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Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 3ª Vara Federal de Foz do Iguaçu Rua Edmundo de Barros, 1989 - Bairro: Jardim Naipi - CEP: 85856-310 - Fone: (45)3521-3600 - www.jfpr.jus.br - WhatsApp: +55 45 3521-3626 - Email: [email protected] PROCEDIMENTO ESPECIAL DA LEI ANTITÓXICOS Nº 5006377-63.2018.4.04.7002/PR AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ACUSADO: LUCAS RODRIGUES ALCIDES ACUSADO: RICARDO PEREIRA DOS REIS ACUSADO: JEFFERSON URNAU ACUSADO: NIVALDO SENRA ACUSADO: BRUNO FELIPE ANDRADE SENTENÇA 1. RELATÓRIO: O Ministério Público Federal, em decorrência das investigações levadas a cabo no âmbito da cognominada OPERAÇÃO JACUTINGA (inquérito policial nº 5010296- 31.2016.4.04.7002 – IPL nº 0372/2016 DPF/FIG/PR), ofereceu denúncia em face de BRUNO FELIPE ANDRADE, brasileiro, filho de Margarida Michelon e Fernando Lopes de Lima Andrade, nascido no dia 03 de julho de 1995, em Foz do Iguaçu/PR, portador da cédula de identidade – RG nº 9.458.977-0 SSP/PR, inscrito no CPF sob o nº 094.178.689-77; JEFERSON URNAU, brasileiro, filho de Noemi Pascualina Urnau e Mauro Urnau, nascido no dia 27 de abril de 1988, em Foz do Iguaçu/PR, portador da cédula de identidade – RG nº 9.654.232-1 SSP/PR, inscrito no CPF sob o nº 070.620.989-30; LUCAS RODRIGUES ALCIDES, brasileiro, filho de Neide da Silva Garcias Rodrigues Alcides e Vanderlei Rodrigues Alcides, nascido no dia 02 de janeiro de 1993, em Pato Branco/PR, portador da cédula de https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acess…064d8c11a1c928b&hash=7538f0fc1b0226c152f56762c37f4fb1 24/11/2018 21D15 Página 1 de 65

Evento 246 - SENT1...NIVALDO: Tudo Tranquilo. Agora que vou entrar em contato com o cara para saber se ele iá passou para o lado de cá. porque estava no seminário do mee filho e

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Poder JudiciárioJUSTIÇA FEDERAL

Seção Judiciária do Paraná3ª Vara Federal de Foz do Iguaçu

Rua Edmundo de Barros, 1989 - Bairro: Jardim Naipi - CEP: 85856-310 - Fone:(45)3521-3600 - www.jfpr.jus.br - WhatsApp: +55 45 3521-3626 - Email:

[email protected]

PROCEDIMENTO ESPECIAL DA LEI ANTITÓXICOS Nº5006377-63.2018.4.04.7002/PR

AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

ACUSADO: LUCAS RODRIGUES ALCIDES

ACUSADO: RICARDO PEREIRA DOS REIS

ACUSADO: JEFFERSON URNAU

ACUSADO: NIVALDO SENRA

ACUSADO: BRUNO FELIPE ANDRADE

SENTENÇA

1. RELATÓRIO:

O Ministério Público Federal, em decorrência dasinvestigações levadas a cabo no âmbito da cognominadaOPERAÇÃO JACUTINGA (inquérito policial nº 5010296-31.2016.4.04.7002 – IPL nº 0372/2016 DPF/FIG/PR), ofereceudenúncia em face de BRUNO FELIPE ANDRADE, brasileiro,filho de Margarida Michelon e Fernando Lopes de LimaAndrade, nascido no dia 03 de julho de 1995, em Foz doIguaçu/PR, portador da cédula de identidade – RG nº 9.458.977-0SSP/PR, inscrito no CPF sob o nº 094.178.689-77; JEFERSONURNAU, brasileiro, filho de Noemi Pascualina Urnau e MauroUrnau, nascido no dia 27 de abril de 1988, em Foz do Iguaçu/PR,portador da cédula de identidade – RG nº 9.654.232-1 SSP/PR,inscrito no CPF sob o nº 070.620.989-30; LUCAS RODRIGUESALCIDES, brasileiro, filho de Neide da Silva Garcias RodriguesAlcides e Vanderlei Rodrigues Alcides, nascido no dia 02 dejaneiro de 1993, em Pato Branco/PR, portador da cédula de

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identidade – RG nº 10.453.980-7 SSP/PR, inscrito no CPF sob onº 082.438.539-01; NIVALDO SENRA, brasileiro, filho de Mariada Penha Moreira Senra e Antônio Mário Senra, nascido no dia06 de janeiro de 1971, em Salto do Lontra/PR, portador da cédulade identidade – RG nº 8.441.508-1 SSP/PR, inscrito no CPF sobo nº 054.579.279-70; e, RICARDO PEREIRA DOS REIS,brasileiro, filho de Eliane Ferreira do Nascimento e AmauriPereira dos Reis, nascido no dia 05 de abril de 1990, emCascavel/PR, portador da cédula de identidade – RG nº12.344.447-2 SSP/PR, inscrito no CPF sob o nº 079.582.319-38,imputando-lhes a prática do seguinte fato delituoso:

“I. RELATO DO FATO CRIMINOSO

Em horários e datas não precisados nos autos, mascertamente entre 10 de abril e 13 de abril de 2017 até às00:59 horas, entre os municípios de Foz do Iguaçu/PR eCascavel/PR, BRUNO FELIPE ANDRADE, JEFERSONURNAU, NIVALDO SENRA, RICARDO PEREIRA DOSREIS e LUCAS RODRIGUES ALCIDES - com vontadeslivres, plena consciência, unidade de desígnios ecomunhão de esforços - após terem adquirido, importado eguardado, mantinham em depósito, transportavam etraziam consigo 39,5 quilos da substância entorpecenteconhecida vulgarmente como “maconha” (em 61 tabletes),sem autorização e em desacordo com determinação legal eregulamentar.

Circunstâncias relevantes

Por volta da 1:00 hora da manhã do dia 13 de abril de2017, no km 580 da BR277 situado em Cascavel/PR,policiais rodoviários federais abordaram o veículoVW/GOL de placas AGN0840, que estava parado naestrada, identificando-se, em seu interior, a pessoa deLUCAS RODRIGUES ALCIDES. Uma vez abordado,LUCAS RODRIGUES ALCIDES se demonstrou bastanteassustado e afirmou que o carro estaria com “problemas”,tendo questionado os policiais rodoviários federais sepoderia deixar o automóvel no local e ir embora. Diantedesse estranho comportamento, os policiais rodoviáriosfederais resolveram vistoriar o veículo e ao abrirem o seuporta-malas constataram a presença de 39,5 quilos dasubstância entorpecente conhecida por maconha. Osservidores públicos federais também verificaram que oautomóvel estava parado no local por falta decombustível.

(...)

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Em virtude desses fatos, LUCAS RODRIGUES ALCIDESfoi denunciado pela prática do crime previsto no art. 33 daLei n. 11.343, tendo, em seu interrogatório judicial,confirmado que recebeu a droga apreendida já carregadano veículo em Foz do Iguaçu/PR e que tinha sidocontratado por terceiros para realizar o referidotransporte até Paranaguá/PR, pelo que receberia aquantia de R$ 4.000,00.

O monitoramento telefônico levado a efeito nos autos n.5010297- 16.2016.4.04.7002 somado a diversasdiligências em campo e a consulta de bancos de dadospermitiram identificar que NIVALDO SENRA e RICARDOPEREIRA DOS REIS foram os responsáveis pelaintrodução do entorpecente em território nacional, sendoRICARDO PEREIRA DOS REIS o responsável tambémpela própria viabilização do transporte dessas drogas,contando, para tanto, com o auxílio de BRUNO FELIPEANDRADE e JEFERSON URNAU, além do motoristaLUCAS RODRIGUES ALCIDES.

Com efeito, entre os dias 10.04.2017 e 12.04.2017, foramregistradas diversas conversas mantidas entre NIVALDOSENRA e RICARDO PEREIRA DOS REIS que indicavamas tratativas relacionadas a viabilização da introdução eremessa de entorpecentes do Paraguai para o Brasil(índices 3402980, 3403324, 3403859,3403932, 3404739 e3404742). Dessas conversas inicio destacando que já erapossível depreender dos diálogos ocorridosespecificamente nos dias 10.04.2017 e 11.04.2017, aorigem paraguaia da droga (“entrar em contato com ocara para saber se ele já passou para o lado de cá’’), bemcomo que NIVALDO SENRA intermediava a importaçãodesses entorpecentes em benefício de RICARDO PEREIRADOS REIS, que já tinha providenciado terceiras pessoas(“porque os meninos está ali esperando e nada ainda') eum veículo para o transporte nacional da droga (“o carrotá ali (...) tá fechando tudo, piá!’)'.

índice: 3402980 Nome do Alvo: NIVALDO CARECA CTTEDGAR Fone do Alvo: 45999329759 Fone de Contato:45999608471 Data : 10/04/2017 Horário : 16:19:02Observações : @@@CARECA X RICARDO - VER SE OCARA PASSOU PRO LADO DE CA Transcrição:

NIVALDO: Alô

RICARDO: Tudo tranquilinho

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NIVALDO: Tudo Tranquilo. Agora que vou entrar emcontato com o cara para saber se ele iá passou para olado de cá. porque estava no seminário do mee filho e ouruguaio não estava aqui pra eu usar o ZAP. Ai já voucoizar lá e em um minuto dou resposta RICARDO:Beleza.Qualquer coisa voce precida vir me buscar. Meu carro deuum B.o.zinho NIVALDO:Beleza, Piá RICARDO: Voubuscar outro carrinho.

NIVALDO: beleza

RICARDO: Beleza, Veio. Obrigado

índice: 3403324 Nome do Alvo: EDGAR MARCELOSCHIAPPAPIETRA PIAS Fone do Alvo: 45999303481Fone de Contato: 45999608471 Data: 11/04/2017Horário: 08:40:31 Observações: @@@NIVALDO XRICARDO -CIDADÃO CHEGANDO E JA NOSENCONTRAMOS Transcrição:

RICARDO: Bom dia NIVALDO: Oh, rapaz, Heim!

RICARDO: Beleza?

NIVALDO Tranqüilo. Daqui a pouco estou indo te pegar.O cidadão esta chegando aqui e daqui a pouco nos seencontra, tá?

RICARDO: Ah, Beleza! eu sai pra colocar um crédito aquipra te ligar. Tinha acabado meu crédito. Eu vim aqui narua de baixo aqui

NIVALDO: Eu acabei de falar com ele agora e eu vouesperar e nos encontramos. Não esquenta cabeça não, tá?

RICARDO: Vai demorar muito pra vir aqui?

NIVALDO: Não, vou demorar não

índice: 3403859 Nome do Alvo: NIVALDO CARECA CTTEDGAR Fone do Alvo: 45999329759 Fone de Contato:45999608471 Data: 11/04/2017 Horário : 15:46:10Observações: @@@NIVALDO X RICARDO - OSMENINO TA ESPERANDO. Transcrição:

RICARDO: O meu amigo, Deixa eu falar pra você: O meuZAP parou de funcionar, Homem... e ai eu não tenhocontato com aquele "nosso amigo" lá... Ele não te chamouai?

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NIVALDO: Não, não. Não chamou por que também eu nãotenho contato, né?

RICARDO: É por que ele ia me chamar, mano! Será quenão? Por que os meninos está ali esperando e nada ainda!

NIVALDO: Mas porque não esta funcionando seu ZAP,mano?

RICARDO: Não sei que desgraça que deu, parou defuncionar do nada, Manol

índice: 3403932 Nome do Alvo: NIVALDO CARECA CTTEDGAR Fone do Alvo: 45999329759 Fone de Contato:45999608471 Data: 11/04/2017 Horário: 16:43:11Observações: @@@CARECA X RICARDO - NADA AQUIAINDA Transcrição:

NIVALDO:E ai, Piá!

RICARDO: Opa, nada ainda!

NIVALDO: Voce conseuiu falar com ele?

RICARDO: Eu mandei um ZAP, eu peguei o ZAP do meumenino emprestado e mandei mensagem pra ele e ele sóolhou e não vizualizou. Não respondeu nem nada. Eu faleiassim: eu sou amiao do "FULANO" e fava com voce lá e"pa e pa" Dai... o carro tá ali! Nos ta aqui na rua. O Piátá aqui na rua de baixo comendo um pastel e daqui apouco vamos lá buscar o carro., ta fechando tudo. Piá!

NIVALDO: Voces tem que entrar em contato com ele. Euvou entrar em contato com ele aqui RICARDO: Fala praele entrar em contato... Fala pra entrar em contato noZAP que entrou em contato com ele. Diz que sou eu! Éoutra foto, mas sou eu. Ou manda ele vir no lugar ali quenós vai estar ali

Em 12.04.2017 foi possível identificar novos diálogosentre NIVALDO SENRA e RICARDO PEREIRA DOS REISque indicam que RICARDO PEREIRA DOS REISconseguiu contatar o fornecedor do entorpecente indicadopor NIVALDO SENRA ainda em 11.04.2017, não tendosido possível concluir a negociação. Após essainformação, NIVALDO SENRA esclarece a RICARDOPEREIRA DOS REIS que estava retornando do Paraguai(“outro lado’) e que já tinha obtido outra remessa de

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drogas para traficar (“já puxei outro chá para ai já’’),sendo marcado encontro pessoal para tratarem doassunto:

Índice: 3404739 Nome do Alvo: NIVALDO CARECA CTTEDGAR Fone do Alvo: 45999329759 Fone de Contato:45999608471 Data: 12/04/2017 Horário: 10:49:51Observações : A10@CARECA X RICARDO - FALARCOM OUTRO AMIGO Transcrição:

NIVALDO: Alo RICARDO: O meu amigo

NIVALDO: E ai, piá!

RICARDO: Beleza pura?

NIVALDO: Hã?

RICARDO: Beleza pura?

NIVALDO: Beleza pura! Ta aonde?

RICARDO: Eu to aqui onde voce me buscou ontem., aquina casa aqui em cima

NIVALDO:ha, sim! E o queu Ia com o cara?

RICARDO: Deu nada! Só comédia lá aquele cara. Caravendeu só sonho ontem pra nós lá

NIVALDO: Mas voce mandou mensagem lá

RICARDO: Não, mandou um monte de mensagem, aqui.Eu falei: "porque voce falou uma coisa?". Dai pá, deixaquieto, vou falar com outro amigo lá cai ligação

índice: 3404742 Nome do Alvo: NIVALDO CARECA CTTEDGAR Fone do Alvo: 45999329759 Fone de Contato:45999608471 Data: 12/04/2017 Horário: 10:52:18Observações: A10@CARECA X RICARDO - CARECA VAIBUSCAR RICARDO Transcrição:

NIVALDO: O que que ele falou tanto... qual foi adesculpa?

RICARDO: Não... falou que o outro amigo de lá não pode.Ai eu falei: "mas você quem fechou com nós, rapaz!". Daiele pá, queria conversar um monte pelo zap. Ai eu falei:"não, não, deixa quieto, com o rapaz lá não tem nada aver". Daí deixei quieto., só explicação, ele não ,não...

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NIVALDO: Mas ele falou que ia coisar hoje?

RICARDO: Não, não falou nada não, abandonou. Falou:"não amigo, não vai dar assim, não vai dar". Ai eu falei:"ih, tá louco". Não comédia, comédia, comédia mesmo.Tinha que falar na cara dele: "voce é comédia"

NIVALDO: Eu to chegando agora em casa, eu tava lá dooutro lado. Paraguai e ja vou chamar no celular do amigolá. agora já vou entrar em contato ali. Já puxei outro chápara ai iá

RICARDO: voce não queria dar um pulo aqui em cima,pra nós levar um ideia pessoalmente? NIVALDO: Sim,daqui a pouco eu vou chegar em casa e te busco ai

RICARDO: Dai, junto nós conversa continuam a conversa.

Algumas horas após isso, sobrevieram novas conversasmonitoradas dos denunciados NIVALDO SENRA eRICARDO PEREIRA DOS REIS que demonstrar terRICARDO PEREIRA DOS REIS contatado um novofornecedor e com ele acertado a passagem da droga,tendo, inclusive, se deslocado até a região do BairroJardim Jupira durante aquela tarde para tanto. Apósresolver esse assunto naquela localidade próxima afronteira com o Paraguai, por volta das 17 horas,RICARDO PEREIRA DOS REIS contatou NIVALDOSENRA para lhe informar que já estaria tudo certo (“ta deboa já'), pedindo-lhe uma carona:

índice: 3404982 Nome do Alvo: NIVALDO CARECA CTTEDGAR Fone do Alvo: 45999329759 Fone de Contato:45999608471 Data: 12/04/2017 Horário: 13:21:40Observações: RUÍDOS A10@CARECAX RICARDO -PEGAR HNI NO TERMINAL DAQUI UMA HORTranscrição:

RICARDO: O. amiao! Deixei certinho lá com o rapaz.,deixa eu te falar pra você é, tu me busca lá onde vocepegou sua esposa, daí? Daqui há uma hora, uma hora e1/2

NIVALDO: Tá, busco, ahã! Busco, busco, ali, ali...noterminal?

RICARDO: Sim, sim, onde você buscou sua esposa, antesde ontem

NIVALDO: lsso mesmo... Voce me liga quando estiver lá

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RICARDO: Daqui a uma hora, então

NIVALDO: Falou

índice: 3405170 Nome do Alvo: NIVALDO CARECA CTTEDGAR Fone do Alvo: 45999329759 Fone de Contato :45999608471 _Data : 12/04/2017 Horário : 15:14:15Observações : Al 0@CARECAX RICARDO -ESPERANDO Transcrição:

RICARDO: E ae?

NIVALDO:E ae, cidadão? Tranqüilo?

RICARDO: Bão?

NIVALDO: Bão...

RICARDO:Estamos aqui aguardando aqui o rapaz, denovo!

NIVALDO: Eita, meu...(risos)

RICARDO: Faz horas já, de novo! Mas disse agora vem,vamos ver1

NIVALDO: Tá tranqüilo, então, ta beleza

RICARDO: Qualquer coisa eiu te ligo pra vir me buscar,daí

NIVALDO: Vou descer

RICARDO: Beleza, já desce

índice: 3405353 Nome do Alvo: NIVALDO CARECA CTTEDGAR Fone do Alvo: 45999329759 Fone de Contato:45999608471 Data: 12/04/2017 Horário: 17:09:57Observações: Al 0@CARECAX RICARDO - NAJOSEMARIA DE BRITO Transcrição:

RICARDO: O, meu amigo, beleza?

NIVALDO: Tranquilo RICARDO: Beleza pura?

NIVALDO: Oi?

RICARDO: Tudo sussegado! Deixa eu falar pra voce... Tunão vinha me buscar aqui em cima não? Mas ta de boa já!Só queria uma carona

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NIVALDO: Onde?

RICARDO: Eu to aqui no posto da paraná aqui, de frentecom a federal... a Jose mária de brito

NIVALDO: Ah, sim... voce esta nesse posto de gasolina ai?

RICARDO: Ahã... tem a federal...ih, mas tem dois, né? É,É, É.... Na Jose Maria de Brito... essa que vai pra ponteaqui.... essa, essa..

NIVALDO: Eu sei, eu sei

RICARDO: Eu to aqui na frente do Tota, aqui...escapamento

NIVALDO: Espera no posto, no ponto ai

RICARDO: Estou no ponto de ônibus de lotação

A partir desse momento, equipe policial iniciou vigilânciade NIVALDO SENRA, observando-o conduzindo o veículoVW/GOL de placas AGF004, cor verde, pela Avenida JoséMaria de Brito nesta cidade, tendo o mesmo parado paraa entrada de RICARDO PEREIRA DOS REIS. Emseguida, os denunciados seguiram para a AvenidaRepública Argentina nesta cidade, tendo RICARDOPEREIRA DOS REIS descido do veículo e entrado emlugar não identificado, enquanto NIVALDO SENRA ficoulhe aguardando no veículo. Algum tempo depois, sobreveioa seguinte ligação monitorada entre os denunciados:

Índice : 3405387 Nome do Alvo : NIVALDO CARECA CTTEDGAR Fone do Alvo : 45999329759 Fone de Contato :45999608471 Data : 12/04/2017 Horário : 17:36:18Observações: A10CARECA X RICARDO – ESPERANDOTranscrição:

NIVALDO: Cade voce?

RICARDO: To indo ai, to dentro do barracão! To indo aijá fora, um minutinho

NIVALDO: Beleza

RICARDO: Falou

Em seguida, por volta das 17:40 horas, os dois seguiramno veículo VW/GOL de placas AGF0041 até local situadoem frente a Madeireira HS na BR277, quando RICARDO

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PEREIRA DOS REIS desembarcou e seguiu a pé até acasa n. 84 da Rua Coraci. Na garagem da referida casaestava estacionada uma moto de placa paraguaia 988ROS e um outro veículo VW/GOL de placas AGN 08404.Também cabe consignar que a equipe policial observouque os indivíduos presentes naquela casa, a todo tempo,saiam para a rua a fim de observar a movimentação.

Após permanecer por alguns minutos conversando comoutras pessoas que estavam naquela residência, às 19horas RICARDO PEREIRA DOS REIS saiu caminhandodo local em direção à BR-277, tendo, neste momento,recebido diversas chamadas do TMC45998127842 queestava cadastrado em nome de JEFFERSON URNAU(evento 29, INF2, fl. 6 dos autos 5010297-16.2016.4.04.7002).

Em seguida, por volta das 19h30min, BRUNO FELIPEANDRADE também deixou a residência e se posicionou naesquina da Rua Arapiraca, observando a movimentação.Mais alguns minutos, o veículo VW/GOL de placasAGN0840 também deixou a residência, parando, emseguida, na rua para que BRUNO FELIPE ANDRADEnele embarcasse. Já na BR277 (sentido Cascavel/PR), oveículo VW/GOL de placas AGN0840 parou novamentepara o desembarque de BRUNO FELIPE ANDRADE, queadentrou, em seguida, no veículo VW/SANTANA de placasANB0696 que estava parado no local e em cujo interiorestava RICARDO PEREIRA DOS REIS. Ato contínuo, oveículo VW/SANTANA de placas ANB 0696 seguiu pelaBR-277 em direção a Cascavel/PR, enquanto o veículoVW/GOL de placas AGN0840 ficou aguardandoestacionado em um posto de combustíveis nasproximidades.

O referido veículo VW/SANTANA de placas ANB0696 foi,poucos minutos após isso (por volta das 20:00 horas),abordado no posto da Polícia Rodoviária Federal emSanta Terezinha de Itaipu/PR, sendo confirmado que neleestavam RICARDO PEREIRA DOS REIS e BRUNOFELIPE ANDRADE, além do motorista JEFFERSONURNAU (conforme informação policial n. 041/2017).

Em relação ao veículo VW/GOL de placas AGN0840 (quetinha ficado aguardando), cabe pontuar que a equipepolicial não logrou mais localizá-lo, emitindo, porconsequência, alerta para a PRF tentar abordá-lo dianteda fundada suspeita de que estaria transportandoentorpecentes por estar sendo “batido” pelo veículoVW/SANTANA de placas ANB 0696 que partiu na frente(no interior do qual, durante a abordagem no Posto da

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PRF, não foi encontrado entorpecente). Referido veículode placas VW/GOL de placas AGN0840 somente foilocalizado e abordado na região de Cascavel/PR, porvolta de 1:00 hora da manhã, quando estava parado porfalta de combustível, sendo no seu interior encontrados 61tabletes da substância entorpecente “maconha” em possede LUCAS RODRIGUES ALCIDES.

Por fim, cabe consignar ainda que LUCAS RODRIGUESALCIDES e RICARDO PEREIRA DOS REIS residem emlocais que distam cerca de 130 metros, estando as suasresidências situadas no mesmo quarteirão (o endereço deRICARDO PEREIRA DOS REIS consta dos autos n.5003992-45.2018.404.7002 - evento 1, OUT12, sendo naRua do Feitor, 65, Bairro Universitário, em Cascavel/PR,enquanto que o endereço de Lucas Rodrigues Alcides sesitua na Rua Rubens Lopes, 1193, Bairro Universitário,Cascavel/PR).

Em síntese, os diversos elementos informativos colhidosdurante a investigação (especialmente aqueles constantesdo adendo 01 ao ACIT n. 10 e da informação policial n.41/2017) somados aos documentos oriundos do inquéritopolicial/ação penal instaurados em virtude da prisão emflagrante de LUCAS RODRIGUES ALCIDES, indicam queNIVALDO SENRA e RICARDO PEREIRA DOS REISnegociaram a introdução em território nacional e remessade entorpecentes pelo Brasil, tendo RICARDO PEREIRADOS REIS, BRUNO FELIPE ANDRADE e JEFFERSONURNAU atuado como olheiros e batedores do veículoVW/GOL de placas AGN0840, que estava carregado como entorpecente e era conduzido por LUCAS RODRIGUESALCIDES.

A materialidade e autoria delitivas estão consubstanciadosnos elementos colhidos no bojo dos autos n. 5010296-31.2016.4.04.7002 (inquérito policial principal), dos autosn. 5013102-05.2017.4.04.7002 (busca e apreensão/prisãopreventiva), dos autos n. 0011582-20.2017.8.16.0021(principais peças anexas), do Auto de ConstataçãoProvisória da Droga apreendida, do laudo pericialDGPC-IC n. 23.707/2017 (que, em síntese, detectou“elementos característicos da planta Cannabis sativa L,popularmente conhecida como maconha’’ no materialpericiado, cabendo pontuar que o uso desta substância éproscrito em território nacional por causar dependênciafísica e química, nos termos da Portaria 344 MS/SVSJ edos autos da medida cautelar de interceptação telefônica(autos n. 5010297-16.2016.4.04.7002, especialmente peloadendo 01 do Relatório de Investigação n. 10 e pelainformação policial n. 041/2017).

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Por fim, destaco que os indícios de transnacionalidade daconduta se depreendem dos mesmos elementos indicadosacima, cabendo destacar as diversas menções ao “lado”de onde viria a encomenda feitas pelos denunciadosNIVALDO SENRA e RICARDO PEREIRA DOS REIS aosdeclarados deslocamentos de NIVALDO SENRA para oParaguai e pela localização de RICARDO PEREIRA DOSREIS no bairro Jupira em Foz do Iguaçu/PR (próximo afronteira paraguaia) no período imediatamente anterior aprisão em flagrante de LUCAS RODRIGUES ALCIDES".

Nesses termos, por entender que BRUNO FELIPEANDRADE, JEFERSON URNAU, LUCAS RODRIGUESALCIDES, NIVALDO SENRA e RICARDO PEREIRA DOSREIS praticaram o delito do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, daLei nº 11.343/04, requereu o Ministério Público Federal orecebimento da denúncia, com a consequente citação dosacusados para se ver processados até ulterior julgamento (eventonº 01).

Os acusados BRUNO FELIPE ANDRADE,JEFERSON URNAU, LUCAS RODRIGUES ALCIDES,NIVALDO SENRA e RICARDO PEREIRA DOS REIS foramnotificados para os fins do art. 55 da Lei nº 11.343/06 e, porintermédio de seus defensores, apresentaram defesas prévias(eventos nº 67, 97, 102 e 106).

No dia 09 de julho de 2018 foi recebida a denúncia(evento nº 108).

Os acusados foram citados (eventos nº 128, 137,140, 143 e 145).

Nos dias 26 e 27 de julho de 2018 foi realizada aaudiência de instrução, oportunidade em que foram inquiridas astestemunhas / informantes Davi Tavares Gomes, Fábio RamalhoB. Conceição, Luiz Felipe da Silva Andrade Lima, EversonAlves Martins, Edvania da Silveira Pereira, Leodinara Pereira daSilveira, Adão Ricardo Siqueira, Arival de Souza Pena,Leodivane da Silveira e Cláudio de Barros e promovido ointerrogatório dos acusados BRUNO FELIPE ANDRADE,JEFERSON URNAU, LUCAS RODRIGUES ALCIDES,NIVALDO SENRA e RICARDO PEREIRA DOS REIS (eventosnº 157, 159, 160 e 162).

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O pedido formulado por BRUNO FELIPEANDRADE na fase do art. 402 do Código de Processo Penal foiindeferido pelo juízo (evento nº 211 e 216). As demais partesnada requereram (eventos nº 210, 212 e 214).

Substituídos os debates orais por memoriais,requereu o Ministério Público Federal a condenação dosacusados BRUNO FELIPE ANDRADE, LUCAS RODRIGUESALCIDES, NIVALDO SENRA e RICARDO PEREIRA DOSREIS às penas do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, da Lei nº11.343/06, bem como a absolvição de JEFERSON URNAU, comfundamento no art. 386, inciso VII, do Código Penal (evento nº222). LUCAS RODRIGUES ALCIDES arguiu em sede depreliminar incompetência da Justiça Federal. Quanto ao mérito,aduziu que agiu em estado de necessidade; que faz jus àaplicação da pena em seu patamar mínimo; que tem direito àaplicação da atenuante da confissão; que não há, in casu,incidência da agravante do art. 62, inciso IV, do Código Penal etampouco da causa de aumento de pena do art. 40, inciso I, daLei nº 11.343/06; que faz jus à aplicação da causa de redução depena do §4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06; que, in casu, aplica-seo aberto como regime inicial de cumprimento da pena privativade liberdade, que esta deve ser substituída por restritivas dedireitos e que tem direito de recorrer em liberdade (evento nº234). RICARDO PEREIRA DOS REIS aduziu em seusmemoriais que não era proprietário da droga apreendida e quenão praticou ou concorreu para a prática de qualquer dascondutas incriminadas no art. 33 da Lei nº 11.343/06; que seucontato com os corréus se deu em razão de ser viciado em drogase por conta de dívidas relacionadas ao consumo de substânciaentorpecente; que, por se ver obrigado a transportar a drogaaprendida, acabou por indicar LUCAS RODRIGUES ALCIDESpara realizar tal tarefa; que não atuou como batedor no transporteda droga; que o fato que lhe foi imputado deve serdesclassificado para o art. 28 da Lei nº 11.343/06 ou,subsidiariamente, para o art. 35 da Lei nº 11.343/06; que não há,in casu, incidência da causa de aumento de pena do inciso I doart. 40 da Lei nº 11.343/06; que faz jus à aplicação das causas dediminuição de pena dos arts. 41 e 46 da Lei nº 11.343/06, bemcomo da atenuante do art. 65, inciso III, alínea “d”, do CódigoPenal (evento nº 236). JEFERSON URNAU alegou em seusmemoriais que inexiste nos autos prova suficiente paracondenação; que não concorreu para a prática do fato narrado nadenúncia; que, em caso de eventual condenação, faz jus à

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aplicação da pena mínima, a ser inicialmente cumprida emregime aberto (evento nº 237). NIVALDO SENRA aduziu queinexistem provas nos autos de que concorreu para a prática docrime de tráfico de drogas; que não há, in casu, aplicabilidade dacausa de aumento de pena do art. 40, inciso I, da Lei nº11.343/03, dada inexistência de provas de que a droga apreendidafoi trazida do exterior; que faz jus aos benefícios da justiçagratuita (evento nº 241). BRUNO FELIPE ANDRADE, em sedede preliminar, arguiu nulidade das provas obtidas por intermédiodo monitoramento telefônico, bem como daquelas que dele sãodecorrentes. Quanto ao mérito, aduziu que não há provas de quepraticou os fatos que lhe foram imputados (evento nº 243).

Os autos vieram conclusos no dia 25 de outubro de2018 (evento nº 244).

É o relatório. Passo à decisão.

2. FUNDAMENTAÇÃO:

O Ministério Público Federal ofereceu denúncia emface de BRUNO FELIPE ANDRADE, JEFERSON URNAU,LUCAS RODRIGUES ALCIDES, NIVALDO SENRA eRICARDO PEREIRA DOS REIS, imputando-lhes a prática docrime do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, da Lei nº 11.343/06,sob argumento de que eles “em horários e datas não precisadosnos autos, mas certamente entre 10 de abril e 13 de abril de 2017até às 00:59 horas, entre os municípios de Foz do Iguaçu/PR eCascavel/PR (...) após terem adquirido, importado e guardado,mantinham em depósito, transportavam e traziam consigo 39,5quilos da substância entorpecente conhecida vulgarmente como“maconha” (em 61 tabletes), sem autorização e em desacordocom determinação legal e regulamentar”.

Inicialmente, passo à análise das preliminaresarguidas por LUCAS RODRIGUES ALCIDES e BRUNOFELIPE ANDRADE.

2.1. Preliminares:

2.1.1. Arguição de incompetência da JustiçaFederal:

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O acusado LUCAS RODRIGUES ALCIDESarguiu em seus memoriais que a Justiça Federal é incompetentepara processar os presentes autos, sob argumento de que nãorestou comprovada a internacionalidade do fato narrado nadenúncia.

Data venia, não há como ser acolhida a arguição deincompetência, em razão de estar comprovado nos autos que adroga transportada por LUCAS RODRIGUES ALCIDES foitrazida do Paraguai por NILVALDO SENRA e RICARDOPEREIRA DOS REIS, como será demonstrado quando da análisedo mérito, no típico relativo à autoria.

2.1.2. Arguição de nulidade das provas obtidaspor intermédio do monitoramento telefônico:

O acusado BRUNO FELIPE ANDRADE arguiunulidade das provas obtidas por intermédio do monitoramentotelefônico, com base nos seguintes fundamentos: a) omonitoramento do terminal telefônico nº 45999329759 foiautorizado pelo juízo no dia 21 de novembro de 2016, sendo quesó foi implementado pela autoridade policial 90 (noventa) diasdepois; b) que há no diálogo indexado sob o nº 3268082 “umavoz ao fundo do áudio faz parecer que houve edição”; c) que nãohá como se afirmar que os diálogos interceptados efetivamenteocorreram; d) que foi interceptada chamada de terminaltelefônico alheio às investigações; e) que não foram realizadasdiligências prévias para identificação do usuário do terminal nº45999329759; f) que “a quebra do sigilo telefônico foi aprimeira medida efetivada pela autoridade policial, talprovidência foi fundamentada única e exclusivamente emdesfavor de NIVALDO, por ser contato de EDGAR, não sendominimamente mencionada as acertadas que foram tomadas paraidentifica-lo”; g) “não foi apontada a imprescindibilidade dodeferimento da medida excepcional”; h) que houve “quebra dacadeia de custódia da prova fornecida para a defesa”; i) que nãofoi juntado ao auto ofício da operadora de telefonia confirmandoo cumprimento do alvará nº 700002704278; j) que não foramjuntados aos autos extratos “da operadora com os númerosinterceptados ou relação das chamadas efetuadas e recebidas”;k) que os metadados dos arquivos de áudio fornecidos a defesaestão corrompidos, não sendo possível verificar a data daschamadas telefônicas.

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Inicialmente faz-se mister observar que nenhumterminal telefônico pertencente a BRUNO FELIPE ANDRADEfoi submetido a monitoramento, sendo certo que, nada obstante,sua participação no fato sub judice restou evidenciada pelasdiligências empreendidas por policiais federais, que verificaramsua presença no local onde estava sendo mantida em depósito amaconha apreendida, pelos depoimentos de corréus, queacabaram por apontá-lo como um dos responsáveis peloarmazenamento e transporte da res e por suas própriasdeclarações, que, além de não encontrarem sustentação nosdemais elementos probatórios colacionados aos autos, não forampor ele comprovadas no decorrer da instrução criminal, emboraassistido por advogado constituído antes mesmo do recebimentoda denúncia.

Pretende BRUNO FELIPE ANDRADE, porintermédio da argumentação expendida em seus memoriais, obterisenção de responsabilidade pela grave conduta perpetrada deforma indevida, visto que, ao passo que arguiu uma série dequestões apontadas por ele como causas capazes de ensejaranulação das provas que fundamentam a acusação, no curso dainstrução processual deixou de requereu medidas voltadas aosaneamento daquilo que ora reputa irregular.

Se não bastasse isso, apesar de BRUNO FELIPEANDRADE ter aduzido a existência de prejuízo para sua defesa,em razão das questões apontadas por ele como irregularidades naobtenção da prova, não especificou de forma concreta quaisforam esses prejuízos, fato que, por si só, justifica o nãoacolhimento da preliminar articulada em sede de memoriais.

BRUNO FELIPE ANDRADE está assistido poradvogado desde o dia 26 de março de 2018, sendo presumido quesua defesa, desde então, tenha acompanhado o desenvolvimentoda investigação e a instrução processual. Nada obstante, observoque, tanto na defesa preliminar, quanto na petição trazida aosautos na fase do art. 402 do Código de Processo Penal (eventos nº97/98 e 211), deixou BRUNO FELIPE ANDRADE de requererqualquer medida relacionada ao monitoramento telefônico,devendo ser observado, como é de conhecimento de todosaqueles que militam na área processual penal, que é na resposta àacusação que deve o advogado “arguir preliminares e alegar tudo

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o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações,especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas” (art.396-A do Código de Processo Penal).

Em síntese, apesar de BRUNO FELIPEANDRADE alegar a existência de irregularidades nomonitoramento telefônico, que foi realizado pela Polícia Federalmuito tempo antes do início do presente processo, deixou parafazê-lo no final do processo, contrariando, assim, o disposto noart. 396-A do Código de Processo Penal.

Analisando os autos do pedido de quebra de sigilode dados e/ou telefônico nº 5010297-16.2016.4.04.7002 observoque, no dia 18 de novembro de 2016, foi deferido omonitoramento do terminal telefônico nº 45999329759, utilizadopela pessoa então identificada como HNI 7 -CONTATO EDGARGRINGO, oportunidade em que foi consignado pelo juízo que“como bem salientado pelo Ministério Público Federal, ‘oregular desenvolvimento desta investigação, em decorrência decontatos suspeitos mantidos entre os alvos pretéritos destaoperação (vide o adendo ao auto circunstanciado n. 08 - fls.545/548), possibilitou a posterior identificação de EDGARMARCELO SCHIAPPAPIETRA PIAS, vulgo “GRINGO”, comopertencente aparentemente a outro grupo criminoso que atua notráfico internacional de drogas nesta região de fronteira. Nessaesteira, em seguida, foram identificadas conversas mantidasentre (EDGAR MARCELO SHIAPPAPIETRA PIAS – vulgoGRINGO) com pessoas conhecidas por atuar no tráficointernacional de drogas e armas nesta região de Foz doIguaçu/PR (ROBERTA NICOLI BUSS e MARCOS ANTONIOFEREEIRA DA SILVA – vulgo MISTER). As conversastelefônicas mantidas por este alvo revelaram, ainda, fortesindícios de que as drogas traficadas tinham/teriam procedênciaestrangeira, mais especificamente, das cidades de Hernandáriase Ciudad del Este/PY’”. Na mesma oportunidade foi asseveradopelo juízo que “não há dúvidas, portanto, que a submissão dosterminais telefônicos utilizados pelos supracitados investigados eaqueles a eles vinculados (HNI’s) ao monitoramento telefônico émedida necessária a continuidade das investigações, para o fimde apurar de forma integral o suposto esquema criminoso poreles engendrado, e adequada para obtenção de tal objetivo, dadaa impossibilidade de utilização eficaz de outros meios de prova”(evento nº 08 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002).

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Data venia, em que pese a irresignação de BRUNOFELIPE ANDRADE, reputou o juízo que, quando dodeferimento do monitoramento do terminal nº 45999329759,estavam presentes os requisitos da Lei nº 9.296/96, conformeexpressamente consignado no supracitado excerto, ou seja, foidemostrada a existência de indicativo de autoria e/ou participaçãoem infração penal punida com reclusão e a impossibilidade eficazde outros meios de produção probatória.

De igual sorte, observa-se no supracitado excertoque o acesso telefônico em questão era utilizado por HNI 7 -CONTATO EDGAR GRINGO, sendo certo que a préviaobtenção dos dados cadastrais do respectivo titular, além deobstar o célere desenvolvimento da investigação, via de regra setraduz em medida inútil, vez que não é comum que pessoas quefazem uso de sistemas de telefonia para a prática de ilícitos seutilizem de linhas registradas em seus próprios nomes.

Conforme se depreende do Auto Circunstanciadode Interceptação nº 09, digitalizado no evento nº 08 dos autos nº5010297-16.2016.4.04.7002, no curso do monitoramento doterminal telefônico utilizado por EDGAR MARCELOSHIAPPAPIETRA PIAS, vulgo GRINGO (4599303481), foramcaptados diálogos travados entre ele e o usuário do 45999329759,posteriormente identificado como HNI 7 -CONTATO EDGARGRINGO, o quais trouxeram à baila indicativos de que referidapessoa atuava com EDGAR no tráfico de substânciasentorpecentes.

A propósito, faço referência aos diálogos indexadossob os nº 3268082, 3277462, 3277457 e 3778566, que dão contade que EDGAR MARCELO SHIAPPAPIETRA PIAS e seuusuário engendravam ações relacionadas, em tese, ao tráfico sesubstância entorpecente, devendo ser observado que, no curso dainstrução, restou confirmado que o terminal nº 45999329759pertencia a NILVALDO SENRA, o qual acabou por confirmarem seu interrogatório judicial que EDGAR é pessoa envolvidacom a facção criminosa denominada Primeiro Comando daCapital – PCC (evento nº 162).

Com efeito, é evidente que à época havianecessidade de ser submetido o terminal nº 45999329759 amonitoramento telefônico, sendo evidente que a continuidade das

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investigações com uso apenas dos meios ordinários de produçãoprobatória restaria prejudicada, quiçá inviabilizada.

Deferido o monitoramento do terminal nº45999329759, utilizado pela pessoa então identificada como HNI7 -CONTATO EDGAR GRINGO, foi expedido o alvará nº700002704278, o qual foi disponibilizado a autoridade policialpor intermédio do sistema Eproc no dia 21 de novembro de 2016.Na mesma data foi expedida intimação eletrônica a fim de que aautoridade policial tomasse ciência da decisão do evento nº 08dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002 e da expedição doreferido alvará, a qual foi efetivada no dia 02 de dezembro de2016 (eventos nº 08, 09, 12 e 16 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002).

No dia 07 de abril de 2017, informou o Delegadode Polícia Federal que à época presidia a investigação que osalvarás expedidos no evento nº 09 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002 foram encaminhados para as operadoras detelefonia no dia 28 de março de 2017, quando aquele agentetomou conhecimento da fixação da competência pela JustiçaFederal.

É fato, portanto, que entre data da intimação daautoridade policial acerca da expedição do alvará nº700002704278 e o seu envio à operadora de telefonia paracumprimento houve o decurso de aproximadamente 04 (quatro)meses, como salientado por BRUNO FELIPE ANDRADE.

O decurso do referido prazo foi observado pelaoperadora OI, que por intermédio do ofício juntado no evento nº20 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002 solicitou que fosseconfirmada a necessidade de ser implementada a ordem judicial,sendo que, em resposta, asseverou o juízo a regularidade doprocedimento adotado pela autoridade policial (evento nº 21 dosautos nº 5010297-16.2016.4.04.7002).

Malgrado o lapso temporal decorrido entre aexpedição do alvará nº 700002704278 e a implementação domonitoramento do terminal nº 45999329759, entendo que tal fatonão constitui motivo capaz de ensejar o reconhecimento denulidade da prova obtida, uma vez que apesar do decurso dotempo, não desapareceram ou se alteraram as razões que levaramo juízo a determinar a quebra das comunicações da pessoa então

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identificada como HNI 7 -CONTATO EDGAR GRINGO(posteriormente identificada como NIVALDO CARECA CTTEDGAR), tanto que na subsequente quinzena da interceptaçãotelefônica foi constatado que o próprio EDGAR MARCELOSHIAPPAPIETRA PIAS passou a fazer uso terminal nº45999329759 para a prática, em tese, do crime de tráfico sesubstância entorpecente e para ligações particulares, conforme sedepreende dos diálogos indicados no Auto Circunstanciado deInterceptação nº 10, digitalizado no evento nº 25 dos autos nº5010297-16.2016.4.04.7002 (diálogos indexados sob os nº3400173, 3395230 e 3396810).

A propósito, acerca da utilização do terminal nº45999329759 por EDGAR MARCELO SHIAPPAPIETRA PIAS,observo que NIVALDO SENRA, em seu interrogatório, informouter conhecido EDGAR na prisão, tendo este morado em suaresidência por “uns três ou quatro meses” e que ele fazia uso deseu terminal telefônico (evento nº 162).

Além de EDGAR MARCELO SHIAPPAPIETRAPIAS ter feito uso terminal nº 45999329759 para a prática, emtese, do crime de tráfico se substância entorpecente, foiconstatado que NIVALDO SENRA, de igual sorte, o utilizou paraa prática de condutas ilícitas, engendrando tratativas comconhecidos traficantes desta tríplice fronteira, conforme indicamos áudios indexados sob os nº 3389192, 3390563, 3390586,3390590 e 3390597.

Não há dúvidas, portanto, que o lapso temporalexistente entre a expedição do alvará nº 700002704278 e aimplementação do monitoramento, não fez desaparecer as razõesque levaram o juízo a determinar a interceptação dascomunicações do terminal nº 45999329759, razão pela qual nãohá que ser acolhido o pedido de declaração de nulidadeformulado por BRUNO FELIPE ANDRADE.

Arguiu BRUNO FELIPE ANDRADE haver nodiálogo indexado sob o nº 3268082 “uma voz ao fundo do áudiofaz parecer que houve edição”, bem como que não há como seafirmar que os diálogos interceptados efetivamente ocorreram,arguição que não é digna de acolhimento, porquanto desprovidade qualquer indicativo concreto de que tenham sido efetuadasedições ou promovidas gravações fraudulentas.

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Se não bastasse isso, observo que quando daapresentação da defesa preliminar e/ou na fase do art. 402 doCódigo de Processo Penal, não requereu BRUNO FELIPEANDRADE que fossem os áudios constante dos autossubmetidos a exame pericial, a fim de verificar a existência dequalquer mácula, fato que por si só revela o ausência deseriedade da preliminar arguida.

Arguiu BRUNO FELIPE ANDRADE em seusmemoriais que não foi juntado ao auto ofício da operadora detelefonia confirmando o cumprimento do alvará nº700002704278, fato que não tem o condão de ensejar nulidade daprova obtida por intermédio do monitoramento telefônico,tratando-se de mera irregularidade. Observo, opor oportuno, queapesar de ter veiculado em seus memoriais a arguição de ausênciado referido documento nos autos, durante toda a instruçãomanteve-se silente BRUNO FELIPE ANDRADE acerca de talfato, certamente para o fim de, ao término da instrução, tentar serbeneficiado ao arguir a nulidade do feito, o que, data venia, nãose coaduna com o princípio da boa-fé processual.

Note-se, por oportuno, que BRUNO FELIPEANDRADE não questionou a existência de irregularidade quantoaos prazos monitoramento telefônico autorizado pelo juízo, masapenas o fato de a operadora de telefonia não ter encaminhadopara o juízo informação acerca de seu implemento, conformedeterminado na Resolução nº 59 do Conselho Nacional de Justiça– CNJ, fato que, por si só, não tem o condão de causar ainvalidade da prova.

De mais a mais, arguiu BRUNO FELIPEANDRADE que houve “quebra da cadeia de custódia da provafornecida para a defesa”, bem como que “os metadados dosarquivos de áudio fornecidos a defesa estão corrompidos, nãosendo possível verificar a data das chamadas telefônicas”.

É praxe, na Secretaria deste juízo, efetuar cópiassimples das mídias enviadas pela autoridade policial paradeterminado diretório do servidor de rede, a fim de facilitar eagilizar o fornecimento de tais elementos probatórios para aspartes, em pendrives, hard disks, CD’s, DVD’s etc.

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Em que pese a adoção desse procedimentosimplificado, podem as partes, evidentemente, requerer ofornecimento de cópias idênticas das mídias encaminhadas pelaautoridade policial e/ou pleitear que esta preste esclarecimentosacerca do sistema utilizado para o monitoramento telefônico edos dados identificadores dos diálogos interceptados.

Em que pese ter aquiescido com o fornecimentosimplificado de cópias das supracitadas mídias, visto que emnenhum momento requereu que lhe fossem entregues mídiasidênticas às fornecidas pela autoridade policial, veio BRUNOFELIPE ANDRADE em seus memoriais insurgir-se contra oprocedimento adotado pela secretaria do juízo, sem indicar aexistência de qualquer fato concreto capaz de ensejar dúvida naidoneidade dos diálogos que compõem o arcabouço probatóriodeste processo.

Data venia, repete BRUNO FELIPE ANDRADE atentativa de valer-se de suas próprias omissões para o fim de sever isentado de responsabilidade criminal, visto que, em nenhummomento durante a instrução criminal, apontou a existência demácula na prova acostada aos autos e tampouco requereu ofornecimento de cópias idênticas às das mídias fornecidas pelaautoridade policial.

Outra arguição veiculada por BRUNO FELIPEANDRADE diz respeito ao fato de que não foram juntados aosautos extratos “da operadora com os números interceptados ourelação das chamadas efetuadas e recebidas”, providência que,igualmente, em nenhum momento foi por ele requerida, sendocerto que o fato de ter sido autorizado acesso a tais dados pelaautoridade policial na época da investigação, não quernecessariamente dizer que eles precisariam ser trazidos aos autos.

Além das supracitadas questões, afirmou queBRUNO FELIPE ANDRADE foi interceptada chamada determinal telefônico alheio às investigações, fazendo referência aodiálogo indexado sob o nº 3405671.

A exemplo das demais, beira o absurdo a afirmaçãode BRUNO FELIPE ANDRADE, porquanto estar claro natranscrição do diálogo nº 3405671, inclusive copiada e colada nosmemoriais do evento nº 243 que o áudio foi obtido nomonitoramento do terminal nº 45999329759, pertencente a

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NIVANDO SENRA, sendo que a expressão “não é alvo”, contidano campo “observações”, evidencia que o interlocutor daconversa não era pessoa investigada.

Diante do exposto, não há como serem acolhidos osargumentos expedidos por BRUNO FELIPE ANDRADE,porquanto desprovidos de fundamentos capazes de ensejar oreconhecimento de qualquer mácula nas provas obtidas no cursodo monitoramento telefônico.

2.2. Mérito:

Como dito alhures, o Ministério Público Federalimputou a BRUNO FELIPE ANDRADE, JEFERSON URNAU,LUCAS RODRIGUES ALCIDES, NIVALDO SENRA eRICARDO PEREIRA DOS REIS a prática do crime de tráficotransnacional de drogas, sob argumento de que eles concorrerampara aquisição, em território paraguaio, importação, guarda,manutenção em depósito e transporte de 39,5Kg (trinta e novequilos e quinhentos gramas) de maconha, sem autorização e emdesacordo com determinação legal e regulamentar.

2.2.1. Materialidade:

A materialidade do fato atribuído aos acusadosBRUNO FELIPE ANDRADE, JEFERSON URNAU, LUCASRODRIGUES ALCIDES, NIVALDO SENRA e RICARDOPEREIRA DOS REIS está comprovada em razão da apreensão de61 (sessenta e um) tabletes, contendo 39,500Kg (trinta e novequilos e quinhentos gramas) da substância entorpecentevulgarmente conhecida como maconha, os quais foramencontrados, no dia 13 de abril de 2017, em poder de LUCASRODRIGUES ALCIDES, que os transportava no veículoVW/GOL, placas AGN0840 (página nº 13 dos autos do processonº 0011582-20.2017.8.16.0021, digitalizado no evento nº 01-OUT11).

Amostra da substância apreendida foi submetida aexame pericial, oportunidade em que foi constatado que se trata“de vegetal de coloração amarronzada, sob a forma de ervadessecada e prensada, que acusou massa líquida de #4,323g,tendo sido analisado em seus aspectos organolépticos,morfológicos (estruturas próprias) e químicos (através deexames colorimétricos visando identificar derivados

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canabinóides), direcionados à pesquisa de elementoscaracterísticos da planta Cannabis sativa L., popularmenteconhecida como MACONHA, obtendo-se resultadosPOSITIVOS” (página nº 187 dos autos do processo nº 0011582-20.2017.8.16.0021, digitalizado no evento nº 01-OUT11).

Segundo a Portaria 344/98 da Secretaria deVigilância Sanitária do Ministério da Saúde, a Cannabis sativaLinneu constitui planta que pode originar substância entorpecentee/ou psicotrópica (Lista E), sendo capaz de causar dependênciafísica e/ou psíquica.

Dispõem o parágrafo único do art. 1º, parágrafoúnico, e o art. 66 da Lei nº 11.343/06, in verbis:

Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se comodrogas as substâncias ou os produtos capazes de causardependência, assim especificados em lei ou relacionadosem listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivoda União.

Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art.1º desta Lei, até que seja atualizada a terminologia dalista mencionada no preceito, denominam-se drogassubstâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras eoutras sob controle especial, da Portaria SVS/MS no 344,de 12 de maio de 1998.

Com efeito, havendo nos autos notícia do transportede substância inserida nas listas de planta que pode originarsubstância entorpecente e/ou psicotrópica da Portaria 344/99 daSecretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, e, nostermos dos art. 1º, parágrafo único, e art. 66 da Lei nº 11.343/06,inseridas no conceito legal de droga, resta evidenciada amaterialidade do fato narrado na denúncia.

Posto isso, passo à análise da autoria.

2.2.2. Autoria:

No curso da investigação levada a cabo no bojo daOPERAÇÃO JACUTINGA, foi monitorado o terminal telefôniconº 45999329759, utilizado por EDGAR MARCELOSCHIAPPAPIETRA PIAS (vulgo GRINGO), em razão de ele termantido contato com ALEX SANDRO DE OLIVEIRACARDOSO (vulgo ZANGO), apontado pela Polícia Federal

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como motorista de RAUL SEGATTO, suposto líder do grupoentão investigado, responsável, em tese, pelo tráfico deexacerbadas quantidades de cocaína, do Paraguai para o Brasil.

Conforme consignado no relatório do evento nº 25dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002, foi constatado queEDGAR MARCELO SCHIAPPAPIETRA PIAS manteveconversas com conhecidos traficantes de armas e drogas daregião de Foz do Iguaçu/PR, responsáveis por enviar grandesquantidades de cocaína do Paraguai a cidade do Rio deJaneiro/RJ, conforme dados da investigação cognominada emsede policial como OPERAÇÃO CAVALO DE FOGO. Alémdisso, consta do supracitado relatório informação no sentido deque, no dia 07 de abril de 2017, EDGAR MARCELOSCHIAPPAPIETRA PIAS, conversou com ALEX SANDRO DEOLIVEIRA CARDOSO acerca de um possível transporte desubstância entorpecente (diálogo indexado sob o nº 3399944).

Na mesma época, foi interceptado diálogo travadopor EDGAR MARCELO SCHIAPPAPIETRA PIAS com uso doterminal nº 45999329759, no qual o primeiro perguntou para HNIPRESO (homem não identificado) se “tem como você conversarcom seu parceiro lá em São Paulo”, pois havia “trombado” com“um parceiro que esta com uma plantação ali no Paraguai”, que“tem frete, ele tem tudo, ele só quer o comprador”, esclarecendoque “ele entrega em São Paulo por R$ 700,00, se a genteconsegue vender a R$ 800,00, nós vamos ganhar em cima”, oque farão “sem correr risco nenhum”. Diante de tal proposta,HNI PRESO disse para EDGAR MARCELOSCHIAPPAPIETRA PIAS “vou ver certinho lá e dou um toqueem você. Eu peço para ele falar com você” (diálogo indexado sobo nº 3389192).

Por sua vez, nos dias 06 e 07 de abril de 2017,foram interceptadas mensagens de texto enviadas por EDGARMARCELO SCHIAPPAPIETRA PIAS com os seguintesconteúdos: “Entao vamos para os corre do verde e o mano doaxixe” (mensagem indexada sob o nº 3397083) e “Favor passaque o preco do verde e outro ok! Naquele preco nao da parafazer mais blz” (mensagem indexada sob o nº 3398201).

Referidas mensagens trouxeram a lume fortíssimosindicativos de que EDGAR MARCELO SCHIAPPAPIETRAPIAS estava interessado em adquirir drogas e/ou intermediar sua

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comercialização, conforme dá conta o diálogo indexado sob o nº3389192.

Como já assinalado, para travar referida ligação eenviar as supracitadas mensagens de texto, EDGAR MARCELOSCHIAPPAPIETRA PIAS fez uso do terminal telefônico nº45999329759, que pertence ao acusado NIVALDO SENRA.

Em seu interrogatório, NIVALDO SENRAinformou ter conhecido EDGAR MARCELOSCHIAPPAPIETRA PIAS na prisão, tendo este morado em suaresidência por “uns três ou quatro meses”. Além disso, informouNIVALDO SENRA que EDGAR MARCELOSCHIAPPAPIETRA PIAS é pessoa envolvida com a facçãocriminosa Primeiro Comando da Capital – PCC e, indagadoacerca da ocupação de EDGAR, disse NIVALDO que “não poderesponder o que ele faz na vida” (evento nº 162).

Na mesma época, foram interceptados diálogos querevelaram que NIVALDO SENRA engendrou tratativasrelacionadas ao tráfico de substâncias entorpecentes com diversosindivíduos, dentre os quais JOSÉ STANG (vulgo ZÉVERDADE), processado e condenado na ação penal decorrenteda cognominada OPERAÇÃO OURO BRANCO, em razão daprática dos crimes de tráfico transnacional de drogas e associaçãopara o crime de tráfico transnacional de drogas. Nesse sentido,faço referência aos diálogos indexados sob os nº 3389192,3390563, 3390586, 3390590 e 3390597.

Em síntese, constam dos autos elementosprobatórios que apontam NILVALDO SENRA não só comopessoa responsável por dar abrigo e fornecer meio decomunicação a EDGAR MARCELO SCHIAPPAPIETRA PIAS,pessoa envolvida com a prática do tráfico de drogas e armas,conforme informado pela Polícia Federal, e, conforme afirmadopor NIVALDO em seu interrogatório (evento nº 162), membro doPrimeiro Comando da Capital – PCC, mas também por engendrartratativas relacionadas ao tráfico de substâncias entorpecentescom outros indivíduos, fato que revela se tratar de pessoa que sededica às atividades criminosas, quiçá integrante de organizaçãocriminosa, e, por isso, não merecedora de ser agraciada com aaplicação da causa de diminuição de pena do §4º do art. 33 da Leinº 11.343/06.

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Some-se a tais evidências o fato de NIVALDOSENRA ter admitido em sede policial que “trabalha commuamba”, ou seja, “pessoa que recebe um valor para passarcotas de mercadorias de origem estrangeira do Paraguai para oBrasil”, pelo que “recebe cerca de R$ 150,00 por cota demercadoria passada” (evento nº 18 do inquérito policial nº5013102-05.2017.4.04.7002), declaração que corroborou emjuízo (evento nº 162).

Dentre as pessoas que engendraram tratativasrelacionadas ao tráfico de drogas com NILVALDO SENRA estáRICARDO PEREIRA DOS REIS, detentor antecedentescriminais em razão da prática dos crimes de receptação e tráficode drogas (evento nº 222), que à época do fato sub judice faziauso do terminal telefônico nº 45 99960-8471.

Analisando as conversas travadas entre NIVALDOSENRA e RICARDO PEREIRA DOS REIS foi possívelconstatar que ambos concorreram para a importação dos 39,5Kg(trinta e nove quilos e quinhentos gramas) de maconhaencontrados, no dia 13 de abril de 2017, em poder de LUCASRODRIGUES ALCIDES, fato que constitui objeto da presenteação penal.

Nesse sentido, faço referência aos áudios indexadossob os números: a) 3402980, no qual NIVALDO SENRA dissepara RICARDO PEREIRA DOS REIS que iria “entrar emcontato com o cara para saber se ele já passou para o lado decá, porque estava no seminário do mee filho e o uruguaio nãoestava aqui pra eu usar o ZAP” (travado às 16h19min do dia10/04/2017); b) 3403324, no qual NIVALDO combinou de seencontrar com RICARDO (travado às 08h40min do dia11/04/2017); c) 3403859, no qual RICARDO comenta comNIVALDO que seu WhatsApp parou de funcionar e que não temo “contato com aquele nosso amigo” (travado às 15h46min dodia 11/04/2017); d) 3403932, no qual RICARDO afirma que, pormeio do aparelho telefônico de outra pessoa, mandou mensagempelo aplicativo WhatsApp para “ele” (“nosso amigo”), mas que,apesar de tê-la visualizado, não a respondeu (diálogo travado às16h43min do dia 11/04/2017), diante dos quais concluíram ospoliciais responsáveis pela investigação que “RICARDO e seuscontatos teriam ficado esperando a droga atravessar, mas ofornecedor apresentado por NIVALDO não apareceu, frustrandoas expectativas do primeiro” (evento nº 29 dos autos nº 5010297-

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16.2016.4.04.7002), conclusão reforçada pelas conversastravadas por eles no dia seguinte, indexadas sob os nº 3404739 e3404742.

Conforme se depreende do áudio indexado sob o nº3404739, RICARDO PEREIRA DOS REIS, indagado sobre apessoa identificada no dia anterior como “nosso amigo”, afirmouque “deu nada! Só comédia lá aquele cara. Cara vendeu sósonho ontem pra nós lá” e, ao final, disse para NIVALDO que“Daí pá, deixa quieto, vou falar com outro amigo lá” (diálogotravado às 10h49min do dia 12/04/2017). Logo em seguida,RICARDO PEREIRA DOS REIS e NIVALDO SENRAcontinuam a conversa, oportunidade em que o último disse para oprimeiro: “Eu to chegando agora em casa, eu tava lá do outrolado, Paraguai e ja vou chamar no celular do amigo lá, agora jávou entrar em contato ali. Já puxei outro chá para ai já”,conversa esclarecedora acerca do conteúdo daquilo que estavasendo trazido do Paraguai para o Brasil: maconha (diálogotravado às 10h52min do dia 12/04/2017).

É possível depreender dos supracitados diálogos,portanto, que NIVALDO SENRA, pessoa envolvida comEDGAR MARCELO SCHIAPPAPIETRA PIAS, o qual afirmouem juízo ser vinculado à facção criminosa Primeiro Comando daCapital – PCC, e com outros traficantes estabelecidos nestatríplice fronteira, em conluio com RICARDO PEREIRA DOSREIS, importaram maconha (“chá”) do Paraguai para o Brasil.

Tanto tal conclusão é verdadeira, que, seguindo ospassos de RICARDO PEREIRA DOS REIS e NIVALDOSENRA, lograram agentes do Núcleo de Operações da Delegaciade Polícia Federal de Foz do Iguaçu/PR identificar o veículo quefoi utilizado para transportar a droga até a cidade de Cascavel/PRe repassar informações para a Polícia Rodoviária Federal, quelogrou apreender a res e efetuar a prisão em flagrante de LUCASRODRIGUES ALCIDES.

Com efeito, não há como ser acolhida a arguiçãoexpedida por RICARDO PEREIRA DOS REIS em seusmemoriais, no sentido de que não concorreu para a prática dofato que lhe foi imputado, uma vez que restou evidente que ele,em conluio com NIVALDO SENRA, foi responsável por trazer adroga apreendida, do Paraguai para o Brasil.

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Acerca das diligências que culminaram com aapreensão da droga importada por RICARDO PEREIRA DOSREIS e NIVALDO SENRA, impende observar que, logo após ares ter sido trazida para o Brasil (“Já puxei outro chá para aijá”), NIVALDO telefonou para RICARDO e avisou que estavaindo para o mesmo local onde haviam se encontrado no diaanterior (diálogo indexado sob o nº 3404834).

Com efeito, foi deslocada uma equipe de policiaispara acompanhar o encontro, oportunidade em que lograramobservar que, às 12h, RICARDO PEREIRA DOS REIS, naesquina das Ruas Coaraci e Olímpio Rafagnin, embarcou noveículo VW/GOL, de cor verde, conduzido por NIVALDOSENRA (evento nº 29 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002).

Por oportuno, observo que o local onde NIVALDOSENRA buscou RICARDO PEREIRA DOS REIS é próximo daresidência onde morava BRUNO FELIPE ANDRADE, situadana Rua Coaraci, nº 84, em Foz do Iguaçu/PR.

Nesse passo impende observar que RICARDOPEREIRA DOS REIS, apesar de ter negado em juízo queconcorreu para a importação da maconha apreendida, assumindoresponsabilidade apenas pela contratação de LUCASRODRIGUES ALCIDES para transportá-la (o que, por si só,configura o crime de tráfico de drogas, na forma do art. 29 doCódigo Penal), afirmou que o veículo utilizado para levá-la até acidade de Cascavel/PR partiu da residência de BRUNO FELIPEANDRADE (evento nº 157), bem como que no diálogo indexadosob o nº 3404982 RICARDO disse para NIVALDO SENRA: “O,amigo! Deixei certinho lá com o rapaz...” (diálogo travado às13h21min do dia 12 de abril de 2017).

Em seu interrogatório, RICARDO PEREIRA DOSREIS foi lacônico em narrar a participação dos corréus no fatosub judice, tendo afirmado que, apesar de estar disposto a dizer averdade, tem medo de sofrer represálias, o que, data venia, éplenamente justificável, sobremaneira ao se observar queNIVALDO SENRA é pessoa que assumidamente mantémrelações com membro da facção Primeiro Comando da Capital –PCC e que se dedica à prática de ilícitos. Nada obstante, acabouRICARDO PEREIRA DOS REIS por revelar detalhes acerca daparticipação dos corréus no fato que, conjugados com os demaiselementos probatórios, induzem à conclusão de que BRUNO

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FELIPE ANDRADE não só foi responsável por manter a drogaapreendida em sua residência, como também por fornecer oveículo utilizado para transportá-la até a cidade de Cascavel/PR.

A propósito, afirmou RICARDO PEREIRA DOSREIS em seu interrogatório que, após uma briga com sua esposa,veio para Foz do Iguaçu/PR, onde ficou por dois ou três dias naresidência de seu pai. Depois disso, passou a fazer uso de drogascom um amigo, indo em certo momento para o Jardim Jupira embusca de mais substância entorpecente, até que seu dinheiroacabou. Naquela localidade, RICARDO PEREIRA DOS REISencontrou duas pessoas, sendo que uma delas, ao observar queestava sujo, perguntou o que tinha acontecido e o convidou parair em sua residência para tomar banho (evento nº 157).

Neste passo, insta rememorar que os diálogosinterceptados e o local onde RICARDO PEREIRA DOS REIS foivisto sendo apanhado por NIVALDO URNAL dão conta de que oprimeiro estava no dia que precedeu à apreensão da droga naresidência de BRUNO FELIPE ANDRADE, o que evidencia queeste é uma das pessoas que se encontrou com RICARDO noJardim Jupira e lhe ofereceu sua residência para tomar banho.

Em seguida, afirmou RICARDO PEREIRA DOSREIS que, após pedir dinheiro emprestado, um dos indivíduosque encontrou no Jardim Jupira lhe disse que havia perdidoalgumas mercadorias e lhe fez a proposta de transportar drogas, oque este acabou aceitando. Adiante, indagado sobre aparticipação de BRUNO FELIPE ANDRADE e NIVALDOURNAL no fato, optou RICARDO PEREIRA DOS REIS porfazer uso do direito de permanecer em silêncio, esclarecendo,contudo, que conheceu NIVALDO na última vez que veio paraFoz do Iguaçu/PR, bem como que BRUNO trabalhava commercadorias contrabandeadas / descaminhadas, dirigindoveículos carregados com cigarros. Perguntado acerca dapropriedade do veículo utilizado para transportar a droga,afirmou RICARDO PEREIRA DOS REIS que ele pertencia amesma pessoa que era proprietária da residência utilizada paramanutenção dela em depósito, ou seja, BRUNO FELIPEANDRADE (evento nº 157).

Vê-se, portanto, que embora RICARDO PEREIRADOS REIS tenha resistindo em revelar detalhes do envolvimentodos corréus no fato sub judice, acabou por apontar BRUNO

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FELIPE ANDRADE como responsável pela residência utilizadapara manutenção da droga em depósito, bem como pelo veículoutilizado para transportá-la.

Observo, por oportuno, que RICARDO PEREIRADOS REIS, embora tenha apontado a participação de BRUNOFELIPE ANDRADE e NIVALDO URNAL, tal fato não pode sersubentendido como colaboração voluntária com a investigaçãopolicial e o com processo criminal, vez que não resultou naidentificação dos demais coautores ou partícipes, que, in casu, jáeram conhecidos, e tampouco na recuperação total ou parcial doproduto do crime, na medida em que a droga foi apreendida semsua participação. Com efeito, diferentemente do aduzido porRICARDO PEREIRA DOS REIS em seus memoriais, não há quese falar na aplicação da causa de diminuição do art. 41 da Lei nº11.343/06.

Após a droga ter sido deixada sob responsabilidadede BRUNO FELIPE ANDRADE (“O, amigo! Deixei certinho lácom o rapaz...” - diálogo travado às 13h21min do dia 12 de abrilde 2017), RICARDO PEREIRA DOS REIS voltou a conversarcom NIVALDO SENRA, oportunidade em que o avisou queestava esperando o rapaz chegar, e que “qualquer coisa eu te ligopra vir me buscar” (diálogo indexado sob o nº 3405170).

Em seu interrogatório, afirmou LUCASRODRIGUES ALCIDES que foi contratado por RICARDOPEREIRA DOS REIS para transportar a droga apreendida, tendotomado a direção do veículo que a carregava na residência deBRUNO FELIPE ANDRADE, o que aconteceu por volta das19h30min, conforme consta da Informação nº 41/2017,digitalizada no evento nº 29 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002. Com efeito, é possível afirmar que a pessoareferida por RICARDO PEREIRA DOS REIS no diálogoindexado sob o nº 3405170 era LUCAS RODRIGUESALCIDES, o qual foi responsável pelo transporte da droga.

Diante de tais elementos probatórios é possívelconcluir que NIVALDO SENRA não foi responsável por indicarfornecedor de drogas para RICARDO PEREIRA DOS REIS.Diferentemente, depreende-se das supracitadas conversas queambos engendraram tratativas relacionadas à importação damaconha que posteriormente foi apreendida pela PolíciaRodoviária Federal, bem como que RICARDO PEREIRA DOS

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REIS informou a NIVALDO SENRA o fato de ter deixado adroga “certinho lá com o rapaz lá” (BRUNO FELIPEANDRADE) e que estava esperando “o rapaz chegar” (LUCASRODRIGUES ALCIDES). Ademais, restou evidenciado queRICARDO PEREIRA DOS REIS foi responsável pelacontratação de LUCAS RODRIGUES ALCIDES para conduzir oveículo utilizado para transportar a droga apreendida até a cidadede Cascavel/PR.

Diante de tais evidências, não há como se acolher aafirmação expedida por RICARDO PEREIRA DOS REIS emseus memoriais, no sentido de que seu cotato com os corréus sedeu em razão de ser viciado em drogas e por conta de dívidasrelacionadas ao consumo de substância entorpecente. Igualmente,não há como se afirmar que RICARDO PEREIRA DOS REIS seviu obrigado a transportar a droga aprendida e que, por talmotivo, acabou por indicar LUCAS RODRIGUES ALCIDESpara realizar tal tarefa.

Embora RICARDO PEREIRA DOS REIS eNIVALDO SENRA tenham articulado teses no sentido de secolocarem às margens da ação que resultou no transporte dos39,5Kg (trinta e nove quilos e quinhentos gramas) de maconhaapreendidos, o primeiro sustentando que foi responsável apenaspela indicação de LUCAS RODRIGUES ALCIDES paraconduzir o veículo utilizado na malsinada empreitada e osegundo afirmando que tão-só indicou um motorista de táxi paraRICARDO trazer eletrônicos do Paraguai, não há dúvidas de queambos foram responsáveis pela importação da res, conformecomprovam os diálogos interceptados com autorização do juízo.Além disso, está devidamente demonstrado que RICARDOPEREIRA DOS REIS, além de ter indicado LUCASRODRIGUES ALCIDES para realizar o transporte da res, foiresponsável por conduzi-la até a residência de BRUNO FELIPEANDRADE, onde foi por este mantida em depósito.

Data venia, ainda que RICARDO PEREIRA DOSREIS seja viciado em drogas, com exceção de suas própriaspalavras, não há nos autos nenhum elemento probatório capaz desequer indicar que, quando do fato, não tinha capacidade deentender o caráter ilícito do fato ou de se determinar de acordocom esse entendimento e tampouco que foi, de qualquer forma,coagido a participar da importação e transporte da drogaapreendida. Diferentemente, os diálogos interceptados dão conta

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de que agiu em sintonia com NIVALDO SENRA e BRUNOFELIPE ANDRADE, não sendo crível que uma pessoa sob efeitode substância entorpecente seja capaz de empreender tarefa comoa noticiada nos autos. Por tal motivo, não há que se falar naaplicação da causa de redução de pena do art. 46 da Lei nº11.363/06.

Às 17h do dia 12 de abril de 2017, RICARDOPEREIRA DOS REIS telefonou para NILVALDO SENRApedindo que o buscasse no posto de combustíveis situado emfrente da Delegacia de Polícia Federal em Foz do Iguaçu/PR(diálogo indexado sob o nº 3405353), oportunidade em quevoltaram a ser acompanhados por uma equipe de policiaisfederais, a qual logrou observar que o RICARDO desembarcoudo veículo conduzido por NIVALDO (Gol, verde, placasAGF0041) na Avenida República Argentina e adentrou em umlocal não identificado (Informação Policial nº 041/2017 – eventonº 29 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002). Nesseinterregno, foi interceptado o diálogo indexado sob o nº 3405387,no qual NIVALDO SENRA perguntou onde RICARDOPEREIRA DOS REIS estava, ao que este respondeu estar dentrodo barracão, mas que logo já estava indo lá fora, ou seja, aoencontro do primeiro (diálogo travado às 17h36min do dia12/04/2017). Após se reencontrarem, NIVALDO SENRA levouRICARDO PEREIRA DOS REIS até a residência situada na RuaCoaraci nº 84 (Informação Policial nº 041/2017), residência deBRUNO FELIPE ANDRADE, na qual se encontrava o veículoVW/GOL, branco, placas AGN0840 (Informação Policial nº041/2017– evento nº 29 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002)..

Conforme já asseverado, RICARDO PEREIRADOS REIS, embora tenha sido renitente em não apontar aparticipação dos corréus no fato sub judice, acabou porindiretamente indicar BRUNO FELIPE ANDRADE como donoda residência utilizada para manutenção da droga apreendida emdepósito, bem como por fornecer o veículo utilizado paratransportá-la até a cidade de Cascavel/PR.

BRUNO FELIPE ANDRADE, inquirido pelaautoridade policial, afirmou que não conhece NIVALDO SENRAe, “perguntado sobre qual relação possui RICARDO PEREIRADOS REIS respondeu que vendeu um VW/GOL, branco, para omesmo por R$ 6.700,00; que tendo sido relatado e detalhado o

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FATO 1 relativo a apreensão de 40 kg de MACONHA pela PRFem Cascavel no dia 13/04/2017 e que estavam sendotransportados no veículo VW/GOL placas AGN0840, conduzidopor LUCAS RODRIGUES ALCIDES e sendo escoltado (batido)por RICARDO PEREIRA DOS REIS, BRUNO FELIPEANDRADE e JEFFERSON URNAU, os quais viajavam noveículo VW/SANTANA, placas ABN0696, (...) respondeu que nãotem nenhum vínculo com a droga apreendida, que teria apenasvendido o automóvel GOL para o RICARDO; (...) queperguntado sobre quem reside na Rua Coraci, nº 84, ondeRICARDO foi deixado por NIVALDO, que utilizava o VW/Gol deplacas AGF0041, respondeu que a casa era sua mas a vendeupara MIGUEL ALBERTO FERNANDES” (evento nº 18 doinquérito policial nº 5013102-05.2017.4.04.7002).

Em juízo, BRUNO FELIPE ANDRADE voltou asustentar que o veículo utilizado para transportar a drogaapreendida não lhe pertencia. Segundo o réu, diferentemente doque afirmou em sede policial, referido veículo pertencia aRICARDO PEREIRA DOS REIS, tendo apenas intermediado suavenda para LUCAS RODRIGUES ALCIDES. Ocorre que, comoreferido veículo apresentou problemas mecânicos, LUCASRODRIGUES ALCIDES foi com ele até sua residência a fim deser consertado, sendo que, após ter sido reparado, LUCAS olevou até as margens da BR277, onde foi apanhado porRICARDO PEREIRA DOS REIS e JEFFERSON URNAL, a fimde irem para Cascavel/PR, onde disse faria um curso detransporte de valores na empresa PROFORTE (evento nº 175).

Data venia, as escusas apresentadas por BRUNOFELIPE ANDRADE não possuem verossimilhança e tampoucoestão amparadas pelos elementos probatórios colacionados aosautos, devendo ser observado, desde o início, que o réu nãologrou trazer aos autos nenhum documento capaz de comprovarque sua estada na cidade de Cascavel/PR foi motivada pelarealização de um curso de transporte de valores na empresaPROFORTE, o que poderia fazer de forma simples, mediante ajuntada documento de matrícula, comprovantes de pagamento,folders etc.

Meramente a título de informação, observo que emconsulta ao site de pesquisa Google foi possível observar que ogrupo econômico ao qual PROFORTE / PROTEGE prestaserviços de formação de vigilantes e extensão em transporte de

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valores por intermédio de PROVIG, estabelecida na cidade deSão Paulo. Ademais, conforme informado na home page dasupracitada empresa, são pré-requisitos para participação nosupracitado curso, que é composto por 50 horas-aula, serbrasileiro e ser maior de 21 anos; estar em dia com as obrigaçõeseleitorais e militares; ter instrução correspondente à 4ª série doensino fundamental; ter concluído o curso de formação devigilantes; não registrar antecedentes criminais; ter sido aprovadoem exame de saúde física e mental.

Note-se que BRUNO FELIPE ANDRADE, ao serindagado acerca do supracitado curso, não soube informardetalhes acerca de sua realização, ora dizendo que foi paraCascavel/PR para fazê-lo, ora dizendo que foi para aquela cidadeem busca de informações. Se não bastasse isso, RICARDOPEREIRA DOS REIS, em seu interrogatório, afirmou que ele eBRUNO FELIPE ANDRADE mentiram quando disseram paraJEFFERSON URNAL e Leodinada Pereira da Silveira queBRUNO ia a Cascavel/PR participar do referido curso (evento nº157).

Não logrou BRUNO FELIPE ANDRADE,ademais, se desvencilhar do fato de ter fornecido o veículoutilizado para transportar a droga apreendida, devendo serobservado que a versão por ele esposada, no sentido de quereferido automóvel foi levado em sua residência a fim de serconsertado foi afastada pelas declarações de LUCASRODRIGUES ALCIDES que, sem qualquer interesse em atribuira ele qualquer responsabilidade, afirmou que não foi naquelalocal solicitar qualquer reparo e que o carro não apresentavanenhum problema. Aliás, disse LUCAS RODRIGUES ALCIDESque chegou na residência de BRUNO FELIPE ANDRADE,tomou a direção do veículo, e saiu em direção a cidade deCascavel/PR, bem como que não comprou a res, fatos queacabaram sendo corroborados pelas declarações de RICARDOPEREIRA DOS REIS (evento nº 162).

Como dito alhures, LUCAS RODRIGUESALCIDES foi até residência de BRUNO FELIPE ANDRADE,onde, após receber o veículo carregado com a droga apreendida,rumou em direção a BR 277, onde, segundo consignado no AutoCircunstanciado do evento nº 29 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002, deixou BRUNO na BR277, nas proximidadesdo Hotel Rafain. Em seguida, LUCAS RODRIGUES ALCIDES

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seguiu em direção a Cascavel/PR com o veículo utilizado paratransportar a droga apreendida, enquanto BRUNO FELIPEANDRADE embarcou em um veículo VW/Santana, conduzidopor JEFFERSON URNAL, que, igualmente, seguiu em direção aCascavel/PR.

O agente de polícia federal Fábio RamalhoConceição, inquirido na qualidade de testemunha, afirmou emjuízo que ele e o APF Niero foram acionados para fazer umacompanhamento na Av. José Maria de Brito, de onde puderamobservar que RICARDO PEREIRA DOS REIS e NIVALDOSENRA, após passarem por um local nas proximidades doSupermercado Muffato, na Av. República Argentina, seguiramem direção à BR 277, onde RICARDO foi deixado. Após isso,RICARDO seguiu até uma residência, onde havia um veículoVW/GOL, de cor banca, a qual foi mantida sob vigilância.Algum tempo depois, segundo informou a testemunha,RICARDO PEREIRA DOS REIS saiu da residência a pé,oportunidade em que foi perdido de vista. Logo depois, saiu daresidência o veículo VW/GOL, que se dirigiu para BR 277,sentido Curitiba/PR, sendo que, naquele momento acabaram poravistar RICARDO adentrando em um veículo VW/SANTANA, oqual optaram por seguir, em razão de presumirem que ele estavasendo utilizado para o transporte da droga trazida por RICARDOe NIVALDO do Paraguai (evento nº 157).

Logo em seguida, o veículo VW/SANTANA foiabordado no posto da Polícia Rodoviária Federal da BR277, emSanta Terezinha de Itaipu/PR, oportunidade em que foramidentificadas as pessoas que estavam no interior do veículoVW/SANTANA, de placas ANB 0696: JEFFERSON ARNAU,BRUNO FELIPE ANDRADE e RICARDO PEREIRA DOSREIS (evento nº 29 dos autos nº 5010297-16.2016.4.04.7002).

JEFFERSON ARNAU, em sede policial, afirmouque “conhece alguns ‘BRUNOS’, mas não sabe se algum dele sechama BRUNO FELIPE ANDRADE” e, indagado acerca dosfatos, afirmou que “naquela data, RICARDO apareceu na suacasa (à pé, sendo que possivelmente ele veio para Foz do Iguaçude ônibus); (...) que não sabe o motivo da viagem de RICARDOpara Foz do Iguaçu/PR; que RICARDO chamou para ir paraCascavel visitar LEUDIVÂNIA, irmã de sua companheira; queaceitaram o convite e iniciaram a viagem para Cascavel com seuveículo VW/SANTANA, placas ANB0696; que como estava sem

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dinheiro na época, RICARDO disse que pagaria o combustível eque poderiam ficar em sua casa em Cascavel; que tambémestava presente BRUNO, que solicitou carona, vez que iria paraCascavel fazer um curso, possivelmente de vigilante; que explicaque BRUNO era marido da prima de sua companheira e residiana mesma rua em que reside; também estava presente sua esposaLEUDINARA; (...) que afirma que não estavam acompanhandooutro veículo no trajeto; que desconhecia a existência de umveículo VW/GOL carregado com droga; que desconhece quemseria “AMIGO” citado por NIVALDO e RICARDO; que afirmadesconhecer qualquer negociação de droga no contexto daviagem que efetuou com RICARDO” (evento nº 18 do inquéritopolicial nº 5013102-05.2017.4.04.7002).

Em seu interrogatório, afirmou JEFFERSONURNAU que, na data dos fatos, viajou para Cascavel/PR emcompanhia de RICARDO PEREIRA DOS REIS, BRUNOFELIPE ANDRADE e de sua esposa Leodinara Pereira daSilveira. Segundo JEFFERSON, na data dos fatos, RICARDOPEREIRA DOS REIS passou em sua residência e o convidoupara ir para sua casa na cidade de Cascavel/PR para passar oferiado da páscoa o que, após concordância de Leodinara Pereirada Silveira, acabou aceitando (evento nº 162). Leodinara Pereirada Silveira, inquirida na qualidade de testemunha, e o corréuRICARDO PEREIRA DOS REIS corroboraram as declaraçõesde JEFFERSON URNAU. BRUNO FELIPE ANDRADE,igualmente, afirmou que apenas pegou uma carona comJEFFERSON URNAU para ir a cidade de Cascavel/PR (eventonº 157). LUCAS RODRIGUES ALCIDES, por sua vez, afirmousequer ter visto o veículo VW/Santana conduzido porJEFFERSON. Diante das supracitadas declarações, tem-se que osindicativos da participação de JEFFERSON URNAU no fato subjudice restaram ilididos, razão pela qual deve ser absolvido.

Por volta da meia-noite do dia dos fatos, foi oveículo VW/GOL, branco, placas AGN0840, que no final datarde estava na residência em que se encontravam RICARDOPEREIRA DOS REIS e BRUNO FELIPE ANDRADE, entãoconduzido por LUCAS RODRIGUES ALCIDES, abordado porPoliciais Rodoviários Federais, os quais lograram constatar queem seu interior havia aproximadamente 40Kg (quarenta quilos)de maconha.

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Em seu interrogatório, afirmou LUCASRODRIGUES ALCIDES que, em determinada oportunidade,encontrou com RICARDO PEREIRA DOS REIS, comentou queestava desempregado e perguntou a ele se ele sabia de algumaoportunidade de trabalho. Diante disso, RICARDO PEREIRADOS REIS entrou em contato com LUCAS RODRIGUESALCIDES e lhe fez a proposta de conduzir o veículo utilizadopara transportar a droga apreendida. Aceita a proposta, LUCASRODRIGUES ALCIDES veio para Foz do Iguaçu/PR no diaanterior ao do fato sub judice e ficou hospedado em uma espéciede pensão, situada nas proximidades da Rodoviária Internacionalde Foz do Iguaçu/PR, onde permaneceu até o horário de buscar osupracitado veículo. Após isso, de forma não esclarecida, sedirigiu até a residência onde estava estacionado o veículo,assumiu sua direção e seguiu para a cidade de Cascavel/PR.Indagado acerca do supracitado veículo, afirmou LUCASRODRIGUES ALCIDES não saber quem é seu proprietário,esclarecendo, ao contrário do afirmado por BRUNO FELIPEANDRADE, que ele não lhe pertencia e que tampoucoapresentava problemas mecânicos. Na mesma oportunidade,esclareceu LUCAS RODRIGUES ALCIDES saber que estavatransportando droga, que RICARDO PEREIRA DOS REIS nãolhe pareceu desesperado quando de sua contratação e quando foia residência de BRUNO FELIPE ANDRADE receber o veículo,lá estavam duas pessoas, dentre as quais RICARDO PEREIRADOS REIS, bem como que este, quando lhe propôs malsinadaempreitada, não parecia estar sob efeito de substânciaentorpecente.

Diante do exposto, não há dúvida de que: a)RICARDO FERREIRA DOS REIS e NIVALDO SENRAimportaram a droga apreendida e a transportaram até a residênciade BRUNO FELIPE ANDRADE; b) BRUNO FELIPEANDRADE recebeu, manteve em depósito em sua residência econcorreu para o transporte da droga apreendida, mediantefornecimento do veículo utilizado para levá-la até a cidade deCascavel; c) RICARDO FERREIRA DOS REIS concorreu para otransporte da droga, em razão de ter contratado LUCASRODRIGUES ALCIDES para levá-la até a cidade deParanaguá/PR; d) LUCAS RODRIGUES ALCIDES transportoua droga apreendida até a cidade de Cascavel/PR.

2.2.3. Tipicidade:

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Restou demonstrado no tópico anterior queRICARDO FERREIRA DOS REIS e NIVALDO SENRAimportaram, do Paraguai para o Brasil, 61 (sessenta e um)tabletes, contendo 39,500Kg (trinta e nove quilos e quinhentosgramas), da substância entorpecente vulgarmente conhecidacomo maconha, e os transportaram até a residência situada naRua Coraci, nº 84, em Foz do Iguaçu/PR, onde foi recebida emantida em depósito por BRUNO FELIPE ANDRADE.Posteriormente, BRUNO FELIPE ANDRADE forneceu oveículo VW/GOL, placas AGN0840, para que LUCASRODRIGUES ALCIDES, contratado por RICARDO FERREIRADOS REIS, transportasse a res até a cidade de Paranaguá/PR.

Dispõe o art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir,fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter emdepósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, aindaque gratuitamente, sem autorização ou em desacordo comdeterminação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos epagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos)dias-multa.

O crime de tráfico de drogas caracteriza-se emimportar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar,trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumoou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ouem desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Trata-se de crime comum, que pode ser cometidopor qualquer pessoa, cuja objetividade jurídica diz respeito àproteção da saúde e incolumidade públicas. Caracteriza-se comocrime formal, uma vez que independe de resultado naturalístico,bastando a prática da conduta descrita no tipo.

É tipo de ação múltipla, em que a realização deuma das ações previstas é suficiente para a caracterização doilícito penal, desde que, porém, o autor tenha consciência docaráter da substância em questão.

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Diante dos elementos colacionados aos autos, épossível afirmar, sem sombra de dúvidas, que a condutaperpetrada pelos acusados BRUNO FELIPE ANDRADE,LUCAS RODRIGUES ALCIDES, NIVALDO SENRA eRICARDO PEREIRA DOS REIS, subsume-se ao tipoincriminador do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, da Lei nº11.343/06. Como restou demonstrado no tópico anterior,NIVALDO SENRA e RICARDO PEREIRA DOS REISimportaram e transportaram a droga apreendida; BRUNOFELIPE ANDRADE manteve a res em depósito e concorreu paraseu transporte; LUCAS RODRIGUES ALCIDES, por sua vez,transportou a maconha de Foz do Iguaçu/PR até a cidade deCascavel/PR.

A maconha e seu principal componente, otetraidrocanabinol, como demonstrado no tópico relativo àmaterialidade, estão inseridas nas Listas E e F da Portaria 344/98da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e,consequentemente, no conceito de droga ofertado pelo art. 1º,parágrafo único, e art. 66 da Lei nº 11.343/06.

Segundo o art. 14, inciso I, aliena "d", do Decreto5.912/08, compete ao Ministério da Saúde assegurar a emissão daindispensável licença prévia, pela autoridade sanitáriacompetente, para, dentre outras atividades, transporte de drogasou matéria-prima destinada à sua preparação, observadas asdemais exigências legais. Embora não tenham sido indagadosacerca da indispensável licença prévia para transportar droga,diante das circunstâncias do caso, é incontestável que o fato sedeu ao arrepio das normas legais e regulamentares que regem otrânsito lícito de substâncias entorpecentes e sem a devidachancela da autoridade administrativa competente.

Há incidência, in casu, da causa de aumento depena do inciso I do art. 40 da Lei nº 11.343/06, na medida em quea droga apreendida foi trazida do Paraguai para o Brasil porNIVALDO SENRA e RICARDO PEREIRA DOS REIS, fato queevidencia a transnacionalidade.

A propósito, observo que a causa de aumento depena do inciso I do art. 40 da Lei nº 11.343/06, por expressadisposição legal, aplica-se a todas as hipóteses típicas previstasno art. 33 da Lei.

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Diante de tais constatações, não há dúvidas de queas condutas de BRUNO FELIPE ANDRADE, LUCASRODRIGUES ALCIDES, NIVALDO SENRA e RICARDOPEREIRA DOS REIS se subsumem ao tipo do art. 33, caput, c/cart. 40, inciso I, da Lei nº 11.343/06.

Adequando-se a conduta de RICARDO PEREIRADOS REIS ao tipo incriminador do art. 33, caput, c/c art. 40,inciso I, da Lei nº 11.343/06, não há que se cogitar nadesclassificação do fato para as hipóteses previstas nos art. 28 ou35 da mesma lei.

2.2.4. Ilicitude e culpabilidade:

Em sumária síntese, ilicitude ou antijuridicidadeconsubstancia-se na relação de contrariedade que se estabeleceentre a conduta e o ordenamento jurídico. Nesse sentido, serálícita a conduta quando o agente houver atuado amparado poralguma causa excludente da ilicitude, as quais, via de regra, estãoprevistas no art. 23 do Código Penal (estado de necessidade,legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal, exercícioregular de direito). É diretriz dominante em nosso ordenamentoque a tipicidade indica a antijuridicidade. Nesse sentido,praticado um fato típico, presume-se também antijurídico, atéprova em contrário (teoria da ratio cognoscendi). Como, in casu,não foi levantada qualquer situação que implicasse a exclusão dailicitude, tenho-a por presente.

Culpabilidade é o juízo de censura(reprovabilidade) que incide sobre a formação e a exteriorizaçãoda vontade do responsável pela prática de um fato típico eantijurídico, com o propósito de aferir a necessidade deimposição da pena. Cuida-se, assim, de pressuposto paraaplicação da pena. As excludentes de culpabilidade, tambémdenominadas de dirimentes ou eximentes, são três, e se traduzemnas causas que excluem imputabilidade, consciência da ilicitude ea exigibilidade de conduta diversa. Como não há nos autosnotícia da existência de qualquer dessas causas excludentes,deves os acusados BRUNO FELIPE ANDRADE, LUCASRODRIGUES ALCIDES, NIVALDO SENRA e RICARDOPEREIRA DOS REIS ser condenado, como forma de prevenir ereprimir a prática delitiva.

2.2.5. Veículo apreendido:

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Com fundamento no art. 246, parágrafo único, daConstituição Federal, há que ser decretado o confisco do veículoVW/GOL, placas AGN0840, haja vista ter sido utilizado para otransporte da droga apreendida.

2.2.6. Justiça gratuita:

Não há que se falsar, in casu, na concessão dosbenefícios da justiça gratuita, porquanto tal tarefa está afeta àsatribuições do juízo das execuções penais (nesse sentido: TRF4,ACR 5012651-87.2011.404.7002, Oitava Turma, Relator p/Acórdão Paulo Afonso Brum Vaz, D.E. 17/04/2013).

2.2.7. Prisão preventiva:

Dispõe o art. 311 do Código de Processo Penal que,“em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal,caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se nocurso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público,do querelante ou do assistente, ou por representação daautoridade policial”. Por sua vez, preceitua o art. 312 do Códigode Processo Penal que “a prisão preventiva poderá ser decretadacomo garantia da ordem pública, da ordem econômica, porconveniência da instrução criminal, ou para assegurar aaplicação da lei penal, quando houver prova da existência docrime e indício suficiente de autoria”.

No caso dos autos, restou comprovada a existênciade prova da materialidade do crime do art. 33, caput, c/c art. 40,inciso I, da Lei nº 11.343/06 (item nº 2.2.1.), bem como de suarespectiva autoria, visto estar incontestavelmente comprovadoque NILVADO SENRA, em conluio com RICARDO FERREIRADOS REIS, importou, do Paraguai para o Brasil, 61 (sessenta eum) tabletes, contendo 39,500Kg (trinta e nove quilos equinhentos gramas), da substância entorpecente vulgarmenteconhecida como maconha, e os transportaram até a residênciasituada na Rua Coraci, nº 84, em Foz do Iguaçu/PR, onde foirecebida e mantida em depósito por BRUNO FELIPEANDRADE (item nº 2.2.2.).

No tópico relativo à autoria foi asseverado pelojuízo que os elementos probatórios constantes dos autos apontamNILVALDO SENRA “não só como pessoa responsável por darabrigo e fornecer meio de comunicação a EDGAR MARCELO

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SCHIAPPAPIETRA PIAS, pessoa envolvida com a prática dotráfico de drogas e armas, conforme informado pela PolíciaFederal, e, conforme afirmado por NIVALDO em seuinterrogatório (evento nº 162), membro do Primeiro Comando daCapital – PCC, mas também por engendrar tratativasrelacionadas ao tráfico de substâncias entorpecentes com outrosindivíduos, fato que revela se tratar de pessoa que se dedica àsatividades criminosas, quiçá integrante de organizaçãocriminosa” (item nº 2.2.2).

Nesse sentido, rememoro que no curso dasinvestigações foram interceptados diálogos que revelaram queNIVALDO SENRA engendrou tratativas relacionadas ao tráficode substâncias entorpecentes com diversos indivíduos, dentre osquais JOSÉ STANG (vulgo ZÉ VERDADE), processado econdenado na ação penal decorrente da cognominadaOPERAÇÃO OURO BRANCO, em razão da prática dos crimesde tráfico transnacional de drogas e associação para o crime detráfico transnacional de drogas, conforme demonstram osdiálogos indexados sob os nº 3389192, 3390563, 3390586,3390590 e 3390597.

Some-se à supracitada constatação o fato deNIVALDO SENRA ter admitido em sede policial que “trabalhacom muamba”, ou seja, “pessoa que recebe um valor parapassar cotas de mercadorias de origem estrangeira do Paraguaipara o Brasil”, pelo que “recebe cerca de R$ 150,00 por cota demercadoria passada” (evento nº 18 do inquérito policial nº5013102-05.2017.4.04.7002), declaração que corroborou emjuízo (evento nº 162).

Além do envolvimento com indivíduo integrantePrimeiro Comando da Capital – PCC, ao qual deu abrigo em suaresidência e forneceu aparato de comunicação utilizado para aprática do tráfico de drogas, e com notórios traficantes atuantesneste tríplice fronteira, NIVALDO SENRA que, tanto à época dosfatos, quanto na oportunidade de seu interrogatório, que“trabalha com muamba”, ou seja, “pessoa que recebe um valorpara passar cotas de mercadorias de origem estrangeira doParaguai para o Brasil”, pelo que “recebe cerca de R$ 150,00por cota de mercadoria passada” (evento nº 18 do inquéritopolicial nº 5013102-05.2017.4.04.7002 e evento nº 162 destesautos).

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Se não bastasse isso, conforme se depreende dascertidões dos eventos nº 222 e 245, ostenta NILVALDO SENRAas seguintes condenações:

a) Ação penal 1016/1999 da 2ª Vara Criminal da Comarcade Foz do Iguaçu/PR: condenado à pena de 10 (dez)meses, pela prática do crime do art. 306 da Lei nº9.503/97 (trânsito em julgado em 27 de setembro de 2004),cuja pena foi declarada extinta pela prescrição, no dia 01de junho de 2005 (execução penal nº 2005011-00.0000.0.00.0094).

b) Ação penal nº 224/2000 da 1ª Vara Criminal daComarca de Foz do Iguaçu/PR: condenado à pena de 03(três) anos e 09 (nove) meses, pela prática do crime do art.12 da Lei nº 6.368/76 (trânsito em julgado em 21 de maiode 2002, cuja pena foi declarada extinta pelo cumprimentono dia 03 de fevereiro de 2004 (execução penal nº2002047-00.0000.0.00.0059);

c) Ação penal nº 316-6/2007 da 1ª Vara Criminal daComarca de Guarapuava/PR: condenado à pena de 05(cinco) anos e 06 (seis) meses, pela prática dos crimes dosart. 304 c/c 297 e 180 do Código Penal (trânsito emjulgado em 18 de janeiro de 2008, cuja pena foi declaradaextinta pelo cumprimento no dia 25 de fevereiro de 2004(execução penal nº 0000441-23.2007.8.16.0031);

d) Ação penal nº 1975-6/2010 da 1ª Vara Criminal daComarca de Foz do Iguaçu/PR: condenado à pena de 05(cinco) anos e 06 (seis) meses, pela prática do crime doart. 33, caput, da Lei nº 11.343/06 (trânsito em julgado em14 de dezembro de 2010), cuja pena foi declarada extintapelo cumprimento no dia 05 de julho de 2012 (execuçãopenal nº 1079338-00.2010.8.16.0030).

Vê-se, portanto, que apesar de ter sido condenadopor diversas vezes, NIVALDO SENRA permaneceu envolvidocom pessoas ligadas ao tráfico de drogas e voltou a praticar, deforma reiterada, condutas criminosas, fato que revela que aspunições que lhe foram impostas não foram suficientes paraafastá-lo da delinquência.

Diante de tal quadro, há que ser decretada a prisãopreventiva de NIVALDO SENRA, para garantia da ordempública, de modo a obstar a reiteração criminosa, porquanto

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restar comprovado, inclusive pelas próprias declarações doacusado, que apesar de ele ter sido preso e condenado, pordiversas vezes, faz da prática ilícita um meio de vida.

3. DISPOSITIVO:

Ante o exposto, julgo parcialmente procedente opedido formulado pelo Ministério Público Federal, para o fim deCONDENAR os acusados BRUNO FELIPE ANDRADE,LUCAS RODRIGUES ALCIDES, NIVALDO SENRA eRICARDO PEREIRA DOS REIS, já qualificados, às penas doart. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, da Lei nº 11.343/06, bem comoao pagamento das custas processuais, bem como ABSOLVER odenunciado JEFERSON URNAU, com fundamento no art. 386,inciso V, do Código de Processo Penal.

Com fundamento no art. 246, parágrafo único, daConstituição Federal, DECRETO o confisco do veículoVW/GOL, placas AGN0840, haja vista ter sido utilizado para otransporte da droga apreendida.

Ademais, com fundamento no art. 312 do Códigode Processo Penal, decreto a prisão preventiva do acusadoNIVALDO SENRA, para garantia da ordem pública.

4. FIXAÇÃO DAS PENAS:

4.1. BRUNO FELIPE ANDRADE:

4.1.1. Pena privativa de Liberdade e de multa:

Analisando as circunstâncias estabelecidas nos art.59 do Código Penal e art. 42 da Lei nº 11.343/06, verifico que ograu de culpabilidade é normal à espécie. Não há elementos nosautos que permitam avaliar a conduta social e a personalidade doacusado BRUNO FELIPE ANDRADE. Não há nos autos notíciaacerca da existência de maus antecedentes. Os motivos do crimesão normais à espécie. As consequências são próprias do crimeem questão e não se revelaram de maior gravidade. A vítima nãofavoreceu a ocorrência dos fatos delitivos. Segundo entendimentoesposado pela Quarta Seção do Tribunal Regional Federal da 4ªRegião, “valora-se negativamente a circunstância quantidade dedroga apreendida, prevista no art. 42 da Lei nº 11.343/06,quando a apreensão totalizar 30 (trinta) quilos de maconha, uma

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vez que tamanha quantidade demonstra amplo intuito comercialpor parte dos réus” (TRF4, ENUL 5005459-69.2012.404.7002,Quarta Seção, Relator p/ Acórdão Sebastião Ogê Muniz, juntadoaos autos em 02/06/2014). Assim, devem as circunstâncias docrime ser consideradas graves, em razão da quantidade de drogatraficada pelo agente, “considerando o elevado risco de lesão aobem jurídico tutelado, qual seja, a saúde pública” (TRF4, ENUL5001950-76.2012.404.7117, Quarta Seção, Relator p/ AcórdãoJoão Pedro Gebran Neto, juntado aos autos em 07/08/2014). Comefeito, fixo a pena base em 05 (cinco) anos e 08 (oito) meses dereclusão, acrescidos de 560 (quinhentos e sessenta) dias-multa.

Não há incidência de agravantes ou atenuantes.

Como salientado no tópico relativo à tipicidade, háincidência da causa de aumento de pena do inciso I do art. 40 daLei nº 11.343/06. Desta feita, aumento a pena provisória em 1/6(um sexto), perfazendo 06 (seis) anos, 07 (sete) meses e 10 (dez)dias de reclusão, acrescidos de 653 (seiscentos e cinquenta e três)dias-multa.

Por outro lado, consoante as informaçõesconstantes dos autos, BRUNO FELIPE ANDRADE é primário,não há indicativo de que se dedique às atividades criminosas enão há comprovação de que tenha integrado organizaçãocriminosa. Com efeito, entendo aplicável o disposto no art. 33, §4º, da Lei nº 11.343/06, para o fim de, diante da inexistência derazões que justifiquem a aplicação de outro patamar, reduzir apena em 2/3 (dois terços), perfazendo 02 (dois) anos, 02 (dois)meses e 13 (treze) dias de reclusão, acrescidos de 217 (duzentos edezessete) dias-multa.

Diante do exposto, perfaz a pena privativa deliberdade imposta a BRUNO FELIPE ANDRADE, em razão daprática do crime do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, da Lei nº11.343/06, o total de 02 (dois) anos, 02 (dois) meses e 13 (treze)dias de reclusão, acrescidos de 217 (duzentos e dezessete) dias-multa.

Arbitro, diante da inexistência de informaçõesprecisas acerca das condições financeiras do acusado, cada dia-multa em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à datados fatos (art. 49, §2º, do Código Penal).

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4.1.2. Regime inicial de cumprimento da penaprivativa de liberdade:

A fixação do regime inicial de cumprimento dapena deve observar, além das circunstâncias judiciais (art. 33,§3º, do Código Penal), a natureza e a quantidade da drogatraficada (art. 42 da Lei nº 11.343/06), bem como o quantum dapena aplicada (art. 33, § 2º, do Código Penal). Assim,considerando o quantum da pena aplicada e a existência de umaúnica circunstância judicial desfavorável ao acusado (quantidadede droga traficada), deverá a pena privativa de liberdade sercumprida inicialmente em regime aberto.

4.1.3. Substituição da pena privativa deliberdade e Sursis:

Reputo cabível a substituição das penas privativasde liberdade, na forma do artigo 44 do Código Penal, tendo emvista a quantidade de pena aplicada e as condições pessoais doacusado BRUNO FELIPE ANDRADE.

Com efeito, substituo a pena privativa de liberdadepor duas penas restritivas de direitos, nos termos do parágrafo 2ºdo artigo 44, do Código Penal, nas modalidades prestaçãopecuniária, no valor de R$ 5.500,00 (cinco mil e quinhentosreais), e prestação de serviços à comunidade, na forma a serdefinida no Processo de Execução Penal, segundo as aptidões doacusado BRUNO FELIPE ANDRADE, à razão de 01 (uma) horade trabalho por dia de condenação, fixadas de modo a nãoprejudicar sua jornada normal de trabalho, na forma do parágrafo3º do artigo 46 do Código Penal.

A prestação de serviços à comunidade, em secogitando de pena restritiva de direitos, é "a mais indicada paraa repressão e prevenção da prática delitiva, atendendo aosobjetivos ressocializantes da lei penal, uma vez que estimula epermite melhor readaptação do apenado no seio da comunidade,viabilizando o ajuste entre o cumprimento da pena e a jornadanormal de trabalho" (TRF 4ª Região, 8ª Turma, ApelaçãoCriminal nº 1999.71.00.011249-5/RS, Rel. Des. Federal ÉlcioPinheiro de Castro, j. 22/09/2004), enquanto que a prestaçãopecuniária reverte em proveito da própria sociedade, revelando-seconveniente à repressão dos delitos, nos quais a coletividade éatingida pela prática ilícita.

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4.1.5. Recorrer em liberdade:

Fixada pena privativa de liberdade a ser cumpridainicialmente em regime aberto, poderá BRUNO FELIPEANDRADE recorrer em liberdade.

4.2. LUCAS RODRIGUES ALCIDES:

4.2.1. Pena privativa de Liberdade e de multa:

Analisando as circunstâncias estabelecidas nos art.59 do Código Penal e art. 42 da Lei nº 11.343/06, verifico que ograu de culpabilidade é normal à espécie. Não há elementos nosautos que permitam avaliar a conduta social e a personalidade doagente. Não há nos autos notícia acerca da existência de mausantecedentes. Os motivos do crime são normais à espécie. Asconsequências são próprias do crime em questão e não serevelaram de maior gravidade. A vítima não favoreceu aocorrência dos fatos delitivos. Segundo entendimento esposadopela Quarta Seção do Tribunal Regional Federal da 4ª Região,“valora-se negativamente a circunstância quantidade de drogaapreendida, prevista no art. 42 da Lei nº 11.343/06, quando aapreensão totalizar 30 (trinta) quilos de maconha, uma vez quetamanha quantidade demonstra amplo intuito comercial porparte dos réus” (TRF4, ENUL 5005459-69.2012.404.7002,Quarta Seção, Relator p/ Acórdão Sebastião Ogê Muniz, juntadoaos autos em 02/06/2014). Assim, devem as circunstâncias docrime ser consideradas são graves, em razão da grandequantidade de droga traficada pelo agente, “considerando oelevado risco de lesão ao bem jurídico tutelado, qual seja, asaúde pública” (TRF4, ENUL 5001950-76.2012.404.7117,Quarta Seção, Relator p/ Acórdão João Pedro Gebran Neto,juntado aos autos em 07/08/2014). Com efeito, fixo a pena baseem 05 (cinco) anos e 08 (oito) meses de reclusão, acrescidos de560 (quinhentos e sessenta) dias-multa.

Conforme se depreende da fundamentação, LUCASRODRIGUES ALCIDES, a princípio, confessou de formaespontânea e integral a prática dos fatos que lhe foramimputados, trazendo aos autos informações coerentes com orelatado pelos corréus, especificamente quanto à sua participaçãono fato sub judice, aparentemente restrita ao transporte da drogaapreendida de Foz do Iguaçu/PR até a cidade de Cascavel/PR.Com efeito, entendo aplicável a atenuante do art. 65, inciso III,

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alínea “d”, do Código Penal, razão pela qual, dada não incidênciade agravantes, fixo a pena intermediária em 05 (cinco) anos dereclusão, acrescidos de 500 (quinhentos ) dias-multa.

Como salientado no tópico relativo à tipicidade, háincidência da causa de aumento de pena do inciso I do art. 40 daLei nº 11.343/06. Desta feita, aumento a pena provisória em 1/6(um sexto), perfazendo 06 (seis) anos e 10 (dez) meses dereclusão, acrescidos de 583 (quinhentos e oitenta e três) dias-multa.

Por outro lado, consoante as informaçõesconstantes dos autos, LUCAS RODRIGUES ALCIDES éprimário, não há indicativo de que se dedique às atividadescriminosas e não há comprovação de que tenha integradoorganização criminosa. Com efeito, entendo aplicável o dispostono art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, para o fim de, diante dainexistência de razões que justifiquem a aplicação de outropatamar, reduzir a pena em 2/3 (dois terços), perfazendo 01 (um)ano, 11 (onze) meses e 10 (dez) dias de reclusão, acrescidos de194 (cento e noventa e quatro) dias-multa.

Diante do exposto, perfaz a pena privativa deliberdade imposta a LUCAS RODRIGUES ALCIDES, em razãoda prática do crime do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, da Leinº 11.343/06, o total de 01 (um) ano, 11 (onze) meses e 10 (dez)dias de reclusão, acrescidos de 194 (cento e noventa e quatro)dias-multa.

Arbitro, diante da inexistência de informaçõesprecisas acerca das condições financeiras de LUCASRODRIGUES ALCIDES, cada dia-multa em 1/30 (um trigésimo)do salário mínimo vigente à data dos fatos (art. 49, §2º, doCódigo Penal).

4.2.2. Regime inicial de cumprimento da penaprivativa de liberdade:

A fixação do regime inicial de cumprimento dapena deve observar, além das circunstâncias judiciais (art. 33,§3º, do Código Penal), a natureza e a quantidade da drogatraficada (art. 42 da Lei nº 11.343/06), bem como o quantum dapena aplicada (art. 33, § 2º, do Código Penal). Assim,considerando o quantum da pena aplicada e a existência de uma

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única circunstância judicial desfavorável ao acusado (quantidadede droga traficada), deverá a pena privativa de liberdade sercumprida inicialmente em regime aberto.

4.2.3. Substituição da pena privativa deliberdade:

Reputo cabível a substituição das penas privativasde liberdade, na forma do artigo 44 do Código Penal, tendo emvista a quantidade de pena aplicada e as condições pessoais doacusado LUCAS RODRIGUES ALCIDES.

Com efeito, substituo a pena privativa de liberdadepor duas penas restritivas de direitos, nos termos do parágrafo 2ºdo artigo 44, do Código Penal, nas modalidades prestaçãopecuniária, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), e prestaçãode serviços à comunidade, na forma a ser definida no Processo deExecução Penal, segundo as aptidões do acusado LUCASRODRIGUES ALCIDES, à razão de 01 (uma) hora de trabalhopor dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar suajornada normal de trabalho, na forma do parágrafo 3º do artigo 46do Código Penal.

A prestação de serviços à comunidade, em secogitando de pena restritiva de direitos, é "a mais indicada paraa repressão e prevenção da prática delitiva, atendendo aosobjetivos ressocializantes da lei penal, uma vez que estimula epermite melhor readaptação do apenado no seio da comunidade,viabilizando o ajuste entre o cumprimento da pena e a jornadanormal de trabalho" (TRF 4ª Região, 8ª Turma, ApelaçãoCriminal nº 1999.71.00.011249-5/RS, Rel. Des. Federal ÉlcioPinheiro de Castro, j. 22/09/2004), enquanto que a prestaçãopecuniária reverte em proveito da própria sociedade, revelando-seconveniente à repressão dos delitos, nos quais a coletividade éatingida pela prática ilícita.

4.2.4. Recorrer em liberdade:

Inexistindo nos autos indicativos de que sejanecessária a decretação da prisão preventiva e tendo o acusadosido condenado ao cumprimento de pena em regime inicialaberto, as quais foram substituídas por restritivas de direitos,poderá LUCAS RODRIGUES ALCIDES recorrer em liberdade.

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4.3. NIVALDO SENRA:

4.3.1. Pena privativa de Liberdade e de multa:

Conforme se depreende das certidões dos eventosnº 222 e 245, ostenta NILVALDO SENRA as seguintescondenações:

a) Ação penal nº 1016/1999 da 2ª Vara Criminal daComarca de Foz do Iguaçu/PR: condenado à pena de 10(dez) meses, pela prática do crime do art. 306 da Lei nº9.503/97 (trânsito em julgado em 27 de setembro de 2004),cuja pena foi declarada extinta pela prescrição, no dia 01de junho de 2005 (execução penal nº 2005011-00.0000.0.00.0094).

b) Ação penal nº 224/2000 da 1ª Vara Criminal daComarca de Foz do Iguaçu/PR: condenado à pena de 03(três) anos e 09 (nove) meses, pela prática do crime do art.12 da Lei nº 6.368/76 (trânsito em julgado em 21 de maiode 2002, cuja pena foi declarada extinta pelo cumprimentono dia 03 de fevereiro de 2004 (execução penal nº2002047-00.0000.0.00.0059);

c) Ação penal nº 316-6/2007 da 1ª Vara Criminal daComarca de Guarapuava/PR: condenado à pena de 05(cinco) anos e 06 (seis) meses, pela prática dos crimes dosart. 304 c/c 297 e 180 do Código Penal (trânsito emjulgado em 18 de janeiro de 2008, cuja pena foi declaradaextinta pelo cumprimento no dia 25 de fevereiro de 2004(execução penal nº 0000441-23.2007.8.16.0031);

d) Ação penal nº 1975-6/2010 da 1ª Vara Criminal daComarca de Foz do Iguaçu/PR: condenado à pena de 05(cinco) anos e 06 (seis) meses, pela prática do crime doart. 33, caput, da Lei nº 11.343/06 (trânsito em julgado em14 de dezembro de 2010), cuja pena foi declarada extintapelo cumprimento no dia 05 de julho de 2012 (execuçãopenal nº 1079338-00.2010.8.16.0030).

Com efeito, considerando as datas de extinção dasrespectivas penas e o disposto nos arts. 63 e 64, inciso I, doCódigo Penal, serão as condenações indicadas nos itens “a”, “b”e “c” consideradas na primeira fase de fixação da pena, comomaus antecedentes criminais, e aquela indicada no item “d” parafins de agravamento da reprimenda na segunda fase, porquanto

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constituir reincidência específica na prática do crime de tráfico dedrogas. Nesse sentido, manifestou-se recentemente a QuintaTurma do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIMEDE ESTUPRO. CONDUTA SOCIAL. EXCLUSÃO.IMPOSSIBILIDADE. INOVAÇÃO DOS FUNDAMENTOSDA DECISÃO. INOCORRÊNCIA. PENA-BASE. FRAÇÃODE AUMENTO. DESPROPORCIONALIDADE.INEXISTENTE. REDIMENSIONAMENTO DA PENA.AUSÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS APTOS ADESCONSTITUIR A DECISÃO IMPUGNADA. HABEASCORPUS NÃO CONHECIDO. AGRAVO REGIMENTALDESPROVIDO. I - Nos termos do artigo 258, do RISTJ, aparte que se considerar agravada por decisão de relator, àexceção do indeferimento de liminar em procedimento dehabeas corpus e recurso ordinário em habeas corpus,poderá requerer, dentro de cinco dias, a apresentação dofeito em mesa relativo à matéria penal em geral, para quea Corte Especial, a Seção ou a Turma sobre ela sepronuncie, confirmando-a ou reformando-a. II - Nahipótese, o acórdão evidenciou, com base em dadosempíricos, as circunstâncias judiciais desfavoráveis aopaciente, em razão da sua vida pregressa. Quanto àscondenações pretéritas, essas podem ser utilizadas tantopara valorar os maus antecedentes na primeira fase,quanto para agravar a pena na segunda fase, a título dereincidência, desde que as condenações sejam de fatosdiversos, conforme ocorreu no presente caso, in verbis: "[...]do atento exame das referidas certidões, orevisionando efetivamente registra procedimentoscriminais passíveis de valoração, uma vez que, porocasião da sentença condenatória, possuía em seudesfavor quatro condenações penais já transitadas emjulgado (autos n. 045.07.003666-1, 045.07.011965-6,023.08.003452-0 e 023.11.036273-2)." III - Quanto aocritério numérico de aumento para cada circunstânciajudicial negativa, insta consignar que "A análise dascircunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal nãoatribui pesos absolutos para cada uma delas a ponto deensejar uma operação aritmética dentro das penasmáximas e mínimas cominadas ao delito. " (AgRg no REspn. 143.071/AM, Sexta Turma, Relª. Minª. Maria Thereza deAssis Moura, DJe de 6/5/2015). No presente caso, emrelação ao quantum de exasperação na primeira fase dadosimetria, não há desproporção na reprimenda-baseaplicada, porquanto existe motivação particularizada, emobediência aos princípios da individualização da pena eda proporcionalidade. IV - Finalmente,consoante iterativajurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, amudança de entendimento jurisprudencial, após o trânsito

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em julgado da condenação, não autoriza o ajuizamento darevisão criminal. Agravo regimental desprovido. (AgRg noHC 458.963/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTATURMA, julgado em 06/11/2018, DJe 13/11/2018)

RECURSO ESPECIAL. ROUBO QUALIFICADO.DOSIMETRIA DA SANÇÃO CORPORAL. PENA-BASE.POSSIBILIDADE DE CONDENAÇÕES ANTERIORES.DIFERENTES ETAPAS DA DOSIMETRIA. PROCESSOSDISTINTOS. POSSIBILIDADE. 1. Na hipótese em tela, aCorte estadual afastou a possibilidade de se utilizar umadas condenações anteriores com trânsito em julgado paravalorar negativamente os antecedentes na fixação dapena-base, por entender que as condenações anteriores sópoderiam ser utilizadas para majorar a sanção nasegunda fase da dosimetria, pela reincidência. 2. Ajurisprudência deste Sodalício orienta-se no sentido deque a existência de diversas condenações definitivasautoriza o reconhecimento da reincidência, assim como aexasperação da pena-base, mediante valoração negativados antecedentes do réu, uma vez que os fatos utilizadospara a exasperação de pena-base não são os mesmos queautorizam a majoração na etapa seguinte. CAUSA DEAUMENTO. EMPREGO DE ARMA DE FOGO.POTENCIALIDADE LESIVA. AUSÊNCIA DEAPREENSÃO E DE EXAME PERICIAL.DESNECESSIDADE. OUTROS MEIOS DE PROVA.EXISTÊNCIA. EFETIVO EMPREGO DO OBJETO.LESIVIDADE QUE INTEGRA A PRÓPRIA NATUREZA.PROVA EM SENTIDO CONTRÁRIO. ÔNUS DA DEFESA.PRECEDENTE DA TERCEIRA SEÇÃO. ILEGALIDADEAFASTADA. 1. Consoante entendimento firmado pelaTerceira Seção deste Tribunal Superior, para oreconhecimento da causa de aumento de pena prevista noinciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal, mostra-sedispensável a apreensão do objeto e a realização de examepericial para atestar a sua potencialidade lesiva, quandopresentes outros elementos probatórios que atestem o seuefetivo emprego na prática delitiva (EResp 961.863/RS). 2.O poder vulnerante integra a própria natureza do artefato,sendo ônus da defesa, caso alegue o contrário, provar talevidência. Exegese do art. 156 do CPP. 3. Recursoespecial provido. (REsp 1753453/MG, Rel. MinistroJORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em23/10/2018, DJe 29/10/2018)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUSIMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSOPRÓPRIO. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA.PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.MAUS ANTECEDENTES. EXASPERAÇÃO

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PROPORCIONAL. QUANTUM DE 1/6 SOBRE OMÍNIMO LEGAL. POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃODE CONDENAÇÕES ANTERIORES NA PRIMEIRA E NASEGUNDA ETAPAS DA DOSIMETRIA, QUANDO SETRATA DE PROCESSOS DISTINTOS. BIS IN IDEM.INOCORRÊNCIA. TRANSCURSO DO PERÍODODEPURADOR DO ART. 64, INCISO I, DO CÓDIGOPENAL QUE NÃO IMPEDE O RECONHECIMENTODOS MAUS ANTECEDENTES. INEXISTÊNCIA DEILEGALIDADE FLAGRANTE. AGRAVO REGIMENTALDESPROVIDO. - A revisão da dosimetria da pena somenteé possível em situações excepcionais de manifestailegalidade ou abuso de poder, cujo reconhecimentoocorra de plano, sem maiores incursões em aspectoscircunstanciais ou fáticos e probatórios (HC n.304.083/PR, Rel. Min. FELIX FISCHER, QUINTATURMA, DJe 12/03/2015). - O entendimento desta Cortefirmou-se no sentido de que, na falta de razão especialpara afastar esse parâmetro prudencial, a exasperação dapena-base, pela existência de circunstâncias judiciaisnegativas, deve obedecer à fração de 1/6, para cadacircunstância judicial negativa. O aumento de penasuperior a esse quantum, para cada vetorialdesfavorecida, deve apresentar fundamentação adequadae específica, a qual indique as razões concretas pelasquais a conduta do agente extrapolaria a gravidadeinerente ao teor da circunstância judicial. - Na hipótese, aexasperação da pena-base, na fração de 1/6 sobre omínimo legal, está devidamente fundamentada, comremissão a particularidades do caso concreto quedesbordam das elementares do tipo, notadamente, aosmaus antecedentes do agente. - A jurisprudência destaCorte acerca do tema é firme no sentido de quecondenações pretéritas podem ser utilizadas tanto paravalorar os maus antecedentes, na primeira fase, bem comopara agravar a pena, na segunda fase, a título dereincidência, sem ocorrência de bis in idem, desde que asanotações sejam de fatos diversos, como no caso. - Ajurisprudência desta Corte tem posicionamento firmetambém no sentido de que as condenações alcançadaspelo período depurador de 5 anos, previsto no art. 64,inciso I, do Código Penal, afastam os efeitos dareincidência, mas não impedem a configuração de mausantecedentes, permitindo o aumento da pena-base acimado mínimo legal e a devida individualização das penas.Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 460.900/SP,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe31/10/2018)

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No tópico relativo à autoria foi asseverado pelojuízo que os elementos probatórios constantes dos autos apontamNILVALDO SENRA “não só como pessoa responsável por darabrigo e fornecer meio de comunicação a EDGAR MARCELOSCHIAPPAPIETRA PIAS, pessoa envolvida com a prática dotráfico de drogas e armas, conforme informado pela PolíciaFederal, e, conforme afirmado por NIVALDO em seuinterrogatório (evento nº 162), membro do Primeiro Comando daCapital – PCC, mas também por engendrar tratativasrelacionadas ao tráfico de substâncias entorpecentes com outrosindivíduos, fato que revela se tratar de pessoa que se dedica àsatividades criminosas, quiçá integrante de organizaçãocriminosa” (item nº 2.2.2).

Nesse sentido rememoro que no curso dasinvestigações foram interceptados diálogos que revelaram queNIVALDO SENRA engendrou tratativas relacionadas ao tráficode substâncias entorpecentes com diversos indivíduos, dentre osquais JOSÉ STANG (vulgo ZÉ VERDADE), processado econdenado na ação penal decorrente da cognominadaOPERAÇÃO OURO BRANCO, em razão da prática dos crimesde tráfico transnacional de drogas e associação para o crime detráfico transnacional de drogas, conforme demonstram osdiálogos indexados sob os nº 3389192, 3390563, 3390586,3390590 e 3390597.

Some-se à supracitada constatação o fato deNIVALDO SENRA ter admitido em sede policial que “trabalhacom muamba”, ou seja, “pessoa que recebe um valor parapassar cotas de mercadorias de origem estrangeira do Paraguaipara o Brasil”, pelo que “recebe cerca de R$ 150,00 por cota demercadoria passada” (evento nº 18 do inquérito policial nº5013102-05.2017.4.04.7002), declaração que corroborou emjuízo (evento nº 162).

Além do envolvimento com indivíduo integrantePrimeiro Comando da Capital – PCC, ao qual deu abrigo em suaresidência e forneceu aparato de comunicação utilizado para aprática do tráfico de drogas, e com notórios traficantes atuantesneste tríplice fronteira, NIVALDO SENRA afirmou que, tanto àépoca dos fatos, quanto na oportunidade de seu interrogatório,que “trabalha com muamba”, ou seja, “pessoa que recebe umvalor para passar cotas de mercadorias de origem estrangeirado Paraguai para o Brasil”, pelo que “recebe cerca de R$

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150,00 por cota de mercadoria passada” (evento nº 18 doinquérito policial nº 5013102-05.2017.4.04.7002 e evento nº 162destes autos).

Com efeito, é evidente que se trata NILVALDOSENRA de pessoa que faz da prática ilícita um meio de vida epossui relacionamentos sociais reprováveis, seja em razão detratar de pessoa dedicada ao contrabando / descaminho, conformepor ele próprio afirmado em sede policial em juízo, seja em razãode ser envolvido com pessoas dedicadas ao tráfico ilícito deentorpecentes, conforme apurado nas investigações, seja porfornecer abrigo a pessoa integrante do Primeiro Comando daCapital – PCC, a qual, inclusive, residia em sua residência e faziauso de seu aparelho telefônico para engendrar tratativasrelacionadas ao tráfico de droga, conforme evidenciado durante omonitoramento telefônico e confirmado em sede deinterrogatório.

Desta forma, serão a personalidade e a condutasocial de NIVALDO SENRA avaliadas negativamente naprimeira fase de aplicação da pena, a primeira circunstância emrazão de fazer do crime um modo de subsistência, e a segunda emrazão de manter laços sociais com outros traficantes, inclusivemembro da facção criminosa Primeiro Comando da Capital –PCC.

Analisando as circunstâncias estabelecidas nos art.59 do Código Penal e art. 42 da Lei nº 11.343/06, verifico que ograu de culpabilidade é normal à espécie. Como dito alhures, apersonalidade e a conduta social do acusado NIVALDO SENRAdevem ser valoradas negativamente, a primeira em razão de fazerdo crime um modo de subsistência, e a segunda em razão demanter laços sociais com outros traficantes, inclusive membro dafacção criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC Osmotivos do crime são normais à espécie. As consequências sãopróprias do crime em questão e não se revelaram de maiorgravidade. A vítima não favoreceu a ocorrência dos fatosdelitivos. Segundo entendimento esposado pela Quarta Seção doTribunal Regional Federal da 4ª Região, “valora-senegativamente a circunstância quantidade de droga apreendida,prevista no art. 42 da Lei nº 11.343/06, quando a apreensãototalizar 30 (trinta) quilos de maconha, uma vez que tamanhaquantidade demonstra amplo intuito comercial por parte dosréus” (TRF4, ENUL 5005459-69.2012.404.7002, Quarta Seção,

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Relator p/ Acórdão Sebastião Ogê Muniz, juntado aos autos em02/06/2014). Assim, devem as circunstâncias do crime serconsideradas são graves, em razão da grande quantidade de drogatraficada pelo agente, “considerando o elevado risco de lesão aobem jurídico tutelado, qual seja, a saúde pública” (TRF4, ENUL5001950-76.2012.404.7117, Quarta Seção, Relator p/ AcórdãoJoão Pedro Gebran Neto, juntado aos autos em 07/08/2014).Como dito alhures, NIVALDO SENRA ostenta quatrocondenações anteriores à prática dos fatos que constituem objetoda presente ação penal, das quais três serão consideradas naprimeira fase de aplicação da pena como maus antecedentes.Com efeito, fixo a pena base em 08 (oito) anos de reclusão,acrescidos de 800 (oitocentos) dias-multa, em razão daquantidade de droga traficada pelo réu, do número decondenações consideradas como maus antecedentes (03condenações), do fato de fazer do crime um modo de subsistênciae em razão de manter laços sociais com outros traficantes,inclusive com membro da facção criminosa Primeiro Comandoda Capital – PCC.

Como dito alhures, NIVALDO SENRA éreincidente específico na prática do crime de tráfico de drogas,fato que traz à baila a aplicação da agravante do art. 61, inciso I,do Código Penal. Com efeito, dada inexistência de atenuantes,aumento a pena intermediária para 09 (nove) anos e 06 (seis)meses de reclusão, acrescidos de 1000 (mil) dias-multa,considerando que apenas uma condenação foi utilizada paramajoração da reprimenda na presente etapa.

Como salientado no tópico relativo à tipicidade, háincidência da causa de aumento de pena do inciso I do art. 40 daLei nº 11.343/06. Desta feita, aumento a pena provisória em 1/6(um sexto), perfazendo 11 (onze) anos e 01 (um) mês de reclusão,acrescidos de 1166 (mil cento e sessenta e seis) dias-multa.

Dispõe o §4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06 que“nos delitos definidos no caput e no §1º deste artigo, as penaspoderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que oagente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique àsatividades criminosas nem integre organização criminosa".Trata-se, pois, da figura do “tráfico privilegiado”, cuja incidênciadepende do preenchimento dos referidos requisitos.

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Quanto à integração do agente em grupo criminoso,tal fato não é de fácil deslinde. No ponto, embora NIVALDOSENRA mantenha laços sociais com outros traficantes, inclusivecom membro da facção criminosa Primeiro Comando da Capital– PCC, não há como se afirmar de forma peremptória que integreorganização criminosa.

No tocante à primariedade do agente e a existênciade bons antecedentes, a prova apta a demonstrar a presença dosrequisitos é a certidão negativa de antecedentes criminais,podendo-se depreender dos eventos nº 222 e 245 que NIVALDOSENRA registra antecedentes criminais e é reincidente específicona prática do tráfico de drogas, fato que, por si só, obsta aaplicação do §4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06.

No que concerne ao requisito da não dedicação aatividades criminosas, restou demonstrado que NIVALDOSENRA faz da prática ilícita seu meio de subsistência, o que,inclusive, confessou em sede policial e em juízo, fato outro que,outrossim, inviabiliza a aplicação do §4º do art. 33 da Lei nº11.343/06 no caso dos autos.

Diante do exposto, perfaz a pena privativa deliberdade imposta a NIVALDO SENRA, em razão da prática docrime do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, da Lei nº 11.343/06, ototal de 11 (onze) anos e 01 (um) mês de reclusão, acrescidos de1166 (mil cento e sessenta e seis) dias-multa.

Arbitro, diante da inexistência de informaçõesprecisas acerca das condições financeiras do acusado, cada dia-multa em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à datados fatos (art. 49, §2º, do Código Penal).

4.3.2. Regime inicial de cumprimento da penaprivativa de liberdade:

A fixação do regime inicial de cumprimento dapena deve observar, além das circunstâncias judiciais (art. 33,§3º, do Código Penal), a natureza e a quantidade da drogatraficada (art. 42 da Lei nº 11.343/06), bem como o quantum dapena aplicada (art. 33, § 2º, do Código Penal). Assim,considerando o quantum da pena aplicada, a existência de quatrocircunstâncias judiciais desfavoráveis ao acusado (quantidade dedroga traficada, antecedentes, conduta social e personalidade) e o

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fato de se tratar de reincidente específico na prática do crime detráfico de drogas, deverá a pena privativa de liberdade sercumprida inicialmente em regime fechado.

4.3.3. Substituição da pena privativa deliberdade e Sursis:

Diante do quantum da pena aplicada, incabível asubstituição da sanção privativa de liberdade em restritivas dedireitos e tampouco a concessão da suspensão condicional dapena (arts. 44 e 77 do Código Penal).

4.3.4. Detração:

O acusado NIVALDO SENRA foi condenado aocumprimento de 11 (onze) anos e 01 (um) mês de reclusão,acrescidos de 1166 (mil cento e sessenta e seis) dias-multa, emrazão da prática do crime do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, daLei nº 11.343/06.

Conforme consignado no evento nº 77 dos autos dopedido de prisão preventiva nº 013102-05.2017.4.04.7002, no dia23 de março de 2018 foi cumprido o mandado de prisãotemporária expedido em desfavor de NIVALDO SENRA, tendoele ficado preso e à disposição deste juízo pelo prazo de 30(trinta) dias.

A progressão de regime, nos casos de crimeshediondos e equiparados, “dar-se-á após o cumprimento de 2/5(dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (trêsquintos), se reincidente” (art. 2º, §2º, da Lei nº 8.072/90).

Assim, para ter direito à progressão de regime,NIVALDO SENRA deverá cumprir 3/5 (três quintos) da pena quelhe foi imposta, porquanto reincidente, o que corresponde a 06(seis) anos, 07 (sete) meses e 24 (vinte e quatro) dias de reclusãoem regime fechado, prazo superior ao da custódia cautelar.

Com efeito, inaplicável a detração penal prevista no§2º do art. 387 do Código de Processo Penal.

4.3.5. Recorrer em liberdade:

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Presentes, conforme consignado no item nº 2.2.7desta decisão, os requisitos da prisão preventiva (art. 312 doCódigo de Processo Penal), não poderá NIVALDO SENRArecorrer em liberdade.

4.4. RICARDO PEREIRA DOS REIS:

4.4.1. Pena privativa de Liberdade e de multa:

Conforme se depreende das certidões dos eventosnº 222, ostenta RICARDO PEREIRA DOS REIS as seguintescondenações:

a) Ação penal nº 607-9/2011 da 1ª Vara Criminal daComarca de Cascavel/PR: condenado à pena de 04(quatro) anos e 02 (dois) meses de reclusão, pela práticado crime do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso V, da Lei nº11.343/06 (trânsito em julgado em 03 de setembro de2012) (execução penal nº 0003281-94.2011.8.16.0021).

b) Ação penal nº 625-0/2013 da Vara Criminal daComarca de São Miguel do Iguaçu/PR: condenado à penade 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão, pela práticado crime do art. 180 do Código Penal (trânsito em julgadoem 02 de junho de 2014) (execução penal nº 0001781-93.2013.8.16.0159).

Considerando a data do trânsito em julgado dassupracitadas condenações (anteriores à data do fato que constituiobjeto da presente ação penal), a notícia de que não houvecumprimento das respectivas penas (evento nº 222) e o dispostonos arts. 63 e 64, inciso I, do Código Penal, são as duascondenações ostentadas por RICARDO PEREIRA DOS REISpassíveis de serem consideradas para fins de caracterização dareincidência.

Nada obstante, conforme arestos citados no item nº4.3.1 desta decisão, a jurisprudência do Superior Tribunal deJustiça “é firme no sentido de que condenações pretéritas podemser utilizadas tanto para valorar os maus antecedentes, naprimeira fase, bem como para agravar a pena, na segunda fase,a título de reincidência, sem ocorrência de bis in idem, desde queas anotações sejam de fatos diversos” (AgRg no HC 460.900/SP,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTATURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 31/10/2018).

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Dessa forma, será a condenação indicada no item“b” considerada na primeira fase de fixação da pena, como mauantecedente, e aquela indicada no item “a” para fins deagravamento da reprimenda na segunda fase, porquanto constituirreincidência específica na prática do crime de tráfico de drogas.

Analisando as circunstâncias estabelecidas nos art.59 do Código Penal e art. 42 da Lei nº 11.343/06, verifico que ograu de culpabilidade é normal à espécie. Não há elementos nosautos que permitam avaliar a conduta social e a personalidade doagente. Como dito alhures, RICARDO PEREIRA DOS REISostenta mau antecedente, em razão de ter sido condenado pelaprática do crime do art. 180 do Código Penal em data anterior àdos fatos que constitui objeto da presente ação penal. Os motivosdo crime são normais à espécie. As consequências são própriasdo crime em questão e não se revelaram de maior gravidade. Avítima não favoreceu a ocorrência dos fatos delitivos. Segundoentendimento esposado pela Quarta Seção do Tribunal RegionalFederal da 4ª Região, “valora-se negativamente a circunstânciaquantidade de droga apreendida, prevista no art. 42 da Lei nº11.343/06, quando a apreensão totalizar 30 (trinta) quilos demaconha, uma vez que tamanha quantidade demonstra amplointuito comercial por parte dos réus” (TRF4, ENUL 5005459-69.2012.404.7002, Quarta Seção, Relator p/ Acórdão SebastiãoOgê Muniz, juntado aos autos em 02/06/2014). Assim, devem ascircunstâncias do crime ser consideradas são graves, em razão dagrande quantidade de droga traficada pelo agente, “considerandoo elevado risco de lesão ao bem jurídico tutelado, qual seja, asaúde pública” (TRF4, ENUL 5001950-76.2012.404.7117,Quarta Seção, Relator p/ Acórdão João Pedro Gebran Neto,juntado aos autos em 07/08/2014). Com efeito, em razão daexistência de suas circunstâncias judiciais desfavoráveis aRICARDO PEREIRA DOS REIS, fixo a pena base em 06 (seis)anos e 04 (quatro) meses de reclusão, acrescidos de 620(seiscentos e vinte) dias-multa.

Como dito alhures, RICARDO PEREIRA DOSREIS é reincidente específico na prática do crime de tráfico dedrogas, fato que traz à baila a aplicação da agravante do art. 61,inciso I, do Código Penal. Com efeito, aumento a penaintermediária para 07 (sete) anos e 06 (seis) meses de reclusão,acrescidos de 750 (setecentos e cinquenta) dias-multa,considerando que apenas uma condenação foi utilizada paramajoração da reprimenda na presente etapa.

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Por outro lado, observo que RICARDO PEREIRADOS REIS, embora evidentemente não tenha confessado deforma integral a prática do fato que lhe foi imputado, vez queomitiu detalhes relevantes acerca do tráfico da substânciaentorpecente apreendida e, manifestamente, engendrou defesavoltada para o fim de se passar por mera “vítima” de outrostraficantes, enquanto, em verdade, foi responsável, juntamentecom NIVALDO SENRA, pela importação da droga apreendida etambém, em conluio com BRUNO FELIPE ANDRADE, porpromover a manutenção em depósito e o transporte da res,inclusive com a contratação de LUCAS RODRIGUESALCIDES, parcela do que disse em seu interrogatório, porcorresponder à verdade quando analisada em conjunto com asdemais provas existentes dos autos, foi utilizada parafundamentar essa decisão.

Com efeito, entendo que RICARDO PEREIRADOS REIS faz jus à aplicação da atenuante do art. 65, inciso III,alínea “d”, do Código Penal, razão pela qual, considerando o graude colaboração que a confissão teve para o deslinde dos fatos,reduzo a pena intermediária para 06 (seis) anos e 03 (três) mesesde reclusão, acrescidos de 625 (seiscentos e vinte e cinco) dias-multa.

Como salientado no tópico relativo à tipicidade, háincidência da causa de aumento de pena do inciso I do art. 40 daLei nº 11.343/06. Desta feita, aumento a pena provisória em 1/6(um sexto), perfazendo 07 (sete) anos, 03 (três) meses e 15(quinze) dias de reclusão, acrescidos de 729 (setecentos e vinte enove) dias-multa.

Dispõe o §4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06 que“nos delitos definidos no caput e no §1º deste artigo, as penaspoderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que oagente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique àsatividades criminosas nem integre organização criminosa".Trata-se, pois, da figura do “tráfico privilegiado”, cuja incidênciadepende do preenchimento dos referidos requisitos.

Quanto à integração do agente em grupo criminoso,tal fato não é de fácil deslinde. No ponto, embora sejaabsolutamente comum que organizações criminosas estejamenvolvidas no cometimento de tráfico de drogas, em razão da altavantagem econômica dele decorrente, é necessário que o agente

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processado esteja associado em uma estrutura ordenada ecaracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem dequalquer natureza, mediante a prática de infrações penais. Incasu, não há como se afirmar, de forma peremptória, queRICARDO PEREIRA DOS REIS integre organização criminosa.

Não há nos autos, ademais, comprovação de queRICARDO PEREIRA DOS REIS, à época do fato, dedicava-seàs atividades criminosas.

No tocante à primariedade do agente e a existênciade bons antecedentes, a prova apta a demonstrar a presença dosrequisitos é a certidão negativa de antecedentes criminais,podendo-se depreender do evento nº 222 que RICARDOPEREIRA DOS REIS registra antecedentes criminais e éreincidente específico na prática do tráfico de drogas, fato que,por si só, obsta a aplicação do §4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06.

Diante do exposto, perfaz a pena privativa deliberdade imposta a RICARDO PEREIRA DOS REIS, em razãoda prática do crime do art. 33, caput, c/c art. 40, inciso I, da Leinº 11.343/06, o total de 07 (sete) anos, 03 (três) meses e 15(quinze) dias de reclusão, acrescidos de 729 (setecentos e vinte enove) dias-multa.

Arbitro, diante da inexistência de informaçõesprecisas acerca das condições financeiras do acusado, cada dia-multa em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à datados fatos (art. 49, §2º, do Código Penal).

4.4.2. Regime inicial de cumprimento da penaprivativa de liberdade:

A fixação do regime inicial de cumprimento dapena deve observar, além das circunstâncias judiciais (art. 33,§3º, do Código Penal), a natureza e a quantidade da drogatraficada (art. 42 da Lei nº 11.343/06), bem como o quantum dapena aplicada (art. 33, § 2º, do Código Penal). Assim,considerando o quantum da pena aplicada, a existência de quatrocircunstâncias judiciais desfavoráveis ao acusado (quantidade dedroga traficada, antecedentes, conduta social e personalidade)

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e,sobremaneira, o fato de se tratar de reincidente específico naprática do crime de tráfico de drogas, deverá a pena privativa deliberdade ser cumprida inicialmente em regime fechado.

4.4.3. Substituição da pena privativa deliberdade e Sursis:

Diante do quantum da pena aplicada, incabível asubstituição da sanção privativa de liberdade em restritivas dedireitos e tampouco a concessão da suspensão condicional dapena (arts. 44 e 77 do Código Penal).

4.4.4. Detração:

O acusado RICARDO PEREIRA DOS REIS foicondenado ao cumprimento de 07 (sete) anos, 03 (três) meses e15 (quinze) dias de reclusão, em razão da prática do crime do art.33, caput, c/c art. 40, inciso I, da Lei nº 11.343/06.

Conforme consignado no evento nº 77 dos autos dopedido de prisão preventiva nº 013102-05.2017.4.04.7002, no dia23 de março de 2018 foi cumprido o mandado de prisãotemporária expedido em desfavor de RICARDO PEREIRA DOSREIS, estando ele, desde aquela data, preso e à disposição destejuízo (aproximadamente 08 meses).

A progressão de regime, nos casos de crimeshediondos e equiparados, “dar-se-á após o cumprimento de 2/5(dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (trêsquintos), se reincidente” (art. 2º, §2º, da Lei nº 8.072/90).

Assim, para ter direito à progressão de regime,RICARDO PEREIRA DOS REIS deverá cumprir 3/5 (trêsquintos) da pena que lhe foi imposta, porquanto reincidente, oque corresponde a 04 (quatro) anos, 04 (quatro) meses e 15 (vintee quatro) dias de reclusão em regime fechado, prazo superior aoda custódia cautelar.

Com efeito, inaplicável a detração penal prevista no§2º do art. 387 do Código de Processo Penal.

4.4.5. Recorrer em liberdade:

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5006377-63.2018.4.04.7002 700005918031 .V23

Presentes, nos termos das decisões dos eventos nº132 dos autos do pedido de prisão preventiva nº 013102-05.2017.4.04.7002, a necessidade de ser mantida a custódiacautelar, para garantia da ordem pública, não poderá RICARDOPEREIRA DOS REIS recorrer em liberdade.

5. DISPOSIÇÕES FINAIS:

5.1. Expeça-se mandado de prisão preventiva emdesfavor de NIVALDO SENRA, com prazo de 20 (vinte anos) devalidade e encaminhe-no à autoridade policial para imediatocumprimento.

5.2. Acerca desta decisão, dê-se ciência ao juízo daVara de Execuções Penais da Comarca de Cascavel/PR, parainstrução dos autos da execução penal nº 0036842-12.2011.8.16.0021;

5.3. Após o trânsito em julgado, disponibilize-se oveículo VW/GOL, placas AGN0840, ao juízo das execuções,para os fins do art. 341, alínea "f", da Consolidação Normativa daCorregedoria-Regional da Justiça Federal da 4ª Região, caso nãotenha sido dada destinação à res pela Justiça Estadual.

5.4. Após o trânsito em julgado, cumpra-se odisposto no art. 340 da Consolidação Normativa da Corregedoria-Geral da Justiça Federal da 4ª Região.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Documento eletrônico assinado por FLAVIA HORA OLIVEIRA DEMENDONÇA, Juíza Federal Substituta, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de marçode 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereçoeletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante opreenchimento do código verificador 700005918031v23 e do código CRC 2c6687ce.

Informações adicionais da assinatura:Signatário (a): FLAVIA HORA OLIVEIRA DE MENDONÇAData e Hora: 21/11/2018, às 14:48:7

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