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X ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – SET. 2014 EVOLUÇÃO DO PLANEJAMENTO E DAS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DA BAHIA: DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL À INDUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL POR POLÍTICAS PÚBLICAS Cristiane Aparecida de Cerqueira* Antônio César Ortega** Henrique Dantas Neder*** RESUMO Esse trabalho apresenta a evolução das propostas e estratégias de desenvolvimento na Bahia. Para tanto, foram coletadas informações através da pesquisa bibliográfica e documental, realizando análises pelo método estatístico- descritivo e dialético. Os resultados indicam que o processo histórico de ocupação e planejamento seguiu um modelo dual: urbanização e industrialização no litoral e o povoamento de características rurais no interior. Atualmente, o Território Litoral Sul e Itaparica estão em melhor situação socioeconômica, embora nenhum território rural tenha alcançado o desenvolvimento esperado. Assim, recomenda-se a realização de estudos pormenorizados para identificar os obstáculos enfrentados e promover ajustes nas políticas públicas implementadas. Palavras-chave: Pobreza. Desigualdade. Planejamento. Desenvolvimento territorial. ABSTRACT This paper presents the development of proposals and development strategies in Bahia. To this end, information was collected through literature and documents, performing statistical analyzes, descriptive and dialectical method. The results indicate that the historical process of occupation and planning followed a dual model: urbanization and industrialization in coastal and rural settlement features inside. Currently, the Territory South Coast and Itaparica are better socioeconomic status, although no rural area has reached the expected development. Thus, it is recommended to conduct detailed studies to identify the obstacles and promote adjustments in public policies implemented. Keywords: Poverty. Inequality. Planning. Territorial development. * Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP) e doutoranda em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professora do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). [email protected] ** Pós-doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutor em Economia Sociologia e Políticas Agrárias pela Universidade de Córdoba (UCO), Espanha. Professor-associado IV do Instituto de Economia, professor permanente do Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisador e/ou consultor de organizações multilaterais (FAO/ONU). [email protected] *** Doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em Engenharia de Produção Pesquisa Operacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor permanente do Programa de Pós-graduação em Economia e professor-associado do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). [email protected] PLANEJAMENTO E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO 569

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X Encontro dE Economia Baiana – SEt. 2014

EVOLUÇÃO DO PLANEjAMENTO E DAS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DA BAHIA: DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL À INDUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL POR POLÍTICAS PÚBLICAS

Cristiane Aparecida de Cerqueira*Antônio César Ortega**

Henrique Dantas Neder***

RESUMO

Esse trabalho apresenta a evolução das propostas e estratégias de desenvolvimento na Bahia. Para tanto, foram coletadas informações através da pesquisa bibliográfica e documental, realizando análises pelo método estatístico-descritivo e dialético. Os resultados indicam que o processo histórico de ocupação e planejamento seguiu um modelo dual: urbanização e industrialização no litoral e o povoamento de características rurais no interior. Atualmente, o Território Litoral Sul e Itaparica estão em melhor situação socioeconômica, embora nenhum território rural tenha alcançado o desenvolvimento esperado. Assim, recomenda-se a realização de estudos pormenorizados para identificar os obstáculos enfrentados e promover ajustes nas políticas públicas implementadas.

Palavras-chave: Pobreza. Desigualdade. Planejamento. Desenvolvimento territorial.

ABSTRACT

This paper presents the development of proposals and development strategies in Bahia. To this end, information was collected through literature and documents, performing statistical analyzes, descriptive and dialectical method. The results indicate that the historical process of occupation and planning followed a dual model: urbanization and industrialization in coastal and rural settlement features inside. Currently, the Territory South Coast and Itaparica are better socioeconomic status, although no rural area has reached the expected development. Thus, it is recommended to conduct detailed studies to identify the obstacles and promote adjustments in public policies implemented.

Keywords: Poverty. Inequality. Planning. Territorial development.

* Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP) e doutoranda em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professora do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). [email protected]

** Pós-doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutor em Economia Sociologia e Políticas Agrárias pela Universidade de Córdoba (UCO), Espanha. Professor-associado IV do Instituto de Economia, professor permanente do Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisador e/ou consultor de organizações multilaterais (FAO/ONU). [email protected]

*** Doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em Engenharia de Produção Pesquisa Operacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor permanente do Programa de Pós-graduação em Economia e professor-associado do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). [email protected]

PLanEjamEnto E EstRatéGias dE dEsEnvoLvimEnto • 569

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EVOLUÇÃO DO PLANEJAMENTO E DAS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DA BAHIA: DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL

À INDUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL POR POLÍTICAS PÚBLICAS

Cristiane Aparecida de Cerqueira, Antônio César Ortega, Henrique Dantas Neder

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1. Introdução

Com características geográficas e atividades econômicas distintas ao longo do extenso

território, na última década o Estado da Bahia vem se destacando no cenário econômico

nacional e regional. Em 2010, a Bahia esteve entre as principais economias do Brasil,

responsável por, aproximadamente, 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, no valor

de R$157,4 bilhões e PIB per capita de R$11.232,001. Nesse mesmo ano, o estado contribuiu

com cerca de 31% do PIB do Nordeste (Bahia, 2011).

Contudo, desde sua ocupação e ao longo da sua história, o Estado da Bahia registra

significativa heterogeneidade entre suas regiões, além da elevada pobreza e desigualdade de

distribuição da renda, principalmente no espaço rural, o que tem incitado nos anos 2000 a

instituição de políticas públicas em prol do desenvolvimento territorial rural. Tais políticas

envolvem uma série de programas públicos, recentemente em vigor, os quais carecem de

avaliação dos seus resultados. Por isso, o objetivo desse artigo é apresentar a evolução do

planejamento e das estratégias de desenvolvimento da Bahia, além de promover um debate

sobre os programas públicos de desenvolvimento territorial rural, como os programas

Territórios Rurais (TRs), Territórios da Identidade (TIs) e Territórios da Cidadania (TCs),

constituídos no intuito de reduzir a concentração dos benefícios econômicos e sociais,

especialmente em espaços rurais baianos.

Para a coleta dos dados e informações foram utilizadas a pesquisa bibliográfica e a

pesquisa documental. A pesquisa bibliográfica diz respeito ao tipo de pesquisa cuja fonte de

informações são as obras escritas e que por isto já receberam tratamento analítico, tais como

os livros e trabalhos científicos (monografias, dissertações, teses e artigos). Quanto à pesquisa

documental, esta vale-se de materiais que não receberam tratamento analítico (Gil, 2000).

Para a análise dos dados e informações dos referidos programas e territórios rurais

foram utilizados o método estatístico-descritivo e o método dialético. Segundo Lima (2004) o

método estatístico-descritivo envolve a organização dos dados, bem como sua síntese e

descrição, para isso utiliza-se, por exemplo, o cálculo de média, proporção, moda, desvio

padrão, valores mínimos e máximos e etc., informações úteis em pesquisas de caráter

descritivo ou analítico. Segundo Gil (2000) o método dialético é o emprego da arte da

discussão, que considera os diversos aspectos da realidade entrelaçados e interdependentes. O

método dialético permite investigar os fatos e fenômenos econômicos em conexão com as

múltiplas circunstâncias que os envolvem: o aspecto histórico, político, cultural, social, entre

outros.

Sendo assim, além dessa introdução, esse artigo está dividido em mais sete seções. A

segunda seção realiza um abreviado histórico da ocupação do Estado da Bahia, como base da

sua estrutura socioeconômica. A terceira seção apresenta o planejamento público de cunho

intervencionista que se deu a partir do início do século XX no Estado da Bahia. A quarta

seção trata do planejamento com o intuito de promover o desenvolvimento endógeno iniciado

no final do século XX. A quinta seção esclarece com se deu o processo de indução do

desenvolvimento territorial por políticas públicas no Estado da Bahia nos anos 2000 e detalha

a delimitação dos TRs, TIs e TCs. A sexta seção faz uma breve discussão das proposições

sobre desenvolvimento territorial. A sétima seção apresenta algumas características

econômicas e sociais dos territórios rurais baianos no ano de 2010. Por fim, a última seção

traz as considerações finais.

1 Contra os R$19.016,00 de PIB per capita do Brasil.

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EVOLUÇÃO DO PLANEJAMENTO E DAS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DA BAHIA: DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL

À INDUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL POR POLÍTICAS PÚBLICAS

Cristiane Aparecida de Cerqueira, Antônio César Ortega, Henrique Dantas Neder

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2. Breve histórico da ocupação territorial, base da estrutura socioeconômica das

regiões do Estado da Bahia

A ocupação territorial do Estado da Bahia criou as bases que explicam a configuração

da estrutura das atividades econômicas, as condições sociais e a concentração regional

verificada no território até os dias atuais. Tal ocupação ocorreu durante a expansão comercial

europeia quando, no início do século XVI, Portugal tornou o Brasil uma colônia de

exploração voltada à produção de gêneros comercializáveis no mercado internacional. Pelas

características climáticas e facilidade de escoamento, no período colonial o litoral baiano,

principalmente, a Baía de Todos os Santos, concentrou as principais atividades econômicas, e,

em especial, a cana-de-açúcar. Nessa época, a organização político-econômica era realizada

pelos donatários das Capitanias Hereditárias, cuja base produtiva era a monocultura

desenvolvida em grandes extensões de terras e com base no trabalho escravo, responsável

pelos elevados lucros dos engenhos, pela concentração da propriedade e da renda (Alves,

2003; Midlej, 2004).

Contudo, no início do século XVII a ampliação da oferta da cana-de-açúcar nas

colônias inglesas, holandesas e francesas resultou no declínio da economia açucareira baiana,

que foi sendo aos poucos substituídas por outras atividades como a pecuária e extração de

ouro, prata e pedras preciosas ao longo da região da Chapada Diamantina, com a ascensão da

classe dos comerciantes, já no início do século XVIII. Essa ocupação do interior da Bahia

também se deu na região do Recôncavo pelos colonos que derrotavam os índios e plantavam

algodão e mandioca, e no sertão ocupavam as margens do Rio São Francisco com a criação de

gado. Na região Sul do estado, em 1746, a lavoura cacaueira foi implantada. Ainda no século

XVIII, a junção das capitanias Bahia de Todos os Santos, Porto Seguro, São Jorge dos Ilhéus,

Paraguaçu e Itaparica/Tamarandiva, formaram a Capitania da Bahia. No século XIX (em

1827), a comarca do Rio São Francisco (pertencente à Capitania de Pernambuco) foi

incorporada à Capitania da Bahia, configurando o atual território do Estado da Bahia (Midlej,

2004).

No período imperial (1822-1889) a economia baiana permanecia dependendo da

exportação de produtos primários e da importação de bens industrializados. No início do

século XIX, seguindo a ordem econômica vigente, o Brasil trocava seus alimentos e matérias-

primas pelos manufaturados estrangeiros. Contudo, no decorrer do século, os produtos locais

foram perdendo espaço no mercado internacional e a economia baiana perdendo importância

na economia nacional. Por causa da Primeira Guerra (1914-1918) houve dificuldade de

importação, o que estimulou o crescimento da indústria doméstica de bens de consumo

(Midlej, 2004).

No regime republicano (1889-1930) os senhores de engenho do litoral e os fazendeiros

instalados no interior se mantiveram no poder. Ao longo do Rio São Francisco a construção

de estradas de ferro possibilitou a ocupação do sertão e incitou o aparecimento de vilas e

povoados. Dessa forma, coube ao interior, à região do Semiárido, desenvolver atividades de

auto-abastecimento voltadas ao mercado interno. Assim, foi estabelecida a forma de ocupação

do estado: a urbanização no litoral e o povoamento de características rurais no interior. Esse

modelo dual determinou o processo histórico de acumulação e de desenvolvimento

econômico desigual ao longo do território da Bahia (Alves, 2003).

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EVOLUÇÃO DO PLANEJAMENTO E DAS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DA BAHIA: DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL

À INDUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL POR POLÍTICAS PÚBLICAS

Cristiane Aparecida de Cerqueira, Antônio César Ortega, Henrique Dantas Neder

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3. Política e planejamento público de caráter intervencionista, para o desenvolvimento

do Estado da Bahia, a partir do início do século XX: evolução, características e

resultados

Com o Estado Novo (1937-1945), dentro de um modelo nacional-desenvolvimentista,

foram criadas as condições para o crescimento e diversificação econômica, com a instituição

do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Plano Nacional de Eletrificação e Centrais Elétricas

Brasileiras S.A. (Eletrobrás), dentre outras ações (Midlej, 2004). O governo baiano fez

algumas intervenções na economia criando alguns institutos: o Instituto de Cacau da Bahia –

ICB (1933), o Instituto Baiano do Fumo (1935) e o Instituto de Economia e Finanças da

Bahia – IEFB (1937). Assim, na década de 1930, o planejamento resultou na criação do

Programa de Autarquias, que visava a defesa e o estímulo da atividade agrícola,

especificamente da lavoura cacaueira e do fumo. Na década de 1940 a Bahia foi

regionalizada pela primeira vez. Nesse período o Conselho Nacional de Geografia dividiu o

estado em 16 “Zonas Fisiográficas”, a partir das semelhanças econômicas e sociais dos

municípios. Em 1949, no governo de Octávio Mangabeira, foi elaborado o Plano de Ação

Econômica para o Estado da Bahia, que objetivamente apenas reestruturou o ICB (Silva,

2012; Souza, 2008).

Sendo assim, o modelo agroexportador vigorou na economia baiana até o início do

século XX, quando a cana-de-açúcar, o fumo, a produção de couro e peles, a mamona e o sisal

se destacavam. Nesse período o cacau, cultivado na região sul da Bahia, era importante

produto da pauta de exportações do Brasil. Desse modo, a estrutura da economia baiana

estava atrelada aos ciclos agrícolas tradicionais, atividades organizadas em grandes

propriedades rurais, de cultivo extensivo, com baixos índices de mecanização e produtividade,

voltadas à exportação e que limitou a criação de um mercado de consumo dinâmico (Midlej,

2004; Vieira et al, 2000). Diante dessa conjuntura e pelas dificuldades de inserção no

processo de industrialização iniciado na região Sudeste do Brasil (desde 1930), na primeira

metade do século XX as elites baianas começaram a manifestar insatisfação. As classes

burguesas baianas questionavam os entraves econômicos e políticos, que mantinham o estado

com características agrárias e dificultavam o desenvolvimento urbano e industrial (Silva,

2012; Souza, 2008).

Nos anos 1950, o desenvolvimento brasileiro foi baseado no processo de substituição de

importações visando a transformação da matriz produtiva nacional. Nessa perspectiva

Juscelino Kubistchek buscou a atração de capitais estrangeiros para setores prioritários do

país. Com a divulgação do Plano de Metas, do governo federal, em meio a uma das maiores

secas no Nordeste, o planejamento na Bahia aparece com mais evidência no governo de

Antônio Balbino, entre 1955 e 1959. Logo no início dessa gestão foi instituído o Conselho de

Desenvolvimento Econômico da Bahia (CONDEB) e a Comissão de Planejamento

Econômico da Bahia (CPE).

O CONDEB era um conselho político formado por instituições. A CPE foi presidida por

Rômulo Almeida, personalidade de destaque no planejamento estadual e autor das famosas

“Pastas Cor de Rosa”, organizadas entre 1954 e 1955, detentoras de alternativas para o

desenvolvimento sustentável do Estado da Bahia. A CPE era responsável pelos estudos e pela

proposição de medidas que resultassem em estabilidade e desenvolvimento equilibrado, e

diagnosticou fatores indutores do atraso da economia para definir programas e projetos,

vinculados à Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e ao Banco do

Nordeste, condizentes com a modernização nacional, que objetivasse o aumento e estabilização

da renda per capita da Bahia (Midlej, 2004; Silva, 2012; Souza, 2008; Vieira et al, 2000).

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À INDUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL POR POLÍTICAS PÚBLICAS

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Para a CPE as causas do atraso da economia baiana eram a baixa produtividade do

capital e a dependência da agricultura exportadora, por isso essa comissão enfatizava a

necessidade de investimentos no setor de transporte, comunicação e industrial, e pontuava a

diversificação da produção e a ampliação do mercado interno como alternativa ao

desenvolvimento. A CPE organizou o Programa de Recuperação Econômica da Bahia,

todavia, sem grandes avanços. Assim, em 1958, desconsiderando a regionalização

denominada “Centralidade”, apresentada pelo IBGE, outra proposta foi apresentada, as 09

“Regiões Urbanas”, consideradas mais funcionais pelo geógrafo Milton Santos (Silva, 2012;

Souza, 2008).

Após 1959, no governo de Juracy Magalhães, o planejamento regional volta a ser

contemplado com a instituição do Plano de Desenvolvimento da Bahia (PLANDEB). O

PLANDEB também foi instituído sobre influência e supervisão de Rômulo Almeida, e é

considerado o mais autêntico e ousado planejamento estadual do período, que além das

propostas de combate à seca, objetivava transformar a economia e a sociedade oligárquica

baiana em uma sociedade capitalista com bases industriais. Para tanto, o PLANDEB adotou

projetos integrados na agricultura, indústria e comércio, e considerou a infraestrutura física e

urbana-social. O modelo apresentado pelo PLANDEB era de integração econômica com a

região Sudeste do Brasil, por meio do abastecimento de bens intermediários produzidos e

disponibilizados pela Bahia. Dessa forma, em meados da década de XX ganha força a

proposta da complementaridade econômica, em que competiria à Bahia desenvolver setores

industriais que não estivessem implantados no Sul e Sudeste do país. A ideia era fortalecer a

economia brasileira sem estabelecer concorrência com as indústrias já existentes (Silva, 2012;

Souza, 2008; Alves, 2003).

Como consequência, a industrialização se deu de forma parcial, consubstanciada em

bens intermediários, quando a Bahia passou de exportadora de commodities agrícolas à

exportadora de commodities industriais ao Sudeste, estratégia considerada de

“desconcentração concentrada” porque limitou a internalização integral da industrialização no

território baiano. Ou seja, a industrialização ocorreu de forma concentradora em alguns

espaços do estado e limitada a poucos bens intermediários. Esse modelo também resultou

numa dependência maior da economia baiana em relação à economia nacional. Nessa época

se deu o primeiro ciclo de desenvolvimento da Bahia, estabelecendo o planejamento

econômico para o desenvolvimento industrial, quando o estado registrou transformações na

sua base econômica (Silva, 2012; Souza, 2008; Midlej, 2004; Alves, 2003; Vieira et al, 2000).

Ademais, mesmo que tenha permanecido atrelado aos interesses capitalistas

internacionais e nacionais, o PLANDEB tornou-se limitado por divergir, em alguns pontos,

dos programas federais e pela resistência de algumas classes dirigentes locais à profundas

mudanças. Por isso, em 1961 foi constituído o Conselho de Desenvolvimento Industrial, e

após 1963, na gestão de Antônio Lomanto Júnior, tentou-se retomar a política econômica

estadual e o planejamento regional a partir de critérios econômicos e geográficos. Em 1964,

com a ditadura militar, o desenvolvimentismo permaneceu como objetivo do governo federal,

quando foi estabelecido o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED) e os Planos

Nacionais de Desenvolvimento (I PND e II PND). Porém, o golpe militar de 1964 suprimiu a

autonomia dos estados e, por conseguinte, a capacidade de planejamento, que ficou restrita a

programas e declarações de intenções atreladas aos interesses do governo federal,

possibilitando relativo desenvolvimento econômico na Bahia no final dos anos 60 (Silva,

2012; Souza, 2008; Midlej, 2004; Alves, 2003; Vieira et al, 2000).

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Entretanto, mesmo em meio ao período ditatorial, ainda no governo de Antônio

Lomanto Júnior, em 1966 foi possível consolidar uma reforma administrativa. Essa reforma

buscou aperfeiçoar o planejamento numa nova estrutura, organizada na assessoria geral, nas

assessorias setoriais e regionais. Por meio da consultoria do IBGE, o estado foi dividido em

21 “Regiões Administrativas”, como espaços contínuos, em que cada região possuía como

centro uma sede urbana, onde seriam instaladas as agências e órgãos de atuação

governamental. Contudo, o governo reconheceu apenas 17 “Regiões Administrativas” com

suas respectivas sedes urbanas, que funcionariam como centros regionais dos órgãos

governamentais do estado. Além da modernização da “máquina” do estado, a reforma

administrativa visava a promoção da industrialização da Bahia, quando foram instituídos a

Secretaria da Indústria e Comércio, o Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia

(Desenbanco) e o Centro Industrial de Aratu (CIA). A referida secretaria foi responsável pela

formulação política, o Desenbanco pela concessão de financiamentos e a CIA pela

disponibilidade de áreas com infraestrutura e pela atração de investimentos (Silva, 2012;

Souza, 2008).

No mandato de Luís Viana Filho (1967-1971), especificamente em 1967, o IBGE

instituiu 26 “Microrregiões Homogêneas” em termos dos aspectos naturais, sociais e

econômicos. Todavia, em 1968 o governo do estado elegeu somente 16 “Microrregiões

Programadas”, sem clareza quanto à metodologia e aos aspectos funcionais. No período, a

CIA foi consolidada, a Usina Siderúrgica da Bahia foi implantada, e iniciou-se a construção

do Complexo Petroquímico de Camaçari, assim como a industrialização em algumas áreas do

interior (Silva, 2012; Souza, 2008).

No período 1971-1975, da primeira administração de Antônio Carlos Magalhães

(ACM), buscou-se facilitar os contatos na esfera federal e internacional, além de maior

eficiência na coordenação da ação dos diferentes órgãos estaduais. Para tanto, em 1971, o

governador ACM cria a Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia (SEPLANTEC) e

no ano de 1972 o IBGE delimitou as 22 “Regiões Funcionais Urbanas”. Todavia, em 1973 o

governo baiano, a partir das propostas anteriores de regionalização, formou somente 17

“Regiões Administrativas”, com a intenção de fazer um recorte geográfico, criando uma nova

estrutura governamental, cujos serviços seriam descentralizados, a fim de promover maior

funcionalidade ao espaço e dinamismo econômico (Silva, 2012; Souza, 2008).

Considerando que no início da década de 1970 havia ampliado o número de cidades

intermediárias e havia acúmulo de funções e órgãos estatais na capital, o Projeto “Regiões

Administrativas”, objetivava identificar as cidades centros regionais, a partir da estrutura

básica e administrativa. A delimitação das regiões seguiu uma perspectiva quantitativa, do

conhecimento do sistema administrativo e das tipologias regionais, fundamentado num

sistema de dominação/dependência. Sendo assim, buscou-se identificar unidades físicas

homogêneas, com base no relevo e hidrografia. Também utilizou-se dados sobre os fluxos de

comercialização agrícola, do movimento de passageiros e considerou-se o estado de

conservação das estradas e aeroportos para definir a funcionalidade. Para estabelecer os

limites e o contingente populacional de cada região selecionou-se quatro estudos:

Centralidade (1958), Zonas de Influência Urbana (1958), Regiões Administrativas (1966) e

Regiões Funcionais Urbanas (1972). Ademais, utilizou-se a regionalização operacional criada

pelas secretarias de Estado, as denominadas “Regiões Especiais”. Contudo, as “Regiões

Administrativas” (1973) apenas apresentaram um caráter funcional, tornando-se ineficiente no

que diz respeito ao desenvolvimento socioeconômico ou desequilíbrios regionais, resultando

em uma regionalização conservadora (Souza, 2008).

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Entre 1975 e 1979, no comando do governador Roberto Santos, foram mantidos os

planos e projetos de capacitação do quadro de técnicos especializados e para consolidação do

Complexo Petroquímico, pela sua capacidade de reduzir as limitações setoriais e dinamizar a

economia baiana (Silva, 2012; Souza, 2008). Todavia, na década de 1970, o setor industrial

ainda era baseado na produção de bens intermediários e numa relação complementar ao

parque produtivo do Sudeste e Sul do Brasil. Mas, como resultado das ações do primeiro

ciclo, lançou-se as bases para o segundo ciclo de desenvolvimento industrial (Vieira et al,

2000). Dessa forma, no pós-64 e por toda a década de 1970 o planejamento baiano manteve-

se condizente com os interesses do governo federal, num modelo de desenvolvimento

nacional fundamentado na intensificação da industrialização, através do apoio militar. Esse

planejamento estatal passa a influenciar o crescimento dos novos setores na Bahia. Para tanto,

os capitais privados passaram a ser atraídos por meio de subsídios, isenções de impostos,

doações de terrenos e financiamentos. O governo estadual também assumiu o papel de

investidor em grandes empreendimentos e o governo federal participou através das agências

de fomento. O Estado promoveu a construção e ou ampliação de infraestrutura (ferrovias,

rodovias, portos, aeroportos, energia), a qualificação da mão-de-obra, ações concentradas na

região litorânea e na Região Metropolitana de Salvador (RMS), acirrando as desigualdades

econômicas e sociais na Bahia (Silva, 2012; Souza, 2008; Alves, 2003).

Entre 1979 e 1983 o governador ACM, em seu segundo mandato, manteve a política

de consolidação das indústrias da RMS. E entre 1975 e 1985 a participação do setor

secundário no PIB estadual supera a participação do setor primário, também pela estagnação

ou declínio dos produtos agrícolas tradicionais. Por isso, entre 1983 e 1987 o governador João

Durval passou a estimular o desenvolvimento local dos municípios. Mas, foi entre 1987 e

1991, na gestão de Waldir Pires, que as crises econômicas internacionais e nacionais, como a

crise internacional do petróleo, os elevados juros internacionais e a hiperinflação, dificultaram

a sustentação dos investimentos públicos e do padrão de desenvolvimento brasileiro, tornando

impraticáveis o planejamento e os projetos públicos de grande desenvoltura. Ao longo dos

anos 1980, a estagflação dá sinais que o modelo de industrialização por substituição de

importações se esgota (Silva, 2012; Souza, 2008; Midlej, 2004; Vieira et al, 2000).

Assim, por toda a década de 1980 o planejamento tornou-se setorizado, já que cada

órgão do governo realizava o planejamento conforme suas necessidades e objetivos,

estabelecendo uma multiplicidade de formas de regionalização na Bahia, que resultou em

desorganização e ineficácia das ações públicas quanto à redução das desigualdades, as quais

procuraram priorizar a adequação das regiões às exigências da iniciativa privada (Souza,

2008). Como resultado, novas áreas especializadas na agroindústria moderna e competitiva

passaram a se destacar e dinamizar o Oeste, Norte e Sul da Bahia. É o caso da região de

Barreiras, com a soja, café e fruticultura irrigada; da região de Juazeiro com a fruticultura e do

Extremo Sul com a madeira para celulose (Midlej, 2004). E no fim da década de 1980 ficou

evidente que o desenvolvimento econômico e o crescimento da renda na Bahia estava

espacialmente concentrado em poucas áreas que experimentaram industrialização e

urbanização, em detrimento da maioria da população residente em municípios e regiões de

características rurais presentes ao longo do território baiano, que permaneceu em situação de

extrema pobreza (Silva, 2012).

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EVOLUÇÃO DO PLANEJAMENTO E DAS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DA BAHIA: DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL

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4. Política e planejamento público para o desenvolvimento endógeno do Estado da

Bahia no final do século XX: evolução, características e resultados

A década de 1990 inicia com recessão, intensificação da ideologia e adoção de

políticas econômicas de corte neoliberal, com redução da intervenção do Estado na economia,

que apenas mantém programas casuais, transferindo para o setor privado parte de suas

atividades. Por isso, entre 1991-1994, durante a terceira administração de Antônio Carlos

Magalhães (ACM), a atuação do governo baiano passou de executor para apenas indutor de

arranjos produtivos para o desenvolvimento endógeno, os quais permitiram o crescimento da

economia baiana por meio do setor industrial (Silva, 2012). A partir desse entendimento,

inicia-se o terceiro ciclo de desenvolvimento da Bahia, fundamentada na implantação da

indústria de bens finais, como resultado da concessão de incentivos fiscais que atraiu capitais

privados, num período de abertura comercial e desregulamentação econômica (Vieira et al,

2000).

Logo em 1991, o governo da Bahia organizou os “Centros Urbanos” das 26 “Regiões

de Influência Urbana”, semelhantes às Regiões Administrativas (Silva, 2012). As “Regiões de

Influência Urbana” foram fundamentadas nos conceitos da Geografia Urbana e Regional,

mesmo reconhecendo que: “[...] a regionalização da Bahia a partir do seu sistema urbano teria

limites impostos pela própria realidade estadual como: discrepâncias socioeconômicas; baixas

densidades demográficas; baixo grau relativo de urbanização; hipertrofia da rede urbana,

insipiências da articulação inter-regional (Souza, 2008, p.79, citando Bahia, 1991)”. O estudo

salientou que a lógica era dinâmica como a própria dinâmica da rede urbana, assim essa nova

forma de regionalização, de critérios frágeis foi aplicada de forma limitada, sendo

rapidamente substituída pelas “Regiões Econômicas”.

As 15 “Regiões Econômicas” foram propostas quando o governo do Estado da Bahia

apregoava a necessidade de uma nova regionalização, justificada pela ocorrência de vários

novos fluxos econômicos e comerciais no território. As “Regiões Econômicas” foram

entendidas como: “Espaço contínuo polarizado por uma cidade de maior porte, tendo por

suporte uma ou mais atividades produtivas que caracterizam e determinam o potencial da

região” (Souza, 2008, p.81). Porém, as denominações regionais procuraram indicar as

características naturais ou as formas de relevo, fundamentadas em critérios físicos e por isso

frágeis, principalmente quanto à localização das regiões em relação à capital. Assim, as

“Regiões Econômicas” partiam de uma visão econômica, numa pretensão de delimitar áreas

de melhor retorno aos investimentos privados, numa seletividade territorial, que beneficiou as

regiões das extremidades em detrimento das áreas centrais (do semiárido), acirrando as

desigualdades econômicas e sociais inter-regionais na Bahia (Silva, 2012).

O período 1995-1998 foi de promoção da estabilização econômica e abertura

comercial. O governador Paulo Ganem Souto priorizou o saneamento das finanças e da

máquina administrativa, e as políticas sociais permaneceram tênues. Entre os anos 1998 e

2002, a gestão de César Rabello Borges permaneceu priorizando a captação dos investimentos

privados, estabelecendo políticas que ressaltassem as competitividades em termos de

qualificação de mão-de-obra, capacidade organizacional, ampliação e modernização do

sistema modal, dentre outras ações de infraestrutura social e econômica. A ideia era criar

novos pólos de desenvolvimento com base em diferentes setores (agropecuária, mineração,

indústria, agroindústrias, comércio e turismo). Sendo assim, o PPA 2000-2003 do governo

baiano deu ênfase a um novo conceito de segmentação espacial visando a gestão do

desenvolvimento econômico. Essa política territorial foi inspirada nas “Regiões Econômicas”,

quando em 1999 foram estabelecidos os 08 “Eixos de Desenvolvimento”. A distribuição

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desses eixos considerou os corredores de circulação e escoamento da produção, no intuito de

reduzir os custos, promover maior competitividade aos produtos locais no Brasil e no

Mercosul e estimular a atividade econômica (Silva, 2012; Souza, 2008).

Na segunda gestão de Paulo Ganem Souto, no período 2002-2007, as mesmas linhas

de ação foram resguardadas, e em 2003 é lançado o Plano Plurianual (PPA) 2004-2007,

quando foram criados mais novos 05 eixos, instituindo um total de 13 “Eixos de

Desenvolvimento”. Essa regionalização era condizente com os critérios espaciais de alocação

e reprodução do capital privado internacional, nacional e local, em que o desenvolvimento

ficou restrito aos eixos selecionados (Silva, 2012; Souza, 2008). Segundo Souza (2008,

p.102), o discurso anterior foi mantido e consistia no:

[...] conceito de Eixos de Desenvolvimento como estratégia espacial de alocação de

investimentos, definida a partir de vias estruturais de circulação que buscam

articular os fluxos mais importantes da economia local, regional, nacional e

internacional. [...] Seus limites são aproximações de territórios que realçam a

articulação econômica sob a forma de redes, identificando rotas e os pontos de

articulação dos fluxos econômicos.

Então, a estratégia do governo era garantir a integração territorial através da ligação

dos subespaços de maior dinamismo, localizados nos extremos do território baiano. Embora o

PPA 2004/2007 aparentemente se comprometesse com a redução das desigualdades sociais e

econômicas entre as regiões, a distribuição prioritária dos recursos orçamentários do poder

executivo manteve-se prioritário à RMS (Souza, 2008). Assim, embora o discurso fosse

oposto, a lógica do planejamento estatal era tornar competitivas algumas áreas e inseri-las na

globalização financeira e econômica. Os programas públicos instituídos em áreas menos

desenvolvidas não trouxeram dinamização, e à região interiorana cabia menores

investimentos, o atraso e a estagnação.

5. O processo de indução do desenvolvimento territorial rural por políticas públicas no

Estado da Bahia nos anos 2000

Nos anos 2000 os dados revelam concentração dos benefícios econômicos e sociais

em áreas específicas do território baiano. Em 2005 a participação da RMS2 no PIB da Bahia

foi de, aproximadamente, 50%, e a participação dos 5 municípios com mais de 200 mil

habitantes3 chegou a 10,61%. Do total de 417 municípios, 15 foram responsáveis por mais de

60% do PIB do estado; restando aos demais municípios, os de pequeno porte, cerca de 40%

do PIB baiano. Os municípios com até 50 mil habitantes apresentaram PIB per capita

(R$3.528,21) muito inferior ao PIB per capita do estado (R$6.582,76), enquanto a RMS

apresentou PIB per capita (R$13.667,26) duas vezes maior do que o PIB per capita de estado

(Lacerda, 2009).

Em 2006 havia concentração da população baiana na RMS e nos municípios com mais

de 200 mil habitantes. Porém, aproximadamente, 50% da população do Estado da Bahia

residiam em municípios de pequeno porte, com população inferior a 50 mil habitantes.

Ademais, é preciso considerar que 68% destes municípios possuíam até 20 mil habitantes,

municípios muitas vezes classificados como urbanos, fruto das mudanças estabelecidas pelas

2 Os municípios pertencentes à Região Metropolitana de Salvador (RMS) em 2006 eram 10: Camaçari, Candeias,

Dias D’Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Salvador, São Francisco do Conde, Simões Filho,

Vera Cruz. 3 Na estimativa do grupo de municípios, em que cada um possuía mais de 200 mil habitantes, excluíram-se

aqueles inseridos na RMS.

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legislações municipais, mas que apresentam características rurais, cuja economia está

centrada na agricultura de subsistência. O problema é que este ramo de atividade tem se

mostrado incapaz de produzir renda necessária ao atendimento das necessidades básicas das

famílias (Lacerda, 2009).

Observando as informações em nível de domicílio, as desigualdades do dinamismo

econômico e dos aspectos sociais entre a área rural e a área urbana do Estado da Bahia são

verificadas. Em 2001, do total de 3.421.888 famílias baianas, 1.079.112 (31,55%) residiam no

meio rural e 2.342.226 (68,45%) residiam no meio urbano. A renda per capita média da

família baiana era de R$452,12; maior no meio urbano (R$536,46) e muito menor no meio

rural (R$190,04). Na Bahia, o chefe de família possuía, em média, 6 anos de estudo; no meio

urbano 7 anos, mas no meio rural somente 3 anos (Cavalcanti et al, 2012).

Do mesmo modo, com base em critérios mais abrangentes e multidimensionais, a

partir de seis diferentes dimensões (moradia, saneamento, educação, trabalho, renda e

demografia), Lacerda (2009) estimou o Indicador Multidimensional de Pobreza (IMP) e

constatou que há grande divergência entre as áreas do território baiano no ano de 2001. Na

RMS a proporção de indivíduos pobres era bem menor (30,61%) do que o verificado para as

áreas urbana não metropolitanas (47,53%) e rural não metropolitanas (66,26%). A proporção

de pobres na área urbana não metropolitana era a que mais se aproximava da média do estado

(49,67%). Assim, na visão multidimensional, em 2001, na área rural a proporção de pobres

(66,26%) era a mais elevada do que as estimativas baseadas somente em critérios monetários

(46,95%) (Tabela 1).

Tabela 1 - Proporção de pobres no Estado da Bahia (área metropolitana, urbana e rural) com

base no Indicador Multidimensional de Pobreza (IMP), no ano de 2001 e 2006

Área/Proporção de Pobres 2001 2006

Bahia 49,67 46,78

Área Metropolitana 30,61 35,63

Urbano (não metropolitana) 47,53 44,80

Rural 66,26 57,95 Fonte: Lacerda (2009)

Ainda sobre o IMP, disponível na Tabela 1, ao comparar o ano de 2001 ao ano de

2006, à exceção da área metropolitana, verifica-se que houve uma redução na proporção de

pobres em todo o Estado da Bahia que passou de 49,67% para 46,78%. No meio urbano não

metropolitano da Bahia a proporção de pobres reduziu de 47,53% para 44,8%. No meio rural

não metropolitano o mesmo fenômeno se deu, a proporção de pobres reduziu de 66,26% para

57,95. Portanto, entre 2001 e 2006 a redução da pobreza foi mais expressiva na área rural,

embora no último ano em análise a pobreza ainda permaneça mais elevada na área rural do

que nas outras áreas.

Sendo assim, eleito em 2006, o governado de Jacques Wagner (2007-2011),

abandonou as propostas de regionalização até então vigentes, consideradas incapazes de

reduzir as disparidades econômicas e sociais entre as diferentes regiões e áreas do Estado da

Bahia (Silva, 2012; Souza, 2008). De acordo com o PPA 2008-2011, os investimentos

públicos e o desempenho da economia baiana não foram capazes de gerar melhores condições

de vida a toda população; a política e o modelo econômico adotados até então privilegiaram a

indústria intensiva em capital, limitando a geração de empregos e o apoio aos micros e

pequenos empreendedores e aos agricultores familiares (Bahia, 2007).

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Por isso, o PPA 2008-2011 estadual propõe a implementação de um novo modelo de

desenvolvimento para a Bahia, que envolva novas formas de produção e promova a inclusão

social. A referida gestão reconheceu o modelo de política e de planejamento territorial do

governo federal e incorporou as diretrizes do “Programa de Desenvolvimento Sustentável de

Territórios Rurais” (programa TRs), criado em 2003, sob a responsabilidade da Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT) no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário

(MDA). De acordo com o governo federal, as microrregiões rurais devem ser priorizadas

pelas políticas públicas com base nos elementos de coesão social e territorial, priorizando

aquelas com baixo dinamismo, pobreza e concentração do público prioritário (agricultores

familiares, famílias assentadas pela reforma agrária, agricultores beneficiários do

reordenamento agrário). A escolha dos territórios rurais foi realizada após consultas à

sociedade civil e ao governo estadual, pois:

O desenvolvimento rural sustentável somente será possível quando a população do

campo for efetivamente incluída em processos locais de desenvolvimento. Nesse

sentido, foi instituído no PPA 2004-2007 o Programa Desenvolvimento

Sustentável de Territórios Rurais, que deverá apoiar-se no crescimento das

competências locais para que os atores sociais assumam o protagonismo dos

processos que conduzem ao seu desenvolvimento, numa perspectiva

multidimensional e multisetorial do desenvolvimento local. Isto implica na adoção

de uma abordagem territorial do desenvolvimento, para que as eventuais

deficiências locais possam ser enfrentadas pelo esforço compartilhado, pela

solidariedade e pela cooperação dentre os atores sociais e entre estes e os

responsáveis pela implementação de políticas públicas (Brasil, 2003, p.119).

O governado baiano optou por vincular a estratégia de desenvolvimento das diversas

regiões do estado ao programa instituído pelo governo federal, por acreditar que a concepção

de territórios facilitaria a articulação entre as ações desenvolvidas pelo governo estadual e os

programas federais atuantes no território baiano. Também partiu do entendimento de que a

instituição dos territórios na Bahia promoveria a intensa participação social no planejamento

governamental (Pomponet, 2012; Silva, 2012; Souza, 2008). E como resultado, o PPA 2008-

2011 estadual propõe uma política de desenvolvimento territorial, pois o planejamento

territorial é considerado o modelo capaz de respeitar as especificidades de cada local, reduzir

as desigualdades e promover o desenvolvimento sustentável. Nesse Plano, a partir do

sentimento de pertença e da teia de relações sociais, o território baiano foi subdividido em

TIs, os quais passariam a ter uma gestão social, por meio dos fóruns de desenvolvimento

territorial, espaços formados pela sociedade civil e poder público (Bahia, 2007).

Os TIs foram estabelecidos, pelo governo do Estado da Bahia, através da Lei No

10.705 de 14 de novembro de 2007. Porém, ao reconhecer que os TRs foram originalmente

concebidos para atender especificamente a agricultura familiar, os quilombolas e os

ribeirinhos, o governo baiano realizou alguns ajustes visando a ampliação das populações

envolvidas e maior alcance dos diferentes setores econômicos e espaços, tanto rurais como

urbanos. A ideia era extrapolar a dimensão do desenvolvimento rural, incorporando questões

ligadas ao meio urbano e às demais atividades econômicas que não se vinculam ao campo. Ou

seja, a intenção do governo estadual era constituir territórios como instrumento útil para a

formulação do planejamento em todas as suas dimensões (Pomponet, 2012).

Dessa foram, após realizar alguns ajustes conceituais e metodológicos em relação à

proposta dos TRs, a dimensão territorial foi contemplada e foram organizados como unidade

de planejamento 26 TIs na Bahia. Assim, dos 23 TRs constituídos pelo governo federal em

2005 para a Bahia, 22 foram mantidos pelo governo estadual, que acrescentou mais 4 TIs. Os

objetivos dos TIs são: crescimento econômico, fortalecimento dos pequenos

empreendimentos, ampliação do emprego e melhor distribuição de renda, maior qualidade de

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vida, equilíbrio (social, de gênero, étnico, racial, territorial) e fortalecimento de identidades

culturais (Silva, 2012, Pomponet, 2012; Souza, 2008).

Todavia, para Silva (2012) o programa TRs não foi capaz de superar a visão setorial e

a falta de articulação das ações e programas ministeriais, o que prejudicou a sua consolidação.

De acordo com Ortega (2008) o programa TRs não obteve mais sucesso porque enfrentou as

seguintes dificuldades: i) Limitada capacitação para diagnosticar, formular e administrar

projetos; ii) Oligarquias políticas, que limitaram a construção de um pacto territorial; iii)

Significativa carência de infraestrutura básica; iv) Limitada articulação em arranjos

horizontais e verticais; v) Desconsideração do ambiente macroeconômico; vi)

Desconsideração das políticas nacionais; vii) Desconsideração da história e da inserção dos

TRs na ordem capitalista; viii) Seleção de municípios por imposição; xix) Rivalidade política

entre municípios; x) Reduzido capital social.

Buscando aperfeiçoar as políticas públicas de desenvolvimento territorial, o governo

federal converteu os TRs em TCs, instituídos em 25 de fevereiro de 2008, de conformidade

com o Plano Plurianual (PPA) 2008-2011 (Brasil, 2008). O PPA 2008-2011 apresentou como

proposta o crescimento econômico, a inclusão social e a redução das desigualdades regionais.

Para tanto, propõe como destaque obras e ações de infraestrutura econômica e social, para

ampliar a potencialidades locais, superar os limites ao crescimento e desenvolvimento

econômico. O referido Plano foi construído com a participação da sociedade em conferências,

fóruns e conselhos, e seus resultados são creditados ao trabalho cooperativo, além das

fronteiras ministeriais e por meio de parcerias com o setor privado, governos estaduais e

municipais (Brasil, 2007).

De acordo com Brasil (2008), o programa TCs tornou-se mais restrito, como uma nova

institucionalidade capaz de identificar e atuar, prioritariamente, a partir da sinergia existente

em um grupo de municípios com maior nível de carências e grande concentração da pobreza

rural, atendendo aos seguintes critérios:

i) Estar incorporado ao Programa Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais;

ii) Menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) territorial;

iii) Maior concentração de beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF);

iv) Maior concentração de agricultores familiares e assentados da reforma agrária;

v) Maior concentração de populações tradicionais, quilombolas e indígenas;

vi) Baixo dinamismo econômico, segundo a tipologia das desigualdades regionais, da

Política Nacional de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional;

vii) Convergência de programas de apoio ao desenvolvimento de distintos níveis de

governo;

viii) Maior organização social;

ix) Menor Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB).

Ainda em 2008 foram instituídos no Estado da Bahia 08 TCs. Assim, em 2010 estava

em vigor no território baiano 13 TRs, 27 TIs e 09 TCs. O Anexo A elenca os territórios

classificados como rurais no Estado da Bahia (e seus respectivos municípios) e que são

coincidentes ao considerar, concomitantemente, os três programas: TRs, TIs e TCs. Estes são:

1) Irecê; 2) Velho Chico; 3) Chapada Diamantina; 4) Sisal; 5) Litoral Sul; 6) Baixo Sul; 7)

Sertão do São Francisco; 8) Semiárido Nordeste II; e, 9) Itaparica (BA/PE). Portanto, do total

de 417 municípios baianos apenas 161 municípios, distribuídos em 09 diferentes territórios,

foram contemplados pelos três programas públicos de cunho territorial, um de âmbito do

governo estadual (TIs) e os outros dois de âmbito do governo federal (TRs e TCs).

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6. Proposições do desenvolvimento territorial

Para a análise das realidades econômicas e sociais, além da fundamentação das

políticas públicas que objetivam o desenvolvimento, torna-se essencial compreender o

território como:

Espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, caracterizado por

critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a

cultura, a política e as instituições, e uma população, com grupos sociais

relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de

processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam

identidade e coesão social, cultural e territorial. [Já os territórios rurais] São

territórios onde os critérios multidimensionais que os caracterizam, bem como os

elementos mais marcantes que facilitam a coesão social, cultural e territorial,

apresentam, explícita ou implicitamente, a predominância de elementos ‘rurais’.

Nesses territórios, incluem-se os espaços ‘urbanizados’ que compreendem pequenas

e médias cidades, vilas e povoados (Ortega, 2008, p.165-166, citando Brasil, 2003).

Todavia, existem territórios deprimidos e territórios que já apresentam elevados níveis

de desenvolvimento. Segundo Ortega (2011, p.2):

Os territórios economicamente deprimidos são constituídos por municípios com

níveis baixos de desenvolvimento, de ritmo de crescimento e do potencial de

desenvolvimento. Seus indicadores sociais (educação, saúde e mortalidade) ficam

aquém da média nacional, assim como sua capacidade institucional (avaliada pelo

grau de participação local em sua gestão, sua capacidade financeira e gerencial).

De acordo com Ortega (2011) os territórios deprimidos são geralmente caracterizados

pela grande heterogeneidade das estruturas produtivas e fundiárias; ampla demanda sobre a

institucionalidade; menores condições de investimento e consequentemente de acesso às

inovações tecnológicas, além da frágil organização social. Então, os territórios deprimidos

apresentam fatores que em conjunto dificultam a oferta de produtos homogêneos, de

qualidade e competitivos ante o mercado (nacional e internacional). Assim, é preciso reduzir o

desequilíbrio de poder social, político e econômico para que haja um desenvolvimento mais

igualitário nesses territórios.

Inspirado no caso da Terceira Itália, Bagnasco (1999) esclarece que algumas

sociedades beneficiaram-se de um tecido urbano composto de cidades equipadas com uma

rede de empresas de vários ramos, serviços bancários e administrativos, infraestrutura,

equipamentos culturais e administração eficaz. Essas cidades interagiram com as regiões

rurais caracterizada pela agricultura familiar autônoma, que forneceram ao mercado de

trabalho mão-de-obra polivalente. Dessa forma, o capital, a formação profissional, a

capacidade de gestão, as técnicas, a permanência nos mercados e a confiança recíproca são

considerados recursos determinantes do desenvolvimento, mas que somente são possíveis

através da relação harmoniosa entre a política e a economia. A consolidação das organizações,

das instituições e das funções políticas são fundamentais à criação de novos sistemas

principalmente nas zonas subdesenvolvidas.

Por isso, os territórios dependem de fatores endógenos, tais como: capacidade

relacional, conhecimentos, aprendizagem, investigação e inovação. Para Reis (2002), as

mobilidades são criadas se previamente existirem competências e capital (material,

organizacional, relacional, simbólico ou de competência). Por isso, dada a sua importância, é

mister compreender bem o significado das instituições no processo de desenvolvimento

territorial. As instituições são entidades (formais e informais) que definem as restrições e

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possibilidades de ação humana; são as “regras do jogo” de uma sociedade, sujeitos a

evolução.

Sendo assim, a regulação econômica representa a presença de instituições,

comandadas pelo Estado, em duas esferas de ação: i) o Estado da regulação econômica,

enquanto coordenador das relações macroeconômicas que estabilizam o regime de

acumulação; ii) o Estado da coesão social e da coordenação institucional, enquanto gestor de

políticas sociais, mediador e parceiro das relações entre atores econômicos e sociais (Reis,

2007). Para o modelo institucionalista a atividade humana é um ato coletivo, que resulta de

interações, em que as pessoas superam as suas limitações. Dessa forma, insere na análise

econômica a “dimensão social”, o sistema político e financeiro, a estrutura produtiva, o

denominado sistema social de produção, fundamental para o desempenho econômico, para a

capacidade competitiva e para o desenvolvimento local (Reis, 2002).

Por conseguinte, as políticas públicas devem reconhecer as diversidades regionais e se

adequarem às peculiaridades, em sua dimensão física, econômica, social e cultural. Os

projetos devem considerar as desigualdades sociais e regionais, como resultado de problemas

histórico-estruturais das sociedades. Também torna-se necessário uma articulação

institucional microrregional e intermunicipal, formando arranjos sócio-produtivos, que

identifiquem seus principais problemas e explorem vantagens comparativas e competitivas de

atributos, constituindo um novo espaço territorial e um pacto intermunicipal em torno de um

projeto comum de desenvolvimento territorial. As políticas dirigidas às áreas rurais devem

colaborar para a criação de diferentes possibilidades de inserção da população rural em novos

mercados (de produto, de serviços e de trabalho) (Ortega, 2008).

7. Características socioeconômicas dos territórios turais do Estado da Bahia em 2010

Após alguns anos de instituição dos programas públicos TRs, TIs e TCs, resta saber

quais as condições econômicas e sociais dos territórios rurais do Estado da Bahia, no intuito

de verificar se os objetivos dos programas foram alcançados. Para tanto, será realizada uma

breve avaliação visando verificar a delimitação geográfica e o desempenho econômico e

social dos territórios, detalhando alguns indicadores tais como: Índice de Performance

Econômica (IPE), Índice de Performance Social (IPS), Produto Interno Bruto (PIB), PIB per

capita, estoque de emprego formal, rendimento médio do emprego formal (e por grau de

instrução), percentual de domicílios com pessoas em situação de extrema pobreza e taxa de

mortalidade infantil. Também será considerada a importância dos benefícios emitidos pela

Previdência Social, pelo Programa Bolsa Família (PBF) e pelo Fundo de Participação dos

Municípios (FPM).

Em relação à delimitação do território, inicialmente é preciso entender que um

município é classificado como rural quando possui densidade demográfica de até 80 hab/km²

e população total até 50.000 habitantes. Já uma microrregião geográfica é considerada rural

quando possui densidade demográfica de até 80 hab/km² e população média de até 50.000

habitantes por município componente (Silva, 2012, Correa, 2010; Ortega, 2008). Segundo

Jesus (2013), a demarcação de pequenos territórios na Espanha se dá a partir do número de

habitantes, de municípios e do tamanho máximo da área, com o objetivo de promover a

coesão história, cultural, social e econômica de áreas próximas e homogêneas, que possuem

necessidades e expectativas comuns. Tomando como exemplo dois territórios rurais pioneiros

espanhóis, descreve que o Território Médio Guadalquivir agrupa treze municípios com área

total de 1.161,2 km2, cuja população total é de 97.112 habitantes; o Território Guadajoz e

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Campiña agrupa somente cinco municípios, em 727,5 km2 e população total de 39.661

habitantes.

Sendo assim, e considerando os territórios rurais do Estado da Bahia, o Anexo A e a

Tabela 2 indicam que, pela população média, os nove territórios rurais baianos seguem

aqueles critérios porque não ultrapassam os 50.000 habitantes. Entretanto, verifica-se que a

delimitação é bem distinta, pois existem territórios extensos, mas existem territórios menores.

Ainda de posse dos dados do Anexo A e Tabela 2, entende-se que a grande maioria dos

territórios rurais do Estado da Bahia englobam elevada área e população total, dificultando os

processos de coesão territorial. O Território Sertão do São Francisco é o que possuem o

menor número de municípios (10), mas tem uma enorme população total (494.624 habitantes)

e a maior população média territorial (49.462,4). O Território Baixo Sul apresenta a menor

área (7.141,3 km2), mas também tem grande população (336.624 habitantes). O Território

Itaparica registra uma das menores áreas (12.171,5 km2) e uma das menores populações total

(167.144 habitantes), além da menor população média territorial (12.857,2 habitantes), se

aproximando mais do que é recomendado.

Tabela 2 – Características demográficas, por território rural do Estado da Bahia, no ano de

2010

Territórios rurais /

Características demográficas População total Área (km2)

Densidade

demográfica

(hab/km2)

População

média*

1. Irecê 403.070 26.730,9 15,08 20.153,5

2. Velho Chico 370.102 46.328,4 7,99 23.131,4

3. Chapada Diamantina 359.939 30.458,9 11,82 14.997,5

4. Sisal 582.331 20.454,3 28,47 29.116,5

5. Litoral Sul 795.304 15.153,8 52,48 30.588,6

6. Baixo Sul 336.624 7.141,3 47,14 24.044,6

7. Sertão São Francisco 494.624 61.765,6 8,01 49.462,4

8. Semiárido Nordeste II 407.964 16.379,3 24,91 22.664,7

9. Itaparica (BA/PE) 167.144 12.171,5 13,73 12.857,2

Bahia 14.021.432 564.692,67 24,83 33.624,5 Fonte: Bahia (2011)

*População média: população total do território dividida pelo número de municípios do território.

Como muitas informações municipais só são disponibilizadas a cada 10 anos, por

meio do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir

de meados da década de 1990 a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia

(SEI)4, órgão de estudos e pesquisas do governo do Estado da Bahia, em parceria com o IBGE

e com a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), criou indicadores mais

amplos dos municípios baianos para também serem divulgados nos períodos intercensitários.

Esses indicadores foram estimados por meio de novas metodologias, quando foi criado o

Índice de Desenvolvimento Social (IDS) e o Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE).

Porém, ao entender que o termo desenvolvimento é muito vasto, em 2011 o cálculo do IDE e

4 Em 18 de janeiro de 1995, de conformidade com a Lei n° 6.812, é criada a Superintendência de Estudos

Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), como principal provedor de dados do Estado da Bahia, como o objetivo de

atender as demandas do Governo, dos municípios e da sociedade civil (Bahia, 2014).

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IDS foi revisado e passou a se chamar Índice de Performance Econômica (IPE) e Índice de

Performance Social (IPS)5 (Bahia, 2013b).

O Índice de Performance Econômica (IPE) e o Índice de Performance Social (IPS)

destinam-se a classificar os Municípios e Territórios de Identidade com a finalidade

de retratar a realidade municipal e territorial no período de tempo analisado. O

indicador tem como objetivo nortear o bom emprego de recursos públicos, atentando

para as prioridades a serem atendidas no recorrente comprometimento de mitigar as

disparidades econômicas e sociais historicamente presentes no Estado da Bahia

(Bahia, 2013b, p.2).

Para o cálculo do IPE e do IPS, a maioria das informações utilizadas é baseada em

registros administrativos procedentes de órgãos oficiais, de periodicidade anual, limitadas às

análises quantitativas. Na metodologia de cálculo todas as variáveis são tomadas em relação

ao tamanho das populações locais e os valores obtidos são padronizados (considerando o

valor observado em relação à média e ao desvio padrão) para serem classificadas em ordem

decrescente. Por constituírem índices calculados em um determinado ano específico, não

permite comparação horizontal dos indicadores entre os municípios, mas apenas comparação

vertical e em relação à média estadual. Com a adoção da média de 5000, tem-se uma

amplitude de escala onde todos os municípios podem ser diferentes um do outro. Assim, “[...]

os resultados municipais são obtidos e comparados em relação à média verificada para o

Estado da Bahia e, com isso, podemos estabelecer quais municípios estão acima e abaixo da

média do estado, ainda que não possamos verificar se essa média é boa (ou alta) em relação a

outras unidades da federação” (Bahia, 2013b, p.2).

O IPE é constituído dos seguintes indicadores: Índice de Infraestrutura (INF)6, Índice

do Produto Municipal (IPM)7, Índice de Corrente de Comércio Exterior (ICE )8 e Índice de

Independência Fiscal (IIF)9. O IPS é composto dos seguintes subíndices: Índice do Nível de

Saúde (INS )10, Índice do Nível de Educação (INE)11, Índice da Oferta de Serviços Básicos

(ISB)12, Índice do Mercado de Trabalho (IMT)13 (Bahia, 2013b).

Considerando o desempenho dos territórios rurais do Estado da Bahia no ano de 2010,

a Tabela 3 revela que existem dois tipos de territórios, aqueles formados por municípios que

em sua maioria registram IPE abaixo da média (5.000), e aqueles territórios constituídos por

municípios que em sua maioria registram IPE acima da média (5.000). O primeiro grupo é

grande maioria, e é formado pelos territórios rurais: Irecê, Velho Chico, Chapada, Sisal,

Baixo Sul, Sertão do São Francisco, Semiárido Nordeste II e Itaparica. Salienta-se que o caso

mais grave é o do Território Semiárido Nordeste II, onde dos dezoito municípios, dezessete

registram desempenho econômico abaixo da média. Apenas o Território Litoral Sul

apresentou a maioria de municípios com IPE acima da média, fazendo parte do segundo

grupo de municípios.

5 Maiores detalhes sobre a metodologia que envolve a estimativa do IPE e do IPS, ver Bahia (2013). 6 É composto por consumo total de energia elétrica, número de instituições financeiras, estabelecimentos

comerciais e de serviços. 7 A variável utilizada é a estimativa do PIB municipal, ponderando cada setor econômico. 8 Considera-se a soma das exportações e importações dos municípios com o resto do mundo. 9 Razão entre a receita própria do município e a receita total (receita própria mais transferências). 10 Considera a ocorrência de doenças, de óbitos, o número de profissionais, estabelecimentos e leitos de saúde, e

o número de cobertura de vacinação. 11 Calculado através das matrículas do ensino fundamental ao nível superior. 12 Considera o consumo residencial de energia elétrica e de água tratada. 13 Calculado através da média geométrica entre o Índice de Geração de Renda (IGR) e o Índice de Emprego

Formal (IEF), baseado nos dados da RAIS.

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Da mesma forma, ao analisar os dados do IPS da Tabela 3, verifica-se que existem

dois tipos de territórios, aqueles formados por municípios que em sua maioria registram IPS

abaixo da média (5.000), e aqueles territórios constituídos por municípios que em sua maioria

registram IPS acima da média (5000). Semelhantemente, o primeiro grupo é formado pelos

territórios rurais: Irecê, Velho Chico, Chapada, Sisal, Baixo Sul, Sertão do São Francisco,

Semiárido Nordeste II e Itaparica. Destaca-se que no caso do desempenho social o Território

mais carente é o Velho Chico, onde dos dezesseis municípios, quinze possuem IPS abaixo da

média. Novamente, somente o Território Litoral Sul registrou maioria dos municípios com

IPS acima da média, compondo o segundo grupo.

Tabela 3 – Índice de Performance Econômica (IPE) e Índice de Performance Social (IPS) por

território rural do Estado da Bahia, no ano de 2010

Territórios da Identidade / IPE e

IPS

Número de municípios

IPE

<5000

IPE

>5000

Total

geral

IPS

<5000

IPS

>5000

Total

geral

1. Irecê 16 4 20 16 4 20

2. Velho Chico 13 3 16 15 1 16

3. Chapada Diamantina 16 7 23 15 8 23

4. Sisal 17 3 20 12 8 20

5. Litoral Sul 12 15 27 12 15 27

6. Baixo Sul 11 3 14 8 6 15

7. Sertão São Francisco 7 3 10 9 1 10

8. Semiárido Nordeste II 17 1 18 13 5 18

9. Itaparica (BA) 4 2 6 5 1 6

Bahia 282 135 417 258 159 417 Fonte: Bahia (2013b)

Contudo a realidade dos territórios rurais do Estado da Bahia também pode ser

verificada ao ser observado o comportamento de algumas variáveis que revelam os aspectos

econômicos e sociais, tais como PIB, PIB per capita, estoque de emprego formal, rendimento

médio do emprego formal (e por nível grau de instrução), percentual de domicílios com

pessoas na condição de extrema pobreza, taxa de mortalidade infantil, importância dos

benefícios emitidos pela Previdência Social, pelo Programa Bolsa Família (PBF) e pelo

Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

No que diz respeito ao PIB dos territórios rurais baianos, o Território Litoral Sul se

destaca por alcançar em 2010 um PIB de R$6.834 milhões, praticamente o dobro do valor

obtido pelo segundo colocado, o Território Sertão do São Francisco, cujo PIB foi de

R$3.617,8 milhões (Figura 1). Segundo o Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentável

(PTDS)14, no Território Litoral Sul predominam as atividades do segmento de Serviços

(relativo ao comércio e ao turismo), que representa 63% de seu PIB. No Território Sertão do

São Francisco prevalecem atividades agropecuárias (principalmente culturas como uva,

manga, cana-de-açúcar e cebola) e de serviços, ampliadas por causa das mudanças

decorrentes dos projetos de irrigação.

Os dois menores PIB foram registrados para o Território Velho Chico (R$1.828,6

milhões) e para o Território de Irecê (R$1.945,6 milhões) (Figura 1). Segundo o PTDS, o

14 O PTDS é um documento, resultado do processo de mobilização social e planejamento governamental, que

traz um diagnóstico e um planejamento contendo os programas e os projetos definidos nos Fórum do Território,

que fazem parte da estratégia da política pública federal de desenvolvimento territorial rural (Brasil, 2013).

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Território Velho Chico tem potencial econômico nas diversas cadeias produtivas, das quais a

mandiocultura, apicultura, bovinocultura, caprinocultura e piscicultura são as principais;

outras atividades promissoras são: produção de cachaça artesanal, artesanatos em palhas de

milho, palhas de bananeira, couro ou cristais, etc. No Território de Irecê destaca-se a

produção de grãos, particularmente do consórcio feijão-milho-mamona, que provocam

degradação ambiental e vem sofrendo com perdas das safras, oscilações dos preços dos grãos

e mudanças climáticas. Tanto no Território Velho Chico, como no Território de Irecê as

atividades econômicas desenvolvidas não são capazes de assegurar renda e qualidade de vida

à grande parte da população.

Figura 1 - Produto Interno Bruto (PIB), em R$ milhões, por território rural do Estado da

Bahia, no ano de 2010 Fonte: Bahia (2010)

Em relação ao PIB per capita, o Território de Itaparica se sobressai aos demais,

alcançando um montante de R$14.048,3 (Figura 2). Este resultado se deve, primeiramente, ao

valor adicionado da indústria, como resultado da produção de energia nas usinas

hidroelétricas instaladas; os serviços apresentam participação significativa no PIB, embora a

agropecuária seja essa a vocação mais antiga do território. Apesar de muito aquém do

primeiro colocado, o Território Litoral Sul apresenta o segundo maior PIB per capita,

R$8.773,8, resultado das atividades de serviços, anteriormente destacadas.

4.789,5 4.918,05.557,4

4.564,8

8.773,87.830,3

7.294,8

4.786,0

14.048,3

Irecê Velho Chico ChapadaDiamantina

Sisal Litoral Sul Baixo Sul Sertão SãoFrancisco

SemiáridoNordeste II

Itaparica(BA/PE)

Figura 2 – PIB per capita, em R$1,00, por território rural do Estado da Bahia, no ano de 2010 Fonte: Bahia (2010)

O Território do Sisal aparece com o menor PIB per capta (R$4.564,8) (Figura 2). De

acordo como o PTDS, o PIB desse território é limitado às atividades do setor terciário

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(comércio e serviços) e não aos setores produtivos (agropecuário e industrial), responsáveis

por somente um terço do PIB. Grande parte das suas atividades agrícolas e pecuárias está

inserida no mercado informal. O sisal é a principal atividade, seguida pela mandioca, milho,

feijão, castanha de caju, pecuária (bovinos, ovinos e caprinos), que não contribuem para

reduzir os níveis de pobreza da população.

De acordo com a Figura 2, o Território Semiárido Nordeste II registra o segundo

menor PIB per capita (R$4.786). Nesse território embora a atividade de serviços tenha grande

contribuição no valor adicionado bruto, a atividade agrícola, especialmente as culturas do

feijão e do milho, possui forte relevância para a economia, mas é incapaz de elevar a renda e a

qualidade de vida regional. Conforme o PTDS, no Território Semiárido Nordeste II a

agropecuária apresenta baixa produtividade, reduzido índice tecnológico e manejo inadequado

dos recursos naturais, com grande maioria das propriedades voltadas à agricultura de

subsistência.

Considerando o estoque de emprego formal15 por território rural baiano no ano de

2010, a Tabela 4 revela que o Território Litoral Sul possui a maior quantidade de postos de

trabalho (104.255) para a maior População em Idade Ativa (PIA), 645.000; como resultado a

relação PIA/Estoque de emprego é a menor dentre todos os territórios, 6,19. Na sequencia, o

Território de Itaparica (8,35) e o Território do São Francisco (8,48) aparecem com os menores

números de pessoas em idade ativa por vagas de empregos. Os territórios que registram maior

PIA por estoque de emprego, dificultando o acesso ao trabalho formal, são: Velho Chico

(14,88), Semiárido Nordeste II (14,80) e Irecê (13,83).

A Tabela 4 também indica que o Território Itaparica é responsável pelo maior

rendimento médio do emprego formal dentre os territórios, R$1.285,17. O Território Litoral

Sul registra o segundo maior rendimento médio, R$1.172,87, e o Território Sertão do São

Francisco o terceiro maior rendimento médio, R$1.053,18. Os menores rendimentos médios

do emprego formal estão nos seguintes territórios: Irecê (R$872,46), Baixo Sul (R$882,17) e

Sisal (R$902,96).

Tabela 4 – Estoque do emprego formal, População em Idade Ativa (PIA) e rendimento médio

do emprego formal, por território rural do Estado da Bahia, no ano de 2010

Território rural/Emprego e

rendimento

Estoque do

emprego (absoluto)

População em

Idade Ativa

(PIA)*

PIA/Estoque de

emprego

Rendimento

médio (R$)

1. Irecê 23.856 330 13,83 872,46

2. Velho Chico 20.222 301 14,88 1.022,13

3. Chapada Diamantina 22.428 306 13,64 944,31

4. Sisal 38.209 481 12,59 902,96

5. Litoral Sul 104.255 645 6,19 1.172,87

6. Baixo Sul 27.459 293 10,67 882,17

7. Sertão do São Francisco 47.427 402 8,48 1.053,18

8. Semiárido Nordeste II 22.897 339 14,80 941,15

9. Itaparica (BA/PE) 16.643 139 8,35 1.285,17

Bahia 2.139.232 11.764 5,50 1.426,11 Fonte: DIEESE (2012a)

*População de 10 anos ou mais de idade, em 1.000 pessoas (DIEESE, 2012a)

15 Estoque de emprego formal é o número de postos de trabalho existentes nas empresas e nos órgãos públicos;

considera-se o total de empregados ou de empregos existentes, celetistas ou estatutários (Costa, 2009).

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A Tabela 5 detalha as informações sobre o rendimento médio do emprego formal16,

segundo o grau de instrução e por território rural da Bahia. Da população analfabeta, o maior

rendimento médio está no Território de Itaparica (R$768,93) e o menor no Território Velho

Chico (R$572,81). Da população que completou o ensino fundamental, o maior rendimento

foi registrado no Território de Itaparica (R$944,42) e o menor no Território Velho Chico

(R$654,20). O Território de Itaparica também paga o maior rendimento para a população que

já possui o ensino médio completo (R$1.194,64) e o Território de Irecê paga o menor

rendimento para este tipo de habitante (R$829,32). Os que completaram o ensino superior

recebem o maior rendimento médio (R$3.209,43) no Território Litoral Sul, e o menor

rendimento médio (R$1.737,17) no Território Semiárido Nordeste II. Ademais, a maior

diferença da remuneração do emprego formal está no Território Litoral Sul, quando se

considera o rendimento médio de um analfabeto (R$575,71) e de um indivíduo que já possui

o curso superior completo (R$3.209,43).

Tabela 5 – Rendimento médio do emprego formal (em R$), segundo o grau de instrução, por

território rural do Estado da Bahia, no ano de 2010

Território Rural /

Rendimento médio Analfabeto

Grau de instrução

Fundamental

incompleto

Fundamental

completo

Médio

incompleto

Médio

completo

Superior

completo

1. Irecê 606,27 664,02 682,20 688,93 829,32 1.766,78

2. Velho Chico 572,81 640,01 654,20 669,64 981,89 2.145,58

3. C. Diamantina 657,32 706,85 808,82 720,06 936,01 2.301,02

4. Sisal 606,48 652,58 705,59 712,74 892,90 1.936,24

5. Litoral Sul 575,71 764,06 834,23 723,19 1.026,25 3.209,43

6. Baixo Sul 576,39 664,56 686,01 683,63 909,26 2.034,24

7. S. São Francisco 624,67 717,35 763,76 754,47 927,31 2.592,57

8. Semiárido

Nordeste II

584,90 636,57 683,42 683,20 961,73 1.737,17

9. Itaparica (BA/PE) 768,93 899,24 944,42 778,06 1.194,64 2.622,95

Bahia 643,57 828,38 932,60 887,86 1.187,43 3.656,71 Fonte: DIEESE (2012a)

As informações sobre percentual de domicílios em situação de extrema pobreza,

presentes na Figura 3, são preocupantes porque mostram que a maioria dos territórios rurais

da Bahia possui elevado percentual da população carente de medidas urgentes que garantam a

sobrevivência. Nessa situação encontram-se os territórios Velho Chico (27,7%), Chapada

Diamantina (25%), Irecê (24,4%), Semiárido Nordeste II (24,1%) e Sisal (23,5%), com

aproximadamente um quarto da população abaixo da linha de pobreza. O Território Litoral

Sul se destaca como a região de menor incidência de extrema pobreza, 11,2%.

16 Em 2010 o salário mínimo no Brasil era de R$510,00.

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Figura 3 – Percentual de domicílios com pessoas em situação de extrema pobreza, por

território rural do Estado da Bahia, no ano de 2010 Fonte: DIEESE (2012b)

Contudo, observando a Figura 4, o Território Litoral Sul registra a maior taxa de

mortalidade infantil (22,4), seguido do Território Itaparica (21,6), ambos com os melhores

indicadores econômicos e sociais, quando se considera as demais informações até aqui

apresentadas. O Território Baixo Sul também possui elevada mortalidade por nascidos vivos

(21,2). Nesse caso, o Território do Sisal e o Território Semiárido Nordeste II registram as

menores taxas, contrastando com os demais indicadores sociais dessas regiões.

Figura 4 – Taxa de mortalidade infantil, por território rural do Estado da Bahia, no ano de

2010 Fonte: DIEESE (2012b)

As carências econômicas e sociais de municípios e ou territórios também podem ser

avaliadas através dos valores repassados por programas e benefícios. Desse modo, o valor

anual dos benefícios emitidos pela Previdência Social em relação ao PIB, demonstra a

importância que esses recursos do governo federal possuem para atender as necessidades da

população, muitas vezes não contempladas pelas atividades econômicas e renda local. Sendo

assim, o Território Semiárido Nordeste II e o Território do Sisal apresentam-se como os mais

dependentes; ao contrário do que aconteceu com o Território Itaparica e o Território Baixo

Sul (Tabela 6).

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Tabela 6 - Informações sobre os benefícios da Previdência Social, do Programa Bolsa Família

(PBF) e dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), por

território rural do Estado da Bahia, no ano de 2009 ou 2010

Território Rural

/ Informações

Valor dos benefícios

emitidos pela Previdência

Social em relação ao PIB

(2009)

Valor do Programa Bolsa

Família (PBF) em relação ao

PIB (2009)

Fundo de Participação

dos Municípios (FPM) /

Receita orçamentária

(2010)

1. Irecê 22,9 3,8 38

2. Velho Chico 20,1 3,8 34

3. Chapada

Diamantina 19,2 2,9 41,9

4. Sisal 24,4 4,2 34,3

5. Litoral Sul 12,2 1,9 35,8

6. Baixo Sul 10,6 2,4 31,4

7. Sertão São

Francisco 12,2 2,1 27,6

8. Semiárido

Nordeste II 26 4,1 35,7

9. Itaparica 9,7 1,1 25,5 Fonte: DIEESE (2012b)

Com relação ao valor repassado pelo Programa Bolsa Família (PBF) em relação ao

PIB, este igualmente revela o nível de dependência da população local de recursos do governo

federal para garantir um mínimo de sobrevivência. Nesse caso, novamente o Território do

Sisal e o Território Semiárido Nordeste II se destacaram como os mais atendidos;

diferentemente dos Territórios Itaparica e do Território Litoral Sul. No que diz respeito à

importância do Fundo de Participação dos Municípios na receita orçamentária, o Território da

Chapada Diamantina e o Território de Irecê são os mais dependentes. Ao contrário, O

Território Itaparica e o Território Sertão do São Francisco mantém-se através de outras formas

de receita (Tabela 6).

8. Considerações finais

O processo histórico de ocupação, de estabelecimento das estratégias e de

planejamento para o desenvolvimento do Estado da Bahia seguiu um modelo dual: a

urbanização e a industrialização no litoral e o povoamento de características rurais no interior.

Assim, nem as políticas e programas públicos de caráter intervencionistas, nem as políticas e

programas públicos de cunho endógeno foram capazes de reduzir as desigualdades pessoais e

regionais presentes na Bahia. Por isso, na década de 2000 e especialmente no meio rural a

concentração dos benefícios econômicos e sociais permanecem e provocaram a instituição de

políticas e programas públicos de desenvolvimento territorial rural, de âmbito federal (TRs e

TCs) e estadual (TIs). Ao considerar, concomitantemente, os três programas, nove territórios

rurais foram organizados na Bahia. Contudo, em 2010 as informações demográficas,

econômicas e sociais de cada território demonstram que é preciso repensar a forma de

delimitação dos mesmos, e que as desigualdades ainda são persistentes.

Quanto à delimitação dos territórios, diferentemente do que acontece em outros países,

como, por exemplo, na Espanha, os territórios rurais baianos são extensos em termos de área e

são populosos, não garantindo a coesão social necessária para o estabelecimento de estratégias

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que superem a condição de pobreza. O Território de Itaparica foi o que mais se aproximou do

que é recomendado. Em si tratando dos índices de desempenho, o IPE e o IPS revelam que a

grande parte dos territórios rurais da Bahia possui a maioria dos municípios em situação

crítica, a exceção do Território Litoral Sul.

Quando se considera as informações individualizadas, verificou-se que o maior PIB

foi o do Território Litoral Sul e o menor do Território Velho Chico. O maior PIB per capita

foi o do Território Itaparica e o menor do Território do Sisal. A menor relação PIA/Estoque

de emprego formal foi do Território Litoral Sul, indicando o mais reduzido número de

pessoas em idade ativa por emprego formal. A mais complexa relação PIA/Estoque de

emprego foi a do Território Velho Chico, onde registrou-se a maior população em idade ativa

por vaga de emprego formal.

O maior rendimento médio do emprego formal foi registrado para o Território de

Itaparica e o menor para o Território de Irecê. Como esperado, em todos os territórios rurais

da Bahia quanto maior o grau de instrução do empregado, maior o nível do seu rendimento

médio. Porém, a maior desigualdade em termos de remuneração do emprego formal está no

Território Litoral Sul, quando se considera o rendimento médio de um analfabeto (R$575,71)

e de um indivíduo que já possui o curso superior completo (R$3.209,43).

O Território Velho Chico possuem o maior percentual de domicílios em situação de

extrema pobreza, mas é no Território Litoral Sul que há a maior taxa de mortalidade infantil.

Os Territórios Rurais Nordeste II, Sisal, Chapada Diamantina e Irecê são os mais dependentes

de benefícios e recursos repassados pelo governo federal, tais como: benefícios da

Previdência Social, repasses do Programa Bolsa Família (PBF) e recursos do Fundo de

Participação dos Municípios (FPM).

Diante desses resultados recomenda-se a realização de estudos e pesquisas mais

pormenorizadas, que considerem: i) Uma gama maior de informações em nível municipal, de

forma que se avalie com mais sistematização a melhor forma de delimitar os territórios; ii)

Uma avaliação da distribuição dos recursos e ações públicas destinadas aos territórios, que

possibilite uma visão completa sobre o fortalecimento das capacitações das sociedades

territoriais, principalmente nos territórios rurais baianos que apresentam indicadores

demográficos, econômicos e sociais não condizentes com o desenvolvimento sustentável.

Ademais, recomenda-se ajustes dos referidos programas.

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ANEXO

ANEXO A – Territórios classificados como rurais no Estado da Bahia, em vigor no ano de

2010, segundo os Programas Territórios Rurais (TRs), Territórios da

Identidade (TIs) e Territórios da Cidadania (TCs)

Territórios

Rurais Municípios Total

1. Irecê

América Dourada, Barra do Mendes, Barro Alto, Cafarnaum, Canarana,

Central, Gentio do Ouro, Ibipeba, Ibititá, Ipupiara, Irecê, Itaguaçu da Bahia,

João Dourado, Jussara, Lapão, Mulungu do Morro, Presidente Dutra, São

Gabriel, Uibaí, Xique-Xique.

20

2. Velho Chico

Barra, Bom Jesus da Lapa, Brotas de Macaúbas, Carinhanha, Feira da Mata,

Ibotirama, Igaporã, Malhada, Matina, Morpará, Muquém de São Francisco,

Oliveira dos Brejinhos, Paratinga, Riacho de Santana, Serra do Ramalho,

Sítio do Mato.

16

3. Chapada

Diamantina

Abaíra, Andaraí, Barra da Estiva, Boninal, Bonito, Ibicoara, Ibitiara,

Iraquara, Itaeté, Jussiape, Lençóis, Marcionílio Souza, Morro do Chapéu,

Mucugê, Nova Redenção, Novo Horizonte, Palmeiras, Piatã, Rio de Contas,

Seabra, Souto Soares, Utinga, Wagner.

23

4. Sisal

Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu,

Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue,

Retirolândia, Santa Luz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano,

Valente.

20

5. Litoral Sul

Almadina, Arataca, Aurelino Leal, Barro Preto, Buerarema, Camacan,

Canavieiras, Coaraci, Floresta Azul, Ibicaraí, Ilhéus, Itabuna, Itacaré, Itajudo

Colônia, Itajuípe, Itapé, Itapitanga, Jussari, Maraú, Mascote, Pau Brasil,

Santa Luzia, São José da Vitória, Ubaitaba, Una, Uruçuca,

26

6. Baixo Sul

Aratuípe, Cairu, Camamu, Gandu, Ibirapitanga, Igrapiúna, Ituberá, Jaguaripe,

Nilo Peçanha, Piraí do Norte, Presidente Tancredo Neves, Taperoá,

Teolândia, Valença, Wenceslau Guimarães.

15

7. Sertão do São

Francisco

Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Casa Nova, Curaça, Juazeiro, Pilão

Arcado, Remanso, Sento Sé, Sobradinho, Uauá. 10

8. Semiárido

Nordeste II

Adustina, Antas, Banzaê, Cícero Dantas, Cipó, Coronel João Sá, Euclides da

Cunha, Fátima, Heliópolis, Jeremoabo, Nova Soure, Novo Triunfo,

Paripiranga, Pedro Alexandre, Ribeira do Amparo, Ribeira do Pombal, Santa

Brígida, Sítio do Quinto.

18

9. Itaparica

(BA/PE)

Abaré, Belém de São Francisco, Carnaubeira da Penha, Chorrochó, Floresta,

Glória, Itacuruba, Jatobá, Mucururé, Paulo Afonso, Petrolândia, Rodelas,

Tacaratu.

13

Total de municípios 161 Fonte: Brasil (2013); Bahia (2013a)