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Evolução tecnológica das rotas de gaseificação e pirólise de materiais lignocelulósicos: um estudo bibliométrico Juliana Cunha da Cruz Orientadores: Prof. José Vitor Bomtempo Martins Prof. Estevão Freire Rio de Janeiro 2012

Evolução tecnológica das rotas de gaseificação e pirólise ...objdig.ufrj.br/61/dissert/793949.pdf · Figura 5.2 Apresentação da base Derwent Innovation Index, empregada na

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Evolução tecnológica das rotas de gaseificação e pirólise de materiais lignocelulósicos: um estudo bibliométrico

Juliana Cunha da Cruz Orientadores:

Prof. José Vitor Bomtempo Martins Prof. Estevão Freire

Rio de Janeiro

2012

JULIANA CUNHA DA CRUZ

Evolução tecnológica das rotas de gaseificação e pirólise de materiais lignocelulósicos:

um estudo bibliométrico

Dissertação de Mestrado em Ciências (M. Sc.)

Orientadores: Prof. José Vitor Bomtempo

Prof. Estevão Freire

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos

2012

Rio de Janeiro

2012

ii

Cruz, Juliana Cunha da

Evolução tecnológica das rotas de gaseificação e pirólise de materiais

lignocelulósicos: um estudo bibliométrico/ Juliana Cunha da Cruz – Rio de

Janeiro: UFRJ/EQ, 2012

xvi, 113 p.; il.

Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Processos Químicos e

Bioquímicos) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de

Química, Rio de Janeiro, 2012.

Orientadores: José Vitor Bomtempo Martins e Estevão Freire

1. Monitoramento tecnológico. 2. Bibliometria. 3. Gaseificação. 4. Pirólise.

5. Biomassa – Dissertação de mestrado. I. Bomtempo, José Vitor (Orient.) II.

Freire, Estevão (Orient.) III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa em

Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Escola de Química. IV. Título.

iii

MATERIAIS LIGNOCELULÓSICOS COMO MATÉRIA PRIMA PARA PETROQUÍMICA:

EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DAS ROTAS DE GASEIFICAÇÃO E PIRÓLISE

Juliana Cunha da Cruz

Dissertação submetida ao corpo docente do curso de pós graduação em Tecnologia de Processo

Químico e Bioquímicos da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências.

Aprovada por

____________________________________________________________________

Prof. José Vitor Bomtempo Martins, D.Sc. Escola de Química/UFRJ - Orientador

____________________________________________________________________ Prof. Estevão Freire, D.Sc.

Escola de Química/UFRJ - Orientador

____________________________________________________________________ Aline Machado de Castro, D.Sc.

PETROBRAS

____________________________________________________________________ Flávia Chaves Alves, D.Sc.

Escola de Química/UFRJ

____________________________________________________________________ Maria Fatima Ludovico de Almeida, D.Sc.

PUC-RJ

Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2012

iv

À minha avozinha Edyr querida

Dedico

v

AGRADECIMENTOS

Muito obrigada aos professores José Vitor e Estevão pela oportunidade de participar do

projeto com o IBP, me orientarem e apoiarem; ao IBP pela bolsa concedida. À banca agradeço

imensamente pelas sugestões valiosas.

Agradeço a minha Mãezinha e meu Paizinho que sempre me ajudam, apoiam e mais que

tudo, me amam; minhas irmãzinhas Ana Rosa e Ana Maria, por serem sempre minhas irmãs e

cuidarem de mim; minha avozinha Edyr, que me acolhe sempre que preciso e me alimenta de

comida e histórias; Stéphane, sempre ao meu lado, não importa a distância. Je remercie les

familles Crombez, Broucqsault et Jacob pour m'avoir acueillie, avoir été pacients avec moi et

pour m'avoir initiée à la cuisine française.

Infinitos agradecimentos a Carol Deib Cayres, minha irmã de outras vidas, que me

orienta, instrui e me bota em caminhos certos; Thiago Rocha, amigo de todos os momentos,

sempre pronto para aventuras; Lorena, best roommate ever, pela confiança, sopas de feijão,

por compartilhar o instinto de assassinar plantas despropositalmente; Maurilio querido pela

força, ajuda incondicional, entusiasmo em todas as ligações, mensagens, emails e os eventuais

encontros pessoais; Tio Pedro pelos pitacos, caronas, piadas, cosquinhas no joelho; Amanda

Docinho por sempre tentar me levar a shows, teatros, festas juninas e à vida social; Nina,

presente em todos as risadas e filas do bandejão; Rafa Nascimento fofa pelos desesperos

compartilhados e alegria contagiante; Rafa Ribs pelos passos nas saudosas aulas de dança e por

me apresentar a himyw; Mega, pelos aniversários compartilhados; Vitor Careca, o cara mais

legal do mundo todo; Jaspion, meu herói; Vanessa, pelas super dicas e super sorrisos.

Ao pessoal do programa, agradeço a Tati Cruz, sempre super querida e divertida; ao Leo

Baiano, trazendo uma nova língua, hilário o tempo todo; Bolinha, amigo de outras datas, pelas

ajuda e companhia.

Aos amigos de longa data agradeço à amizade sempre mantida da saudosa Volta

Redonda (e JF agregada): João, Bira, Nina, Marcelo e Mário.

Agradecimentos mais que especiais às minhas mães, irmãs e filhas: Neide, Marcela,

Manu e Thatha, pessoas indescritíveis, companheiras de aventuras.

vi

“Don’t panic!” – Douglas Adams

"There is always room for improvement" – Ditado popular

vii

RESUMO

CRUZ, Juliana Cunha da. Evolução tecnológica das rotas de gaseificação e pirólise de materiais

lignocelulósicos: um estudo bibliométrico. Orientadores: José Vitor Bomtempo e Estevão

Freire. (Rio de Janeiro: UFRJ/EQ, 2012). Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Processos

Químicos e Bioquímicos).

Os materiais lignocelulósicos podem ser considerados uma potencial alternativa à tendência de

uso de fonte renovável na indústria petroquímica. Os métodos de transformação destes

materiais são pontos chave para possibilidade de obtenção de produtos economicamente

viáveis, competitivos com os produtos petroquímicos atuais. Dentre os diversos métodos de

transformação do material lignocelulósico, ou biomassa, os processos termoquímicos de

gaseificação e pirólise são tecnologias capazes de converter as complexas moléculas da

biomassa em fonte de energia, combustível líquido e produtos químicos. Entretanto, as técnicas

apresentam-se em um estágio fluido, identificado pela existência de diversos artigos científicos

e documentos de patente publicados sobre os assuntos nos últimos anos. Este trabalho detecta

e avalia o progresso tecnológico da gaseificação e pirólise de biomassa através da quantificação

e classificação de artigos e patentes publicadas e disponíveis nas bases de dados Web of

ScienceR e Derwent Innovation IndexSM. O crescente número de artigos e documentos de

patente indica a relevância dos temas, sendo identificado maior interesse pelo processo de

gaseificação comparado ao de pirólise. Os países europeus representam a maior fatia de

participação na publicação de artigos científicos, apesar de ser a China o país que mais

patenteia sobre ambas as tecnologias, de forma discrepante. As universidades são responsáveis

por mais de 60% das publicações de artigos científicos, porém a participação de empresas

nestes números indica que as tecnologias têm potencial para aplicação industrial. Entretanto,

esta aplicação dos processos parece ainda distante, já que a maioria dos artigos e patentes

analisados é relativa aos processos em si, havendo pouco desenvolvimento de pesquisa e

patentes sobre geração de produtos.

viii

ABSTRACT

CRUZ, Juliana Cunha da. Technological evolution of gasification and pyrolysis of lignocellulosic

materials: a bibliometric analysis. Advisors: José Vitor Bomtempo and Estevão Freire. (Rio de

Janeiro: UFRJ/EQ, 2012). Master of Science (M.Sc.).

The lignocellulosic materials can be considered a potential alternative to trends of renewable

petrochemical industry. The methods of transforming these materials are the key to the

possibility of obtaining feasible products, competitive with current petrochemical products.

Among various methods of processing lignocellulosic material, also called biomass,

thermochemical processes of gasification and pyrolysis technologies are able to convert

complex molecules from biomass into energy, liquid fuel and chemicals. However, these

techniques are in a fluid stage identified by the existence of several scientific articles and patent

documents published on the subject in recent years. This work detects and evaluates the

technological progress of gasification and pyrolysis of biomass through quantification and

classification of articles and patents published and available in the databases Web of CienceR

and Derwent Innovation IndexSM. The increasing number of articles and patent documents

indicates the relevance of the subjects, identified greater interest in gasification process

compared to pyrolysis. European countries represent the largest share of participation in the

publication of scientific papers, although China is the country with the most patents on both

technologies. Universities are responsible for over 60% of the publications of scientific articles,

but the participation of companies indicates the technologies have potential for industrial

application. However, application of this process seems still far, since most articles and patents

analyzed concern on the process itself, having little development on research and patents.

ix

Partes desta dissertação foram apresentadas nos seguintes eventos científicos:

CRUZ, J. C., FREIRE, E., BOMTEMPO, J. V., Evaluation of technological progress in biomass

conversion. 5th International Conference on Sustainable Energy and Environmental Protection

– SEEP 2012, Dublim, Irlanda, 5 a 8 de junho de 2012.pp 65-69.

CRUZ, J. C., FREIRE, E., BOMTEMPO, J. V., Gasification and pyrolysis of biomass technologies to

feasible renewable source energy and chemicals. 4th International IUPAC Conference on Green

Chemistry, Foz do Iguaçu (PR), 25 a 29 de agosto de 2012.

CRUZ, J. C., FREIRE, E., BOMTEMPO, J. V., Lignocellulosic materials as feedstock for

petrochemicals: analysis of technological progress routes for gasification and pyrolysis. Rio Oil

and Gas Expo and Conference, Rio de Janeiro (RJ), 17 a 20 de setembro de 2012.

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Modelo de inovação linear, apresentado na Segunda Guerra Mundial. ....................... 9

Figura 2.2 Modelo chain-link, descrito por Kline. .......................................................................... 10

Figura 3.1 Diagrama de blocos para alguns produtos bioderivados.. ........................................... 22

Figura 3.2 Ilustração da parece celular vegetal.. ........................................................................... 23

Figura 3.3 Ilustração esquemática de unidades de açúcar da hemicelulose ................................ 24

Figura 3.4 Algumas espécies monoméricas da lignina.. ................................................................ 25

Figura 3.5 Estrutura parcial hipotética da molécula de lignina de faia européia (Fagus sylvatica),

uma espécie de árvore.. ................................................................................................................. 26

Figura 3.6 Estrutura da microfibrila de celulose.. .......................................................................... 28

Figura 3.7 Esquema comparativo entre a refinaria de petróleo e uma biorrefinaria. .................. 30

Figura 3.8 Conceito de biorrefinaria baseado em processamento biológico e térmico integrados

para obtenção de produtos químicos e combustíveis. .................................................................. 31

Figura 4.1 Algumas das possíveis rotas de conversão de biomassa para obtenção de

combustíveis e produtos químicos. ............................................................................................... 33

Figura 4.2 Opções de conversão termoquímica de biomassa para combustíveis, energia e

produtos químicos. ........................................................................................................................ 35

Figura 4.3 O processo de gaseificação.. ......................................................................................... 38

Figura 4.4 Etapas da gaseificação desde a matéria prima à aplicação. ......................................... 41

Figura 4.5 Representação dos caminhos de reação para pirólise de biomassa lignocelulósica. .. 47

Figura 5.1 Apresentação da base Web of Sciente, empregada na pesquisa de artigos científicos.

........................................................................................................................................................ 58

Figura 5.2 Apresentação da base Derwent Innovation Index, empregada na pesquisa de

documentos de patente. ................................................................................................................ 59

Figura 5.3 Exemplo de artigo selecionado para a base de dados. ................................................ 62

xi

Figura 5.4 Exemplo de documento de patente selecionado para a base de dados. .................... 64

Figura 5.5 Estimativa bibliométrica da fase de inovação.. ............................................................ 65

Figura 6.1 Evolução do número artigos científicos publicados sobre gaseificação e pirólise de

biomassa no período de 1979 a 2011.. ......................................................................................... 74

Figura 6.2 Evolução do número de patentes publicadas sobre gaseificação e pirólise de

biomassa no período de 1979 a 2011. .......................................................................................... 74

Figura 6.3 Total de publicações separados por região/países para gaseificação e pirólise de

biomassa. ....................................................................................................................................... 77

Figura 6.4 Total de documentos de patente publicados separados por região/país para

gaseificação e pirólise de biomassa.. ............................................................................................ 79

Figura 6.5 Número de publicações de artigos científicos por país – país/região com maior

número de artigos científicos publicadas. ..................................................................................... 81

Figura 6.6 Número de documentos de patente publicados por país/região. Gaseificação e

pirólise de biomassa.. .................................................................................................................... 82

Figura 6.7 Publicações científicas de empresas isoladamente e em colaboração com

universidades e centros de pesquisa separados por períodos.. ................................................... 84

Figura 6.8 Publicações científicas de empresas isoladamente e em colaboração com

universidades e centros de pesquisa separados por países e região. .......................................... 85

Figura 6.9 Evolução temporal dos artigos científicos separados de acordo com os temas.

Processo de gaseificação e de pirólise de biomassa. .................................................................... 88

Figura 6.10 Etapas das tecnologias separadas por países/região. ................................................ 90

Figura 6.11 Evolução temporal das patentes publicadas sobre gaseificação e pirólise de

biomassa separadas por temas. .................................................................................................... 91

Figura 6.12 Etapas das patentes de gaseificação e pirólise de biomassa separadas por

país/região ..................................................................................................................................... 92

xii

Figura 6.13 Artigos científicos classificados como tema geral de processo e separados em temas

específicos no período de 2004 a 2011. ........................................................................................ 94

Figura 6.14 Estudo aplicado de gaseificação e pirólise de biomassa. ........................................... 96

Figura 6.15 Evolução das categorias específicas de aplicação. Gaseificação e pirólise de

biomassa. ....................................................................................................................................... 97

Figura 6.16 Patentes de aplicação das técnicas de gaseificação e pirólise de biomassa. ............. 98

Figura 6.17 Evolução das categorias específicas de aplicação. ..................................................... 99

xiii

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Técnicas de prospecção, que englobam objetivos variados, horizontes de tempo, e

abordagens.. .................................................................................................................................. 14

Tabela 2.2 Indicadores do ciclo de vida da tecnologia Indicadores segundo Watts e Poter ........ 15

Tabela 4.1 Comparação processamentos biológicos e termoquímico visando obter combustíveis

a partir de biomassa lignocelulósica. ............................................................................................ 34

Tabela 4.2 Teores de carvão e alcatrão liberados em reatores contra níveis máximos de

contaminante em um motor de combustão interna. ................................................................... 44

Tabela 4.3 Modos de pirólise. ....................................................................................................... 46

Tabela 4.4 Reações durante o processo de pirólise em diferentes temperaturas. ...................... 48

Tabela 4.5 Aplicações padrão para o bio-óleo para obtenção de energia. .................................. 50

Tabela 5.1 Passos para um processo de prospecção tecnológica. ............................................... 54

Tabela 5.2 Classificações específicas que detalham as categorias gerais do estudo dos artigos

científicos de gaseificação e pirólise de biomassa. ....................................................................... 70

Tabela 5.3 Combinação dos parâmetros de análise dos artigos e patentes sobre conversão

térmica de biomassa ...................................................................................................................... 71

Tabela 6.1. Países que representam o grupo “Europa” nos resultados de produção de artigos

científicos. ...................................................................................................................................... 78

Tabela 6.2. Países que representam o grupo “Europa” nos resultados de produção de artigos

científicos.. ..................................................................................................................................... 80

Tabela 6.3. Contrastes econômico entre China e Estados Unidos. Adaptado de Olliver (2012). . 82

Tabela 6.4. Porcentagem de artigos científicos publicados sobre gaseificação e pirólise de

biomassa por instituições como universidades, centro de pesquisa e empresa. ......................... 83

Tabela 6.5. Porcentagem das patentes publicadas relativo a gaseificação e pirólise de biomassa

separado por tipo de instituição depositante: universidade, centro de pesquisa, empresa e

pessoa física. .................................................................................................................................. 86

xiv

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 .................................................................................................................................... xvi

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 1

1.1. Objetivos ................................................................................................................... 3

1.2. Organização do estudo ............................................................................................. 3

CAPÍTULO 2 ...................................................................................................................................... 5

Inovação e Bibliometria .................................................................................................................. 5

2.1 Inovação ................................................................................................................. 5

2.2 Economia da inovação ............................................................................................ 6

2.3 O processo da inovação ......................................................................................... 7

2.4 Prospecção tecnológica ........................................................................................ 13

2.5 Monitoramento - Bibliometria ............................................................................. 15

2.5.1 Bibliometria – artigo científico .......................................................................... 17

2.5.2 Bibliometria – patente ...................................................................................... 18

2.6 Considerações finais do capítulo .......................................................................... 20

CAPÍTULO 3 .................................................................................................................................... 21

Materiais lignocelulósicos ............................................................................................................. 21

3.1. Biomassa ................................................................................................................. 21

3.2. Composição da matéria lignocelulósica .................................................................. 21

3.2.1. Hemicelulose .................................................................................................... 23

3.2.2. Lignina .............................................................................................................. 25

3.2.3. Celulose ............................................................................................................ 27

3.3. Resíduos agroindustriais ......................................................................................... 27

xv

3.4. Conceito de biorrefinaria ........................................................................................ 29

3.5. Considerações finais do capítulo ............................................................................ 31

CAPÍTULO 4 ................................................................................................................................... 33

CONVERSÃO TERMOQUÍMICA DE MATERIAIS LIGNOCELULÓSICOS .......................................... 33

4.1 Processamento termoquímico de biomassa ....................................................... 35

4.1.1 Gaseificação ................................................................................................... 36

4.1.2 Pirólise............................................................................................................ 45

4.2 Considerações finais do capítulo ......................................................................... 52

CAPÍTULO 5 ................................................................................................................................... 53

METODOLOGIA ............................................................................................................................. 53

5.1 Monitoramento das tecnologias de conversão térmica de biomassa .................... 53

5.2 Seleção de artigos e documentos de patentes ....................................................... 54

5.2.1 Base de dados ................................................................................................ 55

5.2.2 Estratégia de busca ........................................................................................ 56

5.2.3 Definição de restrições para a construção da base de dados ....................... 57

5.2.4 Documentos de patente ................................................................................ 60

5.3 Construção da base de dados de artigos científicos ............................................... 60

5.4 Construção da base de dados de patentes publicadas ........................................... 62

5.5 Identificação do perfil de desenvolvimento tecnológico ........................................ 63

5.5.1 Evolução temporal ............................................................................................ 66

5.5.2 Países e região de publicação ........................................................................... 66

5.5.3 Tipo de instituição ............................................................................................ 67

5.5.4 Categorias gerais e específicas ......................................................................... 69

5.6 Combinação de parâmetros de análise ................................................................... 71

xvi

CAPÍTULO 6 .................................................................................................................................... 72

RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................................................... 72

6.1 Produção temporal ............................................................................................... 73

6.2 Produção geográfica ............................................................................................. 77

6.2.1 Visão acumulada dos artigos científicos publicados por países ....................... 77

6.2.2 Visão acumulada dos documentos de publicados por países .......................... 79

6.2.3 Visão evolutiva das publicações de artigos científicos ..................................... 80

6.2.4 Visão evolutiva dos documentos de patente publicados por países ................ 82

6.3 Atuação de instituições ........................................................................................ 83

6.3.1 Visão acumulada dos artigos científicos publicados por empresas ................. 83

6.3.2 Visão evolutiva das publicações de artigos científicos por empresas .............. 84

6.3.3 Visão acumulada dos documentos de patente publicados por instituições .... 85

6.4 Perfil tecnológico .................................................................................................. 86

6.4.1 Artigos científicos publicados ........................................................................... 87

6.4.2 Documentos de patente publicados ................................................................. 90

6.4.3 Categorias específicas de processos de artigos científicos ............................... 93

6.4.4 Categorias de artigos científicos e patentes de aplicação ................................ 95

6.4.4.1 Artigos científicos ....................................................................................... 95

6.4.4.2 Patentes publicadas ................................................................................... 97

CAPÍTULO 7 .................................................................................................................................. 101

CONCLUSÕES ............................................................................................................................... 101

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 104

ANEXO ............................................................................................................................109

1

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO

A evolução da atividade industrial pode ser observada em diferentes etapas da cadeia de

geração de produtos. Na base desta cadeia, em que o tipo de matéria prima utilizada está

diretamente relacionada, ocorreram diversas modificações desde o início das atividades

industriais. A matéria prima da revolução industrial, o carvão, foi o substituto da madeira no

fornecimento de energia, mas que foi posteriormente substituído pelo petróleo, com seu

potencial de transformação em diversos produtos. Essas substituições aconteceram

paulatinamente graças a várias adequações dos processos industriais. A realidade atual, em que

motivos econômicos e ambientais atuam, indica um interesse crescente por mais uma mudança

de matéria prima base da indústria química, já que existem fortes investimentos direcionados a

tornar viável a utilização de matérias primas renováveis para a obtenção de produtos

equivalentes ou alternativos aos existentes atualmente. O uso de fontes renováveis seria uma

forma de contornar os efeitos da instabilidade do preço do petróleo e a alta demanda desse

material fóssil, sendo uma saída para as recorrentes crises. Além disso, as restrições ambientais

ao uso de materiais fósseis seriam um estímulo para a utilização alternativas sustentáveis de

produção. Estas duas questões estimulam o desenvolvimento da tecnologia a partir de fontes

renováveis significativamente, e esse progresso reflete hoje no potencial desta tecnologia,

existindo hoje esse tipo de produtos disponível no mercado. Em consequência, esse potencial

crescente faz com que empresas almejam cada vez mais fazer parte dessa nova realidade, tanto

para ser menos vulnerável às variações do preço do petróleo quanto ser mais ambientalmente

correta. Esse cenário ganha maiores dimensões e força à medida que maiores são as discussões

sobre as necessidades de tecnologias menos impactantes para o ambiente, e que a robustez da

biotecnologia fornece base para tornar possível a indústria de bases renováveis. A figura inicial

dessa indústria, figurada de pequenos e poucos pontos, foi modificando-se em uma nova figura,

mais definida e com aplicações cada vez mais viáveis economicamente.

Os biocombustíveis são atualmente os produtos que mais representam esta mudança do

uso de fontes fósseis para fontes renováveis. Porém, existem muitas outras possibilidades de

2

produtos renováveis que vão além dos tanques de combustíveis. Matérias primas renováveis

são convertidas diariamente para a obtenção de produtos químicos da área farmacêutica,

obtenção de enzimas que potencializam a atuação de produtos de limpeza, obtenção de

biopolímeros compatíveis aos atuais no mercado. A transformação da matéria prima renovável,

que também pode ser chamada de biomassa, pode ocorrer através de processos termoquímicos

ou bioquímicos, os quais têm potencial de geração de muitos outros produtos. A conversão

termoquímica pode ser mais atrativa no que tange a maior flexibilidade de uso de matéria

prima, taxas de conversão mais rápidas, diversidade de produtos, dentre diversas outras

características que podem imprimir a esse tipo de conversão uma imagem mais aceitável numa

indústria química adaptada a altas pressões e altas temperaturas, e não tão familiarizada com

processos assépticos e lentos. Inclusive, os métodos de conversão termoquímica – gaseificação

e pirólise – são técnicas atualmente utilizadas com outra fonte, porém não renovável, o carvão

mineral. O uso dos mesmos processos com fonte renovável só é possível com adaptações nos

processos, o que gera necessidade de muita pesquisa científica a respeito, ainda mais para

atingir viabilidade econômica nos processos. O mapeamento de artigos científicos e

documentos de patente são formas de identificar o acúmulo dos esforços intelectual e

financeiro no desenvolvimento de tecnologias, permitindo o conhecimento do estágio de

desenvolvimento das tecnologias e, assim, da perspectiva de aplicação comercial daqueles

processos de conversão. O monitoramento da evolução das tecnologias de termoconversão de

biomassa foi realizado com o uso da bibliometria.

Este trabalho abordou três questões importantes para o estudo da evolução das técnicas

de conversão de biomassa por gaseificação e pirólise e tratou essas questões pela análise de

indicadores da produção científica e propriedade intelectual:

Comparando as conversões de biomassa por gaseificação e pirólise, qual está mais

desenvolvida e converge mais para a viabilidade econômica?

Quais países identifica-se maiores esforços para obtenção de produtos viáveis

originados de fonte renovável e transformados por termoconversão?

Quais são os produtos gerados por gaseificação e pirólise de biomassa são mais

propensos a serem viáveis economicamente?

3

1.1. Objetivos

Objetivo geral:

Este trabalho tem por objetivo geral avaliar as alternativas de processamento de

biomassa por método termoquímico – gaseificação e pirólise – para obtenção de energia,

combustíveis líquidos e produtos químicos.

Objetivos específicos:

Mapear a evolução tecnológica dos processos de gaseificação e pirólise de biomassa

lignocelulósica comparando de forma quantitativa a produção científica e propriedade

intelectual das duas técnicas de conversão;

Identificar países responsáveis pela evolução das técnicas em questão;

Apontar qual dos produtos possíveis de aplicação da conversão de biomassa – energia,

combustíveis líquidos ou produtos químicos – são proporcionalmente mais estudados e

patenteados.

1.2. Organização do estudo

Esta dissertação está dividida em oito capítulos. Este primeiro capítulo apresenta o tema

e as motivações da dissertação, contextualizando o assunto.

O segundo capítulo introduz o conceito de monitoramento tecnológico e bibliometria

fazendo uso de artigos científicos e documentos de patentes publicados. Modelos distintos que

descrevem o processo de inovação são apresentados, assim como o conceito de bibliometria é

descrito como método de compreender a evolução dos processos de gaseificação e pirólise. A

proposta da seção é realçar a importância da interação entre o desenvolvimento de

conhecimento e o caminho para uma tecnologia economicamente viável.

No terceiro capítulo é possível obter-se informações sobre materiais lignocelulósicos,

sua composição e características. A composição química do material lignocelulósico –

hemicelulose, lignina e celulose – é exposta a fim de compreender como é possível ter este

material como alternativa a produtos de origem fóssil e a descrição das características do

4

material busca esclarecer por que a transformação termoquímica de materiais lignocelulósicos

necessita de melhorias.

O quarto capítulo descreve os processos de conversão térmica de biomassa: gaseificação

e pirólise. Neste capítulo as duas tecnologias de conversão foram conceituadas, apresentadas as

aplicações e dificuldades de operá-las de forma economicamente viável. As técnicas de

gaseificação e pirólise são apresentadas como processos de conversão térmica cujos produtos

primários podem ser processados para obter eletricidade, combustível de transporte e produtos

químicos. É esclarecido que ainda existem desafios tecnológicos tanto do processamento da

biomassa para a obtenção dos produtos primários – principalmente gás de síntese para

gaseificação e bio-óleo para pirólise – quanto no uso desses produtos primários como matéria

prima para outros de maior valor agregado.

O quinto capítulo apresenta a metodologia de trabalho utilizada. O conceito de

bibliometria é aplicado em artigos científicos selecionados na base de dados Web of ScienceSM

(WoS) e em patentes selecionadas na base de patentes Derwent Innovations IndexSM, utilizando

palavras chaves apropriadas na pesquisa de cada tecnologia de conversão. Ambas as bases são

parte do Institute for Scientific Information, ISI.

No sexto capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos dos artigos

selecionados nas bases. Informações como número de publicações e patentes ao longo do

tempo, os países de onde se originam estas publicações e patentes, os tipos de instituição

realizam estas pesquisas, dentre outras informações relevantes para o estudo são exibidas e

discutidas.

O sétimo capítulo apresenta as conclusões finais do trabalho e as considerações finais

dos resultados obtidos neste estudo.

Além dos capítulos citados, o escopo desta dissertação é composto pelas referências

utilizadas ao longo do trabalho.

5

CAPÍTULO 2 INOVAÇÃO E BIBLIOMETRIA

O conceito de inovação já foi visto como uma etapa individual no processo de concepção

de um produto ou processo. Hoje o termo é visto como uma conexão entre ciência e tecnologia

e a indústria. O surgimento dessa concepção revela o a constatação de que conhecimento

exerce um papel crucial no progresso. A inovação passa a ser percebida como parte da

“economia baseada no conhecimento” e identificada como um processo complexo e sistêmico,

que interage o tempo todo com as etapas de produção, e não apenas como um ponto inicial de

desenvolvimento. Dessa forma, as discussões sobre inovação entram em um âmbito da relação

entre as instituições, observando os processos interativos, tanto na criação do conhecimento

quanto na sua difusão e aplicação (Manual de Oslo, 1997). A visão da inovação por esse ângulo

é respaldada neste capítulo pela apresentação das diferenças dos modelos de inovação

proposto na década de 1940 e o modelo de Kline e Rosenberg (1986). Além disso, são

apresentadas algumas formas de monitoramento tecnológico, assim como o método

bibliométrico utilizado neste trabalho.

2.1 Inovação

Em tecnologia, o termo inovação, que envolve a introdução de uma novidade, pode ser

confundido com o termo invenção, que depende da criação de algo novo, mas que não

necessariamente é, de fato, implementado, aplicado. Os termos não são completamente

distintos, visto que uma inovação foi um dia uma invenção, mas esta pode não necessariamente

se tornar uma inovação. Existem modelos que descrevem como ocorrem as inovações,

apresentados mais à frente do capítulo. Apresentando brevemente as ideias de Kline e

Rosenberg (1986), corroboradas por Smith (2005), uma inovação não depende de um processo

de invenção, em termos de descoberta de novos princípios. Tal processo, que envolve P&D,

pretende ser mais uma etapa de acondicionamento e melhorias do que um elemento de ponto

de partida. Nessa concepção, o entendimento de novidade de um produto ou processo vai além

de criações completamente novas. Algumas pequenas mudanças na aplicação ou no

6

desempenho de tecnologias já existentes, a longos prazos podem significar grandes mudanças

tecnológicas e econômicas. Modificações oriundas não apenas de P&D, mas também aquelas

geradas de desenvolvimentos de engenharia e experimentações, treinamentos, exploração de

marketing, entre outros.

Para a análise dos diversos parâmetros que compreendem uma inovação são

necessários indicadores significativos, capazes de identificar tais mudanças e refletir no que

essas representarão em questões tecnológicas e econômicas. Não é simples prever o fim da

trajetória tecnológica, com tantos fatores de entrada, mas as etapas que vão desde a criação de

um protótipo até a utilização no mercado, de acordo com Kupfer e Tigre (2004), são três:

Invenção: ideia, descoberta, protótipo, patente, planta piloto, etc., ainda sem aplicação

comercial;

Inovação: ocorre com a aplicação de uma invenção em atividades práticas;

Difusão: processo pelo qual o mercado adota a inovação.

A ocorrência das três fases1, em geral não acontece de forma linear, sendo intercaladas

ao longo do tempo, tal como o modelo de chain-link elucida.

2.2 Economia da inovação

Antes de diversos estudos nas últimas décadas2, o processo de inovação ainda não era

bem compreendido. A visão macro do processo aponta para a inovação como um fator

dominante no crescimento econômico nacional e nos padrões do comércio internacional. Já em

relações às empresas, considerando-se a visão micro, o investimento em pesquisa e inovação

aparece como um maior potencial de absorção e utilização pela empresa de novos

conhecimentos em níveis além do conhecimento tecnológico. Sendo assim, a expressão

“economia baseada no conhecimento” relaciona as tendências verificadas na maioria das

economias mais avançadas com respeito à dependência maior no conhecimento, informações e

altos níveis de competências, somados à necessidade crescente de pronto acesso a tudo isso. O

1 Detalhes sobre a dinâmica do processo de difusão pode ser encontrado no texto de Kupfer e Tigre (2004). 2 O Manual de Oslo faz referência a revisões das recentes descobertas sobre inovação, encontradas em Stoneman,

P. (org.) (1995) Handbook of the Economics of Innovation and Technological Change, e in Dodgson, M. e R. Rothwell (orgs.) (1994), The Handbook of Industrial Innovation, ambos: Edward Elgar, Aldershot.

7

trecho a seguir relata a importância dessa tendência para políticas nacionais (OECD, 1996, apud

Manual de Oslo, 1997):

“O conhecimento, em todas as suas formas, desempenha hoje um papel crucial em processos econômicos. As nações que desenvolvem e gerenciam efetivamente seus ativos de conhecimento têm melhor desempenho que as outras. (...) Este papel estratégico do conhecimento é ressaltado pelos crescentes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, educação e treinamento e outros investimentos intangíveis, que cresceram mais rapidamente que os investimentos físicos na maioria dos países, e na maior parte das últimas décadas. (...) A mudança tecnológica resulta de atividades inovadoras, incluindo investimentos imateriais como P&D, e cria oportunidades para maior investimento na capacidade produtiva.”

A constatação de que a inovação está incorporada na mudança econômica foi bem

apontada por Schumpeter ao dizer que “inovações radicais provocam grandes mudanças no

mundo, enquanto inovações ‘incrementais’ preenchem continuamente o processo de mudança”

(Schumpeter, 2004, apud Manual de Oslo, 1997). Especificamente no estudo das tecnologias

neste trabalho, para que haja inclusão no mercado com perfil que vem aos poucos sendo

direcionado para a aplicação de tecnologias que utilizam fontes renováveis, pesquisadores e

empresas caminham em direção à inovação que vá proferir lucro, desenvolvendo-se padrões

técnicos que correspondam a este objetivo. O monitoramento dos vetores de força dessas

tecnologias pode ser encontrado no capítulo de resultados deste trabalho, enquanto que este

capítulo se atém a apresentar como a inovação está inserida da vida de um produto ou de uma

tecnologia por visões de diferentes épocas.

2.3 O processo da inovação

No processo de inovação estão intrínsecas incertezas da tecnologia e do processo, já que

a inovação envolve a criação e o marketing de uma novidade e fatores comerciais, e

tecnológicos são indispensáveis para o sucesso. A gestão e a redução dessas incertezas são

essenciais no processo de inovação (Kline e Rosenberg, 1986) para que se possa prever, mesmo

que aproximadamente, a consequência da inovação. Em geral, quanto maiores são as mudanças

introduzidas, maiores são as incertezas das questões tecnológicas e na resposta do mercado a

essa inovação. Porque a implementação de uma inovação não acontece de forma simples e

questões econômicas e tecnológicas devem ser consideradas, que variam de caso a caso, é

8

bastante complexa uma definição de fórmula ou medição. Mas o monitotamento da tecnologia

permite conhecer a amplitude da mudança e pressupor parte das consequências futuras.

A característica de inovação incide em pontos diferentes, assim como os métodos de

inovar-se podem ser distintos. Segundo Kline e Rosenberg (1986), a inovação pode aparecer em:

novo produto;

novo processo de produção;

substituição de um material mais barato, recém-desenvolvido para uma determinada

tarefa, em um produto essencialmente inalterado;

a reorganização da produção, funções internas, ou acordos de distribuição que

conduzem a uma maior eficiência, melhor suporte para um determinado produto, ou

custos mais baixos;

aprimoramento da tecnologia.

Os mesmos autores identificaram como a invação está inserida em todo o processo de

mudança de um produto ou tecnologia, com o modelo chain-link, apresentado mais a frente.

Entretanto, o reconhecimento de que o processo de inovação é uma rede complexa que

correlaciona parâmetros interligados aconteceu posteriormente à consideração de outros

estudiosos, cuja a interpretação do que vem a ser inovação era uma sequência contínua de

fatores.

A partir da Segunda Guerra Mundial um modelo de inovação de estrutura direta

predominou, com estrutura linear e sem interações ou respostas de feedback, como ilustrado

na Figura 2.1 .Esse modelo seria aplicável em uma conjuntura ideal, em que todas as

características do produto/processo desenhadas não haveriam necessidade de alterações

posteriores e ainovação seria apenas o ponto de partida. A percepção de que um produto ou

processo precisa de melhorias e adaptações, ou seja, inovações, resultou em inclusão dessa na

agenda política da maioria dos países desenvolvidos.

9

Figura 2.1 Modelo de inovação linear, apresentado na Segunda Guerra Mundial. Adaptado de Kline e Rosenberg (1986)

Conforme houve melhoria no entendimento da inovação, o conceito incorporou as

políticas de ciência e tecnologia, e posteriomente industriais, ao passo que surgiu a consciência

da importância dos sistemas. O processamento dessa nova consiência pode ser bem

representado pelo modelo de Kline e Rosenberg (1986) (Figura 2.2 ) e sustentado por outros

autores (Manual de Oslo, 1997; Smith, 2005) . Este modelo introduz a interação nos diferentes

níveis do processo de desenvolvimento de uma tecnologia ou produto, integrando a inovação

em diferentes etapas desse processo. A incerteza de cada um dos sub-processos resulta no uso

da pesquisa como ferramenta de avanço conforme a resposta gerada da etapa. Dessa forma, a

progressão não é feita de forma direta como proposto no modelo da Figura 2.2. Existe o elo

entre as diferentes fases da inovação e o sucesso ou fracasso vai depender de quão eficaz

acontece essa ligação.

Analisando brevemente o modelo, os passos se iniciam em “C”, que segue para o

desenho do projeto, passa pelo desenvolvimento, produção, até a comercialização. O segundo

passo introduz uma série de ligações de feedback, identificadas por “f” e “F". Acontece iteração

destes feedbacks com os passos e reconecta diretamente as necessidades percebidas do

mercado e usuários às melhorias potenciais do desempenho do produto e serviço na rodada

seguinte de projeto. Nessa perspectiva, o feedback é parte da cooperação entre a especificação

do produto, desenvolvimento de produto, processos de produção, marketing, e componentes

de serviço de uma linha de produtos. A Pesquisa entra no processo quando o conhecimento

existente não apresenta resposta satisfatória para o objetivo desejado (caminho K-R); quando

não existe conhecimento sobre o assunto (caminho D), que podem aparecer nas etapas de

invenção, projeto ou remodelagem do projeto.

Essa representação do processo de aplicação de uma inovação proporciona o conceito

da pesquisa nesse processo, mostrando que para que o sucesso seja alcançado, investigações

devem ser constantemente realizadas. E no dinamismo do mercado, as diretrizes mudam e há

Pesquisa Desenvolvimento Produção Marketing

10

necessidade de mais pesquisas, num processo constante de adaptação. Detalhes do

entendimento do modelo podem ser encontrados em Kline e Rosenberg (1986).

C: cadeia central de inovação

f: loop de feedback

F: Feedback particularmente importante

K-R: Ligações pelo conhecimento disponível e caminho de retorno. Se o problema é

resolvido no nó

K, a ligação 3 até R não é ativa. O retorno vindo da pesquisa (ligação 4) é problemático e,

portanto, representado por linha tracejada.

D: Ligação direta até a pesquisa e vindo da pesquisa ocasionados por problemas na

invenção e projeto.

I: Apoio à pesquisa científica por instrumentos, máquinas, ferramentas e procedimentos

tecnológicos.

S: Apoio à pesquisa nas ciências relacionadas à área do produto para ganhar informação

diretamente e monitorar o trabalho externo. As informações obtidas podem ser utilizadas

a qualquer momento ao longo da cadeia.

Figura 2.2 Modelo chain-link, descrito por Kline (1985, apud Kline e Rosenberg, 1986).

A possibilidade de serem previstas melhorias de tecnologias através de pesquisa e a

dificuldade dessa previsão foi sintetizada por Rosenberg (1986):

“Talvez a razão pela qual prevemos o impacto da mudança tecnológica de forma tão deficiente seja o fato de estarmos lidando com um conjunto de relações extraordinariamente complexas e interdependentes. No entanto, a partir dessa prevenção, devemos ser capazes de

11

fazer um trabalho um pouco melhor no futuro, mesmo que seja pelo desenvolvimento de uma melhor avaliação de algumas das razões pelas quais nós erramos tanto no passado”

Neste trabalho apresenta-se o modelo de Kline e Rosenberg (1986) em detrimento de

diversas outras maneiras usadas por outros autores para caracterizar a inovação, porém não é o

objetivo aqui defender esse preferivelmente a qualquer outro. O objetivo dessa discussão é de

apresentar a inovação como a atividade complexa, diversificada, com interação entre vários

componentes do processo que ela é e apontar para a necessidade de reflexão dessas interações

pelos agentes da inovação.

Em relação à metodologia de introdução da inovação, o Manual de Oslo (1997) identifica

três: estratégica, de P&D e de não P&D. Essas são formas de modificar os ativos tecnológicos, a

capacidade e desempenho de produção.

Estratégica: Necessidade de tomadas de decisão por empresas posterioemtente à

atividade de inovação sobre os tipos de mercado que atuam ou pretendem criar e os

tipode de inovação que desejam introduzir.

P&D: pesquisa em termos abrangentes:

Pesquisa básica que amplia os conhecimentos dos processos fundamentais

relativos ao que se produz;

Pesquisa estratégica, do tipo relevante para a indústria que não possui

aplicação específica que procura ampliar o número de projetos disponíveis;

Pesquisa aplicada para desenvolver invenções específicas ou modificações

técnicas existentes;

Desenvolver de conceitos de produtos para avaliar se são possíveis de serem

produzidos;

De não P&D: mesmo não caracterizadas como P&D, essas pesquisa pode identificar

novos conceitos e tecnologias de produção. O desenvolvimento de projetos e

engenharias, estudo da área de marketing, investimento em equipamentos ou

processos são algumas formas de reorganizar ou reorientar o sistema geral de

produção que resultam em melhoria da qualidade e competitividade.

12

No que tange este trabalho, a inovação que implica a utilização de matéria prima

diferente daquela tradicional em um processo já estabelecido propõe uma inovação tanto na

matéria prima quanto no processo. Tal inovação é incorporada à tecnologia por métodos de

P&D e não P&D, visto que as alterações no processo tão tamanhas que são necessárias

pesquisas básicas no processo, pesquisa aplicada para julgar se há outras formas de introduzir a

tecnologia no mercado, estudo de marketing de produtos de fonte renovável e tantas outras

pesquisas quanto necessárias para a concretização da inovação.

Os indicadores de inovação são ferramentas que auxiliam na identificação de desafios

tecnológicos e, então, projeta-se o futuro do objeto em foco. Um dos métodos para alcançar tal

objetivo é a análise de publicações, patentes ou citações, de tal forma a medir e interpretar os

avanços tecnológicos. A resposta pode ser obtida através do desenvolvimento de modelos

matemáticos e medidas a esses processos que resultam na tomada de decisão (Tague-Sutcliffe,

1992). Autores como White e McClain (1989, apud Tague-Sutcliffe, 1992) limitam o estudo da

bibliometria ao processamento quantitativo de literatura baseado em bibliografia.

Segundo Watts e Porter (1997) o tipo de estudo que busca conhecer o caminho da

tecnologia pretende adquirir informações a respeito de:

1. Posição do ciclo de vida da tecnologia – determina o quanto a tecnologia

avançou num período de tempo, taxa de crescimento e posição das tecnologias a

que está diretamente dependente;

2. Receptividade do contexto de inovação – contextualiza fatores econômicos e

outras influências no desenvolvimento da tecnologia em foco;

3. Cadeia de valor do produto e prospecção de mercado – potencial de retorno e

necessidades para permitir que essas sejam completadas.

Essas influências são interligadas de forma complexa. A sugestão de processamento das

informações é dividida em conceitos de medidas bibliométricas, que apresentam fatores e

indicadores para cada um dos itens mencionados. A análise detalhada de todos os itens requer

um conhecimento profundo da tecnologia, do mercado, das regulamentações, e nem todas as

informações estão disponíveis para consulta. Por isso existem diversas técnicas de prospecção

tecnológica e seu conceito é apresentado a seguir.

13

2.4 Prospecção tecnológica

Prospectar o futuro em tecnologia pretende fornecer perspectivas de mudança

tecnológica significativa em um tempo determinado (Watts e Porter, 1997). A verificação dessas

mudanças constrói previsões de futuro que auxiliam em tomadas de decisão com relação ao

planejamento estratégico corporativo, gestão de P&D, desenvolvimento de produtos,

investimentos em nova tecnologia, produção e comercialização, compra de uma nova

tecnologia (Kupfer e Tigre, 2004) e tantas outras decisões cujas análises prévias podem ser

determinantes no resultado final. Prospecção tecnológica compreende variados objetivos, faixas

de tempo e enfoques (Watts e Porter, 1997), tendo como premissa que os futuros possíveis são

variados (Kupfer e Tigre, 2004), podendo caminhar para diferentes direções.

Os métodos de prospecção tecnológica são diversos; alguns abrangem perspectivas

diferentes de outros, e dos métodos existentes podem ser identificadas três abordagens lógicas

para o problema de prospectar o futuro, segundo Kupfer e Tigre (2004).

1. Baseada em interferência – a mais convencional. Aquela que trabalha com a

extrapolação das tendências, reproduzindo, até certo ponto, fenômenos já

ocorridos, sem considerar qualquer ruptura ou descontinuidade nas trajetórias

evolutivas referentes aos objetos analisados. Essa perspectiva se baseia em modelos

teóricos, empíricos da realidade, ou em construção, por analogia de antecedentes

históricos do problema.

2. Levantamento de trajetórias alternativas. O futuro é representado em diversos

cenários, projetado em processo de divergência de alguns parâmetros.

3. Construção de um consenso. Esta abordagem é a associação de ideias e visões

coletivas de um corpo de pessoas conhecedoras do objeto de prospecção e com

capacidade de reflexão sobre tal.

Essas três abordagens estruturam os métodos de prospecção de uma tecnologia, que

podem ser organizadas em três grupos principais, segundo Kupfer e Tigre (2004):

Monitoramento – compreende em monitorar o objeto em foco em termos de

evolução e os pontos de mudança, de forma sistemática e contínua;

14

Previsão – compreende a realização de projeções futuras considerados os fatos

históricos e modelagem de tendências;

Visão – compreende a previsão de cenários futuros baseado em reflexões e

discussões entre especialistas do objeto respaldadas em seus conhecimentos e

subjetividades.

Os dois primeiros resultam em análises quantitativas, enquanto que o último é

qualitativo. O presente trabalho realizou estudo de monitoramento tecnológico, fazendo uso de

informações históricas obtidas de artigos científicos e documentos de patentes referentes às

tecnologias de conversão térmica de biomassa. Tal estudo é conhecido como bibliometria e é

descrito no próximo item.

Algumas técnicas de prospecção tecnológica foram reunidas por Vanston (1995, apud

Watts e Porter, 1997) e apresentada na Tabela 2.1.

Tabela 2.1 Técnicas de prospecção, que englobam objetivos variados, horizontes de tempo, e abordagens. Adaptado de Vanston (1995), apud Watts e Porter (1997).

Extrapolação Análise de objetivos Intuitiva

Análise de desafios tecnológicos

Análise de implicação Pesquisa Delphi

Análise de substituição Análise de conteúdo Conferência de grupo nominal

Análise de limite de crescimento

Análise de players

Entrevistas estruturadas /desestruturadas

Curvas de aprendizagem Análise de patente Análise abrangente de oportunidades

Análise de patente Estratégia de feedback

Analogias Varredura

Tendências precursoras Monitoramento

Análise morfológica Planejamento de cenário alternativo

Modelos de feedback Modelos de Monte Carlo

15

A gama de possibilidades de desenvolver a perspectiva de um objeto de análise divide

autores quando a relevância e a eficiência de cada um. Por exemplo, Martino (2003) discute os

métodos de Delphi, extrapolação, prospecção probabilística, teoria do caos. Segundo o autor,

uma única metodologia não pode ser considerada para todas as tecnologias analisadas visto que

as características de cada tecnologia devem ser consideradas na escolha do método. Já Mishra,

Deshmukh, e Vrat (2002) apresentam vantagens e desvantagens dos diversos métodos

propostos e concluem que a utilização de uma técnica e a validação do resultado por uma outra

aumenta a confiabilidade da prospecção.

O trabalho de Watts e Porter (1997) levanta conceitos de inovação tecnológica e das

fontes dos dados de prospecção. Parte destes conceitos encontra-se na Tabela 2.2, sendo

específico para inovações em etapa de P&D.

Tabela 2.2 Indicadores do ciclo de vida da tecnologia Indicadores segundo Watts e Poter (1997) (adaptado).

Perfil de P&D

Pesquisa de fundamentos Base de dados como Science Citation Index e Web of Science

Pesquisa aplicada Base de dados como Engineering Index

Desenvolvimento Base de dados como U.S. Patents e Derwent Innovations Index

Aplicações Base de dados como Newspaper Abstracts Daily

Impactos sociais Edições publicadas em Business and Popular Press abstracts

As diferentes análises de prospecção tecnológica abrangem diferentes pontos da

tecnologia, por isso a combinação de mais de uma medida pode ser útil. A criação de um perfil

da tecnologia em termos de publicações e documentos de patentes pode fornecer um estudo

valioso de inteligência competitiva. Sendo assim, este trabalho fez uso de técnicas de

bibliometria, a qual pode utilizar contagem de publicações, patentes, citações e outros itens que

gerem informação sobre o desenvolvimento de uma ciência e tecnologia e sejam indicadores de

desempenho destes (Narin, Olivastro, Stevens, 1994 apud Kostoff et al, 2005).

2.5 Monitoramento - Bibliometria

O desenvolvimento de um processo compreende três estágios, descrito por Utterback e

Abernathy (1975) como descoordenado, segmentar e sistêmico. De acordo com a definição de

16

cada um, as tecnologias de conversão térmica de biomassa, analisadas neste trabalho, são

inseridas no primeiro estágio. O processo se encontra no início da vida, desenvolvem-se

melhorias frequentes para que haja competitividade no mercado, há numerosas mudanças no

processo. O processo é composto por amplas operações ainda não compreendidas. Essas

características definem o processo como em um estágio fluido, com relações fracas e não

definidas entre os elementos do processo (Utterback, Abernathy, 1975). Em tal estágio de

desenvolvimento é importante que se faça uso dos métodos descritos como prospecção

tecnológica para que decisões sejam tomadas com respaldo de fatos acontecidos

anteriormente, tendências e conhecimentos de especialistas. Frente aos diversos métodos

existentes de orientação de tomadas dessas decisões, o presente estudo trabalha com

bibliometria.

Bibliometria é baseada na enumeração e análise estatística da produção científica na

forma de artigos, publicações, citações, patentes e outros indicadores mais complexos. É uma

ferramenta importante na avaliação de atividades de pesquisa, laboratórios e cientistas, bem

como as especializações científicas e de desempenho de países (Okubo, 1997). A coleção desses

indicadores forma um banco de dados com informações sobre pesquisadores individuais ou

equipes de pesquisa, insituições, países, identificar redes nacionais e internacionais da pesquisa

de interesse e descrever o desenvolvimento de nocos campos (multidisciplinares) da ciência e

da tecnologia (Manual de Frascati, 2002).

De acordo com Smith (2005), os indicadores para uma análise de inovação

compreendem três áreas amplas: dados de pesquisa e desenvolvimento (P&D), dados de

aplicações de patentes, e dados bibliométricos (dados de publicação científica e citações). A

análise realizada com auxílio dessas informações é beneficiada por se tratar de dados

disponíveis com uma longa faixa de tempo e, em alguns casos, existir padronização adequada.

Como desvantagem têm-se as atividades de P&D que não são publicadas ou patenteadas e o

fato de que nem toda – ou bem pouca – publicação ou invenção patenteada torna-se uma

inovação tecnológica (Smith, 2005).

Watts e Porter (1997) empregam diversas abordagens de previsão tecnológica como

contexto para o estudo de prospecção tecnológica, e a bibliometria é um dos métodos. Os

17

dados bibliométricos e análises dispõem informação sobre orientação científica e dinamismo de

um país (ou algum outro grupamento) e suas participações no mundo científico e tecnológico,

ou seja, um reflexo do impacto dessa orientação científica na comunidade nacional e

internacional. A geração de análises de cooperação permite a visualização das redes científicas

existentes e das ligações entre países, insituições e pesquisadores, assim como a estrutura de

disciplinas científicas e as suas ligações. O método auxilia a descrever e expressar questões

aparentes no meio científico (Okubo, 2002).

A literatura dispõe de diversas formas de análise bibliométrica. Análise de citação

considera os padrões de referência entre artigos ou patentes para detectar contribuições

seminais e padrões de interação, e até mesmo a previsão de áreas de investigação emergentes.

A investigação de artigos científicos auxilia na exploração, organização e análise de dados

históricos, os quais permitem identificar padrões ocultos importantes na tomada de decisão. Os

métodos bibliométricos são empregados na investigação de produção acadêmica de assuntos

para, através da compreensão do passado daquele processo, prever melhor o futuro (Daim et

al, 2006).

A análise de publicações científicas propõe que artigos são indicadores de atividade de

pesquisa e a análise de patentes relaciona atividades de patenteamento aos perfis de

tendências de interesses da empresa (Watts e Porter, 1997). A pesquisa bibliométrica deste

trabalho empregou as duas propostas de biliometria e são descritas de forma simplificada.

2.5.1 Bibliometria – artigo científico

A produção científica medida pelo número de publicações de artigos pode considerar

também outros tipos de publicação científica, como livros, jornais, revisões, reportagens, etc.

Este trabalho utilizou artigos científicos e revisões relativos a conversão térmica de biomassa,

como é apresentado no capítulo de metodologia.

A bibliometria obtida por produção científica fornece uma medida inicial, simplificada e

aproximada do despendimento de trabalho de cientistas, de um laboratório, de uma

universidade, de um time de P&D nacional ou internacional, um país. O número de artigos e as

informações extraídas desse conjunto, por si só, constitui um indicador bibliométrico

18

aproximado. Por conta disso, a geração de medidas mais significativas em relação ao impacto

dessas pesquisas para a área do assunto precisa considerar outras bases de dados (Okubo,

1997), como dados bibliométricos de patentes. Dessa maneira, as tendências da dinâmica de

pesquisa de um país, por exemplo, podem ser monitorados e acompanhados ao longo do tempo

(Okubo, 1997).

2.5.2 Bibliometria – patente

Antes de apresentar características do método de bibliometria utilizando patentes, é

necessário descrever brevemente o significado de um documento de patente. Este tipo de

documento constitui uma forma inicial de proteção leal para invenções criadas por empresas ou

indivíduos, e por isso pode ser considerada um indicador de inventividade (Okubo, 1997).

Segundo a descrição do conhecido escritório de patentes USPTO – The United States Patent and

Trademark Office (escritório de patentes e marcas registradas dos Estados Unidos) – a patente é

um documento outorgado pelo Estado, que oferece ao inventor direitos de monopólio para o

uso de uma invenção técnica, excluindo terceiros de produzir, utilizar, comercializar no país

onde a patente foi depositada ou importar para o país a invenção sem o consentimento do

proprietário durante um período limitado. Em troca, a invenção se torna pública quando a

patente é concedida. A patente deve ter novidade, ter aplicação industrial e envolver atividade

inventiva. Cada patente é válida individualmente em cada país e em geral é concedida por um

escritório de patentes nacional ou regional.

Smith (2005) afirma que o sistema de patentes reúne informações detalhadas sobre as

novas tecnologias em um registro público de longo período de atividade inventiva, que é

relativamente contínuo. Esta característica permite que dados de patente sejam um indicador

de inovação, a mencionar:

• A concessão de patentes acontece para aquelas invenções passíveis de

comercialização, ou seja, de se tornarem potencialmente uma inovação;

• O sistema de patentes registra sistematicamente as informações importantes sobre

essas invenções;

19

• As tecnologias patenteadas são agrupadas pelo sistema de patentes em um sistema de

classificação detalhado;

• O sistema de patentes é uma instituição antiga, que disponibiliza uma longa história da

tecnologia, o que permite utilizar patentes para explorar questões quantitativas durante

períodos longos;

• Os dados estão disponíveis gratuitamente nos sites de escritório de patente.

O uso de patentes como indicadores de produção tecnológica é, segundo o Manual de

Frascati (2002), o, provavelmente, mais frequentemente utilizado. Os estudos bibliométricos

que fazem uso de patentes proporcionam uma medida de produção da atividade inovadora de

um país: as invenções. É largamente reconhecido que existe uma estreita relação entre

patentes e o potencial da inovação, já que, comparado com artigos científicos, essas estão

geralmente mais próximas de uma realidade comercial. Sendo assim, a pesquisa científica utiliza

cada vez mais dados de patentes para obter informações sobre os determinantes e o impacto

da atividade inovadora. Além disso, esses dados permitem identificar as mudanças na estrutura

e na evolução da atividade inventiva dos países, indústrias, empresas e tecnologias, por meio de

mapeamento das mudanças na dependência tecnológica, sua difusão e inserção (Manual de

Frascati, 2002).

O monitoramento de tecnologias através de patentes oferece elementos para a medição

de resultados de recursos investidos em atividades de pesquisa e desenvolvimento e, mais

especificamente, as tendências de mudanças tecnológicas com o tempo. Estatísticas geradas a

partir de patentes são cada vez mais utilizadas como indicadores de ciência e tecnologia, e

documentos de patentes contém um número de elementos que podem ser usados na análise

bibliométrica (Okubo, 1997).

Entretanto, a evolução de uma tecnologia contextualizada em publicações e em

documentos de patentes não é completa, já que a contagem das informações disponíveis em

bases de dados não distingue a qualidade do trabalho, e diversos trabalhos de inovação podem

não ser publicados ou patenteados. O sistema de patentes pode ou não indicar uma inovação,

como ilustrado na Figura 2.3, porém denota uma importante ferramenta de previsão de

caminhos de uma tecnologia. A riqueza de informação existente em artigos científicos e

20

documentos de patentes pode oferecer medidas importantes quando avaliadas com outros

dados do contexto (Watts e Porter, 1997).

Figura 2.1. Figura generalizada da relação entre patentes, invenções e inovações. Adaptado de Basberg (1987).

2.6 Considerações finais do capítulo

O conhecimento gerado e publicado em artigos e patentes ao longo do tempo pode

gerar informações importantes para o conhecimento da tecnologia tal qual essa evolui. Até uma

invenção tornar-se uma inovação, diversos processos são percorridos e a análise de uma fração

dessas etapas – com artigos científicos e patentes – tem o papel de moldar o perfil e a

potencialidade da técnica de seguir até o mercado.

O estudo bibliométrico das técnicas de conversão de materiais lignocelulósicos confere

indicações de tendências na tecnologia. Para este estudo, a importância da bibliometria se dá

na possibilidade de comparação das duas tecnologias e seus avanços, tanto no ramo da

pesquisa quanto numa margem mais comercial ao serem analisadas as patentes. O uso dessas

técnicas é descrito no capítulo de metodologia.

Invenções

PatenteInovações

Invenções patenteadas em desuso

Invenções patenteadas

utilizadas

Invenções em desuso

Invenções utilizadas

21

CAPÍTULO 3 MATERIAIS LIGNOCELULÓSICOS

A busca por alternativas sustentáveis de produção impulsiona diversas indústrias, dentre

elas a química, em direção ao uso de matérias primas de origem renovável. Fontes renováveis

tais quais as biomassas lignocelulósicas, tão abundantes inclusive como resíduos, são potenciais

matérias primas para produtos valiosos. Os conceitos de biomassa, composição e uso na

indústria química são apresentados neste capítulo. Apresenta-se também a importância do

conceito de biorrefinaria para uma indústria sustentável economicamente viável.

3.1. Biomassa

O National Renewable Energy Laboratory (NREL – www.nrel.gov) define biomassa como

sendo qualquer material orgânico derivado de planta, renovável, heterogêneo e quimicamente

complexo. A biomassa é definida como matéria natural ou derivada desta podendo ser espécies

de madeira e herbáceas, alguns resíduos industriais e da agricultura, bagaço e palha de plantas,

algas, dentre muitos outros.

O uso de biomassa de forma comercial ocorre em diversos ramos da indústria química,

como carvão vegetal, etanol, biodiesel. De fato, materiais lignocelulósicos se destacam

principalmente na aplicação como biocombustíveis apesar da diversidade de produtos possíveis

de ser obtidos a partir de outros tipos de biomassa. Entretanto, um número pequeno desses

produtos é economicamente viável. A Figura 3.1 é uma representação gráfica de 30 building

blocks mais promissores na indústria química utilizando renováveis segundo Werpy e Petersen

(ed, 2004).

3.2. Composição da matéria lignocelulósica

A capacidade de obtenção da diversidade de produtos como os encontrados na Figura

3.1 advém da diversidade de moléculas que compõem a biomassa. Da matéria lignocelulósica

pode-se obter principalmente três componentes - celulose, hemicelulose e lignina. A Figura 3.2

representa esquematicamente estas frações e como elas se apresentam no material vegetal.

22

Figura 3.1 Diagrama de blocos para alguns produtos bioderivados. Adaptado de Werpy e Petersen (ed, 2004).

Celulose

Óleo

Lignina

Matéria prima de biomassa

Produtos finais/usos Intermediários Produtos secundários

Building blocks

Produtos intermediários

Amido

Industrial

Inibidores de corrosão, tratamento de água, lubrificantes. Transporte Combustíveis, assentos de carro, amortecedores, inibidores de corrosão

Têxteis Fibras, tecidos, revestimentos de tecido, espuma, lycra, elastano.

Alimentação segura Embalagens de alimentos, conservantes, fertilizantes, pesticidas, eletrodomésticos.

Meio ambiente Produtos químicos para água, floculantes, quelantes, produtos de limpeza

Comunicação Revestimentos de fibras óticas, displays de cristal líquido, corantes.

Habitação Tintas, resinas, cimentos, vernizes, retardadores de chama, adesivos. carpetes.

Recreação Calçados, equipamento de proteção, câmera, peças de bicicletas e pneus, barcos. Saúde e Higiene Cosméticos, loção bronzeadora, produtos médico-dentários.

Syngas bio derivado

Açúcares Glicose Frutose Xilose

Arabinose Lactose

Sacarose Amido

SG

C2

C3

C4

C5

C6

Ar

H2

Líquidos Fischer-Tropsch

Metanol

Glicerol

Ácido malônico

Lático

Ácido succínio

Ácido aspartico

Ácido málico

Ácido itacônico

Ácido glutâmico

Furfural

Lisina

Sorbitol

Ácido glucônico

Ácido ferúlico

Ácido gálico

Síntese de amônia, produtos de hidrogenação

α-olefinas, ceras, gasolina, diesel

Ésteres metílicos, Éterdimetil, gasolina

Síntese de amônia, produtos de hidrogenação

olefinas, ceras, gasolina

Ésteres metílicos, éterdimetil, gasolina

THF, esteres, diamina

Derivados de amino succinato

Derivados de hidroxi succinato

Derivados metil succinato, ácido insaturado

Diversos derivados furano

Caprolactama, 1,5-diaminopentano

Glicóis, glicerol, lactato

Gluconolactona, ésteres

Fenólicos, aditivos alimentares

Unidade de construção de reagentes

Solventes verdes

Solventes

Especialidades de Intermediários químicos

Aminas

Emulsificantes

Resinas, agentes de reticulação

Polipirrolidona

Poliésteres

Nylons (poliamidas)

Poliacrinamidas

Poliacrilato

Polissacarídeos

Poliuretanos

Policarbonatos

Resinas de fenol-formaldeído

Dióis de amino, ácido glutárico

Hemicelulose

23

Uma célula vegetal é estruturada de forma a garantir a sobrevivência da planta. As

frações majoritárias observadas na Figura 3.2 (lignina, hemicelulose e celulose) são responsáveis

por 97-99% de toda massa seca dos materiais. A fração celulósica encontra-se envolvida pela

lignina, cuja função é aumentar a resistência da estrutura a ataques químicos e enzimáticos. A

hemicelulose atua como um elo químico entre a celulose e a lignina. Estas características

resultam em um material flexível, porém altamente resistentes a espécies químicas (Achyuthan

et al, 2010). A porcentagem das três unidades monoméricas varia entre as espécies vegetais,

órgãos e mesmo camada de mesma parede celular. Possivelmente esta diferença acontece de

acordo com a espécie e idade da planta (Doherty et al, 2011). Para melhor compreender como

tantos produtos podem ser obtidos da biomassa, as características e composição química da

hemicelulose, lignina e celulose estão apresentadas a seguir.

Figura 3.2 Ilustração da parece celular vegetal. Na parte inferior da figura é possível observar-se como lignina, celulose e hemicelulose se apresentam interligadas. Adaptado de Murphy e McCarthy (2005).

3.2.1. Hemicelulose

A hemicelulose está ligada à superfície da celulose e esta junção entre as

microfibrilas de celulose e hemiceluloses ocorre de tal modo a resultar em uma rede coesa ou

atuar como um revestimento deslizante para impedir o contato direto entre as microfibrilas. A

junção com a lignina ocorre por ligação cruzada que, porque a composição da hemicelulose e da

Feixe de celulose

Hemicelulose

Lignina

Celulose

24

lignina é diferente em cada planta, esse tipo de ligação varia de planta para planta e de tecido

para tecido (Jeffries, 1994).

O termo deve aparecer no plural, dada à existência de diversos polissacarídeos que as

compõem (Taiz & Zeiger, 2004) com sequências repetidas de estruturas complexas, mas bem

definidas (Szengyel, 2000). Esses polímeros, que a estruturam, se apresentam de forma

ramificada e heterogênea, principalmente de pentoses (xilose, arabinose), hexoses (manose,

glicose, galactose) e açúcares acetilados. A Figura 3.3 ilustra as unidades da hemicelulose. A

massa molar de hemicelulose é menor que das moléculas de celulose e as ramificações

formadas com cadeias laterais são mais curtas, fato pelo qual aquela é mais facilmente

hidrolisada comparando com lignina e celulose (Agbor, 2011).

Figura 3.3 Ilustração esquemática de unidades de açúcar da hemicelulose (Balat et al, 2009a).

As variedades vegetais contêm hemiceluloses de diferentes composições, por exemplo,

palhas e gramíneas são compostas principalmente de xilana, enquanto que gimnospermas

(softwood) apresentam hemicelulose principalmente de glucomanana.

25

3.2.2. Lignina

A complexidade da lignina, o grau de polimerização e sua diversidade dependem

de sua origem vegetal, sendo mesmo bem pouco provável a existência de duas macromoléculas

de lignina idênticas, com a mesma sequência primária de unidades fenólicas (Achyuthan et al,

2010). Sua estrutura é formada por grupos de fenil propanóides altamente ramificados que

apresentam funções primárias e secundárias. Entretanto, a estrutura exata da lignina não é

conhecida por conta da dificuldade de extração do componente, já que esta se encontra ligada

covalentemente à celulose e outros polissacarídeos.

Três principais álcoois de fenilpropanóides formam a lignina, sendo eles cumaril,

coniferil, e sinapil, todos estes sintetizados da fenilalanina através de vários derivados do ácido

cinâmico, representados na Figura 3.4 . Na Figura 3.5 é mostrado a representação hipotética de

uma molécula de lignina.

Figura 3.4 Algumas espécies monoméricas da lignina. (a) álcool cumaril (4-hidroxil fenil), (b) álcool coniferil (guaiacil, G), (c) álcool sinafil (siringil, S). (Doherty et al, 2011)

A característica de rigidez da lignina confere aos materiais lignocelulósicos força no caule

e no tecido vascular, permitindo o crescimento ascendente e possibilitando o transporte de

água e de sais minerais que são conduzidos através do xilema sob pressão negativa, sem haver

colapso do tecido. A capacidade de sintetizar lignina foi uma adaptação importante da planta,

que permitiu que estas se proliferassem pelo ambiente terrestre (Taiz & Zeiger, 2004). Esta alta

resistência pode ser uma característica essencial para a sobrevivência da planta. A resistência

física restringe seu consumo por herbívoros e sua estabilidade química faz com que seja

26

relativamente indigerível por estes animais (Taiz & Zeiger, 2004). Por outro lado, a questão

tecnológica da característica recalcitrante da lignina resulta em desafios para sua remoção e

aplicação. A presença da lignina reduz a degradabilidade das substâncias a que ela é ligada –

celulose e hemicelulose. Há diversos estudos dedicados a remover essa fração e aplicá-la

comercialmente, como vanilina sintética, pesticidas, emulsificantes (Doherty et al, 2011). Esta

fração pode ser encontrada como material para combustão e fornecimento de energia.

Contudo, destinos mais nobres são possíveis, pois a obtenção de produtos a partir dos

compostos fenólicos e aromáticos da macromolécula pode representar a diminuição da

dependência do petróleo para a produção de importantes produtos químicos.

Figura 3.5 Estrutura parcial hipotética da molécula de lignina de faia européia (Fagus sylvatica), uma espécie de árvore. As unidades de fenilpropanóide não são ligadas entre si de forma repetida (Taiz & Zeiger, 2004).

27

3.2.3. Celulose

É o polímero natural mais abundante da Terra, sendo o principal constituinte da planta e

também presente em algumas bactérias, fungos, algas, e mesmo em animais (O'Sullivan, 1996).

A celulose é formada por unidades de D-glicose, o que a torna substrato para diversos processos

metabólicos de micro-organismos com potencial de transformar esta molécula em diversos

outros produtos por bioprocessos.

Um inúmero conjunto de moléculas unidas por ligações β-1,4 forma uma estrutura

cristalina, altamente ordenada em formato planar que impede que a água permaneça na

estrutura, dificultando sua solubilização neste meio. Sua estrutura é relativamente rígida por

conta desta disposição planar das moléculas. São microfibrilas de comprimento indeterminado,

variando em tamanho e grau de ordem nas diferentes espécies. Em algas, a largura pode ser de

cerca de 30nm e mais cristalinas que as de plantas terrestres, com 5 a 12 nm (Taiz & Zeiger,

2004).

Na Figura 3.6 é possível visualizar as microfibrilas da celulose. Os glucanos dessas

microfibrilas que se encontram adjacentes entre si formam ligação não-covalente, conferindo à

estrutura propriedade especial. A celulose presente na parede celular é outro fator associado à

insolubilidade em água, estabilidade química e pouca propensão a ataque químico e enzimático.

Muito se estuda sobre a celulose, mas a estrutura molecular exata ainda não é

conhecida, acreditando-se existirem regiões amorfas presentes em meio a domínios altamente

cristalinos. Segundo Hermans e Weidinger (1949) a maioria das fibras de celulose nativas

apresentam 70% de cristalinidade, enquanto que a outra fração é amorfa.

3.3. Resíduos agroindustriais

O conhecimento da estrutura química do material lignocelulósico permite

compreender sua potencialidade como substituto de parte da indústria petroquímica. Além da

existência de variedade de grupos químicos, a biomassa utilizada pode advir de resíduos

agroindustriais, sendo assim uma matéria prima de baixo custo.

28

A exemplo das produções agrícolas, há tempos se busca destinação de forma a se obter

produto final de maior valor agregado. Em alguns destes cultivos, parte dos resíduos é

posteriormente utilizado na própria plantação a fim de repor alguns nutrientes do solo, diminuir

do risco de erosão, aumentar a retenção de água e produtividade da lavoura. Em alguns outros

cultivos, o resíduo de biomassa é queimado para a geração de energia. Neste caso existe baixo

aproveitamento energético frente ao potencial calorífico de alguns destes resíduos.

Figura 3.6 Estrutura da microfibrila de celulose. Adaptado de Taiz e Zeiger, 2004.

Parede Celular

Hemiceluloses ligadas à superfície e aprisionadas

dentro da microfibrila

Microfibrila de celulose

Regiões amorfas

Domínios cristalinos

Cadeias de 1-4 β glicana

Ligação glicosídica β, 1-4

Unidade repetidora da glicose (celobiose)

29

No setor da agricultura, a produção de 13 culturas, dentre elas, soja, milho, cana de

açúcar, feijão, arroz e trigo, dados de 2012 estimaram que em 2009 gerou-se o total de 291

milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano nas agroindústrias associadas a essas culturas.

Aquela que mais gerou resíduos no levantamento foi a cana de açúcar, gerando 201 milhões de

toneladas (torta de filtro e bagaço) (Comunicados do Inea, 2012).

O uso racional destes resíduos torna-se especialmente atrativo considerando-se a

constante crítica ao uso biomassa que poderia ser destinada à alimentação, além de representar

uma redução de problemas ambientais que podem advir destes. Outra vantagem da utilização

do material lignocelulósico é a possibilidade de ser mantida a atividade econômica nas

agroindústrias no período de entressafra, existente em praticamente todas as produções

agrícolas geradoras de resíduo lignocelulósico em alta quantidade, como cana-de-açúcar, milho,

soja, algodão.

Aqueles resíduos remanescentes da indústria agrícola, principalmente, não têm o custo

da colheita, extração ou produção que outras matérias-primas teriam, diminuindo o custo de

obtenção. Entretanto, estes gastos são substituídos pelo transporte e pelo processamento do

material, os quais variam, dependendo do sistema de produção utilizado. A minimização do

custo com o transporte destes materiais é uma das vantagens do uso de processos de

transformação da biomassa na própria agroindústria. A fim de elucidar esta questão, é explicado

o conceito de biorrefinaria, suas finalidades e por que se faz necessário o uso desta proposta

para um sistema viável.

3.4. Conceito de biorrefinaria

Usinas de cana-de-açúcar fazem uso dos resíduos de produção através da queima

para gerar eletricidade. Contudo, a combustão da biomassa, que pode ser transformada em

calor, energia mecânica e eletricidade, não é o método mais eficiente de aproveitar a energia

química da biomassa. As eficiências líquidas de conversão obtidas variam de 20 a 40%, e os

maiores valores são referência de combustão de carvão vegetal (Caputo et al, 2005).

Refinaria é um termo usado para definir, dentre outros, o tipo de usina onde é realizada

a transformação de petróleo bruto em produtos refinados e derivados, podendo ser referido

30

também a onde o açúcar cristal é refinado (Houiass & Villar, 2001). O termo “biorrefinaria”

surgiu em 2002, na Farm Bill3, definindo as instalações, equipamentos e processos que

transformam a biomassa em bio derivados, como combustíveis e produtos químicos (Bastos,

2007). Assim, a biorrefinaria é uma forma análoga à refinaria de petróleo – representada na

Figura 3.7 – em relação à fabricação de múltiplos produtos, como combustível, e também, em

menor volume, de produtos químicos de alto valor unitário. Dessa forma, há maior

aproveitamento dos componentes do material lignocelulósico e seus intermediários, e maior

valor agregado para a matéria-prima de biomassa. Associado a isso, pode ser gerada energia

para uso na própria usina ou para comercialização. Os produtos de menor volume, porém com

maior retorno financeiro, podem aumentar a rentabilidade, enquanto que o combustível pode

contribuir com as necessidades energéticas locais nacionais, assim como reduzir o custo da

energia e evitar as emissões dos gases estufa (NREL, 2009). Em outras palavras, o conceito de

biorrefinaria abrange diversas tecnologias capazes de processar, converter e separar as fontes

renováveis em building blocks – carboidratos, proteínas, triglicerídeos, etc.

Figura 3.7 Esquema comparativo entre a refinaria de petróleo e uma biorrefinaria. Adaptado de Roquette, 2006 (apud Bastos, 2007).

3 Nome popular dado à legislação dos Estados Unidos, geralmente renovada a cada quatro anos, que

possui como objetivo consolidar em um único documento os programas de política agrícola do Departamento de Agricultura dos EUA.

Campos de petróleo

Refino e craqueamento

Transformação química Formulação

Campos agrícolas

Produção de amido

Transformação biotecnológica

Transformação química

Formulação

BIORREFINARIA

Glicose Building blocks

Produtos finais Milho/cana

Papel líder da química

Papel líder da biotecnologia

Papel líder da compartilhado entre química e biotecnologia

REFINARIA DE PETRÓLEO

Nafta Building blocks Produtos finais Petróleo cru

31

Este conceito veio abrir a possibilidade de que tecnologias pesquisadas até então em

laboratório pudessem ser utilizadas comercialmente. Isto porque para que a substituição,

mesmo que parcial, do petróleo por biomassa ocorra, modificações importantes na indústria do

futuro devem ser consideradas, e uma nova sinergia de ciências biológicas, físicas, químicas e

técnicas deverá ser desenvolvida (Kamm et al, 2006 - apud Cherubini, 2010).

A Figura 3.8 8 representa um esquema de biorrefinaria aplicado a processos

bioquímicos e termoquímicos, incluindo gaseificação e pirólise.

Figura 3.8 Conceito de biorrefinaria baseado em processamento biológico e térmico integrados para obtenção de produtos químicos e combustíveis. Adaptado de Bridgwater (2012).

3.5. Considerações finais do capítulo

A apresentação da composição da biomassa expõe o potencial de obtenção de diversos

produtos. A disponibilidade de moléculas cujas ligações químicas armazenam energia com alto

poder calorífico, como é a lignina, e moléculas com variedades para geração de produtos

químicos permite compreender-se o interesse da transformação de biomassa em diversos

produtos químicos, assim como considerar os esforços sobre as transformações desses

materiais lignocelulósicos.

A forma como a biomassa é resistente à tensão cisalhante devido principalmente à

lignina e ao teor de água é um ponto importante principalmente para a compreensão das

Biomassa

Energia renovável excedente

Fermentação

Pirólise

Gaseificação

Eletrólise

Gaseificação

Destilação

Hidroproces-samento

Síntese

Rejeito (água)

Etanol

Combustível, produtos químicos

Combustível, produtos químicos

Combustível, produtos químicos

Lignina

H2

32

dificuldades de padronização dos produtos primários da gaseificação e pirólise. A variação da

composição da biomassa, dependente da espécie do material vegetal, é outro desafio para a

aplicação comercial das técnicas, já que a variação da matéria prima dificulta a padronização

dos produtos primários obtidos na gaseificação e pirólise. Entretanto, os avanços de técnicas de

termoquímicas de conversão de biomassa, como as apresentadas no capítulo seguinte, sugerem

que o material lignocelulósico tem potencial de transformação em energia e produtos químicos

valiosos para a indústria química.

33

CAPÍTULO 4 CONVERSÃO TERMOQUÍMICA DE MATERIAIS LIGNOCELULÓSICOS

Materiais lignocelulósicos podem ser convertidos por processo termoquímico ou

bioquímico para a obtenção de combustíveis, energia ou produtos químicos. Algumas

diferenças básicas entre as duas propostas de transformação é que a primeira, em geral, faz o

uso de altas temperaturas e catalisadores químicos na transformação de polímeros da planta

daqueles produtos, enquanto que a conversão bioquímica utiliza micro-organismos e enzimas

para o mesmo fim. Algumas rotas dos processos encontram-se simplificadamente na Figura 4.1 .

Figura 4.1 Algumas das possíveis rotas de conversão de biomassa para obtenção de combustíveis e produtos químicos. Adaptado de Black et al (2011).

Ambas as tecnologias fazem parte da humanidade há milênios, como exemplos o

cozimento de alimento, o uso de fogo para aquecimento – processos termoquímicos – e a

fermentação de frutas, mel grãos e legumes – processo bioquímico. Apesar de diversos registros

de evolução e processos em diferentes graus de desenvolvimento, nenhuma das tecnologias

pode ser considerada madura. Os processos termoquímicos com matéria prima fóssil são

dominados comercialmente e o uso desses processos a partir fonte renovável ainda exibe

Gaseificação

Conversão bioquímica Conversão termoquímica

Biomassa

Pirólise

Gás de síntese Bio-óleo

Hidrólise ácida

Hidrólise enzimática

Lignina

Hexose Pentose

Bioetanol Biobutanol Produtos químicos

Produtos químicos de base

Hidrocarbonetos

Fischer-Tropsch

Fermentação

34

incertezas. Entretanto, a evolução das transformações bioquímicas vem tornando real a

viabilidade da conversão de renováveis por conversão termoquímica (Brown, 2011).

Buscando a melhor identificar as diferenças entre conversão termoquímica e bioquímica,

a Tabela 4.1 apresenta algumas de suas características. Apesar de serem apresentados como

produtos apenas os biocombustíveis, as condições de operação para obter energia e produtos

químicos se assemelham, já que, obtidos os produtos primários, as diferenças estão nos

processamentos destes.

Tabela 4.1 Comparação processamentos biológicos e termoquímico visando obter combustíveis a partir de biomassa lignocelulósica. Adaptado de Huber et al, 2006.

Processamento bioquímico Processamento termoquímico

Produtos Álcoois Diversos combustíveis

Condições de reação Menos de 70°C, 1 atm 100-1200°C, 1-250 atm

Tempo de residência 2-5 dias 0,01s – 1h

Seletividade do

catalisador

Pode ser bastante seletivo

(acima de 95%)

Depende da reação

Custo do catalisador US$ 0,5/galão de etanol (custo de enzima de celulase) US$ 0,4/galão de etanol de milho

US$ 0,1/galão de gasolina (custo na indústria de petróleo madura)

Esterilização Esterilizar todas as alimentações Não necessita de esterilização

Possibilidade de reciclagem do catalisador

Difícil Possível com catalisadores sólidos

Tamanho da planta (entrada de biomassa)

2000-5000 tons/dia 100-2000 tons/dia

Este trabalho buscou analisar as tecnologias de conversão termoquímica, delimitando os

processos a serem estudados. As condições de processamento das rotas termoquímicas, que

serão apresentadas neste capítulo, resultam em combustível, energia e produtos químicos. O

processamento de biomassa por métodos termoquímicos têm o potencial de oferecer produtos

alternativos de forma rápida e eficiente quando comparada a conversão bioquímica. Além disso,

existe maior flexibilidade de uso de materiais lignocelulósicos, já que p processo não é

específico como o bioquímico (Brown, 2011). Esta possibilidade de converter os diversos tipos

35

de biomassa existentes em altas taxas de conversão e gerar uma extensa gama de produtos

indica o potencial do processo de conversão termoquímica e a importância de monitorar a

tecnologia.

4.1 Processamento termoquímico de biomassa

Podem ser chamadas de conversão termoquímica os processos de combustão,

gaseificação, pirólise, oxidação parcial, hidrogenação. Estes processos convertem material

carbonáceo em combustíveis ou produtos químicos (Basu, 2010) e o domínio destes processos

em escala comercial utiliza matéria prima fóssil por mais de um século (Brown, 2011). Dos

produtos obtidos nos processos citados, a combustão, que acontece em alta temperatura com

excesso de ar, gera um gás que se caracteriza com baixo poder calorífico, enquanto que com os

gases da gaseificação acontece o inverso. O processo de gaseificação empacota energia nas

ligações químicas do gás produzido, ao contrário da combustão, cujas condições de operação

promovem a quebra estas ligações para liberar energia. Já os produtos primários da pirólise são

gases e líquidos, este conhecido como bio-óleo. Hidrogenação é uma etapa que envolve a

adição de hidrogênio ao carbono para produzir combustível com maior razão

hidrogênio/carbono (Basu, 2010). A 0apresenta estas possibilidades de conversão térmica.

Figura 4.2 Opções de conversão termoquímica de biomassa para combustíveis, energia e produtos químicos. Adaptado de Brown (2011).

Processo termoquímico

Combustão Gaseificação Pirólise Hidrogenação

Energia elétrica

Síntese catalítica

Fermentação de syngas

Reforma de vapor

Hidroprocessa-mento

Energia elétrica

Energia elétrica

36

Gaseificação e pirólise de biomassa geram alguns produtos viáveis em escala de

bancada, outros aparecem apenas como conceitos, e hoje poucos são viáveis em escalas piloto

e industrial (Venderbosch e Prins, 2011). Enquanto o processo de gaseificação acontece com o

uso de um agente externo conhecido como meio de gaseificação, o processo de pirólise é um

processo com nenhum agente oxidante (Basu, 2010). As duas diferentes técnicas termoquímicas

promovem a conversão de biomassa em produtos primários e estes são posteriormente

convertidos em diversos graus até o produto final (Balat et al, 2009a). Os conceitos e os

problemas ainda existentes de cada técnica para o uso com biomassa são apresentados a

seguir.

4.1.1 Gaseificação

O processo de gaseificação está presente na história desde os tempos em que carvão

mineral era utilizado para obter-se gás que permitia a iluminação de casas e ruas, e

aquecimento, entre 1850 a 1940. Foi bastante importante para a iluminação durante a

revolução industrial, nas longas horas de trabalho nas fábricas. A invenção da lâmpada elétrica

causou o desuso desta tecnologia na época. Mais tarde, no período de 1940 a 1975, a

gaseificação foi aplicada para obtenção de combustível sintético, em motores de combustão

interna e na síntese de óleos, e outros produtos químicos. Na Segunda Guerra Mundial, o

bombardeio de refinarias de petróleo dos nazistas e das rotas de fornecimento forçou a

Alemanha a sintetizar óleos combustíveis por processos de Fischer-Tropsch e Bergius.

Combustíveis de aviação e produtos químicos também eram produzidos com carvão. No

transporte de carros e caminhões, diversos destes possuíam gaseificadores adaptados nos

automóveis que funcionavam com carvão ou biomassa. Neste segundo período, o fim da

segunda grande guerra e a abundância de petróleo no Oriente Médio interrompeu a aplicação

de gaseificação de forma ampla. Já em tempos mais atuais, na primeira crise do petróleo, nos

anos 1970, a gaseificação despontou ao lado de diversas pesquisas de fonte de energia

alternativas às fontes fósseis. Adicionado aos problemas econômicos, os interesses de

preservação ambiental buscam métodos mais sustentáveis e a tecnologia de gaseificação voltou

37

a ser amplamente estudada, agora mais direcionada ao uso de biomassa como matéria-prima

(Basu, 2010; Kirkels & Verbong, 2010).

4.1.1.1 Caracterização da gaseificação

Gaseificação é definida como a reação de materiais orgânicos, sólido ou líquido, tais

como carvão, biomassa ou óleo, com ar, oxigênio e/ou vapor d’água. Esta atmosfera redutora

deve se apresentar de tal forma que o oxigênio presente esteja em quantidades

subestequiométricas comparada com a quantidade necessária para obter-se a combustão

completa, que resultaria em dióxido de carbono e água (Bain & Broer, 2011; Huber, 2006).

Dadas as características da matéria prima orgânica, este processo é complexo,

envolvendo diversas reações termoquímicas elementares. A decomposição térmica resulta em

alta proporção gasosa composta de CO, CO2, H2O, H2, N2, CH4 e outros hidrocarbonetos em

diferentes proporções, baixas quantidades de carvão – produtos sólidos –, cinzas e compostos

condensáveis – alcatrão e óleos (Balat et al, 2009b; Bain & Broer et al, 2011; Huber, 2006; Puig-

Arnavat et al, 2010). A água em forma de vapor pode ser adicionada para promover aumento de

produção de hidrogênio (Basu, 2010). Esta mistura gasosa obtida é o gás produzido que pode

ser confundido com o termo gás de síntese. Entretanto, gás de síntese, ou syngas, é a mistura

predominantemente de CO e H2 obtida da gaseificação de matéria prima carbonácea com

oxigênio e vapor de água, seguido em alguns casos de separação gasosa para a remoção de CO2

(Bain & Broer, 2011). A composição gasosa obtida da transformação de biomassa é fortemente

dependente das condições de gaseificação, do agente de gaseificação e da composição da

matéria-prima utilizada (Balat et al, 2009b).

A estratégia de transformar a biomassa em gás pode ser justificada pela possibilidade de

padronização da qualidade do gás produzido, o que considerando a complexidade dos materiais

lignocelulósicos pode permitir o uso de diferentes fontes de matérias primas. Algumas de suas

aplicações são em motores e turbinas a gás, ou como base química para produção de produtos

químicos ou combustíveis (Puig-Arnavat et al, 2010).

O processo se inicia com a decomposição térmica das frações do material

lignocelulósico, celulose, hemicelulose e lignina, com produção de voláteis e carvão. Em

38

seguida, ocorre a gaseificação do carvão e algumas reações de equilíbrio. A gaseificação do

carvão é a etapa limitante na taxa de reação na produção de gás (Balat, 2009b).

De fato, as reações envolvidas no processo total de gaseificação são bastante complexas

e podem acontecer em uma sequência rápida de aproximadamente 1s se o tamanho das

partículas for suficientemente pequeno para ocorrer rápida transferência de calor (Bain &

Broer, 2011). A Figura 4.3 apresenta como acontecem as etapas físico-químicas na partícula da

biomassa. Estas etapas são, então, descritas em termos gerais, baseadas nas descrições de Bain

& Broer (2011) e de Puig-Arnavat et al (2010):

Figura 4.3 O processo de gaseificação. Adaptado de Brown (2003) apud Bain & Broer (2011).

Aquecimento e secagem: Nesta etapa o teor de umidade é diminuído de um teor de 20-

50% até menos de 5% à temperatura variando de 100-300°C. O vapor gerado pelo

aquecimento pode reagir com a biomassa e com voláteis se as condições de

temperatura e tempo de operação forem hábeis para tais reações acontecerem. Apesar

de ser possível promover gaseificação com material com alto teor de água, a energia

química do gás gerado seria despendida na remoção da umidade durante o processo.

Por isso esta etapa é recomendada antes de alimentar a biomassa no equipamento de

Aquecimento e secagem

Pirólise Reações gás-sólido

Reações gasosas

Calor

Frente térmica penetra a partícula

Aumento de porosidade

Gases voláteis: CO, CO2, H2, H2O,

hidrocarbonetos leves, alcatrão

Reações endotérmicas

Reações exotérmicas

39

gaseificação. A transferência de calor no processo denota a necessidade de partículas

pequenas a fim de transferir calor ao centro da partícula em menos tempo.

Desvolatilização (pirólise): Esta etapa acontece na ausência de agente oxidante no

processo, numa decomposição térmica rápida, posteriormente à atuação de oxigênio, ar

e/ou vapor de água sobre a biomassa. As reações podem dar início em temperatura de

225°C e o processo continua progressivamente até a temperatura de 400-500°C. Nesta

etapa, a matéria volátil da biomassa diminui, produzindo água (originada da

decomposição térmica da biomassa), gases não condensáveis depois do resfriamento -

CO, CO2, H2 e hidrocarbonetos leves, principalmente metano – e vapores de alcatrão, os

quais são condensados após o resfriamento. Estes vapores são anidros de açúcares e

outros compostos altamente oxigenados gerados da decomposição da celulose e

hemicelulose, e monômeros fenólicos e oligômeros da despolimerização da lignina. Os

compostos gerados prosseguem a reagir estando expostos a altas temperaturas. Nas

condições de pirólise pode acontecer quebra dos compostos em partes menores ou

haver condensação em compostos maiores, como hidrocarbonetos poliaromáticos, que

podem constituir a maior parte do alcatrão condensado. A conversão gasosa desta etapa

pode chegar a 80% em função do tipo de biomassa e das condições do processo. A

fração sólida resultante tem forma porosa com resíduos de carbono e compostos

inorgânicos (cinzas) que não são volatilizados a temperaturas de gaseificação, e é

conhecido como carvão4.

Reações gás-sólido: Sendo o agente oxidante admitido no gaseificador, os resíduos de

carvão reagem com este agente e com os gases liberados durante a pirólise. As

principais reações entre sólido e gás são apresentadas a seguir.

Reação carbono-oxigênio C + ½ O2 ↔ CO ΔHR = -110,5 MJ kmol-1 Reação Boudouard C + CO2 ↔ 2 CO ΔHR = 172,4 MJ kmol-1 Reação carbono-água C + H2O ↔ H2 + CO ΔHR = 131,3 MJ kmol-1 Reação de hidrogenação C + 2 H2 ↔ CH4 ΔHR = -74,8 MJ kmol-1

4 Ao longo do trabalho o termo carvão será referido ao carvão vegetal apenas, salvo quando especificado.

40

As reações entre carbono e oxigênio são altamente exotérmicas e são

importantes no fornecimento de energia para as etapas exotérmicas descritas

anteriormente, e para as reações entre carbono e CO2/H2O. A reação de hidrogenação

contribui na quantidade de energia, mas em menores proporções por conta do baixo

teor de H2 em ambientes de gaseificação. O tempo de reação entre o carvão e os

reagentes gasosos e sua estequiometria não equilibrada resulta em cerca de 10% da

biomassa transformada em carvão.

Reações gasosas: Estas reações acontecem se os gases produzidos continuam em

ambiente de alta temperatura. Duas das reações mais importantes são como seguem:

Reação de water-gas shift CO + H2O ↔ H2 + CO2 ΔHR=-41,1 MJ kmol-1 Reação de metanação CO + 3 H2 ↔ CH4 + H2O ΔHR=-206,1 MJ kmol-1

A reação de deslocamento é importante para o aumento da proporção de H2, enquanto

que a reação de metanação influencia na produção de CH4. Sendo ambas as reações

exotérmicas, baixas temperaturas as favorecem enquanto que esta condição também diminui

as taxas com que estes compostos são produzidos. A alternativa para a formação de alta

concentração de H2 é, então, a adição de vapor de água, e para proporcionar aumento da

concentração de CH4 pode ser elevada a pressão parcial de hidrogênio no reator.

As composições gasosa e sólida dependem da composição do material alimentado, gás

de entrada e o tipo de reator utilizado. Esta diferença de composição interfere nas aplicações do

produto e, por isso, cálculos de equilíbrio químico podem ser utilizados para fazer uma

estimativa da composição gasosa esperada (Bain & Broer, 2011).

O processo de gaseificação é considerado uma das formas mais eficientes de obter-se

energia a partir de biomassa. Pesquisadores têm apostado como uma das melhores alternativas

de reuso de resíduos sólidos (Puig-Arnavat et al, 2010). Entretanto, apesar de diversos

processos de gaseificação terem sidos desenvolvidos comercialmente, apenas configurações de

leito fluidizado têm aplicações amplas (Caputo et al, 2005). Diversos artigos científicos de

41

revisão sobre o assunto e livros podem melhor descrever cada tipo de reator existente e as

frações de voláteis mais propícias de serem obtidas em cada tipo de configuração (Brown, 2011;

Basu, 2010; Puig-Arnavat et al, 2010; Kirkels e Verbong, 2011; Huber et al, 2006).

4.1.1.2 Aplicações

Gás de síntese ou syngas é um produto primário da gaseificação e uma matéria-prima

importante para obtenção de produtos químicos e energia. Isto porque diversos

hidrocarbonetos obtidos do refino do petróleo podem ser produzidos por gás de síntese, o qual

pode ser utilizado para obtenção de combustíveis e de produtos químicos. Há diferentes

alternativas de utilização do syngas, como a produção de H2 pela reação de deslocamento água-

gás, combustíveis líquidos – reação de Fischer-Tropsch – metanol, e outros combustíveis

derivados de metanol. Estes produtos são obtidos em escala comercial tendo carvão mineral

como matéria prima (Huber et al, 2006). Para melhor distinguir o gás de síntese derivado de

carvão mineral daquele de biomassa, pode-se chamar a mistura gasosa de H2 e CO gerados de

biomassa de biosyngas (Basu, 2010), o que não foi o caso deste trabalho – preferiu-se utilizar

apenas o termo syngas.

Produtos químicos de alto valor de mercado podem ser obtidos do syngas, tais quais:

Hidrogênio, produzido tradicionalmente em refinarias;

SNG, gás natural sintético;

Diesel, usando síntese de Fischer-Tropsch;

Fertilizantes, através de amônia;

Metanol, para a indústria química;

Eletricidade, gerada pela combustão dos gases (Basu, 2010; Dayton et al, 2011).

Figura 4.4 Etapas da gaseificação desde a matéria prima à aplicação. Adaptado de Kirkels & Verbong (2011).

Matéria-prima e pré-

tratamento

Madeira

Resíduos agrícolas

Licor negro

Resíduos

Gaseificadores

Leito fixo

Downdraft

Updraft

Leito fluidizado

Leito de arraste

Limpeza do gás

Aplicações

Aquecimento

Eletricidade

Combustíveis

Podutos

químicos

42

A Figura 4.4 apresenta a sequência desde a matéria-prima até as aplicações. Diversos

artigos científicos e livros detalham as aplicações dos gases, com as reações e condições de

operação dos processos (Dayton, 2011; Huber et al, 2006; Balat, 2009).

4.1.1.3 Problemas dos processos

Embora existam vários processos de gaseificação usando carvão como matéria-prima

mesmo em escala industrial, a gaseificação da biomassa apresenta problemas logísticos

relacionados às características do material. Comparado com o carvão, a biomassa é mais

reativa. Assim, a gaseificação de biomassa acontece em temperaturas mais baixas. Entretanto,

diversos problemas relacionados com a composição da biomassa resultam em dificuldades de

uso de equipamentos e condições de operação já habituais no processo com carvão.

Características da biomassa originam problemas técnicos particularmente relativos à

heterogeneidade do material e ao alto teor de água na biomassa. Este problema em particular

resulta em uma difícil cominuição da biomassa e consequentemente os tamanhos das partículas

tornam o processo de transferência de calor menos eficiente. Portanto, o tipo de reator é um

elemento de alta importância, já que a heterogeneidade final das partículas resulta em uma

mistura de partículas parcial ou totalmente gaseificadas. Assim, os sólidos ao final da reação

podem conter carvão parcialmente gaseificado (Basu, 2010).

Em relação ao uso dos gases obtidos, a necessidade de remoção de determinadas

frações sólidas, como particulados, enxofre, álcalis e alcatrão, depende do objetivo final da

produção e geralmente envolve diversas etapas integradas. Alguns gases também podem

apresentar impurezas, como NH3, HCN, outros gases contendo N2, H2S, outros gases com

enxofre, HCl, entre outros. Tanto sólidos como líquidos, a concentração destes compostos varia

de acordo com a biomassa utilizada. Biomassa que contém altas frações de nitrogênio e enxofre

resulta em um gás com altos níveis de NH3 e H2S, e a presença de HCl em altas concentrações é

correlacionado com a presença de cloro na matéria-prima. Frações inorgânicas (cinzas)

presentes na biomassa podem resultar na presença de metais alcalinos no gás, enquanto que as

orgânicas podem gerar desde hidrocarbonetos de baixa massa molar até hidrocarbonetos

43

polinucleares aromáticos de alta massa molar. Este último é conhecido como alcatrão, que é

uma das frações geradas que complicam o processo de separação do gás.

Altos teores de alcatrão e carvão ao final do processo justificam a limpeza do gás antes

de uso em motores de combustão interna, em turbinas a gás ou síntese líquida por Fischer-

Tropsch (Bain & Broen, 201). De forma a exemplificar, a Tabela 4.2 mostra as concentrações de

alcatrão e carvão obtidas em diferentes tipos de reatores, comparado com os níveis máximos

aceitáveis em motor de combustão interna. O alto teor destes compostos resulta em diversos

estudos para determinar uma condição de operação mais apropriada para reduzir a presença

destes subprodutos. O aumento de temperatura do reator utilizando dolomita calcinada,

materiais contendo níquel, e outros catalisadores como material de leito em gaseificador de

leito fluidizado é uma das possibilidades de diminuição do teor de alcatrão e a operação em

temperaturas altas como 1200-1300°C se mostraram bastantes eficientes na remoção de ambos

os compostos, o que, em contrapartida, ocasiona em um aumento significativo nos custos de

operação e construção de equipamentos (Balat et al, 2009b; Bain & Broen, 2011).

A formação de carvão no processo de gaseificação é um evento indesejado, já que os

produtos esperados são gases de alto poder calorífico. Na cinética de reação, a conversão do

carvão é a etapa limitante do processo de transformação de biomassa e significa menor

rendimento do processo, além de sua presença causar problemas em equipamentos

tradicionalmente utilizados para esta tecnologia tais como escorificação e incrustações

causados por potássio, sódio e outros álcalis presentes na biomassa (Huber et al, 2006). Estudos

cinéticos (Shafizadeh & DeGroot, 1982) sugeriram que a taxa de formação de carvão depende

de fatores como a área de superfície total ativa disponível ou área interfacial entre as partículas

de carvão e catalisador e que estes parâmetros permanecem relativamente constantes durante

o processo. A reatividade do carvão pode ser influenciada pela composição original da biomassa

e a condição de pirólise do processo, quando o carvão é formado em maior quantidade.

44

Tabela 4.2 Teores de carvão e alcatrão liberados em reatores contra níveis máximos de contaminante em um motor de combustão interna. Adaptado de Bain & Broen, 2011.

Tipo de reator

Teor de alcatrão

(mg/Nm3)5

Teor de carvão (mg/Nm3)5

Contaminante Nível máximo

(mg/m3)5

Bubbling

Fluidized Bed

10 000 1 700 – 1 310 Particulado 50

Circulating

fluidized bed

10 000 1 040 – 4 360 Alcatrão 50

Downdraft 1 000 9 300 – 30 000 Ácidos 50

O alcatrão formado é um dos maiores causadores de problema na gaseificação. Esta

fração consiste em uma mistura complexa de hidrocarbonetos condensáveis, incluindo

compostos aromáticos de 1 a 5 anéis e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs) (Basu,

2010; Balat et al, 2009b), de alta viscosidade que se condensa nas zonas de baixa temperatura

do gaseificador, acaba por entupir a passagem de gás levando a rupturas do sistema. O alcatrão

permanece em forma de vapor até o momento que o gás produzido é resfriado, quando o

alcatrão pode condensar nas superfícies frias ou permanece em forma de aerossol. Estas

situações causam entupimento também em equipamentos de downstream, formação de

aerossóis de alcatrão – indesejado no uso de turbinas a gás e mesmo a polimerização em

estruturas mais complexas (Basu, 2010). A redução da formação de alcatrão pode ocorrer ao ser

aplicada a condição de operação e reator convenientes, sendo que a remoção de alcatrão,

conversão ou destruição são aspectos essenciais, sendo visto como um dos maiores desafios

técnicos. A formação deste composto é, em muitos casos, responsável pelo insucesso de

projetos dado o custo da remoção de alcatrão, que pode ser maior que o custo do projeto

(Huber et al, 2006). De forma ampla, as tecnologias de controle de alcatrão podem ser duas. A

primeira consiste em atuação dentro do gaseificador, a qual tem vantagem econômica sobre a

segunda, e consiste em controlar condições como temperatura, agente de gaseificação, tempo

5 Na unidade g/Nm3, o termo N é denominado de normal, o qual é essencial no caso dos gases por serem

influenciados por pressão. Como cada processo acontece em diferentes temperaturas e pressão, o valor é ajustado de tal forma a serem normalizados para uma condição de padrão internacional de pressão e temperatura (P= 1,01325 bar e T=273,15K).

45

de residência e aditivos catalíticos. Entretanto, estas condições ainda não são completamente

compreendidas, não tendo aplicação comercial. A proposta secundária trata de promover a

limpeza dos gases após a reação de gaseificação (Balat et al, 2009).

4.1.2 Pirólise

O uso de processamento por pirólise data pelo menos da época egípcia, quando alcatrão

era obtido por esta técnica para embaçar barcos e como agente de embalsamamento. Desde

então, o processo tem sido aperfeiçoado e é amplamente utilizado para produção de carvão

vegetal e coque (Farag et al, 2002). De fato, o uso de pirólise destinado à produção de carvão

vegetal foi, possivelmente, a primeira aplicação em larga escala. Quando a madeira começou a

ser um material escasso com o seu uso excessivo, no início do século XVIII, passou-se a produzir

coque de carvão mineral (Basu, 2010). Nos anos 1980, cientistas perceberam que o rendimento

do líquido produzido no processo poderia ser aumentado em condições de operações que

denominam a pirólise rápida, a qual a biomassa é indiretamente aquecida e é condensada de

forma rápida (Farag et al, 2002).

4.1.2.1 Características da pirólise

Assim como a gaseificação, a conversão de biomassa por pirólise é classificada como um

processo termoquímico. Vale inicialmente diferenciar a condição de pirólise no processo de

gaseificação com o processo de pirólise. O primeiro acontece porque o agente oxidante ainda

não reage com a biomassa, sendo posteriormente exposto a oxigênio, ar e/ou vapor d’água.

Tratando-se do processo de pirólise, durante toda a reação a atmosfera é mantida em condição

anóxica.

Pirólise é a decomposição térmica na ausência de oxigênio e envolve a quebra de

grandes moléculas complexas em várias menores. Este processo é uma alternativa promissora

para geração de sólidos (carvão), líquidos (alcatrão) e gases (Balat et al, 2009a). Diferentes

modos de pirólise geram produtos diferentes, caracterizando este sistema como flexível na

obtenção de produtos. Na Tabela 4.3 são identificados os modos de pirólise existentes e suas

condições de operação, comparado também com o processo de gaseificação. O processo de

46

pirólise rápida tem alto interesse devido à produção do líquido conhecido como bio-óleo, o qual

pode ser armazenado e transportado, ou mesmo ser utilizado como fonte de energia e

obtenção de produtos químicos (Bridgwater, 2012).

Tabela 4.3 Modos de pirólise. Adaptado de Bulushev e Ross, 2010.

Tipo de pirólise

Temperatura (°C)

Tempo de Residência

Rendimentos (%)

Líquido Carvão Gás

Lento 400 Muito longo 30 (70% água) 35 35

Intermediário 500 Moderado (10-20s) 50 (50% água) 25 25

Rápido 500 Curto (< 2s) 75 (25% água 12 13

A tecnologia de conversão de biomassa por pirólise se encontra em desenvolvimento e

os aprimoramentos das condições de processo têm sido estudados para obtenção dos produtos

primários de qualidade, tanto sólidos, líquidos e gasosos – principalmente bio-óleo. Para

alcançar estas melhorias, estudos são direcionados a diversas etapas, tais quais: secagem,

tamanho de partícula, pré-tratamento, configuração do reator, aquecimento, transferência de

calor, taxa de aquecimento, temperatura de reação, tempo de residência do vapor,

craqueamento secundário, separação do carvão, separação das cinzas e coleta de líquidos

(Bridgwater, 2012).

Diferentes mecanismos são propostos para explicar como acontece a reação na partícula

de biomassa em processamento por pirólise. A Figura 4.5 apresenta a proposta apresentada em

Venderbosch e Prins (2011) e originalmente proposta por Shafizadeh e colaboradores (1977,

1985). Inicialmente as partículas de biomassa são decompostas e são formados carvão (10 –

15%), gases permanentes – CO, CO2, CH4 – e vapores condensáveis em condições de

aquecimento suficientemente rápido. A fração condensável apresenta, além de compostos

orgânicos, a água extraída da biomassa úmida e água produzida na decomposição. As

moléculas orgânicas de massa molar de aproximadamente 20.000 presentes no vapor são

sujeitos a uma segunda quebra, que pode ser elevado com o contato direto com o carvão

gerado. As partículas mais finas de carvão são prontamente arrastadas do reator de pirólise e

47

arrastadas pelo vapor de água até o condensador e coletadas junto com o bio-óleo. Durante o

armazenamento por longos períodos deste bio-óleo condensado reações de repolimerização

podem ocorrer e água se forma, assim como CO2 em alguns casos.

Figura 4.5 Representação dos caminhos de reação para pirólise de biomassa lignocelulósica. Adaptado de Venderbosch & Prins (2011)

O processo pode gerar diferentes proporções de sólidos, líquidos e gases e o processo

pode ser ajustado de forma a favorecer o rendimento de carvão, bio-óleo, gás ou metano. Os

rendimentos podem ser maximizados para as diferentes frações nas seguintes condições (Balat

et al, 2009b):

Carvão: baixa temperatura, baixa taxa de aquecimento;

Bio-óleo: baixa temperatura, alta taxa de aquecimento, curto tempo de residência;

Gases alta temperatura, baixa taxa de aquecimento, longo tempo de residência.

A temperatura é o fator mais importante na obtenção dos produtos. A Tabela 4.4 lista os

efeitos das temperaturas no resultado do processo. Às temperaturas mais elevadas, as

partículas grandes existentes no líquido formado e no sólido residual são quebradas de forma a

gerar moléculas menores e estas comporem a fração gasosa (Balat et al, 2009b).

Fase primária: Reações de

decomposição

Fase secundária: Quebra e

condensação Repolimerização

Bio-óleo (g)

Bio-óleo (l) Carvão (s) + gás (CO2)

+bio-óleo (l)

Biomassa (s)

Carvão (s)

Gás (g) (CO, CO2, CH4)

Gás (g) (CO, CO2, CH4)

450 – 550°C < 1s

400 – 500°C > 1s

Temperatura ambiente Semanas/meses

48

4.1.2.2 Composição e propriedades do bio-óleo

O interesse pelo bio-óleo inicialmente se dava pela possibilidade de substituir o

petróleo, mas hoje esta motivação se une à ideia de sustentabilidade energética (Czernik &

Bridgwater, 2004), podendo ser o segundo um maior apelo social para sua utilização.

Tabela 4.4 Reações durante o processo de pirólise em diferentes temperaturas. Adaptado de Balat (2009a).

Condição Processo Produtos

Abaixo de 302°C Formação de radicais livres, eliminação de água e despolimerização.

Formação de carbonil e carboxil, desprendimento de CO e CO2 e carvão residual.

Entre 302°C e 452°C

Quebra das ligações glicosídicas de polissacarídeos por substituição.

Mistura de levoglucosana, anidridos e oligossacarídeos na forma de alcatrão.

Acima de 452°C Desidratação, rearranjo e quebra das unidades de açúcar

Formação de compostos de carbonila como acetaldeídos, glioxal e acroleína.

Acima de 502°C Combinação de todos os processos acima.

Combinação de todos os produtos acima.

Condensação Condensação e clivagem dos produtos insaturados até carvão.

Resíduo de carvão altamente reativo contendo radicais livres capturados.

Bio-óleos são produtos líquidos resultados da pirólise de biomassa, conhecido também

como óleo de pirólise de biomassa, óleo de pirólise, bio-óleo bruto (Czernik, Bridgwater, 2004;

Qiang et al, 2009; Qi et al, 2007), líquido de madeira, óleo de madeira, líquido condensado da

fumaça destilado da madeira, alcatrão pirolenhoso, ácido pirolenhoso, etc (Fritz et al, 2010), e

atualmente mais denominado como bio-óleo. Apresentam-se como líquidos de cor marrom

escuro, fluídos e com odor acre ou de fumaça (Czernik, Bridgwater, 2004; Qiang et al, 2009),

características resultantes de uma mistura complexa de componentes da despolimerização e

fragmentação dos principais componentes químicos dos vegetais: celulose, hemicelulose, e

lignina (Qi et al, 2007; Qiang et al, 2009). Como exemplo ilustrativo, em condições de pirólise

rápida, o uso de madeira sem casca como matéria prima resulta em aproximadamente 64%

49

(massa) de líquidos orgânicos (ácidos, alcoóis, cetonas, aldeídos, fenóis, éteres, ésteres,

açúcares, furanos, compostos de nitrogênio e compostos de múltiplas funções (Qiang et al,

2009)), 12%(massa) de água (dissolvida quimicamente em líquidos orgânicos), 12% (massa) de

carvão e 12%(massa) de gases não condensáveis (CO2, CO, H2, CH4, traços de C3+) (Oasmaa &

Peacocke, 2010).

Uma vez que o óleo produzido é obtido do fracionamento e despolimerização das

principais frações da matéria-prima, o bio-óleo apresenta composição elementar diferente dos

combustíveis derivados do petróleo (Qi et al, 2007). Este contraste pode ser entendido quando

comparado o teor de oxigênio em bio-óleos, geralmente variando de 45 a 50% em massa,

presente na maioria dos mais de 200 compostos nestes óleos. Esta é a principal razão para as

diferentes propriedades e funcionamento deste como combustível comparado com os

derivados de petróleo (Oasmaa & Czernik, 1999).

4.1.2.3 Aplicações

Em geral, aplicações para o bio-óleo têm foco em biocombustíveis e geração de calor e

eletricidade. Na literatura é possível encontrar diferentes usos deste produto nos variados

reatores de combustão, fornos e queimadores, sistemas de caldeira, sendo necessárias

características consistentes, um nível de emissões de gases aceitável e ser economicamente

viável (Czernik & Bridgwater, 2004). A Tabela 4.5 apresenta alguns usos de bio óleo em

determinados processos e o produto final desejado.

Na produção de energia, o bio-óleo pode ser queimado em caldeiras. Contudo, o

desempenho de um forno funcionando com bio-óleo e com óleo de forno tradicional é bastante

diferente dadas as características de combustão divergentes, como ignição, viscosidade, energia

contida, estabilidade, pH e níveis de emissões. Alguns destes casos podem ser contornados com

uso do equipamento adequado (Basu, 2010), porém muitas daquelas características limitam o

avanço do uso de bio-óleo em equipamentos tradicionais de obtenção de energia para

aquecimento e eletricidade.

50

Tabela 4.5 Aplicações padrão para o bio-óleo para obtenção de energia. Adaptado de Brammer et al, 2006.

Tecnologia Produto

Bio-óleo de caldeira Calor

Bio-óleo de motor de combustão interna

(diesel combustível dual)

Eletricidade

Bio-óleo de motor de combustão interna

(diesel combustível dual)

Eletricidade e calor combinados

Bio-óleo de turbina a gás Eletricidade

Bio-óleo de turbina a gás Eletricidade e calor combinados

Bio-óleo de turbina a gás de ciclo combinado Eletricidade

Bio-óleode turbina a gás de ciclo combinado Energia e calor combinados

Bio-óleode caldeira (ciclo Rankine) Energia e calor combinados

Em relação às aplicações para produtos químicos, a composição do bio-óleo é de

extrema importância. Contudo, a massa molecular dos compostos presentes diverge

significativamente dependendo do tipo de biomassa, pré-tratamento da matéria-prima – como

o tamanho inicial da partícula –, umidade e teor de cinzas, condições de pirólise – temperatura,

taxa de aquecimento, tempo de residência, pressão, meio gasoso –, assim como filtração do

vapor e condensação – tipo do filtro, método de condensação e meio, taxa de resfriamento

(Qiang et al, 2009). No bio-óleo gerado podem ser encontrados componentes de massa

molecular variando de 18 Da (água) até 5.000 Da ou mais (ligninas de pirólise). Assim como os

componentes da própria matéria prima não são conhecidos em sua totalidade, a caracterização

química completa do bio-óleo é praticamente impossível, principalmente por conta da

existência das ligninas de pirólise. Estas ligninas de pirólise são formadas da quebra parcial das

moléculas de lignina, e análises destes compostos mostram que seus constituintes são

oligômeros, principalmente tetrâmeros, com a unidade básica mantida bastante similar com a

lignina de serragem de madeira (Qiang et al, 2009).

51

A composição química do líquido obtido por pirólise permite que seja transformado em

produtos químicos de uso industrial, tais como:

Resinas;

Flavorizantes de alimentos;

Agro químicos;

Fertilizantes,

Levoglucosano;

Adesivos;

Ácido acético;

Hidroxaldeído.

Algumas opções de aplicação tanto do bio-óleo quanto de gases gerados no processo

podem ser encontradas em Basu (2010), Huber (2006).

4.1.2.4 Problemas do processo

O uso dos materiais lignocelulósicos para produção química é bastante promissor, dada

à diversidade de compostos resultantes de processos térmicos ou bioquímicos. Entretanto, a

solução pode não ser tão prática. O principal ponto controverso da aplicação advém da

diversidade dos componentes do óleo, que decorre da matéria-prima de origem. Isto faz com

que os problemas da pirólise sejam mais em relação ao produto resultante que o próprio

processo.

A dificuldade principal do processo de pirólise é a composição do bio-óleo, o produto

primário. A variabilidade das moléculas do uso de biomassa como matéria-prima resulta em

uma mistura de multicomponentes composto de moléculas de tamanho diferentes, derivados

do processamento de celulose, hemicelulose e lignina (Czernik & Bridgwater, 2004). As

propriedades do bio-óleo resultam em vários problemas significativos durante a sua utilização

como combustível em equipamento padrão tais como caldeiras, motores e as turbinas de gás de

combustão, originalmente construídos para combustíveis derivados do petróleo. O poder

52

calorífico do bio-óleo é muito menor do que aquele de combustível fóssil dado o grande número

de compostos oxigenados e uma fração significativa de água (Balat et al, 2009b).

Corrosividade, alta viscosidade, comportamento de combustão, e volatilidade são

algumas das características que tornam bio-óleo difíceis de manusear e limitam a sua aplicação.

Estas limitações são provavelmente o maior desafio de aplicação das possibilidades de produtos

(Czernik & Bridgwater, 2004; Balat et al, 2009b). No entanto, alguns testes da chama da

combustão mostraram que os óleos de pirólise rápida podem substituir óleos combustíveis

pesados e leves em aplicações de caldeiras industriais (Balat et al, 2009b).

4.2 Considerações finais do capítulo

Os conceitos das transformações termoquímicas por gaseificação e pirólise de biomassa

foram apresentados neste capítulo. Identifica-se a principal diferença entre as técnicas como

sendo a existência de uma atmosfera redutora no processo de gaseificação, o que gera

produtos gasosos preferencialmente, enquanto que a atmosfera inerte na pirólise produz um

líquido viscoso, escuro e de composição que varia de acordo com a característica da biomassa.

Este capítulo constrói um alicerce para o entendimento da razão de essas tecnologias

ainda estarem em um estágio fluido e da necessidade de pesquisa para otimização dos

processos. A dificuldade de aplicação dos produtos primários devido à composição do gás na

gaseificação e o óleo na pirólise – produtos primários principais dos processos – instiga o

desenvolvimento de processos que contornem estes problemas. Em contrapartida, a

diversidade de possibilidade de aplicação dos produtos primários obtidos nos processos exibe a

amplitude e potencial de aplicação das técnicas, que impulsiona o desenvolvimento das técnicas

em direção a alternativas economicamente viáveis.

53

CAPÍTULO 5 METODOLOGIA

Como apresentado no capítulo 2, o monitoramento das tecnologias de conversão de

biomassa por gaseificação e pirólise permite conhecer as tendências dos processos e apresenta

uma análise quantitativa dos artigos científicos e propriedade industrial. Naquele capítulo são

apresentados os métodos seguidos neste trabalho para a obtenção dos dados indicadores dos

avanços tecnológicos na área. Aqui são descritos os procedimentos realizados para seleção da

amostra de publicações científicas e documentos de patente referentes a gaseificação e pirólise

de biomassa. São apresentadas também as lógicas de seleção da amostra, as quais foram

separadas de acordo com a intenção do estudo.

5.1 Monitoramento das tecnologias de conversão térmica de biomassa

O monitoramento das técnicas de conversão térmica de materiais lignocelulósicos,

proposto neste trabalho, tem por base a seleção de artigos científicos e documentos de

patentes obtidos de bases de dados reconhecidamente confiável no meio científico destinado a

bibliometria. A compilação desses dados gera informações quantitativas quanto às tendências

geográficas, temporais e tecnológicas do objeto de estudo. Dos estudos existentes sobre como

proceder para a construção de um banco de dados que caracterize as pesquisas e

desenvolvimentos sobre um determinado assunto, o trabalho de Watts e Porter (1997) com

sugestões de passos a serem seguidos para gerar tal banco tem reconhecimento pode ser

considerado indicam passos a serem tomados para reunir e interpretar as medidas de

bibliometria. Os autores propõem reunir resumos bibliográficos (de artigos ou patentes, por

exemplo), sugerindo resumos de 100 a 10.000 trabalhos sobre a tecnologia de interesse, que

pode ser um processo ou um produto. Após uma análise dos passos propostos pelos autores, as

etapas desta pesquisa foram elaboradas e são apresentadas na Tabela 5.1. A execução das

etapas acontece com o intuito de extrair as informações necessárias para responder às questões

54

do trabalho, sendo pouco expressivo o detalhamento de toda a tecnologia em informações que

não atingissem o objetivo deste estudo.

Tabela 5.1 Passos para um processo de prospecção tecnológica, adaptados de Watts e Porter (1997).

1. Pesquisar nas bases de dado escolhidas, utilizando termos básicos do tema.

2. Fazer download de uma base de dados inicial; examinar e acumular palavras-chave, etc,

para refinar a compreensão do tema e gerar um bom algoritmo de pesquisa.

3. Refazer pesquisar no(s) banco(s) de dados mais vantajoso (s), armazenar os resumos.

4. Examinar as palavras-chave, palavras do título, palavras do resumo e expressões; ler os

resumos para ganhar fluência nas atividades, aplicações, players importantes e

dispersão relacionados.

5. Agrupar as informações das tendências de atividades gerais, atividades de um tema

específico, atividades de uma instituição específica, etc..

6. Considerar os padrões de atividade por tipo (acadêmico, governamental, industrial) ou

outras delimitações de interesse.

7. Agrupar atividade tecnológica ou outra associada ao objetivo.

8. Mapear as principais tecnologias de suporte, os interesses institucionais, etc..

9. Descrever mapas em intervalos de tempo diferentes.

10. Mapear prováveis futuros perfis tecnológicos ou competitivos, se for o caso.

11. Desenvolver uma árvore de decomposição da tecnologia, incluindo os players de

marcação; fuga para as tecnologias que contribuem.

12. Realizar análises em áreas especiais (por exemplo, análise comparativa).

5.2 Seleção de artigos e documentos de patentes

A importância do método de construção da base de dados é indiscutível, já que a partir

desses artigos e patentes escolhidos é realizado o monitoramento da tecnologia. A origem

dessas informações, ou seja, a base de artigos e patentes utilizada, precisa gerar um conjunto

de informações que permita fornecer amplitude temporal e seja reconhecidamente confiável no

meio de pesquisa para gerar uma análise histórica significativa.

55

5.2.1 Base de dados

Existem diversas bases de dado disponíveis para buscas de bibliografia científica, como

as reconhecidas SciVerse Scopus (Scopus) – da editora Elsevier –, Web of Knowledge e Google

Scholar. Em relação a essas bases de dado disponíveis para realização de pesquisas

bibliométricas, Ball e Turger (2006) comparam as bases SciVerse Scopus (Scopus) e Web of

Science (WoS), a primeira pertencente à editora Elsevier e a segunda provida pela empresa

Thomson Reuters, e concluem que WoS destaca-se por abranger maior cobertura temporal e

realizar constantes análises da importância dos periódicos participantes para o meio em que

estão inseridos, havendo revisão da participação desses na base WoS (Ball e Turger, 2006).

Outras publicações que também apontam vantagens e desvantagens entre bases (Neuhaus &

Daniel, 2006; Bakkalbasi et al, 2006; Gavel & Iselid, 2008; López-Illescas et al, 2008; Mikki, 2010)

apontam para o potencial da base da Thomson Reuters® para pesquisas bibliométricas. Por isso,

neste estudo a foi utilizada a base Web of Science pela qualidade conceituada e pela ampla

abrangência de artigos científicos em diversas áreas.

Já para a construção da base de propriedade industrial, a escolha da base de trabalho foi

influenciada pela disponibilidade de documentos de patentes publicadas de diversos países,

possibilitando agrupar documentos de diversas localidades, diferentemente de como

aconteceria caso fossem escolhidas as bases de escritórios de patente. A base Derwent

Innovations Index (DII) é, segundo o próprio site (DWPI, 2012), o banco de dados de

documentos de patente mais abrangente no mundo, além de permitir obter informações e

dados sobre os documentos de patentes de forma direta na maioria dos casos.

As base Web of KnowledgeSM (WoS) e Derwent Innovations IndexSM (DII) são parte do

Institute for Scientific Information, ISI (instituto de informação científica), pertencente à

empresa Thomson Reuters. Segundo o próprio site, a base Web of Science® é líder mundial em

literatura acadêmica em ciências, ciências sociais, artes e humanidades e contém publicações de

anais de congressos internacionais, simpósios, seminários, colóquios, workshops e convenções,

com publicações de 1945 até o presente. A base Derwent Innovations IndexSM abrange

documentos de patente de 1963 até o presente, sendo um recurso que permite uma visão

56

abrangente das intenções do mercado global nas categorias de engenharias química, elétrica,

eletrônica, e mecânica (Thompson Reuters, 2012).

5.2.2 Estratégia de busca

A obtenção do conjunto de artigos e patentes se inicia pela escolha das palavras chave

que delimitam o assunto pesquisado. Este conjunto resulta em uma amostra do número real de

estudos e desenvolvimento existentes sobre o assunto. Dada a quantidade extensiva de artigos

e patentes sobre tecnologias térmicas de conversão de biomassa, a escolha das palavras chave

pretende garantir um número representativo de documentos, tal como Watts e Porter (1997)

apontam, e cujo tema principal do estudo seja gaseificação ou pirólise de biomassa – há

palavras chave que identificam documentos relacionados ao tema, mas que não são

necessariamente o assunto principal investigado.

A pesquisa nas bases escolhidas – WoS e DII – foi realizada utilizando o recurso de busca

avançada pela possibilidade de busca mais específica e com maior número de palavras

comparado com a opção simples. As bases oferecem opções de busca por campos como

assunto, título, autor, ano de publicação, país, ISSN. A análise de quais palavras chave seriam

utiliadas na pesquisa iniciou-se aplicadas no campo de assunto (topic – TS), recurso que faz a

busca das palavras envonvendo o título, resumo e palavras chave de cada documento.

Entretando, foi observado que diversos documentos resultantes dessa pesquisa apresentaram

temas generalizados, cujos assuntos principais não eram exatamente o desejado e algluns

bastante distintos. A solução de tal questão foi uma pesquisa mais direcionada ao buscar as

palavras chave no título apenas (title – TI). Com isto, quase todos os documentos analisados

eram direcionados à pesquisa de objetivo.

Algumas tentativas foram necessárias para a definição das palavras responsáveis pela

amostragem dos documentos. A primeira tentativa foi de utilizar as palavras

gaseificação/pirólise (gasification/pyrolysis) agrupadas com as palavras biomassa ou

lignocellulósico (biomass OR lignocellulosic) por assunto (TS), resultando em diversos artigos e

patentes sem o foco necessariamente nos processos dessa pesquisa. Quer dizer, muitos dos

documentos continham as palavras gaseificação e pirólise, mas o assunto principal nem sempre

57

era relativo àquelas palavras. Ao restringir a pesquisa no campo do título (TI) foi possível

garantir uma amostragem mais homogênea das publicações científicas e patentes propriamente

sobre os assuntos desejados. A Figura 5.1 ilustra a pesquisa na base WoS e a Figura 5.2, na base

DII, com as palavras chave usadas na seleção dos artigos e patentes respectivamente.

Após a leitura de alguns dos artigos e documentos de patentes, foi decidido que

deveriam ser incluídos nas palavras-chave os produtos primários, ou seja, o termo syngas (gás

de síntese) para gaseificação e o termo bio-oil (bio-óleo) para pirólise. Vale ressaltar que o

critério de ecolha das palavras chave foi determinado para gerar uma amostra significativa do

que existe publicado e não todo o conteúdo. Sendo assim, tanto na base Web of Science quanto

na Derwent, os termos de pesquisa – em inglês – unidos por sistema de lógica AND (e) e OR (ou)

foram os seguintes:

Gaseificação: TI=(gasification OR syngas) AND TI=(biomass OR lignocellulosic);

Pirólise:TI=(pyrolysis OR bio oil OR bio-oil OR pyrolysis oil) AND TI=(biomass OR lignocellulosic).

5.2.3 Definição de restrições para a construção da base de dados

As bases de dados WoS e DII oferecem possibilidade de escolhas que delimitam o tema

de pesquisa. A definição dos documentos gerados é justificada pela necessidade de existência

de um padrão dos artigos e patentes resultantes. No que concerne tanto artigos quanto

patentes, a faixa temporal de pesquisa dos documentos foi restringida até o ano de 2011, sem

limitação do ano de início de registro das pesquisas. As restrições específicas referentes a cada

base são apresentadas.

5.2.3.1 Artigo científico – Web of Science

A base WoS permite que a busca abranja documentos como artigos (articles), revisões

(review), livro (book), dentre outras. Destas opções apenas artigos e reviews foram identificados

como condizente ao objetivo da pesquisa. Além do tipo de documento, a base WoS também

possibilita a escolha da língua da publicação. Foram restringidos os documentos em inglês, pois

publicações em idiomas diferentes desse são limitados em explanação da informação e

restringe o acesso geral (Bar-Ilan, 2008).

58

Figura 5.1 Apresentação da base Web of Sciente, empregada na pesquisa de artigos científicos. Em Search History (em cor laranja) é possível visualizar o resultado de artigos científicos relativos a gaseificação e pirólise de biomassa realizadas para este trabalho, assim como as palavras-chave utilizadas.

(2)

(5)

(3)

(4)

59

Figura 5.2 Apresentação da base Derwent Innovation Index, empregada na pesquisa de documentos de patente Em Search History (em cor laranja) é possível visualizar o resultado de artigos científicos relativos a gaseificação e pirólise de biomassa realizadas para este trabalho, assim como as palavras-chave utilizadas.

60

Determinadas as palavras chave, o idioma, tipo de documento e a faixa temporal, a

base WoS lista 808 artigos sobre gaseificação a partir de 1979 e 673 artigos sobre pirólise a

partir de 1980. Entretanto, a base não limita a pesquisa a artigos científicos e apresenta

resultados que incluem artigos publicados em algumas revistas eletrônicas não científicas.

Assim, foi necessária uma seleção posterior daqueles artigos pertencentes apenas a

periódicos científicos, identificados com auxílio da base de periódicos Journal Citation

Reports®6. Após essa etapa de seleção apenas dos artigos publicados em periódicos

científicos, a amostra passou a conter 772 artigos científicos e revisões sobre gaseificação de

biomassa e 635 para pirólise, entre os anos de 1979 e 2011.

5.2.4 Documentos de patente

Os resumos dos documentos de patente disponíveis na base DII são em inglês,

entretanto, são apenas alguns documentos cujo texto da invenção é apresentado na íntegra

pela base. Como a pesquisa só poderia ser feita utilizando as informações contidas nos

resumos, além dos dados apresentados diretamente, não houve nenhuma restrição quanto

à língua das patentes referentes ao objeto de estudo, nem quanto a qualquer outro quesito

de seleção por não ter sido necessário. O número total de documentos de patente listados

pela base DII inicia em 1981 tanto para gaseificação quanto para pirólise de biomassa, sendo

o número de patentes 1454 de gaseificação e 415 de pirólise.

5.3 Construção da base de dados de artigos científicos

Os arquivos científicos e documentos de patente gerados foram agrupadas em

planilhas eletrônicas do software Microsoft Office Excel 2007 para a organização e

processamento dos dados. O próprio site da base de dados possibilita o armazenamento das

informações dos documentos em texto e podem ser armazenados em planilha eletrônica.

No final da página de resultados que aparece após a pesquisa com as palavras chave

escolhidas, aparece a opção Output Records. Esta função possibilita o armazenamento dos

documentos resultantes da pesquisa após a escolha das opções em três passos

apresentados. A construção das bases de dados deste trabalho foi feita pela escolha de

todos os documentos da amostra, com todos os dados dos documentos e salvos em formato

6 Parte do Institute for Scientific Information, ISI, pertencente a Thompson Reuters. Fornece

indicadores de desempenho de periódicos de forma sistemática e objetiva para avaliar criticamente os principais periódicos do mundo.

61

de texto (save to plain text). O texto gerado foi gravado em planilha eletrônica para a criação

do banco de dados. O recurso de filtro do software Excel permitiu a separação dos

documentos em categorias para o processamento das informações. Os dados dos artigos,

como autores, fonte, resumo, números de vezes citados em outros artigos, ilustrados na

Figura 5.3, aparecem listados por linhas quando armazenados em formato de planilha

eletrônica. Esta função facilita obtenção das informações necessárias. Das informações

disponibilizadas sobre as publicações, os itens considerados neste trabalho para os artigos

são:

1. Fonte (Source): fornece a revista a qual o artigo foi publicado. Foram

selecionados os artigos cuja fonte fosse periódico científico segundo a base de

periódicos Journal Citation Reports;

2. Ano de publicação (Published): utilizado para a classificação temporal;

3. Título e resumo (Title e Abstract): a leitura dos títulos e resumos dos artigos

científicos permitiram as categorizações gerais e específicas;

4. País de filiação (Addresses): selecionado o tipo de instituição e filiação dos

autores. A filiação do primeiro autor – em casos de artigos publicados em

colaboração com outros países – foi considerada para a identificação geográfica

das publicações.

Em relação aos artigos científicos, foram construídas duas planilhas eletrônicas como

base de dados: uma contendo artigos sobre gaseificação de biomassa e a segunda sobre

pirólise de biomassa. Vale notar que o artigo que aparece na Figura 5.3é um exemplo de

alguns dos artigos científicos com assunto sendo tanto sobre gaseificação quanto sobre

pirólise. Esses casos, os artigos aparecem em ambas as planilhas, não havendo nenhuma

etapa de separação desses dos outros relativos exclusivamente a uma das tecnologias. Isto

porque entende-se que cada assunto foi abordado pelos autores como assuntos principais.

62

Figura 5.3 Exemplo de artigo selecionado para a base de dados.

5.4 Construção da base de dados de patentes publicadas

A construção da base de patentes sobre as tecnologias de conversão térmica de

biomassa foi similar àquela da base de artigos. A lista das patentes publicadas com resumo e

informações sobre número da patente, ano de depósito, etc. foi armazenada em planilha

63

eletrônica e os dados foram refinados, sendo uma planilha eletrônica para cada uma das

duas tecnologias em questão. A Figura 5.34 apresenta um exemplo de patente publicada

disponibilizada pela base DII. Os dados importantes utilizados são:

1. Número da patente (Patent Number(s)): Representa o número da patente

publicada nos diferentes escritórios de patente. É um código com informações

do documento, inclusive o país do escritório de patente daquele documento;

2. Depositante (Patent Assignee Name(s) and Code(s)): indica o depositante da

patente, que pode ser uma pessoa física – indicada pelo termo individual no

código entre parênteses – ou pessoa jurídica. Essas pessoas jurídicas são os

nomes das empresas cuja patente originou. Através do nome da empresa que foi

possível fazer pesquisa em sites de busca para identificar qual era o tipo da

empresa depositante – universidade, centro de pesquisa ou empresa privada;

3. Ano de publicação da primeira patente (Derwent Primary Accession Number):

como dito em (1), uma invenção pode ser publicada em mais de um país e o

número apresentado neste item é o número de entrada da invenção na base,

começa pelo ano que a invenção foi primeiro publicada e entrou na base;

4. Título e resumo (Title e Abstract): Contém a novidade da invenção, uso,

vantagem. A leitura do título e do resumo orientou a separação dos documentos

de patente em categorias gerais e específicas, como feito para a base de artigos

científicos;

5.5 Identificação do perfil de desenvolvimento tecnológico

O conhecimento das tendências das tecnologias de conversão de biomassa, assim

como o monitoramento das suas características, como evolução temporal, identificação

geográfica do desenvolvimento, foi possível pelo processamento dos artigos e patentes

gerados da pesquisa nos bancos WoS e DII. Alguns parâmetros do monitoramento são

obtidos de forma direta, como o ano de publicação, e outros são gerados através da leitura

dos títulos e resumos dos documentos, com categorias gerais e específicas.

64

Figura 5.4 Exemplo de documento de patente selecionado para a base de dados.

A determinação de categorias relacionadas aos diferentes temas abordados nos

artigos e patentes fornece a percepção do estágio evolutivo da tecnologia. Martino (2003)

descreve o comportamento padrão do ciclo de vida de uma inovação analisada por

bibliometria: o número de “pontos”, identificado pelo número de documentos, tem uma

fase crescente no princípio do desenvolvimento daquela etapa até atingir o pico máximo de

65

pontos, passando para a fase de declínio daquela etapa quando uma outra etapa mais

avançada se inicia, como ilustrado na Figura 5.5. O estudo da evolução das etapas informa a

posição aproximada daquela tecnologia no ciclo de vida, e os permite identificar o seu nível

de desenvolvimento. A figura ilustra o caso, porém as etapas identificadas se sobrepõem, na

medida em que o início de um estágio não depende necessariamente da finalização do

anterior, visto que a etapa seguinte pode se iniciar antes da etapa anterior estar totalmente

otimizada. Além disso, é comum que as pesquisas e desenvolvimentos relativos a uma etapa

continuem mesmo após o avanço para outras etapas conforme sejam geradas as respostas

de desempenho, conforme visto no capítulo 2, sobre o modelo chain-link.

Figura 5.5 Estimativa bibliométrica da fase de inovação. Adaptado de Martino (2003).

Os bancos de dados elaborados foram processados e novas planilhas foram geradas

com cada categoria. Como diversas dessas categorias foram correlacionadas, novas planilhas

foram criadas de acordo com a demanda de informações. A concepção das análises, em

termos de quantidade de informação e relação entre as categorias, ocorreu durante o

processo. Quer dizer, baseado na literatura, os parâmetros de análises foram estabelecidas

sendo:

i. evolução temporal;

ii. distinguir os países de publicação;

iii. identificar as instituições responsáveis pelo desenvolvimento;

iv. conhecer em que etapa do ciclo de vida as tecnologias se encontram.

mer

o d

e p

on

tos

Tempo

Pesquisa básica

Desenvolvimento

Pesquisa aplicada

Aplicação

Impacto social

66

5.5.1 Evolução temporal

Os dados de quantidade de publicações resultantes da pesquisa nas bases foram

separados por ano de publicação dos artigos e das patentes. Este item aparece diretamente

as planilhas geradas das bases utilizadas, sendo que na base de dados de artigos aparecem o

mês e o ano da publicação, e na base de patentes aparece o ano da primeira publicação da

patente. Ou seja, a patente pode ser depositada em mais de um escritório de patente, e

aquelas que o são, é exibido no campo de ano de publicação apenas o ano em que aquela foi

publicada pelo primeiro escritório de patente. Duas listagens diferentes com o número de

artigos e o número de patentes publicados em cada ano geraram gráficos referentes a

evolução temporal dos documentos. O resultado da progressão temporal foi posteriormente

utilizado em combinações com os outros critérios de análise, como apresentado no item 5.6.

Em relação a essas combinações referentes à análise temporal, alguma dessas foram

realizadas em períodos ao invés da representação dos dados pontualmente por ano. Isso

porque foram identificados períodos em que a quantidade de documentos seguia um

padrão, que é melhor explicado no capítulo de resultados, já que pode ser visualizado no

gráfico de evolução temporal das tecnologias estas características de cada período.

5.5.2 Países e região de publicação

A identificação do país onde as pesquisas científicas foram realizadas e o país onde as

patentes foram primeiro publicadas localiza a tendência de desenvolvimento da tecnologia.

No banco de dados de artigos científicos, esta informação foi extraída do item

address da planilha obtida da base WoS. O endereço do autor serviu para determinar o país

onde foi realizada a pesquisa. Por questões de padronização, os artigos com autores de

diferentes países, o país considerado foi aquele do primeiro autor.

No banco de dados de patentes também foi necessário padronizar a forma de

considerar o país de depósito da patente. Já foi dito que uma mesma patente pode ser

depositada em mais de um país, ou seja, em mais de um escritório de patente. A base DII

disponibiliza o número de cada depósito da mesma patente no campo de patent number.

Esse código engloba a sigla do país do escritório de patente, representado por duas letras do

alfabeto latino, e o estágio do depósito. O primeiro país onde o documento de patente foi

publicado aparece primeiro na lista de número da patente e é conhecido como país

prioridade. Nos casos em que aparecem mais de um número da patente num mesmo país,

67

os dois últimos dígitos identificam estágios diferentes do processo de patentes – se já foram

concedidas ou se estão sendo analisadas. Aqueles que aparecem com a sigla WO no

princípio do número da patente representam os pedidos relacionados ao Tratado de

Cooperação de Patentes (PCT), os quais não geram patente de imediato, e sim são

considerados como expectativa de direito7. As patentes com apenas um número de patente

que fosse iniciado com a sigla WO foram desconsiderados por ainda não ser possível

identificar o país de depósito e por ser apenas expectativa de direito. Já as patentes com o

primeiro número da patente com a sigla WO mas que continham também outros números, o

primeiro número de patente da lista que continha um código de país foi o considerado na

análise.

Os países identificados nos bancos de dados englobam os 5 continentes principais:

África, América, Ásia, Europa, e Oceania. A apresentação de resultados número de artigos e

patentes de todos estes países acarretaria em excesso de dados e pouca informação

relevante, já que as publicações aparecem em maior número em determinados países. Por

isso os países da Europa foram reunidos em um único grupo. Os países europeus

representantes deste conjunto são: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, European Patent

Office Escócia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra,

Irlanda, Irlanda do Norte, Itália, Letônia, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Polônia,

Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia e Suíça.

Os países cuja quantidade de documentos é menor que 7% do total foram agrupados

em um conjunto denominado outros. Tais países são: África do Sul, Argentina, Austrália,

Bangladesh, Brasil, Bulgária, Burquina Faso, Canadá, Cingapura, Colômbia, Coréia do Sul,

Cuba, Índia, Irã, Iraque, Israel, Malásia, Nova Zelândia, Paquistão, Sérvia, Tailândia, Taiuã,

Tunísia, Tunísia, Turquia e Uruguai.

5.5.3 Tipo de instituição

Os tipos de instituição identificadas nos bancos de dados deste trabalho são

universidades, que inclui college (principalmente em documentos dos Estados Unidos) e

7 O sistema do Tratado de Cooperação de Patentes (PCT) é, na verdade, um facilitador de depósitos. O

depositante tem o prazo de 30 meses a contar deste depósito para entrar na fase nacional de cada um dos países para os quais busca proteção (Santos & Nunes, 2012).

68

école (documentos da França) como diferentes formas de identificação de uma instituição

de ensino superior, centros de pesquisa e empresas.

O conhecimento do tipo de instituição responsável pela pesquisa científica ou

inovação é uma das formas de identificar o estágio da tecnologia e a probabilidade de

entrada no mercado. Por exemplo, a existência de participação de empresas em pesquisas

científica aponta interesse comercial naquela tecnologia, já que a predominância de

participação em publicações de artigos é de universidades. Além disso, a constatação de

cooperação entre mais de um tipo de instituição pode representar avanço mais rápido da

tecnologia, visto que a busca por colaboração denota atividade em diversos campos de

atuação. Documentos publicados predominantemente por universidades indica pouca

explanação fora do meio acadêmico, que é muitas vezes voltado para a pesquisa sem caráter

de aplicação, com pouco interesse em adequação aos perfis do mercado ou à viabilidade

econômica do processo. A atuação de centros de pesquisa no progresso de uma tecnologia

pode ser caracterizado como uma forma intermediária de atingir o estágio final de evolução,

enquanto que tecnologias em desenvolvimento com participação ativa de empresas têm

maior possibilidade de real aplicação.

De forma diferente à classificação por países, o tipo de instituição não foi restringido

àquela do primeiro autor, no caso de artigos científicos. Foram identificadas as colaborações

entre instituições, que aparecem no campo de adress, com o nome de cada instituição dos

autores participantes. A informação de qual era o tipo de instituição foi obtida pela pesquisa

do nome da instituição em sites de busca de cada um dos documentos e suas respectivas

instituições responsáveis pela publicação.

O tipo de instituição no banco de dados de patentes foi identificado pelo item patent

assignee name(s) and code(s), onde aparece o nome da instituição ou instituições que

depositaram a patente. De forma análoga ao método realizado com o banco de artigos, cada

nome de instituição foi pesquisado para que fossem classificados de acordo com o tipo. No

caso de patentes, existe também o depósito por pessoas físicas, que não estão

necessariamente ligadas a uma empresa. Nesses casos, aparece o nome do depositante e a

palavra individual entre parênteses, após o nome do depositante.

69

5.5.4 Categorias gerais e específicas

Os critérios apresentados até aqui foram obtidos de forma quase direta. As

combinações, o monitoramento mais detalhado das tecnologias, obtido pela identificação

do ciclo de vida das tecnologias, foi gerado pela separação dos temas de pesquisa dos

artigos e patentes em categorias gerais e específicas para os documentos publicados no

período de 2004 a 2011. A escolha do período diferente do período total da amostra – 1979

a 2011 – justifica-se por ser encontrado neste período bua parte dos artigos científicos e

documentos de patentes (pelo menos 67% dos artigos e documentos de patentes estão

neste período), sendo uma forma de ser conhecido o estágio mais atual do desenvolvimento

das tecnologias.

Além disso, a elaboração de categorias específicas identificam os documentos das

amostras pelos temas principais de forma mais precisa. As categorias gerais consideradas

foram separadas em categorias específicas após a leitura da grande maioria dos documentos

da amostra. A intenção desse processo é de incluir todos os documentos da amostra em

uma categoria específica, sem criar uma opção de “outros” e bem compreender o perfil das

tecnologias. O processo de escolha das categorias específicas foi cíclico – diversas categorias

foram criadas em etapa posterior à escolha final – até que todos pudessem ser

categorizados. As categorias gerais e a qualificação dos documentos que os inserem nessas

categorias são:

Fundamentos: pesquisa básica das técnicas de conversão, identificado apenas

em artigos científicos;

Processo: desenvolvimento de técnicas que permitam a conversão de biomassa;

Aplicação: processos desenvolvidos direcionados à utilização dos produtos

primários gerados – gás de síntese, óleo de pirólise, e outros produtos primários;

Impacto: estudo de impacto social ou ambiental das tecnologias, apenas para

artigos científicos.

Desses temas principais podem ser subdivididos os assuntos específicos de cada

artigo e patente de acordo com a abordagem, já que existem direcionamentos diversos,

como cinética das reações, processo de pré-tratamento do material, condições de processo,

operação de downstream, desenvolvimento da aplicação do produto primário. A

classificação dos documentos resultou da leitura dos títulos e resumos dos artigos, buscando

70

cobrir todos os temas de forma estratégica a definir o estado de desenvolvimento das

técnicas de conversão de biomassa. Estas categorias específicas são apresentadas na Tabela

5.2, relacionando cada uma com a categoria global referente.

Tabela 5.2 Classificações específicas que detalham as categorias gerais do estudo dos artigos científicos de gaseificação e pirólise de biomassa.

Categoria geral Categoria específica Descrição

Fundamentos

Termodinâmica Modelo de equilíbrio termodinâmico dos produtos formados, energia química antes e depois da conversão e outros estudos termodinâmicos.

Cinética Taxa de decomposição da matéria prima e formação dos produtos.

Processo

Aumento de escala Estudos de aumento de escala do processo.

Qualidade do produto

Pesquisas envolvendo trabalhos de melhorias do produto, como separação em produtos específicos, downstream e upstream.

Caracterização dos produtos

Estudos com objetivo principal de identificar a característica do produto primário obtido.

Composição da biomassa

Avaliação da composição da biomassa para obtenção dos produtos primários. Alguns desses estudos trabalham com mistura de matéria prima renovável com não-renovável.

Condição de operação

Uso de catalisadores, diferentes condições de temperatura, pressão, tipo e design do reator

Pré-tratamento Trabalhos relacionados com o pré-tratamento da biomassa antes do uso das tecnologias estudadas.

Aplicação

Combustível líquido

Uso dos produtos primários para a obtenção de combustíveis obtidos por Fischer-Tropsch, etanol, e análise econômica ou técnica sobre o uso da gaseificação para obtenção de combustíveis.

Eletricidade

Uso de gaseificadores combinados com sistemas de geração de eletricidade, análises econômicas e técnicas quanto à aplicação de sistemas de geração de energia em locais específicos.

Produtos químicos

Produtos químicos gerados a partir da biomassa convertida termicamente, podendo ser análise técnica ou econômica sobre os processos aplicados a produtos químicos.

71

5.6 Combinação de parâmetros de análise

Os parâmetros utilizados no estudo de monitoramento das tecnologias de conversão

térmica de biomassa correspondem a informações importantes daqueles perfis. Para que o

monitoramento das tecnologias fosse mais completo, como conhecer se há progressão ou

declínio do interesse da tecnologia em um determinado país, por exemplo, criou-se uma

combinação dos parâmetros analisados. Existe ampla possibilidade de interação entre os

parâmetros, por isso a escolha desses foi feita pela análise de relevância que daquela

informação ofereceria ao trabalho final. As combinações geradas estão listadas na Tabela

5.3. Cada artigo e patente foi numerado, e a numeração permitiu a combinação das

informações e a elaboração do monitoramento quantitativo.

Tabela 5.3 Combinação dos parâmetros de análise dos artigos e patentes sobre conversão térmica de biomassa

Artigos científicos Documentos de patente

Período x País ou região Período x País ou região

Tipo de instituição (empresa) x Período Categorias gerais x Período

Tipo de instituição (empresa) x País ou região Categorias gerais x País ou região

Categorias gerais x Período Categoria específica (aplicação) x Período

Categorias gerais x País ou região

Categorias específicas x Período

Aplicação x Período

72

CAPÍTULO 6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A criação de perfis de monitoramento tecnológicos utilizando publicações científicas

e documentos de patentes fornecem dados importantes de das tendências das tecnologias.

Mesmo que este tipo de análise bibliométrica não possa ser considerado isoladamente como

um método decisivo de tomada de decisão, uma pesquisa neste campo pode indicar

caminhos promissores, ou serem identificados pontos críticos de origem técnica ou de

questões de regulamento que tornariam as tecnologias estudadas em viáveis

economicamente.

As questões apresentadas no primeiro capítulo que orientaram a pesquisa são

complicadas de serem respondidas da maneira que se apresentam. Por isso, questões

auxiliares, relacionadas àquelas, foram formuladas para conduzir o trabalho com o uso de

bibliometria:

Comparando as conversões de biomassa por gaseificação e pirólise, qual está

mais desenvolvida e converge mais para a viabilidade econômica?

O número de artigos e patentes sobre gaseificação e pirólise indica maior

esforço para desenvolver qual das tecnologias?

Qual é o perfil temporal de publicação de patentes sobre cada tecnologia? É

possível identificar crescimento do interesse em aperfeiçoar as tecnologias?

Qual tipo de instituição – universidades, centro de pesquisa – mais atuam na

publicação de artigos científicos e patentes?

A análise dos artigos e patentes mais atuais caracteriza as tecnologias em

estágios de desenvolvimento próximo de uma aplicação comercial ou ainda

apresentam características de pesquisa básica?

Quais países identifica-se maiores esforços para obtenção de produtos viáveis

originados de fonte renovável e transformados por termoconversão?

Em quais países se concentram a pesquisa e as publicações de patentes?

Essa característica apresenta mudança com o tempo?

Quais países são responsáveis por estágios mais avançados no

desenvolvimento das tecnologias?

73

Quais são os produtos gerados por gaseificação e pirólise de biomassa são mais

propensos a serem viáveis economicamente?

Pode ser identificada nos artigos e patentes maior esforço de

desenvolvimento do uso dos produtos primários das tecnologias em questão

para alguma aplicação?

As questões de trabalho foram segmentadas em tópicos para melhor apresentação

dos resultados:

Produção temporal: descreve a evolução temporal das publicações de artigos e

patentes. O perfil de produção com o tempo foi verificado associado com os

outros tópicos.

Produção geográfica: descreve a evolução temporal das publicações e patentes e

pretende localizar onde as técnicas são mais investigadas.

Atuação de instituições: apresenta o tipo de instituição mais produz informações

sobre as técnicas – universidades, centro de pesquisa ou empresas – para auxiliar

na compreensão da etapa de desenvolvimento das tecnologias. As formas de

cooperação são igualmente analisadas.

Perfil tecnológico: identifica os principais rumos das tecnologias no que tange a

etapa do ciclo de vida e a aplicação dos produtos primários obtidos da

gaseificação e pirólise de biomassa através da classificação de cada artigo e

documento de patente publicados no período de 2004 a 2011 em categorias

gerais e específicas.

6.1 Produção temporal

O monitoramento de uma tecnologia por bibliometria é, em geral, iniciado pela

quantificação do número de artigos e patentes publicados em cada ano. Essa quantificação

permite identificar períodos que separam o interesse nas tecnologias estudadas em

diferentes etapas, que pode ser motivado por mudanças e paradigma na produção.

A avaliação da evolução temporal por assuntos de gaseificação ou pirólise de

biomassa permite detectar os perfis de progresso. Essas diferentes etapas podem indicar

motivações distintas em direção ao avanço dos temas e em direção a melhorias no processo.

Esta análise inicial possibilita uma visão geral da dimensão das técnicas no meio acadêmico e

74

das intenções de destino das tecnologias. A Figura 6.1 ilustra o progresso anual dos artigos

sobre gaseificação e pirólise de biomassa enquanto que a Figura 6.2 aponta os avanços de

patentes publicadas sobre ambos os processos. A busca por fontes renováveis e processos

capazes de adequarem-se à realidade atual da sociedade de preocupação ambiental e

menor dependência de matérias primas fósseis é refletida no crescimento de publicações

sobre o tema.

Figura 6.1 Evolução do número artigos científicos publicados sobre gaseificação ( ) e pirólise ( ) de biomassa no período de 1979 a 2011. Total de artigos sobre gaseificação: 772. Total de artigos sobre pirólise: 635.

Figura 6.2 Evolução do número de patentes publicadas sobre gaseificação ( ) e pirólise ( ) de biomassa no período de 1979 a 2011. Total de patentes da amostra sobre gaseificação: 1454. Total de patentes da amostra

sobre pirólise: 415.

A diminuição do número de artigos e patentes com o tempo poderia significar, de

acordo com o conceito de ciclo de vida, que a tecnologia está bastante desenvolvida e, por

isso, poucas pesquisas e patentes são publicadas, ou que as possibilidades de melhorias e

0

20

40

60

80

100

120

1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011

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100

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250

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350

1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011

me

ro d

e p

ate

nte

s p

ub

licad

as

75

alcance da etapa comercial são bem remotas – não sem alguma modificação crucial no

processo que ainda não foi desenvolvida ou um aumento tão elevado no custo dos produtos

ou processos competitivos que tornem aquele que é então não viável em mais interessante

economicamente. Entretanto, não é o caso visualizado nas Figuras 6.1 e 6.2. Os perfis

ilustrados indicam crescimento em ambos os processos de conversão térmica de biomassa

tanto na análise de artigos publicados quanto patentes publicadas. Isso corrobora que a

procura por processos que representem sustentabilidade é progressivo, ao menos para os

processos aqui analisados. Mais especificamente, esses resultados são um indicativo de que

as técnicas de termoconversão possam vir a ser viáveis. Sabendo que as técnicas

monitoradas neste trabalho são bem pouco difundidas comercialmente, o reconhecimento

de que há aumento do desenvolvimento das técnicas pode ser interpretado como uma

evolução.

Entretanto, comparativamente, a técnica de gaseificação pode estar em uma etapa

da evolução mais avançada, já que as Figuras 6.1 e 6.2 mostram quantidades de artigos e

patentes publicados mais altos relativos à técnica de gaseificação.

Ainda analisando as Figuras 6.1 e 6.2, é possível identificar períodos em que há

padrões de crescimento das publicações. Os períodos identificados na primeira figura, que

mostra o número de artigos científicos são:

1979 – 1997 – até este período as publicações foram abaixo de 1% do total,

sem regularidade da publicação;

1998 – 2004 – as publicações atingem 2% do total, ainda sem padrão regular

de crescimento;

2005 – 2011 – é identificado avanço no número de publicações, podendo ser

considerado um aumento exponencial nos números para ambas as técnicas

(r²= 0,94 para gaseificação e r²= 0,87 para pirólise).

Os períodos identificados na segunda figura, que mostra o número de patentes

publicadas:

1979 – 2002: até este período as patentes sobre gaseificação representaram

menos que 1% do total;

76

2003 – 2007: crescimento significativo do número de patentes de gaseificação

de biomassa, enquanto que as patentes em pirólise aparecem com menos de

1%;

2008 – 2011: o avanço na geração de patente de ambas as técnicas significa

crescimento de mais de cinco vezes em 2011 em relação a 2007 (seis vezes

em gaseificação e quase oito vezes em pirólise).

Alguns dados históricos podem auxiliar na correlação desta periodicidade

encontrada. O início das publicações e patentes, em torno de 1980, mesmo que discretas,

pode indicar atitudes de pesquisadores em resposta ao segundo choque do petróleo,

quando ocorreu o corte na venda e na distribuição de petróleo pelos países membros da

Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e do Golfo Pérsico aos Estados

Unidos e Europa. Este fato conduziu a alta no barril de petróleo e, em consequência, nos

produtos derivados deste. Mais do que um movimento de busca de alternativas menos

prejudiciais ao meio ambiente, as pesquisas de substituição de produtos do petróleo por

produtos de fonte renovável foram iniciadas por questões econômicas.

Em 1997, a assinatura do protocolo de Quioto por 84 países pode ter sido importante

no estímulo das pesquisas com biomassa, mesmo que a validade da medida fosse, de fato,

iniciada em 2005 (http://unfccc.int). O tratado internacional compromete os países

envolvidos à redução de emissões de gases estufa e as pesquisas iniciam os esforços para a

obtenção de produtos e processos que atendam a esta expectativa. O mercado de carbono

gerado a partir deste tratado e iniciado no ano 2000 indica que, mesmo que algum aspecto

ambiental seja concebido com este fator, a questão econômica permanece importante.

Mais recentemente, a terceira crise do petróleo no final de 2007 até 2008 pode ter

desencadeado o crescimento mais expressivo do número de publicações científicas e

patentes para obtenção de produtos de origem renovável.

Estes fatores econômicos, aliados à conscientização social e regulamentações criadas

para produções mais limpas propiciam a forte tendência de buscar produtos menos

dependentes de fonte fóssil, num conjunto de uma nova conjuntura concebida

mundialmente. O aumento do investimento intelectual e financeiro na obtenção de

produtos por gaseificação e pirólise não é um indicador isolado de que uma nova diretriz se

77

posiciona. No futuro pode ser que diversas tecnologias existentes hoje para a geração de

produtos de fonte fóssil serão adaptadas para a produção com renováveis.

6.2 Produção geográfica

Estes perfis são identificados nos países onde o número de artigos e documentos de

patentes são mais aparentes. Estas considerações são apresentadas nas análises de visão

acumulada e evolutiva dos principais países responsáveis pelas publicações dos artigos e os

principais países onde as patentes foram depositadas.

6.2.1 Visão acumulada dos artigos científicos publicados por países

A Figura 6.3 identifica a dispersão dos artigos científicos relativos aos países com

mais de 10% de publicações de artigos sobre o total no período estudado. Lembrando que os

artigos agrupados nas bases de dados foram identificados por país do primeiro autor

naqueles que os autores fossem de mais de um país e o mesmo para documentos de

propriedade intelectual. Os países da Europa foram agrupados num único grupo região já

que existem na Europa diversos projetos de financiamento de pesquisa na região, como o

sistema de pesquisa científica European Research Area (área de pesquisa europeia)

conceitua (http://ec.europa.eu/research/era/index_en.htm), numa estrutura de cooperação

multinacional nos campos de pesquisa competitiva desde o ano 2000. Os países europeus

que formam este grupo são listados na Tabela 6.1.

Figura 6.3 Total de publicações separados por região/países para gaseificação (a) e pirólise (b) de biomassa. Total de artigos sobre gaseificação: 772. Total de artigos sobre pirólise: 635. São representados os países com

mais de 10% das publicações totais.

A Europa aparece destacada na Figura 6.3, com mais de 40% das publicações

científicas. Os Estados Unidos e China representam alta porcentagem do número total e o

Europa 43%

EUA 17%

China 12%

Japão 12%

Outros 16%

Europa 42%

Estados Unidos

16%

China 14%

Outros 28%

(

a)

(

b)

(b) (a)

78

Japão tem destaque apenas no desenvolvimento da técnica de gaseificação de biomassa. Os

países que compõem o conjunto de “outros” são: África do Sul, Argentina, Austrália,

Bangladesh, Brasil, Bulgária, Burquina Faso, Canadá, Cingapura, Colômbia, Coréia do Sul,

Cuba, Índia, Irã, Iraque, Israel, Malásia, Nova Zelândia, Paquistão, Sérvia, Tailândia, Taiuã,

Tunísia, Tunísia, Turquia e Uruguai.

Tabela 6.1. Países que representam o grupo “Europa” nos resultados de produção de artigos científicos. Total de artigos sobre gaseificação: 772. Total de artigos sobre pirólise: 635.

Artigos sobre gaseificação Artigos sobre pirólise

País Número de artigos País Número de artigos

Espanha 56 Reino Unido 48

Holanda 39 Espanha 35

Itália 37 França 35

Suécia 28 Grécia 26

Alemanha 25 Itália 26

França 22 Holanda 22

Inglaterra 22 Alemanha 11

Áustria 18 Bélgica 11

Grécia 15 Finlândia 9

Finlândia 12 Noruega 9

Suíça 12 Portugal 8

Bélgica 8 Suécia 8

Polônia 8 Rússia 4

República Tcheca 8 Estônia 3

Noruega 7 Dinamarca 2

Dinamarca 4 Polônia 2

Irlanda 4 Romênia 2

Rússia 4 Escócia 1

Portugal 3 Hungria 1

Romênia 3 Irlanda 1

Bielorrússia 1 Letônia 1

Hungria 1 Luxemburgo 1

Reino Unido 1 Suíça 1

Letônia 1

79

6.2.2 Visão acumulada dos documentos de publicados por países

A Figura 6.4 ilustra a dispersão das patentes publicadas nos países com mais de 8%

de patentes depositadas. Os países identificados são os mesmos países que aparecem na

análise geográfica de artigos publicados, e os países que representam a Europa aparecem na

Tabela 6.2. Diferentemente dos resultados de comparação entre países dos artigos

publicados, os dados das análises de patentes demonstram que a China aparece com o

maior número de patentes depositadas prioritariamente. A diferença é significativa,

considerando que na primeira análise a China representa pouco mais de 10% dos artigos de

cada tecnologia. Já ao avaliar os valores para os Estados Unidos, apesar de representarem

mais de 15% das publicações de artigos, este país aparece com metade da porcentagem na

segunda análise. Da mesma forma, são identificados números bem menos expressivo em

relação a patentes publicadas em escritórios de patente na Europa.

Figura 6.4 Total de documentos de patente publicados separados por região/país para gaseificação (a) e pirólise (b) de biomassa. Total de patente sobre gaseificação: 1454. Total de patentes sobre pirólise: 415.

A diferença dos valores de artigos e patentes pode identificar que nos países com

maiores porcentagens de patentes publicadas existe maior interesse em aplicação da

tecnologia. Essa informação é analisada e apresentada ainda neste capítulo.

Uma análise mais detalhada sobre a importância destes países para o

desenvolvimento das pesquisas e patentes pode ser realizada com a exploração desta

produção científica no tempo, segmentada em períodos.

Europa 12% Estados

Unidos 8%

China 60%

Japão 15%

Outros 5%

Europa 26%

Estados Unidos

18% China 40%

Outros 16%

(b) (a)

80

Tabela 6.2. Países que representam o grupo “Europa” nos resultados de produção de artigos científicos. Total de patente sobre gaseificação: 1454. Total de patentes sobre pirólise: 415.

Patentes sobre gaseificação Patentes sobre pirólise

País N° de patentes País N° de patentes

Alemanha 63 European Patent Office 36

European Patent Office 44 Alemanha 27

França 11 França 12

Grand Bretanha 7 Rússia 5

Países Baixos 7 Espanha 2

Portugal 7 Suécia 2

Espanha 6 República Tcheca 2

Itália 6 Áustria 2

Áustria 5 Itália 2

Finlândia 3 Hungria 1

Hungria 2 Finlândia 1

Noruega 2 Bélgica 1

República Tcheca 2 Dinamarca 1

Romênia 2

Suécia 2

Bélgica 1

Dinamarca 1

6.2.3 Visão evolutiva das publicações de artigos científicos

Numa visão geral, todos os países/região representados obtiveram aumento

progressivo na produção científica sobre gaseificação e pirólise de biomassa. Na Figura 6.5

(a), a China aparece com a maior diferença entre o segundo e o terceiro período, retratando

um aumento de nove vezes o número de publicações. Europa, Estados Unidos e Japão

apresentam três vezes mais publicações na mesma comparação. Os Estados Unidos

publicaram um terço dos artigos publicados pela Europa, enquanto que os valores da China

são de um pouco mais que 50%. Em relação à pirólise de biomassa, a Figura 6.5 (b) mostra

que as publicações chinesas representaram próximo de treze vezes o crescimento dos

valores de publicações. A Europa contribui com quase quatro vezes mais publicações entre

os dois períodos.

81

Figura 6.5 Número de publicações de artigos científicos por país – país/região com maior número de artigos científicos publicadas. Gaseificação (a) e pirólise (b) de biomassa. Total de artigos sobre gaseificação: 772. Total

de artigos sobre pirólise: 635.

Enquanto que o número dos artigos publicados nos Estados Unidos continua sem

variação elevada ao longo do tempo, países europeus se tornaram envolvidos de forma

crescente. Kirkels e Verbong (2011) citam a Alemanha, Áustria, Suécia e Finlândia como os

países líderes em gaseificação de biomassa, e outros como Países Baixos, Itália, Reino Unido,

Suíça e Dinamarca são representativos em desenvolvimento da tecnologia e de

implementação.

O destaque da China aparece de forma clara para ambas as tecnologias para o

período mais recente. Este resultado expressivo da China, comparado com os outros países

leva a algumas observações relativas à atividade industrial daquele país.

Comparado com os Estados Unidos, os projetos de gaseificação de carvão mineral da

China são bastante significativos (Olliver, 2012), visto que são cenários diferentes de

indústrias e são diferentes os interesses de uso das matérias primas. A Tabela 6.3 identifica

esta diferença.

0

50

100

150

200

Europa EUA China Japão Outros

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ub

licaç

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s d

e

arti

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1980-1997 1998-2004 2005-2011

0

50

100

150

200

Europa EUA China Outros

1980-1997 1998-2004 2005-2011

(b) (a)

(

a)

(

b)

82

Tabela 6.3. Contrastes econômico entre China e Estados Unidos. Adaptado de Olliver (2012).

China Estados Unidos

Economia cresce rapidamente Economia em recuperação

Crescente demanda de energia Crescimento modesto da demanda de

energia (comparado com a China)

Altos preços de gás natural Preços baixos de gás natural

Alto crescimento de demanda de produtos Baixa demanda de produtos

Ambientes social e político receptivo para

uso de carvão mineral

Ambientes social e político negativos para

uso de carvão mineral

6.2.4 Visão evolutiva dos documentos de patente publicados por países

A Figura 6.6 demonstra como são distribuídas as publicações de documentos de

patentes nos períodos selecionado na mesma análise de artigos científicos.

Figura 6.6 Número de documentos de patente publicados por país/região. Gaseificação (a) e pirólise (b) de biomassa. Total de patentes da amostra sobre gaseificação: 1454. Total de patentes da amostra sobre pirólise:

415.

Observa-se importante participação da China no último período explicitamente,

assim como observado na Figura 6.5. O interesse em segurança energética, crescimento

econômico e desenvolvimento e estabilidade macroeconômica direciona desenvolvimentos

para fonte de energia diversificada, eletricidade a baixo custo e confiável e o

desenvolvimento de propriedade intelectual doméstica em tecnologias de energia (Morse,

Rai e He, 2009).

0

200

400

600

800

Europa EUA China Japão Outros

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licad

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1979-1997 1998-2004 2005-2011

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200

400

600

800

Europa EUA China Outros

1979-1997 1998-2004 2005-2011

(a) (b)

83

6.3 Atuação de instituições

A avaliação do tipo de instituição que atua na publicação de artigos e patentes pode

caracterizar o quão inserida na indústria está a tecnologia.

6.3.1 Visão acumulada dos artigos científicos publicados por empresas

A análise dos artigos científicos mostra nos resultados do tipo de instituição

responsável pelas publicações (Tabela 6.3. ) por universidades contabilizam mais de 60% de

todos os artigos científicos amostrados neste trabalho. Estes valores confirmam que as

universidades são, em geral, as instituições que mais publicam produção científicos, já que a

construção da base científica começa nestas instituições de ensino. Centros de pesquisa

seguem com 15% e 16% de publicações sobre gaseificação e pirólise e empresas com 3% e

1%, respectivamente. Os resultados expõem também que a cooperação é relevante para

ambas as tecnologias analisadas neste trabalho.

Tabela 6.4. Porcentagem de artigos científicos publicados sobre gaseificação e pirólise de biomassa por instituições como universidades, centro de pesquisa e empresa. Total de artigos sobre gaseificação: 772. Total de artigos sobre pirólise: 635.

Tipo de instituição Gaseificação de

biomassa (%)

Pirólise de

biomassa (%)

Universidade 62 63

Centro de pesquisa 15 16

Empresa 3 1

Universidade & Centro de Pesquisa 11 13

Universidade & Empresa 5 5

Centro de Pesquisa & Empresa 2 1

Universidade & Centro de Pesquisa & Empresa 2 1

Segundo Kroll e Stahlecker (2009), o sistema de pesquisa é conectado a um número

de outros subsistemas socioeconômicos regionais – como o sistema de ensino – que podem

ou não serem considerados no sistema de inovação. A atividade das universidades nas

pesquisas garante a evolução das técnicas, já que muito do conhecimento gerado na

pesquisa permanece nesse sistema e é constantemente realimentado no sistema, em loops

internos de feedback. Entretanto, devido à incerteza inerente ao aprendizado, é difícil

prever-se como o conhecimento será transferido para o exterior deste sistema de pesquisa,

84

o qual se diferencia por ter foco na criação e não a transformação e comercialização do

conhecimento.

A porcentagem de participação de empresas na publicação dos artigos é

consideravelmente menor que os outros tipos de instituição visto que a cultura empresarial

direciona as pesquisas para a geração de patentes ou preservação da tecnologia por segredo

industrial. Entretanto, o percentual total da participação deste tipo de instituição,

considerando inclusive as colaborações, demonstra que empresas também trabalham para a

evolução da tecnologia. Com a soma destes valores, as empresas participam com 12% das

pesquisas de gaseificação e 8% na pesquisa de pirólise.

6.3.2 Visão evolutiva das publicações de artigos científicos por empresas

O aumento no interesse das empresas por ambas as tecnologias pode ser, de fato,

observado quando avaliada a evolução temporal da participação de empresas nas pesquisas,

como demonstrado na Figura 6.7, que traça os valores de publicação por empresas durante

os períodos separados.

Figura 6.7 Publicações científicas de empresas isoladamente e em colaboração com universidades e centros de pesquisa separados por períodos. Gaseificação ( ); pirólise ( ). Total de artigos sobre gaseificação publicados por empresas com ou sem colaboração com outras instituições: 90. Total de artigos sobre pirólise publicados

por empresas com ou sem colaboração com outras instituições: 46.

O alcance do sucesso da inovação depende de interação entre as partes interessadas

no desenvolvimento. O desenvolvimento da pesquisa não pode ser limitado às organizações

dedicadas exclusivamente para essa atividade. Segundo Kroll e Stahlecker (2009), observa-se

na prática a investigação realizada por entidades que também educam e/ ou inovam. Nesta

concepção, as universidades funcionam como a ponte organizacional entre ensino e

pesquisa, enquanto que as empresas servem como ponte entre as organizações de

0

10

20

30

40

50

60

1979-1997 1998-2004 2005-2011

Pu

blic

açõ

es

de

art

igo

s p

or

em

pre

sas

85

investigação e inovação. Essa interpretação europeia do que a pesquisa representa para a

inovação pode ser observada ao analisar a Figura 6.8, na qual é visível a participação maior

de empresas europeias na publicação de artigos sobre gaseificação e pirólise de biomassa. O

relatório da UNESCO e Shell (2007) atentam para a importância da atuação das empresas

nos países em desenvolvimento, entretanto, pouco deste conceito é praticado

especificamente para as tecnologias de gaseificação e pirólise, como observado nos

resultados na Figura 6.8 na categoria de “outros”, que compreendem principalmente países

em desenvolvimento.

Figura 6.8 Publicações científicas de empresas isoladamente e em colaboração com universidades e centros de

pesquisa separados por países e região. Gaseificação ( ); pirólise ( ).

Os registros de publicações de empresas são enfatizados neste trabalho como parte

da observação da perspectiva de aplicações comerciais dos produtos obtidos por

gaseificação e pirólise de biomassa. As empresas responsáveis pelas publicações são

apresentadas no Anexo.

6.3.3 Visão acumulada dos documentos de patente publicados por instituições

Na avaliação do tipo de instituição que publicaram as patentes analisadas sugere a

participação de pessoas físicas além da participação de universidade, centro de pesquisa e

empresa. A Tabela 6.5. apresenta esses valores, sendo possível perceber que grande parte

das patentes publicadas são de pessoas físicas sem qualquer relação com empresas, centros

de pesquisa ou universidade. Os números mostram que quase 40% das patentes sobre

gaseificação são desse tipo contra quase 30% para patentes sobre pirólise. Sabe-se que

0

10

20

30

40

Europa Japão EUA China Outros

me

ro d

e a

rtig

os

cie

ntí

fico

s

(

b)

(

b)

(

a)

86

algumas patentes são publicadas por pessoas físicas apesar de serem desenvolvidas em

empresas, por diversas razões. Porém essas patentes não podem ser distinguidas apenas

pelos dados de publicação.

Tabela 6.5. Porcentagem das patentes publicadas relativo a gaseificação e pirólise de biomassa separado por tipo de instituição depositante: universidade, centro de pesquisa, empresa e pessoa física. Total de patentes sobre gaseificação: 772. Total de patentes sobre pirólise: 415.

Tipo de instituição Gaseificação de

biomassa (%)

Pirólise de biomassa

(%)

Universidade 9 18

Centro de pesquisa 4 8

Empresa 42 39

Pessoa física 39 28

Empresa & Pessoa física 3 4

Empresa & Universidade 1,5 0,7

Empresa & Centro de pesquisa 0,7 0,3

Universidade & Pessoa física 0,3 1,6

Centro de Pesquisa & Universidade 0,3 0

Centro de Pesquisa & Pessoa física 0,2 0,4

Percentualmente nota-se que universidades e centro de pesquisas são responsáveis

por desenvolver mais a tecnologia de pirólise de biomassa que gaseificação. Já os valores de

porcentagem de participação de empresas aparece equivalente. As colaborações observadas

nos valores das tabelas são menos significativas que os valores encontrados para os dados

de artigos científicos.

As empresas responsáveis pela publicação das patentes são apresentadas no Anexo.

6.4 Perfil tecnológico

A análise do perfil tecnológico de gaseificação e pirólise de biomassa, como

detalhadamente descrito no quinto capítulo, foi formulado através da leitura dos títulos e

resumos de cada artigo e patente da amostra no período de 2004 a 2011, representando

pelo menos 67% do total das bases de dados. Isso significa 574 do total de 772 artigos

publicados sobre gaseificação de biomassa (74%), 424 das 635 patentes publicadas sobre

87

pirólise de biomassa (67%), 1308 das 1454 patentes publicadas sobre gaseificação de

biomassa (90%), 353 das 415 patentes publicadas sobre pirólise de biomassa (85%).

6.4.1 Artigos científicos publicados

Ao avaliar o perfil das pesquisas sobre gaseificação e pirólise de biomassa

apresentado na Figura 6.9 9 é possível observar que as pesquisas de ambas as técnicas são

mais numerosos em relação ao desenvolvimento dos processos comparado com as

pesquisas de fundamentos e aplicações. Algumas observações podem ser feitas a partir da

figura: o conhecimento da base da técnica, as reações entre os componentes da biomassa, a

termodinâmica do processo, assim como a fluidodinâmica das partículas são considerados

obstáculos menos problemáticos ao processo, já que existe menor envolvimento de

pesquisa nesta etapa. Já curva de desenvolvimento do processo aparece mais destacada e

crescente, o que designa interesse progressivo do estudo de ambas as técnicas. No entanto,

a curva de gaseificação de biomassa cresce em uma taxa superior à curva de processos

localizada na Figura 6.9(b) – pouco mais de nove artigos por ano para o primeiro e sete

artigos por ano para o segundo.

0

20

40

60

80

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

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ro d

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rtig

os

cie

ntí

fico

s

Fundamentos Processo Aplicação Impacto

(a)

88

Figura 6.9 Evolução temporal dos artigos científicos separados de acordo com os temas. Processo de

gaseificação (a) e de pirólise (b) de biomassa. Total de artigos sobre gaseificação: 574. Total de artigos sobre pirólise: 424.

Apesar de os valores que formam as curvas de estudos aplicados serem inferiores aos

outros temas de pesquisa, a existência de estudos direcionados a aplicação dos produtos

primários aparecem nas duas técnicas analisadas e apontam para a possibilidade de

comercialização dos processos, já que estudos sobre aplicação indicam que os estágios mais

básicos referente às técnicas já foram superados ou são bem menos problemáticos. Alguns

dos artigos analisados referem-se a plantas piloto ou em estágio de implementação

comercial em pequena escala.

Os artigos classificados como estudo de impacto da tecnologia avaliam a aplicação

teórica da tecnologia em determinado local, sendo a maioria desses são focados em regiões

da China e da Índia. A existência de artigos referentes a este tema revela que, apesar das

com as barreiras do processo, há expectativa de desenvolvimento do método e emprego em

algumas regiões. São, no total, 12 artigos que estudam o uso da tecnologia para a geração

de eletricidade, em locais em que este serviço básico é de difícil acesso. Alguns artigos

avaliam o benefício social na comunidade e outros avaliam também o efeito ambiental da

técnica aplicada na região.

Em relação à técnica de pirólise, o perfil identificado é diferente. Os estudos sobre as

aplicações dos produtos primários da pirólise são menos evidentes, o que pode indicar que a

técnica ainda necessita de aperfeiçoamento em etapas posteriores à aplicação, como

questões de melhoria de rendimento, melhoria na qualidade e estabilidade do bio-óleo,

melhorias das técnicas de separação do material e obtenção de produtos para uso final.

0

20

40

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80

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

me

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e a

rtig

os

cie

ntí

fico

s

Fundamentos Processo Aplicação

(b)

89

A diferença entre os resultados de temas dos artigos para gaseificação e pirólise pode

ter causa nas próprias diferenças das técnicas. O produto primário obtido da gaseificação é

principalmente gás, sendo o carvão formado geralmente considerado como resíduo. O uso

deste gás, normalmente rico em hidrogênio, pode ser utilizado para combustão e geração de

energia, ou podem ser transformados por reações em produtos químicos ou combustíveis

líquidos. Em contrapartida, o bio-óleo formado pela reação químicas de pirólise, como já

esclarecido no quarto capítulo, é instável, muito reativo, bastante viscoso, de composição

química variada e pouco previsível. Estas características de pouca reprodutibilidade e difícil

manuseio do produto primário dificultam o processo de industrialização.

No intuito de localizar os países das pesquisas que contribuem com o

desenvolvimento das técnicas, a Figura 6.10 distingue cada etapa do processo por

país/região. A Europa se destaca nos estudos dos processos em ambas as tecnologias e as

pesquisas neste estágio de desenvolvimento representam a maior fração dos esforços na

região e nos outros países demonstrados nos gráficos. O maior número de artigos relativos à

aplicação dos produtos primários é quantificado no grupo da Europa. Ainda em relação à

região, os estudos de aplicação são mais significantes para o processo de gaseificação

comparado à pirólise, o que mostra mais uma vez que o primeiro apresenta.

Considerando a fração de cada etapa separada geograficamente, os processos

respondem pela maior porcentagem, sendo 62% o valor mínimo (Europa) e 83% o valor

máximo (Japão) para gaseificação e 66% o valor mínimo (Outros) e 74% o valor máximo

(Estados Unidos) para pirólise. Esta análise permite identificar que a Europa representa forte

contribuição no desenvolvimento das técnicas em cada uma das etapas. Comparando com o

processo de gaseificação, a técnica de pirólise encontra-se em estágio menos avançado.

90

Figura 6.10 Etapas das tecnologias separadas por países/região. Gaseificação (a) e pirólise (b) de biomassa. Total de artigos sobre gaseificação: 574. Total de artigos sobre pirólise: 424.

6.4.2 Documentos de patente publicados

A Figura 6.11 representa a evolução temporal das duas etapas identificadas nas

patentes analisadas: patentes do processo (design de reatores, condição de operação, entre

outros) e aplicações dos produtos primários (obtenção de produtos químicos, geração de

energia elétrica e térmica ou obtenção de combustível).

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Fundamentos Processo Aplicação Impacto

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Fundamentos Processo Aplicação

(a)

(b)

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Figura 6.11 Evolução temporal das patentes publicadas sobre gaseificação (a) e pirólise (b) de biomassa separadas por temas. Total de patentes sobre gaseificação: 1308. Total de patentes sobre pirólise: 353.

A análise das patentes é importante para corroborar a informação de que as etapas

de processamento da biomassa para a conversão em produtos primários ainda estão sendo

desenvolvidas para, então, estes produtos serem direcionados a aplicação. Enquanto que

poderiam existir patentes relacionadas apenas às etapas do processo de conversão, também

são identificadas patentes relacionadas à aplicação do processo. Além disso, para as duas

técnicas de conversão o perfil das etapas são semelhantes.

O depósito de patentes com tema global de processo é expressivo, principalmente

para gaseificação. Identifica-se um crescimento do número das patentes sobre esta etapa

tanto de gaseificação quanto de pirólise a partir de 2008. Em gaseificação, porém, o

crescimento é mais acentuado e se mantém com alto valor, próximo de 280 patentes. O

número das patentes de pirólise são crescentes, porém mais discreta.

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Processo Aplicação

(a)

(b)

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Figura 6.12 Etapas das patentes de gaseificação (a) e pirólise (b) de biomassa separadas por país/região. Total de patentes sobre gaseificação: 1308. Total de patentes sobre pirólise: 353.

A China é o país que, mais uma vez, tem resultados acentuados referentes aos

processos de conversão de biomassa, observado na Figura 6.12. O número de depósitos na

China sobre processos de gaseificação passa de 35 patentes entre 2004 e 2007 para 789 no

período de 2008 a 2011. Este crescimento abrupto explica a impulsão da curva de processo a

partir de 2008 observada na Figura 6.12(a). Também é identificado um sobressalto no

mesmo período no número de patentes sobre pirólise, porém com menor intensidade (8

patentes no primeiro período e 131 no segundo). Este degrau identificado pode estar

associado à situação de crise energética no país. Em 2008, a empresa fornecedora de

inteligência de mercado da indústria Industrial Info Resources (IIR, 2008 apud ISA, 2008),

afirmou que a escassez de carvão mineral vai se tornar um dos principais fatores na restrição

de fornecimento de energia. Desde o início daquele ano a China enfrenta escassez da

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Processo Aplicação

(b)

(a)

93

matéria prima. Adicionado à iminência de escassez elétrica decorrente dos períodos de

secas, houve intervenção do governo chinês e o estoque diário de carvão aumentou em

janeiro de 2008. Segundo Aizhu e Bai (2008), a província chinesa de Guangdong, centro

manufatureiro da China, daria fortes subsídios aos pequenos produtores de energia, o que

aceleraria uma capacidade energética adicional para enfrentar uma grave crise energética

no ano devido a tempestades na província que diminuíram a capacidade energética. Mesmo

com uma diminuição do consumo de eletricidade em 13% em 2009 (IIR, 2009 apud

Electricity Forum, 2009), os investimentos no setor de energia totalizaram 117 bilhões de

dólares em 2011, o que justificaria a taxa de crescimento de patentes publicadas nos anos

recentes. Entretanto, o China Electricity Council (Conselho de eletricidade da China)

anunciou que o consumo crescente de energia deve desacelerar, já que a segunda maior

economia do mundo deverá desacelerar em 2012 por conta de incertezas na Europa e

outras economias desenvolvidas (China.org.cn, 2012).

6.4.3 Categorias específicas de processos de artigos científicos

O conhecimento mais detalhado dos desafios tecnológicos que os autores propõem

superar pode identificar os principais rumos da tecnologia e quais procedimentos ainda são

necessários para tornar a tecnologia viável economicamente. Esta análise compete apenas

para os artigos científicos. A Figura 6.13 representa a evolução dos temas específicos de

pesquisa relativos aos processos publicados nos artigos entre 2004 a 2011.

A Figura 6.13 (a) indica que existe pesquisa considerável sobre a qualidade do

produto e a condição de operação, portanto estas categorias específicas merecem

observação particular. No capítulo cinco foram detalhados os principais objetivos dos artigos

e patentes categorizados especificamente como desenvolvimento da qualidade do produto.

A curva deste tema específico na Figura 6.13(a) apresenta valores altos valores de artigos

deste tema específico, sendo que 20% do total dos artigos no período avaliado são sobre

remoção, reforma ou quantificação de alcatrão no processo. Esta alta porcentagem confirma

o problema de alcatrão gerado no processo. Altas concentrações deste componente no gás

causam danos nos equipamentos de processos posteriores de processamento do gás –

turbinas a gás, por exemplo – e prejudica o rendimento de reações de transformação em

produto final, como a reação de Fischer-Tropsch.

94

Figura 6.13 Artigos científicos classificados como tema geral de processo e separados em temas específicos no período de 2004 a 2011. Total de artigos sobre gaseificação: 574. Total de artigos sobre pirólise: 424.

Outro tema bastante estudado em processos é sobre a condição de operação. Os

artigos destas pesquisas variam de acordo com o produto resultante desejado. Então, neste

caso, as incertezas da tecnologia de gaseificação estão diretamente relacionadas com a

aplicação final. O alto número de artigos dedicados a estas etapas da tecnologia pode

determinar os principais obstáculos encontrados no processo.

Os outros temas específicos estudados são menos evidentes que os anteriores,

porém, dentre as outras categorias, vale apontar o progresso da curva dos artigos sobre

aumento de escala. Estes artigos referem-se a plantas piloto e plantas comerciais

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Aumento de escala Composição da biomassa

Qualidade do produto Condição de operação

Caracterização dos produtos Pré-tratamento

(b)

(a)

95

desenvolvidas, e o crescimento observado aponta para a evolução do processo em direção à

aplicação comercial do processo.

Atentando para a Figura 6.13 (b), as curvas mostram pouca diferença entre os temas

específicos, em valores oscilantes e não discrepantes dos outros. Contudo, é possível

observar incremento nos valores da maioria das curvas ao longo dos anos. A menos

significativa observada é a curva de “aumento de escala”, característica que aponta para o

menor interesse em escala comercial de pirólise.

De modo geral, a inexistência de um tema específico proeminente de pirólise e um

perfil não padronizado da evolução dos assuntos mostra como ainda há incertezas nos

métodos e indica que cada etapa do processo necessita ser desenvolvida. Em geral, os

entraves existentes relativos às características dos produtos obtidos da pirólise,

principalmente o bio-óleo, são encontrados nas curvas de “qualidade do produto”,

“caracterização do produto” e “composição da matéria prima”, em que trabalhos são

desenvolvidos para contornar a grande variabilidade das características físico-químicas do

bio-óleo resultante, como viscosidade, composição e instabilidade, fatores dependentes

diretamente da composição da matéria prima e das condições do processo.

6.4.4 Categorias de artigos científicos e patentes classificados como estudo de aplicação

Os resultados que seguem são referentes a estudos de pesquisa aplicada e patente

sobre os diferentes assuntos. No quinto capítulo foi apresentada a separação dos artigos e

patentes de acordo com os temas dedicados aos trabalhos.

6.4.4.1 Artigos científicos

A Figura 6.14 identifica os artigos cujos trabalhos envolvem a utilização dos produtos

primários para aplicação em energia (eletricidade e calor), combustível de transporte ou

produtos químicos. Estes valores de estudo de aplicação ilustram o direcionamento principal

das aplicações de cada técnica avaliada.

96

Figura 6.14 Artigos científicos separados por aplicações: energia, combustíveis e produtos químicos. Número

de artigos publicados sobre gaseificação de biomassa (a) na categoria “aplicação”: 288. Número de artigos publicados sobre gaseificação de biomassa (b) na categoria “aplicação”: 151.

É pertinente mencionar que os dados apresentados na figura representam 19% dos

artigos de gaseificação no período analisado e 10% dos artigos de pirólise no mesmo

período, o que já diferencia as tecnologias em relação ao estágio evolutivo.

A Figura 6.14(a) evidencia a existência de um direcionamento da tecnologia de

gaseificação para geração de energia. Já a Figura 6.14(b) indica orientação para produção de

combustíveis. Dentre estes trabalhos são identificados alguns dispostos a fazer uso do bio-

óleo em motores a diesel. Os estudos de aplicação para produto químico têm como

resultado final produtos variados, não aparecendo algum destacado. Esta análise de

aplicação conduz a acreditar que não existe ainda produto mais provável de ser alcançada a

viabilidade econômica para o processo de conversão de biomassa por pirólise.

A verificação da progressão anual das aplicações (Figura 6.15) aponta que o uso para

energia a partir da gaseificação não apenas apresenta alto valor acumulado, como mostra

que este valor é crescente e há forte interesse no desenvolvimento para obtenção de

energia. Já os valores de aplicação de pirólise prosseguem distribuídos ao longo do tempo.

(a) (b)

97

Figura 6.15 Evolução das categorias específicas de aplicação. Número de artigos publicados sobre gaseificação de biomassa (a) na categoria “aplicação”: 288. Número de artigos publicados sobre gaseificação de biomassa

(b) na categoria “aplicação”: 151.

6.4.4.2 Patentes publicadas

A conversão por gaseificação tem aplicações principalmente para a geração de

energia (Figura 6.16(a)), assim como identificado para os artigos analisados. Um terço do

total destas patentes desenvolvem a conversão da biomassa para produtos químicos. Estas

patentes têm como objetivo a produção de alguns produtos, como metanol, metano, dimetil

éter, hidrogênio, que podem ser posteriormente aplicados como combustível ou energia. O

mesmo acontece para as patentes sobre pirólise.

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Eletricidade Combustível Produtos químicos

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Energia

Energia Combustíveis

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Figura 6.16 Patentes publicadas separadas por aplicações: energia, combustíveis e produtos químicos. Número de patentes publicadas sobre gaseificação de biomassa (a) na categoria “aplicação”: 288. Número de artigos

publicados sobre gaseificação de biomassa (b) na categoria “aplicação”: 151.

A avaliação evolutiva das aplicações das patentes expõe um crescimento no número

das patentes sobre energia e, diferente do perfil observado nos estudos aplicados artigos, os

esforços para desenvolvimento de produtos químicos ilustrado na Figura 6.17(a) atingem

metade do número de patentes sobre energia. Nota-se igualmente um decaimento no

número de patentes referentes à obtenção de energia. Entretanto, não se pode dizer de fato

que se alcançou o pico máximo de geração de patentes sobre o assunto, visto que declínio

da curva é observado no ano mais recente. Para concluir que a tecnologia de gaseificação de

biomassa direcionada a energia é madura, mais pontos indicando queda no número de

patentes deveriam ser identificados.

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(a) (b)

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Figura 6.17 Evolução das categorias específicas de aplicação. Número de patentes publicadas sobre gaseificação de biomassa (a) na categoria “aplicação”: 288. Número de artigos publicados sobre gaseificação de

biomassa (b) na categoria “aplicação”: 151.

A Figura 6.17(b) revela que ao longo do tempo não existe elevado desempenho para

nenhuma das aplicações observadas. Entretanto, é possível identificar uma evolução no

número de patentes para obtenção de produtos químicos.

No que concerne o destino dos produtos primários, a aplicação para energia parece

pertinente. Esta tendência de focar-se no uso do processo para obtenção de energia surge

da busca por alternativas que sofram menos influencia das oscilações do preço do petróleo

no mercado mundial e procurar soluções de contorno do problema de geração de energia

em períodos de crise das principais fontes atuais. Referente à localização desta aplicação,

verifica-se que o depósito de patentes na China é quase um terço do total de patentes

depositadas no mundo com o objetivo de geração de energia no período analisado (vinte e

quatro patentes na China contra noventa da soma dos países prioridades). A demanda de

energia no país aumentou drasticamente ao longo das últimas décadas com a

industrialização rápida do país e a transformação de um dos principais centros de produção

mundial. A diferença encontrada nas porcentagens de cada aplicação para as tecnologias

pode ser mais uma vez explicada pela diferença do produto gerado e a curva de

aprendizagem das técnicas. Diversos estudos de aplicação de gaseificação compreendem

trabalhos de célula a combustível, com a geração de energia a partir de hidrogênio da

gaseificação, e ciclo combinado de gaseificação interna (IGCC). Ambos os métodos são

estudados e aplicados amplamente com o uso de carvão mineral como matéria prima. A

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Produto químico Combustível Energia

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Combustíveis

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aprendizagem do processo e seu desenvolvimento promovem naturalmente um

direcionamento do uso de biomassa para gerar energia igualmente. Entretanto, as pesquisas

de obtenção de combustíveis e produtos químicos mostram-se bem menos destacadas, visto

que os processos de conversão final dependem de um produto primário com alto grau de

qualidade para que a separação posterior seja eficiente e de baio custo.

No que tange a obtenção de produtos alternativos àqueles obtidos de fontes fósseis,

a identificação de um crescimento no direcionamento das aplicações do principal produto

gerado da pirólise – bio-óleo – para produtos químicos pode ser sustentada pelo aumento

do valor agregado da biomassa após a conversão. O bio-óleo é um produto de

processamento complicado dada suas características já mencionadas, então para haver

rentabilidade, o produto final deve sustentar o processo. O valor da eletricidade e

combustível de transporte de origem fóssil torna o processo não competitivo.

101

CAPÍTULO 7 CONCLUSÕES

O monitoramento por método bibliométrico dos artigos científicos e patentes

publicados originou-se da intenção de analisar e compreender as dinâmicas de evolução e

amadurecimento das tecnologias em foco. Os estudos realizados foram endereçados às

perguntas propostas no primeiro capítulo:

Dentre pirólise e gaseificação, qual pode ser identificada como mais próxima de

ser comercialmente viável?

Onde são localizados os maiores interessados em obtenção de produtos de fonte

renovável por termoconversão de biomassa?

Quais são os produtos mais propensos a serem obtidos através de gaseificação e

pirólise de biomassa?

A resposta à primeira questão pode ser respaldada em diversas análises

apresentadas no sexto capítulo. Inicialmente podem ser contestadas as diferenças de

quantidade de artigos científicos e patentes publicadas sobre os assuntos. Existe maior

número tanto de artigos quanto de patentes publicadas sobre gaseificação de biomassa

comparado com pirólise do mesmo material. Este resultado é tanto para a visão acumulada

quanto para a visão evolutiva, apesar de que ambas as técnicas de conversão demonstram

através de bibliometria que existe avanço tecnológico. A tendência do uso de matérias

primas renováveis e a transformação destas por métodos já conhecidos e desenvolvidos

para outros tipos de materiais conduzem o interesse no uso da gaseificação e pirólise como

métodos de obtenção de produtos bio derivados. Nesse contexto, a conversão de biomassa

por gaseificação demonstrou-se mais evoluída frente à técnica de pirólise de biomassa já

que:

o número total de artigos científicos no período analisado totalizam 20% a mais

que os de pirólise e as patentes publicadas no mesmo período são 3,5 vezes mais

numerosas sobre gaseificação que pirólise;

as etapas de desenvolvimento verificadas apontam para um estágio evolutivo

mais avançado da conversão por gaseificação

102

– a análise bibliométrica dos artigos científicos sugere que as pesquisas

relativas aos fundamentos da pirólise de biomassa têm maior incidência

que os estudos de aplicação, constatando-se necessidades de progresso

básico da técnica de pirólise;

– O total das contribuições de empresas para as técnicas de conversão

termoquímica de biomassa é de 12% dos artigos de gaseificação contra

8% dos artigos de pirólise entre 1979 a 2011;

– existem quatro vezes mais patentes publicadas referentes aos processos

de conversão por gaseificação que por pirólise no período de 2004 a 2011;

No que concerne ao principal agente de desenvolvimento das tecnologias, os

resultados obtidos permitem concluir que:

Europa, Japão, China e Estados Unidos desenvolvem pesquisa sobre ambas as

técnicas com tanta relevância quanto desenvolvem patentes sobre as

mesmas;

A base de dados de artigos científicos identifica a Europa como uma região

onde os interesses de desenvolvimento da técnica são consideráveis, com

empresas dedicadas a evolução de ambos os processos, mesmo que em

diferentes graus.

A constatação de menor importância da Europa em relação a patentes

publicadas é relativa ao elevado número de patentes depositadas na China.

Mesmo que os artigos científicos originados daquele país tenham sido

elevados nos últimos anos – aumento de quase 3 vezes o número de patentes

do período de 1998-2004 a 2005-2011 para gaseificação e aumento de quase

18 vezes para pirólise – o número de documentos de patente chama a

atenção para o papel da China no desenvolvimento das técnicas.

A tendência de aplicação dos produtos obtidos das diferentes técnicas direciona

destinos preferenciais distintos.

Tanto patentes quanto artigos científicos de gaseificação de biomassa

apontam para aplicação para geração de energia, como eletricidade e calor. A

produção de produtos químicos e combustíveis de transporte contabiliza

menos de um terço dos esforços tecnológicos de aplicação das técnicas.

103

A evolução da técnica de pirólise conduz para a aplicação em produtos

químicos.

Uma análise geral conclui que as técnicas de gaseificação e pirólise progridem para a

utilização de materiais renováveis, o que condiz com a tendência observada de mudança

desse ponto na indústria química. Essa alteração não acontece de forma imediata, sendo

necessária a pesquisa e desenvolvimento de forma apurada, já que os atuais produtos no

mercado oriundos das fontes tradicionais já são viáveis economicamente. O caminho que

parece natural é o desenvolvimento progressivo das pesquisas, observadas no número de

patentes e, em seguida, ser intensificado o número de documentos de patente nas áreas.

Sugestões para trabalhos futuros

Este trabalho foi desenvolvido utilizando bases de dado reconhecidas e bem

desenvolvidas, tomando como fontes de informação artigos e documentos de patentes para

a avaliação da evolução e do perfil atual das tecnologias. A exploração das plantas industriais

já existentes dos processos refletiria com mais precisão como se apresenta a realidade

comercial das técnicas.

A elaboração de indicadores relacionando os dados em artigos científicos e patentes

em suas diversas dimensões poderia trazer mais elementos de análise para a compreensão

da dinâmica tecnológica e do amadurecimento das tecnologias estudadas.

A exploração de outros indicadores, principalmente de cooperação entre empresas e

instituições acadêmicas.

104

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109

ANEXO

Lista das empresas responsáveis pela publicação dos artigos científicos sobre gaseificação de

biomassa no período de 1979 a 2011.

Empresa Número de artigos sobre gaseificação

Empresa Número de artigos sobre gaseificação

Ishikawajima harima heavy ind co ltd

3 Fengquan environm

protect co 1

Mitsubishi heavy ind co ltd

3 Firth execut ltd 1

Pall Filtersyst gmbh 3 Forschungszentrum

Karlsruhe gmbh 1

Tps consulting 3 Frontline bioenergy

LLC 1

Amra scarl 2 Ge oil & gas 1

Battelle mem inst 2 Goodyear Dunlop

Tires Germany gmbh 1

Chem engn consulting serv llc

2 Hefei tianyan green

energy dev co ltd 1

Conocophillips Co 2 Hitachi zosen corp 1

Crl energy ltd 2 Hyundai heavy ind

co ltd 1

Dong energy as 2 Iti energy ltd 1

Hyper syst engn ltd 2 Lurgi mineralotech

gmbh 1

Ihi co ltd 2 Media & proc

technol inc 1

Ineti, deeca 2 Mel chem 1

Kobe steel ltd 2 Micro energy co ltd 1

Nippon koei co ltd 2 Noell krc energie &

umwelttech 1

Sojitz res inst ltd 2 Nucl syst assoc 1

Takuma co ltd 2 Nv afvalzorg 1

Vtt proc 2 Parsons infrastruct

& technol grp 1

Ahlstrom machinery inc

1 Shanghai pudong project dev co ltd

1

110

Arcadis 1 Shell global solut int

bv 1

Austrian energy & environm

1 Statoil r&d rotvoll 1

Biomass technol grp bv

1 Sydkraft konsult ab 1

Canator AB 1 Tarong energy corp

ltd 1

Carbona inc 1 Technip KTI spa 1

Catator AB 1 Tno 1

Ceram MALPESA SA 1 Tokyo elect power

co ltd 1

Chugoku elect power co inc

1 Trinity consultants 1

Combust syst inc 1 Ube ind ltd 1

Cvdt consulting se asia pte ltd

1 Verenum res 1

Deeca 1 Vetco aibel as 1

Draukraft 1 Voestalpine Stahl

gmbh 1

Envitech SA 1 Vtt energy 1

Europlasma 1 Zurn nepco 1

Eveco brno ltd 1

111

Lista das empresas responsáveis pela publicação dos artigos científicos sobre pirólise de

biomassa no período de 1979 a 2011.

Empresa Número de artigos

sobre pirólise Empresa

Número de artigos sobre pirólise

Philip Morris Inc 4 Eprida Power & Life

Sci Inc 1

INETI DEECA 3 EVN AG 1

Adv Fuel Res Inc 2 GE Oil & Gas 1

BTG Biomass Technol Grp

2 Hefei Tianyan Green

Energy Dev Co Ltd 1

Chugoku Maintenance Co Ltd

2 Helector Ltd 1

Gaz France 2 HUNOSA 1

ORMROD Diesels 2 IBIL Energy Syst Ltd 1

Pasquali Maccine Agricole

2 Inst Pyrovac Inc 1

Renewable Prod Dev Labs

2 Jefferson Pilot

Financial 1

UBE Ind Ltd 2 Joanneum Res 1

WIP 2 Renewable Oil Int

LLC 1

Wuxi Huaguang Boiler Co Ltd

2 Resource Transforms

Int Ltd 1

BASF Inc 1 RMC Consulting 1

BiocharConsulting 1 RTI Ltd 1

Chugai Ro Co Ltd 1 Sea Marconi Technol 1

Chugoku Maintenance Co Ltd

1 Serex, Amqui 1

ConocoPhillips Co 1 Veba Oel AG 1

DMT-Gesellschaft für Forschung und Prüfung mbH

1

112

Lista das empresas responsáveis pela publicação de, pelo menos, 3 patentes das patentes

pesquisadas sobre gaseificação e pirólise de biomassa no período de 1979 a 2011.

Parentes sobre pirólise de biomassa Patentes sobre gaseificação de biomassa

Empresa Número de

patentes Empresa

Número de patentes

Kior Inc 17 Guangzhou Devotion

Thermal Technology Co 52

Uop Llc 9 Mitsubishi Jukogyo Kk 33

Shandong Baichuan Tongchuang Energy Co Ltd

7 Shandong Baichuan

Tongchuang Energy Co L 23

Toshiba Kk 7 Wuhan Haide New Energy

Investment Co Ltd 21

Wuhan Tianying Environmental Eng Co Ltd

7 Hefei Debo Biological

Energy Technology 18

Beijing Lianhe Chuangye Environmental Protection Eng

Co Ltd 6

Beijing Kejiqiao Technology&Trade Co L

16

Anhui Hesheng Biology Energy Co Ltd

5 Shenyang Inst Eng 15

Ensyn Group Inc 5 Chinese Acad Sci

Guangzhou Inst Geo Chem 15

Forschungszentrum Karlsruhe Gmbh

5 Nippon Steel Eng Kk 12

Metawater Kk 5 Anhui Hesheng Biology

Energy Co Ltd 11

Chevron Usa Inc 4 Jiangsu Yunjiang

Biotechnology Co Ltd 11

Exxonmobil Res&Eng Co 4 Energy Res Inst Shandong

Acad Sci 11

G4 Insights Inc 4 Chugai Ro Kogyo Kaisha Ltd 11

Kanai Jimusho Yg 4 Zhangjiajie Sanmu Energy

Dev Co Ltd 10

Xyleco Inc 4 Mitsui Eng&Shipbuilding Co

Ltd 9

Agri-Therm Ltd 3 Hunan Tobacco Co Yongzhou Branch

8

Bdi Biodiesel Int Ag 3 Zhejiang College Forestry 7

Bioecon Int Holding Nv 3 Ifp Etab Public A Caractere

Ind&Comml 7

Black Green Is 3 Japan Sci&Technology

Agency 6

113

Eni Spa 3 Chongqing Fengyu

Electrical Equip Co Ltd 6

Herhof Umwelttechnik Gmbh 3 Nanjing Wanwu New

Energy Technology Co L 6

Von Goertz&Finger Techn Entwicklungs

3 Liaocheng Kechuang

Furnace Co Ltd 5

Biomass Energy Corp 5

Kanai Jimusho Yg 5

Shinheung Synergy Co Ltd 5

Upm-Kymmene Corp 5

Zeropoint Clean Tech Inc 5

Green Environmental

Protection Co Ltd 4

Harbin Huosheng Energy Technology Dev Co Ltd

4

Kunming Dianyan New Energy Sci & Technol

4

Dongguan Baida Sing

Energy Ltd 4

Jinan Baohua New Energy

Technology Co Lt 4

Sichuan Yalian Sci Technology Co Ltd

4

Sichuan Yalian Sci Technology Co Ltd

4

Yunnan Xiecheng

Sci&Technology Co Ltd 4

Changshu Duoneng Rivet

Welding Factory 3

Total France Sa 3

Inst Forestry Prodn Chem

Ind China Res 3

Herhof Umwelttechnik

Gmbh 3