32
7 Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS DESENVOLVIDOS PELOS AGRICULTORES NIPO-BRASILEIROS DO MUNICÍPIO DE TOMÉ-AÇU, ESTADO DO PARÁ Andréa Vieira Lourenço de Barros * Alfredo Kingo Oyama Homma ** Jailson Akihiro Takamatsu *** Toshihiko Takamatsu **** Mitinori Konagano ***** RESUMO Analisa os Sistemas Agroflorestais (SAFs) dentro de um contexto evolutivo quanto à mudança de combinação de plantas; relações de complementaridade, suplementaridade ou competitividade do ponto de vista biológico e econômico; e dos níveis tecnológico e de eficiência. Os dados utilizados foram baseados em entrevistas realizadas com 96 agricultores nipo-brasileiros do universo de 122 associados da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA), do município de Tomé-Açu, estado do Pará. Os SAFs desenvolvidos por esses agricultores se sobressaem aos praticados por produtores locais. Constatou-se que, com as mudanças de preços, de mercados e o aparecimento de pragas e doenças, os SAFs podem ser alterados ou modificados no contexto do espaço e ao longo do tempo. Alguns sistemas são mantidos, mesmo que estejam dando pouca ou nenhuma renda, como plantios de cacau (Theobroma cacao L.) sombreados com andirobeiras (Carapa guianensis Aubl.), que datam da década de 1970. Muitos dos SAFs identificados são compostos por produtos sem mercado para o momento. Outros apresentam alta sustentabilidade ambiental, mas baixa sustentabilidade econômica e vice versa. Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco da Amazônia e apresenta parte dos resultados da tese de doutorado intitulada “Evolução dos sistemas agroflorestais praticados pelos agricultores nipo-brasileiros do município de Tomé-açu, Pará, Brasil”, defendida pela primeira autora no Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). * Engenheira Agrônoma; Doutora em Ciências Agrárias pela UFRA. Professora da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Belém/PA. E-mail: [email protected] ** Engenheiro Agrônomo; Doutor em Economia Rural. Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. Belém/PA. E-mail: [email protected] *** Engenheiro Agrônomo; Coordenador da Área Técnica Agrícola da CAMTA - ATEA. Tomé-Açu/PA. E-mail: [email protected] **** Engenheiro Agrônomo; Consultor da Japan International Cooperation Agency (JICA) e produtor rural no Município de em Tomé-Açu/PA. ***** Produtor rural, Diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA) e ex-Secretário de Agricultura do Município de Tomé-Açu. Tomé-Açu/PA. E-mail: [email protected]

EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

7Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS DESENVOLVIDOS PELOSAGRICULTORES NIPO-BRASILEIROS DO MUNICÍPIO DE TOMÉ-AÇU, ESTADO DO PARÁ

Andréa Vieira Lourenço de Barros*

Alfredo Kingo Oyama Homma**

Jailson Akihiro Takamatsu***

Toshihiko Takamatsu****

Mitinori Konagano*****

RESUMO

Analisa os Sistemas Agroflorestais (SAFs) dentro de um contexto evolutivo quanto à mudançade combinação de plantas; relações de complementaridade, suplementaridade ou competitividade doponto de vista biológico e econômico; e dos níveis tecnológico e de eficiência. Os dados utilizadosforam baseados em entrevistas realizadas com 96 agricultores nipo-brasileiros do universo de 122associados da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA), do município de Tomé-Açu, estadodo Pará. Os SAFs desenvolvidos por esses agricultores se sobressaem aos praticados por produtoreslocais. Constatou-se que, com as mudanças de preços, de mercados e o aparecimento de pragas edoenças, os SAFs podem ser alterados ou modificados no contexto do espaço e ao longo do tempo.Alguns sistemas são mantidos, mesmo que estejam dando pouca ou nenhuma renda, como plantiosde cacau (Theobroma cacao L.) sombreados com andirobeiras (Carapa guianensis Aubl.), que datamda década de 1970. Muitos dos SAFs identificados são compostos por produtos sem mercado para omomento. Outros apresentam alta sustentabilidade ambiental, mas baixa sustentabilidade econômicae vice versa.

Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola.

Este trabalho foi financiado pelo Banco da Amazônia e apresenta parte dos resultados da tese de doutorado intitulada“Evolução dos sistemas agroflorestais praticados pelos agricultores nipo-brasileiros do município de Tomé-açu, Pará,Brasil”, defendida pela primeira autora no Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias da Universidade FederalRural da Amazônia (UFRA).* Engenheira Agrônoma; Doutora em Ciências Agrárias pela UFRA. Professora da Universidade do Estado do Pará

(UEPA). Belém/PA. E-mail: [email protected]** Engenheiro Agrônomo; Doutor em Economia Rural. Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. Belém/PA.

E-mail: [email protected]*** Engenheiro Agrônomo; Coordenador da Área Técnica Agrícola da CAMTA - ATEA. Tomé-Açu/PA.

E-mail: [email protected]**** Engenheiro Agrônomo; Consultor da Japan International Cooperation Agency (JICA) e produtor rural no Município

de em Tomé-Açu/PA.***** Produtor rural, Diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA) e ex-Secretário de Agricultura do

Município de Tomé-Açu. Tomé-Açu/PA. E-mail: [email protected]

Page 2: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 8

EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS DESENVOLVIDOS PELOSAGRICULTORES NIPO-BRASILEIROS DO MUNICÍPIO DE TOMÉ-AÇU, ESTADO DO PARÁ

ABSTRACT

Analyzes the agroforestry systems (AFS) within an evolutionary context and to changing thecombination of plants, the degree of complementarity, supplementarity or competitiveness in terms ofbiological and economic, and technological levels and efficiency. The data used were based on interviewswith 96 farmers from the Japan-Brazilian farmers of population of 122 members of the CooperativaAgrícola Mista de Tomé-Açu (CAMT), located in the municipality of Tome-Acu, Pará State, the SAF’sefforts that these farmers stand out those charged by local producers. It was found that with thechanges of prices, markets and the emergence of pests and diseases, the AFS may be amended ormodified in the context of space and over time. Some systems are maintained, even if they are payinglittle or no income, such as plantations of cocoa (Theobroma cacao L.) shaded with carapa (Carapaguianensis Aubl.), dating from the 1970s. Many of the identified AFS are composed of products withno market for the moment. Others have high environmental sustainability, economic sustainability,but low and vice versa.

Keywords: Agroforestry Systems-Amazon. Agricultural Development

Page 3: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

9Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

1 INTRODUÇÃO

Os Sistemas Agroflorestais (SAFs)implantados entre os agricultores nipo-brasileirosde Tomé-Açu e Acará decorreram da busca dealternativas produtivas, em função dadisseminação do Fusarium nos pimentais (Pipernigrum L.), que surgiu em 1957 e passou adevastar os plantios a partir da década de 1970,e da queda de preços decorrente da expansãodesordenada dos plantios (HOMMA, 2006). Aprática de SAFs não é nova e já era utilizada porcomunidades indígenas, caboclas e ribeirinhas,sobretudo para fins de subsistência, entretanto,os colonizadores europeus somente perceberama sua importância muito tempo depois. Os índiospossuíam técnicas de transformar floresta nativaem castanhais (Bertholletia excelsa Hub & Bonpl)e aglomerações de pupunheiras. Os agricultoresnipo-brasileiros em Tomé-Açu e Acarádesenvolveram sistemas visando aproveitar áreasde pimentais antes do seu plantio, durante o cicloprodutivo e após o seu declínio compondosistemas agroflorestais (DUBOIS, 1996; KATO;TAKAMATSU 2005; MILLER; NAIR 2006).

Com as mudanças de preços, de mercadose do aparecimento de pragas e doenças os SAFspodem ser alterados ou modificados no contextodo espaço e ao longo do tempo. Por exemplo,SAFs envolvendo as culturas de açaí (Euterpeoleracea Mart.) + cupuaçu (Theobromagrandiflorum (Willd. ex Spreng. Schum), com aexpansão do mercado de frutos de açaí e adecisão de utilizar a irrigação para a obtençãodo fruto na entressafra e da baixa produtividadesem a irrigação levaram os produtores a erradicaros cupuaçuzeiros transformando em monocultivode açaí irrigado. Essa decisão decorreu dacompetição do cupuaçuzeiro por água enutrientes, prejudicando a produtividade doaçaizeiro. Outros sistemas são mantidos, mesmoque estejam gerando pouca ou nenhuma renda,como alguns plantios de cacau sombreados com

andirobeiras, com excesso de sombreamento,datam da década de 1970. Muitos SAFsexistentes entre as propriedades dos agricultoresnipo-brasileiros constituem de produtos semmercado para o momento.

Os SAFs encontrados nos municípios deTomé-Açu e Acará se sobressaem aos demaissistemas praticados por produtores locais,desenvolvendo tecnologias e processos, econseguindo maior grau de proteção ambientale rentabilidade, se assemelham às chamadas“ilhas de eficiência”, quando são introduzidos,na propriedade, conhecimento, tecnologia ouprocesso, passíveis de serem reproduzidos pelosdemais pequenos produtores, podendo sofreradaptações ao longo do tempo com asmodificações do contexto socioeconômico eambiental em que foram criados (ARCE; LONG,2000). São formados, basicamente, por cultivosde pimenta-do-reino, cacau, açaí e cupuaçu,combinados entre si e/ou com espécies frutíferase florestais. Apresentam característicasespecíficas, principalmente, onde há introduçãode espécies de uso múltiplo (madeira,sombreadoras do cacau, leguminosa, etc.) emsubstituição aos pimentais decadentes (HOMMA;BARROS, 2008).

Nesse município, percebe-se a ocorrênciade SAFs que contem cacaueiro com palheteira(Clitoria racemosa), eretrina (Erytrina sp.), gmelina(Gmelina arbórea), característicos daquelespreconizados pela Comissão Executiva do Planoda Lavoura Cacaueira (Ceplac) a qual, em 1976,condicionou o fornecimento de assistência técnicae crédito aos pequenos produtores da Amazôniaque plantassem cacaueiro com espéciessombreadoras especificadas previamente. Com opassar dos anos, os produtores passaram a utilizaroutras espécies, incluindo frutíferas e madeireiras,como sombreadoras de cacaueiro, o que tem

Page 4: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 10

reduzido muito a presença desses SAFs. Éinteressante destacar, também, os sistemasbaseados em essências florestais, como teca(Tectonia grandis L.), cedro (Cedrella odorata L.),ipê (Tabebuia serratifolia), mogno (Swieteniamacrophylla King.), taperebá (Spondias mombinL.) e andiroba, o que demonstra o interesse dosprodutores pelas espécies madeireiras. MuitosSAFs passam por “hibernação” ou desaparecemquando as condições de preço e mercado não sãosatisfatórias, da legislação ou do aparecimentode pragas e doenças.

Além das culturas comumente encontradasnos sistemas implantados pelos agricultores nipo-brasileiros, outras, também, são utilizadas comocajá/taperebá (Spondias mombin L.), ingá (Ingasp.), nim (Azadirachta indica), braquiarão(Brachiaria decumbens), titônia [Tithoniadiversifolia (Hemsl.) A. Gray], puerária (Puerariasp.), amendoim forrageiro (Arachis pintoi Krap.& Greg.), feijão guandu (Cajanus cajan (L) Millsp.),patchouli (Pogostemon patchouly Pellet.) ealgumas dessas, apenas, com valor funcional. Asbuscas de novas alternativas dizem respeito coma expansão de bacurizeiros (Platonia insignis) euxizeiros [Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.]enxertados, que deverão se tornar novidade paraas próximas décadas. Os sistemas que estãosendo formados, envolvendo combinação combacurizeiros, uxizeiros, piquiazeiros(Aspidosperma desmanthum), noni (Morindacitrifolia), puxuri [Licaria puchury-major (Mart.)Kosterm], nim, plantados em diversascombinações e desenhos espaciais, antevendomercados promissores para estas culturas. AlgunsSAFs se caracterizam por uma grande eficiênciaecológica [cacau + castanha-do-pará], cacau +seringueira (Hevea brasiliensis (HBK) M. Arg.),cacau + freijó (Cordia alliodora), cacau +andiroba, etc.), que impressionam os visitantes,mas apresentam rentabilidade decrescente e comqueda na produtividade ao longo do tempo ouaté sem nenhuma rentabilidade.

No caso dos sistemas envolvendoseringueira, as questões trabalhistas interferemde maneira importante, visto que a coleta iniciaàs 5 horas, pela manhã, acarretando empagamento de horas extras, acabando porinviabilizar o cultivo. Dessa forma, a saídaencontrada pelos produtores é o arrendamento,onde o funcionário prestador de serviço faz acolheita do látex e o arrecadado dividido, meio ameio, com o dono do plantio. Outro exemplo,sistemas que envolvem acerola (Malpighia glabraL.), pois, como a colheita é muito intensa, a cada15 dias ou a cada 20 dias, a prestação de serviçosleva ao vínculo empregatício, inviabilizando oempreendimento, devido a legislação trabalhistaexistente no Brasil (HOMMA; BARROS, 2008). Éinteressante verificar como a legislação,sobretudo a trabalhista, tem afetado os SAFs quedemandam muita utilização de mão-de-obracomo seringueira, acerola, etc., levando aoabandono ou limitação da atividade [urucum(Bixa orellana L.), acerola, açaí, etc.] ou mudançanas formas de atuação, como empreita,arrendamento ou o pagamento pela coleta deprodutos.

Os produtores que efetuaram combinaçõestanto com cacau, cupuaçu ou o mogno africano(Khaya ivorensis) afirmaram que face ao vigorosocrescimento, aproveitando a adubação residualdas pimenteiras, terminaram prejudicando osplantios sombreados, com redução da produção,inclusive aniquilando as plantas (HOMMA, 2006).Muitas das plantas introduzidas pelosagricultores nipo-brasileiros tratam-se deprodutos de não-mercados atuais lichia (Litchichinensis Sonn), noni, puxuri, malang (Artocarpusodoratissimus), longan (Dimocarpus longan),castanha-do-maranhão (Bombacopsis glabra)etc., de longo prazo de maturação (castanha-do-pará, espécies madeireiras, etc.), que podem setransformar em produtos de mercados no futuro,como tem acontecido para várias atividadesatuais (açaí, cupuaçu, taperebá, acerola,

Page 5: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

11Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

mangostão (Garcinia mangostana), etc.). O camu-camu (Myrciaria dubia) é um dos frutosconsiderados “emergentes” da Amazônia, apesarde extremamente ácido, por ser muito rico emvitamina C, contendo quase o dobro da acerola,caracterizando-se como excelente matéria-primapara a fabricação de pílulas de vitamina C e sucosexóticos.

Os SAFs que incluem espécies madeireirascomo o paricá (Schizolobium amazonicum(Huber) Ducke), freijó, andiroba, teca, castanha-do-pará, etc. consorciados com cacaueiro,cupuaçuzeiro ou açaizeiro, apresentamdificuldades quanto ao corte das árvores paraaproveitamento madeireiro, no qual a soluçãoseria plantar em talhões. A associação com umaespécie de valor econômico, seja na fase inicialou final, para a formação dos SAFs, éfundamental. Dessa forma, algumas plantasservem, apenas, para dar início aos sistemas[maracujá (Passiflora edulis S.), pimenta-do-reino,limão (Citrus sp.), etc.], com o desmatamento devegetação secundária. Apesar de as espéciesmadeireiras abrirem um importante mercado

para os sistemas agroflorestais, concernente ademanda nacional e externa, ocorreu aumentodas barreiras legais à extração de madeira deflorestas nativas. Ressalta-se que o plantio deespécies arbóreas para madeira em áreasreduzidas e estanques, como são característicasde muitos projetos aos pequenos produtores, nãoapresentam sentido econômico. As espéciesarbóreas precisam ser plantadas obedecendociclos de corte, para garantir contínuofornecimento de madeira. O reflorestamento semum objetivo econômico definido para pequenosprodutores, como estão sendo conduzidos emalguns projetos de assentamentos no SudesteParaense, são candidatos ao fracasso, pelacaracterística estanque.

O objetivo do artigo foi caracterizar asmudanças nos sistemas agroflorestaisdesenvolvidos pelos agricultores nipo-brasileirosno município de Tomé-Açu, estado do Pará,apresentando a composição desses sistemas comrelação às espécies, bem como analisar apercepção desses agricultores quanto a adoçãodos sistemas agroflorestais.

2 METODOLOGIA

2.1 ÁREA DE ESTUDO

O município de Tomé-Açu, estado do Pará,localizado na Mesorregião Nordeste Paraense (2º40’ 54”S e 48º 16’ 11”O), a 200 km da cidade deBelém, possui um clima tropical chuvoso comestação seca bem definida. Com precipitaçãomédia anual de 2.144 mm a 2.581 mm,temperatura média anual entre 26,3ºC e 27,9°C,umidade relativa entre 82% a 88%, precipitaçãode 2500 mm anuais, com distribuição mensalirregular, tendo um período (novembro a junho)com maior intensidade de chuvas, ocupa umaárea de 5.179 km2 e população de 47.081habitantes, que é ocupada por cerca de 60% de

paraenses (YAMADA 1999; RODRIGUES et al.,2001; FRAZÃO et al., 2005; KATO; TAKAMATSU,2005; IBGE, 2009).

Limita-se ao Norte com os municípios deAcará e Concórdia do Pará; a Leste com SãoDomingos do Capim, Aurora do Pará e Ipixunado Pará, ao Sul com Ipixuna do Pará e a Oestecom Tailândia e Acará (Mapa 1). Tomé-Açucomeçou com a imigração dos japoneses a estaregião, sendo que na véspera de completar 80anos, vivem mais de 47 mil habitantes (FRAZÃOet al., 2005; KATO; TAKAMATSU, 2005).

Page 6: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 12

2.2 DADOS UTILIZADOS

Os dados utilizados foram obtidos nolevantamento de campo realizado entre oscolonos nipo-brasileiros localizado no municípiode Tomé-Açu, sob a supervisão da AssociaçãoCultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu (ACTA).Entrevistados 96 produtores, do universo de 122associados da Cooperativa Agrícola Mista deTomé-Açu (CAMTA). Como alguns produtorespossuíam até seis propriedades, e preencheramum questionário para cada uma delas, ao todo274, sendo que 198 foram efetivamenteaproveitados. O não aproveitamento de 76decorreu da falta de informações, ou seja,questionários devolvidos incompletos. Aquelesescritos em português e japonês foram entreguesaos produtores no início de 2006 e recolhidos àmedida que eram preenchidos.

A coleta dos dados foi desenvolvida atravésde perguntas abertas e/ou fechadas, obedeceram acritérios de uma linguagem coloquial, de modo queas informações obtidas permitissem atingir osobjetivos da pesquisa. As variáveis selecionadasreferem-se à opinião dos agricultores com relaçãoaos SAFs; aspectos comparativos entre SAFs emonocultivos, como qualidade do produto, produçãopor pé, tratos culturais, quantidade de mão-de-obranecessária, capina e lucro por área; espécies deinteresse para plantio e pela implantação de sistemaagrosilvipastoril.

Todos os dados de campo foram codificadospara que pudessem ser tabulados, tratados eanalisados, utilizando-se os recursos do programaMicrosoft EXCEL, versão 2000, gerando a

Mapa 1 - Localização do município de Tomé-Açu, Estado do Pará, Brasil.

Page 7: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

13Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

frequência de cada uma das respostas, através daferramenta filtro. Posteriormente, foram utilizadaspara alimentar as tabelas de resultados.

O questionário elaborado para coletar osdados de acordo com o arranjo normalmenteutilizado pelos produtores, a divisão daspropriedades em quadras. Assim, foram colhidasinformações acerca da área total da propriedade edas áreas destinadas a determinado uso do solo(área plantada, pastagem, capoeira, mata e outros);

dos cultivos em monocultura (ano de plantio e área);além dos vários sistemas agroflorestais/consórcios,com informações sobre as culturas componentes, oano de plantio de cada uma e a quantidade de pés.Para efeito de tabulação e análise dos dados, cadaconsórcio descrito na propriedade foi consideradocomo um sistema agroflorestal distinto, fazendocom que o número de sistemas avaliados fossemuito maior do que os 198 questionários aplicados,visto que, cada questionário pode conter até dezconsórcios diferentes.

3 CONTEXTO TEÓRICO

Na formação dos SAFs as culturas finaispodem ser o resultado de cultivos anteriores, deforma sequencial ou rotativa, como culturasanuais, semi-perenes e perenes, pastagens,reflorestamento etc. A ordem de cultivo podeapresentar, também, grande variação, porexemplo, o plantio de maracujazeiro visandoaproveitar as estacas de pimenta-do-reino antesdo seu plantio definitivo ou, simultâneo (maracujá+ pimenta-do-reino), ou o reaproveitamento dasestacas, para o plantio de maracujazeiro após amorte das pimenteiras (HOMMA; BARROS, 2008).

A classificação dos SAFs pode ser feita deacordo com os aspectos estruturais e funcionais,como: silviagrícola (SSA), árvores ou arbustosassociados com cultivos agrícolas anuais e/ouperenes; silvipastoril (SSP), árvores associadascom atividade pecuária; e agrossilvipastoril(SASP), com árvores associadas com cultivosagrícolas e atividade de pecuária, comoesquematizado na Figura 1 (DUBOIS, 1996;YAMADA,1999).

Figura 1 - Desenho esquemático da classificação dos SAFs em sistema silviagrícola(SSA), sistema silvipastoril (SSP) e sistema agrossilvipastoril (SASP).

Page 8: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 14

As relações de complementaridade esuplementaridade, com o passar do tempo,dependendo do desenvolvimento das plantascomponentes, podem tornar-se competitivas ouaté antagônicas, com o domínio de apenas umcomponente. Por exemplo, SAFs envolvendocultivos de andirobeiras e cacaueiros, entre osagricultores nipo-brasileiros em Tomé-Açu eAcará, com o desenvolvimento do primeiro, levamao gradativo enfraquecimento dos cacaueiros. Omesmo ocorre com os SAFs envolvendo o plantioda teca, com o domínio total dessa árvore. Esteaspecto envolve a importância da realização deestudos de riscos nos SAFs.

Nos SAFs, os componentes podem,ainda, apresentar relação complementar nocomeço e relação competitiva posteriormente,ou vice-versa. Por exemplo, quando umcomponente florestal é plantado, compimenta-do-reino ou maracujá, as duasculturas possuem relação complementar.Entretanto, com o gradativo crescimento docomponente arbóreo, a relação complementarpassa à competitiva, principalmente por luz,visto que a árvore passa a sombrear a culturaa qual está no extrato inferior. Independenteda relação biológica, estas duas culturaspodem apresentar complementaridade

Os componentes de um SAF podem ter,entre si, relação complementar, suplementar,competitiva ou antagônica. Quando sãocomplementares, um cultivo melhora aprodução do outro e vice-versa, como porexemplo, as árvores que fertilizam o solo paraos cultivos agrícolas; quando um cultivo nãointerfere no outro, as culturas sãosuplementares, ou seja, possuem uma relação

independente uma da outra; e competitivaquando os cultivos competem entre si porinúmeros recursos, como água, luz, nutrientes,que constitui a regra geral. As relações sãoantagônicas quando as plantas não podemser combinadas em nenhuma hipótese, porrazões de competição de luz, nutrientes, entreoutras, conduzindo ao monocultivo (Figura 2)(FILIUS, 1982).

Figura 2 - Relação complementar, suplementar, competitiva ou antagônicaentre possíveis componentes de SAFs.

Page 9: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

15Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

econômica, pois a expansão do cultivo domaracujá depende do aproveitamento dasestações para pimenta-do-reino.

Os SAFs podem apresentar mudanças aolongo do tempo, decorrente das condições depreços, de mercado, do aparecimento de pragas edoenças, de mudanças nas políticas públicasbeneficiando determinadas culturas ou atividades,legislação trabalhista ou ambiental,envelhecimento do proprietário, entre outras. Deforma idêntica com relação às reservas extrativistascomo opção ideal para a Amazônia, a limitaçãodos SAFs decorre do mercado das plantas perenescomponentes, que tendem a ser bem restritas emcomparação com os cultivos anuais.

As mudanças nos SAFs decorrentes dasculturas componentes podem ser expressas namodificação das curvas de transformação (Figura3). Muitas vezes os incentivos para determinadosSAFs, no momento, podem perder a suaimportância no futuro com a mudança domercado, o surgimento de pragas e doenças, oaparecimento de novos SAFs e ativação de SAFsque estavam em hibernação. Os agricultores nipo-brasileiros do município de Tomé-Açu queiniciaram com o SAF envolvendo o cupuaçuzeiro+ açaizeiro, com o crescimento do mercado defrutos de açaí está levando a derrubada decupuaçuzeiros, transformando em ummonocultivo, para reduzir a competição pornutrientes e de água para irrigação.

Figura 3 - Modificação dos SAFs ao longo do tempo nas propriedades dos agricultores.Fonte: Etherington; Matthews (1983).

Os SAFs podem ser mais eficientes àmedida que conseguem empregar plenamenteos fatores de produção, a verticalização, acomercialização, e, sobretudo, aplicar astecnologias disponíveis. O limite máximo daeficiência é alcançado quando não há qualquerociosidade a ser aproveitada e, a partir desse

ponto, qualquer acréscimo na produção dedeterminada cultura, implicará reduções naprodução de outra. Pois, quaisquer combinaçõespraticadas e por mais eficiente que seja aeconomia como um todo, há sempre limites paraa eficiência produtiva. O SAF, como qualquer outrosistema produtivo, prevê o pleno emprego dos

Page 10: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 16

recursos de produção disponíveis. Na Figura 4cada curva de possibilidades de produçãorepresenta uma espécie de fronteira de produçãopossível de ser atingida, uma barreira detransposição impossível para cada níveltecnológico. No máximo, com os recursos de quedispõe, operando com máxima eficiência, osistema poderá escolher por algum ponto aolongo da curva. Por deficiência do padrãotecnológico, nem todos os SAFs apresentam plenaeficiência econômica e tecnológica estabelecidapela curva de transformação (ROSSETTI, 2003).

Alguns SAFs estão abaixo da capacidadeprodutiva (Q) e poderiam ser aprimoradosmediante manejo ou tratos culturais

apropriados. Contudo, existe um limite quantoao deslocamento da curva de transformação,decorrente do avanço tecnológico, queapresenta rendimentos decrescentes,tornando-se cada vez menores (P e R) (Figura5). O ponto P indica a situação ideal, ou seja, opleno emprego dos recursos, dificilmentealcançável na prática, para determinado níveltecnológico. O ponto R representa um nívelimpossível de produção, por estar localizadoalém da fronteira da curva de possibilidade deprodução. Esse ponto só será alcançado nofuturo, desde que ocorram deslocamentospositivos, para mais, na curva de possibilidadesde produção, isto é possível desde se ocorrereminvestimentos em tecnologia.

Figura 4 - Possibilidades de produção dos SAFs: pleno desemprego (0), capacidade ociosa (Q),pleno emprego (P) e nível impossível de produção (R), dados os recursos disponíveis.

A quantificação entre possíveiscomponentes, formando um SAF, pode ser explicadaatravés do princípio matemático de análisecombinatória, um conjunto de procedimentos quepossibilita a construção de grupos diferentesformados por um número finito de elementos deum conjunto sob certas circunstâncias (plantassombreadas e sombreadoras). O princípio dacombinação simples, um tipo de arranjo

combinatório, é o que explica os SAFs, pois, nessecaso, não ocorre a repetição de qualquer elementoem cada grupo de elementos (SODRÉ, 2008).

Se um sistema agrícola é composto porquatro culturas e estas combinadas duas a duas,o número de combinações de SAFs calculadoatravés da fórmula: C (m, p) = m!/[(m-p)! p!],onde m é o número de culturas e p o número de

Page 11: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

17Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

Fonte: dados da pesquisa.

Este número poderia ser ampliadoconsiderando-se a possibilidade de diferenciar asequência de plantios nos SAFs, por exemplo,cacaueiro + açaizeiro, como sendo diferente deaçaizeiro + cacaueiro, por envolver diferentesespaçamentos, tratos culturais, sequência deplantios, entre outros (Figura 5). Por exemplo, na

curva ABC, comportaria diversos sistemasenvolvendo diferentes combinações entre asplantas 1 e 2, mantendo fixa a quantidade daplanta 3. Aventando-se a possibilidade dainclusão de determinadas plantas em todos ossistemas, as combinações possíveis podem serampliadas.

Tabela 1 - Número de combinações de SAFs possíveis quando se utilizam 5, 10, 15 ou 20 espécies diferentes,combinadas a cada 2, 3, 4 ou 5 espécies.

Figura 5 - Superfície de resposta entre associação de diversas plantas.

culturas que está se combinando para formar umSAF (SODRÉ, 2008). Assim, se o SAF é compostopelas culturas A, B, C e D, ou seja, SAF = {A, B, C,D}, m=4 e p=2. As combinações simples dessasquatro culturas, tomadas duas a duas, são seis

grupos/sistemas diferentes: {AB, AC, AD, BC, BD,CD}. A Tabela 1 mostra o número de combinaçõesde SAFs possíveis quando se utilizam 5, 10, 15ou 20 espécies de plantas diferentes, combinadasa cada 2, 3, 4 ou 5 plantas.

Page 12: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 18

Os SAFs tendem aumentar o uso da mão-de-obra na propriedade, dessa forma a inclusãosocial, almejada, de todos os pequenos produtoresserem gerenciadores é utópica. A justificativa dadisponibilidade de mão-de-obra barata não podeser apanágio para a implantação de SAFs ou deoutras atividades produtivas na Amazônia, pornegligenciarem custos sociais. A aquisição de mão-de-obra é imprescindível, na medida em quemuitas atividades dos SAFs se caracterizam poralta intensidade no uso desse insumo. A melhoriaem algumas etapas do processo produtivo, comoa coleta de frutos de açaí, dispensando os“trepadores”, pode aumentar a produtividade damão-de-obra, reduzir as questões trabalhistas eos riscos com acidentes e viabilizar os SAFs commaiores dimensões de área.

A associação das plantas, formandoSAFs depende de características quanto àcompetição por nutrientes, luz, taxa decrescimento, ocupação do espaço aéreo, quedana produtividade, incompatibilidade entre elase a sintonia quanto à época de plantio dasespécies componentes. A coincidência daépoca de colheita ou de tratos culturais dasplantas consorciadas, principalmente, entreaqueles que demandam muita mão-de-obra,os mais lucrativos são privilegiados. A riquezada biodiversidade disponível combina,também, com a existência de dezenas de SAFsnas propriedades dos agricultores nipo-brasileiros, ao contrário daquelas dospequenos produtores, que apresenta emmenor número.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados indicam que mais de 20%dos produtores da CAMTA possuem lotes de terracom tamanhos variados entre 50 a 100 ha e33,33% têm lotes entre 100 e 400 ha,

demonstrando que, ao longo dos anos, houveaquisição de terras por esses agricultores, vistoser o início da colonização ocorrido com lotes de25 ha (Tabela 2).

Tabela 2 - Estratificação dos tamanhos das propriedades dos agricultores nipo-brasileiros do município deTomé-Açu, Pará.

Fonte: dados da pesquisa.

Page 13: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

19Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

Fonte: dados da pesquisa.

Nas propriedades com menos de 25hectares há certo equilíbrio entre área plantada(32%) e área com capoeira (27%), seguido por20% de área de mata, 11% de pastagens e 10%com outras utilizações. Naquelas com tamanhovariando entre 25 e 50 ha, o equilíbrio é aindamaior, visto que 28% são utilizados complantações, 23% com capoeira e 27% commata, seguido por área de pastagens (16%)(Tabela 3). Esses resultados destoam daliteratura e das observações in loco, quando sepercebe forte tendência para o cultivo deespécies agrícolas, e poucos produtorescultivando pastagens. A presença destas naspequenas propriedades está relacionada àrepentina substituição das plantações de cacaupor pastagem, em decorrência da redução dopreço do cacau, no momento da aplicação doquestionário. Entretanto, não é a realidade que

predomina nesse tamanho de propriedade, vistoque esses agricultores não possuem tradiçãopecuária, obtendo maior lucro aodesenvolverem agricultura.

Naquelas com menos de 50 e 100 ha,29% da área é utilizada para plantios agrícolas,23% com capoeira, 24% de mata, 21% depastagens e 3% com outros usos. Naspropriedades com tamanho variando entre 100e 400 ha, há maior percentual de pastagens(24%) do que de área plantada (17%). Uso daterra do tipo mata e capoeira teve percentualde 29% e 26%, respectivamente (Tabela 3).Esses resultados apresentam a tendência quese espera na proporção entre o tamanho e ouso da terra do tipo pasto, ou seja, quanto maiora área da propriedade, maior a frequência decultivo de pastagens.

Os diferentes usos da terra, comoárea plantada, pastagem, capoeira, mata e outros,dentro dos estratos até 25 hectares, entre 25 e50 ha, 50 e 100 ha, 100 e 400 ha, 400 e 1.000ha, 1.000 e 2.000 ha e acima de 2.000 ha, estãocontidos na Tabela 3. É interessante verificar queindependente do tamanho das propriedades,

todas superaram o percentual de 80% namanutenção da floresta original e outras formasde vegetação nativa, conforme estabelece aMedida Provisória n. 2166/2001 (BRASIL, 2001).Mesmo com a inclusão das áreas plantadas, namaior, parte constituída de SAFs, verifica-se aimpossibilidade do cumprimento da legislação.

Tabela 3 - Diferentes usos da terra, em percentual, em propriedades com menos de 25 ha; entre 25 ha e 50 ha;entre 50 ha e 100 ha; de 100 ha e 400 ha; entre 400 ha e 1.000 ha; de 1.000 ha e 2.000 ha; e commais de 2.000 ha, no município de Tomé-Açu, Pará

Page 14: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 20

Quanto às propriedades que variam entre400 e 1.000 ha, e 1.000 e 2.000, percebe-seforte tendência do uso de pasto, com percentualmuito superior ao uso da terra com cultivosagrícolas, sendo 38% de pasto no primeiroestrato e 69% no segundo intervalo de estrato,contra 7% e 4% de área plantada,respectivamente. É válido ressaltar que 42% daárea entre 400 e 1.000 ha é preservada comvegetação primária, demonstrandopreocupação em preservar o ecossistemanatural. Esse cenário é bem característico depropriedade com maiores extensões de terra,visto que a pecuária exige maior área do queos cultivos. Entretanto, esse não é o tipo depropriedade característica no município deTomé-Açu, visto que representam pouco maisde 4% das pesquisadas, contra mais de 33%de agricultores, que possui área variando entre100 e 400 ha. A presença de reserva florestaltem sido considerada como risco para invasõespor parte dos integrantes do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e deposseiros, que têm invadido propriedades nascercanias e de grande risco para a retirada demadeira.

Pouco mais de 4% dos agricultorespesquisados possuem área maior que 2.000 ha,com média de 2.800 hectares, onde 36% sãoutilizados em cultivo de pasto e 49% seencontra preservado, sendo um tipo depropriedade pouco visto entre os agricultores

nipo-brasileiros, que se dedicam mais aoscultivos agrícolas e, nessas propriedades,apenas 2% da área é utilizada com cultivosagrícolas (Tabela 3).

Em pesquisa realizada por Smith et al.(1998), em Paragominas-Pará a produção dehortaliças, em uma comunidade agrícola,ocupava somente 0,1% da área, entretanto,gerava quase 75% do valor líquido da produçãoagrícola. Portanto, vinte vezes mais emprego porhectare e três vezes mais renda líquida do queos cultivos perenes, os quais ocupavam 19% daárea e geravam 21% da renda oriunda daprodução agrícola. A agricultura migratóriaocupava 38% da área, quando se incluía acapoeira, a qual era parte integrante destesistema de produção, mas contribuía comsomente 3% do valor da produção agrícola total.No caso da pecuária extensiva, os valoresrespectivos eram 41% e 1%, ilustrando o valorde cultivos perenes e o valor potencial desistemas agroflorestais no quadro de produçãoagrícola e para, potencialmente, aliviar a pressãosobre as florestas nativas. Os sistemasagroflorestais com cultivos perenes podemoferecer uma opção para famílias de produtoresmanterem um bom padrão de vida em uma áreamuito menor do que seria necessária se estasusassem sistemas de produção extensivos. NaTabela 4 estão listadas as espécies cultivadasem Tomé-Açu, pelos agricultores nipo-brasileiros,em regime de monocultivo.

Page 15: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

21Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

Tabela 4 - Espécies cultivadas em monocultivo, pelos agricultores nipo-brasileiros da CAMTA, em Tomé-Açu, Pará.

Fonte: dados da pesquisa.Nota: Nomes científicos = acerola (Malpighia glabra L.); andiroba (Carapa guianensis Aubl.); banana (Musa sp.); camu-

camu (Myrciaria dubia); carambola (Averrhoa carambola L.); dendê (Elaeis guineensis L.); gliricídia (Gliricidiasepium); goiaba (Psidium guayaba L.); graviola (Anona muricato L.); ipê (Tabebuia serratifolia); laranja (Citrussinensis); limão (Citrus Limon); mandioca (Manihot esculenta); manga (Mangifera indica); mangostão (Garciniamangostana); maracujá (Passiflora edulis S.); mogno (Swietenia macrophylla King.); noni (Morinda citrifolia); paricá(Schizolobium amazonicum (Huber) Ducke); pupunha (Bactris gasipaes); seringueira (Hevea brasiliensis (HBK) M.Arg.); teca (Tectona grandis L.); urucum (Bixa orellana L.).

É válido ressaltar a grande frequência comque o cacau aparece sendo cultivado emmonocultivo, o que pode ter sido pelo fato de

alguns produtores não considerarem, nomomento de registro no questionário, asessências florestais quando sombreando o cacau,

Page 16: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 22

ou então, devido terem respondido no início dossistemas, ocasião em que o cacau foi plantado,e, depois, inserida outra cultura.

Pelos registros dos Relatórios da CAMTA(2008) da literatura disponível sobre osagricultores nipo-brasileiros e em entrevistas evisitas à Tomé-Açu, os monocultivospredominantes eram com pimenta-do-reino oumaracujá. O plantio do mamão foi reduzidoquando os estados do Espírito Santo e Bahiacomeçaram a produzir o fruto e concorrer nomercado. O cacau é a cultura plantada há maistempo, visto que há registros de plantiosrealizados desde 1974.

O interesse pelo plantio de dendê decorreda proximidade das agroindústrias e de grandesplantios empresariais, ao longo da rodovia PA-150, após a travessia de balsa no rio Acará. Ocultivo apresenta dificuldades de suaincorporação nos SAFs, necessitando serefetuado em monocultivo, pela competição comoutras plantas e queda na produtividade. Há umaocorrência de plantio de dendê consorciado comteca, em pleno crescimento, cujo resultadopoderá resultar no monocultivo da espécieflorestal e dominância da teca com relação àoutra cultura.

Chama a atenção à entrada doamarelecimento fatal nos plantios de dendê nomunicípio de Acará, que coloca esta atividadecomo de alto risco, a não ser que se passe autilizar variedades resistentes, entretanto, hádificuldades para obtenção de sementes. AAgropalma, empresa detentora do maior plantioestá promovendo o incentivo à cultura dodendezeiro, instalando plantios em áreas depequenos produtores e com a posterior promessade compra dos frutos. Este sistema tem altoalcance social, contorna a manutenção de 80%da área como reserva florestal e reduz asimplicações relacionadas às querelas trabalhistas.

No caso do dendê, para atingir oautoconsumo do país, seria necessário triplicar aatual área em produção (60 mil hectares) e, seconsiderar a meta da mistura de 2% ao óleodiesel, isso implicaria mais 200 mil hectares,totalizando 320 mil hectares devendo serexpandido nos próximos anos. Apesar dopotencial, a falta de sementes, e de empresáriosque entendam do seu cultivo constituem desafiossomente a ser superado a médio e longo prazo.

No caso da seringueira, ocupando o sextolugar em frequência de plantio, é interessanteressaltar que, para suprimir as importações dequase 200 mil toneladas de borracha vegetal, énecessário que já estivesse em produção 200 milhectares de seringueiras, sem contar com ocrescimento do mercado (HOMMA, 2006). Acultura foi muito incentivada na década de 1970,com políticas gomíferas, como a criação, em 1973,pela Secretaria de Agricultura (SAGRI), do ProjetoSeringueira, visando implantar 20.000 hectaresda espécie; da Superintendência da Borracha(SUDHEVEA), dos programas de incentivos daborracha, PROHEVEA, PROBOR I, PROBOR II ePROBOR III, além da implantação, a partir de1976, do Centro Nacional de Pesquisa daSeringueira (CNPS), em Manaus, com atividades-satélite na antiga (FCAP), em Belém, e na CEPEC,na Bahia (PONTE, 1979).

Algumas tipologias utilizadas para os SAFssão apresentadas na literatura, como a publicadapor Smith et al. (1998), que classificou os sistemascomo: tradicionais, caracterizados pelapequena quantidade de uso de mão-de-obra einsumos, alta diversidade de espécies e altaproporção de produtos usados para subsistência;comerciais, com uso intensivo de mão-de-obrae insumos, baixa diversidade de espécies,incorporação mínima de regeneração natural deespécies florestais e elevada quantidade deprodutos vendidos nos mercados e os SAFsmistos, reúnem características de ambos, que

Page 17: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

23Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

seria o caso dos sistemas identificados pelapresente pesquisa, em Tomé-Açu. Os sistemasimplantados na região amazônica estãomudando, gradativamente, da base tradicional,para a base comercial.

Muitos SAFs recomendados para ospequenos produtores nem sempre secaracterizam pela lucratividade, envolvendoapenas a perspectiva ambiental, espéciesmadeireiras, longo prazo de maturação, podemse constituir na razão de futuros fracassos. Entreos pequenos produtores verifica-se umadiferenciação entre os próximos da residência,que formam os quintais, e àqueles com objetivocomercial. Nas propriedades dos agricultoresnipo-brasileiros há predominância para omercado.

Muitos SAFs recomendados limitam deantemão a renda a ser auferida nos anos futuros,pela impossibilidade de efetuar alteraçõesquando se trata de cultivos perenes. Asubstituição das plantas decorre doaparecimento de pragas e doenças, como é ocaso da cultura da pimenta-do-reino ou, daprópria vida útil econômica das plantascomponentes, como por exemplo os açaizeiros.Como estas plantas crescem um metro por ano,quando atingem determinada altura, torna-seinviável a sua coleta, ou quando chegam aproduzir “cachos na forma de cruz”, naafirmação dos produtores, devem sersubstituídos pelo novo rebrotamento.

Inúmeras são as tentativas de classificar,mapear e, até mesmo, cadastrar o grande númerode sistemas agroflorestais, apesar de serpraticamente impossível, em virtude da variaçãopor que cada sistema passa, além da infinidadede combinações possíveis. Smith et al. (1998),observaram 111 configurações agroflorestaisnum levantamento realizado em 142 roçaspoliculturais na Amazônia brasileira, em áreasentre 1 e 10 hectares. A experiência dosagricultores nipo-brasileiros radicados em Tomé-Açu, retratada nesta pesquisa, mostra como ossistemas mudam em função das variações depreço, de mercado, do aparecimento de pragas edoenças e/ou de modificações da natureza.

A partir dos resultados colhidos nopresente trabalho, buscou-se agrupar os 442consórcios ou sistemas agroflorestais mapeadose identificados no questionário aplicado aosagricultores nipo-brasileiros de Tomé-Açu,dividindo-os em grupos iniciando pela culturaprincipal, ou seja, aquela que contem o maiornúmero de pés plantados, dominando, assim, osistema (Figuras 7 a 11).

Na Figura 7, estão mapeados os 174sistemas agroflorestais onde a pimenta-do-reinoé a cultura principal, representando quase 40%dos SAFs encontrados em Tomé-Açu no momentoda aplicação o questionário. É válido ressaltar quea quase totalidade dos sistemas implantados nomencionado município iniciaram com a pimenta-do-reino e/ou maracujá.

Page 18: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 24

Figura 7 - Sistemas agroflorestais identificados em Tomé-Açu e arredores, onde a pimenta-do-reino é a culturaprincipal.

Fonte: dados da pesquisa.

Pesquisas desenvolvidas pela EmbrapaAmazônia Oriental, no município de Tomé-Açu,identificaram 69 combinações distintas de

culturas perenes entre os agricultoresentrevistados, destacando-se o sistema pimenta-do-reino/cupuaçu/açaí (15,93%), pimenta-do-

Page 19: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

25Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

Figura 8 - Sistemas agroflorestais identificados em Tomé-Açu e arredores, onde o cacau pimenta-do-reino é acultura principal.

Fonte: dados da pesquisa.

reino/cacau (10,14%), pimenta-do-reino/cupuaçu(8,70%), cupuaçu/açaí (7,24%) e pimenta-do-

reino/cupuaçu/cacau/açaí (5,79%), como os maisimportantes (RIBAS, 2005).

Page 20: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 26

Na Figura 8, observa-se a ocorrência de 14SAFs que contem cacau com palheteira (Clitoriaracemosa) ou eretrina (Erytrina sp.), característicodos sistemas preconizados pela Ceplac que, em1976, condicionou o fornecimento de assistênciatécnica e crédito aos pequenos produtores daAmazônia que plantassem cacau com espéciessombreadoras especificadas previamente, ouseja, palheteira, eretrina e gmelina (Gmelinaarbórea), cujo material para plantio era fornecidopela própria Ceplac. Essas espécies foramescolhidas em virtude de fixarem nitrogênio e,assim, fertilizarem o cacau, além de fornecersombreamento. Na época, o sistema incluía abananeira como espécie inicial, para ajudar noestabelecimento das mudas, com o objetivo deauxiliar na subsistência e fornecer renda até queo cacaueiro começasse a produzir. Com o passardos anos, os produtores começaram a utilizaroutras espécies, incluindo frutíferas e madeireiras,

como sombreadoras de cacau, o que temreduzido muito a presença desses SAFs,preconizados pela Ceplac.

A escolha das melhores espécies paracompor os SAFs deve envolver um amploamadurecimento por parte dos técnicos e dosprodutores. Por se tratar de uma decisão sóperceptível a médio e longo prazo, no qual osprodutores são beneficiários/prejudicados,questões sobre mercados e lucratividade,competição entre plantas e de mão-de-obra nacolheita, ciclo de vida das espécies componentes,entre outras, precisam ser avaliadas. Éinteressante destacar os sistemas baseados emessências florestais, como teca, cedro (Cedrellaodorata L.), ipê, mogno e andiroba, o quedemonstra o interesse dos produtores pelasespécies madeireiras, mas apresenta um desafiocom relação ao corte das árvores no futuro.

Figura 9 - Sistemas agroflorestais identificados em Tomé-Açu e arredores, onde o cupuaçu é a cultura principal.Fonte: dados da pesquisa.

Page 21: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

27Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

Figura 10 - Sistemas agroflorestais identificados em Tomé-Açu e arredores, de cima para baixo, onde aseringueira, a acerola, o freijó e a teca são as culturas principais.

Fonte: dados da pesquisa.

Figura 11 - Sistemas agroflorestais identificados em Tomé-Açu e arredores, de cima para baixo, onde o açaí, ocedro, o coco, o maracujá, a pupunha, a andiroba e a castanha-do-pará são as culturas principais.

Fonte: dados da pesquisa.

Page 22: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 28

Muitos SAFs passam por “hibernação” oudesaparecem quando as condições de preço emercado não são satisfatórias, da legislaçãotrabalhista/ambiental ou do aparecimento depragas e doenças. Culturas como pimenta-do-reino, maracujá e banana tendem a desaparecer,modificando a composição e o arranjo dos SAFs,onde os grupos de sistemas agroflorestais quecontinham as mencionadas espécies passaram aintegrar outras “famílias” de SAFs, como a docacau, principalmente.

A criação de SAFs não é privativa deagricultores nipo-brasileiros, mas também deprodutores brasileiros sem descendência japonesa,alguns são filiados da CAMTA, na sua política deabertura. Destaca-se, como exemplo, o plantio debacurizeiros enxertados mais desenvolvido que ado agricultor nipo-brasileiro vizinho a suapropriedade do qual aprendeu as técnicas. Outrase refere ao plantio de 800 pés de macacaporanga(Aniba fragans Ducke), planta da mesma famíliado pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke), com certeza

a maior existente no país, com 3 anos de idade,procedentes de sementes obtidas em Belterra e 29pés de matrizes com 6 a 7 anos. Este plantio, quejá se encontra em plena frutificação, pode serimportante para o Programa de Reflorestamentode Um Bilhão de Árvores no Estado do Pará, visandoo fornecimento de sementes. Possui 1.000 pés demogno africano (Khaya ivorensis) quase prestes aproduzir sementes e tecas com grandedesenvolvimento, decorrente do espaçamentoadequado com que foi plantado.

Quando foram perguntados quanto àpercepção que tinham em relação aos sistemasagroflorestais (Tabela 5), dos 76 agricultoresentrevistados que responderam à questão, maisde 30 fizeram a opção de que irão praticar poracharem importante. Entretanto, quase 30responderam que fazem, apenas, consórcio deespécies, sem saber que se trata de agrofloresta,ou seja, optaram por consorciar espéciesobjetivando reduzir custos e diversificar aprodução.

Tabela 5 - Percepção dos agricultores nipo-brasileiros sobre sistemas agroflorestais.

Fonte: dados da pesquisa.

Apesar de quase 30 agricultoresentrevistados terem afirmado fazeremconsórcio sem saber estar fazendo agrofloresta,a home page da CAMTA (CAMTA, 2008)destaca o apoio e a promoção doagroflorestamento em Tomé-Açu como uma de

suas atividades principais. Entendem que é amelhor forma de produção estável e a longoprazo para agricultura, assim como para o meioambiente da Amazônia, tanto que, no âmbitogeral, 67 agricultores, ou seja, 88%confirmaram o interesse pela agrofloresta.

Page 23: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

29Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

A implantação de consórcios pelosagricultores nipo-brasileiros se dá devido a alguminteresse específico, como por exemplo, o uso dealguma espécie de sombra, como a seringueiracomo sombreadora para o cacau que, além deexercer essa função, ainda proporcionariapequeno lucro com a extração do látex.

Pesquisas desenvolvidas pela EmbrapaAmazônia Oriental, no município de Tomé-Açu,identificaram que a prática da utilização de SAFsé verificada em 94,45% dos agricultoresentrevistados, variando desde um (30,56%), dois(44,44%) e três (11,11%) sistemas decombinação de culturas perenes (HOMMA, 2005).

Em outros estudos, no município deTomé-Açu, a prática da utilização de SAFs foiverificada em mais de 90% dos agricultores,em combinações distintas de culturas perenes,destacando-se o sistema pimenta-do-reino/cupuaçu/açaí, pimenta-do-reino/cacau,pimenta-do-reino/cupuaçu, cupuaçu/açaí epimenta-do-reino/cupuaçu/cacau/açaí, como os

mais importantes. A caracterização dos SAFs esua dinâmica são o foco da maioria dos estudosque têm sido realizados entre os agricultoresnipo-brasileiros (HOMMA et al., 1994;HOMMA; MENEZES, 2002; MENDES, 2003;HOMMA, 2004). Este levantamento comprovao efeito mimetismo dos agricultores nipo-brasileiros sendo transmitido para osagricultores familiares que moram nasvizinhanças. Esta característica diferenciaprofundamente dos agricultores familiares namesorregião do Sudeste Paraense, quepromovem a retirada da madeira, a derrubada/queimada e o plantio de roçados e seguida depastos e sua consequente degradação e oabandono.

Na Tabela 6, observa-se que de 74agricultores entrevistados quanto àprodutividade, quase 30 afirmaram que a mesmareduz com a adoção dos SAFs, enquanto que,quanto ao lucro por área, 25 agricultoresresponderam não haver diferença entre o sistemaagroflorestal e o monocultivo.

Tabela 6 - Percepção dos agricultores nipo-brasileiros de Tomé-Açu em relação à utilização de sistemasagroflorestais.

Fonte: dados da pesquisa.

Quanto à qualidade do produto oriundodos SAFs, em comparação ao monocultivo(Tabela 7), dos 71 agricultores queresponderam, mais de 30 afirmaram não

haver diferença com relação á qualidade,seguido por quase 20 que acham que amesma melhora quando proveniente desistemas agroflorestais.

Page 24: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 30

Fonte: dados da pesquisa.

Em relação à mão-de-obra nos SAFs(Tabela 9), dos 73 agricultores que responderam,40 acham que há economia de mão-de-obra,enquanto 20 acham que não há diferença. Aredução no custo com mão-de-obra é um dos

principais motivos levantados pelos produtorespara a implantação de sistemas agroflorestais, vistoque os gastos com esse item são muitosignificativos no custo total da produção agrícola,e interferem diretamente no preço final do produto.

Tabela 7 - Opinião dos agricultores nipo-brasileiros sobre a qualidade dos produtos oriundos dos sistemasagroflorestais.

Fonte: dados da pesquisa.

Quanto aos tratos culturais (Tabela 8), dos75 entrevistados, 36 responderam que, quandoimplantam sistemas agroflorestais, as práticas

culturais são facilitadas, seguido de 18 que nãosouberam opinar.

Tabela 8 - Opinião dos agricultores nipo-brasileiros sobre os tratos culturais após a implantação de sistemasagroflorestais.

Tabela 9 - Opinião dos agricultores nipo-brasileiros sobre a mão-de-obra nos sistemas agroflorestais em relaçãoao monocultivo.

Fonte: dados da pesquisa.

Page 25: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

31Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

Fonte: dados da pesquisa.

Mais de 30 agricultores, dos 79 queresponderam à pergunta sobre o interesse porplantio de árvores (Tabela 11), continuarão

plantando-as ativamente, seguido de 28produtores que começarão a plantar árvores, porentenderem a importância das mesmas.

A pesquisa realizada por Frazão et al.(2005), na mesma região, envolvendo agriculturafamiliar, observou-se, todos os agricultoresentrevistados utilizam mão-de-obra familiar,sendo que quase 70% complementam o trabalhocom contratação de serviços.

Quando perguntados sobre capina (Tabela10), mais de 40 entrevistados, do total de 73,

responderam que fica mais fácil com adoção dosSAFs, para 20 não há diferença. Quando os SAFsestão implantados, decorrente da competição porluz e da camada de liteira, as ervas daninhasrasteiras praticamente não se desenvolvem. Poroutro lado, observa-se uma proliferação de erva-de-passarinho (Struthanthus spp.), que chegama prejudicar algumas culturas, exigindo umalimpeza das plantas mais atacadas.

Tabela 10 - Opinião dos agricultores nipo-brasileiros sobre a capina, nos sistemas agroflorestais em relação aomonocultivo.

Tabela 11 - Percepção dos agricultores nipo-brasileiros sobre o plantio de árvores.

Fontes: dados da pesquisa.

Entretanto, um dos motivos que concorrepara a não utilização de árvores é a preocupaçãodos agricultores nipo-brasileiros com o momentodo corte, pois receiam que as árvores, ao seremderrubadas, prejudiquem o plantio da cultura

considerada principal, normalmente cacau, cupuaçu,açaizeiro e outras árvores perenes consorciadas.

De 34 agricultores que responderampergunta sobre o interesse na implantação de

Page 26: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 32

Fonte: dados da pesquisa.

Quando perguntados sobre as espéciesarbóreas de maior interesse (Tabela 13), as mais

destacadas foram mogno, seguido por castanha-do-pará, bacuri, ipê, andiroba, teca, entre as principais.

sistemas agrossilvipastoris (Tabela 12), 15mostraram interesse em implantar, seguido de 12que pretendem pensar nessa alternativa.

Atualmente, é muito difícil encontrar um dessessistemas em Tomé-Açu, há reduzidíssimo interesseem caprinos e bovinos, com raras ocorrências.

Tabela 12 - Interesse dos agricultores nipo-brasileiros na implantação de sistemas agrossilvipastoris, em Tomé-Açu, Pará.

Tabela 13 - Principais espécies de interesse dos agricultores nipo-brasileiros de Tomé-Açu, Pará.

Fonte: dados da pesquisa.Nota: Nomes científicos = acapu (Vouacapoua americana Aubl.); amapá (Brosimum parinarioides); angelim (Pithecolobium

racemosum Ducke); copaíba (Copaifera langsdorffii); freijó (Cordia alliodora); jarana (Lecythis latifolium (A.C.Smith)Rich); louro (Laurus nobilis); macacaúba (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lood. ex Mart.); paricá (Schizolobiumamazonicum (Huber) Ducke); para para (Jacaranda copaia); pau amarelo (Euxylophora paraensis Huber); piquiá(Aspidosperma desmanthum); puxuri (Licaria puchury-major (Mart.) Kosterm.); quaruba (Vochysia maxima); sapucaia(Lecythis pisonis Camb.); tatajuba (Bagassa guianensis); uxi (Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.).

Page 27: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

33Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

Apesar da preocupação referente aoplantio de castanha-do-pará com relação àsegurança, visto que a espécie atinge elevadaaltura e a queda do ouriço é uma ameaça aosagricultores, foi a segunda mais citada quandoda escolha de uma espécie de interesse. Aexpansão destas está muito relacionada com astécnicas que eles procuram desenvolver. Entreestas mencionam a formação de mudas decastanha-do-pará, mediante a germinação dasamêndoas dentro dos próprios ouriços, técnicasde germinação de uxi e piquiá e sua enxertia,técnicas de plantio de bacurizeiros no campo ede enxertia, plantio de puxuri, entre outras.

Entretanto, outras espécies testadas emconsórcios algumas apresentaram problemascomo a teca, que apesar de estar entre as deinteresse, foi destacada pelos produtores comomuito exigente em água, estabelecendo sériaconcorrência com o cacau ou pimenta-do-reino,espécies consideradas como objetivo principal.Muitos plantios de teca têm sido transformadosem monocultivos, com o aniquilamento da plantasombreada pela queda das grandes folhas daespécie arbórea, formando uma densa camadade liteira.

A teca é uma espécie florestal exótica, quedevido à boa adaptação e rápido crescimento,tem se destacado como uma alternativa para arecuperação de áreas degradadas e paraprodução de madeira em plantios racionais. Comárea de ocorrência natural ampla, se desenvolveem regiões situadas desde o nível do mar até1.000 metros de altitude, sujeitas a precipitaçõesanuais entre 500 mm até 5.000 mm e atemperaturas entre 2°C e 48°C (CÁCERESFLORESTAL, 1997 apud RIBAS, 2005). Asperspectivas para o cultivo desta espécie, noBrasil, foram indicadas há muito porpesquisadores, devido o bom resultado obtido deexperimentos com plantios de “teca da Índia”,tendo se mostrado potencialmente apta e com

produtividade, em algumas regiões do país,bastante superior àquela observada em muitasregiões de origem e introdução (MATRICARDI,1989 apud RIBAS, 2005).

O freijó, apesar de também ter sidoapontado como espécie de interesse, não está sedesenvolvendo bem em Tomé-Açu por apresentarconsiderável redução de copa a partir do 15º anode plantio, talvez por ser comumente plantadocompondo o estrato superior dos sistemas deTomé-Açu, espécie indicada para sub-bosque. Asobservações dos agricultores nipo-brasileiros éque quando plantados em áreas abertas, aoatingirem 5 a 6 metros de altura, perdem o vigorde crescimento e morrem.

O paricá, também, conhecido na regiãoamazônica como bandarra e guapuvurú-da-amazônia, é citado pelos agricultores nipo-brasileiros como espécie de interesse, queapresenta bom desenvolvimento nos SAFs ondefoi introduzido. A grande dificuldade refere-sea sua derrubada visando o aproveitamento damadeira, uma vez que é encontrada em diversosconsórcios envolvendo fruteiras perenes. Comocorrência natural na Amazônia brasileira, noPeru e na Colômbia, em mata primária esecundária de terra firme e várzea alta,apresenta crescimento rápido, fuste reto comramificações a partir de sete metros de altura,pertencendo ao grupo das leguminosas, famíliaCesalpinaceae (BIANCHETTI et al., 1998 apudRIBAS, 2005).

A madeira do paricá é leve, com pesoúmido de 650 kg/m3 e peso específico básico a12 % de umidade entre 320 e 400 kg/m3,apresenta uso potencial para a fabricação debrinquedos, saltos para calçados, embalagensleves, aeromodelismo, pranchetas, caixotaria levee pesada e para embalagem de frutas; obrasinternas como forro e tabuado; palitos parafósforo e lápis, formas de concreto, chapas de

Page 28: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 34

5 CONCLUSÕES

Os SAFs apresentam grande potencial parasua expansão na Amazônia na ocupação produtivadas áreas desmatadas e na sua recuperação, queestá em função do mercado das plantascomponentes. Ao contrário das culturas anuais asquais exigem grandes dimensões de áreas, omercado de plantas perenes exige menor espaço.

Os SAFs apresentam mudanças ao longodo tempo, decorrente das condições de preços, demercado, do aparecimento de pragas e doenças,de mudanças nas políticas públicas beneficiandodeterminadas culturas, legislação trabalhista ouambiental, envelhecimento do proprietário, entreoutras. Muitas vezes os incentivos paradeterminados SAFs no momento, podem perder asua importância no futuro, promovendo oaparecimento de novos e ativação daqueles osquais estavam em hibernação. A despeito daapologia dos SAFs, os resultados do levantamentoapontam que a presença de uma atividade-eixo,com forte destaque no mercado, constitui na razãoda manutenção do modelo, mais do que a simplescombinação de culturas perenes.

O sistema de uso da terra adotado pelosagricultores nipo-brasileiros, independente dotamanho das propriedades, não cumpre osrequisitos estabelecidos na Medida Provisória2166/2001, (BRASIL,2001) em termos de áreade Reserva Legal ou Área de ProteçãoPermanente. É importante para a formação dosSAFs a introdução de culturas geradoras derenda, como o cultivo da pimenta-do-reino oumaracujá, para reduzir os custos de implantaçõesde cultivos perenes finais. As crises de mercadodesses produtos e as restrições de crédito ruraldessas duas culturas tendem a dificultar a

implantação dos SAFs. Os próprios SAFs nãoconstituem a garantia dessa manutenção.

O insucesso de muitos SAFs induzidos pelostécnicos está associado à preocupação apenas coma visão ambiental desconhecendo a necessidadeprioritária da produção de alimentos e de renda acurto prazo. Eles apresentam alta sustentabilidadeambiental, mas baixa sustentabilidade econômicae vice-versa. Alguns produtores chegam a eliminarcomponentes dos SAFs para aumentar arentabilidade econômica, como ocorre nacombinação cupuaçuzeiro + açaizeiro.

Verificam-se diversas plantas as quaispoderão integrar futuros SAFs como bacuri epuxuri, entre outras que não foram declaradas(nim, noni, pau-rosa, uxi, piquiá, jenipapo, etc.).

O sucesso inicial das atividades dosagricultores nipo-brasileiros na Amazônia foibaseado no cultivo de plantas exóticas, como a juta(Corchorus capsularis) nas várzeas da calha do rioAmazonas e a pimenta-do-reino nas áreas de terrafirme do estado do Pará. Nas últimas duas décadaso enfoque tem sido no aproveitamento de produtosda biodiversidade local (cupuaçu, açaí, puxuri[Licaria puchury-major (Mart.) Kosterm.], castanha-do-pará, etc.). Verificam-se tentativas deincorporação de novas plantas perenes (bacuri, uxi[Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.], puxuri, pau-rosa,etc.), que poderão tornar-se novos SAFs no futuro.Este constante dinamismo possibilita a permanênciano mesmo local, que completou 80 anos emsetembro de 2009. Essa permanência, apesar dasustentabilidade exógena, o uso de terra adequadona Amazônia depende muito da qualificação dosagricultores e do tipo de atividade desenvolvida.

compensado (OIMT, 1990; INIA, 1996 apud RIBAS,2005). Essa espécie está sendo muito utilizada

nos programas de reflorestamento por apresentaruma alta taxa de sobrevivência e crescimento.

Page 29: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

35Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

6 RECOMENDAÇÕES

O conceito de SAFs deve ser ampliado,não considerando apenas quando ocorre aconsorciação de cultivos perenes, mas emconjunto de mosaicos de monocultivos paraum determinado espaço. A despeito dasustentabilidade final dos SAFs por envolveremcultivos perenes, a fase inicial ou intermediária,envolve o cultivo de culturas anuais e de ciclomédio. O sucesso econômico da combinaçãode cultivos perenes vai depender do mercadodas plantas componentes que sãoheterogêneos, apresentando limites para essaexpansão.

Na implantação de SAFs deve-se evitar àderrubada de vegetação primária, pois não teriasentido efetuar essa substituição. No caso desistemas envolvendo espécies madeireiras(agrossilvicultura ou silvipastoris) o encerramentodo sistema com o corte das árvores deve serampliado para uma visão de ciclo contínuo, soba perda de finalidades desses sistemas. Atransformação de SAFs em monocultivos perenesse justifica, se ele mantiver as mesmas funçõesreguladoras de proteção do solo e garantirrentabilidade adequada.

Não há nenhum sentido prático efetuara identificação de todos os SAFs possíveis, poiso número de sistemas seria bastante elevado,

face à grande quantidade de plantasdisponíveis, como tem sido a tônica de algumaspesquisas. O importante para fins práticos seriaidentificar os SAFs que apresentem maiorlucratividade e melhores indicadores desustentabilidade biológica. Há necessidade dediferenciar as relações de complementaridade,suplementaridade e competitividade, quanto aoponto de vista ecológico e econômico.

Apesar do modelo dos agricultores nipo-brasileiros não ser passível de generalização paraa Amazônia, esta replicação e adaptação pelospequenos produtores locais, denota a influênciadesses agricultores nipo-brasileiros nos SAFsadotados. Estas experiências se constituem emresultados de pesquisa que precisam sertraduzidos para o universo de pequenosprodutores locais.

O conhecimento e uso dos sistemasagroflorestais ainda são limitados, representandouma oportunidade para o desenvolvimento demaiores ações de pesquisa, para a valorizaçãodos benefícios ambientais e de maiores incentivoseconômicos que venham a estimular suaimplantação. Estes mecanismos são necessáriospara assegurar a sustentabilidade dos sistemasagroflorestais, a equidade social e a proteçãoambiental.

AGRADECIMENTOS

Os autores registram agradecimentos aoSr. Mitsuharu Onuki (ex-Diretor Presidente daAssociação Cultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu, ao Sr. Francisco Wataru Sakaguchi

(Presidente da Camta); Sr. Ivan Hitoshi Saiki(Diretor Gerente da Camta) e ao Dr. YukihisaIshizuka (Amazon Agroforestry Association), pelaajuda na presente pesquisa.

Page 30: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009. 36

REFERÊNCIAS

ARCE, A; LONG, N. (Ed.). Anthropology, development and modernities: exploring discourses, counter-tendencies and violence. London : Routledge, 2000. 232 p.

BRASIL. Medida provisória n° 2166, de 25 de agosto de 2001. Disponível em: < http://legis.senado.gov.br/pls/prodasen.rpt_mate_bas.show?p_trmt=s&p_tipo=mpv>. Acesso em: 1 nov. 2009.

COOPERATIVA Agricola Mista de Tomé-Acu. Disponível em: < http://www. Amazon.com.br/~camta/companyP.htm>. Acesso em: 16 mar. 2008.

DUBOIS, J.C.L. Manual agroflorestal para a Amazônia: v. 1. Rio de Janeiro: REBRAF, 1996. 228 p.

ETHERINGTON, D.M.; MATTHEWS, P.J. Approaches to the economic evaluation of agroforestry systems.Agroforestry Systems, v.1, n.4, p.347-360, 1983.

FILIUS, A.M. Economic aspects of agroforestry. Agroforestry Systems, v.1, n.1, p.29-39, 1982.

FRAZÃO, D.A.C. ; HOMMA, A.K.O.; ISHIZUKA, Y.; MENEZES, A.J.E.A.; MATOS, G.B.; ROCHA, A.C.P.N. Indicadorestecnológicos, econômicos e sociais em comunidades de pequenos agricultores de Tomé-Açu,Pará. Belém: Embrapa, Amazônia Oriental, 2005. 57 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Documentos, 229).

HOMMA, A.K.O.; BARROS, A.L. Sistemas agroflorestais: um contexto teórico para a Amazônia. In: ENCONTRODE GEOGRAFIA FÍSICA DA AMAZÔNIA: geografia física e os recursos naturais da Amazônia, 2., 2008, Belém.Anais..., Belém, 2008. p.1-4. 1 CD ROM.

HOMMA, A.K.O. Dinâmica dos sistemas agroflorestais: o caso da Colônia Agrícola de Tomé-Açu, Pará. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 42., 2004, Cuiabá, MT. Texto completo.Brasília, DF: SOBGR, 2004. 1 CD-ROM.

HOMMA, A.K.O.; MENEZES, A.J.E. Dinâmica dos sistemas agroflorestais na colônia agrícola de Tomé-Açu, Pará.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS, 4., 2002, Itabuna, BA. Texto completo. Colombo:Embrapa – CNPF, 2002. 1 CD-ROM.

HOMMA, A.K.O. Organização da produção e comercialização de produtos agropecuários: o caso da colôniaagrícola nipo-brasileira de Tomé-Açu, Pará In: VILCAHUAMÁN, L.J.M.; RIBASKI, J.; MACHADO, A.M.B. Sistemasagroflorestais e desenvolvimento com proteção ambiental: perspectivas, análise e tendências.Colombo: Embrapa Florestas, 2006. p. 51-77.

HOMMA, A.K.O. Relatório de Projeto: recursos florestais na Amazônia: estudo de sistemas de produção eíndices técnicos. Belém: Convênio Banco da Amazônia/Embrapa, 2005.

HOMMA, A.K.O.; WALKER, R.T.; CARVALHO, R.A.; FERREIRA, C.A.P.; CONTO, A.J.; SANTOS, A.I.M. Dinâmica dossistemas agroflorestais: o caso dos agricultores nipo-brasileiros em Tomé-Açu, Pará. In: CONGRESSO BRASILEIROSOBRE SISTEMAS AGROFLORESTAIS, 1., 1994, Porto Velho. Anais... Colombo: EMBRAPA-CNPF, 1994. p. 51-63.(EMBRAPA. CNPF. Documentos, 27).

Page 31: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco

37Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 5, n. 9, jul./dez. 2009.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Banco de dados - Cidades. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em 27 jul. 2009.

KATO, O.; TAKAMATSU, J. Tomé-Açu. Iniciativas promissoras e fatores limitantes para odesenvolvimento de sistemas agroflorestais como alternativa à degradação ambiental naAmazônia. Belém, [S. n.], 2005.

MENDES, F.A.T. Avaliação de modelos simulados de sistemas agroflorestais em pequenaspropriedades cacaueiras selecionadas nos municípios de Tomé-Açu e Acará, no Estado doPará. Belém: Unama, 2003. 84 p. (Relatório de Pesquisa, 13).

MILLER, R.P.; NAIR, P.K.R. Indigenous agroforestry systems in Amazonia: from prehistory to today. AgroforestrySystems, n.66, p.151-164, 2006.

PONTE, N.T. Fertilizantes no Norte: problemas e perspectivas. Belém: FCAP, 1979. 22 p.

RIBAS, L.A. Relatório de Projeto: recursos florestais na Amazônia: estudo de sistemas de produção e índicestécnicos. Belém: Convênio Banco da Amazônia/Embrapa n° 054, 2005.

RODRIGUES, T. E.; SANTOS, P. L.; VALENTE, M. A.; RÊGO, R. S.; GAMA, J. R.; SILVA, J. M.; SANTOS, E. S.; ROLLIM,P. A. Zoneamento agroecológico da município de Tomé-Açu, Estado do Pará. Belém: EmbrapaAmazônia Oriental, 2001. 81 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Documentos, 118).

ROSSETTI, J.P. Introdução à Economia. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2003.

SMITH, N.J.; DUBOIS, J.; CURRENT, D.; LUTZ, E.; CLEMENT, C. Experiências agroflorestais na AmazôniaBrasileira: restrições e oportunidades; Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil,Brasília,DF, 1998. 146 p.

SODRÉ, U. Matemática essencial: ensino fundamental, médio e superior; ensino médio: análise combinatória.Disponível em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/medio/combinat/combinat.htm>. Acesso em: 15jan. 2008.

YAMADA, M. Japanese immigrant agroforestry in the Brazilian Amazon: a case study of sustainablerural development in the tropics. 1999. 821 f. Thesis (PhD) - University of Florida, Florida, 1999.

Page 32: EVOLUÇÃO E PERCEPÇÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ... · Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais - Amazônia. Desenvolvimento Agrícola. Este trabalho foi financiado pelo Banco