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5 Universidade Autónoma de Lisboa Departamento de Direito EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA UNIÃO DE FACTO: DA SOCIEDADE BABILÓNICA AO DIREITO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO Trabalho apresentado para a unidade curricular de METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO da Professora Doutora Maria Nazaré Gomes Santos. Nome da aluna: Mónica Isabel Fonseca Sequeira Lima N.º 20070373 Docente: Prof.ª Doutora Maria Nazaré Gomes Santos LISBOA 2008

Evolução Histórica da união de facto: da sociedade babilónica ao direito português contemporâneo

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Este trabalho define sumariamente os diferentes conceitos de união de facto, e diferencia-os de outras relações, numa perspectiva histórica, até ao Direito Português Contemporâneo. Enquadra historicamente a união de facto na sociedade babilónica e no Direito Romano e descreve o conceito de união de facto nas Ordenações Afonsinas e no Código Civil de 1867, em Portugal. Define ainda a união de facto no Direito Português Contemporâneo e diferencia-a de outras relações familiares e parafamiliares da actualidade.

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Universidade Autónoma de LisboaDepartamento de Direito

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA UNIÃO DE FACTO: DA SOCIEDADE BABILÓNICA AO DIREITO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

Trabalho apresentado para a unidade curricular de

METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO

da Professora Doutora Maria Nazaré Gomes Santos.

Nome da aluna: Mónica Isabel Fonseca Sequeira Lima N.º 20070373

Docente: Prof.ª Doutora Maria Nazaré Gomes Santos

LISBOA

2008

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À minha família.

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AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Maria Nazaré Santos, pela sua disponibilidade, pela partilha de

conhecimentos, e pelo incentivo do seu reconhecimento.

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“Não deve causar surpresa o facto de que as crianças nascidas fora do casamento sejam geralmente as melhores cabeças; são o resultado de uma hora espirituosa.

Os filhos legítimos muitas vezes resultam do tédio.”

(Theodor von Hippel)

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ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO …………………………..…..……………………………........................... 6

1. A UNIÃO DE FACTO: ANTECEDENTES HISTÓRICOS …………........................... 7

1.1. Sociedade babilónica …………………………………………………………..…… 7

1.2. Concubinato no Direito Romano ………………………………………………….. 7

1.2.1. Conceitos ………………………………………………………………….… 7

1.2.2. Concubinato ……………………………………………………………….... 8

1.2.3. Outros motivos do concubinato ……………………….…………………... 9

1.2.4. O declínio do concubinato ………………………………….…………….. 10

1.3. União de facto na época das Ordenações do Reino ………….………….………. 11

1.3.1. Sobre as Ordenações …………………………………................................ 11

1.3.2. Conceitos …………………………………………………..…………….… 11

1.3.3. União de facto e adultério da mulher ………………………….………… 12

1.3.4. Barregueiros casados ………………………………………………….….. 12

1.3.5. Barregãs dos clérigos ……………………………………………….…….. 13

1.4. Código Civil Português de 1867 ……………………………..…………………… 14

2. A UNIÃO DE FACTO NO DIREITO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO …….....

14

2.1. Conceito de União de facto e Direito da Família ………….………………….…. 14

2.1.1. União de facto e vida em economia comum …………..………………..... 17

2.1.2. Obstáculos à união de facto ……………………………………….……….17

2.1.3. Efeitos da união de facto .…………………………………………………. 18

2.2. Princípios Constitucionais ………………………………………………………... 18

CONCLUSÃO …………..………………………………………………………………..... 20

BIBLIOGRAFIA .………………………………………………………………………….. 21

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INTRODUÇÃO

A união de facto é uma relação entre duas pessoas que vivem em condições análogas

às dos cônjuges e que, perante o crescente número de divórcios e a diminuição do número de

casamentos, ganha particular relevo nos dias de hoje. A finalidade deste trabalho é verificar a

contribuição dos antecedentes históricos para a evolução da união de facto até aos dias de

hoje.

Este trabalho define sumariamente os diferentes conceitos de união de facto, e

diferencia-os de outras relações, numa perspectiva histórica, até ao Direito Português

Contemporâneo. Enquadra historicamente a união de facto na sociedade babilónica e no

Direito Romano e descreve o conceito de união de facto nas Ordenações Afonsinas e no

Código Civil de 1867, em Portugal. Define ainda a união de facto no Direito Português

Contemporâneo e diferencia-a de outras relações familiares e parafamiliares da actualidade.

Foi utilizado o método histórico para enquadrar historicamente o conceito de união de

facto. Para a necessária fundamentação conceptual e teórica sobre as questões relacionadas

com a evolução histórica do conceito de união de facto utilizou-se a Pesquisa Bibliográfica

(essencialmente livros, monografias e material electrónico) e a Pesquisa Documental

(nomeadamente tratados, legislação e constituições políticas).

Este trabalho encontra-se dividido em, essencialmente, duas partes. A primeira parte

descreve os antecedentes históricos da união de facto e a segunda parte é dedicada à união de

facto no Direito português contemporâneo. Na primeira parte fala-se da união de facto na

sociedade babilónica, no Direito Romano (conceitos, concubinato propriamente dito, suas

razões e declínio do mesmo), na época das Ordenações (sobre as Ordenações, conceitos,

união de facto e adultério da mulher, barregueiros casados e barregãs dos clérigos) e no

Código Civil Português de 1867. A segunda parte divide-se em conceitos de união de facto e

de direito da família (união de facto e vida em economia comum, obstáculos e efeitos da

união de facto) e em princípios constitucionais.

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1. A UNIÃO DE FACTO: ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Como iremos verificar, a problemática da união de facto iniciou-se há muitos séculos

atrás. Encontram-se referências sobre o tema em questão bem antes do tempo do Império

Romano, na sociedade babilónica, como iremos ver, e até mesmo na Bíblia, sobre a qual não

nos iremos debruçar.

1.1. Sociedade babilónica

Almeida demonstra-nos como a união de facto era importante na Babilónia, pois foi

objecto de atenção no Código de Hammurabi (2285 a 2242 d.C.). A família babilónica tinha o

casamento monogâmico como base, mas era permitido o concubinato ou poligamia.1

Hammurabi diz-nos que se um cidadão livre (awílum) casar com uma sacerdotisa

(naditum), esta poderá oferecer ao marido uma escrava sua para procriação. Os filhos daí

resultantes tinham direitos sucessórios, desde que reconhecidos pelo pai. Após a sua morte, a

escrava concubina e os seus filhos seriam libertados.2 O progenitor poderia ainda legitimar

formalmente, perante testemunhas, a relação de concubinato com a escrava, tornando-a sua

esposa, e dando direitos sucessórios aos filhos da concubina.3

Outras relações de concubinato estão previstas neste código com o intuito de as

sancionar, em particular se forem de índole incestuosa (entre pai e filha, sogro e futura nora,

mãe e filho, enteado e madrasta).4

1.2. Concubinato no Direito Romano

1.2.1. Conceitos

No Direito Romano, paelex é a palavra mais antiga que designa as relações conjugais

fora do casamento, assumindo outras formas, sinónimas, como palex e pallaca. O seu

significado tem, essencialmente, dois sentidos: lato e restrito. No sentido lato, paelex equivale

1 Cf. ALMEIDA, Geraldo da Cruz – Da União de Facto: Convivência more uxorio em Direito Internacional

Privado. Lisboa: Pedro Ferreira, 1999, p. 112. 2 Cf. HAMMURABI – The Oldest Code of Laws in the World: The code of laws promulgated by

Hammurabi, King of Babylon B.C. 2285-2242. [s.l.]: Project Gutenberg Literary Archive Foundation, 2005,

§144, §145, §171.3 Cf. ALMEIDA, op. cit., p. 113-114.4 Cf. HAMMURABI, op. cit., §155, §157, §158.

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às relações fora do casamento, incluindo a homossexualidade. No sentido restrito, refere-se à

relação conjugal entre homens casados e uma mulher solteira.5

Na República romana entraram em uso as palavras concubina e concubinatus, esta

última utilizada para definir qualquer relação não matrimonial. Mais tarde, como se irá

verificar, os imperadores cristãos tentaram extinguir as relações conjugais fora do casamento,

pelo que o concubinato passou a designar um matrimónio de grau inferior. 6

Contubérnio (contubernium) caracterizava a relação conjugal entre um homem livre e

uma escrava; entre dois escravos; entre dois libertos, cuja relação houvesse iniciado antes da

alforria.7

Almeida8 fala-nos de outras designações, amica, meretrix e scortum, como

pertencentes a uma categoria de relações extra matrimoniais vil. Rousselle9 entende que

existiam pessoas honradas e infames, diferenciação também assente num critério sexual e de

liberdade de costumes, acrescentando que nos infâmes se incluíam “os que pertenciam ao

meio do teatro, do circo e da prostituição”. Tal infâmia interditava o direito ao casamento

legítimo e à transmissão hereditária de uma capacidade cívica completa, ou seja, da cidadania

romana.

1.2.2. Concubinato

Veyne10 define concubina como uma mulher com quem um homem, casado ou não,

dormia habitualmente. A palavra concubina tinha inicialmente um sentido pejorativo perante

a opinião pública, mais tarde condescendente para com os casos de concubinato durável e

exclusivo, à maneira de um casamento, e em que apenas a inferioridade social da mulher

impedia o homem de transformar tal ligação em núpcias legítimas. Além disso, na opinião dos

juristas, a concubina devia ser uma mulher livre (os escravos não podiam casar) e a união

monogâmica (o homem não podia ser casado, nem ter duas concubinas ao mesmo tempo): o

concubinato parecia-se em tudo com um casamento, e só assim considerado digno, mas ainda

5 Cf. ALMEIDA, op. cit., p. 47. 6 Ibidem, p.48.7 Ibidem, p. 50. Carta de alforria era um documento através do qual o proprietário de um escravo rescindia dos

seus direitos de propriedade sobre o mesmo.8 Ibidem, p. 50. Tratam-se sobretudo de pessoas ligadas à prostituição e a relações passageiras.9 ROUSSELLE, Aline – A política dos corpos: entre procriação e continência em Roma. In PANTEL, Pauline

Schmitt, org. – História das Mulheres: A Antiguidade. Porto: Afrontamento, 1993. p. 380.10 Cf. VEYNE, Paul – O Império Romano. In ARIÈS, Philippe; DUBY, Georges, org. – História da Vida

Privada: Do Império Romano ao Ano mil. Porto: Afrontamento, 1989. p. 85.

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assim um casamento impossível. Kaser11 tem neste último aspecto a mesma visão que Veyne,

e define concubinato como uma comunidade permanente de vida e de sexo entre homem e

mulher, não reconhecida como matrimónio. É tolerada dentro de certos limites e adquire

significado prático na época do Principado nos casos em que o matrimónio não é possível.

O caso característico era o de um homem que tinha uma ligação com a sua liberta e

não queria transformar em núpcias legítimas uma união tão desigual. O imperador

Vespasiano, por exemplo, tomou, quando viúvo, uma liberta como concubina e “tratou-a

quase como sua mulher”.12

1.2.3. Outros motivos do concubinato

Mas o concubinato não era sempre o substituto de um casamento impossível, nem uma

relação monogâmica. Um homem podia ser casado e ainda assim tomar uma concubina.

Alguns autores13 descrevem o sacrifício e as consequências de múltiplas gravidezes para as

mulheres romanas: estas evitam engravidar, isto é, aprendiam a “conter-se” (tanto mais se

pertencessem à alta sociedade), já que os homens não o faziam. Um marido “uxorioso”14, tal

como o amor sexual no casamento era perigoso, além de raro, tão raro como os casais

fecundos que o Imperador Augusto exibia para encorajar a manutenção demográfica das

cidades. Pretendia-se que as esposas dessem à luz uma considerável prole de filhos legítimos,

mas sem que manifestassem desejo pelos maridos, limitando a relação daquelas com estes à

procriação. Considerando tudo isto, Plutarco,15 filósofo convicto de que para alcançar a

felicidade e a paz é necessário refrear paixões, aconselhava que a esposa suportasse que o

marido tivesse relações com uma concubina ou com uma escrava. Na alta sociedade romana,

e já desde a República, as esposas não viam inconveniente nestas relações e, não raras vezes,

escolhiam as concubinas.16

Veyne17 diz-nos ainda que, ao contrário das núpcias legítimas, o concubinato não tem

consequências de direito, apenas confere honradez pela sua estabilidade e monogamia. As

crianças que nascessem de um concubinato digno, cuja mãe fosse liberta, seriam livres. Mas

11 Cf. KASER, Max – Direito Privado Romano. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999. p. 330.

12 VEYNE, op. cit., p. 86.13 Cf. ROUSSELLE, op. cit., p. 378, 380, 384-385.14 Apaixonado.15 Cf. PLUTARCO apud ROUSSELLE, op. cit., p. 386.16 Cf. ROUSSELLE, op. cit., p. 383.17 Cf. VEYNE, op. cit., p. 86.

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como esta não era casada, seriam bastardas: ficariam com o nome da mãe e herdariam desta;

não do pai natural. Mas e se um patrono desposasse em núpcias legítimas a sua concubina (e

liberta)? Esta sentir-se-ia orgulhosa do estatuto de “mãe de família” (materfamilias), mas o

marido, apesar da afeição conjugal, seria sempre (igualmente) patrono. Ao contrário de

Veyne, Rousselle18 diz-nos que “Roma tinha criado um direito do concubinato”; as

concubinas tinham obrigações, tal como as esposas: a mesma idade exigida para uma ligação

oficial, doze anos, fidelidade obrigatória da mulher concubina, e que restringia a possibilidade

de separação por iniciativa de uma liberta – possibilidade de que a escrava estava privada.

Além disso, as mulheres libertas entravam na cidadania, seriam mulheres honradas romanas, e

podiam transmiti-la aos seus filhos nascidos livres.

Na realidade, além destas famílias compostas pelo homem, concubina e seus filhos,

poderiam existir outras combinações: um homem, as suas servidoras e “favoritos”.

Considerando que o esclavagismo era muito comum no Império Romano, era vulgar que da

união do senhor com as suas escravas resultassem filhos, que jamais seriam reconhecidos

como tal. Estes poderiam ser educados como “benjamins” da casa, “favoritos”, enquanto

crianças escravas. Poderiam ser libertos mais tarde, sem qualquer justificação.19 Os filhos das

escravas nesta situação entravam na cidadania.20

1.2.4. O declínio do concubinato

No final do Império Romano, já no século IV, com o advento do cristianismo e sob o

jugo dos imperadores cristãos, estabeleceram-se proibições de uniões entre pessoas de

estatutos diferentes.21 Uma mulher livre que se unisse ao seu escravo seria condenada à morte

pelo fogo ou receberia vergastadas. Se um cristão se unisse com uma judia ou vice-versa, e os

que se unissem a bárbaros sofreriam as mesmas sanções penais. Do que era não mais que uma

impossibilidade de casamento legítimo e que tornava os esposos concubinos, tornou-se

passível de sanções. A Igreja Cristã não provocou isto, apenas fixava regras de pureza das

uniões, por exemplo, através de recomendações em sermões. O Cristianismo dava

importância à pureza das mulheres e admitia o direito romano do casamento. As concubinas

18 ROUSSELLE, op. cit., p. 382.19 Cf. VEYNE, op. cit., p. 89-94.20 Cf. ROUSSELLE, op. cit., p. 382.21 Ibidem, p. 396.

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eram aceites desde que tivessem tido apenas um homem e de terem guardado todos os filhos.

Os homens deviam mandar embora a sua concubina e tomar uma esposa legítima.22

O direito do império ratificou assim a ideia de que o concubinato não era honrado e

lesava os direitos da esposa sobre o marido. Simbolizava uma vitória do amor exclusivo e

derrota da protecção das mulheres de condição superior.

Mais tarde, verificou-se uma supressão do concubinato legal. Admitia-se a legitimação

dos filhos nascidos de uma concubina desde que o pai não fosse casado, e durante a

governação do Imperador Constantino proibiu-se a manutenção de uma concubina por parte

de homens casados, a adopção do filho de uma concubina sem autorização e assistiu-se ainda

à restrição de liberalidades às concubinas e aos seus filhos. Os maridos viram-se obrigados a

terem relações extra matrimoniais muito passageiras (o que não é concubinato) e a terem

relações mais frequentes com as suas esposas.23

1.3. União de facto na época das Ordenações do Reino

1.3.1. Sobre as Ordenações

As Ordenações do Reino são colectâneas do direito vigente na época correspondente, e

que pretendiam evitar não só as incertezas derivadas da grande dispersão das normas, mas

também o prejuízo para a vida jurídica e a administração da justiça daí resultante. Existem

Ordenações Afonsinas, Manuelinas, Filipinas.24

As Ordenações Afonsinas foram publicadas em 1446 ou 1447, sob o título de

Ordenações, em nome de D. Afonso V. São as mais importantes, pois as restantes

essencialmente actualizaram as Ordenações Afonsinas, pelo que estas serão as abordadas

neste trabalho.25

1.3.2. Conceitos

Encontram-se alusões à união de facto nas Ordenações Afonsinas, que Caetano

classifica como um crime contra a moralidade. Dentro deste tipo de crime inclui-se o crime de

22 Cf. ROUSSELLE, op. cit., p. 397.23 Ibidem, p. 398.24 Cf. COSTA, Mário Júlio de Almeida Costa – História do Direito Português. 2.ª ed. Coimbra: Almedina,

1992. 25 Ibidem, p. 269-270.

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sedução, muito diferente da união de facto, pois o primeiro refere-se à corrupção de uma

mulher virgem por “afagos, induzimento ou dádivas”.26

Existem várias referências à união de facto, especialmente em casos de adultério por

parte da mulher e do homem. Nos casos em que a mulher vive, em comunhão de cama, mesa

e habitação com o homem, é chamada de barregã, e aquele de barregueiro. Como se irá

verificar, tanto os homens leigos como os religiosos tomavam amantes (barregãs).

1.3.3. União de facto e adultério da mulher

Quando um casal se julga legitimamente casado, sem que o casamento seja

juridicamente válido (casados “de feito” mas não “de direito”), vive, portanto, em união de

facto. Se o amante tivesse relações com a mulher, com má intenção, ou seja, pensando que

esta era legitimamente casada, ambos seriam ameaçados com a pena de morte. 27

Um casal podia ainda viver em comunhão de cama e mesa, sem serem casados “de

feito nem de direito”, mas com fama de marido e mulher portanto, em união de facto. Se esta

tivesse relações com outro homem, o seu amante incorreria em pena mais branda que a de

morte, consoante a sua intenção, enquanto que nenhuma pena caberia à mulher, pois esta

nunca foi casada, logo não haveria adultério.28

Ambas as leis valorizam o elemento moral da infracção, pois que graduam a pena em

função da intenção.29

1.3.4. Barregueiros casados

Estes eram homens casados que mantinham barregãs, ou seja, amantes. Este crime era

punido por uma lei de D. João I30, atribuindo multas proporcionais de acordo com a categoria

social ou riqueza dos infractores. A primeira reincidência consistiria em multa agravada, a

segunda em açoites públicos e degredo para as mulheres, e uma pena para homens conforme

decisão de juiz.31

26 CAETANO, Marcello – História do Direito Português. Lisboa: Verbo, 2000. p. 563, 553.27 MAIA, Anabela [et al.], org. - Ordenações Afonsinas: Livro V. Coimbra: Instituto de História e Teoria das

Ideias da Faculdade de Letras de Coimbra, [s.d.], Título XXIII.28 Cf. MAIA, op. cit., Título XXIII: §3. 29 Cf. CAETANO, op. cit., p. 564.30 MAIA, op. cit., Título V: §20.31 Cf. CAETANO, op. cit., p. 565.

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D. Afonso III proibiu ainda a entrada de barregãs na Corte, resultando tal infracção em

degredo na Corte com pregão público para o barregueiro e sua barregã. 32 Tal proibição

manteve-se nas Ordenações Filipinas.

1.3.5. Barregãs dos clérigos

Caetano refere-nos que o celibato eclesiástico não era cumprido pela maior parte do

clero, sendo insuficientes para impedir que estes vivessem com e mantivessem barregãs, as

sanções canónicas para os clérigos e as penas criminais impostas às mulheres.33

D. João I34 promulgou primeiro uma lei, em que refere que os clérigos e religiosos

tinham barregãs. Visto que as mantinham melhor que os leigos, muitas mulheres deixavam de

tomar maridos legítimos e juntavam-se com clérigos e outras pessoas religiosas, vivendo nas

suas casas, perante o povo e os prelados (faziam-no certamente para saciar desejos materiais).

Estes últimos ameaçaram os barregueiros com excomunhões, suspensões e outras

penas, mas verificaram que tal seria insuficiente se o rei não impusesse penas temporais 35 às

barregãs. Este proibiu, portanto, as mulheres de viverem publicamente por barregãs com os

clérigos, sob pena de incorrerem em pena de prisão, multa e degredo do local de residência,

por um ano, com pregão. Caso reincidisse, era punida por um ano, com multa, pregão e

degredo da área da diocese. Seria açoitada em público, com pregão e banimento da área da

diocese, por tempo indeterminado, caso reincidisse segunda vez.36 Tais sanções eram evitadas

se as barregãs casassem com maridos legítimos, ou se ingressassem num mosteiro: contudo,

se voltassem a ser barregãs de clérigos incorreriam em pena de morte.37

Caetano refere que, em 1454, D. Afonso V interpretou as leis já existentes e publicou

uma nova, proibindo a prisão de mulheres que prestassem serviços virtuosos, remunerados ou

gratuitos, aos clérigos, ainda mais se vivessem noutra habitação. Uma mulher só seria

perseguida como barregã se tal fosse devidamente provado, se acompanhasse o clérigo

nalgum lugar suspeito, ou se houvesse querela jurada, contra ela, perante um juiz, com

testemunhas nomeadas.38

32 Cf. MAIA, op. cit., Títulos V; VIII: §1 e §2. 33 Cf. CAETANO, op. cit., p. 565.34 D. JOÃO I apud MAIA, op. cit., Título XVIIII: §1.35 Civis.36 Cf. MAIA, op. cit., Título XVIIII: §5. 37 Ibidem, Título XVIIII: §7.38 Cf. CAETANO, op. cit., p. 566.

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1.4. Código Civil Português de 1867

Este código, também conhecido como Código de Seabra, manteve o regime das

Ordenações no que toca ao estatuto da concubina ao proibir as doações feitas pelo homem

casado à sua concubina (art. 1480.º) e impedir a disposição de bens pelo cônjuge adúltero a

favor do seu cúmplice (art. 1771.º). Almeida39 diz-nos que a concubina não tinha direito a

alimentos mas admitia-se, nos termos do art. 2361.º, que a concubina exigisse indemnização

caso fosse abandonada pelo seu consorte, razão que justificaria igualmente que esta se

separasse do seu companheiro, conforme argumenta Fonseca.40

Verificou-se, durante a época de vigência deste diploma, uma grande discussão

doutrinária em redor das doações entre concubinos. Embora, nos termos do art. 1480.º, se

proibissem as doações feitas pelo homem casado à sua concubina, o diploma não permitia

nem proibia a doação de mulher de casada ao seu amante, nem doações feitas por concubinos

solteiros entre si. A doutrina não chegou a um consenso total sobre se estas doações eram

válidas ou não.41

39 Cf. ALMEIDA, op. cit., p. 151.40 Cf. FONSECA, Sara; VIDAL, Sara Louraço; LOURENÇO, Sílvia – Os movimentos femininos em Portugal

no século XX: o caso particular do MDM. Lisboa: Núcleo de Estudantes de História do Instituto Superior das

Ciências do Trabalho e da Empresa, [s.d.]. 41 Cf. ALMEIDA, op. cit., p. 152.

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2. UNIÃO DE FACTO NO DIREITO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

2.1. Conceitos de União de Facto e Direito da Família

A família, em sentido jurídico, é constituída pelas pessoas que se encontram ligadas

pelo parentesco, pelo casamento, pela afinidade e pela adopção (art. 1576.º do Código Civil).

A relação matrimonial é a que se estabelece entre os cônjuges em consequência do

casamento. O contrato de casamento afecta profundamente o estado das pessoas, os seus

direitos e obrigações, não só de carácter pessoal, como patrimonial. O art. 1577.º do Código

Civil define casamento como um contrato entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem

constituir família mediante uma comunhão de vida.42

A união de facto não é, em direito português, relação familiar. Não é regulada de

modo semelhante ao casamento, embora produza alguns efeitos de direito. Nem é considerada

um outro vinculo jurídico familiar, de acordo com Campos.43

Autores como Ferreira-Pinto44 distinguem duas categorias modernas de concubinato,

ou seja, de união de facto: considera concubinato qualificado uma comunhão de vida

duradoura em condições semelhantes às dos cônjuges e concubinato simples como uma

situação em que uma mulher e um homem têm rotineiramente encontros que se destinam a

relações sexuais, sem viverem juntos. Este autor refere-se ainda ao concubinato e à união de

facto como relações heterossexuais, mas reconhece que actualmente abrange igualmente as

relações homossexuais. Outros autores, como Campos, não distinguem categorias de

concubinato, ou união de facto, definindo-a da seguinte forma:

[…] a união de facto não é casamento; mas assume algumas das suas características. É uma relação entre um homem e uma mulher. De outro modo, não pode pretender ser semelhante ao casamento e obter algum estatuto deste. É uma relação de facto a que o Direito vem, depois, dar, ou não, algum relevo jurídico.45

Ferreira-Pinto46 relembra-nos a pouca aceitação destas uniões livres antes da 1.ª e 2.ª

Guerras Mundiais (1910/1914 e 1939-1945, respectivamente), após o que começaram a surgir

as primeiras decisões jurisprudenciais favoráveis nesta matéria.42 Cf. CAMPOS, Diogo Leite de – Lições de Direito da Família e das Sucessões. Coimbra: Almedina, 1997.43 Ibidem.44 Cf. FERREIRA-PINTO, Fernando Brandão – Dicionário de Direito da Família e de Direito das Sucessões.

Lisboa: Livraria Petrony, 2004. p. 619.45 CAMPOS, op. cit., p. 77.46 Cf. FERREIRA-PINTO, op. cit., p. 619-620.

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Entre nós apenas surgiram preceitos que atribuíam direitos aos companheiros que

viviam como marido e mulher no art. 2020º do CCiv (Código Civil) aquando da redacção do

Decreto-Lei (DL) n.º 496/77, de 25 de Novembro, em matéria de prestação de alimentos, do

DL n.º 322-90, de 18 de Outubro, que regula a protecção na eventualidade da morte dos

beneficiários do regime geral de segurança social, e do Decreto Regulamentar 1/94, de 18 de

Outubro, que regula o acesso às prestações por morte das pessoas que se encontram na

situação de união de facto. Mais tarde foi publicada a Lei n.º 135/99 de 28 de Agosto que

regulou a situação jurídica das pessoas de sexo diferente que vivem em união de facto há mais

de dois anos.47

Mais recentemente foi publicada a Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, que revogou a Lei n.º

135/99, e que adoptou medidas de protecção das uniões de facto, não só, desta feita, para

uniões entre heterossexuais mas também entre homossexuais, nos termos do seu art.º 1, n.º 1,

ao regular a situação jurídica de duas pessoas, independentemente do sexo, que vivam em

união de facto há mais de dois anos. Ao mesmo tempo, surge um novo diploma que vem

regular a protecção de pessoas que vivam em economia comum há mais de dois anos, pela Lei

6/2001 de 11 de Maio.48 Prazo este que, na opinião de Ferreira-Pinto49, deve ser ininterrupto,

pois o legislador não pretendeu subordinar a lei a uniões momentâneas e sem qualquer

estabilidade. É esta também a convicção de Campos50, que opina que esta relação deve ser

prolongada, estável, e que deve haver uma comunhão de vida traduzida por uma coabitação

notória. Acrescenta ainda que, enquanto o casamento assenta numa vontade inicial, num

contrato, o concubinato só existe enquanto se mantiver o consenso dos concubinos.

Consentimento esse que fixa, não só o início e o fim do concubinato, como o seu conteúdo, o

significado do vínculo.

2.1.2. União de facto e vida em economia comum

Foi institucionalizada a relação de vida em economia comum pela Lei n.º 6/2001, de

11 de Maio. De acordo com o art. 2.º, n.º1, as pessoas “que vivam em comunhão de mesa e

habitação há mais de dois anos e tenham estabelecido uma vivência em comum de entreajuda

ou partilha de recursos” vivem em economia comum. Tanto podem ser familiares ou

estranhos, como pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente, desde que uma delas seja maior

47 Ibidem, p.619-620.48 CÓDIGO Civil. Coimbra: Almedina, 2007, p. 469-465.49 Cf. FERREIRA-PINTO, op. cit., p. 620.50 Cf. CAMPOS, op. cit.

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de idade (art. 2.º, n.º2 da mesma lei). Estas pessoas vivem em comunhão de mesa e habitação,

contribuindo para os respectivos encargos, sem pôr em comum os seus rendimentos e

recursos. Ao contrário da união de facto, a vida em economia comum não tem conotação

sexual, pelo que dois familiares, como irmãos, pai e filho ou filha, podem viver em economia

comum. 51

2.1.3. Obstáculos à união de facto

A eficácia da união de facto depende da não confirmação de determinados obstáculos,

nomeadamente a idade inferior a 16 anos; demência notória (mesmo nos intervalos lúcidos), e

interdição ou inabilitação por anomalia psíquica; casamento anterior não dissolvido (excepto

se tiver sido decretada separação judicial de pessoas e bens); parentesco na linha recta ou no

2.º grau da linha colateral ou afinidade na linha recta; e condenação anterior de um dos

concubinos como autor ou cúmplice por homicídio doloso ainda que não consumando contra

o cônjuge do outro.52

De facto, nenhum dos concubinos pode ter menos de 16 anos, o que é uma espécie de

impedimento dirimente absoluto, tal como o que sucede com o matrimónio a propósito do art.

1601.º do CCiv. Ferreira-Pinto53 refere que o legislador entendeu que apenas se possuem a

maturidade psíquica e física necessárias para ter relações sexuais com outras pessoas,

independentemente do sexo, e para darem um consentimento consciente e esclarecido a esse

relacionamento, a partir desta idade. A isto se acrescentam a falta de desenvolvimento do

sistema reprodutor feminino que contribuem para malformações do feto e consequentes

abortos, e todos os problemas que acarretam. Recorde-se que, no Direito Romano, havia

igualmente uma idade limite de doze anos para a concubina.

2.1.4. Efeitos da união de facto

Os únicos efeitos jurídicos a retirar da união de facto serão a tutela da colaboração

económica entre os concubinos (na medida em que esta realmente exista) e a protecção dos

filhos nascidos dessa união, imputando-os a ambos os concubinos. 54

51 COELHO, Francisco Pereira; OLIVEIRA, Guilherme de – Curso de Direito da Família: Introdução Direito

Matrimonial. Coimbra: Coimbra Editora, 2001. Vol. 1. p. 117.52 Cf. CÓDIGO Civil, op. cit.53 Cf. FERREIRA-PINTO, op. cit., p. 621.54 Cf. CAMPOS, op. cit.

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2.2. Princípios Constitucionais

Como se irá verificar, a Constituição da República Portuguesa (CRP) não fala da união

de facto nem dispõe directamente sobre ela.

Segundo Canotilho e Moreira55, a união de facto está prevista no art. 36.º, n.º 1 da

CRP56: o direito de constituir família decorre numa abertura constitucional que confere

destaque à união de facto, posição esta com a qual Coelho não concorda. Este entende que o

n.º 1 do art. 36.º se refere à filiação, pois parece-lhe que o direito de constituir família é um

direito a procriar e um direito a estabelecer as relações de paternidade e maternidade

correspondentes.57

O direito de contrair casamento, nos termos do art. 36.º, n.º 1 da CRP, também não se

relaciona, segundo Coelho58, com a união de facto: trata-se de um direito de não casar,

diferente do direito de estabelecer uma união de facto. Recorde-se que, durante a vigência das

leis matrimoniais do Imperador Augusto, relativamente ao Direito Romano, existiam

proibições e deveres de casar (consoante a posição social, idade, sexo, etc.).59

Segundo Coelho60, o princípio de protecção da união de facto decorre do direito ao

desenvolvimento da personalidade, plasmado no art. 26, n.º 1 da CRP, como forma de

exercício ou manifestação desse direito: seria inconstitucional a legislação que proibisse e/ou

penalizasse a união de facto, impondo sanções aos seus membros. Mas este direito não exige

que o legislador dê à união de facto efeitos idênticos aos do casamento, e este diferente

tratamento do casamento e da união de facto também não viola o princípio da igualdade (art.

13.º CRP), pois este último apenas proíbe discriminações arbitrárias, o que não é o caso. Estas

relações são situações materialmente diferentes: os casados assumem materialmente o

compromisso de vida em comum, ao contrário dos concubinos. Na opinião deste autor,

legislação que equiparasse inteiramente a união de facto ao casamento seria inconstitucional,

tal como seria a legislação que impusesse aos concubinos os mesmos deveres que às pessoas

casadas, pois violaria o seu direito de não casar (outra vertente do direito de contrair

55 Cf. CANOTILHO e MOREIRA apud COELHO, op. cit.,p. 87.56 “Todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade.” In

CONSTITUIÇÃO da República Portuguesa: de acordo com a Revisão de 2005. 15.ª ed. Lisboa: Quid Juris,

2006. 57 Cf. COELHO, op. cit., p. 87.58 Ibidem., p. 88.59 Cf. KASER, op. cit., p. 323-324.60 COELHO, op. cit., p. 89.

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casamento). O autor conclui que a CRP não penaliza a união de facto nem a equipara ao

casamento.

Esta tendência não é de estranhar dada a importância crescente das uniões de facto e a

diminuição correlativa dos casamentos. Com a vulgarização e a aceitação social das uniões de

facto, estas vêm a desempenhar a maioria das funções sociais do casamento, inclusive no que

se refere à procriação. Daí a eventual tentativa do legislador para as subordinar à ordem

jurídica do casamento, disposto para assegurar precisamente a prossecução desses fins.61

61 Cf. CAMPOS, op. cit.

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CONCLUSÃO

Poder-se-á afirmar que os objectivos deste trabalho foram alcançados e, nalguns casos,

ultrapassados.

Poderia ter-se desenvolvido mais o tema deste trabalho quanto à sociedade babilónica

e ao Código Civil de 1867. No primeiro caso, teria sido interessante pesquisar sobre as

posições doutrinárias da época quanto à união de facto, mas definiu-se sumariamente o

conceito de união de facto da época.

Os objectivos foram também alcançados ao nível da união livre no Direito Romano, de

forma satisfatória e completa, ao enquadrar o concubinato desde a República ao Império.

Não foi possível descrever pormenorizadamente o conceito de união de facto em todas

as Ordenações do Reino, pelo que se limitou a fazê-lo em relação às Ordenações Afonsinas,

pelos motivos já enunciados. Relativamente a estas também se apontaram as sanções

aplicadas na época a infractores desse direito vigente.

Definiu-se e diferenciou-se união de facto de outras relações no Direito Português

Contemporâneo, e discorreu-se sobre os princípios constitucionais, tendo-se alcançado os

objectivos propostos.

De uma maneira geral, foram alcançados os objectivos deste trabalho, mas teria sido

interessante desenvolver a problemática da união de facto no Código Civil Português e na

sociedade babilónica mais profundamente.

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