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Evolução científica e técnica e implicações no mundo do trabalho Vivemos numa economia global e a caminho de uma nova economia. A nova economia, ou a economia baseada na informação e no conhecimento, caracteriza-se por um funcionamento em rede, sem barreiras de tempo, distância e localização, e por novas formas de organização do trabalho, mais flexíveis e adaptáveis, menos hierarquizadas, onde o trabalho em equipa será privilegiado bem como a polivalência e a autonomia individual. Neste contexto, as novas tecnologias, as transformações nos modelos de consumo e nos sistemas de valores, a internacionalização dos processos económicos são fenómenos que, entre outros, têm contribuído para a emergência de um novo modelo de regulação salarial. Em termos mais simplificados, pode dizer-se que após uma primeira fase baseada na exploração de produtos e mercados de raiz colonialista, se assistiu, a partir de meados do século XX, a uma segunda fase em que se multiplicaram as empresas que internacionalizaram as suas atividades aumentando significativamente a quantidade de empresas transnacionais. Até aqui (anos 80 do século passado), as empresas transnacionais tendiam a replicar a fábrica de origem noutra localização em função da proximidade de matérias-primas e dos custos salariais. No essencial, os sistemas produtivos organizavam-se ainda com base nos territórios nacionais e os ciclos de produção começavam e acabavam na mesma fábrica; as cadeias de montagem e a Organização científica do trabalho (taylorismo) constituíam as formas dominantes de organização do trabalho. Mais recentemente, sobretudo a partir de meados dos anos 80, assistiu-se a uma progressiva multiplicação das deslocalizações da produção e, simultaneamente, assistiu-se mesmo à progressiva segmentação dos processos produtivos que são agora implementados em diferentes países tirando partido, consoante os casos, quer de mais baixos custos de mão-de-obra, quer de melhor acessibilidade de matérias-primas, quer ainda de quadros legais mais favoráveis, por exemplo nos planos fiscal ou ambiental. Viver em Português -

Evolução Científica e Técnica e Implicações No Mundo Do Trabalho

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Ficha acerca das mudanças no trabalho provocadas pela evolução Científica e Técnica

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Evoluo cientfica e tcnica e implicaes no mundo do trabalhoVivemos numa economia global e a caminho de uma nova economia. A nova economia, ou a economia baseada na informao e no conhecimento, caracteriza-se por um funcionamento em rede, sem barreiras de tempo, distncia e localizao, e por novas formas de organizao do trabalho, mais flexveis e adaptveis, menos hierarquizadas, onde o trabalho em equipa ser privilegiado bem como a polivalncia e a autonomia individual.

Neste contexto, as novas tecnologias, as transformaes nos modelos de consumo e nos sistemas de valores, a internacionalizao dos processos econmicos so fenmenos que, entre outros, tm contribudo para a emergncia de um novo modelo de regulao salarial.

Em termos mais simplificados, pode dizer-se que aps uma primeira fase baseada na explorao de produtos e mercados de raiz colonialista, se assistiu, a partir de meados do sculo XX, a uma segunda fase em que se multiplicaram as empresas que internacionalizaram as suas atividades aumentando significativamente a quantidade de empresas transnacionais.

At aqui (anos 80 do sculo passado), as empresas transnacionais tendiam a replicar a fbrica de origem noutra localizao em funo da proximidade de matrias-primas e dos custos salariais.

No essencial, os sistemas produtivos organizavam-se ainda com base nos territrios nacionais e os ciclos de produo comeavam e acabavam na mesma fbrica; as cadeias de montagem e a Organizao cientfica do trabalho (taylorismo) constituam as formas dominantes de organizao do trabalho.

Mais recentemente, sobretudo a partir de meados dos anos 80, assistiu-se a uma progressiva multiplicao das deslocalizaes da produo e, simultaneamente, assistiu-se mesmo progressiva segmentao dos processos produtivos que so agora implementados em diferentes pases tirando partido, consoante os casos, quer de mais baixos custos de mo-de-obra, quer de melhor acessibilidade de matrias-primas, quer ainda de quadros legais mais favorveis, por exemplo nos planos fiscal ou ambiental.

Estas alteraes devem-se sobretudo a dois fatores:

A progressiva liberalizao do comrcio internacional que, ao reduzir os obstculos s trocas comerciais e ao investimento estrangeiro, promovem a competitividade empresarial internacional; O Novo paradigma tcnico-econmico que, no essencial, favorece uma organizao das diferentes fases do processo produtivo espacialmente dispersa e segmentada.

O Novo paradigma tcnico-econmico traduz-se na segmentao do processo produtivo em vrias fases e subfases com uma localizao espacialmente dispersa. As novas tecnologias de comunicao e informao viabilizam a gesto em tempo real de um processo produtivo segmentado e disperso por vrios pases do mundo.

Como sabido, a gesto e administrao empresarial, assim como as fases de investigao e conceo de produtos tendem a concentrar-se nos pases mais desenvolvidos (onde os salrios so mais elevados e onde os nveis mdios de qualificao profissional so tambm mais elevados) enquanto as fases de produo, montagem e preparao para a comercializao tendem a concentrar-se em pases onde os salrios so mais baixos.

A este propsito fala-se tambm em nova diviso internacional do trabalho. Enquanto os pases mais desenvolvidos se caracterizam por uma produo intensiva em capital e trabalho com elevado valor acrescentado, as sociedades perifricas caracterizam-se por uma produo intensiva em trabalho e com baixo valor acrescentado.

Uma das caractersticas da atualidade ocidental justamente a exportao (deslocalizao) dos sectores de produo mais intensivos em mo-de-obra.

Progressivamente, tm vindo a constituir-se sistemas de produo mundiais, ou seja, que articulam diretamente diversos pases, uns mais e outros menos desenvolvidos, e fomentam uma maior integrao e interdependncia da chamada diviso internacional do trabalho.

Na verdade, as inovaes tecnolgicas e a relativa diminuio dos custos de transporte e telecomunicaes, a informtica e automatizao permitiram s empresas transnacionais repartir e transferir de pas para pas diferentes unidades do ciclo de produo.

Atualmente, a produo de determinada mercadoria encontra-se frequentemente espartilhada em subunidades produtivas com uma localizao dispersa por vrias regies e pases (por exemplo, o produto concebido na Holanda, desenhado na Malsia, manufaturado na China e comercializado nos EUA).

Mais recentemente, as empresas multinacionais tm multiplicado as fuses e as alianas entre si, designadamente atravs de acordos que envolvem transferncias de tecnologias, transferncias de licenas de produo, partilhas no fabrico de componentes e processos de montagem, partilha de mercados, etc..

Muitas vezes, e de forma tendencialmente crescente, a segmentao e a deslocalizao do processo produtivo concretiza-se de forma indireta, ou seja, por intermdio de subcontrataes, processos de cooperao e alianas entre empresas, licenas de produo, regimes de franchising, etc..

Na era da Globalizao econmica, o capital e as empresas deixam frequentemente de ter rosto e de estar ancorados em determinado pas. As empresas atuam no espao mundial (em termos de produo, comercializao e mesmo de gesto e organizao) e o seu patrimnio pertena de uma multiplicidade de acionistas com origem em diversos pases.

Neste sentido, como a formao do capital j no se circunscreve a fronteiras nacionais, a territorialidade do capital frequentemente impossvel de identificar. Esta uma das razes que leva alguns autores a preferir qualificar como transnacionais as empresas e os capitais, em detrimento da expresso multinacional.

Por outro lado, importa sublinhar que os processos de deslocalizao produtiva e de subcontratao j no se limitam apenas indstria transformadora e aos trabalhos menos qualificados, encontrando-se cada vez mais tambm no sector dos servios.

Os efeitos da Globalizao no emprego no so lineares, dependendo das caractersticas prprias de cada pas, variando em funo dos diferentes sectores de atividade econmica, e variando ainda em funo das polticas econmicas e das polticas relativas ao mercado de trabalho seguidas por cada pas.

Para dar um exemplo bvio, uma deslocalizao produtiva significar perda de emprego em determinado pas e ganho de emprego noutro.

Mais genericamente, as deslocalizaes produtivas significam perda de emprego para os pases mais desenvolvidos, no entanto, a aposta seguida por muitas empresas europeias exportadoras de bens e servios nas potencialidades oferecidas por um mercado global traduz-se frequentemente em novos empregos.

A verdade que diariamente novos empregos so criados e outros so perdidos, sabendo-se que as perdas e os ganhos no ocorrem nos mesmos sectores de atividade econmica, nem nas mesmas empresas ou regies, e que esta troca tambm desigual no que respeita s caractersticas dos trabalhadores (sexo, idade, qualificao profissional, etc.), assim como sero diferentes as respetivas remuneraes e sistemas de segurana social que lhes esto associados.

De qualquer modo, em virtude da maior premncia de competitividade internacional que sentida pelas empresas, o processo de Globalizao tem conhecido importantes consequncias na qualidade e na quantidade do emprego. Assiste-se, pois, a uma tendncia para a crescente diferenciao e heterogeneidade das situaes de trabalho e de emprego, havendo quem sublinhe a coexistncia de diversos estatutos jurdicos de emprego no interior de uma mesma empresa.

Neste sentido, nos pases mais desenvolvidos parece acentuar-se a tendncia para uma profunda segmentao do mercado de trabalho, ou seja:

A prevalncia de um segmento superior, constitudo por empregos qualificados, bem remunerados e associados a sistemas de proteo social, designadamente na sade e na reforma; O crescimento de um segmento inferior, constitudo por prestaes de trabalho, normalmente pouco qualificado ou mesmo indiferenciado, em regimes contratuais precrios, e no associado a sistemas de proteo social.

As formas precrias de emprego constituem a face mais visvel (e tambm mais negra) das tendncias para flexibilizar o mercado de trabalho e o emprego. De facto, elas constituem parte integrante de estratgias empresariais de reduo de custos e aumento da flexibilidade organizacional.Em sntese, o processo de Globalizao no se limitou a implementar a deslocalizao de segmentos produtivos intensivos em mo-de-obra indiferenciada, mas parece estar em vias de evoluir para deslocalizaes produtivas que requerem trabalho qualificado e altamente qualificado.

De qualquer modo, pelo menos por enquanto, um amplo e importante conjunto de atividades produtivas, designadamente ao nvel da investigao, da conceo e da produo altamente qualificada, tem-se mantido bastante enraizado nas economias avanadas do mundo ocidental, embora tais atividades se tenham tornado estreitamente ligadas a outras atividades produtivas localizadas noutras regies do mundo.Viver em Portugus - UFCD 6656