica celebra o memorial da aliança concluída por Deus com o seu povo no Monte Sinai. A Igreja celebra este dia como o Pentecostes, ou seja, a efusão do Espírito Santo sobre a Igreja primitiva de Jerusalém, por ocasião das festas judaicas, cinquenta dias depois da Páscoa.

10.2 A Igreja: una, santa, católica e apostólica

O Espírito Santo não agiu somente no começo da Igreja. Continua a vivificá-la e a Sua acção torna-se nela perceptível. Por isso a Igreja só pode ser "una": tem um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo; forma um só corpo movido por um só Espírito, orientado para uma única esperança.

Não há dúvida de que, numa comunidade que agrupa indivíduos muito diferentes, se discuta e haja desavenças: alguns seguem um mestre, outros obedecem a outro (1Cor 3,4-8). Alguns consideram os usos e costumes judaicos como muito importantes, enquanto outros os acham secundários e estranhos (Act 16,21). Uns são fiéis às prescrições de Jesus de modo radical, separando-se dos outros (2Cor 6,17). A diversidade de carismas e de modos de vida, constitui um enriquecimento para a comunidade - e para toda a Igreja - enquanto os cristãos não esquecem que há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo e um só Deus e Pai de todos (Ef 4,5-6).

Toda a Igreja sofre quando algumas pessoas ou grupos discutem sobre interpretações doutrinais e normas de vida, provocando divisões no seio da comunidade.

Resulta grave que algumas pessoas ou grupos se separem da comunidade para se proclamarem "Igreja" à sua maneira. E não é menos grave quando a Igreja tem de excluir da sua comunidade um mestre ou um grupo, por causa das suas heresias.

Por amor à unidade e a Jesus, a Igreja não deve deixar jamais de procurar a reconciliação, nem de implorar o perdão das suas próprias faltas e dos outros. Se assim não fosse, Jesus teria rezado em vão: "Peço-Te, Pai, que todos sejam um" (Jo 17,21).

É esta a oração duma comunidade do primeiro século depois de Cristo: Lembra-Te, Senhor, da Tua Igreja, livra-a de todo o mal, e aperfeiçoa-a no Teu amor. Reúne-a dos quatro cantos do mundo, e santifica-a no reino que Tu lhe preparaste. Porque Teu é o poder e a glória pelos séculos dos séculos. Amem! Que venha a graça e passe este mundo! Amem! Hossana, ó Filho de David! Aquele que é santo, que venha! Aquele que não o é, que mude o seu coração! Marana tha. Vem Senhor Jesus! Amem!

DIDAQUÊ 10,5-6

• A Igreja, una, é santa

Santa, mas não por si mesma, pois só Deus é Santo. Ele ama a Igreja, a comunidade de homens e mulheres que confessam o seu Filho Jesus Cristo como Senhor, que transmitem a Boa Nova e dão testemunho dela com a própria vida.

Nem sempre conseguem isto. É por esta razão que a Igreja de Jesus Cristo é também uma Igreja de pecadores: comunidade de homens que se extraviam no caminho, que atraiçoam o amor, que quebram a aliança, que permitem o mal e até o fazem. Homens que necessitam de perdão e de misericórdia para serem, por sua vez, misericordiosos com os outros. Deus santifica a Igreja apesar das limitações humanas e deficiências dos seus dirigentes e fiéis. Por isso a Igreja é

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e continua a ser para o mundo o sinal visível da santidade de Deus. Porque Deus a santifica, ela consegue resistir aos poderes do mundo. Sim, nem sequer as Portas do Inferno poderão vencê-la.

Rezamos: Vós, Senhor, sois verdadeiramente Santo e todas as criaturas cantam os Vossos louvores, porque dais a vida e santificais todas as coisas, por Jesus Cristo, Vosso Filho, Nosso Senhor, com o poder do Espírito Santo.

EXTRACTO DA ORAÇÃO EUCARÍSTICA III

Santo: Deus não é como os homens. Ele é inteiramente Outro: transcendente, Todo-Poderoso, omnisciente, omnipresente. Ele é mais do que aquilo que podemos dizer, pensar e representar. Esta alteridade de Deus, o mistério do seu ser, é o que podemos dizer quando afirmamos: Ele é Santo. A Igreja canoniza (proclama santos) certas pessoas - homens e mulheres - pelo testemunho que eles deram de Cristo. Os santos - e em primeiro lugar a Virgem Santa - são nossos modelos e intercessores junto de Deus. "A Igreja é santa: é seu autor o Deus santíssimo; Cristo, seu Esposo, por ela Se entregou para a santificar; vivifica-a o Espírito de santidade. Embora conte no seu seio pecadores, ela é "a sem-pecado feita de pecadores". Nos santos brilha a sua santidade; em Maria ela é já toda santa" (Catecismo da Igreja Católica 867).

• A Igreja, una, é católica

O Deus único é o Deus de todos os homens. Olha para eles com benevolência e deseja conduzi-los, onde quer que se encontrem e em todos os tempos, à salvação, de que Ele mesmo é o centro.

A Igreja de Jesus Cristo é a depositária da herança do Senhor e anuncia Cristo como a esperança de todos os homens. Ela é sinal e penhor do Seu amor redentor. Não só para aqueles que são baptizados no seio da Igreja católica romana, mas para todos os que vivem reconciliados com Deus. Também as pessoas que servem a Deus noutras confissões cristãs e noutras religiões e até as pessoas que não sabem nada de Deus, participam do amor de Deus e da esperança, da qual Jesus Cristo é o garante. Todas estas pessoas estão de certo modo relacionadas com a Igreja una. Por isso a Igreja está - em virtude da sua própria natureza - aberta a todos: Católica (= universal).

Ó Deus, Pai de todos os homens, Tu pedes a cada um de nós que levemos o amor onde os pobres são oprimidos, que levemos a alegria onde a Igreja se encontra em desalento, que levemos a reconciliação onde há pessoas que vivem separadas entre si: o pai e o filho, a mãe e a filha, o marido e a mulher, o crente e aquele que não acredita, o cristão e o seu irmão cristão a quem não ama. Nós Te suplicamos: abre-nos este caminho do amor, da alegria e da reconciliação, a fim de que o Corpo ferido de Cristo, a Tua Igreja, seja fermento de comunhão para os pobres da Terra e para toda a família humana.

MADRE TERESA E IRMÃO ROGER SCHUTZ

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Católica significa: "A Igreja anuncia a totalidade da fé; guarda e administra a plenitude dos meios de salvação; é enviada a todos os povos, dirige-se a todos os homens; abrange todos os tempos; "é, por sua própria natureza, missionária" (Ad Gentes 2; Catecismo da igreja Católica 868). "A Igreja vê-se ainda unida por muitos títulos, com os baptizados que têm o nome de cristãos, embora não professem integralmente a fé ou não guardem a unidade de comunhão com o sucessor de Pedro" (Lumen Gentium 15). "Aqueles que crêem em Cristo e receberam validamente o Baptismo encontram-se numa certa comunhão, embora imperfeita, com a Igreja Católica" (Unitatis Redintegratio 3). Quanto às Igrejas Ortodoxas esta comunhão é tão profunda "que bem pouco lhes falta para que ela atinja a plenitude, autorizando uma celebração comum da Eucaristia do Senhor" (Paulo VI, discurso de 14 de Dezembro de 1975 - Catecismo da Igreja Católica 838).

• A Igreja, una, santa, católica, é apostólica

Desde o início do seu ministério público, Jesus chama e reúne discípulos para que O acompanhem, escutem o que diz e vejam o que faz. Dentre eles, escolhe doze homens para que sejam Suas testemunhas, desde o Baptismo no Jordão até à Sua ressurreição. Envia os Doze, os apóstolos, para que possam ir, em Seu nome, aonde Ele não vai pessoalmente, anunciem a Boa Nova e curem os enfermos.

O Ressuscitado confiou a São Pedro, o primeiro entre os apóstolos, uma responsabilidade especial na Igreja. Os doze apóstolos são o fundamento da Igreja. Proclamam o Evangelho. Conservam os ensinamentos de Jesus e, com o auxílio do Espírito Santo, defendem a verdade plena e não falsificada.

Os apóstolos transmitem a sua missão e o seu mandato a outros. A sucessão dos bispos de Roma remonta, sem interrupção, a São Pedro. Em comunhão com os bispos, sucessores dos apóstolos, o Papa, como sucessor de São Pedro, guia a Igreja no seu caminho através do tempo.

Um dos mestres da Igreja primitiva, preocupado com a unidade da Igreja, exorta-nos: Comportai-vos de modo digno da vocação que recebestes. Sede humildes, amáveis, pacientes e suportai-vos uns aos outros no amor. Mantende entre vós a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim como fostes chamados a uma só esperança: há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo; há um só Deus e Pai de todos.

EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS 4, 1-6

Apóstolo, apostólico: O apóstolo é "o enviado" e fala com a autoridade de quem o envia. O número de doze apóstolos corresponde às doze tribos de Israel e indica que Jesus congrega o novo povo de Deus, o definitivo. A Igreja é apostólica porque os seus bispos descendem em linha directa dos apóstolos.

10.3 Hierarquia e ministérios

O Ressuscitado envia doze homens, Seus apóstolos, a todas as nações da terra. Poderá ter êxito esta missão? Os apóstolos começam em Jerusalém. Anunciam, baptizam, celebram a Eucaristia em memória do Seu Senhor. Mesmo quando são perseguidos e impedidos de falar, não se deixam intimidar. Desde Jerusalém, espalham-se por aldeias e vilas. Colocam à frente das comunidades homens experimentados impondo-lhes as mãos, e enviam missionários e pregadores itinerantes.

Conhecemos melhor São Paulo, a quem o Senhor ressuscitado institui apóstolo dos pagãos. São Paulo vai de cidade em cidade, de país em país e finalmente chega - como prisioneiro - a Roma. Em toda a parte, funda comunidades e nomeia como dirigentes homens de piedade provada. É a eles e às suas comunidades que São Paulo envia as suas epístolas. Estas cartas informam-nos sobre questões importantes para as comunidades nascentes e as dificuldades com as quais são confrontadas. Quando surge um problema que São Paulo não pode resolver por si próprio, dirige-se a Jerusalém. É aí que se reúnem os apóstolos. Confiando plenamente no Espírito Santo, deliberam sobre o que têm a fazer e decidem o que se há de aplicar na Igreja de Jesus Cristo.

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A todos aqueles a quem é confiado um ministério na Igreja, é-lhes aplicada a palavra do Senhor: "Sabeis como aqueles que se dizem governadores das nações têm poder sobre elas, e os seus dirigentes exercem sobre elas a sua autoridade. Mas entre vós não deve ser assim: quem de vós quiser ser grande deve tornar-se o vosso servidor"

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MARCOS 10,42-43

A Igreja cresce e o tempo passa. Os homens e mulheres que acompanharam Jesus a Jerusalém, vão desaparecendo. Para que nada se perca da tradição sagrada nem se falsifique a sua transmissão, começa a pôr-se por escrito o que a tradição diz acerca de Jesus. Acreditamos que o Espírito Santo presidiu a esta redacção e que os que escreveram os textos sagrados, são testemunhas autênticas e fiéis.

A Igreja vê nascer no seu seio uma hierarquia e ministérios bem definidos; o primeiro e supremo mestre da Igreja é o bispo de Roma: o Papa. Os bispos, sucessores dos apóstolos, velam nas Igrejas locais para que a fé se conserve intacta. Ordenam sacerdotes para que dirijam as comunidades paroquiais. Os sacerdotes presidem à oração e actuam como intercessores, anunciam o Evangelho às suas respectivas comunidades, administram os sacramentos e celebram a Eucaristia. Prestam assistência aos que lhes são confiados e acompanham-nos no seu caminho para Deus.

"No grau inferior da hierarquia estão os diáconos, aos quais foram impostas as mãos, 'não em vista do sacerdócio, mas do serviço'" (Lumen Gentium 29)... "Entre outros serviços, pertence aos diáconos assistir o bispo e os sacerdotes na celebração dos divinos mistérios, sobretudo da Eucaristia, distribuí-la, assistir ao Matrimónio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir aos funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade" (Catecismo da Igreja Católica 1569-1570).

Creio no Espírito Santo, que vivifica a Igreja de Jesus Cristo e cada um de nós fazendo-nos suas testemunhas.

Creio no Espírito Santo, que permite à Igreja de Jesus Cristo e a cada um de nós perdoar ao próximo, escutá-lo e amá-lo.

Creio no Espírito Santo, que acompanha a Igreja de Jesus Cristo e cada um de nós e nos conduz até à meta.

10.4 A vida consagrada a Deus

O homem foi criado para a mulher e a mulher para o homem. Contudo, sempre houve e continua a haver, na Igreja, homens e mulheres que vivem voluntariamente o celibato. Deu confiou ao homem a terra para que desenvolva nela as suas capacidades, assegure a sua subsistência e se alegre com o fruto do seu trabalho. Mas sempre houve e continua a haver, na Igreja, homens e mulheres que vivem voluntariamente pobres e carentes de bens. Deus deu ao homem liberdade e imaginação. O desejo de procurar na vida o seu próprio caminho e percorrê-lo. Mas sempre houve e continua a haver, na Igreja, homens e mulheres que prometem voluntariamente obedecer a um superior ou a uma superiora. Fazem isso porque a palavra de Jesus dirigida aos pescadores do lago de Tiberíades: "Vem, e segue-Me", é para eles mais

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importante que tudo o demais. São homens e mulheres que descobrem a sua felicidade - e se encontram a si mesmos - na ausência de bens e de família, e na obediência a outra pessoa.

Muitos homens e mulheres vivem segundo estas regras. Querem estar disponíveis para Deus, sinal de que Ele está presente no mundo dos homens. Esses homens e mulheres, que se sabem chamados por Deus, agrupam-se em comunidades de vida e serviço. Ao longo da história da Igreja, apareceram - e continuam ainda a aparecer - esses institutos religiosos, quase sempre para responder a uma necessidade do seu tempo: para uns o mais importante são os ofícios divinos e a adoração; outros levam uma vida ritmada pela oração e o trabalho. Outros dedicam-se a ensinar e proclamam o Evangelho; outros ainda, ocupam-se dos pobres, das crianças que ninguém quer, dos doentes, deficientes e moribundos. Distinguimos entre institutos de vida "contemplativa" e institutos de vida "activa". Nos nossos dias, há ainda comunidades chamadas institutos seculares, cujos membros não se distinguem, exteriormente, das pessoas entre as quais vivem.

As ordens e congregações religiosas denominam-se, frequentemente, segundo o nome do seu fundador: São Bento, São Francisco, São Vicente de Paula. Outras, têm o nome referente à sua missão: Filhas da Caridade, Missionárias da Caridade, Irmãos das Escolas Cristãs. Cada instituto segue uma "Regra" que lhe dá uma orientação própria. Mas todos têm em comum a obrigação da pobreza, da castidade e da obediência: três preceitos que marcam uma vida de fidelidade a Jesus. São chamados "conselhos evangélicos". Viver segundo os conselhos evangélicos não é fácil. Quem se decide por eles necessita de anos de provação e exercício antes de se comprometer por um tempo (profissão de "votos temporários") ou para toda a vida (profissão de "votos perpétuos").

Santa Teresa de Jesus diz às suas irmãs: Nada te perturbe, Nada te espante, Tudo passa, Deus não muda.

A paciência tudo alcança; Quem a Deus tem Nada lhe falta: Só Deus basta.

11. A comunhão dos santos

Acreditar na "Santa Igreja Católica" e na "comunhão dos santos" está intimamente ligado. A Igreja é a pátria daqueles que, por meio de Jesus Cristo, participam do que é santo: do sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo, do perdão dos pecados, do amor de Deus pelos homens.

A Igreja comunica a fé; com o pleno poder de Jesus administra os sacramentos e funda assim a "comunhão dos santos".

11.1 Jesus funda a comunidade

Por vezes dizemos: "Uma pessoa sozinha não é nada" ou, referindo-nos à igreja: "Um cristão sozinho, não é nada". Só no interior duma comunidade o homem pode chegar a ser o que realmente é. Só em sociedade pode desenvolver os seus dons, pôr em acção o mais peculiar do seu ser e, deste modo, realizar-se a si mesmo. Sabemos que a comunidade é vital para nós - e no entanto, só com muitas dificuldades aprendemos a viver em sociedade.

Escutando a palavra de Jesus, aprendemos a natureza da comunidade que Ele funda.

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Nesta comunidade, os pequenos são grandes. Jesus toma nos braços as crianças e diz aos adultos: Sede como elas. Jesus escolhe pescadores do lago de Tiberíades para apóstolos e confia-lhes a missão de congregar e dirigir a sua Igreja.

Nesta comunidade todos têm uma oportunidade: Jesus deixa-Se convidar pelos publicanos e come com eles; fala do Reino de Deus com uma mulher. E diz aos pecadores: Deus perdoou-vos. E aos ricos: Dai aos pobres.

Nesta comunidade, os desanimados e os desfavorecidos encontram o que esperam: Jesus cura os doentes e os deficientes; devolve a liberdade aos que estão possuídos e oprimidos pelo mal.

Quando Jesus lavou os pés aos Seus discípulos... disse-lhes: "compreendestes o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se, portanto, Eu, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Eu dei-vos o exemplo para que, assim como vos fiz, vós façais também."

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO 13,12-15

11.2 Aprendizagem da vida comunitária

Nas comunidades cristãs reúnem-se pessoas de todo o género e origem que, na vida quotidiana pouco têm em comum: judeus e pagãos, ricos e pobres, homens e mulheres, comerciantes e lavradores, mestres e artesãos, jovens e idosos, pessoas de êxito e fracassados, sãos e doentes, proprietários de terras e trabalhadores assalariados. Todos partilham o que para eles é importante: a fé em Jesus, a confiança na sua palavra, o lugar à mesa, a esperança na vida que Ele promete aos que O seguem. Quando rezam, fazem-no como Ele lhes ensinou: "Pai Nosso...". Chamam-se uns aos outros "irmãos" e "irmãs".

Esta atitude fraterna não é evidente num mundo que mede o prestígio dum homem ou duma mulher segundo o modo como se impõem aos outros. Os cristãos não recebem automaticamente esta capacidade com o Baptismo. Cada pessoa, no seio da comunidade, pode cometer erros, pecar contra o próximo, falhar. Já as primeiras comunidades tiveram esta experiência. Podemos aprender delas como viver com os nossos erros e as nossas faltas.

A comunidade de Corinto, fundada por São Paulo, é um bom exemplo, pois conhecemos os seus problemas e também as exortações que São Paulo lhe dirigiu. Nessa comunidade, são cristãos, "santos", os que têm conflitos uns com os outros e que levam aos tribunais dos "injustos", ou seja, dos pagãos (1Cor 6,1-11). São Paulo incita-os com firmeza a fazer a paz e a reconciliar-se.

Outros hesitam comprar no mercado a carne destinada a ser imolada aos ídolos ou a comê-la quando são convidados. São Paulo reafirma-os na sua liberdade de cristãos. Mas, ao mesmo tempo, exorta-os a ter em consideração os "débeis" que há no seio da comunidade e a não lhes dar "ocasião de escândalo" (1Cor 8,1-13).

Há também discussões sobre qual dos diversos ministérios no seio da comunidade é o mais agradável a Deus (1Cor 12,12-31). São Paulo resolve este problema recorrendo a uma comparação que demonstra bem o que ele entende por "comunidade". Escreve: sucede com a comunidade o mesmo que com o nosso corpo. Tem diferentes membros: olhos para ver, ouvidos para ouvir, mãos para agarrar, pés para andar. Nenhum membro pode ser substituído por outro na sua função. E quando um membro sofre, é todo o corpo que sofre. Pois o corpo é uma unidade. Acontece o mesmo com a comunidade. Cada um tem a sua função: Um como apóstolo, outro como profeta, o terceiro como médico. É a diversidade de ministérios que edifica a comunidade.

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O que nos une: Somos baptizados em nome do mesmo Deus. Partimos o mesmo pão. Partilhamos a mesma esperança. Respeitamos o mesmo mandamento. Acreditamos na mesma palavra. Celebramos o mesmo Deus único.

11.3 Os santos em Jesus Cristo

"Vós sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa..." (1 Pd 2,9).

Através destes títulos honoríficos, São Pedro exalta a sua comunidade de homens e de mulheres, que se reconhecem pecadores diante de Deus e dos seus semelhantes. Encoraja-os a converterem-se no que Deus quer que sejam.

O povo de Deus não é constituído só por pessoas que vivem contemporaneamente na Igreja visível. Dela fazem parte, também, os mortos que estão ainda a caminho para a comunhão plena com Deus, assim como numerosos bem-aventurados que contemplam Deus face a face.

A Igreja celebra anualmente a comunhão dos Santos na solenidade de Todos os Santos e na Comemoração dos fiéis defuntos (dias 1 e 2 de Novembro, respectivamente).

Senhor, nosso Deus, lembra-Te de todos aqueles que, neste mundo, caminham para Ti: os que não têm nada para dar e os que se entregam a si mesmos; os que estão tristes e os que lhes dizem palavras de esperança; os que estão magoados e não magoam à sua volta; os famintos e aqueles que lhes enchem o prato; os privados de seus direitos e os que se comprometem em seu favor; os que falharam e os que lhes perdoaram. Lembra-Te daqueles que, neste mundo, Caminham para Ti: os Teus santos.

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12. A remissão dos pecados

Nós, os cristãos, confessamos a nossa fé no Espírito Santo, na santa Igreja católica, na comunhão dos santos e na remissão dos pecados. Estas verdades estão intimamente ligadas entre si; cada uma delas faz referência às restantes e todas elas têm a ver com o encargo que o Senhor ressuscitado confiou aos Seus apóstolos quando os enviou em missão: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Todo aquele que acreditar e for baptizado, será salvo; aquele que não acreditar, será condenado" (Mc 16,15-16).

Aquele que sela a sua fé em Jesus Cristo pelo Baptismo, está reconciliado com Deus pela morte de Jesus: os pecados são-lhe perdoados. Por isso o Baptismo é o primeiro sacramento e o mais importante para o perdão dos pecados.

12.1 A missão do Senhor

O Senhor ressuscitado deu aos Seus apóstolos uma missão e pleno poder para administrar o Baptismo aos que crêem e incorporá-los assim na Sua Igreja.

São João atesta, no Seu Evangelho, esta missão. Descreve-a deste modo: na tarde de Páscoa, os discípulos encontravam-se reunidos. Tinham as portas fechadas por medo dos judeus. "Jesus veio e colocou-Se no meio deles e disse-lhes: "A paz esteja convosco!" Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus então disse-lhes de novo: "A paz esteja convosco! Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós". Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ficar-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficar-lhes-ão retidos" (Jo 20,19-23).

Na Igreja, o poder conferido por Jesus aos apóstolos, tem sido transmitido até aos nossos dias: aos bispos e aos sacerdotes. E é bom que assim seja. Porque somos humanos, cometemos falhas e erros. São Paulo descreve isto admiravelmente na Carta aos Romanos: "Eu sou humano e fraco, vendido como escravo ao pecado. Realmente não consigo entender nem mesmo o que faço; pois não faço aquilo que quero, mas aquilo que mais detesto" (Rom 7,14-15). Nós, os baptizados, estaríamos perdidos se não pudéssemos recorrer constantemente ao perdão: no sacramento da Penitência, Jesus concede a reconciliação e o perdão a quem se converte, se arrepende da sua culpa e se confessa.

O cristão pode também obter o perdão dos pecados através de actos práticos de arrependimento, participando na celebração da Eucaristia, pela leitura da Sagrada Escritura, e pela misericórdia de Deus e das pessoas que nos amam.

Como seria o nosso mundo se a palavra "perdão" não existisse? Se o que ela significa não fizesse parte das experiências que cada qual pode fazer? Se já não houvesse mãos estendidas oferecendo a reconciliação? Se aquele que peca tivesse que continuar pecador para sempre? Se toda a gente tivesse de ficar a sós com o seu pecado? Se só existisse a vingança e não o perdão?

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12.2 Eu não te condeno

O evangelista São João fala-nos dos escribas e fariseus que trouxeram uma mulher a Jesus, dizendo-Lhe: "Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante delito de adultério. Ora Moisés, na lei, mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes? Jesus ficou em silêncio. Como eles persistissem em interrogá-l'O, disse-lhes: "Aquele de entre vós que estiver sem pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra". Os acusadores ouvem a resposta e compreendem-na.

Um após outro foram-se embora e Jesus ficou a sós com a mulher. Então perguntou-lhe: "Mulher, onde estão os outros? Ninguém te condenou?" Ela respondeu: "Ninguém, Senhor". Disse-lhe Jesus: "Eu também não te condeno; vai e não voltes a pecar" (Jo 8,1-10).

A história do encontro de Jesus com a mulher adúltera é um exemplo. Jesus não evita os pecadores. Come com eles. Entre os Seus apóstolos há um antigo publicano. E na sua hora suprema Jesus diz ao ladrão que está crucificado à Sua direita: "Em verdade, te digo, hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23,43).

Jesus não culpa ninguém pelas suas falhas. Alivia os que se sentem oprimidos pelo peso das suas faltas e levanta-os. Não procura que os culpados sejam condenados e punidos, mas que, absolvidos, vivam uma vida nova, não esquecendo que Deus os ama. Assim, poderão aceitar-se a si próprios porque Deus os aceita.

Não podemos comprar o perdão nem podemos merecê-lo; ninguém tem direito ao perdão. O perdão, podemos pedi-lo humildemente para nós e para os outros: a bondade de Deus é sem limites. Aquele que recebeu gratuitamente o perdão pode viver com a sua falta e crescer com ela; pode tornar-se bom e misericordioso num mundo que condena e castiga.

12.3 Assim como nós perdoamos

Quando um homem comete uma falta que não pode reparar, facilmente está disposto a pedir perdão. Mas quando lhe é pedido a ele que perdoe ao seu próximo, dificilmente está disposto a renunciar aos seus "direitos". É a isso que Jesus Se refere na parábola seguinte:

Dois homens servem o mesmo senhor. Um deles deve-lhe tanto dinheiro que toda a sua vida não seria suficiente para pagar a dívida. Então este servo vai ter com o senhor suplicando-lhe misericórdia. E o senhor, compadecido, manda-o embora perdoando-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou-se com um dos seus companheiros que lhe deve uma pequena quantia. Agarrando-o pelo pescoço, aperta-o, dizendo: Paga o que me deves. De joelhos, o companheiro suplica-lhe compreensão. Ele, porém, manda-o para a prisão.

Quando o senhor tem conhecimento do que se passou, fica indignado. Convoca o servo impiedoso e manda-o, por sua vez, para a prisão, até que pague toda a dívida.

E Jesus acrescenta: "É assim que vos fará também o meu Pai celeste, se cada um não perdoar ao seu irmão de todo o coração" (cf. Mt 18,23-35).

A parábola não é difícil de compreender. Pelo contrário, é bem mais difícil fazer o que Jesus pede.

Perdoar, não guardar rancor, não se aproveitar da sua superioridade, nem do seu poder sobre os devedores - são atitudes que exigem muito do homem. Vão contra as suas inclinações naturais.

São Pedro queria sabê-lo com exactidão. Pergunta a Jesus: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar ao irmão que me ofende? Sete vezes?" A oferta que São Pedro faz está longe de ser mesquinha. Mas quando ouve a resposta de Jesus, compreende que o perdão requer uma outra medida: "Setenta vezes sete", o que significa: sem conta, cada vez que um irmão necessitar de perdão (Mt 18,21-22).

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Não é certamente por acaso que seja São Pedro a fazer a pergunta e obter a resposta. Uma resposta que compromete. Porque é a Pedro que Jesus confia as chaves do Reino dos Céus, para que tudo o que ele ligar ou desligar (perdoar ou não perdoar) sobre a terra, o seja também no céu, perante de Deus (Mt 16,19).

Ir ao encontro do outro, estender-lhe a mão, dizer a primeira palavra, dar o primeiro passo, aceitar o outro com as suas faltas, fazer triunfar o amor sobre o rancor e a vingança, romper o círculo vicioso da culpabilidade e do castigo, continuar o caminho juntos.

Jesus diz aos seus discípulos: "Sim, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós."

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS 6,14

13. A ressurreição dos mortos e a vida eterna

Há pessoas que morrem em idade avançada depois de uma vida bem preenchida. Mas há também crianças e jovens que morrem de doença, de fome e de frio, de acidentes ou catástrofes. Só Deus sabe quantos morrem devido à indiferença dos que os rodeiam, que não querem partilhar o pão, os medicamentos, as terras e a casa. Ou ainda por causa da violência dos poderosos que preferem fazer a guerra a manter a paz.

Quando os cristãos dizem que crêem na ressurreição dos mortos e na vida eterna, não significa que eles pretendam escapar à morte e ao sofrimento.

Não pretendem consolar os seus semelhantes desfavorecidos e marginalizados, com a esperança duma vida melhor.

Quando os cristãos dizem que crêem na ressurreição dos mortos e na vida eterna, querem dizer: acreditamos que nós - os seres humanos -, a terra e tudo o que nela cresce, tem um futuro melhor. Cremos com fé, que esse futuro será bom. Melhor do que tudo o que podemos imaginar e sonhar. Pois é Deus quem no-lo concederá.

Nós cremos firmemente, e assim o esperamos, que, tal como Cristo ressuscitou dentre os mortos e que vive para sempre, assim também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo Ressuscitado, e que Ele os ressuscitará no último dia. (Catecismo da Igreja Católica 989).

13.1 Ele não é um Deus de mortos

Os livros da Bíblia estão cheios de histórias. As personagens falam dos seus projectos e objectivos. Da sua alegria quando a vida lhes sorri. Da sua tristeza e desilusão quando a desgraça os atinge. Do mal que elas fazem e do mal que suportam. E também da morte que põe termo a tudo quanto projectaram: porque existimos? Para que servem todos os esforços, se todos sabem que hão de morrer? Porque é que a uns se concede uma longa vida, enquanto outros morrem

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antes que a vida tenha realmente começado para eles? O homem é incapaz de encontrar uma resposta válida, para todas estas questões.

As pessoas cuja história nos é contada na Bíblia conhecem os seus limites. Mas experimentam também que, para além desses limites, é possível uma esperança. Sentem que estão abertos a Deus. N'Ele põem a sua esperança. E Deus é fiel para com eles. Em Jesus, mostrou-nos que é mais forte que a morte. Desde a Páscoa da sua ressurreição, Ele consola cada mulher e cada homem que chora junto da sepultura duma irmã ou dum irmão:

Eu sou a ressurreição. Aquele que acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO 11,25

13.2 Como ressuscitarão os mortos?

A nossa linguagem, as nossas palavras, referem-se a este mundo e à sua realidade. Para o mundo e realidade de Deus, as palavras faltam-nos. Os primeiros cristãos já dão conta disto, quando perguntam: como será a ressurreição dos mortos? Que acontece ao corpo que se decompõe na sepultura? Uma pessoa incapacitada, continuará a sê-lo depois de ressuscitar? Quando uma criança morre, tornar-se-á adulta no céu? O que acontece a todos os que morreram e morrem na esperança em Deus e na fé em Jesus Cristo? Onde se encontram eles enquanto esperam que passe a última noite deste tempo e que brilhe o dia de Deus sobre uma nova terra? Perante todas estas questões - e ainda outras - nós não temos melhor resposta do que aquela que São Paulo dirige aos Coríntios:

Nós anunciamos o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, tudo o que Deus preparou para aqueles que O amam.

PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS 2,9

13.3 Os cristãos e a morte

A morte inspira medo aos homens - mesmo àqueles que confiam em Deus. Porque a morte significa despedida e separação. Tudo o que fazia parte da vida de um homem - coisas e pessoas - ficam para trás. Cada um vive a sua própria morte, e de mãos vazias.

Nenhum moribundo deve envergonhar-se do seu medo. Também Jesus, na cruz, chamou o Pai. Todo o moribundo pode clamar com Jesus, quando se aproxima a sua hora. Com Jesus, todo o moribundo pode estar seguro que o Deus de misericórdia transformará todo o medo em júbilo e encherá as suas mãos vazias.

Cremos que, na morte, Deus vem ao nosso encontro. Abrem-se os olhos que a morte fechou. Encontramo-nos diante de Deus: cada um com a sua própria história, o seu amor e a sua culpa. Com tudo o que fez de bem e de mal: por amor de Deus e do próximo ou então em seu detrimento. Cremos que este encontro tem uma importância vital.

Os profetas de Israel e também Jesus falam desta experiência como dum julgamento. Os olhos de Deus penetram-nos até ao mais profundo. Nada podemos esconder-Lhe. Nesse julgamento é pronunciada a sentença: recompensa ou punição, salvação ou condenação, seio de Abraão ou lago de fogo, cânticos de louvor ou choro e ranger de dentes (Mt 8,12), a dança na sala do banquete ou o bater inútil às portas que permanecem fechadas. São imagens impressionantes. São ditas

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aos que estão a caminho, para que se convertam, mudem de vida, se afirmem no amor de Cristo: na fé, na esperança e na caridade.

Para os que crêem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma; e, desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna.

PREFÁCIO DA MISSA DOS DEFUNTOS

A morte marca o fim da vida terrestre, o começo da vida eterna: a alma separa-se do corpo em decomposição. Encontra Deus no juízo particular. No dia de Deus, quando Jesus voltar na sua glória, todos os mortos ressuscitarão, as suas almas unir-se-ão ao corpo "transfigurado".

Juízo: distinguimos entre juízo particular (= pessoal) e juízo final. O juízo particular está ligado à morte, e decide sobre a pertença eterna à comunidade dos eleitos ou da exclusão definitiva desta. A sentença é pronunciada segundo a medida em que cada um viveu a sua vida fazendo a vontade de Deus e acreditando em Jesus Cristo. Esta sentença é definitiva. O juízo final (o do mundo) está ligado ao dia de Deus, o dia em que Jesus virá de novo para instaurar o Reinado de Deus e o seu Reino. Nesse dia todos os mortos ressuscitarão.

Sentença: a sentença ajusta-se à decisão livre do homem durante a sua vida terrestre. Aquele que, deliberada e voluntariamente, se separou de Deus, não tem lugar entre os escolhidos: o seu lugar é entre os excluídos, no "inferno". Aqueles que confessam Deus e Jesus Cristo, mas não estão preparados e não são dignos de O encontrar no momento da Sua morte, é-lhes concedido um tempo de purificação, de espera e de maturação que costumamos designar pela imagem do "purgatório". Esses esperam aí a sua entrada na plenitude da comunhão com Deus. A oração dos fiéis ajuda-os. Aos eleitos é dirigida a palavra de Cristo: "Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino que vos foi preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25,34). Eles vêem Deus tal como Ele é (1 Jn 3,2) e vivem eternamente em comunhão com Ele. Estão no "céu".

13.4 A vida eterna

Viver plenamente, viver para sempre, não num repouso eterno mas numa plenitude inconcebível, não temer nada nem ninguém, nem mesmo a sua própria fraqueza; ser a pessoa que Deus imaginou quando a chamou pelo seu nome. Viver com Deus, celebrar a festa da vida - quem poderá dizer exactamente o que isso será?

Um dos grandes padres da Igreja, Santo Agostinho, escreveu: "Então seremos livres e veremos, veremos e amaremos, amaremos e daremos graças. Eis o que acontecerá no fim, sem fim."

Os profetas de Israel e o vidente São João, o profeta cristão do fim dos tempos, fala-nos, em imagens, do que será esta nova vida para nós. Não fala do céu como um lugar indefinido que existe nalgum lugar acima das nuvens. O céu é onde está Deus, onde as pessoas vivem com Ele como Seu povo. O mundo antigo, carregado de pecado e corrompido pelo homem, desapareceu. Uma nova terra, tal como Deus a quis desde o início, serve de pátria ao homem. Um mundo onde Deus está, sendo a sua luz e vida. Por isso esse mundo não necessita de sol nem de lua. E, na nova Jerusalém, já não há casas de pedra, nem templo onde encontrar Deus. Deus está lá, habitando entre os homens. Uma nova terra, fértil, onde as fontes jorram no deserto, as árvores crescem e dão frutos doze vezes por ano. Um mundo onde nenhum ser vivo ameaça o outro: o lobo habita com o cordeiro; podem viver sem se agredir. A criança mete a mão na cova da víbora sem que ela a morda (Is 11,6-8). Os homens descobrem o que significa uma humanidade feita de plenitude e de integridade: sem doença, sem solidão, sem luto, sem lágrimas, sem ódio, sem inimizade, sem opressão.

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Os olhos dos cegos abrir-se-ão e os ouvidos dos surdos ouvirão. O coxo saltará como o cervo e a língua do mudo cantará canções de alegria (Is 35,5-6). As espadas e as lanças serão supérfluas; far-se-ão com elas arados e foices. Não se pensará mais na guerra. Todos poderão ficar sentados na sua vinha ou debaixo da sua figueira, porque ninguém os incomodará (Miq 4,3-4). O próprio Deus enxugará as lágrimas dos que choram. Sim, tudo o que era, passará.

Verão a sua face, e o seu nome estará escrito sobre as suas frontes.

APOCALIPSE DE SÃO JOÃO 22,4

O Vidente São João escreveu o último livro do Novo Testamento: o "Apocalipse de São João", quer dizer a Revelação. Trata-se de segredos que Deus "revelou" a São João através de visões: o triunfo de Deus e a derrota das forças que Lhe são contrárias; a salvação eterna: a felicidade das pessoas que vivem para sempre com Deus.

14. Amem - Sim, assim seja

A profissão de fé apostólica (Credo) é um dos textos fundamentais da fé cristã. Nasceu nos primeiros séculos da Igreja, quando se quis conservar por escrito o essencial da fé dos cristãos.

Cada frase, cada enunciado, foram formulados de tal modo - muitas vezes depois de longos debates - que os cristãos podem encontrar neles a diferença entre a fé e a heresia.

O Credo ou Símbolo dos Apóstolos é válido para toda a Igreja. Quem é baptizado na Igreja de Jesus Cristo, tem que aderir a ele. Durante a Vigília Pascal, a assembleia dos fiéis renova as promessas do seu Baptismo.

Esta profissão de fé de toda a Igreja deve pronunciá-la e repeti-la cada um conjuntamente e para si mesmo. Não é em vão que ela começa pelas palavras "Eu creio" e termina por "Amem".

Quem diz "Amem" confirma a sua decisão. Amem - sim, assim seja, eu adiro, aceito. Este Evangelho é válido para mim. Agradeço ao Senhor por isto.

Alegrai-vos, porque Jesus morreu na cruz! Amem. Alegrai-vos, porque Ele ressuscitou dos mortos! Amem. Alegrai-vos, porque no Baptismo, Ele lavou-nos dos nossos pecados! Amem. Alegrai-vos, porque Jesus veio libertar-nos! Amem. E alegrai-vos, porque Ele é o Senhor da nossa vida! Amem. Aleluia!

PAPA JOÃO PAULO II

Amem: o termo hebraico exprime a solidez, a fidelidade, a constância. Mas as palavras "fé", "verdade", "fidelidade", também se encontram intimamente relacionadas com ela. Quando cristãos e judeus terminam a sua oração por "Amem", trata-se da resposta pessoal de cada um: Sim, assim seja, aceito firmemente.

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OS CRISTÃOS CELEBRAM: A IGREJA E OS SACRAMENTOS

15. Viver em Cristo: os sacramentos

"Eu estou convosco para sempre até ao fim do mundo": assim prometeu o Ressuscitado aos Seus discípulos. No dia de Pentecostes, apercebem-se do modo como Jesus cumpre a Sua promessa. Entusiasmados, descem a rua e proclamam: Que todos o saibam! Jesus de Nazaré, que foi suspenso numa cruz e morreu, é o Senhor, o Messias. Ressuscitou! Deus exaltou-O e deu-Lhe o lugar de honra à Sua direita. E voltará na sua glória. Acreditai n'Ele e tende confiança no Evangelho que nós vos anunciamos.

Assim vai crescendo a comunidade dos fiéis em toda a parte onde o Evangelho é proclamado como Boa Nova. Constituem-se comunidades. Um novo povo de Deus: a Igreja de Jesus Cristo. Está unida ao seu Senhor como os membros ao corpo, como o ramo à videira. Ele age através dela e nela.

O Senhor destinou a Sua Igreja para dar testemunho - através da Sua presença em favor dos homens e do culto celebrado com eles - de que Deus é bom para com todos e quer oferecer-lhes a salvação. A Igreja, em si, é sinal do amor e da proximidade do Deus escondido. É o sacramento inaugural sobre o qual se fundam todos os sacramentos que ela oferece aos que proclamam e vivem a fé tal como a Igreja a transmite desde a época dos apóstolos.

A Igreja, em Cristo, é como que o sacramento ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano.

CONCÍLIO VATICANO II, LUMEN GENTIUM 1

15.1 Sete sacramentos

A Igreja celebra - como legado sagrado do seu Senhor - sete sacramentos. Estes são ordenados à vida e à fé de cada pessoa. Neles e através deles, Jesus oferece-Se aos homens. Por este dom gratuito, o homem pode estar seguro da sua fé e da sua esperança, do seu ato de amar e ser amado.

Administrar os sacramentos não é unicamente falar da pertença a Deus e da redenção. Os sacramentos são disso sinais eficazes e transmitem verdadeiramente essa pertença a Deus e essa redenção.

Sim, da Sua plenitude todos nós recebemos, graça sobre graça.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO 1,16

Sacramentos: Sinais da salvação que Jesus instituiu na sua igreja. Penhor da sua existência na e com a Igreja. O Baptismo é o fundamento da nossa entrada na Igreja de Jesus Cristo no começo da vida. Pela Confirmação, os jovens são fortalecidos e santificados pelo dom do Espírito. A Eucaristia concede aos fiéis a participação na vida do seu Senhor e faz deles uma comunidade. O sacramento da Penitência oferece ao pecador reconciliação e perdão. O doente recebe da unção esperança e consolação. No sacramento da Ordem, confere-se aos diáconos, sacerdotes e bispos, um serviço particular na Igreja. No sacramento do Matrimónio, os esposos prometem mutuamente amor e fidelidade; a comunidade que eles formam é imagem da comunhão dos crentes instituída por Deus. Os sacramentos são os sinais visíveis da realidade invisível da salvação. Porque são dom de Deus realizam o que significam.

Sacramentais: "A santa mãe Igreja instituiu também os sacramentais. Estes são, à imitação dos sacramentos, sinais sagrados que significam realidades, sobretudo de ordem espiritual, e se obtêm pela oração da Igreja. Por meio deles dispõem-se os homens para a recepção do principal efeito dos sacramentos e santificam as várias circunstâncias da

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vida" (Concílio Vaticano li, Sacrosanctum Concilium 60). A Igreja institui os sacramentais para santificar certos ministérios, certas circunstâncias da vida cristã, assim como o uso de certos objectos. Para isso pronuncia-se uma oração, frequentemente acompanhada dum sinal particular (por exemplo: a imposição das mãos, o sinal da cruz, a aspersão de água benta). Dizemos "consagração" quando se trata de uma pessoa (por exemplo, a abadessa dum mosteiro) ou quando um objecto (altar, igreja, sino) é destinado exclusivamente ao uso litúrgico. Diz-se "bênção" quando os homens (crianças, viajantes, peregrinos) ou coisas (casas, alimentos, automóvel, animais) são confiados à protecção de Deus.

15.2 O Baptismo

A pregação de São Pedro em Jerusalém, no dia de Pentecostes, chega ao coração de muitos ouvintes. Perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: "Que devemos fazer?" E São Pedro responde: "Arrependei-vos e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos pecados; depois recebereis do Pai o dom do Espírito Santo" (At 2,37-38). Mas a nova comunidade de Deus, a Igreja, não cresce apenas entre os judeus.

Nos Actos dos Apóstolos (8,26-40), São Lucas narra a história de Filipe, um dos sete diáconos. Inspirado por Deus, vai pela estrada que conduz a Gaza, encontra um homem importante vindo da Etiópia, que regressa a casa depois de ter ido rezar ao templo de Jerusalém. Nesse momento lê a profecia de Isaías. Filipe ouve o que este estrangeiro lê e pergunta-lhe: "Compreendes o que estás a ler? - "E como poderei eu compreender, diz ele, se ninguém mo explica?" Filipe explica-lhe, então, como a palavra do profeta se realiza em Jesus Cristo: Ele quis reconciliar os homens com Deus, mas foi rejeitado. Aceitou o sofrimento; não Se defendeu contra a morte na cruz. Foi morto como um cordeiro levado ao sacrifício. Mas Deus ressuscitou-O. Ele está vivo e nós somos testemunhas. Ele é o Salvador e Redentor. Aquele que acredita que Jesus é o Messias, o Senhor, e se faz baptizar, torna-se um homem novo, um cristão.

Mais adiante chegam a um lugar onde havia uma fonte de água. O etíope pergunta: "Aqui há água. Que é que impede que eu seja baptizado?" Descem os dois à água e Filipe baptiza-o: "Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Este homem foi o primeiro cristão de África.

O Baptismo é o sacramento comum a todos os cristãos. A Igreja administra-o segundo a missão que o Senhor lhe confiou: "De todos os povos fazei discípulos, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo." (Mt 28,19).

O Baptismo estabelece uma relação pessoal com Jesus. Significa também a inserção na comunidade dos fiéis, a Igreja. Realiza o perdão dos pecados e marca o início duma nova vida como irmão ou irmã de Jesus Cristo, filho ou filha de Deus. Os baptizados rezam: "Pai nosso que estais nos céus".

O Baptismo é um começo, primícias de Deus que é preciso fazer frutificar ao longo de toda a vida: "Sepultados com Cristo no Batismo, estais também ressuscitados com Ele, porque acreditastes na força de Deus que O ressuscitou dos mortos" (Cl 2,12).

Qualquer pessoa pode receber o Baptismo e pode administrá-lo - ainda que ela própria não esteja baptizada -, desde que o faça com a intenção da Igreja. O Baptismo é válido para sempre. Não é possível anulá-lo. Nenhum pecado suprime a aliança selada pelo Baptismo. As pessoas que se fazem baptizarem idade adulta passam por uma fase de aprendizagem da fé. Incorporam-se na Igreja de forma orgânica. Quando os pais e padrinhos trazem uma criança junto à água do Baptismo, querem transmitir-lhe não apenas a vida mas também a fé, e prometem conduzir e acompanhar essa criança no caminho da fé. Durante a Vigília Pascal, os fiéis - adultos e crianças -renovam as promessas baptismais.

Durante a Vigília Pascal, a água baptismal é consagrada: Olhai agora, Senhor, para a Vossa Igreja e dignai-Vos abrir para ela a fonte do Baptismo. Receba esta água, pelo Espírito Santo, a graça do vosso Filho Unigénito,

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para que o homem, criado à Vossa imagem, no sacramento do Baptismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo.

Baptismo: Significa "mergulhar na água", elemento da vida. Quando uma pessoa não baptizada dá a sua vida por Jesus Cristo (martírio), recebe o "baptismo de sangue". Falamos também de "baptismo de desejo" quando os não baptizados que praticam o bem, se comprometem pelo próximo e deste modo - às vezes sem o saberem - seguem a Cristo. Quanto às crianças que morrem sem Baptismo, acreditamos que a misericórdia de Deus as acolhe. O Baptismo administra-se do seguinte modo: o celebrante derrama água três vezes sobre a cabeça do baptizando enquanto diz: "Eu te baptizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".

15.3 A Confirmação

O sacramento da Confirmação é administrado nos nossos dias ainda um pouco como no tempo dos apóstolos. O bispo - ou o seu representante autorizado -estende as mãos sobre o confirmando e invoca para ele o dom do Espírito Santo. Depois impõe a cada um as mãos, chama-o pelo seu nome e diz: "Recebe por este sinal o dom do Espírito Santo." Ao mesmo tempo unge a fronte do confirmando com o santo crisma, marcando-o assim com o sinal do Espírito Santo, a fim de que se conheça a quem pertence, do mesmo modo como se conheciam os servos com a marca do seu Senhor. Os confirmandos renovam as suas promessas baptismais e recitam a profissão de fé da Igreja.

Na Igreja ocidental, a Confirmação é administrada aos jovens como "sacramento da maturidade cristã", dado que, ao serem baptizados em crianças, foram os pais e padrinhos que pronunciaram a profissão de fé. Agora que começam a viver e a agir de forma independente, pronunciam eles próprios o seu "sim" à comunidade de fé que os integrou pelo Baptismo.

Dizem sim a Cristo e proclamam a sua disponibilidade para com Ele, assim como a vontade de não negar a sua fé.

Declaram o seu consentimento para se comprometerem em favor da Igreja e para ajudarem os seus irmãos e irmãs.

Tal como o Baptismo, a Confirmação imprime também à alma um carácter espiritual, um selo indelével; é por isso que não podemos receber este sacramento mais do que uma vez. O dom do Espírito Santo torna aquele que o recebe capaz de converter-se em "sal da terra e luz do mundo" (Mt 5,13-14), de testemunhar Jesus Cristo, através da sua vida e dos seus actos, de tal modo que todos pensem: é um cristão que fala e age como tal.

Cremos no Espírito Santo que nos capacita a viver sem violência, a ir junto dos pobres, a comprometer-nos com os fracos, a servir a Deus. Cremos no Espírito de Jesus Cristo que nos impulsiona a viver como irmãos, a mudar os nossos hábitos, a reparar os prejuízos e a criar a esperança até que todos compreendam que somos filhos e filhas de Deus.

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Confirmação: "A Confirmação completa a graça baptismal; ela é o sacramento que dá o Espírito Santo, para nos enraizar mais profundamente na filiação divina, incorporar-nos mais solidamente em Cristo, tornar mais firme o laço que nos prende à Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da fé cristã pela palavra, acompanhada de obras" (Catecismo da Igreja Católica 1316). Os adultos recebem a Confirmação juntamente com a Eucaristia. Quando o Baptismo é administrado habitualmente às crianças, a Confirmação é administrada na adolescência, como sinal de capacidade de assumir as suas próprias decisões. Na Igreja oriental, a Confirmação tem lugar não muito após o Baptismo, em ligação com .a comunhão.

15.4 A Eucaristia

O sacramento da Eucaristia é o centro e o coração de toda a liturgia da Igreja de Jesus Cristo. Pois é nela que se cumpre - dia após dia, em toda a terra - a missão confiada aos apóstolos por Jesus, na vigília da sua Paixão. Ele disse-lhes: "Fazei isto em memória de Mim". Por isso a nossa celebração está fundada no memorial da última Ceia de Jesus, tal como São Paulo relata no seu testemunho desta sagrada tradição:

Com efeito, eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: "Isto é o meu corpo, que será entregue por vós; fazei isto em memória de Mim". Do mesmo modo, depois da Ceia, tomou também o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de Mim".

PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS 11,23-25

A Igreja - cada paróquia - celebra a Eucaristia como comunidade de louvor e de acção de graças, como comunidade que participa na Santa Ceia e também como comunidade chamada a comprometer-se como sacrifício de Jesus Cristo. Deste modo, faz mais do que conservar unicamente a memória do que Deus fez por nós por meio de Jesus Cristo. Nesta celebração o próprio Cristo está verdadeiramente presente. E nós participando na Eucaristia assumimos a nossa condição cristã.

Partirmos o pão uns para os outros, partilharmos uns com os outros, ouvirmo-nos uns aos outros, aproximarmo-nos uns dos outros, darmos as mãos, abraçarmo-nos mutuamente: fazermos o que Ele nos fez.

A Santa Missa consta de quatro partes: 1) Início da celebração, com a saudação mútua, a preparação penitencial, a litânia do Kyrie, o Glória e a oração de abertura. 2) Durante a liturgia da palavra são lidos três passagens da Bíblia: o primeiro, do Antigo Testamento ou dos Actos dos Apóstolos; o segundo, de uma das epístolas (cartas) apostólicas; o terceiro, dos Evangelhos. O celebrante, tendo recebido o mandato pela Igreja, explica a palavra de Deus a fim de que cada um compreenda como se pode ser cristão, hoje. Ao Domingo e nas celebrações solenes, reza-se o Credo (profissão de fé). Na oração universal, a assembleia apresenta a Deus as necessidades da Igreja e do mundo. 3) Na liturgia eucarística, a assembleia celebra a Ceia do Senhor. Reúne-se à volta do altar. O sacerdote, actuando em nome de Cristo, diz então a oração eucarística. Esta começa pelo prefácio (grande oração de acção de graças) e acaba pelo "Amem" dos fiéis. Em nome de Jesus Cristo e investido de pleno poder no seu ministério, o sacerdote diz e faz o

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que Jesus disse e fez. Assim, consagra os dons que levamos ao altar, pão e vinho, no Corpo e no Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo: este é o mistério da nossa fé.

O sacerdote, tomando o pão, diz: "Tomai, todos, e comei: isto é o Meu Corpo que será entregue por vós".

O sacerdote, tomando o cálice, diz: "Tomai, todos, e bebei: este é o cálice do Meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos, para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de Mim".

Os fiéis recitam a Oração do Senhor (Pai Nosso) e recebem o pão consagrado: o Corpo de Cristo. A comunhão aumenta a nossa união com o Senhor exaltado. Desde agora, participamos no Seu sacrifício: na cruz, Jesus realizou para nós a reconciliação e o perdão dos pecados. Ele mesmo Se oferece e estabelece assim, no seu Sangue, a Nova Aliança. Quem vive nesta Aliança é chamado a viver para Deus e para o seu próximo como o Senhor, a dar-se como Ele. 4) A celebração eucarística termina com a bênção final e a despedida da assembleia.

Senhor Jesus Cristo, Tu és o Pão que vivifica, Tu és o Pão que nos faz irmãos, Tu és o Pão que nos dá o Pai.

Tu és o Caminho que nós escolhemos, Tu és o Caminho que conduz através do sofrimento, Tu és o Caminho que conduz à alegria.

É digno e justo dar-Te graças, louvar-Te, bendizer-Te e adorar-Te em toda a terra.

São João Crisóstomo († 407)

Eucaristia: significa "Acção de Graças". Designa-se assim o conjunto da celebração. Mas aplica-se, também, por oposição à liturgia da Palavra - à segunda parte da Missa com a oração eucarística. Chamamos igualmente Eucaristia, ao pão consagrado que recebemos na Missa e que adoramos a todo o momento. Quando queremos dizer que o sacrifício de Jesus se torna presente na celebração eucarística, falamos de "Santo Sacrifício". O nome de "Santa Missa" está ligado ao fim da celebração, o envio (missio) dos fiéis, a fim de que todos testemunhem Jesus Cristo, na vida quotidiana, onde quer que vivam. Liturgia da Palavra: Nome da primeira parte da celebração eucarística, mas também de outros actos do culto divino, ao longo dos quais é lido e comentado um texto da Sagrada Escritura. Consagração: As palavras de Jesus "Isto é o Meu Corpo, isto é o Meu Sangue", não são simples metáfora ou comparação. Acreditamos que ao longo da celebração eucarística, o pão e o vinho - as nossas ofertas - são transformadas em Corpo e Sangue de nosso Senhor, sem contudo perder o seu aspecto visível. Acreditamos que no sacramento da Eucaristia estão "verdadeiramente contidos, real e substancialmente, o Corpo e o Sangue, juntamente com a alma e a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo" (Concílio de Trento, 1545-1563). É a este mistério da fé que nós fazemos referência quando falamos de "consagração".

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Sacrifício: "O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício Eucarístico do Seu Corpo e do Seu Sangue, para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício da Cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da Sua morte e ressurreição" (Concílio Vaticano li, Sacrosanctum Concilium 47).

15.5 Penitência e Reconciliação

No início de cada celebração eucarística, dizemos todos juntos: "Confesso a Deus todo-poderoso e a vós, irmãos, que pequei muitas vezes por pensamentos e palavras, actos e omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa. E peço à Virgem Maria, aos Anjos e Santos, e a vós, irmãos, que rogueis, por mim a Deus, nosso Senhor."

Rezamos assim porque sabemos que somos humanos. Podemos fazer e pensar o mal. Podemos tornar-nos culpados diante de Deus, dos nossos irmãos, das criaturas que nos são confiadas. Rezamos assim, colocando a nossa confiança no Senhor Jesus Cristo, que diz de Si mesmo: "Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores" (Mt 9,13). Ele começa o seu ministério público pelo mandamento: "Arrependei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo" (Mt 4,17). Aos que se escandalizam por Ele andar com pecadores, responde: "Há mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." (Lc 15,7).

Nestas parábolas, Jesus fala de Deus que ama os homens como um pai ou uma mãe ama o filho ou a filha. O Seu amor não se cansa. Mantém-se mesmo quando as pessoas seguem outro caminho, desprezando as palavras e os mandamentos divinos.

Jesus fala do Pai. Exorta o povo - cada um em particular - a converter-se e a voltar ao Pai, que é lento na cólera e pronto para o perdão. Investido de pleno poder pelo Pai, Jesus oferece aos pecadores reconciliação e perdão: uma nova vida. A sua Igreja, comunidade de irmãos e irmãs de Jesus, é o lugar onde o filho pródigo e a filha perdida, experimentam - quando se arrependem - os braços estendidos do Pai e a Sua alegria de ter reencontrado um irmão ou um filho, uma irmã ou uma filha.

É nesta missão da Igreja que o evangelista São João pensa quando conta que Jesus está entre os apóstolos na tarde de Páscoa, sopra sobre eles o Espírito Santo, e dá-lhes o poder de perdoar os pecados. Também São Mateus pensa neste ministério de reconciliação quando testemunha o que Jesus promete a São Pedro, a pedra fundamental da sua Igreja: "O que ligares na terra ficará ligado nos céus, e o que desligares na terra ficará desligado nos céus" (Mt 16,19).

A remissão dos pecados, que proclamamos no Credo, é possível a cada um de nós, de modo concreto no sacramento da penitência. Cada baptizado pode receber o sacramento da reconciliação por meio dum sacerdote que obteve da Igreja a autoridade para o fazer. Quem, depois do Baptismo, cometeu uma falta grave, deve reconciliar-se com Deus e com a assembleia dos fiéis, antes de poder comungar. Exige-se do pecador que ele reconheça a sua falta tendo a firme resolução de mudar de vida; confesse a sua falta estando disposto a reparar, na medida do possível, a injustiça cometida, e a aceitar a penitência que lhe é imposta pelo confessor.

Em caso de necessidade grave, quando a confissão pessoal dos pecados não é possível, o sacerdote pode dar a um grupo, o perdão e a reconciliação: trata-se da "absolvição geral". Mas cada um está obrigado a fazer, posteriormente e logo que possível, a confissão individual das suas culpas.

A absolvição: Deus, Pai misericórdia, que, pela morte e ressurreição de Seu Filho, reconciliou o mundo consigo e infundiu o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.

Arrependimento: Significa afastar-se do mal e dispor-se decididamente a um novo começo. Quando falamos do sacramento da Penitência, insistimos em que o pecador tem a firme vontade de reparar a sua culpa. Falamos de confissão quando se trata da confissão individual dos pecados; costumamos dizer também sacramento da Reconciliação.

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Perdão: "A confissão individual e integral dos pecados graves, seguida da absolvição, continua a ser o único meio ordinário para a reconciliação com Deus e com a Igreja" (Catecismo da Igreja Católica 1497).

Pecado: "Os pecados devem ser julgados segundo a sua gravidade. Já perceptível na Escritura, a distinção entre pecado mortal e pecado venial, impôs-se na tradição da Igreja. A experiência dos homens corrobora-a" (Catecismo da Igreja Católica 1854). "Para que um pecado seja mortal, requerem-se, em simultâneo, três condições: 'É pecado mortal o que tem por objecto uma matéria grave, é cometido com plena consciência e de propósito deliberado' (Reconciliatio et poenitentia 17)" (Catecismo da Igreja Católica 1857). "Comete-se um pecado venial quando, em matéria leve, não se observa a medida prescrita pela lei moral ou quando, em matéria grave, se desobedece à lei moral, mas sem pleno conhecimento ou sem total consentimento" (Catecismo da Igreja Católica 1862).

15.6 A Unção dos doentes

Quando as pessoas adoecem, a sua vida muda. Com frequência deixam de poder cuidar de si mesmas e dependem da ajuda de outros. Já não podem ir ao encontro dos outros, apenas podem esperar que outros venham ao seu encontro. Deixam de ser "rentáveis". Para alguns já não valem nada para a sociedade. Com frequência caem no isolamento, perdem a coragem e a esperança.

Jesus não evitou os doentes. Fez-lhes ver que Deus os ama. Curou muitos deles. Porque a Sua Igreja não é somente uma comunidade de fé mas também de vida, cada um deve poder sentir que tem nela um irmão, uma irmã: visitar os doentes é uma obra de misericórdia.

Desde o princípio, a Igreja tem uma solicitude muito particular para com os doentes: "Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração feita com fé salvará o doente e o Senhor o restabelecerá e, se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados" (Tg 5,14-15).

Ainda hoje, o sacramento é administrado da mesma maneira. O sacerdote reza pelo doente e com o doente. Unge-lhe a fronte e as mãos com o óleo sagrado.

Por esta santa unção e pela Sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo; para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na Sua bondade, alivie os teus sofrimentos.

Depois da unção, o doente recebe a santa comunhão, o "viático" (pão para o caminho). Quem confia a sua vida a Jesus, quem vive com Jesus, pode ter a certeza de que não será afastado desta comunhão, mesmo em caso de doença ou de perigo de morte. Os fiéis podem apoiar-se no seu Senhor. Ele sabe o que é o sofrimento. Podem pedir-Lhe ajuda. Podem unir o seu próprio sofrimento ao de Jesus - pela vida do mundo.

Porque nenhum de nós vive para si mesmo, e ninguém morre para si mesmo. Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor.

EPÍSTOLA AOS ROMANOS 14,7-8

O sacramento da Unção dos doentes pode ser administrado no hospital ou numa igreja, e várias pessoas podem recebê-lo ao mesmo tempo. Se a doença perdura ou piora, o doente pode receber o sacramento várias vezes.

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15.7 O sacramento da Ordem

A Igreja de Jesus Cristo é uma comunidade de louvor e de acção de graças, de vida e de partilha. A comunidade dos que estão reconciliados com Deus pelo seu Senhor Jesus Cristo. Toda a pessoa baptizada e confirmada participa do sacerdócio de Jesus Cristo. Por isso falamos de "sacerdócio comum" dos crentes. Isto significa que cada um, segundo a sua própria vocação, participa na missão de Jesus Cristo. Cada cristão e cada cristã é testemunha de Jesus Cristo.

A primeira epístola de São Pedro (2,9) recorda a uma comunidade perseguida a sua dignidade: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus, para proclamar as obras maravilhosas d'Aquele que vos chamou das trevas para a Sua luz admirável".

A Igreja, povo de Deus no mundo, vive entre as nações. Como comunidade de fiéis, tem necessidade de mensageiros, pessoas chamadas por vocação, que em nome de Cristo e com o seu amor, mantenham a unidade e velem pela fidelidade comum à fé. O ministério eclesial sacramental tem três níveis: os bispos, os presbíteros e os diáconos. Todos participam no sacerdócio de Jesus Cristo: o seu ministério funda-se n'Ele; são representantes da Igreja. São escolhidos dentre a comunidade dos santos e destinados a servir esta comunidade. Por isso, são ordenados para o seu ministério.

O bispo dirige um distrito eclesiástico chamado "diocese". Na diocese, o bispo é responsável pela proclamação do Evangelho, do culto divino e da solicitude para com os pobres. Como sucessores dos apóstolos, os bispos decidem a quem vão confiar um ministério na Igreja; ordenam diáconos e presbíteros. O primeiro dentre eles é o bispo de Roma, o Papa. Ele é o sucessor de São Pedro, ao qual o Ressuscitado confiou o seu rebanho (Jo 21,15-17).

Assim como São Pedro - ao qual o Senhor concedeu o primado dos apóstolos -permaneceu unido aos outros apóstolos, também o Papa - sucessor de São Pedro - e os bispos - sucessores dos apóstolos - permanecem unidos entre si. Como vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, o Papa é o garante e o fundamento da unidade da Igreja. A comunidade dos bispos não pode exercer a sua autoridade senão em comunhão com o Papa, bispo de Roma. Os bispos que fazem parte do círculo restrito de conselheiros do Papa são designados "cardeais"; são nomeados pelo Papa, tal como os bispos. Estes recebem a ordenação e a autoridade através da unção, da oração e da imposição das mãos efectuadas por outros bispos.

Quando há que resolver conflitos que afectam a Igreja no seu conjunto, o Papa convoca todos os bispos numa assembleia geral. Esta assembleia geral de todos os bispos - ao longo da história da Igreja foram 21 - designa-se por "concílio". As suas decisões são válidas em toda a Igreja. O último concílio teve lugar no Vaticano, de 1962 a 1965. Chama-se "Concílio Vaticano II".

Os presbíteros (chamados vulgarmente sacerdotes ou padres) são ordenados pelo bispo. Investidos do pleno poder de Jesus, guardam e dirigem a comunidade cristã. Proclamam e explicam o Evangelho, presidem à celebração da Eucaristia e administram os sacramentos. No rito da ordenação, o bispo unge-os e impõe-lhes as mãos, antes que o façam todos os outros presbíteros presentes na cerimónia. Os presbíteros recém ordenados prometem, solenemente, obediência ao seu bispo.

Os diáconos, auxiliares dos bispos e dos presbíteros, são também ordenados pelo bispo e destinados ao serviço da diocese e da paróquia.

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Os três ministérios fundamentais da Igreja (o ministério do bispo, do presbítero e do diácono) têm uma longa história que remonta à época dos apóstolos. Jesus escolheu doze homens dentre todos os Seus discípulos e destinou-os a serem testemunhas. Ele próprio os envia a proclamar o Evangelho, a realizar sinais que tornem visíveis a proximidade do Reino de Deus, a baptizar e a reunir o novo povo de Deus dentre todas as nações da terra. Depois do Pentecostes, inspirados pelo Espírito Santo, ensinam primeiro em Jerusalém, depois nas proximidades e, por fim, em todos os países até aos confins da terra. Baptizam todos os que abraçam a fé, impondo-lhes as mãos a fim de receberem o Espírito Santo e fundam comunidades. Constituem "Anciãos" à frente dessas comunidades, transmitindo-lhes o seu ministério pela oração e imposição das mãos. Deste modo estes homens ficam dedicados ao serviço de Deus. Como surgissem conflitos na comunidade de Jerusalém por causa de um grupo, as viúvas de judeu-cristãos de língua grega, que se sentiam pouco atendidas, os apóstolos decidiram instituir auxiliares para esse serviço. São Lucas conta, no capítulo 6 dos Actos dos Apóstolos, como os apóstolos escolheram sete diáconos aos quais impuseram as mãos. Os homens a quem é confiado um ministério na Igreja são submetidos a critérios particulares. Não são a erudição nem a origem que contam. Só conta a fé em Deus, a ligação a Jesus Cristo e o amor pelos homens, em particular pelos pobres. Só aquele que faz sua a palavra de Jesus: "Aquele que quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro entre vós, que seja escravo de todos" (Mc 10,43-44), só esse pode converter-se no intermediário que torna sensível, de modo humano o amor de Deus.

Rezamos assim: Lembrai-Vos, Senhor, da vossa Igreja, dispersa por toda a terra, e tornai-a perfeita na caridade em comunhão com o Papa N., o nosso Bispo N. e todos aqueles que estão ao serviço do vosso povo.

EXTRACTO DA ORAÇÃO EUCARÍSTICA II

Bispo: (em grego: epískopos = "vigilante"). Em união com o Papa, os bispos guardam e dirigem a Igreja e velam por que o Evangelho de Jesus Cristo seja proclamado na sua plenitude. O episcopado - tal como o presbiterado - é reservado a homens celibatários (= não casados). Presbítero: (em grego: presbyteros = "ancião"). A Igreja católica e a igreja ortodoxa crêem que só a ordenação de homens corresponde à vontade de Cristo. Na Igreja latina, os padres são submetidos ao celibato. "Pela virtude do sacramento da Ordem... [os padres] são consagrados para pregar o Evangelho para serem os pastores dos fiéis e para celebrar o culto divino..." (Concílio Vaticano li, Lumen Gentium 28). Diácono: (em grego: diákonos = "servidor"). Os diáconos podem ser homens casados. Não têm poder para celebrar a Eucaristia, nem para perdoar os pecados pelo sacramento da Penitência. Servem os pobres e são os auxiliares do bispo e do padre, nomeadamente na celebração dos divinos mistérios.

15.8 O Matrimónio

Cada criança nasce no seio duma família. O rosto do pai e da mãe representam o que a criança vê em primeiro lugar. No sorriso dos pais, a criança descobre os primeiros traços de humanidade. É pela mão dos pais que ela aprende a andar. Deles aprende a confiar no amor. Um ser humano que é privado desta experiência no início da sua vida, terá dificuldade em confiar nos outros, a acreditar que, no amor, é possível dar e receber.

É amando que o homem se torna plenamente o que ele é. Pois Deus - que é amor - criou-o à sua imagem: homem e mulher (Gn 1,27). Quando um homem e uma mulher se encontram, se amam, já não querem viver um sem o outro; então, prometem fidelidade para toda a vida. Ambos administram mutuamente o sacramento do Matrimónio. E porque não se trata somente do amor destas duas pessoas, mas também do amor de Deus, fazem esta promessa em público, diante do padre que representa a Igreja e das testemunhas. A sua união é selada por um dom mútuo entre ambos: tornam-se "um só

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corpo e uma só alma" encontrando assim a sua plenitude e a felicidade. Do seu amor pode nascer uma nova vida: o homem e a mulher tornam-se pai e mãe. A sua vida dilata-se. Cada criança é um dom de Deus, mas também uma responsabilidade. Por isso é bom que os esposos projectem a sua vida diante de Deus e da sua consciência.

O Matrimónio é uma aliança para toda a vida. Jesus disse: "O que Deus uniu não o separe o homem." (Mc 10,9). Para muitos esta palavra é dura, pois não há garantia de êxito numa relação: as pessoas podem enganar-se, o amor pode acabar perante a doença ou em situações de sofrimento. Pode acontecer que duas pessoas que se amavam, não se compreendam mais. Já não são capazes de dialogar entre si, tornam-se estranhas uma para a outra. Há casamentos que fracassam.

Mas os cristãos devem confiar que, mesmo neste caso, não os abandona o amor de Deus nem da Igreja de Cristo.

O compromisso matrimonial: Eu te recebo por minha esposa (meu esposo) e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida.

O sacramento do Matrimónio: "A unidade, a indissolubilidade e a abertura à fecundidade, são essenciais ao Matrimónio. A poligamia é incompatível com a unidade do Matrimónio; o divórcio separa o que Deus uniu; a recusa da fecundidade desvia a vida conjugal do seu 'dom mais excelente', o filho (Gaudium et Spes 50,1)" (Catecismo da Igreja Católica 1964).

16. Procurai-Me, e vivereis

Já te foi explicado, ó homem, o que é bom, e o que Senhor exige de ti: Praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar humildemente com o teu Deus!

MIQUEIAS 6,8

Escuta, Israel. O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças.

DEUTERONÓMIO 6,4-5

Pois todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai que está nos Céus, esse é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS 12,50

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Dou-vos um mandamento novo: Amai-vos uns aos outros. Assim como Eu vos amei, também vós deveis amar-vos uns aos outros.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO 13,34

16.1 O que é justo, o que é importante?

Toda a pessoa nasce num mundo onde estão em vigor normas bem precisas. As crianças aprendem dos pais e dos mestres - mas também da sua própria experiência - o que é bom e o que é mau, o que é útil ou prejudicial. Aceitam os seus conselhos. Os jovens já não podem nem querem aceitar os princípios formulados previamente por outros. Têm questões próprias e necessitam de respostas próprias.

O baptizado não tem menos questões do que as pessoas que o rodeiam, do que aqueles que nada sabem sobre a Igreja e comunidades de fiéis. Também os cristãos questionam e procuram. Também eles cometem erros e têm de se arrepender deles. Aprendemos, com a vida, não apenas a ser homens, mas também a tornar-nos cristãos.

Os cristãos têm uma vantagem sobre os demais: Jesus Cristo não é só um modelo que viveu em tempos passados. Ele é aqui e agora, um guia seguro em quem podemos confiar. Não Se limita a ensinar só com palavras. Jesus Cristo encarnou, viveu e amou, rezou e confiou. Teve a experiência da infidelidade dos seus amigos: Judas, um dos doze apóstolos, traiu-O, e, quando Jesus foi condenado, os seus companheiros deixaram-n'O só. Mas Ele permanece-lhes fiel, para lá da morte. O Baptismo une-nos a Cristo. Mas esta amizade diminui se cada um de nós não cumpre, com a sua própria vida, o que para Jesus é justo e importante.

Que Deus está próximo, que Ele ama, que Ele olha também os mais pequenos e insignificantes, que Ele nos conhece pelo nosso nome, que Ele ouve as nossas súplicas, que Ele não quer que soframos, que Ele Se alegra com aquele que se converte, - isto no-lo ensinou Ele.

Como podemos viver juntos, como partilhar uns com os outros, como proteger a vida, como perdoar, como preservar a paz, como amar-nos uns aos outros, - isto no-lo ensinou Ele.

Que temos uma razão para a esperança, que temos razão para dar graças, que podemos confiar em Deus, que Ele não nos deixa cair, nem na vida nem na morte, - isto no-lo disse Ele.

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Quem aceita os meus mandamentos e lhes obedece, esse é que Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e manifestar-Me-ei a ele.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO 14,21

16.2 O único mandamento

Nos livros do Antigo Testamento, encontramos muitos mandamentos e preceitos. Neles se diz o que é válido aos olhos de Deus e como podemos viver agradando-Lhe.

Os mestres e os homens piedosos de Israel perguntam: Existirá um mandamento mais importante do que todos os outros, capaz de os conter e no qual todos se baseiam? Podemos dizer duma maneira simples como deve ser o homem e o que deve fazer para obter a vida em Deus, a vida eterna? Os mestres judeus procuram nos livros e encontram tais princípios. A questão é importante para todos. Por isso, não é de estranhar que os mestres judeus queiram saber o que pensa Jesus, o mestre de Nazaré. Jesus reuniu duas frases do Antigo Testamento num só mandamento.

Jesus disse: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o primeiro mandamento e o mais importante. O segundo é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS 22,37-40

O mandamento que Jesus definiu como o fundamento de todos os outros é um programa de vida. Jesus disse: Aquele que, por amor, se compromete contra o ódio e a desconfiança, contra o medo e o desespero, esse é quem serve a Deus e assume a condição humana e suas relações. Trata-se de um amor que abrange todos: Deus, o próximo e nós mesmos.

Aquele que ama não receia o Deus todo-poderoso e justo. É capaz de confiar n'Ele e permanecer-Lhe fiel, mesmo nas situações mais difíceis quando, tal como Job, não compreende os planos de Deus. Pode contar com o amor de Deus mesmo se se extravia como o filho pródigo. O homem que ama a Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma e o seu pensamento, alcança a vida.

Deus amou-nos primeiro: Se pecamos, Tu não nos deixas cair. Se sucumbimos, Tu ajudas-nos a levantar-nos. Se nos convertemos, Tu vens ao nosso encontro. Se duvidamos, Tu dás-nos a Tua palavra. Se a culpa nos esmaga, Tu acolhes-nos nos Teus braços. Se acreditamos,

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Tu deixas-nos sem julgamento. Se morremos, Tu chamas-nos à vida. Por isso, podemos amar-nos uns aos outros.

16.3 Eu sou o Senhor, teu Deus

Os Anciãos de Israel fazem as sua primeiras experiências de vida comunitária - e de vida com Deus - no caminho que os conduz da escravidão do Egipto à liberdade na Terra Prometida.

Sabem que não teriam conseguido empreender este caminho sozinhos. Por isso confessam a sua fé em Deus, que disse de Si mesmo: "Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa da escravidão" (Ex 20,2).

Deus caminha com o Seu povo. Vai à sua frente, mostra-lhe o caminho, protege-o e cuida das suas necessidades. A fé dos antepassados de Israel cresce segundo as experiências feitas: quando o caminho termina nas margens dum mar e todos se desencorajam, Deus fá-los passar o mar sem molhar os pés. Quando sonham, no deserto, com comidas suculentas ao ponto de preferirem o regresso à escravidão, Deus dá-lhes pão e carne - o necessário para cada dia. Faz jorrar, para eles, água fresca do rochedo. Procura a sua confiança. Eles conhecem Aquele que lhes propõe a Aliança e lhes promete um futuro:

Vistes o que fiz aos egípcios, e como vos transportei sobre asas de águia e vos trouxe até Mim. Portanto, se Me obedecerdes e observardes a Minha aliança, sereis Minha propriedade especial entre todos os povos, porque a terra toda Me pertence. Vós sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.

ÊXODO 19,4-6

16.4 Viver para amar a Deus

A lembrança que Israel conserva da aliança de Deus com o Seu povo no deserto no Monte Sinai, é uma tradição santa. As condições desta aliança - os dez mandamentos - escritos sobre duas tábuas de pedra, conservadas na arca da aliança, comprometem Israel para sempre. Com efeito, o povo de Israel compreendeu bem que os mandamentos que Deus lhes deu são fundados no amor. Ele quer que sejamos semelhantes a Ele - a Ele que é amor.

O primeiro mandamento: Não adorarás outro Deus além de Mim. Isto significa: nada nem ninguém será para ti mais importante que Deus. Não confiarás em nada nem em ninguém mais do que n'Ele. Esperarás tudo d'Ele. Acreditarás n'Ele, esperarás n'Ele, ama-l'O-ás e servi-l'O-ás. Só a Ele adorarás.

O segundo mandamento: Não pronunciarás o nome de Deus em vão. Isto significa: respeitar o nome de Deus. Confessá-lo, dar testemunho dele. Não blasfemar. Não invocar a Deus para reforçar a autenticidade dos seus juramentos.

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O terceiro mandamento: Recorda-te do sétimo dia para o santificar. No sétimo dia da criação, Deus descansou e retomou alento (Ex 31,17). No sétimo dia também o homem deve descansar: todos os homens - também os subordinados e os estrangeiros - e mesmo os animais. O mandamento do sétimo dia é particularmente importante para os judeus. Protegem o descanso sabático com numerosas prescrições. Jesus disse-lhes: "O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado" (Mc 2,27). Os cristãos festejam este sétimo dia ao Domingo - dia da ressurreição de Jesus. Um dos mandamentos da Igreja obriga os crentes a participar na celebração eucarística dominical e também nas grandes solenidades anuais. O repouso sabático significa ainda: conceder a si mesmo um descanso. Disponibilizar-se também para os outros. Usar o tempo livre de modo razoável. Não idolatrar o trabalho nem o dinheiro.

O quarto mandamento: Honra teu pai e tua mãe. Isto significa: Amar os pais, reconciliar-se com eles. Não esquecer que lhes devemos a vida e a fé. Respeitar os seus conselhos, ainda que tenhamos opinião diferente. Ser solidário com a sua família. Ajudar quando a ajuda é necessária. Não deixar sós os pais idosos; deixá-los viver a sua própria vida. Ser bom pai e boa mãe para os seus próprios filhos. Ajudar as crianças órfãs e privadas de família.

O quinto mandamento: Não matarás. Isto significa: combater a cólera e a inveja. Não se tornar inimigo do seu próximo. Cuidar da sua própria saúde. Não cair dependente do álcool ou de drogas. Comprometer-se pelo direito fundamental à vida de todas as pessoas - mesmo dos embriões. Protestar quando este direito não é reconhecido. Auxiliar os que estão ameaçados pela fome, por catástrofes, pela doença, pela miséria. Protestar contra a guerra e comprometer-se com a paz.

Os sexto e nono mandamentos: Não cometerás adultério. Não desejarás a mulher do teu próximo. Isto significa: saber que o amor entre um homem e uma mulher se realiza numa união que dura toda a vida. Não é possível amar "à experiência". Exercitar-se na fidelidade, não se ligar irreflectidamente. Agir mutuamente com ternura. Não dominar, submeter nem abusar um do outro. Não seduzir ninguém nem se deixar seduzir. Aceitar-se como rapaz ou rapariga, homem ou mulher. Assumir a sua sexualidade com responsabilidade.

O sétimo e décimo mandamentos: Não roubarás. Não desejarás os bens do teu próximo Isto significa: reconhecer o direito à propriedade. Guardar-se da avidez, da cobiça, da insatisfação e da inveja. Não roubar, não enganar, não emprestar com usura, não ficar com o que encontramos, devolver o que nos foi emprestado, não causar danos nos bens alheios. Não privar uma pessoa do seu salário justo. Não se alegrar com a infelicidade dos outros. Partilhar, ajudar os pobres. Não pôr a sua esperança nos bens materiais. Contribuir para que todos possam viver juntos sem receios.

O oitavo mandamento: Não darás falsos testemunhos contra o teu próximo. Isto significa: Procurar sempre a verdade. Ser digno de confiança nos seus propósitos. Guardar-se da vaidade e do desejo de fazer-se valer. Não distorcer a verdade. Não ferir a honra do seu irmão, não prejudicar a sua reputação com calúnias. Guardar para si os segredos profissionais e as confidências. Não inventar falsos testemunhos no tribunal. Dar testemunho d'Aquele que é a verdade.

São Paulo escreve aos cristãos de Roma: Não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser o amor mútuo. Pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: Não cometerás adultério, não matarás, não roubarás, não cobiçarás, e todos os outros resumem-se nesta sentença: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo. Pois o amor é o pleno cumprimento da Lei.

EPÍSTOLA AOS ROMANOS 13,8-10

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Os cinco mandamentos da Igreja: Por meio de cinco preceitos, a Igreja quer ajudar os cristãos a permanecerem na comunidade:

1) "Ouvir missa inteira e abster-se de trabalhos servis nos domingos e festas de guarda". Exige aos fiéis que participem na celebração eucarística, em que a comunidade cristã se reúne, e se abstenham dos trabalhos e negócios que impeçam o culto, a alegria e o devido repouso do espírito e o do corpo, no dia em que se comemora a Ressurreição do Senhor, e nos principais dias de festa em honra dos mistérios do Senhor, da Virgem Maria e dos Santos, que a Igreja declara como sendo de preceito.

2) "Confessar-se ao menos uma vez em cada ano". Recorda ao fiel a obrigação de confessar os pecados graves e de assegurar a preparação para a Eucaristia, mediante a recepção do sacramento da Reconciliação, que continua a obra de conversão e perdão do Baptismo.

3) "Comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição". Garante um mínimo na recepção do Corpo e Sangue do Senhor, em ligação com as festas pascais, origem e centro da Liturgia cristã.

4) "Guardar a abstinência e jejuar nos dias marcados pela Igreja". Assegura os dias de ascese e de penitência que nos preparam para as festas litúrgicas; o jejum e a abstinência contribuem para nos fazer adquirir o domínio sobre os nossos instintos e a liberdade do coração.

5) "Contribuir para as despesas do culto e para a sustentação do clero, segundo os legítimos usos e costumes e as determinações da Igreja". Aponta aos fiéis a obrigação de, conforme as suas possibilidades, "prover às necessidades da Igreja, de forma que ela possa dispor do necessário para o culto divino, para as obras apostólicas e de caridade e para a honesta sustentação dos seus ministros" (cf. Catecismo da Igreja Católica 2042-2043).

16.5 Escutar e agir

Os mandamentos divinos são igualmente válidos para todas as pessoas. Unem-nos a Deus, protegem o direito do indivíduo e asseguram a paz na comunidade. Toda a pessoa deve orientar-se por eles. Porque os mandamentos de Deus não são um catálogo de regras e de leis impostas do exterior, aos homens, mas antes se ajustam à sua natureza.

Este mandamento que hoje te ordeno não é muito difícil para ti, nem está fora do teu alcance. Ele não está no céu, para que perguntes: "Quem subirá por nós ao céu, para no-lo trazer, a fim de que possamos ouvi-lo e pô-lo em prática?" Também não está no além mar, para que perguntes: "Quem atravessará por nós o mar, para nos trazer este mandamento, a fim de que possamos ouvi-lo e pô-lo em prática?" Sim, esta Palavra está ao teu alcance: está na tua boca e no teu coração, para que a ponhas em prática.

DEUTERONÓMIO 30,11-14

Todas as pessoas sabem, no fundo, o que devem fazer e o que não devem fazer; basta-lhes escutar a voz do seu próprio coração, à qual chamamos consciência. A consciência capacita-nos a todos - adultos e crianças - a distinguir entre o que é bom e o que é mau. É por isso que podemos dizer: tenho a consciência tranquila, agi bem. Ou então: a minha consciência não está tranquila, agi mal. Pela sua consciência, o homem reconhece o que Deus espera dele. Assim, todos estão obrigados a escutar a voz da sua consciência e a segui-la. Quem abafar a voz da consciência, que nos informa sobre o que

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Deus quer, não tomando a sério os seus mandamentos ou por medo se retrai antes de adoptar uma decisão, não compreendeu a Deus: Deus concede aos homens a liberdade para que eles a utilizem bem.

Tu és Deus: Tu podias

impor a Tua vontade, estabelecer a Tua ordem, fazer robôs dos homens

que Te servem.

Tu és Deus: Tu podes escutar

como soletramos balbuciantes os Teus mandamentos e não compreendemos senão com dificuldade o que queres de nós.

Tu podes aguardar até que descubramos a liberdade e no coração da liberdade

te descubramos a Ti.

16.6 ...como a ti mesmo

Muitos dizem: Reconhecem-se os cristãos pelo modo como amam o próximo. É em relação ao próximo que Jesus mede o amor dos seus. Ele disse: "Ama o teu próximo", mas acrescenta: "Como a ti mesmo". Podemos igualmente dizer: Conhecemos os cristãos porque eles amam os irmãos como a si mesmos. Não se contentam em dar esmola ao pobre para se afastar em seguida, conscientes de terem feito uma "boa acção" e de terem assim "observado o mandamento". Não fazem diferença: o próximo tem, a seus olhos, tanto valor como eles próprios. Fala-se mais frequentemente do amor ao próximo do que do amor a si mesmo, se bem que o último seja, depois de Jesus, a condição e a medida do primeiro.

Amar-se a si mesmo é, antes de mais, reconhecer que somos dignos de ser amados. Eu, com todas as minhas qualidades e defeitos, com todos os meus sucessos e fracassos. Eu, homem ou mulher entre muitos outros. Porque é verdade que: os meus pais queriam um filho, Deus quis-me a mim. Com tudo o que faz a minha originalidade e a minha unicidade. E porque Deus me ama tal como eu sou, que eu posso viver com os outros sem sentir inveja e louvando a Deus.

Posso aceitar-me, descobrir os meus talentos e as minhas capacidades, tentar ultrapassar as minhas fraquezas. Posso alegrar-me quando outros me admiram, e também adoptar a atitude correcta perante as repreensões: desenvolver a consciência do meu próprio valor.

Um sábio de Israel exorta os seus contemporâneos: Quem se priva para acumular, junta para os outros. Serão outros que se regalarão com os seus bens. Quem é mau para si mesmo, com quem será bom? Nem sequer aproveita os seus próprios bens. Ninguém é pior do que aquele que se maltrata a si mesmo. Essa é a recompensa da sua própria maldade.

ECLESIÁSTICO 14,4-6

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Aquele que se encontrou a si próprio, pode abrir-se ao seu próximo, não necessita ter medo de que o outro se possa aproveitar dele. Quem se conhece e se estima a si mesmo, pode também conhecer e estimar os outros como seus próximos.

Senhor, Vós conheceis o íntimo do meu ser: sabeis quando me sento e quando me levanto. De longe penetrais o meu pensamento: Vós me vedes quando caminho e quando descanso, Vós observais todos os meus passos.

SALMO 139,1-3

16.7 Fazer o que o próximo necessita

O evangelista São Lucas relata, de modo diferente de São Mateus (22,34-40), o diálogo entre Jesus e um mestre judeu. Em São Lucas é o mestre judeu quem responde à questão de Jesus sobre o duplo mandamento do amor. Jesus concorda: "Respondeste bem. Faz isso e viverás" (Lc 10,28). Mas o doutor da Lei não se sente satisfeito com a resposta. Quer saber tudo mais exactamente e pergunta a Jesus: "E quem é o meu próximo?" Então Jesus conta a história do bom samaritano (Lc 10,30-37).

Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu em poder dos salteadores. Estes, depois de o despojarem e maltratarem, desapareceram deixando-o meio morto. Um sacerdote - um homem que conhecia os mandamentos de Deus - descia pelo mesmo caminho, viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, também um levita que, pela sua profissão conhecia os mandamentos de Deus, vinha por aquele lugar, viu-o mas passou adiante. Contudo, um Samaritano - um daqueles com quem os judeus piedosos não queriam nada porque pensavam que eles não veneravam a Deus de modo conveniente -, tendo chegado perto dele e vendo-o assim, encheu-se de compaixão, tratou-lhe as feridas, montou-o sobre a sua jumenta, levou-o para uma estalagem e pagou para que fosse cuidado.

No fim, Jesus perguntou ao seu interlocutor; "Qual dos três te parece ter sido o próximo daquele que caíra nas mãos dos salteadores?"

O doutor da Lei compreendeu e ficou perturbado. Porque o que Jesus dá por pressuposto e de forma tão evidente, representa bem mais do que aquilo que até então ele tinha pensado. Compreende: eu posso e devo tornar-me o próximo de qualquer pessoa. Não só daqueles que me estimam, familiares e amigos, mas também dos que não conheço. E mesmo dos que não partilham da minha fé. Todos os que encontro pelo caminho podem ser meus próximos - e eu devo tornar-me o próximo de todos os que necessitam de mim. A necessidade do próximo diz-me como agir. E no caso de alguém perguntar: "Até onde deve ir a minha ajuda?", existe uma regra simples: a medida daquele que presta ajuda. Essa pessoa cumpre o mandamento de Jesus, quando auxilia alguém que se encontra em necessidade, como ele próprio gostaria de ser ajudado em circunstâncias semelhantes.

Não enganar o outro, Não lhe mentir, Nem menosprezá-lo, Nem condená-lo, Nem invejá-lo, Nem ignorá-lo: Simplesmente amá-lo.

Considerar o outro, Reconhecê-lo, Aceitá-lo, Admiti-lo na nossa companhia, Respeitá-lo: Simplesmente amá-lo.

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"Ama o teu próximo", diz Jesus. E este amor não significa apenas uma ajuda material. Implica também que digamos a alguém, que está sem esperança e sem confiança em si, que não se ama e está sem forças. Estou certo de que Deus te ama. E porque, para Deus, tu és digno de ser amado, tu tens todas as razões para te amar a ti mesmo.

Quanto a nós, amemos, porque Ele nos amou primeiro. Se alguém diz: "Eu amo a Deus" e, no entanto, odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a que não vê? É este precisamente o mandamento que d'Ele recebemos: quem ama Deus, ame também o seu irmão.

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE SÃO JOÃO 4,19-21

Regra: No livro de Tobias (4,15), encontramos esta frase que designamos por "Regra de ouro": "Não faças a ninguém o que não queres que te façam a ti". De modo afirmativo, São Mateus junta-lhe este princípio - como palavra de Jesus - no Sermão da Montanha: "Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam a vós, fazei-o também a eles" (Mt 7,12).

OS CRISTÃOS REZAM: "PAI NOSSO"

17. A oração do Senhor

Jesus conhece as orações da comunidade judaica. Ele louva, dá graças e reza no seio da assembleia dos fiéis. Ao Sábado, assiste com os Seus discípulos ao culto divino, na sinagoga. Às refeições, canta com eles os salmos de David. Por vezes, afasta-Se para rezar sozinho. Um dia, de manhã cedo, os discípulos encontram-n'O em oração, num lugar deserto (Mc 1,35). Noutra ocasião, Jesus envia os discípulos numa barca para a outra margem do lago enquanto fica a rezar na montanha (Mc 6,46).

Um dos discípulos pergunta a Jesus: "Senhor, ensina-nos a rezar" (Lc 11,1). E Jesus ensina-lhes a oração de todos os cristãos, o Pai Nosso.

O Pai Nosso é exposto no Evangelho de São Lucas (Lc 11,2-4) numa versão abreviada; no de São Mateus (6,9-13) numa versão mais longa. É este texto mais longo que se tornou a oração de todos os cristãos.

17.1 Pai Nosso que estais nos Céus

Jesus, o Filho de Deus, leva consigo até junto de Seu Pai, todos aqueles que, cheios de confiança, se tornaram Seus irmãos e irmãs. Como filhos e filhas de Deus, têm o direito de O invocar através de um nome que exprime a sua pertença e intimidade: Abba, Papá (Paizinho).

Quando dizemos: "Pai Nosso que estais nos Céus", queremos dizer que, por Ele e junto d'Ele, tudo o que significa a palavra "céu" torna-se para nós realidade: felicidade, segurança, paz, vida em plenitude.

A paternidade de Deus estende-se também aos filhos e filhas que vivem experiências desagradáveis com os pais biológicos: que não são amados, mas rejeitados; que não são aprovados, mas censurados; que não são encorajados, mas condenados; que não são libertados, mas oprimidos. Na comunidade dos crentes, estas pessoas descobrem irmãos e irmãs que lhes permitem experimentar aquilo que lhes tinha sido negado.

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Ter um Pai no Céu: Ter Alguém em Quem poder apoiar-se, mesmo quando os pais falhem; Alguém a Quem poder perguntar, mesmo quando as mães não dão resposta; ter Alguém que nos dá irmãos e irmãs, ter Alguém a Quem podemos amar.

Ainda que meu pai e minha mãe me abandonem, o Senhor me acolherá.

SALMO 27,10

17.2 Santificado seja o vosso Nome

Santificar o Nome de Deus não significa que O glorifiquemos só dentro dos muros das igrejas nas orações comuns, que O silenciemos e afastemos de tudo o que tem a ver com o mundo.

Santificar o Nome de Deus significa que O pronunciamos, que Lhe cantamos cânticos e O damos a conhecer.

Que contamos com Ele, quando se trata de assuntos do mundo.

Que manifestamos que o Nome de Deus é mais importante, para nós, do que todos os nomes dos poderosos por quem sentimos muito respeito.

Que O damos a conhecer entre as nações, pois quando o Nome de Deus é santificado, também o nosso é santificado com Ele.

Santificar o Nome de Deus significa: chamar os outros pelo seu nome, tanto os que estão perto como os que estão longe; não precisamos de humilhar o nome do outro receando que o nosso seja esquecido: "Não tenhas medo... chamei-te pelo teu nome: tu és Meu" (Is 43,1).

Nós Te damos graças, Pai santo, pelo teu santo Nome que fizeste habitar em nossos corações, para o conhecimento, a fé e a imortalidade que Tu nos concedeste por meio de Jesus, Teu servo.

DIDAQUÊ (DOUTRINA DOS DOZE APÓSTOLOS, SÉCULOS IIII)

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17.3 Venha a nós o vosso Reino

Os crentes aguardam que o Reino de Deus se faça realidade. Escutam atentamente quando Jesus diz: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1,15).

No povo judeu muitos esperam o começo do Reino de Deus, o Seu Reino. Acreditam que Deus virá, na pessoa do Messias, completar o que eles não podem fazer por si próprios: vencer os inimigos do seu povo, expulsar os romanos do país, e reinar, desde Jerusalém - o centro do mundo - sobre todas as nações, ser um rei poderoso sobre o trono de David. Mas Jesus fala duma outra maneira do Reino de Deus e do Seu Reino: conta histórias através de imagens, parábolas. Ele diz: O Reino de Deus é semelhante a uma semente que o semeador lançou à terra (Mt 13,1-9). É semelhante a um grão de mostarda que se tornou uma árvore (Mt 13,31-32), ao fermento que uma mulher toma e amassa com três medidas de farinha (Mt 13,33), a um tesouro escondido no campo (Mt 13,44).

Jesus diz aos Seus discípulos: vivam de tal maneira que os outros vejam através da vossa fé, da vossa esperança e da vossa caridade, que o Reino de Deus está a crescer. Deixai os vossos cálculos. Só Deus conhece o dia e a hora. Quanto a vós, sede vigilantes a fim de não faltardes à festa de Deus. E suplicai: Venha a nós o vosso Reino!

Jesus diz: Alegrem-se todos os que se sabem pobres diante de Deus: é a eles que pertence o Reino dos Céus. Alegrem-se todos os aflitos: Deus os consolará. Alegrem-se todos os que não recorrem à violência: Deus lhes dará a posse da terra. Alegrem-se todos os que esperam com ardor que a vontade de Deus se faça: Deus realizará os seus sonhos. Alegrem-se todos os misericordiosos: Deus lhes fará misericórdia. Alegrem-se todos os que têm um coração puro: eles verão a Deus. Alegrem-se todos os que trabalham pela paz: Deus aceita-os como seus filhos. Alegrem-se todos os que são perseguidos porque esperam a vontade de Deus: a eles pertence o Reino dos Céus.

CF. EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS 5,1-10

Boa Nova (Evangelho): Esta palavra grega aplica-se ao anúncio da vitória depois duma batalha ou ainda ao anúncio do nascimento duma criança de família real. Em relação a Jesus, significa a mensagem que Ele entrega e os sinais que realiza.

17.4 Seja feita a vossa vontade

Porque Deus é Rei e Senhor, porque o seu Reino é uma realidade para todos os homens, perguntamos: Que quer Deus? Que quer Deus de mim? Porque no mundo onde vivemos, nas nossas sociedades, é a vontade do homem que conta: a vontade do pai e da mãe, dos professores e dos superiores, dos legisladores e dos que exercem repressão para que as leis se imponham. Mas ninguém pergunta se o que eles fazem seguindo a sua vontade é também a vontade de Deus.

Porque a nossa vontade se opõe à de Deus, porque queremos fazer valer o nosso nome, porque queremos construir o nosso próprio reino, porque não queremos partilhar o nosso pão, porque não queremos aceitar-nos a nós mesmos, porque vivemos em oposição uns aos outros, porque não queremos confiarem Deus - é esta a razão por que somos culpados.

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Ergamos os olhos a Maria, que disse "Fiat" (sim) quando o anjo a visitou. E para Jesus, que disse de Si próprio: "O meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e realizar a sua obra" (Jo 4,34). Sabemos também que Jesus rezou no jardim de Getsémani, na noite antes da sua morte: "Pai, se é da Tua vontade, afasta de Mim este cálice! Contudo, que não se faça a Minha vontade, mas a Tua!" (Lc 22,42). No dia seguinte, Jesus é crucificado. Os homens fizeram d'Ele o que quiseram. Mas Deus não O abandonou. Ressuscitou dos mortos o seu Filho. Jesus é o penhor da nossa esperança. Podemos apoiar-nos n'Ele quando a desgraça nos bate à porta.

Deus não quer que uma criança nasça sem mãos, que os jovens se tornem tóxicodependentes que se viva à custa de outro, que os doentes estejam sós que as pessoas idosas não contem para nada na sociedade que as doenças sejam incuráveis...

Onde quer que uma pessoa estende a mão a outra, partilha as suas vestes, assiste os doentes, protesta contra a injustiça, a vontade de Deus é feita.

A vontade de Deus está na nossa confiança na Sua presença em nós mesmos no meio do sofrimento, no seu auxílio mesmo quando não o compreendemos. A sua vontade é que haja paz na terra e vida para todos os homens. Sentimos a vontade de Deus na nostalgia que nos dá alento, no amor aos nossos semelhantes e na esperança que não nos permite duvidar. Sentimos também a vontade de Deus nas perguntas para as quais não temos respostas.

Fazer: a sua própria vontade, a vontade do pai, a vontade da mãe, a vontade dos legisladores, a vontade dos poderosos... Faz crescer a Tua vontade em nós a fim de que encontremos o nosso próprio caminho. Impõe-nos a Tua vontade para que todos encontremos o caminho nos leva a Ti.

17.5 O pão nosso de cada dia nos dai hoje

Na segunda parte do Pai Nosso, pedimos ao Pai que Ele nos dê o necessário para o nosso sustento: o pão nosso de cada dia nos dai hoje.

Outrora, no deserto, os antepassados fizeram a experiência do pão dado por Deus e do modo como o dá. Tal como o orvalho da manhã, assim caiu do céu o maná cobrindo a terra. O suficiente para saciar o homem. Cada um podia apanhar o que necessitava: uns mais, outros menos. Mas

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aqueles que faziam reservas porque não confiavam em Deus, esses viam o seu pão estragar-se.

Deus dá-nos a sua palavra. Dá-nos o seu pão. Dá-nos Jesus, seu Filho. Na Eucaristia, Ele próprio Se torna nosso pão quotidiano. Quando pedimos a Deus o nosso pão de cada dia, referimo-nos a tudo o que necessitamos para viver: o pão e a água, o calor e o lar, o trabalho e a comunidade, a sua bênção. Deus dá-nos a terra sobre a qual cresce o trigo e o arroz, a mandioca e o milho: o "fruto da terra e do trabalho dos homens" a fim de que partilhemos com os que têm fome.

Hoje, dá-nos o pão do qual temos necessidade: alguém, uma palavra, um sinal, uma canção, a fim de chegarmos a ser aquilo que os outros necessitam, hoje.

Rezamos assim: Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos da Vossa bondade, fruto da terra e do trabalho do homem, que hoje Vos apresentamos e que para nós se vai tornar Pão da vida. Bendito seja Deus para sempre.

ORAÇÃO PARA A PREPARAÇÃO DOS DONS

17.6 Perdoai-nos as nossas ofensas

A quinta petição do Pai Nosso consta de duas partes: uma súplica e uma promessa.

A súplica "Perdoai-nos as nossas ofensas" é uma oração comum a todos os homens pois não existe um só que não tenha cometido faltas. Ofendemos a Deus quando não respeitamos a sua Palavra, quando não nos preocupamos com a sua vontade. Quando pensamos que poderíamos viver sem Ele e contra Ele. Quando construímos o nosso próprio reino. Tornamo-nos culpados quando não confiamos n'Aquele que nos dá o seu Filho amado, Jesus Cristo, que Se fez homem, a fim de chegarmos a Deus. Jesus é para todos e para sempre o penhor do amor e da ternura

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do Pai pelos homens. Ele, que conhece o Pai como ninguém, diz-nos como Deus perdoa. Tornamo-nos culpados com o nosso próximo quando não partilhamos o nosso pão, quando não vivemos uns para os outros, mas uns contra os outros. Quando nos ofendemos mutuamente, nos rebaixamos uns aos outros, quando mentimos.

A promessa "assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido", está em consonância com a petição e vai ao encontro do nosso ser natural. Saber sofrer a injustiça é bem mais difícil do que cometê-la. Aquele que é ultrajado, traído, enganado ou explorado, pensa na vingança: Vais me pagar! Hei de pagar-te com a mesma moeda! Hás de saber quem eu sou! Não te perdoarei nunca! Já não te conheço... Nesse momento, os amigos passam a inimigos, os íntimos a estranhos.

Todos nós ficamos presos numa engrenagem de injustiça e de culpabilidade, se pensarmos que a vingança é a única reacção possível à injustiça recebida. Jesus mostra-nos que é possível romper essa engrenagem: podemos fazer com que o amor seja mais forte que a ofensa e a ira; podemos dialogar com aquele que cometeu uma injustiça connosco, podemos dar-lhe uma oportunidade e também a nós próprios.

Jesus diz-nos como o perdão é importante: Portanto, se ao levares a tua oferenda ao altar, aí te lembrares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa aí a tua oferenda diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois volta para apresentar então a tua oferenda.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS 5,23-24

Perdoa as nossas ofensas, como nós perdoamos a quem nos ofende. Vem ao nosso encontro como nós vamos ao encontro dos outros. Dá-nos a mão, como nós damos a mão uns aos outros. Não contes as nossas faltas como nós não contamos as dos outros. Tem paciência connosco como nós a temos também com os outros. Dá-nos ainda uma oportunidade como nós a damos também aos outros. Não nos deixes cair em tentação como nós nos apoiamos uns aos outros. Livra-nos do mal para que todos juntos possamos louvar-Te.

Não podemos dizer sinceramente a oração que Jesus nos ensinou, enquanto cada um de nós não perdoar ao outro, de todo o coração.

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17.7 Não nos deixeis cair em tentação

Deus concede aos homens a liberdade - e com ela, a capacidade de assumir as decisões pessoais - para uma vida feita de confiança em Deus, na sua Palavra e nos seus mandamentos, ou então, para uma vida sem Deus.

A dúvida pode surgir no nosso coração: Deus não me ama, não me vê, não Se preocupa comigo. O tentador trata de nos seduzir: Porque te agarras a Deus? Ele não te dá nada. Sem Ele irás muito mais longe, terás uma vida mais fácil, à vontade...

A história da sedução, do amor traído, começa com o primeiro homem.

A tentação significa: ser posto à prova, fazer uma experiência que ameaça o meu equilíbrio, que exige a minha decisão. "Caímos" em tentação. Na tentação é a minha liberdade que está em jogo. Trata-se de mim e do meu Deus.

Quem quiser vencer na tentação, terá de apoiar-se em Jesus. Ele permaneceu fiel ao Pai - e não em vão. Podemos estar seguros de que o Deus fiel nos concederá, na tentação, o modo para sair dela e a força para a suportar (1Cor 10,13).

Quando pedimos a Deus que nos preserve e fortaleça na tentação, devemos estar próximos uns dos outros, apoiar-nos e assistir-nos mutuamente. E devemos velar para que ninguém tente o outro, não o faça tropeçar. Quando alguém está só e débil, facilmente pode cair. Quando muitos estão juntos na fé, são capazes - com a ajuda de Deus - de resistir, com firmeza, aos poderes do mal.

Não dirijas os meus passos para o poder do pecado e não me leves ao poder da culpa nem da tentação nem do caduco.

EXTRACTO DA ORAÇÃO JUDAICA DA TARDE

17.8 Mas livrai-nos do mal

O mal está presente em toda a parte - não é preciso procurá-lo. As catástrofes naturais, os tremores de terra, as inundações, os acidentes de vária ordem destroem a vida de muitas pessoas. As vítimas perguntam: "Porquê? Que fiz eu para merecer isto?" Com frequência os homens fazem mal uns aos outros. Não podemos confiar uns nos outros.

Quando suplicamos "Livrai-nos do mal", apresentamos toda a miséria do mundo ao Pai celeste. Pensamos nas catástrofes que nos ameaçam, mas também no mal em que nos vemos implicados - sem que nos tenham consultado - ou no qual implicamos outros. Pensamos nos regulamentos e leis feitos de modo a que as guerras não acabem, que os poderosos o sejam cada vez mais, os ricos cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres e os que dependem, cada vez mais dependentes.

Como cristãos, nós não acreditamos unicamente no "Mal", mas também no "Maligno". A tradição da fé cristã afirma: isto é obra do maligno, o inimigo de Deus, o Diabo. Ele é também inimigo do homem. Ele quer separar-nos de Deus. Seduz-nos e engana-nos para nos pôr do seu lado. Quer afastar-nos da vontade de Deus e conquistar-nos com o seu plano de ódio e inveja; afastar-nos do caminho que conduz à vida, ao seguimento de Jesus para nos levar por um caminho que nos leva à perdição. O mistério obscuro das forças do Mal faz-nos sofrer. Mas nós acreditamos que o Deus de Jesus Cristo é mais forte que todos os poderes do Mal no mundo. Quem se apoia em Deus pode viver sem medo, confiando n'Aquele que venceu o Mal. No último dia, o Senhor voltará - e com Ele, o novo mundo de Deus, no qual Deus será tudo em todos.

Rezamos assim em cada celebração eucarística: "Livrai-nos de todo o mal, Senhor, e dai ao mundo a paz em nossos dias,

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para que, ajudados pela Vossa misericórdia, sejamos livres do pecado e de toda a perturbação, enquanto esperamos a vinda gloriosa de Jesus Cristo nosso Salvador.

17.9 Nós Vos louvamos, nós Vos bendizemos, nós Vos damos graças!

É legítimo dirigir súplicas a Deus porque Ele nos atende com amor. Podemos pedir porque Ele tem o poder de dar o que nós necessitamos. Ele é senhor da sua criação e toda a vida é criada para O louvar. Quem acredita que Deus é amigo dos homens, que Ele está próximo das suas criaturas em tudo o que lhes acontece, sente que é bom pertencer a Deus, dar-Lhe graças e cantar seus louvores.

E ouvi todas as criaturas do Céu, da terra, de debaixo da terra, e do mar, e todos os seres vivos, proclamarem: "O louvor, a honra, a glória e o poder pertencem Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro pelos séculos dos séculos!"

APOCALIPSE DE SÃO JOÃO 5,13

Desde os primeiros tempos da Igreja, o Pai Nosso termina com o louvor da assembleia:

VOSSO É O REINO E O PODER E A GLÓRIA PARA SEMPRE AMEN!