14
O relato da companheira de sequestro de Ingrid Betancourt nos seis anos de cativeiro, sua gravidez, seu filho e a luta para fugir da guerrilha colombiana

Eu, prisioneira das FARC

Embed Size (px)

DESCRIPTION

De Clara Rojas

Citation preview

Page 1: Eu, prisioneira das FARC

3530330058879

O relato da companheira

de sequestro de Ingrid Betancourt

nos seis anos de cativeiro,

sua gravidez, seu filho

e a luta para fugir

da guerrilha colombiana

Acompanhadas apenas de um motorista, um cinegrafista e um jor-nalista francês, Clara Rojas e Ingrid Betancourt seguiam por uma estrada cada vez mais solitária; viam passar no céu um bando de pássaros bran-cos e outro de pássaros pretos, como se fosse um presságio do que as espe-rava um pouco mais adiante. Durante uma visita à cidade de San Vicente del Caguán, a diretora da campanha do Partido Verde Oxigênio e a candi- data à presidência foram sequestradas pelas Farc (Forças Armadas Revolu- cionárias da Colômbia).

Para Clara, era o começo de seis anos de martírio na selva. Entre marchas forçadas, tempestades, lama, cobras e insetos, ela descobriu a falta de compa-nheirismo de Ingrid, inclusive quando esta demonstrou inexplicável frieza ao saber da notícia da gravidez da amiga. E aí está um ponto alto do livro: o parto dramático de Emmanuel, que durou horas e se deu à luz de uma lâmpada de 100 watts. Ajudada pela fé em Deus e pelas mensagens da família trans-mitidas via rádio, Clara afirma que “um sequestrado tem duas opções: deixar-se morrer ou lutar por sua vida. Quando se opta por sobreviver e se des-cartam a morte e a loucura, é preciso trabalhar diariamente sem esmore-cer para conseguir”. Além de conter

detalhes impressionantes da condição dos presos e do relacionamento com os guerrilheiros, este relato, por trazer ao público o que se passa no coração de uma refém desde o momento do sequestro até o aguardado dia da liber- dade, pode ser considerado mais que um livro místico e pungente, mas uma obra sobre o amor.

Sobre a autoraNascida em 1963, em Bogotá,

Clara Rojas, advogada de direito comer- cial, foi professora universitária e era diretora da campanha de Ingrid Betancourt pelo Partido Verde Oxigê- nio para presidente da Colômbia em 2002, antes de ser sequestrada pelas Farc. Vive hoje com o filho Emmanuel na capital colombiana.

www.euprisioneiradasfarc.com.br

“E essas noites, uma após a outra, durante seis anos de cativeiro, pareciam-me eternas e chegaram a somar milhares de horas de medo, solidão,

confusão e tristeza. É algo simplesmente indescritível. E ainda mais duro de suportar,

se é que isso é possível, porque permanecíamos muito tempo em vigília, por causa do medo dos animais, de um enfrentamento militar,

da chuva ou do vento. Ou simplesmente pela angústia existencial que cada um de nós sentia.”

Este livro conta o drama de Clara Rojas, sequestrada pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) com a amiga e candidata a presidente

Ingrid Betancourt. É um relato em primeira pessoa, comovente, que revela o pesadelo do cativeiro na selva colombiana, local mais improvável

para que Clara tivesse o momento mais especial de sua vida: o nascimento do filho Emmanuel.

capaPrisioneira final.indd 1 18/8/2009 10:25:56

Page 2: Eu, prisioneira das FARC

Eu,

prisioneira

das Farc

Miolo CATIVA.indd 1 18/8/2009 13:35:19

Page 3: Eu, prisioneira das FARC

Miolo CATIVA.indd 2 18/8/2009 13:35:19

Page 4: Eu, prisioneira das FARC

C L A R A R O J A S

TraduçãoSandra Martha Dolinsky

Eu, prisioneira das Farc

O relato da companheira de sequestro de Ingrid Betancourt

nos seis anos de cativeiro, sua gravidez, seu "lho e a luta

para fugir da guerrilha colombiana

Miolo CATIVA.indd 3 18/8/2009 13:35:19

Page 5: Eu, prisioneira das FARC

© 2009 by Plon

Todos os direitos reservados à Ediouro Publicações Ltda.

DIRETOR: Edaury Cruz

PRODUTORA EDITORIAL: Marcia Batista

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO: Adriane Gozzo | AAG Serviços Editoriais

PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS: Tereza Gouveia | Nave das Letras

REVISÃO: Rodrigo Fragelli

PROJETO GRÁFICO, EDITORAÇÃO ELETRÔNICA E CAPA: Ana Dobón | AT Studio

IMAGEM DE CAPA: Latinstock

PRODUÇÃO GRÁFICA: Jaqueline Lavor Ronca

O texto deste livro segue o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor desde 1º/1/2009.

Ediouro Publicações Ltda.R. Nova Jerusalém, 345 – BonsucessoRio de Janeiro – RJ – CEP: 21042-235Tel.: (21) 3882-8200 – Fax: (21) 3882-8212/[email protected]

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

R645c Rojas, Clara, 1964- Eu, prisioneira das Farc: o relato da companheira de sequestro de Ingrid

Betancourt nos seis anos de cativeiro, sua gravidez, seu filho e a luta para fugir da guerrilha colombiana / Clara Rojas; tradução Sandra Martha Dolinsky. – Rio de Janeiro: Ediouro, 2009.

Tradução de: Cautiva ISBN 978-85-00-33035-3 1. Rojas, Clara, 1964- – Sequestro, 2002. I. Título.

09-3745. CDD: 364.15409861 CDU: 343.432(861)

Miolo CATIVA.indd 4 18/8/2009 13:35:19

Page 6: Eu, prisioneira das FARC

Agradeço

a Isabel García-Zarza

pela ajuda na

redação desta obra.

Miolo CATIVA.indd 5 18/8/2009 13:35:19

Page 7: Eu, prisioneira das FARC

NOTA AO LEITOR Todas as notas do editor (N. do E.) que aparecem ao longo do livro referem-se à 1a edição, publicada originalmente pela editora Norma, com sede na Colômbia.

Miolo CATIVA.indd 6 18/8/2009 13:35:19

Page 8: Eu, prisioneira das FARC

S U M Á R I O

1. Em liberdade .................................................................. 92. Minha mãe ................................................................... 11

3. O dia anterior ................................................................ 13 4. O dia ............................................................................ 19 5. O dia seguinte .............................................................. 35

6. A selva .......................................................................... 41 7. A noite ....................................................................... 49 8. Os guerrilheiros ........................................................... 51 9. O pudor ....................................................................... 59 10. A amizade .................................................................. 61 11. A fuga ......................................................................... 65

12. O desencontro ........................................................... 7513. A solidão .................................................................... 7914. O jejum ...................................................................... 8315. A fé ............................................................................. 8716. Incerteza e ansiedade ................................................... 9317. Os passatempos .......................................................... 10318. A maternidade ............................................................ 10919. Emmanuel .................................................................. 12120. Com um bebê no acampamento ................................ 135

21. A marcha .................................................................... 143 22. O Natal ....................................................................... 151 23. A grande separação .................................................... 155

24. A espera ...................................................................... 15925. Rumores de liberdade ............................................ 16526. A caminho da liberdade .............................................. 17327. Operação Emmanuel ................................................. 18128. O reencontro ............................................................. 19129. A readaptação ............................................................ 19930. O tempo que não voltará ........................................... 20331. O perdão .................................................................... 20532. O amanhã ................................................................... 207

Miolo CATIVA.indd 7 18/8/2009 13:35:19

Page 9: Eu, prisioneira das FARC

Miolo CATIVA.indd 8 18/8/2009 13:35:19

Page 10: Eu, prisioneira das FARC

CAPÍTULO 1

Em liberdade

22 de julho de 2008.

Faz quase seis meses que estou livre. E ainda há vezes em que me

sinto em um sonho. A cada manhã acordo muito cedo com o cantar

dos passarinhos. Na savana de Bogotá onde moro o ar é frio, desfruto a

paisagem das montanhas de minha janela e não há manhã em que não

agradeça a Deus por estar viva. Todo dia é a primeira coisa que faço ao

abrir os olhos. Sim, agradecer a bênção que me concedeu de reencon-

trar minha mãe, meu filho Emmanuel, minha família e meus amigos,

todos aqueles que mais amo. Sinto-me feliz por finalmente o sequestro,

a retenção forçada, o cativeiro, tudo ter ficado para trás... por tudo

isso ser apenas uma lembrança. E agora que minha vida recuperou a

normalidade com a companhia e o afeto dos meus, parece incrível que

há bem pouco, quando estava apodrecendo na selva, tenha podido me

sentir esquecida e sozinha.

Miolo CATIVA.indd 9 18/8/2009 13:35:19

Page 11: Eu, prisioneira das FARC

10

C L A R A R O J A S

Muitas pessoas me perguntam se mudei ou se continuo sendo a

Clara de antes do sequestro. Eu digo que sim, que em parte continuo

sendo a mesma, só que com uma cicatriz no ventre e uma marca bem

funda no pensamento e no coração, que espero conseguir apagar com

o passar dos anos. Às vezes me assaltam sentimentos de melancolia,

mas, felizmente, tenho meu filho Emmanuel a meu lado. É natural

que teria preferido que não me houvessem roubado esses seis anos de

vida. Mas estou viva. Viva para contar. Cada um conta como se saiu

na guerra, e nesta eu sou mais um soldado. E esta é minha história.

Escrevo-a das profundezas do meu coração, por várias razões; em

primeiro lugar, sempre sonhei em escrever um livro. Já escrevi vários

sobre temas acadêmicos e profissionais, mas esta é a oportunidade

de abrir meu coração e minha alma e incursionar por um campo que

desde sempre amei: o mundo das letras. Também quis publicar meu

testemunho para que fique para meu filho e para as novas gerações

que ele representa, porque desejo um país em que primem a reconci-

liação, o perdão, a tolerância, o crescimento e a paz. E, por último,

para aproximar o leitor de minha experiência e fazê-lo compreender

as dificuldades que sofri e superei, e, em suma, para que a leitura deste

livro semeie uma inquietude em seu coração.

Miolo CATIVA.indd 10 18/8/2009 13:35:19

Page 12: Eu, prisioneira das FARC

CAPÍTULO 2

Minha mãe

Em minha vida recebi muitas bênçãos, mas minha mãe é,

sem dúvida, uma das maiores. Como não agradecer a Deus por sua

existência, prudência, perseverança, sabedoria, energia e imensa ge-

nerosidade?

Parece que foi ontem que eu chorava na selva, agarrada à malha

da cerca para exigir que me soltassem. Ansiava estar perto de minha

mãezinha, sentia saudades dela e a intuía extenuada, angustiada e

necessitada de minha presença.

Deviam ser os primeiros dias do mês de maio de 2006, por vol-

ta das seis da tarde, e já começava a escurecer quando, de repente,

apareceu o comandante que nos mantinha cativos e mandou chamar

a todos. Dirigiu-se a mim com uma revista nas mãos e disse: “Veja,

aí está sua mãe, para que veja que está bem, e para ver se assim para

de se agarrar à cerca. Já estamos de saco cheio de seus chiliques”. E

entregou-me a revista Semana, onde, de fato, minha mãe aparecia na

Miolo CATIVA.indd 11 18/8/2009 13:35:19

Page 13: Eu, prisioneira das FARC

12

C L A R A R O J A S

capa com a manchete: “Se minha filha teve um filho na selva, quero

tê-lo em meus braços”. Entrei em meu mosquiteiro imediatamente,

chorando de emoção; acho que nem sequer agradeci pela revista.

Pouco depois, aproximou-se um colega de cativeiro para exigir que a

lesse rápido porque era para todos, e devia ser devolvida. E cheguei

até a ouvir alguma palavra de contrariedade de outro. Não conseguia

entender que ninguém mais pudesse se interessar por esse artigo e

que não me deixassem em paz. O que eu queria era ficar sozinha com

minha mãe. Na foto parecia esgotada, mas linda. O companheiro que

pedia a revista deu-me um pedacinho de vela e me emprestou seus

óculos para que a contemplasse bem. Não me restou mais remédio

que ler para ele em voz alta, mas houve quem se queixasse e me pe-

disse para baixar a voz porque não os deixava ouvir o rádio.

O artigo falava dos primeiros indícios que havia sobre a existên-

cia de seu suposto neto. Alegrou-me muito sua resposta generosa,

sem rodeios, que dizia: “Aconteça o que acontecer, eu espero os dois

aqui para abraçá-los”. E mais que cumpriu sua palavra. Foi ela a pri-

meira pessoa conhecida que vi no aeroporto de Caracas quando um

avião me devolveu à liberdade. Foi ela quem me acompanhou para

buscar meu filho no dia em que voltei à Colômbia. E é ela quem hoje

nos acompanha diariamente em nossa nova vida.

Obrigada, mãezinha minha, por existir, por ser exemplo de bon-

dade e de dignidade nos momentos de profunda dor.

Miolo CATIVA.indd 12 18/8/2009 13:35:19

Page 14: Eu, prisioneira das FARC

3530330058879

O relato da companheira

de sequestro de Ingrid Betancourt

nos seis anos de cativeiro,

sua gravidez, seu filho

e a luta para fugir

da guerrilha colombiana

Acompanhadas apenas de um motorista, um cinegrafista e um jor-nalista francês, Clara Rojas e Ingrid Betancourt seguiam por uma estrada cada vez mais solitária; viam passar no céu um bando de pássaros bran-cos e outro de pássaros pretos, como se fosse um presságio do que as espe-rava um pouco mais adiante. Durante uma visita à cidade de San Vicente del Caguán, a diretora da campanha do Partido Verde Oxigênio e a candi- data à presidência foram sequestradas pelas Farc (Forças Armadas Revolu- cionárias da Colômbia).

Para Clara, era o começo de seis anos de martírio na selva. Entre marchas forçadas, tempestades, lama, cobras e insetos, ela descobriu a falta de compa-nheirismo de Ingrid, inclusive quando esta demonstrou inexplicável frieza ao saber da notícia da gravidez da amiga. E aí está um ponto alto do livro: o parto dramático de Emmanuel, que durou horas e se deu à luz de uma lâmpada de 100 watts. Ajudada pela fé em Deus e pelas mensagens da família trans-mitidas via rádio, Clara afirma que “um sequestrado tem duas opções: deixar-se morrer ou lutar por sua vida. Quando se opta por sobreviver e se des-cartam a morte e a loucura, é preciso trabalhar diariamente sem esmore-cer para conseguir”. Além de conter

detalhes impressionantes da condição dos presos e do relacionamento com os guerrilheiros, este relato, por trazer ao público o que se passa no coração de uma refém desde o momento do sequestro até o aguardado dia da liber- dade, pode ser considerado mais que um livro místico e pungente, mas uma obra sobre o amor.

Sobre a autoraNascida em 1963, em Bogotá,

Clara Rojas, advogada de direito comer- cial, foi professora universitária e era diretora da campanha de Ingrid Betancourt pelo Partido Verde Oxigê- nio para presidente da Colômbia em 2002, antes de ser sequestrada pelas Farc. Vive hoje com o filho Emmanuel na capital colombiana.

www.euprisioneiradasfarc.com.br

“E essas noites, uma após a outra, durante seis anos de cativeiro, pareciam-me eternas e chegaram a somar milhares de horas de medo, solidão,

confusão e tristeza. É algo simplesmente indescritível. E ainda mais duro de suportar,

se é que isso é possível, porque permanecíamos muito tempo em vigília, por causa do medo dos animais, de um enfrentamento militar,

da chuva ou do vento. Ou simplesmente pela angústia existencial que cada um de nós sentia.”

Este livro conta o drama de Clara Rojas, sequestrada pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) com a amiga e candidata a presidente

Ingrid Betancourt. É um relato em primeira pessoa, comovente, que revela o pesadelo do cativeiro na selva colombiana, local mais improvável

para que Clara tivesse o momento mais especial de sua vida: o nascimento do filho Emmanuel.

capaPrisioneira final.indd 1 18/8/2009 10:25:56