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UNIVERSIDADE DE COIMBRA FACULDADE DE ECONOMIA EVASÃO FISCAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: A PERCEPÇÃO DE EMPRESÁRIOS BRASILEIROS FRANCISCO ROBERTO PINTO COIMBRA 2008

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UNIVERSIDADE DE COIMBRA

FACULDADE DE ECONOMIA

EVASÃO FISCAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: A PERCEPÇÃO DE

EMPRESÁRIOS BRASILEIROS

FRANCISCO ROBERTO PINTO

COIMBRA

2008

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UNIVERSIDADE DE COIMBRA FACULDADE DE ECONOMIA

EVASÃO FISCAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: A PERCEPÇÃO DE

EMPRESÁRIOS BRASILEIROS

FRANCISCO ROBERTO PINTO

Tese de Doutoramento em Gestão de Empresas

Ramo e Especialidade: Estratégia e Comportamento Organizacional

COIMBRA

2008

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UNIVERSIDADE DE COIMBRA FACULDADE DE ECONOMIA

EVASÃO FISCAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: A PERCEPÇÃO DE

EMPRESÁRIOS BRASILEIROS

Orientadores: • Prof. Doutor João Veríssimo de Oliveira Lisboa

• Prof. Doutor Paulo César de Sousa Batista

COIMBRA 2008

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Para meu neto, Igor, que já veio. Para meu pai, Fanquim, que já voltou.

Para minha mãe, Julita.

Para minha esposa, Ticiana.

Para meus filhos, Ivo, Joel e Raul.

Para meus irmãos, Mazé (in memoriam), Clézia, Ricardo e Carla.

Para meus cunhados, Bosco e Lindomar.

Para minhas noras, Thaísa e Raquel.

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AGRADECIMENTOS

Devo agradecimentos a todos os que contribuíram para que eu alcance

este objectivo. Correndo o risco de omitir alguns, quero registar agradecimentos

a:

• meus colegas de doutoramento, portugueses e brasileiros, pelo

convívio salutar e pelo estímulo constante;

• funcionários da FEUC, destacando D. Maria José e Sr. Jorge,

informáticos atenciosos e prestativos;

• todos os professores, ressaltando os Doutores Mário Augusto e António

Martins, pela inestimável contribuição;

• meu amigo Prof. Doutor Heber Moura, pela ajuda no tratamento dos

dados;

• meu amigo Edmilson Nascimento, pela revisão vernacular e estilística

do texto;

• minha esposa Ticiana, pela inestimável contribuição na formatação da

tese, pela companhia nas viagens e permanências em Coimbra, pela

paciência e compreensão nas minhas ausências;

• meus filhos e meu neto, por darem sentido às minhas lutas;

• meus amigos Hermano Carvalho, Nilo Alves, Jane Gondim e Cesar

Borges, por trilharmos juntos nossos caminhos académicos;

• Doutor Paulo César, pela co-orientação lúcida desta tese;

• Doutor João Lisboa, porque, para além de ser um competente

orientador, tem sido um verdadeiro amigo.

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RESUMO

A presente pesquisa procura identificar as percepções dos empresários

brasileiros que influenciam a prática da evasão fiscal. Inicialmente, procurou-se

contextualizar a investigação, apresentando as realidades demográfica,

geográfica e económica dos estados Ceará e Santa Catarina, onde foram

colhidas as informações que procuram traduzir as especificidades do sistema

tributário brasileiro.

No Referencial Teórico, estudou-se a teoria da Gestão Estratégica,

especialmente algumas escolas do pensamento estratégico; fez-se uma incursão

pelo estudo da Ética Individual e da Ética Empresarial; examinou-se a importância

da percepção nas decisões, principalmente a partir da teoria da Nova Economia

Institucional; abordou-se a formação e as especificidades da Cultura Brasileira,

concluindo com a formulação do conceito de Evasão Fiscal e identificação das

variáveis que influenciam aquela prática e da forma como ela é combatida em

redor do mundo e no Brasil. A partir dessas abordagens, foi construído o

questionário com base no qual se procurou perceber a opção e a justificação dos

empresários brasileiros para a prática da evasão fiscal.

O questionário apresentado aos inquiridos continha afirmações para as

quais se solicitava a indicação dos graus de discordância ou concordância. As

respostas foram analisadas estatisticamente, utilizando-se métodos uni e

multivariados de análise, de modo a se identificar cientificamente o conjunto de

factores que explicam a prática da evasão fiscal por parte dos empresários do

Ceará e de Santa Catarina.

Após o tratamento estatístico, concluímos que há mais concordância que

discordância com as afirmações que justificariam a prática da evasão fiscal e que,

nomeadamente, não há diferença significativa de percepção entre os diferentes

grupos de empresários no que diz respeito ao significado ético da prática, que é

vista mais como uma necessidade para competir, porque representa uma redução

de custos, e que é considerada vantajosa, mesmo sob elevado risco.

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vi

SUMMARY

This dissertation tries to identify Brazilian manager perceptions regarding

tax evasion that have an influence on decision making in Brazilian companies.

Initially we look at the contextualization of the research, namely the description of

the demographic, geographic and economic realities in the States of Ceará and

Santa Catarina, where data was collected for the study into the specificities of the

Brazilian tax system.

With regard to the theoretical referential, we studied the Management

Strategy theory, namely some schools off the managerial though. We have done

an incursion throughout the study of individual managerial ethics; and we have

analyzed the importance of perception in decision making, from the theory of the

new institutional economy. The structure and particularities of the Brazilian culture

was considered and we have defined the meaning of tax evasion in Brazil, which

variables affect it, and how it is contended in the world and in particular in Brazil.

Based on this overview, a questionnaire was drawn up with questions seeking to

explain the option for tax evasion. These questions were used to ask for the

degree of agreement or disagreement of the individuals involved in the study.

The answers were statistically analyzed using descriptive methods and

univariated and multivariated analysis for a more rigorous study in order to identify

a set of factors that explain the tax evasion behavior of the managers of the States

of Ceará and Santa Catarina.

After the statistical analysis, we concluded that there is more agreement

than disagreement with the statements presented, namely that there is not a

significant perception among different groups of managers concerning the ethical

meaning of practice of tax evasion and that tax evasion is viewed like a need for

competition through cost reductions and therefore, although risky, it is worthwhile

to incur in its practices.

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ÍNDICE

Dedicatória…………………………………………………………………………......................... iii

Agradecimentos……………………………………………………………………......................... iv

Resumo………………………………………………………………………………....................... v

Summary……………………………………………………………………………......................... vi

Índice....................................................................................................................................... vii

Índice de Tabelas……………………………………………………………………...................... viii

Índice de Gráficos…………………………………………………………………......................... ix

Índice de Figuras……………………………………………………………………....................... xii

Índice de Quadros…………………………………………………………………......................... xii

PARTE I A INVESTIGAÇÃO E SUA

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

CAPÍTULO I – Características da Investigação

1.1. Introdução………………………………………………………………………...................... 14

1.2. Contexto da investigação……………………………………………………….................... 20

1.2.1. Aspectos demográficos, geográficos e económicos………………....................... 20

1.2.2. O sistema tributário brasileiro………………………………………………………… 35

1.2.2.1. Aspectos normativos…………………………………………………….... 35

1.2.2.2. Os tributos e suas classificações………………………………………... 38

1.2.2.3. A relação com o contribuinte…………………………………………….. 46

1.2.2.4. A carga tributária………………………………………………………….. 49

1.2.2.5. Distribuição da carga tributária………………………………………….. 54

1.3. Estrutura da tese……………………………………………………………........................ 56

CAPÍTULO II – Fundamentação Teórica

2.1. Eixo Teórico……………………………………………………………………...................... 57

2.2. Gestão estratégica……………………………………………………………....................... 58

2.2.1. Meio envolvente, missão e estratégia empresarial………………...................... 58

2.2.2. O meio envolvente geral………………………………………………................... 62

2.2.3. O meio envolvente operacional………………………………………................... 63

2.2.4. O julgamento do cumprimento da missão empresarial……………................... 64

2.2.5. Estratégia empresarial………………………………………………...................... 67

2.2.6. Algumas Escolas do Pensamento Estratégico……………………..................... 69

2.2.6.1. Escola do Design……….……………………………………................. 70

2.2.6.2. Escola do Planeamento……….…………………………….................. 73

2.2.6.3. Escola Empreendedora.………………………………………............... 79

2.2.6.4. Escola Cognitiva..…………………………………................................ 81

2.2.6.5. Escola Cultural…......………………………………............................... 88

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ÍNDICE - continuação

2.3. Percepção e Decisão, conforme a Nova Economia Institucional…..….......................... 91

2.4. Formação e Especificidades da Cultura Brasileira………………………………………... 97

2.5. Ética Individual e Empresarial………………………………………………........................ 102

2.6. Evasão Fiscal………………………………………………………………………………….. 109

2.6.1. Conceitos Iniciais……………………………………………………………………. 109

2.6.2. O que Influencia a Prática de Evasão Fiscal…………………………………….. 115

2.6.3. O Tratamento da Evasão Fiscal noutros Países………………………………… 127

2.6.4. Evasão Fiscal e seu Combate no Brasil………………………………………….. 138

PARTE II A INVESTIGAÇÃO DE CAMPO

CAPÍTULO III - Metodologia

3.1. Considerações Iniciais………………………………………………………………………... 151

3.2. Tipologia das Investigações…………………………………………………………………. 151

3.3. Delimitação Territorial da Investigação de Campo……………………............................ 152

3.4. Sujeitos da Investigação de Campo………………………………………………………… 153

3.5. Variáveis e Construção do Questionário…………………………………………………… 155

3.6. Recolha das Informações……………………………………………………………………. 163

3.7. Hipóteses de Trabalho……………………………………………………………………….. 163

3.8. Instrumental Estatístico………………………………………………………………………. 164

CAPÍTULO IV - Os Resultados da Investigação de Camp o

4.1. Estatística Descritiva…………………………………………………………........................ 167

4.1.1. Caracterização da Amostra…………………………………………...................... 167

4.1.2. Respostas às Questões em Escala Likert………………………………………... 171

4.2. Estatística Inferencial………………………………………………………………………….. 201

4.2.1. Adequabilidade da Amostra………………………………………………………... 201

4.2.1.1. Tamanho………………………………………………………………..…. 201

4.2.1.2. Qualidade das Correlações – Testes KMO e Bartlett………………... 202

4.2.1.3. Consistência Interna – Alphas de Cronbach………………………….. 203

4.2.2. Resultados da Aplicação da Análise Factorial……………………...................... 205

4.2.2.1. Dados Completos………………………………………………………… 205

4.2.2.2. Partilhamento por Estado……………………………………………….. 208 i. Estado do Ceará…………………………………………………….. 208 ii. Estado de Santa Catarina………………………………………….. 210 iii. Diferenças de Resultados entre os Estados……………………… 212

4.2.2.3. Partilhamento por Sector de Actividade……………………………….. 213

i. Indústria………………………………………………………….....… 213

ii. Comércio e Serviços………………………………………………… 215

iii. Diferença de Resultados entre os Sectores…………................. 217

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ÍNDICE - continuação

4.2.2.4. Partilhamento por Tamanho de Empresas………………................... 218

i. Micro e Pequenas Empresas………………………………………. 218

ii. Médias e Grandes Empresas………………………………………. 220

iii. Diferença de Resultados entre os Tamanhos……………………. 222

4.2.3. Resultados das Análises de Variância Simples - ANOVA….…………………... 223

4.2.4. Resultados da Análise de Variância Plurifactorial - MANOVA……………..…... 232

4.2.5. Resultados da Aplicação da Regressão Linear Múltipla………………………... 234

PARTE III AS CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

CAPÍTULO V - Conclusões, Limitações e Recomendações

5.1. lnterpretação dos Resultados e Conclusões..........………………………………………. 239

5.2. Limitações e Recomendações……………………………………………………………... 244

PARTE IV APÊNDICES, ANEXO E REFERÊNCIAS

APÊNDICES

A – Informações Adicionais sobre a Economia Brasileira………………………………………. 247

B – Glossário de Siglas……………………………………………………………………………... 255

C – Questionário…………………………………………………………………………………….. 256

ANEXO – Localização da Investigação de Campo……………………………………………. 257

REFERÊNCIAS………………………………………………………………………………...... 258

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ÍNDICE DE TABELAS 1.1. Participação Proporcional das Regiões Nordeste e Sul do Brasil e seus Estados

na Composição do PIB Nacional, a Preços de Mercado Corrente - Período 1998 a 2003……………………………………………………………....................................... 21

1.2. Distribuição Quantitativa e Proporcional da População do Ceará por Género, Zona Residencial e Nível de Escolaridade - Censo de 2000……………………................ 25

1.3. Distribuição Quantitativa e Proporcional da População de Santa Catarina por Género, Zona Residencial e Nível de Escolaridade - Censo de 2000…………....... 28

1.4. Distribuição Quantitativa e Proporcional das Empresas Formalmente Constituídas do Ceará e de Santa Catarina, por ramo de Actividade – Dezembro/2003............... 30

1.5. Participação Relativa dos Ramos de Actividade na Formação do Valor Adicionado Bruto, no Ceará e em Santa Catarina – 2000 a 2003…………………………………. 32

1.6. Desempenho Anual da Balança Comercial no Ceará e em Santa Catarina – 1996 a 2005 (Valores em US$1,000 FOB)……………………………………………………. 34

1.7. Evolução da Carga Tributária no Contexto Internacional – Período de 1985 a 2004 .……………………………………………………………………………………...... 52

1.8. Distribuição da Carga Tributária Brasileira, por Tipo de Tributo - (%) - Período 2002 a 2005 ……………………………………………………………………………...... 55

3.1. Distribuição Quantitativa das Empresas da Amostra p or Segmento/Tamanho 154

4.1. Estatística Descritiva de Todas as Variáveis - Média e Desvio Padrão - conforme os Grupos de Dados………………………………………………………...................... 200

4.2. Resultados dos Testes KMO e Esfericidade de Bartlett…………………………........ 204

4.3. Consistência Interna - Alfas de Cronbach………………………………………………. 204

4.4. Factores Extraídos para os Dados Completos…………………………………………. 207

4.5. Factores Extraídos para os Dados do Estado do Ceará……………………………… 209

4.6. Factores Extraídos para os Dados do Estado de Santa Catarina……………………. 211

4.7. Factores Extraídos para os Dados do Sector Indústria……………….………………. 214

4.8. Factores Extraídos para os Dados do Sector Comércio e Serviços…………………. 216

4.9. Factores Extraídos para os Dados das Micro e Pequenas Empresas………………. 219

4.10. Factores Extraídos para os Dados das Médias e Grandes Empresas………………. 221

4.11. Análise de Variância Simples Entre os Estados – Ceará versus Santa Catarina…. 227

4.12. Análise de Variância Simples Entre os Sectores de Actividade – Indústria versus Comércio/Serviços ………………………………………...……………………………… 229

4.13. Análise de Variância Simples Entre Tamanhos de Empresa – Micro/Pequena versus Média/Grande ………………………………………..…………………………… 231

4.14. Tabela 4.14 - Análise de Variância Plurifactorial – MANOVA - Considerando o Estado de Localização, o Sector de Actividade e o Tamanho da Empresa………… 233

4.15. Coeficientes Encontrados no Tratamento de Regressão Linear……………………..

8.1. Produto Interno Bruto, Produto Interno Bruto per Capita, População Residente e Deflator Implícito – 1999/2005…………………………………………………………… 247

8.2. INPC nos anos 1996 a 2005…………………………………………………………….. 250

8.3. Participação de Regiões e Estados na Constituição do PIB do Brasil a Preços de Mercado Corrente*- Período 1998 a 2003 (%)………………………………………… 252

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

1.1. Distribuição Quantitativa Anual da Proução de Normas –- 2000 a 2004…………… 47

1.2. Comportamento Anual da Carga Tributária Brasileira – 1947a 2005……................ 50

1.3. Comportamento Quinquenal da Carga Tributária Brasileira –1950 a 2005………… 50

1.4. Evolução Proporcional (%) da Carga Tributária por Nível de Governo – 1998 a 2005………………………………………………………………………………………… 55

4.1. Distribuição Proporcional dos Respondentes por Cargo, segundo a localização, o Tamanho e o Sector de Actividade da Empresa.……………………………………… 168

4.2. Distribuição Proporcional dos Respondentes por Cargo…………………………….. 170

4.3. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Legitimidade da Evasão Fiscal, segundo a localização e o sector de actividade da empresa……………………….. 173

4.4 Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Legitimidade da Evasão Fiscal…. 173

4.5. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Perda de Competitividade, segundo a localização e o sector de actividade da empresa……………………….. 175

4.6. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Perda de Competitividade……….. 175

4.7. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Utilização da Evasão Fiscal como Estratégia de Sobrevivência, segundo a localização e o sector de actividade da empresa……………………...................................................................................... 177

4.8. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Utilização da Evasão Fiscal como Estratégia de Sobrevivência…………………………………………………………….. 177

4.9. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Influência do Comportamento Fiscal das Outras Empresas, segundo a localização e o sector de actividade da empresa……………………...................................................................................... 179

4.10. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Influência do Comportamento Fiscal de Outras Empresas……………………………………………………………… 179

4.11. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Burocratização do Sistema Fiscal, segundo a localização e o sector de actividade da empresa………………………... 181

4.12. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Burocratização do Sistema Fiscal. 181

4.13. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Falta de Equidade Vertical do Sistema Fiscal, segundo a localização e o sector de actividade da empresa…….. 183

4.14. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Falta de Equidade Vertical do Sistema Fiscal……………………………………………………………………………. 183

4.15. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Falta de Equidade Horizontal do Sistema Fiscal, segundo a localização e o sector de actividade da empresa…….. 185

4.16. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Falta de Equidade Horizontal do Sistema Fiscal……………………………………………………………………………. 185

4.17. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se o Sistema Fiscal Induz à Informalidade, segundo a localização e o sector de actividade da empresa……… 187

4.18. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se o Sistema Fiscal Induz à Informalidade…………………………………………………………………………….. 187

4.19. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se a Carga Fiscal é Excessiva em Relação aos Benefícios Recebidos pela Sociedade, segundo a localização e o sector de actividade da empresa………………………………………………………. 189

4.20. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se a Carga Fiscal é Excessiva em Relação aos Benefícios Recebidos pela Sociedade………………………………... 189

4.21. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se Há Falta de Confiança entre os Empresários quanto à Correcta Aplicação dos Recursos Fiscais Arrecadados, segundo a localização e o sector de actividade da empresa……………………...... 191

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ÍNDICE DE GRÁFICOS continuação

4.22. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se Há Falta de Confiança entre os Empresários quanto à Correcta Aplicação dos Recursos Fiscais Arrecadados… 191

4.23. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se o Sistema de Auditoria Fiscal é Incapaz de Identificar e Punir os Casos de Evasão, segundo a localização e o sector de actividade da empresa……………………………………………………… 193

4.24. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se o Sistema de Auditoria Fiscal é Incapaz de Identificar e Punir os Casos de Evasão……………………………….. 193

4.25. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se os Benefícios da Evasão Fiscal São Maiores que os Custos de uma Possível Punição, segundo a localização e o sector de actividade da empresa……………………………………………………. 195

4.26. Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se os Benefícios da Evasão Fiscal São Maiores que os Custos de uma Possível Punição……………………………… 195

4.27. Distribuição Proporcional das Opiniões de que Não Há Prejuízo de Imagem das Empresas que Praticam Evasão Fiscal, segundo a localização e o sector de actividade da empresa………………………………………………………………….. 197

4.28. Distribuição Proporcional das Opiniões de que Não Há Prejuízo de Imagem das Empresas que Praticam Evasão Fiscal………………………………………………. 197

8.1. INPC 1996 a 2005 (%) – Linha de Tendência ……………………………………….. 250

8.2. INPC 2001 a 2005 (%) – Linha de Tendência ……………………………………….. 250

ÍNDICE DE FIGURAS

2.1. Empresa e Meio Envolvente…………………………………………………………….. 61

2.2. Modelo Básico da Escola do Design…………………………………………………… 72

2.3. Modelo Steiner de Planeamento Estratégico…………………………………………. 76

2.4. Modelo de Processo Paralelo de Tomada de Decisões Estratégicas……………… 85

ÍNDICE DE QUADROS

1.1. Distribuição dos Tributos por Esfera de Competência – Posição em 2005.............. 40

1.2. Distribuição dosTributos que Oneram as Empresas Brasileiras por Esfera de Competência ……………………………………………………………………………... 45

2.1. Algumas Definições de Estratégia……………………………………………………… 68

2.2. Tendências no Processo Decisório……………………………………………………. 83

2.3. As Principais Percepções que Influenciam a Decisão pela Evasão Fiscal, Conforme os Autores Consultados......................................................................... 126

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PARTE I

A INVESTIGAÇÃO E SUA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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14

CAPÍTULO I CARACTERÍSTICAS DA INVESTIGAÇÃO

1.1. INTRODUÇÃO

É comum ouvir-se falar e ler-se que a cada dia se expande a utilização de

práticas de evasão fiscal entre as empresas brasileiras, a ponto de se estimar que

tal comportamento tende a se generalizar. Jornalistas especializados,

investigadores técnicos e investigadores académicos têm testemunhado e

denunciado essa problemática.

Gaspari (2004), Gradilone & Napolitano (2004; 2005), Lahóz (2004), Neves

(2004) e Salomão & Napolitano (2005) são exemplos de jornalistas especializados

que têm publicado artigos e reportagens sobre o assunto. Afonso, Resende &

Varsano (1998), Nílson (2004) e Rodrigues Júnior & Melo (1999) estão entre os

investigadores técnicos que se voltaram ao estudo da matéria. Abramo (2004),

Coultrin et al (2005), Hahn & Grzybovski (2005), Lucas (2000), Neri (2004), Silva

& Cunha (2002), Siqueira & Ramos (2005), Souza (1998) e Zoneschain (2002)

são exemplos de investigadores académicos que se têm dedicado ao tema.

No âmbito brasileiro, como acontece em todo o mundo, há empresas que

procuram reduzir sua carga fiscal por meio da utilização de artifícios permitidos

em lei. Dá-se, assim, a prática da chamada elisão fiscal, em que se utilizam

conhecimentos especializados em contabilidade e legislação tributária para a

redução dos valores a recolher ao fisco. Apesar dessa faculdade legal, autores

como os citados acima observam que significante parcela das empresas

brasileiras prefere seguir o caminho das práticas ilegais.

Constatando-se, como o fizeram os mencionados autores, que a evasão

fiscal nas empresas brasileiras apresenta características de generalidade, é justo

imaginar que isso não se deve a uma propensão generalizada à criminalidade por

parte dos empresários brasileiros, porquanto seria o mesmo que admitir a

existência de um problema geral de conduta ética naquela categoria. Necessário

se faz, portanto, investigar que factores podem estar a influenciar essa propensão

à evasão fiscal, no ambiente empresarial brasileiro.

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15

É possível que se encontrem condições do meio envolvente em que essas

empresas actuam que possam contribuir para um crescimento da propensão a

essas práticas, considerando-se a possibilidade de haver influências, nesse

cenário, das características do sistema fiscal brasileiro. Essa, aliás, tem sido a

linha de investigação ao redor do mundo, adoptada por vários autores

consultados, como se verá adiante.

Especificamente sobre o sistema fiscal do Brasil, Lima (1999, p. 14), por

exemplo, afirma: “O sistema tributário brasileiro é considerado caro, complexo e,

em muitos aspectos, regressivo e ineficiente. Contraria, assim, os princípios de

um sistema tributário ideal”.

A citada declaração pode levar à interpretação de que, na visão do autor,

um sistema ideal deve ter como principais atributos:

1. resulte numa carga fiscal que possa ser suportada pelos agentes

económicos, de modo a não despertar o sentimento de que os tributos

representam uma extorsão;

2. seja simples e desburocratizado;

3. seja regulado por uma legislação clara e objectiva;

4. não contemple tributos que incidam em cascata;

5. conte com um aparelho de auditoria competente e capaz de inibir ou,

pelo menos, desencorajar as fraudes.

É de se pressupor que, quanto mais um sistema tributário se afastar desse

modelo ideal, mais os contribuintes poderão ficar tentados a burlar os controles

desse sistema, praticando a evasão fiscal.

Este estudo pretendeu verificar, a partir do entendimento de empresários

brasileiros, quais os factores que contribuem para elevar a propensão à evasão

fiscal. Mais especificamente, procurou-se identificar a apreciação que os

empresários brasileiros fazem do sistema tributário a que estão sujeitos e de que

forma essa apreciação influencia a disposição das empresas para o cumprimento

de suas obrigações fiscais.

Como já afirmámos, há práticas legais de redução da própria carga

tributária. Essas práticas estão compreendidas na denominação genérica “elisão

fiscal” e compõem o chamado “planeamento fiscal”, legal e lícito, equivalente ao

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que a literatura internacional denomina “tax avoidance”. As práticas ilegais são

denominadas “sonegação”, e equivalem à expressão “tax evasion”.

Recorrer ao planeamento fiscal, utilizando medidas legais para reduzir

impostos, não é considerado descumprimento das obrigações fiscais (LOPES,

2006). Essa conduta não é analisada neste estudo. É das práticas de sonegação

que trata este trabalho.

Para efeito de aproximação com a linguagem internacional, nesta

investigação utilizou-se a expressão "evasão fiscal" com o mesmo significado de

"tax evasion". Ou seja: tratou-se de práticas ilegais de redução de valores pagos

ao sistema fiscal. Procurou-se investigar se, apesar de ilegais, as práticas de

evasão fiscal são aceites como legítimas, pelos empresários brasileiros, tendo em

vista as características do meio envolvente, nomeadamente as especificidades do

sistema fiscal.

Sobre o tema, e antes deste estudo, o investigador já havia realizado duas

investigações qualitativas, com entrevistas audiogravadas, nos mesmos estados1

brasileiros (Ceará e Santa Catarina) em que se deu esta investigação quantitativa.

Na primeira delas, apresentada no Congresso Luso-afro-brasileiro de Ciências

Sociais (PINTO, 2004), foram ouvidos 16 empresários, tendo-se constatado um

generalizado sentimento de aversão ao sistema tributário brasileiro. Na segunda

pesquisa, em cada um dos dois estados, foram feitas entrevistas audiogravadas

com 20 empresários e 20 não-empresários, totalizando 80 pessoas.

Apesar de haver trabalhado com uma amostra limitada, nesta segunda

invetigação, o pesquisador percebeu que os inquiiridos não-empresários pareciam

ser mais solidários com as empresas que praticam evasão fiscal do que com o

Estado que perde arrecadação. Isso é um evidente contra-senso, quando se

considera que o papel de todo governo (nomeadamente o democrático) é

representar os cidadãos e estar a seu serviço, gerindo os bens comuns (res-

publica).

1 A República Federativa do Brasil é dividida em Unidades Federativas denominadas estados.

Ceará e Santa Catarina são duas dessas unidades federativas. No estudo também é utilizado o termo Estado para significar o ente público. Em cada frase onde é empregado, o contexto deixa claro qual o significado do termo.

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Por outro lado, constatou-se, naquelas investigações, que, exceptuando-se

os casos de não cumprimento das suas obrigações tributárias, os empresários

ouvidos pareceram ser pessoas éticas e ciosas de seus deveres, quer como

cidadãos, quer como dirigentes de empresas, tendo-se registado, entre essas

organizações, vários casos de ações que se aproximam dos novos padrões de

Responsabilidade Social Corporativa.

Foram essas constatações que levaram o investigador a interrogar-se

sobre as razões que levariam empresários brasileiros a adoptar comportamentos

fiscais inadequados, nomeadamente passíveis de sanção por parte do Estado. Se

não são pessoas com conduta eticamente enviesada, por que parecem concordar

com a adopção de práticas de evasão fiscal? Essa é a questão de partida que

motivou o presente estudo.

A exemplo de outras, investigação efectuada pelo Conselho Federal de

Contabilidade (2004) atesta que no Brasil também se confirma a Teoria de Lafer,

segundo a qual há uma correlação positiva entre o nível do percentual de

tributação e o valor arrecadado, até determinado ponto. A partir desse limite, a

curva, até então ascendente, sofre uma inflexão e a elevação das taxas fiscais

passa a produzir decréscimo de arrecadação, provavelmente devido ao

esgotamento da capacidade de contribuição das empresas e das famílias.

Alguns autores, ainda em estudos técnicos, não académicos, como são os

casos de Cintra (2006) e Coelho (2006), concluem que, com uma carga tributária

de quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil já ultrapassou o ponto no

qual um maior esforço fiscal por parte do Estado esbarra num processo defensivo

por parte dos contribuintes, que procuram reduzir o total de tributos a pagar,

muitas vezes adoptando procedimentos à margem da lei.

Considerando-se que esse fenómeno parece acontecer no Brasil,

procurou-se identificar os factores que fazem desencadear nos empresários essa

conduta, que é inaceitável, em princípio, pelo seu carácter de ilicitude.

Evidentemente, a construção do instrumento de investigação baseou-se

nessas possibilidades, mas não só. A literatura consultada ultrapassa

significantemente os autores já citados.

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Nessa literatura, foram buscadas informações sobre investigações já

procedidas em outros momentos e em outros espaços geográficos, o que

possibilitou a construção do questionário aplicado para a recolha dos dados deste

estudo, incluindo-se outras variáveis.

É o que se verá no Capítulo III, mais precisamente em seu item 3.5 –

Variáveis e Construção do Questionário.

O ponto de partida deste estudo é o papel que a empresa exerce na

sociedade. Concebe-se que a missão oficialmente declarada por uma

organização explicita o papel que ela se propõe desempenhar junto à sociedade

em que se insere e responde à indagação quanto à finalidade da sua existência,

procurando clarificar que necessidades e expectativas daquele meio envolvente a

organização procura atender.

Entende-se, ainda, que a primeira responsabilidade de uma organização,

diante da sociedade que a acolhe, é comportar-se nos limites determinados pelas

normas ali desenvolvidas. Evidentemente, aí se inclui a obediência à legislação

em geral e, especificamente, à norma fiscal, às leis que regulam o recolhimento

dos impostos, taxas e contribuições.

Sendo assim, surpreende verificar que várias formas de evasão fiscal

(sonegação) possam ser correntemente praticadas por empresas brasileiras, ao

ponto de adquirir carácter de normalidade2.

A importância deste estudo decorre da necessidade de se conhecerem as

razões que levam à utilização de práticas de evasão fiscal pelas empresas

brasileiras. Sendo um comportamento que reduz despesas e, portanto, custos de

produção de bens ou serviços, é permitido supor, primeiramente, que tratam

essas empresas de obter diferencial competitivo no meio envolvente.

Como o governo é parte importante do meio envolvente das empresas, e

essas práticas se inserem no repertório das relações entre empresas e governo, a

Teoria das Organizações precisa incorporar ao seu acervo de conhecimentos a

2 A palavra “normalidade” não tem, aqui, a conotação de algo aceitável, mas de algo que se

dissemina, se generaliza.

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compreensão de como e por que essa conduta é adoptada pelas empresas,

procurando identificar a relação dessas práticas com as estratégias empresariais.

Deve-se, ainda, ressaltar que o estudo procura ultrapassar a fronteira dos

conhecimentos da ética empresarial, associada às questões sociais e culturais.

Além desses benefícios teóricos e académicos, o estudo se propõe ofertar

uma colaboração operacional aos empresários e às instâncias de governo. Dos

primeiros, chama a atenção para a possibilidade de redução de sua carga fiscal

mediante adopção de práticas legais; às segundas, fornece uma indicação do que

favorece a decisão pela evasão fiscal, possibililtando o desenvolvimento de

políticas para combatê-la.

Devido à importância dos problemas aqui tratados e à forma de abordá-los,

o objectivo principal deste estudo é, como não poderia deixar de ser, decorrência

da questão de partida. Significa dizer que o principal objectivo da investigação é

identificar que factores elevam a propensão à evasão fiscal, no meio empresarial

brasileiro.

Estabelecendo objectivos mais específicos, o estudo pretendeu:

• verificar se há algum entendimento de que a evasão fiscal pode ocorrer

por necessidade estratégica de sobrevivência e competitividade;

• verificar se os empresários fazem uma avaliação do tipo relação

custo/benefício ao praticar a evasão fiscal;

• identificar que julgamento os empresários brasileiros fazem do sistema

fiscal do país, no tocante e à justeza da carga tributária;

• identificar que julgamento os empresários brasileiros fazem do sistema

fiscal do país, no tocante à qualidade do relacionamento com os

contribuintes;

• identificar que julgamento os empresários brasileiros fazem do sistema

fiscal do País, no tocante à eqüidade de tratamento;

• avaliar qual o nível de confiança, dos empresários, em relação ao

sistema fiscal e à boa aplicação dos recursos tribrutários, pelas esferas

de governo;

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• identificar se há influência da prática de evasão por outras empresas na

propensão a também praticá-la;

• verificar se há diferenças de percepção considerando os tamanhos e

ramos empresariais e a localização geográfica das empresas.

1.2. CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO

Neste item, apresentam-se informações sobre os estados Ceará e Santa

Catarina, onde foi feita a investigação de campo. Nos Apêndices, são

apresentadas informações sobre o Brasil, com a finalidade de contribuir para um

melhor entendimento do contexto do estudo. Essas informações, por serem mais

abrangentes, ficam mais bem localizadas num item em separado.

1.2.1. ASPECTOS DEMOGRÁFICOS, GEOGRÁFICOS E ECONÓMI COS

Imersos num cenário económico nacional de recuperação do crescimento e

aumento da confiança dos investidores, os dois citados estados registam

posições relativas diferentes, como decorrência de diversidades geográficas,

históricas, culturais, demográficas e socioeconómicas.

Essas diferenças reflectem-se na contribuição de cada um dos estados

para a composição do PIB, confirmando suas distinções. Mais do que isso, essas

participações apresentam tendências diferentes, como se pode verificar na Tabela

1.1, cujos dados abrangem o período de 1998 até 2003, última posição

encontrada (IBGE, 2006).

Essa constatação vem a reforçar as diferenças que justificam a escolha

dos dois estados para comporem o espaço geográfico da investigação objecto

deste estudo.

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(%)

Fonte: Elaboração própria, com dados do IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Conta s Nacionais,

Contas Regionais do Brasil 2002

Tabela 1.1 – Participação Proporcional das Regiões Nordeste e Sul do Brasil e seus Estados

na Composição do PIB Nacional, a Preços de Mercado Corrente Período de 1998 a 2003

Região / Estado 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Nordeste 13,1 13,2 12,9 13,2 13,6 13,9

Alagoas 0,7 0,7 0,6 0,6 0,7 0,7

Bahia 4,2 4,3 4,4 4,4 4,6 4,7

Ceará 2,1 2,0 1,9 1,8 1,8 1,8

Maranhão 0,8 0,8 0,8 0,9 0,8 0,9

Paraíba 0,8 0,8 0,8 0,9 0,9 0,9

Pernambuco 2,7 2,7 2,6 2,6 2,7 2,7

Piauí 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5

Rio Grande do Norte 0,7 0,8 0,8 0,8 0,9 0,9

Sergipe 0,6 0,6 0,5 0,7 0,7 0,8

Sul 17,4 17,7 17,6 17,8 17,8 18,6

Paraná 6,2 6,3 6,0 6,1 6,1 6,4

Rio Grande do Sul 7,7 7,7 7,7 7,8 7,8 8,2

Santa Catarina 3,5 3,7 3,9 3,9 3,9 4,0

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Na Tabela 1.1, vê-se que a Região Nordeste, onde se localiza o Ceará,

ampliou sua participação relativa na formação do PIB nacional, no período

considerado, passando de 13,1% para 13,9%. Observe-se, ainda, que esse

crescimento deu-se nos três últimos anos da série (três pontos percentuais em

2001, quatro em 2002 e três em 2003).

Na Região Nordeste, o Ceará foi o único estado a perder posição relativa

no período, saindo de 2,1%, em 1998, para 1,8%, em 2003. O decréscimo

observado de três pontos percentuais distribuiu-se uniformemente nos anos

1999, 2000 e 2001.

Santa Catarina, ao contrário do Ceará, obteve ganhos anuais de

participação relativa, passando de 3,5%, em 1998, para 4,0%, em 2003. A

melhoria da participação relativa do estado aconteceu nos anos 1999, 2000 e

2003. O mesmo ocorreu com a Região Sul, cuja participação relativa ampliou-se

de 17,4% para 18,6%, no período considerado.

A política nacional de desconcentração da economia vem sendo reforçada

pelas campanhas de atracção de empresas, promovidas pelos governos dos

estados menos desenvolvidos. O principal instrumento utilizado tem sido a

renúncia fiscal temporária (isenção de impostos durante determinado período), o

que vem a configurar, em certos casos, uma verdadeira "guerra fiscal" entre

estados. A política de atracção de investimentos também tem sido praticada por

sucessivos governos no Ceará, nomeadamente para actividades de turismo e da

indústria em geral.

Considerando-se isso e o facto de se tratar de uma das economias

estaduais das mais débeis do país e que, por isso, tem sido alvo prioritário de

incentivos federais, era de se esperar que o Ceará apresentasse crescimento de

participação no PIB nacional. Os dados do ano 2003, contudo, indicam que as

medidas até então adoptadas não chegaram a ser suficientes para, pelo menos,

manter a posição relativa exibida no início do período considerado.

Ainda que isso não tenha significado conquistar uma melhoria de posição

relativa na composição do PIB nacional, a economia do Ceará, antes

eminentemente agrária, está a experimentar um significante desenvolvimento

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industrial, nas últimas décadas, liderada pelo sector têxtil (Brasil – MRE, 2006), o

que pode sinalizar boas perspectivas para um futuro próximo.

O pólo de confecção cearense é o segundo maior no ranking nacional em

produção e exportação, a seguir o de São Paulo. A industrialização do estado

verifica-se nomeadamente nas áreas têxtil, de calçados, mobiliária, alimentícia, de

mineração, editorial, gráfica e metalúrgica.

O comércio retalhista do Ceará é formado por quase 10 mil

estabelecimentos. Na agricultura, os principais produtos cearenses são: arroz,

banana, cana-de-açúcar, castanha de caju, coco, feijão e mandioca. Nas últimas

décadas, o sector agrícola voltou-se para o comércio exterior, sendo sua pauta de

exportações liderada pela castanha de caju.

O estado também exporta flores, nomeadamente para a Europa. Nas

exportações cearenses também constam: tecidos, cera de carnaúba, fios de

algodão e de poliéster, couros, peles, camarões, lagostas e frutas tropicais. O

artesanato e o turismo têm importância crescente na geração de ocupação e

renda.

O Porto do Mucuripe, localizado na capital, Fortaleza, tem capacidade para

operar navios com carga de até 50 mil toneladas, sendo a principal “porta” de

importação e exportação para o estado.

Também se encontra em operação o recém-construído Porto do Pecém,

localizado a 47 quilómetros da capital, com a finalidade principal de operar

grandes cargas, nomeadamente os produtos de siderurgia e petróleo.

A malha viária do estado compõe-se de rodovias estaduais e federais

pavimentadas, interligando-se ao complexo rodoviário nacional. A infra-estrutura

de transportes conta, ainda, com 1.435 quilómetros de via férrea, em duas linhas-

tronco que conectam o Ceará aos estados vizinhos.

Situado no chamado Polígono das Secas, o Ceará tem quase 90% do seu

território no semi-árido. As estiagens periódicas têm requerido atenção especial

ao armazenamento, distribuição e utilização de água. A capacidade de

armazenamento de água do estado atinge quase 20 mil milhões de metros

cúbicos, em represas e reservatórios.

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Desde 1960, o estado conta com o açude Orós, um dos maiores

reservatórios de água do mundo, comparável ao da barragem de Assuã, no

Egipto. Em 1995, começou a ser construído o açude Castanhão, o qual já se

encontra concluído, com capacidade para armazenar 6,5 mil milhões de metros

cúbicos de água. A principal meta da política de águas no estado consiste em

regularizar o fluxo das águas de seus rios, que historicamente corriam apenas na

estação chuvosa. Essa regularização poderá ser mais facilmente alcançada com

a integração das baciais fluviais cearenses com a bacia do rio São Francisco, um

dos mais importantes do Brasil, e cujas obras já foram iniciadas.

A população do Ceará é miscigenada do índio, do negro e do português, o

que lhe confere riqueza cultural. Seu povo é marcado pela religiosidade popular e

pela presença de destacados representantes nas ciências, nas letras e nas artes

nacionais. A Tabela 1.2 apresenta a distribuição da população cearense, na

altura do Censo 2000, segundo o IBGE (2006).

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Ceará é 0,6993. Apesar de

ser inferior aos índices dos estados mais desenvolvidos, foi o que mais cresceu

entre os estados brasileiros na década 1991/2000 (0,597 em 1991).

O Ceará apresenta um ecossistema variado, com regiões de caatinga,

mata atlântica, cerrado e manguezais. Sol e calor o ano inteiro e temperatura

amena à noite são características que têm contribuído para que o turismo seja o

sector que mais se desenvolveu no estado nas duas últimas décadas.

Anualmente, o Estado recebe cerca de 800 mil turistas, atraídos por seus

576 quilómetros de litoral – nos quais se encontram 87 praias e grandes

extensões de dunas – e também por cidades localizadas em regiões serranas.

Assim, o Ceará tem procurado identificar suas vocações económicas,

dividindo-se entre a industrialização, exportação in natura, turismo, comércio e

serviços.

3 O IDH passou a ser registado pela ONU a partir de 1960. O índice se propõe medir a qualidade

de vida, utilizando informações de renda, educação e expectativa de vida. O índice varia entre zero e 1. Resultados abaixo de 0,500 indicam baixo IDH; de 0,500 a 0,799, apontam situação intermediária; acima de 0,799, significam alto IDH. Apesar de muito criticado (não inclui aspectos importantes, como a participação política, por exemplo), o IDH ainda é bastante utilizado.

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Tabela 1.2 – Distribuição Quantitativa e Proporcion al da População do Ceará por Género, Zona Residencial e Nível de Escolaridad e

Censo de 2000

Habitantes % Habitantes com Idades a Partir de 10 Anos %

Total 7.430.661 100,0 Total 5.804.948 100,0

• Homens 3.628.474 48,8 Alfabetizados 4.370.897 75,3

• Mulheres 3.802.187 51,2

• Urbana 5.315.318 71,5 Não-Alfabetizados 1.434.051 24,7

• Rural 2.115.343 28,5

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados do Cen so 2000 (IBGE)

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Os três sectores da economia (primário, secundário e terciário) estão bem

representados em Santa Catarina (Citybrazil, 2006). O sector industrial é

equilibradamente diversificado, de maneira que nenhuma das actividades

industriais participava com mais de 20% do PIB do estado, na altura do Censo

2000 (IBGE, 2006), o que protege a sua economia contra variações sazonais de

demanda.

As principais actividades industriais são: agro indústria, metalomecânica,

têxtil, cerâmica, máquinas e equipamentos, electrónica, produção de artigos de

plástico e mobiliário. As indústrias têxteis, localizadas em grande maioria no

nordeste do estado (Vale do rio Itajaí), exportam cerca de US$400 milhões por

ano e empregam aproximadamente 100 mil pessoas.

Na região central do estado, operam as indústrias de cerâmica e porcelana,

as quais exportam para mais de 60 países e empregam em torno de 10 mil

pessoas. No norte do estado, concentram-se as indústrias de auto peças,

produzindo para grandes montadoras de automóveis, autocarros e camiões.

A agro indústria de Santa Catarina é bastante competitiva, em ámbito

mundial, nomeadamente na exportação de suínos, aves e seus derivados. A

actividade agrícola ocupa cerca de 25% da área total do seu território,

destacando-se a produção de arroz, milho, alho, cebola, fumo, feijão e maçã. A

apicultura também é significante, além da pesca industrial em larga escala, tanto

de camarão como de outros frutos do mar.

A população de Santa Catarina tem origem em grupos étnicos diversos,

resultado das políticas de incentivo à imigração implementadas nos séculos XVII

e XVIII. Na formação do povo catarinense, destacam-se os alemães e os

italianos, embora tenham ocorrido imigrações de outras nações, como a Bélgica,

a Irlanda, a Polônia, a Rússia, a Holanda e a Espanha.

Os portugueses chegaram das ilhas dos Açores e da Madeira na primeira

metade do século XVIII e instalaram-se no litoral. Os outros grupos de origem

europeia haviam penetrado pelo interior, colonizando a região oeste.

Há cerca de 40 anos começaram a chegar imigrantes japoneses, que se

instalaram na região central do estado (Brasilrepublica, 2006). O IDH do estado é

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0,816. A distribuição da população catarinense, na altura do Censo 2000,

apresentava o perfil registado na Tabela 1.3 (IBGE, 2006).

O estado conta com 420 mil hectares de área reflorestada, especialmente

com pinheiros, nas suas regiões de planalto. Essa solução fornece matéria-prima

para as indústrias de papel e celulose, móveis e outros itens fabricados em

madeira. Ali são produzidas, anualmente, 900 mil toneladas de papel e celulose,

gerando uma renda de US$610 milhões.

A topografia do estado é privilegiada, com planícies do litoral, enseadas e

ilhas ao longo da costa e uma área serrana que faz parte do Planalto Atlântico. O

clima de Santa Catarina é subtropical, ocorrendo temperaturas médias inferiores a

18ºC em diversas de suas regiões.

As chuvas são frequentes, o que favorece a cobertura vegetal,

representada nomeadamente pela Mata Atlântica e pela Mata da Araucária na

maior parte de seu território. Com chuvas regulares e rios perenes, destacando-se

o Uruguai e o Itajaí, o estado não enfrenta problemas de escassez de água.

As diversificadas paisagens naturais e a disponibilidade de praias e

montanhas, vales e altitudes de até 1.800 metros fazem com que o estado tenha

a natural vocação para o turismo. Aliando-se a isso a riqueza cultural das

comunidades e a sua diversificada culinária, é fácil entender por que Santa

Catarina atrai tanto os turistas do país como os estrangeiros, nomeadamente sul-

americanos.

Esse afluxo tem significado um importante reforço na economia

catarinense, com significante benefício para o segmento imobiliário,

considerando-se imóveis de aluguer e para venda, já que muitos estrangeiros têm

optado por adquirir imóveis no estado, mais especificamente nos balneários.

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Tabela 1.3 – Distribuição Quantitativa e Proporcion al da População de Santa Catarina por Género, Zona Residencial e Escol aridade – Censo

de 2000

Habitantes % Habitantes com Idades a Partir de 10 Anos %

Total 5.356.360 100,0 Total 4.373.138 100,0

• Homens 2.669.311 49,8 Alfabetizados 4.122.809 94,3

• Mulheres 2.687.049 50,2

• Urbana 4.217.931 78,7 Não-Alfabetizados 250.329 5,7

• Rural 1.138.429 21,3

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados do Cen so 2000 (IBGE, 2006)

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A distribuição das empresas formalmente constituídas nos dois estados

apresenta a configuração da Tabela 1.4. Os dados são de 2003, última posição

oficial disponível no ensejo da elaboração deste estudo (IBGE, 2006).

A Tabela 1.4 informa que, nos dois estados, o contingente mais

representativo de empresas encontrava-se no ramo de actividade Comércio e

reparação de veículos automotores, objectos pessoais e domésticos. Nesse ramo,

o Ceará contava com 94.509 empresas, representando 58,11% do seu total. Em

Santa Catarina, foram contadas 123.352 empresas, ou 42,25% do seu total.

No Ceará, o segundo ramo mais representativo foi o de Outros serviços

colectivos, sociais e pessoais, com 16.723 empresas, ou 10,28% do total. Em

Santa Catarina, esse ramo, com 29.539 empresas, representou 10,12% do total.

O ramo de Indústrias de transformação ficou em terceiro lugar no Ceará,

com 14.994 empresas, ou 9,22% do total. Em Santa Catarina, os números são,

respectivamente, 41.711 empresas e 14,29% do total, o que significa o segundo

lugar em quantidade de empresas.

O ramo de actividade menos representativo, no Ceará, é o de Produção e

distribuição de electricidade, gás e água, com 154 empresas, ou 0,09% do total.

Em Santa Catarina, o ramo menos representativo era o de Pesca, com 227

empresas, ou 0,08% do total. O penúltimo lugar, no Ceará, coube às Indústrias

extractivas, com 274 empresas, ou 0,17% do total. Em Santa Catarina, o

penúltimo lugar ficou com o ramo Produção e distribuição de electricidade, gás e

água, com 379 empresas, ou 0,13% do total.

Observa-se que o ramo de Indústrias de transformação é mais

representativo em Santa Catarina do que no Ceará, o que confirma o nível de

industrialização mais acentuado naquele estado. Com efeito, nesse específico

sector de actividade, Santa Catarina contava com quase o triplo de empresas

encontradas no Ceará, muito embora o total geral de empresas catarinenses

(291.939) fosse, em 2003, menor que o dobro do total geral de empresas

cearenses (162.652).

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Tabela 1.4 – Distribuição Quantitativa e Proporcion al das Empresas Formalmente Constituídas do Ceará e de Santa Catarina

por Ramo de Actividade – Dezembro/2003

RAMO DE ACTIVIDADE CEARÁ SANTA CATARINA

Quantidade % s/Total Quantidade % s/Total

Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 1.291 0,79 2.614 0,90

Pesca 314 0,19 227 0,08

Indústria extractiva mineral 274 0,17 717 0,25

Indústria de transformação 14.994 9,22 41.711 14,29

Produção e distribuição de electricidade, gás e água 154 0,09 379 0,13

Construção 3.520 2,16 6.979 2,39

Comércio e reparação de veículos automotores e objectos pessoais e de uso doméstico 94.509 58,12 123.352 42,24

Alojamento e alimentação 6.700 4,12 22.672 7,77

Transporte, armazenagem e comunicações 3.291 2,02 15.293 5,24

Intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços relacionados 2.260 1,39 3.224 1,10

Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 12.136 7,46 34.678 11,88

Administração pública, defesa e segurança social 477 0,29 966 0,33

Educação 3.550 2,18 4.390 1,50

Saúde e serviços sociais 2.459 1,51 5.198 1,78

Outros serviços colectivos, sociais e pessoais 16.723 10,29 29.539 10,12

TOTAL 162.652 100,00 291.939 100,00

Fonte: Elaboração própria, a partir de estatísticas do Cadastro Central de Empresas 2003 (IBGE, 2006)

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31

Ainda trabalhando comparativamente, importa ressaltar as diferenças nas

contribuições para a composição do Valor Agregado Bruto (VAB) nos dois

estados estudados, considerando os ramos de actividade económica. As

informações a respeito estão apresentadas na Tabela 1.5, que reúne dados do

período de 2000 a 2003, última posição oficialmente disponível ao ensejo da

elaboração deste estudo (IBGE, 2006).

Focando-se a atenção nas informações mais relevantes da Tabela 1.5,

primeiramente se observa que a contribuição da Agricultura, pecuária, silvicultura

e exploração florestal para a formação do VAB em Santa Catarina (média de

14,63%) corresponde a mais do que o dobro da contribuição da mesma actividade

desenvolvida no Ceará (6,00%, em média). Cabe ressaltar que, em Santa

Catarina, essas actividades apresentaram tendência de crescimento proporcional

modesto, no período considerado.

Relação semelhante observou-se nas médias de contribuição da Indústria

de transformação. Em Santa Catarina, registou-se a média de 38,23%, enquanto

no Ceará, a média foi de 17,85%.

As actividades de Construção vêm registando importância bem maior no

Ceará (média de 14,83%) do que em Santa Catarina (média de 6,25%). Observa-

se, contudo, que essa contribuição relativa apresentou acentuada queda no

período, saindo de 16,7%, em 2000, para 12,6%, em 2003.

Comércio e reparação de veículos automotores, objectos pessoais e de

uso doméstico são actividades que tiveram importância um pouco maior no Ceará

do que em Santa Catarina. As médias foram, respectivamente, 8,00% e 5,38%.

Vale registar que essas actividades apresentaram crescimento no Ceará (7,8%

em 2000 para 8,3% em 2003) e declínio em Santa Catarina (5,8% em 2000 para

4,9% em 2003).

A actividade menos representativa no Ceará tem sido a de Serviços

domésticos, com participação constante de 0,5% no período. Em Santa Catarina,

essa actividade mostra-se ainda menos significativo, com participação de 0,3%

em todo o período.

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Tabela 1.5 – Participação Relativa dos Ramos de Act ividade na Formação do Valor Adicionado Bruto (VAB) ,

no Ceará e em Santa Catarina – 2000 a 2003

RAMO DE ACTIVIDADE Ceará Santa Catarina

2000 2001 2002 2003 2000 2001 2002 2003

Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 6,1 5,2 6,1 6,6 13,8 13,5 14,3 16,9 Indústria extractiva mineral 1,3 1,5 1,5 1,4 0,1 0,1 0,0 0,0 Indústria de transformação 17,3 17,0 17,7 19,4 38,2 38,6 37,6 38,5 Produção e distribuição de electricidade, gás e água 2,8 3,0 3,1 4,0 3,5 4,3 4,9 4,8 Construção 16,7 15,5 14,5 12,6 6,9 6,3 6,0 5,8 Comércio e reparação de veículos automotores e objectos pessoais e de uso doméstico 7,8 8,0 7,9 8,3 5,8 5,6 5,2 4,9 Alojamento e alimentação 2,6 2,8 2,7 2,5 2,3 2,2 2,1 2,0 Transporte e armazenagem 2,3 2,4 2,2 2,5 1,7 1,6 1,8 1,7 Comunicações 3,0 2,8 3,0 2,9 1,8 2,1 2,2 2,1 Intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços relacionados 3,5 5,3 7,1 6,1 2,8 3,1 4,8 3,6 Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 9,6 9,3 8,4 7,4 8,4 8,7 7,9 6,7 Administração pública, defesa e segurança social 22,2 22,3 21,3 22,1 11,1 10,2 9,9 9,7 Saúde e educação mercantis 3,1 3,1 2,7 2,5 2,8 2,5 2,2 2,3 Outros serviços colectivos, sociais e pessoais 1,2 1,2 1,2 1,2 0,7 0,6 0,6 0,8 Serviços domésticos 0,5 0,5 0,5 0,5 0,3 0,3 0,3 0,3

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Cont as Regionais 2003 (IBGE, 2006)

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Mesmo assim, a citada actividade foi mais representativa em Santa

Catarina que a Indústria extractiva mineral, que foi ainda menos expressiva, com

0,1% de participação em 2000 e 2001 e participação nula em 2002 e 2003.

Ceará e Santa Catarina apresentam situações e números bem distintos

em comércio exterior, conforme apresentado na Tabela 1.6. Cabe observar que

referidos valores são informados em dólares americanos, no regime FOB. Todos

os valores de exportação e importação, em todos os anos do período

considerado, são mais significantivos em Santa Catarina do que no Ceará.

O perfil de economia mais desenvolvida em Santa Catarina do que no

Ceará confirma-se nos valores de transacções de comércio internacional. Nos

cinco primeiros anos do decénio considerado na Tabela 1.6, Santa Catarina

exportou o correspondente a 6,8 vezes o que foi exportado pelo Ceará, enquanto

o valor importado correspondeu a pouco mais de uma vez e meia (1,7).

Nos cinco últimos anos do período, Santa Catarina exportou o equivalente

a 5,6 vezes o valor exportado pelo Ceará, importando o correspondente a pouco

mais do dobro (2,2). Também se pode visualizar na Tabela 1.6 que, enquanto os

saldos catarinenses entre exportações e importações foram positivos em todo o

período de 1996 a 2005, o Ceará só apresenta saldos positivos nos últimos três

anos do decénio.

A Tabela 1.6 indica, ainda, que durante todo o período registou-se, para

ambos os estados, uma melhoria dos saldos da balança comercial. No Ceará, os

saldos negativos vieram se reduzindo quase que linearmente, até que se deu a

reversão entre 2002 (último ano com saldo negativo) e 2003 (primeiro ano com

saldo positivo). Em Santa Catarina, registaram-se sempre saldos anuais positivos

e crescentes. Em ambos os estados, os valores exportados apresentaram um

comportamento ascendente.

No Ceará, após se registar em 1996 um crescimento da ordem de 8,04%

em relação ao ano anterior, em 1997 as exportações sofreram um declínio

equivalente, voltando a apresentar crescimento linear nos anos seguintes, sendo

que já no ano 2000 registava-se desempenho 30% superior ao de 1996. Santa

Catarina registou queda nas exportações em 1998 e 1999, vindo a retomar o

crescimento a partir de 2000.

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34

Tabela 1.6 – Desempenho Anual da Balança Comercial no Ceará e em Santa Catarina – 1996 a 2005

(Valores em US$1,000 FOB)

ANO CEARÁ SANTA CATARINA

EXPORTAÇÃO (A) IMPORTAÇÃO (B) SALDO (A – B)

EXPORTAÇÃO (A) IMPORTAÇÃO (B) SALDO (A – B) VALOR VAR (%) VALOR VAR (%) VALOR VAR (%) VALOR VAR (%)

1996 380.434 8,04 813.469 25,74 -433.035 2.637.308 -0,55 1.249.005 4,21 1.388.303

1997 353.002 -7,21 681.904 -16,17 -328.902 2.803.152 6,29 1.407.807 12,71 1.395.345

1998 355.246 0,64 605.943 -11,14 -250.697 2.605.306 -7,06 1.270.694 -9,74 1.334.612

1999 371.206 4,49 573.475 -5,36 -202.269 2.567.364 -1,46 883.465 -30,47 1.683.899

2000 495.098 33,38 717.933 25,19 -222.835 2.711.703 5,62 957.133 8,34 1.754.570

2001 527.051 6,45 623.492 -13,15 -96.441 3.028.399 11,68 860.240 -10,12 2.168.159

2002 543.902 3,20 635.910 1,99 -92.008 3.157.065 4,25 931.430 8,28 2.225.635

2003 760.927 39,90 540.776 -14,96 220.151 3.695.786 17,06 993.727 6,69 2.702.059

2004 859.369 12,94 573.596 6,07 285.773 4.853.506 31,33 1.508.945 51,85 3.344.561

2005 930.451 8,27 588.656 2,63 341.795 5.584.125 15,05 2.186.455 44,90 3.397.670

Obs.: VAR (%) – CRITÉRIO DE CÁLCULO => Ano anterior = 100%

Fonte: Elaboração própria, com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior SECEX–Secretaria do Comércio Exterior (2006)

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Os valores das importações apresentam um comportamento mais errático,

mas pode-se afirmar que o Ceará registou uma curva descendente.

Santa Catarina vem registando crescimento de importação, a partir de

2002, porém amplamente suplantado pelo crescimento das exportações, cujos

elevados e crescentes valores conferem ao estado uma ampla margem positiva

no saldo da balança comercial.

Cabe comentar que valores signficativos de importação nem sempre são

má notícia. A importação de bens de capital pode viabilizar o fortalecimento da

economia local, o que se reverterá em maiores valores exportados, no futuro.

1.2.2. O SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

Neste tópico são apresentadas algumas informações sobre o sistema

tributário brasileiro, julgadas imprescindíveis ao entendimento do tema sob

análise.

São apresentados os aspectos normativos do sistema, as diversas

classificações dos tributos, o sentimento geral de como se dá o relacionamento

entre sistema e contribuintes, além de informações sobre a carga tributária e sua

distribuição.

Mais particularmente, interessa conduzir à identificação e compreensão

das características desse sistema que, possivelmente, exercem influência sobre a

propensão dos contribuintes ao descumprimento das suas obrigações fiscais.

Deve-se ressaltar que, no Brasil, a maioria dos tributos é do tipo “declaratório”, o

que reforça que seja do contribuinte a decisão quanto à adopção de práticas de

evasão fiscal.

1.2.2.1. ASPECTOS NORMATIVOS

No Brasil, o sistema tributário é regido pelo Código Tributário Nacional

(CTN), instituído pela Lei n. 5.172, de 25 de Outubro de 1966, e também por

dispositivos específicos incluídos na Constituição Federal. Como em todos os

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países, os tributos são cobrados dos contribuintes, pessoas físicas e jurídicas,

para fazer face a despesas públicas com a prestação de serviços à sociedade.

Os serviços públicos podem ser compulsórios ou facultativos. Como a

denominação já deixa claro, os serviços compulsórios não podem ser

dispensados pelo destinatário a pretexto de evitar a incidência do tributo, nem

podem ser suprimidos pelo Poder Público por falta de pagamento, hipótese em

que devem ser cobrados pela via judicial. Um exemplo claro é o serviço de

saneamento, para o qual não cabe recusa do contribuinte, porquanto tem

implicações na saúde pública.

Os serviços facultativos, como o nome também indica, podem deixar de ser

utilizados pelo destinatário, e seu fornecimento pode ser suspenso pelo Estado,

por falta de pagamento. Um exemplo é a prestação de serviços de comunicação

por entidade pública.

Os serviços públicos podem, também, ser classificados em uti singuli e uti

universi. Os primeiros são divisíveis e individualizáveis, e são cobrados por meio

de taxas, enquanto os segundos são indivisíveis, dando-se a sua cobrança por

meio de impostos.

É exemplo de serviço uti singuli o fornecimento de água por ente público,

em que a cobrança se verifica de forma individualizada e diferenciada segundo o

volume consumido. São exemplos de serviços uti universi a segurança pública e

a construção de rodovias.

Segundo Fürher & Fürher (2005, p. 37), o CTN define muito claramente

que tributo se caracteriza “pela compulsoriedade, pelo pagamento em dinheiro ou

valor equivalente, pelo seu carácter não punitivo, pela previsão legal e pela sua

cobrança vinculada, sem margem de discricionariedade”. Embora o pagamento

de tributos em bens materiais seja previsto no CTN, o procedimento não é comum

no país. A prática requer autorização em lei específica.

No Brasil, a doutrina fiscal estabelece os seguintes princípios tributários,

todos eles capitulados na Constituição Federal:

1. Estrita legalidade – somente através de lei os tributos podem ser

criados ou alterados;

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2. Anterioridade – a vigência da lei que cria ou aumenta a incidência de

tributo só pode iniciar-se no ano subsequente ao de sua publicação;

3. Irretroactividade – os dispositivos de uma lei tributária não podem

incidir sobre fatos anteriores à data de sua publicação;

4. Isonomia – contribuintes em situação equivalente não podem receber

tratamentos diferenciados;

5. Capacidade contributiva – os tributos devem ser cobrados de acordo

com a capacidade contributiva de cada um;

6. Vedação de efeitos confiscatórios – o tributo não pode ser tão

oneroso que represente uma apropriação exagerada;

7. Imunidade recíproca das esferas públicas – a União, os estados, o

Distrito Federal e os municípios não podem tributar património, renda

ou serviço uns dos outros;

8. Imunidade de tráfego – não pode haver cobrança de tributo pela

simples travessia de divisa estadual ou limite municipal4;

9. Uniformidade nacional – os tributos federais são iguais em todas as

unidades federativas;

10. Vedação de distinção em razão de procedência ou des tino – os

estados, o Distrito Federal e os municípios não podem fazer distinção

tributária em bens ou serviços, em virtude da sua origem ou destino;

11. Não-cumulatividade – no caso de operações sucessivas, em cada

cálculo do tributo serão deduzidos os valores recolhidos nas operações

anteriores;

12. Tipicidade – um tributo só incide em fato ou situação típica, legalmente

previstos.

Fürher & Fürher (2005) argumentam que os princípios tributários funcionam

como limitações ao poder de tributar da União, dos estados, do Distrito Federal e

dos municípios.

4 Não é o caso da portagem (pedágio, na linguagem brasileira), cuja cobrança não decorre de

travessia de divisa estadual ou de limite municipal, mas de utilização de rodovia.

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38

1.2.2.2. OS TRIBUTOS E SUAS CLASSIFICAÇÕES

Os tributos brasileiros são qualificados pelos factos que lhes dão origem, e

não pela sua denominação ou pela destinação dos recursos arrecadados. A

Constituição Federal, no art. 145, e o CTN, no art. 5º, classificam os tributos

brasileiros em imposto, taxa e contribuição de melhoria. Essa é a primeira das

classificações apresentadas neste estudo.

Führer & Führer (2005) estabelecem as características que distinguem as

categorias de tributos, segundo a mencionada classificação, do seguinte modo:

1. Imposto tem carácter genérico e não depende de “qualquer atividade

ou serviço do poder público em relação ao contribuinte” (p. 36). Assim,

o imposto é exigido dos contribuintes com a finalidade de propiciar ao

Estado recursos para fazer face às necessidades da sociedade em

geral. Não há relação directa entre arrecadação e aplicação dos

recursos provenientes de impostos;

2. Empréstimo compulsório é “um imposto qualificado pela promessa de

restituição” (p. 38). Procura atender a uma necessidade temporária de

aporte financeiro. É o que aconteceria, por exemplo, no caso de a

União necessitar de recursos para superar problemas decorrentes de

uma catástrofe ou em caso de conflito armado. O empréstimo

compulsório tem prazo previsto para restituição e prevê rendimentos

financeiros predefinidos;

3. Taxa é tributo relacionado com a prestação de “algum serviço público

para um beneficiário identificado ou identificável” (p. 36). Um exemplo é

o fornecimento de água por ente público;

4. Contribuição de melhoria é um tributo que incide sobre “a valorização

de imóvel particular, em decorrência de obras públicas” (p. 38). Tem a

finalidade de ressarcir o Estado por dispêndios com obras que

resultarem na valorização da propriedade imobiliária.

5. Contribuição social é tributo destinado à colecta de recursos para

certas áreas de interesse do poder público, na administração directa ou

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indirecta (p. 38). Destina-se a custear uma finalidade predeterminada,

como a Segurança Social.

Como se vê, os autores citados, a exemplo de vários outros, incluem o

Empréstimo Compulsório entre os tributos. Apesar de ter carácter coactivo por

imposição do Estado, o Empréstimo Compulsório tem natureza de contrato, com

prazo certo de restituição e garantia de rendimento financeiro. Foge, pois, o

Empréstimo Compulsório, ao modelo de tributo conforme entendido neste estudo,

cuja contrapartida é a prestação de serviço, e não a restituição monetária.

Zanluca (2005) afirma que também não são tributos o aforamento, o

laudémio, a taxa de ocupação, o pedágio5 e as tarifas públicas, nem os preços

públicos e as rendas de multas. Mais especificamente, diz o autor (p. 1):

O foro, o laudêmio e a taxa de ocupação não são tributos, receitas derivadas, mas sim receitas originárias, às quais a União tem direito em razão do uso por terceiros de seus bens imóveis. Não estão sujeitos, portanto, às normas do Código Tributário Nacional.

Convém explicitar a distinção entre aforamento e laudémio. O primeiro é

uma taxa periódica cobrada pelo Governo Federal àqueles que ocupam territórios

cujo domínio pertence à União, como é o caso dos chamados terrenos “de

marinha”, localizados na orla marítima. O segundo é uma taxa cobrada sempre

que houver uma transacção comercial envolvendo imóvel, sendo seu valor

calculado com base no valor declarado da negociação ou da avaliação feita pelo

poder público.

Os tributos brasileiros também podem ser classificados pela competência

fiscal dos entes públicos; ou seja, podem ser federais, estaduais ou municipais. À

União (federação) é facultado o estabelecimento e o recolhimento de impostos,

taxas, contribuições (de melhoria e sociais) e empréstimos compulsórios. Aos

estados e municípios não é permitido estabelecer e recolher empréstimos

compulsórios. O Distrito Federal (capital do país) tem as mesmas prerrogativas e

sofre as mesmas vedações tributárias dos estados e municípios. O Quadro 1.1

apresenta os diversos tipos de tributos cobrados no Brasil, em 2005, de pessoas

físicas ou jurídicas, pelas três esferas de governo. 5 O mesmo que portagem em Portugal.

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Quadro 1.1 – Distribuição dos Tributos por Esfera d e Competência – Posição em 2005

DENOMINAÇÃO COMPE-TÊNCIA

Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) União Contribuição à Direção de Portos e Costas (DPC) União Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)

União

Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), também chamado de Salário-Educação

União

Contribuição ao Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural (FUNRURAL)

União

Contribuição ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) União Contribuição ao Seguro de Acidentes de Trabalho (SAT) União Contribuição ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)

União

Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) União Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizagem dos Transportes (SENAT) União Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) União Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) União Contribuição ao Serviço Social da Indústria (SESI) União Contribuição ao Serviço Social do Comércio (SESC) União Contribuição ao Serviço Social do Cooperativismo (SESCOOP) União Contribuição ao Serviço Social dos Transportes (SEST) União Contribuição Confederativa Laboral (dos empregados) União Contribuição Confederativa Patronal (das empresas) União Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (CIDE) Combustíveis União Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (CIDE) Remessas ao Exterior União Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública Município Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional União Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) União Contribuição Sindical Laboral (não se confunde com a Contribuição Confederativa Laboral)

União

Contribuição Sindical Patronal (não se confunde com a Contribuição Confederativa Patronal)

União

Contribuição Social Adicional para Reposição das Perdas Inflacionárias do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)

União

Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) União Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) União Contribuições aos Órgãos de Fiscalização Profissional (Ordens e Conselhos) Específica Contribuição de Melhoria (pavimentação, saneamento e outros) 3 esferas Fundo Aeroviário (FAER) União Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL) União Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) União Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) União

Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização (FUNDAF) União

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Estado Imposto sobre a Exportação (IE) União Imposto sobre a Importação (II) União Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) Estado

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Quadro 1.1 – Distribuição dos Tributos por Esfera d e Competência continuação

DENOMINAÇÃO COMPE-TÊNCIA

Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) Município Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) União Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – Pessoas físicas e jurídicas (IR)

União

Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF)

União

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) Município Imposto sobre Transmissão de Bens Intervivos (ITBI) Estado Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) Município Contribuição para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) Autônomos e Empresários

União

Contribuição para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) Empregados União Contribuição para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) Patronal União Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) União Programa de Integração Social e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP)

União

Taxa de Autorização do Trabalho Estrangeiro União Taxa de Avaliação in loco das Instituições de Educação e Cursos de Graduação União Taxa de Classificação, Inspeção e Fiscalização de Produtos Animais e Vegetais ou de Consumo nas Atividades Agropecuárias

União

Taxa de Coleta de Lixo Município Taxa de Combate a Incêndios Município Taxa de Conservação e Limpeza Pública Município Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental União Taxa de Controle e Fiscalização de Produtos Químicos União Taxa de Emissão de Documentos 3 esferas Taxa de Fiscalização da Aviação Civil (TFAC) União Taxa de Fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) União Taxa de Fiscalização de Sorteios, Brindes ou Concursos União Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária Município Taxa de Fiscalização dos Produtos Controlados pelo Exército Brasileiro (TFPC) União Taxa de Fiscalização e Controle da Previdência Complementar (TAFIC) União Taxa de Licenciamento Anual de Veículo Automotor Estado Taxa de Licenciamento para Construção e Alvará de Funcionamento Município Taxa de Pesquisa Mineral (DNPM) União Taxa de Serviços Administrativos (TSA) – Zona Franca de Manaus União Taxa de Serviços Metrológicos União Taxa para o Conselho Nacional de Petróleo (CNP) União Taxa de Outorga e Fiscalização – Energia elétrica União Taxa de Outorga – Rádios comunitárias União Taxa de Outorga – Serviços de transportes terrestres e aquaviários União Taxas de Saúde Suplementar (ANS) União Taxa de Utilização do Mercante União Taxa do Registro do Comércio (Junta Comercial) Estado Taxa Processual do Conselho Administrativo de Defesa Econômica União

Fonte: Portal Tributário (2006)

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42

Os tributos brasileiros podem, ainda, ser classificados por outros diferentes

critérios, dentre os quais os que são propostos pelo Portal Tributário (2006):

• Pela responsabilidade do pagamento

− Directos – quando numa só pessoa reúnem-se as condições de

contribuinte (aquele que é responsável pelo cumprimento de todas

as obrigações tributárias previstas na legislação) e responsável pelo

pagamento. Exemplo: Imposto de Renda por declaração.

− Indirectos – quando, na relação jurídico-tributária que se estabelece

entre o Estado e o sujeito passivo, este recolhe o tributo

correspondente e se reembolsa do valor, repassando-o para terceiro

mediante acréscimo no preço do produto ou serviço. Exemplos: IPI e

ICMS.

• Pelas características do contribuinte

− Reais – quando não se levam em consideração as condições do

contribuinte, incidindo igualmente sobre todas as pessoas. Exemplo:

IPTU.

− Pessoais – quando se estabelecem diferenças tributárias em função

das condições próprias do contribuinte. Exemplo: Imposto de Renda

das Pessoas Físicas e das Pessoas Jurídicas.

• Pela forma de cálculo

− Proporcionais – quando os valores são estabelecidos por meio de

alíquota6 única incidente sobre o valor da matéria tributável.

Exemplo: ITBI.

− Progressivos – quando os números para cálculo são fixados em

quotas variáveis e crescentes. Exemplo: Imposto de Renda de

Pessoa Física.

6 Alíquota é a denominação, no Brasil, do percentual considerado no cálculo do valor do tributo a

ser recolhido. No caso brasileiro, muitas vezes o mesmo tributo tem diferentes alíquotas,

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43

− Fixos – quando os valores a recolher são determinados em quantia

certa, independentemente de cálculo. Exemplo: ISS –

enquadramento por estimativa anual.

• Pela finalidade

− Fiscais – têm a finalidade de arrecadar recursos para pessoa jurídica

de direito público interno (Estado). Exemplo: Imposto de Renda.

− Parafiscais – têm a finalidade de custear autarquias, órgãos

paraestatais, profissionais ou sociais. Por exemplo, as contribuições

para Ordens e Conselhos profissionais.

− Extrafiscais – além de visar à arrecadação, têm a finalidade de

corrigir desequilíbrios na economia. Exemplo: Imposto de

Exportação.

Além das classificações por tipo (impostos, taxas e contribuições), por

competência do ente público (federais, estaduais e municipais), pela

responsabilidade do pagamento (directos e indirectos), pelas características do

contribuinte (reais e pessoais), pela forma de cálculo (proporcionais, progressivos

e fixos) e pela finalidade (fiscais, parafiscais e extrafiscais), os tributos devidos

pelas empresas brasileiras podem ainda ser agrupados por facto gerador. Nesse

particular, podem ser classificados em:

1. tributos decorrentes de valores gerados na actividade produtiva;

2. tributos incidentes sobre o valor da propriedade;

3. encargos sociais incidentes sobre os valores da folha de pagamento de

pessoal.

Estes últimos são genericamente denominados Encargos Sociais, e, sem

considerar os incentivos e benefícios concedidos pela política de gestão de

recursos humanos de cada empresa, incorporam contribuições de segurança

social e recolhimentos para instituições do “Sistema S”7 e para constituição de

7 O chamado “Sistema S” compõe-se dos Serviços Sociais da Indústria (SESI), do Comércio

(SESC) e dos Transportes (SEST); dos Serviços Nacionais de Aprendizagem Industrial (SENAI), Comercial (SENAC), Rural (SENAR) e dos Transportes (SENAT), além do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).

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44

fundos definidos em lei, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)8

e o Programa de Integração Social (PIS). São calculados com base nos valores

pagos aos empregados. Essas obrigações, embora não sejam tributos na

acepção jurídica do termo, assim podem ser consideradas, por se destinarem ao

pagamento de benefícios de responsabilidade do Estado, por serem

determinadas e fiscalizadas pela União e por onerarem as finanças das

empresas.

Sem mencionarmos os tributos que incidem sobre insumos – matérias-

primas, combustíveis, lubrificantes e energia eléctrica, por exemplo –, e que

são pagos pelos fornecedores e terminam por ser agregados aos seus custos, as

empresas brasileiras são responsáveis pelo recolhimento de vários tributos

federais, estaduais e municipais, seja como contribuintes directos ou como

contribuintes substitutos.

Desconsideradas as taxas de serviços públicos, porque são geradas a

partir de serviços prestados pelos entes públicos e decorrem de necessidades

específicas, a estrutura dos tributos incidentes sobre as empresas brasileiras

pode ser visualizada no Quadro 1.2.

Vale notar que a maioria dos tributos suportados pelas empresas

brasileiras é do tipo “declaratório”, assim como depende das informações

prestadas pelas empresas a quase totalidade dos valores recolhidos. Significa

dizer que cabe às empresas a iniciativa de se declararem devedoras e de

informarem e recolherem os valores devidos.

Evidentemente, as informações são passíveis de verificação pelas

autoridades fiscais, que se valem dos registos financeiros das próprias empresas,

assim como dos registos dos parceiros com quem tenham efectuado transacções

no período considerado. De qualquer maneira, como compete a cada empresa a

iniciativa de se declarar devedora, fica menos difícil a opção pela evasão fiscal,

inclusivamente a utilização de práticas ilegais, quando a empresa sentir que essa

alternativa é justificável, aceitável ou inevitável. 8 O FGTS é constituído de valores incidentes sobre o salário pago a cada empregado formal,

podendo ser liberado para saque por este, quando da sua demissão, aposentadoria ou ocorrência de evento especial (como algumas doenças graves ou compra de imóvel para moradia).

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45

Quadro 1.2 – Distribuição dos Tributos que Oneram a s Empresas Brasileiras por Esfera de Competência 9

(não incluídas as taxas pela prestação de serviços públicos)

FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL

IMP

OS

TO

SO

BR

E

• Importação (II)

• Exportação (IE)

• Produtos industrializados (IPI)

• Operações de crédito, câmbio e seguro ou relativas a títulos ou valores mobiliários (IOF)

• Renda (IR)

• Propriedade territorial rural (ITR)

• Circulação de mercadorias e serviços (ICMS)

• Propriedade de veículos automotores (IPVA)

• Propriedade predial e territorial urbana (IPTU)

• Transmissão de bens imóveis (ITBI)

• Serviços de qualquer natureza (ISS)

CO

NT

RIB

UIÇ

ÃO

• Social sobre o lucro líquido (CSLL)

• Para financiamento da seguridade social (COFINS)

• Para o Programa de Integração Social (PIS)

• De melhoria, por obra federal

• De melhoria, por obra estadual

• De melhoria, por obra municipal

9 O ITR (sobre imóveis rurais), o IPTU (sobre imóveis urbanos) e o IPVA (sobre veículos

automotores) são calculados sobre os valores dos bens a que se referem e cobrados anualmente dos proprietários, quer sejam pessoas físicas ou jurídicas. Pessoas físicas também pagam IR (renda), ITBI (transmissão de bens imóveis), ISS (serviços) e Contribuição de Melhoria.

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46

1.2.2.3. A RELAÇÃO COM O CONTRIBUINTE

Tem-se como premissa, baseada nos autores consultados, que a forma

como o contribuinte se sente tratado pelo sistema tributário pode influenciar sua

propensão a adoptar a prática de evasão fiscal. Quanto mais o contribuinte se

sinta desconfortável na relação que tenha com o sistema fiscal, menor será o seu

custo moral para decidir-se pela evasão.

Uma das constatações dos investigadores é que o custo moral da decisão

pela prática da evasão fiscal é tanto menor quanto pior for a reputação do

sistema tributário entre os contribuintes. No caso brasileiro, Lima (1999b, 130-

131), observa o seguinte:

O diagnóstico mais frequente é que o sistema tributário atrapalha a eficiência económica e é socialmente injusto e caro para o Estado e para os contribuintes. O sistema tributário atrapalha a eficiência económica em razão do grande número de alíquotas e hipóteses de isenção, principalmente no imposto sobre produtos industrializados (IPI), que distorcem a alocação de recursos do mercado. Tal sistema é socialmente injusto porque há muitas brechas na legislação fiscal que permitem a prática da elisão tributária, mais acessível aos grandes contribuintes. Além disso, autoridades do próprio governo reconhecem a elevada sonegação em alguns setores com elevada capacidade contributiva.10 Custa caro porque o sistema é complexo, com distintas espécies tributárias e três esferas de governo com competência impositiva. Adicionalmente, há intensa competição tributária entre os estados e municípios.

Além do elevado número de alíquotas11 e possibilidades de isenção, há no

Brasil uma excessiva geração de regras tributárias, o que dificulta a convivência

dos contribuintes com o sistema. Estudo recente do Instituto Brasileiro de

Planejamento Tributário (IBPT, 2007) informa que nas três esferas de governo,

são geradas 50 normas fiscais por dia útil, agravando ainda mais a situação

registada até o ano 2004, conforme ilustra o Gráfico 1.1.

10 O depoimento do secretário da Receita Federal na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do

sistema financeiro, em maio de 1999, mostrou claramente essa visão. 11 No Brasil, muitas vezes o mesmo tributo tem diferentes alíquotas, definidas conforme algumas

especificidades, como características do contribuinte, local e faixa de valor do bem ou serviço tributado. Isso torna o sistema fiscal muito confuso para os contribuintes.

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47

Gráfico 1.1 – Distribuição Quantitativa Anual da Produção de Normas – 2000 a 2004

7.500

7.800

8.100

8.500

8.800

2000 2001 2002 2003 2004

Fonte: Revista Exame – N o 18 (2006)

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48

O contribuinte pode ter a sensação de que é difícil ou impossível

enquadrar-se nas exigências do sistema tributário, o que termina por incentivar a

opção pela evasão fiscal. Evidentemente, quando julga inevitável a prática da

evasão, a empresa a adopta, ainda que haja o risco de vir a ser autuada pela

autoridade fiscal.

Por outro lado, sempre que julgar justificável ou aceitável aquela prática

ilícita, a empresa haverá de fazer uma análise do custo representado pelo risco

de sua manobra ser descoberta e vir a sofrer sanções, nomeadamente

financeiras, confrontando esse risco com os possíveis benefícios da evasão fiscal.

Não se pretende afirmar que a análise da relação custo/benefício sempre é

feita por cálculos financeiros. Nos casos brasileiros, nossas investigações

anteriores indicam que, na maioria das vezes, essa análise se dá de forma

intuitiva, sem uma avaliação quantitativa.

Na análise da relação custo/benefício, que, segundo se imagina, deve

subsidiar a decisão pela prática de evasão, o valor esperado de possíveis

sanções representa uma das parcelas dos custos. A hipótese de subornar um

agente público com um valor inferior ao esperado das sanções reduz o valor

dessa parcela esperada de custo, aumentando a probabilidade de uma posição

mais favorável à prática de evasão fiscal.

Apesar desse entendimento, alguns autores advogam mesmo que a

corrupção de um sistema tributário pode contribuir para a queda dos índices de

evasão fiscal. A tese é a de que a possibilidade de negociar favores com

contribuintes que praticam fraudes contra o sistema faz com que agentes

corruptos trabalhem com maior afinco para descobrir fraudes fiscais. Isso faz com

que aumente a probabilidade de as fraudes virem a ser descobertas. Isso,

contraditoriamente, acaba por tornar tais práticas pouco atraentes

(MOOKHERJEE, 1997).

A possibilidade de optar pela evasão associada ao suborno vem ganhando

espaço nas relações entre as empresas e os agentes do Estado, ao redor do

mundo, ao ponto de merecer a atenção de vários investigadores académicos,

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49

como é o caso de López (2004), Méon & Sekat (2005), Raigorodsky (2004),

Tavares (2005) e Torgler (2005).

Procurando identificar a situação do Brasil quanto a esse aspecto, o

presente estudo valeu-se da versão de 2005 do já tradicional Índice de Percepção

da Corrupção, da Transparency International (2006). Essa classificação resulta

da atribuição de notas aos países, a partir da percepção de empresários e

observadores quanto aos níveis de confiança, em que a nota dez equivale a uma

situação de absoluta ausência de corrupção.

O ranking de 2005 classificou 158 países. Com 3,7 pontos, o Brasil se

posicionou na 62ª colocação, juntamente com Belize. Nas primeiras posições

ficaram Islândia (9,7), Finlândia (9,6) e Nova Zelândia (9,6). Nas últimas

colocações ficaram Bangladesh e Chade (1,7).

Comparado com outros países emergentes, o Brasil ficou mais bem

classificado. O México ocupou o 65º lugar, na companhia de Gana, Panamá e

Peru (3,5); a Argentina ficou na 97ª colocação, junto a Argélia, Madagáscar,

Malawi, Moçambique e Sérvia e Montenegro (2,8); a China (3,2) faz companhia a

Marrocos e Senegal, no 78º lugar; a Índia ficou em 88º, acompanhada de

Arménia, Benin, Bósnia e Herzegovina, Gabão, Irão, Mali, Moldávia e Tanzânia

(2,9); Rússia acompanha Albânia, Níger e Serra Leoa no 126º posto (2,4).

A influência da reputação do sistema fiscal na decisão dos contribuintes,

nomeadamente no tocante à dificuldade de convivência e aos elevados níveis de

corrupção, justifica a inclusão desse item neste estudo.

1.2.2.4. A CARGA TRIBUTÁRIA

A carga tributária (proporção do valor arrecadado com tributos em relação

ao PIB) vem crescendo no Brasil, ano a ano, como demonstram os Gráficos 1.2 e

1.3. O Gráfico 1.2 foi construído em escala anual. O Gráfico 1.3 foi construído em

escala quinquenal, para facilitar a visualização de que há mais de cinquenta anos

vem se registando um crescimento consistente da carga tributária, interrompido

por uma discreta redução no período de 1970 a 1985.

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50

Gráfico 1.3 – Comportamento Quinquenal da Carga Tributária Brasileira – 1950 a 2005

1950 a 2005 – Escala Quinquenal

14,42 15,05 17,41

18,99

25,98 25,22 24,52 24,06

28,78 29,41

32,67 37,82

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Anos

%

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Afonso e Amorim (2004) , atualizados para 2005 com dados de Amaral e Olenike (2006).

Gráfico 1.2 – Comportamento Anual da Carga Tributária Brasileira – 1947 a 2005

1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Anos

Car

ga T

ribut

ária

com

% d

o P

IB

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

1947

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados de Afo nso e Amorim (2004), atualizados para 2005 com dados de Amaral e Olenike (2006)

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51

Em ambos os gráficos percebe-se que o crescimento da carga tributária se

acentua após a promulgação da Constituição Federal de 1988, quando as

obrigações ali estabelecidas exacerbaram a necessidade de financiamento do

Estado. Segundo estudo recente do IBPT (2007), houve um aumento de 76%,

desde então até Outubro de 2007. Na Tabela 7.1 (nos Apêndices), vê-se que o

próprio PIB brasileiro tem apresentado crescimento em termos reais, o que

configura um aumento exponencial da arrecadação tributária brasileira.

Lima (1999b, p. 131) faz a seguinte observação:

Grande parte das deficiências do sistema tributário nacional tem origem na Constituição de 1988, que reformou amplamente o papel do Estado na economia, incluindo a tributação. A sensação na sociedade, compartilhada por diversos especialistas, é de que a Constituição criou um sistema de financiamento insuficiente para o tamanho do Estado por ela definido. Como resultado, o governo federal teve de criar, posteriormente à promulgação da Carta Magna, uma série de tributos para completar o financiamento do Estado, sem maior preocupação com regras económicas de tributação, apenas visando à arrecadação

Ressalte-se o sentimento de que o crescimento exponencial da carga

tributária ocorre sem a contrapartida de aumento dos benefícios à sociedade.

Evidentemente, há países com carga tributária mais elevada que a brasileira, mas

é forçoso admitir que os cidadãos de tais nações recebem mais e melhores

benefícios do Estado, principalmente relacionados a educação, saúde, segurança

e infra-estrutura.

Essa situação resulta, inevitavelmente, num generalizado

descontentamento na sociedade brasileira, o que reduz o custo moral da prática

de evasão fiscal. Esse sentimento reflecte-se nas organizações, podendo vir a

ser uma das explicações para a crescente adesão à evasão fiscal pelas empresas

brasileiras.

Na Tabela 1.7, pode-se observar que, historicamente, o Brasil apresenta

uma carga tributária proporcional menor que as da Suécia, da Noruega, da

França e da Itália, por exemplo. Importa registar, porém, que nesses países a

oferta de benefícios à população é significantemente melhor.

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52

Fonte: Amaral e Olenike (2006)

Tabela 1.7 – Evolução da Carga Tributária no Contexto Internacional 1985 a 2004

PAÍS 1985 1995 2000 2003 2004

Suécia 48,2 48,5 53,8 50,6 50,7

Noruega 43,1 41,1 43,2 43,4 44,9

França 43,8 43,9 45,2 43,4 43,7

Itália 34,4 41,2 43,2 43,1 42,2

Brasil (IBPT) 20,8 28,9 32,8 35,5 36,8

Brasil (Receita Federal) 20,2 28,7 32,5 34,9 35,9

Alemanha 37,2 38,2 37,8 35,5 34,6

Turquia 15,4 22,6 32,3 32,8 31,1

Canadá 32,5 35,6 35,6 33,8 33,0

Espanha 27,8 32,8 35,2 34,9 35,1

Nova Zelândia 31,3 37,0 33,4 34,9 35,4

Suíça 25,8 27,8 30,5 29,5 29,4

Portugal 26,6 33,6 36,4 37,1 -

Polónia - 37,0 32,5 34,2 -

Austrália 29,1 29,6 31,8 31,6 -

Reino Unido 37,7 35,0 37,4 35,6 36,1

EEUU 25,6 27,9 29,9 25,6 25,4

Irlanda 35,0 32,8 32,2 29,7 30,0

Japão 27,4 27,8 27,1 25,3 -

Coreia do Sul 16,0 19,4 23,6 25,3 24,6

México 17,0 16,7 18,5 19,0 18,5

Argentina 15,3 16,8 17,4 20,7 21,9

Chile 19,8 18,7 17,3 18,1 19,2

China - 18,9 16,3 16,7 16,7

Rússia - 19,7 16,1 16,9 16,9

Média dos países OCDE* 33,6 35,9 37,2 36,3 36,1

Média dos países OCDE – Excepto Europa* 36,6 38,5 39,9 38,9 39,1

Média dos países OCDE – Excepto América do Norte

25,0 26,7 28,0 26,1 25,6

* 2004 – dados provisórios

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A exemplo do que se fez no tópico anterior, parece ser mais adequada uma

comparação da carga tributária brasileira com a de outros países emergentes.

Nessa comparação, pela Tabela 1.7, constata-se que Argentina, China, México e

Rússia, por exemplo, historicamente têm registado cargas tributárias menores que

a brasileira.

Considere-se que a globalização dos mercados de compra e venda faz

com que os empresários brasileiros se vejam na contingência de enfrentar

concorrentes de outras nações, tanto no mercado internacional como no interno.

A situação torna-se de difícil sustentação para os empresários brasileiros,

na medida em que esses concorrentes não enfrentam cargas tributárias tão

elevadas quanto a brasileira e, quando isso acontece, recebem compensações

dos governos dos seus países, na forma de segurança patrimonial, facilidade de

escoamento da produção e oferta de benefícios para os empregados, além de

outros serviços públicos.

Essas facilidades, disponíveis em outros países, desobrigam as empresas

estrangeiras de sobrecarregar seus caixas com os ónus de algumas despesas

imprescindíveis ao seu funcionamento. Quando falta o Estado, torna-se

necessário que as próprias empresas assumam a responsabilidade por esses

custos.

A prática de evasão fiscal pelos empresários brasileiros poderia, então, ser

compreendida não como uma simples “retaliação” contra o Estado, mas como

uma reacção necessária à própria sobrevivência das empresas nesse mercado

globalizado de compra e venda.

Dessa forma, o comportamento evasivo faria parte da conduta estratégica

das empresas, assim considerado o seu repertório de procedimentos adoptados

para interagir com o meio envolvente, em busca da sobrevivência e do seu

desenvolvimento.

Por isso, julgou-se necessário incluir no instrumento de investigação

utilizado neste estudo uma questão específica a esse respeito.

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1.2.2.5. DISTRIBUIÇÃO DA CARGA TRIBUTÁRIA

O Gráfico 1.4 apresenta a evolução da carga tributária brasileira nas três

esferas de governo no período de 1998 a 2005. Observa-se que a União

arrecadava pouco menos de 70,0%, em 1998. Na altura, os estados arrecadavam

em torno de 26,0% e os municípios um pouco acima de 5,0%.

A partir de 2002, registou-se um crescimento da participação relativa da

União, que ficou um pouco acima de 70,0%; os estados passaram a uma

proporção em torno de 25,5%, enquanto os municípios tiveram sua cota reduzida

para menos de 5,0. Esse crescimento relativo da arrecadação fiscal da União

vem a confirmar a assertiva de Lima (1999b) antes referida.

A Tabela 1.8 apresenta a distribuição da carga tributária brasileira por tipo

de tributo. De acordo com as informações ali apresentadas, o ICMS, de

competência estadual, tem registado a maior proporção, superior a 21% da

arrecadação tributária total.

Seguem-se três tributos federais, a saber:

• Imposto sobre a Renda, flutuando entre 16% e 17% do total;

• Contribuição para a Seguridade (Segurança) Social, aproximando-

se de 16%;

• Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS),

de quase 12%.

Em 2005, a soma desses quatro principais tributos

(ICMS/IR/INSS/COFINS) representou quase 66% da carga tributária brasileira,

enquanto cada um dos demais tributos regista, isoladamente, participação inferior

a 5% do total. Os quatro principais tributos têm as seguintes características: o

ICMS é imposto de consumo; o segundo (IR) incide sobre rendimentos e

remuneração das pessoas físicas e lucros das empresas; a contribuição para a

segurança social é calculada com base na remuneração dos empregados; e a

COFINS é calculada sobre a receita das empresas.

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55

68,63

26,16

5,21

69,78

25,37

4,85

69,19

26,35

4,46

69,00

26,60

4,40

70,77

25,35

70,63

25,21

4,16

25,56

4,56

70,21

25,61

4,18

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Gráfico 1.4 – Evolução Proporcional (%) da Carga Tributária por N ível de Governo – 1998 a 2005

União Estados Municípios

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados de Bra sil (2003) e Amaral e Olenike (2006)

4,62

69,88

Tabela 1.8 – Evolução Proporcional (%) da Carga Tri butária Brasileira Principais Tributos – 2002 a 2005

TRIBUTO 2002 2003 2004 2005 União – Imposto sobre a Renda 17,77 16,80 15,81 17,00 União – Contribuições para a Seguridade Social (INSS) 15,76 15,60 15,54 15,81 União – COFINS 10,83 10,80 11,79 11,97 União – FGTS 4,66 4,50 4,32 4,39 União – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira 4,21 4,20 4,07 3,99 União – Imposto sobre Produtos Industrializados 4,10 3,50 3,50 3,60 União – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido 2,76 3,00 3,02 3,60 União – Outros Tributos 2,96 4,40 4,62 3,09 União – PIS/PASEP 2,68 3,10 2,99 3,01 União – Imposto sobre Importação 1,65 1,50 1,41 1,24 União – CIDE (combustíveis) 1,51 1,40 1,17 1,06 União – Imposto sobre Operações Financeiras 0,84 0,80 0,81 0,85 União – Segurança Social (dos Funcionários Federais) 0,92 0,80 0,71 0,50 União – Imposto Territorial Rural 0,06 0,10 0,05 0,05 União – FUNDAF 0,08 0,10 0,05 0,05 Estados – ICMS 21,90 21,60 21,27 21,12 Estados – Segurança Social (dos Funcionários Estaduais) 1,28 1,30 1,93 2,01 Estados – Outros Tributos 2,15 2,30 2,36 2,48 Municípios – Tributos (IPTU, ISS e outros) 3,60 3,90 4,13 3,75 Municípios – Segurança Social (dos Funcionários Municipais) 0,28 0,30 0,43 0,42

Fonte: Elaboração própria, com dados de Amaral e Ol enike (2006)

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56

1.3. ESTRUCTURA DA TESE

Esta tese encontra-se estruturada em quatro partes.

A Parte I – A Investigação e Sua Fundamentação Teórica, compreende

esta Introdução e o Capítulo II – Fundamentação Teórica. Na Introdução,

encontram-se a definição do problema, a importância do estudo os objetivos e os

pressupostos do trabalho. Segue-se o contexto da investigação, no qual se

apresentam informações sobre o ambiente da investigação e sobre o sistema

fiscal brasileiro. A Introdução se encerra com o presente tópico sobre a estructura.

No Capítulo II, faz-se uma análise de alguns dos trabalhos mais relevantes

relacionados com o tema objecto deste estudo. As obras consultadas muito

contribuíram para o estabelecimento de conceitos, a escolha de variáveis e a

construção do modelo de análise. O Capítulo foi dividido em seis itens, a saber:

Eixo Teórico, Gestão Estratégica, Percepção e Decisão, Conforme a Nova

Economia Institucional, Formação e Especificidades da Cultura Brasileira, Ética

Individual e Empresarial e Evasão Fiscal.

A Parte II – A Investigação de Campo reúne a metodologia e os resultados

da investigação. O Capítulo III – Metodologia traz a descrição dos tipos de

investigação, a delimitação da investigação de campo, os perfis dos sujeitos da

investigação de campo, as variáveis e a construção do questionário, os processos

de recolha dos dados, a descrição do tratamento das informações e o modelo

matemático utilizado, finalizando-se com os pressupostos do trabalho. O Capítulo

IV apresenta e põe em discussão os resultados da investigação de campo.

Na Parte III – Interpretação dos Resultados e Conclusões, dedica-se o

Capítulo V às conclusões, limitações e perspectivas futuras, analisando os

resultados e procurando obter as respostas buscadas na investigação, em

consonância com a formulação dos objectivos e pressupostos enunciados na

Parte I. Ali também se comentam as limitações do trabalho, sendo apresentadas

sugestões para futuras investigações, como forma de ensejar o alargamento e

aprofundamento do tema por outros investigadores.

A Parte IV contém as referências dos autores e obras consultados, assim

como os apêndices e o anexo.

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57

CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. EIXO TEÓRICO

Este estudo se insere no eixo teórico das estratégias organizacionais,

considerando-se que elas são definidas com a finalidade de buscar

relacionamentos vantajosos entre as organizações e seu meio de actuação. Por

isso, julga-se conveniente acrescentar ao referencial teórico o estudo da gestão

estratégica, iniciando-se pelas relações da empresa com o seu meio envolvente e

seguindo-se uma análise da evolução do pensamento estratégico. Essa análise

tomou por base a taxionomia de Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000), tendo sido

exploradas as chamadas escolas do Design, do Planeamento, Empreendedora,

Cognitiva e Cultural, consideradas mais relacionadas ao tema estudado.

De outra parte, tratando este estudo de tema em que a ética tem grande

importância, incluiu-se um item acerca de Ética Individual e Empresarial,

procurando-se marcar o campo teórico necessário à identificação das variáveis

comportamentais que interferem na decisão de cumprir ou deixar de cumprir

obrigações fiscais. Essa abordagem será muito útil, como se verá, na discussão

dos métodos utilizados para conquistar o interesse dos contribuintes em cumprir

suas obrigações tributárias.

A abordagem teórica da Nova Economia Institucional traz a compreensão

da importância das percepções para o processo decisório.

Considerando-se que a cultura de um povo interfere na forma como são

feitas as escolhas individuais e organizacionais, também foi incluído um item que

trata da formação histórico-cultural do povo brasileiro.

Sendo eminentemente conceituais, os primeiros itens da revisão da

literatura baseiam-se em entendimentos já consagrados acerca dos sub temas de

que tratam. Tudo levando-se em conta que, nos textos que apoiam esses itens,

buscam-se nos autores consultados os conceitos e fundamentos teóricos já

estabelecidos e largamente aceites. Aliás, seria impossível abordar os dois

primeiros sub temas se não recorrendo-se aos autores consagrados.

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O último e mais importante item do capítulo apresenta investigações sobre

a evasão fiscal e levanta as variáveis que interferem na decisão quanto ao

cumprimento das obrigações tributárias e à sistemática por meio da qual os

governos monitorizam a conduta dos contribuintes e estabelecem a disciplina

fiscal.

O modelo da investigação deste estudo, nomeadamente a definição e o

tratamento das variáveis, foi construído a partir da contribuição dos autores

consultados para a composição desse último item da revisão da literatura. Por

isso, embora também fosse necessário compulsar textos considerados clássicos,

teve-se, nesse item, a preocupação em aceder a textos mais actualizados,

procurando-se conhecer o estado da arte no assunto.

2.2. GESTÃO ESTRATÉGICA

2.2.1. MEIO ENVOLVENTE, MISSÃO E ESTRATÉGIA EMPRESA RIAL

As organizações nascem com propósito, porque são criadas para

atender a necessidades e expectativas de determinada parcela da sociedade. Por

isso, cada organização tem uma MISSÃO que lhe deu origem e que é a razão da

sua existência, ainda que não venha a ser explicitada.

Como a concretização da missão institucional consiste no atendimento

de necessidades e expectativas da sociedade em que se insere a organização,

suas decisões estratégicas devem estar sintonizadas com a imprescindibilidade

de serem percebidas, por essa sociedade, como adequadas. É a sociedade,

como meio envolvente mais amplo, que avalia os bens e serviços recebidos da

organização, em contrapartida aos recursos que põe à sua disposição.

Consequentemente, a sociedade pode adoptar medidas que terão como resultado

a continuidade e o desenvolvimento da organização ou, contrariamente, o seu

enfraquecimento e até a sua extinção.

Entendido que, na condição de sistema aberto, toda organização está

inserida num meio com o qual interage permanentemente, e uma vez aceite a

importância desse meio para qualquer tipo de organização, torna-se necessário

identificar-se o que vem a ser o meio envolvente organizacional. Na sua

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59

configuração mais geral, o meio envolvente organizacional confunde-se com a

própria sociedade. Na sua configuração mais restrita, consideram-se apenas os

elementos que transaccionam mais directamente com a organização,

classificando-se-os como clientes, concorrentes, fornecedores e

regulamentadores.

Nessa "demarcação", sempre se deve considerar a existência de uma

fronteira, que possibilita distinguir até onde vai a organização e onde começa o

meio envolvente, e vice-versa. Evidentemente, essa fronteira não é visível e, mais

que isso, é mutável. Significa dizer que é ténue e dinâmica a “linha” que delimita o

espaço ocupado pela organização, dentro daquele ocupado por seu meio

envolvente.

De facto, em consequência da contínua interacção da organização com

o seu meio, são frequentes os movimentos de contracção e de expansão da

fronteira organizacional, decorrentes dos ganhos e perdas de espaço para

elementos do ambiente externo.

É evidente que esses movimentos de contracção e de expansão

podem ocorrer em diferentes lados da fronteira, sendo mesmo comum haver uma

simultaneidade de movimentos opostos. Ou seja, não é raro que a organização

esteja, ao mesmo tempo, a ceder e a perder espaço de poder e acção. Uma

empresa pode, simultaneamente, ceder espaço aos clientes e tomar aos

concorrentes, por exemplo.

Pode-se fazer uma analogia entre essa dinâmica e aquela que se

observa nas relações sociais. Sob essa concepção, as relações sociais são

“jogadas” entre “actores”. Cada “actor” constrói estratégias no sentido de

aumentar o próprio espaço, avançando no espaço do outro.

Deve-se entender isso como um processo dinâmico e permanente de

“empurrar” a fronteira na direcção do outro, aumentando o próprio espaço, ou de

ceder espaço, quando for conveniente.

Importa lembrar que a nenhum dos actores interessa ser extremamente

bem-sucedido, porquanto a consequente saída do outro actor implica a finalização

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do “jogo”. Essa finalização significa a interrupção de um processo pelo qual se

espera obter algum ganho.

O interesse principal é que o jogo aconteça e seja do tipo “soma não

zero e positiva”, a configurar uma relação “ganha/ganha”, em que todos os

actores sejam beneficiados, ainda que um ou alguns deles obtenham maiores

ganhos. Para entender esse interesse, basta imaginar um "jogo" entre empresa

cliente e empresa fornecedora.

Adaptada a abordagem dos "jogos" sociais às relações entre as

organizações e os elementos do seu meio envolvente, pode-se compreender

melhor o processo dinâmico que aqui se comenta. Os estudiosos das relações

das organizações com o meio externo identificam estratégias que aquelas

procuram adoptar para preservar o espaço que detêm internamente

(sobrevivência) e, se possível, aumentar seu raio de actuação, a expandir-se para

o espaço do meio envolvente, configurando momentos de desenvolvimento.

Já é considerada um truísmo a afirmação de que o meio envolvente de

uma organização é por demais complexo. Nele figuram todos os elementos

capazes de influenciar o comportamento organizacional, forçando a redução ou

permitindo a expansão do espaço organizacional. A interacção desses elementos

com a organização se dá de forma simultânea. Além disso, por conviverem no

mesmo meio, esses elementos interagem uns com os outros, independentemente

(e, mesmo, à revelia) da organização, o que bem significa a complexidade a que

se está a referir.

Dos vários "jogos" que acontecem entre a organização e os elementos

do seu meio envolvente, resultam os movimentos de compressão e de expansão

do espaço de actuação e poder. Neste ponto, vale lembrar, mais uma vez, que a

influência exercida sobre a organização, pelos vários actores do meio, se dá de

forma simultânea e dinâmica, o que faz com que as estratégias organizacionais,

adoptadas nos “jogos” com cada um dos entes circundantes, impliquem reacções

de outros elementos, e não apenas daquele específico.

Tanto o Meio Envolvente Geral, mais amplo, como o Meio Envolvente

Operacional, mais restrito, serão mais bem conhecidos adiante, visualizando-se

este como parte daquele, como ilustrado na Figura 2.1.

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Meio Envolvente Geral e suas Variáveis

Política

Economia

Tecnologia

Ecologia

Demografia Cultura

Legislação

Gov

erno

Clientes

Fornecedores

Con

corr

ente

s

Meio Envolvente Operacional e seus

Componentes

Acionistas

ORGA-

NIZA-

ÇÃO

Colaboradores

Pol

ítica

s e

Est

raté

gias

Figura 2.1 – Empresa e Meio Envolvente

Est

rutu

ras

Fonte: Elaboração própria, a partir dos vários autores consultados

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Convém notar que essa visualização constitui apenas um modelo, no

sentido de que se trata de uma simplificação da realidade complexa descrita

anteriormente. Essa simplificação inicia-se pela definição arbitrária de linhas

limítrofes (as fronteiras), que, na realidade, são difusas e instáveis, como já

analisado, diferentemente de como podem ser graficamente representadas.

2.2.1.1. O MEIO ENVOLVENTE GERAL

A denominação Meio Envolvente Geral identifica aquele contexto mais

amplo, que acaba se confundindo com a própria sociedade. Esse meio é dividido

nos segmentos Económico, Político e Legal, Social, Natural, Tecnológico e

Competitivo, conforme Churchill Jr & Peter (2000), à semelhança do que se

observa na Figura 2.1.

Esse espaço é a fonte de todos os recursos (humanos, materiais e

financeiros, além de tecnologia e informações) que alimentam o funcionamento da

organização. O meio é também o destinatário dos bens e serviços por ela

produzidos e, infelizmente, o repositório dos resíduos produzidos pela

organização, entendendo-se por resíduo todo e qualquer resultado indesejável,

seja concreto ou abstracto.

Vale ainda ressaltar que ao meio envolvente interessam os bens e

serviços aderentes àquelas necessidades e expectativas já comentadas. Também

interessa, ao meio, minimizar os prejuízos decorrentes dos resíduos produzidos

pela organização.

Convém lembrar que, assim como cabe ao meio envolvente, por meio

de seus elementos, a avaliação dos benefícios decorrentes dos bens e serviços

que recebe da organização como contrapartida dos recursos que fornece,

também é prerrogativa sua a avaliação dos prejuízos causados pelos resíduos ali

produzidos.

Há como que um permanente confronto entre o valor do resultado

líquido (benefícios menos resíduos) e o valor dos recursos fornecidos à

organização, mesmo não sendo possível a quantificação desses valores, como já

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referimos. Cabe ressaltar este entendimento importante no estudo: o meio

envolvente é que decide qual resultado tem interesse em ver produzido pela

organização e o que não lhe é conveniente (resíduos). A produção desses últimos

deve ser condenada, coibida, desencorajada.

É de se esperar que práticas julgadas inadequadas pela sociedade

(Meio Envolvente Geral) sejam categorizadas como resíduos e resultem em

sanção para a organização. Essa punição pode acontecer de modo mais

perceptível, na forma de multas e outras sanções financeiras, impostas pelo

Estado, ou de modo mais subtil, como a perda de mercado, pelo afastamento de

clientes, ou a perda de colaboradores para outras organizações, inclusive para

concorrentes.

2.2.1.2. O MEIO ENVOLVENTE OPERACIONAL

A parcela do meio envolvente que fica mais próxima da organização e

é mais facilmente identificável recebe a denominação Meio Envolvente

Operacional, sendo também conhecida como ambiente de acção directa

(STONER & FREEMAN, 1997), ambiente sectorial (WRIGHT, KROLL &

PARNELL, 2000), competitiva (CHURCHILL JR & PETER, 2000) e ambiente

concorrencial e transaccional (PINTO, 2002b).

No Meio Envolvente Operacional, encontram-se os principais públicos

de interesse da organização. Esses públicos, denominados stakeholders, podem

ser agrupados em internos e externos. É fácil identificar-se esses componentes:

no primeiro grupo incluem-se os accionistas e os colaboradores; no segundo,

reúnem-se os clientes, os fornecedores, os concorrentes e os regulamentadores.

Para efeito de definição de estratégias, torna-se conveniente explicitar

os conceitos dos elementos do Meio Envolvente Operacional, distinguindo-se-os

dos conceitos mais comumente aceites:

• Clientes devem ser entendidos como todos aqueles a quem se

destina qualquer resultado (bem ou serviço) produzido pela

organização, ainda que seja intangível e abstracto (como

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informações, por exemplo) e ainda que não haja pagamento directo

pelo seu fornecimento.

• Fornecedores são todas as fontes de recursos (humanos, materiais

e financeiros, além de informações e tecnologia).

• A categoria Concorrentes inclui todos aqueles que disputam a

obtenção de qualquer tipo de recurso do interesse da organização

fornecido pelo meio envolvente, não se restringindo àqueles que

disputam a mesma demanda de bens ou serviços produzidos.

• Regulamentadores são todas as fontes de normas (escritas ou não)

capazes de provocar alterações nas estratégias, tácticas e

sistemáticas adoptadas pela organização para obtenção de recursos

ou realização das operações de produção e distribuição de bens ou

serviços.

2.2.2. O JULGAMENTO DO CUMPRIMENTO DA MISSÃO EMPRES ARIAL

Como dito antes, as empresas são criações humanas, propositadamente

implementadas. Por isso, fazem parte das criações que necessitaram de projecto,

ainda que este não tenha sido elaborado de maneira adequada e formal. Criada

por necessidade, com finalidade, cada empresa é julgada pela capacidade de

cumprir satisfatoriamente uma missão voltada para o atendimento de

necessidades da sociedade.

A avaliação da competência das empresas leva em conta a qualidade do

seu relacionamento com os actores do meio envolvente, entre os quais destaca-

se o governo. Evidentemente, o comportamento fiscal das empresas passa a

fazer parte desse julgamento.

Considerando-se que a sociedade dispor-se-á a fornecer recursos à

empresa na expectativa de obter bens e serviços capazes de atender às próprias

necessidades e expectativas, a competência da empresa deve estar voltada ao

atendimento dessas necessidades e expectativas, já que ao meio envolvente

cabe julgar a referida competência.

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Como já analisámos, ao julgar a competência de uma empresa, o meio

envolvente leva em conta os bens e serviços que recebe em contrapartida aos

recursos disponibilizados, mas também considera os resíduos que a empresa

produz, ainda que essa produção indesejável se dê de forma involuntária.

A expressão “resíduos”, na forma aqui empregada, significa toda espécie

de resultado negativo que a empresa venha a gerar para a sociedade, tal como

degradação ambiental, descontentamento de clientes, não cumprimento de

compromissos assumidos, descontentamento de empregados, percepção de que

pratica concorrência desleal e, evidentemente, descumprimento de normas, aí

incluídas as práticas de evasão fiscal.

Significa dizer que a produção de "resíduos" pode prejudicar o bom

julgamento de uma empresa pelo meio envolvente. Significa ainda mais: evasão

fiscal, se entendida como resíduo, pode dificultar o entendimento de que a

empresa está cumprindo satisfatoriamente a sua missão.

A “visualização” do meio envolvente, como ilustrado na Figura 2.1, conduz

à necessidade de se considerar a já comentada fronteira existente entre este e a

empresa. Essa fronteira é definida pela acção e pelo exercício de poder de parte

a parte, sendo, evidentemente, invisível e variável, como já comentado.

Aqui, reforça-se a assertiva de que a empresa encontra-se em permanente

interacção com seu meio envolvente, sendo constantes os movimentos de

contracção e de expansão do espaço organizacional, conforme ocorram ganhos e

perdas em relação aos demais elementos do meio.

Lembrar essas afirmativas é importante para compreender que é de se

esperar que a evasão fiscal praticada pelas empresas provoque reacções de

outros elementos do meio envolvente, nomeadamente os clientes, mesmo

considerando-se que essas práticas pareçam fazer parte, apenas, do repertório

das relações da empresa com o governo.

Em toda a literatura consultada sobre estratégia, inclusivamente em

autores não citados aqui, é generalizado o entendimento de que os recursos

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fornecidos à empresa pertencem ao meio envolvente/sociedade12, que os fornece

porque espera que a empresa seja capaz de, competentemente, transformá-los

em bens e serviços necessários ao funcionamento do próprio meio envolvente.

Isso inclui todos os recursos recebidos pela empresa, aí compreendidos os

recursos financeiros fornecidos pelos proprietários, que tinham a opção de lhes

dar destino diverso.

Em contrapartida, tudo que é produzido pela empresa destina-se ao meio

envolvente/sociedade. Como dito antes, a empresa não “vive” para si. É o

atendimento das necessidades e expectativas do meio envolvente que lhe dá

“vida”. Cabe notar, ainda, que boa parcela daquilo que a empresa recebe é

intangível, não podendo ser mensurada, como é o caso das informações. Da

mesma maneira, são intangíveis alguns resultados que a empresa produz.

Esses, apesar de não poderem ser monetariamente valorados, também

são avaliados positiva ou negativamente, caso venham a proporcionar benefícios

ou causar malefícios ao meio envolvente/sociedade, isto é, conforme sejam bens,

serviços e informações ou sejam resíduos da acção empresarial,

respectivamente.

Sendo a evasão fiscal uma subtracção de recursos que se destinariam à

oferta de benefícios pelo Estado à sociedade, é de se esperar uma reacção

negativa da sociedade à sua prática por parte das empresas. Pode-se, portanto,

considerar que a evasão está incluída nos malefícios ao Meio Envolvente Geral,

nomeadamente quando ocorre na forma de sonegação.

A um primeiro julgamento, pode surpreender quando não se observa uma

reacção negativa da sociedade em relação às empresas que praticam evasão

fiscal. Parece que as razões são as mesmas e se originam de percepções que se

tornam colectivas. Por isso, neste estudo, procura-se compreender como e por

que as práticas de evasão fiscal são adoptadas pelas empresas brasileiras,

incluindo uma abordagem à formação e desenvolvimento da cultura brasileira,

como se verá adiante.

12 Este entendimento de que todos os recursos que ingressam e permanecem na empresa

pertencem a algum actor do meio envolvente encontra correspondência na Escola Personalística da Contabilidade (SANTOS, 1994). Registe-se que não é esse o entendimento da Visão Baseada em Recursos-VBR (NEVES & NEVES, 2007; FLEURY & FLEURY, 2003).

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No item a seguir, é tratado o conceito de estratégia empresarial. Essa

compreensão é importane para que se possa fazer a análise da prática de evasão

fiscal sob a hipótese da sua identificação como ação estratégica.

2.2.3. ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

Considera-se, aqui, a possibilidade de que as práticas de evasão fiscal

resultem de um laivo de reacção estratégica defensiva. Essa atitude de defesa,

nessa hipótese, decorreria de uma leitura feita pelas empresas segundo a qual o

sistema fiscal, como funciona no Brasil, representa ameaça provinda do meio

envolvente.

Diante dessa possibilidade, como já foi dito, decidiu-se incluir na revisão da

literatura um item referente a estratégia empresarial, porquanto é no âmbito dessa

teoria organizacional que se enquadrariam as práticas de evasão fiscal pelas

empresas, se compreendidas como acções estratégicas.

Para o desenvolvimento dessa parte, iniciar-se-á pelo conceito de

estratégia. Freire (1999) apresenta conceitos de vários autores, conforme se

apresenta no Quadro 2.1, cabendo considerar que não há grandes diferenças de

compreensão entre a maioria dos autores.

A palavra estratégia tem origem na linguagem militar, derivada do grego

strategos, junção das expressões stratos, que significa exército ou fileiras, com

ag, que significa liderar (FREIRE, 1995).

O mesmo autor acrescenta:

Assim, strategos significa literalmente ”a função do general do exército”. Em virtude das suas raízes militares, a estratégia é geralmente definida como a disposição das tropas com vista a alcançar a vitória sobre o inimigo. A estratégia concebida pelo general traduz-se depois num plano de campanha que determina as acções ofensivas e defensivas a levar a cabo.

De igual modo, no meio empresarial, a estratégia é frequentemente conotada como a formulação de um plano que reúne, de uma forma integrada, os objectivos, políticas e acções da organização com vista a alcançar o sucesso (p.18-19).

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Quadro 2.1 – Algumas Definições de Estratégia

Definição Autor

Plano que integra os principais objectivos, políticas e

sequências de acções num todo coerente James B. Quinn

Plano unificado, completo e integrado, concebido para

garantir que os objectivos básicos da empresa sejam

alcançados

William Glueck

Padrão de objectivos e principais políticas para os alcançar,

expressos de maneira a definir em que negócio a empresa

está ou deverá estar e o tipo de empresa que é ou deverá ser

Kenneth Andrews

Via para alcançar, de forma tão eficiente quanto possível,

uma vantagem sustentável sobre a competição Kenichi Omae

Padrão num conjunto de decisões e acções Henry Mintzberg

Criação de uma adequação entre as actividades da empresa Michael Porter

Fonte: Freire (1995, p. 19)

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Diante dessas definições de estratégia, pode-se perceber que os

entendimentos são diversos, mas não são incompatíveis entre si. De maneira

geral, os autores entendem estratégia como um conjunto de atitudes e acções

organizadas e harmonizadas com a finalidade de alcançar a sobrevivência

organizacional e, se possível, o seu crescimento, mediante adaptação da

organização às necessidades do meio envolvente.

Resumidamente, e por outras palavras, considerando-se o que foi visto

anteriormente sobre organização e meio envolvente, aliado às características

mais importantes das definições dos vários autores consultados, pode-se

conceituar estratégia como o conjunto de políticas e acções harmonicamente

definidas para alcançar objectivos voltados ao atendimento das necessidades e

expectativas do Meio Envolvente Operacional, visando à sobrevivência e ao

desenvolvimento da organização, como resultado.

2.2.4. ALGUMAS ESCOLAS DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO

A grande questão a respeito da Administração Estratégica é se as

estratégias de uma organização podem ser deliberadamente construídas – de

forma activa, a partir de análises feitas sobre o meio envolvente, juntamente com

o estudo da própria organização – ou se constituem meras reacções a

manifestações do meio externo, o qual nem sempre pode ser integralmente

conhecido e quase nunca se comporta de maneira previsível.

A primeira hipótese reflecte o pensamento dos que acreditam que a

formação de estratégias é intencional e processual. São os “deliberatistas”.

A segunda hipótese alia-se ao entendimento dos que crêem que as

estratégias apenas surgem como reacções às manifestações dos elementos do

meio envolvente, de forma emergente. As estratégias não poderiam, portanto, ser

antecipadamente planejadas, constituindo-se mais como respostas da empresa

às demandas do meio envolvente. Esses são chamados de “emergentistas”13.

13 Foram construídos os neologismos "deliberatistas" e "emergentistas", para suprir a falta de

termos que identifiquem as duas correntes de pensadores estratégicos.

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Essa separação é estabelecida por Mintzberg, Alstrand & Lampel

(2000). Observa-se que essa é uma divisão arbitrária, porquanto, lendo-se

isoladamente os autores de Administração Estratégica, não se verifica uma opção

radical por uma ou outra linha. Nenhum deles se revela exclusivamente

“deliberatista” ou “emergentista”. Entretanto, como se vai adoptar a taxionomia de

Mintzberg, Alstrand & Lampel (2000) para exame das linhas teóricas de

estratégia, é importante registar esse entendimento.

Embora se tenha buscado auxílio em outros autores e se utilizem

observações próprias, este tópico baseia-se em Mintzberg, Ahlstrand & Lampel

(2000), razão pela qual a segmentação e a denominação das chamadas Escolas

da Administração Estratégica são as mesmas utilizadas por esses autores,

embora neste estudo não se concorde totalmente com essa subdivisão.

Segundo os citados autores, as Escolas da Administração Estratégica

são classificadas em dez tipos, a saber: escola do design, escola de

planeamento, escola de posicionamento, escola empreendedora, escola

cognitiva, escola de aprendizado, escola de poder, escola cultural, escola

ambiental e escola de configuração.

As três primeiras escolas (design, planeamento e posicionamento) são

consideradas prescritivas , porquanto determinam como as estratégias devem

ser formuladas. As seis escolas seguintes (empreendedora, cognitiva, de

aprendizado, de poder, cultural e ambiental) integram o grupo das descritivas ,

porquanto voltadas para a descrição de como as estratégias são formuladas. A

escola de configuração, a última, não pertence exclusivamente a nenhum grupo,

já que incorpora aspectos das demais escolas e reúne características prescritivas

e descritivas. Para as finalidades deste estudo, é necessário explorar apenas as

escolas do design, planeamento, empreendedora, cognitiva e cultural. É o que se

faz a seguir.

2.2.4.1. ESCOLA DO DESIGN

Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) adoptam para essa escola o

subtítulo “a formação da estratégia como um processo de concepção”. A origem

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dessa escola é atribuída a obras de Philip Selznick e Alfred Chandler. Em 1957,

Selznick publicou Leadership in Administration, na qual introduziu a noção de

competência distintiva e pôs em discussão as necessidades de se analisar

conjuntamente o estado interno da organização e suas expectativas externas e de

se inserir política na estrutura social da organização. Em 1962, Chandler publicou

Strategy and Structure, na qual estabeleceu a noção de estratégia de negócios e

sua relação com a estratégia da organização.

A Escola do Design cresceu em importância a partir dos trabalhos do

Grupo de Administração Geral da Escola de Negócios de Harvard (Harvard

Business School), principalmente após a publicação, em 1965, da obra Business

Policy: Text and Cases, de Learned, Christensen, Andrews & Guth.

Esse livro tornou-se o mais popular na área e a voz dominante para

essa escola. Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) observam que a autoria da

obra tem sido, por várias vezes, atribuída a apenas um dos que a subscrevem (no

caso, Kenneth Andrews), e que, nos anos 1980, era o único título que

representava as ideias dessa escola na sua forma pura, já que a maioria dos

demais autores “passara a favorecer as escolas de planeamento e

posicionamento” (p. 29).

O modelo básico da Escola do Design parte do entendimento da

organização como um sistema aberto e, portanto, susceptível à influência dos

elementos do meio envolvente, que exercem pressões sobre ela. Essas pressões

actuam juntamente com suas próprias características positivas e negativas,

possibilitando à organização o tratamento conjunto do resultado de duas análises:

a análise das pressões ambientais e a análise das características da organização.

Na visão de Mintzberg, Ahlstrand & Lampel, o modelo básico definido

pela Escola do Design obedece ao esquema gráfico apresentado na Figura 2.2.

Segundo esse modelo, a análise do meio externo deve considerar as mudanças

na sociedade, as mudanças governamentais (principalmente na legislação), as

mudanças económicas, as mudanças nos fornecedores e as mudanças no

mercado. A análise interna deve levantar aspectos referentes a marketing,

pesquisa e desenvolvimento, sistema de informações para gestão, equipe de

gestores, operações, finanças e recursos humanos.

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Criação de estratégias

Avaliação e escolha da estratégia

Valore s Gerenciais

Implementação da estratégia

Ameaças e Oportunidades

do Meio Envolvente

avaliação externa avaliação interna

Fatores-chave de sucesso

Compe-tências distintivas

Responsa- bilidade Social

Fonte: Adaptado de Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2 000, p. 30)

Forças e Fraquezas

da Organização

Figura 2.2 – Modelo Básico da Escola do Design

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A partir do cruzamento de oportunidades e ameaças do meio envolvente

com pontos fortes e pontos fracos da ambiência interna, são construídas as

possíveis estratégias, a serem submetidas ao processo de avaliação, que

consiste em verificar (HUMELT, 1997):

• Consistência: a estratégia não deve apresentar objectivos e políticas

mutuamente inconsistentes.

• Consonância: a estratégia deve apresentar uma resposta adaptativa

ao meio envolvente externo e às mudanças críticas que ocorrem no

seu interior.

• Vantagem: a estratégia deve propiciar a criação e/ou manutenção

de uma vantagem competitiva na área de actividade seleccionada.

• Viabilidade: a estratégia não deve sobrecarregar os recursos

disponíveis, nem criar subproblemas insuperáveis.

Dessa escola, este estudo colhe a concepção de que a voracidade

fiscal do Estado e a prática da evasão pelos concorrentes podem ser entendidas

como ameaças pelas empresas. Por outro lado, a própria prática de evasão fiscal

pode ser entendida como o aproveitamento de uma oportunidade.

2.2.4.2. ESCOLA DO PLANEAMENTO

A exemplo do que vão fazer para as demais escolas, Mintzberg,

Ahlstrand & Lampel (2000) definiram algumas premissas para a Escola do

Planeamento, a saber:

a. A formação da estratégia deve ser um processo deliberado de

pensamento consciente. A acção deve fluir da razão.

b. A responsabilidade pelo controle e pela percepção deve ser do

executivo principal. O estrategista é o executivo principal.

c. O modelo da formação de estratégia deve ser simples e informal, o

que possibilita o controle da estratégia por uma mente.

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d. As estratégias devem ser únicas. As melhores estratégias resultam

de um processo de design individual.

e. O processo de design está completo quando as estratégias parecem

plenamente formuladas como perspectivas. Há pouco espaço para

as estratégias incrementalistas ou emergentes.

f. As estratégias devem ser explícitas para quem as faz, e articuladas

de maneira a serem compreendidas.

g. Somente depois de totalmente formuladas é que essas estratégias

únicas, desenvolvidas, explícitas e simples podem ser

implementadas. Deve haver separação entre formulação e

implementação.

Observe-se, no item “e”, a expressão “pouco espaço para as

estratégias incrementalistas ou emergentes”. Significa admitir que há algum

espaço, o que conduz à conclusão de que essa escola não pode ser considerada

exclusivamente deliberatista. De resto, pode-se estabelecer que nenhum dos

autores de estratégia é puramente emergentista ou deliberatista. A divisão desses

grupos é meramente didáctica.

Aqui, entende-se que as ideias da chamada Escola do Planeamento

podem ser consideradas acréscimos à Escola do Design. Portanto,

diferentemente do que estabelecem Mintzberg, Ahlstrand & Lampel, essas

escolas poderiam ser consideradas uma só.

O surgimento de ambas deu-se na mesma época, e a principal

diferença entre elas reside na padronização adoptada pela Escola do

Planeamento para o processo de planear, o que se subdivide em passos bem

definidos e resulta em produtos concretos, na forma de planos. Se essa diferença

for entendida apenas como acréscimo, então poder-se-á dizer que se trata da

mesma escola.

A principal obra dessa escola é Corporate Strategy, de Igor Ansoff,

publicada em 1965. No Brasil, foi publicada em 1977, com o título Estratégia

Empresarial. A partir de estudos de teóricos como Ansoff, foram estabelecidos os

padrões de implementação do planeamento estratégico e de elaboração dos

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planos, que formam o produto concreto do processo de planeamento. A partir da

década de 1970, viu-se disseminar de tal maneira a prática do planeamento

estratégico, que Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) foram levados a afirmar

que “o planeamento tornou-se não apenas uma abordagem à formação de

estratégia, mas uma virtual religião, a ser pregada com o fervor de missionários”

(p. 44).

Para apresentar o processo de planeamento estratégico de forma

gráfica, os autores citados escolheram o Modelo Steiner, como está representado

na Figura 2.3. No modelo apresentado, merecem destaque os seus cinco

estágios, descritos a seguir:

a) Fixação de Objectivos: nesta etapa são estabelecidos os alvos

pretendidos, preferencialmente de forma quantificada, procurando-se

definir a visão de futuro.

b) Auditoria Externa: fase em que são analisadas as condições do meio

envolvente, para identificar oportunidades e/ou ameaças, isto é,

condições externas que podem auxiliar ou prejudicar a realização da

visão de futuro;

c) Auditoria Interna: seguindo-se um check-list, são identificados os

pontos fortes e os pontos fracos da organização;

d) Avaliação da Estratégia: esta etapa utiliza diversas técnicas de

planeamento, desde as mais quantitativas (como curva do valor e

valor para o accionista), até as mais subjectivas;

e) Operacional da Estratégia: fase em que se efectivam as acções,

que, por sua vez, são subdivididas em plano estratégico (abrangente

e de longo prazo), plano táctico (por área e de médio prazo) e plano

operacional (por actividade e de curto prazo), estabelecendo-se os

cronogramas e os orçamentos.

Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) observam que, apesar de esse

processo ser denominado planeamento, sua finalidade parece ser o controle,

porquanto “cada orçamento, sub-objetivo, plano operacional e programa de acção

se sobrepõe a uma entidade distinta da organização – divisão, departamento, filial

ou indivíduo –, para ser executado conforme o especificado” (p. 49).

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Finalidade

Sócio-económica Fundamental

Organizacional

Valores dos

Principais Executivos

Avaliação de

Oportunidades e Problemas Externos e Internos e Pontos

Fortes e Pontos Fracos da Empresa

Planeamento e Planos

Estratégicos

Missões da Empresa

Objetivos a Longo Prazo Políticas e Estratégias

Organi- zação para

Implemen-tação

de Planos

Premissas Planeamento Implementação e Revisão

Estudos de Planeamento

Testes de Viabilidade

Figura 2.3 – Modelo Steiner de Planeamento Estratégico

Revisão e Avaliação de Planos

Fonte: Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000. p. 46)

Programação e Programas

de Médio Prazo

Sub-objetivos

Sub-políticas

Sub-estratégias

Planeamento e Planos de Curto Prazo

Metas Procedimento

s Planos

Tácticos

Planos Programados

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Tal observação deve ser recebida com reservas, porquanto não teria

sentido estabelecer planos se não houvesse a intenção de acompanhar seu

cumprimento, sem que isso signifique que a principal intenção seja controlar.

Apesar da diversidade de modelos de planeamento estratégico, é

possível dizer-se que há um modelo básico, o qual parte da análise SWOT,

apresentado no tópico referente à Escola do Design.

As premissas identificadas para a Escola do Planeamento são:

1. As estratégias devem resultar de um processo controlado e

consciente de planeamento formal, decomposto em etapas, cada

uma delineada por check-list e apoiada por técnica específica.

2. A responsabilidade por todo o processo cabe, em princípio, ao

executivo principal; na prática, no entanto, a responsabilidade pela

execução compete aos planeadores.

3. As estratégias surgem prontas desse processo, devendo ser

explicitadas para poderem ser implementadas através da atenção

detalhada a objectivos, orçamentos, programas e planos

operacionais de vários tipos (p. 52).

Apesar do seu posicionamento sempre crítico, os mesmos autores

reconhecem que a Escola do Planeamento apresenta recentes progressos,

citando dois deles: o planeamento de cenários e o controle estratégico. Com

relação ao primeiro, registam a vantagem de possibilitar a construção de cenários

optimistas e pessimistas, além de lembrarem que, mesmo sendo impossível a

previsão do futuro, a especulação sobre uma variedade de futuros possibilita abrir

a mente “e, com sorte, chegar ao futuro correcto” (loc cit). Quanto ao controle

estratégico, destacam a vantagem de “manter as organizações nos trilhos

estratégicos pretendidos” (p. 53), por meio dos mecanismos de acompanhamento

e revisão, o que possibilita a autonomia na execução e a centralização do

controle.

É oportuno acrescentar que a construção de cenários alternativos

facilita a elaboração de planos de contingência, dotando o planeamento de maior

flexibilidade. Ainda quanto ao controle estratégico, os mecanismos de revisão do

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planeamento (e reelaboração de planos) ajudam a manter o foco no desempenho

da organização. Ainda na apreciação crítica, foram identificadas algumas falácias

do planeamento estratégico, explicitadas a seguir:

a) A falácia da predeterminação – diz respeito à adopção da falsa

crença de que é possível prever o comportamento do meio

envolvente, controlá-lo ou manter sua estabilidade, para que faça

sentido fixar um plano estratégico.

b) A falácia do desligamento – resulta do entendimento enganoso de

que é possível obter êxito separando as funções de planeamento

das de execução.

c) A falácia da formalização – decorre da crença de que o génio

empreendedor e a criatividade poderiam ser recriados pelo

planeamento estratégico. A inovação não pode ser

institucionalizada.

d) A grande falácia do planeamento estratégico – seria uma

decorrência directa das três anteriores.

As conclusões são no sentido de que o planeamento não pode prover

novas estratégias, mas, ao contrário, não prescinde da existência prévia de

estratégia. Infere-se, daí, que a denominação “planeamento estratégico” seria

inadequada. O correcto seria “programação estratégica”.

Em defesa da Escola do Planeamento, com relação a essas chamadas

falácias, pode-se dizer que:

1. a construção de cenários alternativos, de certa forma, resolve a

questão colocada na falácia da predeterminação;

2. o planeamento participativo ameniza os problemas da falácia do

desligamento;

3. a construção de cenários alternativos e o planeamento participativo,

aliados à revisão do controle estratégico, reduzem as restrições que

a formalização do planeamento estratégico pode representar contra

a criatividade e a inovação.

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Este estudo colhe da Escola do Planeamento a possiblidade de as

empresas entenderem o sistema fiscal e a evasão fiscal dos concorrentes na

qualidade de problemas externos, de forma análoga à possível interpretação

desses fenómenos como ameaças, na Escola do Design.

2.2.4.3. ESCOLA EMPREENDEDORA

Essa é a primeira das chamadas escolas descritivas, e tem como

subtítulo “a formação de estratégia como um processo visionário”. Sua principal

característica é a super-valorização do papel do líder, estabelecendo que ele é

sempre o responsável pela construção de estratégias.

Enquanto a Escola do Design também ressalta o líder como

estrategista, mas privilegia a racionalidade do processo de construção de

estratégias, evitando “os elementos mais intangíveis, personalizados e

idiossincráticos da liderança” (MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p.

98), a Escola Empreendedora não só estabelece a importância estratégica do

líder, como ressalta o papel de suas características pessoais – intuição,

julgamento, sabedoria, experiência e critério – que compõem a capacidade de

visão do estrategista.

Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) apresentam uma adaptação de

Mintzberg a um artigo de Nasi, em que se estabelece que essa visão corresponde

ao pensamento estratégico e se compõe de: ver adiante, ver atrás, ver abaixo, ver

em baixo, ver ao lado, ver além e ver através. Sendo mais imagem do que plano,

a visão oferece uma flexibilidade maior ao estrategista, possibilitando-lhe fazer

adaptações de acordo com sua experiência. Isso faz com que a abordagem dessa

escola seja, a um só tempo, deliberatista e emergentista.

A origem dessa escola é identificada ainda nos anos 1940, nos estudos

de Economia de vários autores, principalmente Joseph Schumpeter. Esse

estudioso acreditava que não era a maximização de lucros que explicava o

comportamento corporativo, mas sim as tentativas.

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Decorre daí a noção de destruição criativa que, segundo ele, mantém o

capitalismo em movimento. Para ele, empreendedor é aquele que tem a ideia, e

não necessariamente quem faz os investimentos.

Schumpeter entendia que empreender é inovar, é desenvolver novas

maneiras de combinar os meios de produção, de maneira mais criativa e mais

racional. Essa opinião nem sempre é pacificamente aceite, como dizem

Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 101):

Knight (1967) via o espírito empreendedor como sinónimo de risco pesado e manuseio da incerteza. E fora da economia, Peter Drucker levou isso mais longe, identificando espírito empreendedor com a própria administração.

Coube aos autores de Administração, e não aos de Economia, o

desenvolvimento das ideias dessa escola. Como há uma tendência para se

enquadrar nessa abordagem obras que estão mais inclinadas ao culto das

personalidades dos chamados grandes líderes empresariais, esse fato pode levar

a se dizer que a Escola Empreendedora não é muito científica, no sentido do rigor

académico e epistemológico. Essa seria a principal crítica que se poderia fazer a

esta abordagem.

As premissas identificadas para a Escola Empreendedora são:

1. A estratégia existe na mente do líder como perspectiva,

especificamente um senso de direcção a longo prazo, uma visão

do futuro da organização.

2. O processo de formação da estratégia é, na melhor das hipóteses,

semi-consciente, enraizado na experiência e na intuição do líder,

quer ele conceba a estratégia, quer adopte-a de outros e a

interiorize em seu próprio comportamento.

3. O líder promove a visão de maneira decidida, até mesmo

obsessiva, mantendo controle pessoal da implementação, para ser

capaz de reformular aspectos específicos, caso necessário.

4. Portanto, a visão estratégica é maleável e, assim, a estratégia

empreendedora tende a ser deliberada e emergente – deliberada

na visão global e emergente na maneira pela qual se desdobram

os detalhes da visão.

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5. A organização é igualmente maleável, uma estrutura simples,

sensível às directivas do líder. Quer se trate de uma nova empresa,

de uma empresa de propriedade de uma só pessoa ou de uma

reformulação em uma organização grande e estabelecida, muitos

procedimentos e relacionamentos de poder são suspensos para

conceder ao líder visionário uma ampla liberdade de manobra.

6. A estratégia empreendedora tende a assumir a forma de nicho, ou

seja, um ou mais bolsões de posição no mercado protegidos contra

as forças de concorrência directa. (MINTZBERG, AHLSTRAND &

LAMPEL, 2000, p. 111)

A mais importante contribuição dessa escola foi trazer a lume a

importância do empreendedor, inclusive do empreendedor interno (intrapreneur).

Essa virtude acaba sendo, também, a sua maior deficiência, porquanto a maior

crítica que se pode fazer à Escola Empreendedora é a exagerada crença de que

a estratégia é construída unicamente pelo “grande líder”, o qual passa a ser o

responsável isolado pelo sucesso ou pelo fracasso estratégico da organização.

Pelo entendimento dessa escola, cabe ao empreendedor (e somente a

ele) decidir pelo cumprimento das obrigações fiscais ou pelo caminho da evasão.

Nessa compreensão, mais do que em qualquer outra, estão presentes os

conceitos de ética e moral.

2.2.4.4. ESCOLA COGNITIVA

Essa escola tem como subtítulo “a formação de estratégia como um

processo mental”. Nessa abordagem, o processo de formação de estratégia é

trabalhado a partir da compreensão da sua relação com a cognição humana.

O desenvolvimento dessa escola deu-se principalmente a partir da

segunda metade da década de 1980, e seus fundamentos teóricos têm base na

psicologia cognitiva.

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Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) identificam duas alas nessa

escola, no que tange à apreensão do meio envolvente para a construção de

estratégias:

� Uma, mais positivista, entende que isso se dá pelo conhecimento

objectivo do mundo, como se os olhos do estrategista apenas

registrassem a realidade externa, como uma câmara, afastando-se

ou se aproximando dos objectos de acordo com a sua vontade de

examiná-los em conjunto ou detalhadamente. Nesse caso, não

haveria julgamento, mas apenas constatação.

� A outra ala, mais subjectiva, entende que a estratégia decorre de

uma interpretação do mundo, feita pelo estrategista, a partir do que a

mente “vê lá fora”.

É permanente a busca de entendimento dos mecanismos empregados

na apreensão e no tratamento das informações destinadas a subsidiar decisões.

Nesse quadro, foi fundamental a contribuição de Simon (1980), por meio do

conceito de “racionalidade limitada”, no qual estabelece que o mundo é por

demais vasto e complexo, em contraposição ao cérebro humano e sua

capacidade de processar informações.

Outros autores registaram desvios de julgamento, decorrentes de

ideias preconcebidas. Khun (1961) ocupa posição de destaque entre esses. Ele

identificou os paradigmas como interferentes na capacidade humana de discernir.

Sua constatação pode ser resumida do seguinte modo: os paradigmas funcionam

como filtros (descartando as informações que não colaboram para a confirmação

de crenças anteriores) e como lentes (ressaltando as informações que

corroboram essas crenças). Estudos registados por Khun identificaram que

mesmo os cientistas, treinados para verem o que não é aparente e não é

percebido por outras pessoas, são traídos pelas suas convicções e deixam de se

aperceber de aspectos que colidem com suas crenças anteriores.

Makridakis também concluiu que convicções prévias e preconceitos

interferem na capacidade de discernir e, portanto, de decidir. Mais esquemático,

esse autor apresenta topicamente as tendências no processo decisório, conforme

resumido no Quadro 2.2.

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Quadro 2.2 – Tendências no Processo Decisório

Tipo Descrição

Busca de evidência de suporte

Disposição para colher fatos que conduzem a certas conclusões e desprezar fatos que as ameaçam

Inconsistência Incapacidade de aplicar os mesmos critérios de decisão em situações semelhantes

Conservadorismo Incapacidade de mudar (ou mudar lentamente) a opinião à luz de novas informações/evidências

Recenticidade Os eventos mais recentes dominam os menos recentes, que recebem menos importância ou são ignorados

Disponibilidade Basear-se em eventos específicos facilmente lembrados, excluindo-se outras informações pertinentes

Ancoragem As previsões são indevidamente influenciadas por informações iniciais que recebem maior peso no processo de previsão

Correlações ilusórias A crença de que os padrões são evidentes e/ou suas variáveis estão relacionadas por causalidade, quando não o estão

Percepção selectiva As pessoas tendem a ver problemas de acordo com sua experiência anterior

Efeito de regressão

Aumentos persistentes (em algum fenómeno), caso sejam verdadeiros, iriam elevar a probabilidade de um decréscimo subsequente. Por outro lado, decréscimos persistentes podem elevar as probabilidades de aumentos subsequentes

Atribuição de sucesso e fracasso

O sucesso é atribuído às aptidões da pessoa, e o fracasso, à má sorte ou ao erro de outra. Isso inibe o aprendizado, pois não possibilita o reconhecimento dos próprios erros

Optimismo injustificado As preferências das pessoas por futuros resultados afectam suas previsões a respeito dos mesmos

Subestimar a incerteza Optimismo em excesso, correlação ilusória e a necessidade de reduzir a ansiedade resultam em subestimar a incerteza futura

Fonte: Makridakis (1990, p. 36-37, apud MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 118)

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Segundo Corner, Kinicki & Keats, o processo cognitivo/decisório

individual pode ser comparado ao processo colectivo (organizacional). Esses

autores entendem que são análogas ambas as sistemáticas de obter, processar e

utilizar as informações para o processo decisório. Essas sistemáticas são

apresentadas no seu modelo de processamento paralelo, ilustrado na Figura 2.4.

No modelo, ressaltam as fases de captação, tratamento,

armazenamento e distribuição das informações como necessárias ao processo

decisório estratégico.

Nesse modelo, Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) chamam a

atenção para os seguintes conceitos:

� Atenção – determina quais informações devem ser processadas e

quais devem ser ignoradas. Essa determinação se dá por

relevância. É o que Frota (1982) denomina sensor .

� Codificação – essa fase dá significação às informações,

categorizando-as, combinando-as e tratando-as de forma a

possibilitarem uma análise e uma decisão.

� Armazenagem/Recuperação – significando o processo de registar

as informações, de forma organizada, para possibilitar seu resgate,

quando necessário.

� Escolha – é o processo de decisão, propriamente dito, à vista das

informações disponíveis. Nessa fase, são avaliadas as opções, com

a apreciação dos custos e benefícios de cada uma, inclusive os que

não são mensuráveis numericamente.

� Resultados – funciona como o fim de um ciclo e o início de um novo

processo, retro-alimentado. É o subsistema de controle, comum a

todo sistema e imprescindível no processo de decisões estratégicas.

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As linhas sólidas indicam seqüência causal específica

Fonte: Corner, Kinicki & Keats ( apud MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 121)

Resultados Organizacionais

Resultados Individuais

Nível Organizacional: Atenção Codificação Armazenagem/Recuperação Ação

Informação Estratégica

Decisão

Nível Organizacional: Atenção Codificação Armazenagem/Recuperação Ação

Construção Estruturada

Socialização Significados Comuns

Equipe da Alta Administração (TMT) � V. P. de Marketing � V. P. de Produção � CEO (Executivo Principal)

Papéis

Figura 2.4 – Modelo de Processo Paralelo de Decisões Estratégicas

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Há uma unanimidade na Escola Cognitiva quanto ao fato de que a

sistematização do conhecimento requer estruturas mentais. Embora Mintzberg,

Ahlstrand & Lampel (2000) demonstrem preferência por denominar essas

estruturas de “molduras”, também são utilizadas as expressões esquema,

conceito, enredo, plano, modelo e mapa mental. Os próprios autores reconhecem

que a expressão “mapa” tem certo apelo popular, talvez devido à associação que

se faz com um guia para mover-se num terreno confuso. O papel das molduras,

ou mapas mentais, é exactamente possibilitar a selecção de informações. Vale

lembrar as observações de Khun sobre o papel dos paradigmas, que são ao

mesmo tempo valiosos e perigosos.

Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) vão buscar uma antiga

expressão da psicologia cognitiva para tentar entender a construção de

estratégias pelo processo cognitivo. Afirmam que, sendo estratégia um conceito, a

criação de estratégia é “realização de conceito”. Comentam, então, que a

psicologia cognitiva não tem sido muito útil para a compreensão dessa

construção, argumentando que, provavelmente, os processos mentais que

realmente interessam no desenvolvimento de estratégia (como percepção visual,

processamento paralelo de dados, síntese e intuição) “podem estar nas

profundezas de nossos sub-conscientes” (p. 124) e inacessíveis aos métodos de

pesquisa utilizados.

Ainda no âmbito dessa escola, é comentada pelos mesmos autores a

abordagem construtivista, na qual identificam entendimentos de que a mente

humana não se limita a, impessoalmente, levantar informações, tratá-las e

analisá-las para compreender o meio envolvente e tomar decisões. De certa

maneira, as informações levantadas interagem com a cognição e são re-

modeladas. Essa abordagem procura explicar a origem das estratégias

revolucionárias, aquelas “que mudam o mundo” (p. 127).

As premissas da Escola Cognitiva são:

1. A formação de estratégia é um processo cognitivo que tem lugar na

mente do estrategista.

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2. As estratégias emergem como perspectivas – na forma de

conceitos, mapas, esquemas e molduras – que dão consistência à

maneira pela qual as pessoas lidam com informações advindas do

meio envolvente.

3. Essas informações (de acordo com a ala “objectiva” dessa escola)

fluem através de todos os tipos de filtros deturpadores, antes de

serem descodificadas pelos mapas cognitivos, ou (de acordo com a

ala “subjectiva”) são meramente interpretações de um mundo que

existe somente na forma como é percebido. Em outras palavras, o

mundo visto pode ser modelado, pode ser emoldurado e pode ser

construído.

4. Como conceito, as estratégias são difíceis de realizar em primeiro

lugar. Quando são realizadas, ficam consideravelmente abaixo do

ponto óptimo e, subsequentemente, são difíceis de mudar quando

não mais são viáveis. (MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL,

2000, p. 131).

Os comentários dos autores reconhecem o potencial de contribuição

dessa escola para o entendimento da construção de estratégias (pela ala

"construccionista"), mas insistem na questão da pequena contribuição da

psicologia cognitiva para o desvendamento do processo de formação dos

conceitos na mente de um estrategista (pela ala "subjectiva").

Na verdade, há estudos que tentam explicar como a mente distorce

informações no processo decisório. Mas não os há, suficientemente, para explicar

como a mente trata (de fato) um sem-número de informações complexas voltadas

para subsidiar decisões.

Dentre as escolas já vistas, essa é a primeira a considerar a percepção

sobre o meio envolvente de modo relevante, mas entendendo que o estrategista

não colhe estratégias prontas, nem se submete passivamente a determinações

externaEssa escola está bem assente com o entendimento de que as percepções

do estrategista definem as decisões a serem tomadas, entre as quais podem-se

incluir os assuntos “tax compliance” e “tax evasion”.

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2.2.4.5. ESCOLA CULTURAL

Essa escola recebeu o subtítulo “a formação de estratégia como um

processo colectivo”. Sua principal característica é ser o reverso da Escola de

Poder. Segundo Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000), “o poder toma a entidade

denominada organização e a fragmenta; a cultura junta uma colecção de

indivíduos em uma entidade integrada chamada organização” (p. 194).

Apesar de cultura ser um conceito antropológico antigo, no que se

refere especificamente a estratégia, as primeiras manifestações enquadráveis

nessa escola datam da década de 1980, quando estudiosos americanos,

fascinados pelo sucesso das empresas japonesas, começaram a escrever sobre

a influência da cultura japonesa nesse desempenho. Mas os primeiros estudos

tratavam, principalmente, de organização e motivação do trabalhador, oferecendo

pequena contribuição para a teoria estratégica.

A cultura pode ser estudada do ponto de vista do participante (óptica

interna) ou do espectador (óptica externa), de maneira análoga às duas alas da

Escola Cognitiva. Por essa analogia, o espectador externo seria representante da

ala mais positivista, encarando o mundo como uma realidade objectiva a ser

observada, enquanto o participante interno representaria a ala mais subjectiva e

interpretativa desse mundo observado.

O conceito de cultura, decorrente da Antropologia, é composto de:

interpretações de um mundo e das actividades e artefactos que reflectem as mesmas. Além da cognição, essas interpretações são compartilhadas colectivamente, num processo social. Não há culturas particulares. Algumas actividades podem ser individuais, mas sua importância é colectiva (MINTZBERG et al, 2000, p. 195).

As premissas dessa escola são:

1. A formação de estratégia é um processo de interacção social,

baseado nas crenças e nas interpretações comuns aos membros

de uma organização.

2. Um indivíduo adquire crenças por meio de um processo de

aculturação ou socialização, o que em grande parte é tácito, e não

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verbal, embora seja, às vezes, reforçado por uma doutrinação mais

formal.

3. Os membros de uma organização podem descrever apenas

parcialmente as crenças que sustentam sua cultura, ao passo que

as origens e explicações podem permanecer obscuras.

4. A estratégia assume a forma de uma perspectiva, acima de tudo,

enraizada em intenções colectivas (não necessariamente

explicadas) e reflectida nos padrões pelos quais os recursos ou

capacidades da organização são protegidos e utilizados para sua

vantagem competitiva. Portanto, a estratégia é mais bem descrita

como deliberada (mesmo que não seja plenamente consciente).

5. A cultura e, em especial, a ideologia não encorajam tanto as

mudanças estratégicas quanto a perpetuação da estratégia

existente; na melhor das hipóteses, elas tendem a promover

mudanças de posição sob a perspectiva estratégica global da

organização (MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p.

196-197).

Até a década de 1980, apenas a Escandinávia registava estudos sobre

a cultura como uma importante questão em Administração. Ali (principalmente na

Suécia), os autores dedicaram-se ao estudo das organizações no tocante a

valores, imagens e mitos. Tais assuntos, posto que ligados ao âmbito da

sociologia organizacional, localizam-se na Escola Cultural, na taxionomia de

Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000).

A partir daquela década, uma pequena literatura passou a ser

produzida, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá, a qual se foi

avolumando com o decorrer do tempo. As conclusões são unânimes em admitir

que a cultura influencia o estilo de pensar e funciona como lente ou filtro na

percepção dos tomadores de decisão.

Nesse sentido, a Escola Cultural “dá vida à ala interpretativa da escola

cognitiva no mundo colectivo da organização” (MINTZBERG, AHLSTRAND &

LAMPEL, 2000, p. 197). É a diferença de culturas que explica o fato de

organizações diversas fazerem diferentes leituras do meio envolvente.

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Com a mesma força, a cultura de uma organização faz com que o

comportamento estabelecido resista a mudanças. É necessário que a lógica

dominante seja desaprendida, para que se estabeleça uma nova lógica. Nesse

sentido, alguns autores defendem a necessidade de se implementarem

sistemáticas para enfrentar e superar barreiras culturais a mudanças estratégicas,

como são os casos de Lorsch & Bjorkman (MINTZBERG, AHLSTRAND &

LAMPEL, 2000). A resistência é tanto maior quanto mais as necessidades de

mudança digam respeito a valores dominantes que tenham sido a razão do

sucesso passado.

Uma questão interessante diz respeito ao choque de culturas, nos

casos de fusões, aquisições e alianças estratégicas. Segundo Mintzberg,

Ahlstrand & Lampel (2000), mesmo que uma combinação de empresas possa

fazer sentido do ponto de vista racional do produto ou do mercado, “as diferenças

culturais menos evidentes podem servir para desfazer a união” (p. 199).

Um ponto mais tangível abordado nessa escola diz respeito aos

aspectos materiais de recursos e produtos (bens e serviços), tratando de

identificar como uns e outros podem significar diferenciais competitivos. Nessa

perspectiva, insere-se a chamada “cultura material”, que emerge quando:

objectos feitos por seres humanos reflectem, conscientemente ou não, directamente ou não, as crenças dos indivíduos que os encomendaram, fabricaram, compraram ou usaram, e, por extensão, as crenças da sociedade à qual pertenciam esses indivíduos (PROWN apud MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 201).

Dentre as críticas feitas a essa escola, destacam-se as seguintes:

1. Falta-lhe clareza conceptual, principalmente por parte dos autores

suecos.

2. As mudanças necessárias podem ser desencorajadas, pelo

favorecimento da consistência (permanecer nos trilhos) e porque a

cultura é pesada (recursos instalados, enraizados).

3. Como estrutura explicativa, essa abordagem iguala vantagem

estratégica e singularidade organizacional.

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4. Qualquer prática organizacional que não seja compreensível pode

ser defensivamente justificada pela singularidade.

5. A teoria explica com facilidade aquilo que já existe, em vez de

cuidar das questões difíceis relacionadas ao que pode vir a

acontecer.

Dessa escola, este estudo aproveita a compreensão de que o meio

envolvente cultural interfere na construção de valores e crenças que vão

influenciar a análise do meio envolvente empresarial e as decisões estratégicas,

entre as quais a definição da conduta da empresa diante do sistema fiscal.

2.3. PERCEPÇÃO E DECISÃO, CONFORME A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

A dificuldade de investigar em campo o tema evasão fiscal tornou “só

nesses casos” necessário utilizarmos um método subtil de inquirição, para obter

respostas confiáveis. O caminho descoberto consistiu em registar a percepção

dos empresários quanto ao sistema fiscal brasileiro, procurando, por esse

caminho, ter uma medida da propensão à evasão fiscal. Essa escolha baseou-se

numa teoria que suporta a convicção de que as escolhas são feitas a partir das

percepções que se têm a respeito do assunto sobre o qual são tomadas as

decisões.

Embora tenha trabalhado a teoria com foco mais voltado à explicação do

que facilita e, principalmente, o que dificulta o desenvolvimento económico, North

(1990; 1992; 1999) dá uma boa colaboração para a escolha metodológica deste

estudo, na medida em que permite compreender a importância da percepção nas

decisões dos agentes económicos. Neste estudo, considera-se que a percepção

dos empresários brasileiros a respeito do sistema fiscal é determinante na

decisão pelo cumprimento ou não das obrigações fiscais pelas empresas. A

percepção é o instrumento de construção do cenário de decisão como entendido

pela Nova Economia Institucional (NEI).

North tem-se sobressaído entre os autores da NEI, mas merecem destaque

alguns outros, nomeadamente Oliver Williamson e Ronald Coase. O segundo

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deles recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1991, antes, portanto, de North,

que o ganhou em 1993 (GALÍPOLO; GALA; FERNANDES, 2005).

A denominação Nova Economia Institucional tem a intenção de diferenciá-

la do velho institucionalismo que está na sua origem e que teve um importante

desenvolvimento entre os norte-americanos, principalmente com Veblen e

Galbraith (Gomes, 2007).

Bueno (2004: 784) estabelece a diferença, quando diz:

O ponto dos novos institucionalistas é que os mecanismos que promovem a cooperação entre os indivíduos não emergem espontaneamente, como deixa implícita a metáfora da mão invisível.

Utilizando uma abordagem distinta, a nova teoria se apropriou do conceito

de Racionalidade Limitada, de Simon (1979), como fundamento para a

importância das percepções no processo decisório, e acrescenta alguns

elementos do marxismo, de forma sui generis. Para North (1981), o marxismo

inclui elementos não considerados na abordagem neoclássica, a saber:

instituições, direitos de propriedade, Estado e ideologia.

Segundo Galípolo, Gala e Fernandes (2005: 1),

North parece usar o instrumental marxista de forma invertida: aceita as categorias de Marx, mas rejeita o materialismo. Faz uma utilização heurística da teoria marxista, valendo-se de seus elementos para a construção de um framework alternativo aos modelos do tipo rational choice.

North (1990) considera que a incerteza quanto ao cumprimento dos

acordos faz com que os actores económicos adoptem mecanismos para

resguardar seus interesses, o que aumenta os custos de produção e de

distribuição de bens e serviços, prejudicando o funcionamento da economia.

Bueno (2004: 779) acrescenta outra forma de compreender:

O que acontece se a comunidade é grande o suficiente para não poder contar apenas com os vínculos pessoais para induzir as pessoas a atuarem de forma cooperativa, mas não dispõe de instituições que garantam os contratos individuais, é que os empreendimentos coletivos não serão realizados ou só o serão em parte.

.Assim, pode-se melhor compreender que o papel exercido pelo Estado na

garantia das instituições tem, para os agentes económicos, a importância de

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favorecer a produção e a distribuição de bens e serviços a custos menores do que

aconteceria num ambiente sem regulamentação.

Segundo North (1990), as instituições são regras formais e informais que

reduzem a incerteza, porque clarificam as relações dos agentes económicos que

acontecem no meio envolvente. As “regras do jogo” são restrições impostas para

delimitar os comportamentos dos agentes sociais nas relações de troca. As

instituições formais são normas escritas, e têm origem nas fontes de legislação.

Na Figura 2.1, já apresentada, essas fontes estão identificadas pela denominação

genérica governo. As instituições informais são normas não escritas, construídas

no ambiente social por costume, tradição, consenso.

Gomes (2007: 5) interpreta o pensamento de North afirmando que as

instituições são normas e procedimentos de conduta humana, “responsáveis por

diminuírem as incertezas, tornando o ambiente social mais favorável para que os

indivíduos sejam estimulados a tomar decisões económicas e políticas”.

As instituições formais e informais constituem o que North (1990) denomina

matriz institucional, cuja evolução sustenta a construção da história de uma

sociedade.

Ao se depararem com forças exógenas (ameaças e oportunidades do meio

envolvente), as organizações têm duas opções: (a) adaptar-se à realidade da

matriz institucional, rearranjando seus recursos; (b) tentar interferir na

configuração da matriz.

A acção das organizações implica variações políticas e económicas no

meio envolvente, implementadas a partir do cálculo que façam sobre os custos e

os benefícios decorrentes da alteração de leis, contratos e normas. Quando

nenhum dos agentes tiver estímulo para alterar as regras formais e informais

(instituições), se estará diante de uma situação de equilíbrio institucional

(GALÍPOLO; GALA; FERNANDES, 2005).

Evidentemente, as escolhas são determinadas a partir de como os agentes

interpretam a realidade. Não há uma realidade absoluta, mas sim interpretações

que nunca são perfeitas, dadas as dificuldades de levantamento e tratamento de

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todas as informações. Essas dificuldades já estavam identificadas na obra de

Simon (1979), abrangidas sob o conceito de Racionalidade Limitada.

Não há dúvida que o processo de decisão requer acesso a informações. Se

as informações são incompletas ou difíceis de processar, a pessoa sobre a qual

recai a responsabilidade de decidir faz suas opções com base naquilo de que

dispõe e que acredita ser a realidade objectiva. Ou seja: as decisões são tomadas

com base na percepção de quem decide. Nas palavras de Gala (2005: 94):

A partir do momento em que os agentes não conhecem o mundo sobre o qual devem decidir, passam a construir “realidades subjetivas” dele e a atuar sob estas. Racionalidade não significa aqui atingir uma situação ótima, mas sim agir da maneira mais razoável possível na busca de determinados fins, dada a pobreza informacional. Na melhor das hipóteses, os agentes podem tentar aproximar sua visão de mundo — ideologia nos termos de North — da própria realidade objetiva.

Significa dizer que os actores sociais imaginam e “constroem” realidades

que lhes ajudam a conviver com o meio envolvente cujo conhecimento é

incompleto. Essas realidades imaginadas definem os cursos de acção desses

actores. Os actores sociais, nomeadamente os agentes económicos, definem sua

acção a partir da realidade percebida (NORTH, 1999).

É importante reforçar que essa realidade “construída” passa a ser encarada

como a realidade objectiva. Para as decisões do agente económico, não importa

o quão distante sua percepção esteja da realidade. Ela, a sua percepção, é o

ponto no qual apoia a sua decisão; é a sua realidade.

Ainda sobre essa compreensão, Fiani (2003: 141) esclarece:

North define ideologia como a percepção subjetiva que um indivíduo possui da realidade e que ele utiliza tanto para explicar como o mundo ao seu redor funciona, incluindo-se aqui a sua história até o presente, como para determinar como ele deveria funcionar. Dessa forma, a ideologia em North é tanto um modelo subjetivo de análise da realidade, quanto um modelo normativo de intervenção nessa mesma realidade. Será com base nesses modelos que os indivíduos e os grupos sociais vão estabelecer padrões de interação social.

Como acontece com as decisões em geral, as percepções, subjectivas e

incompletas que sejam, determinam qual será a decisão dos empresários por

obedecer às normas fiscais (tax compliance) ou por transgredi-las (tax evasion).

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Evidentemente, essa decisão é influenciada pelas instituições formais (normas

escritas) e a capacidade que tenha o Estado de fazê-las cumprir, assim como

pelas instituições informais (os valores, crenças e costumes). Trabalha-se com a

compreensão de que, mais do que prover infra-estrutura e prestar serviços

públicos, cabe ao Estado organizar a vida em sociedade, procurando garantir os

direitos dos agentes sociais e o cumprimento dos acordos, aí incluídas as leis.

Não há como prescindir do papel do Estado, para regulamentar as

interacções dos agentes. Como comenta Cruz (2003: 113)

Nas condições de incertezas prevalentes na vida real, indivíduos isolados, tentando calcular separadamente suas respectivas utilidades, não teriam como coordenar suas ações, muito menos cooperar — salvo no interior de grupos muito reduzidos.

Para que o Estado desempenhe suas funções, os agentes sociais pagam

tributos. Os tributos são, assim, uma “remuneração” ao Estado pelo cumprimento

dessas actividades. Enquanto este estudo prefere tratar de tributo, por também

incluir taxas e contribuições, e lembrar a responsabilidade do Estado por infra-

estrutura e pela prestação de outros serviços, Fiani (2003) refere-se mais

directamente a imposto, e se atém à prestação dos serviços de garantia dos

direitos de propriedade. O autor explica que esse papel cabe ao Estado, por

dispor da vantagem de economias de escala, em relação aos indivíduos. Diz Fiani

(2003: 143):

Essa transação (o pagamento de impostos por parte da sociedade em troca de proteção e justiça, isto é, da definição e garantia dos direitos de propriedade) é vantajosa, na medida em que o Estado possui economias de escala nessas tarefas e, portanto, seria mais custoso para os agentes privados desempenhar essas tarefas por si próprios. Na medida em que essas economias de escala não sejam exauridas, a ampliação das funções de proteção e garantia dos direitos de propriedade aumenta a renda de toda a comunidade, gerando uma poupança a ser dividida entre a sociedade e o Estado.

Registe-se que Fiani está trabalhando sob o entendimento da NEI, e, por

isso, sua atenção está focada na garantia dos direitos de propriedade. Para se

falar mais largamente, pode-se acrescentar que, garantindo o cumprimento das

normas e dos acordos, o Estado facilita o funcionamento da sociedade,

nomeadamente do sistema económico.

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O problema com a teoria de North é que o autor acredita que as relações

jurídicas passam a condicionar o mundo material, e não a reflecti-lo (GALÍPOLO;

GALA; FERNANDES, 2005). Alguns autores acreditam que o comportamento não

regulamentado é que condiciona a norma. Bueno (2004: 786/787), por exemplo,

afirma que “é relativamente fácil mudar leis e regulamentos formais, mas como o

código não escrito de comportamento é muito mais difundido, as mudanças

institucionais são, em geral, muito mais incrementais do que radicais”.

Não se podendo falar de uma realidade fiscal absoluta sobre a qual as

empresas brasileiras definam sua conduta perante o sistema fiscal, interessa

conhecer a realidade fiscal percebida pelos empresários brasileiros, a partir da

qual são tomadas essas decisões. Assim se explica porque este estudo embasa-

se nas percepções dos empresários brasileiros.

Também é importante para o desenvolvimento desta pesquisa o fato de

que as decisões dos indivíduos e dos grupos sociais são influenciadas pela sua

cultura, manifestando-se pelos seus valores e crenças. Tratando-se de decisões

de empresários brasileiros, importa conhecer, ainda que brevemente, as

características culturais da sociedade brasileira que podem interferir na percepção

desses empresários a respeito de como são e como deveriam ser suas relações

com o sistema fiscal. O próximo item tem a finalidade de fazer essa breve

apreciação cultural.

2.4. FORMAÇÃO E ESPECIFICIDADES DA CULTURA BRASILEI RA

Como visto no item anterior, é aceitável o entendimento neo-institucional de

que as decisões são definidas a partir das percepções que se têm sobre o meio

envolvente e as circunstâncias postas no contexto do processo decisório.

Compreendido isso, também há que se considerar que as percepções são

muitíssimo influenciadas pela cultura na qual as pessoas e os grupos sociais se

desenvolvem, do que decorre que as decisões têm a cultura como um dos pontos

de apoio; cultura aqui entendida como um conjunto de valores e crenças que

definem as regras (instituições) formais e as informais.

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Essa interpretação está coerente com Gomes (2007), quando comenta

que, conforme o entendimento neo-institucional, as escolhas também ficam

sujeitas a aspectos da personalidade, como altruísmo, gostos, preferências e

ideologias, que não se enquadram, directamente, no âmbito dos temas

económicos. Evidentemente, esses atributos se baseiam em valores que se

desenvolvem no meio cultural onde se forjam as personalidades.

Nas palavras de Laraia (1989: 46):

O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é o herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade.

Por isso, uma abordagem, ainda que breve, sobre a cultura brasileira não

poderia faltar em uma investigação sobre os factores a influenciar a propensão à

prática da evasão fiscal pelos empresários brasileiros. Obviamente, não se faz

referência, aqui, a uma cultura brasileira única, monolítica, imutável; nem a um

conjunto de valores e crenças disseminado entre todos os cidadãos do país,

independentemente de idade, género, escolaridade, local de nascimento e

residência, profissão e outros critérios de segmentação.

Não se mostra interessante trabalhar a concepção de cultura “como

dependente de um universo fechado, imutável em maior ou menor grau,

caracterizando uma coletividade pretensamente homogênea com contornos bem

definidos” (CUCHE, 2002: 211)

Pelo contrário, tem-se em mente que uma sociedade não apresenta

características que sejam geral e uniformemente distribuídas, nomeadamente no

caso de um país vasto, com uma população enorme e diversificada, como é o

caso do Brasil. Mas também há a convicção de que condições históricas,

económicas e sociais desenvolveram uma “personalidade” dominante no povo

brasileiro, a qual é, ao mesmo tempo, cordial e, talvez por isso mesmo, um tanto

permissiva (DAMATTA, 1997a; 1997b; 2003). Esse traço de carácter, certamente,

tem influência significante sobre o tema em estudo.

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Apreciando a influência da cultura nacional sobre a cultura empresarial,

Tanure (2005: 23) comenta que, sendo a empresa um espaço sociocultural, a

cultura nacional constitui um dos pilares da cultura organizacional. Confirma, a

autora, a necessidade de se compreender a cultura nacional, para se

compreender a cultura empresarial no país.

A sociedade brasileira é formada, basicamente, de representantes de três

raças: os índios, o povo nativo; os brancos europeus, nomeadamente os

portugueses, chegados a partir do início do século XVI; e os negros africanos,

trazidos no período da escravatura, que durou quase 300 anos, até a edição da

Lei Áurea, em 1888). Aportaram outros povos ao Brasil, nomeadamente os

asiáticos, a partir do século XX. Mas esses povos não exerceram grande

influência na formação cultural do povo brasileiro. Sua importância é delimitada a

certos espaços geográficos.

Os índios brasileiros eram organizados em sociedades primitivas, e suas

actividades produtivas se limitavam a garantir a alimentação do dia-a-dia e algum

conforto. Eram pessoas que procuravam viver em harmonia com a natureza e se

limitavam a buscar nela o necessário para o seu sustento imediato. Pode-se dizer

que eram economicamente “primitivos”, no sentido de que não cultivavam

modelos de exploração económica do trabalho, não tinham o sentido da

acumulação, nem da propriedade privada.

A par disso, suas sociedades funcionavam baseadas nas relações

familiares, em que a cooperação entre os indivíduos e a partilha eram hábitos

correntes. Os europeus verificaram que a forma menos onerosa de obter a

colaboração dos indígenas era introduzir-se naquele modelo familiar, e passaram

a “casar-se” com as índias. Conseguiam, assim, que os parentes afins

trabalhassem gratuitamente para eles, sobretudo na retirada de pau-brasil,

originando um fenómeno que Ribeiro (1995) denomina “cunhadismo”.

De outra parte, os senhores de escravos e seus filhos viam nas mulheres

negras vastas possibilidades de saciarem seus apetites sexuais. Essas mulheres

nem se podiam recusar a essas práticas, vez que não eram entendidas como

pessoas, mas como propriedades. Desses hábitos nasceram levas de mestiços,

filhos dos senhores que não podiam ser reconhecidos como familiares, mas que

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mereciam ser protegidos (FREIRE, 1933), inclusivamente como uma forma de

compensação pela impossibilidade de serem aceites nas famílias.

Mais tarde, os fenómenos do “cunhadismo” e dessas relações familiares

espúrias contribuíram para a formação das relações sociais no “coronelismo”, em

que o senhor de terras tratava “seu” povo alternando protecção e brutalidade, a

depender da intenção e da necessidade de ser amado ou de ser temido.

Desse modo, desenvolveu-se no povo brasileiro o sentido da protecção

interna e do confronto externo. A alma brasileira balança entre o privado e o

público, entre a casa e a rua, nas palavras de DaMatta (2003). O autor explicita

seu pensamento da seguinte forma (1997a: 93):

O traço distintivo do domínio da casa parece ser o maior controle das relações sociais, o que certamente implica maior intimidade e menor distância social. Minha casa é o local da minha família, da “minha gente” ou “dos meus”, conforme falamos coloquialmente no Brasil. Mas a rua implica uma certa falta de controle e um afastamento. É o local daquilo que os brasileiros chamam de “dura realidade da vida”. A rua, como categoria genérica em oposição à casa, é o local público, controlado pelo “governo” ou pelo “destino”, essas forças impessoais sobre as quais o nosso controle é mínimo.

Quando se entende que não é possível controlar uma situação, e isso é

crucial para o nosso processo decisório, é natural que se perceba essa realidade

como iníqua, como injusta, de maneira que a consciência se aquiete diante da

possibilidade de transgressão das normas existentes naquele meio envolvente

incontrolável.

Do ponto de vista estratégico, no caso das empresas, a realidade externa

injusta, iníqua, passa a ser encarada como uma ameaça. Como tal, precisa ser

neutralizada, o que confere às decisões um carácter de legitimidade, mesmo

quando sejam contrárias à legalidade.

Nesse caso, a “rua” se transforma no “lugar de ‘luta’, de ‘batalha’, espaço

cuja crueldade se dá no fato de contrariar frontalmente todas as nossas vontades”

(DAMATTA, 1997b: 29). Nesse espaço passam a ser aceitáveis os subterfúgios, o

“jogo de cintura”, o “jeitinho”. A compreensão é de que é legítimo contornar norma

que se considera injusta e ameaçadora. Ou, nas palavras de DaMatta (1997b:

97), faz-se “uma mediação também pessoal entre a lei, a situação onde ela

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deveria aplicar-se e as pessoas nela implicadas, de tal sorte que nada se

modifique, apenas ficando a lei um pouco desmoralizada”,

O autor comenta, ainda, que a legislação brasileira é fundada na proibição

que submete o cidadão ao Estado. O “não” e o “não pode” são expressões

constantes no sistema normativo brasileiro, o que “obriga” o cidadão e as

organizações a produzir mecanismos que permitam perseguir seus objectivos no

emaranhado jurídico do “é proibido”, “é vedado”.

O pensamento de DaMatta (1997b: 104/105) é coroado da seguinte forma:

A malandragem, assim, não é simplesmente uma singularidade inconseqüente de todos nós, brasileiros. Ou uma revelação de cinismo e gosto pelo grosseiro e pelo desonesto. É muito mais que isso. De fato, trata-se mesmo de um modo – jeito ou estilo – profundamente original e brasileiro de viver, e às vezes sobreviver, num sistema em que a casa nem sempre fala com a rua e as leis formais da vida pública nada têm a ver com as boas regras da moralidade costumeira que governam a nossa honra, o respeito e, sobretudo, a lealdade que devemos aos amigos, aos parentes e aos compadres.

Desenvolve-se na sociedade brasileira uma ambiguidade ética. A

consciência de que a norma (as instituições, conforme a NEI) garantem o

funcionamento da sociedade, e que, portanto, devem ser cumpridas, convive com

a compreensão de que, em algumas circunstâncias, isso pode ser relativizado,

podendo-se aceitar transgressões que, sem revogar a norma, permitam

desobedecê-la, “só nesses casos”.

Sob a simpática denominação “jeitinho brasileiro”, a corrupção é

socialmente aceite e “conta com o apoio da população, que a encara como

tolerável” (ALMEIDA, 2007: 46)14. Adiante, o mesmo autor acrescenta (2007:

47/48):

O jeitinho, portanto, equivale a uma ”zona cinzenta moral” entre o certo e o errado. Se uma situação é classificada como jeitinho, o que se está dizendo é que, dependendo das circunstâncias, essa situação pode passar de errada a certa.

14 Apesar de o autor informar o rigor metodológico com que procedeu à sua investigação, o estudo

de Almeida é considerado politicamente incorrecto, porque atribui maior “frouxidão” ética aos mais pobres, aos não-brancos e aos que vivem em regiões menos desenvolvidas. Citá-lo não significa concordância com todas as suas conclusões.

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O “jeitinho” é uma forma de resolver o conflito ético entre o cumprimento da

norma considerada exagerada ou injusta e a transgressão dessa norma. O

cumprimento não é interessante, e a admissão da transgressão é a confissão de

um comportamento anti-ético. O “jeitinho” é o alívio da consciência, sob a crença

de que “há casos que podem mais que a lei”, como estabelece o senso comum, a

crença popular.

No estudo de Almeida (2007: 54), 83% dos inquiridos classificaram como

corrupção o fato de uma pessoa “conseguir uma maneira de pagar menos

impostos sem que o governo perceba”. Desse mesmo universo, 63% afirmaram

que já haviam “dado um jeitinho”, 63% admitiram que já haviam pedido para

alguém “dar um jeitinho” para si, e 65% declararam já ter “dado um jeitinho” para

outrem.

É como se dissessem que acreditam que a norma deve ser cumprida, sem

abrir mão da competência de arbitrar quando , por quem e como a norma pode

ser transgredida. Obviamente, a medida do julgamento é a percepção de cada

um.

2.5. ÉTICA INDIVIDUAL E EMPRESARIAL

Segundo Solomon (2003), a Ética Empresarial nasceu como uma das

vertentes aplicadas da Ética, a exemplo das demais derivações, como, por

exemplo, a da Medicina e a do Direito. Entretanto, o autor regista (2003, p. 1) que,

diferentemente das demais, a Ética Empresarial:

trata de uma área do empreendimento humano cujos praticantes, na sua maioria, não gozam de um estatuto profissional, e de cujos motivos muitas vezes se pensa (e se diz) serem muito pouco nobres.

A opinião do autor dá margem a se entender que há, subjacente ao

relacionamento entre a sociedade e as empresas, a ideia de que estas não

seriam bem intencionadas e que seus motivos não seriam eticamente justos.

Estando correcta a observação de Solomon, a sociedade estaria,

permanentemente, em estado de alerta em relação às empresas, precavendo-se

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contra quaisquer iniciativas que lhes parecessem suspeitas. Não nos parece

adequado esse pressuposto.

Sendo a Ética Empresarial uma vertente da Ética, a compreensão daquela

requer o conhecimento do conceito mais geral, de maneira que se possa trabalhar

de modo mais adequado com o conceito específico.

Arruda, Whitaker & Ramos (2001. p. 41) observam que:

O termo ética, proveniente do vocábulo grego ethos, significa costume, maneira habitual de agir, índole. Sentido semelhante é atribuído à expressão latina mos, moris, da qual deriva a palavra moral. Sem entrar na discussão semântica que levaria a matizes diferenciais inexpressivos, em ambos os casos a ética pode ser entendida como a ciência voltada para o estudo filosófico da acção e da conduta humana, considerada em conformidade ou não com a recta razão.

O que se constituiria, então, em comportamento eticamente aceitável?

Para Schermerhorn Jr. et al (1999), o comportamento ético não se restringe ao

que estabelece a lei, mas constitui também um código moral amplo, comum a

toda sociedade.

Há a tendência de as sociedades democráticas transformarem em norma

aquilo que está sintonizado com os seus valores. Mas, mesmo quando isso não

ocorre, cada sociedade faz os seus valores pairarem acima das normas escritas.

Segundo Schermerhorn Jr. et al (1999), há pelo menos quatro formas de

encarar o comportamento ético:

a) Visão utilitarista – trata da obtenção de benefícios para o maior número

de pessoas. Na Ética Empresarial, significa considerar as

consequências de uma decisão, levando em conta o conjunto de todos

os públicos de interesse (stakeholders).

b) Visão individualista – considera adequado o comportamento ético que

melhor atenda aos interesses particulares, no longo prazo. Por essa

óptica, não seria adequada uma decisão empresarial que, mesmo

atendendo a interesses imediatos, venha a implicar perdas para a

empresa, no futuro.

c) Visão dos direitos morais – tem como moldura os direitos fundamentais

da pessoa humana. Segundo essa visão, uma empresa não deve violar

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valores fundamentais como o direito à vida, à liberdade, à privacidade e

o de expressão.

d) Visão de justiça – diz respeito a tratamento igualitário a todos. Na Ética

Empresarial, significa não adoptar conduta discriminatória de qualquer

natureza.

Nesta parte da pesquisa, o interesse está focado na Ética Empresarial e,

mais especificamente, no enquadramento ético da conduta fiscal das empresas.

Por isso, cabe entender que, se a Ética diz respeito à conduta que se considera

correcta e esperada no relacionamento de alguém com aqueles que o cercam,

decorre que a Ética Empresarial trata da qualidade das relações da empresa com

o meio envolvente, considerando que ali estão contidos os seus diversos públicos

de interesse, os chamados stakeholders.

No tocante à fiscalidade, por fim, a Ética Empresarial diz respeito ao

relacionamento da empresa com um actor específico do meio envolvente, no caso

o governo, o qual se encontra entre os públicos de interesse mais imediato da

empresa, como visto na Figura 2.1. Por outro lado, sendo o governo o

representante da sociedade, a Ética Empresarial, nesse aspecto, diz respeito ao

relacionamento da empresa com a própria sociedade.

Vejamos, então, o conceito de ética apresentado por Maximiano (2002, p.

416), abrangendo de forma geral as organizações e as pessoas:

A ética é a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e avaliação do comportamento de pessoas e organizações. A ética lida com o que pode ser diferente do que é, da aprovação ou reprovação do comportamento observado em relação ao comportamento ideal. O comportamento ideal é definido por meio de um código de conduta, ou código de ética, implícito ou explícito.

Tendo por objecto de atenção os comportamentos das pessoas e das

organizações em relação aos elementos circunstantes, o estudo da Ética tem

sentido prático, porque se destina a moldar esses comportamentos, e não apenas

à obtenção de conhecimento sobre eles.

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Para Aristóteles, não se estuda Ética “para saber o que é a virtude, mas

para aprender a tornar-se virtuoso e bom” (in ARRUDA, WHITAKER & RAMOS,

2001, p. 41).

Sendo a virtude a sua própria razão, o comportamento ético se dá por

convicção, e não por prescrição legal. Note-se que se as restrições legais fossem

suficientes para moldar comportamento, bastaria que se fizessem leis e outros

normativos para eliminar comportamentos condenáveis ou indesejáveis.

Tratando mais especificamente das empresas, Abex & Oliveira (2004, p.

107) ensinam que “a ética empresarial enfatiza as decisões nas quais muitos

factores envolvidos não fazem parte das regras, dependendo exclusivamente da

aferição dos valores por parte do agente deliberador para chegar a um juízo”.

Parece aceitável uma empresa adoptar um comportamento sabidamente

ilegal, desde que o considere legítimo. Aqui, começam as distinções entre Ética e

Direito, sendo oportuno observar a seguinte opinião de Gomes (2003, p. 1):

Falar sobre ética exige, preliminarmente, uma distinção com respeito aos campos da moral e do Direito. Como sabemos, a moral tem a ver com o certo e o errado, na medida em que estes se relacionem com os costumes de uma sociedade. Por sua vez, o Direito é o conjunto de regras estabelecidas pelo poder público, e sustentadas por meio da coação organizada. Ética, finalmente, é o discurso argumentativo sobre regras e valores. Ela distingue-se da moral por não coincidir necessariamente com o costume e distingue-se do Direito por não ser objecto de imposição, mas sim de aceitação livre.

Observe-se que o autor também faz distinção entre Ética e Moral,

diferentemente do que entendem Arruda, Whitaker & Ramos. Outros autores,

como Maximiano (2002) e Fontes (2003), também fazem distinção entre Ética e

Moral.

Segundo Fontes (2003, p. 2), a distinção se faz pelos seguintes conceitos:

Ética: Trata-se de uma disciplina normativa que tem como objectivo estabelecer os princípios, regras e valores que devem regular a acção humana, tendo em vista a sua harmonia. Num grande número de filosofias, esses princípios, regras e valores aspiram afirmarem-se como ”imperativos" da consciência com valor universal. A ética preocupa-se não como são os homens, mas como eles devem ser. Em qualquer caso, o homem é entendido como a autoridade última das suas decisões. Moral: Trata-se do conjunto de valores que uma dada sociedade ao longo dos tempos foi formando e que os indivíduos tendem a sentir como uma obrigação que lhes é exterior. Essa distinção está longe de ser consensual. Para alguns filósofos, trata-se apenas de dois aspectos de uma só coisa. A ética é a teoria, e a moral é a sua realização prática.

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105

O posicionamento adoptado neste estudo é o de que, embora ética e moral

não sejam a mesma coisa, os valores que moldam o comportamento ético são

apreendidos no convívio social, e, portanto, decorrem dos costumes (mores).

Gomes (2003. p. 4) também assim o admite, quando adverte que “cada

indivíduo irá responder aos reclamos da ética sempre de acordo com a sua

cultura”.

Esse posicionamento aproxima, ainda mais, o entendimento de que uma

conduta ética não depende de prescrições normativas, e está baseada em valores

desenvolvidos individual e colectivamente.

A propósito dos limites estabelecidos pela conduta ética, pode-se afirmar

que, se os limites éticos decorrem dos costumes, é de se esperar que esses

limites possam mudar, já que os costumes mudam. É possível que se encontrem

diferenças entre limites éticos, em termos tanto geográficos quanto temporais. O

que é julgado lícito em determinado espaço, pode não o ser em outro; o que num

período é pacificamente aceite, pode deixar de sê-lo em outro momento.

A medida-limite para o que pode ser praticado sem maiores complicações

de consciência é representada pela expressão “não fazer a outrem o que não se

gostaria que lhe fizessem”. Não haveria, assim, julgamento mais perfeito para o

limite do que seja adequado ou inadequado nas relações com outrem do que o

próprio sentimento do que é justo ou injusto para si mesmo.

Essa é a chamada “regra de ouro”, segundo Maximiano (2002), ou “regra

dourada”, de acordo com Stoner & Freeman (1998), conhecida desde Confúcio,

passando por todos aqueles que trataram de Ética e Moral, entre eles Jesus

Cristo, Kant e os filósofos actuais. Essa regra serve de fundamento para a Ética

Absoluta e de limite para a Ética Relativa, que defende flexibilidade de conduta,

conforme as circunstâncias.

Essa é a razão pela qual o entendimento do que vem a ser Ética

Empresarial deve ser precedido da compreensão do que é Ética Individual,

nomeadamente de como se desenvolvem os valores éticos nos indivíduos.

Para entender esse desenvolvimento, recorreu-se a dois autores já

clássicos: Piaget e Kohlberg. Observe-se que, para ambos os autores, as

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pessoas nascem amorais, mas desenvolvem sua moralidade com o passar do

tempo. Para Piaget, a moral desenvolve-se a partir do segundo ano de idade;

para Kohlberg, a partir do quarto ano.

Segundo Piaget (1932), o desenvolvimento moral se dá paralelamente ao

desenvolvimento intelectual. O autor identifica as seguintes etapas:

• Moral de Obrigação Heterónima – Ocorre entre os 2 e os 6 anos,

quando a pessoa vive numa atitude unilateral de respeito absoluto em

relação aos mais velhos. As normas são totalmente exteriores.

• Moral da Solidariedade Entre Iguais – Ocorre entre os 7 e os 11 anos,

quando o respeito deixa de ser unilateral e passa a ser recíproco,

baseado na noção de igualdade. As normas são rigidamente seguidas.

• Moral de Equidade-autonomia – Ocorre a partir dos 12 anos, quando

surgem a atenção pelo outro, a compaixão e o altruísmo. A moral passa

a ser autónoma, e o respeito às normas se dá por convicção individual.

Kohlberg (in CRAIN, 1999; BARGER, 2003) também menciona três

etapas, que denomina níveis, no desenvolvimento da moralidade:

• Pré-convencional / Pré-moral – Quando os valores morais são externos.

A criança é submetida a regras e a padrões de avaliação, associando-

os aos resultados de prazer e desprazer.

• Convencional / Conformismo Social – Quando os valores morais

residem na obediência a padrões de comportamento socialmente

entendidos como correctos.

• Pós-convencional / Humanismo – Os valores morais são internos. A

conduta baseia-se no respeito aos direitos alheios e aos impactos que

podem causar sobre os outros e o meio envolvente, inclusive no futuro.

Kohlberg divide cada nível em dois estágios, o que resulta em seis etapas.

O autor também entende que o desenvolvimento moral não se pode dar por

saltos; isto é, os estágios e níveis se sucedem rigorosamente na ordem

apresentada. Cabe, ainda, acrescentar que o autor registou seu sentimento de

que o terceiro nível é raramente alcançado.

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Alguns investigadores procuraram estabelecer um paralelo entre o

desenvolvimento moral das pessoas e o das organizações, a maioria dos quais o

fez a partir das teorias de Piaget e Kohlberg. Portanto, da mesma forma que

alguns autores estabeleceram etapas para o desenvolvimento da moral individual,

outros o fazem com relação ao desenvolvimento moral das organizações.

Maximiano (2002), por exemplo, aceita para as organizações a mesma

divisão do desenvolvimento moral defendida por Kohlberg, em três estágios: pré-

convencional, convencional e pós-convencional.

O primeiro estágio caracteriza-se pela busca da satisfação das próprias

necessidades e expectativas. A expressão típica é “cada um por si”. Esse

posicionamento busca amparo num certo “darwinismo social”, que o justificaria

pela “selecção natural” das organizações mais aptas.

O segundo estágio caracteriza-se pelo cumprimento, por conveniência, da

lei e de outras normas de comportamento, explícita ou implicitamente

estabelecidas no meio envolvente organizacional. Essa é a ética das convenções.

O terceiro estágio corresponde ao idealismo moral, quando as regras são

cumpridas por convicção, e não por obrigação. É o estágio mais avançado no

desenvolvimento ético organizacional.

Tratando de programas éticos das empresas, Stoner & Freeman (1998, p.

144) destacam os que se fundam em obediência e em integridade, distinguindo

uma estratégia da outra, do seguinte modo:

Programas fundamentados em obediência aumentam a fiscalização e os controles sobre as pessoas, impondo punições aos que fazem coisas erradas. Esses programas incluem estabelecimento e comunicação de padrões e procedimentos legais, designação de administradores de alto nível para supervisionar a obediência, além de auditoria e monitoramento para informar condutas criminais, punir malfeitores e adoptar procedimentos para evitar infracções no futuro. ... Os programas fundamentados em integridade vêem a ética como uma força motriz na empresa. A ética da empresa auxilia a definir o que ela é e com o que ela se preocupa. Esses programas possuem os elementos dos programas baseados em obediência, mas também possuem um conjunto articulado de valores desenvolvidos não pela assessoria jurídica, mas pelos administradores de toda a organização.

Chama-se a atenção para a informação dada por esses autores de que a

adopção da estratégia da integridade não significa o afrouxamento dos controles

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e o abandono nos preceitos normativos presentes na estratégia de obediência.

Trata-se, na verdade, de pôr a ética no centro da estratégia, ou, como dizem os

autores, vê-la como força motriz, que dá movimento à acção organizacional.

Na estratégia de obediência, a conduta da organização em relação aos

elementos do meio envolvente pauta-se por regras escritas, e mesmo não

escritas, que delimitam a liberdade de agir da organização, que a elas se sujeita

por temer sanções, sejam judiciais ou de mercado.

Outra análise de enfoques da Ética Empresarial é apresentada por Melé

(2003, p. 1):

Muitos dos manuais mais conhecidos de Ética Empresarial com frequência apresentam dois grandes enfoques, um deontologista (de deon, dever), centrado nos deveres a cumprir, e outro teleologista (de teleos, fim), geralmente em forma de “utilitarismo”, que se fixa exclusivamente nas consequências da acção. Há, ainda, um terceiro enfoque incluído em muitos manuais. Trata-se da ética das virtudes, que não se fixa em nenhuma norma concreta, mas no desenvolvimento de virtudes no sujeito através da acção e no papel da virtude da prudência ou sabedoria prática para determinar o que se deve fazer em cada situação.

É de se esperar que a sociedade tenderá a julgar a conduta empresarial

como adequada ou não, de acordo com os valores desenvolvidos e aceites no

espaço e no tempo em que se insere a empresa. Entre todas as condutas das

empresas, esta pesquisa trata da decisão quanto ao cumprimento das obrigações

fiscais, cuja motivação passa-se a estudar a seguir, após os conceitos iniciais de

Evasão Fiscal.

2.6. EVASÃO FISCAL

2.6.1. CONCEITOS INICIAIS

Para efeito de aproximação com a literatura internacional, como referido no

Capítulo I, utiliza-se neste estudo a expressão “evasão fiscal” para traduzir

práticas não legais aplicadas por alguém ou alguma organização com a finalidade

de reduzir sua carga tributária. Significa dizer que o conceito de evasão fiscal,

aqui, não contempla as práticas de elisão fiscal, que são legais. Na literatura

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internacional, como já observado, as práticas de elisão fiscal são tratadas sob a

denominação tax avoidance.

Além das expressões tax avoidance e tax evasion, Kirchler, Maciejovsky &

Schneider (2001) utilizam a expressão tax flight, significando a relocalização

regional de negócios para o aproveitamento de vantagens fiscais. Os autores

referem-se, especificamente, à transferência de empresas para os chamados

“paraísos fiscais”.

Em termos económico-financeiros, todas essas espécies de procedimento

(tax avoidance, tax evasion e tax flight) resultam em redução da carga tributária

para os contribuintes e correspondentes perdas de arrecadação para o orçamento

público. Do ponto de vista jurídico, no entanto, é importante a distinção entre tax

avoidance, tax evasion e tax flight, nomeadamente quando se discutem

possibilidades de sanção contra os que se utilizam de expedientes fraudulentos.

Dessas práticas, apenas a tax evasion é ilegal. E é com esse significado que se

trata aqui de “evasão fiscal”.

Kirchler, Maciejovsky & Schneider (2001) ouviram mais de 250 pessoas,

entre agentes fiscais, estudantes de economia e gestão, advogados e

empreendedores, procurando captar os graus de receptividade do grupo aos três

tipos de procedimento, podendo-se concluir que a tax avoidance era encarada

positivamente, a tax flight neutramente e a tax evasion negativamente.

Na verdade, a relocalização de empresas (tax flight) pode assumir um

carácter menos legítimo, quando se tratar de simples transferência de domicílio

fiscal, sem a efectiva transferência de actividades. Para melhor esclarecimento,

cita-se como exemplo o caso de empresas brasileiras prestadoras de serviço, que

transferem apenas suas sedes para municípios onde as alíquotas do Imposto

Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN ou, simplesmente, ISS) são

menores, como forma de recolher menos imposto. Nesse caso, há um

aproveitamento fraudulento de uma vantagem fiscal e, portanto, uma distorção do

instituto tax flight.

Por esses aspectos, Kirchler, Maciejovsky & Schneider consideram que a

tax flight transita no terreno das ambiguidades, ficando a igual distância das

práticas de elisão fiscal, que são legais, e das de evasão fiscal, que são ilegais.

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Neste estudo, as acções de tax flight são entendidas como parte das

práticas de elisão fiscal, uma vez que são práticas legais, não passíveis de

sanções, excepto quando extrapolam os limites da sua aplicação, e incluem

fraudes. É conveniente, ainda, lembrar que fraudes nesse tipo de actividade são

mais difíceis de constatar do que nos demais casos.

De qualquer modo, parece que o principal objectivo do desenvolvimento

teórico desse tema tem sido auxiliar na obtenção de mais altos níveis de tax

compliance (obediência às determinações normativas do sistema fiscal) . Nesse

sentido, foram desenvolvidas duas linhas teóricas (TRIVEDI, SHEHATA &

MESTELMAN, 2005):

a) A primeira, baseada nos preceitos económico-financeiros, observa que

os contribuintes adoptam atitudes de jogadores, fazendo uma análise

da relação custo/benefício entre os ganhos representados pelos valores

de tributos não recolhidos e a probabilidade de virem a ser apanhados

em fraudes e sofrerem sanções por parte das autoridades fiscais. Aí,

também, são considerados os níveis de tolerância a ambiguidades e

riscos. Como resultado, essa abordagem enfatiza os incentivos

financeiros e as punições, como forma de obter tax compliance.

b) A segunda, baseada nos preceitos da psicologia e da ética, leva em

conta aspectos comportamentais que interferem na decisão quanto ao

cumprimento das obrigações fiscais, como decorrência de valores e

crenças individuais e colectivos. Essa abordagem resulta na ênfase de

que tax compliance é consequência das atitudes dos contribuintes,

nomeadamente dos sentimentos acerca da sua relação com o aparelho

fiscal do Estado e dos seus valores morais.

Observe-se que essa é uma vertente teórica que se vem desenvolvendo há

pouco tempo. A primeira abordagem ficou conhecida a partir do clássico artigo de

Allingham & Sandmo, publicado ainda em 1972, em que os autores consideram

que os contribuintes são amorais, tendo sua conduta fiscal ditada pela avaliação

das probabilidades de ganhos ou perdas financeiras15.

15 Esse entendimento não está em completo acordo com as teorias de Piaget e Kohlberg, como

visto, dado que esses autores não entendem ser possível afastar os aspectos de moralidade

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A segunda baseia-se na ideia de que a principal motivação das pessoas

está nos seus valores, e tem sido a abordagem mais adoptada recentemente,

apesar de alguns autores ainda insistirem em analisar a propensão a recolher os

tributos a partir do viés de Allingham & Sandmo.

Entre os investigadores ainda alinhados com a primeira corrente de

pensamento, incluem-se Chen & Chu (2002) e, mais recentemente, Crocker &

Slemrod (2005) e Snow & Warren Jr. (2005). Estes últimos chegam a afirmar que

a incerteza sobre a probabilidade de virem a ser apanhados em uma eventual

auditoria das autoridades fiscais aumenta a tax compliance dos contribuintes que

têm aversão a incerteza, mas reduz a tax compliance daqueles que têm o espírito

de jogador. Ou seja, o risco lhes serve de estímulo à evasão.

É evidente que essa afirmativa de Snow & Warren Jr. (2005) acerca do

“espírito de jogadores”, mesmo pertencendo à abordagem de viés económico-

financeiro, contém mesmo a ideia de que elementos comportamentais interferem

na decisão dos contribuintes.

Logo depois da publicação do artigo de Allingham & Sandmo (1972), vários

outros autores passaram a investigar e a chamar a atenção para a interferência

dos aspectos de foro íntimo dos contribuintes no seu comportamento fiscal.

Investigadores de nomeada, como Alm, McLelland & Schulze (1992), vêm

registando que, considerada apenas a racionalidade económico-financeira

comentada acima, a opção seria sempre pela sonegação.

Vale, novamente, lembrar Kirchler, Maciejovsky & Schneider (2001),

segundo os quais não seriam apenas as variáveis financeiras exógenas que

explicariam a propensão a cumprir as obrigações fiscais. Mencionaram a

necessidade de se considerar também os estados de ânimo interno dos

contribuintes e os sentimentos a respeito de justiça, cooperação e normas sociais,

quando se estudam as razões que levam ao cumprimento das obrigações fiscais.

Não se trata, é claro, de negar a influência das expectativas de ganhos e

perdas na decisão fiscal dos contribuintes, especialmente daqueles cuja escala de

valores privilegia os componentes económico-financeiros ou que têm preferência

nas decisões pessoais. Segundo Piaget e Kohlberg, não seria possível uma decisão completamente amoral, baseada, apenas, na análise da relação custo/benefício.

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pelo risco. Mas diversos autores têm advertido que, além desses, estão

envolvidos valores que dizem respeito à conduta eticamente aceite pela

sociedade e que acabam por se reflectir na conduta das empresas.

Torgler & Schneider (2003), por exemplo, observam que, consoante

apontam vários estudos, as diferenças no comportamento fiscal em diferentes

culturas decorrem da gestão fiscal e dos sentimentos dos cidadãos quanto à sua

relação com o governo.

Idêntica observação fazem diversos outros autores em trabalhos mais

recentes. Ressalta-se o caso de Trivedi, Shehata e Mestelman (2005), que

basearam a parte psicológica de sua investigação na Teoria do Comportamento

Planejado, de Ajzen (1991), procurando explicar por que os contribuintes

cumprem ou deixam de cumprir suas obrigações fiscais.

Vários estudos evidenciam que há, numa determinada sociedade, uma

predisposição a cumprir ou deixar de cumprir as obrigações fiscais. Tax morale

tem sido a denominação consagrada por diversos autores para a predisposição

ao cumprimento das obrigações fiscais.

Os estudos que consideram a influência das atitudes sobre a decisão de

adoptar práticas de evasão fiscal têm identificado variáveis que são utilizadas nas

investigações como explicativas do comportamento dos contribuintes. Boa parte

dos investigadores prefere utilizar a tax morale como variável dependente,

porquanto os estudos têm encontrado a evidência de que a disposição intrínseca

para pagar tributos geralmente se realiza. Significa dizer: se a tax morale for

elevada, resulta em cumprimento das obrigações fiscais; se for baixa, resulta em

evasão fiscal.

Em outras palavras, altos níveis de tax morale significam altos níveis de tax

compliance (cumprimento das obrigações fiscais); baixos níveis de tax morale

significam altos níveis de tax avoidance (elisão) e tax evasion (sonegação).

Dentre esses estudiosos, sobressai Torgler (2001a; 2001b; 2003a; 2003b;

2003c; 2003d; 2004; 2005a; 2005b), que acaba de publicar uma série de

investigações feitas em diversos países, seja em trabalhos individuais, como

esses retromencionados, seja em parceria com outros autores, como Schneider

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113

(2003), Alm (2004), Torgler, Bird e Martinez-Vasquez (2004). Na quase totalidade,

essas investigações têm procurado clarificar o que causa impacto na tax morale

das sociedades. Em todos esses estudos, encontra-se a advertência de que as

motivações económico-financeiras não são suficientes para explicar a conduta

dos contribuintes no tocante à sua tax compliance.

Uma significante contribuição a respeito do tema pode ser creditada a Feld

& Frey (2002). Em investigação realizada em 26 estados (cantões) suíços, os

autores constataram que os diferentes tratamentos dispensados aos contribuintes

pelas autoridades fiscais resultam em diferentes níveis de tax morale. Puderam

também verificar que as relações entre contribuintes e autoridades comportam-se

dentro de um “contrato psicológico”, e que esse contrato era mais importante e os

níveis de tax morale eram mais elevados onde era mais exercitado o direito de

participação política.

Procurando-se dar continuidade a essa linha de estudos, que consideram a

influência de variáveis externas e internas em relação ao comportamento do

contribuinte, o restante do presente tópico está dividido de modo a contemplar o

assunto evasão fiscal de maneira segmentada.

No primeiro segmento, procura-se compreender o que influencia a decisão

por cumprir as obrigações fiscais. Esse ponto tem grande importância, porquanto

serviu para a identificação das principais variáveis explicativas seleccionadas para

a composição desta pesquisa.

Ressaltando-se que a literatura sobre o tema é rica no tocante ao estudo

da conduta dos indivíduos, mas não tanto no que tange ao comportamento das

empresas, procura-se contornar a dificuldade de background teórico,

enriquecendo as contribuições dos trabalhos que dão conta da conduta fiscal das

empresas com outros estudos acerca da conduta fiscal das pessoas16.

16 Chen & Chu seriam contrários a esse procedimento, porquanto estão convencidos de que os

modelos de evasão fiscal dos indivíduos não explicariam adequadamente o comportamento dos gestores de empresas. Esses autores trabalham sob o paradigma de Allingham & Sandmo, entendendo os modelos decisórios fiscais individuais como diferentes dos modelos empresariais. Neste estudo, aceita-se a interferência dos valores éticos e dos sentimentos em ambos os modelos de decisão (individuais e colectivos), o que possibilita aceitar a opção adoptada.

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114

Para aceitar essa contribuição adicional, recorre-se a um entendimento

adoptado de longa data, segundo o qual as organizações não têm objectivos,

mas, sim, as pessoas que as compõem (LAWRENCE & LORSCH, 1973).

Analogamente, pode-se afirmar que as organizações também não têm

sentimentos ou valores e, em consequência, não têm convicções éticas. Essas

convicções são tomadas por empréstimo das pessoas que integram as empresas.

Como as pessoas que compõem uma empresa são oriundas da sociedade

em que esta se insere, é forçoso concluir que as pessoas trazem para as

empresas os sentimentos e valores que compartilham na sociedade. Deve-se,

assim, admitir que a conduta das empresas é pautada pelas convicções

predominantes na sociedade em que atuam. Isso é verdade, também, em relação

aos procedimentos fiscais.

Em segmento específico, o segundo, apresentam-se alguns estudos

realizados em vários países para identificar as práticas e causas de evasão fiscal.

São estudos teóricos e empíricos sobre o tema, baseados em investigações sobre

a evasão fiscal em diversos países, nomeadamente da América Latina.

O terceiro e último segmento apresenta investigações sobre a evasão fiscal

no Brasil, nomeadamente estudos empíricos.

2.6.2. O QUE INFLUENCIA A PRÁTICA DA EVASÃO FISCAL

O presente estudo procura compreender o que leva as empresas

brasileiras a adoptar práticas de evasão fiscal. Interessa, portanto, identificar as

principais variáveis que justificam ou legitimam a evasão fiscal por parte das

empresas brasileiras. As variáveis tratadas nesta pesquisa são mais bem

explicadas no Capítulo IIII, devendo-se esclarecer a partir de qual marco teórico

elas foram escolhidas. É o que se procura fazer neste segmento.

Evidentemente, a evasão, nomeadamente aquela exercida por meio de

práticas de sonegação, tem como determinante a vontade do contribuinte. É ele

quem decide pela obediência fiscal ou pela fuga à responsabilidade de recolher

tributos.

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Segundo Lopes (2006), há dois tipos de motivos para a fuga ao pagamento

de impostos. O primeiro é representado pelas oportunidades e recompensas para

evadir; o segundo é composto pelas razões pessoais, como desonestidade,

predisposição para o jogo e atitudes relativas ao sistemas fiscal e ao governo.

A decisão por cumprir ou não cumprir as obrigações fiscais fica mais

claramente na dependência do julgamento do contribuinte quanto mais os tributos

forem do tipo declaratório, como o é, na maioria dos casos, no Brasil.

Siqueira & Ramos (2005, p. 558) comentam:

Em termos económicos, os problemas de sonegação originam-se do fato de que as variáveis que definem a base tributária (rendas, vendas, rendimentos, riqueza, entre outras) não são frequentemente observáveis. Isto é, um ente externo não pode observar o valor real da base tributária de um indivíduo, e daí não pode saber a sua verdadeira responsabilidade tributária. Assim, os contribuintes podem levar vantagem da informação imperfeita que a administração tributária tem sobre sua responsabilidade e iludir a tributação. No entanto, às vezes, este conhecimento pode ser obtido por meio de auditorias, e neste caso diz-se que a base tributária é verificável (a um certo custo, obviamente).

Neste estudo, julga-se necessário que o entendimento do que determina a

escolha do contribuinte pela obediência ou pela desobediência fiscal seja

baseado em investigações já feitas por autores de renome nos assuntos ligados a

fiscalidade.

Torgler17 é, certamente, o mais prolífico autor sobre esse assunto e o mais

citado por seus pares. Como já comentado, seja individualmente, seja em

parceria, esse autor tem investigado o que influencia a tax morale em vários

países, isto é, a predisposição para cumprir as obrigações fiscais.

Inversamente, interessa perceber o que predispõe ao não-cumprimento

dessas obrigações. Por isso, apesar de inspirada nos modelos de Torgler, a

variável dependente aqui adoptada é medida em valores que crescem no sentido

contrário ao da ampliação da variável tax morale estudada por ele, como

explicitado em capítulo próprio.

17 Ver os trabalhos de Torgler (2001a; 2001b; 2003a; 2003b; 2003c; 2003d; 2004; 2005); Alm &

Torgler, 2004; Bird, Martinez-Vasquez & Torgler, 2004; Torgler & Schneider, 2003.

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Além de Torgler, vários outros autores têm procurado identificar as

variáveis interferentes na decisão dos contribuintes pela obediência às normas

fiscais (tax compliance) ou pela sua desobediência (tax flight, tax avoidance ou

tax evasion).

Em investigação realizada por Trivedi, Shehata e Lynn (2003), foi inquirida

uma amostra de 109 estudantes universitários do Canadá. Os autores

investigaram o impacto, nas decisões fiscais, de três características pessoais

(razões morais, orientações a valores, preferência pelo risco) e três condições

externas (possibilidade de sofrer auditoria, informações sobre o comportamento

dos demais contribuintes e o sentimento sobre a equidade no sistema tributário).

Os resultados indicaram que o grau de obediência dos contribuintes às

obrigações fiscais (tax compliance) é positivamente afectado pelo nível do

desenvolvimento moral, orientações a valores e aversão ao risco, assim como

pela probabilidade de ser alvo de auditoria, pela informação de que os demais

contribuintes cumprem suas obrigações fiscais e pelo sentimento de que há

equidade entre tributos pagos e benefícios recebidos.

Um importante aspecto considerado nas investigações tem sido a forma

como o aparelho fiscal trata os contribuintes. Essa foi a linha da investigação

realizada por Feld & Frey (2002) nos cantões suíços. Os autores encontraram

evidências de uma relação directa entre o sentimento de participação da

sociedade e a tax morale.

Destacam os autores:

A tax morale evidenciou-se maior quanto mais directamente os contribuintes podiam influenciar não apenas a legislação fiscal e as taxas dos impostos, mas as regras do jogo fiscal em geral. Os contribuintes percebem sua responsabilidade cívica mais fortemente se eles estão directamente envolvidos nas decisões políticas efectivamente, em vez de apenas elegerem representantes nas suas bases.

Os citados autores afirmam também que, de maneira inversa, o

desrespeito ao contribuinte, considerado uma quebra do contrato psicológico por

parte do Estado, resulta em queda da tax morale. Disso resulta a evidência de

que há aspectos na relação entre contribuinte e sistema fiscal muito mais subtis e

que só podem ser entendidos pela abordagem do comportamento, dos desejos e

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das necessidades humanas, entre os quais estão o respeito e a atenção com que

as pessoas são tratadas.

Convém registar que Forest & Sheffrin (2002) não encontraram evidências

a indicar que o facto de os contribuintes considerarem que o sistema fiscal é

complexo os levasse ao sentimento de que é também injusto. Os autores

trabalharam com dados colhidos pelo Taxpayer Opinion Survey, aplicado aos

contribuintes americanos, em 1990.

Torgler (2003) investigou a influência das instituições políticas e sociais

sobre a tax morale, utilizando dados do World Value Survey (WVS) 18 e a base de

dados "Religion II" do International Social Survey Programme (ISSP). A

investigação se deu na Suíça19 porque, segundo o autor, seu modelo de

democracia possibilitou observar a influência de factores institucionais como uma

democracia directa (via iniciativas públicas e referendos) e federalismo

(autonomia local).

Os níveis de tax morale, levantados pelo WVS foram obtidos por meio de

um quesito que solicitava aos inquiridos que indicassem em uma escala de 1 a 10

(onde 1 significava NUNCA e 10 significava SEMPRE) se eles consideravam

justificável sonegar impostos se tivessem oportunidade.

A variável foi recodificada para uma escala de 4 pontos (1 a 4), com o valor

4 significando "nunca justificável". O valor 1 representou uma agregação dos sete

últimos pontos da escala, sendo raramente escolhidos.

Observe-se que, além de redimensionada, a escala foi invertida, isto é, o

posicionamento de menor valor da escala original (NUNCA = 1) passou a ser o de

maior valor na nova escala (NUNCA = 4).

Pelo ISSP, a questão havia sido se os inquiridos achavam errado se um

contribuinte omitisse uma parcela de sua renda de maneira a pagar menos

imposto. As respostas foram dadas em uma escala de 1 a 4 (1 = não é errado; 2 = 18 O WVS é uma investigação que levanta informações sobre valores e crenças em sociedades ao

redor do mundo, com base em amostras representativas de, pelo menos, 1.000 pessoas em cada país, e tem sido realizada de forma não regular em mais de 40 países. Os dados são levantados em entrevistas face-a-face, nas residências dos respondentes e nos seus respectivos idiomas pátrios. As amostras são aleatórias e estratificadas.

19 Os cantões suíços também foram o ambiente da investigação de Feld & Frey (2002).

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é um pouco errado; 3 = é errado; 4 = é seriamente errado). Ambas as escalas

utilizadas passaram a ter a mesma dimensão.

Segundo o autor, o trabalho teve a intenção básica de analisar como

instituições formais e informais afectam a tax morale, já que a literatura sobre o

tema indicava que, pela predição do modelo-padrão de evasão fiscal baseada na

abordagem da maximização da utilidade esperada, a evasão fiscal seria maior.

A investigação foi feita por influência do argumento de que elevados níveis

de tax morale poderiam explicar uma obediência fiscal maior do que seria de se

esperar pelo modelo baseado em Allingham & Sandmo (1971). O autor encontrou

uma forte evidência de que instituições formais e informais influenciam

significantemente a tax morale.

Em investigação realizada por Alm & Torgler (2004), foram comparadas as

tax morales dos EEUU com as da Espanha e, na sequência, a dos EEUU com as

de outros países europeus. O WVS foi utilizado como base de dados .

As variáveis explicativas foram:

• variável cultural (ser da Espanha);

• aspectos demográficos (idade, género);

• estado civil;

• situação de trabalho (período parcial, autónomo, desempregado,

prendas do lar, estudante, aposentado, outro);

• situação económica (satisfação financeira); e

• religiosidade.

A variável dependente (tax morale) foi levantada pelo mesmo

questionamento do WVS, já apresentado.

Nessa, como em todas as investigações estudadas, a medida de tax

morale foi transformada em uma escala de 4 níveis, sendo também invertida; isto

é, a opinião de menor valor da escala original passou a ser a de maior valor na

nova escala.

A investigação possibilitou identificar uma incontestável evidência de que o

comportamento fiscal não pode ser completamente explicado pelas análises

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económicas tradicionais, focadas nomeadamente em posicionamentos

ameaçadores por parte das autoridades fiscais.

Aspectos sociais, culturais e institucionais interferem no comportamento

fiscal dos contribuintes, levando a que sociedades diferentes tenham diferentes

níveis de tax morale.

Bird, Martinez-Vasquez & Torgler (2004a; 2004b) estudaram a dinâmica

dos sistemas fiscais nos países em desenvolvimento, mais especificamente da

América Latina, procurando saber quais características do Estado interferem no

ânimo da sociedade para fazê-la cumprir suas obrigações fiscais

Foram utilizadas as bases de dados Quality of Governance Index 20 e

International Country Risk Guide 21 . A variável dependente foi a tax effort22, e

as variáveis explicativas foram agrupadas em dois segmentos, segundo as bases

de dados utilizadas:

• Quality of Governance Index

� processos pelos quais os governantes são escolhidos, monitorados

e substituídos;

� capacidade do governo de efectivamente formular e implementar

políticas adequadas;

� respeito pela cidadania e pelas instituições;

• International Country Risk Guide – componentes de risco político

� corrupção no governo;

� desrespeito às leis;

� burocracia;

� tensão étnica;

� não cumprimento de contratos (pelo governo);

� risco de expropriação.

20 Quality of Governance Index, de Kaufmann, Kraay & Matruzzi (2003), para o Banco Mundial. 21 International Country Risk Guide, de Knack (1999). 22 O índice de tax effort é geralmente medido pela rácio entre o nível de imposto actualmente

arrecadado e o nível previsto, considerada a estrutura da economia do país. Esses cálculos pertencem ao campo de estudo da Econometria.

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A investigação levou à conclusão fundamental de que a prévia condição

indispensável para a implementação de políticas fiscais mais efectivas nos países

em desenvolvimento é um Estado mais legítimo e responsável. Os autores

comentam, optimistas, que o aumento do respeito pelas instituições, como a

obediência às leis e o combate à corrupção, requer menos tempo e esforço do

que a implementação de modificações no sistema fiscal ou na estrutura da

economia. Concluem, também, que há factores comuns a todos os países no

esforço de desenhar um sistema fiscal que funcione e seja aceite. Mas advertem

que a completa compreensão do desempenho fiscal de qualquer país requer

atenção focada nos factores particulares daquela sociedade.

Analisando-se as variáveis independentes mais citadas pelos vários

autores estudados, nomeadamente os referenciados neste segmento, assim

como suas conclusões e observações gerais, chega-se às seguintes principais

percepções que interferem na decisão de cumprir ou de não cumprir as

obrigações fiscais:

1. a percepção de que a carga tributária é justa ou excessiva, em relação

aos benefícios gerados para a sociedade;

2. a percepção de que o governo aplica adequadamente os recursos

arrecadados ou não oferece retorno condizente com os valores

recolhidos;

3. a percepção de que o governo é capaz ou incapaz de apurar e punir

casos de fraude fiscal;

4. a percepção sobre facilidade ou dificuldade de entender o sistema

tributário e lidar com suas formalidades;

5. a percepção sobre o comportamento dos demais contribuintes;

6. a percepção de equidade ou inequidade, em relação ao tratamento

dado pelo sistema fiscal aos contribuintes em condições idênticas.

A primeira das percepções trata do sentimento de que a carga tributária é

justa ou excessiva, considerando sua relação com os benefícios gerados. Esse

sentimento tende a influenciar a decisão de não cumprir as obrigações fiscais

(TORGLER, 2005). A sensação sobre a adequação ou inadequação da carga

fiscal pode ser resultado da comparação do montante de recursos destinados ao

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pagamento de tributos em relação ao PIB, de maneira geral, ou do total de

tributos pagos pelas empresas em relação à sua facturação, de modo particular.

O sentimento de que a carga é excessiva também pode resultar numa redução do

custo moral de deixar de recolher os tributos, seja pela sensação de injustiça

social, seja pelo receio de perder competitividade, já que os tributos constituem

parcela significante na composição de custos.

O julgamento que os contribuintes fazem da destinação que o Estado dá

aos recursos da receita tributária é a segunda percepção relacionada. As relações

entre contribuintes e Estado são entendidas como um pacto, um contrato

psicológico (FELD & FREY, 2002). Os contribuintes estarão mais dispostos a

obedecer à legislação tributária se sentirem que há equidade entre os tributos que

recolhem e os serviços que o governo oferece (TORGLER, 2005).

Se os contribuintes estiverem insatisfeitos a respeito da destinação dada

pelo governo às rendas oriundas dos tributos, isso pode acarretar uma

predisposição para adopção de práticas de evasão fiscal, porquanto uma relação

entre tributos pagos e benefícios recebidos percebida de forma negativa também

reduz o custo moral da evasão fiscal. Significa dizer que pode haver menor

hesitação em decidir-se pelo não-pagamento dos tributos. Dizendo-se de outro

modo: a tax morale se reduz quando surge o sentimento de que não há equilíbrio

entre tributos pagos e benefícios recebidos, aumentando-se o sentimento de que

a evasão fiscal é legítima.

A terceira das percepções se dá acerca da capacidade que têm as

autoridades fiscais para identificar e punir os crimes contra o sistema, já que a

percepção de que o Estado só é capaz de identificar e punir poucos casos de

fraudes pode alimentar o sentimento de que vale a pena jogar a “lotaria” da

probabilidade de vir a ser apanhado, porquanto a esperança matemática das

sanções financeiras é menor que a satisfação dos ganhos imediatos da

sonegação.

A propósito, importa registar que a opinião esposada por Allingham &

Sandmo (1972) ainda encontra vários seguidores, como atestam os trabalhos

mais recentes de Chen & Chu (2002), Crocker & Slemrod (2005), Snow & Warren

Jr. (2005), Laury & Wallace (2005) e do próprio Sandmo (2005).

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A possibilidade de o contribuinte julgar vantajosa a adopção de práticas

fraudulentas para redução da sua carga tributária, em relação à possibilidade de

vir a ser punido, leva em conta o julgamento de que o subsistema de auditoria

fiscal não é competente para apurar todos os casos, como registam referidos

autores, mas, além disso, deve-se considerar a possibilidade de o contribuinte

levar preferir subornar o agente fiscal, caso seja apanhado em fraude, quando se

sabe que há corrupção no aparelho fiscal do Estado.

Opta-se, na utilização dessa percepção, por considerar a possibilidade da

corrupção dos agentes fiscais do Estado, porquanto isso reduz a capacidade das

autoridades fiscais de esclarecer e punir os crimes de fraude.

Segundo Tanzi (2000), alguns situações fazem com que a corrupção se

transforme no maior problema da gestão tributária:

• as leis são difíceis de entender, o que resulta em diferentes

interpretações e obriga os contribuintes a se valer da assistência de

especialistas para as determinações legais;

• o pagamento de tributos obriga contribuintes e gestores tributários a

manterem-se em contacto;

• os rendimentos salariais dos agentes fiscais são baixos;

• os actos de corrupção por parte dos gestores fiscais são desconhecidos,

não são facilmente descobertos ou, quando descobertos, não são

punidos ou o são de forma branda;

• os procedimentos administrativos (por exemplo, os critérios de selecção

dos contribuintes a serem auditados) não são transparentes e são

secretamente monitorados pelos gestores fiscais.

• os gestores fiscais mantêm reserva sobre decisões importantes, como as

que dizem respeito à definição de incentivos, determinação de

responsabilidades tributárias, selecção para auditoria e litígios; e

• são fracos os controlos do Estado sobre o cumprimento das obrigações

pelos agentes fiscais.

O check-list de Tanzi (2000) é como uma descrição do sistema fiscal

brasileiro, que, infelizmente, enquadra-se em todos os itens acima relacionados,

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conforme investigações já realizadas, por teóricos académicos ou não.

Informações a respeito podem ser encontradas em Amaral & Olenike (2003),

Cintra (2006), Colóquio (2004), Ferreira (2004), Nogueira (2004), Ricardo &

Mendonça (2005), Salomão & Napolitano (2005), Santana (2004), Simão (2004) e

Siqueira (2005), além das investigações próprias do presente estudo, já referidas.

Para melhor entender-se a importância da quarta percepção listada, deve-

se considerar que um sistema tributário complexo causa aversão e significa um

custo adicional para as empresas, para além dos custos tributários, pela

necessidade de se contratar experts, com elevado grau de conhecimento e de

actualização normativa, assim como para se manter uma estrutura adequada à

actuação desses técnicos. Além da crescente complexidade da actividade

económica, as dificuldades de lidar com um sistema tributário podem ser

decorrentes de:

• burocratização dos serviços e dos processos fiscais;

• falta de clareza da legislação;

• sobreposição e excessiva mutabilidade de normas.

Lopes (2006) comenta que o cumprimento das obrigações fiscais

compreende o registo do contribuinte no sistema, o preenchimento correcto da

documentação, a declaração correcta dos valores e o pagamento dos valores no

tempo devido. A autora complementa (p. 53):

O cumprimento dessas actividades fiscais depende, em muito, dos conhecimentos técnicos do contribuinte para calcular a quantia correcta de imposto, bem como da sua aptidão para realizar estas tarefas. Pelo que quanto mais ambígua e subjectiva for a lei fiscal, mais difícil se torna o cumprimento para o contribuinte.

O crescimento da complexidade do sistema tributário, com múltiplas

alíquotas e os mesmos produtores ou distribuidores a vender produtos tributados

por diferentes índices, torna mais difícil para os administradores fiscais controlar a

sonegação e mais oneroso para as empresas actuarem nos seus mercados.

Conforme Tanzi (2000), nesse quadro, as dificuldades de gestão fiscal e os

custos para os contribuintes crescem exponencialmente, o que acaba por reduzir

o nível de tax morale, isto é, aumentar o sentimento de que a evasão constitui

prática legítima.

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Em países com estrutura federativa, como é o caso do Brasil, essa

complexidade torna-se mais significante, porquanto obriga os contribuintes a se

submeterem a mais de um sistema tributário. No caso do Brasil, como visto no

Capítulo I, os contribuintes estão sujeitos aos sistemas tributários de três esferas

de governo (federal, estadual e municipal), situação que afecta de modo especial

as empresas que actuam em várias praças.

Mesmo compreendendo que um sistema complexo não necessariamente

resulta num sentimento de injustiça e aversão ao cumprimento de obrigações

fiscais (FOREST & SEFFRIN, 2002), há que se concordar que a dificuldade de

lidar com o sistema fiscal desencoraja a disposição para cumprir as obrigações

fiscais ou, por outras palavras, reduz o custo moral de deixar de cumpri-las.

A quinta percepção, incluída dentre os principais motivos para a evasão

fiscal encontrados na literatura, diz respeito a como o comportamento de um

contribuinte é influenciado pela conduta dos demais. Os autores encontraram

evidências de que atitudes de tax compliance, tax avoidance e tax evasion

tendem a se disseminar. Ocorre como que um mimetismo fiscal, nomeadamente

quando um comportamento de evasão fiscal é bem-sucedido, no sentido de

reduzir a carga fiscal sem resultar em punições. Conforme Lopes (2006: 69),

quando o contribuinte está indeciso sobre a evasão fiscal e o cumprimento de

suas obrigações, “pode tomar uma decisão mais rapidamente baseada no facto

de que ‘toda gente faz isso’”.

A sexta percepção influenciadora diz respeito ao julgamento sobre se o

sistema fiscal é justo, sob o ponto de vista da diferenciação (ou não) de

tratamento entre contribuintes de mesma categoria. Nesta investigação interessa

conhecer a opinião das empresas a respeito da equidade vertical e horizontal,

levando-se em conta os respectivos ramos de actividade e portes. Ainda uma vez,

recorre-se a Lopes (2006: 67), que faz a seguinte análise:

O indivíduo pode formar uma opinião de que o seu fardo fiscal é injusto em relação ao que os outros suportam, e uma mudança em circunstâncias individuais pode causar nele o sentimento de que está a ser tributado de acordo com diferentes e mais onerosas regras.

O Quadro 2.3 resume esses seis principais factores identificados na

literatura consultada.

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Quadro 2.3 – As Principais Percepções que Influenc iam a Decisão pela Evasão Fiscal, Conforme os Autores Consultados

PERCEPÇÃO REFERÊNCIA

O sentimento de que a carga tributária é justa ou excessiva, em relação aos benefícios gerados para a sociedade

• Torgler (2005)

O sentimento de que o governo aplica adequadamente os recursos arrecadados ou não oferece retorno condizente com os valores recolhidos

• Feld & Frey (2002) • Torgler (2005)

O sentimento de que o governo é capaz ou incapaz de apurar e punir casos de fraude fiscal

• Allingham & Sandmo (1972) • Chen & Chu (2002) • Crocker & Slemrod (2005) • Snow & Warren Jr. (2005) • Laury & Wallace (2005)

A facilidade ou dificuldade de entender o sistema tributário e lidar com suas formalidades

• Lopes (2006)

• Tanzi (2000)

O comportamento dos demais contribuintes • Lopes (2006)

O sentimento de equidade ou inequidade em relação ao tratamento dado pelo sistema fiscal aos contribuintes em condições idênticas

• Lopes (2006)

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2.6.3. O TRATAMENTO DA EVASÃO FISCAL NOUTROS PAÍSES

No presente segmento, exploram-se um pouco mais as distinções do

comportamento dos contribuintes em diferentes sociedades, nomeadamente no

tocante ao fenómeno referenciado como evasão fiscal. De maneira especial,

discutem-se as diferentes maneiras pelas quais as sociedades procuram

combater a fuga dos recursos tributários, classificando-se os modelos de combate

em dois grupos: um baseado no paradigma de Allingham & Sandmo (1972), e

outro baseado nos aspectos comportamentais dos contribuintes.

Aqui, estudar-se-ão alguns documentos sobre a evasão fiscal e as formas

como ela é enfrentada em outros países, para servir de contraponto ao caso

brasileiro.

Serão apreciadas as investigações e notícias sobre os sistemas fiscais de

outros países, segundo duas orientações: na primeira, serão focadas as

descobertas acerca da estrutura e funcionamento dos sistemas fiscais de outros

países, assim como das suas relações com os contribuintes; na segunda,

procura-se identificar como essas outras sociedades enfrentam a evasão fiscal.

Inicialmente, convém identificar as principais características sociais

interferentes no desenho de um sistema fiscal. Em obra já referida, Bird, Martinez-

Vasquez & Torgler (2004) comentam que a formulação e a implementação da

política fiscal, nos diferentes países, sujeitam-se a três tipos de influência:

• as ideias políticas dominantes acerca de equidade e justiça, eficiência e

crescimento;

• os interesses sociais e económicos dominantes (relações de capital e

trabalho, especificidades regionais e étnicas, diferenças de classe social);

• as instituições-chave, nos aspectos político (democracia,

descentralização, orçamento) e económico (livre comércio,

proteccionismo, política macroeconómica, estrutura de mercado).

É de se concluir, assim, que não pode haver indicação de uma política

fiscal perfeita para todos os países, em consequência da necessidade de

adequação e harmonização de cada modelo com a sua realidade social, política e

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cultural. Isso, apesar das tentativas de alguns autores, desde há algum tempo, no

sentido de encontrar o que seria um sistema fiscal óptimo.

Neste ponto, convém explicitar o que vem a ser um sistema fiscal óptimo.

Adam Smith (apud LIMA, 1999) já estabelecia em Riqueza das nações, publicado

em 1776, que um sistema tributário ideal observaria as seguintes principais

diretrizes:

• respeito à capacidade contributiva dos cidadãos, assim entendido que

cada um contribua sem colocar em risco as suas finanças;

• observância de regras na fixação de tributos, para evitar arbitrariedades;

• oferta de facilidades para os contribuintes;

• baixo custo de operação;

• preservação da eficiência da economia.

Alm (1996) diz que, em geral, um sistema fiscal óptimo pode ser visto como

um conjunto equilibrado de vários atributos desejáveis, que:

• aumenta a arrecadação;

• trata os contribuintes com justiça e equidade;

• minimiza a interferência em decisões económicas;

• não impõe custos indevidos aos contribuintes ou aos gestores fiscais.

Observe-se que o primeiro e o último atributo parecem ser incompatíveis

entre si, mas essa aparente incompatibilidade desvanece pela interpretação da

expressão "indevidos" no último atributo.

É de entender-se que não se fala em sistema fiscal óptimo no sentido de

perfeito, mas de optimizado. A expressão significa uma optimização de alcance

de objectivos, já que é impossível maximizar cada um deles. Assim, um sistema

fiscal ideal é aquele capaz de optimizar objectivos como:

• atender às necessidades de arrecadação do Estado;

• não extorquir os contribuintes;

• oferecer facilidade e bom atendimento aos públicos;

• ter baixo custo de operação;

• promover intervenções imprescindíveis na economia.

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Apesar do esforço teórico para o aperfeiçoamento dos sistemas fiscais,

Alm (1996) há muito identificou que, mais do que ignorar as recomendações dos

teóricos, os responsáveis pela definição de tais sistemas mantêm com esses

teóricos uma certa rivalidade, não levando em conta a teoria desenvolvida na

permanente busca de se desenhar o tal sistema fiscal optimizado.

Não seria essa uma atitude adoptada por desejo de independência teórico-

académica, pelo menos no caso dos países em desenvolvimento, já que há

importantes autores a comentar que um problema comum a tais países é a

insistência em copiar os sistemas fiscais implementados em países

desenvolvidos, sem, no entanto, possuírem a mesma estrutura económica.

Como já comentado, observam-se, nas investigações dos autores

consultados, referências a vários tipos de sentimento que reduzem o custo moral

da evasão fiscal, decorrentes da percepção dos contribuintes acerca das suas

relações com o aparelho fiscal.

Para efeito de organizá-los melhor neste segmento, convém distribuir os

sentimentos dos contribuintes em três grupos.

No primeiro grupo, reúnem-se aqueles relacionados à injustiça do sistema

tributário, seja decorrente da voracidade por recursos, seja porque a sociedade

não percebe igual contrapartida do Estado na forma de benefícios sociais.

A propósito, em estudo empreendido em nações em desenvolvimento da

América Latina – México, países do Caribe, da América Central e da América do

Sul – Bird, Martinez-Vasquez & Torgler (2004, p. 285) comentam:

Não importa apenas o quão altos sejam os valores tributados (adequação das receitas), mas também como o nível de arrecadação foi escolhido, como os tributos foram instituídos e como os recursos arrecadados são utilizados.

O estudo desses autores reforça a compreensão de que a desigualdade

social é o principal problema económico-social de tais países, assim como das

demais nações em desenvolvimento, enquanto o principal problema de governo é

a falta de credibilidade político-administrativa. Os mesmos autores argumentam

que um bom sistema fiscal, nos moldes já comentados, contribuiria

significantemente para minimizar ambos os problemas.

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Quanto ao segundo grupo, os resultados das investigações indicam que os

contribuintes gostam de ser bem atendidos e sentir-se respeitados. Isso remete à

necessidade de sistemas tributários simples e desburocratizados, com

informações completas, abertas23 e verdadeiras. Além de desejar facilidade de

acesso ao sistema e cortesia de tratamento, os contribuintes rejeitam ser tratados

sob suspeita de agir de má-fé. Ademais, querem exercitar o direito de intervir nas

decisões acerca da utilização dos recursos.

É esse, exactamente, o resultado da investigação de Feld & Frey (2002),

referida no segmento anterior. Também são essas algumas das indicações da

investigação de Alm, Martinez-Vasquez & Torgler (2005), mais bem explorada

adiante.

No terceiro grupo, encontram-se os sentimentos decorrentes do

tratamento privilegiado do sistema fiscal a outros contribuintes ou da conduta

diferenciada que alguns deles adoptam diante do sistema. Mesmo os

contribuintes menos informados compreendem que a responsabilidade pela carga

fiscal cabe a toda a sociedade e deve ser distribuída conforme critérios que sejam

considerados justos, de maneira a evitar carga exagerada para alguns, enquanto

outros contribuam com menos do que o devido.

Mecanismos de isenção e de redução de tributos e de punição de fraudes

devem ser desenvolvidos e empregados com muito critério, para não se criar a

ideia de concessão de privilégios ou tibieza no tratamento das condutas fiscais

inadequadas.

A observação final do parágrafo anterior é fundamental, mesmo

considerando-se o viés defendido neste estudo de que devem ser priorizados os

mecanismos de relacionamento, em comparação com os de ameaça, para a

obtenção de tax compliance. Defende-se um modelo de bom relacionamento e de

respeito ao contribuinte, com garantia de facilidade e pressuposição da

honestidade. Os contribuintes são clientes e merecem bom atendimento; a

maioria das pessoas é honesta e deve ser tratada como tal. A defesa desse 23 Informações abertas não no sentido de comprometer o sigilo das informações do contribuinte,

mas no sentido de garantir-lhe fácil acesso às informações que lhe sejam pertinentes.

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respeito aos contribuintes não deve ser confundida, de nenhuma forma, com a

defesa de relaxamento na rotina de auditorias ou da impunidade de quem praticar

fraude. Os sistemas de auditoria devem ser competentes, de modo a garantir que

as fraudes sejam exemplarmente punidas.

Isso porque, se a maioria dos contribuintes perceber que alguns deixam de

pagar os tributos devidos e não recebem sanções compatíveis com a gravidade

das fraudes praticadas, haverá uma tendência de redução da tax morale. No

caso das empresas, essa percepção tem consequências ainda mais graves,

porquanto resultará na sensação de concorrência desleal, o que reduz em muito o

custo moral de adoptar medidas de evasão fiscal.

Alm, Martinez-Vasquez & Torgler (2004) examinaram os níveis de tax

morale na Rússia, comparando três momentos recentes de sua história político-

económica: antes (1991), durante (1995) e imediatamente após (1999) a transição

do modelo comunista para o modelo de economia de mercado. Os autores

utilizaram dados do World Value Survey e do European Value Survey, obtendo

resultados que revelam um decréscimo de 1,86 para 1,66 na tax morale24, durante

os primeiros quatro anos da transição – 1991/1995 –, registando-se uma pequena

recuperação, de 1,66 para 1,73, em 1999, o que vem a confirmar a influência das

normas sociais sobre a predisposição para cumprir ou deixar de cumprir

obrigações fiscais. Por outro lado, os resultados também indicam que a

restauração da crença no Estado, após alguns progressos na transição para o

modelo de mercado, influenciou positivamente a tax morale.

Ao comparar dados desagregados para as várias regiões russas, os

autores também encontraram diferenças significativas na tax morale, reflectindo

os graus de crença das sociedades das diferentes regiões nas instituições e

políticas do Estado. Como suporte adicional para essas conclusões, os autores

identificaram uma forte correlação negativa entre a tax morale e o tamanho da

economia informal no país, possibilitando concluir que baixos níveis de tax morale

estão associados a mecanismos de fuga da tributação.

24 A escala utilizada para a tax morale tem como extremos os valores 0 (zero) e 3 (três).

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Individualmente, Torgler (2005) fez a mesma constatação nos países

latino-americanos. Nessa investigação, o autor procurou identificar os factores

que sistematicamente afectam a tax morale nos países da América Latina. Para

tanto, utilizou duas bases de dados. A primeira delas foi a World Value Survey

(WVS), do período 1981/1997; a segunda foi a pesquisa anual de opinião pública

produzida pelo Latinobarómetro, cobrindo o ano 1998. Desta, o autor utilizou

dados de investigação realizada em 17 países latino-americanos.

Participaram da investigação: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa

Rica, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua,

Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Cuba, República Dominicana e

Porto Rico não foram incluídos.

Assim como fizera na parceria com Alm e Martinez-Vasquez (2004), na

investigação latino-americana Torgler (2005) utilizou o nível de emprego não

formalizado em cada país como indicador da economia informal e mediu a sua

correlação com os níveis de tax morale obtidos das bases de dados utilizadas. Os

cálculos também apontaram uma forte correlação negativa entre ambas as

variáveis (-0,511), ao nível de significância de 0,05.

O autor concluiu que em países com baixa tax morale a economia

demonstra uma forte tendência para a informalidade, isto é, para boa parte das

actividades económicas ficarem à margem do sistema fiscal, quando a sociedade

não apresenta bons níveis de predisposição para cumprir suas obrigações fiscais.

Auscultando as percepções individuais acerca das razões que levam à

sonegação, o autor identificou que o peso da carga tributária, a desonestidade e a

corrupção foram indicados como os principais factores para a prática daquela

ilegalidade.

Ainda na investigação sob análise, Torgler (2005) observou uma tax morale

significantemente reduzida na América do Sul e no México, em comparação com

os países da América Central e do Caribe. O México, em especial, apresentou

uma tax morale muito baixa, a coincidir com um elevado nível de economia

informal. Além disso, o autor também registou que as pessoas conhecedoras da

adopção de práticas de sonegação apresentavam uma tax morale

significantemente mais baixa que as demais. Isso confirma as evidências já

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comentadas de que as informações a respeito do comportamento dos outros

contribuintes influencia a conduta fiscal das pessoas, significando que a prática de

evasão fiscal tende a se generalizar, quando divulgada e, nomeadamente,

quando não punida.

O autor conclui, também, que o estreitamento das relações de confiança

mútua entre contribuinte e entidade fiscal seria uma política fiscal alternativa mais

eficiente que a costumeira tentativa de dissuasão pela ameaça de auditoria e

punição, porquanto o respeito pelos contribuintes e a atitude de pressuposição de

honestidade reflectiria em melhorias na tax morale. Ressalta-se, mais uma vez,

que isso não significa defender a tibieza na auditoria ou a não-punição dos

sonegadores. O sistema de auditoria deve ser eficaz, assim como as fraudes

devem ser punidas com tal rigor que isso funcione como desestímulo à sua

prática.

Enquanto poucos países procuram reduzir os níveis de sonegação pela

utilização de novos padrões de relacionamento, e alguns procuram adoptar

mecanismos mais eficientes de tributação, nomeadamente pelo uso da

informática, a maioria insiste na tentativa de dissuasão por meio de ameaças. As

investigações deixam claro que a dissuasão mediante ameaças de punição é o

paradigma mais adoptado no combate à evasão fiscal fraudulenta. Os modelos de

tratamento da evasão fiscal baseados na dissuasão por ameaça parecem ter o

defeito de pressupor que o contribuinte em geral é mal intencionado.

Esse assunto é particularmente delicado quando se trata da conduta

fraudulenta de uma empresa onde há distinção entre proprietários e gestores.

Essa é uma questão que vem sendo tratada por vários autores, particularmente

por Crocker & Slemrod (2005). Os gestores são responsáveis pela decisão de

cumprir ou não as obrigações fiscais, e são, também, beneficiados por ganhos

extraordinários sobre os lucros aumentados indevidamente por meio de redução

dos tributos recolhidos. Sendo os proprietários, e não os gestores, os principais

prejudicados com as punições eventualmente aplicadas, haveria uma clara

tendência de os gestores optarem pela evasão, até fraudulenta, se fosse

verdadeiro o pressuposto de Allingham & Sandmo (1972), já referido, de que a

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decisão é tomada de forma amoral e firmemente baseada na relação

custo/benefício de pagar ou deixar de pagar os tributos.

A conclusão da investigação de Crocker & Slemrod (2005) é de que

penalidades impostas ao gestor dos assuntos fiscais da empresa são mais

efectivos na redução da sonegação que aquelas impostas aos proprietários. É

evidente que os autores trabalham sob o paradigma da valorização da ameaça

como instrumento de combate à evasão fiscal.

Quando as punições financeiras deixam de fazer efeito, outros tipos de

penalidade passam a ser incluídos no “pacote” da dissuasão, a exemplo do

encerramento das actividades da empresa e até da prisão dos envolvidos, como

no caso de Hong Kong, abordado por Law (2003).

A autora relata que a Comissão de Receitas Internas (CIR) anunciou na

edição de janeiro de 2003 do The Hong Kong Accountant, o jornal oficial da

Sociedade de Contadores de Hong Kong, que o Departamento de Receitas

Internas (IRD) iniciaria um processo judicial sempre que julgar essa uma medida

necessária para combater a evasão fiscal. Essa disposição está sintonizada com

a severa tendência adoptada pelos seus tribunais, no sentido de levar os

sonegadores à prisão.

Em dois casos já relatados de acção judicial (LAW, 2002), quatro pessoas

haviam sido condenadas à prisão, além de sofrerem multas, após serem julgadas

por tentativa de sonegação. Até aquele momento, o procedimento normalmente

adoptado seria a condenação limitada à determinação do valor da fiança, o que

garantiria a liberdade ao infractor.

Na comunicação de 2003, a CIR deixou claro para os contribuintes que

sonegação significa o risco de sérias consequências, como a privação da

liberdade, além do indispensável pagamento de taxas e multas. A CIR também

lembrou aos contadores profissionais o dever de alertar seus clientes sobre a

possibilidade de prisão, caso percebam algo errado na contabilidade, sob pena de

eles mesmos dividirem com seus clientes as penalidades financeiras.

Em alguns casos, a evasão fiscal tem sido enfrentada por mecanismos

mais subtis. Edelstein & Wunder (2003) registaram o esforço argentino de

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introduzir uma série de medidas para reduzir a sonegação, por meio de

alternativas mais engenhosas de tributar e menos ameaçadoras, ressaltando a

vigência de lei que regulamenta a tributação para grãos, produtos petrolíferos e

outras commodities exportadas envolvendo intermediários estrangeiros. As

autoridades podem optar por considerar no cálculo dos impostos os preços de

mercado na data do embarque, em vez dos preços fixados nas negociações.

Conviver com práticas fraudulentas de evasão fiscal e a necessidade de

desenvolver mecanismos para combatê-las não são prerrogativas das sociedades

menos desenvolvidas. Em estudo publicado em 2002, Dale, du Sert &

Sonneleitner comentam que se está perdendo uma vantagem identificada no

sistema de IVA adoptado na União Europeia quando ele foi introduzido: a limitada

possibilidade de fraude em toda a cadeia de abastecimento.

Como consequência do crescimento dos valores de transacções

internacionais, as possibilidades de fraude aumentaram significantemente. Os

autores acrescentam no estudo que, de acordo com a Comissão Europeia, um

sistema mais eficiente de controle do IVA requer a observância de poucos itens,

destacando-se: uma cooperação mais coesa entre as autoridades europeias; uma

efectiva comunicação entre as administrações fiscais e aduaneiras locais,

nacionais e europeias; e um sistema de controle com objectivos, estratégias e

metas definidos e monitorados.

Posicionamento diferente foi adoptado pelas autoridades fiscais da

Austrália, convictas de que os negócios mais vultosos constituem a principal fonte

de receita tributária no país. Documento da Australian Taxation Office relata que

as autoridades resolveram dar atenção especial a esse segmento de contribuintes

(AUSTRÁLIA, 2003). No sistema aprovado para o relacionamento com esse

segmento de empresas, as autoridades definiram vários itens, a grande maioria

dos quais destinada ao combate à evasão fiscal, centrado nos mecanismos

tradicionais de dissuasão dos possíveis sonegadores por meio do controle e da

punição.

O sistema aprovado pelas autoridades australianas definiu o seguinte:

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1. Sempre que as maiores empresas buscassem esclarecimentos, o

sistema as ajudaria a revisar sua documentação fiscal, antes mesmo do

envio de suas informações.

2. Nos casos em que a política profilática identificasse risco fiscal

potencial, o sistema adoptaria práticas preventivas mais intensas. Isso,

invariavelmente, compreenderia fazer contacto com a empresa, avaliar

seu Meio Envolvente Operacional e os resultados do negócio e avaliar

seus sistemas e processos voltados ao cumprimento das obrigações

fiscais. Em alguns casos, a análise poderia resultar na imediata

adopção de medidas sobre uma prática particular, um sector de

actividade ou uma faceta da lei fiscal, que requeressem abordagens de

desenvolvimento de projectos específicos.

3. Naqueles sectores que apresentassem risco crescente, seriam

implementados relatórios adicionais. Para os casos que fossem

identificados como de alto risco, os representantes das empresas

seriam convidados a fornecer informações adicionais para possibilitar

uma melhor avaliação de risco fiscal. Aos maiores negócios que

tivessem relações com parceiros externos, seria solicitado o

preenchimento de um formulário específico, que fornece detalhes das

transacções com os parceiros, assim como informações sobre

subsídios e investimentos recebidos por seus negócios externos, além

de outros dados relevantes acerca de situações que pudessem implicar

direitos de isenção e dedução de impostos, tais como perdas,

dificuldades de capitalização, aportes de capital e gastos com pesquisa

e desenvolvimento.

4. Durante a avaliação de risco, poder-se-ia concluir que o risco era

limitado a certas características específicas de um caso ou a certas

transacções. Nesse caso, as autoridades optariam por focar as

atenções nessa especificidade, geralmente adoptando uma

monitoração permanente.

5. Nos casos em que as empresas desempenhassem múltiplas

actividades ou possuíssem mais de uma unidade de produção,

inclusivamente no exterior, seria implementada uma auditoria

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expandida, para evitar que o planeamento fiscal (tax avoidance)

transferisse encargos como artifício para reduzir a carga fiscal.

6. Assuntos fiscais específicos de certos sectores de actividade passariam

a ser auditados segundo suas características.

7. As autoridades acreditavam que haveria casos em que a obediência às

normas fiscais requereria uma atenção continuada, sendo, portanto,

justificável a manutenção de um sistema permanente de auditoria fiscal

para esses casos.

8. As penalidades procurariam distinguir os casos de má-fé daqueles

relacionados a erros involuntários ou desconhecimento das normas.

9. As autoridades fiscais procurariam implementar uma sistemática de

atendimento e acompanhamento aos grandes negócios, de maneira a

garantir credibilidade para o sistema e, como consequência, a redução

da evasão fiscal.

Como se observa, a quase totalidade dos itens tratados no documento sob

análise dizem respeito a controle e punição, evidenciando-se a opção australiana

pelo modelo da dissuasão por meio de ameaças.

Qualquer que seja o nível de desenvolvimento de um país, este sempre

está sujeito a enfrentar problemas de evasão fiscal. Sandmo (2005) observa que,

se alguém fosse escrever a história completa da fiscalidade, a evasão fiscal

figuraria desde o seu início. Nesse aspecto, a situação dos países em

desenvolvimento é mais delicada, porque estes enfrentam o problema básico das

finanças públicas: necessidade de fazer maiores gastos na infra-estrutura pública,

na educação, nos serviços de saúde, segurança e outros, sem alterar a

disponibilidade de capital na economia, para não comprometer as metas de

desenvolvimento económico e redução da pobreza.

Importa evidenciar que o pressuposto da interferência de aspectos éticos

na conduta dos contribuintes está sempre a lembrar que os valores desenvolvidos

numa sociedade devem ser levados na devida conta quando da definição ou

revisão de um sistema fiscal. Isso atribui maior importância à identificação do

nível de tax morale, como a vem tratando boa parte dos investigadores,

actualmente.

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Para além da medida da tax morale, contudo, há que se descobrir quais

itens interferem na apreciação que a sociedade faz da sua relação com o sistema

fiscal, para identificar qual será a tax morale e como variará o custo moral da

opção pela evasão fiscal, nomeadamente pela via da sonegação.

Neste segmento, viu-se que há duas tendências para a compreensão do

que interfere na decisão do contribuinte entre cumprir suas obrigações fiscais e

lançar mão de práticas de evasão fiscal: a primeira, cuja génese se deu com o

célebre artigo de Allingham & Sandmo (1972) e ainda tem seguidores, estabelece

que a decisão é amoral e se baseia no valor esperado que resulta das

probabilidades de ganhos e perdas de cada opção; a segunda, recentemente

mais explorada, inclui na decisão dos contribuintes os seus sentimentos e valores,

que vão além dos aspectos éticos de foro íntimo, contemplando também o

relacionamento com o aparelho fiscal e o nível de confiança no governo. Viu-se

igualmente que a maioria dos países ainda enfrenta o problema da evasão fiscal

baseando-se nas premissas do modelo de maximização do valor esperado na

decisão de pagar ou não os impostos, e por isso insistem nos instrumentos de

dissuasão por meio das ameaças de punição.

A seguir, analisar-se-á o sistema fiscal brasileiro e procurar-se-á agregar

algumas informações sobre a evasão fiscal no país, nomeadamente a sonegação

de tributos (impostos, taxas e contribuições).

2.6.4. EVASÃO FISCAL E SEU COMBATE NO BRASIL

Toda sociedade reflecte nos seus sistemas as características históricas,

socioeconómicas e culturais que lhe são próprias. Se alguém quiser apreciar a

qualidade da sociedade brasileira a partir das opiniões acerca do seu sistema

fiscal, essa apreciação talvez não seja lisonjeira.

As análises dos estudiosos, as publicações especializadas, as notícias nos

periódicos e os sentimentos das pessoas, principalmente empresários, falam de

um sistema complexo e injusto, com elevada carga tributária, além de impotente

para apurar e punir a sonegação; ademais, também se diz que os recursos

tributários não são adequadamente empregados e que a sociedade não “vê” o

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devido retorno, em forma de serviços públicos, pelo que paga de impostos, taxas

e contribuições.

Na presente pesquisa, procura-se registar um levantamento feito “em

campo” com a intenção de evidenciar se esses sentimentos, que parecem

generalizados, legitimam a evasão fiscal praticada pelas empresas brasileiras

como estratégia defensiva. As características apontadas no parágrafo anterior

ou, pelo menos, a vasta crença de que são efectivas, constituiriam os principais

motivos para a prática de evasão fiscal pelas empresas brasileiras. Prática essa

que parece disseminar-se de forma já preocupante, como indicam investigações

empíricas levadas a cabo pelo pesquisador, além de diversas outras realizadas

por instituições que contam com o reconhecimento e o respeito da sociedade,

pela correcção metodológica com que procuram actuar, como são os casos do

Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), do Conselho Federal de

Contabilidade (CFC), da GV-Consult, da Associação Nacional dos Fiscais da

Previdência Social (ANFIP)25 e do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial

(ETCO), cujas referências são feitas na medida da apresentação dos resultados

dos estudos.

Concentrando, neste ponto, a presente análise em trabalhos que dão conta

da complexidade do sistema fiscal brasileiro e do peso da carga tributária sobre

as empresas, passa-se a abordar o primeiro desses assuntos.

Em investigação relativa ao ano 2004, o IBPT26 calculou que, no Brasil,

são cobrados cerca de 60 tributos, entre impostos, taxas e contribuições. A edição

de novas normas alcança um número em torno de 300 por ano, compreendendo

leis ordinárias e complementares, decretos e portarias. Na altura do estudo,

encontravam-se em vigência mais de 3.000 normas. O estudo indica que a

produção legislativa fiscal, no Brasil, apresenta uma dinâmica que beira a

irracionalidade. Segundo o IBPT, entre 1988 e 2005 observou-se a média de 1,5

mudança em norma tributária por hora, totalizando-se 220 mil mudanças, o que

25 No Brasil, a Segurança Social recebe a denominação Previdência Social. 26 As informações sobre o estudo do IBPT foram colhidas em Salomão & Giuliana (2005) e Futema

(2005), porquanto, apesar de vários contatos com o órgão, não foi disponibilizado o acesso ao trabalho original.

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torna impossível para as empresas acompanharem tantas e tão frequentes

alterações.

Estudo realizado pela consultoria PricewaterhouseCoopers, avaliando

grandes empresas de consumo e varejo, sendo 74 no Brasil e 211 em 36 outros

países, revelou que as companhias brasileiras gastam anualmente quase quatro

vezes a média internacional para manter em funcionamento seus departamentos

de assuntos fiscais. Enquanto em boa parte do planeta necessita-se de apenas

um funcionário na área fiscal para cada bilhão27 de dólares facturado, no Brasil

são necessários 29 colaboradores (REVISTA EXAME, 2005b).

Evidentemente, esse quadro de complexidade agrava-se com a

convivência de três instâncias de governo (federal, estadual e municipal), todas

elas com competência para legislar sobre tributos. Tal complexidade obriga as

empresas a gastar cerca de 1% da sua facturação na manutenção da estrutura

dos seus departamentos de tributos ou na contratação de escritórios

especializados.

No tocante ao peso dos tributos sobre as empresas brasileiras, passa-se a

referir estudo da GV-Consult28 em parceria com o ETCO, com base no ano

2003, e que usou como referência as alíquotas nominais médias do Imposto

sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O levantamento indicou que

a arrecadação naquele ano deveria ter chegado a 170,6 mil milhões de reais, mas

efectivamente ficou em 118,3 mil milhões de reais29. A diferença (52,3 mil

milhões) corresponde a 30,7% do que representava a arrecadação potencial,

redução resultante das práticas de sonegação, além das medidas de incentivos

fiscais, adoptadas por estados e municípios brasileiros, que oferecem isenções

fiscais como forma de atrair empresas para os respectivos territórios. Segundo o

estudo, o ICMS é o tributo de maior peso na carga tributária dos sectores

produtivos, com 7,7% de participação no PIB (REVISTA EXAME, 2005).

27 Neste segmento, para se manter fidelidade aos textos consultados, os valores são expressos

conforme a notação brasileira; ou seja, a expressão "milhão" corresponde a 106, enquanto "bilhão" equivale a 109.

28 Empresa de consultoria vinculada à Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

29 No Brasil, um "bilhão" equivale a mil milhões.

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A investigação do IBPT, já referida, indicou que 77,6% das empresas

brasileiras precisavam adoptar medidas que viessem a reduzir sua carga

tributária, para não perderem competitividade. Essa investigação contemplou

7.437 empresas de diversos portes e sectores de actividade. Ainda segundo o

estudo, mesmo operando com tecnologia “de ponta”, apenas 4,6% das empresas

brasileiras conseguiam ser internacionalmente competitivas. Enquanto as

empresas mexicanas e americanas, por exemplo, recolhiam em tributos cerca de

17% de sua facturação, as empresas brasileiras pagavam 33,05% do que

facturavam, na forma de impostos, taxas e contribuições. O estudo indicou a

necessidade de uma significante redução de tributos, para as empresas

brasileiras passarem a competir internacionalmente.

Sem apresentar capacidade para efectuar planeamento tributário, 29,5%

das empresas pesquisadas sonegavam, conforme constatado pelo estudo do

IBPT. Na investigação de 2002, a proporção alcançava 27,5%, considerada forte

indício de que a prática se dissemina.

No sector do comércio concentrava-se o maior número de empresas que

praticavam algum tipo de sonegação, com 31,2%, dentre as pesquisadas. A

indústria vinha em segundo lugar, com 27,0%. No sector de serviços, segundo o

estudo, 22,5% das empresas pesquisadas sonegavam. Por porte de empresa, a

sonegação estimada foi de 63,7% nas pequenas, 48,9% nas médias e 27,1%,

nas grandes.

A metodologia empregada para mensurar a sonegação foi o cruzamento de

dados dos valores de facturação consignados nos balanços das empresas com

os volumes das movimentações bancárias, obtidos pelos valores cobrados de

Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Utilizou-se

também a comparação da receita declarada para recolhimento do ICMS com os

valores despendidos com o pagamento da Contribuição para o Programa de

Integração Social (PIS) e da Contribuição para Seguridade (Segurança) Social

(COFINS). As discrepâncias entre os montantes comparados serviram de base

para o dimensionamento da sonegação.

Na análise por tipo de tributo, observou-se a ocorrência de maior

sonegação, em ordem decrescente, na Segurança Social, com 29,5%; no ICMS e

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no Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), ambos com desvio de

25,7%; no Imposto de Renda (IR) e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

(CSLL), ambos com uma evasão de 24,8%; no PIS e na COFINS, com 23,4%; e

no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), com 18,9%.

A CPMF figurou na última colocação, com 7,1% de sonegação, certamente

por ser recolhida mediante transferência das instituições financeiras nos

momentos das respectivas movimentações de recursos, sob controle directo do

Banco Central, o que dificulta bastante a prática de sonegação.

O estudo do IBPT vêm a confirmar constatação de Weiss & Jeffrey (2003),

que compararam o sistema fiscal brasileiro a um labirinto de complicadas leis, o

que contribui para elevar os custos dos produtos e serviços do país,

acrescentando que os contribuintes brasileiros suportavam uma carga de cerca

de 36,5% do PIB, menor apenas que a da Suécia (47%) e a da Alemanha

(36,7%)30.

Poder-se-ia apontar, como desvantagem para o Brasil, que a comparação

ainda não era adequada, porque as sociedades sueca e alemã recebem mais

benefícios em contrapartida aos tributos pagos. Além disso, actualizando-se um

pouco mais as informações, é forçoso registar que a carga tributária brasileira,

além de crescer em valores, também tem crescido em relação ao PIB, de forma

permanente. Nos Gráficos 1.2 e 1.3 , verificou-se a evolução da carga tributária

total brasileira, constatando-se que foi de 38%, em 2005.

Torres & Longo (2003) observam que o sistema tributário brasileiro se

caracteriza por tributos incidentes em cascata, carga tributária elevada, legislação

complexa e folha de pagamento dos empregados carregada de encargos sociais.

Essas características funcionam como entraves ao desenvolvimento das

actividades produtivas.

A já referida investigação GV-Consut/ETCO regista igualmente a grande

disparidade na distribuição da carga tributária entre os sectores de actividade.

Isso explica a razão de tantas divergências de interesses entre segmentos do

30 Observe-se que estes números diferem dos que foram apresentados na Table 1.7, certamente

por diferença de critério de apuração.

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sector privado toda vez que se discute no Congresso Nacional uma proposta de

reformulação tributária, o que acaba, invariavelmente, por impedir que seja

implementada alguma mudança substantiva.

Em 2003, segundo o estudo, a carga tributária privada correspondeu, em

média, a 23,9%, tomando-se por referência o valor adicionado a preços básicos.

Mas superou 50% do valor adicionado nos sectores de automóveis, camiões e

autocarros, outros veículos e peças, serviços de transportes, distribuição de

combustíveis, material eléctrico, indústria têxtil, industrialização de produtos

vegetais, bebidas não-alcoólicas, bebidas quentes e outros produtos alimentares.

Entretanto, a contribuição não chegou a 20% do valor adicionado nos sectores de

agropecuária, extracção de petróleo, arrendamento de imóveis e administração

pública.

A dificuldade de lidar com o sistema e o peso da carga tributária podem,

portanto, ser consideradas variáveis de grande importância na decisão de

empresas brasileiras pela prática de evasão fiscal.

Várias são as formas de evasão fiscal praticadas pelas empresas

brasileiras, sendo que a maioria dos casos, em volume e em valores, concretiza-

se mediante sonegação de impostos, taxas e encargos sociais (PINTO, 2004a).

Como a maioria dos tributos é do tipo declaratório, grande parte das práticas se

baseia em adulteração deliberada de valores de facturação, com a finalidade de

reduzir as bases de cálculo dos tributos a recolher.

Aqui não foram considerados os inúmeros casos de simples

descumprimento da obrigação de recolher os valores, ficando os faltosos sujeitos

às sanções legais. Tais contribuintes não são considerados sonegadores, mas

devedores em situação irregular. Exemplos dessa situação se encontram nas

informações sobre o não-recolhimento das contribuições para a Segurança Social

(BRASIL, 2003), que revelam preocupantes valores devidos e não pagos por

empresas brasileiras, muitas das quais figuram entre as maiores dos respectivos

sectores no contexto empresarial brasileiro.

Neves (2003) confirmou essas informações, quando apreciou a situação

das empresas participantes do debate “Responsabilidade Social das Empresas no

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Brasil”, realizado no Rio de Janeiro, em 2003, com lançamento concomitante do

suplemento “Razão Social”. O autor citou, nominalmente, empresas co-

responsáveis pela realização do evento então devedoras da Segurança Social,

revelando os valores das dívidas individuais. Observe-se que se trata de

empresas que, pelo menos aparentemente, têm consciência da sua

responsabilidade perante a sociedade. Não se trata, portanto, de empresários

propensos a actuar na marginalidade.

Gaspari (2003) deu algumas outras informações sobre a sonegação e seus

métodos no Brasil, nomeadamente quanto ao ICMS. Informou, por exemplo, que

o varejo brasileiro de alimentos e produtos de limpeza movimentava, anualmente,

cerca de 150 mil milhões de reais, dos quais a metade não era tributada.

Acrescentou o autor que um retalhista que sonega 50% do que deveria pagar,

"ganha" entre 5% e 7% da sua facturação.

Citando um exemplo, Gaspari informava que alguns retalhistas costumam

emitir notas fiscais – especialmente nas vendas de produtos de consumo durável

– cujo valor é composto de duas parcelas: uma é o valor cobrado pelo bem, e

outra refere-se a uma suposta prestação de serviços técnicos. A primeira parcela

tem valor menor do que o custo de produção – o que não é legal – e faz com

que seja reduzido o valor do ICMS.

Além dos casos citados, sabe-se de outras práticas de subfacturação,

como a "nota calçada" ou "espelhada", onde se utiliza uma cartolina que impede a

reprodução dos valores da primeira via para as vias destinadas ao fisco; a “meia-

nota”, que consiste em facturar apenas a metade das mercadorias

vendidas/transportadas ou facturá-las pela metade do valor; e a utilização de uma

mesma nota fiscal para transportar várias partidas de mercadoria.

Outro exemplo comentado por Gaspari é o chamado golpe FOB-fábrica.

Essa prática é possível pela sistemática adoptada na cobrança de ICMS – parte

no local de fabricação, parte no destino final da mercadoria. Consiste em adquirir

mercadorias supostamente destinadas a outro estado, comprometendo-se a

recebê-las na unidade fabricante. Recebem-se as mercadorias no local

combinado, sem jamais levá-las ao destino informado, pagando-se um ICMS

reduzido no estado de fabricação. Se a mercadoria fosse transportada para o

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suposto destino, pagar-se-ia ICMS menor no local de fabricação (7%, por

exemplo), e ter-se-ia uma cobrança adicional (6%, por exemplo) na praça do

consumidor final. Se fosse registado o destino real da mercadoria, o estado onde

é fabricada e recebida, pagar-se-ia ali todo o valor do imposto. No exemplo, 13%.

Compreende-se que, para esse tipo de artifício, colabora o complicado

sistema de cobrança desse imposto estadual, com várias formas e alíquotas de

cálculo, a depender do estado produtor e do estado consumidor. Vale lembrar que

cada estado brasileiro é soberano para definir isenções e abatimentos, a título de

incentivos fiscais, resultando em alíquotas diferenciadas de ICMS, entre 7% e

25%, sobre vendas e circulação de mercadorias, assim como sobre serviços de

transportes, comunicações e transmissão de energia eléctrica.

Quanto a encargos sociais, Gaspari lembra a prática, bastante comum, de

se registarem valores salariais menores do que os efectivamente pagos aos

empregados, resultando na redução dos valores de encargos sociais recolhidos.

Além desse exemplo de Gaspari, pode-se acrescentar o hábito das contratações

em carácter precário (sem registo do empregado).

O estudo do IBPT alinha várias práticas de sonegação ou fraude fiscal. Ali

estão listados, além daqueles comentados por Gaspari, os seguintes tipos:

• duplicidade de numeração de nota fiscal;

• "compra" de notas fiscais;

• passivo fictício ou saldo negativo de caixa;

• acréscimo patrimonial a descoberto (do sócio);

• não recolhimento de tributos descontados de terceiros;

• saldo de caixa elevado;

• distribuição disfarçada de lucros;

• alienação de bem ou direito ao sócio ou pessoa ligada por valor

inferior ou superior ao de mercado;

• arrendamento ou serviços pagos a sócio ou pessoa ligada cujos

valores excedem aos praticados pelo mercado em situação similar;

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• empréstimos a sócio ou pessoa ligada em condições prejudiciais à

empresa, ou com vantagens não praticadas normalmente pelo

mercado;

• multas exorbitantes ou perda de valor de caução de negócio,

previstas em contrato não cumprido, firmado com sócios ou pessoas

ligadas;

• pagamento de despesas particulares de sócios;

• doações irregulares;

• doações a entidades não habilitadas ou cujos valores dos

comprovantes sejam superiores aos efectivamente doados.

Publicação de 1997 da Associação Nacional dos Fiscais da Previdência

Social (ANFIP) já tratava do não-recolhimento das obrigações, pelas empresas,

incluindo comentários sobre os principais tipos de artifício para sonegar os

recolhimentos obrigatórios ao Sistema de Segurança Social, no Brasil.

Nessa publicação, Simão (1997) relaciona, entre outros expedientes

escusos, os seguintes:

• a empresa mantém os seus empregados em relações formais de trabalho,

mas apresenta, à fiscalização, uma folha de pagamentos reduzida, com

valores irreais, excluindo empregados ou parte de sua remuneração;

• a empresa não inclui todas as chamadas "utilidades", nos valores de

pagamento declarados, excluindo aquelas oferecidas aos executivos, como

o pagamento do “leasing” do automóvel, de habitação, de mensalidades de

escolas para os filhos, viagens de lazer, telefones particulares, serviços

domésticos;

• a empresa utiliza o chamado "Caixa 2" (valores não contabilizados) para

remuneração de empregados e dirigentes;

• a empresa falsifica documentos fiscais ou referentes à Segurança Social.

O autor faz alusão também à prática de contratação de pessoal por meio

de cooperativas de profissionais, criadas com a finalidade de não pagar os

encargos sociais, já que os colaboradores não são empregados do contratante,

mas sócios das cooperativas contratadas. Essa pretende ser uma prática de

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elisão fiscal, e não de sonegação, mas várias dessas cooperativas vêm sendo

alvos de punição, porquanto não obedecem aos preceitos do cooperativismo –

entre os quais a prestação de serviços a uma clientela não exclusiva –, o que

configura um artifício para burlar as normas fiscais.

As consequências de tudo isso são desastrosas para a economia brasileira

e, como resultado, para a arrecadação do Estado. Rapoza (2004) informa que,

embora as estatísticas da economia informal não sejam precisas, acredita-se que

a renda ali gerada corresponde a 40% da renda nacional, o que significa o dobro

da taxa observada em 133 países, conforme regista o estudo Doing Business

2004 (BANCO MUNDIAL, 2005).

Ainda segundo o autor, persiste na informalidade metade do mercado de

trabalho urbano e a quase totalidade (90%) do trabalho rural, de acordo com o

Relatório McKinsey, de junho de 2004. Entre 1992 e 2002, 87% dos postos de

trabalho criados em regiões metropolitanas eram informais, e apenas 15% dos

pequenos negócios pagavam seus tributos regularmente. Evidentemente, essa é

uma situação que incomoda a todos, governo, empresários e sociedade em geral,

e que obriga o povo brasileiro a buscar soluções.

Procurando combater esse estado de coisas, os governos brasileiros, nos

três níveis, têm procurado impor dificuldades aos que praticam fraudes,

nomeadamente adoptando soluções informáticas. Os sistemas fiscais utilizam os

números do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) e do Cadastro de

Pessoas Físicas (CPF) para cruzamento de informações, o que tem possibilitado

o acompanhamento de operações nos processos de auditoria. No Governo

Federal, por exemplo, encontra-se em andamento a unificação das auditorias da

Receita Federal e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O esforço do

Governo Federal tem dado resultados positivos. Em dois anos (2003/2004), as

multas por irregularidade experimentaram um aumento de 94%, em relação aos

anos anteriores. Os valores anuais das multas saltaram de 50,2 mil milhões de

reais para 97,7 mil milhões de reais. É o que informa estudo do IBPT (JORNAL

DO COMMERCIO, 2005).

O estudo informa, ainda, que em 2004, das 12.059 empresas

inspeccionadas pela Receita Federal, 55% eram grandes contribuintes; 40%,

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médios; e 5%, pequenos. Evidentemente, a maior visibilidade, melhores níveis de

formalização e os melhores retornos financeiros tornam as maiores empresas os

alvos preferidos dos processos de auditoria.

Geralmente, os micro, pequenos e médios contribuintes são auditados

quando há denúncias ou quando o cruzamento informático identifica alguma

irregularidade. No caso da Segurança Social, as cerca de 3 milhões de empresas

incluídas no regime tributário SIMPLES não são inspeccionadas, havendo

acompanhamento permanente apenas no caso das grandes corporações.

O mesmo estudo indicou que o número de empresas fiscalizadas no Brasil

ainda é muito pequeno se comparado ao que ocorre em outros países. Na

Receita Federal, as operações de auditoria, em 2004, representavam apenas

0,2% do total de companhias existentes no país. Na Segurança Social (INSS) o

índice auditado limitou-se a 0,8%. Na Europa, as fiscalizações atingem 3% das

empresas, e nos Estados Unidos, 2,5%. Por outro lado, quando se fala em

produtividade das auditorias, o Brasil apresenta desempenho próximo da média

internacional.

O estudo do IBPT aponta que, embora a arrecadação por autos federais de

infracção tenha aumentado, o número de autos recuou 21% entre 2002 e 2004.

Naquele ano, registou-se um total de 70.056 autos de infracção; em 2004 foram

55.127 autos. Em 2002, os dois órgãos (Secretaria da Receita Federal e INSS)

arrecadaram juntos R$717,24 mil por auto de infracção; em 2004, a média subiu

para R$1,77 milhão, como resultado da intensificação da fiscalização sobre os

grandes contribuintes. Em 2004, cerca de 72% dos valores arrecadados tinham

origem em grandes companhias. Pelo estudo do IBPT, a elevação dos

recolhimentos ampliou a participação dos autos de infracção na arrecadação total.

Em 2004, as multas aplicadas pela Receita Federal representaram 23,1% do total

arrecadado. No INSS, também em 2004, a participação das multas na

arrecadação total correspondeu a 22,4%.

O aumento da arrecadação não foi o único resultado desse esforço de

auditoria. Também se tem verificado uma corrida às consultorias fiscais para

organizar a documentação das empresas e evitar multas. A procura por esses

profissionais, que era motivada pela busca de teses que contestassem a

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cobrança de alguns tributos, passou a ser feita com a intenção de manter as

empresas nos limites da lei, por meio do planeamento tributário.

As informações colhidas compõem um quadro aparentemente contraditório:

ao mesmo tempo que é cada vez maior a incidência de práticas de evasão fiscal

por empresas brasileiras, a crescente utilização de recursos informáticos, os

esforços de auditoria e o acompanhamento fiscal resultam em aumento de

arrecadação por auto de infracção, e as empresas procuram organizar-se para

evitar autuações, procurando reduzir sua carga tributária mediante emprego de

práticas de elisão fiscal, no lugar da sonegação. Essa busca de organização fiscal

e de mudança de práticas se dá, porém, em maior escala, nas grandes empresas,

por serem estas as que podem arcar com a contratação de consultorias.

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PARTE II

A INVESTIGAÇÃO DE CAMPO

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CAPÍTULO III – METODOLOGIA

3.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Vistos alguns dos principais contributos científicos ao tema pesquisado,

cumpre apresentar os métodos empregados neste estudo, para se procurar

entender como se justifica a atitude de evasão fiscal praticada por empresas

brasileiras, assim como verificar-se se há relação entre as práticas de evasão e

as estratégias de tais empresas, caso sejam identificadas no sistema fiscal

brasileiro características que resultem na percepção de ameaças do meio

envolvente.

3.2. TIPOLOGIA DAS INVESTIGAÇÕES

Quanto aos seus fins, este estudo tem carácter explicativo. Quanto aos

meios para a consecução dos objectivos estabelecidos, fez-se necessária a

divisão das actividades de investigação em quatro segmentos, como explicitado a

seguir:

a. Investigação Teórica : consultas e análises críticas a artigos

académicos, manuais, teses e outros tipos de monografia, além de

livros e escritos de outras espécies, aí incluídas as fontes de

informação sobre o sistema tributário brasileiro e sobre o contexto da

investigação.

b. Investigação Virtual : utilização de recursos disponíveis na Internet,

como visitas a sítios e participação em listas de discussão. Destacam-

se os sítios das unidades fiscais dos três níveis de governo no Brasil

(federal, estadual e municipal), do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e do

Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPI).

c. Investigação Documental: estudo de documentos oficiais, como

relatórios, estatísticas e legislação.

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d. Investigação de Campo: aplicação de questionários junto a gestores

de empresas industriais e comerciais, de todos os portes (micro,

pequeno, médio e grande), localizadas em dois estados brasileiros

(Ceará e Santa Catarina).

Os três primeiros segmentos de investigação contribuíram para a

construção teórica na qual se fundamenta este estudo, e tais contribuições já

foram anteriormente apresentadas. Por sua vez, a investigação de campo

possibilitou que fossem registadas e analisadas as constatações empíricas. Os

próximos tópicos reúnem informações mais detalhadas sobre os procedimentos

adoptados nesta investigação.

3.3. DELIMITAÇÃO TERRITORIAL DA INVESTIGAÇÃO DE CAM PO

Os estados brasileiros Ceará e Santa Catarina foram definidos como áreas-

alvo da investigação. As diferenças geográficas entre os dois estados e,

nomeadamente, a sua diversidade económica, assim como as diferenças

etnoculturais, possibilitaram uma maior variedade nas informações colhidas,

permitindo-se compreender que os resultados alcançados não estão

subordinados a especificidades regionais.

No Ceará, os questionários foram aplicados na Região Metropolitana de

Fortaleza, que compreende, além da própria cidade de Fortaleza, capital do

estado, os municípios de Aquiraz, Caucaia, Chorozinho, Eusébio, Fortaleza,

Guaiúba, Horizonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Pacatuba e São

Gonçalo do Amarante.

Em Santa Catarina, a investigação foi procedida nas cidades da Região

Metropolitana de Florianópolis, que compreende, além de Florianópolis, capital do

estado, os municípios de Águas Mornas, Antônio Carlos, Biguaçu, Governador

Celso Ramos, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, São José e São Pedro de

Alcântara.

As situações geográficas de ambos os estados podem ser visualizadas no

Anexo.

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3.4. SUJEITOS DA INVESTIGAÇÃO DE CAMPO

Os sujeitos da investigação de campo foram escolhidos entre proprietários

ou accionistas maioritários e sócios-gestores ou gestores não-sócios de

empresas industriais e comerciais ou de serviços, de quatro diferentes tamanhos

– micro, pequeno, médio e grande –, sob a convicção de que a evasão fiscal

decorre de decisão dos indivíduos cuja posição lhes dá prerrogativas de

determinarem a conduta fiscal da empresa. Assim, foram escolhidos os ocupantes

de cargos de decisão dentro das empresas, procurando-se em todos os casos

inquirir pessoas cuja abrangência de responsabilidade envolvesse as questões

fiscais. Registe-se que esses sujeitos são considerados empresários, para as

finalidades deste estudo. Portanto, empresário, aqui, não é sinónimo de

proprietário de empresa.

Para a identificação das empresas e os contactos com os empresários, em

ambos os estados, foi imprescindível a colaboração de entidades representativas

das classes produtoras, que forneceram listas com informações básicas das

empresas (sector de actividade, tamanho, morada e telefone).

A partir dessas listas, foram escolhidas, aleatoriamente, quinze empresas

de cada segmento/porte, procurando-se assegurar a mesma representatividade a

cada um desses recortes.

Sempre que a pessoa de contacto em uma das empresas seleccionadas

não confirmava a concordância em participar da investigação, procurava-se

substituir a empresa pela seguinte, na ordem alfabética da lista respectiva

(segmento/tamanho). A amostra resultante reuniu 240 empresas, sendo 120 em

cada um dos estados, distribuídas conforme ilustrado na Tabela 3.1.

Como já antes afirmado, essa amostra garante a mesma

representatividade para os diferentes segmentos/tamanhos das empresas

inquiridas, além de superar dificuldades na definição de uma amostra

estratificada, dada a imprecisão de informações disponíveis sobre o universo,

nomeadamente no caso das menores empresas.

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Tabela 3.1 – Distribuição Quantitativa das Empresas da Amostra por Segmento/Tamanho

Estado Segmento Porte

TOTAL Micro Pequeno Médio Grande

Ceará Comércio 15 15 15 15 60

Indústria 15 15 15 15 60

Santa Catarina

Comércio 15 15 15 15 60

Indústria 15 15 15 15 60

TOTAL 60 60 60 60 240

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154

3.5. VARIÁVEIS E CONSTRUÇÃO DO QUESTIONÁRIO

Como não poderia deixar de ser, a investigação de campo procurou dar

respostas às questões formuladas no projecto de investigação, de maneira a

alcançar os objectivos estabelecidos.

Para tanto, foi construído um questionário por meio do qual o investigador

procurava garantir que todas as questões levantadas na Introdução seriam

respondidas a partir da análise das respostas dos inquiridos.

Além dos itens de categorização das empresas e respectivos gestores, o

documento contém as questões necessárias à análise pretendida. Tais quesitos

foram construídos em forma de frases, sendo solicitado aos inquiridos que

assinalassem seu grau de concordância ou discordância em relação a cada

afirmativa, mediante escolha de um número em uma escala (tipo Likert) variando

de 1 a 5, em que 1 representa discordância total e 5 representa concordância

total. A visualização do questionário em Apêndices possibilita melhor

compreensão dessa construção.

Embora nem todas as questões incluídas tenham sido encontradas em

obras dos doutrinadores consultados, todas elas foram reunidas no questionário a

partir de um posicionamento teórico anteriormente definido, como se explicita

adiante.

Em algumas variáveis encontradas em obras consultadas, como é o caso

da tax morale, os dados ali utilizados haviam sido obtidos de fontes secundárias,

não tendo os próprios autores inquirido os informantes.

No caso objecto deste estudo, optou-se por fontes primárias, tanto pela

carência de investigações já realizadas no país, como por preferência de

metodologia, já que se pretendia explorar informações especificamente buscadas.

A seguir, procura-se justificar a inclusão de cada questão.

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a) QUESTÃO 1

• Dadas as condições brasileiras, a evasão fiscal pra ticada por

algumas empresas pode ser considerada legítima, mes mo não

sendo legal.

A questão 1, que levantou a variável dependente, foi adaptada da questão

que investiga os níveis de tax morale, aplicada pelo World Values Survey em

vários países e em momentos diferentes. O WVS forneceu a base para as

investigações de vários autores, destacando-se as de Alm & Torgler (2004) e as

de Torgler (2005).

Segundo Torgler (2005), a questão é apresentada pelo WVS da seguinte

maneira:

Please tell me for each of the following statements whether you think it can always be justified, never be justified, or something in between: (. . . ) • Cheating on tax if you have the chance (% “never justified” – code 1 from a ten-

point scale where 1 = never and 10 = always).

No caso do presente estudo, a escala foi dimensionada em cinco pontos,

de modo a se compatibilizar com aquela utilizada para as demais questões. O

dimensionamento em cinco pontos é comum nos questionários que adoptam a

escala do tipo Likert. Observa-se, também, ser comum o redimensionamento na

utilização de dados obtidos de grandes escalas.

Essa foi uma constatação feita ao se analisar as investigações dos autores

consultados. Torgler, por exemplo, em oito de seus estudos sobre tax morale,

redimensionou para quatro pontos a já referida escala de dez pontos da WVS.

b) QUESTÃO 2

• Para uma empresa brasileira, pagar todos os imposto s, taxas,

contribuições e encargos sociais significa perder c ompetitividade.

A primeira variável independente foi levantada por essa questão. Trata-se

da primeira das questões que procuram verificar se as empresas relacionam

evasão fiscal com estratégia. Nenhum dos autores consultados a utilizou,

especificamente, num questionário.

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Sendo esse o cerne da presente investigação, fez-se necessário verificar

se há nexo entre a evasão fiscal praticada por empresas brasileiras e suas

estratégias, nomeadamente aquelas relacionadas a competição. Já que o

pagamento de tributos representa um custo, se não houver uma punição que

acarrete um custo ainda maior, o não-pagamento de tributos pode resultar em

vantagem competitiva. Essa questão se associa a outras que tratam da análise da

relação custo/benefício da opção pela evasão fiscal.

c) QUESTÃO 3

• A evasão fiscal significa, muitas vezes, uma decisã o estratégica e

faz a diferença entre a sobrevivência e o fechament o da empresa

que a põe em prática.

Essa questão reforça a anterior, tendo sido incluída pela mesma razão

apresentada para a introdução daquela. Com a questão 3, levanta-se a segunda

variável independente.

d) QUESTÃO 4

• O conhecimento de que há empresas que não pagam tod os os

seus tributos, sem sofrer qualquer sanção, influenc ia a

disseminação da prática de evasão fiscal.

O comportamento dos outros contribuintes é decisivo para a opção quanto

ao cumprimento das obrigações fiscais. Essa é uma constatação de vários

autores, principalmente Trivedi, Shehata & Lynn (2005).

As investigações qualitativas feitas durante o presente estudo também

indicam uma preocupação em “acompanhar” o comportamento de outros

contribuintes.

Essa é a razão de se tentar identificar o entendimento dos empresários

brasileiros acerca da capacidade de “contaminação” do comportamento de

evasão na atitude dos demais empresários.

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157

Essa questão levantou a terceira variável independente do presente

estudo.

e) QUESTÃO 5

• O sistema tributário brasileiro caracteriza-se pela imensa

variedade de tributos, com diferentes alíquotas; é burocratizado, e

suas normas mudam com elevada frequência.

A quarta variável independente foi levantada por essa questão, a qual foi

construída a partir da afirmativa de Tanzi (2000) e outros autores de que a

complexidade e a burocratização do sistema fiscal constituem razões para a

redução da tax morale dos contribuintes.

f) QUESTÃO 6

• O sistema tributário brasileiro não promove equidad e vertical,

porquanto não distingue devidamente empresas de dif erentes

ramos e variados tamanhos.

O sentimento de falta de equidade do sistema fiscal constitui um dos

principais factores de redução da tax morale. Dentre aqueles que concordam com

essa ideia, destacam-se Tanzi (2000), Tanzi & Zee (2000) e, nomeadamente,

Trivedi, Shehata & Lynn (2005), de quem se transcreve o seguinte trecho:

Relative equity can be subdivided into horizontal equity - the comparison of a taxpayer with others in the same economic situation (i.e., the same income, expenses etc.) and vertical equity – the taxpayer's relative burden vis a vis others with different levels of income. Equity theory suggests that individuals in an inequitable exchange relationship will try to reduce inequity by adjusting their contributions to the relationship (Spicer and Becker, 1980). Based on equity theory, then, taxpayers should become less (more) compliant when they are victims (beneficiaries) of tax inequity. This proposition is consistent with the theory that taxpayers who benefit from tax inequity will feel guilty because of the inequity and will try to assuage that guilt by increasing their tax compliance (Spicer and Becker, 1980). The present study investigates the impact of exchange inequity arising from changes in tax rates.

Na maioria das obras consultadas, encontra-se a constatação de que

muitos contribuintes levam em conta o tratamento dispensado pelo sistema

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158

tributário a outros contribuintes, para pautarem sua conduta no tocante ao

cumprimento das obrigações fiscais.

A quinta variável independente do presente estudo é, portanto, o

julgamento que o empresário brasileiro faz acerca da equidade vertical do sistema

tributário pátrio, procurando-se observar se há o sentimento de que o sistema é

injusto, por tratar diferentemente empresas de distintos ramos e portes.

g) QUESTÃO 7

• O sistema tributário brasileiro não promove equidad e horizontal,

porquanto distingue indevidamente empresas de mesmo ramo e

mesmo porte.

Aqui, repete-se a justificativa apresentada para a questão anterior,

levantando-se a possibilidade de haver insatisfação por tratamento diferenciado

entre empresas de actividade e porte idênticos.

O sentimento dos empresários brasileiros acerca da equidade horizontal do

sistema tributário do país constitui a sexta variável independente do presente

estudo.

h) QUESTÃO 8

• O sistema tributário brasileiro “empurra” as empres as para a

informalidade.

Como visto em 2.6.2, alguns autores encontraram comprovações empíricas

de uma forte correlação negativa entre a economia informal e a tax morale. Por

outras palavras, altos índices de economia informal ocorrem em ambientes de

baixos índices de tax morale.

Entre outros autores, Torgler (2001a) encontrou essa evidência para países

europeus em processo de transição do socialismo para a economia de mercado.

A mesma evidência foi encontrada pelo autor nos EEUU, utilizando análise

multivariada para tratar dados da Taxpayer Opinion Survey (TORGLER, 2003).

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159

Idêntica constatação foi obtida em estudo procedido em países da América

Latina (TORGLER, 2005).

Essa é a razão de se ter incluído essa questão, que levanta a sétima

variável independente do presente estudo.

i) QUESTÃO 9

• A carga tributária brasileira é excessiva, em compa ração com o

retorno recebido pela sociedade.

Diversos autores comentam que, antes de decidir se cumprem a totalidade

de suas obrigações fiscais, muitos contribuintes fazem um confronto entre o

montante de tributos pagos e os benefícios que a sociedade recebe.

Torgler (2005), por exemplo, afirma:

Taxpayers are more inclined to comply with the law if the exchange between the paid tax and the performed government services are found to be equitable.

Levando-se em conta que as investigações qualitativas do presente estudo

apontam para um sentimento disseminado no país de que a sociedade recebe

pouco, em comparação com os tributos arrecadados pelo Estado, essa questão

poderia indicar um nexo entre tal sentimento (oitava variável independente) e a

evasão fiscal.

j) QUESTÃO 10

• Os empresários brasileiros não confiam na correcta aplicação dos

recursos fiscais arrecadados.

A falta de confiança na correcta aplicação dos recursos fiscais arrecadados

constitui factor decisivo para a indisposição de cumprimento das obrigações

fiscais. A correlação positiva entre os níveis de confiança nos governos e a tax

morale foi comprovada por Torgler em várias investigações, principalmente

naquela realizada na América Latina (TORGLER, 2005).

Nesta investigação, procurou-se manter a mesma lógica de crescimento

das escalas para todas as questões. Daí ter-se optado por se inquirir sobre a falta

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160

de confiança, e não sobre a confiança nos escalões de governo, no levantamento

dessa nona variável independente.

k) QUESTÃO 11

• O sistema de auditoria fiscal não detém capacidade suficiente de

identificar e punir os casos de evasão fiscal.

A sensação de impunidade ou o entendimento de que as práticas de

evasão têm reduzida probabilidade de serem descobertas interferem na avaliação

da relação custo/benefício que o contribuinte possa fazer antes de se decidir pela

prática de evasão. Quanto menor for a probabilidade de autuação, menor será o

custo esperado da opção pela prática de evasão.

Se esse for o julgamento dos empresários brasileiros a respeito do sistema

tributário, residiria aí uma das razões para a adopção da prática de evasão fiscal.

Esse julgamento é a décima variável independente do estudo.

l) QUESTÃO 12

• Geralmente, é vantajoso praticar evasão fiscal, lev ando-se em

conta o benefício financeiro imediato em relação ao custo de uma

eventual autuação.

Essa questão foi incluída para atender à necessidade de se ampliar a

investigação para questões que não se relacionem apenas aos aspectos sócio-

comportamentais da evasão fiscal. A questão foi construída de maneira a reduzir

uma eventual resistência em responder a uma pergunta dessa natureza.

Mostrou-se necessário elaborar a questão especificamente para o presente

estudo, haja vista não se haver identificado nenhuma com semelhante teor nos

artigos e obras consultados. Os autores que abordam essa variável trabalharam a

partir de dados secundários, justificando-se, assim, o fato de não haverem feito a

indagação directamente aos contribuintes.

Um dos principais autores que trabalham com o entendimento de que os

contribuintes decidem pagar ou não tributos a partir da análise da relação

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161

custo/benefício, Slemrod (2004) assim justificou a utilização de dados

secundários:

The policy and practice of corporate tax avoidance and evasion are ahead of economic theory and empirical analysis. This may be inevitable, given the inherent difficulty of obtaining information about practices that are either definitely or arguably illegal. A larger methodological issue lurks, as well. Our empirical understanding of corporate behavior depends mostly on two sources of data, (publicly-available) financial statements and (confidential, but characterized in aggregated form) tax returns. Both sources of data are snapshots of what the corporate taxpayer wants some audience – either the investing public or the IRS – to see, and are not necessarily accurate portrayals of the real, underlying activities or the financial status of the taxpayer. In recent years many investors have been reminded of this fact the hard way. We academics may be misled along with the investors and the IRS if we ignore this and blithely assume the reports to be the unvarnished truth.

No Brasil, não há disponibilidade de dados secundários com a mesma

qualidade dos que foram utilizados pelos autores consultados, razão pela qual

optou-se por elaborar uma questão específica no questionário da investigação. A

questão levantou a décima primeira variável independente do presente estudo.

m) QUESTÃO 13

• Os clientes de uma empresa não a julgam desfavorave lmente pela

prática de evasão fiscal.

A análise da relação custo/benefício foi o motivo de inclusão dessa

questão, construída da mesma forma e pelos mesmos motivos da questão

anterior. Cabe observar que, nesse quesito, procura-se identificar o entendimento

dos empresários quanto à possibilidade de uma empresa que pratica evasão

fiscal vir a amargar um custo de perda de imagem, com o risco de comprometer a

fidelidade dos clientes.

3.6. RECOLHA DAS INFORMAÇÕES

Para assegurar um elevado índice de retorno dos questionários, optou-se

por aplicá-los de forma presencial. Para tanto, foram treinados e contratados

alguns pesquisadores. No Ceará, a aplicação dos questionários coube a uma

experiente profissional de um instituto de pesquisa, acompanhada pelo

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162

investigador. Em Santa Catarina, os questionários foram aplicados por uma

universitária, acompanhada por uma professora do Programa de Pós-Graduação

em Engenharia da Produção da Universidade Federal de Santa Catarina.

3.7. HIPÓTESES DE TRABALHO

Este estudo não tem a finalidade de predizer acontecimentos, mas apenas

a de explicá-los. Portanto, os tratamentos estatísticos adoptados procuram

identificar relações entre a variável dependente e as variáveis independentes.

Em consequência da finalidade do estudo, optou-se por estabelecer um

conjunto de sete hipóteses de trabalho, como pressupostos para nortear a

investigação, como segue:

H1 – há mais concordância que discordância com as afirmativas que

constituem as variáveis, coerentemente com o referencial teórico;

H2 – as variáveis se agrupam em factores semelhantes, para todos os

tratamentos (dados completos, dados partilhados por estado, dados

partilhados por sector de actividade e dados partilhados por tamanho

de empresa);

H3 – não há diferença significante de opiniões entre os empresários do

Ceará e os de Santa Catarina, o que significa que neste tema não há

influência da cultura regional, mas sim da cultura nacional;

H4 – não há diferença significante de opiniões entre os empresários dos

sectores de actividade indústria e comércio ou serviços;

H5 – não há diferença significante de opiniões entre os empresários dos

segmentos por tamanho de empresa (micro/pequena e

média/grande);

H6 – os factores obtidos apresentam correlação positiva com a variável

dependente;

H7 – todos os factores obtidos a partir da análise factorial são

significativos na explicação das variáveis dependentes;

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163

H8 – há equilíbrio entre as razões de ordem prática e as de ordem

emocional, na propensão à evasão fiscal.

3.8. INSTRUMENTAL ESTATÍSTICO

Inicialmente, os dados foram tratados mediante emprego do software

Excel®, do pacote de softwares Office®. Procedeu-se ao tratamento descritivo,

construindo-se tabelas e gráficos das distribuições pelas características das

empresas participantes da investigação.

Após o tratamento descritivo, os dados foram submetidos a tratamento

inferencial, utilizando-se o pacote estatístico SPSS®31, versão 13.0 for Windows.

A análise factorial revelou-se o método adequado ao primeiro tratamento utilizado,

uma vez que se pretendia conhecer as razões que explicam o comportamento de

evasão fiscal entre o público inquirido, reduzindo-se as variáveis a factores mais

gerais e em menor número.

A análise factorial, denominação genérica de uma classe de métodos

estatísticos multivariados, analisa a estrutura das inter-relações (correlações) de

um grande número de variáveis, definindo um conjunto de dimensões subjacentes

comuns, conhecidas como factores. Utilizando a análise factorial, o investigador

pode resumir as variáveis num número muito menor de factores que agregam as

variáveis individuais originais em grupos (HAIR, 1998).

Com a análise factorial, agruparam-se variáveis co-lineares, verificando-se

que há nexo entre elas, identificando factores específicos. Esses factores são

capazes de explicar com maior precisão as oscilações na variável dependente.

Esse tratamento estatístico simplificou as relações complexas e diversas no grupo

de variáveis observadas, chegando à pretendida simplificação, pela determinação

de factores comuns a variáveis aparentemente independentes.

Os factores receberam denominações que melhor identificam a sua

explicação da variável dependente. Evidentemente, essas denominações fazem

sentido com o suporte teórico no qual se baseia a investigação.

31 Statistical Package for Social Sciences

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164

Uma das finalidades deste estudo foi tentar verificar se havia semelhanças

ou diferenças de percepções dos empresários a respeito do sistema tributário

brasileiro. Por isso, procurou-se comparar os resultados obtidos no Ceará com

aqueles obtidos em Santa Catarina, a partir da forma como as variáveis se

agruparam nos factores.

Igual procedimento foi adoptado segmentando-se os dados por sector de

actividade (indústria versus comércio e serviços) e por tamanho de empresa

(micro e pequenas versus médias e grandes empresas).

Após essa aplicação da análise factorial, também foram comparados os

resultados obtidos nos dois estados, nos dois sectores de actividade e nos quatro

tamanhos de empresa, utilizando-se a Análise de Variância Simples (ANOVA),

como técnica complementar para identificar de forma mais precisa o grau em que

pudessem divergir as percepções.

Nesses partilhamentos, foi utilizado o seguinte modelo:

ijiijY εβµ ++= (3.1)

Onde:

• ijY : Variável que traduz a legitimidade para a prática da evasão

fiscal (i = partilhamento; j = número da variável [1, 2... 12])

• µ : Efeito comum

• iβ : Factor a analisar, conforme o partilhamento (j = 1, 2)

� Partilhamentos

• Por estado

� Ceará = 1

� Santa Catarina = 2

• Por sector de actividade

� Indústria = 1

� Comércio e serviços = 2

• Por tamanho de empresa

� Micro e pequenas = 1

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165

� Grandes e médias = 2

• ijε : erro (variável aleatória)

Procurando-se confirmar os resultados obtidos, agora levando-se em conta

as interacções dos segmentos, procedeu-se igualmente à Análise de Variância

Plurifactorial (MANOVA), adoptando-se os mesmos partilhamentos utilizados na

ANOVA, de acordo com o seguinte modelo:

ijkkjikjkijikjiijn CBACBCABACBAY εµ ++++++++= (3.2)

Onde:

• ijkY : Variável que traduz a legitimidade para a prática da evasão

fiscal (i = 1, 2, ... n)

• µ : efeito comum

• iA : Factor estado (Ceará = 1; Santa Catarina = 2)

• jB : Factor sector de actividade (indústria = 1; comércio e serviços =

2)

• kC : Factor tamanho da empresa (micro/pequena = 1; média/grande

= 2)

kj

ki

ji

CB

CA

BA

: Efeitos interactivos de segunda ordem

• kji CBA : Efeito interactivo de terceira ordem

• ijkε : erro aleatório

Finalmente, procurou-se identificar de que forma os factores extraídos na

análise factorial se relacionam com a variável independente, nos vários

tratamentos (dados completos, partilhamento por estado, partilhamento por sector

de actividade e partilhamento por tamanho de empresa).

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166

Por isso, primeiramente utilizou-se a regressão linear múltipla, para

identificar se os factores retidos têm influência positiva ou negativa na variável

dependente. Em seguida, utilizou-se a regressão com opção stepwise, para

verificar quais os factores que, efectivamente, são mais importantes na influência

sobre a variável dependente que, no entendimento do investigador, expressa a

propensão à prática da evasão fiscal.

Feita a apresentação da metodologia utilizada nas nossas análises,

apresentam-se, em seguida, os resultados encontrados.

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167

CAPÍTULO IV – RESULTADOS DA INVESTIGAÇÃO DE CAMPO 32

4.1. ESTATÍSTICA DESCRITIVA

Este sub-item apresenta tabelas e gráficos com a descrição dos resultados

encontrados, assim entendidos a caracterização dos elementos investigados e a

distribuição das respostas obtidas para as questões apresentadas.

Como já mencionado, para esta parte descritiva do estudo, utilizou-se o

software Excel®, do pacote Office 2003®, o qual possibilita melhor inserção de

gráficos no processador de textos Word®, utilizado no trabalho.

4.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A primeira parte da caracterização dos elementos investigados refere-se à

distribuição, considerando-se os estados de localização, os sectores de actividade

e os tamanhos das empresas inquiridas, conforme já apresentado na Tabela 3.1.

Esse equilíbrio na distribuição foi definido de forma deliberada, para se evitar que

uma categoria tivesse preponderância sobre outra, no âmbito de cada um dos

segmentos.

Com quatro diferentes categorias de tamanho de empresa, pertencentes a

dois ramos de actividade e localizadas em dois estados, têm-se 16 subgrupos,

cada um deles reunindo 15 empresas, o que totaliza as 240 empresas da amostra

tomada.

No que diz respeito ao cargo ocupado pelo representante de cada

empresa, a distribuição se apresenta nos Gráficos 4.1 e 4.2.

O Gráfico 4.1 apresenta a distribuição dos sujeitos da investigação,

conforme os cargos que ocupavam, considerando-se, também, o estado de

localização, o tamanho e o sector de actividade das empresas.

32 As tabelas e os gráficos apresentados neste capítulo foram todos concebidos e elaborados pelo

autor, a partir dos dados levantados na investigação de campo, utilizando-se os softwares citados. Nos gráficos e tabelas, onde constar “Comércio” ou "COM”, significa “comércio e serviços”; “IND” significa “indústria”.

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168

Gráfico 4.1 – Distribuição Proporcional dos Respondentes por Carg o, Segundo a Localização, o Tamanho e o Sector de Actividade das Empresas

47

33 40

53

33

20 27

20 20

7 7 13 13

27 13

40

33 20 33

7 40

7

60

13

53

27

53

40 47

7

67

47 53

47

73

53

86

27

74

93

47

73

Gestor Não-Sócio 53 40 47 7 67 47 53 47 73 53 86 27 74 93 47 73

Sócio-Gestor 0 27 13 40 0 33 20 33 7 40 7 60 13 7 53 27

Proprietário/ Princ Acionista

47 33 40 53 33 20 27 20 20 7 7 13 13 0 0 0

Ind CE

Micro

Ind SC

Micro

Com CE

Micro

Com SC

Micro

Ind CE

Pequena

Ind SC

Pequena

Com CE

Pequena

Com SC

Pequena

Ind CE

Média

Ind SC

Média

Com CE

Média

Com SC

Média

Ind CE

Grande

Ind SC

Grande

Com CE

Grande

Com SC

Grande

7

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169

Como se esperava, observa-se que a maior quantidade de proprietários e

principais accionistas verificou-se nas empresas de tamanhos micro e pequeno.

Os respondentes da categoria sócio-gestor foram preponderantes nas empresas

médias. Nas grandes empresas, que detêm maior capacidade para contratar

administração profissionalizada, predominaram os gestores não-sócios.

A categoria de gestores não-sócios , aliás, está bem representada em

todos os subgrupos, excepto entre as micro empresas comerciais de Santa

Catarina (7%). A participação mais significativa dessa categoria de inquiridos se

deu nas grandes empresas industriais catarinenses (93%).

Exceptuando-se os casos das micro e pequenas empresas industriais

cearenses, os sócios-gestores estiveram representados em todos os subgrupos,

com destaque nas médias empresas comerciais de Santa Catarina e nas grandes

empresas comerciais do Ceará, registando-se 60% e 53%, respectivamente.

Esse tipo de respondente marcou presença nos demais subgrupos, porém

com uma pequena participação nas médias empresas industriais e comerciais do

Ceará e nas grandes empresas industriais de Santa Catarina, registando-se

apenas 7% da categoria em cada um desses três subgrupos.

O Gráfico 4.2 informa que, em termos globais, os gestores não-sócios

representaram 55% dos respondentes, superando a soma das categorias sócio-

gestor (24%) e proprietário/principal accionista (21%).

A preponderância de gestores não-sócios agrega confiança na qualidade

das respostas, dada a crença de que os gestores profissionais são mais

qualificados para uma apreciação crítica das relações das empresas com o

sistema fiscal, além de possuírem a capacidade de interferir nas estratégias

empresariais e no comportamento fiscal das respectivas empresas, que é o fulcro

deste estudo.

Observe-se que todos os sujeitos da investigação ocupavam cargo de

gestão e detinham poder de decisão quanto às questões fiscais das empresas,

podendo ser considerados key informers.

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170

Gráfico 4.2 – Distribuição Proporcional dos Respo ndentes por Cargo

Proprietário/Principal Acionista 21%

Sócio-Gestor 24%

Gestor Não-Sócio 55%

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171

4.1.2. RESPOSTAS ÀS QUESTÕES EM ESCALA LIKERT

Passa-se agora à análise descritiva das respostas às questões elaboradas

para colher as opiniões que construíram as variáveis dependente e

independentes utilizadas neste estudo.

O presente tópico, apesar de não ser suficiente para que se chegue às

conclusões necessárias, contribui em boa medida para a análise dos resultados e

para a construção de uma ideia geral sobre os sentimentos dos empresários

inquiridos acerca do sistema fiscal brasileiro.

A primeira frase para a qual solicitou-se a opinião dos inquiridos dizia

respeito à legitimidade da prática de evasão fiscal por algumas empresas

brasileiras, com o seguinte enunciado: Dadas as condições brasileiras, a evasão

fiscal praticada por algumas empresas pode ser considerada legítima, mesmo não

sendo legal. Essa questão colheu informações para a variável dependente.

O Gráfico 4.3 apresenta a distribuição proporcional das respostas, cabendo

observar que os empresários de Santa Catarina foram mais assertivos que os do

Ceará.

Dentre os catarinenses, apenas 2% dos representantes do comércio

declararam não ter opinião acerca da questão. Todos os demais inquiridos

assinalaram alguma opinião.

No Ceará, 18% dos industriais e 25% dos comerciantes se declararam sem

opinião sobre a questão. Esses percentuais indicam, provavelmente, certo temor

em admitir a legitimidade de uma prática que se sabe ser ilegal.

Considerando-se tão-somente a declaração de “sem opinião”, os

empresários cearenses poderiam parecer mais cautelosos, mais conservadores.

Essa, aliás, era uma expectativa baseada na crença geral de que as sociedades

com menor desenvolvimento socioeconómico tendem a ser mais conservadoras.

Analisados os dados com maior atenção, no entanto, não se pode chegar a

essa conclusão. Observe-se que, no Ceará, 20% dos industriais e 12% dos

comerciantes concordaram convictamente com a afirmativa posta, o que desfaz

aquela primeira impressão de excesso de cautela, e contraria o pressuposto.

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172

Entre os catarinenses, nenhum industrial concordou com convicção,

enquanto apenas 3% dos comerciantes assim se declararam.

Por outro lado, fazendo-se a soma das concordâncias convictas e em

termos, obtem-se para o Ceará um total de 30% entre os industriais e 24% entre

os comerciantes. Em Santa Catarina, as duas opções somaram 32% e 46%,

respectivamente.

Significa dizer que, em termos totais, os catarinenses concordam muito

mais com a afirmativa do que os cearenses, embora estes tenham sido mais

convictos na sua concordância.

As somas das discordâncias em termos e completas são, no Ceará, de

52% para os industriais e 51% para os comerciantes. Em Santa Catarina, os

números são 68% e 52%, respectivamente. Os dados ensejam observar que os

empresários catarinenses revelaram-se mais convictos ao discordar que a evasão

fiscal seja legítima.

Totalizando-se os números obtidos nos dois estados, como explicitado no

Gráfico 4.4, observa-se que as discordâncias completa e em termos somaram

56%, enquanto as concordâncias convictas e em termos somaram 33%.

Dos inquiridos, 11% declaram-se sem opinião a respeito da legitimidade da

evasão fiscal, percentual esse em significante parcela influenciado pela opinião

dos empresários cearenses.

Investigações anteriores, feitas por abordagem qualitativa, indicavam que

se deveriam obter números mais tendentes à concordância do que à

discordância, tanto para um estado quanto para o outro, tanto para um sector de

actividade quanto para o outro.

Essa expectativa não se confirmou nesta investigação quantitativa.

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173

Gráfico 4.4 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Legitimidade da Evasão Fiscal

Concordância Convicta 9%

Concordância

em Termos 24%

Sem Opinião 11%

Discordância em Termos

28%

Completa Discordância

28%

Gráfico 4.3 – Distribuição Pro porcional das Opiniões sobre a Legitimidade da Evasão Fiscal, Segundo a Localizaçã o e o Sector

de Actividade das Empresas

35 28 2819

1723

40

33

18 25

2

1012 32

43

2012 3

Concorda Convicto 20 12 0 3Concorda em Termos 10 12 32 43Sem Opinião 18 25 0 2Discorda em Termos 17 23 40 33Discorda Completamente 35 28 28 19

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

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174

A segunda afirmativa consignava o seguinte enunciado: Para uma empresa

brasileira, pagar todos os impostos, taxas, contribuições e encargos sociais

significa perder competitividade. Os resultados obtidos estão consolidados nos

Gráficos 4.5 e 4.6.

No Gráfico 4.5, observa-se que os empresários do Ceará revelaram-se

mais convictos em sua concordância em comparação com os de Santa Catarina.

A concordância convicta entre os cearenses alcançou os 49% para os industriais

e 41% para os comerciantes. Entre os catarinenses, a concordância convicta

recebeu a indicação de 13% dos industriais, registando-se idêntico índice para os

comerciantes.

Os índices dos “sem opinião” foram baixos em todos os subgrupos. Entre

os cearenses, 3% dos industriais e 8% dos comerciantes assinalaram a opção.

Entre os catarinenses não houve industrial sem opinião, limitando-se a 2% a

proporção dos comerciantes.

A discordância completa foi assinalada mais vezes pelos cearenses,

registando-se 23% na indústria e 10% no comércio.

Dentre os que discordaram completamente, em Santa Catarina foram

apenas 2% de industriais e 2% dos comerciantes.

No Ceará, as somas de todas as discordâncias (completa e em termos)

alcançaram 33% para os industriais e 28% para os comerciantes. Em Santa

Catarina, os índices foram 25% e 32%, respectivamente.

Somando-se as concordâncias convictas com as concordâncias em

termos, os catarinenses demonstraram ser mais representativos, com 75% para

os industriais e 66% para os comerciantes. Entre os cearenses, cada um dos

dois sectores de actividade registou 64% do total de concordâncias convictas e

em termos.

Indica o Gráfico 4.6 que os índices globais das discordâncias completa e

em termos somaram 29%, enquanto os das concordâncias convictas e em termos

somaram 68%, o que confirma as indicações de nossas investigações anteriores.

As respostas “sem opinião” somaram apenas 3%.

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175

Gráfico 4.5 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Perda de Competitividade, Segundo a Localização e o Sector de

Actividade das Empresas

2310

2 2

10

18 23

30

38 2

1523

62 53

4941

13 13

Concorda Convicto 49 41 13 13Concorda em Termos 15 23 62 53Sem Opinião 3 8 0 2Discorda em Termos 10 18 23 30Discorda Completamente 23 10 2 2

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

Concordância Convicta

29%

Concordância em Termos

39%

Sem Opinião 3%

Discordância em Termos 20%

Completa Discordância 9%

Gráfico 4.6 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Perda de Competitividade

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176

A terceira afirmativa – A evasão fiscal significa, muitas vezes, uma decisão

estratégica, e faz a diferença entre a sobrevivência e o fechamento da empresa

que a põe em prática – tem seus resultados apresentados nos Gráficos 4.7 e 4.8.

No Gráfico 4.7, observa-se que os empresários de Santa Catarina

apresentaram discordância bem menor que os do Ceará. Discordaram

completamente da afirmativa 25% dos industriais cearenses e 15% dos

comerciantes. Entre os catarinenses, os números foram 1% e 2%,

respectivamente. A discordância em termos também foi muito baixa em Santa

Catarina, com 3% para industriais e também para comerciantes; entre os

cearenses os números foram 10% e 15%, respectivamente.

A concordância convicta entre os cearenses foi de 40% para os industriais

e 30% para os comerciantes. Entre os catarinenses, os números da concordância

convicta ficaram próximos desses: 39% e 25%, respectivamente.

A diferença efectiva entre os estados se deu ao nível de concordância em

termos. O Ceará teve 18% para industriais e 27% para comerciantes, enquanto

Santa Catarina registou 53% e 55%, respectivamente.

Os índices dos “sem opinião” foram pequenos para os cearenses, com 7%

entre os industriais e 13% entre os comerciantes. Para os catarinenses, os

números também foram pequenos, com 4% e 15%, respectivamente.

As discordâncias em termos e completas, no Ceará, somam 35% para os

industriais e 30% para os comerciantes. Em Santa Catarina, os índices não

passam de 4% e 5%, respectivamente.

Somadas as concordâncias convictas e as concordâncias em termos, os

catarinenses são muito mais representativos, com 92% entre os industriais e 80%

entre os comerciantes. No Ceará, essas opiniões somam 58% para industriais e

57% para comerciantes.

No Gráfico 4.8, observa-se que as discordâncias completa e em termos

somaram 18%, enquanto as concordâncias convicta e em termos perfizeram 72%.

O índice total de “sem opinião” foi de 10%.

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177

Gráfico 4.8 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Utilização da Evasão Fiscal como Estratégia de Sobr evivência

Discordância em Termos

8%

Completa Discordância

10%

Concordância em Termos

38%

Concordância Convicta

34%

Sem Opinião 10%

Concorda Convicto 40 30 39 25

Concorda em Termos 18 27 53 55

Sem Opinião 7 13 4 15

Discorda em Termos 10 15 3 3

Discorda Completamente 25 15 1 2

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

Gráfico 4.7 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Utilização da Evasão Fiscal como Estratégia de Sobr evivência, Segundo a localização e o Sector de Actividade das Empresas

25 15

1 2

10 15

3 3

7 13

415

18 27

53

55

40 30

39 25

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178

Com relação à quarta frase Saber que outras empresas não pagam todos

os seus tributos incentiva uma empresa e praticar evasão fiscal, os Gráficos 4.9 e

4.10 resumem as respostas obtidas.

Conforme se observa no Gráfico 4.9, as opiniões se distribuem de maneira

semelhante à da afirmativa anterior. Os empresários catarinenses discordaram da

afirmativa bem menos que os cearenses. Dentre os industriais do Ceará, 25%

registaram discordância completa; a mesma opinião tiveram 15% dos

comerciantes do estado. Em Santa Catarina, os números foram 1% e 2%,

respectivamente. A discordância em termos também foi muito baixa em Santa

Catarina, com 3% para industriais e mesma proporção para comerciantes. Entre

os cearenses os números da discordância em termos foram 10% e 15%,

respectivamente.

Em ambos os estados, os índices dos “sem opinião” foram maiores para

comerciantes do que para industriais. No grupo de comerciantes, 13% dos

cearenses e 15% dos catarinenses se declararam sem opinião. Entre os

industriais, os números foram 7% e 4%, respectivamente.

Em Santa Catarina, 53% dos industriais e 55% dos comerciantes

informaram concordar em termos com a afirmativa. Os cearenses apresentaram

índices bem inferiores nessa opinião: os industriais com 18% e os comerciantes

com 27%. A concordância convicta entre os cearenses foi um pouco maior do que

entre os catarinenses: industriais com 40% e 39%, e comerciantes com 30% e

25%, respectivamente.

As discordâncias em termos e completa somam 35% para os industriais e

30% para os comerciantes cearenses, e 4% e 5%, para os catarinenses,

respectivamente. Somadas as concordâncias convicta e em termos, os

catarinenses são bem mais representativos que os cearenses: 92% entre os

industriais e 80% entre os comerciantes, versus 58% e 57%, respectivamente.

No Gráfico 4.10 é fácil observar que os índices totais das discordâncias

completa e em termos somaram 18% e as concordâncias convicta e em termos

somaram 72%. O índice total de “sem opinião” não passou dos 10%.

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179

Gráfico 4.9 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Influência do Comportamento Fiscal de Outras Em presas, Segundo

a Localização e o Sector de Actividade das Empresas

2515

1 2

1015

3 3

7 13

415

27

53

55

4030

3925

Concorda Convicto 40 30 39 25

Concorda em Termos 18 27 53 55

Sem Opinião 7 13 4 15

Discorda em Termos 10 15 3 3

Discorda Completamente 25 15 1 2

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

18

Gráfico 4.10 – Distribuição Proporcional das Opiniões s obre a Influência do Comportamento Fiscal

de Outras Empresas

Discordância em Termos 8%

Sem Opinião 10%

Concordância Convicta

34%

Concordância em Termos

38%

Completa Discordância

10%

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180

No tocante à quinta afirmativa – O sistema tributário brasileiro caracteriza-

se pela imensa variedade de tributos, com diferentes alíquotas, é burocratizado, e

suas normas mudam com elevada frequência –, as opiniões estão resumidas nos

Gráficos 4.11 e 4.12.

O Gráfico 4.11 evidencia que os empresários do Ceará revelaram-se mais

convictos em sua concordância, em comparação com os de Santa Catarina.

Nesse item, os índices obtidos entre os cearenses foram 76% para os industriais

e 54% para os comerciantes. Para os catarinenses, as proporções da

concordância convicta registaram 48% para industriais e 37% para comerciantes.

Para a concordância em termos, as posições se invertem. Os cearenses

somaram 10% entre os industriais e 23% entre os comerciantes. Os catarinenses

registaram 52% e 61%, respectivamente.

Os índices dos “sem opinião” foram pequenos para os cearenses: 2% entre

industriais e 8% entre comerciantes. Nenhum catarinense revelou-se sem opinião

quanto a esse item.

A discordância em termos reuniu apenas 2% e 7% entre os industriais e os

comerciantes cearenses, respectivamente. Dentre os catarinenses, nenhum

industrial assinalou essa opção, enquanto o fizeram apenas 2% dos

comerciantes.

Para os cearenses, a discordância completa alcançou 10% entre os

industriais e 8% entre os comerciantes. Nenhum catarinense assinalou a opção

“discorda completamente”.

No Ceará, as concordâncias em termos e convicta totalizam 86% para os

industriais e 77% para os comerciantes. Em Santa Catarina, os números são

100% e 98%, respectivamente.

No Gráfico 4.12, verifica-se que os índices totais das discordâncias

completa e em termos somaram apenas 8%; as concordâncias convicta e em

termos perfizeram 89%, significando que os empresários inquiridos sentem

enorme dificuldade de lidar com o sistema fiscal brasileiro.

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181

Gráfico 4.12 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Burocratização do Sistema Fiscal Brasileiro

Concordância Convicta

53%

Discordância em Termos 3%

Completa Discordância

5% Sem Opinião

3%

Concordância em Termos

36%

Gráfico 4.11 – Distribuição Proporcional das Opi niões sobre a Burocratização do Sistema Fiscal Brasileiro, Segund o a

Localização e o Sector de Actividade das Empresas

10 80

2 7

0

2810

23

52 61

76

54 48 37

Concorda Convicto 76 54 48 37 Concorda em Termos 10 23 52 61 Sem Opinião 2 8 0 0Discorda em Termos 2 7 0 2Discorda Completamente 10 8 0 0

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC2

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182

No tocante à sexta afirmativa – O sistema tributário brasileiro não promove

equidade vertical, porquanto não distingue devidamente empresas de diferentes

ramos e variados tamanhos –, as respostas obtidas estão resumidas nos Gráficos

4.13 e 4.14.

No Gráfico 4.13, observa-se que os índices dos “sem opinião” foram

maiores que nos itens anteriores. Mesmo devidamente explicado, o conceito de

equidade vertical pode não ter ficado claro para os inquiridos. Razão pela qual,

infere-se, 8% dos industriais e 15% dos comerciantes do Ceará assim se

declararam, enquanto em Santa Catarina os resultados foram 12% e 13%,

respectivamente. A discordância completa ocorreu em pequeno número. Apenas

8% dos industriais cearenses e 3% dos comerciantes assinalaram essa opção.

Em Santa Catarina, nenhum industrial assinalou essa opção, enquanto o fizeram

apenas 3% dos comerciantes.

Os empresários do Ceará revelaram-se mais convictos em sua

concordância, comparativamente aos de Santa Catarina. Naquele estado, a

concordância convicta atingiu 64% entre os industriais e 38% entre os

comerciantes. Para os catarinenses, os números da concordância convicta foram

13% para industriais e 10% para comerciantes. As posições ficam invertidas para

a concordância em termos. Entre os cearenses, os números foram 15% na

indústria e 37% no comércio. Em Santa Catarina, 75% dos industriais

concordaram em termos com a afirmativa, registando-se o mesmo índice entre os

comerciantes.

Quando somadas as concordâncias convicta e em termos, os catarinenses

são mais representativos: 88% para os industriais e 85% para os comerciantes

catarinenses versus 79% para industriais e 75% para comerciantes cearenses. No

Ceará, as discordâncias em termos e completa somam 13% para os industriais e

10% para os comerciantes. Em Santa Catarina, os números são 0% e 2%,

respectivamente.

Segundo o Gráfico 4.14, no total, as discordâncias completa e em termos

somaram 6%, enquanto as concordâncias convicta e em termos totalizaram 82%.

O índice total dos “sem opinião” ficou em 12%.

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183

Gráfico 4.13 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Falta de Eqüidade Vertical do Sistema Fiscal Brasil eiro, Segundo a

Localização e o Sector de Actividade das Empresas

8 3

57

2

8 15

12 13

15

37 75 75

64

38

13 10

Concorda Convicto 64 38 13 10

Concorda em Termos 15 37 75 75

Sem Opinião 8 15 12 13

Discorda em Termos 5 7 0 2

Discorda Completamente 8 3 0 0

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

Gráfico 4.14 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Falta de Equidade Vertical do Sistema Fiscal Brasil eiro

Discordância em Termos

3% Sem Opinião

12%

Completa Discordância

3% Concordância

Convicta 31%

Concordância em Termos

51%

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184

Com relação ao enunciado da sétima afirmativa – O sistema tributário

brasileiro não promove equidade horizontal, porquanto distingue indevidamente

empresas de mesmo ramo e mesmo tamanho –, os Gráficos 4.15 e 4.16

resumem as respostas obtidas.

No Gráfico 4.15, pode-se observar que, provavelmente por razões

análogas às do item anterior, os índices dos “sem opinião” também foram maiores

que os usuais. Assim se declararam 15% dos industriais e 17% dos comerciantes

cearenses, enquanto industriais e comerciantes catarinenses assim se

declararam em 13% dos casos.

Os empresários do Ceará revelaram-se numericamente mais convictos em

sua concordância, em comparação com os catarinenses. Entre os empresários

cearenses, assinalaram essa opção 48% dos industriais e 28% dos comerciantes.

Entre os catarinenses, os índices foram 5% para industriais e 13% para

comerciantes. Para a concordância em termos, os números são 15% e 28% entre

os cearenses e 80% e 72% entre os catarinenses, respectivamente.

A discordância completa foi bem maior para cearenses do que para

catarinenses. Entre os primeiros, os índices foram 10% na indústria e 13% no

comércio. Entre os catarinenses, apenas 2% de comerciantes discordaram

completamente da afirmativa. Os cearenses discordaram em termos do seguinte

modo: 12% dos industriais e 14% dos comerciantes. Dos catarinenses, apenas

2% dos industriais discordaram em termos.

Ao somar as concordâncias e discordâncias, vê-se que os catarinenses

concordaram bem mais que os cearenses. Em Santa Catarina, o total de

concordâncias convicta e em termos alcançou 85%, tanto para industriais quanto

para comerciantes, enquanto os cearenses registaram 63% e 56%,

respectivamente. As discordâncias em termos e completa somam 22% para os

industriais e 27% para os comerciantes cearenses, e 2% tanto para industriais

quanto para comerciantes catarinenses.

O Gráfico 4.16 informa que as concordâncias convicta e em termos

somaram 72%, enquanto as discordâncias completa e em termos somaram 13%.

O índice total de “sem opinião” ficou em 15%.

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185

Gráfico 4.16 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Falta de Equidade Horizontal do Sistema Fiscal Bras ileiro

Completa Discordância

6%

Sem Opinião 15%

Discordância em Termos 7%

Concordância em Termos

48%

Concordância Convicta 24%

Gráfico 4.15 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre a Falta de Equidade Horizontal do Sistema Fiscal Bras ileiro,

Segundo a Localização e o Sector de Actividade das Empresas

10 13 2

1214

2

1517

13 13

15

28 8072

48

28

5 13

Concorda Convicto 48 28 5 13

Concorda em Termos 15 28 80 72

Sem Opinião 15 17 13 13

Discorda em Termos 12 14 2 0

Discorda Completamente 10 13 0 2

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

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186

Para a oitava afirmativa – O sistema tributário brasileiro “empurra” as

empresas para a informalidade –, foram obtidos os resultados resumidos nos

Gráficos 4.17 e 4.18.

Pelo Gráfico 4.17, verifica-se que, também nesse item, os empresários

cearenses revelaram-se mais convictos em sua concordância, comparativamente

aos catarinenses. Os índices entre os cearenses foram 67% para os industriais e

44% para os comerciantes. Entre os catarinenses, a concordância convicta

registou 32% para ambos os ramos de actividade.

Na concordância em termos, as situações se invertem. No Ceará, 15% dos

industriais e 22% dos comerciantes assinalaram essa opção. Entre os

catarinenses, os índices foram bem maiores: 61% e 54%, respectivamente.

Os “sem opinião” apresentaram resultados curiosos. Entre os cearenses

foram 3% para industriais e 15% para comerciantes. Entre os catarinenses, não

houve industrial sem opinião, enquanto 2% dos comerciantes assinalaram essa

opção.

Embora sem muita significação, a discordância completa foi bem superior

para cearenses, em comparação com catarinenses. Entre aqueles, os índices

foram 8% na indústria e 7% no comércio; entre estes, apenas 2% dos

comerciantes discordaram completamente da afirmativa.

Em ambos os estados, houve menor discordância em termos entre os

industriais que entre os comerciantes. Com efeito, 7% dos industriais e 12% dos

comerciantes cearenses assinalaram essa opção, enquanto em Santa Catarina,

os índices foram 7% e 10%, respectivamente.

No Ceará, as discordâncias em termos e completa somaram 15% para os

industriais e 19% para os comerciantes. Em Santa Catarina, os índices são 7% e

12%, respectivamente. No Ceará, concordâncias com convicção e em termos

foram assinaladas por 82% dos industriais e 66% dos comerciantes. Em Santa

Catarina, a proporção alcançou 93% e 86%, respectivamente.

Os índices totais (Gráfico 4.18) das discordâncias completa e em termos

somaram 13%, enquanto os das concordâncias convicta e em termos perfizeram

82%. O índice total de “sem opinião” não passou de 5%.

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187

Gráfico 4.17 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se o Sistema Fiscal Brasileiro Induz à Informalidade, se gundo a

Localização e o Sector de Actividade das Empresas

8 7 27 12

7 10

3

15

2

15

2261

54

67

4432 32

Concorda Convicto 67 44 32 32

Concorda em Termos 15 22 61 54

Sem Opinião 3 15 0 2

Discorda em Termos 7 12 7 10Discorda Completamente 8 7 0 2

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

Gráfico 4.18 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se o Sistema Fiscal Brasileiro Induz à Informalidad e

Discordância em Termos

9%

Concordância em Termos

38%

Sem Opinião 5%

Completa Discordância

4%

Concordância Convicta

44%

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188

Com relação à nona afirmativa – A carga tributária brasileira é excessiva,

em comparação com o retorno recebido pela sociedade – o resumo das opiniões

está consignado nos Gráficos 4.19 e 4.20.

No Gráfico 4.19, observa-se que dentre os subgrupos em análise, os

industriais do Ceará revelaram-se os mais convictos em concordar com a

afirmativa, com 85% dos casos. Os comerciantes de ambos os estados

assinalaram essa opção em 70% dos casos. Os industriais catarinenses

apresentaram menor índice de convictos: 47%.

A concordância em termos, entre os cearenses, registou 5% para os

industriais e 17% para os comerciantes. Entre os catarinenses, os índices da

concordância em termos totalizaram 53% para industriais e 30% para

comerciantes.

Nenhum dos catarinenses assinalou as demais opções, nesse item.

No Ceará, as demais opções foram pouco assinaladas. Os “sem opinião”

ficaram em 2% entre os industriais e 3% entre os comerciantes. A discordância

completa registou 5% para ambos os ramos de actividade, enquanto a

discordância em termos recebeu a adesão de 3% entre os industriais e 5% entre

os comerciantes.

Quando somadas as concordâncias convicta e em termos, os catarinenses

são mais representativos, até porque essas foram as únicas opções assinaladas

por eles, nesse item. Para os cearenses, a soma totalizou 90% para os

industriais e 87% para os comerciantes.

Os índices totais das discordâncias completa e em termos somaram 5%,

enquanto os das concordâncias convicta e em termos totalizaram 94%. O índice

total de “sem opinião” não passou de 1% (Gráfico 4.20).

De certa forma, esses resultados eram esperados, devido ao conteúdo da

afirmativa. Parece haver uma tendência mundial de a grande maioria dos

contribuintes considerar exagerada a carga tributária que incide sobre si. O

curioso, no caso, é a unanimidade dos empresários catarinenses inquiridos

concordando com a afirmativa.

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189

Gráfico 4.19 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se a Carga Fiscal Brasileira é Excessiva em Relação aos Benefícios

Recebidos pela Sociedade, Segundo a Localização e o Sector de Actividade das Empresas

5 53 5

2 35

17 53

30

85 70

47

70

Concorda Convicto 85 70 47 70

Concorda em Termos 5 17 53 30

Sem Opinião 2 3 0 0

Discorda em Termos 3 5 0 0

Discorda Completamente 5 5 0 0

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

Sem Opinião 1%

Discordância em Termos

2% Concordância

em Termos 26%

Completa Discordância

3%

Concodância Convicta

68%

Gráfico 4.20 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre se a Carga Fiscal Brasileira é Excessiva em Relação aos Benefícios

Recebidos pela Sociedade

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190

Com relação à décima afirmativa – Os empresários brasileiros não confiam

na correcta aplicação dos recursos fiscais arrecadados –, os inquiridos

apresentaram as opiniões resumidas nos Gráficos 4.21 e 4.22.

No Gráfico 4.21, observa-se que os empresários do Ceará revelaram-se

mais convictos em sua concordância que os de Santa Catarina. Os industriais

também se revelaram mais convictos que os comerciantes. A concordância

convicta entre os cearenses foi de 87% para os industriais e de 61% para os

comerciantes, enquanto entre os catarinenses, os índices da concordância

convicta registaram 51% para industriais e 49% para comerciantes.

Os índices da concordância em termos foram, respectivamente, 7% e

27%, para os cearenses, e 47% e 46%, para os catarinenses.

Nenhum industrial cearense assinalou a opção “sem opinião”. Os

comerciantes cearenses “sem opinião” representaram 3% desse subgrupo. Entre

os catarinenses, os industriais “sem opinião” representaram 2%, enquanto entre

os comerciantes a opção alcançou 5%.

Em Santa Catarina, nenhum empresário discordou da afirmativa. No Ceará,

3% dos industriais e 2% dos comerciantes discordaram completamente. A

discordância em termos, nesse estado, foi assinalada por 3% dos industriais e

5% dos comerciantes.

Somando-se as concordâncias convicta e em termos, os catarinenses são

mais representativos. Essa opção reuniu 98% dos industriais e 95% dos

comerciantes catarinenses. Entre os cearenses, a opção foi assinalada por 94%

dos industriais e 88% dos comerciantes.

De acordo com o Gráfico 4.22, os índices totais das discordâncias

completa e em termos somaram 4%. O índice total de “sem opinião” não passou

de 3%. A soma das concordâncias convicta e em termos representou 93%.

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191

Gráfico 4.22 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre Se Há Falta de Confiança entre os Empresários quanto à Correta

Aplicação dos Recursos Fiscais Arrecadados

Concordância em Termos

31%

Discordância em Termos 2%

Completa Discordância

2% Sem Opinião 3%

Condordância Convicta

62%

3 23 55

2 5

7

27 47 46

87

61 51 49

Concorda Convicto 87 61 51 49Concorda em Termos 7 27 47 46Sem Opinião 0 5 2 5Discorda em Termos 3 5 0 0Discorda Completamente 3 2 0 0

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

Gráfico 4.21 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre Se Há Falta de Confiança entre os Empresários quanto à Co rreta Aplicação

dos Recursos Fiscais Arrecadados, Segundo a Localiz ação e o Sector de Actividade das Empresas

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192

No tocante à décima primeira afirmativa – O sistema de auditoria fiscal não

detém capacidade suficiente de identificar e punir os casos de evasão fiscal –, o

resumo das concordâncias e discordâncias está representado nos Gráficos 4.23 e

4.24.

O Gráfico 4.23 evidencia que os empresários do Ceará revelaram-se mais

convictos em sua concordância, comparativamente aos de Santa Catarina. Em

ambos os estados, os industriais foram mais convictos que os comerciantes. A

concordância convicta entre os cearenses alcançou, respectivamente, 42% e

25%, enquanto entre os catarinenses situou-se em 10% e 3%. A situação se

inverte completamente para a concordância em termos: industriais e comerciantes

cearenses com 8% e 37%, bem inferiores aos 57% e 62% dos catarinenses,

respectivamente.

Os índices dos “sem opinião” foram pequenos em todos os subgrupos. Os

números são, pela mesma ordem, 7% e 13% para os cearenses e 10% e 18%

para os catarinenses. Cabe observar que, em ambos os estados, registou-se um

número maior de comerciantes se declarando “sem opinião”, comparativamente

aos industriais.

A discordância completa entre os cearenses alcançou 23% na indústria e

12% no comércio. Em Santa Catarina, nenhum dos industriais discordou

completamente da afirmativa, enquanto apenas 2% dos comerciantes assim se

pronunciaram. A discordância em termos, na mesma ordem, apresentou 20% e

13%, no Ceará, e 23% e 15% em Santa Catarina.

As discordâncias em termos e completa somaram 43% dos industriais e

25% dos comerciantes. Em Santa Catarina, os índices foram 23% e 17%,

respectivamente. Se forem somadas as concordâncias convicta e em termos, os

catarinenses são mais representativos. As duas concordâncias totalizaram 67%

das opções dos industriais e 65% das preferências dos comerciantes

catarinenses. Entre os cearenses, essas concordâncias somaram 50% entre os

industriais e 62% entre os comerciantes.

Os índices totais (Gráfico 4.24) das concordâncias convicta e em termos

somaram 61%. As discordâncias completa e em termos somaram 27%. As

respostas “sem opinião” totalizaram 12%.

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193

Gráfico 4.24 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre Se o Sist ema de Auditoria Fiscal Brasileiro é Incapaz de Ide ntificar e Punir

os Casos de Evasão

Sem Opinião 12%

Discordância em Termos

18%

Completa Discordância

9%

Concordância em Termos

41%

Concordância Convicta

20%

Gráfico 4.23 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre Se o Sistema de Auditoria Fiscal Brasileiro é Incapaz de Identificar e Punir os Casos de Evasão, Segundo a Localização e o Sector d e Actividade das

Empresas

2312

2

20

13

23 15

7

13 10 18

8 37 57

42

25

10

3

Concorda Convicto 42 10 3Concorda em Termos 8 37 57 62

Sem Opinião 7 13 10 18Discorda em Termos 20 13 23 15Discorda Completamente 23 12 0 2

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

25

62

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194

Com relação à décima segunda afirmativa – Geralmente, é vantajoso

praticar evasão fiscal, levando-se em conta o benefício financeiro imediato em

relação ao custo de uma eventual autuação –, as opiniões assinaladas estão

resumidas nos Gráficos 4.25 e 4.26.

No Gráfico 4.25, observa-se a concordância convicta entre os cearenses

na proporção de 22% para os industriais e 12% para os comerciantes. Entre os

catarinenses, os índices da concordância convicta registaram 3% para industriais

e 12% para comerciantes. São índices bem inferiores àqueles obtidos para outros

itens. Os índices da concordância em termos foram, na mesma ordem, 23% e

17% e 63% e 65%.

As proporções dos “sem opinião” foram mais representativas entre os

cearenses, com 8% para industriais e 28% para comerciantes, enquanto entre os

catarinenses apenas 3% admitiram não ter opinião, tanto industriais como

comerciantes.

A discordância completa foi bem maior entre os cearenses do que entre os

catarinenses. No Ceará, os índices foram 32% de industriais e 18% de

comerciantes. Em Santa Catarina, apenas 3% dos industriais e 10% dos

comerciantes discordaram completamente da afirmativa. A discordância em

termos teve como resultados, na mesma ordem, as seguintes proporções: 15% e

25% e 28% e 10%.

No Ceará, as opções pelas discordâncias completa e em termos somaram

47% de industriais e 43% de comerciantes. Em Santa Catarina, os índices são

31% e 20%, respectivamente.

Ao se somar os índices das concordâncias convictas e em termos,

observa-se que os catarinenses são mais representativos. Com efeito, as duas

citadas discordâncias tiveram a preferência de 66% dos industriais e 77% dos

comerciantes catarinenses, enquanto entre os cearenses, as duas opções

somaram 45% de industriais e 29% de comerciantes.

Os índices totais (Gráfico 4.26) das discordâncias completa e em termos

somaram 36%. As concordâncias convicta e em termos somaram 53%. O índice

total de “sem opinião” alcançou 11%.

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195

Gráfico 4.26 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre Se os Benefícios da Evasão Fiscal São Maiores que o s

Custos de uma Possível Punição

Completa Discordância

16%

Discordância em Termos

20%

Sem Opinião11%

Concordância em Termos

41%

Concordância Convicta

12%

Gráfico 4.25 – Distribuição Proporcional das Opiniões sobre Se os Benefícios da Evasão Fiscal São Maiores que os Cust os de uma

Possível Punição , Segundo a Localização e o Sector de Actividade da s Empresas

3218

3 10

15

25

28 10

828

3

3

23

17

63

65

2212

3

12

Concorda Convicto 22 12 3 12 Concorda em Termos 23 17 63 65 Sem Opinião 8 28 3 3Discorda em Termos 15 25 28 10 Discorda Completamente 32 18 3 10

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

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196

Para a décima terceira afirmativa – Os clientes de uma empresa não a

julgam desfavoravelmente pela prática de evasão fiscal –, as opiniões assinaladas

estão resumidas nos Gráficos 4.27 e 4.28.

No Gráfico 4.27, observa-se que os empresários do Ceará e de Santa

Catarina ofereceram resultados aproximados quanto à concordância convicta.

Entre os cearenses, registaram-se os índices 40% para os industriais e 30% para

os comerciantes. Entre os catarinenses, as proporções alcançaram 39% dos

industriais e 25% dos comerciantes.

Na concordância em termos, porém, os catarinenses foram bem mais

representativos. Os números obtidos foram, respectivamente, 18% e 27% no

Ceará e 53% e 55% em Santa Catarina.

Os índices dos “sem opinião” foram, entre os cearenses, 7% para

industriais e 13% para comerciantes, enquanto entre os catarinenses, foram 4%

e 15%, respectivamente.

A discordância completa foi bem maior para cearenses do que para

catarinenses. Entre os primeiros, os índices foram 25% na indústria e 15% no

comércio. Em Santa Catarina, apenas 1% dos industriais e 2% dos comerciantes

discordaram completamente da afirmativa.

Somadas as concordâncias convicta e em termos, os catarinenses foram

bem mais representativos, com 92% para os industriais e 80% para os

comerciantes, bem superiores aos 58% e 57% dos cearenses.

No Ceará, as somas das discordâncias completa em termos atingem 35%

para os industriais e 30% para os comerciantes. Em Santa Catarina, não

passaram dos 4% e 5%, respectivamente.

Em termos totais (Gráfico 4.28), as discordâncias completa e em termos

somaram 18%, enquanto as concordâncias convicta e em termos somaram 72%.

O índice total de “sem opinião” ficou em 10%.

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197

Gráfico 4.27 – Distribuição Proporcional das Opiniões de que Não Há Prejuízo de Imagem das Empresas que Praticam Eva são Fiscal ,

Segundo a Localização e o Sector de Actividade das Empresas

2515

1 2

1015

3 3

7 13

415

1827

53

55

4030

3925

Concorda Convicto 40 30 39 25 Concorda em Termos 18 27 53 55 Sem Opinião 7 13 4 15 Discorda em Termos 10 15 3 3Discorda Completamente 25 15 1 2

IND - CE COM - CE IND - SC COM - SC

Sem Opinião 10%

Discordância em Termos

8%

Completa Discordância

10%

Concordância em Termos

38%

Concordância Convicta

34%

Gráfico 4.28 – Distribuição Proporcional das Opiniões de que Não Há Prejuízo de Imagem nas Empresas que Praticam Evasão

Fiscal

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198

A Tabela 4.1 contém as médias e desvios-padrão calculados para todas as

variáveis, conforme os grupos de tratamento (dados completos, estados, sectores

de actividade e tamanhos das empresas).

Tratando, isoladamente da variável dependente A evasão pode ser

considerada legítima, observa-se que em apenas um dos tratamentos, essa

variável obteve média superior a 3,0. Nos demais, as médias ficaram na zona de

discordância da afirmativa. De certa forma, essa constatação surpreende, porque

esperava-se que houvesse um índice mais alto de concordância com a afirmativa.

O único caso em que a variável dependente obteve média superior a 3,0

aconteceu no grupo de médias e grandes empresas, indicando concordância com

a afirmativa.

Analisando-se todas médias das variáveis, em todos os tratamentos, nota-

se que quase todas ficaram acima de 3,0. Significa dizer que, no geral, houve

uma tendência à concordância com todas as afirmativas. A menor média (2,58) foi

obtida no Ceará, pela afirmativa É vantajoso praticar evasão fiscal devido aos

possíveis custos de uma punição. Estando abaixo de 3,0, essa média fica na zona

de discordância da afirmativa. A maior média (4,60) foi obtida pela afirmativa de

que A carga tributária é excessiva, registrada no grupo de micro e pequenas

empresas.

Aliás, em quase todos os casos, essa variável obteve médias mais altas

que as demais variáveis, perdendo em apenas dois casos para a afirmativa de

que falta confiança na aplicação dos recursos tributários: uma no Ceará; outra, no

sector de actividade industrial.

Passa-se a examinar as médias obtidas pelas variáveis independentes nos

vários tratamentos.

Para os dados completos, todas as variáveis independentes registraram

média superior a 3,0, indicando tendência à concordância com as afirmativas. A

menor média coube à variável É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis

custos de punição (3,15); a maior (4,55) foi alcançada pela variável A carga

tributária é excessiva.

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199

No Ceará, as variáveis independentes também obtiveram média superior a

3,0, exceptuando-se a variável É vantajoso praticar a evasão, devido aos

possíveis custos de punição (média 2,83). A menor média coube à variável já

referida; a maior (4,56) foi alcançada pela afirmativa Falta confiança na aplicação

dos recursos fiscais.

Em Santa Catarina, todas variáveis independentes obtiveram média

superior a 3,0, significando que também houve tendência à concordância com as

afirmativas apresentadas. A menor média coube à variável Saber que os outros

não pagam é um indutor da evasão, com 3,18; a maior média foi registrada pela

afirmativa A carga tributária é excessiva (4,58).

No sector de actividade industrial, as médias obtidas para as variáveis

independentes também ficaram acima de 3,0. Isso indica que houve uma

tendência à concordância com as afirmativas. Nesse tratamento, a menor das

médias (3,11) foi obtida pela variável É vantajoso praticar evasão, mediante os

possíveis custos de punição. A maior média pertence à variável Falta confiança

na aplicação dos recursos tributários, com 4,60.

Também para o sector de comércio e serviços, as médias das variáveis

independentes ficaram acima de 3,0, indicando tendência à concordância com as

afirmativas apresentadas. A variável Saber que os outros não pagam é um indutor

da evasão obteve a menor das médias (3,08), enquanto a maior média (4,56)

pertence à variável A carga tributária é excessiva.

Nas micro e pequenas empresas, todas as variáveis independentes tiveram

média superior a 3,0, indicando, mais uma vez, uma tendência à concordância. A

menor média coube à variável É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis

custos de punição (3,11), enquanto a maior foi registrada pela variável A carga

tributária é excessiva (4,60).

Para as médias e grandes empresas, todas as variáveis independentes

tiveram média superior a 3,0, identificando-se uma tendência à concordância com

todas as afirmativas. A menor média, 3,04, foi registada pela variável Saber que

os outros não pagam é um indutor da evasão. A maior média, outra vez, foi

registada pela variável A carga tributária é excessiva, com 4,50.

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200

Tabela 4.1 – Distribuição das Médias Aritméticas (M ) e Desvios-padrão (DP) de Todas as Variáveis, Segundo os Dados Completos, a Localização, o Setor de Atividade e o Tamanho das Empresas

Estado Sector de Actividade Tamanho

Variável Dados

Completos Ceará Santa Catarina Indústria Comércio e

Serviços Micro e

Pequenas Médias e Grandes

M DP M DP M DP M DP M DP M DP M DP

A evasão pode ser considerada legítima

2,58 1,345 2,59 1,435 2,58 1,255 2,49 1,384 2,68 1,304 2,68 1,378 3,63 1,250

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

3,57 1,336 3,60 1,558 3,54 1,076 3,58 1,400 3,56 1,275 3,68 1,335 3,46 1,334

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

3,45 1,328 3,58 1,400 3,33 1,245 3,36 1,407 3,55 1,242 3,65 1,275 3,26 1,357

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

3,18 1,460 3,18 1,633 3,18 1,270 3,28 1,484 3,08 1,435 3,32 1,517 3,04 1,393

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

4,33 0,987 4,24 1,283 4,41 0,542 4,45 0,960 4,20 1,001 4,41 1,033 4,24 0,935

O sistema fiscal não tem equidade vertical

4,04 0,912 4,10 1,177 3,98 0,526 4,11 0,977 3,97 0,840 3,98 1,004 4,09 0,810

O sistema fiscal não tem equidade horizontal

3,77 1,079 3,63 1,403 3,92 0,574 3,84 1,053 3,70 1,105 3,68 1,159 3,86 0,990

O sistema fiscal induz à informalidade

4,09 1,100 4,06 1,305 4,12 0,852 4,22 1,055 3,96 1,133 4,13 1,156 4,05 1,044

A carga tributária é excessiva 4,55 0,837 4,52 1,077 4,58 0,495 4,54 0,819 4,56 0,858 4,60 0,834 4,50 0,840

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

4,50 0,797 4,56 0,924 4,44 0,646 4,60 0,749 4,40 0,834 4,59 0,761 4,41 0,825

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

3,45 1,250 3,38 1,518 3,52 0,907 3,39 1,380 3,50 1,108 3,36 1,295 3,53 1,202

É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição

3,15 1,310 2,83 1,434 3,46 1,092 3,11 1,358 3,18 1,263 3,11 1,371 3,18 1,250

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

3,73 1,277 3,40 1,552 4,05 0,808 3,75 1,349 3,70 1,206 3,82 1,303 3,63 1,250

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201

4.2. ESTATÍSTICA INFERENCIAL

4.2.1. ADEQUABILIDADE DA AMOSTRA

4.2.1.1. TAMANHO

As características e o tamanho da amostra atenderam aos parâmetros

recomendados para a utilização da análise factorial. Segundo Hair (2005), o

tamanho da amostra deve ser igual ou superior a cem observações. Como regra

geral, o tamanho recomendado é de, pelo menos, cinco observações para cada

variável, sendo desejável o tamanho correspondente a dez observações para

cada variável.

Esse é o mesmo número recomendado por Hill (1988), para um total de

variáveis entre cinco e quinze (N = 10 x K, se 5 < K ≤ 15), como acontece neste

estudo.

Nossos dados foram tratados da seguinte forma: inicialmente, foram

tomados os dados completos; em seguida, a amostra foi partilhada em dois

grupos, conforme os estados de localização das empresas (Ceará / Santa

Catarina); depois disso, subdividiram-se os dados partilhados por sector de

actividade (indústria / comércio e serviços); finalmente, os dados foram

partilhados por tamanho de empresa (micro e pequenas / médias e grandes).

Todos os grupos atendem aos requisitos estabelecidos para a relação

entre o número de casos e o número de variáveis, mesmo considerando-se o

partilhamento do arquivo.

Quando os dados foram tratados na totalidade, foram obtidos 240 casos

para doze variáveis, na proporção “vinte para um”. Quando os dados foram

partilhados em dois grupos, foram obtidos 120 observações para doze variáveis,

em cada um dos grupos. Portanto, mesmo no partilhamento, o tratamento

alcançou exactamente o número desejável de dez casos para uma variável.

Cabe registar que a forma como o questionário foi construído impossibilitou

a ocorrência de outliers. Assim, não foi necessário excluir nenhuma das

observações, para qualquer das variáveis.

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202

Registe-se, também, que não foram feitos testes de normalidade, porque

todos os grupos de dados apresentam tamanho suficiente para prescindir do

teste (n > 30), pelo teorema do limite central (GAGEIRO & PESTANA, 2005).

4.2.1.2. QUALIDADE DAS CORRELAÇÕES – TESTES KMO E B ARTLETT

Os testes de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) aplicados aos dados, seja para o

conjunto completo, seja para os partilhamentos, geraram resultados que

permitiram a utilização da análise factorial como instrumento.

Submetidos a esse teste, os dados recolhidos obtiveram os resultados que

se apresentam na Tabela 4.2.

Segundo a literatura, um resultado do Teste KMO entre 0,6 e 0,7 indica que

os dados são razoavelmente adequados a tratamento por análise factorial

(GAGEIRO & PESTANA, 2005). O resultado do teste KMO para o grupo Dados

Completos foi 0,657. Examinando-se os resultados obtidos para os grupos de

dados partilhados, observa-se que o menores valores obtidos foram:

� 0,571 para o grupo Médias e Grandes Empresas;

� 0,590, para o grupo Comércio e Serviços;

� 0,594 para o grupo Ceará;

� 0,596 para o grupo Sector Indústria.

Considera-se que todos esses valores situam-se muito próximos de 0,600,

e que, portanto, a aplicação da análise factorial seria adequada. Os demais

valores ficaram, todos, acima de 0,600.

De qualquer modo, a utilização dessa ferramenta de análise estaria

justificada, em todos os tratamentos, porque os testes de esfericidade de Bartlett

retornaram significância igual a zero, conforme Tabela 4.2.

Esses resultados indicam que há correlação entre as variáveis (GAGEIRO

& PESTANA, 2005, p. 498).

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203

4.2.1.3. CONSISTÊNCIA INTERNA – ALPHAS DE CRONBACH

Os Alphas de Cronbach obtidos para os dados desta investigação

demonstram que há consistência interna suficiente para a aplicação dos

tratamentos. O Alpha de Cronbach é obtido mediante aplicação da seguinte

fórmula:

Onde N é o número de componentes, 2Xσ é a variância total observada nos

escores de teste e 2

iYσ é a variância do iésimo componente do caso Y.

Alternativamente, o Alpha padronizado de Cronbach é dado por:

( )( )rN

rN

.11.−+

Onde N é o número de componentes e r é a média de todos os

coeficientes de correlação (de Pearson), entre os componentes.

Segundo a literatura, um Alpha de Cronbach entre 0,6 e 0,7 indica que há

razoável consistência interna e que a escala pode ser considerada fiável

(GAGEIRO & PESTANA, 2005). A tabela 4.3 apresenta os resultados obtidos

para os dados deste estudo.

O Alpha de Cronbach para a totalidade dos dados foi 0,641. Examinando-

se os resultados obtidos para os grupos de dados partilhados, observa-se que

apenas para o grupo Ceará o resultado (0,558) foi inferior a 0,600, mas com um

valor aproximado desse patamar. Assim, apesar de um dos grupos apresentar

valor próximo do limite inferior, julga-se que os dados apresentam consistência

interna suficiente para o tratamento procedido. Os valores encontrados são

aqueles apresentados na Tabela 4.3.

Em seguida, apresentam-se os resultados dos tratamentos estatísticos

inferenciais. Todas as saídas (outputs) produzidas pelo software SPSS® foram,

para melhor entendimento, transformadas em novas tabelas, incluídas no texto

para facilitar a compreensão das análises.

∑= =−

− 21

22

1X

N

i iYX

NN

σ

σσα

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204

Tabela 4.2 – Resultados dos Testes KMO e Esfericida de de Bartlett

Grupo KMO

Significância do Teste de

Esfericidade de Bartlett

Dados Completos 0,657 000

Partilhamento por Estado � Ceará 0,594 000 � Santa Catarina 0,754 000

Partilhamento por Sector de Actividade � Indústria 0,596 000 � Comércio e Serviços 0,590 000

Partilhamento por Tamanho de Empresa � Micro e Pequenas 0,659 000 � Médias e Grandes 0,571 000

Tabela 4.3 – Consistência Interna

Grupo Alphas de Cronbach

Dados Completos 0,641

Partilhamento por Estado

� Ceará 0,558 � Santa Catarina 0,767

Partilhamento por Sector de Actividade

� Indústria 0,631

� Comércio e Serviços 0,652

Partilhamento por Tamanho de Empresa

� Micro e Pequenas 0,662

� Médias e Grandes 0,615

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205

4.2.2. RESULTADOS DA APLICAÇÃO DA ANÁLISE FACTORIAL

Conforme estabelecem Gageiro & Pestana (2005. p. 487), assumiu-se no

estudo que “tanto as covariâncias como as correlações entre as variáveis

observáveis são geradas pelas suas relações com um número de variáveis

subjacentes ou conceitos”, denominados factores.

Também no presente caso, a redução da quantidade de variáveis originais

para um número menor (os factores) propiciou uma melhor interpretação das

relações entre as variáveis independentes e a variável dependente definidas para

a investigação. Procurou-se interpretar a redução das variáveis independentes de

modo que os factores obtidos e suas denominações façam sentido com a teoria

de suporte da investigação. Essas denominações também estão acordes com

resultados obtidos em investigações anteriores.

Para todas as análises factoriais, utilizou-se a opção de rotação

VARIMAX33, com normalização Kaiser, e a Análise dos Principais Componentes.

Inicialmente, foram extraídos factores com raízes latentes maiores que 1

(eigenvalues). Em consequência, os totais de factores retidos, em alguns dos

tratamentos, explicavam menos de 60% da variância total. Escolhemos, então,

“forçar” a retenção de cinco factores, para que se obtivessem, pelo menos, 65%

da variância total explicada, em todos os casos. Também optou-se por excluir as

cargas factoriais com valores absolutos inferiores a 0,5.

4.2.2.1. DADOS COMPLETOS

A partir dos parâmetros estabelecidos para a análise, as variáveis se

agruparam em cinco factores, que explicam 65,350% da Variância Total (Tabela

4.4). Esse agrupamento facilitou a denominação dos factores, porque ocorreu de

forma coerente com o suporte teórico do estudo. No primeiro factor, agruparam-se

as variáveis É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de

punição, O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes e

33 A adoção do procedimento objetivou apenas facilitar a interpretação das cargas fatoriais sobre

os respectivos eixos.

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206

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão. As três variáveis

registam a interpretação de que haveria vantagens em optar pela prática evasiva.

Para esse factor, a denominação escolhida foi Evasão como estratégia

custo/benefício.

O segundo factor agrupou as variáveis Pagar todas as obrigações fiscais

implica perder competitividade e Evasão pode ser uma estratégia de

sobrevivência. As duas variáveis indicam o entendimento de que o pagamento de

tributos pode reduzir a capacidade de competição, e que praticar evasão, por

outro lado, pode ser uma opção pela sobrevida da empresa. Optou-se por

identificar esse factor pela denominação Evasão fiscal como estratégia

competitiva.

No terceiro factor, ficaram agrupadas as variáveis O sistema fiscal não

promove equidade horizontal, A carga tributária é excessiva e O sistema fiscal

não promove equidade vertical. Essas variáveis indicam o julgamento de que o

sistema fiscal brasileiro trata de forma indevidamente desigual empresas que são

semelhantes e de igual maneira empresas que deveriam ser tratadas de forma

diferenciada. Por isso, o factor recebeu a denominação Julgamento de que o

sistema fiscal não é justo, por ser esta a informação passada pelas três variáveis

que o compõem.

O quarto factor agrupou as variáveis Falta confiança na aplicação dos

recursos tributários e O sistema fiscal induz à informalidade. Optou-se por

identificar esse factor como Má imagem do sistema fiscal, porque interpretou-se

que esse é o seu sentido, a partir das variáveis nele agrupadas.

O quinto factor correspondeu, apenas, à variável A burocratização do

sistema é um indutor da evasão. Essa é a principal das variáveis que reflectem as

dificuldades que os contribuintes sentem no seu relacionamento com o sistema

fiscal brasileiro. Assim, escolheu-se para esse factor a denominação Dificuldades

de lidar com o sistema fiscal.

Nesse tratamento, e com os parâmetros escolhidos, a variável Saber que

os outros não pagam é um indutor da evasão não foi incluída em nenhum dos

factores.

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207

Tabela 4.4 – Factores Extraídos para os Dados Compl etos – Após Rotação Varimax

Facto res Extraíd os = 65,350% da Variância Total

Variável Componente

Evasão como

estratégia custo/

benefício

Evasão como

estratégia competitiva

Julgamento de que o sistema

fiscal não é justo

Má imagem do sistema

fiscal

Dificuldade de lidar com

o sistema fiscal

É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição

,797

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

,645

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

,633

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

,769

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

,727

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

,765

A carga tributária é excessiva ,609

O sistema fiscal não promove equidade vertical

,561

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

,879

O sistema fiscal induz à informalidade

,701

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

,858

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208

4.2.2.2. PARTILHAMENTO POR ESTADO

i. CEARÁ

Os cinco factores retidos explicam 64,999% da Variância Total (Tabela

4.5), considerada suficiente para a exigência estabelecida em 65%. Aqui, a

denominação dos factores também seguiu o suporte teórico do estudo. No

primeiro factor, agruparam-se as seguintes variáveis: O sistema fiscal não

promove equidade horizontal, O sistema fiscal não promove equidade vertical, A

carga tributária é excessiva e A burocratização do sistema é um indutor da

evasão. Esse factor foi denominado Julgamento de que o sistema fiscal não é

justo , considerando-se a sua semelhança com o homónimo do tratamento

anterior.

O segundo factor agrupou as variáveis É vantajoso praticar evasão

mediante os possíveis custos de punição, O sistema fiscal tem pouca capacidade

de identificar e punir fraudes e Os clientes não julgam desfavoravelmente quem

pratica evasão, os quais indicam o entendimento de que há mais vantagens que

desvantagens em adoptar práticas de evasão fiscal. O factor recebeu a

denominação Evasão como estratégia custo/benefício , como o factor

semelhante encontrado para os Dados Completos.

Para o terceiro factor, foram agrupadas as variáveis A carga tributária é

excessiva, Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade e

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência. Escolheu-se para esse factor a

denominação Evasão como estratégia competitiva , também por semelhança

com o factor homónimo na análise dos Dados Completos.

No quarto foram agrupadas as variáveis Falta confiança na aplicação dos

recursos tributários e O sistema fiscal induz à informalidade. Identificou-se esse

factor como Má imagem do sistema fiscal , porque isso é o que se vislumbra nas

variáveis, como aconteceu para os Dados Completos.

O quinto factor junta as variáveis Saber que os outros não pagam é um

indutor da evasão e A burocratização do sistema é um indutor da evasão. Por

essa composição, o factor recebeu a denominação Dificuldade de lidar com o

sistema fiscal .

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209

Tabela 4.5 – Matriz de Factores Extraídos para os D ados do Ceará – Após Rotação Varimax

Facto res Extraíd os = 64,999% da Variância Total

Variável Componente

Julgamento de que o

sistema fiscal não é justo

Evasão como estratégia

custo/ benefício

Evasão como estratégia

competitiva

Má imagem do sistema

fiscal

Dificuldade de lidar com

o sistema fiscal

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

0,732

O sistema fiscal não promove equidade vertical

0,699

A carga tributária é excessiva 0,532 0,523

É vantajoso praticar evasão mediante os possíveis custos de punição

0,779

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

0,700

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

0,595

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

0,741

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

0,709

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

0,795

O sistema fiscal induz à informalidade 0,774

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

0,713

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

0,519 0,666

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210

ii. SANTA CATARINA

Os parâmetros estabelecidos para a análise levaram ao agrupamento das

variáveis em cinco factores que explicam 73,414% da Variância Total (Tabela

4.6). Nesse tratamento, também foi possível seguir o suporte teórico escolhido, na

denominação dos factores.

No primeiro factor foram agrupadas as variáveis Evasão pode ser uma

estratégia de sobrevivência, Pagar todas as obrigações fiscais implica perder

competitividade, Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão, O

sistema fiscal induz à informalidade e Os clientes não julgam desfavoravelmente

quem pratica evasão. No entendimento do investigador, a maioria dessas

variáveis está relacionada à competitividade, atribuiu-se ao factor a denominação

Evasão como estratégia competitiva .

O segundo factor agrupou as variáveis Os clientes não julgam

desfavoravelmente quem pratica evasão, A burocratização do sistema é um

indutor da evasão e É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de

punição. A primeira e a terceira variáveis dizem que há vantagem na prática de

evasão fiscal. Por isso, escolheu-se para esse factor a denominação Evasão

como estratégia custo/benefício , já escolhida para factores de análises

anteriores. A segunda variável aparece com valor negativo.

O terceiro factor agrupa as variáveis O sistema fiscal não promove

equidade vertical e O sistema fiscal não promove equidade horizontal. A exemplo

do que se adoptou em análises anteriores, esse factor recebeu a denominação

Julgamento de que o sistema fiscal não é justo .

No quarto factor foram reunidas as variáveis Falta confiança na aplicação

dos recursos tributários e O sistema fiscal induz à informalidade. Identificou-se

esse factor como Má imagem do sistema fiscal , porque isso é o que se

vislumbra nas variáveis.

O quinto factor reúne as variáveis Saber que os outros não pagam é um

indutor da evasão e A burocratização do sistema é um indutor da evasão. Por

essa composição, o factor recebeu a denominação Dificuldade de lidar com o

sistema fiscal .

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211

Tabela 4.6 – Factores Extraídos para os Dados de Sa nta Catarina – Após Rotação Varimax

Facto res Extraíd os = 73,414% da Variância Total

Variável Componente

Evasão como estratégia

competitiva

Evasão como estratégia

custo benefício

Julgamento de que o

sistema fiscal não é justo

Má imagem do sistema

fiscal

Dificuldade de lidar com

o sistema fiscal

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

,813

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

,794

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

,735

O sistema fiscal induz à informalidade ,603

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

,558 ,501

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

-,825

É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição

,706

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

,876

O sistema fiscal não promove equidade vertical

,752

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

,855

A carga tributária é excessiva ,614

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

,871

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212

iii. AS DIFERENÇAS DE RESULTADOS ENTRE OS ESTADOS

Na análise factorial, observa-se que há pequenas diferenças entre os dois

estados, na forma como as variáveis se agruparam em factores. Por exemplo, o

Julgamento de que o sistema fiscal não é justo agrupou, no Ceará, as

variáveis: O sistema fiscal não promove equidade horizontal, O sistema fiscal não

promove equidade vertical, A carga tributária é excessiva e A burocratização do

sistema é um indutor da evasão. O factor homónimo em Santa Catarina agrupou

apenas as duas primeiras das variáveis citadas.

Como outro exemplo importante, o factor Evasão como estratégia

custo/benefício agrupou, no Ceará, as variáveis É vantajoso praticar evasão,

mediante os possíveis custos de punição, O sistema fiscal tem pouca capacidade

de identificar e punir fraudes e Os clientes não julgam desfavoravelmente quem

pratica evasão. Em Santa Catarina, a segunda dessas variáveis aparece isolada

no último factor, e, nesse factor, foi substituída por A burocratização do sistema é

um indutor da evasão.

O mais importante é a constatação de que, em Santa Catarina, o factor

Evasão como estratégia competitiva agrupou cinco variáveis. O mais curioso é

que a variável A burocratização do sistema é um indutor da evasão aparece com

sinal negativo, na composição do factor A evasão como estratégia

custo/benefício .

Como se viu no item de contextualização da investigação, há diferenças

históricas, culturais, demográficas e económicas, dentre outras, que justificam a

existência de alguma diferença de percepção entre os empresários cearenses e

catarinenses quanto ao relacionamento das empresas com o sistema fiscal.

Ademais, sendo o Brasil uma república federativa, os estados e municípios

possuem prerrogativas legislativas que acabam por interferir na forma como os

sistemas fiscais específicos estabelecem os tributos, o que contribui para essas

diferenças de percepção, fazendo com que nenhum factor tenha a mesma

composição nos dois estados.

Na verdade, haverá de se observar nas Análises de Variância, adiante, que

essa diferença de percepção é bem menor, em termos estatísticos, do que se

pode depreender pela análise factorial.

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213

4.2.2.3. PARTILHAMENTO POR SECTOR DE ACTIVIDADE

i. INDÚSTRIA

As variáveis foram distribuídas em cinco factores que explicam 68,452% da

Variância Total (Tabela 4.7). A denominação dos factores obedeceu ao suporte

teórico do estudo. No primeiro factor, agruparam-se as variáveis Evasão pode ser

uma estratégia de sobrevivência, Pagar todas as obrigações fiscais implica perder

competitividade e A carga tributária é excessiva. Identificou-se esse factor pela

denominação Evasão como estratégia competitiva , à semelhança de factores

homónimos de outros tratamentos anteriores.

O segundo factor agrupou as variáveis É vantajoso praticar evasão

mediante os possíveis custos de punição, O sistema fiscal tem pouca capacidade

de identificar e punir fraudes e Os clientes não julgam desfavoravelmente quem

pratica evasão. Por isso, o factor recebeu a denominação Evasão como

estratégia custo/benefício .

No terceiro factor, agruparam-se as variáveis Falta confiança na aplicação

dos recursos tributários e O sistema fiscal induz à informalidade. Para esse factor,

foi dada a denominação Má imagem do sistema fiscal , porque as variáveis

significam uma reputação desfavorável ao sistema, à semelhança do ocorreu com

factores homónimos de análises anteriormente apresentadas.

No quarto factor reuniram-se as variáveis O sistema fiscal não promove

equidade horizontal e O sistema fiscal não promove equidade vertical. Identificou-

se esse factor com a denominação Julgamento de que o sistema fiscal não é

justo , por ser essa a interpretação oferecida pelas variáveis componentes.

No quinto factor agruparam-se as variáveis O sistema fiscal não promove

equidade vertical e A burocratização do sistema é um indutor da evasão. Essas

variáveis (nomeadamente a segunda) levaram à identificação desse factor como

Dificuldade de lidar com o sistema fiscal , mesma denominação adoptada para

factores semelhantes encontrados em análises anteriores.

Cabe observar que a variável Saber que os outros não pagam é um indutor

da evasão não compôs nenhum dos factores extraídos.

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214

Tabela 4.7 – Factores Extraídos para os Dados do Se ctor Indústria – Após Rotação Varimax

Facto res Extraíd os = 68,452% da Variância Total

Variável Componente

Evasão como estratégia

competitiva

Evasão como estratégia

custo/ benefício

Má imagem do sistema

fiscal

Julgamento de que o

sistema fiscal não é justo

Dificuldade de lidar com

o sistema fiscal

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

,804

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

,732

A carga tributária é excessiva ,602

É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição

,812

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

,662

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

,626

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

,888

O sistema fiscal induz à informalidade ,579

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

,870

O sistema fiscal não promove equidade vertical

,619 ,538

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

,918

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215

ii. COMÉRCIO E SERVIÇOS

Os cinco factores nos quais as variáveis se agruparam explicam 69,330%

da Variância Total (Tabela 4.8). Mais uma vez, procurou-se utilizar o suporte

teórico do estudo para se denominaem os factores, conforme as variáveis que os

constituem. O primeiro factor agrupou as variáveis O sistema fiscal induz à

informalidade, O sistema fiscal não promove equidade vertical e Falta confiança

na aplicação dos recursos tributários. O factor foi denominado Má imagem do

sistema fiscal , à semelhança de factores homónimos anteriores.

No segundo factor agruparam-se as variáveis Os clientes não julgam

desfavoravelmente quem pratica evasão, É vantajoso praticar evasão, mediante

os possíveis custos de punição e O sistema fiscal não promove equidade

horizontal. As variáveis indicam o entendimento de que há mais vantagens que

desvantagens em adoptar práticas de evasão fiscal. Por esse motivo, esse factor

recebeu a denominação Evasão como estratégia custo/benefício , a mesma

escolhida para factores semelhantes encontrados em outras análises.

No terceiro factor, agruparam-se as variáveis Pagar todas as obrigações

fiscais implica perder competitividade, Saber que os outros não pagam é um

indutor da evasão e Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência. O factor

recebeu a denominação Evasão como estratégia competitiva . Essa

interpretação se deu de forma semelhante àquela adoptada para factores

homónimos de análises anteriores.

No quarto factor foram reunidas as variáveis O sistema fiscal tem pouca

capacidade de identificar e punir fraudes e A burocratização do sistema é um

indutor da evasão. Ao se verificar que a primeira das variáveis aparece com sinal

negativo, optou-se por identificar esse factor com a denominação Dificuldade de

lidar com o sistema fiscal , considerando-se o significado da segunda variável.

No quinto factor aparece sozinha a variável A carga tributária é excessiva,

que levou à escolha da denominação Julgamento de que o sistema fiscal não é

justo , para manter a denominação dada a factores semelhantes, de tratamentos

anteriores.

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216

Tabela 4.8 – Factores Extraídos para os Dados do Se ctor Comércio e Serviços – Após Rotação Varimax

Facto res Extraíd os = 69,330% da Variância Total

Variável Componente

Má imagem do sistema

fiscal

Evasão como estratégia

custo/ benefício

Evasão como estratégia

competitiva

Dificuldade de lidar com

o sistema fiscal

Julgamento de que o

sistema fiscal não é justo

O sistema fiscal induz à informalidade ,792

O sistema fiscal não promove equidade vertical

,730

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

,665

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

,768

É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição

,731

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

,613

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

,720

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

,656

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

,642

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

-,792

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

,713

A carga tributária é excessiva ,846

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217

iii. AS DIFERENÇAS DE RESULTADOS ENTRE OS SECTORES DE ACTIVIDADE

Para o sector indústria, o factor Evasão como estratégia competitiva

agrupou as variáveis Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência, Pagar

todas as obrigações fiscais implica perder competitividade e A carga tributária é

excessiva. No sector comércio e serviços, a terceira variável foi substituída por

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão. Não há, portanto,

diferença significativa de percepção, na construção desse factor.

O factor Evasão como estratégia custo/benefício agrupou, para a

indústria, as variáveis É vantajoso praticar evasão mediante os possíveis custos

de punição, O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes e

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão. Para comércio e

serviços, a segunda variável é O sistema fiscal não promove equidade horizontal,

o que também não configura maior diferença.

Para os industriais, o factor Má Imagem do sistema fiscal agrupou as

variáveis Falta confiança na aplicação dos recursos tributários e O sistema fiscal

induz à informalidade. Para os empresários de comércio e serviços, esse factor

incluiu, ainda, a variável O sistema fiscal não promove equidade vertical. Mais

uma vez, não se configurou diferença significativa.

No sector industrial, o factor Julgamento de que o sistema fiscal não é

justo incluiu as variáveis O sistema fiscal não promove equidade horizontal e O

sistema fiscal não promove equidade vertical. No sector de comércio e serviços,

esse factor foi composto apenas pela variável A carga tributária é excessiva.

Observa-se que, nesse julgamento, os industriais consideram os diferentes tipos e

tamanhos de empresas. Já os empresários de comércio e serviços julgam o

sistema fiscal em si.

O factor Dificuldade de lidar com o sistema fiscal agrupou, para os

industriais, as variáveis O sistema fiscal não promove equidade vertical e A

burocratização do sistema é um indutor da evasão. No sector de comércio e

serviços, a primeira variável foi substituída pela variável O sistema fiscal tem

pouca capacidade de identificar e punir fraudes. Essa diferença indica que o

segundo grupo compreende melhor essa dificuldade de lidar com o sistema.

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218

4.2.2.4. PARTILHAMENTO POR TAMANHO DAS EMPRESAS

i. MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

A partir dos parâmetros estabelecidos para a análise, as variáveis se

agruparam em cinco factores, que explicam 67,251% da Variância Total (Tabela

4.9). Esse agrupamento facilitou a denominação dos factores, porque ocorreu de

forma coerente com o suporte teórico do estudo. No primeiro factor, agruparam-se

as variáveis Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência, Pagar todas as

obrigações fiscais implica perder competitividade, Saber que os outros não pagam

é um indutor da evasão e É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis

custos de punição. Por isso, o factor foi identificado como Evasão fiscal como

estratégia competitiva .

O segundo factor agrupou as variáveis O sistema fiscal não promove

equidade vertical, O sistema fiscal não promove equidade horizontal e A

burocratização do sistema é um indutor da evasão. À semelhança de casos

anteriores, escolheu-se a denominação Julgamento de que o sistema fiscal

não é justo .

Para o terceiro factor, foram agrupadas as variáveis Falta confiança na

aplicação dos recursos tributários e O sistema fiscal induz à informalidade. A

exemplo de factores semelhantes de tratamentos anteriores, esse factor recebeu

a denominação Má imagem do sistema fiscal .

O quarto factor agrupa as variáveis A burocratização do sistema é um

indutor da evasão e O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir

fraudes. A primeira das variáveis aparece no factor com carga negativa. Foi a

segunda variável que determinou a escolha da denominação Evasão como

estratégia custo/benefício . As expressões “custo” e “benefício” não têm

conotação apenas financeira, na denominação dos factores.

No quinto factor, aparece apenas a variável A carga tributária é excessiva.

Coerentemente com opções anteriores, escolheu-se para o factor a denominação

Dificuldade de lidar com o sistema fiscal .

A variável Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

não se agrupou em nenhum dos factores extraídos.

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219

Tabela 4.9 – Factores Extraídos para os Dados das

Micro e Pequenas Empresas – Após Rotação Varimax

Facto res Extraíd os = 67,251% da Variância Total

Variável Componente

Evasão como estratégia

competitiva

Julgamento de que o

sistema fiscal não é justo

Má imagem do sistema

fiscal

Evasão como estratégia

custo/ benefício

Dificuldade de lidar com

o sistema fiscal

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

,811

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

,760

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

,705

É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição

,541

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

O sistema fiscal não promove equidade vertical

,800

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

,701

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

,597 -,594

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

,820

O sistema fiscal induz à informalidade ,715

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

,811

A carga tributária é excessiva ,842

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220

ii. MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS

As variáveis se agruparam em cinco factores, que explicam 67,116% da

Variância Total (Tabela 4.10). Desse agrupamento, interpretaram-se os factores,

escolhendo-se suas denominações de forma coerente com o suporte teórico do

estudo.

No primeiro factor, agruparam-se as variáveis É vantajoso praticar evasão,

mediante os possíveis custos de punição, Os clientes não julgam

desfavoravelmente quem pratica evasão e O sistema fiscal tem pouca capacidade

de identificar e punir fraudes. Escolheu-se a denominação Evasão como

estratégia custo/benefício .

O segundo factor agrupou as variáveis O sistema fiscal não promove

equidade horizontal e O sistema fiscal não promove equidade vertical. As

variáveis revelam o sentimento de que as empresas são indevidamente tratadas

de igual forma, quando deveriam ser distinguidas, ou indevidamente tratadas de

forma desigual, quando deveriam ser igualmente tratadas. Por isso, escolhu-se a

denominação Julgamento de que o sistema fiscal não é justo .

No terceiro factor, foram agrupadas as variáveis Falta confiança na

aplicação dos recursos tributários, O sistema fiscal induz à informalidade e Saber

que os outros não pagam é um indutor da evasão. Esse factor recebeu a

denominação Má imagem do sistema fiscal , principalmente pela indicação das

duas primeiras variáveis.

O quarto factor foi compreendido pelas variáveis O sistema fiscal induz à

informalidade, A carga tributária é excessiva e Evasão pode ser uma estratégia de

sobrevivência. Coerentemente com denominações anteriormente escolhidas para

factores semelhantes, escolheu-se para esse factor a denominação Dificuldades

de lidar com o sistema fiscal .

O quinto factor agrupou as variáveis Saber que os outros não pagam é um

indutor da evasão, A burocratização do sistema é um indutor da evasão e Pagar

todas as obrigações fiscais implica perder competitividade. Escolheu-se para esse

factor a denominação Evasão como estratégia competitiva .

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221

Tabela 4.10 – Factores Extraídos para os Dados das

Micro e Pequenas Empresas – Após Rotação Varimax

Facto res Extraíd os – 67,116% da Variância Total

Variável Componente

Evasão como estratégia

custo/ benefício

Julgamento de que o

sistema fiscal não é justo

Má imagem do sistema

fiscal

Evasão como estratégia

competitiva

Dificuldade de lidar com

o sistema fiscal

É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição

,855

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

,683

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

,652

O sistema fiscal não promove equidade vertical

,739

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

,730

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

,811

O sistema fiscal induz à informalidade ,631 ,577

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

,560 ,511

A carga tributária é excessiva ,718

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

,682

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

,779

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

,640

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222

iii. DIFERENÇAS DE RESULTADO ENTRE OS TAMANHOS

Nas micro e pequenas empresas, o factor Evasão fiscal como estratégia

competitiva agrupou as variáveis Evasão pode ser uma estratégia de

sobrevivência, Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade,

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão e É vantajoso praticar

evasão, mediante os possíveis custos de punição. Nas grandes empresas, o

factor agrupou a segunda e terceira variáveis com A burocratização do sistema é

um indutor da evasão. Nas primeiras empresas, mais que nas segundas, há a

crença de que o sistema fiscal interfere na capacidade de competir.

O factor Julgamento de que o sistema fiscal não é justo , nas menores

empresas agrupou O sistema fiscal não promove equidade vertical, O sistema

fiscal não promove equidade horizontal e A burocratização do sistema é um

indutor da evasão. Nas empresas maiores, agrupou as duas primeiras, mas não

incluiu a última variável, indicando alguma diferença entre os dois grupos no item.

Má imagem do sistema fiscal , nas menores empresas, agrupou as

variáveis Falta confiança na aplicação dos recursos tributários e O sistema fiscal

induz à informalidade. Nas empresas maiores, acrescentou Saber que os outros

não pagam é um indutor da evasão. Não configura diferença significativa.

Nas micro e pequenas empresas, o factor Evasão como estratégia

custo/benefício agrupou A burocratização do sistema é um indutor da evasão

(com valor negativo) e O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e

punir fraudes. Nas maiores, agregou a segunda dessas variáveis a É vantajoso

praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição, e Os clientes não

julgam desfavoravelmente quem pratica evasão, indicando alguma diferença na

identificação das variáveis que indicam a vantagem de praticar a evasão fiscal.

Para as menores empresas, o factor Dificuldade de lidar com o sistema

fiscal agregou apenas a variável A carga tributária é excessiva. Nas maiores

empresas, o factor agrupou as variáveis Saber que os outros não pagam é um

indutor da evasão, A burocratização do sistema é um indutor da evasão e Pagar

todas as obrigações fiscais implica perder competitividade. Isso significa completa

disparidade de opiniões na construção do factor.

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223

4.2.3. RESULTADOS DAS ANÁLISES DE VARIÂNCIA SIMPLES (ANOVA)

Observa-se, com facilidade, que se identificam pequenas diferenças de

percepção nos segmentos de empresários, quando os dados são analisados de

forma partilhada em estados, sectores de actividade e tamanhos de empresas.

As estatísticas descritivas já identificavam alguma distinção entre as

opiniões, que foram evidenciadas ao se fazerem as análises factoriais com os

dados partilhados. As diferenças de percepção resultaram em distintas formas de

agrupamento das variáveis nos factores obtidos.

Além disso, é necessário informar que teriam sido extraídas quantidades

diferentes de factores dentro dos partilhamentos, caso não se houvesse “forçado”

a extracção de cinco factores em cada tratamento, de maneira a se alcançar a

explicação de, pelo menos, 65% das variâncias totais, e caso se houvesse

permanecido com a extracção inicial de factores com raízes latentes superiores a

1 (eigenvalues).

Ressalte-se que, sem a opção de “forçar” a extracção de cinco factores, a

análise factorial dos dados do Ceará resultou em cinco factores, enquanto a

análise dos dados de Santa Catarina resultou em apenas três factores. No caso

do partilhamento por sector de actividade, tanto a indústria como comércio e

serviços extraíram cinco factores. Para o partilhamento por tamanho de empresa,

foram extraídos quatro factores para as micro e pequenas e quatro para as

médias e grandes.

Quanto ao número de factores extraídos, portanto, o partilhamento por

estado apresentou diferença. Por outro lado, a forma de agrupamento das

variáveis em factores, como se viu, foi diferenciada, dentro dos partilhamentos.

Diante dessas diferenças, julgou-se necessário aprofundar a análise dos

dados, para que fosse possível identificar, exactamente, em que variáveis se

localizavam as diferenças de opinião e qual a sua grandeza, como forma de

possibilitar uma elaboração mais segura das conclusões a que se propunha o

presente estudo.

O modelo matemático utilizado é a expressão ou fórmula referenciada pela

expressão 3.1, em 3.8. Instrumental Estatístico, do Capítulo III – Metodologia.

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224

As Tabelas 4.11 a 4.13 apresentam os resultados das Análises de

Variância Simples, por localização, por sector de actividade e por tamanho das

empresas, respectivamente.

Note-se que nessas novas análises foram consideradas todas as variáveis,

inclusivamente a variável dependente A evasão pode ser considerada legítima.

Na apreciação dos resultados, devido à facilidade oferecida pelo software

SPSS® de apresentar os valores de significância para cada variável, decidiu-se

utilizar esses valores, em vez das estatísticas F, que exigiriam comparar os

valores calculados pelo software com os valores tabelados. Para melhor

apreciação, ambos os valores (estatísticas F e significância) constam nas tabelas.

Para rejeitar a hipótese de que não há diferença entre as médias, optou-se

por considerar valores de significância (Sig) inferiores a 0,05. Esse parâmetro é

uma medida usualmente aceite nas investigações académicas, porque assegura

níveis de confiança superiores a 95%.

Na apreciação da Análise de Variância Simples, com dados segmentados

por estado (Tabela 4.11), verificou-se que as únicas variáveis para as quais se

pode rejeitar a hipótese nula (não há diferença de percepção) são:

• O sistema fiscal não promove equidade horizontal (Sig = 0,036);

• É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição (Sig = 0,000);

• Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão (Sig = 0,000).

Pode-se afirmar que os empresários dos dois estados apenas têm

diferentes opiniões a respeito das afirmações que lhes foram apresentadas nas

três variáveis acima comentadas. Para as demais afirmativas, não se pode rejeitar

a hipótese nula. Porém, deve-se observar que para a primeira e a terceira

variáveis não se encontraram opiniões opostas. Simplesmente, têm-se diferentes

níveis de concordância com as afirmativas apresentadas.

Para a variável O sistema fiscal não promove equidade horizontal, os

números obtidos foram:

� Ceará: Média 3,63 e Desvio-padrão 1,403;

� Santa Catarina: Média 3,92 e Desvio-padrão 0,574.

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225

Significa dizer que os empresários catarinenses, mais do que os

cearenses, acreditam que o sistema fiscal brasileiro distingue, indevidamente,

empresas que deveriam receber tratamento idêntico.

Embora os cearenses também concordem com a afirmativa, os

catarinenses demonstram ter maior aversão a esse tratamento diferenciador.

Essa opinião, além de também evidenciada na análise factorial, havia sido

registada em investigação qualitativa já referida.

De facto, naquela altura foi possível constatar que os empresários de

Santa Catarina não apreciam a concessão de benesses ou incentivos fiscais,

preferindo uma situação em que cada um seja beneficiado pela sua própria

capacidade de produzir e comerciar bens e serviços.

A predominância de europeus na formação do povo catarinense e a grande

participação de alemães nessa formação podem, certamente, ajudar a explicar

essa sua maior convicção, dada a tendência à valorização do mérito e do esforço

entre esses povos, até mesmo pela formação religiosa (protestante) dessa

gente34.

Para a variável Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica

evasão, os números obtidos foram:

� Ceará: Média 3,40 e Desvio-padrão 1,552;

� Santa Catarina: Média 4,05 e Desvio-padrão 0,808.

Embora os empresários cearenses também indiquem acreditar nessa

afirmativa, a significativa média e o baixo desvio-padrão calculados para os

catarinenses indicam que há entre eles maior convicção de que os clientes

(sociedade) aceitam como legítima a evasão fiscal e não punem as empresas que

adoptam essa prática.

Foi possível identificar, em Santa Catarina, maior insatisfação com os

níveis de governo (federal, estadual e municipal). Isso provavelmente explica essa

crença. Essa maior insatisfação também fora detectada na investigação

qualitativa anteriormente realizada.

34 Veja-se a respeito do tema: A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber.

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226

Para a variável É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos

de punição ocorreu, de facto, uma oposição de apreciações. Enquanto os

empresários cearenses, em média, discordam da afirmativa (média inferior a 3,0),

os catarinenses concordaram com seu enunciado (média superior a 3,0).

Os números para essa variável foram:

� Ceará: Média 2,83 e Desvio-padrão 1,434;

� Santa Catarina: Média 3,46 e Desvio-padrão 1,092.

É provável que a reorganização havida no sistema fiscal cearense seja a

razão para a discordância, entre os empresários do Ceará, da afirmativa, já que

se tornaram mais frequentes os casos de punição por fraude. É possível, também,

que se tenha manifestado uma comentada, mas não confirmada, cautela, que

seria característica dos cearenses.

De facto, pode-se afirmar que:

1. Há diferença, mas não confronto, de opiniões entre os empresários do

Ceará e os de Santa Catarina quanto à afirmativa segundo a qual o

sistema fiscal não promove equidade horizontal, porquanto distingue

indevidamente empresas de mesmo ramo e mesmo tamanho. Os

catarinenses concordam mais do que os cearenses com a afirmativa,

sendo estatisticamente significante essa diferença de concordância.

2. Há diferença de opiniões, também sem confronto, entre os empresários

dos dois estados quanto à afirmativa segundo a qual os clientes não

julgam desfavoravelmente quem pratica evasão. Também para essa

afirmativa, os catarinenses concordam mais do que os cearenses.

Essa diferença nos níveis de concordância mostra-se estatisticamente

significante.

3. Há uma diferença, com confronto de opiniões, entre os empresários do

Ceará e os de Santa Catarina quanto ao entendimento de que seja

financeiramente vantajoso praticar evasão fiscal. Esse confronto é

estatisticamente significante, sendo que os cearenses discordam da

afirmativa, enquanto os catarinenses concordam com seu enunciado.

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227

Tabela 4.11 – Análise de Variância Simples Entre Ceará e Santa Catarina

Fonte de Variação Soma dos Quadrados

Graus de Liberdade Média F Sig

A evasão pode ser considerada legítima

Entre os Grupos 0,017 1 0,017 0,009 0,924 Nos Grupos 432,317 238 1,816 Total 432,333 239

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

Entre os Grupos 0,204 1 0,204 0,114 0,736 Nos Grupos 426,592 238 1,792

Total 426,796 239

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

Entre os Grupos 4,004 1 4,004 2,283 0,132 Nos Grupos 417,492 238 1,754 Total 421,496 239

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

Entre os Grupos 0,004 1 0,004 0,002 0,965 Nos Grupos 509,292 238 2,140 Total 509,296 239

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

Entre os Grupos 1,667 1 1,667 1,717 0,191 Nos Grupos 230,983 238 0,971 Total 232,650 239

O sistema fiscal não promove equidade vertical

Entre os Grupos 0,938 1 0,938 1,128 0,289 Nos Grupos 197,725 238 0,831 Total 198,663 239

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

Entre os Grupos 5,104 1 5,104 4,445 0,036 Nos Grupos 273,292 238 1,148 Total 278,396 239

O sistema fiscal induz à informalidade

Entre os Grupos 0,204 1 0,204 0,168 0,682 Nos Grupos 288,958 238 1,214 Total 289,163 239

A carga tributária é excessiva

Entre os Grupos 0,267 1 0,267 0,380 0,538 Nos Grupos 167,133 238 0,702 Total 167,400 239

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

Entre os Grupos 0,817 1 ,817 1,286 0,258 Nos Grupos 151,183 238 ,635 Total 152,000 239

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

Entre os Grupos 1,204 1 1,204 0,770 0,381 Nos Grupos 372,092 238 1,563

Total 373,296 239

É vantajoso praticar evasão mediante os possíveis custos de punição

Entre os Grupos 23,438 1 23,438 14,434 0,000 Nos Grupos 386,458 238 1,624

Total 409,896 239

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

Entre os Grupos 25,350 1 25,350 16,552 0,000 Nos Grupos 364,500 238 1,532 Total 389,850 239

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228

Examinando-se a Análise de Variância Simples, com dados segmentados

por sector de actividade (Tabela 4.12), é fácil observar que a única variável para a

qual se pode rejeitar a hipótese nula (não há diferença de percepção) é A

burocratização do sistema é um indutor da evasão (Sig = 0,049).

Para as demais variáveis, não se constataram diferenças estatisticamente

significativas, nem se pode rejeitar a hipótese nula de que não há diferença

estatisticamente significativa nas opiniões entre tratamentos.

Portanto, pelo critério estabelecido, não é possível afirmar que haja

discordância de percepção, mas, apenas, que os empresários dos dois sectores

de actividade apresentam diferenças estatisticamente significativas nos níveis de

concordância com a afirmativa que lhes foi apresenta na variável acima.

Os industriais concordaram mais que os empresários do sector comércio e

serviços com a afirmativa de que A burocratização do sistema fiscal induz as

empresas à prática de evasão. As médias e desvios-padrão foram,

respectivamente, 4,45 e 4,20, 0,960 e 1,001.

Não se trata, assim, de opiniões opostas. Não há confronto de opiniões,

mas diferença nos níveis de concordância.

Pode-se entender que não há, efectivamente, uma diferença de

entendimento entre os empresários dos dois sectores de actividade sobre o

relacionamento das empresas com o sistema fiscal. As diferentes naturezas das

actividades a que se dedicam não fazem com que sejam distintas as opiniões dos

empresários.

Cabe observar que, excepto quanto à variável considerada como

independente, todas as variáveis apresentaram médias superiores a 3,0,

significando que houve concordância de ambos os sectores de actividade com

relação às afirmativas apresentadas. A afirmativa da variável independente de

que A evasão pode ser considerada legítima mesmo não sendo legal teve média

inferior a 3,0, para ambos os sectores.

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229

Tabela 4.12 – Análise de Variância Simples Entre os Sectores de Actividade Indústria e Comérci o e Serviços

Fonte de Variação Soma dos Quadrados

Graus de Liberdade Média F Sig

A evasão pode ser considerada legítima

Entre os Grupos 2,017 1 2,017 1,115 0,292 Nos Grupos 430,317 238 1,808 Total 432,333 239

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

Entre os Grupos 0,038 1 0,038 0,021 0,885 Nos Grupos 426,758 238 1,793

Total 426,796 239

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

Entre os Grupos 2,204 1 2,204 1,251 0,264 Nos Grupos 419,292 238 1,762 Total 421,496 239

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

Entre os Grupos 2,204 1 2,204 1,035 0,310 Nos Grupos 507,092 238 2,131 Total 509,296 239

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

Entre os Grupos 3,750 1 3,750 3,899 0,049 Nos Grupos 228,900 238 0,962 Total 232,650 239

O sistema fiscal não promove equidade vertical

Entre os Grupos 1,204 1 1,204 1,451 0,229 Nos Grupos 197,458 238 0,830 Total 198,663 239

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

Entre os Grupos 1,204 1 1,204 1,034 0,310 Nos Grupos 277,192 238 1,165 Total 278,396 239

O sistema fiscal induz à informalidade

Entre os Grupos 4,004 1 4,004 3,342 0,069 Nos Grupos 285,158 238 1,198 Total 289,163 239

A carga tributária é excessiva

Entre os Grupos 0,017 1 0,017 0,024 0,878 Nos Grupos 167,383 238 0,703 Total 167,400 239

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

Entre os Grupos 2,400 1 2,400 3,818 0,052 Nos Grupos 149,600 238 0,629 Total 152,000 239

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

Entre os Grupos 0,704 1 0,704 0,450 0,503 Nos Grupos 372,592 238 1,566

Total 373,296 239

É vantajoso praticar evasão, devido aos possíveis custos de punição

Entre os Grupos 0,338 1 0,338 0,196 0,658 Nos Grupos 409,558 238 1,721

Total 409,896 239

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

Entre os Grupos 0,150 1 0,150 0,092 0,762 Nos Grupos 389,700 238 1,637 Total 389,850 239

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230

A Análise de Variância Simples, com dados segmentados por Tamanho de

Empresa (Tabela 4.13), admite observar que a única variável para a qual se pode

rejeitar a hipótese nula (não há diferença de percepção) é Evasão pode ser uma

estratégia de sobrevivência (Sig = 0,022).

Para as demais variáveis, não foi encontrada diferença estatisticamente

significante, o que faz com que não se possa rejeitar a hipótese nula de que não

há diferença estatisticamente significativa nas opiniões entre tratamentos.

Pelo critério estabelecido, só se pode afirmar que os empresários de

ambos os grupos de tamanho de empresa (micro/pequenas e médias/grandes)

apresentam diferenças estatisticamente significativas nos níveis de concordância

com a afirmativa de que se pode praticar evasão fiscal procurando a

sobrevivência da empresa.

Os empresários de micro e pequenas empresas concordaram mais que os

de médias e grandes empresas com essa afirmativa, o que é perfeitamente

compreensível, tendo em vista que as menores empresas se encontram na fase

do chamado “darwinismo organizacional”.

Quanto à variável onde se constata a discrepância de opiniões, mais uma

vez não se trata de oposição de opiniões, mas de diferentes níveis de

concordância com a afirmativa.

Aqui, também se pode entender que não há, de facto, uma diferença de

entendimento entre os empresários dos dois grupos de dimensões de empresas

sobre o seu relacionamento com o sistema fiscal. Os diferentes tamanhos não

fazem com que haja distinção significante na opinião geral dos empresários.

Observe-se que, apesar de não ser estatisticamente significante, pelos

critérios utilizados na Análise de Variância Simples, houve um confronto de

opiniões quanto à afirmativa da variável considerada como independente. A

média dos empresários de micro e pequenas empresas foi 2,68, indicando

discordância, e a dos empresários de médias e grandes empresas foi 3,63,

indicando concordância com a afirmativa de que as práticas de evasão fiscal pode

ser considerada legítima, mesmo não sendo legal.

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231

Tabela 4.13 – Análise de Variância Simples Entre Tamanhos de Empresas – Micro/Pequenas e Média s/Grandes

Fonte de Variação

Soma dos Quadrados

Graus de Liberdade Média F Sig

A evasão pode ser considerada legítima

Entre os Grupos 2,400 1 2,400 1,329 0,250 Nos Grupos 429,933 238 1,806 Total 432,333 239

Pagar todas as obrigações fiscais implica perder competitividade

Entre os Grupos 3,038 1 3,038 1,706 0,193 Nos Grupos 423,758 238 1,780 Total 426,796 239

Evasão pode ser uma estratégia de sobrevivência

Entre os Grupos 9,204 1 9,204 5,313 0,022 Nos Grupos 412,292 238 1,732 Total 421,496 239

Saber que os outros não pagam é um indutor da evasão

Entre os Grupos 4,538 1 4,538 2,139 0,145 Nos Grupos 504,758 238 2,121 Total 509,296 239

A burocratização do sistema é um indutor da evasão

Entre os Grupos 1,667 1 1,667 1,717 0,191 Nos Grupos 230,983 238 0,971 Total 232,650 239

O sistema fiscal não promove equidade vertical

Entre os Grupos 0,704 1 0,704 0,847 0,358 Nos Grupos 197,958 238 0,832 Total 198,663 239

O sistema fiscal não promove equidade horizontal

Entre os Grupos 1,838 1 1,838 1,581 0,210 Nos Grupos 276,558 238 1,162 Total 278,396 239

O sistema fiscal induz à informalidade

Entre os Grupos 0,338 1 0,338 0,278 0,598 Nos Grupos 288,825 238 1,214 Total 289,163 239

A carga tributária é excessiva

Entre os Grupos 0,600 1 0,600 0,856 0,356 Nos Grupos 166,800 238 0,701 Total 167,400 239

Falta confiança na aplicação dos recursos tributários

Entre os Grupos 2,017 1 2,017 3,200 0,075 Nos Grupos 149,983 238 0,630 Total 152,000 239

O sistema fiscal tem pouca capacidade de identificar e punir fraudes

Entre os Grupos 1,838 1 1,838 1,177 0,279 Nos Grupos 371,458 238 1,561 Total 373,296 239

É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição

Entre os Grupos 0,338 1 0,338 0,196 0,658 Nos Grupos 409,558 238 1,721

Total 409,896 239

Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão

Entre os Grupos 2,017 1 2,017 1,238 0,267 Nos Grupos 387,833 238 1,630 Total 389,850 239

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232

4.2.4. RESULTADOS DA ANÁLISE DE VARIÂNCIA PLURIFACT ORIAL (MANOVA)

Diante dos resultados obtidos nas Análises de Variância Simples (ANOVA),

já apresentadas, optou-se por aplicar uma Análise de Variância Plurifactorial

(MANOVA), para se verificar se havia alguma diferença de percepção entre um e

qualquer outro dos segmentos, obedecidos os critérios pelos quais foram

partilhados os dados obtidos na investigação.

Os critérios de partilhamento adoptados na MANOVA foram, portanto, os

mesmos das ANOVAS, ou seja:

� Estado de localização (Ceará e Santa Catarina);

� Sector de actividade (indústria e comércio e serviços);

� Tamanho da empresa (micro/pequenas e médias/grandes).

O modelo matemático utilizado é o referido pela expressão 3.2 do Capítulo

III.

A Tabela 4.14 indica que não há, de facto, nenhuma divergência de

percepção que seja estatisticamente significante, para um nível de significância

de 0,05, entre quaisquer dos segmentos tomados e os demais segmentos,

utilizando-se o critério acima referido.

Como se observa, o menor valor do nível de significância foi obtido na

relação sector/tamanho, com 0,068. Mesmo assim, esse valor ficou acima do

nível de significância adoptado a priori nesta análise (α = 0,05).

As informações obtidas com esta análise reforçam as conclusões a que se

chegou com o modelo simples apresentado em 4.2.3; ou seja, as percepções dos

inquiridos são homogéneas, para todos os critérios de partilhamento adoptados,

inclusivamente suas combinações.

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233

Tabela 4.14 – Análise de Variância Plurifactorial ( MANOVA) Considerando como Segmentos Principais o Estado de Localização, o

Sector de Actividade e o Tamanho das Empresas

Fonte de Variação Soma dos Quadrados

Grau de Liberdade Média F Sig

Estado ,02 1 ,02 ,01 ,923

Sector 2,02 1 2,02 1,13 ,290

Tamanho 2,40 1 ,248 1,34 ,248

Estado/Sector 4,27 1 ,124 2,38 ,124

Estado/Tamanho 1,35 1 ,386 ,75 ,386

Sector/Tamanho 6,02 1 ,068 3,36 ,068

Estado/Sector/Tamanho ,60 1 ,563 ,33 ,563

Erro 415,67 232 1,79

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234

4.2.5. RESULTADOS DA APLICAÇÃO DA REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA

Para os estudos de regressão, os factores extraídos assumiram o papel de

variáveis independentes. Para a relação entre a variável dependente e as novas

variáveis (os factores extraídos), foi utilizado o seguinte modelo matemático:

SLE = α + β1 ECP + β2 ECB + β3 MIS + β4 DLS + β5 JSF + ε

onde:

• SLE = sentimento de legitimidade para a prática de evasão fiscal (variável dependente)

• α = constante (ordenada na origem)

• βi = coeficiente da variável (factor) i

• ECP = Factor – Evasão como Estratégia Competitiva

• ECB = Factor – Evasão como Estratégia Custo/Benefício

• MIS = Factor – Má Imagem do Sistema Fiscal

• DLS = Factor – Dificuldade de Lidar com o Sistema Fiscal

• JSF = Factor – Julgamento de que o Sistema Fiscal não é Justo

• ε = Erro.

Com o objectivo de apenas reter as novas variáveis mais importantes para

aplicar o “sentimento de legitimidade para a prática da evasão fiscal”, optou-se

por utilizar o método stepwise para cada uma das dimensões a analisar.

Utilizando o teste F e um valor de α = 0,05 para a retenção das variáveis,

os modelos estimados são aqueles que se encontram na Tabela 4.14. Cabe

observar que as células em branco, na referida Tabela, significam variáveis

(factores) que não foram retidas pelo método stepwise, obedecidos os critérios

estabelecidos.

Coerentemente com os resultados já comentados, o factor mais presente é

Evasão como estratégia competitiva , seguido de Evasão como estratégia

custo/benefício . O factor Julgamento de que o sistema fiscal não é justo não

foi retido em nenhum dos tratamentos.

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235

Tabela 4.15 – Coeficientes Encontrados no Tratament o de Regressão Linear (Método Stepwise )

α βECP βECB βMIS βDLS βJSF

Dados Completos 2,583 0,275 0,256

Ceará 2,592 0,220

Santa Catarina 3,325 0,813

Sector Indústria 2,492 0,247 0,217 0,176

Sector Comércio e Serviços 2,675 0,394 0,200 0,187 - 0,163

Micro e Pequenas Empresas 2,683 0,311 - 0,244

Médias e Grandes Empresas 2,483 0,274 0,309 0,170

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236

Para os dados completos, o método reteve duas variáveis, indicando que,

no geral, há o entendimento de que a evasão fiscal pode ser aceita como legítima,

mesmo não sendo legal, se configurada como estratégia competitiva e como

estratégia custo/benefício.

Considerando-se apenas os dados do Ceará, o resultado do tratamento

indica que haveria a propensão de julgar a evasão fiscal com legítima, apenas

como estratégia custo/benefício, o que apontaria uma tendência utilitarista

absoluta e imediatista nas decisões cearenses pela tax compliance ou pela tax

avoidance.

Diferentemente dos empresários do Ceará, em Santa Catarina

compreende-se a evasão fiscal como legítima, apenas como estratégia

competitiva. Embora também utilitarista, esse entendimento é relativizado e

mediato.

O segmento indústria entende que a evasão fiscal pode ser considerada

legítima, se for caracterizada como estratégia competitiva ou como estratégia

custo/benefício e, ainda, quando a empresa sinta dificuldade de lidar com o

sistema fiscal.

Para o sector comércio e serviços, acrescenta-se a má imagem do sistema

fiscal como uma razão para aumentar a propensão a considerar a evasão fiscal

como legítima. Ressalte-se que, para esse sector, a dificuldade de lidar com o

sistema tem influência inversa na propensão a considerar a evasão fiscal como

legítima.

Na Tabela 4.8, o factor que se refere a essa dificuldade agrupou com sinal

negativo a variável que trata da pouca capacidade de o sistema fiscal punir

fraudes. Significa dizer que os comerciantes e prestadores de serviço consideram

que há, sim, capacidade punitiva no sistema fiscal e que isso significa uma

dificuldade de lidar com o sistema, explicando o sinal negativo do βDLS para

esse segmento. Ou seja: a capacidade que tem o sistema fiscal de punir fraudes

funciona como inibidor da propensão a considerar a evasão como legítima.

Os dados das micro e pequenas empresas indicam que os factores que

interferem na propensão a julgar a evasão fiscal como legítima são a utilização

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237

dessa evasão como estratégia competitiva e a dificuldade de lidar com o sistema

fiscal, este com sinal negativo. Diferentemente do que ocorreu com o sector

comércio e serviços, não há uma variável associada a esse factor que tenha sido

agrupada com sinal negativo.

Na verdade, apenas a variável A carga tributária é excessiva está

compondo esse factor, no segmento sob comentário (Tabela 4.9). O resultado da

regressão permitiria, então, entender que os empresários das micro e pequenas

empresas estariam mais propensos à obediência fiscal, quanto mais sentissem

que a carga tributária é excessiva. Isso só não é um contra-senso se esse

segmento tiver, improvavelmente, desenvolvido a noção de que o aumento do

número de contribuintes que cumprem suas obrigações fiscais resultará em

redução da carga fiscal individual.

Não se chegou a abordar essa compreensão nas questões formuladas,

nem foi possível desvendar esse achado estatístico com os dados de que se

dispõe.

Com os dados das médias e grandes empresas, obteve-se que os factores

que influenciam a propensão a julgar a evasão fiscal como legítima são a

compreensão dessa prática como estratégia competitiva e como estratégia

custo/benefício, além da má imagem do sistema fiscal.

Todos os factores retidos com sinal positivo nos modelos estimados estão

coerentemente alinhados com o suporte teórico deste estudo. Um dos dois

factores que foram retidos com valores negativos também foi explicado de forma

coerente com o referencial teórico. O outro achado poderá ser explorado por

estudos posteriores.

Concluída a apresentação e análise dos resultados, seguem-se as

interpretações dos resultados e as principais conclusões deste estudo, bem como

as suas limitações, além de se comentar sobre potenciais trabalhos a

desenvolverem este tema sob futuras investigações.

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238

PARTE III

INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES

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239

CAPÍTULO V – CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E

RECOMENDAÇÕES

5.1. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

A interpretação dos resultados é feita a partir das hipóteses de trabalho

definidas em 3.7, como segue.

Examinando-se os resultados relativos à hipótese H1, pode-se afirmar que,

coerentemente com o referencial teórico, evidenciou-se mais concordância que

discordância com as afirmativas que constituem as variáveis justificadoras da

prática da evasão fiscal. Quase todas as médias obtidas pelas variáveis ficaram

acima de 3,0. Ressalte-se que não há a ocorrência de outliers, e os desvios-

padrão são pequenos.

Apesar dessa constatação, é importante lembrar que:

1. A variável dependente só apresentou média superior a 3,0 num dos

tratamentos (Médias e Grandes Empresas), significando que, no geral,

os empresários inquiridos não concordam com a afirmativa de que

Dadas as condições brasileiras, a evasão fiscal praticada por algumas

empresas pode ser considerada legítima, mesmo não sendo legal.

2. Não houve concordância dos empresários cearenses com a afirmativa

de que Geralmente, é vantajoso praticar evasão fiscal, levando-se em

conta o benefício financeiro imediato em relação ao custo de uma

eventual autuação. A média foi 2,83.

Testando a hipótese H2, observa-se que as variáveis se agruparam em

factores semelhantes, comparando os diversos tratamentos (dados completos,

dados partilhados por estado, dados partilhados por sector de actividade e dados

partilhados por tamanho de empresa). Isso possibilitou que se adoptassem

denominações homónimas para os factores, em todos os tratamentos, quais

sejam:

• Evasão como estratégia competitiva;

• Evasão como estratégia custo/benefício ;

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240

• Má imagem do sistema fiscal ;

• Dificuldade de lidar com o sistema fiscal ;

• Julgamento de que o sistema fiscal não é justo .

Evidentemente, um ou outro factor apresentou agrupamento diferente em

diferentes tratamentos, sem que isso implicasse uma variação a justificar outras

denominações para os factores, tendo em vista a sustentação dada pelas outras

variáveis componentes. Todas as denominações escolhidas guardaram coerência

com a teoria de suporte do estudo e com as semelhanças dos factores entre os

diferentes tratamentos.

Para a confirmação ou negação das hipóteses H3 a H5, surgiu a

necessidade de aprofundar a comparação entre opiniões, confrontando-se os

partilhamentos, para identificar onde e em que intensidade ocorriam diferenças.

Para isso, utilizaram-se as Análises de Variância Simples e Plurifactorial, o que

possibilitou testar as hipóteses.

A hipótese H3 estabelece que não há diferença significativa de opiniões

entre os empresários do Ceará e os de Santa Catarina, configurando-se uma

maior influência da cultura nacional que da cultura regional na percepção dos

empresários brasileiros. Pelo critério definido na Análise de Variância Simples,

dentre as treze variáveis que compõem o estudo, houve diferença

estatisticamente significante em apenas três delas, a saber:

• O sistema fiscal não promove equidade horizontal;

• É vantajoso praticar evasão, mediante os possíveis custos de punição;

• Os clientes não julgam desfavoravelmente quem pratica evasão.

Como já informado, não se pode falar que haja confronto entre as opiniões

dos empresários dos dois estados, quanto à primeira e à terceira variável (O

sistema tributário brasileiro não promove equidade horizontal, porquanto distingue

indevidamente empresas de mesmo ramo e mesmo tamanho e Os clientes de

uma empresa não a julgam desfavoravelmente pela prática de evasão fiscal). O

que há, de facto, nos dois casos, são diferentes níveis de concordância com as

afirmativas apresentadas, constatando-se que os cearenses concordaram um

pouco menos que os catarinenses com as afirmativas, a partir da análise das

médias e dos desvios-padrão calculados para as variáveis, nos dois grupos.

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241

Houve diferença de opinião, de facto, quanto à afirmativa Geralmente, é

vantajoso praticar evasão fiscal, levando-se em conta o benefício financeiro

imediato em relação ao custo de uma eventual autuação. Os empresários

cearenses discordam da afirmativa (média 2,83 e desvio-padrão 1,434), enquanto

os catarinenses concordam (média 3,46 e desvio-padrão 1,092). Assim, por muito

pouco, é possível negar a terceira hipótese.

A hipótese H4 diz que não há diferença significante de opiniões entre os

empresários dos sectores de actividade estudados (indústria e comércio e

serviços). Dentre as treze variáveis estudadas na Análise de Variância Simples,

houve diferença estatisticamente significante apenas na variável relativa à

afirmativa O sistema tributário brasileiro caracteriza-se pela imensa variedade de

tributos, com diferentes alíquotas, é burocratizado, e suas normas mudam com

elevada frequência.

Mais uma vez, não se trata de confronto de opiniões, mas de diferença nos

níveis de concordância. Os empresários da indústria (Média 4,45 e Desvio-padrão

0,960) registaram maior concordância que os empresários de comércio e serviços

(média 4,20 e desvio-padrão 1,001). Efectivamente, não se pode negar que a

quarta hipótese é verdadeira.

A hipótese H5 estabelece que não há diferença significativa de opiniões

entre os empresários dos dois segmentos de tamanho de empresa

(micro/pequena e média/grande). A Análise de Variância Simples informa que

houve diferença estatisticamente significante apenas na variável que mede a

concordância com a afirmativa A evasão fiscal significa, muitas vezes, uma

decisão estratégica, e faz a diferença entre a sobrevivência e o fechamento da

empresa que a põe em prática.

Os empresários de micro e pequena empresa (média 3,65 e desvio-padrão

1,275) têm índice mais elevado de concordância com a afirmativa que os

empresários de média e grande empresa (média 3,26 e desvio-padrão 1,357), o

que também não configura confronto de opiniões, mas, apenas, diferenças nos

níveis de concordância. Vale dizer que a quinta hipótese também não pode ser

negada.

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242

A Análise de Variância Plurifactorial (MANOVA) reforça as constatações de

que não há diferença significantiva de opinião entre os vários segmentos nos

quais a amostra foi partilhada, podendo-se afirmar que há homogeneidade de

percepção entre os empresários brasileiros.

Para a verificação das três últimas hipóteses, foi necessário aplicar aos

dados o tratamento de Regressão Linear Múltipla, com opção Stepwise. Observe-

se que não seria havia a intenção construir um modelo de predição, mas apenas

de explicação, como já referido, possibilitando identificar os factores realmente

determinantes na propensão à evasão fiscal, e quais os seus sinais.

Os tratamentos de Regressão resultaram nos seguintes modelos

estimativos:

• Para dados completos

� SLE = 2,583 + 0,275ECP + 0,256ECB + Є;

• Para o Ceará

� SLE = 2,592 + 0,220ECB + Є;

• Para Santa Catarina

� SLE = 3,325 + 0,813ECP + Є;

• Para o sector indústria

� SLE = 2,492 + 0,247ECP + 0,217ECB + 0,176DLS + Є;

• Para o sector comércio e serviços

� SLE = 2,675 + 0,394ECP + 0,200ECB + 0,187MIS – 0,163DLS + Є;

• Para micro e pequenas empresas

� SLE = 2,683 + 0,311ECP – 0,244DLS + Є;

• Para médias e grandes empresas

� SLE = 2,483 + 0,274ECP + 0,309ECB + 0,70MIS + Є.

Pelos resultados gerados, vale afirmar que a hipótese H6 pode ser negada,

dado que nem todos os factores obtidos têm correlação positiva com a variável

dependente em todos os modelos, como se pode observar pelos resultados. O

factor Dificuldade de lidar com o sistema tem o valor de β negativo, tanto para

os dados do sector de actividade comércio e serviços, como para os dados de

micro e pequenas empresas.

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243

No primeiro caso, identificou-se a razão de esse sinal ser negativo, como já

registado. No segundo caso, os dados disponíveis não possibilitam uma

apreciação definitiva, razão pela qual sugere-se adiante o aprofundamento do

estudo, nesse aspecto.

A hipótese H7 (todos os factores são significativos na explicação da

variável dependente) foi negada pelos resultados da Regressão Linear Múltipla

Stepwise, já que nenhum dos modelos estimados contém todos os factores, como

segue:

• O factor Evasão como estratégia competitiva não foi retido pelo

modelo estimado para os dados do Ceará;

• O factor Evasão como estratégia custo/benefício não foi retido

pelo modelo estimado para os dados de Santa Catarina e das micro

e pequenas empresas;

• O factor Má imagem do sistema fiscal só foi retido para os grupos

sector comércio e serviços e médias e grandes empresas;

• O factor Dificuldade de lidar com o sistema fiscal foi retido com

sinal positivo para o grupo indústria e com valor negativo para os

grupos comércio e serviços e micro e pequenas empresas;

• O factor Julgamento de que o sistema fiscal não é justo , não foi

considerado relevante em nenhum dos modelos estimativos.

A oitava e última hipótese (há equilíbrio entre as razões de ordem

pragmática e as de ordem emocional na propensão à evasão fiscal) também foi

negada. Os factores mais significativos foram Evasão como estratégia

competitiva e Evasão como estratégia custo/benefício , tendo sido retidos em

quase todos os segmentos, conforme se observa no parágrafo anterior.

Resumidamente, conclui-se que:

• há mais concordância que discordância com as afirmativas que

constituem as variáveis;

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244

• as variáveis se agrupam em factores semelhantes, para todos os

tratamentos (dados completos, dados partilhados por estado, dados

partilhados por sector de actividade e dados partilhados por tamanho de

empresa);

• há apenas uma diferença significante de opiniões entre os empresários

do Ceará e os de Santa Catarina. Os cearenses discordam de que seja

vantajosa a prática de evasão fiscal, devido aos riscos de uma punição;

• não há diferença significante de opiniões entre os empresários do

sector de actividade indústria e os do setor comércio e serviços;

• não há diferença significante de opiniões entre os empresários das

micro e pequenas empresas e os das médias e grandes empresas;

• os factores de carácter mais pragmático e estratégico (Estratégia

competitiva e Estratégia de custo/benefício ) são os mais

significativos na explicação da propensão pela evasão fiscal.

5.2. LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

A investigação que suporta empiricamente esta tese limitou-se a levantar

dados em dois estados brasileiros. Embora tenham sido, conscientemente,

trabalhadas duas realidades diferentes, em termos geo-topográficos,

demográficos, culturais, históricos e económicos, entre outros aspectos, não se

pode extrapolar para todo o país as conclusões a que se chegou.

O fato de haver semelhança de percepções entre os empresários

cearenses e os catarinenses inquiridos, mesmo diante de tantas diferenças entre

as duas realidades, não autoriza a crer que essas percepções sejam as mesmas

para todo o território brasileiro, embora pareça ser um indício disso.

Assim, a replicação desta investigação em outros estados poderá ajudar a

compor um mosaico onde se vislumbrem as opiniões dos empresários brasileiros

a respeito do sistema fiscal do país, além de ajudar a melhor compreender como

essas opiniões podem interferir na propensão a utilizar práticas de evasão fiscal.

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245

Sugere-se, portanto, que outros investigadores repliquem este estudo em,

pelo menos, um estado de cada uma das outras regiões do Brasil (Norte, Centro-

Oeste e Sudeste), já que o trabalho contemplou um estado da Região Nordeste

(Ceará) e outro da Região Sul (Santa Catarina).

Também é necessário investigar por que os empresários de micro e

pequenas empresas associaram negativamente a Dificuldade de lidar com o

sistema fiscal com a crença de que a evasão fiscal pode ser considerada

legítima, quando se esperava o contrário.

Outra possibilidade de enriquecimento deste estudo é a oportunidade de

replicá-lo no futuro, quando (e se) o país chegar a implementar a Reforma Fiscal

que vem sendo anunciada. A implementação das alterações reclamadas pela

sociedade e acenada pelos poderes públicos oferecerá a oportunidade de

verificar se, efectivamente, haverá mudança nas opiniões dos empresários a

respeito do sistema fiscal.

Ainda mais, possibilitará verificar se haverá modificações nas estatísticas

que medem a carga fiscal como proporção do PIB e os níveis e valores da evasão

fiscal praticada pelas empresas.

Espera-se que algumas destas respostas possam ser dadas em

investigação futura para melhor compreensão do fenómeno da evasão fiscal por

parte das empresas brasileiras.

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246

PARTE IV

REFERÊNCIAS, APÊNDICES E ANEXO

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247

VII – APÊNDICES

7.1. INFORMAÇÕES SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA

Considerado um país “em desenvolvimento”, o Brasil apresenta números

continentais no que se refere a área e população: ocupa a maior parte do território

da América do Sul, com 8,514 milhões de km2, e abriga uma população superior a

185 milhões de habitantes (IBGE, 2006).

Governada sob regime presidencialista, a República Federativa do Brasil

compõe-se de 26 estados e um Distrito Federal, onde se encontra Brasília, a

capital do país. Os estados, por sua vez, são subdivididos em municípios. Os

estados e o Distrito Federal contam com os poderes Executivo, Legislativo e

Judiciário, enquanto os municípios possuem os poderes Executivo e Legislativo.

Os chefes dos poderes executivos federal, estaduais e municipais –

presidente, governadores e prefeitos, respectivamente – são eleitos pelo voto

directo. Da mesma forma são eleitos os representantes das casas legislativas:

deputados federais e senadores, no âmbito federal; deputados estaduais, no caso

dos estados (excepto o Distrito Federal); e vereadores, no caso dos municípios.

A vida média do brasileiro, que era de 45,5 anos de idade, em 1940,

elevou-se para 62,6 anos em 1980 (IBGE, 2004), chegando a romper a barreira

dos 70 anos por volta do ano 2000, atingindo os 71,7 anos em 2004 e 71,9 anos

em 2005. Projecta-se que a esperança de vida ao nascer dos brasileiros

ultrapasse os 80 anos na altura do ano 2050, alcançando o índice que hoje se

verifica no Japão (81,3 anos).

Na altura do Censo 2000, a População Economicamente Activa (PEA)

brasileira era constituída de 56,4% da sua população total. Em termos de

remuneração mensal, 25% da PEA recebiam até um salário mínimo (SM)35; pouco

mais da metade recebiam até dois SM; e pouco mais de 2,5% recebiam acima de

vinte SM. Essa situação se agravava para o género feminino, constatando-se que,

dentre as mulheres, 38,9% percebiam remuneração inferior a um SM, enquanto

apenas 1,7% tinham rendimento superior a vinte SM. As remunerações mais

35 Em dezembro de 2007, o Salário Mínimo brasileiro era de R$410,00, ou quase €$150,00.

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baixas estavam no sector primário da economia (agricultura, pecuária e pesca) e

nos serviços domésticos, responsáveis pela ocupação de 42,6% da PEA.

No ano 2000, 94,9% das crianças brasileiras em idade escolar (entre 7 e

14 anos) encontravam-se matriculadas. Entre as crianças na faixa etária de 5 a 6

anos, o índice saltou de 37,2%, em 1991, para 71,9%, na altura do Censo. Na

faixa dos adolescentes (15 a 17 anos), os matriculados passaram de 55,3% para

78,8%, no citado período. Também houve crescimento no número de

matriculados em nível universitário, no mesmo período, passando de 3,6% da

população para 4,1%.

Considerando-se todos os níveis de ensino, 79% dos estudantes brasileiros

frequentavam a rede pública em 2000, cabendo ressaltar a grande participação

das universidades públicas no contexto do ensino superior brasileiro,

aproximando-se de 30% do total de universitários. Os avanços, no entanto, não

são suficientes para sobrepor a constatação de que o índice de analfabetismo36

ainda era elevado em 2000 (31,4% da população), embora haja ocorrido

significativa redução em relação a 1991 (41,4%).

As contas da macroeconomia brasileira têm apresentado visíveis melhoras

nos últimos anos, mas ainda se faz necessário que essa tendência se confirme

por, pelo menos, mais dois períodos anuais, para que se possa crer na solidez

dos fundamentos da economia brasileira. A Tabela 7.1 apresenta, de forma

sintetizada, a evolução do PIB e do PIB per capita do Brasil, no

período1999/2005.

Na verdade, somente após um período de desconfiança que antecedeu a

posse do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e que o acompanhou nos

primeiros meses de gestão, os agentes económicos passaram a acreditar que

não se adoptaria nenhuma medida económica heterodoxa, que viesse a alterar

radicalmente os rumos da economia brasileira ou sua relação com os demais

países.

36 É considerado analfabeto quem não sabe ler, ou que, mesmo conseguindo ler, não é capaz de

captar o inteiro sentido do texto, caso em que é denominado analfabeto funcional.

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Tabela 7.1 – Evolução do PIB no Brasil – 1999/2005

Ano

PIB

População Residente

(Em milhares de habitantes)

PIB Per Capita Deflator Implícito

Valor (Em

R$bilhões37) Varia-ção real

anual (%)

Valor (R$) Varia-ção

anual (%)

Varia-ção

anual (%)

A preços correntes

A preços do ano anterior

A preços correntes

A preços do ano anterior

1999 974 921 0,8 168.754 5.771 5.460 -0,7 5,7

2000 1.101 1.016 4,4 171.280 6.430 5.934 2,8 8,4

2001 1.199 1.116 1,3 173.822 6.896 6.419 -0,2 7,4

2002 1.346 1.222 1,9 176.391 7.631 6.927 0,4 10,2

2003 1.556 1.353 0,5 178.985 8.694 7.561 -0,9 15,0

2004 1 1.767 1.633 4,9 181.586 9.729 8.993 3,4 8,2

2005 1 1.938 1.807 2,3 184.184 10.520 9.810 0,8 7,2 1Incluindo activos de Reservas

Fonte: IBGE, Contas Nacionais (IBGE, 2006)

37 No Brasil, um bilhão corresponde a mil milhões.

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250

Essa confiança tem como consequência uma maior disposição do sector

privado para fazer investimentos produtivos, o que potencializa melhores

resultados económicos, tudo a propiciar um ciclo virtuoso da economia brasileira.

A performance positiva da economia certamente contribuiu para a reeleição do

presidente da República.

Um dos principais contrapontos negativos da conjuntura económica

brasileira reside no seu sistema de segurança social. Historicamente deficitária, a

previdência social brasileira tem sido uma rubrica "pesada" no orçamento público

federal, significando um sorvedouro de recursos do tesouro nacional. Em 2005,

esse segmento registou um défice próximo de R$37,6 mil milhões, sendo que isso

foi considerado uma boa notícia, porquanto ficou abaixo das previsões, que

apontavam para R$39,3 mil milhões, apesar de ter-se observado um crescimento

de 19% sobre o défice registado em 2004, de cerca de R$31,6 mil milhões.

Cabe observar que a segurança social brasileira funciona sob o regime de

partição simples, em que os valores pagos a título de aposentadoria e a título de

pensão devem ser suportados pelas contribuições recebidas das empresas e dos

trabalhadores em fase laboral, com base nos valores dos respectivos salários.

Como se sabe, o regime de benefício fundado seria o mais recomendável.,

porquanto asseguraria o pagamento dos benefícios, sem sofrer influência das

variações da economia, tornando o sistema independente do tesouro público e,

portanto, do sistema fiscal.

Nesse regime, é constituído um património (fundo) que garante o

pagamento de aposentadorias e pensões. A relação entre as contribuições (de

empregados e empregadores) e as aposentadorias e pensões é definida

mediante estudos que, além de cálculos financeiros, levam em conta as

expectativas de vida dos segurados e de seus dependentes.

A dificuldade de implementação desse modelo de segurança social reside

na necessidade de se constituir a reserva matemática necessária ao pagamento

dos benefícios (aposentadorias e pensões) dos actuais assistidos, de maneira

que os recursos referentes às contribuições dos que se encontram na fase laboral

sejam aplicados exclusivamente no fundo que lhes garantirá o pagamento de

benefícios, no futuro.

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251

Apesar dessas dificuldades, dentre outras, nos últimos anos o país tem

obtido êxito no combate à inflação, verificando-se uma tendência de estabilização

nos índices de preços, conforme se observa nos dados do IBGE (2006).

Os dados informam que, no decénio 1996/2005, o Índice Nacional de

Preços ao Consumidor (INPC) registou comportamento ascendente, consoante

apresentado na Tabela 7.2. Os valores foram atraídos para o alto pela inflação de

2001, 2002 e 2003, cujas taxas ficaram acima da média, conforme demonstrado

no Gráfico 7.1.

No período considerado, portanto, verifica-se uma tendência de inflação

crescente. A situação se inverte, se considerarmos apenas o quinquénio

2001/2005. Nesse intervalo, a queda do INPC foi influenciada pelas taxas de 2004

e 2005, que ficaram abaixo da média, consoante ilustrado no Gráfico 7.2. Naquele

quinquénio, deu-se a reversão da tendência de crescimento da inflação que se

observava no período anterior.

A partir de então, verifica-se um cenário económico positivo no Brasil:

economia em crescimento e inflação controlada funcionam como fundamentos

mais seguros para a actuação das empresas.

No cenário externo, a economia brasileira também vem comemorando

alguns feitos. Os dados do Governo Federal informam que, em 2005, as

exportações chegaram a US$118,3 mil milhões, superando a meta governamental

de US$117 mil milhões.

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252

FONTE: Elaboração própria, a partir de dados do IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índice s de Preços,

Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor

Gráfico 7.2 – INPC 2001 a 2005 (%) – Curva de Tendência

0

5

10

15

20

2001 2002 2003 2004 2005

Tabela 7.2 – INPC38 nos anos 1996 a 2005

ANO 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

INPC 9,12 4,34 2,49 8,43 5,27 9,44 14,74 10,38 6,13 5,05 FONTE: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços,

Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor

38 O INPC é calculado sobre a base do período anterior, sendo esta considerada como 100%.

FONTE: Elaboração própria, a partir de dad os do IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índice s de Preços,

Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor

Gráfico 7.1 – INPC 1996 a 2005 (%) – Curva de Tendência

1996 1998 2000 2002 20041997 1999 2001 2003 2005

2 4 6

10 8

121416

0

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253

Os números das exportações brasileiras registam um crescimento de

22,6% sobre o desempenho apresentado em 2004, enquanto o comércio mundial

cresceu apenas 14%. Essa diferença elevou a participação do Brasil nas

exportações globais de 1,06%, em 2004, para 1,13%, em 2005. As importações

também cresceram, passando de US$62,8 mil milhões, em 2004, para US$73,5

mil milhões, em 2005, revelando um crescimento de 17,1%.

O crescimento das exportações em 2005 adicionou US$21,8 mil milhões

em divisas de 2004 para 2005. Nas importações, o crescimento foi de US$10,7

mil milhões. A corrente de comércio totalizou US$191,9 mil milhões, em 2005,

registando um recorde no comércio exterior brasileiro, com aumento de 20,4%

sobre o desempenho de 2004.

Na Tabela 7.3, observa-se, que a Região Sudeste, onde se concentra o

“peso” da economia brasileira, reduziu sua contribuição relativa no período,

enquanto todas as demais regiões tiveram acréscimo de participação. Entende-se

que esse é o resultado da descentralização da economia brasileira, a qual vem

sendo reforçada pelos mecanismos de atracção de empresas para estados

menos desenvolvidos, como já comentado.

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Tabela 7.3 – Evolução Proporcional (%) das Regiões e dos Estados na Composição do PIB Nacional a Preços Correntes

1998 a 2003

Região/Estado 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Norte 4,6 4,5 4,6 4,8 5,1 5,0

Rondônia 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5

Acre 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2

Amazonas 1,7 1,6 1,7 1,7 1,9 1,8

Roraima 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1

Pará 1,7 1,7 1,7 1,8 1,9 1,9

Amapá 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2

Tocantins 0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,3

Nordeste 13,1 13,2 12,9 13,2 13,6 13,9

Maranhão 0,8 0,8 0,8 0,9 0,8 0,9

Piauí 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5

Ceará 2,1 2,0 1,9 1,8 1,8 1,8

Rio Grande do Norte 0,7 0,8 0,8 0,8 0,9 0,9

Paraíba 0,8 0,8 0,8 0,9 0,9 0,9

Pernambuco 2,7 2,7 2,6 2,6 2,7 2,7

Alagoas 0,7 0,7 0,6 0,6 0,7 0,7

Sergipe 0,6 0,6 0,5 0,7 0,7 0,8

Bahia 4,2 4,3 4,4 4,4 4,6 4,7

Sudeste 58,2 58,1 57,8 57,1 56,3 55,2

Minas Gerais 9,8 9,6 9,6 9,5 9,3 9,3

Espírito Santo 1,9 1,9 2,0 1,9 1,8 1,9

Rio de Janeiro 11,0 11,7 12,5 12,3 12,6 12,2

São Paulo 35,5 34,9 33,7 33,4 32,6 31,8

Sul 17,4 17,7 17,6 17,8 17,8 18,6

Paraná 6,2 6,3 6,0 6,1 6,1 6,4

Santa Catarina 3,5 3,7 3,9 3,9 3,9 4,0

Rio Grande do Sul 7,7 7,7 7,7 7,8 7,8 8,2

Centro-Oeste 6,8 6,4 7,0 7,2 7,4 7,5

Mato Grosso do Sul 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,2

Mato Grosso 1,1 1,2 1,2 1,2 1,3 1,5

Goiás 1,9 1,8 2,0 2,1 2,3 2,4

Distrito Federal 2,7 2,3 2,7 2,8 2,7 2,4

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento d e Contas Nacionais, Contas Regionais do Brasil 2002

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7.2. GLOSSÁRIO DE SIGLAS

SIGLA SIGNIFICADO ANFIP Associação Nacional dos Fiscais da Previdência Social CF Constituição Federal CFC Conselho Federal de Contabilidade CIR Comissão de Receitas Internas (Hong Kong) CSLL Contribuição Sobre o Lucro Líquido COFINS Contribuição para Financiamento da Seguridade Social CPMF Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira CTN Código Tributário Nacional ETCO Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial FEUC Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra FOB Free On Board – a mercadoria é entregue, já resolvidas as

questões aduaneiras, a bordo do meio de transporte indicado pelo comprador, no país de origem

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBPT Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IDH Índice de Desenvolvimento Humano II Imposto de Importação INPC Índice Nacional de Preços ao Consumidor IOF Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativas

a Títulos ou Valores Mobiliários IPI Imposto sobre Produtos Industrializados IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores IR Imposto sobre a Renda ISS Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza ISSP International Social Survey Program ITR Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural MRE Ministério das Relações Exteriores OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONU Organização das Nações Unidas PEA População Economicamente Activa PIB Produto Interno Bruto PIS Programa de Integração Social SIMPLES Sistema Integrado de Imposto e Contribuições das Microempresas

e das Empresas de Pequeno Porte SM Salário Mínimo WVS World Value Survey

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7.3. QUESTIONÁRIO

UNIVERSIDADE DE COIMBRA FACULDADE DE ECONOMIA

DOUTORAMENTO EM GESTÃO DE EMPRESAS

Este questionário tem a finalidade de levantar informações para a elaboração de uma Tese de Doutoramento em Gestão de Empresas, na Universidade de Coimbra. Como se pode ver, não há a identificação da empresa ou do respondente.

Agradecemos pela importante colaboração.

CARACTERIZAÇÃO • Por obséquio, em cada item a seguir, assinale com círculo no número à esquerda associado à

informação referente à empresa: Sector de Actividade Localização (Estado)

1 Indústria 1 Ceará 2 Comércio 2 Santa Catarina

Cargo do Entrevistado Tamanho da empresa definido pela receita operacional bruta anual, conforme a Lei n. 9.531 de 10/12/1997 (Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade – FGPC), regulamentada pelo Decreto n. 3.113, de 06/07/1999: • Microempresa: até R$1,2 milhão • Pequena Empresa: superior a R$1,2 milhão e até R$10,5

milhões • Média Empresa: superior a R$10,5 milhões e até R$60

milhões • Grande Empresa: superior a R$60 milhões

1 Proprietário ou Principal Acionista 2 Sócio Gestor 3 Gestor Não-Sócio

Porte da Empresa 1 Micro 2 Pequena 3 Média 4 Grande

FRASES • Por favor, em cada uma das 13 frases do quadro a seguir, assinale com um círculo o número

à direita que corresponde ao grau de sua concordância/discordância em relação à assertiva correspondente, de acordo com a seguinte escala de valores: 1 = Discordo completamente; 2 = Discordo em termos; 3 = Não tenho opinião a respeito; 4 = Concordo em termos; 5 = Concordo completamente.

1. Dadas as condições brasileiras, a evasão fiscal praticada por algumas empresas pode ser considerada legítima, mesmo não sendo legal 1 2 3 4 5

2. Para uma empresa brasileira, pagar todos os impostos, taxas, contribuições e encargos sociais significa perder competitividade 1 2 3 4 5

3. A evasão fiscal significa, muitas vezes, uma decisão estratégica, e faz a diferença entre a sobrevivência e o fechamento da empresa que a põe em prática 1 2 3 4 5

4. O conhecimento de que há empresas que não pagam todos os seus tributos, sem sofrer qualquer sanção, influencia a disseminação da prática de evasão fiscal 1 2 3 4 5

5. O sistema tributário brasileiro caracteriza-se pela imensa variedade de tributos, com diferentes alíquotas; é burocratizado, e suas normas mudam com elevada freqüência

1 2 3 4 5

6. O sistema tributário brasileiro não promove equidade vertical, porquanto não distingue devidamente empresas de diferentes ramos e variados tamanhos 1 2 3 4 5

7. O sistema tributário brasileiro não promove equidade horizontal, porquanto distingue indevidamente empresas de mesmo ramo e mesmo tamanho 1 2 3 4 5

8. O sistema tributário brasileiro “empurra” as empresas para a informalidade 1 2 3 4 5 9. A carga tributária brasileira é excessiva, em comparação com o retorno recebido

pela sociedade 1 2 3 4 5 10. Os empresários brasileiros não confiam na correta aplicação dos recursos fiscais

arrecadados 1 2 3 4 5 11. O sistema de auditoria fiscal não detém capacidade suficiente de identificar e punir

os casos de evasão fiscal 1 2 3 4 5 12. Geralmente, é vantajoso praticar evasão fiscal, levando-se em conta o benefício

financeiro imediato em relação ao custo de uma eventual autuação 1 2 3 4 5 13. Os clientes de uma empresa não a julgam desfavoravelmente pela prática de

evasão fiscal 1 2 3 4 5

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VIII – ANEXO – LOCALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO DE CAMPO

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